UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Revista do Hospital Universitário/UFMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO REVISTA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Fernando Antonio Guimarães Ramos Reitor Editora Científica Arlene de Jesus Mendes Caldas José Américo da Costa Barroqueiro Vice-Reitor Editores Associados Adalgisa de Souza Paiva Ferreira - UFMA Alcione Miranda dos Santos - UFMA Arlene de Jesus Mendes Caldas - UFMA Manuel Santos Faria - UFMA Natalino Salgado Filho - UFMA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Elizabeth de Sousa Barcelos Barroqueiro Presidente do Conselho de Administração Natalino Salgado Filho Diretor Geral Nair Portela Silva Coutinho Diretora Adjunta de Ensino, Pesquisa e Extensão Alessandra Enes Rocha Diretora Adjunta de Administração e Finanças Marina do Nascimento Sousa Diretora Adjunta de Planejamento Zeny de Carvalho Lamy Diretora Adjunta de Serviços Assistenciais Redação e Administração da Revista Hospital Universitário/UFMA Rua Barão de Itapary, 227 - Centro São Luís - Maranhão - CEP: 65020-070 Telefone: (98) 2109-1242 Email: [email protected] Conselho Editorial Alcimar Nunes Pinheiro - UFMA Aldina Maria Prado Barral - UFBA/FIOCRUZ Antonio Augusto Moura da Silva - UFMA Antonio Rafael da Silva - UFMA Elba Gomide Mochel - UFMA Feliciana Santos Pinheiro - UFMA Fernando Antonio Guimarães Ramos - UFMA Fernando Lamy Filho - UFMA Jackson Maurício Lopes Costa - CPqGM/FIOCRUZ José Wanderley Vasconcelos - UFMA Luciane Maria de Oliveira Brito - UFMA Manoel Santos Faria - UFMA Marilia da Glória Martins - UFMA Orlando Jorge Martins Torres - UFMA Raimundo Antonio da Silva - UFMA Sirliane Sousa Paiva - UFMA Zeni de Carvalho Lamy - HUUFMA Normalização Bibliográfica Ana Luzia de Sá Magalhães Editoração Eletrônica João Lindoso Farias Neto Tiragem 500 exemplares Revista do Hospital Universitário / UFMA, periódico biomédico de divulgação científica do Hospital Universitário da UFMA, v.1, n.1, 1995.-São Luís, 1995. v. 6, n. 3, 2005 Quadrimestral. (ISSN – 1677-4647) 1. Ciências da Saúde – periódicos. I. Universdade Federal do Maranhão II. Hospital Universitário. CDU: 61(05) Sumário/Summary Editorial................................................................................................................................................. Artigos/Articles Aspectos da consulta pré-natal no Hospital Universitário, HU/UFMA. Andreia Costa Machado Silva, Elba Gomide Mochel, Cláudia Teresa Frias Rios........................................................................ . Avaliação da assistência pré-natal realizada pelo Programa de Saúde da Família no município de São José de Ribamar - MA. Maria Bethânia da Costa Chein, Luciane Maria Oliveira Brito, Karleno de Lima Cantanhede, Plinio da Cunha Leal, Gilvan Costa Lucena, Listhiane Marta de Almeida Silva, Mágela Conceição Gonçalves Oliveira................................................................................................. Tuberculose pulmonar: opinião do usuário. Edgar Pinheiro Castro, Thaís Furtado Ferreira, Arlene de Jesus Mendes Caldas, Anderson Mendes Caldas........................................................................... Características de mulheres soropositivas para HIV atendidas em uma maternidade pública. Luzinéa de Maria Pastor Santos Frias, Lena Maria Barros, Rita da Graça Carvalhal Frazão Corrêa, Sâmua Carvalho Silva, Waldeise Pereira.............................................................................................. . Prevalência de fatores de risco coronarianos e isquemia miocárdica em pacientes diabéticos assintomáticos ambulatoriais. Francisco das Chagas Monteiro Júnior, Fhabyula da Silva Cunha, Natalino Salgado Filho, José Bonifácio Barbosa, João Ribeiro Furtado, Pedro Antônio Muniz Ferreira.................................................................................................................................................. Gerenciamento de resíduos sólidos de hospitais do município de São Luís, Maranhão, Brasil. Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco, Jackson Mauricio Lopes Costa................................... Artigos de Atualização/Articles of update Procedimentos arquivísticos do prontuário do paciente no arquivo médico do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão - HU/UFMA. Ana Luzia de Sá Magalhães.... Alterações morfológicas na cavidade oral decorrentes do álcool. Carlyle Antônio Pinheiro Brandes Filho, Fernanda Ferreira Lopes............................................................................................................. Qualidade de vida em transplantado renal. Elisângela Milhomem dos Santos , Natalino Salgado Filho....................................................................................................................................................... Relato de Caso/Case Report Gestação e câncer de colo: estudo de caso baseado na teoria das necessidades humanas básicas. Camila Maria Santana Costa, Cláudia Teresa Frias Rios, Davi Wekson Caldas Pimentel, Elba Gomide Mochel............................................................................................................................. 7. . . 9 . 15. . . 19. . . . 23 . 28. . . 34 . 39. . . 45 48. . . . . 51 Normas Redatoriais/Notes to Contributors Editorial A Revista do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão é período biomédico que tem por objetivo oferecer aos profissionais a oportuniddade para publicação de artigos contribuindo com a divulgação e ampliação de conhecimentos. Nesta edição, a revista apresenta artigos relevantes, referentes ao grupo materno-infantil, tais como: Aspectos da consulta pré-natal realizada pelo Programa Saúde da Família no município de São José de RibamarMA; Características de mulheres soropositivas para HIV atendidas em uma maternidade pública; Gestação e câncer de colo: estudo de caso baseado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Estão contemplados também artigos voltados para a saúde do adulto, como: Tuberculose pulmonar: opinião do usuário; Prevalência de fatores de risco coronarianos e isquemia miocárdica em pacientes diabéticos assintomáticos ambulatoriais; Qualidade de vida em transplantado renal e Alterações morfológicas na cavidade oral decorrentes do álcool. Os artigos referentes ao Gerenciamento de resíduos sólidos de hospitais no município de São Luís e Procedimentos Arquivísticos do prontuário do paciente no Arquivo Médico do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, trazem significativas contribuições na área de gestão de serviços. Dessa forma, a revista mantém uma linha de pesquisa voltada para as prioridades do Sistema Único de Saúde e loco regional. . . . Ana Luzia de Sá Magalhães Bibliotecária da Revista do Hospital Universitário / UFMA Artigo / Article Revista do Hospital Universitário/UFMA Aspectos da consulta pré-natal no Hospital Universitário, HU/UFMA Pre-natal Medical Appointment Features at the University Hospital Andreia Costa Machado Silva1 Elba Gomide Mochel2 Cláudia Teresa Frias Rios3 Resumo: Pesquisa de campo do tipo descritiva, prospectiva, com abordagem quantitativa, com o objetivo de avaliar a consulta pré-natal de acordo com informações pessoais da gestante, no que se refere aos procedimentos e orientações recebidos. A coleta de dados, através de um questionário, foi realizada no ambulatório de pré-natal do serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão no município de São Luís-MA, no período de maio a agosto de 2005. Os resultados mostraram que 62,3% dos profissionais não se identificavam profissionalmente e 56,8% não explicavam os procedimentos realizados. Peso e pressão arterial foram verificados em 100% das gestantes; 95% das gestantes não possuíam o registro do ganho ponderal; 74,1% não receberam informações sobre exames que iriam realizar e 54,5% destas, não receberam orientações. O registro da imunização no cartão da gestante foi observado em 55,9% das entrevistadas e apenas 42,3% das gestantes apresentavam registros da consulta no cartão da gestante. O fato das gestantes serem atendidas mensalmente no pré-natal, não significa que esta assistência seja de qualidade. Estas mulheres, portanto, não estão recebendo uma atenção adequada. Descritores: Pré-natal. Avaliação. Saúde Pública. Abstract: A descriptive, prospective field research of a quantitative approach aiming at evaluating the prenatal medical appointment according to personal information from pregnant women with respect to procedures and received guidance. The data collecting was carried out through a question form in the outpatient pre-natal care obstetric and gynecology services at the Federal University Hospital of Maranhão in São Luis, Maranhão – Brazil, in the period from May to August, 2005. The results showed that 63.3% of the health workers were not professionally identified and that 56.8% did not explain the undertaken procedures. Weight and blood pressure were recorded in 100% of pregnant women; 95% had no record of ponderous gain; 74.1% received no information about tests to be taken and, 54.5% received no guidance. Immunization record of pregnant women was observed in 55.9% of interviewees, and roughly 42.3% showed doctor’s appointment record keeping. The fact that pregnant women had been attended on a monthly basis for pre-natal care does not translate into a quality care. Therefore it is concluded that those wemen are not receiving appropriate care. Keywords: Pre-natal care, Evaluation, Public health. Introdução A assistência pré-natal adequada é fator essencial à proteção da díade mãe e filho. Só ela conduzirá ao objetivo que todas almejam: o nascimento de feto vivo e sadio, sem problemas físicos ou mentais, obstando seu desenvolvimento imediato ou futuro1. Para Tedesco2, conceitualmente, a assistência pré-natal é o atendimento multidisciplinar que objetiva alcançar e manter a integridade das condições de saúde materna e fetal e cujos resultados devem ser avaliados a longo prazo, com a formação de pessoas úteis à comunidade e produtivas para o País. Fator de sucesso na assistência pré-natal é a atuação do pré-natalista. O desejável é que seja competente, humano e dedicado. Competente, para orientar convenientemente a gestante, reconhecer os problemas no momento devido e conduzi-los de maneira correta. Humano, para poder entender e viver com a gestante as emoções da prenhez, orientando, discutindo e esclarecendo as dúvidas, e afastando-lhe as tensões. Dedicado, a ponto de dispensar a cada paciente, todo o tempo que for necessário para um atendimento adequado3. Este estudo foi realizado com o objetivo de caracterizar a gestante quanto aos aspectos socioeconômicos e gineco-obstétricos; investigar a realização da anamnese, exame físico obstétrico e exames laboratoriais e identificar as orientações ministradas pelos profissionais da saúde. Curso Enfermagem Doutora em Enfermagem Obstétrica 3 Mestre em Enfermagem 1 2 Silva ACM et al Métodos Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo descritiva, prospectiva, realizada no ambulatório de pré-natal do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Universitário da UFMA no período de maio a agosto de 2005, após os procedimentos determinados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS e suas complementares. A população abrangeu todas as gestantes atendidas no período estabelecido, perfazendo um total de 220 mulheres. Para coleta de dados, foi utilizado um questionário com perguntas fechadas sobre condutas que interferem na qualidade da consulta durante a assistência pré-natal, abordando questões referentes à identificação, dados socioeconômicos, motivos da consulta, antecedentes pessoais, familiares, ginecológicos, antecedentes obstétricos, informações sobre a gestação atual, realização dos exames físico e obstétrico, solicitação de exames complementares e orientações dadas a gestante no momento da consulta (condutas adotadas pelo pré-natalista). As gestantes respondiam ao questionário logo após a consulta pré-natal. Optou-se por essa técnica por se entender que não haveria respostas “não sei” e “não lembro” devido ao esquecimento pelas gestantes do procedimento realizado; objetivo que foi alcançado, uma vez que, nenhuma das entrevistadas apresentou como resposta estas opções. A pesquisa foi realizada nos turnos matutino e vespertino alternadamente. Resultados Com uma amostra de 220 gestantes entre 14 e 35 anos de idade, 73 realizavam a primeira consulta e 147 participaram de consultas subseqüentes. A partir da tabela 1, todos os dados são referentes a condutas tomadas pelos profissionais durante a consulta pré- natal, sendo que nas tabelas referentes à primeira consulta, o N equivale a 73 mulheres e nas tabelas referentes às consultas subseqüentes, o N equivale a 147 mulheres. Tabela 1 - Atitude do profissional durante a consulta pré-natal. HUUMI. São Luís-MA, 2005. VARIÁVEIS SIM NÃO TOTAL f % f % f % Identificação profissional 83 37,7 137 62,3 220 100,0 Chamou a cliente pelo nome 163 74,1 57 25,9 220 100,0 Explicou procedimentos realizados 95 43,2 125 56,8 220 100,0 Oportunidade para perguntas 151 68,6 69 31,4 220 100,0 Respondia adequadamente as perguntas 123 55,9 97 44,1 220 100,0 Oportunidade para queixas 119 54,1 101 45,9 220 100,0 Sugeriu medidas de alívio 115 52,3 105 47,7 220 100,0 Tabela 2 - Investigação dos antecedentes ginecológicos e sexualidade na primeira consulta. HUUMI. São Luís-MA, 2005. VARIÁVEIS SIM NÃO TOTAL f % f % f % Menstruação 73 100,0 0 0,0 73 100,0 Métodos anticoncepcionais 63 94,5 4 5,5 73 100,0 Doenças sexualmente transmissíveis 57 78,1 16 21,9 73 100,0 Doenças ginecológicas e de mamas 43 58,9 30 41,1 73 100,0 Menarca 38 52,1 35 47,9 73 100,0 Coitarca 40 54,8 33 45,2 73 100,0 Tabela 3 - Avaliação das gestações anteriores na primeira consulta. HUUMI. São Luís-MA, 2005. VARIÁVEIS SIM NÃO TOTAL f % f % f % Idade na primeira gestação 14 34,2 27 65,8 41 100,0 Intervalo entre as gestações 18 43,9 23 56,1 41 100,0 Condições do recém-nascido 8 19,5 33 80,5 41 100,0 Complicações após o parto 4 9,8 37 90,2 41 100,0 Aleitamentos anteriores 11 26,8 30 73,2 41 100,0 10 Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):9-14, set-dez, 2005 Tabela 4 - Realização de exame físico durante o pré-natal. HUUMI. São Luís-MA, 2005. PRIMEIRA CONSULTA VARIÁVEIS SIM CONSULTA SUBSEQÜENTE NÃO SIM NÃO TOTAL f % f % f % f % f % Peso 73 100,0 0 0,0 147 100,0 0 0,0 220 100,0 Pressão arterial 73 100,0 0 0,0 147 100,0 0 0,0 220 100,0 Exame de mamas 8 11,0 65 89,0 28 19,0 119 81,0 220 100,0 Exame abdominal 46 63,0 27 37,0 131 89,1 16 10,9 220 100,0 Exame de MMII 24 32,9 49 67,1 117 20,4 30 79,6 220 100,0 DISCUSSÃO Na Tabela 1, observa-se que as condutas priorizadas pelos profissionais foram: chamar a cliente pelo nome e oportunidades para perguntas; atitudes fundamentais para o estabelecimento da interação entre as usuárias do serviço e os profissionais da saúde, mas estas condutas não são as únicas necessárias para o estabelecimento de uma interação de qualidade. Sancovski4 afirma que, não deve o profissional menosprezar qualquer queixa ou sintoma referido, sob alegação de que está lidando com gestante e que gravidez não é doença. Segundo o Ministério da Saúde5 a maioria dos pré-natais é de curta duração, impedindo que as mulheres manifestem queixas, dúvidas e medos intrínsecos à gravidez, o que impede que possíveis anormalidades sejam detectadas. O profissional deve, portanto, estabelecer um vínculo com a gestante, proporcionando à mesma mais segurança e atentado para seus questionamentos, pois, como reforça o Ministério da Saúde, a maioria das questões trazidas, embora pareça elementar para quem escuta, pode representar um problema sério para quem o apresenta. Dessa forma, respostas diretas e seguras são de significativa importância para o bem-estar da mulher4,5. A investigação dos dados socioeconômicos da gestante como escolaridade, situação conjugal, profissão ou ocupação, renda familiar e condições de moradia são primordiais para o estabelecimento de condutas adequadas na assistência pré-natal, e deve ser realizada na primeira consulta4. A escolaridade da gestante é fator determinante na forma de comunicação que será utilizada com a mesma, uma linguagem adequada e familiar torna a cliente receptiva as informações fornecidas. Para Lima6 a investigação da história clínica familiar é importante na identificação de enfermidades passíveis de influenciar na evolução de uma gestação e exercer efeitos nocivos sobre o concepto. É o caso de doenças de transmissão hereditárias como: cardiopatia, diabete, hipertensão arterial, epilepsia, neoplasias e alterações psíquicas; e doenças de transmissão infecciosa como: tuberculose e sífilis. Este autor ainda afirma que a investigação dos antecedentes pessoais é de fundamental importância, uma vez que, qualquer moléstia anterior à gestação pode influir desfavoravelmente na sua evolução. As viroses, as parasitoses, as doenças sistêmicas, os distúrbios circulatórios ou mentais, as operações anteriores, entre outros, podem representar risco aumentado para a mãe e seu filho. Os antecedentes ginecológicos observados na Tabela 2, por sua vez, fornecem dados para que se surpreenda alguma disfunção ginecológica que possa trazer repercussão direta para a gestação. Em nosso meio, a menarca se instala por volta dos 13 anos; sendo esta a idade que marca a atividade hormonal ovariana sobre o organismo da mulher; desta forma, menarca precoce indica atividade esteróide precoce, fazendo com que estas pacientes tenham tendência a apresentar bacias do tipo platipelóide pela aceleração da soldadura da cartilagem dos ossos; já a menarca tardia está associada à bacia do tipo andróide e hipoplasia genital, o que pode levar a interrupção prematura da gestação. A descoberta destas disfunções logo no início do acompanhamento prénatal, impõe a instituição de terapêutica, possibilitando evitar o parto prematuro7,3. Para Rodrigues8, todos os dados relativos à história menstrual são importantes para o diagnóstico e condução da gravidez; por estes motivos, interessam a data da última menstruação, suas características, a presença de períodos de amenorréia ou de metrorragias. A regularidade ou não dos ciclos menstruais, bem como a quantidade e freqüência do fluxo são dados de grande valia, uma vez que, influenciam na confiabilidade da data da última menstruação, para o cálculo da data provável do parto e na possibilidade e intercorrências. Ciclos metrorrágicos, hipermenorrágicos ou hipooligomenorréicos devem ter suas causas investigadas, pois a ocorrência de mioma uterino poderá provocar abortamento, parto prematuro, obstrução da progressão fetal, entre outros. O Ministério da Saúde5, afirma ainda que os métodos anticoncepcionais devem ser investigados principalmente para a confiabilidade da data da última menstruação, tão necessária para o cálculo da idade gestacional. O início da atividade sexual, sua freqüência bem como o número de parceiros devem ser investigados, deve-se ter também uma preocupação particular com as doenças sexualmente transmissíveis e doenças ginecológicas, pois algumas são danosas para o produto conceptual, assim como doenças de mama, 11 Silva ACM et al que podem trazer problemas no pós-parto relacionados com o aleitamento materno9. Na avaliação das gestações anteriores (Tabela 3), o conhecimento da evolução pré-natal, tipo de parto, peso e condições do recém-nascido e puerpérios anteriores; se constitui de extremo valor na anamnese obstétrica, pois estas informações podem dar indicações do prognóstico da atual gestação e problemas que poderão ocorrer na mesma em caso de repetição de sintomas anteriores10. A idade na primeira gestação deve ser investigada para que se identifique gestantes com possibilidade de útero imaturo devido a pouca idade materna e gestantes que pertencem ao grupo de risco gestacional por apresentar idade avançada; de acordo com o Ministério da Saúde as idades de risco encontram-se em gestantes com menos de 17 anos e acima de 35 anos; risco que abrange as gestantes estudadas na pesquisa, pois grande parte da amostra é formada por adolescentes1,4. No que diz respeito ao intervalo entre as gestações, Carvalho11 afirma que o espaço de tempo decorrido entre o último parto e a gestação atual se constitui no intervalo interpartal. Quando sua duração for de dez anos ou mais, a atividade do organismo feminino equivale a uma estréia funcional, a evolução da gestação atual, bem como do parto, equivale a de uma primigesta. Assim, são mais encontradas doenças hipertensivas específicas da gestação e o prolongamento da duração do parto. Durante a realização da anamnese é importante que dados como data da última menstruação, sinais e sintomas, condições de aceitação da mesma e uso de tabaco ou álcool sejam investigados; estes fatores influenciam na avaliação da evolução de gravidez, na ocorrência de complicações, sua condução e possível conduta no momento do parto12, 13. Para Corrêa 3, a primeira informação a ser colhida refere-se à data da última menstruação: o dia em que começou, e se a quantidade e duração foram iguais às anteriores; estes são dados de valor importante não apenas para confirmar o diagnóstico, mas também para avaliar sua evolução e calcular a data provável do parto, ressaltando-se que na primeira consulta a mulher tem condições de fornecer, com maior precisão, esses esclarecimentos. Durante a gestação, as mulheres passam por vários tipos de desconforto. No que diz respeito ao exame abdominal, observa-se na Tabela 4 que tanto na primeira consulta como na consulta subseqüente este é o procedimento mais realizado depois da verificação do peso e pressão arterial, assemelhandose aos dados da pesquisa de Cavalcanti14 sobre a satisfação das puérperas com o pré-natal, onde 94,4% das entrevistadas tiveram medida sua altura uterina e 93,5% relataram que o pré-natalista auscultou os batimentos cardiofetais. Este estudo caracteriza que a assistência prénatal realmente prioriza procedimentos como peso e pressão arterial; sendo importante mencionar que no campo onde se realizou a pesquisa, tais medidas são 12 realizadas antes da consulta pré-natal, funcionando como um pré-requisito para a realização da mesma. Verifica-se ainda que o profissional também tem interesse no desenvolvimento fetal através da realização do exame abdominal; contudo o exame das mamas e membros inferiores ocorrem em número reduzido, o que mostra a menor preocupação do profissional com o cuidado e preparo das mamas para o aleitamento materno e avaliação de edemas e varizes, o que segundo Burroughs9 na maioria das vezes é normal no final da gestação, mas que em alguns casos pode indicar uma alteração como a toxemia gravídica . A assistência pré-natal deve ser documentada Tabela 5 - Realização de registros no cartão da gestante. HUUMI. São Luís-MA, 2005. Registro no cartão f % Sim 93 42,3 Não 127 57,7 Total 220 100,0 por um registro pré-natal de boa qualidade, o que não ocorreu na assistência prestada a maioria das mulheres participantes da pesquisa de acordo com a Tabela 5. As consultas de pré-natal tem o objetivo de acompanhar a evolução da gestação, devem portanto, ser realizadas cuidadosamente e ter o seu conteúdo simplificado anotado no “Cartão de Pré-natal” da gestante. Neste cartão encontraremos dados sobre a evolução da gestação, resultados dos exames complementares e intercorrências, de forma que a paciente ao procurar um atendimento em outra unidade de saúde ou hospitalar possa ser prontamente atendida com base nas anotações da evolução do pré-natal contida no cartão, evitando complicações por falta de informações sobre o estado atual da gestante15. As orientações durante a gestação devem ser fornecidas igualmente á todas as gestantes independente de sua paridade e experiência com gestações anteriores. O fato de uma mulher já possuir filhos, não significa que a mesma tenha todo o conhecimento sobre condutas a tomar durante a gestação; ela pode fazer uso de métodos errados que precisam ser corrigidos e que por falta de investigação e negligencia profissional, confiando na paridade da mulher, não fornecem orientações essenciais para a evolução de uma boa assistência pré-natal16,17, como mostrar a Tabela 6. Deve-se investigar as experiências passadas da mulher em relação à maternidade, só assim se terá respaldo suficiente para excluir informações que a gestante já tenha ,corrigir condutas erradas, fornecer orientações que a mesma não tenha e esclarecer possíveis alterações que possam surgir Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):9-14, set-dez, 2005 Tabela 6 - Recebimento de orientações segundo a paridade da gestante. HUUMI. São Luís-MA, 2005. ORIENTAÇÕES PARIDADE SIM NÃO TOTAL f % f % f % 0 72 76,6 22 23,4 94 42,7 1 15 24,2 47 75,8 62 28,2 2 10 22,7 34 77,3 44 20 3 3 17,6 14 82,4 17 7,7 4 0 0,0 2 100,0 2 0,9 6 0 0,0 1 100,0 1 0,5 CONCLUSÃO Neste estudo os indicadores investigados mostram que os profissionais em sua maioria (62,3%) não se identificavam profissionalmente durante a consulta pré-natal e 56,8% não explicavam os procedimentos realizados. Em contra partida, 74,1% dos profissionais chamou a cliente pelo nome, 68,6% deu oportunidade para perguntas, 55,9% respondia adequadamente as perguntas, 54,1% deu oportunidade para queixas e 52,3% sugeriu medidas de alívio para as queixas apresentadas. Quanto aos antecedentes obstétricos, 100% dos profissionais investigaram o número de abortamentos e na avaliação das gestações anteriores, todos os dados apresentaram baixos percentuais de investigação. Informações como a data provável do parto, idade gestacional e consultas subseqüentes foram fornecidas para todas as gestantes entrevistadas (100%). O exame físico realizado na primeira consulta e consulta subseqüente apresentaram relativa semelhança em suas condutas, onde em ambos, somente o peso e a pressão arterial foram 100% verificados. O registro do ganho ponderal no cartão da gestante não foi realizado em 95% das gestantes. 54,5% destas, não receberam orientações e apenas 42,3% das gestantes apresentavam registros da consulta realizada no cartão da gestante. Quando relacionado o recebimento de orientações e a paridade da gestante, constatou-se que quanto maior a paridade, menor o número de orientações recebidas; outros fatores diretamente relacionados são as orientações do profissional para a gestante e a escolaridade da mesma. A pesquisa mostra que à medida que a escolaridade aumenta, torna-se maior o número de mulheres que recebem orientações sobre os procedimentos realizados. Estes dados mostram que o fato das gestantes serem atendidas mensalmente no pré-natal, não significa que esta assistência seja de qualidade; estas mulheres não estão recebendo atenção adequada. Parte dos problemas detectados nesta pesquisa podem ser resolvidos pela iniciativa e motivação dos profissionais da saúde, como a humanização do atendimento, medida fundamental para se melhorar a qualidade da assistência pré-natal. Daí a importância das ações de todos os profissionais da saúde, estarem direcionadas para as reais necessidades desta clientela, mediante o desenvolvimento de práticas educativas, focalizando as ações de prevenção e controle, as quais, conseqüentemente, poderão contribuir para a melhoria da qualidade da assistência pré-natal e para reduzir os índices de morbi-mortalidade perinatais. REFERÊNCIAS 1. 2. Belfort P. Medicina preventiva: assistência pré-natal. In: Rezende J. Obstetrícia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. p. 260-275. 3. Corrêa M D. Noções práticas de obstetrícia. 11. ed. Belo Horizonte: Coopmed; 1994. 4. Tedesco J J A. A grávida: suas indagações e as dúvidas do obstetra. São Paulo: Atheneu; 1999. Sancovski M. Consulta pré-natal. In: Zugaib M, Sancovski M. O pré-natal. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 1994. p. 13-48. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de 13 Silva ACM et al Saúde. Assistência pré-natal: manual técnico. 3. ed. Brasília(DF): MS; 2000. ed. São Paulo: EPU; 1995. 6. Lima A J. Pediatria essencial. 5. ed. São Paulo: Atheneu; 1998. 12. Vazin, A S, Nery M E S. Consulta de enfermagem: uma necessidade social? 2. ed. Porto Alegre: RM&L; 2000. 7. Branden P S. Enfermagem materno infantil. 2. ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Afonsson Editores; 2000. 13. Potter P, Perry A G. Grande tratado de enfermagem prática: clínica e prática hospitalar. 3. ed. 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Artigo / Article Revista do Hospital Universitário/UFMA Avaliação da assistência pré-natal realizada pelo Programa de Saúde da Família no município de São José de Ribamar - MA Assessment of pre-natal care undertaken by the family health program in the municipality of São José de Ribamar-MA Maria Bethânia da Costa Chein1, Luciane Maria Oliveira Brito1, Karleno de Lima Cantanhede2, Plinio da Cunha Leal2, Gilvan Costa Lucena3, Listhiane Marta de Almeida Silva3, Mágela Conceição Gonçalves Oliveira3 Resumo: Avaliar alguns indicadores da assistência pré-natal (APN), realizada pelo Programa Saúde da Família (PSF) do município de São José de Ribamar no Maranhão, de acordo com o que preconiza o Ministério da Saúde (MS). Métodos: Estudo retrospectivo, transversal. A amostra foi constituída por 173 mulheres que pariram no período de maio a julho de 2003, cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica, representativas das 22 equipes do PSF daquele município. As mulheres foram entrevistadas até 90 dias pós-parto em seus domicílios, foram utilizados 2 instrumentos para coleta de dados, um questionário com perguntas semiestruturadas e um formulário preenchido com dados compilados do cartão da gestante (CG), ficha perinatal (FP) e ficha geral (FG). Resultados: Dos indicadores avaliados, 103 (62%) mulheres realizaram três ou mais consultas médicas e apenas 5 (2,9%) destas, realizaram consultas de enfermagem, 81 (46,8%) iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre de gestação e 104 (60,1%) tomaram vacina; a dosagem de hemoglobina foi solicitada no primeiro e terceiro trimestre em 55 (31, 8%) e 26 (15%) gestantes respectivamente; os instrumentos de acompanhamento do pré-natal (CG, FP e FG) foram preenchidos por completo somente em 12,7% (22) das pacientes. Conclusao: Os indicadores da assistência pré-natal preconizados pelo MS e avaliados nesta pesquisa não foram contemplados na sua maioridade pelo PSF no Município de São José de Ribamar. Descritores: Assistência pré-natal, programa saúde da família, avaliação. Abstract: The aim of the study was to evaluate some pre-natal care indicators (PNC) carried out by the Family Health Program (FHP) from the municipality of São José de Ribamar in the State of Maranhão-Brazil, according to guidelines from the Health Ministry (HM). Methods: A retrospective cross-sectional study. The sample was composed of 173 women registered in the Information System for Basic Care who gave birth in the period of May to July 2003, representative of the 22 teams from the FHP of that municipality. The women were interviewed at home up to 90 days post-partum, using a quiz form with semi-structured questions and a form filled in with compiled data from the gestating ID card (GID), perinatal formulary (PF), and general formulary (GF). Results: According to indicators, 103 (62%) women were submitted to three or more medical appointments, whereas only 5 (2.9%) had nurse appointments, 81 (46.8%) initiated pre-natal care on first trimester of gestation, and 104 (60.1%) had been vaccinated; hemoglobin test was done on the first and third trimester in 55 (31.8%) and 26 (15%) of gestating, respectively; the pre-natal follow-up tools (GID, PF, and GF) were completely filled in for only 12.7 (22) of the patients. Conclusion: The pre-natal care indicators determined by the Ministry of Health and evaluated in the present study were not fully contemplated by the FHP from the municipality of São José de Ribamar. Keywords: Pre-natal care, family health program, evaluation. Introdução A assistência à gravidez, parto e puerpério, é imprescindível para que a mãe e o recém-nascido sigam com vitalidade. Neste contexto, é na gestação que deve haver um acompanhamento especializado e cuidadoso objetivando evitar e corrigir qualquer tipo de alteração que possa surgir. As primeiras ações com a finalidade de monitorar o bem-estar materno-fetal iniciaram-se na segunda metade do século XX1. No Brasil os primeiros serviços de atenção pré-natal (PN) surgiram por volta de 1925, sendo que, só no pós-guerra, eles realmente se estabeleceram. Mas, até então a saúde materna era a preocupação básica, a vida intra-uterina pouco se conhecia, pouco se pesquisava2. Após a Segunda Grande Guerra, a vida intrauterina começou por definitivo a ser investigada, principalmente com o advento da ultra-sonografia, Doutoras em Ginecologia (Mastologia), Docentes da UFMA. Alunos do curso de Medicina. Bolsistas do CNPq/PIBIC-UFMA. 3 Alunos da Especialização em Saúde da Família da UFMA. 1 2 15 Chein MBC et al recurso imprescindível para avaliar e monitorar a vida intra-uterina2,3. Depois surgiu a cardiotocografia (avalia a vitalidade do concepto após a 30ª-32ª semana de gravidez) e mais recentemente a avaliação hemodinâmica da circulação placentária (no compartimento materno e fetal), que é a dopplervelocimetria, que não apresenta restrição de idade gestacional para sua realização1,4. Mesmo com o advento destes recursos técnicos, complicações gravídicas, culminando com a mortalidade do binômio materno-fetal continuavam em ascensão. No Brasil, desde os primeiros anos da década de 1990, tem-se investido em programas para reduzir a mortalidade materna e neonatal e, em alguns municípios e mesmo Estados como um todo, com os dados oficiais corrigidos, estas taxas não sofreram redução1. Nesse contexto, o Ministério da Saúde (MS) instituiu o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPNN), no âmbito do Sistema Único de Saúde, com o objetivo desenvolver ações de promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e recém-nascido. Para que isto efetivamente ocorra, os seguintes elementos devem ser considerados: discussão com a população sobre a importância da assistência PN; identificação precoce das gestantes na comunidade e início imediato do acompanhamento PN; controle periódico e contínuo e sistema eficiente de referência e contra-referência, associado com recursos humanos treinados, área física adequada, equipamento e instrumental mínimos, apoio laboratorial, instrumentos de registro de processamento e análise de dados disponíveis como cartão da gestante, ficha perinatal e ficha geral, medicamentos básicos e avaliação permanente dessa assistência3,5,6. Como normas para uma adequada assistência pré-natal, o MS normalizou a realização dos seguintes procedimentos: 1ª consulta até o 4º mês de gestação/ no mínimo seis consultas na gravidez (duas com o médico e quatro com o enfermeiro), ter os exames laboratoriais de ABO - Rh, VDRL, EAS, glicemia, hemoglobina e hematócrito na 1ª e 30ª semana de gravidez, ofertar a pesquisa do HIV, aplicar vacina antitetânica dose imunizante, realizar atividades educativas, classificar o risco gestacional e garantir as gestantes classificadas como risco, atendimento ou acesso a unidade de referência pra atendimento ambulatorial e ou hospitalar 3. Dentro deste Programa, o envolvimento das equipes de saúde da família (ESF) tem papel fundamental, para aumentar a cobertura pré-natal5. Considerando a importância da assistência pré-natal como um instrumento para a melhoria da saúde materno-fetal e da mulher na sua integridade, objetivou-se investigar os procedimentos preconizados segundo as normas do MS no PHPNN para uma adequada assistência pré-natal, entre as gestantes atendidas pelas ESF, no município de São José de Ribamar. MÉTODOS Após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário – UFMA (protocolo nº. 33104-764/03), realizou-se estudo retrospectivo, transversal, constituído por uma amostra de 173 mulheres que pariram no período de maio a julho de 2003, cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica, no município de São José de Ribamar (MA), representativas do contingente atendido pelas 22 ESF do município. As mulheres foram entrevistadas até 90 dias pós-parto em seus domicílios, foram utilizados 02 instrumentos para coleta de dados, um questionário com perguntas semi-estruturadas e um formulário preenchido com dados compilados do cartão da gestante, ficha perinatal e ficha geral. RESULTADOS Quanto as variáveis sócio-demográficas, a maioria tinha entre 20 e 29 anos de idade (122 / 70,5%), viviam maritalmente com casamento ou não (125 / 72,3%), apresentava ensino fundamental completo ou não (107 / 61,8%), como atividade laborial o trabalho em sua própria residência (“do lar”) (141 / 81,5%) e eram católicas (121 / 69,9%) (Tabela 1). Quanto à assistência pré-natal, 163 mulheres (94,2%) tiveram assistência na gestação em curso no período de maio a julho de 2003, sendo que 90 mulheres (52,0%) também tiveram assistência em gestações anteriores. Apenas 81 mulheres (46,8%) iniciaram o pré-natal no 1º trimestre de gestação, e 104 mulheres (60,1%) tomaram vacina antitetânica neste período (Tabela 2). Constatou-se que 103 mulheres (62,0%) realizaram três ou mais consultas médicas e que 16 apenas 49 mulheres (28,3%) realizaram 3 a 4 consultas de enfermagem durante o pré-natal. Observou-se que 125 mulheres (72,3%) receberam orientações durante o pré-natal, 70 destas (55,1%) receberam orientações do enfermeiro e apenas 28 (22,0%) foram orientadas pelo médico durante as consultas. Quanto ao aleitamento materno, 121 (69,9%) mulheres receberam orientações, 95 (54,9%) destas foram informadas também sobre a importância do prénatal. Verificou-se que dos exames preconizados, o sistema ABO - Rh só foi solicitado em 82,7% (143) das gestantes, a dosagem da hemoglobina em 73,4% (127), o parasitológico de fezes em 74,6% (129) e a colpocitologia oncótica em apenas 21,9% (38) gestantes (Gráfico 1). Os exames de VDRL e anti-HIV só foram solicitados em apenas 115 (66,5%) e 113 (65,3%) gestantes, res- Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):15-18, set-dez, 2005 Tabela 1 - Indicadores socioculturais e demográficos das mulheres que pariram no período de maio a julho de 2003 em São José de Ribamar-MA. 2006. INDICADORES SOCIOCULTURAIS f % < 20 anos 50 28,9 20 a 29 anos 122 70,5 1 0,6 Solteira 48 27,7 Casada 24 13,9 União consensual 101 58,4 Analfabeta 3 1,7 Não alfabetizada 1 0,6 Ensino fundamental incompleto 45 26 Ensino fundamental completo 62 35,8 Ensino médio incompleto 15 8,7 Ensino médio completo 46 26,6 Ensino superior completo 1 0,6 141 81,5 Vendedora 4 2,3 Doméstica 18 10,5 Estudante 4 2,3 Professora 3 1,7 Outras 3 1,7 Católica 121 69,9 Evangélica 49 28,4 Outras 3 1,7 173 100 Idade > 29 anos Estado civil Escolaridade Profissão Do lar Religião Total Tabela 2 - Início do pré-natal e realização de vacina antitetânica das mulheres que pariram no período de maio a julho de 2003 em São José de Ribamar-MA. 2006. PRÉ-NATAL f % 1º trimestre 81 46,8 2º trimestre 80 46,2 3º trimestre 11 6,4 Ignorado 1 0,6 Sim 104 60,1 Não 69 39,9 Total 173 100 Início do pré-natal Realização de vacina 17 Chein MBC et al DISCUSSÃO A maioria das mulheres entrevistadas, 122 (70,5%) encontrava-se dentro da faixa etária considerada de baixo risco para gravidez, ou seja, tinham mais de 20 anos de idade. Quanto à assistência pré-natal, apenas 81 (46,8%) iniciaram o pré-natal no 1º trimestre da gestação, discordando do parâmetro preconizado pelo MS. Este retardo no início do prénatal foi por desconhecimento das mesmas sobre sua importância? Ou dificuldade de acesso às Unidades de Saúde, ou ainda falta de profissionais nas Unidades levando a uma crescente desmotivação da grávida, pois nesta fase sua instabilidade emocional requer uma atenção redobrada, um acolhimento especial. Constatou-se que das 173 mulheres, somente 63 (36,4%) realizaram até duas consultas médicas, estando a maioria (63,6%) fora do que recomenda o MS, cujas consultas médicas devem ser no mínimo de duas. Quanto às consultas de enfermagem, estas também estão aquém do desejável, pois a maioria, 99 (57,2%) fizeram no máximo duas consultas, contrapondo a recomendação do MS em que cada gestante deve realizar no mínimo seis consultas, duas com o médico e quatro com a enfermagem 4, 6, 7. Observou-se que 125 mulheres (72,3%) receberam orientações durante o pré-natal, 70 destas (55,1%) receberam orientações da enfermagem e apenas 28 (22,0%) foram orientadas por médico durante o pré-natal, sugerindo ser a consulta médica carente de atenção básica no exercício dos preceitos preconizados pelo PHPNN. Verificou-se que dos exames mínimos a serem solicitados durante o pré-natal, nenhum deles foi realizado conforme recomenda o MS, o que nos remete a indagar junto aos membros da ESF as possíveis causas para a não realização dos exames. Infra-estrutura insuficiente? Esquecimento de anotação? Difícil o deslocamento da gestante para realização do exame? Estando o Maranhão entre os principais Estados com maior incidência de câncer de colo uterino, era de se esperar que o exame de colpocitologia oncótica fosse realizado por quase 100% das gestantes, considerando ser esta ocasião as vezes a única na qual a gestante se dirige ou tem contato com uma equipe de saúde. Entretanto, por ironia, este foi o exame menos realizado, totalizando apenas 38 (21,9%). Esta realidade colide com a Portaria GM 5697, na qual 100% das gestantes devem realizar os exames de rotina na 1ª e 30ª semana de gestação CONCLUSÃO Os indicadores da assistência pré-natal preconizados pelo MS e avaliados nesta pesquisa não foram contemplados na sua maioridade pelo PSF no Município de São José de Ribamar. É fundamental o engajamento de toda a equipe de saúde junto à comunidade para que se consiga transformar essa realidade das nossas grávidas, procurando humanizar essas relações de maneira satisfatória e conveniente, propiciando uma assistência pré-natal de qualidade. REFERÊNCIAS 1. Rezende J, Montenegro CAB. Obstetrícia Fundamental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. 2. Espúlveda MAC. Breve história dos programas nacionais de saúde materno-infantil.Campinas: Universiadede Estadual de Campinas; 1997. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas Públicas. Assistência pré-natal: manual técnico. 3. ed. Brasília (DF): MS; 2000. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área de Saúde da Endereço para correspondência: Profª. Dra. Maria Bethânia da Costa Chein e-mail: [email protected] [email protected] 18 Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: MS; 2001. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Guia prático do Programa Saúde da Família. Brasília: MS; 2001. 6. Gonzalez H. Enfermagem em ginecologia e obstetrícia. São Paulo: SENAC; 2001. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria GM/MS Nº 356. Brasília: Diário Oficial da União. 2000. Artigo / Article Revista do Hospital Universitário/UFMA Tuberculose pulmonar: opinião do usuário Pulmonary tuberculosis: opinion the user Edgar Pinheiro Castro1, Thaís Furtado Ferreira1, Arlene de Jesus Mendes Caldas2, Anderson Mendes Caldas3 Resumo: Realizou-se uma pesquisa prospectiva sobre a opinião do usuário do Programa de Controle da Tuberculose, tendo como objetivo investigar o conhecimento do cliente sobre sua patologia. A coleta de dados foi realizada por meio de questionários aplicados para 17 clientes, no período de junho de 2004, em visitas domiciliares. Observou-se com a analise dos resultados que a maioria dos entrevistados eram solteiros, do sexo feminino, idade entre 20 e 29 anos, nível escolar e socioeconômico baixos. Conclui-se que a população em estudo, necessita de um maior apoio educacional acerca da tuberculose pulmonar, devendo-se ampliar as campanhas nacionais e regionais de combate e erradicação da tuberculose, sejam elas em unidades de saúde, escolas ou através da mídia (rádio televisão, jornais e revistas). Descritores: Tuberculose pulmonar; Usuário; Opinião. Abstract: A prospective research was become fulfilled on the opinion the user of the Program of Control of the Tuberculosis, having as objective to investigate the knowledge of the customer on is pathology. The collection of data was carried through by half questionnaires applied for 17 customers, in the period of June of 2004, in visits domiciliary. It was observed with analyses of the results that the majority of the interviewed ones was single, of the feminine sex, presenting age between 20 and 29 years, with level of socioeconomic escolaridade and conditions decrease. The population in study concludes itself that, needs a bigger educational support concerning the pulmonary tuberculosis, having itself to e extended to the national and regional campaigns to the combat and eradication of the tuberculosis, is they in units of health, schools or through the media (radio, television, periodicals and magazines). Keywords: Pulmonary tuberculosis; User; Opinion INTRODUÇÃO A tuberculose é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como Bacilo de Koch. A patologia é um problema de saúde pública dos mais relevantes em nosso país e em outros países subdesenvolvidos. É doença grave, porém curável em praticamente 100% dos casos novos, desde que obedecidos os princípios da moderna quimioterapia. Segundo o Ministério da Saúde1, 85% dos clientes atendidos no Programa de Controle da Tuberculose são maiores de 15 anos de idade. Estimase que 45 milhões de brasileiros estejam infectados pelo bacilo, incidência de aproximadamente 100 casos novos por ano e que 6 mil brasileiros morrem de tuberculose ao ano. A tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa através do ar, atingindo os alvéolos pulmonares, onde desenvolve uma reação inflamatória, que pode evoluir para a cura ou passar despercebido caso o individuo tenha boa resistência. A desnutrição, a promiscuidade e o estresse físico e mental contribuem para o mau funcionamento do sistema de defesa do organismo, o que facilita a progressão da doença. De acordo com Silva2, a tuberculose prolifera onde quer que haja pobreza (maus condições de habitação e superpopulação), má nutrição e dificuldade em obter cuidados de saúde (falta de profissionais e dificuldade no acesso). Infelizmente os indivíduos portadores de tuberculose pulmonar (TB) são vítimas da discriminação social, devido à falta de conhecimento da população sobre esta patologia, tornando mais dificultoso o tratamento visto que os pacientes tendem a ocultar a doença por vergonha. Objetivou-se com este estudo investigar a opinião do usuário sobre a tuberculose pulmonar; caracterizar a população em estudo quanto aos dados demográficos e condições socioeconômicas e investigar o conhecimento do cliente sobre a forma de transmissão, prevenção e tratamento da tuberculose pulmonar. Enfermeiros. Doutora em Patologia Experimental. Enfermeira. Docente da UFMA. 3 Discente de Fisioterapia do UNICEUMA. 1 2 19 Castro EP et al Diante do exposto, realizou-se um estudo visando obter dados sobre a opinião e o conhecimento dos usuários do Programa de Controle de Tuberculose acerca de sua patologia, tendo em vista que tal programa tem por finalidade informar sua clientela sobre a sintomatologia, prevenção e tratamento da MÉTODOS Realizou-se um estudo descritivo, com esquema de tratamento regular de tuberculose abordagem quantitativa no período de janeiro a julho pulmonar; residentes no município de São Luís – MA de 2004, no Ambulatório de Pneumologia Sanitária e que aceitaram participar do presente estudo. Foram do Centro de Saúde Dr. Paulo Ramos, no Município excluídos os casos de abandono de tratamento; residentes em outros municípios e os casos negativos de São Luís–MA. Foi realizado um levantamento no livro de para transmissão bacilífera; por meio desses critérios, registros desta unidade, onde foram encontrados 255 totalizaram-se 17 clientes para o estudo. Realizou-se a coleta de dados utilizando novos casos notificados e inscritos no Programa de Controle da Tuberculose no período de Dezembro de um questionário de perguntas abertas e fechadas. Os dados foram inseridos em um banco de dados 2003 a Maio de 2004. Como critério de inclusão, considerou-se no programa EPI-INFO versão 6.04b, onde foram como bacilíferos positivos para transmissibilidade analisados e posteriormente discutidos. da tuberculose pulmonar; os clientes no primeiro RESULTADOS A amostra do estudo foi constituída por 17 clientes. A faixa etária que prevaleceu foi a de 20 a 29 anos (47,1%), seguida de 40 anos ou mais (29,4%). Quanto ao sexo, observou-se maior percentual no sexo feminino (52,9%). Em relação ao estado civil, o maior percentual ocorreu entre os solteiros (41,2%). Segundo o grau de instrução a prevalência foi igual para os de ensino fundamental incompleto e ensino médio completo e incompleto (29,4%), seguido dos analfabetos e de ensino fundamental completo, ambos com 5,9% (Tabela 1). No que diz respeito às variáveis socioeconômicas observou-se que maioria dos entrevistados está desempregado (47, %); mais da metade possui renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos (58,8%); 94,1 % residem em casa de alvenaria e 52, 9 % reside com 4 ou mais pessoas (Tabela 1). Quanto ao conhecimento do cliente sobre sua patologia, a maioria (76,5%) tem consciência que possui tuberculose pulmonar. De acordo com o diagnóstico, 47% tiveram conhecimento do diagnostico da doença por meio de exames; 41,2% por meio dos sintomas e 11,8 % por meio de outros (Figura 1). Acerca do modo de transmissão da doença 82,4% possuía conhecimentos e 17,6 % desconhecia o modo de transmissão. Mais da metade da amostra não sabe referir como contraiu a doença (58,8%) e 17,6 relatam que adquiriram trabalhando. Quando foi interrogado sobre qual profissional realizou o primeiro atendimento, 52,9 % foram atendidos por médicos; 41,2% por enfermeiros e 5,9 % pelo serviço social. A maioria dos entrevistados sabia quais medicamentos estavam tomando (Figura 2). Segundo a pesquisa do contato do entrevistado com outra pessoa em casa ou vizinhança, 76,5% confirmaram que não havia outra pessoa doente no domicílio, enquanto 23,5 % confirmaram a existência de outros doentes sendo estes vizinhos em sua maioria. Quanto às dificuldades e facilidades ao tratamento, 35,3% referiu nenhuma dificuldade no 20 tratamento igualando-se a outros 35,3% que referiram dificuldade na quantidade de medicamentos; a maioria (52,9%) não referiu nenhuma facilidade seguida de 23,5% que referiu bom atendimento. Ao questionar os clientes sobre que ações consideravam preventivas para a tuberculose pulmonar, 58,8 destacaram boa alimentação; 35,3% tomar remédios; 29,4% procurar serviço de saúde; 23,5% evitar fumo e bebida e 11,8% evitar contato. Os demais não souberam referir. Tabela 1 – Distribuição da população estudada segundo dados demográficos. São Luis-MA, 2004. f % 20 a 29 anos 8 47,1 30 a 39 anos 4 23,5 40 ou mais 5 29,4 Masculino 8 47,1 Feminino 9 52,9 Solteiro (a) 7 41,2 Casado (a) 6 35,3 Viúvo (a) 1 5,9 Desquitado (a) 1 5,9 Outro 2 11,8 Analfabeto 1 5,9 Ensino fundamental incompleto 5 29,4 Ensino fundamental completo 1 5,9 Ensino médio incompleto 5 29,4 Ensino médio completo 5 29,4 Total 17 100 Variáveis Faixa etária Sexo Estado civil Grau de instrução Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):19-22, set-dez, 2005 20,0% 40,0% 50,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0% 76,5% Tuberculose 0,0% 47,0% 10,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 80,0% 90,0% 100,0% 17,6% 35,7% 57,1% Fala, espirro ou ar Outro 70,0% 82,4% Não 11,8% Figura 1 - Distribuição da população segundo o conhecimento e o diagnóstico da doença. 20,0% Sim Pessoa para pessoa 41,2% Exames Outros 60,0% 23,5% Doença pulmonar Sintomas Diagnóstico 30,0% Conhecimento 10,0% Transmissão Conhecimento 0,0% 7,1% Figura 2 - Distribuição da população estudada segundo o conhecimento e modo de transmissão da tuberculose. DISCUSSÃO Neste estudo, observou-se que o sexo predominante da amostra estudada foi o sexo feminino, assim como a faixa etária entre 20 e 29 anos, demonstrando que o índice de adultos jovens doentes é elevado. Estes dados entram em discordância, pois, Bethlen3, afirma que o sexo masculino é mais atingido que o feminino e que as idades mais acometidas pela tuberculose são a infância, adolescência e velhice. Sabe-se que a quantidade de moradores tem significativa relação com a doença, o que pode ser confirmado pelos dados que apontam que 29,4% dos entrevistados residiam com até 4 pessoas. Para Tarantino4, a propagação da tuberculose no mundo efetuou-se pelo contágio inter-humano, seu caráter epidêmico é de evoluir em ciclos lentos, com sua maior influencia nas aglomerações humanas. Segundo Silveira5, a base para a interrupção da cadeia de transmissão da tuberculose e, consequentemente, para o controle da doença em qualquer grupo social é o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz. Na população entrevistada, a maioria identificou a patologia por meio de exames e 47,0% soube que estava doente somente após o agravamento dos sinais e sintomas. Diante do exposto, podemos inferir que as pessoas procuram os serviços de saúde apenas com doença manifesta. Observou-se ainda, que 82,4% dos entrevistados possuíam algum conhecimento a cerca do modo de transmissão da tuberculose, infelizmente uma parcela considerável dos clientes desconhecia o modo com o qual contraiu a doença, ressaltando a falha nas ações educativas dos serviços de saúde. Souza e Tocantins6 relatam que no controle da tuberculose, a enfermagem tem importante papel, uma vez que participa de atividades de combate à doença em todas suas fases, o que exige que esteja realmente integrada na luta contra a doença. Quanto ao atendimento prestado durante a primeira consulta do usuário do Programa de Controle a Tuberculose este ainda deixa a desejar visto que quase metade da população estudada, em algum momento, ficou insatisfeita com o atendimento. Sabe-se que o abandono de clientes ao tratamento é um dos fatores preocupantes para a eficácia e controle da tuberculose7, 8, desta forma, no estudo ficou evidente que durante os meses de janeiro, fevereiro e março, houve uma oscilação do numero de pessoas atendidas, supondo-se que o numero referente a abandono ampliou-se nestes meses. Nesta pesquisa o percentual de comunicantes apontados pelos entrevistados foi relativamente baixo, 23,5%, porém devemos atentar para a questão. Silveira 5 coloca que todos os comunicantes dos doentes de tuberculose devem comparecer a unidades de saúde afim da realização de exames preventivos. Para Caldas et al9, as dificuldades no tratamento da tuberculose referidas pelos entrevistados em um estudo realizado em São Luís-MA, foram a falta de transporte, falta de informações sobre o tratamento e dificuldades financeiras. Em nosso estudo, além das dificuldades referidas por Caldas et al9, encontraramse ainda as relacionadas ao acesso às unidades e a quantidade de medicamentos a serem tomados, o que dificultava o tratamento. Como facilidade, pode-se ressaltar o bom atendimento ao público e as medicações gratuitas. Finalmente, observa-se que após a realização do tratamento na unidade de saúde, os usuários ampliaram seus conhecimentos sobre os meios de prevenção da tuberculose, tais como evitar o tabagismo e etilismo em excesso e ter uma boa alimentação. No entanto, sabe-se que a erradicação da doença depende da eficiente atuação do primeiro nível de atenção básica, a prevenção primária, onde lidamos com uma comunidade ainda sadia. CONCLUSÃO Conclui-se que apesar da tuberculose ser uma patologia de grande discriminação social, já se observa que o usuário do Programa de Controle da Tuberculose está cada vez mais esclarecido acerca de sua doença. Isto demonstra que o incentivo ao tratamento e erradicação da tuberculose por meio de 21 Castro EP et al campanhas promove a sensibilização da população diante do problema. Alguns fatores identificados por meio da pesquisa ainda indicam uma grande correlação entre a doença e o modo de vida do cliente, como a má alimentação, a necessidade de um melhor atendimento de saúde, uma boa educação, ou seja, uma melhor qualidade de vida. A qualidade do atendimento prestado pelos profissionais de saúde é essencial para a erradicação da tuberculose, salientando que a doença não deve ser tratada somente nas unidades, quando o cliente já esta acometido pela mesma, e sim, de forma mais ampla, promovendo a saúde, evitando-se o adoecimento. Desse estudo, constatou-se quão importante é ampliar os conhecimentos da população quanto à transmissibilidade, sintomatologia, prevenção e tratamento da tuberculose, dando-se atenção especial às populações com nível socioeconômico mais baixo, onde se faz necessário a realização de palestras, debates, orientação e material informativo sobre a doença. É importante ressaltar que se deve promover a educação em saúde, no intuito de desmistificar que a tuberculose não tem cura e reduzir os estigmas que cercam a doença. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Manual técnico para controle da Tuberculose. Caderno de atenção básica. Ministério da Saúde, BrasíliaDF, 2002. 2. Silva LCC. Compêndio de Pneumologia. 2a ed. São Paulo: Fundação Byk, 1991, 1052 p. 3. Bethlem N. Pneumologia. 48 ed. São Paulo: Atheneu, 1995, 956 p. 4. Tarantino B. Doenças Pulmonares. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1997. 5. Silveira IC. 0 pulmão na prática médica: sintomas, diagnóstico e tratamento. 3a ed. Rio de Janeiro: Ed. de Publicações Médicas, 22 1992. 6. Souza FBA; Tocantins FR. Contactantes de doentes com tuberculose multirresistente – possibilidades de intensificar a ação da Enfermagem. Boletim de Pneumologia Sanitária. Rio de Janeiro, Vol. 7, nº 1, p. 19-32, jan/jun 1999. 7. Brasileiro Filho G et. aI. Patologia. 5 ed. Guanabara. Koogan. 1994. Rio de Janeiro. 1228p. 8. Paula A. Pneumologia. São Paulo: Ed. Savier, 1984, 346 p. Artigo / Article Revista do Hospital Universitário/UFMA Características de mulheres soropositivas para HIV atendidas em uma maternidade pública Trait of seropositive women for hiv attended in a public maternity hospital Luzinéa de Maria Pastor Santos Frias1, Lena Maria Barros1, Rita da Graça Carvalhal Frazão Corrêa1, Sâmua Carvalho Silva2, Waldeise Pereira3 Resumo: A transmissão materno-infantil pelo HIV – ocorre em 65% dos casos, durante o trabalho de parto e no parto propriamente dito, e os 35% restantes ocorrem intra-útero, principalmente nas últimas semanas de gestação. Trata-se de um estudo retrospectivo de caráter exploratório, com abordagem quantitativa, com o objetivo de levantar algumas características de mulheres soropositivas para HIV, atendidas no período de janeiro de 2003 a setembro de 2004. A amostra foi composta por 63 prontuários de mulheres HIV positivas e a coleta deu-se através da busca ativa de prontuários e fichas de notificação padronizados pelo Ministério da Saúde. Das mulheres pesquisadas, predominaram as que estão na faixa etária entre 20 e 25 anos, sendo que 54% são solteiras e 25,8% tem o primeiro grau de escolaridade. A maior ocorrência de casos registrados ocorreu no ano de 2003 com 63,5%. De acordo com o período de diagnóstico, 46% foi através do teste-rápido, 28,6% durante o pré-natal e 25,4% antes do pré-natal. Observou-se que 93,7% das mulheres realizaram a profilaxia com AZT injetável durante o trabalho de parto, e 6,3% não fizeram o uso do medicamento. Diante dos resultados, observou-se que um número significativo de mulheres teve o diagnóstico da infecção no momento do trabalho de parto, através do teste rápido. A importância da redução da transmissão vertical do HIV pela detecção precoce e resolução do problema com a profilaxia da transmissão, utilizando medicamentos antiretrovirais é medida de prevenção no que diz respeito à saúde fetal. Descritores: mulheres soropositivas, transmissão vertical. Abstract: Mother to infant HIV transmission occurs in 65% of cases during labor and upon delivery, the remaining 35% happen intra-uterus, mainly within the last weeks of gestation. A retrospective study of exploratory nature with quantitative approach aiming at gathering some traits of seropositive women for HIV seeing in the period of January 2003 through September 2004. The sample was composed of 63 medical records of HIV-positive women, and the collection was performed through an active search of medical records and standard notification forms by the Ministry of Health. There was a predominance of women with a mean age of 20 to 25 years old, 54% of them were single, and 25.8% had completed elementary school. The greater occurrence of recorded cases took place in 2003 with 63.5%. According to the diagnosis period, 46% happened via quick test, 28.6% during pre-natal care, and 25.4% prior to pre-natal care. It was observed that 93.7% of the women were submitted to AZT prophylaxis by injection during labor, and 6.3% made no use of the medication. According to results, it was observed that a significant number of women were diagnosed with the infection at the time of labor through the quick-test. The importance of reducing the vertical transmission of HIV by early detection, and resolving the problem with prophylaxis of the transmission using anti-retroviruses medicine is a measure of prevention with respect to the fetal health. Keywords: Seropositive women; Vertical transmission. Introdução Atualmente, sabe-se que mais de 80% das mulheres infectadas pelo HIV se encontram em plena idade reprodutiva e que a grande maioria dessas contaminações ocorre por meio de relações heterossexuais, o que reflete diretamente nos casos pediátricos, onde 91% das crianças contaminadas devem-se à transmissão vertical1. Em todo mundo no final de 2002, um total de 42 milhões de pessoas foram identificadas como portadoras do vírus da AIDS e o mais alarmante segundo o relatório da UNAIDS (Programa das Nações Unidas para a AIDS), desde que surgiu a doença, o sexo feminino atingiu 50% da parcela de infectados2. No município de São Luís, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, já foram notificados 1.725 casos de pessoas infectadas pelo vírus HIV, entre o ano de 1985 e o início de novembro deste ano, sendo a incidência maior em pessoas na faixa etária Mestres em Enfermagem. Docentes da UFMA. Acadêmica do Curso de Enfermagem - UFMA. 3 Graduanda do Curso de Enfermagem - UFMA. 1 2 23 Frias LMPS et al de 13 a 49 anos2. Com o aumento de mulheres infectadas, principalmente em idade reprodutiva, observa-se consequentemente o crescimento de um tipo ainda mais cruel de contaminação: transmissão perinatal do vírus. Estudos evidenciaram que a maioria dos casos de transmissão materno-infantil do HIV (cerca de 65%) ocorre durante o trabalho de parto e no parto propriamente dito, e que os 35% restantes ocorrem intra-útero, principalmente nas últimas semanas de gestação2,3. Um dos maiores desafios sobre a transmissão vertical é saber quais são os fatores que facilitam a passagem transplacentária do vírus. Várias são as hipóteses, dentre elas a infecção primária durante o primeiro período gestacional, estado clínico e imunológico da mãe durante a gravidez, baixos níveis de anticorpos neutralizantes, infecção placentária por outros microorganismos e tempo prolongado de amniorrexe4. Nas gestantes HIV contaminadas é quase certo esperar maior número de abortamentos, recémnascidos pré-termos e de baixo peso por motivo de baixas condições sócio-econômicas e da relativa desnutrição da maioria dessas pacientes5. A assistência pré-natal torna-se um fator fundamental na prevenção e no tratamento de patologias que põem em risco o bem-estar materno e fetal. Uma medida crucial a ser tomada para uma boa assistência à mulher ao engravidar, a qual tem a criança verticalmente exposta ao HIV, é o oferecimento de teste HIV, com aconselhamento pré e pós-teste6,7 . A importância do acompanhamento da gestante soropositiva para a redução da transmissão vertical e a vivência de casos atendidos motivou o desenvolvimento desse estudo objetivando investigando algumas características de gestantes portadoras do HIV, conhecer o perfil dessas mulheres, levantar dados referentes à assistência pré-natal e investigar condutas terapêuticas relacionadas à MÉTODOS O presente estudo de caráter exploratório e retrospectivo, com abordagem quantitativa, foi realizado com mulheres soropositivas atendidas no período de janeiro de 2003 a setembro de 2004, no Hospital Universitário Unidade Materno Infantil, em São Luís – MA. Esta unidade é cadastrada no Serviço de Assistência Especial (SAE) e realiza em média um atendimento mensal de 500 partos, sendo referência para gravidez de alto risco. Além disso, oferece, no serviço de pré-parto, o teste rápido anti-HIV para gestantes que não tiveram oportunidade de fazer durante o pré-natal. Para coleta de dados foi realizado busca ativa em 63 prontuários e ficha de notificação padronizada pelo Ministério da Saúde, sendo utilizado um formulário como instrumento de apoio. Para a realização da pesquisa foi obtida aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, obedecendo à resolução nº. 196/69 do Conselho Nacional de Saúde. Os resultados foram codificados utilizando-se o programa EPI-INFO versão 6.4 (OMS); as variáveis selecionadas para o estudo foram analisadas em freqüências relativas (%). RESULTADOS Foram analisados 63 casos de gestantes soropositivas para HIV atendidas no HUUMI, de janeiro de 2003 a setembro de 2004. A maior ocorrência de casos notificados de HIV ocorreu no ano de 2003, com 40 casos correspondendo a 63,5%, enquanto que no ano de 2004, até o mês de setembro, foram 23 casos representando 36,5%. Observou-se que a faixa etária predominante foi entre 20 e 25 anos (41,3%), a segunda maior entre 26 e 35 anos (33,3%), em terceiro lugar entre 15 e 19 anos de idade (20,6%) e a menor ocorrência foi nas maiores de 35 anos correspondendo a 4,8%. Investigando a situação conjugal, constatouse que a maioria corresponde às solteiras com 54,0%, enquanto que 41,3% são casadas ou vivem em união estável. Com relação ao grau de instrução, 58,8 % de mulheres soropositivas tem como escolaridade o primeiro grau, seguida pelas que possuem segundo grau com 31,8% e os casos de não alfabetizadas e ignorado (sem registro) equivalente com 4,7%. Constatou-se que 50,8% das mulheres pesquisadas desenvolvem atividades do lar, 9,6% são 24 domésticas, as empregadas são em torno de 22,2%, as estudantes correspondem a 12,7% e um total de 4,7% são de ignorados. Em relação à história obstétrica, 57,1% eram multigestas com dois filhos ou mais, 27% são primigestas e 58,8% negaram prática de aborto, sendo que 30,1% praticaram aborto uma única vez. A respeito da realização do pré-natal 87,3% o fizeram, onde (44,4%) iniciou no primeiro trimestre. Quanto ao número de consultas, observou-se que 41,2% realizaram entre 5 a 6 consultas. Quanto ao diagnóstico observou-se que 46,0% foi através do teste rápido no momento do trabalho de parto, 28,6% obtiveram o diagnóstico durante o prénatal e 25,4% antes do pré-natal. Das que tiveram diagnóstico confirmatório antes do pré-natal e durante o pré-natal, 54,0% iniciaram o uso de anti-retrovirais na gestação. A modalidade do parto de maior ocorrência foi o cesáreo com 76,2% seguido do vaginal com 17,4% e 6,3% curetagem. O uso de AZT injetável durante o parto foi de 93,7% Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):23-27, set-dez, 2005 Tabela 1 – Faixa etária, situação conjugal, grau de instrução e profissão das mulheres pesquisadas, HU-UMI. São Luís-MA, 2004. Tabela 2 – História obstétrica e dados de pré-natal das mulheres pesquisadas, HU-UMI. São Luís-MA, 2004. Variáveis Variáveis N % Faixa etária N % Gestação 15-19 13 20,6 I 17 27,0 20-25 26 41,3 II 10 15,9 26-36 21 33,3 > II 36 57,1 >36 3 4,8 Aborto I 19 30,1 Situação conjugal Casada / União estável 26 41,3 II 5 8,0 Solteira 34 54,0 > II 2 3,1 Viúva 3 4,7 Nenhum 37 58,8 Fez pré-natal Grau de instrução Não alfabetizada 3 4,7 Sim 55 87,3 1º grau 37 58,8 Não 5 8,0 2º grau 20 31,8 Ignorado 3 4,7 Ignorado 3 4,7 Início do pré-natal 1º trimestre 28 44,4 Profissão Do lar 32 50,8 2º trimestre 21 33,3 Doméstica 6 9,6 3º trimestre 6 9,6 Empregada 14 22,2 Ignorado 8 12,7 Estudante 8 12,7 Número de consultas pré-natais Ignorado 3 4,7 1a4 19 30,1 Total 63 100,0 5a6 26 41,2 >6 10 15,9 Ignorado 3 4,7 Nenhum 5 8,0 Total 63 100,0 Tabela 3 – Tipo de parto e período do diagnóstico do HIV das mulheres pesquisadas, HU-UMI. São Luís – MA, 2004. Tabela 4 – Uso de profilaxia com anti-retroviral no pré-natal e AZT injetável no trabalho de parto, HUUMI. São Luís – MA, 2004. Variáveis Variáveis N % Cesárea 48 76,2 Normal 11 17,4 Curetagem 4 6,3 Antes do pré-natal 16 25,4 Durante o pré-natal 18 28,6 Durante o parto 29 46,0 Total 63 100,0 Tipo de parto / curetagem Período do diagnóstico do HIV N % Sim 34 54,0 Não 29 46,0 Uso de anti-retroviral no pré-natal Uso de AZT injetável no trabalho de parto Sim 59 93,7 Não 4 6,3 Total 63 100,0 25 Frias LMPS et al CONCLUSÃO No Brasil, desde 1980 até junho de 2005, já foram identificados cerca de 370 mil casos de HIV/ Aids. A região Nordeste teve um aumento em sua taxa, passando de 8,1, em 2003, para 8,7 no ano de 2004. Ocorreu também uma diminuição da diferença de infectados entre homens e mulheres. Em 1985, havia uma mulher infectada para cada 26,5 homens. No ano passado, essa diferença passou de uma mulher a cada 1,4 homens. Na faixa etária que vai dos 13 aos 19 anos, o número de mulheres infectadas é maior do que o de homens, desde 19988. Confirmando a tendência observada, a faixa etária que compreende o maior número de casos está entre 20 e 35 anos, que coincide com a faixa etária reprodutiva da mulher, sendo que a idade que predominou nessa pesquisa foi a de 26 a 35 anos, confirmando os dados acima. Como conseqüência, nota-se um aumento do número de casos de SIDA/AIDS em crianças, reflexo progressivo do acometimento das mulheres9. No estudo a maior parte das mulheres são solteiras, 54,0%, enquanto que 41,3% das mulheres pesquisadas são casadas ou vivem em união estável. Casadas ou solteiras, as mulheres estão em risco de contrair o vírus HIV, devido ao comportamento de outras pessoas. O casamento e as relações duradouras não protegem as mulheres do HIV. Notou-se também que a maioria das participantes da pesquisa tinha apenas o primeiro grau de escolaridade. A escolaridade é um dado disponível na notificação de HIV. Este dado, além de permitir a avaliação do grau de instrução dos soropositivos, permite traçar, de forma aproximada, o seu perfil sócio-econômico10. Em relação à profissão, 50,8% das mulheres são donas-de-casa e 22,2% são empregadas, ou seja, as dificuldades naturais que a grande maioria delas enfrentam em relação ao acesso do serviço de saúde e a informação geral, principalmente as informações sobre prevenção através de práticas seguras e diagnóstico precoce da doença, dificulta o poder de negociação dessas mulheres com seus parceiros sobre o uso ou não de preservativos. Estudos afirmam que a epidemia cresce com tendência a interiorização e de forma desigual; de regional e restrita a centros metropolitanos e a determinados segmentos populacionais, havendo uma disseminação maior nos últimos anos entre municípios pequenos, de pessoas mais pobres e com menor renda per capita,2, 11. Constatou-se que 57,1% das mulheres eram multigestas e que 87,3% iniciaram pré-natal no primeiro trimestre, sendo que 41,2% realizaram de 5 a 6 consultas. A orientação sobre o futuro reprodutivo é um dos princípios da assistência à mulher HIV positiva colocando à disposição serviços de planejamento familiar preparados para orientálas a respeito de futuras gestações, respeitando e 26 estimulando a autonomia da mulher na (re) construção de seus projetos de vida e no exercício responsável de seus direitos. O aconselhamento pré-natal e préconcepcional constitui uma etapa decisiva para o enfrentamento do processo de diagnóstico, uma vez que este é o momento adequado para se estabelecer os passos futuros, com o intuito de se alcançar um desfecho positivo ou pelo menos não traumático, para a história que se inicia com a decisão de se fazer um teste sorológico ou teste rápido. Esse último tem se revelado em muitas pesquisas com grande valor na detecção da infecção pelo vírus HIV em gestantes, principalmente em pacientes sem cuidados prénatais9,12,13. Nessa pesquisa 46,0% do diagnóstico deu-se no momento do parto. Em relação ao uso de profilaxia com antiretrovirais durante o pré-natal 54,0% das mulheres o fizeram e 46,0% não usaram AZT. Com o uso de AZT disponível os casos de transmissão vertical foi alterada de 1991 a 1994. A partir da introdução desse anti-retroviral, tem-se observado uma grande estabilização, pois a chance de ter um bebê com a doença caiu 25% para 8,4% quanto elas recebem AZT durante a gestação. Logo, a instituição do tratamento anti-retroviral precoce, possibilita os melhores resultados de profilaxia da transmissão vertical do vírus HIV. Sobre o uso de AZT injetável durante o trabalho de parto 93,7% realizaram a profilaxia e 6,3% não utilizou o medicamento, por aguardarem o resultado do teste rápido, não tendo tempo hábil para instituir a medicação. Quando a oportunidade de profilaxia no início da gestação for perdida, esta pode ser iniciada em qualquer idade gestacional, inclusive no momento do parto. Pois, as mulheres que não receberam AZT oral durante a gestação devem receber injetável durante o trabalho de parto e o parto, até o clampeamento do cordão umbilical 3,14. Quando a gestante soropositiva - numa estimativa no Ministério da Saúde são 17 mil no Brasil - sem tratamento adequado, é esperado que 15 a 30% das crianças nascidas, adquiram o vírus durante a gestação, parto ou através da amamentação15. As políticas públicas de saúde e profissionais responsáveis pela saúde dessas mulheres precisam conjuntamente estabelecer estratégias eficazes para o rastreamento da infecção em grávidas e, assim, proteger o futuro bebê. A análise desses dados mostra uma falha nas ações de educação em saúde entre a população estudada. Nossa população composta de mulheres que a maioria são multigestas e que tiveram seu diagnóstico feito no momento do parto, nos traz um reflexo sobre o tipo de assistência pré-natal que foram submetidas, deixando um déficit de grande importância para o controle da transmissão materno-infantil do HIV Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):23-27, set-dez, 2005 REFERÊNCIAS 1. Naud, P S V, et al. Impacto do uso de zidovudina na transmissão vertical do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tipo I. Go Atual, 1998 jun; 7(6):41-42. 2. Mulala G. HIV atinge 42 milhões de pessoas no mundo. [capturado 2004 ago 15]; Disponível em: http:// www.stargilis-variados.blogspot. com. 3. Brasil. Ministério da saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Guia de Tratamento: recomendações para profilaxia de transmissão materno-infantil do HIV e terapia anti-retroviral em gestantes. Brasília( DF), MS; 2001. com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=20673. 9. Guilherme, CCF, et al. Transmissão vertical do HIV: informações das gestantes atendidas em uma maternidade pública de Goiânia(GO). Revista Eletrônica de Enfermagem, 2000 jul/ dez; 2(2): [capturado 10 jun 2004]; Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista. 10. Maranhão. Secretaria Extraordinária de Saúde Preventiva. AIDS. [São Luís]. I Conferência de DST/AIDS. 11. Brasil. Ministério da saúde. Considerações gerais sobre o binômio: HIV/AIDS e gravidez. Brasília(DF): MS; 1999. 4. Duarte G. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida tipo-1 e gravidez. In: Cunha S P, Duarte G. Gestação de alto risco. 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Recomendações para profilaxia de transmissão vertical do HIV e terapia antiretroviral em gestantes. Brasília(DF): MS; 2004. 15. Corleta, HVE, Kalil HSB. ABC da Saúde: 27 Artigo / Article Revista do Hospital Universitário/UFMA Prevalência de fatores de risco coronarianos e isquemia miocárdica em pacientes diabéticos assintomáticos ambulatoriais Prevalence of coronary risk factors and myocardial ischemia in non-symptomatic diabetic outpatients Francisco das Chagas Monteiro Júnior1, Fhabyula da Silva Cunha2, Natalino Salgado Filho3, José Bonifácio Barbosa4, João Ribeiro Furtado4, Pedro Antônio Muniz Ferreira5 Resumo: No intuito de determinar a prevalência de fatores de risco para doença arterial coronariana (DAC) e isquemia miocárdica em uma amostra de pacientes diabéticos atendidos ambulatorialmente sem sintomas e/ou diagnóstico prévio de DAC, realizou-se um estudo transversal envolvendo inicialmente 80 pacientes diabéticos atendidos consecutivamente no ambulatório de endocrinologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, durante o ano de 2003. Destes, apenas 61 completaram o protocolo da pesquisa, sendo todos diabéticos tipo 2, com uma média de idade de 56,3± 10,9anos e 32 do sexo feminino (52,5%). Os pacientes foram inicialmente submetidos a entrevista procurando-se obter dados demográficos e clínicos, incluindo os fatores de risco para DAC; a seguir foram encaminhados para realização de exames bioquímicos, eletrocardiograma (ECG), ecodopplercardiograma e cintilografia miocárdica perfusional. Os fatores de risco observados foram: sexo masculino (48%), idade ≥ 55 anos (51%), história familiar de DAC precoce (16%), passado de tabagismo (46%), hipertensão arterial sistêmica (44%), sedentarismo (62%), sobrepeso / obesidade (67%), HDL-colesterol < 45 mg/dL (69%), LDL-colesterol ≥ 100 mg/dL (85%) e triglicérides ≥ 150 mg/dL (54%). Noventa por cento dos pacientes apresentavam pelo menos 2 fatores de risco, além do diabetes mellitus. Anormalidades da perfusão miocárdica à cintilografia foram diagnosticadas em 15% dos pacientes. As variáveis associadas a este diagnóstico foram sexo masculino (p=0,007), HDL baixo (p=0,046), história de tabagismo (p=0,038), hipertrofia ventricular esquerda (p=0,043) e fração de ejeção do ventrículo esquerdo < 60% (p=0,01). Concluiu-se que nesta população de diabéticos sem DAC manifesta, atendidos ambulatorialmente em uma clínica endocrinológica, é elevada a prevalência de fatores de risco coronarianos associados e expressiva a prevalência de isquemia miocárdica. Sexo masculino, HDL-colesterol baixo, passado de tabagismo, hipertrofia ventricular esquerda e fração de ejeção do ventrículo esquerdo abaixo de 60% foram as variáveis identificadas como preditoras do diagnóstico de isquemia miocárdica. Descritores: diabetes mellitus, fatores de risco coronarianos, isquemia miocárdica Abstract: The aim of the study was to determine the prevailing risk factors for coronary arterial disease (CAD) and myocardial ischemia in a sample of diabetic outpatients with no symptoms and/or with previous diagnosis for CAD. A cross-sectional study composed of 80 diabetic subjects consecutively cared for at the endocrinology outpatient unit of the Federal University Hospital of Maranhão in São Luis-MA, Brazil during the year 2003. Of these, only sixty-one per cent, all diabetes type II, complied to the research requirements, with a mean age of 56.3±10.9 years, and 32 were females (52.5%). The subjects were initially submitted to an interview aiming at gathering medical and demographic data, including risk factors for CAD. The patients were then submitted to biochemical tests, electrocardiogram ECG, ecodopplercardiography, and perfusional myocardial cyntilography. The observed risk factors were: males (48%), mean age ≥ 55 years (51%), family history of early CAD (16%), cigarette smoking (46%), systemic arterial hypertension (44%), sedentarism (62%), obesity (67%), HDLcholesterol < 45 mg/dL (69%), LDL-cholesterol ≥ 100 mg/dL (85%), and triglycerides ≥ 150 mg/dL (54%). Ninety per cent of the subjects presented at least two risk factors, in addition to diabetes mellitus. Fifteen per cent of the subjects were diagnosed for abnormalities of myocardial perfusion upon cyntilography. The variables associated to the diagnosis were male sex (p=0.007) low HDL (p=0.046), cigarette smoking (p=0.038), left ventricular hypertrophy (p=0.043), and ejection fraction of left ventriculum < 60% (p=0.01). It is concluded that this population of diabetics with no marked DAC, seen in an endocrinology outpatient setting, prevailing coronary risk factors are elevated associated to expressive prevalence of myocardial ischemia. Male sex, low Mestre em Cardiologia. Docente da UFMA Aluna do Curso de Medicina da UFMA 3 Doutor em Nefrologia. Docente da UFMA 4 Mestre em Endocrinologia. Docente da UFMA 5 Doutor em Cardiologia. Médico do HU-UFMA 1 2 28 Monteiro Júnior FC et al HDL-cholesterol, cigarette smoking, left ventricular hypertrophy, and fraction of ejection of the left ventricle below 60% were the variable identified as predictors for the myocardial ischemia diagnosis. Keywords: Diabetes mellitus; coronary risk factors; myocardial ischemia. INTRODUÇÃO O diabetes mellitus (DM) é um dos mais apresentar isquemia miocárdica em sua forma silenciosa importantes fatores de risco cardiovasculares. Em e dor torácica atípica, o que dificulta a identificação praticamente todas as populações estudadas, as precoce da doença arterial coronária (DAC) nestes taxas de doença cardiovascular entre homens e indivíduos. Em um estudo, verificou-se que 75% dos mulheres com DM são 2 e 3 vezes mais elevadas, pacientes diabéticos com DAC diagnosticada não respectivamente, que em indivíduos não diabéticos1. apresentavam sintomatologia típica5. No entanto, Por outro lado, a doença cardiovascular representa diversos trabalhos têm demonstrado que as taxas de a maior causa de morbi-mortalidade em diabéticos, morte por infarto do miocárdio e DAC severa são as decorrendo tanto do próprio estado diabético, como de mesmas em pacientes com isquemia silenciosa e em diversos fatores de risco com freqüência associados, pacientes com isquemia sintomática6. Existem muitos métodos de rastreamento de tais como hipertensão, sobrepeso e dislipidemias. Na doença arterial coronária aplicáveis a populações verdade, hoje se sabe que o diabetes mellitus tipo 2 sob risco de DAC. Particularmente em indivíduos freqüentemente representa uma das manifestações diabéticos assintomáticos, embora se acredite haver de uma condição clínica mais ampla conhecida uma maior prevalência de DAC do que na população como síndrome metabólica, que tem como causa geral, não há consenso sobre a necessidade de básica a resistência à insulina e se compõe de pesquisa sistemática de isquemia miocárdica, bem várias anormalidades hemodinâmicas e metabólicas, como o momento de sua utilização e que exames incluindo hipertensão arterial, alterações lipídicas, devem ser empregados para tal fim. Contudo, o estado pró-trombótico e pró-inflamatório, todas diagnóstico e tratamento precoces da DAC melhoram associadas a aumento de risco cardiovascular. o prognóstico dos pacientes. A doença cardiovascular, particularmente a Em nosso meio, não existem estudos que doença arterial coronariana (DAC), é responsável por avaliem os pacientes diabéticos quanto à presença de cerca de 80% das mortes em portadores de diabetes fatores de risco associados e de isquemia miocárdica mellitus tipo 2. De fato, o risco relativo de morte por silenciosa, havendo necessidade de se estabelecer o eventos cardiovasculares, ajustado para a idade, em custo-benefício da realização sistemática de métodos diabéticos é 3 vezes maior do que o da população 2 diagnósticos para pesquisa da doença isquêmica geral . do miocárdio nesta população, particularmente em Por causa do risco elevado reconhecido para indivíduos assintomáticos, de forma a se adotar uma eventos cardiovasculares em pacientes diabéticos, rotina diagnóstica no manuseio destes pacientes no o American Heart Association (AHA) atualmente dia-a-dia . recomenda que eles sejam enquadrados na mesma Neste trabalho, procurou-se analisar uma categoria de alto risco previamente reservada para 3 amostra de uma população diabética atendida em pacientes com doença cardiovascular conhecida , um ambulatório de endocrinologia de um hospital devendo assim ser submetidos a cuidados preventivos universitário, aparentemente saudável sob o aspecto de forma igualmente intensiva. Esta recomendação cardiovascular e que, em princípio, não seria foi posteriormente endossada pelo 3º Relatório do submetida a avaliação cardiológica de forma rotineira, National Cholesterol Education Program – NCEP quanto à existência de outros fatores de risco clássicos (2001) sobre detecção, avaliação e tratamento da 4 para DAC e de isquemia silenciosa, procurando-se hipercolesterolemia em adultos . identificar os fatores associados à sua ocorrência. Pacientes diabéticos são mais propensos a MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional, transversal, descritivo e analítico, cuja amostra foi constituída por 80 pacientes diabéticos atendidos ambulatorialmente, de forma consecutiva, no Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, entre janeiro e dezembro de 2003. Os critérios de inclusão foram: pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2, de qualquer idade ou tempo de diagnóstico, ou de diabetes mellitus tipo 1 com idade maior ou igual a 35 anos e/ou 15 anos ou mais de evolução, sem sintomas e/ou diagnóstico estabelecido de doença arterial coronária (DAC). Todos os participantes assinaram termo de consentimento, após o devido esclarecimento sobre os objetivos e métodos da pesquisa, e o projeto teve a aprovação do Comitê de Ética da Instituição. Constituíram critérios de exclusão a presença de doença broncoespástica (já que poderia ocorrer a necessidade de uso de dipiridamol para provocação de estresse na realização de cintilografia miocárdica, como exposto adiante), a incapacidade intelectual e a não aceitação em participar da pesquisa. Os pacientes selecionados foram inicialmente submetidos a anamnese e exame clínico. Foram pesquisados os seguintes fatores de risco para DAC: idade maior ou igual a 55 anos para ambos os sexos; história familiar de doença arterial coronariana em parentes de 1º grau com idade inferior a 55 anos ( 29 Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):28-33, set-dez, 2005 homens) e 65 anos ( mulheres ); hipertensão arterial sistêmica (documentação prévia de pressão arterial ≥ 140x 90mmHg em duas ou mais ocasiões e/ou história de uso de medicamentos anti-hipertensivos); dislipidemia (LDL-colesterol ≥ 100mg/dl, taxa de triglicérides ≥ 150mg/dl e/ou HDL-colesterol <45mg/dl; tabagismo (atual ou passado); sobrepeso/ obesidade (índice de massa corpórea igual ou superior a 25 Kg/ m2) e sedentarismo (atividade física aeróbica menor que 30 minutos 3 vezes por semana). Os pacientes foram a seguir encaminhados para a realização dos seguintes exames complementares: eletrocardiograma de repouso (ECG), ecodopplercardiograma e cintilografia miocárdica de perfusão (CMP), sendo esta considerada o método padrão para o diagnóstico de isquemia miocárdica neste estudo. Os critérios para interpretação dos exames complementares estão expostos a seguir. O eletrocardiograma de repouso foi categorizado inicialmente como normal ou alterado. A presença de ondas Q patológicas foi considerada como indicativa de infarto antigo do miocárdio. As alterações na repolarização ventricular foram consideradas sugestivas de isquemia miocárdica. Foram anotadas ainda outras anormalidades significativas, como sobrecargas cavitárias, arritmias e distúrbios da condução intraventricular e atrioventricular. O ecocardiograma foi classificado como normal ou alterado. Foram analisadas as seguintes medidas: diâmetro diastólico da cavidade do ventrículo esquerdo, espessura do septo interventricular e da parede posterior e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FE). Hipertrofia ventricular esquerda (HVE) foi diagnosticada quando a espessura do septo interventricular e da parede posterior estivessem acima de 11mm, na ausência de dilatação cavitária. A FE foi considerada diminuída quando abaixo de 60% pelo método de Teichholz. A função diastólica foi avaliada por meio da análise do fluxograma mitral ao Doppler pulsado, sendo classificada como normal ou alterada (déficit do relaxamento do ventrículo esquerdo, padrão pseudonormal ou padrão restritivo). A função sistólica do ventrículo esquerdo foi analisada quanto ao aspecto global e segmentar. A cintilografia miocárdica de perfusão foi realizada por técnica tomográfica de emissão de fotóns (SPECT) associada ao ECG (gated), em que foram obtidas imagens tridimensionais e tomográficas do coração (nos eixos longo horizontal, longo vertical e curto) após exercício isotônico em esteira ergométrica, ou estresse farmacológico com dipiridamol em caso de pacientes incapazes de realizar exercício, e em repouso, 60 minutos após a aplicação endovenosa dos radiotraçadores 99mTc- SESTAMIBI ou 99mTcTETROFOSMIN. Defeitos transitórios ou persistentes de perfusão foram considerados critérios para o diagnóstico de doença isquêmica do miocárdio7,8, e a presença desses defeitos categorizava a cintilografia como positiva. As variáveis quantitativas analisadas são: idade, tempo de diagnóstico de diabetes, nível sérico de HDL, nível sérico de LDL, nível sérico de triglicerídios, IMC, P.A. sistólica e P.A. diastólica. As variáveis qualitativas (categóricas) analisadas são: idade ≥ 55 anos, sexo masculino, níveis séricos de HDL-colesterol < 45mg/dl, LDL-colesterol ≥ 100mg/dl e triglicérides ≥ 150 mg/dl, história familiar de DCV precoce, tabagismo, sedentarismo, HAS, IMC ≥ 25 kg/m2, HVE, FE do ventrículo esquerdo < 60%, presença de alteração segmentar de contratilidade do VE, déficit de relaxamento de VE, presença de alterações da repolarização ventricular (ECG) e número de fatores de risco adicionais para DAC. Os dados coletados foram submetidos a análise estatística utilizando-se o programa SPSS versão 10.0. As variáveis qualitativas são representadas por freqüência absoluta (n) e relativa (%) e as variáveis quantitativas são expressas por meio de média e desvio padrão. As diferenças entre as variáveis quantitativas foram calculadas pelo teste t de Student. As diferenças entre as variáveis qualitativas foram calculadas através do teste do qui-quadrado ou exato de Fisher quando indicado. Foi adotado o nível de significância de 5%. RESULTADOS Dos 80 pacientes inicialmente incluídos no estudo, apenas 61 completaram o protocolo, constituindo portanto a amostra objeto desta pesquisa. A média de idade dos pacientes foi de 56,3 anos (± 10,9), sendo que 32 eram do sexo feminino (52,5%). Todos os pacientes eram diabéticos tipo 2, com tempo de diagnóstico da doença de 9,1 anos (± 7,7). Quanto à prevalência dos fatores de risco para DAC, verificou-se que 29 pacientes (48%) eram do sexo masculino, 10 (16%) referiam história de doença cardiovascular precoce na família; 28 (46%) tinham passado de tabagismo, 27 (44%) eram hipertensos; 38 (62%) eram sedentários e 41 (67%) apresentavam sobrepeso ou eram obesos. Desvios dos níveis séricos de HDL-colesterol, LDL-colesterol e triglicérides foram observados em, respectivamente, 30 Tabela 01 - Fatores de risco adicionais para DAC Variável Número de Freqüência pacientes ( %) Sexo Masculino 29 48 Idade ≥ 55 anos 31 51 HDL < 45 mg/dl 42 69 LDL ≥ 100 mg/dl 52 85 Triglicerídios ≥ 150 mg/dl 33 54 História Familiar de DCV precoce 10 16 Tabagismo (passado) 28 46 HAS 27 44 Sedentarismo 38 62 IMC ≥ 25 kg/m2 41 67 Monteiro Júnior FC et al hipertrofia ventricular esquerda (HVE), em 12 pacientes (20%); fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor que 60%, em 6 pacientes (10%); alteração da função diastólica tipo déficit de relaxamento do ventrículo esquerdo, em 43 pacientes (70%); e déficit segmentar da contratilidade do ventrículo esquerdo, em 4 pacientes (7%). A cintilografia miocárdica perfusional (CMP) demonstrou alterações indicativas da presença de DAC (hipocaptação transitória e/ou persistente do radiotraçador ) em 9 pacientes (15%). A tabela 2 apresenta as variáveis quantitativas 69, 85 e 54% dos pacientes. Cinqüenta e cinco pacientes (90%) apresentavam 2 ou mais fatores de risco para DAC, além do diabetes mellitus (tabela 1). O ECG foi considerado normal em 48 pacientes (79%). Alterações da repolarização ventricular sugestivas de isquemia foram encontradas em 7 pacientes (11%) e outros 6 pacientes (10%) apresentavam outras alterações. Foram as seguintes as anormalidades observadas ao ecodopplercardiograma (figura 1): Tabela 02 – Distribuição das variáveis quantitativas CMP NORMAL POSITIVA Fatores n = 52 n= 9 Valor do p Idade(anos) 56,5 ± 11,5 55,7± 7,4 0,843 Tempo de doença(anos) 9,4 ± 8 7,22 ± 6,5 0,442 HDL-colesterol (mg/dl) 41,2 ± 9,1 39,8 ± 1,1 0,442 LDL-colesterol (mg/dl) 129 ± 36,8 122,6 ± 22,7 0,612 Triglicerídeos (mg/dl) 155,2 ± 92,3 145,2 ± 41,1 0,751 P.A. sistólica (mmHg) 145,8 ± 36,8 139,4 ± 34,5 0,628 P.A.diastólica(mmHg) 84,6 ± 19,5 84,4 ± 13,1 0,978 IMC (kg / m2) 26,6 ± 4,7 26 ± 4,5 0,695 Tabela 03 - Distribuição das variáveis qualitativas nos 2 grupos CMP NORMAL Variáveis n ** % POSITIVA N VALOR do p % Sexo masculino 21 40,4 8 88,9 0,007 * Idade ≥ 55 anos 25 48,1 6 66,6 0,525 HDL-colesterol < 45 mg/dl 33 63,5 9 100 0,046 * LDL-colesterol ≥ 100mg/dl 44 84,6 8 88,9 0,739 Triglicerídeos ≥ 150 mg/dl 26 50 7 77,8 0,123 História familiar de 8 15,4 2 22,2 0,609 Passado de tabagismo 21 40,4 7 77,8 0,038 * Hipertensão arterial sistêmica 22 42,3 5 55,6 0,46 Sedentarismo 32 61,5 6 66,7 0,769 Hipertrofia doVE 8 15,4 4 44,4 0,043 * Fração de ejeção do VE < 60% 3 5,8 3 33,3 0,010 * Déficit de relaxamento de VE 35 67,3 8 88,9 0,19 Alteração global/segmentar de 3 5,8 1 11,1 0,55 IMC ≥ 25 Kg/ m2 36 69,2 5 55,6 0,42 Alteração da repolarização ventricular ao ECG 5 9,6 2 22,3 0,185 2 ou mais FR adicionais 47 90,4 8 88,9 0,985 DAC precoce contração do VE 31 Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):28-33, set-dez, 2005 80% 70% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 20% 7% 10% 10% 0% Hipertrofia ventricular Déficit de esquerda relaxamentos do VE Déficit segmentar de contração do VE Fração de ejeção do VE < 60% analisadas conforme sua distribuição nos 2 grupos (CMP normal e CMP positiva). Como pode ser observado, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos em relação a nenhuma destas variáveis. As variáveis qualitativas (categóricas) analisadas podem ser visualizadas na tabela 3, conforme sua distribuição nos 2 grupos. Como pode ser observado, houve diferença estatisticamente significativa entre os 2 grupos (p < 0,05) para as variáveis sexo masculino, passado de tabagismo, HDL-colesterol < 45 mg/ dl, hipertrofia do ventrículo esquerdo e fração de ejeção do ventrículo Figura 1 - Anormalidades observadas ao ecodopplercardiograma DISCUSSÃO Nesta pesquisa, escolheu-se a perfusão miocárdica por radioisótopos como método padrão para pesquisa de isquemia miocárdica por tratar-se de um exame não invasivo e de elevados índices de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de DAC significativa9, 10, além do seu já bem estabelecido valor prognóstico11, sendo a presença e a extensão das anormalidades de perfusão consideradas preditoras independentes de eventos adversos cardíacos12. Encontrou-se uma prevalência de déficit de perfusão miocárdica de cerca de 15%, uma taxa considerada expressiva, principalmente em se tratando de indivíduos assintomáticos que, pela rotina do Serviço onde o estudo foi realizado, não teriam sido submetidos a investigação cardiológica complementar. Este índice é semelhante ao verificado em outros estudos que realizaram rastreamento de isquemia em diabéticos assintomáticos utilizando- se também a cintilografia miocárdica como teste padrão13. Já WACKERS et al8, em seu estudo Detection of Silent Myocardial Ischemia in Assimptomatic Diabetics Subjects (DIAD), demonstraram um rastreamento positivo em 22% dos casos, sendo no entanto categorizados como tal não apenas os portadores de defeitos de perfusão à cintilografia miocárdica mas também aqueles em que foram evidenciadas outras alterações, mesmo com a perfusão normal, tais como depressão do segmento ST induzida pela adenosina, dilatação ventricular e disfunção ventricular em repouso; caso fossem considerados apenas os portadores de defeitos de perfusão, a taxa de rastreamento positivo teria sido de 15,9%, achado semelhante ao do presente trabalho. Além disso, a hipertrofia do ventrículo esquerdo, fator de risco bem estabelecido para eventos cardíacos, foi documentada ecocardiograficamente em cerca de 20% dos pacientes da presente amostra. A prevalência de outros fatores de risco clássicos para DAC neste estudo, como hipertensão, dislipidemias, sobrepeso e sedentarismo, tal como observado por outros autores2,14,15,16, foi elevada, fato de grande relevância, considerando-se o efeito aditivo dos mesmos em uma população já exposta a um risco cardiovascular significativamente maior 32 que o da população geral pela simples presença do DM. A proporção de pacientes satisfazendo o critério da American Diabetes Association (1998) para indicação de rastreamento de DAC , ou seja, a presença de 2 ou mais fatores de risco além do DM, foi elevada e similar nos 2 grupos (90% nos grupo isquemia e 90,4% no grupo normal), sem diferença estatisticamente significante entre eles, invalidando a aplicação desse critério nesta população. Assim, a elevada taxa de associação de fatores de risco nesta população em estudo tornaria irrelevante na prática a aplicação do critério da ADA. Por outro lado, o já referido estudo DIAD, que analisou uma população bem maior, demonstrou que, selecionando-se apenas os pacientes que satisfaziam esse critério, ter-se-ia deixado de detectar 41% dos pacientes portadores de isquemia miocárdica. Na verdade, sabe-se que as recomendações da ADA são mais baseadas no julgamento clínico de um grupo de experts que na evidência científica, havendo claramente necessidade de estudos delineados especialmente para esclarecer esta questão, como frisado por Wackers e Zaret17. Ao pesquisar-se que fatores de risco teriam um valor preditivo maior para o diagnóstico de isquemia miocárdica nesta população de diabéticos assintomáticos, foi demonstrado que apenas sexo masculino, passado de tabagismo, HDL < 45mg/dl, hipertrofia do ventrículo esquerdo e fração de ejeção abaixo de 60% estiveram associados de forma significante à positividade do exame cintilográfico do miocárdio, configurando-se assim o perfil do paciente em que haveria a melhor relação custo x benefício para a realização de avaliação cardiológica complementar de rotina. Por outro lado, alguns dos fatores de risco clássicos para DAC, tais como LDLcolesterol e triglicerídeos elevados, hipertensão arterial, sobrepeso e obesidade, sedentarismo e idade ≥ 55 anos não se revelaram úteis na predição do diagnóstico de isquemia nesta população de assintomáticos. No entanto, há que se considerar o tamanho relativamente pequeno da amostra em estudo e o fato de o trabalho ter sido realizado em uma instituição de referência, não se podendo pois Monteiro Júnior FC et al extrapolar estes resultados para a população geral de diabéticos assintomáticos para DAC. Outros autores, como Janand-Delenne et al13 e Wackers et al8, também observaram que fatores de risco clássicos para DAC não foram preditores estatisticamente significantes para detecção de isquemia, exceto história familiar de DAC precoce e sexo masculino. Há que se destacar o achado das variáveis hipertrofia do ventrículo esquerdo e fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor que 60% como preditoras de cintiligrafia miocárdica positiva neste estudo, fato não observado por outros autores. Os resultados deste trabalho, considerando-se as suas limitações já comentadas e o número limitado de estudos publicados sobre o tema em debate, não permitem recomendações definitivas sobre o papel do rastreamento sistemático de diabéticos assintomáticos para DAC ou mesmo daqueles selecionados com base na presença de alguns fatores associados. Porém apontam para a necessidade clara de estudos adicionais sobre o assunto e de diretrizes baseadas em evidências para detecção precoce da DAC nesta REFERÊNCIAS Comparative diagnostic accuracy of Tl-201 and Tc-99m sestamibi SPECT imaging (perfusion and ECG-gated SPECT) in detecting coronary artery disease in women. J Am Coll Cardiol, 1997; 29: 69- 77. 1. Bloomgarden ZT. American Diabetes Association annual meeting 1999: more on cardiovascular disease. Diabetes Care, 2000; 23 (6): 84551. 2. Schaan BD; Harzheim E; Gus I. Perfil de risco cardíaco no diabetes mellitus e na glicemia de jejum alterada. Revista Saúde Pública, 2004; 38 (4): 529-36. 3. 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Circulation, 2002; 105: 5-7. 33 Artigo / Article Revista do Hospital Universitário/UFMA Gerenciamento de resíduos sólidos de hospitais do município de São Luís, Maranhão, Brasil Management of Solid Residuals from Hospitals in the County of São Luis, Maranhão, Brazil Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco1, Jackson Mauricio Lopes Costa2 Resumo: Com o objetivo de analisar o gerenciamento de resíduos sólidos e compará-lo com as normas vigentes, realizou-se um estudo descritivo transversal em quatro hospitais contratados do Sistema Único de Saúde (SUS) no município de São Luís: dois públicos (Hospitais A e B), um filantrópico (Hospital C) e um privado (Hospital D). Havia programa de controle de infecção hospitalar nas quatro unidades. Não existiam planos de gerenciamento de resíduos, classificação de resíduos, manual ou rotinas sobre gerenciamento de resíduos, nem responsável técnico pelo gerenciamento dos resíduos nas quatro unidades. Havia registros de treinamentos de higienizadores e de outros profissionais de saúde em precauções padrão com sangue e líquidos corporais em três hospitais. Em todas as unidades, os higienizadores usavam equipamento incompleto de proteção individual para manusear resíduos infectantes. Os programas de controle de infecção hospitalar previam o emprego de pré-embalagem para resíduos perfurantes e cortantes em três unidades, mas este uso ocorria de forma incorreta. O saco plástico de cor branca leitosa não era usado em nenhuma das unidades. Todos os hospitais tinham abrigo de resíduos, mas nenhum deles estava de acordo com as especificações exigidas pela legislação brasileira. Nenhum hospital adotava medidas para minimização de resíduos; programa de reuso e/ou reciclagem. Encontrou-se desrespeito à legislação vigente sobre gerenciamento de resíduos sólidos nos quatro hospitais avaliados. Descritores: Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde. Abstract: A descriptive cross-sectional study undertaken in four hospitals from the Unified Health System (SUS) in the county of São Luis, aiming at analyzing the management of solid residuals for ongoing guideline comparison: two public hospitals (A and B), one philanthropic hospital (C), and one private hospital (D). All four units had a program of hospital infection control. There were no arrangements for residual management, no residual classification, no handbook or schedule on residual management, nor a technician responsible for residual management in any of the four units. There were records on hygienising personnel training and other health workers in standard precautions with blood and body fluids in three hospitals. The hygienising personnel wore incomplete individual protection equipment for handling infecting residuals in all units. The hospital infection control programs demanded the employment of pre-packing of perforating and cutting material in three units, but this was incorrectly used. White milky plastic bags were used in none of the units. All hospitals had residual dumpsters, but none were in accordance to specifications required the Brazilian legislation. None of the hospitals adopted measures for reducing residuals nor recycling and/or reutilization program. Disregard for the legislation on course oon the management of solid residuals was observed in all four assessed hospitals. Keywords: Committee on the Control of Hospital Infection; Arrangement on Management of Solid Residuals from the Health Services. INTRODUÇÃO O gerenciamento inadequado dos resíduos de serviços de saúde pode levar a contaminação de resíduos comuns devido à mistura com os considerados perigosos (com risco biológico ou risco químico e rejeitos radioativos); acidentes com materiais perfurocortantes devido a acondicionamento inadequado dos mesmos; contaminação do meio ambiente em decorrência do lançamento a céu aberto, 1 2 entre outros1. Para o adequado manejo dos resíduos de serviços de saúde, faz-se necessário que cada unidade geradora desenvolva seu Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) - documento integrante do processo de licenciamento ambiental, baseado nos princípios da não geração de resíduos e da minimização da geração de resíduos, que Mestre em Saúde e Ambiente/UFMA. Médica infectologista. Docente da UFMA. Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela UNIFESP. Médico infectologista. Pesquisador Associado da FIOCRUZ – BA. 34 Branco MRFC et al aponta e descreve as ações relativas ao seu manejo, contemplando os aspectos referentes à segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, reciclagem, tratamento e disposição final, bem como proteção à saúde pública e ao meio ambiente2. As vantagens da aplicação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde seriam: diminuição de riscos para a saúde e o meio ambiente; redução do número de acidentes de trabalho; redução dos custos do manejo dos resíduos; incremento da reciclagem, etc1. Dentre as responsabilidades dos estabelecimentos de saúde, destacam-se as medidas para minimizar riscos relacionados ao tipo de atividade que oferece à comunidade. Para tanto, é necessário implantar em cada unidade de saúde Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, dentre outras medidas1. No tocante ao gerenciamento de resíduos, os estabelecimentos de saúde são inspecionados por órgãos de meio ambiente e de saúde que se baseiam em normas específicas. Até 2003, as principais normas reguladoras pertinentes a resíduos de serviços de saúde eram as Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA nº. 05/933 e nº. 283/014. Em fevereiro daquele ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)3 publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº. 335. Esta resolução gerou polêmica, pois entrava em contradição com as resoluções do CONAMA. Passou a ser impossível aos estabelecimentos de saúde cumprir ambas as resoluções. Finalmente, a partir de uma ação integrada entre técnicos dos Ministérios de Meio Ambiente e da Saúde, em dezembro de 2004, a ANVISA publicou a RDC nº. 3066 e revogou a RDC nº. 33/035 e em abril de 2005, o CONAMA publicou a Resolução nº. 3582 e revogou as Resoluções nº. 05/933 e nº. 283/014. No município de São Luís, estado do Maranhão, a coleta dos resíduos sólidos de serviços de saúde era diferenciada, mas o destino final era o Aterro Sanitário do Ribeira, onde era misturado ao resíduo comum. Em julho de 2003, instalou-se na ilha São Luís a primeira usina de incineração de resíduos. No mês seguinte, a Prefeitura de São Luís assinou um Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público Estadual, deixando, desde então, de coletar os resíduos infectantes. Em setembro de 2003, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMSUR) notificou as unidades de saúde para que se adequassem às Resoluções do CONAMA4 nº. 05/93 e nº. 283/01 quanto à coleta, tratamento e disposição final dos resíduos, dentro de um prazo de dois meses5. Neste estudo, analisa-se o gerenciamento MÉTODOS Estudo descritivo transversal desenvolvido em hospitais no município de São Luís. Os critérios de inclusão estabelecidos foram: hospitais públicos, privados e filantrópicos do município de São Luís com mais de setenta leitos e consentimento da direção dos mesmos para a realização do estudo. Os critérios de avaliação foram: existência de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e de Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde (PGRSSS); treinamentos regulares em precauções-padrão com sangue e outros fluidos corporais; uso de equipamento completo de proteção individual pelos higienizadores; uso de saco de cor branca leitosa para acondicionamento de resíduos infectantes; uso de recipiente rígido para descarte de resíduos perfurantes e cortantes; armazenamento externo (abrigo de resíduos); adoção de medidas para minimização de resíduos; programa de reuso e/ou reciclagem. Para a coleta dos dados utilizou-se um roteiro com os critérios de avaliação e fotografias coloridas realizadas no momento da observação. Realizou-se entrevistas com membros da CCIH e/ou do Serviço de Higiene e Limpeza, preenchimento do roteiro de avaliação, observação direta e realização de fotografias durante a visita à maioria absoluta (90%) das dependências do hospital. A coleta de dados foi realizada durante o mês de março de 1998. Os hospitais foram codificados com as letras: A, B, C e D. Os dados foram conferidos manualmente e RESULTADOS Seis hospitais preencheram os critérios de escolha. Em dois, a direção recusou-se a autorizar a realização do estudo. Quatro unidades foram avaliadas: duas públicas - Hospitais A e B, uma filantrópica - Hospital C e uma privada - Hospital D. Existia programa de controle de infecções hospitalares em todas as unidades. As quatro Comissões de Controle de Infecção Hospitalar tinham médico, enfermeiro, farmacêutico e representante da direção do hospital e o hospital B tinha microbiologista. Os enfermeiros e médicos possuíam horário exclusivo para o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar SCIH nos hospitais A, B e C. Não existiam planos de gerenciamento de resíduos, classificação de resíduos, nem manual ou rotinas sobre gerenciamento dos resíduos nas quatro unidades. Nenhum dos estabelecimentos possuía responsável técnico pelo gerenciamento dos resíduos. Havia registros de treinamentos de higienizadores e de outros profissionais de saúde em precauções padrão com sangue e líquidos corporais nos hospitais A, B e C. Nestes os treinamentos obedeciam a uma programação pré-estabelecida, mas não tinham regularidade. Em todas as unidades, os higienizadores usavam equipamento incompleto 35 Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):34-38, set-dez, 2005 de proteção individual (luvas e sapatos inadequados, ausência de gorros e máscaras para manusear resíduos infectantes). O saco plástico de cor branca leitosa não era usado para acondicionamento de resíduos infectantes em nenhuma das unidades. Os programas de controle de infecção hospitalar previam o emprego de pré- embalagem para resíduos perfurantes e cortantes nos hospitais B, C e D, mas este uso ocorria de forma incorreta. Todos os hospitais tinham abrigo de resíduos, mas nenhum deles estava de acordo com as especificações da NBR 128097. Nenhum adotava Hospitais Parâmetros avaliados A B C D PCIH* 1 1 1 1 CCIH **: Enfermeiro, médico, farmacêutico, administrador 1 1 1 1 Microbiologista 2 1 2 2 SCIH***: Enfermeiro e médico 1 1 1 2 Higienizadores e outros PAS# treinados 1 1 1 2 Treinamentos programados 1 1 1 2 Treinamentos regulares 2 2 2 2 Uso de saco branco leitoso 2 2 2 2 Emprego de PERPC## 2 1 1 1 1=SIM 2=NÃO * PCIH = Programa de controle de infecções hospitalares ** CCIH = Comissão de controle de infecção hospitalar *** SCIH = Serviço de controle de infecção hospitalar # PAS = Profissionais da área de saúde ## PERPC = Pré-embalagem para resíduos perfurantes e cortantes DISCUSSÃO Todos os hospitais tinham CCIH, evento esperado, já que é regulamentado no país desde 1983. Naquele ano, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº. 196, obrigando os hospitais a criarem CCIH8. Para adequar o gerenciamento do controle de infecção hospitalar ao novo modelo de saúde brasileiro, o SUS, o Ministério da Saúde publicou em 1992 a Portaria nº. 9309. Em 1997, o controle de infecções hospitalares passou ser obrigatório pela Lei nº. 943110 e em 1998, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº. 2616, numa tentativa de simplificar os programas de controle de infecções hospitalares para hospitais menores11. Apesar de todos os hospitais terem CCIH, nenhum deles tinha treinamentos regulares em precauções-padrão e em apenas um os higienizadores faziam uso de equipamento completo de proteção individual. Por outro lado, apenas em um hospital não foi encontrado uso de recipiente rígido para acondicionamento de resíduos perfurantes e cortantes. 36 O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) vêm publicando desde 1982 recomendações com o objetivo de minimizar a exposição ocupacional de profissionais de saúde ao vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), ao vírus da hepatite B e a outros patógenos sangüíneos. Inicialmente, recomendava que os profissionais de saúde adotassem as chamadas precauções com sangue e líquidos corporais para os pacientes com suspeita ou infecção confirmada por patógenos sangüíneos12. Em 1987, estendeu estas recomendações para todos os pacientes a despeito de suspeita ou não de infecção por patógeno sangüíneo, denominando-as de precauções universais13. Em 1996 propôs nova rotina de precauções e isolamentos e as precauções universais passaram a fazer parte das precauções-padrão14. As precauções-padrão são medidas básicas de proteção ao profissional de saúde, de forma individual (exemplo: uso de equipamento completo de proteção individual) ou coletiva (exemplo: uso Branco MRFC et al de recipiente rígido para descarte de resíduos perfurantes e cortantes). RICCI15 encontrou que 46% dos profissionais de saúde haviam sofrido exposição ocupacional a material com risco biológico, destes 9,5% foram causados por acondicionamento inadequado de material perfurocortante e 50% não estavam usando equipamento completo de proteção individual no momento do acidente. Sousa16 demonstrou que em 26,7% dos acidentes ocupacionais com materiais perfurocortantes, o objeto causador foi desprezado ou “esquecido” em local impróprio e que em apenas 46,1% dos acidentes os profissionais estavam utilizando luvas. Veras et al.17 constataram que 33% dos profissionais não estavam usando equipamento completo de proteção individual no momento do acidente. Ricci 15 abriu caixas de perfurocortantes e encontrou que 54,2% das agulhas estavam com capas e desconectadas das seringas. Hoefel et al.18 verificaram que a maioria das pessoas pesquisadas (76%) relatou que não seguia a indicação de não separar agulha da seringa e que 79% dos higienizadores e 75% do pessoal de enfermagem desconectavam, às vezes, ou nunca. Silva19 encontrou que 33,7% dos auxiliares de enfermagem desconectavam a agulha da seringa antes de descartá-la. Quanto ao gerenciamento de resíduos nos quatro hospitais, nenhum hospital possuía PGRSS nem adotava o saco de cor branca leitosa para acondicionamento de resíduos infectantes. Os programas de reuso e/ou reciclagem não eram adotados. Apenas um hospital possuía abrigo de resíduos construído conforme NBR 12.809. Duarte 20 analisando o gerenciamento de resíduos em quatro hospitais do Município de São Luís, no período de dezembro de 2003 a junho de 2004, encontrou que todos os hospitais estavam em fase de implantação do PGRSS, mas não classificavam o resíduo no momento de sua geração, acondicionavam resíduos perfurocortantes em sacos plásticos, acondicionavam resíduos comuns em saco de cor branca leitosa e os abrigos de resíduos não CONCLUSÃO Encontrou-se desrespeito à legislação vigente sobre gerenciamento de resíduos sólidos nos quatro hospitais avaliados. Evidenciou-se distância entre a legislação e a realidade das unidades de saúde. As mudanças no gerenciamento de resíduos sólidos exigem investimento financeiro, conscientização e/ou alterações de hábito. A Prefeitura de São Luís começou a forçar a ocorrência destas mudanças a partir de 2003 quando parou de fazer a coleta dos resíduos infectantes sem tratamento prévio, os hospitais foram obrigados a pagar pela incineração dos resíduos infectantes. Esta medida passou a gerar um custo no gerenciamento dos resíduos e forçou as unidades de saúde a racionalizarem este custo através da adequação do gerenciamento às normas REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde ambiental e gestão de resíduos de saúde. Brasília: MS; 2002. 450p. 2. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução n. 358 de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos de serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 04 maio 2005. 3. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada n. 33, de 25 de fevereiro de 2003. Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 06 mar. 2003. 4. 5. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução n. 05 de 05 de agosto de 1993. Define normas mínimas para tratamento de resíduos sólidos oriundos de serviços de saúde, portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. Diário Oficial da União, Brasília, n.166, p.129966-12998, 31 ago. 1993. Seção 1. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução n. 283 de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 01 out. 2001. 6. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada n. 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 10 dez. 2004. 7. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12809: manuseio de resíduos de serviços de saúde-procedimento. Rio de Janeiro, 1993. 4p. 8. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 196, de 24 de junho de 1983. Expede, na forma de anexos, instruções para o controle e prevenção das infecções hospitalares. Diário Oficial da União, Brasília, p.113-119, 28 jun. 1983. Seção 1. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 930, de 27 de agosto de 1992. Expede, na forma de anexos, normas para o controle de infecções hospitalares e revoga a Portaria n. 196, de 24 de junho de 1983. 37 Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):34-38, set-dez, 2005 Diário Oficial da União, Brasília, p. 12279-81, 4 set. 1992. Seção 1. 10. Brasil. Ministério da Saúde. Lei n. 9431 de 6 de janeiro de 1997. Dispõe sobre a obrigatoriedade da manutenção de programa de controle de infecções hospitalares pelos hospitais do País. Diário Oficial da União, Brasília, n. 4, p.265, 7 jan. 1997. Seção 1. 11. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 2616, de 12 de maio de 1998. Expede, na forma de anexos, diretrizes e normas para a prevenção e o controle de infecções hospitalares e revoga a Portaria n. 930, de 27 de agosto de 1992. Diário Oficial da União, Brasília, n. 89, p.133-135, 13 maio 1998. Seção 1. 12. Centers for Disease Control and Prevention. Current trends acquired immunodeficiency syndrome (AIDS): precautions for clinical and laboratory staffs. MMWR 1982; 31(43):577-580. 1996;17(1):54-80. 15. Ricci LAO. Perfuro-cortantes: aspectos relacionados a acidentes ocupacionais e descarte de agulhas em um hospital. [Monografia de conclusão de curso de graduação]. São Luís(MA): Universidade Federal do Maranhão; 2002. 35p. 16. Souza M. Acidentes ocupacionais na equipe de enfermagem: um estudo em cinco hospitais de São Paulo. J. Bras. Aids, 2000; 1:11-13. 17. Veras TN, Barros AIS, Ricarte AR et al. IExposição de profissionais de saúde a material biológico em acidentes perfurocortantes em Fortaleza. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2000; 33(1):479. 18. Hoefel, HK, Diogo, L, Hoppe, J. Conhecimento e adesão às precauções universais por profissionais que realizam punção venosa em hospital. Rev. Cont. Infec. Hosp. 1994;1:15-17. 13. Centers for Disease Control and Prevention. Recommendations for prevention of HIV transmission in health-care settings. MMWR 1987; 36(2):1-18. 19. Silva EMS. Conhecimento e adesão às precauções padrão entre os auxiliares de enfermagem do Hospital Dr. Carlos Macieira. [monografia de conclusão de curso de graduação]. São Luís(MA): Universidade Federal do Maranhão; 2005, 43p. 14. Garner JS. Guideline for isolation precautions in hospitals. Infect. Control. Hosp. Epidemiol. 20. Duarte MCR. Resíduos sólidos hospitalares: avaliação de aspectos sanitários em unidades de 38 Revista do Hospital Universitário/UFMA Atualização Artigo / Article Procedimentos arquivísticos do prontuário do paciente no arquivo médico do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão - HU/UFMA Filing procedures for patient medical record in the medical files of the University Hospital of the Federal University of Maranhão - HU/UFMA Ana Luzia de Sá Magalhães 1 Resumo: Descreve os procedimentos arquivísticos do prontuário do paciente no Hospital Universitário – HU/UFMA, desde a sua fase corrente até a fase intermediária, enfocando os possíveis danos documentais relacionados à sua tramitação, sugerindo um programa de planejamento de preservação documental relacionado à educação de pessoal e usuários, com o fito de sensibilizar essa comunidade, sobre a importância documental do prontuário, sobre os aspectos científicos e legais, para o paciente, a equipe de saúde, o Hospital e para o desenvolvimento da Ciência. Descritores: Prontuário, arquivo médico, procedimentos arquivísticos. Abstract: The aim of the study was to describe filing procedures for Patient Medical Record in the Medical Files of the University Hospital of the Federal University of Maranhão – HU/UFMA, from its current and up to its intermediate phase, pointing out documented damages with respect to its conveyance, and suggests a planning program for documental safeguarding in relation to the education of personnel and users, with the objective of sensibilizing those concerned about the documental significance of medical records on legal and scientific aspects for the patient, health staff, the Hospital, and for the development of the sciences. Keywords: Patient medical record, Medical file, Filing procedures. INTRODUÇÃO A informação constitui uma parte importante do nosso patrimônio cultural e intelectual e oferece benefícios muitos significativos para os usuários, ela tem origem em diferentes processos de produção e por diferentes motivos, desse modo, o objetivo para o qual é criada e as razões que assistem à necessidade da sua preservação são muito variáveis. Atualmente, nas organizações, tanto pública quanto privada, o bem mais valioso é a informação. É raro o processo ou atividade desenvolvida nesses ambientes, que não gere informações e que estas por sua vez, não precisem ser armazenadas e preservadas. Porém, armazenar informações e preservar documentos, requer estabelecimento de normas e procedimentos arquivísticos, orientados por uma metodologia específica e consolidados por uma política documental. Assim sendo, enfatiza-se que, quando a informação registrada é adequadamente tratada, ela passa a ser um agente mediador na produção do conhecimento, pois, sendo derivada do sistema que a produz, está vinculada aos “meios operativos e na interação sistêmica inerente ao processo informacional, qualificando-se em forma e substância, como estruturas significantes com a competência de gerar conhecimento para o indivíduo e seu grupo¨. 1 Na sociedade Contemporânea, a memória tem participação ativa na condução da vida em todas as áreas do conhecimento. É com base nos acervos arquivísticos que são construídos mecanismos de orientação, tendo a memória, a base de dados armazenados em suas múltiplas formas de expressão. Sob esse aspecto observa-se então que, o valor arquivístico de um documento está intrinsecamente ligado à importância da informação que o mesmo abriga e à competência administrativa da instituição que o gerou em decorrência de suas atividades. Segundo a UNESCO 2 , “os arquivos são componentes essenciais de qualquer estratégia de aperfeiçoar informação, tanto para o público em geral quanto para grupos especializados”. Porém, para um arquivo responder a contento às expectativas dos seus usuários, ele deve está bem organizado e ser bem administrado. Em se tratando do uso da informação num ambiente hospitalar, observa-se que existe um amplo elenco de atividades onde essa se aplica. Considerando a realidade de um Hospital Universitário, ressaltam-se algumas etapas que estão implícitas nas rotinas do seu dia-a-dia como: pesquisa e produção científica, atividade didática, planejamento, organização e avaliação de serviços dentre outros, sendo imprescindível ao atendimento individual de cada paciente, à abordagem de problemas coletivos 1 Especialista em Ciência da Informação e Gestão de Arquivo. Bibliotecária. Coordenadora do Arquivo Médico da Unidade Presidente Dutra - HU/UFMA. 39 Magalhães ALS e principalmente ao estabelecimento de políticas administrativas e assistenciais da Instituição. Segundo Amaral3, no ambiente hospitalar, “o uso rotineiro da informação está associado a dois processos: assistenciais e administrativos”. O primeiro está associado ao atendimento clínico do paciente que são registrada no prontuário do paciente, o segundo é oriundo do primeiro. A aplicação eficiente e eficaz dos dois processos, norteiam todos os demais. No cotidiano de um hospital universitário prontuário do paciente é o documento básico e essencial que permeia todas as suas atividades assistenciais, administrativas, de ensino e pesquisa. Segundo a Resolução nº 1.638/20024 do Conselho Federal de Medicina “é um documento único, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe profissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo” Em se tratando de Hospital Universitário, a qualidade do registro das informações clínicas no prontuário, deve traduzir a eficiência na apresentação de outros produtos finais que visam além da “cura do paciente, também, a formação e capacitação de profissionais, pesquisa e produção científica, que constituem pilares no processo de evolução da Ciência”5 Assim o objetivo deste artigo é descrever os procedimentos arquivísticos do prontuário do paciente no Hospital Universitário – HU/UFMA, desde a sua fase corrente até a fase intermediária, enfocando os possíveis danos documentais relacionados à sua DESCRIÇÃO Procedimentos Arquivísticos do . Prontuário do Paciente Falar de procedimentos arquivístico em arquivo médico, inicialmente requer fazer uma abordagem sobre o prontuário do paciente, que é o suporte onde são registradas as informações clínicas produzidas no hospital. “Criado no século XVI por uma ordem religiosa na Itália, o documento prontuário médico, atualmente prontuário do paciente,”. inovou o modo de registrar a permanência de um paciente em um hospital à assistência médica e de enfermagem a ele dispensada. Adotado posteriormente por outros hospitais da Europa e dos Estados Unidos, este documento iniciou o esboço de Administração na Área de Saúde”6. O prontuário deve permitir acompanhar o diagnóstico e o tratamento do paciente de forma adequada, reunindo todas as informações possibilitando a formulação e correlações entre diagnósticos e terapêuticas, favorecendo a coleta, apuração e a análise de dados estatísticos que se fizerem necessárias ao planejamento e estabelecimento de políticas administrativas e assistenciais, tendo ainda grande importância ética e legal 7. No HU/UFMA, o modelo de prontuário do paciente adotado para o registro da informação clínica, é o convencional em papel manuscrito, que é o objeto de estudo desse artigo. Atualmente estão disponíveis em meios eletrônicos, o cadastro de pacientes, a marcação de consultas e a tramitação do prontuário. A adoção desses recursos possibilitou algumas mudanças no hospital no que se refere à disponibilidade do documento em tempo hábil, o que reflete na melhoria do atendimento ao paciente. Porém, outros suportes têm sido cogitados atualmente para o registro dessas informações, são os chamados prontuários eletrônicos, que visam converter para a versão digital, as informações registradas em papel. O arquivamento do prontuário médico fica sob responsabilidade do Serviço de Arquivo Médico e Estatística – SAME, que é um Serviço administrativo ligado diretamente à Diretoria Adjunta de Serviços 40 Assistenciais, sendo responsável pelas atividades relacionadas ao gerenciamento da informação clínica, no que diz respeito à estatística médica, organização e guarda do prontuário médico e exames de imagem, relativos ao atendimento assistencial de cada paciente. A estrutura organizacional do SAME encontrase constituída por três Setores: Registro Geral, formado pelas seções de Abertura de Prontuário, Marcação de Consultas e Internação. Estatística e Arquivo Médico. O Setor de Arquivo Médico é responsável pelo gerenciamento do acervo de prontuários, no que se refere à sua organização, preservação e custódia, é constituído por três seções, dois arquivos correntes, disponíveis nas Unidades Hospitalares que formam o Complexo Hospitalar e um Intermediário que fica localizado na Unidade Materno Infantil e têm o seu acervo constituído pelos prontuários e documentos administrativos oriundos dos arquivos correntes. Prontuário do paciente: fluxo/tramitação O fluxo do prontuário está intrinsecamente relacionado ao paciente, desde o processo de abertura em função do primeiro atendimento até a alta hospitalar ou óbito. A primeira consulta realizada na triagem clínica dá origem à história do paciente, que poderá ter ou não, outros registros subseqüentes. Após o primeiro atendimento do paciente pelo médico clínico, o mesmo é encaminhado ao Setor de Marcação de Consultas - UMC, portando documento de identificação e Ficha de Primeiro Atendimento – FPA, que lhe é entregue pelo médico, para que proceda a abertura do prontuário. Na abertura de prontuário é efetuado o cadastro do paciente, que recebe um número de matrícula, ou seja, do prontuário, que irá identificar o seu documento no hospital. Este número é impresso em etiqueta adesiva em duas vias, ficando uma no cartão de identificação do paciente e outra na FPA. Após a abertura do prontuário, o paciente marca a consulta. A FPA é encaminhada ao Arquivo Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):39-44, set-dez, 2005 Corrente que é anexada à pasta do prontuário, que é identificada pela etiqueta, onde consta número do prontuário e nome do paciente, sendo codificada no Arquivo Médico, pelo Sistema Dígito terminal a Cores. Todas as atividades referentes ao fluxo do prontuário são registradas no sistema eletrônico pelo Arquivo Médico Corrente, que mantém conexão com os Setores de Abertura de prontuário, Marcação de Consultas e Internação, em sistema on-line, alimentando-o constantemente. Após as etapas de atendimento ambulatorial, de internação, auditoria ou pesquisa científica, os prontuários retornam ao Arquivo, onde são revisados, conferidos, selecionados, cadastrados no sistema e novamente arquivados. No que se refere à pesquisa, a utilização do prontuário do paciente na pesquisa científica, está relacionada com os dados contidos no prontuário e com implicações éticas às quais o estudo se propõe. Diener7 recomenda que, o pesquisador ou equipe de pesquisadores devem submeter previamente o “protocolo de investigação para análise da Comissão de Ética e do Diretor Clínico da Instituição. Deve pesar ma autorização do estudo, os propósitos do mesmo e os critérios adotados para preservação da privacidade dos pacientes.” Os prontuários de pacientes estão disponíveis para consulta local (dentro do Arquivo Médico), aos profissionais e alunos vinculados ao HU, envolvidos com assistência ao paciente, sempre que haja necessidade, atentando aos princípios éticos. O controle de saída dos prontuários da estante para pesquisa fica registrado no sistema eletrônico no módulo tramitação. Nessa etapa são desenvolvidos trabalhos de cunho científico, como: monografias, dissertações, teses, artigos de periódicos, boletins informativos, indicadores de saúde e outros, que são resultantes das informações registradas no prontuário do paciente. A consulta dos prontuários para o desenvolvimento de pesquisa científica é liberada mediante o encaminhamento prévio de projeto de pesquisa à Direção, que é apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital – CEP, que é filiada à Comissão Nacional de ética em Pesquisa - CONEP que emitirá posteriormente um Parecer Técnico, considerando a relevância ética da pesquisa em consonância com a legislação em vigor do Ministério da Saúde e Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Para utilizar dados no prontuário, o pesquisador apresenta ao Arquivo Médico, o Parecer original aprovado, datado e assinado pelo CEP, seguido de cópia, sendo o original devolvido ao pesquisador, ficando a cópia anexada à relação de prontuários, que deverá ser identificada pelo nome e número do prontuário do paciente. Após essa etapa, os prontuários serão agendados e disponibilizados para pesquisa local. O quantitativo de pesquisadores/ dia corresponde a uma média de cinco usuários, totalizando 50 prontuários/dia, sendo uma média de 10 prontuários por pesquisador. Prontuário médico: processo de informatização Com a criação do HU/UFMA, o atendimento ao paciente passou a ser compartilhado pelas Unidades, porém evidenciou-se o seguinte: a UPD e a UMI, continuaram a atribuir numeração independente aos registros de seus pacientes, detectando-se posteriormente, duplicidade numérica nos acervos de prontuários. Nos casos em que determinado paciente da UMI necessitava de atendimento na UPD ou vice versa, após o atendimento, o seu prontuário não retornava à Unidade de origem, era arquivado no acervo da outra Unidade, em decorrência da semelhança de numeração. Este problema ocasionou a existência de pacientes diferentes com o mesmo número de prontuário, pois existia a mesma numeração seqüenciada nas duas unidades. Ex: 050.110, 050.120..., e assim sucessivamente. Para evitar a continuidade dessa problemática, com a implantação do cadastro eletrônico de pacientes, a Diretoria do HU/UFMA em consonância com a Chefia do SAME, determinou que os prontuários de terminações pares identificariam o acervo da UPD e os ímpares, o acervo da UMI, considerando-se o último dígito numérico antes do dígito de controle do sistema informatizado. Ex: 568044-1 UPD, 568045-2 UMI8. Assim sendo, o processo de informatização, teve início em outubro do ano de 1994 com a implantação do cadastro nominal dos pacientes admitidos no HU através das Unidades Hospitalares Presidente Dutra e Materno Infantil. A partir daquele momento, o procedimento de cadastramento do paciente que procurava o hospital para um primeiro atendimento em uma das respectivas unidades, deixou de ser no estilo convencional (manuscrito) e passou a ser informatizado O paciente recepcionado pela seção de Registro Geral do Serviço de Arquivo Médico e EstatísticaSAME nas duas Unidades, para abrir um prontuário médico, após a coleta de dados de identificação, passou a receber um Cartão de Identificação impresso, contendo os seus dados e o número de registro. A implantação do cadastro teve como objetivos: agilizar o atendimento do paciente no ato do cadastramento, resgatar em tempo hábil, o registro do paciente em caso de perda através de busca pelo nome na Base de Dados, reduzir a margem de erro de arquivamento de prontuários, identificar as coleções de prontuários dos arquivos de cada Unidade Hospitalar. O Módulo prontuário é constituído pelos sub – módulos: cadastro de pacientes contendo a matrícula e dados de identificação do paciente, tramitação, que é o protocolo eletrônico que controla a entrada, saída e movimento do prontuário nos Arquivos Médicos, e situação, que controla função do prontuário (corrente, intermediário, com movimento, sem movimento e 41 Magalhães ALS óbito). O Cadastro de paciente é um sub-módulo que contém dados referentes à identificação do paciente tais como: nome completo, sexo, data de nascimento, estado civil, filiação, endereço, telefone, nome do responsável pela abertura do prontuário médico, grau de parentesco, data de abertura e número de registro que é atribuído ao final do processamento, quando são confirmadas as informações. Dispõe de várias ferramentas para recuperar os dados de identificação do paciente como. nome completo, data de nascimento, último sobrenome, número de registro e ,nome da mãe, A Tramitação é um sub-módulo que acessa o protocolo eletrônico que controla a entrada, saída e movimento do prontuário médico para: ambulatório, internação, auditoria, pesquisa, patologia, relatório médico e saída do prontuário para as Unidades UPD e UMI. Arquivamento do prontuário: fase corrente A eficiência da gestão de documentos é medida através da rapidez e precisão com que eles são localizados quando necessário, e da otimização dos espaços utilizados. Na estrutura orgânica do hospital, o arquivo médico corrente é o Serviço que tem por objetivo “fazer com que os documentos sirvam às finalidades para os quais foram criados, de maneira mais eficiente e econômica possível, e concorrer para a destinação adequada dos mesmos, depois que tenham servido a seus fins. 9 No processo de arquivamento e controle do prontuário do paciente, regras e normas já comprovadas e estabelecidas pelos órgãos competentes, são observadas e seguidas no processo de ordenação criteriosa dos documentos. O tipo de arquivamento utilizado para o prontuário do paciente é o vertical, em ordem crescente, obedecendo a uma seqüência lógica e coerente, tendo como Sistema de Arquivamento, o Dígito Terminal a Cores - DTC, que é uma variante do Sistema de Arquivamento Numérico Simples, que agrega números e cores, sendo baseado em grupamentos dentro do arquivo, determinado pelos algarismos terminais. “Assim, para efeito de arquivamento e localização do prontuário, a leitura dos números será feita da direita para a esquerda, sentido natural do seu crescimento” 10. Para aplicação desse Sistema, foram convencionados aos dez algarismos essenciais que vão de 0 a 9, dez cores que funcionam como código identificador. A implantação do Sistema de Arquivamento Dígito Terminal a Cores, trouxe várias vantagens como: eliminação de duplicidade de pastas, facilidade na identificação do prontuário de cada unidade hospitalar e no arquivamento e na busca do prontuário na estante, pois, em sistema de arquivamento de grande porte, como é o caso dos arquivos hospitalares, onde se tem uma demanda crescente na produção de prontuários, há necessidade de se reduzir a área de 42 pesquisa para possibilitar uma dinâmica de busca mais eficiente, dando condições mais rápidas à recuperação da informação. Organizar seções para pesquisa em arquivos de grande porte, é um princípio fundamental que otimiza os serviços e evita buscas demoradas. Segundo Gorbea10 “O Método de Arquivamento Dígito Terminal a Cores, foi idealizado com o fito de reduzir a possibilidade de colocar os documentos fora de lugar, pela dificuldade que pode surgir ao ler e recordar números grandes.” Preconizado pela Organização Mundial de Saúde – OMS. O método DTC é baseado em grupamentos de cores dentro do arquivo, determinado pelos algarismos terminais, tendo como código auxiliar de acesso ao prontuário, a cor, que é elemento fundamental para o arquivamento e desarquivamento desse documento. Na sua estrutura organizacional, cada cor equivale a um dígito que varia em uma escala de 0 (zero) a 9 (nove), perfazendo um total de 10 cores. Exemplificando: 0 Verde claro, 1 – verde escuro, 2 – azul claro, 3 – azul escuro, 4– vermelho 5 – lilás, 6– amarelo 7 – cinza, 8 – rosa, 9 – marrom 9. O número que identifica o prontuário médico é composto por 6 dígitos que antecedem o dígito de controle, sendo que, somente a três dígitos, são atribuída a identificação das cores: o dígito que representa a unidade simples, o dígito que representa a dezena simples e o dígito que representa a unidade de milhar. O dígito que representa a centena simples corresponde à posição do prontuário na ordem seqüencial dentro da série na estante. A pasta correspondente a este prontuário será composta pela seguinte série de cores: verde escuro, rosa e verde claro, estando à mesma, ocupando a posição n.º 2, dentro da série 091180 – 2, sendo esta, formada por 10 pastas, que vai de: 091080 - 0 a 091980 - 9. Exemplificando: 091080 – 0: 091180 –1: 091280 – 2: 091380 – 3, 091480 – 4, 091580 – 5, 091680 – 6, 091780 – 7, 091880 – 8, 091980 – 9. O Sistema Dígito Terminal a Cores desdobra o arquivo em pequenos grupos facilmente visíveis para localização, pesquisa e arquivamento em função do emprego de cores. Qualquer erro de arquivamento, qualquer pasta fora de seu setor, pela sua visualização contrastante, chama a atenção de seu operador9. A implantação do sistema DTC nos Arquivos Médicos, aliado ao cadastro e tramitação eletrônica do prontuário, tem facilitado as rotinas de serviço no que se refere à busca e recuperação do documento em tempo hábil. Essa atividade envolve avaliações sucessivas dos métodos e técnicas que são aplicados na sua execução, assim como do desempenho de toda a equipe de trabalho. A possibilidade de erro de arquivamento do prontuário em decorrência do desenvolvimento destas atividades é mínima, considerando que as equipes de trabalho, são constantemente acompanhadas e treinadas para possibilitar a execução das tarefas com qualidade. Avaliação Documental Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):39-44, set-dez, 2005 Segundo a Norma Técnica (ANBT – NBR 105519), a avaliação de documentos de arquivo objetiva a racionalização dos arquivos estabelecendo preceitos capazes de orientar a ação dos responsáveis pela análise e seleção dos documentos, fornecendo subsídios à fixação de prazos para sua guarda ou descarte.12 Na realidade hospitalar, o processo referente à avaliação dos prontuários após a fase corrente, tendo como parâmetro, um período de 10 anos após a data do último registro de atendimento do paciente do paciente no hospital efetuada no Arquivo Corrente antes da transferência dos prontuários para o Arquivo Intermediário. Nessa etapa são desenvolvidas as seguintes atividades: análise, avaliação, seleção, higienização acondicionamento e transferência dos prontuários para o Arquivo Intermediário, que tem como função principal, proceder a um arquivamento transitório, assegurando a preservação de documentos que diminuíram a freqüência quanto à movimentação, mas que devem ser guardados temporariamente, aguardando pelo “cumprimento dos prazos estabelecidos pelas comissões de análise ou, em alguns casos, por um processo de triagem que decidirá pela eliminação ou arquivamento definitivo, para fins de prova ou de pesquisa.13 Fase intermediária do prontuário do paciente É a etapa que vem após a avaliação documental realizada nos Arquivos Correntes. Nessa fase, as caixas arquivo são recebidas no Arquivo Intermediário, selecionada por cor e encaminhadas para as seções correspondentes às Unidades Hospitalares e arquivadas. As cores das caixas identificam as coleções de cada unidade. UPD caixas arquivo de polionda na cor verde e UMI caixas arquivo de polionda azul Esse procedimento foi adotado considerando os seguintes critérios: um único espaço físico para armazenar os prontuários proveniente dos Arquivos Correntes das duas unidades, agilizar a localização do acervo de prontuários de cada unidade hospitalar e facilitar a recuperação do documento quando for necessário e evitar perda documental. Os prontuários são armazenados nas caixas arquivo, considerando o mesmo Sistema DTC. Em se tratando do fator guarda e temporalidade dos prontuários nos arquivos médicos, esta é uma questão que tem sido muito discutida mundialmente, considerando aspectos importantíssimos como: função jurídica da instituição, valor documental, legislação e espaço físico disponível, o que um dos problemas mais comuns evidenciados nos hospitais. O que impossibilita a guarda satisfatória da documentação. Sob esse aspecto, a Resolução N. CFM n.º 1.639/200214 estabelece o seguinte: Art. 4º... o prazo mínimo de 20 (vinte) anos, a partir do último registro, para a preservação dos prontuários médicos em suporte de papel. Parágrafo único – Findo o prazo estabelecido no caput, e considerando o valor secundário dos prontuários, a Comissão Permanente de Avaliação de Documentos, após consulta à Comissão de Revisão de Prontuários, deverá elaborar e aplicar critérios de amostragem para a preservação definitiva dos documentos em papel que apresentem informações relevantes do ponto de vista médico-científico, histórico e social. Art. 5º - Autorizar, no caso de emprego da microfilmagem, a eliminação do suporte de papel dos prontuários microfilmados, de acordo com os procedimentos previstos na legislação arquivística em vigor (Lei n.º 5.433/68 e Decreto n.º 1.799/96), após análise obrigatória da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos da unidade médicohospitalar geradora do arquivo. Art. 6º - Autorizar, no caso de digitalização dos prontuários, a eliminação do suporte de papel dos mesmos, desde que a forma de armazenamento dos documentos digitalizados obedeça à norma específica de digitalização contida no anexo desta resolução e após análise obrigatória da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos da unidade médicohospitalar geradora do arquivo. Art. 7º - O Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), mediante convênio específico, expedirão, quando solicitados, a certificação dos sistemas para guarda e manuseio de prontuários eletrônicos que estejam de acordo com as normas técnicas especificadas no anexo a esta resolução. Com base no exposto, observa-se que, alguns desses critérios estabelecidos pelo CFM, como emprego da microfilmagem e digitalização, ainda não estão inseridos na realidade do HU. Os prontuários permanecem por um período de 10 anos nos Arquivos Correntes considerando a data do último registro clínico no prontuário do paciente, conforme o que estabelece a Resolução, e findo este prazo, passam pelo processo de avaliação documental e posteriormente sãos organizados em caixas arquivo e encaminhados para o Arquivo Intermediário, onde aguardam o processo de microfilmagem. Todas as atividades referentes ao fluxo e tramitação do prontuário, são registradas no sistema eletrônico pelos arquivos correntes que mantém conexão on-line com o Setor de abertura de prontuários, marcação de consulta e internação. Porém, a partir da internação do paciente é que começa a problemática referente ao gerenciamento desse documento, pois alguns Serviços Clínicos ainda não estão informatizados, o que dificulta o controle total d o fluxo do prontuário o geralmente implica em perda Quanto à preservação do prontuário, temse observado alguns problemas relacionados ao manuseio como: riscos e desenhos que não estão relacionados com o conteúdo da informação registrada, folhas e garrões prendedores soltos, o que propicia a perda da informação e mutilação do documento. Estas 43 Magalhães ALS CONCLUSÃO Assim, em função de algumas conquistas já alcançadas no HU, no que se refere ao tratamento documental dispensado ao prontuário do paciente, que envolve a implantação do Sistema de Arquivamento Dígito Terminal a Cores, sistemas informatizados de controle e tramitação do prontuário, de capacitação do pessoal dos Arquivos Médicos e de outras atividades que estão sendo pleiteadas pela Coordenação do Setor, como: implantação de uma política de documental onde está implícito um programa de preservação preventiva e contínua do prontuário do paciente assim como a implantação total do prontuário eletrônico. A preservação do documento prontuário é uma necessidade premente para garantir a memória científica do hospital e precisa ser desenvolvida com a participação de todos os funcionários do Hospital e em especial dos usuários reais do prontuário que são os profissionais de saúde que prestam atendimentos assistenciais. Além desses aspectos, o prontuário do paciente é um instrumento legal, sendo o único documento que pode provar a veracidade ou não da crítica, caso o hospital venha a ser alvo de uma acusação, ou qualquer profissional da equipe de saúde. Desse modo, concluí-se enfatizando que, o acervo de prontuários e as informações neles contidas, representam a memória do Hospital Universitário. Essa memória por sua vez, constituí-se em matéria–prima para o ensino e pesquisa no campo de saúde, assim como para a aquisição de recursos financeiros que movimentam os seus custos. Seu valor deve ser considerado no momento do registro de cada informação, pois estas formam o arcabouço referências 1. Silva A M, Ribeiro F, Ramos J, et al. Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação. Porto: Edições Afrontamento; 1999. 254p. 2. UNESCO. Programa de Modernização do Arquivo Nacional [capturado 14 jan 2004]; Disponível em: http://unesco.org.br/programas/ cultura/arquivo_nacional.asphtml. 3. Amaral, M B, Lira A, Tachinardi U, et al. Um modelo de prontuário eletrônico para o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP: padrões ASTM E31-134, Arquitetura WWW e integração de sistemas. São Paulo [capturado 10 jun 2000]; Disponível em: <http://www.sbis. epm.br/pep99/proceed/htm/s01-2html. 4. 5. 6. 44 Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM 1638/2002: “Define prontuário médico e torna obrigatória a criação da Comissão de revisão de Prontuário nas instituições de saúde.” Brasília, 2002 [capturado 10 set 2003]; Disponível em: http: www.cfm.org..br htm. Magalhães, A L S. Estudo de demanda e uso da informação clínica na Unidade Presidente Dutra do Hospital Universitário – Universidade Federal do Maranhão, com vistas à implantação do prontuário eletrônico [Monografia de conclusão de Curso de Especialização em Ciência da Informação]. São Luís (MA): Universidade Federal do Maranhão; 2001. 131p. Azevedo A R. Prontuário médico. 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Conclui-se que estas alterações são freqüentes na cavidade oral, especialmente em epitélio oral, podendo também ser detectadas em tecido conjuntivo e em glândulas salivares. Descritores: etanol, bebidas alcoólicas, mucosa bucal, morfologia. Abstract: A bibliographic research on morphological alterations in the Oral cavity due to alcohol intake. MEDLINE, LILACS and BBO database were investigate for the retrieval of articles on this subject. It is concluded that such alterations are common happenings within the oral cavity, especially in the oral epithelium been also possible to be detected in conjunctive tissues and saliva glands. Keywords: ethanol, alcoholic beverages, mouth mucosa, morphology. Introdução O consumo crônico de bebidas alcoólicas é um costume social aceitável em todo mundo. No trato aerodigestivo superior, alterações morfológicas, metabólicas e funcionais podem estar presentes como o resultado do consumo de álcool1. O elo clínico entre o consumo crônico de álcool e câncer de cabeça e pescoço tem sido observado há décadas, embora o papel independente do tabaco já esteja identificado, o papel do álcool é muito pouco conhecido2. O fato do álcool atuar nos tecidos corporais levou alguns autores3,4 a acreditar que possam ocorrer alterações na morfologia das glândulas salivares. Entretanto, não há consenso na literatura, pois, outros autores5,6 defendem que as glândulas salivares são raramente afetadas pelo álcool. O etanol está presente em bebidas alcoólicas como uma conseqüência da fermentação de carbohidratos com levedura. Assim como o etanol, a cerveja, o vinho e os destilados contêm compostos voláteis e não-voláteis. No entanto, a quantidade de álcool e duração de seu consumo são os fatores mais importantes que o tipo de bebida consumida7. Os efeitos do álcool isoladamente sobre a mucosa oral permanecem pouco esclarecidos, sobretudo devido ao baixo número de não-fumantes consumidores crônicos de bebidas alcoólicas8. Frente ao consumo lícito de bebidas alcoólicas e ao pouco conhecimento do real papel deste hábito com fator de risco para o desenvolvimento de lesões na cavidade oral, pretende-se neste trabalho contribuir para o estudo das alterações morfológicas na mucosa oral decorrentes do consumo de álcool, através de uma revista na literatura. Métodos O presente artigo faz uma revisão de literatura com o objetivo de investigar as possíveis alterações morfológicas na cavidade oral decorrentes do álcool. Base de dados MEDLINE, LILACS e BBO foram investigadas que possibilitaram a recuperação de artigos sobre este tópico. Os termos pesquisados foram: morfologia, morfológico, álcool, alcoolismo, oral, bucal e boca. Resultados Inúmeros artigos foram identificados através da pesquisa que apareceu na literatura em freqüências diferentes: MEDLINE (n=62), LILACS (n=1) e BBO (n=2). Somente os trabalhos que tratavam dos efeitos morfológicos do álcool na cavidade oral foram selecionados para compor o presente estudo, que pôde ser dividido em dois tópicos: a) efeito do álcool na mucosa oral e; b) efeito do álcool nas glândulas 1 Cirurgião-Dentista. Especialista em Ciências Básicas da Saúde e em Ciências Morfológicas. Docente do UNICEUMA. 2 Doutora em Patologia Oral. Cirurgiã-Dentista. Docente da UFMA. 45 Brandes Filho CAP et al salivares. Efeito do álcool na mucosa oral Ao avaliar o grau de alterações celulares em pacientes etilistas, Silveira e Castro9 observaram alterações celulares em 58% dos pacientes, em contrapartida, no grupo controle só encontraram alterações em 15% dos pacientes avaliados. As mudanças displásicas como ceratose, aumento na densidade da camada de células basais e suave aumento do número de figuras de mitose são as alterações morfológicas observadas em vários níveis de danos teciduais dependendo das concentrações de álcool usadas10. Outras alterações das células epiteliais encontradas são: gotículas lipídicas citoplasmáticas, núcleos picnóticos e aumento no tamanho das mitocôndrias, aumento do espaço intercelular, presença de gotículas lipídicas no citoplasma e autólise nas células basais, enquanto o tecido conjuntivo apresentou intenso acúmulo de gotículas lipídicas, o que sugere que o consumo crônico de álcool etílico é capaz de modificar a integridade da mucosa11,12. Os efeitos do consumo crônico de etanol na mucosa oral também foram investigados por Maier et al.13, ao observarem que a espessura média do epitélio oral em ratos estava diminuída. Os autores sugerem que o consumo crônico de álcool causou atrofia em mucosa oral associada à hiper-regeneração, que pode resultar na susceptibilidade aumentada da mucosa a carcinógenos químicos. Observando o comportamento biológico, macro e microscópico da mucosa lingual lateral de hamsters, Lima e Taveira14 concluíram que as bebidas de alto teor alcoólico (cachaça e uísque) têm potencial carcinogênico promotor sobre a mucosa oral e o uísque tem potencial carcinogênico de progressão também. Alguns estudos experimentais investigaram as alterações morfológicas em epitélio oral de animais expostos ao álcool etílico, identificando-o como um agente modificador da morfologia da mucosa do dorso da língua quando ingerido ou aplicado topicamente15, e na promoção da proliferação celular devido a sua ingestão contínua, entretanto, não ocorrendo modificação significativa quando aplicado topicamente16. O consumo crônico de etanol pode estar associado a alterações citológicas carcinogênicas na mucosa bucal, mesmo na ausência de exposição ao fumo, com aumento significativo das alterações nas células da língua8. Ao analisar o papel do fumo e do álcool na etiologia do câncer oral, Talamani et al.17 defendem que o tabaco tem um papel independente e sugerem que o álcool também possa ser um fator independente. De acordo com Reis et al. 18 , o consumo excessivo do etanol promove alterações efetivas em células da mucosa oral em indivíduos dependentes químicos de álcool, mesmo na ausência de exposição ao fumo, e mais expressivamente na borda lateral da lingual, um sítio mais exposto à ação de carcinógenos quando comparados à mucosa jugal. O mecanismo patogênico do álcool pode ser explicado através da produção local de acetaldeído carcinogênico proveniente do etanol através dos micróbios orais1. Efeito do álcool nas glândulas salivares Segundo Pires Souphia 5 , ao nível de morfologia, ocorre diminuição do tamanho dos ácinos e das granulações organofílicas das células acinares, aumento dos ductos granulosos, maior quantidade de grânulos e de massa homogênea no citoplasma das células dos ductos granulosos em ratos que receberam ração associada a aguardente de cana pura. Animais mantidos com dieta sólida semisintética enriquecida e álcool, correspondendo a 35% de ingestão calórica total, desenvolveram alterações estruturais marcantes em glândulas salivares, tendo sido observadas por Carvalho et al.19 atrofia com fibrose intersticial e infiltração gordurosa. Smith e Esguep5 realizaram uma análise qualitativa e quantitativa em glândulas salivares menores em 80 pacientes, sendo 60 alcoólatras. Alterações histológicas tais como degeneração acinar, hiperemia, infiltrado inflamatório crônico foram observadas em ambos os grupos controle e experimental, sem diferenças significativas. Os autores concluem que as glândulas salivares menores são raramente afetadas pelo alcoolismo. Esguep e Rojas6 não detectaram alterações a nível histológico em ratos que consumiam álcool. Assim, os autores sugerem que os tecidos da glândula parótida não são afetados. Faustino e Stipp4 verificaram, experimentalmente em ratos, que após os processos de alcoolização e desintoxicação há uma redução da massa corpórea dos animais e das glândulas salivares, em relação Conclusão Alterações morfológicas decorrentes do consumo de álcool são freqüentes na cavidade oral, especialmente no epitélio oral, podendo também ser detectadas em tecido conjuntivo e em glândulas salivares. Assim, mais estudos experimentais não necessários para tentar esclarecer o mecanismo patológico do álcool na etiologia de lesões orais. Referências 1. 46 Riedel F, Goessler U, Hormann K. Alcoholrelated diseases of the mouth and throat. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology, 2003;17(4):543-55. 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Avaliação da expressão do PCNA no epitélio lingual de camundongos submetidos à ingestão e aplicação tópica de álcool a 40ºGL. [Dissertação]. Porto Alegre(RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2001. 8. Reis SRA et al. Cytologic alterations inthe oral mucosa after chronic expose to ethanol. Braz Oral Res, 2006;20(2):97-102. 9. Silveira F, Castro J. Avaliação citológica da mucosa bucal em pacientes etilistas crônicos. An Fac Odont Univ Fed Pernambuco, 2000;10(1):53-5. 17. Talamani R et al. Th role of alcohol in oral and pharyngeal cancer in non-smokers, and of tabacco in non-drinkers. Int J Cancer, 1990;46(3):391-3. 10. Müller P et al. Tissue demage in the rabbit oral mucosa by acute and chronic direct toxic actino of different alcohol concentrations. Experimental Pathology, 1983;24:171-81. 18. Reis S et al. Efeito genotóxico do etanol em células da mucosa bucal. Pesqui Odontol Bras, 2002;16(3):221-5. 19. 11. Martinez M et al. Morphological effects on the hard palatine mucosa of Calomys callosus Carvalho T et al. Estudo estereológico das alterações determinadas pelo etanol nas glândulas salivares submandibular e parótida Endereço para correspondência: [email protected] 47 47 Artigo / Article Atualização Revista do Hospital Universitário/UFMA Qualidade de vida em transplantado renal Health Quality for Kidney Transplant Patient Elisângela Milhomem dos Santos1 , Natalino Salgado Filho2 Resumo: O papel da promoção é muito conhecido pelas ciências, e nos últimos anos preconiza-se que é possível evitar ou retardar a evolução de certas doenças graves, tanto pela modificação de comportamentos e hábitos das pessoas, como pela utilização de tratamentos substitutivos da função de órgãos falidos, seja por meio de máquinas, ou mesmo pela substituição de tais órgãos, levando a um prolongamento da expectativa de vida. Diversos aspectos motivam o estudo da qualidade de vida na área de saúde. A melhor medida de avaliar a qualidade de um tratamento é o resultado obtido quantos aos objetivos fundamentais de prolongar a vida, aliviar a dor, restaurar a função e prevenir a incapacidade. A saúde não é mais medida pela presença ou não de doença, e sim pelo grau de preservação da capacidade funcional. A questão sobre qualidade de vida vem assumindo importância, sob vários aspectos, nos últimos anos, particularmente no que diz respeito a sua avaliação ou mensuração, quer individualmente quer coletivamente. A quase totalidade das pessoas que se submetem a um transplante se encontram ou em uma situação terminal, ou têm, absolutamente comprometido, o desenvolvimento de sua vida social e familiar. Para todos eles, portanto o transplante resulta em melhoria da qualidade de vida. Descritores: Qualidade de vida, Transplante renal. Abstract: The role of life quality promotion for kidney transplant patients is well know to the sciences, and it has been stated lately that it is possible to prevent or delay the development of certain severe diseases, both by modifying people’s habits and behaviors, as well as the use of alternate treatments of failed organ function either by machine or even by replacing such organs leading to a longer life expectancy. Several aspects give rise to the study of life quality in the health field. The best way of evaluating a treatment quality is the result obtained as to baseline objectives to prolong life, relieve pain, restore the function and prevent disability. Health is no longer gauged by the presence or not of a disease but by thye level of preservation of functional ability. The question as to life quality has been gaining importance lately under several aspects, particularly with respect to its evaluation or measuring both individually and collectively. Almost everyone who undergoes a transplant either is in an end-stage situation or has his/her social and family life development completely jeopardized. To all of them, therefore, the transplant results in a better quality of life. Keywords: Life quality; Kidney transplant. Introdução A avaliação da qualidade de vida vem crescendo em importância como medida na análise de algum tipo de intervenção terapêutica. O conceito de qualidade de vida, utilizado incorpora todos os aspectos da vida. Existem várias razões para as quais se deveriam realizar a valorização da qualidade de vida das pessoas. As doenças atuais associadas as crônico degenerativas, de origem multifatorias que, surgindo insidiosamente, provocam efeitos deletérios na saúde da população, tem despertado grande interesse epidemiológico, sendo tratadas no enfoque da saúde pública que preconiza ações de promoção e recuperação da saúde. Conceituar e mensurar a 1 2 Enfermeira Especialista em Educação e Saúde Doutor em Nefrologia. Docente da UFMA. Livre Docente 48 qualidade de vida tem sido uma preocupação dentro das ciências humanas e biológicas. Desde a introdução do transplante renal como a modalidade terapêutica, no fim da década de 50, início da de 60, a sobrevida do enxerto vem aumentando de maneira significante. E este fato é possivelmente decorrente inicialmente dos avanços da tipagem HLA (Antígenos linfocitários humanos) e do teste de microlinfacitoxicidade e da introdução de novos imunossupressores, e mais recentemente da maior experiência no cuidado destes pacientes, incluindo talvez melhor tratamento da hipertensão arterial sistêmica, avanços na terapêutica e profilaxia de doenças infecciosas graves. Santos EM et al A atual política Nacional de Transplantes, incorporada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), vem garantindo o acesso aos milhares de pacientes renais crônicos que buscam um transplante. Neste contexto, a criação de uma legislação com definições claras de doadores e não doadores e também de critérios para diagnostico de morte encefálica e para distribuição dos órgãos ajudou a consolidar esta forma de tratamento, propiciando a criação de vários centros transplantadores. Justificativa A recente abordagem do tema qualidade de vida do paciente transplantado, e o pouco conhecimento existente no plano nacional, nos alertam sobre a necessidade de desenvolvimento de novos estudos. A avaliação da qualidade de vida vem crescendo em importância como medida na análise de algum tipo de intervenção terapêutica. É utilizada com os mais distintos propósitos e com uma série de indicadores conforme o que se deseja investigar, seja do ponto de vista dos aspectos econômicos, ou no campo da saúde, apropriado a estudos epidemiológicos, planejamentos e avaliações do sistema de saúde. Com o propósito de compreender o significado do transplante para o renal crônico e a melhoria na qualidade de vida após o transplante, optou-se por realizar o presente estudo. Qualidade de vida em transplantados renais O transplante não é problema exclusivamente cirúrgico. Acolher no próprio corpo uma parte de outra pessoa é um percurso psicológico complexo que pode ter resultados imprevistos1. O transplante renal é a substituição dos rins doentes por um rim saudável de um doador. É o método mais efetivo de menor custo para a reabilitação de um paciente com insuficiência renal crônica terminal2. Atualmente o transplante se constitui a melhor forma de terapia para doença renal terminal. Seu objetivo é devolver ao paciente condições de vida, atividade, auto estima, trabalho, desempenho sexual que ele tinha antes da doença. Além dos desagradáveis sintomas e complicações da síndrome urêmica que são revestidos. O Transplante oferece aos pacientes em diálise a chance de uma maior independência e melhor qualidade de vida. A diálise oferece uma substituição incompleta da função renal, o transplante oferece a possibilidade de uma função renal plena. O Transplantado será capaz de retornar a uma dieta mais próxima do normal e beber líquidos de forma mais liberal. Torna-se um participante ativo nas atividades físicas e terá mais autonomia na vida diária. Por último, não será mais dependente da diálise para seu bem estar. Porém o acompanhamento médico será sempre constante. Com respeito aos riscos de complicações médicas que podem ocorrer durante e após o transplante, sabe-se que o transplante em si é uma cirurgia de grande porte e como tal existem riscos associados como em outra cirurgia qualquer. As complicações estão relacionadas: -compatibilidade com o órgão recebido; -estado do órgão recebido; -doença que originou a indicação para o transplante e o estado de saúde que a pessoa chegou a essa indicação; -condições de vida após o transplante: controle dos medicamentos e cuidados específicos com a higiene e alimentação; -habilidade da equipe médica em tratar com a situação. Dados da Organização Norte-Americana United Network for Sharing, dizem que a taxa de sobrevida média com doador vivo após um ano é de 94%, e após cinco anos é de 78%. O transplante é indicado para todos os pacientes com insuficiência renal crônica. No entanto é necessário selecionar aqueles candidatos que estão aptos. Pacientes com doença terminal ou com idade acima de 60 anos, normalmente não são transplantados. Excluído os pacientes de risco, pode se dizer que entre 50 a 75% dos pacientes em diálise são candidatos a um transplante2. O rim transplantado pode ser retirado de um membro de sua família. Este tipo de doador é chamado doador vivo relacionado. Ou pode receber um rim de uma pessoa que morreu recentemente. Este tipo de doação é chamado doador cadáver. Às vezes um parente, um cônjuge ou amigo muito íntimo pode doar um rim. Este doador é chamado doador vivo-não relacionado2. O processo de integração do novo órgão é árduo e complexo, a vivência psicológica de um transplantado, tem implicações particulares de qualquer intervenção cirúrgica relevante, acrescentamse aquelas resultantes da inserção, no corpo, de uma parte de outra pessoa, que deve ser reintegrada na imagem corpórea. A qualidade de vida relacionada a saúde é um fenômeno emergente na literatura médica, com uma história de aproximadamente três décadas. Boa parte das pesquisas abrange esse fenômeno e se concentra na complexidade, na comparação com os indicadores clínicos habituais e na crença sobre sua utilidade, especialmente na prática clinica. Uma série de estudos demonstrou há cerca de anos, que a saúde percebida se associa de maneira independente aos diagnósticos clínicos e outros fatores de risco com mortalidade em médio prazo3. Dispõe-se hoje de questionários específicos e genéricos para avaliar a qualidade de vida. Instrumentos genéricos avaliam de forma global os aspectos mais importantes relacionados à qualidade de vida dos pacientes, dentre estes podemos citar: SF36 (Medical Outcomes Study,World Health Organization), Quality of Life (WHOQOL-Bref)4. Os instrumentos específicos por sua vez, avaliam conceitos de saúde próprios de uma doença ou de uma intervenção e produzem escores 49 Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):48-50, set-dez, 2005 separado para cada domínio. (Kidney Disease and Quality of life - Short From (KDQOL- SF)4. De forma geral a utilização de tais instrumentos, tem comprovado de forma estatística que a avaliação da qualidade de vida por instrumentos genéricos, tem demonstrado uma percepção melhor nos pacientes transplantados com enxerto funcionante5. A literatura tem afirmado que a melhor medida de qualidade de um tratamento é o resultado obtido quanto aos objetivos fundamentais de prolongar a vida, aliviar a dor, restaurar a função e prevenir a incapacidade5. Nessa definição está implícita que a qualidade de vida envolve um conceito subjetivo, multidimensional inclui elementos de avaliação tantos positivos como negativos. Portanto, qualidade de vida vai além da presença ou ausência de sintomas. Os sentimentos de bem estar, fatores econômicos e as experiências de vida exercem influência. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a qualidade de vida como “a percepção do indivíduo da sua posição na vida dentro do contexto cultural de valores em que ele vive, bem como em relação a seus objetivos, expectativas padrões e preocupações” 6. A quantificação da qualidade de vida deve obedecer aos seguintes tópicos: trabalho/condições de trabalho, recursos econômicos, escolaridade, saúde/acesso aos serviços de saúde, relações familiares, habitação, nutrição, lazer. A conceituação de qualidade de vida vem sofrendo modificações, partindo-se de uma visão eminentemente biológica para conceitos multidimensionais, onde são incluídas áreas com características mais subjetivas, como atividade social, estado psicológico e expectativas sobre o tratamento. A qualidade de vida em sua essência, pode ser traduzida pela satisfação de viver. O estado de satisfação ou insatisfação constitui, na verdade, experiência de caráter pessoal e está ligado ao propósito de obtenção de melhores condições de vida. O grau de ajustamento às condições existentes, ou então o desejo de mudanças, poderão servir para presença ou ausência de satisfação. CONCLUSÃO O avanço científico do mundo moderno e os grandes problemas da humanidade contemporânea fazem indispensável o estudo da qualidade de vida dos indivíduos para atender e proteger a saúde e a felicidade do homem como sociedade e como indivíduo, para estimar não somente o grau de progresso alcançado e sim nos aproximarmos de uma existência digna, com equidade, moral e feliz através da interação do homem com seu meio ambiente. A promoção da saúde exige questionamentos dos aspectos valorativos e motivacionais, tendo em vista a assistência humanizada, o cuidado de forma integral e interdisciplinar, bem como a preocupação com a dignidade humana. A pessoa que recebeu um transplante enfrenta algumas limitações de ordem social que influenciam e determinam em grande parte o sucesso do transplante e a qualidade de vida pós transplante. São fatores que em um contexto geral afeta toda população, mas para o transplantado pode ter um significado especial a ser de elevado risco como: problemas de natureza sócioeconômicos, falta de alimentos básicos e moradia, morte de companheiros em fila de espera etc. A qualidade de vida do renal crônico para o transplantado muda, normalmente o paciente retorna as suas atividades de trabalho e sociais. Daí a necessidade de se desenvolver políticas que tratem de resolver os entraves referentes ao processo de doação, como questões morais, psicológicas, sociais, religiosas e legais, que são apontadas como fatores interferentes no processo de doação. REFERÊNCIAS 1 Erba M. Com o órgão do outro. Revista viver mente & cérebro, 2005; 13(51):40-47. 2 Aliança Brasileira de Doação de Órgãos e Tecidos - ADOTE. [capturado 2005 ago 10]: Disponível em: http://www.adote.org.br. 3 Pará D, Shor N. Guia de medicina ambulatorial e hospitalar. São Paulo: UNIFESP - Escola Paulista de Medicina; [19--?], p. 1-3. 4 Fleck MPA, et al. Aplicação da versão em Português do Instrumento de Avaliação de 50 Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde. Rev. Saúde Pública,1999; 33(2). 5 Bittencourt Z, et al. Qualidade de vida em transplantados renais: a importância do enxerto funcionante. Rev. Saúde Pública, [19--?]; 38(5). 6 Favarato MES. Qualidade de vida em portadores de doença arterial coronárias submetidos a diferentes tipos: comparação entre gêneros [Tese]. São Paulo (SP): Faculdade de Saúde Pública da USP; 2004. Artigo / Article Relato de Caso/Case Report Revista do Hospital Universitário/UFMA Gestação e câncer de colo: estudo de caso baseado na teoria das necessidades humanas básicas Pregnancy and colon cancer: a case study based upon the theory of basic human needs Camila Maria Santana Costa1, Cláudia Teresa Frias Rios2, Davi Wekson Caldas Pimentel1, Elba Gomid Mochel3 Resumo: O câncer de colo uterino é a neoplasia mais freqüente entre mulheres no mundo e o mais comum em países em desenvolvimento. Apesar de ser uma doença grave, o câncer de colo uterino tem 100% de chances de cura se diagnosticado e tratado precocemente. Apresentamos neste artigo um relato de caso de uma paciente do sexo feminino, 33 aos com o diagnóstico de gestação associada ao câncer de colo uterino. A assistência de enfermagem prestada a esta paciente foi baseada na Teoria das Necessidades Humanas Básicas, para que tal fosse contemplada foram realizados o histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados e evolução de enfermagem. Ao término do estudo tem-se que as necessidades básicas da paciente foram atendidas de forma a amenizar seu sofrimento físico e psíquico. Portanto verificouse a importância da aplicação de uma teoria na assistência de enfermagem, pois melhora a qualidade da assistência prestada, além de contribuir para o crescimento profissional de todos. Descritores: câncer de colo uterino, enfermagem obstétrica, assistência de enfermagem. Abstract: The uterine colon cancer is the most prevailing neoplasia among women worldwide and the most common in developing countries. In spite of being a severe disease, uterine colon cancer has a 100% probability of cure if early diagnosed and treated. The current study presents a case report of a 33 year-old female patient with gestation diagnosis associated with uterine colon cancer. Medical care rende4red to this patient was based upon the Theory of Basic Human Needs. Such care was based on medical history, medical diagnosis, assisting plan, care and evolution medical chart. At the end of the study it was observed that the patient basic necessities were carried out as a means of abating her psychic and physical distress. Therefore, the study highlights the importance of employing the theory of nursing care, since it improves and contributes greatly to the growth of all professional involved. Keywords: Uterus colon cancer; obstetric nursing; nursing care. INTRODUÇÃO O câncer de colo uterino é a terceira neoplasia mais comum em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, sendo responsável por mais de 470 mil novos casos por ano e pelo óbito de 230 mil mulheres por ano1. Contudo, apesar de ser uma doença grave, o câncer de colo uterino tem 100% de chances de cura, se diagnosticado e tratado precocemente2 . Na gestação, esta é a neoplasia mais freqüentemente diagnosticada, portanto, durante as consultas de pré-natal é recomendado a todas as gestantes coleta de material para o exame Papanicolau. Caso seja diagnosticada anormalidade nas células cervicais, a mesma deverá ser submetida à biópsia dirigida pela colposcópia para excluir uma doença invasiva3, 4. Em decorrência do grave problema de saúde pública que se tornara o câncer de colo uterino e da importância da prevenção desta neoplasia na gestação realizou-se este estudo com o intuito de mostrar o sofrimento físico e psíquico causado pela doença na paciente e o dilema dito na equipe quanto à decisão da conduta terapêutica a ser implementada. Além disso, percebemos a necessidade de mostrar aos profissionais de saúde a contribuição da assistência de enfermagem quando sistematizada em uma teoria para a condução clínica do caso. Este trabalho objetiva desenvolver um estudo de caso baseado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas; sistematizar uma assistência de enfermagem buscando suprir as necessidades da paciente durante o período de internação. MÉTODOS Este estudo compreende um relato de caso descritivo, de uma paciente com diagnóstico de gestação associada ao câncer de colo uterino. O presente estudo foi realizado durante a prática da Alunos do Curso de graduação de Enfermagem / UFMA Mestre em Enfermagem. Docente da UFMA 3 Doutora em Enfermagem Obstétrica. Docente da UFMA 1 2 51 Costa CMS et al disciplina de Enfermagem Ginecológica e Obstétrica II na enfermaria de Ginecologia e Obstetrícia de alto risco localizada no 3º andar do Hospital Universitário Unidade Materno-Infantil considerado centro de referência de cuidados materno-infantil do estado do Maranhão. A assistência de enfermagem foi baseada na Teoria das necessidades Humanas Básicas, pois esta nos possibilita o desenvolvimento de ações sistematizadas e inter-relacionadas visando o atendimento ao ser humano de forma holística. Antes da realização do Histórico de Enfermagem foram esclarecidos para a paciente a finalidade dos questionamentos a respeitos dos seus dados sócioeconômicos, antecedentes pessoais, familiares e gineco-obstétricos. Segundo a teória utilizada, o Histórico de Enfermagem consiste em um roteiro sistematizado para levantamento de dados da pessoa possibilitando a identificação de seus problemas. Após o levantamento e análises dos dados iniciou-se o segundo passo da teoria, o Diagnóstico de Enfermagem que permitiu a identificação das necessidades básicas da paciente. Em seguida iniciamos o terceiro passo, o Plano Assistencial que permitiu a determinação global da assistência de enfermagem que a paciente recebeu mediante o diagnóstico estabelecido. No quarto passo, foi desenvolvido o Plano de Cuidados ou Prescrição de Enfermagem que consiste na implementação do Plano Assistencial diariamente coordenado pela equipe de Enfermagem através da verificação da supressão das necessidades básicas da paciente. Em seguida, este forneceu os dados para realização do quinto passo, a Evolução de Enfermagem que conteve as mudanças ocorridas diariamente com a paciente. Por último, for feito o sexto passo que visou estimar a capacidade da paciente em atender suas necessidades básicas alteradas após a implementação do plano assistencial. Processo de Enfermagem Histórico de Enfermagem Identificação: V.M.C, 33 anos, natural de São Luis. Dados Sócio-Econômicos: possui 2º grau completo, dona de casa (anteriormente exercia a profissão de vendedora), satisfeita com sua ocupação atual, possui dois dependentes (dois filhos), renda família em torno de três salários mínimos compatível com os gastos da família. Reside em casa alugada, de alvenaria, com cinco cômodos, água encanada, luz elétrica e coleta de lixo. Antecedentes Familiares: pai falecido vítima de acidente vascular cerebral, mãe viva. Nega doenças na família como: casos de câncer, tuberculose, hipertensão, diabetes, entre outras. Antecedentes Pessoais: refere ter dito na infância varicela, caxumba. Nasceu de parto normal, foi amamentada, não sabendo informar por quanto tempo. Foi imunizada. 52 Antecedentes Ginecológicos: apresentava ciclo menstrual regular, com fluxo normal, com duração de 4 dias, mas há alguns meses refere ter dito ma alteração no padrão do seu ciclo, passando o mesmo apresentar-se hipermenorréico e irregular. Fez uso de anticoncepcional oral combinado por curto período abandonado-o devido a efeitos colaterais. Nas faz uso de preservativos masculinos e femininos nas relações sexuais. Refere não ter tido e não ter doenças sexualmente transmissíveis. Informa ter realizado exame Papanicolau. Sexualidade: Coitarca aos 15 anos, apenas um parceiro pregresso, atualmente possui apenas um parceiro sexual. Nega dispareunia. Antecedentes Obstétricos: GESTA 3, PARA 2, ABORTO Ø. Primeira gestação aos 20 anos com intervalo de 8 anos para a segunda. Possui dois filhos vivos, de parto normal com episiotomia. Refere ter amamentado por mais de 6 meses. História da Doença Atual: paciente refere que há um mês passou apresentar irregularidade e aumento da intensidade do fluxo menstrual. Procurou atendimento médico. Foi hospitalizada para investigação da causa do sangramento. Na admissão foi levantada a hipótese diagnóstica de gestação associada ao câncer de colo uterino Durante sua permanência no hospital foi realizado hemograma, na qual constatou-se uma diminuição nos níveis de hematócrito e hemoglobina. Ao realizar ultra-sonografia obstétrica constatouse gravidez tópica em torno de 10 semanas. Em seguida a paciente foi submetida a colposcópia e subseqüente biópsia do colo. Dessa forma pode-se constatar que a mesma apresentava colo uterino com aspecto morfológico consistente com carcinoma de células escamosas (epidermóide) moderadamente diferenciado, invasivo (estágio IIB). Diagnóstico de Enfermagem Vide quadro 01. Plano Assistencial Fazer e Ajudar: verificar sinais vitais, administração de antitérmicos, analgésicos, apoio emocional, verificar níveis de hemoglobina5. Orientar: deambulação, esclarecimento a respeito da patologia, das angústias, sobre a importância de uma ingesta hídrica e da dieta livre, sobre efeitos colaterais do tratamento, sobre a higiene corporal. Supervisionar: administração da terapêutica prescrita, à ingesta hídrica e da dieta livre, deambulação, diminuição da ansiedade, volume e coloração sanguínea, a higiene corporal. Encaminhar: ao psicólogo, ao odontólogo. Evolução Revista do Hospital Universitário/UFMA 6(3):51-54, set-dez, 2005 Quadro 01 - Diagnóstico de Enfermagem Problemas de Enfermagem Necessidades Afetadas Grau de Dependência Alteração no padrão de sono Sono e repouso O2, E Dores lombares Mecânica corporal; percepção dolorosa O2, S1 Inapetência Nutrição O2, S2 Déficit na ingesta hídrica Hidratação O2, S2 Hipertemia Regulação térmica F, S2 Ansiedade Segurança emocional A, O2, S1, E Cólicas Percepção tátil e dolorosa F, O1, S Abdômen dolorido Percepção tátil e dolorosa F, O2 Déficit no conhecimento da patologia Aprendizagem Perda sanguínea Regulação vascular F, O2, S3 Dentes cariados Cuidado corporal; integridade cutâneo-mucosa O2, S2, E Língua saburrosa Cuidado corporal O1, S1 O3 Quadro 02 - Plano de Cuidados Prescrição de Enfermagem Horário Avaliação Verificar sinais vitais 6/6 horas; 6 12 18 00 Atingiu a meta Administrar a medicação prescrita; Atenção Atingiu a meta Supervisionar a ação medicamentosa; Atenção Realizado apenas no período diurno Orientar e supervisionar a deambulação Atenção Realizado apenas no período diurno Orientar e supervisionar o cuidado corporal; Atenção Realizado apenas no período diurno Orientar e supervisionar a ingesta hídrica (50ml a cada 30min.) e da dieta livre; Atenção Atingiu a meta Realizar o acompanhamento dos exames laboratoriais e de imagens; Atenção Procedimento realizado com sucesso Supervisionar o volume e coloração do sangramento; Atenção Procedimento realizado com sucesso Esclarecimento sobre a patologia e possíveis efeitos colaterais do tratamento; Atenção Procedimento realizado com sucesso Verificar o nível de conhecimento da paciente sobre sua patologia Atenção Receptiva às orientações dadas Monitorar eliminações vesicais e intestinais; Atenção Realizado apenas no período diurno Verificar a compreensão sobre as orientações realizadas; Atenção Receptiva as orientações dadas Supervisionar sinais de redução de ansiedade Atenção Procedimento realizado com sucesso 53 Costa CMS et al No início do acompanhamento, a paciente apresentava-se comunicativa, hipocorada (++/+4), aceitando bem a dieta (livre), sem alteração no padrão de sono e repouso, eliminações vesicais e intestinais preservadas, afebril, eupnéica, queixando-se de dores na região lombar e de cólicas de pequena intensidade no baixo ventre. Com a confirmação da gravidez e câncer de colo uterino (estádio IIb), a equipe médica constatou a necessidade de interrupção da gestação para tratamento do tumor pelos métodos especializados . Para que ocorresse tal procedimento foi necessário o consentimento por escrito do Comitê de Ética da Instituição, da paciente e seu cônjugue e da equipe médica que acompanhava o caso. Após a autorização por escrito para a interrupção da gravidez, iniciou a administração de misoprostol via vaginal. Passado oito dias da administração do referido medicamento averiguou-se que o mesmo não estava apresentando o êxito esperado em virtude da localização do câncer que impedia a dilatação do colo. Durante o uso de misoprostol, a paciente referiu cólicas intensas, sangramento de coloração vermelhovivo e intenso sofrimento físico e psíquico. Devido ao fracasso da terapêutica anterior e do padecimento da paciente, optou-se pela indução de morte fetal por meio da punção intra-cardíaca (PIC). Após a morte do feto, adotou-se uma conduta expectante em relação a expulsão fetal, pois no momento estava contra-indicado a realização de microcesariana, pois a paciente apresentava uma taxa elevada de leucócito o que indicava infecção. Procurou-se tratar a infecção à base de antibiótico e aguardar a expulsão do feto de forma espontânea que só veio ocorrer após dez dias da realização da punção intra-cardíaca (PIC). Somente assim, a paciente foi encaminhada ao centro obstétrico para realização de curetagem semiótica. Após a realização deste procedimento percebeu-se uma melhora significativa no quadro emocional da paciente, pois esta mostrouse mais esperançosa e confiante em continuar seu tratamento. Na alta hospitalar, a paciente apresentava-se comunicativa, com alteração no padrão de sono e repouso em decorrência da ansiedade em retornar ao ambiente familiar, eliminações vesicais e intestinais preservadas, afebril, eupnéica, hipocorada (+++/+4), não aceitando bem a dieta (livre). Durante sua permanência na unidade hospitalar, a paciente foi esclarecida sobre todos os aspectos da sua doença, a importância de tratamento especializado em hospital de referência da região e a ingesta dos medicamentos prescritos pós-alta. Prognóstico Prognóstico duvidoso quanto à evolução da patologia. Após a alta hospitalar a paciente foi encaminhada para unidade hospitalar de referência em tratamento de câncer na região. Após se passarem 30 dias da alta hospitalar, a paciente iniciou sessões de radioterapia no hospital de referência do estado, passou a apresentar perda de peso acentuado, inapetência, reduzida ingesta hídrica. Segundo informações da mesma, após o término das sessões de radioterapia, seria feita uma avaliação para verificar a possibilidade de realização de cirurgia para a retirada do tumor. Apesar de todos os esforços terem sido feitos para o alcance de um bom prognóstico, este não foi possível em virtude, da demora no diagnóstico CONCLUSÃO Durante o período de internação, assistência de enfermagem foi diariamente avaliada e dessa forma podemos concluir, que as necessidades básicas afetadas da paciente poderam ser atendidas de forma a amenizar seu sofrimento físico e psíquico. Portanto, verificou-se a importância da aplicação de uma teoria na assistência de enfermagem, pois melhora a qualidade da assistência prestada, além de contribuir para o crescimento profissional de todos. REFERÊNCIAS 1. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2006 para o câncer de colo uterino. [capturado 13 dez 2005]; Disponível em: http://www.inca.gov. br/estimativa2006. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Prevenção do câncer do colo uterino. Revista Brasileira de Cancerologia, 2003, Rio de Janeiro out/dez; 49(4):205. 3. 54 Castro JCB. Câncer de colo uterino na gravidez. In: Ginecologia e Obstetrícia-Manual para o título de especialista em ginecologia e obstetrícia-TEGO. Rio de Janeiro: Médica e Científica; 1999. 4. Horta WA. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU Ed. Da Universidade de São Paulo; 1979. 5. Pinheiro LS. Conduta no Carcinoma de Colo Uterino. In: Manual da Clínica Ginecológica da MEAC [capturado 8 mar 2006]; Disponível em: http://www.meac.ufc.br/public. Normas Redatoriais/Notes to Contributors Instruções aos colaboradores A Revista do Hospital Universitário/UFMA, órgão oficial do Hospital Universitário é publicada quadri-mestralmente, e se propõe à divulgação de artigos concernentes à área da saúde que contribuam para o seu ensino e desenvolvimento. A Revista do Hospital Universitário/UFMA passa a seguir o “Uniform Requeriments for Manuscripts Submitted to Bio Medical Periodical Journals” elaborado pelo “International Committee of Medical Journal Editors” (ICMJE), conhecido como “Convenção de Vancouver”. É utilizada a 5ª Edição de 1997 publicada no New Engl J Med, 1997, 336(4): 309-315. Os originais dos artigos deverão ser entregues na Diretoria de Ensino - 4º andar HUUPD - Rua Barão de Itapary, 227 - Centro. CEP. 65.020-070, São Luís-MA. Brasil / Tel.: (98) 2109-1242, e-mail: [email protected] Informações gerais Os artigos apresentados para publicação devem ser inéditos, impressos em computador, espaço duplo, papel branco nos formatos de 210 mm x 297 mm ou A4, em páginas separadas, devidamente numeradas e com margens de 2,5 cm acompanhadas de disquete contendo o respectivo material,digitados no programa Word for Windows 6.0 ou o mais recente, letra arial, tamanho 12. O(s) autor(es) deverá(ao) enviar duas cópias do trabalho (inclusive das ilustrações) ao editor chefe da revista acompanhadas de carta assinada pelo autor e todos os co-autores autorizando a publicação. Se houver dúvida, o autor deverá consultar diretamente o editor chefe. Forma e estilo Os artigos devem ser concisos e redigidos em português no máximo em 15 páginas. As abreviações devem ser limitadas aos termos mencionados repetitivamente, desde que não alterem o entendimento do texto, e devem ser definidas a partir da sua primeira utilização. Cada parte do artigo deve ser impressa em páginas separadas na seguinte ordem: 1) Página de Títulos; 2) Resumo e Descritores; 3) Texto; 4) Abstract e Key words; 5) Referências; 6) Endereço completo do autor e e-mail, para a correspondência; 7) Ilustrações e legendas; 8) Tabelas; 9) Outras informações. Categoria dos artigos Artigo Original: Deve ser constituído de Resumo, Abstract, Introdução, Método, Resultados, Discussão e Referências. Recomenda-se cuidadosa seleção das referências, limitando-se em cerca de vinte permitindo-se um máximo de seis autores. Artigo de Atualização e Revisão: Deve ser publicação de matéria de grande interesse da comunidade científica. O formato é semelhante ao artigo original (Resumo, Abstract, Introdução, Conclusão). Número de autor: dois. Relato de Caso: Deve ser restrito a casos relevantes que necessitem de divulgação científica. Nota Prévia: Observação clínica original, ou descrição de inovações técnicas, apresentadas de maneira breve, não excedendo a quinhentas palavras, cinco referências e duas ilustrações. Organização dos artigos A) Página de Título: O título deve ser redigido em português e em inglês. Deve conter o máximo de informação e o mínimo de palavras. Não deve conter fórmulas, abreviações e interrogações. Deve ser acompanhado do(s) nome(s) completo(s) do autor(es) seguido de seus títulos profissionais e do nome da Instituição onde o trabalho foi realizado. Para Artigos Originais admite-se até seis autores e, nos Relatos de Casos e Notas Prévias, apenas três. B) Resumo: Deve conter no máximo duzentos e cinqüenta palavras, em caso de Artigo Original e de Atualização e, cem para Relato de Caso e Nota Prévia. Deve ser informativo, contendo o objetivo, os procedimentos, os resultados com sua significância estatística e as conclusões. Deve ser compreensível, evitando-se informações vagas e que não estejam no texto, para poderem ser utilizadas amplamente deve conter: 1. Objetivo: com o propósito do trabalho 2. M é t o d o : d e s c r i ç ã o d o m a t e r i a l d o s pacientes e do método. 3. Resultados: descrição dos achados principais com dados estatísticos, se possível com significado. 4. Conclusões. C) Descritores: De acordo com a lista do Index Medicus. Podendo ser citados até 3 (Três). D) Abstract: Deverá ser estruturado da seguinte maneira: 1. Background: O propósito do trabalho ou investigação. 2. Methods: Descrição do material e método. 3. Results: Descrição dos achados principais com dados estatísticos, se possível seu significado. 4. Conclusions: 5. key Words: De acordo com o Index Medicus. E) Introdução: Deve indicar o objetivo do trabalho e a hipótese formulada. Informações que situem o problema na literatura e suscitem o interesse do leitor podem ser mencionadas. Devem-se evitar extensas revisões bibliográficas, histórico, bases anatômicas e excesso de nomes de autores. F) Ética: Toda pesquisa que envolve seres humanos e animais deve ter aprovação prévia da Comissão de Ética em Pesquisa, de acordo com as recomendações da Declaração de Helsinki e as Normas Internacionais de Proteção aos Animais e a resolução nº 196/96 do Ministério da Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. O artigo deve ser encaminhado juntamente com o parecer do Comité de Ética em Pesquisa (CEP). G) Métodos: (inclui o item antes denominado pacientes ou material e método). O texto deve ser preciso, mas breve, evitando-se extensas descrições de procedimentos usuais. É necessário identificar precisamente todas as drogas, aparelhos, fios, substâncias químicas, métodos de dosagem, etc., mas não se deve utilizar nomes comerciais, nomes ou iniciais de pacientes, nem seus números de registro no Hospital. A descrição do método deve possibilitar a reprodução dos mesmos por outros autores. H) Resultados: Devem ser apresentados em seqüência lógica no texto, e exclusivamente neste item, de maneira concisa, fazendo, quando necessário, referências apropriadas a tabelas que sintetizem achados experimentais ou figuras que ilustrem pontos importantes. Não fazer comentários nesta sessão reservando-os para o capitulo Discussão. I) Discussão: Deve incluir os principais achados, a validade e o significado do trabalho, correlacionando-o com outras publicações sobre o assunto. Deve ser clara e sucinta evitando-se extensa revisão da literatura, bem como hipóteses e generalizações sem suporte nos dados obtidos no trabalho. Neste item devem ser incluídas as conclusões do trabalho. J) Referências: Devem ser no máximo de 20 e predominantemente 55 de trabalhos publicados nos cinco últimos anos, restringindo-se aos trabalhos referidos no texto, em ordem de citação, numeradas consecutivamente e apresentadas conforme as Normas do Index Medicus. As citações devem ser referidas no texto pelos respectivos números, acima da palavra correspondente sem vírgula e sem parêntese. Observações não publicadas ou referências a “Summaries” de Congressos e comunicações pessoais devem ser citadas no texto, entre parênteses. Ex.: (Attie AD, et al: Hepatology, 1981, I:492, Summary). Mencionar todos os autores, quando até três, citando apenas os três primeiros, seguidas de et al., quando existirem mais de três autores. Exemplos de formas de referências: 1. em Revista: Autor. Título do artigo. Título da Revista. Ano mês dia; volume (número): páginas. Jordan PH, Thonrby J. Twenty years after parietall cell vagotomy antrectomy for treatment of duodenal ulcer. Ann Surg, 1994; 220(3): 283-296. 2. em Livro: Autor. Título. Edição. Local de Publicação: Editora; data da publicação. Bogossian L. Choque séptico: recentes avanços de fisiopatologia e do tratamento. Rio de Janeiro: Atheneu; 1992. 3. em Capitulo de Livro: Autor do capítulo. Título do capítulo. In: Autor do livro. Título do livro. Edição. Local de publicação: Editora; data de publicação. páginas. Barroso FL, Souza JAG. Perfurações pépticas gástricas e duodenais. In Barroso FL, Vieira OM, editores. Abdome agudo não traumático: Novas propostas. 2.ed. Rio de Janeiro: Robe; 1995. p. 201220. 4. em Monografia/Dissertação/Tese. Autor. Título [Dissertação]. Local (Estado): Universidade; Ano. páginas. Chinelli A. Colecistectomia laparoscópica: estudo de 35 casos. [Dissertação]. Niterói(RJ): Universidade Federal Fluminense; 1992. 71 p. 5. em Material eletrônico: A) Artigo: Autor. Título do artigo. Título do periódico [Tipo de material] Ano Mês [capturado ano mês dia]; volume (número); [número de telas] Disponível em: endereço eletrônico. Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg infect diseases [serial online] 1995 Jan/mar [capturado 1996 jun 5]; 2 (2): [24 telas] Disponível em: http://www.cdc. gov/ncidod/EID/eid.htm. B) Arquivo de Computador: Título [tipo de arquivo]. Versão. Local (Estado) Editora; ano. Descrição física. Hemodynamics III: The ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2 Orlando (FL): Computerezid Educational Systems; 1993. C) Monografia em formato eletrônico: Título [tipo de material], Responsável. Editor. Edição. Versão. Local: Editora; ano: CDI, Clinical dermatology illustrated [monograph on CD-ROM]. Reeves JTR, Mailbach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0. San Diego: CMEA; 1965. Notas: Todas as notas do título, dos autores ou do texto devem ser indicadas por algarismos arábicos, e ser impressas em páginas separadas. Tabelas Devem ser numeradas com algarismos arábicos encabeçadas por suas legendas e explicações dos símbolos no rodapé e digitadas separadamente, uma por página. Cite as 56 tabelas no texto em ordem numérica incluindo apenas dados necessários à compreensão de pontos importantes do texto. Os dados apresentados em tabelas não devem ser repetidos em gráficos. A montagem das tabelas deve seguir as Normas de Apresentação Tabular, estabelecidas pelo Conselho Nacional de Estatísticas (Rev. Bras. Est., 24: 42-60, 1963. As tabelas deverão ser elaboradas no programa Microsoft Word. Ilustrações São fotografias, gráficos, desenhos, etc., que não devem ser escaneadas e de preferência em preto e branco, medindo 127 mmx178mm. As ilustrações, em branco e preto serão reproduzidas sem ônus para o(s) autor(es), mas lembramos que devido o seu alto custo para a Revista, devem ser limitadas a seis (6) para artigos originais e três (3) para relatos de casos, e utilizadas quando estritamente necessárias. Todas as figuras devem ser referidas no texto, sendo numeradas consecutivamente por algarismo arábico. Cada figura deve ser acompanhada de uma legenda que a torne inteligível sem referencia ao texto. Deve ser identificada no verso, através de uma etiqueta, com o nome do autor, número e orientação da mesma. Os desenhos e gráficos podem ser feitos em papel vegetal com tinta nanquim, sendo as letras desenhadas com normógrafo ou sob forma de letra “set” montadas, ou ainda, utilizando impressora jato de tinta ou laser, com boa qualidade, e nunca manuscritas. 57