MARINA FORNARI ROCHA MARINA JULIO PINHEIRO MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DE HIDROCRAQUEAMENTO Poços de Caldas/MG 2014 MARINA FORNARI ROCHA MARINA JULIO PINHEIRO MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DE HIDROCRAQUEAMENTO Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Química, da Universidade Federal de Alfenas. Orientador: Prof. Dr. Iraí Santos Júnior. Poços de Caldas/MG 2014 RESUMO O aumento da demanda de petroquímicos básicos (eteno e propeno), devido ao crescimento econômico mundial, exige um aumento na produção de frações de óleos leves de petróleo. No entanto, as características do petróleo brasileiro não são favoráveis para produção destes petroquímicos, pois este é um óleo pesado e pobre em derivados leves e nafta, principal matéria-prima da indústria petroquímica brasileira. Sendo assim torna-se necessário investir em tecnologias para produção de frações leves a partir de frações pesadas de petróleo. Este trabalho apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre o processo e a cinética de conversão de hidrocraqueamento, bem como o reator mais indicado para este processo, com objetivo de otimizar a produção de frações leves de petróleo a partir de simulações de um modelo de cinética e de reator. Fixando as dimensões do reator e as concentrações iniciais de hidrogênio na corrente de líquido e na de gás foi possível encontrar, por tentativas, a velocidade ideal do gás para o maior aproveitamento do reator, 1,1 cm/s. O gráfico gerado na simulação comportou-se de forma satisfatória, mostrando que a concentração de hidrogênio no líquido aumentou ao longo do reator enquanto que a concentração no gás diminuiu. Palavras-chaves: Petróleo. Derivados leves. Modelagem. Otimização. Hidrocraqueamento. Reator de leito de lama. ABSTRACT The increased demand for basic petrochemicals (ethylene and propylene), due to the global economic growth requires an increase in the production of light oil fractions of petroleum. However, the characteristics of Brazilian oil are not favorable for the production of these petrochemicals, because this is a heavy oil and low in light derivatives and naphtha, the main raw material of the Brazilian petrochemical industry. Therefore it is necessary to invest in technology for the production of light fractions from heavy petroleum fractions. This work presents a literature review about conversion kinects and process hydrocracking, and the reactor most suitable for this process, in order to optimize the production of light oil fractions from model simulations and kinetic reactor. Determining the dimensions of the reactor and the initial concentrations of hydrogen in liquid flow and in gas flow was possible to find, tentatively, the ideal gas velocity for the utilize of reactor, 1,1 cm/s. The graph generated in the simulation behaved satisfactorily, in which the hydrogen concentration in the liquid increased along the reactor while the concentration in the gas decreased. Keywords: Petroleum. Light derivatives. Modeling. Optimization. Hidrocracking. Slurry bed reactor. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 6 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 7 2.1. Processos de conversão ................................................................................................ 7 2.1.1. 2.1.1.1. Configuração do processo ................................................................................. 9 2.1.1.2. Catalisadores ................................................................................................... 10 2.2. Reatores trifásicos ...................................................................................................... 11 2.2.1. 3. Hidrocraqueamento .............................................................................................. 7 Reatores de leito de lama .................................................................................... 14 MODELO DO REATOR................................................................................................ 16 3.1. Estimativas dos parâmetros do modelo ..................................................................... 19 3.1.1. Fração de vazios ................................................................................................. 19 3.1.2. Dispersão da fase líquida .................................................................................... 19 3.1.3. Dispersão da fase gasosa .................................................................................... 19 3.1.4. Coeficiente de transferência de massa volumétrico ........................................... 20 3.1.5. Taxa de reação .................................................................................................... 20 3.1.6. Concentração de Equilíbrio ................................................................................ 21 4. METODOLOGIA ........................................................................................................... 21 5. RESULTADOS ................................................................................................................ 22 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 25 APÊNDICE A- PROGRAMA DE MODELAGEM DO PROCESSO DE HIDROCRAQUEAMENTO ................................................................................................. 27 6 1. INTRODUÇÃO Formado a partir da decomposição de matéria orgânica ao longo do tempo, o petróleo é uma fonte de energia não renovável, que tem grande importância econômica e estratégica. A partir dele obtêm-se matérias-primas para fabricação de combustíveis, plásticos, fertilizantes, desinfetantes, entre outros (MATOS, 1997). O petróleo é constituído basicamente de hidrocarbonetos, sendo, em média, de 83 a87% de carbono e 11 a 15% de hidrogênio. As diversas substâncias encontradas no petróleo são fracionadas em produtos para comercialização. Moléculas de peso molecular baixo têm maior valor no mercado que moléculas de alto peso molecular e com presença de heteroátomos. Sendo assim faz-se necessário o craqueamento destas moléculas (MATOS, 1997). A Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) é a única fornecedora nacional de matériaprima para produção de produtos petroquímicos básicos de primeira geração. No entanto, 30% do consumo de nafta, a principal matéria-prima da indústria petroquímica brasileira, deve ser suprido por importações, devido a falta de disponibilidade desta matéria-prima a preços competitivos. A oferta de petróleo pesado cresce ao mesmo tempo em que a demanda por destilados leves aumenta, o que se torna o maior desafio existente na produção de petroquímicos, já que há carência de tecnologias de refino que sejam totalmente adaptadas às características do petróleo brasileiro. Sendo assim, é necessário um estudo tecnológico voltado para os processos de hidroconversão, visando maximizar a obtenção de derivados nobres partindo de cargas pesadas. O petróleo explorado na costa brasileira é muito denso e viscoso e possui uma grande dificuldade de processamento já que as refinarias em operação no Brasil estão projetadas para o processamento de petróleos leves (PEREIRA, 2010). Sendo assim, vem aumentando a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias com o objetivo de favorecer a produção de derivados leves mais nobres (como GLP, gasolina, diesel e nafta) a partir do petróleo pesado. Para isto são utilizados processos de conversão. Neste trabalho foi feito uma revisão bibliográfica do processo e da cinética de conversão de hidrocraqueamento, bem como do reator mais indicado para esse processo (reator de leito de lama). Além disso, desenvolveu-se um modelo computacional a fim de otimizar a produção de frações de petróleo leves. 7 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Processos de conversão Nos processos de conversão ocorrem reações químicas sob ação da temperatura e pressão, na presença de um meio reacional apropriado. Para cada tipo de reação, podem-se empregar catalisadores específicos. Os processos que ocorrem em presença de catalisadores são chamados de processos catalíticos já os processos que não o utilizam são conhecidos como processos térmicos ou não catalíticos (NETO). O objetivo desses processos é obter produtos de maior valor econômico. Assim, pode-se produzir moléculas menores decorrentes da quebra de moléculas da carga como nos processos de coqueamento retardado, craqueamento térmico e catalítico, e hidrocraqueamento. Pode-se, também, produzir moléculas maiores a partir da junção de moléculas menores presentes na carga como no processo de alquilação catalítica. Além de promover reações de isomerização em que ocorre um rearranjo interno da molécula, sem ocorrer mudanças no tamanho da cadeia (NETO). Apesar desses processos apresentarem alta rentabilidade por transformar as frações de baixo valor agregado em frações de maior valor, o retorno de capital investido é baixo se comparado aos processos de separação já que o investimento para sua implantação é muito elevado (NETO). Quando se transforma frações como os gasóleos de vácuo e resíduos, em frações mais leves como naftas, GLP, querosene, óleo diesel, lubrificantes ou petroquímicos básicos, esse processos são classificados como processos de fundo de barril, já que permitem um maior aproveitamento do petróleo produzindo o mínimo de óleo combustível e asfalto (NETO). 2.1.1. Hidrocraqueamento O hidrocraqueamento é um processo de conversão que consiste na quebra de moléculas existentes na carga por ação de catalisadores a altas temperaturas e pressão e na presença de grandes volumes de hidrogênio. Simultaneamente as quebras, ocorre as reações de hidrogenação (PETROBRÁS, 2013). Uma vantagem apresentada por esse processo é a sua elevada flexibilidade, pois pode operar com matérias-primas desde naftas leves até resíduo de vácuo (PETROBRÁS, 2013). Entretanto, a matéria-prima utilizada apresenta grande influência sobre os produtos finais, 8 como mostrado na Tabela 1. Geralmente, a carga mais utilizada é gasóleo de vácuo (FAHIM et al, 2012). Tabela 1:Matérias-primas e produtos. Matéria-prima Querosene Produtos Nafta Diesel de destilação direta Nafta e/ou QAV Gasóleo atmosférico Nafta, QAV, e/ou diesel Gasóleo de vácuo Nafta, QAV, diesel, óleo de lubrificação LCO FCC Nafta HCO FCC Nafta e/ou destilados LCO Unidade de coqueamento Nafta e/ou destilados HCO Unidade de coqueamento Nafta e/ou destilados Óleo desasfaltado Matérias-primas da planta de olefinas Fonte: FAHIM et al (2012, p. 206). QAV: querosene de aviação; LCO: Light Cycle Oil; HCO: Heavy Cycle Oil; FCC: Unidade de Craqueamento Catalítico. Outra vantagem apresentada por esse processo é o aumento da qualidade das frações, pois diante das condições severas de operação as impurezas, como compostos de enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais, são radicalmente reduzidas ou eliminadas dos produtos finais (PETROBRAS, 2013). A desvantagem apresentada por esse processo está relacionada às condições operacionais severas. Devido ao processo ser operado em elevadas pressões e temperaturas, é necessário à utilização de equipamentos caros e de grande porte, além da necessidade de implantação de uma grande unidade geradora de hidrogênio já que o seu consumo é extremamente alto durante o processo (PETROBRAS, 2013). Um reator de hidrocraqueamento geralmente opera em uma faixa de temperatura de 530 a 700 K e a uma faixa de pressão de 6,5 a 13,5 MPa (SARAF, KUNZRU, MOHANTY, 1990). Os fatores que podem influenciar a operação (qualidade do produto), rendimento (quantidade) e a economia total do processo de hidrocraqueamento são: a configuração do processo (um ou dois estágios), tipo de catalisador e a condição de operação como o nível de conversão, razão de reciclo carga/hidrogênio, ciclo de catalisador, maximização de determinado produto dentre outros (FAHIM et al, 2012). 9 2.1.1.1.Configuração do processo Em processos de hidrocraqueamento de um estágio, como mostrado na Figura 1, podese alcançar uma conversão de 40-80% da carga. Caso seja necessária uma conversão mais elevada, o produto de fundo da torre de destilação volta para o reator a fim de completar a conversão. Essa configuração pode ser usada para processar cargas leves por passagem única ou por processo de reciclo e para maximizar um produto de diesel empregando um catalisador amorfo (FAHIM et al, 2012). Figura 1: Fluxograma do processo de hidrocraqueamento de um estágio com e sem reciclo. Fonte: FAHIM et al (2012, p.214). A Figura 2 representa o processo de hidrocraqueamento de dois estágios. Figura 2: Processo de hidrocraqueamento de dois estágios. Fonte: FAHIM et al (2012, p. 215). 10 Na primeira fase, 40-50% do volume da alimentação é hidrocraqueada. A primeira etapa também atua como um hidrotratamento devido à presença de catalisadores que apresentam eçevada razão de hidrogenação/acidez que promovem a remoção de enxofre e nitrogênio. O efluente do reator do primeiro estágio é enviado para um separador de alta pressão onde os gases ricos em hidrogênio são separados e reciclados. O líquido proveniente do separador é alimentado em uma torre de fracionamento, e os produtos de fundo da torre são utilizados para alimentar o segundo estágio (FAHIM et al, 2012). Pela utilização de um catalisador de pequena razão de hidrogenação/acidez no segundo reator é possível maximizar a produção de nafta. Entretanto, se desejar maximizar a produção de destilado médio, querosene, diesel e QAV utiliza-se catalisadores de elevada razão hidrogenação/acidez (FAHIM et al, 2012). A configuração de dois estágios apresenta maior flexibilidade do que a configuração de um estágio e é mais adequado para o processamento de cargas pesadas (FAHIM et al, 2012). 2.1.1.2.Catalisadores Dependendo do produto final que se deseja obter, as condições de operação e os catalisadores, utilizados no processo de hidrocraqueamento, podem mudar. O grau de desenvolvimento tecnológico do hidrocraqueamento está diretamente ligado com o desenvolvimento de catalisadores com melhores seletividade e atividade química (JUNIOR, 2000). Todo catalisador de hidrocraqueamento deve ser bifuncional. Possuem uma função básica, normalmente associada a sulfatos de metais nobre ou de transição, capaz hidrogenar os compostos aromáticos da carga e os precursores de coque; e uma função ácida, associada a um suporte, comumente sólidos ácidos (sílica-alumina, por exemplo), capaz de craquear de alto peso molecular e insaturados (JUNIOR, 2000; CUNHA,2013). Em processos de hidrocraqueamento de um estágio pode-se utilizar um catalisador como CoMo ou NiMo em sílica-alumina ou dois catalisadores, um catalisador de CoMo ou NiMo em alumina e um catalisador de NiMo ou NiW em zeólita. Já em processos com configuração de dois estágiossão utilizado dois catalisadores, por exemplo, CoMo ou NiMo em alumina e NiMo ou NiW em sílica-alumina ou, CoMo ou NiMo em alumina e NiMo ou NiW em zeólita ou, CoMo ou NiMo em alumina e metal nobre em zeólita (SILVA, 2007). 11 2.2.Reatores trifásicos Reatores trifásicos são aqueles em que estão presentes as fases líquido, sólido e gasosa para conduzirem uma reação. Na maioria dos casos, a reação ocorre entre o gás dissolvido e o reagente na fase líquida em presença do catalisador na fase sólida. Já em outros casos, a reação é entre o gás dissolvido e a superfície sólida e o líquido é apenas um meio inerte (CUNHA, 2013). A interação destas três fases se dá de maneira complexa, o que torna indispensável, para se ter um melhor rendimento e um bom controle das condições reacionais. Para encontrar estas condições utilizam-se simulações através de modelagem matemática (SANTANA, 1995). O tratamento apropriado dos fenômenos de transferência de massa e calor e a cinética da reação química são fatores diretamente ligados ao sucesso da modelagem (SANTANA, 1995). Alguns fatores devem ser considerados na análise teórica e no projeto de reatores trifásicos. Esses estão listados a seguir (SANTANA, 1995) Problemas relacionados à transferência de calor e de massa; Difusão dos reagentes no interior das partículas de catalisador sólido; Cinética de reação não linear; Problemas na mistura das fases em contato; Dependendo do sistema, o molhamento parcial das partículas de catalisador; Modo de operação do reator. Os reatores trifásicos podem ser classificados em dois grupos quanto ao estado do catalisador. Um grupo é composto por reatores em que o catalisador sólido está suspenso em movimento. Fazem parte desse grupo os reatores de leito de lama agitado, reatores de coluna de bolhas e lama, e reatores de leito fluidizado trifásico (CUNHA, 2013). O outro grupo é constituído pelos reatores com leito de catalisador sólido estacionário. São eles os reatores de leito fixo submerso com borbulhamento de gás e reatores de leito gotejante (CUNHA, 2013). O comportamento e o desempenho do reator trifásico podem ser afetados pelas etapas de transferência de massa devido às diferentes fases presentes na alimentação. As etapas em que os reagentes são convertidos em produtos nos sítios ativos do catalisador são: (CUNHA, 2013) 1) Transporte da fase gasosa para a interface gás-líquido; 12 2) Transporte da fase gasosa da interface gás-líquido para a fase líquida; 3) Transporte dos reagentes da interface líquido-sólido para a superfície do sólido; 4) Difusão interna dos reagentes nos poros do catalisador sólido; 5) Adsorção dos reagentes nos sítios ativos do catalisador; 6) Reação dos reagentes adsorvidos e formação dos produtos; 7) Dessorção dos produtos; 8) Transporte dos produtos em sentido contrário ao dos reagentes. As taxas de transferência de massa são dependentes do tipo e da configuração geométrica do reator além do tamanho das partículas do catalisador e das condições operacionais. A cinética da reação é afetada pela composição da alimentação e pela temperatura. As demais variáveis do sistema interferem nos fenômenos de transporte (CUNHA, 2013). Parâmetro de grande importância na análise de reatores trifásicos, a solubilidade das espécies gasosas no líquido é quantificada pela lei de Henry. Para isto deve-se supor que há equilíbrio termodinâmico na interface líquido-gás (SANTANA,1995). A lei de Henry coloca a solubilidade do gás proporcional a sua pressão parcial e é representada pela Equação 1 (SANTANA,1995). em que é pressão parcial do gás A sobre o líquido em equilíbrio com a concentração soluto no líquido, e do é a constante da lei de Henry. Ressaltando que esta constante está fortemente relacionada com a temperatura, o que ocasiona uma redução da solubilidade com o aumento da temperatura (SANTANA,1995). Para projetar um reator trifásico devem-se (SANTANA,1995) Hidrodinâmica e regimes de fluxo; Queda de pressão ao longo do reator; Áreas interfaciais e fração de vazios das fases; Resistência à transferência de calor e de massa; Fenômenos de mistura e de dispersão; Fenômenos de agregação; Distribuição de tempo de residência das fases. considerar algumas condições: 13 Em muitas vezes os reatores trifásicos são utilizados devido à impossibilidade de operar em fase homogênea por requerer temperatura ou pressão muito elevada para manter todos reagentes em uma única fase. Isso porque nas indústrias em geral há uma forte tendência de operar em temperaturas e pressões mais baixas possíveis (CUNHA, 2013). Tendo em vista que os reatores trifásicos são operados com baixa temperatura e com a presença de uma fase líquida, pode-se listar algumas vantagens quanto ao seu uso como: a economia de energia; prevenção da perda de reagentes e/ou produtos termossensíveis e da perda de catalisador e/ou suporte; melhor seletividade (a ação dissolvente do líquido e a temperatura baixa eliminam a ocorrência de reações indesejadas); alta efetividade catalítica (devido à possibilidade de utilizar catalisador com menores dimensões); melhor controle da homogeneização da temperatura (devido à maior capacidade calorífica e condutividade térmica da fase líquida é possível a eliminação de pontos quentes); e, por fim, a flexibilidade de projeto (diminuindo as restrições quanto à configuração geométrica do reator e os parâmetros de operação) (CUNHA, 2013). Entretanto, é possível observar algumas desvantagens dos reatores trifásicos, como o aumento da resistência à transferência de massa (principalmente pelas baixas difusividades em líquidos) e a diminuição da taxa de reação (pelo fato das baixas temperaturas e da baixa concentração de algum reagente devido à baixa solubilidade na fase líquida) (CUNHA, 2013). Várias tecnologias estão disponíveis para o processamentode óleos pesados. Nos processos de hidrocraqueamento geralmente usa-se principalmente dois tipos de reatores: reator leito fixo gotejante e reator de leito de lama. Em ambos os casos, durante o processamento de óleos pesados as três fases estão presentes. As vantagens do uso de reatores de leito fixo estão relacionadas à simplicidade de operação e de ampliação de escala . Os reatores operam em modo de fluxo descendente, com o líquido e gás (principalmente hidrogênio) fluindo para baixo ao longo do leito catalítico. O problema principal com este tipo de reator é o acúmulo de metais e de coque nos poros catalíticos, bloqueando o acesso dos reagentes para a superfície interna dos catalisadores (RODRIGUEZ; SÁNCHEZ; ANCHEYTA, 2005). Os reatores de leito de lama eliminam esta dificuldade pela fluidização do catalisador. Os metais são depositados em toda superfície do catalisador que permite a desativação uniforme. O catalisador é continuamente removido e adicionado a fim de manter a atividade catalítica a um nível constante. Em geral, a tecnologia de leito de lama é mais aplicável para reações altamente exotérmicas e para matérias-primas que são difíceis de processar num 14 reator de leito fixo, devido aos elevados níveis de contaminantes (RODRIGUEZ; SÁNCHEZ; ANCHEYTA, 2005). O processo de hidrocraqueamento é semelhante ao processo de craqueamento catalítico com hidrogenação sobreposta. Sabe-se que a reação de craqueamento é endotérmica enquanto a de hidrogenação é exotérmica. Uma vez que o calor requerido para o craqueamento é menor do que o calor libertado durante a hidrogenação, o processo global de hidrocraqueamento é exotérmico e a temperatura é mantida pela injeção de hidrogênio frio no reator (SARAF; KUNZRU; MOHATY, 1990). 2.2.1. Reatores de leito de lama Reatores de leito de lama são reatores capazes de envolver as três fases, ou seja, podem ser utilizados para reação de sólidos, líquidos e gases ao mesmo tempo. Estes reatores consistem normalmente de um catalisador sólido suspenso em líquido (fase lama), pela qual se borbulha um gás, e a dinâmica do sistema é controlada pela agitação, temperatura e pressão do sistema. Os reatores deste tipo podem ser operados de forma contínua ou em batelada e se operados em apenas um estágio obtêm baixas conversões (BEZERRA, 2013). O funcionamento destes reatores consiste basicamente nas etapas a seguir. No interior do reator existem peletes de catalisador suspensos em um líquido. Faz-se borbulhar o gás reagente no reator, esse gás é então absorvido pelo líquido a partir da superfície da bolha. O gás então se difunde da superfície do líquido para a superfície do catalisador. Neste ponto ele se difunde no catalisador e, de acordo com a cinética de seletividade, a reação catalítica acontece, os produtos são formados e retornam, em sentido contrário, as etapas de transferência dos reagentes. Estes passos estão mostrados na Figura 3. (SANTOS, 2002). Figura3: Etapas de contato entre fases em um reator em leito de lama. Fonte:<http://bdtd.bczm.ufrn.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=4050>. 15 Os reatores de leito de lama podem ser classificados em: (SANTOS, 2002) Reator do tipo coluna de lama agitado pelo fluxo de gás: o gás borbulhado na lama agita o escoamento das fases e as partículas sólidas são arrastadas, pelo fluxo de líquido, para fora do reator; Reator do tipo coluna de lama com leito fluidizado: o fluxo de gás e/ou líquido agita o escoamento das fases, no entanto, neste caso, as partículas sólidas permanecem no reator; Reator do tipo coluna de lama agitado mecanicamente: da mesma forma que no primeiro reator citado, as partículas sólidas são arrastadas para fora do reator, porém a agitação é feita por partes mecânicas móveis. O alto desempenho do reator de leito de lama fluidizado e sua estrutura física e operacional relativamente simples lhe conferem competitividade em relação reatores tubulares de leito fixo tradicionais (BEZERRA, 2013). A estrutura mais simples deste tipo de reator está representada na Figura 4. Os fluxos de gás e lama (líquido + sólido) são alimentados na base do reator, e os produtos da reação, os gases e líquidos não reagidos são removidos pelo topo (SANTOS, 2002). Figura 4: Esquema simplificado de um reator de leito de lama. Fonte: SANTOS, pag. 31. Reatores com leito de lama são mais frequentemente usados quando um reagente líquido deve ser colocado em contato com um catalisador sólido e quando a reação tem um elevado calor de reação (BEZERRA, 2013). 16 3. MODELO DO REATOR O modelo dos reatores de leito de lama é derivado do modelo dos reatores de coluna de bolhas. Portanto, tem-se que desenvolver primeiramente o modelo de reatores de coluna de bolhas para obter o modelo dos reatores de leito de lama. Considerando um elemento de volume diferencial dentro de um reator de coluna de bolhas de fluxo contínuo unidirecional, como mostrado na Figura 5, pode-se determinar o balanço de massa. Assume-se, por simplicidade, que somente a fase gasosa do componente A é absorvida pelo líquido e que ocorre uma reação de primeira ordem que fornece um produto não volátil (DECKWER, 1991). Figura 5: Balanço de massa para um reator gás-líquido. Fonte: Adaptado de DECKWER (1991, p. 37). O balanço da fase gasosa estacionária do sistema mostrado na Figura 5 é dada pela Equação 3 (DECKWER, 1991). em que é o fluxo molar e os índices , dispersão e transferência de massa. Já o índice O fluxo de convecção no ponto e referem-se, respectivamente, à convecção, representa a fase gasosa. é dado pela Equação 4 (DECKWER, 1991). 17 em que representa o fluxo volumétrico (cm³/s), secção transversal (cm²) e a concentração (mol/cm³), a área da a velocidade (cm/s). O fluxo de dispersão pode ser calculado pela Equação 5 (DECKWER, 1991). em que representa a fração de vazios na fase gasosa, (mol/cm³), a concentração total da fase gasosa a fração molar do componente A na fase gasosa e o coeficiente de dispersão axial na fase gasosa (cm²/s). Os fluxos de convecção e dispersão no ponto podem ser calculados pela Série de Taylor, como mostram as Equações 6 e 7. O coeficiente de dispersão pode ser considerado como constante (DECKWER, 1991). O fluxo de transferência de massa é calculado pela Equação 8 (DECKWER, 1991). em que é o coeficiente de transferência de massa na fase líquida, unidade de volume de dispersão, a área interfacial por a concentração de equilíbrio de A em fase líquida e é dada pela Equação 9. sendo a taxa de reação de primeira ordem e o coeficiente de difusão do componente gasoso A. Substituindo as Equações 4 a 8 na Equação 3, tem-se 18 De forma semelhante, considerando uma reação de primeira ordem, obtêm-se o balanço da fase líquida para o reagente gasoso dissolvido descrito na Equação 11 (DECKWER, 1991). em que e representam a fração de vazios e o coeficiente de dispersão na fase líquida, respectivamente. Na Equação 11, assume-se que a velocidade da fase líquida, velocidade do gás, , é independente e a , no balanço da fase gasosa de A (Equação 10) é introduzido como uma variável que considera o gradiente de pressão na coluna de bolhas, que somente é insignificante em operações que a pressão é relativamente alta. Isso significa que deve ser considerado o balanço da fase gasosa total, calculado pela Equação 12 (DECKWER, 1991). Modelos para o reator de coluna de bolhas podem ser divididos de acordo com o comportamento de cada uma das fases. Considerando que a fase de suspensão, incluindo o gás dissolvido, é totalmente misturada e que a fase gasosa se comporta como escoamento empistonado, tem-se o modelo de um reator de leito de lama. Dessa forma, podem-se reescrever as equações do balanço de massa da fase gasosa, da fase líquida e da fase gasosa total, respectivamente, como mostrado a seguir (DECKWER, 1991). 19 3.1.Estimativas dos parâmetros do modelo 3.1.1. Fração de vazios A quantidade de gás ou líquido em uma dispersão gás-líquido é considerada como a relação de fração de vazios de gás ou de líquido. As frações de vazios de gás e de líquido podem ser relacionadas pela Equação 16. em que e representam, respectivamente, a fração de vazios do gás e do líquido. Pela correlação empírica de Bach e Pilhofer (1978), pode-se obter a fração de vazios do gás. em que representa a velocidade do gás . 3.1.2. Dispersão da fase líquida Uma correlação empírica para o cálculo do coeficiente de dispersão da fase líquida é proposta por Badura et al (1974). Essa correlação é baseada em dados de diversos reatores de coluna de bolhas e, também, em dados de outros autores. em que representa o diâmetro do reator . 3.1.3. Dispersão da fase gasosa O coeficiente de dispersão da fase gasosa apresenta relação com a velocidade do gás e com a fração de vazios da fase gasosa. Mangartz e Pilhofer (1981) determinaram o efeito do diâmetro do reator no valor do coeficiente de dispersão gasoso e propuseram a seguinte correlação. em que 20 3.1.4. Coeficiente de transferência de massa volumétrico O produto entre o coeficiente de transferência de massa do lado líquido interfacial específica volumétrico e a área é conhecido como coeficiente de transferência de massa . Em alguns casos, as propriedades de transferência de massa podem ser caracterizadas apenas por e um projeto de reator gás-liquido pode ser baseado somente nesse fator. Isto porque a resistência de transferência de massa do lado gasoso é frequentemente insignificante. Dessa forma, não há necessidade de divisão entre os valores de e . Deckwer et al. (1983) desenvolveu uma correlação empírica que permite o cálculo do coeficiente de transferência de massa volumétrico, como mostrado na Equação 21. 3.1.5. Taxa de reação Como o processo de hidrocraqueamento envolve um grande número de reações e, consequentemente, um número elevado de parâmetros cinéticos é viável agrupar compostos que apresentam alguma semelhança entre si (lumps) e determinar as características das reações a partir desses grupos. Rodríguez; Sánchez; Ancheyta (2005) propuseram um modelo cinético de cinco lumps para o processo de hidrocraqueamento de óleos pesados, como mostrado na Figura 6. Figura 6: Modelo cinético de 5 lumps. Fonte: Sánchez et al. (2005, p. 83). 21 Os valores das taxas de reação encontrados estão reportados na Tabela 2. Tabela 2: Taxas de reação à temperatura de 400ºC. Constante cinética 0,147 0,022 Resíduo 0,020 0,098 0,057 Gasóleo de vácuo 0,007 0 Destilados médios Nafta 0,003 0 0 Fonte: SÁNCHEZ et al (2005, p.84). 3.1.6. Concentração de Equilíbrio A concentração de equilíbrio pode ser escrita conforme a Equação 22 (DECKWER, 1991). em que representa a constante dos gases ideais temperatura em e , a a constante de Henry. 4. METODOLOGIA A fim de obter o perfil de concentração do hidrogênio (componente A) nas fases líquida e gasosa do processo de hidrocraqueamento, fez-se uma modelagem computacional utilizando os balanços de massa para esse tipo de reator. Como o processo de hidrocraqueamento é realizado em altas pressões, pode-se considerar a velocidade do gás constante e ignorar o balanço da fase gasosa total (Equação 22 15). A seguir está descrito as equações dos balanços de massa da fase líquida e gasosa, respectivamente, como foram implementadas. O programa computacional utilizado foi o Scilab, versão 5.4.1. Este programa foi escolhido devido à facilidade de obtenção do software. Para solucionar essas equações utilizou-se a função “ode”. Essa função é utilizada para solucionar equações diferenciais ordinárias pelo método de Runge-Kutta de ordem 4 (Scilab Enterprises, 2013). O código do programa está descrito no Apêndice A. Considerou-se neste trabalho que o processo de hidrocraqueamento foi realizado a 600K e 10 MPa e a carga utilizada foi gasóleo de vácuo cuja composição está descrita na Tabela 3. Também foi considerado que o gasóleo é craqueado apenas à nafta, como mostrado na Equação 25. Tabela 3: Composição do gasóleo de vácuo. Elemento Carbono % (em massa) 84,4 Hidrogênio 10,8 Nitrogênio 1,5 Enxofre 3,8 Fonte: Cai et al (2000, p. 1059). 5. RESULTADOS Na tentativa de otimização do processo de hidrocraqueamento, optou-se por fixar as dimensões do reator e as concentrações iniciais de hidrogênio no líquido e no gás e variar a velocidade da fase gasosa. O melhor resultado seria aquele em que a concentração de 23 hidrogênio tornasse próximo ao fim do reator, para se ter maior aproveitamento do mesmo. As variáveis fixadas estão apresentadas na Tabela 4. Tabela 4: Valores dos parâmetros do modelo. Parâmetro Valor *Referência:Perry; Green (1999). Após a simulação dos dados no programa, pode-se concluir que a melhor velocidade para o gás, nas condições adotadas, foi , já que a concentração de hidrogênio zerou no fim do reator, como mostra a Figura 8. Velocidades menores que esta zeraram antes de e valores maiores zeraram depois, resultados que não são satisfatórios. As Figuras 7 e 8 mostram os perfis de concentração do hidrogênio na fase líquida e na fase gasosa, respectivamente. Figura 7: Perfil de concentração de hidrogênio na fase líquida. 24 Figura 8: Perfil de concentração de hidrogênio na fase gasosa. Tanto a curva de (Fig. 7) quanto a de (Fig. 9) se comportaram como o esperado. Já que o hidrogênio foi transferido da fase gasosa para a fase líquida, esperava-se que a curva de aumentasse ao longo do reator e a curva de diminuisse. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após pesquisa bibliográfica concluiu-se que os reatores de leito de lama são os mais indicados para o processo de hidrocraqueamento. A partir disto, definiu-se o modelo do reator e os parâmetros cinéticos para simular computacionalmente dados empíricos a fim de otimizar o processo. O modelo gerou perfis de concentrações que se comportaram de forma satisfatória, ou seja, a concentração de hidrogênio no líquido aumentou ao longo do reator enquanto que no gás diminuiu, o que era esperado, já que hidrogênio passa do gás para o líquido. A modelagem permitiu obter dados para a otimização do processo nas condições préestabelecidas. Foi possível encontrar uma velocidade ideal para a fase gasosa para obter o melhor aproveitamento do reator, chegou-se à Este mesmo modelo pode ser usado para outras dimensões de reator de leito de lama e outras concentrações de hidrogênio na corrente de líquido e de gás. Para que seja mais preciso, é ideal considerar todas as reações envolvidas entre a carga e o produto desejado apresentadas no sistema de lumps considerado. Uma implementação mais refinada deste modelo tornaria uma alternativa para ajudar as indústrias petroquímicas brasileiras minimizar a importação de nafta, maximizando a obtenção de derivados nobres partindo de cargas pesadas. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACH, H.F.; POLHOFER, T. Gas holdups, specific interfacial areas, and mass transfer coefficients of aerated carboxymethyl cellulose solutions in a bubble column. Germany Chemical Engineering, v. 1, p. 270, 1978. 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MPa. mol-1] ydot(1)=y(2); ydot(2)=-((A9/(A5*A8))*((y(3)*((A11*A12)/A13))-y(1)))+((A10/A8)*y(1)); ydot(3)=y(4); ydot(4)=((A1/(A4*A7))*y(4))+((A9/(A4*A7))*((y(3)*((A11*A12)/A13))-y(1))); endfunction txt=['x0=';'y0=';'x=']; valor=x_mdialog('Forneça informações',txt,['0';'[0.5;0;3;0]';'[0:0.05:250]']) x0=evstr(valor(1)); y0=evstr(valor(2)); x=evstr(valor(3)); y=ode(y0,x0,x,f) subplot(211),plot2d(x,y(1,:)); xtitle("Perfil de Concentração de H na fase líquida","x (cm)","c (mol/cm³)") subplot(212),plot2d(x,y(3,:)); xtitle("Perfil de Concentração de H na fase gasosa","x (cm)","c (mol/cm³)")