ALCENIR PABLO COSTA ANDERSON CLEYTON CANALLE JULIANA RAFAELE DUBIELA FRAGILIZAÇÃO POR HIDROGÊNIO Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de Seleção de Materiais Metálicos, do Departamento de Engenharia Mecânica , Setor de Tecnologia , da Universidade Federal do Paraná. CURITIBA 2010 1. DEFINIÇÃO A fragilização pelo hidrogênio é um processo de deterioração caracterizado pela nucleação e propagação de trincas nos materiais. Isso se deve à perda das propriedades mecânicas do material, diminuição da ductilidade e o que causa as trincas e rupturas mesmo com tensões aplicadas abaixo da tensão de ruptura do material. Fragilização por hidrogênio é um processo de fratura em função do tempo provocada pela absorção e difusão de átomos de hidrogênio em um metal, o que resulta em uma perda de ductilidade e resistência à tração. O hidrogênio se introduz em materiais metálicos dissolvendo-se no estado atômico. Durante sua permeação, por difusão, os átomos de hidrogênio tendem a se concentrar em diversos tipos de imperfeições cristalinas (discordâncias, vacâncias, etc.), bem como em imperfeições na micro-estrutura (contornos de grãos, interfaces de inclusões e de precipitados puros, etc.) e ainda em outras imperfeições que serão criadas pelo próprio hidrogênio absorvido. No curso da absorção, difusão e concentração do hidrogênio atômico (H), o retículo cristalino e outros defeitos serão dilatados. Em determinadas condições, átomos de hidrogênio se combinam nas imperfeições passando para a forma molecular (H2), com conseqüente aumento de volume, provocando fissuras e trincas irreversíveis. Substância causadora de corrosão, o hidrogênio pode se incorporar ao aço ainda na fase de fabricação de equipamentos industriais. Posteriormente instaladas em petroquímicas ou refinarias, as peças sofrem novo ataque do elemento e começam a desenvolver processo de corrosão precoce. Pode se classificar a fragilização por hidrogênio como sendo de dois tipos. O primeiro conhecido como a fragilização de hidrogênio interna (internal hydrogen embrittlement), ocorre quando o hidrogênio entra em um metal fundido que se torna uma solução supersaturada em hidrogênio imediatamente após a solidificação. O segundo tipo, fragilização por hidrogênio circundante, (environmental hydrogen embrittlement), se deve à absorção de hidrogênio por metais sólidos. Isso pode ocorrer durante a elevação da temperatura e tratamentos térmicos em serviço durante galvanoplastia, contato com produtos químicos de manutenção, as reações de proteção à corrosão, catódica e operando em hidrogênio de alta pressão. Na ausência de tensão residual ou de carga externa, fragilização por hidrogênio circundante se manifesta sob diversas formas, tais como bolhas, fraturas internas, formação de hidretos e redução de ductilidade. Com uma tensão de tração ou a concentradores de tensão, que ultrapassem um determinado limite, hidrogênio atômico interage com o metal induzindo crescimento de fraturas levando a falha do componente. 2. MATERIAIS A Fragilização por hidrogênio ocorre nos aços carbono e, mais particularmente, em aços de baixa liga, de alta resistência à tração, bem como em aços inoxidáveis martensíticos e ferríticos além de vários outros metais que formam hidretos. O hidrogênio atômico pode ser formado pela corrosão do próprio metal ou pela corrosão da base em contato direto com a estrutura, como por exemplo, rebites de aço em contato com metais leves tais como alumínio e magnésio, ou em aços com espessas camadas de depósitos de zinco, devido à corrosão anódica da camada. A solubilidade do hidrogênio na ferrita é baixa, mas nos contornos há espaço interatômico devido à incompatibilidade entre as fases, que permite a inclusão de tais átomos na matriz ferrítica. O hidrogênio reduz a tenacidade do aço sem previamente ocasionar danos internos devido à aplicação de tensões. O aumento da fragilização com o aumento da dureza do aço faz com que o percentual de deformação diminua, aumentando a concentração de hidrogênio, e conseqüentemente, aumentando as tensões triaxiais. A ordem de resistência quanto à fragilização por hidrogênio fica: Martensita<bainita superior<perlita<bainita inferior<martensita temperada. As principais causas do aparecimento de hidrogênio podem ser: Processo de fabricação; Processos eletroquímicos tais como: decapagem ácida, corrosão e galvanização; Decomposição da umidade e água de cristalização contida em alguns tipos de revestimento de eletrodo que gera hidrogênio atômico no processo de soldagem por eletrodo revestido; Reações de corrosão que liberam hidrogênio como a seguinte: Fe = H2FeS + H2 observada no processamento de petróleo contendo enxofre; Reações catódicas em estruturas protegidas catodicamente; Ação de gases ricos em hidrogênio. 2. APLICAÇÕES 2.1 PARAFUSOS A fragilização por hidrogênio é associada a fixadores com dureza superior a 30 HRC e produzidos com aço carbono ou aço liga. Seu efeito pode causar diminuição da ductilidade, trincas ou rupturas nos fixadores, ainda que aplicados sob tensões bem abaixo de suas resistências ao escoamento. A absorção do hidrogênio livre do banho eletrolítico, ou de qualquer outra fonte, pode provocar a fragilidade do material. A decapagem ácida e a eletrodeposição de zinco estão entre os tratamentos superficiais mais comuns que causam a hidrogenização. Isto ocorre porque o hidrogênio atômico se difunde nos contornos dos grãos e migra para os pontos de maiores concentrações de tensões quando o fixador é apertado, aumentando a pressão até que a resistência do metal base seja excedida, e em pouco tempo ocorrem rupturas na superfície. O hidrogênio se move e penetra rapidamente nas novas rupturas. Este ciclo de pressão-ruptura-penetração continua até o fixador romper-se, o que geralmente ocorre horas após a primeira tensão aplicada. Para neutralizar a fragilização por hidrogênio, os fixadores devem passar por um processo de desidrogenização. Não é possível prever exatamente o tempo e a temperatura deste processo, que pode variar de 3 a 24 horas a temperaturas próximas a 200º C, considerando o tipo e o tamanho do fixador, suas dimensões, propriedades mecânicas, processos de limpeza, espessura da camada depositada e processo utilizado no tratamento superficial por eletrodeposição. De modo geral, recomenda-se que parafusos com durezas de até 40 HRC tenham permanência mínima de 8 horas a temperaturas próximas de 200º C, e que este processo seja efetuado em, no máximo, 1 hora após o tratamento superficial. A fragilidade por hidrogênio ocorre especialmente em níveis de resistência mais elevados, onde se situam os parafusos de alta resistência mecânica. Uma das alternativas para evitar a fragilização por hidrogênio em parafusos de alta resistência é utilizar um processo de tratamento superficial que não tenha oferta de hidrogênio, como por exemplo, um organometálico. 2.2 INDÚSTRIA PETROQUÍMICA Nas indústrias petroquímicas e nas refinarias, são realizados vários investimentos em tecnologia para combater a fragilização por hidrogênio. Nas indústrias petroquímicas e químicas, a fragilização por hidrogênio ocorre principalmente nos aços de que são constituídas as tubulações em meios líquidos ou gasosos e onde acontecem reações químicas que liberam hidrogênio, enquanto que nas refinarias, enquanto que nas refinarias, ocorre no craqueamento do petróleo. 3. DESAFIOS Um dos grandes desafios na área da fragilização por hidrogênio é a demora no monitoramento da quantidade de hidrogênio no material. O tempo atual de monitoramento é de aproximadamente 30h, não havendo sempre tempo para acionar medidas de controle antes que ocorram danos no material. Um grupo de pesquisadores da Unicamp, formado pelos pesquisadores Margarita Ballester, José Roberto Rodrigues e Célia Marina Freire, desenvolve atualmente um sistema que permite o monitoramento on-line da permeação do hidrogênio no material. Resultados de testes em laboratório mostram um tempo de resposta de 30 a 90 mim, variando de acordo com a espessura do material.