SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE HIDROGÉIS CONSTITUÍDOS DE QUITOSANA QUIMICAMENTE MODIFICADA COPOLIMERIZADA COM NISOPROPILACRILAMIDA Hortênsia Sette Gripp (PIBIC/CNPq/FA – UEM), Juliana Francis Piai, Alessandro Francisco Martins, Adley Forti Rubira e Edvani Curti Muniz (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Química/Maringá, PR. Ciências Exatas e da Terra - Química Palavras-chave: N,N,N-Trimetilquitosana, Quitosana, Hidrogéis. Resumo: O objetivo deste trabalho foi sintetizar o derivado solúvel de quitosana (QT), a N,N,N-Trimetilquitosana (TMC) e, posteriormente, enxertar monômeros vinílicos nos carbonos 3-OH e 6-OH da estrutura sacarídica da TMC. Para o enxerto de monômeros vinílicos utilizou-se o anidrido maleico. O novo material polimérico obtido foi denominado de O-malonil-N,N,Ntrimetilquitosana (AM-TMC). É importante destacar o uso da TMC e não da QT, pois a QT possui limitação de solubilidade em pHs>6.5. Devido a esta limitação utilizou-se a TMC ao invés da QT para obtenção do novo material polimérico. A TMC apresenta solubilidade em ampla faixa de pH, devido a quaternização do átomo de nitrogênio. Em se tratando de liberação controlada de fármacos, futuramente serão preparados copolímeros de AMTMC com N-isopropilacrilamida (NIPPAAm), sendo este copolímero obtido através dos sítios vinílicos enxertado no AM-TMC. Desta forma, poderão ser obtidos materiais (hidrogéis) com propriedades excelentes tais como: intumescimento em ampla faixa de pH, biodegradabilidade, biocompatibilidade, atoxicidade e sensibilidade a temperatura. Assim, solutos específicos poderão ser incorporados na matriz 3D dos hidrogéis e investigar a liberação controlada de fármacos em ambientes. Introdução: A QT apresenta bastante importância para a síntese de hidrogéis devido as suas excelentes propriedades [1]. É um polímero natural, biodegradável, muito abundante e atóxico. O grupo amino protonado da QT permite o estabelecimento de diferentes tipos de interação com fármacos [2] e também podem fornecer sistemas sensíveis ao pH. No entanto, a limitação de solubilidade da QT interfere na sua aplicação biomédica, especialmente em sistemas que operam no pH fisiológico (7.4). Devido a esta limitação, pesquisadores apostaram na síntese de derivados que apresentam solubilidade em ampla faixa de pH, incluindo o pH fisiológico, como por exemplo a TMC [3]. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. A TMC também mantém e/ou supera as propriedades da QT em algumas aplicações [4]. A quaternização do nitrogênio do grupamento amino possibilita a solubilidade da TMC em ampla faixa de pH. Desta forma, com a inserção de grupos vinílicos na TMC, pode-se obter hidrogéis e/ou copolímeros via mecanismo radicalar com. Assim, o objetivo deste trabalho foi obter e caracterizar através das espectroscopias de FTIR e RMN 1H o novo material O-malonil-N,N,N-trimetilquitosana (AM-TMC) com monômeros vinílicos inseridos na estrutura sacarídica da TMC.Em se tratando de liberação controlada de fármacos, hidrogéis obtidos a partir da AM-TMC possibilita maior intumescimento e permeação em ambientes neutro e básico. Materiais e métodos Quitosna (85% desacetilada e massa molecular de 87 x 103 g/mol) foi adquirida a partir da Golden Shell Biochemical (China), iodeto de metila e Nmetil-2-pirrolidinona (NMP) foram obtidos da Sigma Aldrich. Hidróxido de sódio, iodeto de sódio, cloreto de sódio, etanol, éter etílico, dimetilformamida (DMF) e anidrido maleico foram adquiridos comercialmente. Para a síntese da TMC a QT (2 g) foi solubilizada em NMP sendo a reação processada em refluxo, a 60 °C com atmosfera de gás nitrogênio. A reação se desenvolveu por 2.5 horas com a adição de hidróxido de sódio (15%), iodeto de sódio, e iodeto de metila. Por fim, o a TMC foi precipitada em etanol e lavada com éter etílico e separada por centrifugação [3]. O novo material O-malonil-N,N,N-trimetilquitosana (AM-TMC) foi obtido solubilizando a TMC (0,6 g) e anidrido maleico (1,8 g) em (DMF) a uma temperatura de 130 °C, em atmosfera inerte por 12 horas. Finalmente, o produto AM-TMC foi precipitado, lavado com acetona e separado por filtração à vácuo. Por fim, obteve-se um precipitado de coloração escura, solúvel em água. Resultados e Discussão As diferenças observadas nos espectros de FTIR da TMC e QT (Fig. 1) são: o surgimento de uma nova banda em 1489 cm-1 (Fig. 1c) que é atribuída aos estiramentos das ligações C-H, referentes aos grupamentos metílicos existentes em maior proporção na TMC em relação à QT. As bandas em 2939 e 2896 cm-1 (Fig. 1c) se devem à vibração axial das ligações C-H e estas acontecem devido à elevada proporção de grupos metílicos na TMC. Também observa-se o desaparecimento da banda em 1601 cm-1 (Fig. 1a) no espectro da TMC, referente aos grupos amino da QT. Isto ocorre devido a N-monossubstituição (NM), N-dissubstituição (ND) e Ntrissubstituição (NT) dos átomos de nitrogênio da QT. Estas diferenças comprovam a obtenção da TMC [5]. A confirmação do enxerto de monômeros vinílicos na estrutura da TMC é comprovada pelo surgimento das bandas em 1638, 1730 e 3080 cm-1 (Fig. 1b). Estas bandas se devem a aos estiramentos das ligações C=C (provenientes dos sítios vinílicos), C=O Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. (provenientes das carbonilas do anidrido maleico) e C-H com hibridização sp2 (provenientes dos sítios vinílicos) (Fig. 1b) [6]. c) 1489 2939; 2896 b) C =O 1730 3080; 2968 2 3 sp ; sp a) 1638 C=C 1601 N-H 1087 (C-O) 4000 3 500 3 0 00 2500 2 0 00 1 500 -1 N u m e ro de O nda (c m ) 1 0 00 5 00 Figura 1 – Espectros de FTIR para QT (a), AM-TMC (b) e TMC (c) A Figura 2 ilustra os espectros de RMN 1H para a TMC (2a) e AM-TMC (2b). O O O O C a O CH CH a 8 .1 C ND OH ** 3 .1 2 .7 b c NM NT 6 .7 6 .6 6 .2 a N -H b c (b ) 3 .3 NT OM OCH3 4 6 O HO 5 3 HO O X 2 1 1 5 6 O O O 4 MO 3 X = NM; ND; NHCOCH3 N 2 CH3 NT = 35% CH3 CH3 2 .7 NM ND OM NT CH3 (a ) 12 10 8 6 ppm 4 2 0 Figura 2 – Espectros de RMN 1H para a TMC (a) e AM-TMC (b). O surgimento dos picos em 6.6 e 6.2 ppm (Fig. 1b) que são atribuídos aos hidrogênios dos grupamentos vinílicos enxertados nos carbonos 3-OH e 6-OH na TMC [5-7]. Estes carbonos encontram-se metilados (3O-CH3 e 6OCH3 - sítios OM) (Fig. 2a), embora em pequena porcentagem. O sinal em 8.1 ppm (Fig. 2b) ocorre devido aos hidrogênios do anel aromático inserido no átomo de nitrogênio dos sítios NM. Isto pode ser comprovado pela diferença espectral na região entre 2.5 a 3.5 ppm (Figs. 2a e 2b). No espectro da TMC sinais dos hidrogênios dos sítios NT e NM ocorrem em 3.3 e 2.7 ppm, enquanto que no espectro do AM-TMC o sinal dos hidrogênios metílicos Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. referentes aos sítios NM ocorrem sobrepostos ao sinal dos hidrogênios metílicos dos sítios NT em 3.1 ppm (Fig. 2b). Provavelmente, a maior reatividade e menor efeito estérico do sítios NM frente aos sítios ND possibilitam um ataque nucleofílico nos centros carbonílicos do anidrido maleico e, conseqüentemente, os hidrogênios dos sítios NM são mais desblindados. Já o sinal dos hidrogênios metílicos do sitio ND se mantêm em 2.7 ppm para ambos os espectros da Figura 2. Isto significa que os sítios ND, provavelmente, não reagem com o anidrido maleico. A TMC estudada apresentou 35% de quaternização, ou seja, 35% da estrutura da TMC são constituídos de sítios NT. Este fator deve influenciar na obtenção do AMTMC. Conclusões Com base nos espectros de FTIR (Fig. 1) e RMN 1H (Fig. 2), pode-se concluir que a obtenção do AM-TMC foi realizada com sucesso. A síntese deste material apresenta grande importância, já que o mesmo pode servir de material de partida para a obtenção de hidrogéis que, espera-se, que possuam excelentes propriedades tais como: bom intumescimento, biodegradabilidade, biocompatibilidade, atoxidade, entre outras. Se tais propriedades se confirmarem, ter-se-á um futuro promissor quanto à obtenção de hidrogéis de TMC (a partir da reticulação dos grupamentos vinílicos enxertados) com utilidade em liberação controlada de fármacos. Referências [1] Kumar, M. N. V. R.; Muzzarelli, R. A. A.; Muzzarelli, C.; Sashiwa, H. Domb, A. J. Chitosan chemistry and pharmaceutical perspectives. Chemical Reviews., v. 104, p. 6017 – 6084, 2004. [2] Kumbar, S. G.; Kulkarni, A. R.; Aminabhavi, T. M. Crosslinked chitosan microspheres for encapsulation of diclofenac sodium: effect of crosslinking agent. Journal of Microencapsulation., v. 19, p. 173-180, 2002. [3] Sieval, A. B.; Thanou, M.; Kotze, A. F. Preparation and NMR characterization of highly substituted N-trimethyl chitosan chloride. Carbohydrate Polymers., v. 36, p. 157-165, 1998. [4] Van Der Merwe, S. M.; Verhoef, J. C.; Verheijden, J. H. M. Trimethylated chitosan as polymeric absorption enhancer for improved peroral delivery of peptide drugs. European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics., v. 58, p. 225-235, 2004. [5] Britto, D., Assis, B. G. O. A novel method for obtaining a quaternary salt of chitosan. Carbohydrate Polymers., v. 69, p. 305-310, 2007a. [6] Silverstein, R. M.; Bassler, G. C.; Morrill, T. C. Spectrometric Identification of Organic Compounds. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 1979. [7] Mu, Q.; Fang, Y. Preparation of thermosensitive chitosan with poly(Nisopropylacrylamide) side at hydroxyl group via O-maleoyl-N-phthaloylchitosan (MPCS). Carbohydrate Polymers., v. 72, p. 308-314, 2008. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.