A20 Internacional
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O ESTADO DE S. PAULO
QUINTA-FEIRA, 9 DE AGOSTO DE 2012
VISÃO
GLOBAL
Mais limpo que a atual matriz energética dos EUA, insumo
poderia diminuir dependência geopolítica do petróleo
✽
●
THOMAS
FRIEDMAN
THE NEW YORK TIMES
stamos em meio a uma
revolução do gás natural nos EUA, que é um
fator potencialmente
transformador em termos da economia, do
meio ambiente e da segurança nacional – se agirmos da maneira correta.
As enormes reservasde gás natural
existentes em depósitos de xisto pelo país, que agora estamos capacitados a explorar graças aos avanços da
imagem sísmica da perfuração horizontal e do fraturamento hidráulico,
nos permitem substituir o carvão,
muito mais sujo, pelo gás, que é mais
limpo, como a maior fonte de geração de eletricidade no país. E o gás
natural em breve poderá ser usado
como propulsão de carros, caminhões e navios também.
Isso ajuda a reduzir nossas emissões de carbono mais rapidamente
do que o esperado e nos assegura
maisenergia. Eseospreçospermanecerem baixos, isso poderá permitir
aos EUA trazer de volta as fábricas
que migraram para o exterior. Mas,
como explica Hal Harvey, especialista em clima e energia, existe uma
grandeeimportantequestão asercolocada no caso dessa dádiva que é o
gás natural: “ela será uma transição
para um futuro de energia limpa ou
E
postergará esse futuro?”.
Essa é a questão crucial – porque o
gás natural também é um combustível
fóssil. A boa notícia é que ele emite
somente a metade do gás de efeito estufa quando em combustão e, portanto,
contribui menos para o aquecimento
global. Uma notícia melhor: essa recente superabundância de gás barateia
sua utilização. Mas há um custo no longo prazo oculto: o excesso de gás pode
prejudicar os investimentos em sistemas de energia eólica, solar, nuclear e
de eficiência energética – que têm
emissões zero e isso poderá nos manter dependentes dos combustíveis fósseis por décadas.
Isso seria desastroso. As secas e inundações extremas em todo o globo este
ano estão totalmente de acordo com
modelos de mudanças climáticas não
lineares, destruidores. Depois das temperaturas que chegaram a altas recorde no primeiro semestre, não foi nenhuma surpresa o fato de na semana
passada o Departamento de Agricultura ter declarado mais da metade de todos os condados dos EUA – 1.584 em 32
Estados – áreas de desastre onde plantações e regiões de pastagem estão assolados pela seca.
É por isso que em 29 de maio o jornal
britânico TheGuardian transcreveu declaração de Fatih Birol, economista
Riscos. Além disso, embora o gás natural seja mais limpo do que o carvão,
sua extração pode ser muito suja. Precisamos fazer esse trabalho corretamente. Por exemplo, a vantagem do carbono pode ser prejudicada pelo vazamento de gás natural não queimado que sai
dos poços e gasodutos, porque o metano – componente primário do gás natural – é um gás com efeito estufa extremamente poderoso, mais do que o dióxido de carbono.
As grandes empresas petrolíferas podem facilmente manter excelentes métodos de perfuração, mas outras de menor porte costumam utilizar muito o
processo de fraturamento hidráulico
conhecido como “fracking” (processo
de perfuração por meio da injeção de
água, areia e produtos químicos sob alta pressão). Os métodos que podem
tornar esse processo não prejudicial para o meio ambiente não são caros, mas
asgrandes empresas de perfuraçãoquerem ter certeza de que eles serão aplicados por todos, de modo que a base de
custo seja a mesma.
Em 19 de julho, a revista Forbes entrevistou George Phydias Mitchell que,
nos anos 90, foi pioneiro no uso do fracking para extração de gás natural do
xisto impermeável. Mitchell afirmou
que o processo precisa ser regulamentado pelo Departamento Energia, e
não apenas pelos Estados: “Porque, se
não for feito um trabalho correto, pode
haver problemas”, diz ele. Não há desculpas para não atuar corretamente.
Websfera
CARLINHOS MÜLLER/AE
O caminho do
gás natural
chefe da Agência Internacional de
Energia, em que ele afirmou que “a era
de ouro do dás não é necessariamente
a era de ouro para o clima” – se o gás
natural acabar degradando as energias
renováveis.
Maria van der Hoeven, diretora executiva da agência, insistiu junto aos governos para criarem subsídios e regulamentos para estimular os investimentos em energias eólica, solar e outras
renováveis “nos próximos anos” para
que continuem competitivas.
“Existem boas técnicas para um trabalho seguro que devem ser seguidas
adequadamente”, afirma. Mas perfuradores independentes, menores, são
“selvagens”. “É difícil controlar essa
gente. Se fizerem algo errado e perigoso, devem ser punidos.”
E Fred Krupp, presidente do Fundo
de Defesa Ambiental que vem trabalhando com o governo e empresas para
a criação de padrões de perfuração,
acrescenta que “as vantagens econômicas e em termos de segurança nacional
oferecidas pelo gás natural são óbvias,
mas se você visitar algumas dessas
áreas de desenvolvimento intensivo,
os impactos ambientais são igualmente óbvios”.
Regras. Precisamos estabelecer pa-
drões aceitos a nível nacional para controlar o vazamento de metano, controlar a água usada no fraturamento hidráulico – e onde o gás for extraído,
como tratar a água poluída que deriva
do processo de fracking e proteger os
aquíferos – e para assegurar que as comunidades tenham o direito de dizer
“não” aos trabalhos de perfuração.
“A mensagem mais importante é que
você deve seguir as regras corretamente. Os Estados precisam ter uma capaci-
dade real e programas envolvendo o
cumprimento das normas em que as
companhias certificam tê-las cumprido corretamente e se submetem
a penalidades severas em caso de
perjúrio.”
As empresas energéticas que querem regras menos restritas precisam compreender que uma série de
acidentes em torno do gás natural
provocará – e com toda razão – uma
reação ambiental violenta para um
fim da exploração. Mas necessitamos também encarar o aspecto econômico corretamente.
Precisaremos de mais receita fiscal para alcançar um acordo orçamentário em janeiro. Por que não
uma taxa de carbono que arrecade
dinheiro suficiente para ajudar a reduzir o déficit e diminuir o imposto
de renda tanto da pessoa física como das empresas – e garantir que as
energias renováveis continuem
competitivas com o gás natural? Isso iria garantir que esta revolução
do gás natural transforme os EUA,
não só nossa rede elétrica. /
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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É COLUNISTA DO NYT
O melhor da internet
Felipe Corazza
CLARÍN
WIRED
ASSOCIATED PRESS
Preso que fugiu vestido
de mulher é encontrado
Coreia do Norte invade
os EUA em novo filme
Blackwater consegue
acordo em processos
Marcelo“Monguito”Segovia,detentoqueescapouvestidodemulher de uma prisão argentina, foi
recapturado após três semanas.
Monguito foi encontrado após
uma pista levar a polícia a um entregador de comida a caminho
de sua casa.
Um remake do filme Amanhecer
Violento, que será lançado em
novembro, mostrará uma invasão norte-coreana dos EUA. No
enredo da obra original, lançada
em 1984, os invasores eram militares cubanos e soviéticos em
uma operação conjunta.
A empresa de segurança AcademiLLC (novo nome da Blackwater) conseguiu um acordo e pagou US$ 7,5 milhões para se livrar de 17 processos judiciais na
Carolina do Norte. A companhia
era acusada de tráfico de armas e
venda de segredos à Jordânia.
Colômbia
LUIS BENAVIDES/AP
Narcomania. Crianças pagam R$ 2,25 por álbum
PABLO ESCOBAR
PARA MENORES
Álbum vira mania entre as crianças de Medellín
Talita Eredia
Q
uase 20 anos depois de sua morte,
o narcotraficante
Pablo Escobar voltou a estar presente nas casas
colombianas. Além de protagonizar uma série da TV, o famosolíderdocarteldeMedellínvirou temade umálbumde
figurinhas.
Apublicaçãoésimples,quase artesanal, e circula nas
mãos de crianças dos bairros
mais pobres de Medellín há al-
gumas semanas. Inspirado na
atração da TV Caracol Escobar, el
Patrón del Mal, o álbum custa 2
milpesos(R$2,25)easfigurinhas
com personagens da série custam 300 pesos (R$ 0,35). A publicação,quemesclaimagensdoverdadeiro Escobar com as do ator
da série, ainda promete prêmios
para as crianças, como um aparelho de MP3, relógios e pen drives.
Uma empresa desconhecida
de Bogotá, a Producciones Cosmovisión,aparece comoresponsável pelo álbum. Especialistas
descartam que a publicação te-
nharelaçãocomgruposcriminososeacreditamqueomaterial tenha sido produzido por
comerciantes para lucrar
com um sucesso da série, ainda quereforce ailegalidade e a
criminalidade.
Max Yuri Gil, diretor da
Corporación Región, ONG de
direitos humanos de Medellín, disse ao Estado que, apesar de a produção de TV ser
feita por filhos de vítimas de
Escobar, ela não passa a imagem de um monstro para as
crianças – que não conhecem
o passado do líder do cartel,
morto em dezembro de 1993
–, mas a de um herói contra o
sistema. Daí a febre pelo mito
do narcotraficante.
“Estão tratando a biografia
de Escobar como uma novela
e isso, de certa forma, banalizaosseus atosbrutaiseressalta sua figura numa sociedade
em que os limites éticos ainda
são muito fracos. Algumas
dessascriançasconvivemdiariamente com grupos armados e construíram suas referências de triunfo entre a delinquência.”
Para Gil, falta vontade dos
produtores da série e dos pais
para impedir que as crianças
vejam a série, transmitida às
21 horas, e colecionem o álbum. “É preciso reforçar que
o conteúdo é inadequado para
as crianças e os pais precisam
tomar consciência de que o
programa não é voltado para a
faixa etária de seus filhos.”
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O Estado de S. Paulo