GUIA DE BOAS PRÁTICAS PARA INFORMAR, EDUCAR E COMUNICAR COM EFICÁCIA E DE FORMA ADEQUADA PARA A PREVENÇÃO E CONTROLO DAS IST/VIH/SIDA MARIA TERESA SILVA SANTOS GUIA DE BOAS PRÁTICAS PARA INFORMAR, EDUCAR E COMUNICAR COM EFICÁCIA E DE FORMA ADEQUADA PARA A PREVENÇÃO E CONTROLO DAS IST/VIH/SIDA MARIA TERESA SILVA SANTOS Título Guia de Boas Prácticas Para Informar, Educar e Comunicar com Eficácia e de Forma Adequada para a Prevenção e Controlo das IST/VIH/Sida Autor Maria Teresa Silva Santos [email protected] Projecto gráfico original e paginação Ana Moreira [email protected] © 2011 Maria Teresa Silva Santos Este Guia foi elaborado por Maria Teresa Santos. Contou com as contribuições de Ana Filgueiras, Ethel Feldman e Renata Cortizo. Índice Abreviaturas 11 A pandemia do VIH/SIDA/ introdução 13 1. O que significa informar, educar e comunicar? Informar Educar Comunicar 15 15 16 16 2. A importância da comunicação no domínio da promoção da saúde e da prevenção e controlo do VIH/Sida em particular 19 3. O que impede que pessoas informadas se protejam? 21 4. Grupos particularmente vulneráveis à infecção VIH/sida O caso das mulheres O caso das jovens raparigas O caso dos jovens rapazes O caso dos refugiados/deslocados O caso dos imigrantes O caso dos militares O caso dos utilizadores de drogas O caso dos homens que fazem sexo com homens O caso dos reclusos O caso das crianças órfãs O caso dos trabalhadores do sexo 25 25 27 28 28 29 29 30 30 31 31 32 5. Em que circunstâncias é que uma estratégia de I.E.C. pode ser eficaz, junto de grupos mais vulneráveis? Informar e sensibilizar Da informação para a alteração de comportamentos Modelo de crenças em saúde Teoria da acção planeada O modelo transteórico de Prochaska Teoria da difusão de inovações de E. Rogers Teoria social cognitiva Teoria da auto-eficácia Limitações das teorias da comunicação para a saúde Aliar prevenção, tratamento e apoio Complementar estratégias de I.E.C. com a existência de serviços de saúde Ir às causas Que papel para a comunicação? 6. Princípios orientadores e técnicas para a produção de material de I.E.C. eficaz Metodologia Procurar integrar pessoas que vivem com VIH Participação Grupos de pares e grupos focais Grupos de pares e a questão do género: um olhar cuidado 33 33 34 34 35 37 40 43 46 48 49 50 51 52 55 55 55 55 58 58 Técnicas Mapas sociais Diagrama de Venn Mapas do corpo Ordenar Pontuar a classificação Elaboração de matrizes Fluxos Causais Estudos de caso Role-play Calendário sazonal 61 62 63 65 66 67 67 68 69 70 71 O Facilitador 72 7. Por onde começar? Análise do contexto Qual o perfil da comunidade com que vai trabalhar? Serviços de saúde disponíveis Serviços de apoio social disponíveis Identificar outras ONGs, associações ou organismos a desenvolver o mesmo tipo de trabalho 75 75 75 76 77 Criar um ambiente facilitador O papel dos líderes Análise dos actores afectados pelo seu projecto Árvore de problemas para criação de um ambiente facilitador Os líderes religiosos 77 77 78 80 82 Diagnóstico de necessidades de informação e de adopção de atitudes e comportamentos seguros 83 8. Sobre a mensagem Qual o ponto de partida para a construção de uma mensagem? Diferença entre conteúdos e mensagem A importância de uma mensagem principal KISS — Keep It Short and Simple Objectividade Use um tipo e tamanho de letra legível Procure limitar a quantidade de informação por material O envolvimento de figuras públicas O envolvimento de pessoas com características semelhantes aos beneficiários do seu material A Mensagem é adequada à realidade das pessoas a que se destina O receptor da mensagem é esclarecido sobre o seu papel Procure apresentar razões para a solução proposta Percepção do risco Até que ponto o apelo ao medo em campanhas para promoção de atitudes e comportamentos seguros é eficaz? Teoria de condução do medo O Modelo da resposta paralela Teoria da motivação para a protecção Outros argumentos a favor do apelo ao medo Crítica às teorias apresentadas 77 87 87 88 90 91 91 92 93 93 94 95 97 98 99 100 100 101 101 102 103 Uma abordagem pela positiva Ser capaz de atrair a atenção 107 109 9. A utilização de ilustrações Vantagens no uso da ilustração Não sobrecarregue o seu material com imagens. Apresente as ilustrações na sequência mais lógica Use imagens familiares Use imagens simples Preste atenção ao significado dos símbolos junto dos beneficiários do seu material Uso o estilo mais apropriado para ilustrar: fotografias ou desenhos? 111 111 113 114 114 115 10. A quem cabe produzir as mensagens e ilustrações? Técnicos do projecto de produção de material de I.E.C. Profissionais especializados As próprias pessoas que constituem o grupo focal com quem trabalha 119 119 120 121 11. Sobre o meio Que meios? Meios de comunicação interpessoal Meios de comunicação gráficos e audiovisuais Meios de comunicação tradicionais Meios de comunicação de massa 123 123 123 123 123 124 116 117 Qual o meio mais apropriado? O que pretende, sensibilizar, informar, ou promover atitudes e comportamentos seguros? Breve resumo das vantagens e desvantagens dos meios identificados Na perspectiva da associação, ONG ou instituto empenhado na elaboração de material de I.E.C. Tendo em conta o contexto em que vivem os beneficiários do material de I.E.C. 124 Os meios passo a passo Testemunhos Banda desenhada Anúncios em televisão Programas de televisão Anúncios em rádio 129 129 130 130 132 132 124 126 127 127 Programas de rádio Educadores de pares Clubes Caixa das perguntas Internet Jornais, revistas Panfletos Autocolantes Teatro Concursos Jogos Concertos Música Mural T-shirts Cartazes de rua Carrinhas Educadores de Rua Outros Um combinado de vários meios? 133 133 135 135 136 136 137 137 138 138 139 139 140 140 141 141 142 142 143 143 12. Sobre a testagem Porquê testar? Com quem testar? Como testar? Um exemplo concreto de testagem 145 145 145 146 147 13. Quanto tempo leva a produzir material de I.E.C. adequado e eficaz? Quanto tempo para produzir material de I.E.C. adequado? Quanto tempo para produzir material capaz de promover a adopção de atitudes e comportamentos seguros? 151 151 14. Onde aplicar ou distribuir o material I.E.C.? 155 15. Referências bibliográficas 157 153 Abreviaturas ISTs OMS ONGs ONUSIDA Sida UNICEF VIH Infecções Sexualmente Transmissíveis Organização Mundial de Saúde Organizações Não Governamentais Programa Conjunto das Nações Unidas para o VIH/sida Síndroma da Imunodeficiência Adquirida Fundo das Nações Unidas para a Infância Vírus da Imunodeficiência Humana Introdução A pandemia do VIH/SIDA O relatório da ONUSIDA sobre o ponto de situação do VIH/Sida em 2009, estima em 33,3 milhões pessoas, o número de pessoas a viver com o VIH/Sida. Destes 2,6 milhões correspondem a novas infecções1. “Falar, falar sobre o assunto e falar sobre o assunto de forma aberta” foi para muitos o segredo por detrás do caso de sucesso que se verificou no Uganda, na década de 90 (até que os fundos internacionais começaram a diminuir comprometendo projectos e programas em curso na área do VIH/SIDA)2. Informar, Educar e Comunicar – I.E.C. é essencial para a prevenção e controlo da pandemia. Mas quais os limites desta estratégia? O que é que uma estratégia de I.E.C. pode realmente contribuir para o controlo e prevenção do VIH/Sida junto de grupos particularmente vulneráveis se as causas mais profundas da sua vulnerabilidade não são atendidas? E o que determina uma boa estratégia de I.E.C.? Com este Guia pretende-se responder a estas perguntas, estabelecendo uma ponte entre investigação e prática. Procura-se levar a quem está no terreno, investigações e estudos que possam contribuir para aumentar a eficácia das intervenções de I.E.C. e ao mesmo tempo alertar para as limitações desta estratégia. 16 guia de boas práticas Com este objectivo em mente, o guia começa por esclarecer: 1. o que se entende por I.E.C.; 2. a importância de estratégias de I.E.C. na promoção da saúde; 3. as limitações das estratégias de I.E.C. na promoção de atitudes e comportamentos seguros; 4. quais os grupos mais vulneráveis à infecção por VIH/sida; 5. quais as circunstâncias capazes de potencializar uma estratégia de I.E.C.; 6. que metodologia e técnicas podem ser utilizadas na produção de uma estratégia de I.E.C. eficaz; 7. a importância de realizar uma radiografia do contexto onde vai trabalhar; 8. quais os princípios a observar na produção de uma mensagem; 9. quais os princípios a observar na produção de uma ilustração; 10. quem deve produzir mensagens e ilustrações; 11. como escolher o meio mais adequado; 12. porquê realizar a testagem do material e como deve ser realizada a testagem; 13. quanto tempo para produzir material de I.E.C. eficaz; 14. onde aplicar ou distribuir o seu material. Neste trabalho irá entrar em contacto com um número considerável de materiais de I.E.C. produzidos em outros países que não Portugal. Pretende-se com esta opção, dar a conhecer aos profissionais que estão no terreno, o maior número possível de experiências levadas a cabo noutras partes do globo. Por fim, importa referir que a bibliografia está organizada de acordo com o sistema de citação numérica em conformidade com a Norma Portuguesa. 1. !"#$%"&'()'*+,"')-./0,/1 %2$+,/"%"+.0$)'+,/3 Informar A palavra “informar” carrega um sentido unilateral, diz respeito à transmissão de informação por parte de alguém. Aquele que transmite informação tem voz, aquele que é informado escuta sem possibilidade de responder ou reagir à informação que lhe foi transmitida3. Há pois quem diga que a informação é pouco democrática4. Quando se pensa em informação pensa-se em televisão, rádio, jornais, cartazes e outdoors, folhetos e brochuras, por serem meios que transmitem informação de forma unilateral. No entanto, também nas relações interpessoais é possível recordar-se de situações em que só informou ou só escutou. É frequente por exemplo, em palestras, conferências e seminários mas também em aulas e acções de formação assistir-se a situações em que o conferencista, professor ou formador, transmite informação, e a audiência, alunos e formandos se limitam a escutar. Informar traz consigo vantagens e desvantagens. Permite a transmissão de uma grande quantidade de informação em curto espaço de tempo, e socorrendo-se dos meios de comunicação adequados, permite alcançar uma audiência bastante grande. Como desvantagem pode apontar-se o seu lado menos democrático, no sentido em que um informa enquanto que outro ouve. Em termos de eficácia, este pode ser um obstáculo considerável, na medida em que sem feedback é mais difícil adaptar a informação às necessidades reais do ouvinte5. 18 guia de boas práticas Educar Educar pode ser entendido como o processo que ocorre através da interiorização de valores, conhecimento e competências6, por exemplo, respeitar os mais velhos, conhecer a história do país ou respeitar os sinais de trânsito. É um processo especialmente concebido pelos indivíduos para influenciar outros indivíduos, em particular quando são jovens e é mais fácil influenciá-los. No entanto, a educação acompanha o indivíduo desde que nasce até à morte7. Todo este processo de educação ocorre de forma mais ou menos linear, através de um dos três modos de educação identificados em baixo. › › › A educação informal — ocorre ao longo do seu dia a dia, no contacto com outros, lendo, assistindo à televisão, indo ao cinema, até mesmo reflectindo. Enfim, tudo o que ocorre num dia normal e que contribui para que aja de certa e determinada maneira. A educação formal — ocorre no espaço tradicionalmente destinado à educação, diz respeito ao sistema de ensino, organizado por temas, por horários e seguindo uma metodologia específica. A educação não formal — diz respeito às actividades organizadas, que decorrem fora do sistema de educação, como por exemplo aulas de pintura ou de natação extra-escolares. A educação ocorre nas relações interpessoais, entre pais e filhos, entre professores e alunos, entre alunos, entre amigos, entre colegas… Este contacto pode ser feito presencialmente ou através da internet ou telefone, rádio e televisão. A publicidade por exemplo, tem vindo a ser apontada como um meio de socialização particularmente eficaz. A aposta na educação é feita, especialmente, antes da entrada na vida adulta, quando a capacidade de aprendizagem é maior. É por isso mais difícil alterar comportamentos e conhecimentos já interiorizados pelos adultos, não se querendo com isto colocar de parte a importância da educação de adultos, que deve ser contínua. Comunicar Comunicar envolve a existência de um emissor que é também receptor e um receptor que é também emissor, isto é a mensagem não é transmitida apenas a partir de um indivíduo, mas sustentada num diálogo. Possibilita o feedback, valoriza a reacção para a transmissão da mensagem ou do sentido8. Idealmente, a comunicação deveria assentar num processo de reciprocidade, no entanto, no dia a dia, terá já verificado que muitas vezes quando dialoga com alguém, terá mais ou menos capacidade para se fazer ouvir9. maria teresa silva santos A comunicação está mais associada aos relacionamentos interpessoais, quer tradicionais quer os estabelecidos através das novas tecnologias da informação. No contacto do seu dia a dia, estabelece com frequência conversas com os seus amigos, familiares e colegas de trabalho, entre outros. O mesmo se passa quando usa o telefone ou a internet, para enviar ou receber e-mails, quando recorre ao skype… Reconhecendo a importância da comunicação, a própria televisão e a rádio têm vindo a adoptar estratégias capazes de envolver de forma mais participada as suas audiências. É por exemplo o que acontece nos concursos em que o júri é a própria audiência que telefona e decide, ou nos programas em que o espectador coloca questões ou esclarece dúvidas, em directo, através do telefone ou presencialmente. Comunicar envolve bastante mais tempo do que apenas informar. Comunicar pode envolver discussão, troca de opiniões, e até mesmo a reformulação da mensagem. No acto de comunicar, não existe o ouvinte e aquele que informa. Ambos ouvem e informam. Comunicar implica por isso uma adaptação constante ao outro. A vantagem deste processo é que permite verificar, até que ponto, determinada mensagem vai ser eficaz na alteração de comportamento do outro indivíduo. No caso em que um educador de rua procura convencer os meninos de rua a lavarem-se para evitar o aparecimento de algumas doenças, ele ficará a saber que adoptar hábitos de limpeza pode ser prejudicial para as estratégias de sobrevivência dos meninos de rua, que mendigam nos espaços públicos. Ouvindo os meninos de rua, o educador terá oportunidade de aprender que as pessoas tendem a não dar dinheiro a meninos limpos, porque não os avaliam como sendo pobres. Para ser eficaz, e convencer os meninos e rua a seguirem hábitos de higiene, o educador terá de, em conjunto com os meninos de rua, pensar em estratégias que tenham em conta a sua “voz” e necessidades. 19 2. 4"'05./67)+',"2,"+.0$)'+,89.")." 2.0:)'."2,"5/.0.89."2,"&,;2%"%"2," 5/%<%)89."%"+.)6/.=."2.">?@AB'2, %0"5,/6'+$=,/ É frequente ouvir-se que as pessoas tomam decisões erradas porque estão pouco informadas e que é preciso informá-las para que tomem decisões correctas. E é assim frequente ouvir-se que as pessoas não usam o preservativo porque ignoram as vantagens da sua utilização. No domínio da saúde, informar, educar e comunicar, passa pela transmissão de informações que podem ser tomadas e seguidas pelo indivíduo, na promoção do seu próprio estado de saúde. É uma forma de dar ao indivíduo ferramentas que lhe permitam zelar pelo seu próprio estado de saúde, e é nesse sentido uma forma de o empoderar e de o responsabilizar pela sua saúde e bem estar*. Acredita-se que desde que informadas, as pessoas substituem comportamentos prejudiciais à saúde por comportamentos saudáveis10. Promover o acesso à informação figura pois, entre os principais objectivos de muitos projectos de desenvolvimento. No caso do VIH/Sida por exemplo, é preciso informar acerca dos benefícios do uso do preservativo, ou sobre os benefícios do adiamento da relação sexual, entre outros. Já no caso da malária, por exemplo, é importante informar acerca das vantagens do uso da rede mosquiteira. * A Carta para a Promoção da Saúde, aprovada em Ottawa em 1986, diz exactamente que a promoção para a saúde engloba o processo de capacitação do indivíduo por forma a aumentar o seu controlo e promover a sua saúde e bem-estar. 22 guia de boas práticas Informado sobre todos estes benefícios e vantagens, espera-se que o indivíduo passe: › › a usar preservativo durante as relações sexuais; a colocar uma rede mosquiteira para se proteger dos mosquitos, durante a noite; Em suma, no caso de um indivíduo informado, espera-se assistir a uma diminuição do aparecimento de doenças e à promoção da saúde. No entanto, o que acontece quando um indivíduo está informado, mas não altera o seu comportamento? 3. O que impede que pessoas ')-./0,2,&"&%"5/.6%C,03 “As pessoas sabiam que tinham de usar rede mosquiteira e evitar as águas paradas para evitar o paludismo, mas não o faziam.” Testemunho recolhido junto de um voluntário que trabalhou na área da saúde, num país em vias de desenvolvimento No caso sob análise podem retirar-se duas conclusões possíveis: é possível que a estratégia de I.E.C. não tenha sido bem realizada, ou que um conjunto de factores do desconhecimento do voluntário, influenciavam de forma determinante, a opção de usar ou não rede mosquiteira. De facto, haverá um manancial de perguntas que poderiam ser colocadas a este respeito: como afastar-se das águas paradas, se não existir saneamento básico e as águas paradas conviverem paredes meias com a zona de habitação? A rede mosquiteira era de distribuição gratuita? Haveria muitos casos de bronquite asmática entre a população, o que explicaria que algumas pessoas sentissem dificuldade em respirar dentro da rede mosquiteira? O que este caso põe em evidência, é que para além dos factores pessoais, existe uma série de factores que gravitam e influenciam de forma, mais ou menos directa, a eficácia da comunicação. É por isso importante fazer-se para já uma distinção entre factores de risco pessoal e factores societais11. Os factores pessoais, dizem respeito ao indivíduo, aos seus conhecimentos sobre VIH/sida, à sua experiência sexual, às suas capacidades para se proteger, às suas atitudes e comportamentos. Assim, por exemplo, a falta de informação sobre como se proteger do VIH/sida 24 guia de boas práticas pode levar o individuo a colocar-se em situações de risco apenas por desconhecimento. Os factores de risco pessoal relacionados com atitudes, tanto podem dizer respeito a reacções discriminatórias para com as pessoas que vivem com VIH/sida, como estar relacionados com a questão do género ou outras. A atitude da mulher para com a virgindade, por exemplo, pode colocá-la em situação de risco acrescido. Atente-se aos estudos que mostram que na América Latina, como forma de proteger a virgindade, o sexo anal é bastante frequente entre namorados12. Entre os factores societais distinguimos ainda entre os bloqueios de primeira linha e os bloqueios estruturais. Entre os bloqueios de primeira linha, pode incluir-se a ausência de um conjunto de serviços de saúde13. Por exemplo, no caso das doenças IST/VIH a ausência de: › › › › › › Serviços de tratamento e diagnóstico das IST; Ausência de acesso ao tratamento; Impossibilidade de acesso a preservativos; Ausência de um serviço de aconselhamento e testagem voluntária; Ausência de um serviço de apoio psicossocial às pessoas que vivem com VIH/Sida ou que são afectadas pelo mesmo. Cuidados domiciliários para as crianças que vivem com o VIH/Sida, ou que são afectadas pelo vírus. Entre os factores estruturais, incluímos, um conjunto de factores bastante mais difíceis de alterar: › › › › › Factores económicos: incluindo a falta de emprego crónica, baixos salários crónicos, ou a falta de recursos, como a terra. Baixos níveis de educação (que dificultam o acesso a informação e a integração no mercado de trabalho). Factores sociais, incluindo as divisões entre classes, etnias, castas ou outras que, numa sociedade, ditam diferentes normas para diferentes grupos de pessoas. Factores culturais: conjunto de significados, imbuídos em símbolos, historicamente transmitidos, através dos quais o homem comunica, perpetua e desenvolve o seu conhecimento e as suas atitudes em relação à vida. Relações baseadas no género a partir de um conjunto de papéis sociais, que são determinantes na aprendizagem do ser-se mulher e homem. maria teresa silva santos Exemplo de uma situação influenciada pela cultura A ONG Cidadãos do Mundo, decidiu com os jovens da Província da Beira, em Moçambique, desenvolver um jogo para promover a adopção de comportamentos saudáveis. A proposta inicial prendia-se com a imagem de uma cobra ao longo da qual o jogo se ia desenrolando. Esta ideia foi posteriormente abandonada, porque para aqueles jovens a cobra estava associada à ideia de morte. Esta distinção entre factores de risco pessoal e factores societais, observada ao nível formal, não corresponde à dinâmica das relações humanas na medida em que existe uma interligação e na verdade, factores de riscos individual e factores de vulnerabilidade influenciam-se de forma recíproca14. No entanto, o que a prática tem mostrado, é que a redução de riscos individuais tem sido o mote de muitos programas e projectos desenvolvidos e menos a redução das condições de vulnerabilidade15. Exemplo de uma situação influenciada por condicionalismos económicos, sociais e de género Ruth Evans, descreve a situação de um grupo de meninas órfãs da Tanzânia, às quais um dos pais ou ambos, morreram de sida. A falta de apoio do governo e da família para quem mais um elemento representa custos adicionais leva a que muitas destas meninas vão viver para a rua. Na rua, o sexo é das poucas estratégias de sobrevivência ao alcance destas meninas. No entanto, a sua situação de pobreza e vulnerabilidade é tão elevada, que não estão em condições de exigir dos seus clientes o uso do preservativo. A pobreza fala mais alto. A tomada de consciência dos constrangimentos assinalados tem como implicação a consciência de que a eficácia da comunicação está directamente associada não só ao próprio indivíduo, mas também aos condicionalismos económicos, sociais, culturais e de género (e depende largamente da sua redução). De facto, existe todo um conjunto de estratégias orientadas para a resolução ou redução dos factores de vulnerabilidade válidas para o controlo das IST/VIH/sida, para além da comunicação para a disseminação de informação ou alteração de atitudes e comportamento16. 25 4. D/$5.&"5,/6'+$=,/0%)6%"<$=)%/E<%'&"F" ')-%+89.">?@A&'2, Alguns grupos são particularmente vulneráveis à infecção, o que leva a ONUSIDA a reconhecer que › mulheres; › jovens raparigas; › jovens rapazes; › refugiados/deslocados; › imigrantes; › militares; › utilizadores de drogas; › homens que fazem sexo com homens; › reclusos; › crianças órfãs; constituem, por razões diversas, grupos mais expostos ao risco de serem infectados por VIH/sida. Importa chamar a atenção para o facto de que, apesar destes grupos serem mais vulneráveis, também dentro destes grupos, determinados indivíduos serão mais vulneráveis do que outros. O caso das mulheres Em 1997, 59% das pessoas a viverem com VIH eram homens e 41% mulheres. Em 2000, a percentagem de mulheres tinha já aumentado para 47%. Na África Subsariana, por exemplo, 55% das pessoas que vivem com VIH são mulheres17. 28 guia de boas práticas O género pode ser definido como o conjunto de expectativas e normas partilhadas por uma sociedade, sobre o comportamento, papel e características esperados de um homem e de uma mulher. Esta divisão vai determinar o acesso diferenciado ao poder, incluindo recursos e processo de decisão. Importa notar que os papéis de género variam de acordo com a casta, religião, grupo étnico e idade18. O facto é que esta divisão de papéis coloca geralmente a mulher numa situação de maior vulnerabilidade ao VIH/Sida associada a factores económicos, sociais, culturais, e até mesmo biológicos. Na Índia, por exemplo, é à mulher que cabe deixar a escola mais cedo para arranjar trabalho, por forma a contribuir para o agregado familiar, ou para apoiar no trabalho doméstico. A educação que é mais uma ferramenta para tirar as pessoas da pobreza, é tantas vezes negada às mulheres. Adicionalmente, a lei sobre herança e direitos de propriedade não reconhece os mesmos direitos às mulheres, que aos homens. Acontece com frequência que mulheres que vivem com VIH, ou são suspeitas de viver com VIH, enfrentam sérias dificuldades para assegurar a herança depois da morte do seu marido. Elas são com frequência postas fora de casa, discriminadas pela família e comunidade, o que as deixa numa enorme situação de fragilidade19. Note-se que nem todas as mulheres experienciam a vulnerabilidade da mesma forma. As mulheres com menos qualificações por exemplo, serão mais vulneráveis do que as que têm mais qualificações académicas, e as que trabalham serão menos vulneráveis do que as que não têm trabalho. É bastante difícil para uma mulher numa sociedade fechada aprender a prevenir-se das ISTs. Nestes casos, a escola é muitas das vezes um local privilegiado para aprender e falar sobre sexualidade. Quanto às mulheres que estão financeiramente dependentes do seu marido, como vão conseguir negociar o uso do preservativo, se receiam que o marido as abandone? De facto pobreza e desigualdade do género parecem andar lado a lado, e as mulheres que vivem em situação de pobreza estão em situação de maior vulnerabilidade. Os estudos mostram que as mulheres financeiramente independentes, mostram estar em melhor posição para negociar o uso do preservativo20. maria teresa silva santos A ideologia da fidelidade, amor e casamento por seu lado tem levado a que muitos casais prescindam do uso do preservativo. No entanto, o casamento e relações duradoiras têm provado ser terrenos pouco seguros para as mulheres21. Do ponto de vista biológico, importa sublinhar que a mulher possui uma área genital superior à do homem, o que faz com que durante as relações sexuais tenham uma maior área de mucosa exposta às secreções dos seus parceiros22. Por outro lado, o tracto genital feminino mantém o sémen por um período considerável de tempo23 o que é particularmente sensível ao facto do sémen infectado com VIH conter normalmente uma concentração de vírus mais alta do que as secreções sexuais da mulheres. O resultado é que a transmissão de homem para mulher é, por princípio, mais eficaz do que a transmissão de mulher para homem24. Por último, importa também referir que as membranas da vagina são particularmente frágeis25. Este conjunto de situações coloca em evidência, a maior vulnerabilidade da mulher, em relação ao homem. O caso das jovens raparigas O caso das jovens raparigas, do ponto de vista biológico, mostra-se agravado, dado que o seu tracto reprodutivo contém ainda menos camadas de células epiteliais do que as encontradas em mulheres adultas26, ou seja as suas membranas são mais frágeis. Adicionalmente, a juventude, é na maior parte dos casos, uma fase de experiência em que a tomada de riscos é maior27. É a altura em que se iniciam os primeiros contactos sexuais. As estatísticas mostram que, apesar de uma grande percentagem de jovens ser sexualmente activo, não têm um só parceiro e não usam preservativos com regularidade28. Adicionalmente, revelam beber e usar drogas, o que potencia os comportamentos de risco. Como se não bastasse, revelam saber pouco sobre as formas de transmissão e prevenção do VIH/sida29. É este conjunto de razões que explica que, em muitas regiões do mundo, os novos casos de infecção estejam particularmente concentrados na população jovem, entre os quinze e vinte e quatro anos de idade30. De facto, 40% dos novos casos diagnosticados em 2006, em indivíduos com idade superior a quinze anos, correspondem a jovens. Também aqui importa alertar para o facto das jovens não serem um grupo homogéneo. Na verdade, diferenças económicas, sociais, de cultura colocam-nas em posições 29 30 guia de boas práticas diferentes de vulnerabilidade. No Zimbabué, por exemplo, têm sido reportados casos de jovens raparigas de famílias com baixos recursos económicos, que são particularmente vulneráveis às ofertas de homens mais velhos, chamados de sugar daddies, que assumem a responsabilidade pelo pagamento de livros ou propinas escolares31. O caso dos jovens rapazes A questão do género, ou seja da divisão de diferentes tarefas e papéis a desempenhar por rapazes e raparigas, é susceptível de contribuir também para a vulnerabilidade dos jovens rapazes. Por exemplo, em muitas partes do mundo a exaltação da masculinidade associada a um conhecimento do sexo, tem promovido a informação de jovens rapazes nas fontes menos credíveis: revistas e portais de pornografia32. Porque a ignorância é muitas vezes sinónimo de fraqueza, as normas impostas ao homem são um obstáculo à procura de informações correctas, no local mais apropriado33. À semelhança do observado no caso das mulheres e das jovens raparigas, importa também lembrar que os jovens rapazes, não são um grupo homogéneo e importa ter em conta as diferenças económicas, culturais, sociais, culturais ou geográficas. Por exemplo, um jovem a viver numa grande cidade mais facilmente procurará adquirir um preservativo do que um jovem numa pequena aldeia ou vila, receando a exposição. Da mesma forma, um jovem que não tenha dinheiro para comprar um preservativo poderá estar mais exposto, do que aquele que tenha. Ou, numa cultura em que a virgindade é um ideal, alguns jovens casais optarão pelo sexo anal, o que os colocará numa situação de risco acrescido34. O caso dos refugiados/deslocados Violência generalizada, perseguição política, guerra e conflito armado, mas também catástrofes naturais estão na origem dos 8,4 milhões de indivíduos, 30% dos quais na África subsariana, 29% no Sudoeste asiático e na Ásia Central, 23% na Europa, que em 2005 abandonaram as suas casas35. Privados dos seus meios de subsistência, são confrontados com a total ausência de rendimentos e as suas redes de entreajuda, familiares ou ao nível da própria comunidade são desmembradas. Mulheres e crianças em particular, são particularmente vulneráveis, e muitas vezes, vítimas de violação, rapto e em situação de pobreza extrema, forçadas a trocar favores sexuais por comida, água e abrigo36. maria teresa silva santos O caso dos imigrantes O relatório da situação da epidemia em 2006, publicado pela ONUSIDA dava conta que, três quartos dos novos casos de infecção via heterossexual, diagnosticados na Europa, ocorriam entre imigrantes. A situação de pobreza em que são colocados muitos dos indivíduos que imigram, a falta de protecção legal, exploração, discriminação, xenofobia, ausência de poder e falta de acesso a prevenção, tratamento e apoio37 figuram entes os factores que contribuem para aumentar o risco de infecção por VIH/sida. Veja-se o exemplo de países em que a saúde é gratuita e universal, mas que confrontado com dificuldades económicas, o imigrante não pode aceder ao serviço de saúde, porque não pode despender dinheiro nos transportes ou deixar de trabalhar, um dia ou uma tarde, correndo o risco de ser demitido, ou deixar de ganhar uma soma que é fundamental para pagar a renda, ou os transportes escolares dos filhos. A questão linguística é igualmente importante, em especial no que concerne a transmissão de informação. Se a língua de origem difere da língua de chegada, o imigrante sentirá mais ainda o custo da integração e também do acesso a informação sobre prevenção, tratamento e apoio. Factores que se agravam no caso de imigrantes ilegais, visto que a ida a um serviço de saúde é encarada com o medo de ser descoberto ilegal, como retrata o caso de um imigrante do Bangladesh, a viver ilegalmente na Suécia que se descoberto é repatriado ou obrigado a pagar como se de um serviço de saúde privado se tratasse38. Também a separação da família ou parceiros, comunidades e respectivas normas sociais, solidão, falta de poder, alienação, desespero são factores que contribuem para que o imigrante se torne um tomador de risco39. Conclui-se daqui que sendo um grupo mais vulnerável, uns serão mais vulneráveis do que outros, dependendo da língua, se já alguns familiares estão já no país de chegada, se estão legalizados, se são qualificados, se possuem reservas económicas, entre tantos outros factores. O caso dos militares Em situações de conflito armado ou de guerra, observa-se uma enriquecimento geral das forças armadas relativamente à generalidade da população, para quem a situação de 31 32 guia de boas práticas conflito contribui para uma maior erosão das condições de vida40. A ONUSIDA refere por exemplo, que é frequente verificar-se o crescimento da indústria de sexo à volta das bases militares. Um estudo levado a cabo junto dos indivíduos com mais posses dos catorze exércitos e facções rebeldes envolvidos no conflito da República Democrática do Congo, dava conta que, cerca de metade dos soldados era seropositivo41. À semelhança do que sucede com a população migrante, também os militares são muitas vezes afastados das suas famílias, normas sociais e postos debaixo de situações de stress, o que contribui para aumentar a sua exposição ao VIH/Sida. O caso dos utilizadores de drogas A ONUSIDA, estimava, em 2006, que a droga injectável fosse responsável por cerca de um terço dos novos casos de infecção, África subsariana excluída42. No entanto, segundo a mesma fonte, os serviços de prevenção não atingem mais de 20% dos utilizadores de droga. A partilha de seringas está entre os principais factores de risco, embora as relações sexuais não seguras sejam também frequentes entre utilizadores de drogas injectáveis. O estigma com que são confrontados muitos utilizadores de drogas injectáveis que contactam técnicos de saúde, é um factor adicional de marginalização. À semelhança do que já foi analisado em outros grupos, é preciso ter em conta a circunstância individual em que se encontra cada pessoa. Um estudo conduzido junto de um grupo de utilizadores de droga mostrou que, no caso de casais que partilham seringas, parecem ser os homens quem se injectam primeiro, fazendo com que a mulher corra o risco de ser infectada, mas não o contrário43. O caso dos homens que fazem sexo com homens A expressão “homens que fazem sexo com homens” inclui homens que se consideram gays, bissexuais, transexuais e heterossexuais44. O que torna este grupo particularmente vulnerável, é o facto da relação sexual ser concretizada a partir do sexo anal, que quando não protegido, é um comportamento de risco acrescido. Adicionalmente, a evidência mostra que, menos de um em vinte dos homens que têm relações sexuais com outros homens, têm acesso a prevenção e tratamento que precisam45. O estigma e discriminação associados aos homens que fazem sexo com homens, está na origem deste facto. maria teresa silva santos O caso dos reclusos Em muitos países, a taxa de infecção por VIH/Sida, entre reclusos é significativamente superior à verificada na população em geral46. Em Portugal, por exemplo, enquanto que a prevalência na população portuguesa, em geral, é inferior a 1%, nos reclusos este valor ascende até aos 5%47. Na base destas estatísticas estão comportamentos de risco associados à partilha de seringas, a relações sexuais não protegidas, violação, tatuagens feitas a partir de material não esterilizado devidamente. O caso das crianças órfãs Cerca de 80% dos órfãos, cujos pais faleceram em consequência de SIDA vivem na África subsariana48. Em países como a Tanzânia, com elevado índice de pobreza e onde o acesso à saúde e à educação não são gratuitos, as famílias mais pobres e afectadas pelo VIH/Sida são postas sob grandes pressões económicas. Esta situação é particularmente evidente no caso das crianças órfãs, cujos pais faleceram em consequência da sida. Deixadas muitas vezes ao cuidado de familiares, são alvo de abuso e violência provocados por uma forte erosão económica das famílias. A face mais visível deste quadro, são os meninos e meninas que nas ruas de cidades ou vilas asseguram a sua sobrevivência49. Embora se encontrem mais rapazes do que raparigas na rua, dado que muitas meninas são muitas vezes aproveitadas para o trabalho doméstico, a situação de vulnerabilidade, para quem vive na rua, parece ser maior para a menina do que para o menino. Aos rapazes parece ser mais fácil encontrar emprego, embora de forma casual, no sector informal. As poucas opções deixadas às raparigas levam-nas para situações de sexo comercial. A sua vulnerabilidade no entanto, deixa pouca margem para negociar com os seus clientes o uso do preservativo50. 33 34 guia de boas práticas O caso dos trabalhadores do sexo Um ambiente de relações sexuais não protegidas com múltiplos parceiros é especialmente propício à infecção pelo VIH/sida51. Esta situação deixa os trabalhadores de sexo, seus clientes e respectivas famílias em situações de vulnerabilidade ao VIH/sida. A situação é de vulnerabilidade acrescida relativamente aos trabalhadores sexuais, para quem nem sempre é fácil negociar o uso do preservativo, em especial para o número alargado de trabalhadores do sexo, para quem esta actividade representa uma estratégia de sobrevivência. O trabalhador do sexo tem sido um grupo historicamente marginalizado52, e com um poder bastante enfraquecido53 situação que é potencializada pelo facto de em muitos casos, se tratar de uma actividade ilegal, para a qual não é possível pedir-se protecção54. Facto que condiciona também o acesso aos cuidados de saúde. 5. G0"#$%"+'/+$)&67)+',&"H"#$%"$0," %&6/,6H(',"2%"?IGIJI"5.2%"&%/"%*+,K1" C$)6."2%"(/$5.&"0,'&"<$=)%/E<%'&3" Para a mudança de comportamentos conflui uma série de factores, para além da existência de estratégias de I.E.C. Uma estratégia de I.E.C. tem tanto mais garantias de ser eficaz se um conjunto de outros factores estiver assegurado. Nesta secção iremos analisar a diferença entre aquisição de conhecimentos e alteração de comportamentos e que factores influenciam o sucesso de uma estratégia de I.E.C. para a mudança de comportamento. Informar e sensibilizar Informar e sensibilizar, são duas estratégias que passam pela transmissão de conhecimentos e pela necessidade de alertar para a existência de determinado assunto que pode dizer respeito ao indivíduo. No âmbito do VIH/sida estas estratégias são particularmente úteis quando o indivíduo, comunidade ou população estão pouco familiarizados com o tema. Segundo alguns estudos, levados a cabo em mais de quarenta países, mais de metade da população jovem, entre os quinze e vinte e quatro anos de idade tem informações erradas acerca da forma como o vírus é transmitido55. Um estudo conduzido nos Estados Unidos por seu lado, mostrava que 40% dos inquiridos, julgavam que podiam ser infectados por VIH/Sida por partilharem um copo56. Em vinte e um países africanos, mais de 60% das raparigas jovens inquiridas, nunca tinha ouvido falar do vírus. Estes estudos põem em evidência a importância e utilidade da informação e da sensibilização. Na Tanzânia, por exemplo, coube à rádio novela Twende na Wakati que tem estado no ar desde 1993, parte da responsabilidade da sensibilização da população para o VIH/sida. 36 guia de boas práticas Da informação para a alteração de comportamentos Como passar da informação para a mudança de comportamentos? O Programa Kitovu Mobile, no Uganda, que consistia na existência de uma carrinha que disponibilizava informação sobre VIH/sida, concluiu que possuir conhecimento sobre determinado assunto, nem sempre correspondia à alteração de comportamentos na prática. Seria preciso mais do que disponibilizar informação através da carrinha móvel57. Como passar da aquisição de conhecimentos para a alteração de comportamentos? Modelo de crenças em saúde O modelo desenvolvido por vários autores58 defende que dois tipos de variáveis determinam o comportamento de um indivíduo para tomar acções preventivas59: 1. o estado psicológico de prontidão de um indivíduo para agir; 2. até que ponto determinado indivíduo acredita que tomar determinada acção, será eficaz na redução da possibilidade de ser infectado ou ficar doente60. O modelo acrescenta ainda que duas importantes dimensões definem a prontidão de um indivíduo para agir: › A percepção do risco feita pelo indivíduo A percepção do risco que por seu lado resulta da avaliação que o indivíduo faz da sua vulnerabilidade a determinada situação (problema de saúde), ou seja, o indivíduo terá mais motivação para agir se perceber que determinada situação é passível de acontecer consigo61; › Percepção da gravidade A percepção que faz do nível de gravidade de determinada situação que possa vir a acontecer-lhe, é julgada não só pela ansiedade individual que a situação lhe provoca, mas também pelas dificuldades que antevê, caso determinado problema de saúde venha a ocorrer. A percepção de gravidade pode estar relacionada apenas com o indivíduo, ou incluir consequências mais vastas e complexas relacionadas com o seu emprego, família e relações sociais62. O reconhecimento por parte de um indivíduo que é susceptível a determinada infecção ou doença, que acredita ser grave, determina a motivação para agir, mas não o curso que tomará essa decisão. O curso da decisão é influenciado pela avaliação que o indivíduo faz da eficácia das alternativas existentes para reduzir a ameaça da doença63. Adicionalmente, um indivíduo pode considerar que determinada acção pode ser eficaz na redução da possibilidade maria teresa silva santos de ficar doente ou infectado, mas a sua decisão final dependerá dos custos envolvidos, do tempo necessário e da sua disponibilidade para tomar determinada acção64. Por último, este modelo defende ser necessária a existência de um incentivo capaz de despoletar a acção. Ou seja, enquanto que o nível de prontidão (susceptibilidade e gravidade) oferece a energia para agir e a percepção das vantagens oferece um caminho possível, um incentivo é capaz de despoletar a acção65. Esta teoria vem acentuar a importância do indivíduo percepcionar que determinada situação, neste caso ser infectado pelo VIH, é “passível de acontecer consigo”. Esta perspectiva tem vindo a ser desenvolvida em materiais de prevenção com o objectivo de desenvolver a percepção do risco pelos indivíduos (ver pp. 99-100). A percepção do risco no entanto, não pode ser confundida com a instrumentalização do medo (ver pp. 100-107)66. Teoria da acção planeada A teoria da acção racional avançada por Ajzen estabelece que existe um conjunto de acções e comportamentos que dependem apenas da vontade de um indivíduo (volitional control). Nestas situações, as intenções de um indivíduo são o principal indicador dos comportamentos ou acções que serão executados67. Para este autor, as intenções compreendem a motivação, o esforço e a vontade de um indivíduo em seguir determinado comportamento ou executar determinada acção. Assim, para saber se determinado indivíduo vai mudar de comportamento, e se essa mudança depender apenas da sua vontade, bastará auscultar as suas intenções. Mas o que determina as intenções de um indivíduo para executar determinada acção? Para Ajzen e Fishbein na origem da formulação das intenções reside: › Uma determinante pessoal; O factor pessoal refere-se à atitude de um indivíduo em relação ao comportamento, ou seja a avaliação positiva ou negativa que o indivíduo faz da acção. Esta avaliação constitui-se como uma crença nos resultados que prevê advirem do comportamento visado e da associação entre os resultados e o comportamento (behavorial beliefs)68. › A influência do meio social. A influência do meio social faz-se sentir através da percepção que o indivíduo faz da pressão social para realizar determinado comportamento, ou seja a crença de um indivíduo acerca da aprovação ou desaprovação por parte de indivíduos 37 38 guia de boas práticas ou grupos de referência (referents)69. Dependendo do comportamento que se pretende alterar, os indivíduos ou grupos de referência, podem ser amigos, o marido ou mulher, os colegas de trabalho, jogadores de futebol, actrizes ou actores, líderes religiosos, membros de um partido ou sindicato, entre outros. Imagine que decide começar a comer pão integral. A sua crença de que aquela actriz por quem tem especial admiração iria aprovar esta medida, contribuirá para que venha realmente a comer pão integral. O autor chama a este factor de normas subjectivas70. O esquema apresentado em baixo, esquematiza o que já foi referido71: Atitude em relação ao comportamento a executar Intenção Comportamento Normas subjectivas Fonte: AJZEN, I. – Attitudes, personality and behavior: Milton-Keynes, England; Open University Press & Chicago, IL: Dorsey Press; 1988, p. 118 Mas a verdade é que nem todos os comportamentos estão dependentes da vontade, já que muitas vezes existem obstáculos, umas vezes relacionados com o próprio indivíduo, outras vezes de ordem externa72. Imagine uma situação em que planeia ir viajar no Verão, para um arquipélago no Equador. A concretização deste desejo vai depender de ter dinheiro para pagar a viagem, de ainda haver voos disponíveis no avião, e da não ocorrência de um conjunto de imprevistos que podem impedir a sua ida, como por exemplo um acidente que o impossibilite de viajar de avião durante algum tempo. Em reconhecimento destas situações Ajzen vem a desenvolver a teoria da Acção Racional. O autor reconhece que o comportamento é fruto da intenção do indivíduo para executar o comportamento do seu interesse. No entanto, no caso da Teoria da Razão Planeada o autor identifica três determinantes da intenção: maria teresa silva santos › › › atitude em relação ao comportamento; normas subjectivas; o nível de controlo que o indivíduo percepciona ter em relação ao comportamento. Ou seja, quanto mais o indivíduo percepcionar que consegue executar determinado comportamento, maior a probabilidade de vir a executá-lo. A percepção do indivíduo é influenciada por experiências passadas e pela antecipação que faz dos obstáculos que possam surgir à sua execução. Assim, no caso em que o comportamento não depende exclusivamente da vontade do indivíduo temos73: Atitude em relação ao comportamento a executar Normas subjectivas Comportamento Intenção Percepção do nível de controlo sobre o comportamento Fonte: AJZEN, I. – Attitudes, personality and behavior: Milton-Keynes, England; Open University Press & Chicago, IL: Dorsey Press; 1988, p. 133 As implicações desta teoria para o domínio da prevenção e controlo do VIH/sida reforçam a importância de determinados indivíduos ou grupos, na decisões tomadas por outros indivíduos, constituindo-se como mais um argumento a favor da educação por pares ou do uso de figuras que suscitem a admiração pública em campanhas de prevenção e controlo. O modelo transteórico de Prochaska Para Prochaska um indivíduo passa por várias fases antes de mudar definitivamente o seu comportamento74. Para este autor, não basta informar uma pessoa para ela mudar 39 40 guia de boas práticas de comportamento. A sua investigação levou-o a concluir que existe um conjunto de estádios de mudança por que passa o indivíduo, antes de adoptar um novo comportamento75: 1. Pré-contemplação A pessoa não identifica que tem um problema e não apresenta intenção de mudar o seu comportamento nos próximos seis meses. Nesta fase, o indivíduo não tem quaisquer intenções de alterar o seu comportamento, ou por falta de informação, ou por falta de confiança em si próprio. O indivíduo não está motivado e irá resistir a discutir ou reflectir sobre o assunto. As pessoas que se encontram nesta fase não estarão preparadas para serem alvo de uma campanha de educação na área da saúde. 2. Contemplação A pessoa expressa a sua intenção de mudar o seu comportamento. As pessoas que se encontram nesta fase estão alertadas para os benefícios e custos relacionados com a adopção do novo comportamento. Este balanço entre custos e benefícios pode estender-se no tempo, deixando o indivíduo num estado de “contemplação crónica ou procrastinação”. 3. Preparação O indivíduo começa a ter alguma consciência do problema e começa a considerar a possibilidade de mudar o seu comportamento nos próximos seis meses. As pessoas que se encontram nesta fase têm um plano de acção e já iniciaram algumas acções preparatórias. 4. Acção Estas pessoas já introduziram mudanças no seu comportamento, ao longo de um período de seis meses. 5. Manutenção Neste estádio, a pessoa trabalha para evitar reincidir. É também durante esta fase que aumenta a confiança de que é capaz de prosseguir com o novo comportamento. Adaptado de VELICER Wayne F. (et al) — An empirical Typology of subjects within stages of change. Addictive Behaviors. Elsevier Science Ltd. ISSN 0306-4603(94)00069-7. 20: 3 (1995) p.300 maria teresa silva santos Prochaska prossegue identificando os processos capazes de promover passagem de um estádio para o outro. Assim temos: Processo Descrição Tomada de consciência Passa pela tomada de consciência por parte do indivíduo que segue um comportamento de risco. Ao mesmo tempo toma consciência: › das causas que estiveram na origem de determinado comportamento, › das consequências associadas à manutenção do comportamento, › e dos tratamentos e estratégias possíveis para substituir o comportamento de risco. A tomada de consciência pode ser suscitada pela reacção dos outros, pela confrontação, e mesmo através dos meios de comunicação social. Alívio dramático Com este processo, a pessoa sente os efeitos negativos resultantes do comportamento e ao mesmo tempo, consegue experimentar a sensação de alívio proporcionada pela alteração de comportamento. As pessoas podem ser motivadas através de testemunhos de pessoas que passaram pelo processo de mudança, ou através do psico-drama. Auto-reavaliação Ser capaz de perceber quem é antes da mudança e quem será depois da mudança. Reavaliação do meio A pessoa reconhece como o seu comportamento afecta quem a rodeia. Auto-libertação A pessoa acredita que é capaz de mudar e de assumir um compromisso firme e público com a mudança. Relações de ajuda A pessoa procura apoio para a mudança: através da confiança e aceitação por parte dos outros, que podem ser os amigos, um terapeuta, ou grupos de ajuda. Contracondicionamento Passa pela adopção de alternativas mais saudáveis, ou substitutos mais seguros para ultrapassar o problema. Exemplo da terapia de substituição da nicotina. 41 42 guia de boas práticas Processo Descrição Gestão do Reforço Envolve a existência de reforços positivos à mudança de comportamento, incluindo reconhecimento do grupo de amigos, da família. O autor considera que o reforço positivo mostra sinais de ser mais eficaz do que a punição. Controlo de estímulos Dar sugestões e lembretes que estimulem o comportamento desejado e evitar situações que promovam o comportamento que se quer ver substituído. No caso de uma pessoa que pretende emagrecer, evitar colocá-la em situações em que é estimulada para comer, por exemplo. Libertação social Políticas e activismo social são necessários para criar ambientes em que os comportamentos saudáveis apareçam como a norma. A libertação social passa pela aprovação e aceitação de normas sociais que promovam comportamentos seguros, em detrimento de comportamentos de risco. Advocacia e lobbying são vias possíveis para promover a libertação social. Adaptado de PROCHASKA, James O. ; REDDING, Colleen A. ; EVERS, Kerry E. — The Transtheoretical Model and Stages of Change. In GLANZ, Karen; RIMER, Barbara K.; Lewis, Francês Marcus — Health Behavior and Health Education — Theory, Research and Practice. San Francisco: Jossey-Bass, 2002. ISBN 0-7879-5715-1. P. 103 Com este modelo Prochaska pretende mostrar: › › › Que existe um processo complexo até à mudança de comportamento ou à adopção de um novo comportamento; Que diferentes estádios de motivação vão requerer diferentes intervenções e diferentes campanhas para a saúde76; Que o comportamento pode ser influenciado por um conjunto de estímulos do exterior. Teoria da difusão de inovações de E. Rogers Rogers vem mostrar de que forma é difundida uma ideia, uma prática ou um objecto que é percepcionado pelo indivíduo como novo: ou seja de que forma é difundida uma inovação77. maria teresa silva santos Para o autor, o percurso que vai da aquisição de conhecimento à adopção de uma inovação não é um processo imediato, mas um processo que pode levar tempo, desenvolvendo-se ao longo de um conjunto de acções e decisões tomadas pelo indivíduo78. Para o autor o processo decisão-inovação desenvolve-se ao longo de um conjunto de fases sequenciais: 1. Fase do conhecimento O indivíduo é exposto à inovação, ou por acidente, ou porque sente necessidade de uma solução para um determinado problema. Para Hassinger a exposição só será eficaz se for relevante para o indivíduo, ou seja resultar de uma necessidade79. A inovação (a solução) deve estar de acordo com as atitudes e crenças de um indivíduo, já que, para este autor, os indivíduos têm tendência para evitar serem expostos a mensagens que entrem em conflito com o seu sistema de atitudes e crenças (o que Hassinger chamou de exposição selectiva)80. Rogers considera no entanto, que é também possível que um indivíduo seja exposto à inovação por acidente, e neste caso a inovação cria a necessidade. É este o caso da moda, exemplifica81. 2. Fase da persuasão O indivíduo desenvolve uma atitude favorável ou desfavorável à inovação. É de esperar que, depois de uma atitude favorável em relação a uma inovação, um indivíduo adopte um comportamento de acordo com a sua atitude. No entanto, a prática vem mostrar que nem sempre assim acontece. Rogers avança com o exemplo de um estudo levado a cabo em alguns países em vias de desenvolvimento, junto de um grupo de pais em idade reprodutiva. O estudo veio mostrar que, apesar de muitos pais revelarem uma atitude positiva face ao planeamento familiar, o seu comportamento e as suas práticas não eram conformes à atitude expressa82. 3. Fase da decisão O indivíduo decide adoptar ou rejeitar a adopção da inovação. Para a tomada de decisão a possibilidade de existir um período experimental pode ser determinante para a tomada de decisão, já que permite esclarecer quaisquer dúvidas que um indivíduo tenha em relação ao grau de utilidade da inovação proposta83. Quando o indivíduo não tem a possibilidade de passar por um período experimental, a existência de pares que tenham já passado pela experiência de adopção da inovação, pode constituir-se como uma experiência passível de ser sentida pelo próprio indivíduo e nesse sentido funcionar como substituto do período experimental84. 4. Fase da implementação O indivíduo faz uso da inovação. Até esta fase o indivíduo passou por um processo exclusivamente mental, mas neste estádio, o indivíduo assume um novo comportamento. O autor mostra que, nesta fase, a inovação pode ser adoptada pelo indivíduo tal como lhe foi apresentada, ou pode ser reinventada. A possibilidade de reinvenção foi durante muito tempo vista pelos investigadores como sinal de ruído na comunicação, já que os indivíduos eram vistos como sujeitos passivos que adoptavam as inovações. Para Rogers os indivíduos são sujeitos activos que modificam e adaptam a nova ideia85. 43 44 guia de boas práticas 5. Fase da confirmação. A fase final pode não ser a última fase do processo de adopção de uma inovação. Nesta fase o indivíduo pode sentir necessidade de reforçar a decisão tomada, ou decidir não continuar com a nova prática, ou mesmo rejeitá-la. A dissonância ocorre na fase da confirmação quando o indivíduo tem acesso a informação que contraria a decisão tomada, ou se tendo rejeitado adoptar a inovação tem acesso a informação promovendo a sua adopção. Se o indivíduo opta por rejeitar a inovação que tinha adoptado, então estamos perante um caso de descontinuidade. Dois factores podem levar à descontinuidade de determinado comportamento: a substituição por outra inovação, ou o desencantamento em resultado da insatisfação causada pela adopção da inovação86. Para Rogers, as fases que identifica no seu processo de decisão-inovação, não são mais do que as fases já antes identificadas por Prochaska.87 No entanto, chama a atenção para o facto de haver ainda pouca investigação capaz de demonstrar que um indivíduo passa, sempre, por todos estes estádios no seu processo de adopção de uma inovação. No processo de difusão de uma inovação os indivíduos não adoptam uma prática, comportamento ou objecto ao mesmo tempo. Alguns, poucos (quando comparados com a fase seguinte) os que adoptam numa primeira fase, são os chamados adoptantes iniciais. Esta primeira fase é seguida por uma segunda fase em que muitos indivíduos no sistema social adoptam a inovação, fase que é continuada por um período em que menos indivíduos adoptam a inovação — aqueles que, num sistema social são pressionados pela maioria que já adoptou a inovação88. Neste processo, meios de comunicação de massa e meios de comunicação interpessoal desempenham um papel determinante, embora Rogers considere que os meios de comunicação de massa sejam mais adequados para a fase de tomada de conhecimento, e os meios de comunicação interpessoal na fase de persuasão89. Rogers clarifica, “se um primeiro adoptante, discute a inovação com outro dois membros do sistema, e estes dois passam a nova ideia a outros pares e assim adiante90” espera-se que a inovação se vá difundindo. Daqui resulta que a adopção de uma inovação surge como uma reacção à expectativa de outros, e em especial dos grupos de pares, mais uma vez enfatizando o valor que as normas sociais exercem na decisão dos indivíduos91. Quer Prochaska quer E. Rogers mostram, à semelhança de outros autores (ver McGuire92) que, tal como um indivíduo passa por as diversas fases até alterar um comportamento, não se pode esperar que todos os indivíduos se encontrem na mesma fase, ou seja uns precisam ainda de tomar consciência da necessidade de alterar o seu comportamento, outros já estarão conscientizados mas ainda assim não alteram o seu comportamento. Significa pois, que num mesmo contexto podem coexistir materiais de prevenção mais direccionados para a sensibilização, ao mesmo tempo em que são disseminados ou maria teresa silva santos desenvolvidos materiais ou actividades mais orientados para a alteração de comportamentos e atitudes. O que fica também claro, é que entre a aquisição de conhecimentos e a mudança de comportamentos, existe um percurso complexo e não imediato. Ao referir a “descontinuidade” por exemplo, o autor avança com argumentos para a importância de uma estratégia de educação para a saúde continuada no tempo. Teoria social cognitiva Albert Bandura procura compreender os comportamentos, as motivações e o pensamento a partir da perspectiva da teoria social cognitiva. Com esta teoria o autor procura mostrar que ambiente, processos cognitivos e comportamentos interagem e influenciam-se mutuamente. Ou seja, existe uma causalidade recíproca entre estes três elementos, aquilo a que Bandura chama da reciprocidade triádica93. Com esta assumpção, Bandura reage às teorias behavioristas que explicam que o homem é essencialmente um sujeito passivo que reage aos estímulos do ambiente. Bandura vem acrescentar que: › › › para além do ambiente influenciar a acção do homem, a acção é passível de influenciar o ambiente; Lembra-se com certeza de situações em que determinados estímulos provocaram uma acção da sua parte, e que a sua reacção veio a ter repercussões sobre o ambiente; o ambiente é passível de influenciar o processo cognitivo e o processo cognitivo e outros factores pessoais são passíveis de influenciar o ambiente; Pense por exemplo, nas situações em que pensamentos e sentimentos são influenciados através do ensino, ou da sociabilização94. Ou em situações em que um cheiro ou som desencadeiam um pensamento95. O contrário também acontece. O autor lembra que as pessoas desenvolvem juízos e afectos, sem necessariamente dizerem ou falarem, por reacção ao meio social. Recorde os casos em que sem falar ou agir, reage cognitivamente a determinadas características do meio social como a idade, sexo, raça e atracção física do seu interlocutor96; o processo cognitivo e outros factores pessoais são passíveis de influenciar a acção, e a acção é passível de influenciar o processo cognitivo. Ou seja, o que as pessoas pensam, acreditam e sentem é passível de influenciar a sua acção97. O contrário também é verdade. Pense-se nos casos em que uma acção deu origem a uma reflexão, ou a uma reacção afectiva. O gráfico da página seguinte sistematiza a reciprocidade triádica de Bandura. 45 46 guia de boas práticas C F A C = comportamento (behavior) A = ambiente (environment) F = factores pessoais e cognitivos (personal and cognitive factors) In BANDURA, Albert — Social Foundations of Thought and Action: A social cognitive theory. New Jersey: Prentice Hall, Inc.,; 1986. p. 24 Bandura identificou um conjunto de elementos que explicam a forma como ambiente, processos cognitivos e comportamento interagem, determinando o que o autor chama das origens sociais do pensamento e da acção: › Capacidade para simbolizar Através da capacidade para produzir símbolos, a pessoa transforma as suas experiências, em modelos internos que funcionam como guias para acções futuras98. A capacidade para produzir símbolos, é também visível nos casos em que se criam ideias que estão para lá das experiências vividas pelo indivíduo. › Capacidade para antecipar Esta característica refere-se à capacidade do homem para antecipar situações futuras, através da representação cognitiva (mental) dos eventos que ainda não se concretizaram. Ou seja, a pessoa constrói cenários mentais que a ajudam a prever/ visualizar acontecimentos futuros (com maior ou menor precisão). Estes cenários visualizados mentalmente têm impacto na situação presente em que determinada pessoa se encontra, influenciando a sua reacção afectiva, a sua atitude e acção99. › Capacidade vicária Esta capacidade sugere que o homem, para além de aprender a partir das suas experiências, aprende também com as experiências dos outros, observando as consequências de determinados comportamentos. A abordagem enfatiza a existência de pessoas que maria teresa silva santos funcionam como modelos para a aquisição de competências. Pense no caso das crianças que aprendem a falar, através da observação de adultos que funcionam como modelos de linguagem. Bandura vem também reforçar o papel dos meios de comunicação de massa, e da televisão em especial, na formação de experiências vicárias100. › Capacidade auto-reguladora O comportamento é regulado por padrões internos e processos auto-avaliadores das reacções possíveis a determinadas acções101. O autor clarifica que, depois de executar determinada acção, o indivíduo compara-a com a acção que tinha idealizado. Esta comparação dá origem a uma avaliação que influenciará comportamentos futuros102. › Capacidade auto-reflexiva Esta capacidade refere-se à auto-consciência do indivíduo. Através da consciência os indivíduos desenvolvem as suas ideias, actuam sobre elas, prevêem acontecimentos a partir das ideias, e avaliam da adequação das suas ideias aos resultados obtidos. Para o autor, a capacidade para avaliar as suas capacidades é um importante tributo da consciência, esclarecendo que é a percepção que o indivíduo tem das suas capacidades, que determina parte da sua acção103. As implicações desta teoria para as estratégias de prevenção e controlo do VIH/sida são essencialmente três: › › › A importância de agir sobre o ambiente para através dele influenciar o indivíduo, já que muita da aprendizagem do indivíduo tem por fundo o ambiente social. Significa que alguma normas são aprendidas pelo indivíduo e que a mudança dessas mesmas normas ao nível do ambiente social, irá promover diferentes atitudes e comportamentos por parte do indivíduo; A importância dos modelos na aquisição e desenvolvimento de competências, em conjunto com a importância das experiências vicárias, constitui-se como um argumento a favor, por exemplo da educação por pares; A importância da televisão no desenvolvimento de competências, quando associada a modelos que permitam a experiência vicária104. É frequente os anúncios de televisão recorrerem a actores ou actrizes que bem podiam ser você, e que o ensinam a usar determinado produto e que mostram a sua satisfação com a aquisição de um serviço ou produto, de tal forma que você sente que podia ser aquela mesma pessoa, e usufruir do mesmo grau de satisfação se comprar o mesmo produto ou serviço. Este é o valor da experiência vicária passada através da televisão. 47 48 guia de boas práticas !"#$%&'(&'&)*#'+",-.-%&' Um indivíduo tem capacidade para exercer controlo sobre o que pensa, sobre a sua motivação e sobre a sua acção. Para Bandura, entre os mecanismos centrais da agência do indivíduo para se influenciar a si próprio, consta a sua capacidade para acreditar, ou não em si. Ou seja, a crença na sua capacidade (ou incapacidade) para ser eficaz (self-efficacy) funciona como uma importante determinante de motivação de um indivíduo, dos seus afectos e da acção105. Por exemplo, um indivíduo que tenha um sentido elevado da sua eficácia, terá a capacidade de imaginar cenários de sucesso que lhe fornecerão pistas para alcançar o resultado desejado106. Assim, quanto mais uma pessoa acreditar em si mesma, maior a possibilidade de sucesso. No processo de geração de eficácia influem três importantes factores: a resiliência de cada um, a capacidade de antecipação e a capacidade para gerir situações adversas. Quanto mais acreditar nas suas capacidades, maior é esforço e persistência que o indivíduo deposita na concretização de um objectivo. Bandura exemplifica: um indivíduo que acredite pouco em si próprio, confrontado com o primeiro obstáculo desiste, aquele que acredita nas suas capacidades, continuará a insistir107. A resiliência resulta da capacidade do indivíduo para ultrapassar obstáculos, através da perseverança. Quanto mais esforço depositar e mais obstáculos ultrapassar, maior é a probabilidade de alcançar o objectivo desejado. Outro factor importante está relacionado com a capacidade para antever situações futuras, que são transportadas para o presente através de representações cognitivas, e convertidas em motivações servindo como reguladores de comportamento. Ou seja, se um indivíduo visualiza uma situação futura em que se vê a ter sucesso, a sua motivação aumenta e bem assim o seu nível de auto-eficácia. Relativamente ao último factor, se um indivíduo fica ansioso perante uma situação adversa, revela que o indivíduo tem dificuldade em lidar com essa situação, logo o seu nível de auto-eficácia diminui 108. É possível ao indivíduo desenvolver a sua crença na sua capacidade de auto-eficácia? Para Bandura, existem quatro formas possíveis a partir das quais o indivíduo pode desenvolver a sua crença na sua capacidade auto-eficácia109: › › › › Experiências mestres; Experiência vicária; Persuasão social; Estados psicológicos e sociais. As experiências mestres são aquelas que são vividas e experimentadas pelo próprio indivíduo e fornecem a fonte mais autêntica de aprendizagem, acerca dos limites e potencialidades da cada um. maria teresa silva santos As experiências vicárias são aquelas que permitem ao indivíduo aprender a partir das experiências dos outros. Esses outros são modelos sociais. A observação do comportamentos de pessoas semelhantes a si, obtendo sucesso em determinada situação, leva-nos a acreditar que também nós seremos capazes. Quantas mais forem as semelhanças entre estes modelos sociais e o indivíduo, maior será a capacidade de persuasão do modelo social sobre o comportamento do indivíduo. Segundo Bandura, a persuasão social é desenvolvida através das relações sociais. Quando alguém lhe diz que é capaz, estará a contribuir para a sua crença de que é realmente capaz. O mesmo se passa ao contrário. Quando alguém lhe diz que não será capaz, estará a contribuir para que você acredite ser menos capaz. A persuasão social que contribua para aumentar a crença em si próprio, pode ser mais do que o reforço positivo que é transmitido verbalmente. Pode passar por colocá-lo em situações que sabe ser capaz de dominar, e evitar aquelas que de forma prematura podem levá-lo a falhar. O indivíduo é motivado pelos progressos individuais, mais do que pelo triunfo sobre os outros. Outra fonte passa pelo estado emocional e psicológico em que o indivíduo se encontra, quando faz juízos sobre as suas capacidades. Enquanto que o humor mais positivo leva o indivíduo a acreditar mais em si próprio, quando se encontra de mau humor terá mais dificuldade em acreditar nas suas capacidades. Se passarmos esta informação para a prática facilmente concluímos que o treino de competências pessoais e sociais, em especial quando recorre ao role-play, pode trazer vantagens evidentes para o controlo de cada um sobre a sua própria sexualidade. É por isso frequente assistir-se a role-play em que o problema central se foca na negociação do uso do preservativo. Os indivíduos, muitas vezes mulheres, colocam-se numa situação em que são confrontados com a recusa do uso de preservativos. Através do role-play são trabalhadas, discutidas e treinadas competências sociais e pessoais que ajudam a mulher a acreditar que pode alterar a negociação a seu favor, ou seja convencendo o seu parceiro a usar preservativo. Um estudo levado a cabo na África do Sul mostrou que o desenvolvimento de competências comunicacionais de mulheres e homens, através do role-play, e outros métodos inter-activos foram determinantes para aumentar a confiança e segurança entre as mulheres e para melhorar a sua comunicação sobre a sexualidade com o parceiro. Ao mesmo tempo, os homens mostraram estar mais à vontade para usarem o preservativo do que antes do Programa ter tido início110. O conseguir alterar a negociação do uso do preservativo, numa situação presente e imaginária que lhe é proporcionada pelo role-play, fá-la-á acreditar que será possível consegui-lo numa situação futura. 49 50 guia de boas práticas Limitações das teorias da comunicação para a saúde Não obstante o importante contributo das teorias apresentadas, é possível enumerar um conjunto de críticas ou limitações. Eis algumas: › › › › Tendência para verem o comportamento como fruto de decisões exclusivamente racionais, como o Modelo de Crenças em Saúde que entende os indivíduos como seres racionais que reagem à informação recebida, esquecendo o contexto socio-económico e cultural em que as decisões são tomadas. E nesse sentido, pouco valor dado aos constrangimentos impostos pelo contexto de vida dos decisores; A atenção tem sido quase exclusivamente centrada no indivíduo e nas decisões tomadas individualmente, ignorando a existência do grupo, ou comunidade como unidade de análise com capacidade decisória (exemplo das redes de solidariedade, ou de grupos de auto-ajuda); Adicionalmente pouca atenção tem sido prestada aos constrangimentos sociais estruturais, em que as decisões de um indivíduo são fruto das relações e negociações estabelecidas com outros indivíduos, em níveis de poder, muitas vezes diferenciadas. A indústria do sexo em Calcutá, na Índia, envolve cerca de 18 000 mulheres profissionais do sexo. A maior parte destas mulheres são imigrantes de zonas rurais empobrecidas, com poucas qualificações académicas e com poucas oportunidades de emprego, para além da indústria do sexo. Algumas mulheres possuem o seu próprio quarto e trabalham de forma independente, outras alugam um quarto a mulher a quem devem pagar metade dos seus rendimentos diários. Outras mulheres ainda, trabalham como profissionais de primeira classe. Nestas situações cabe a um proxeneta levar-lhes os clientes, o que as retira da exposição da rua. Existem também os casos em que uma “senhora” paga uma soma à família ou ao traficante por uma jovem rapariga. A rapariga fica então com uma dívida para com esta mulher. Todos os rendimentos da rapariga são entregues à mulher até que a dívida esteja saldada111. Nas zonas de prostituição confluem um série de interesses relacionados com a indústria do sexo: as mulheres que alugam os quartos, os proxenetas, prestamistas, homens locais de negócio, polícia e clientes. Na decisão de usar preservativo, as mulheres profissionais do sexo deixavam perceber o quanto constrangimentos de ordem económica influenciavam a sua decisão, não obstante estarem informadas e terem a intenção de usar preservativo. Como dizia uma mulher: “Ontem tive quatro clientes. Eu tive sexo com três deles e o último mandei embora. maria teresa silva santos Com o primeiro eu não usei preservativo. Eu tinha estado todo o dia à porta, à espera que alguém aparecesse e ele chegou e fixou em trinta Rupias o preço. Ele não disse nada e foi já no quarto que eu lhe falei em usar preservativo. O homem disse que não, porque não ia ter prazer nenhum, e eu expliquei durante meia hora mas, mesmo assim ele recusou. Eu fiquei mesmo chateada e ia mandá-lo embora, mas ele era o meu primeiro cliente. Eu não tinha dinheiro nenhum em casa. E eu pensei que não sabia se outros homens iam aparecer e se eles não aparecessem como é que eu ia alimentar os meus filhos? Então eu fiz com ele sem preservativo. Depois disso apareceram mais dois clientes e não houve problema nenhum. Entretanto, muito mais tarde apareceu um outro cliente que também não queria usar camisinha. Eu fiquei com metade do dinheiro que ele tinha avançado e mandei-o embora. Este eu já podia mandar embora porque já tinha tido três clientes e algum dinheiro na mão”112. Noutras situações faz-se sentir o peso das relações sociais e das diferenças de poder que são estabelecidas entre as pessoas. “Ontem tive cinco clientes. Três vieram para o quarto e eu usei (preservativos) com todos eles. Dois deles não levantaram qualquer problema, o outro não queria usar. Dizia que não ia ser capaz de “se vir”. Eu estava com receio que a minha senhora (pessoa que aluga o quarto) o ouvisse protestar, por isso eu fui falando com ele muito baixinho e fui-lhe colocando o preservativo, e mostrei para ele como ele ia definitivamente “vir-se”. Eu pensei que ia haver problemas. Normalmente, se um homem levar muito tempo, a senhora começa a culpar-me e a dizer que eu devo ter feito duas vezes (devendo pagar o dobro pelo quarto), por isso quando demoram muito tempo, eu tiro o preservativo. Este cliente eu consegui convencer e ele “veio-se” rápido e por isso não houve problemas. À noite, eu fui chamada para outra casa, mas os clientes que lá estavam não queriam usar. Eram dois homens e havia uma outra rapariga. Eles estavam bastante bêbados e nós não queríamos problemas e por isso fizemos sem. Eu fiquei com medo de ir para casa sem nenhum dinheiro para a minha senhora113. Aliar prevenção, tratamento e apoio A prevenção não deve ser vista de forma isolada. Pelo contrário, o controlo da epidemia passa por uma abordagem integrada, em que o tratamento e apoio às pessoas que vivem com VIH/sida e respectivas famílias, são entendidos como complementares à prevenção, se é para o controlo da epidemia ser bem sucedido. Quando se opta pelo desenvolvimento de estratégias de prevenção que não tenham em conta a importância do apoio e acesso a tratamento a pessoas infectadas com VIH/sida, a prática mostra um aumento do estigma e redução das pessoas que realizam o teste. 51 52 guia de boas práticas No Uganda, por exemplo o acento tónico inicial foi na prevenção. O mote generalizado da campanha era marcado por mensagens: “tem cuidado com a SIDA. A Sida mata”114. A campanha que foi eficaz em alertar a população, contribuiu igualmente para o aumento do estigma em relação aos indivíduos infectados e afectados pelo VIH/Sida115. Este medo contribuiu para que muitas pessoas tivessem receio de fazer o teste e que outras sentissem medo de revelar se viviam ou não com VIH, contribuindo para que estas pessoas não tomassem também elas, medidas preventivas com o receio de serem estigmatizadas. Quando Sulaiman descobriu que tinha VIH, em 1994 (…) ele não foi capaz de contar à sua mulher. “Eu não consegui contar logo à minha mulher, porque tinha medo que ela me abandonasse. Passou um ano, até ter tido coragem para lhe contar. (…) Quando ela soube, não quis ir logo fazer o teste, porque ficou muito assustada. Foi apenas quando ela adoeceu e finalmente fez o teste, que soube que também ela era seropositiva”116. Em resposta, muitas ONGs optaram por uma estratégia capaz de aliar prevenção, tratamento e apoio aos indivíduos infectados, e famílias afectadas pelo VIH/sida. Para o efeito foram formados números massivos de voluntários ao nível da comunidade com o objectivo de prestarem apoio e desenvolverem acções de prevenção117. Adicionalmente, as mensagens de medo foram substituídas por mensagens de solidariedade e esperança, como por exemplo: “Se tem SIDA não desespere” ou “As pessoas com SIDA precisam da sua compaixão e apoio”118. Complementar estratégias de I.E.C. com a existência de serviços de saúde A mudança de comportamento tem normalmente, por consequência o aumento da procura dos serviços de saúde para tratamento e diagnóstico das ISTs: › › › para assegurar uma maternidade segura; para realizar o teste; para procurar tratamento. Pode implicar também uma maior procura dos serviços sociais de apoio ou simplesmente a aquisição de preservativos119. maria teresa silva santos Assim, estratégias de I.E.C. deverão ter em conta a existência dos serviços de saúde existentes e associar as mensagens de I.E.C. à: › › existência de serviços de saúde de apoio, que sejam capazes de responder às necessidades dos indivíduos que melhor informados procurarão o apoio dos serviços de saúde; disponibilização de preservativos. Na zona rural de Qixian, na Província chinesa Hunan, a falta de informação e o medo, associados aos primeiros casos de morte por VIH, levaram ao aparecimento de mitos sobre a transmissão do VIH120. Era comum achar-se que uma pessoa podia ser infectada apenas por falar com outra e evitavam passar pelas casas e aldeias em que sabiam que alguém tinha morrido por sida. 75% das pessoas acreditavam que logo que uma pessoa fosse infectada, deixaria de parecer normal. Em resposta, entre 2002 e início de 2003, a Associação Chinesa para o Planeamento Familiar iniciou a capacitação de cem mil técnicos e voluntários que participaram num conjunto de iniciativas. Foram dinamizados debates com o objectivo de esclarecer as comunidades sobre a prevenção do VIH. Foram organizados concursos com o objectivo de premiar conhecimentos sobre VIH/sida. Foram desenvolvidas canções, histórias e apoiadas peças de teatro que iam sendo representadas, de forma itinerante, pelas aldeias. Mais de quatrocentos mil pessoas em idade reprodutiva, duzentas mil das quais mulheres beneficiaram destas actividades. Segundo os promotores do Projecto, a população rural de Qixian estava melhor equipada com conhecimentos sobre VIH/sida. Adicionalmente, foi criada uma rede de distribuição de preservativos, o que permitiu responder a uma maior procura, depois do projecto ter sido iniciado. Se em 2001, o número de preservativos distribuídos se situava em trezentos e noventa mil, em 2002, este número já tinha ascendido para quinhentos e oitenta mil. Antes do Projecto ter início, 70% dos casais reportavam nunca ter usada preservativos, número que decresceu para 40%. Ir às causas Como já foi referido (ver capítulos 3, p. 21, e 4, p. 25), nem sempre a alteração de comportamento é possível, porque os factores de vulnerabilidade estruturais persistem. O Director da UNFPA por exemplo, e a propósito da situação da mulher em muitos países em vias de desenvolvimento, reforça a importância de programas de I.E.C. serem 53 54 guia de boas práticas complementados com programas que contribuam para reforçar a posição económica e social da mulher. A Global Coalition on Women and Aids por seu lado, propõe a implementação de projectos de microfinanças, educação profissional, e outras actividades geradoras de rendimentos associados ou integrados em programas de prevenção e controlo do VIH/sida121. Também a Associação de Desenvolvimento de Agricultores no Cambodja, trabalha directamente com a comunidade, colocando a problemática do VIH/sida no contexto mais alargado em que vive a comunidade. Assim, para além das sessões sobre saúde sexual e reprodutiva com homens e mulheres, a Associação promove igualmente um projecto de geração de rendimentos junto de um grupo de mulheres122. Apenas quando o factor de vulnerabilidade é reconhecido e trabalhado, se pode pensar em estratégias para a mudança de comportamentos realmente eficazes123. Um episódio passado no Zimbabué ilustra bem a importância dos factores estruturais. A realização de um seminário sobre VIH/SIDA começou mais tarde do que o previsto, porque os participantes passaram parte do tempo, a afugentar o elefantes que lhes estragavam as colheitas, tendo então sido referido pelo líder do grupo: “Vocês vêm ter connosco com o vosso programa da Sida, enquanto nós temos um problema muito maior com os elefantes que nos destroem os campos”124. Significa isto, que os programas para promoção de comportamentos saudáveis não devem ser autistas em relação a outro tipo de problemas sentidos pelo grupo ou comunidade, na medida em que eles acabam por se inter-relacionar. A saúde sexual e reprodutiva é mais do que um assunto exclusivamente da saúde125 e os programas de saúde sexual e reprodutiva devem ser integrados e multissectoriais126 se para serem efectivos. Que papel para a comunicação? Não obstante a observação de todas estas condições ser essencial para uma estratégia de I.E.C. eficaz, é surpreendente constatar que muitas vezes, estas condições não são desenvolvidas e ainda assim a comunicação revela desempenhar um papel determinante na alteração de comportamento. maria teresa silva santos Em 1995, as Telecomunicações de Moçambique encomendaram um estudo de mercado a uma empresa conceituada, que estimou que a sua cliente necessitaria de dez anos para alcançar seis mil e quinhentos clientes. No entanto, ao fim de sete anos, em 2004, a mCell possuía já quinhentos e cinquenta mil clientes. São palavras do director da campanha publicitária “Nós estamos preocupados em medir a opinião pública, que nos esquecemos que podemos moldá-la”127. A este resultado, não é com certeza estranho o facto de ter sido introduzida uma modalidade mais flexível do ponto de vista económico e que outros factores terão de ser considerados na explicação desta cifra de 550 mil clientes. No entanto, deixa também adivinhar os efeitos de uma estratégia de comunicação adequada. 55 6. L/')+:5'.&"./'%)6,2./%&"%"6H+)'+,&"5,/," ,"5/.2$89."2%"0,6%/',="2%"?IGIJI"%*+,K Metodologia Procurar integrar pessoas que vivem com VIH Em 1994, na Conferência de Paris foi aprovada a declaração que reconhece a importância de envolver pessoas que vivam com VIH/sida, na formulação de políticas e na prestação de serviços128. No que à produção de material de I.E.C. diz respeito, o envolvimento de pessoas que vivam com VIH/sida pode trazer a vantagem de evitar efeitos colaterais não desejados do material desenvolvido. Por exemplo, se retomarmos novamente o que sucedeu com as primeiras campanhas de informação e sensibilização no Uganda, concluímos que o envolvimento de pessoas que na altura viviam com VIH ou fossem afectadas pelo vírus, poderia ter sido uma enorme mais valia. Mensagens como “tem cuidado com a SIDA. A Sida mata”129 que contribuíram para o aumento do estigma e discriminação face às pessoas que viviam com VIH/sida, poderiam eventualmente ter sido evitadas. Participação Ao nível da produção de material de I.E.C., o processo participativo pode ocorrer em dois momentos diferentes. O primeiro momento, dá-se ao nível do diagnóstico. Muito do material de I.E.C. produzido é normalmente produto das percepções do técnico relativamente ao que as pessoas precisam de saber. Acontece porém que, o material de I.E.C. assim produzido, terá menos hipóteses de ser eficaz e adequado. 58 guia de boas práticas Imagine-se por exemplo, que determinada agência encomendava a produção de um spot televisivo sensibilizando a população para a importância do uso do preservativo. Um diagnóstico participativo revelaria no entanto, que as pessoas estavam alertadas e que de facto recorriam ao uso do preservativo nas relações sexuais. O mesmo estudo mostrava contudo, que as pessoas tinham uma atitude estigmatizante em relação aos indivíduos que viviam com VIH/Sida. Neste caso qual era a mais valia do spot televisivo? A abordagem participativa permite evitar este tipo de desfasamento entre o material de I.E.C. e as reais necessidades dos beneficiários das mensagens. Através desta abordagem os próprios beneficiários são motivados para partilhar, e analisar o conhecimento que possuem sobre a sua própria vida e constrangimentos, para planear e agir sobre ela130. Ao mesmo tempo, também o técnico aprende com as pessoas o que elas sabem e o que precisam de saber, e porque razão não alteram os seus comportamentos131. Os resultados destes diagnósticos determinarão o conteúdo das mensagens, o meio mais apropriado para comunicar com as pessoas, etc. Pegando no caso anterior, os produtores do spot televisivo, realizado o diagnóstico, optariam antes por abordarem a questão do estigma. Outro momento em que o processo participativo pode ter lugar é quando a produção do material de I.E.C. é realizada de forma participativa, ou seja o material de I.E.C. incluindo as mensagens e a escolha do meio, são produto de discussões de base comunitária, cursos de pares, teatro do oprimido, jogos, ou outros132. A vantagem deste processo consiste em permitir que as pessoas reflictam mais profundamente nas suas relações, nas suas decisões, nos riscos que tomam, e nas razões que as levam a perpetuar comportamentos de risco. A diferença entre uma abordagem participativa e uma abordagem do tipo top-down, pode ser facilmente apreendida no já referido caso da rede mosquiteira. O cuidador/ activista referido limitava-se a informar sem ouvir os constrangimentos das pessoas relativamente à razão porque optavam ou não por usar mosquiteiro. Se as ouvisse podia por exemplo saber que o elevado número de casos de infecção respiratórias agudas, associadas a um clima adverso, dificulta uma respiração livre e possível por baixo de uma rede mosquiteira. Se em vez de transmitir informação, o activista tivesse proporcionado a discussão sobre as desvantagens e vantagens sobre o uso da rede mosquiteira teria, muito possivelmente conseguido melhores resultados. No quadro ao lado, vai encontrar algumas diferenças entre a abordagem top down, ou abordagem baseada na transmissão de informação e a abordagem participativa, baseada na partilha de informação: maria teresa silva santos Abordagem da transmissão de informação › Ensino formal. › De cima para baixo. › › Abordagem da partilha de informação › Aprendizagem é realizada de forma participativa. Dizer aos indivíduos o que fazer. › Promove o diálogo. Os profissionais sabem o que é melhor para os outros. › Torna uma ideia atractiva. › Assenta em parcerias. › Assenta em discursos unilaterais. › › O professor toma as decisões. Recorre a métodos capazes de promover a participação. › Mais dependente de posters. › › Há um tempo limitado para o ensino. As próprias pessoas participam na tomada de decisões sobre o que é necessário. › Recorre com frequência a meios de comunicação visual. › O tempo destinado ao ensino é mais flexível. In LAVER, Sue; DRUCE, Nel — Starting the Discussion: making steps to making safer sex. London: HealthLink; 1996. P. 10 Ao nível do material I.E.C., o processo participativo oferece um conjunto de vantagens: Garantias de maior adequação O envolvimento das pessoas no processo de identificação e produção do material I.E.C. é uma forma de garantir que o material vai efectivamente ao encontro da realidade das pessoas: das suas necessidades de informação e de adopção de comportamento saudável, usa a linguagem certa, reconhece os constrangimentos e problemas da comunidade, sendo sensível à realidade social, cultural e económica e de género das pessoas. Por exemplo, na situação em que um técnico opta por informar sobre as IST/VIH/Sida através de um panfleto com bastante texto, é capaz de se sentir frustrado quando perceber que ninguém na comunidade leu o texto. Possivelmente, porque a maior parte da comunidade era analfabeta. Este é um exemplo típico de uma material de I.E.C. desadequado. 59 60 guia de boas práticas Sentido de propriedade A experiência tem mostrado também que, quando envolvidas, as pessoas desenvolvem um sentido de propriedade sobre o processo, o que as leva a assumir um maior compromisso com acções e projectos. Efectividade Esse maior compromisso vai, em princípio, contribuir para uma maior efectividade dos desafios e conclusões que saíram das análises em grupo. Grupos de pares e grupos focais Garantir um ambiente em que todos os indivíduos possam sentir-se confortáveis e tenham segurança para falar, passa por juntar pessoas que são semelhantes entre si. É necessário um clima de confiança, privacidade e atenção capaz de permitir a discussão, a partilha e a construção colectiva. A experiência vem mostrando que as pessoas se sentem mais à vontade para falar com aquelas que consideram semelhantes. O “ser semelhante” pode significar pertencer ao mesmo género, ao mesmo grupo etário, ao mesmo grupo socioeconómico, ao mesmo grupo cultural e/ou étnico, ao mesmo estatuto civil (casado, solteiro, etc.), à mesma religião, estar fora ou inserido no sistema de ensino, entre outros critérios possíveis133. Indivíduos dentro do mesmo grupo etário, com um percurso de vida idêntico, partilhando preocupações semelhantes estão mais disponíveis para escutar e responder às necessidades dos seus pares134. O poder que alguns indivíduos exercem sobre outros pode revelar-se na falta de confiança dos que têm menos poder, traduzindo-se na “incapacidade” destes últimos para falar. Este poder pode fazer-se exercer ao longo de um eixo etário, social, económico, religioso, do género, cultural, que o trabalho entre pares procura evitar. Como levar uma mulher a falar da sua sexualidade diante de homens, ou como levar os mais jovens a falar da sua sexualidade, diante de pessoas mais velhas da sua comunidade? Grupos focais organizados por grupos de pares permitem contribuir para a redução deste tipo de obstáculos e são uma base de trabalho para discutir com as próprias pessoas a produção de material de I.E.C. Grupos de pares e a questão do género: um olhar cuidado Responder às diferentes necessidades de género Integrar a questão do género na produção de material de I.E.C. implica o reconhecimento de que mulheres e homens têm diferentes necessidades, não só biológicas, mas em maria teresa silva santos resultado do contexto económico, social e cultural que determina os diferentes papéis esperados da mulher e do homem na sociedade135. O material de I.E.C. tem de reconhecer estas diferenças de género, de tal forma que perante necessidades diferentes se produza material de I.E.C. diferenciado para homens e mulheres136. Deve-se no entanto ter também em conta aquelas necessidades que são comuns à mulher e ao homem. A propósito da transmissão vertical por exemplo, é comum assistir-se à existência de informação estritamente dirigida à mulher, como se apenas a mulher e a futura mãe pudessem estar interessadas neste tipo de informação. Esta estratégia contribui também para fragilizar os esforços desenvolvidos para uma melhor paternidade. Ouvir as mulheres para responder às suas necessidades Para que o material de I.E.C. responda às reais necessidades das mulheres, é necessário ouvi-las. A formação de um grupo de pares de mulheres pode proporcionar a criação de uma ambiente de confiança e de auto-ajuda capaz de promover a participação, a partilha e a troca de experiências necessárias para apreender os reais factores de vulnerabilidade. A maior parte dos programas tem-se concentrado na redução de riscos individuais137 através da promoção do acesso a: › › informação, educação e treino de competências sociais para a prevenção; serviços de saúde sensíveis às necessidades da mulher138. Programas assentes na redução de riscos individuais podem assumir várias formas: conhecimento que a mulher detém relativamente ao seu corpo, ao corpo do homem, aos meios de prevenção face às IST/VIH/sida e outras questões relacionadas com saúde sexual e reprodutiva139. A redução de riscos individuais pode passar também pelo desenvolvimento de competências sociais que apoiem a mulher a reduzir os seus riscos face às IST/VIH/sida. A melhoria das relações interpessoais tem-se revelado particularmente importante: › Na melhoria da capacidade de comunicação com o parceiro sexual. Em Buwenda no Uganda, onde o Stepping Stones* foi implementado, as mulheres revelaram que quando se comportavam de maneira diferente na relação sexual, os parceiros suspeitavam que tivessem estado com outro homem, o que dava lugar a violência doméstica140. No entanto, o grupo dos homens queixava-se que * O Stpepping Stones é um manual da autoria de Alice Welborn, que trata questões relacionadas com a vida sexual e reprodutiva e que tem sido utilizado desde 1995 em mais de 80 países. 61 62 guia de boas práticas desejava relações sexuais mais excitantes. Era urgente melhorar a comunicação sexual entre casais. › No fortalecimento da capacidade para tomar decisões em relação ao sexo141. Um estudo conduzido na Tailândia, mostrou que a formação de homens e mulheres com recurso a role-plays e outros métodos interactivos contribuíram para: · aumentar a segurança da mulher, agora capaz de discutir a sexualidade do casal e; · deixar os os homens mais à vontade para pedir o uso do preservativo142. › Apoiando homens e mulheres a compreenderem e a reivindicarem as suas necessidades específicas143. Ainda no Buwenda, as mulheres revelaram haver uma elevada prevalência de ISTs. Em resultado, as mulheres organizaram-se e solicitaram ao representante local do Ministério da Saúde que providenciasse a formação extra dos técnicos locais de saúde, em diagnóstico e tratamento de ISTs144. É também imprescindível ouvir as mulheres para com elas identificar e contribuir para a diminuição dos factores de vulnerabilidade: › menor independência económica; › o menor nível de literacia; › normas sociais que confinem a um papel marginal na sociedade. E não esquecer que trabalhar o empoderamento das mulheres, passa também por trabalhar com os homens, já que a mulher é um ser relacional. Assim por exemplo, se as mulheres afirmarem que a colocação do preservativo se torna particularmente difícil, já que é recusada pelos homens, tentar perceber porque razão os homens se recusam usar preservativo e produzir material de I.E.C. que vá ao encontro das razões expressas pelo homens, junto das mulheres, para não colocarem preservativo. De facto, da mesma forma que o género pode ser uma força de bloqueio em relação à mulher, pode também ser em relação ao homem. Como já foi referido, da mesma forma que existem normas sociais e culturais que remetem a mulher para a ignorância no que concerne o “sexo” (como forma de manter a sua pureza e virgindade) existem também maria teresa silva santos normas sociais e culturais que concebem o ideal de homem, que não admite não saber tudo o que importa relativamente ao sexo, e que enfatizam o papel do homem como o tomador de riscos145. Técnicas Existe um conjunto de técnicas que o facilitador deverá dominar. Estas técnicas que nasceram associadas à Avaliação Rural Participativa-PRA (Participatory Rural Appraisal), com o objectivo de ouvir e aprender com comunidades de agricultores, são hoje utilizadas em muitos outros sectores. O objectivo mantém-se o mesmo: promover a participação das pessoas, ouvi-las, aprender com elas, promover a partilha e análise pelas próprias pessoas. Trata-se nesse sentido de um conjunto de técnicas ao serviço da participação. A primeira destas técnicas está relacionada com a capacidade para ouvir e aprender com a comunidade ou grupo com quem está a trabalhar. As técnicas de facilitação têm como objectivo promover a participação do grupo focal nas várias etapas de produção de material de I.E.C.: diagnóstico, elaboração do material e testagem. Existe um conjunto de manuais onde encontrará de forma mais exaustiva técnicas de facilitação que poderá utilizar no decurso do seu trabalho. Lembre-se sempre que, a sua criatividade pode levá-lo a outras ferramentas, que possam mostrar-se mais eficazes no contexto onde trabalha. Neste guia iremos focar apenas algumas das técnicas mais utilizadas. Ao longo do seu trabalho vai perceber que algumas técnicas servem melhor determinados objectivos do que outras. Assim, pode começar por elaborar uma listagem dos assuntos que pretende abordar com o grupo ou comunidade e procurar identificar as técnicas que melhor se ajustam à concretização desse objectivo. As técnicas de facilitação podem ser muito exigentes para o facilitador ao nível da gestão de conflitos, e ao nível da competência técnica, já que a participação promove muitas vezes o à vontade nas pessoas para colocarem dúvidas para as quais o facilitador tem de ter uma boa preparação técnica. Não quer dizer que o facilitador tenha de responder a todas as perguntas colocadas. Assumir que não sabe e que vai procurar informar-se é o mais correcto. As técnicas são ao mesmo tempo pouco exigentes, já que não exigem níveis de qualificação técnica ou teórica por parte dos indivíduos que constituem o grupo focal para participar. É pois possível que venha a observar a participação crítica e consciente de pessoas que não 63 64 guia de boas práticas sabem ler ou escrever. Este aspecto permite adivinhar que as técnicas de facilitação não são marginalizadores e pelo contrário, permitem desenvolver trabalho com pessoas com características bastante diferentes. Mapas sociais Os mapas sociais constituem uma representação visual da área geográfica do grupo ou comunidade com quem está a trabalhar. Os mapas sociais permitem ter a perspectiva do grupo ou comunidade relativamente às infra-estruturas disponíveis: centros de saúde, escolas, estradas, postos de polícia, hospital, associações locais, igreja, e relativamente aos tipos de habitações146. Esta é uma técnica que pode ser desenhada tanto numa folha de papel, como no chão, usando para o efeito giz, sementes, marcadores ou qualquer outro tipo de meio escolhido pelo grupo, que sirva para descrever visualmente a comunidade. A vantagem é que permite ao grupo ter consciência dos serviços disponíveis, da dificuldade ou facilidade no acesso aos diferentes serviços, e ao facilitador ter consciência das infra-estruturas existentes e efectivamente usadas pela comunidade e das infra-estruturas em falta. Permite igualmente, ter uma noção das condições em que vivem muitas famílias: existência de crianças mal nutridas por agregado familiar, vacinações, viúvas, etc147. O mapa social apresentado de seguida, foi elaborado por um grupo de jovens raparigas em Lusaka, Zâmbia148. Para além de identificarem as infra-estruturas existentes, as jovens procederam também à classificação dos agregados familiares por nível de rendimento (o que terá permitido identificar as famílias mais carenciadas, etc.). A este tipo de mapa, chama-se de classificação dos agregados familiares segundo o rendimento. maria teresa silva santos Mapa social preparado por um grupo de jovens raparigas Água da torneira Casas em que a Mulher é a chefe de família Curandeiro tradicional O número colocado sobre cada casa, indica a categoria de bem estar Figura 1 Mapa social elaborado por um grupo de jovens raparigas — In SHAH, Meera Kaul; KAMBOU, Sarah Degnan; MONAHAN, Barbara — Embracing Participation in Development: Worldwide experience from CARE’s Reproductive Health Programs with a step-by-step filed guide to participatory tools and techniques. Atlanta: CARE; 1999. p.3.34 Diagrama de Venn Também chamados de Chapatis no sul da Ásia ou de Tortilha na América do sul, os diagramas de Venn têm como objectivo a visualização das relações estabelecidas entre as instituições e a comunidade149 e nesse sentido o impacto das diferentes instituições na vida da comunidade. Um grande círculo representa a comunidade. Cada instituição que de alguma forma interage com a comunidade é também colocada dentro de um círculo. Quanto maior for 65 66 guia de boas práticas o impacto da instituição na vida da comunidade, maior deve ser o círculo. As instituições que são colocadas dentro do círculo, dizem respeito às instituições que mantêm uma relação próxima com a comunidade (não significa necessariamente, que estejam fisicamente presentes na comunidade). A maior ou menor proximidade dos círculos em que estão inscritas as instituições, representa a maior ou menor proximidade das instituições entre si150. Na Zâmbia151, esta técnica teve como finalidade identificar onde é que os jovens japazes recolhiam informação sobre sexualidade e saúde reprodutiva. O resultado foi o seguinte: Igreja Vídeos e revistas pornográficos Clubes anti-AIDS Avós Observando os outros Amigos Velhos tontos Escola Figura 2 Diagrama de Venn elaborado por um grupo de jovens rapazes sobre fontes de informação sobre sexo in SHAH, Meera Kaul; KAMBOU, Sarah Degnan; MONAHAN, Barbara — Embracing Participation in Development: Worldwide experience from CARE’s Reproductive Health Programs with a step-by-step filed guide to participatory tools and techniques. Atlanta: CARE; 1999. p. 3.37 maria teresa silva santos Este diagrama permitiu concluir que é em material pornográfico (vídeo e magazines) que os rapazes mais obtêm informação sobre sexualidade. A segunda maior fonte de recolha de informação são os “avós”, seguidos depois pelos “amigos”, e por último “observando os outros”, “velhos tontos”. As fontes menos utilizadas são o “clube anti-sida” e escola e por último a igreja. Mapas do corpo Esta é uma ferramenta muito útil para compreender o que a comunidade ou grupo sabe efectivamente sobre saúde reprodutiva. Através desta técnica, é pedido aos participantes que desenhem o sistema reprodutivo da mulher e do homem, e a forma como funciona. Um grupo de jovens raparigas de Chawama, na Zâmbia, por exemplo, desenhou o aparelho reprodutivo da mulher da seguinte forma: esperma óvulo sangue chibbelekelo Figura 3 Mapa do Corpo elaborado por um grupo de jovens raparigas — In SHAH, Meera Kaul; KAMBOU, Sarah Degnan; MONAHAN, Barbara — Embracing Participation in Development: Worldwide experience from CARE’s Reproductive Health Programs with a step-by-step filed guide to participatory tools and techniques. Atlanta: CARE; 1999. p. 3.35 As Jovens explicaram que o esperma flui da parte de cima do corpo da mulher para um e outro óvulo152. Esta técnica pode também ser utilizada para que os participantes identifiquem as zonas do corpo do homem e da mulher que causam excitação sexual. Foi pedido aos participantes dos workshops na área do VIH/sida, realizados no Dallas e no Novo México, que desenhassem um mapa do corpo. Aos homens foi pedido especificamente o desenho do corpo de uma mulher ideal e às mulheres foi pedido que desenhassem um homem ideal. Em ambos os workshops, os homens desenharam a mulher ideal como tendo peito grande e lábios carnudos, enquanto que as mulheres desenharam o homem ideal como tendo os ombros largos e um pénis grande. A partilha destes desenhos gerou uma discussão acesa no grupo, permitindo que se discutisse o papel dos estereótipos na sexualidade153. 67 68 guia de boas práticas Ordenar Esta técnica é particularmente útil quando sentir necessidade de analisar preferências, prevalência e decisões. Por exemplo, quando estão em jogo várias opções relativamente aos métodos anti-contraceptivos, perceber qual o que acolhe mais adesão por parte do grupo, ou qual o meio anti-contraceptivo em relação ao qual o grupo gostaria de ter mais acesso. Esta é uma técnica muito utilizada num conjunto de situações154: › › › › › › Preferências sobre parceiro sexual; Diferenças de género na relação sexual; Diferenças ao nível do comportamento sexual de acordo com a idade; Nível de actividade sexual entre rapazes e raparigas; Análise de problemas; Fontes de informação. No Zimbabué, existem quatro tipos de escolas do ensino superior: Universidades, Escolas Superiores de Educação, Politécnicos e Escolas Agrícolas155. Estas últimas, ao contrário das três primeiras estão fora da tutela do Ministro da Educação, o que as deixa muitas vezes fora de programas de educação para a saúde. Em 2006, duas organizações locais envidaram esforços para envolver a comunidade escolar de quatro escolas agrícolas no Zimbabué em questões de saúde sexual e reprodutiva. Na escola agrícola Chibero Agricultural, à semelhança das restantes escolas, participaram um grupo de estudantes, outro de professores e outro constituído por membros da comunidade. Quando lhes foi pedido que identificassem os desafios que se colocavam à saúde sexual e reprodutiva, os alunos identificaram: › › › › › › › Influência do álcool; Pressão do par; Não saber usar preservativos; Ninfomaníaco versus sexomaníaco (prestígio); Crise financeira; Falta de entretenimento; Receio de insucesso escolar. Quando lhes foi pedido para ordenarem por ordem de importância, a listagem adquiriu a seguinte apresentação: 1. 2. 3. 4. 5. Falta de entretenimento; Pressão do par; Ninfomaníaco versus sexomaníaco; Receio de insucesso escolar; Influência do álcool; maria teresa silva santos 6. Não saber usar preservativos; 7. Crise financeira. /#0*)&$'&'-1&22%,-&34# Outra técnica, passa por classificar com um valor, determinada categoria de análise. Com esta técnica ganha-se em profundidade em relação à técnica anterior, e permite o estabelecimento de relações e probabilidades. Em Ndola, a segunda maior cidade da Zâmbia, um grupo misto de jovens rapazes e jovens raparigas procurou identificar a prevalência de relações sexuais, por relacionamento. O grupo decidiu pontuar tendo como tecto máximo o valor 100. O resultado final foi o seguinte: Tipo de Relacionamento Frequência de Relacionamento Sexual tendo 100 como valor máximo Irmão e irmã 5 Entre primos 50 Avô e neta 0 Avó e neto 0 Tio e sobrinha 25 Tia e sobrinho 0 Pai e filha 15 Cunhado e irmã da mãe 60 Cunhado e irmã do marido 30 Entre vizinhos 100 Elaboração de matrizes Se está perante múltiplos critérios, opções que carecem de ser analisadas e comparadas pelo grupo, então opte pela elaboração de uma matriz. Comece por elaborar uma lista de opções, por exemplo tipos de parceiro sexual. De seguida liste características capazes de qualificar os critérios identificados. No caso 69 guia de boas práticas dos parceiros sexuais: se casados, se possuem dinheiro, se são responsáveis, etc.156 Coloque os critérios na primeira coluna, e as características na horizontal e de seguida peça ao grupo para que pontue cada critério de acordo com as características dadas. pressão económica entretenimento família cultura natureza religião Numa escola do Zimbabué157, um grupo de jovens raparigas começou por listar os comportamentos mais comuns entre as jovens, relacionados com saúde sexual e reprodutiva. De seguida, foi pedido que listassem os factores que influenciavam os comportamentos identificados. Daqui surgiu a seguinte matriz: pares 70 sexo 8 7 8 2 4 8 2 aborto 7 7 0 4 2 0 1 casamento 6 7 2 7 5 3 7 namorados 8 8 7 6 4 6 4 masturbação 10 0 3 5 0 5 0 “sugar daddy” 9 7 0 5 4 2 3 álcool 6 3 7 2 5 0 1 total 54 39 37 31 24 24 18 classificação 1 2 3 4 5 5 6 Fluxos Causais Esta é uma técnica que ajuda a compreender um problema em concreto. A exploração tanto pode ser feita ao nível dos problemas, como ao nível do impacto, como ao nível dos dois em simultâneo. Ao ter como ponto de partida um problema, ou actividade que quer compreender melhor, irá também ser capaz de percepcionar as relações possíveis que se estabelecem entre as causas ou impacto. O exemplo apresentado pretende compreender as causas que estão na origem do risco de infecção por VIH158: maria teresa silva santos Risco de infecção pelo VIH Níveis de infecção pelo VIH entre parceiros sexuais Acesso e existência de preservativos Situação relativamente a outras ISTs Acesso a serviços de apoio para prevenção e controlo das ISTs Comportamento sexual Normas socioculturais Figura 4 Fluxo causal para identificação dos factores que condicionam a infecção pelo VIH/sida In EDSTRÖM, Jerker; CRISTOBAL, Arthur; DE SOYSA Chulani; SELLERS Tilly — Ain’t misbehavin’: beyond individual behaviour change. S.l.: PLA Notes 37 (2000) p. 23 Estudos de caso Histórias reais, testemunhos, a descrição de um episódio particular na vida de uma pessoas, a descrição de uma situação em concreto podem ser especialmente úteis para a discussão de um tema159. Os estudos casos podem ser uma técnica especialmente útil ao nível do diagnóstico, ao nível de estratégias que devem ser apreendidas pelas mensagens, ou ao nível da identificação do meio mais adequado, sugerindo novas possibilidades ou explorando com mais exactidão o impacto de determinadas escolhas. No conhecido Manual “Training for Transformation” o uso de estudos casos é sugerido como forma de promover a partilha por parte das mulheres que passaram por situações de abuso sexual e de encontrar estratégias possíveis para apoiar e proteger as mulheres, no futuro. O conhecido Manual sugere, por exemplo, a selecção e recorte de artigos de jornais e revistas que deverão ser discutidos em grupo160. 71 72 guia de boas práticas Role-play O role-play começa com uma situação previamente preparada, que corresponda a uma situação da vida real e quotidiana da vida das pessoas com quem trabalha. Nessa situação idealizada a partir de uma situação real, existem personagens que vão tomando decisões. Essas personagens vão sendo vividas por diferentes pessoas, do grupo focal, ou comunidade que vão vestindo o papel da personagem. Apenas a situação é preparada, as pessoas que vão vestindo o papel da personagem, vão-no fazendo de forma espontânea, com base naquilo que são as suas experiências ou com base naquilo que viram ou ouviram161. Pode acontecer que algumas pessoas não queiram participar por se sentirem demasiado expostas. Esclareça os objectivos da actividade e se as pessoas insistirem em não participar, respeite-as. Esta técnica possibilita ao “outro”, experienciar o que é estar no papel de determinada pessoa. O role-play pode surgir como uma oportunidade única para a aprendizagem, análise e exploração da realidade162. A espontaneidade que envolve esta técnica, possibilita que o que muitas vezes fica por dizer, se expresse, e que atitudes e comportamentos sejam mais facilmente evidenciados. É uma técnica a explorar ao nível dos diagnóstico e ao nível da construção de mensagens. Sistematizando… 1. Comece por identificar um tópico com o grupo, que considera importante ver discutido; 2. Em conjunto com o grupo, imagine uma situação real na qual é reflectida o tópico da discussão: › › › O espaço: um quarto, rua, um tribunal…; As personagens que existem nessa situação; o problema real que dá o mote à história e que está relacionado com o tópico. 3. Discutam quem vai representar quem; 4. As pessoas que permaneceram no grupo, vão substituindo a personagens ou personagens da história real. A sua fala é espontânea e uma reacção à situação em que é colocada. A ONG CARE relata como na Zâmbia, durante uma avaliação participativa, o role-play teve um contributo significativo para descrever a forma como os rapazes normalmente abordavam as raparigas, e as consequências enfrentadas pelos jovens depois de terem estado envolvidos numa relação sexual163. maria teresa silva santos 5&1"0(.$%#'2&6#0&1 Este método é particularmente vantajoso para a compreensão e tomada de consciência de que existem problemas e oportunidades, que tendem a surgir com mais ou menos frequência, todos os anos na mesma altura: escassez de comida, ausência de dinheiro, frequência de doenças, aumento das despesas etc. Ao analisar as diferentes variáveis, fica mais fácil estabelecer relações entre problemas e entre oportunidades. Por exemplo, enquanto no terreno no Vale da Amoreira, a equipa do CRIAS tomou conhecimento que, para as mulheres que estão desempregadas a maior parte do ano, o Verão surge como uma oportunidade de emprego. É durante o período de férias, que as mulheres do Vale da Amoreira encontram uma oportunidade para trabalharem, substituindo as auxiliares de limpeza que se encontram em gozo de férias. Esta constatação viria a reorientar o trabalhão com este grupo, para outra altura do ano, em que as mulheres estivessem menos ocupadas. Esta técnica começa com a definição de um tópico. De seguida, pergunte ao grupo como gostaria de o analisar, ao longo de um ano, ao longo das estações do ano, por trimestre… deixe ao grupo esta decisão. Por fim, tente compreender com o grupo, como este tópico é desenvolvido ao longo do período de tempo escolhido. Na vila de Basavapuram164, na Índia, esta técnica permitiu visualizar de que forma o emprego, o rendimento, e as despesas se distribuíam ao longo do ano. A apresentação final tomou o seguinte aspecto: In MASCARENHAS, James — Participatory Rural Appraisal and Participatory Learning methods: recent experiences from Myrada and South India. RRA Notes. London: IIED. 13 (1991) p. 9 73 74 guia de boas práticas O Facilitador Como assegurar a participação das pessoas que integram o grupo focal? Ao técnico não cabe decidir o que é melhor para as pessoas, mas acima de tudo ouvir e aprender com as próprias pessoas as dificuldades que encontram, facilitar a análise pelas próprias pessoas, promover o desenvolvimento do sentido de consciência, de responsabilidade e de partilha165. É aliás esta a razão que explica que o técnico seja antes chamado de facilitador. A participação, porque assenta no diálogo, na partilha e promove a discussão, exige por parte do facilitador uma muito boa preparação166. Antes demais, e se vai facilitar uma sessão, um workshop, reflicta sobre as suas próprias atitudes167 Pondere e reflicta nas recomendações que apresentamos: › › › › › › › › › › › › › › › Não participe na discussão, mas promova a discussão pelo grupo através de perguntas, jogos e de outras actividades que suscitem a participação activa por parte das pessoas168; Procure não interromper ninguém169; Evite dar a sua opinião, ou emitir juízos de valor antes da participação de todos170 correndo o risco de bloquear que outras pessoas falem abertamente sobre determinado assunto. Isto não impede no entanto, que não questione juízos ou opiniões que sabe serem nocivas, como por exemplo o estigma. Neste caso esteja preparado para falar a favor das pessoas com VIH/Sida, de forma assertiva, evitando em todos os casos a agressividade171; Não tire notas enquanto estiver a ouvir172; Evite dizer às pessoas o que não devem ou não podem fazer; Sorria e procure dirigir-se a todas as pessoas presentes173; Use frases curtas e fale durante pouco tempo de seguida; Evite o uso de linguagem complicada; Fale com honestidade sobre comportamentos sexuais, opções e alternativas; Repita a informação sem ser aborrecedor(a); Certifique-se que as pessoas estão a compreender o que vai sendo dito; Evite monopolizar a discussão; Transmita informação apenas quando necessário; Ouça com atenção; Cumpra os horários definidos pelo grupo. Este processo de facilitação, associado ao processo de participação, permite-lhe a si e ao grupo identificar e compreender as causas e os factores determinantes de determinado comportamento. maria teresa silva santos A facilitação ajuda a colocar a descoberto a importância de ouvir as pessoas, e procurar com elas a melhor forma de contornar obstáculos. Sem as ouvir, o técnico nem conhecimento teria da existência destes obstáculos e todo o material de I.E.C. correrá o risco de ser desadequado à realidade concreta em muitas pessoas vivem. 75 7. L./".)2%"+.0%8,/3" O primeiro pensamento que deverá ter em mente, é que a proposta que aqui lhe deixamos para a produção de material de I.E.C. adequado e eficaz não é rápida. Muito pelo contrário, a abordagem participativa é frequentemente acusada de morosa, pelo tempo que envolve a discussão e a participação de todos os membros da comunidade. De facto, “ser participativo” não é ser rápido174. No entanto, mantenha também a certeza de que ser participativo lhe oferece maiores garantias de adequabilidade do material de I.E.C. produzido. 70.1%2"'(#'-#0*"8*# Antes de começar, procure tanto quanto possível, compreender o contexto no qual vai trabalhar. Pode fazê-lo de forma exploratória, sendo também possível que alguma desta informação venha a surgir já no trabalho com a comunidade ou grupo. 9)&1'#':"$,1'(&'-#;)0%(&("'-#;'<)";'=&%'*$&>&1?&$@ É importante conhecer o mais possível as características da comunidade ou grupo com quem vai trabalhar. Este conhecimento prévio irá permitir-lhe adequar o seu material pedagógico, o conteúdo das suas sessões, a linguagem, identificar as dinâmicas e técnicas mais adequadas. Para promover uma participação efectiva procure tanto quanto possível obter informações sobre os seguintes aspectos: 1. Faixa etária; 2. Sexo; 3. Taxa de incidência de IST; 78 guia de boas práticas 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Situação familiar; Nível de escolaridade; Espaços de lazer e opções mais procurados para ocupação de tempos livres; Mitos e crenças relacionados com IST; Filiação religiosa; Emprego; Índice de pobreza; Situação legal; Língua predominante; Normas culturais predominantes175. É possível que muitas destas informações venham a tornar-se mais claras e surjam durante as sessões com a comunidade. Serviços de saúde disponíveis Procure identificar os serviços de saúde disponíveis na comunidade ou os serviços a que o grupo com quem trabalha tem acesso. Apure se a comunidade ou o grupo tem acesso a preservativos e a tratamento. Procure saber da relação entre os cuidadores de saúde e a comunidade ou grupo com quem trabalha. Estas informações são úteis para compreender os problemas actuais com que a comunidade se confronta, mas também para perceber se os serviços e estruturas existentes têm capacidade para responder às mudanças de comportamentos do grupo após a colaboração com o seu Projecto. No Uganda, apesar dos esforços desenvolvidos na prevenção e controlo do VIH/sida, a população mais rural e marginalizada continua a sentir dificuldades no acesso aos serviços de saúde176. Esta informação era de extrema importância para a Associação para o Planeamento Familiar do Uganda, já que de pouco servia sensibilizar as pessoas se depois não existiam serviços de apoio que dessem continuidade ao trabalho iniciado. Ao mesmo tempo que desenvolveu iniciativas de educação para a saúde, a Associação apoiou a criação de serviços de aconselhamento e testagem voluntária capazes de chegar às pessoas. Sendo as igrejas o sítio que mais gente reunia, a Associação para o Planeamento Familiar do Uganda acordou numa parceria com os líderes religiosos locais que, em muitos casos disponibilizaram as próprias instalações da igreja, para a realização de sessões. maria teresa silva santos Serviços de apoio social disponíveis A mesma preocupação deve estar presente na análise dos serviços sociais disponíveis. É importante perceber as dificuldades com que se defronta a comunidade ou grupo no acesso a serviços de apoio social. Ao mesmo tempo, é importante perceber se as alterações induzidas pelo seu Projecto vão provocar um aumento da procura de determinados serviços que não estão disponíveis. Nesse caso, procure resolver primeiro estes problemas. Em 2002, o Centro para a Juventude de Temeke em Dar-es-Salam (capital da Tanzânia) iniciou um projecto com o objectivo de promover o aconselhamento e testagem voluntária177. As actividades do Centro incluíram o desenvolvimento de serviços de aconselhamento e testagem voluntária, com pessoal formado para lidar com a comunidade jovem. Incluiu também actividades de sensibilização dos jovens, políticos locais e mesmo da comunidade. O diagnóstico levado a cabo pelo Centro para Juventude de Temeke, veio no entanto a revelar que os jovens tinham receio de fazer o teste, argumentando que o acesso ao tratamento era difícil e que não havia apoio para ajudar as pessoas que vivessem com VIH/sida178. A("0*%,-&$'#)*$&2'BCD2E'&22#-%&3F"2'#)'#$G&0%2;#2'&'("2"0=#1="$'#';"2;#' tipo de trabalho Promover a criação de parcerias ou evitar duplicações, é o objectivo deste levantamento. De facto, se já houver uma instituição a desenvolver o mesmo tipo de trabalho junto de uma comunidade ou grupo mais vulnerável às IST/VIH/Sida, procure estabelecer uma relação de parceria, ou reoriente a actuação da sua ONG para zonas ou grupos vulneráveis sem apoio. Criar um ambiente facilitador O papel dos líderes Professores, líderes políticos, líderes religiosos, líderes de grupo ou da comunidade são muitas vezes forças que ora bloqueiam, ora são uma fonte de apoio para o sucesso do seu projecto. Um análise dos actores chave tem como objectivo identificar: › › › que actores exercem um ascendente considerável sobre a comunidade ou grupo; que actores detêm o acesso a recursos e podem influenciar as opções da comunidade; as expectativas e interesse dos actores chave relativamente às implicações do material de I.E.C. que propõe produzir. 79 80 guia de boas práticas A identificação da importância que o material de I.E.C. representa para os actores chave e o seu nível de influência sobre o projecto são fundamentais para: › › ajudá-lo a identificar estratégias de negociação que possam potencializar os actores que têm um papel positivo; para procurar que os que têm uma ascendência negativa revejam as suas posições179. Uma análise dos actores intervenientes num projecto poderá ajudá-lo a compreender as forças e interesses no seu projecto. 70.1%2"'(#2'&-*#$"2'&H"-*&(#2':"1#'2")':$#I"-*# O primeiro passo consiste em listar todos os actores, directa ou indirectamente afectados pelo projecto, de forma desejada, ou de forma não desejada. O passo seguinte passa por classificá-los em “actores primários” ou “actores secundários”. Os actores primários são todos aqueles que são directamente, desejada ou indesejadamente afectados por um projecto. Os actores secundários são todos os que são indirectamente, afectados, de forma desejada ou indesejada pelo projecto180. De seguida procure identificar os interesses dos actores chave, qual a sua capacidade para influenciar o projecto e por fim qual a importância destes actores para o seu projecto. Com o objectivo de clarificar este apontamento, foi concebida uma situação não baseada em factos reais, fictícia! Imagine que a sua instituição tinha como principal objectivo aumentar o número de jovens rapazes e de jovens raparigas informados relativamente à saúde sexual e reprodutiva. Este objectivo seria conseguido através de sessões de educação para a saúde, em que o activista da sua instituição iria para as entradas das escolas, promover sessões e actividades de rua. Neste exemplo, são actores directamente implicados pelo seu projectos os jovens rapazes e as jovens raparigas, que têm interesse em aumentar os seus conhecimentos sobre sexualidade. A sua capacidade para influenciar o sucesso ou fracasso do projecto é relativa, ficando dependente da sua presença às sessões. O projecto ia contudo contra os interesses dos pais, que pretendiam preservar a inocência dos seus filhos. Contrariamente aos alunos, eles têm bastante capacidade para maria teresa silva santos influenciar o projecto, proibindo os seus filhos de se envolverem nas actividades e fazendo pressão sobre os órgãos competentes para proibir a realização das sessões à entrada das escolas. Relativamente aos professores, este projecto em nada satisfaria o seu interesse de monopolizar a educação para a saúde, pela qual eram remunerados extraordinariamente. No entanto, os professores tinham relativa capacidade para influenciar o progresso do projecto, já que a sua ascendência sobre os alunos era nula. Traduzindo esta informação para uma tabela que o ajudaria a organizar estratégias de negociação e de influência junto dos actores chave da comunidade, teria: Interesse Capacidade para influenciar o seu projecto Em que medida os interesses do actor são satisfeitos pelo seu projecto Actores primários 1 Jovens raparigas Mais informação sobre sexualidade -+ ++ 2 Jovens Rapazes Mais informação sobre sexualidade -+ ++ Actores secundários 3 Pais Manter os filhos afastados da discussão sobre sexualidade ++ - 4 Professores Domínio do papel de educador -+ - 81 82 guia de boas práticas Se traduzir esta informação para um gráfico iria obter a seguinte visualização: Interesses são satisfeitos pelo Projecto Interesses não são satisfeitos pelo Projecto 2, 1 4 Pouca capacidade de influência 3 Muita capacidade de influência Árvore de problemas para criação de um ambiente facilitador Identificados o interesse e a capacidade para influenciar o projecto, por parte dos diferentes actores envolvidos, torna-se necessário procurar soluções para obter o consentimento dos actores chave que possam bloquear o sucesso da acção. A utilização da árvore dos problemas é uma possibilidade, colocando: › › nas raízes os actores cujos interesses são opostos ao projecto e os “porquê”; na cúpula da árvore, as soluções possíveis para obter o seu consentimento181. Seguindo o nosso exemplo teríamos: (ver esquema da página seguinte). Um diagnóstico participativo levado a cabo numa aldeia rural, mostrou que havia muita gente doente a ser apoiada em casa, o que era um fardo pesado, pois o cuidador não ficava livre para a sua actividade remuneratória fora de casa. No entanto, os mais velhos recusavam-se a substituir a opção de cuidar em casa, pela opção do hospital. Era necessário negociar com os mais velhos e/ ou encontrar uma solução alternativa. Os gestores do projecto acabariam por desenvolver um programa de apoio domiciliário gerido pela própria organização, libertando assim os cuidadores para o exercício de uma actividade geradora de rendimentos182. maria teresa silva santos Convidar os professores a serem parceiros do projecto dentro da escola. Analisar com os professores as actividades de rua desenvolvidas pelo promotores do seu projecto. Realizar actividades de rua e recreativas para informar e promover comportamentos e atitudes seguras junto dos jovens. Jovens raparigas e jovens rapazes querem aumentar os seus conhecimento sobre sexualidade. Professores querem preservar o domínio do papel de educador. Realização de sessões de sensibilização junto dos pais para a importância de comportamentos e atitudes de risco. Pais querem manter os filhos afastados das questões relacionados com sexualidade com receio que com essa discussão se esteja a promover o início da vida sexual dos jovens. Em outras circunstâncias, no entanto, poderá concluir que a negociação com os actores chave não é possível. Poderá defrontar-se por exemplo, com professores ou líderes religiosos que considerem que é seu o papel de ensinar sobre sexualidade, e não pretendam abrir mão desta prerrogativa183. 83 84 guia de boas práticas Alice Welbourn184 sugere que se procure o consentimento e até mesmo o apoio dos líderes comunitários, explicando-lhes em primeira mão de que trata o trabalho que pretende desenvolver. Desta forma obtém o consentimento do líder, para além de um eventual mobilizador da comunidade. Relativamente à possibilidade dos líderes comunitários participarem nas discussões com os grupos focais com quem pretende desenvolver o seu trabalho, não se esqueça que com essa estratégia corre o risco de ter o debate monopolizado ou condicionado pela presença de um líder. Isto é, as pessoas poderão experienciar mais dificuldade em expressarem uma opinião que não seja idêntica, ou que não vá ao encontro do interesse do líder. Os líderes religiosos O papel de líderes religiosos de diferentes profissões de fé continua a ter um ascendente de relevo junto de muitos grupos, comunidades ou países. Em Portugal por exemplo, estima-se que 89,8% da população seja católica185. A influência que Igrejas e outras organizações de fé têm desempenhado no que respeita o VIH/sida, tem sido, no entanto, controversa. Na África subsariana, por exemplo, as igrejas têm sido pouco efectivas no que respeita os esforços desenvolvidos na prevenção, estigma e discriminação associadas ao VIH186. Na verdade, na medida em que as Igrejas estão presentes e exercem um forte ascendente sobre atitudes e comportamentos, existe um imenso potencial para o papel das Igrejas ao nível da prevenção, controlo, e apoio às pessoas que vivem com VIH/sida ou que são afectadas pelo vírus. Torna-se por isso necessário envolver mais os líderes religiosos. Mamman Musa Punta, é um muçulmano que em 1993, soube que vivia com VIH, tendo-o assumido publicamente em 2001. A razão porque decidiu assumir publicamente que vivia com VIH, ficou a dever-se à constatação do maria teresa silva santos enorme estigma e discriminação que observava nas mesquitas e igrejas. Em resposta, começou a usar a rádio e a televisão para falar sobre VIH/sida. Na rádio ActionAid Nigeria International realiza um programa de trinta minutos com o principal objectivo de contribuir para a redução do estigma. Em Julho de 2004, promoveu, em conjunto com a Society for Family Planning Health e a Reproductive Health Initiative, uma conferência que se prolongou por três dias, com igual número de cristãos e muçulmanos. No final da Conferência todos os líderes religiosos assumiram que precisavam de mais informação sobre VIH/sida e treino em aconselhamento. Entretanto, criou a Hope Initiative, uma organização não governamental que para além de apoiar a comunidade, desenvolve acções de educação e advocacia em relação ao VIH/sida. Diagnóstico de necessidades de informação e de adopção de atitudes e comportamentos seguros Um diagnóstico das necessidades de informação de determinado grupo ou comunidade, tem como objectivo identificar as lacunas de informação que precisam de ser abraçadas pelo material de I.E.C. Entretanto, como já foi referido, nem sempre estar informado, significa que a atitude ou o comportamento agem de acordo. E de facto, é muito mais difícil induzir à alteração de comportamentos e de atitudes, do que disseminar informação187. Um diagnóstico de atitudes e comportamentos de risco mais frequentes tem como objectivo identificar as alterações de comportamentos necessárias e procurar, no grupo ou comunidade, as razões que levam à perpetuação de comportamentos de risco, ou seja identificar os factores de vulnerabilidade. Estudos recentes levados a cabo na Índia revelam que existe uma correlação entre violência doméstica e a ocorrência de relações extra-conjugais fora do casamento e que estes homens apresentam mais sintomas de IST188. Neste caso, o que o diagnóstico permite constatar é que apesar da mulher ser um grupo mais vulnerável, contribuir para a redução do risco desta mulher poderá passar por elaborar material de I.E.C. dirigido ao seu parceiro também. Um diagnóstico de necessidades de informação e de adopção de comportamentos seguros pode ser levado a cabo através de pelo menos três formas diferentes, que podem ser utilizadas individualmente ou em conjunto, com o objectivo de fazer uma triangulação da informação recolhida189: 85 86 guia de boas práticas › Questionário sobre conhecimento, atitudes e práticas Como método quantitativo, os questionários são importantes quando é relevante determinar-se o número de indivíduos que entram em determinada categoria. Podem ser constituídos por perguntas abertas ou fechadas. No caso das perguntas fechadas, as respostas possíveis são avançadas no questionário, deixando ao inquirido apenas a possibilidade de marcar a resposta com que mais se identifica. Nas perguntas abertas, a pergunta é feita e é deixado um espaço em branco para o inquirido dar a resposta. Os questionários para além de serem pouco apropriados para audiências com baixo nível de literacia, são também muito dispendiosos, porque exigem uma amostra considerável que permita extrapolar percentagens190. Nos questionários com perguntas fechadas, o problema aumenta, dado que pode não prever respostas que se adequem à realidade do inquirido. Existe também a possibilidade do responsável pelo inquérito não compreender a pergunta tal como é compreendida pelo inquirido. A não ser que realize uma testagem do questionário a priori, esta situação pode vir a deixar muitos resultados por serem compreendidos. › Entrevistas As entrevistas ao contrário dos questionários, podem consumir muito tempo191. À semelhança dos questionários, as entrevistas podem produzir resultados quantitativos, e permitem controlar melhor que as perguntas são entendidas pelo inquirido da mesma forma que são entendidas pelo responsável pela elaboração do inquérito. No entanto, dificuldades associadas à importância da representatividade da amostra, o tempo envolvido e as dificuldades levantadas com a análise das respostas, fazem deste método, um meio pouco eficiente192. › Grupos focais Os grupos focais são essencialmente grupos onde a discussão sobre determinado tema é facilitada por uma facilitador experiente. Aqui, os resultados são qualitativos, explorando o conhecimento, crenças e atitudes dos integrantes dos grupos focais. Este constitui o método mais utilizado por profissionais ligados à produção de material de I.E.C.193 Tem como desvantagem, o elemento inibidor que pode surgir por se falar perante um grupo e não individualmente. A prática, sugere no entanto que os medos, crenças e dúvidas são pouco comuns em grupos com características homogéneas, e que o facto de se falar em grupo, pode até ser motivante e encorajador, em vez do contrário194. É pois importante que se percebam quais os critérios que determinam um grupo de confiança. maria teresa silva santos O grupo deve oscilar entre oito e vinte indivíduos, permitindo que todos possam ser ouvidos e participar na discussão de forma efectiva195. Atenção que para além de se constituir um importante ponto de partida, a realização de um diagnóstico tem também a vantagem de permitir a comparação de conhecimentos, atitudes e comportamentos do grupo exposto ao material de I.E.C. produzido. Neste caso constituem-se como baseline surveys196. 87 8. B.M/%","0%)&,(%0 Uma mensagem pode ser verbal ou não verbal. Quando não verbal, uma mensagem é construída por desenhos ou ilustrações capazes de comunicar. Para efeitos de simplificação, vamos analisar em separado a mensagem verbal que será discutida nesta secção, enquanto que a mensagem não verbal será discutida na secção ilustrações. Qual o ponto de partida para a construção de uma mensagem? Depois de realizados os diagnósticos das necessidades de informação e dos comportamentos de risco mais frequentes, você saberá quais as lacunas ao nível de informação197 e quais os comportamentos que precisam de ser substituídos por comportamentos mais seguros. A construção da mensagem deve pois ser a resposta capaz de preencher as lacunas verificadas ao nível de informação e/ou induzir a substituição de comportamentos de risco, por comportamentos mais seguros. Veja o seguinte exemplo: No âmbito do projecto CRIAS, implementado pela Cidadãos do Mundo entre Março e Dezembro de 2007, o principal objectivo da equipa consistiu na produção de material de I.E.C. adequado e eficaz junto dos grupos mais vulneráveis da comunidade imigrante com origem nos PALOP, residente em Portugal. O grupo focal de jovens raparigas no Vale da Amoreira, foi um dos grupos com quem se trabalhou para guia de boas práticas Necessidades de Informação a produção de material eficaz e adequado para jovens raparigas com origem nos PALOP, residentes em Portugal. O processo teve início com a realização de um diagnóstico de necessidades de informação seguido de um diagnóstico de comportamentos de risco mais frequentes. Os resultados destes diagnósticos determinariam que mensagens seriam necessárias construir198. Comportamentos de risco mais frequentes 90 Via de Transmissão/ Comportamento Mensagem O grupo acreditava que o VIH/Sida se transmitia através de: › espirro; › partilha de talheres. “Espirra, constipa que a Sida não alinha!” “Talheres e saliva, não passa a sida!” “Garfada a garfada, colherada a colherada, não transmite VIH/ sida!” Sexo sem preservativo Razões: › confiança no parceiro; › não saber dizer “Não”; › acreditar que se tem mais prazer ter relações sexuais sem preservativo do que com preservativo. “Ama e confia, sem preservativo não enfia!” “Sexo é bom, prazer é tipo bombom. Usa preservativo, para seres sempre activo!” Diferença entre conteúdos e mensagem Uma mensagem compreende uma frase ou conjunto de frases, capazes de resumir a informação que quer passar, de uma forma que seja facilmente compreendida pelos beneficiários para quem o material é destinado199. Uma boa mensagem é normalmente curta, directa ao assunto, objectiva e relevante200. A mensagem surge pois como a frase essencial, facilmente retida pela memória. É o que fica no ouvido. E é neste ponto que difere dos conteúdos, que podem ser mais extensos, dependendo do meio que escolheu para passar a mensagem. Por exemplo, se optar pela produção de um peça de teatro terá necessariamente que desenvolver um argumento que é pela sua própria natureza mais ou menos extenso. No entanto, este argumento terá de carregar de forma explícita a mensagem que o grupo terá construído em resposta aos diagnósticos realizados. É o que na língua inglesa se chama to be on message201. maria teresa silva santos Figura 5 Anúncio de utilidade pública “Kunan Kumar” — Staying Alive Os excertos do vídeo aqui apresentado foram produzidos pela MTV Índia para a campanha “Staying Alive”202. O anúncio de utilidade pública de sessenta segundos desenvolve-se a partir da história de vida de uma pessoa que gosta de correr riscos na vida, mas que no amor não corre riscos e usa preservativo. O anúncio fala-nos de um homem que em cada queda aprende uma lição e mesmo se “os ossos se partem, os mesmo ossos podem ser consertados”. A partir do segundo quarenta todos estes argumentos são associados à questão do uso do preservativo. Em conclusão, o anúncio desenvolve-se ao longo de uma curta narrativa que não começa logo com a questão do uso do preservativo, mas que tem essa questão em mente desde os primeiros segundos, ao comparar o estilo de vida de um tomador de riscos, com a sua posição no que ao sexo seguro diz respeito. 91 92 guia de boas práticas A importância de uma mensagem principal A mensagem é pois o garante de que os conteúdos não se desviam do seu objectivo principal: seja responder às necessidades de informação ou contribuir para influenciar atitudes e comportamentos de risco por atitudes e comportamentos seguros. Isto será mais fácil se tiver em mente a produção da mensagem principal. Esta mensagem principal deve ser explícita, e não competir com informações de menor relevância, passíveis de desviar a atenção do objectivo principal para que foi criada203. maria teresa silva santos No filme de trinta e quatro segundos que foi lançado no Brasil no âmbito do Dia Mundial de Luta contra a SIDA, em 2007204, são claros os apelos à não discriminação dos homens que fazem sexo com homens, assim como ao maior envolvimento dos pais na prevenção e controlo do VIH/sida. O enfoque principal da mensagem, todavia, está centrado no uso do preservativo que deve ser uma iniciativa e uma responsabilidade da própria pessoa (ver imagens da página anterior). KISS — Keep It Short and Simple Como já foi referido uma boa mensagem de I.E.C. é em princípio curta e simples, e fácil de memorizar. “Sexo sem grilo, só com camisinha!” é um exemplo de uma mensagem simples e curta. Esta foi uma campanha lançada no Carnaval pelo Conselho Empresarial Nacional de Prevenção ao HIV/AIDS, em 2003205. Objectividade A mensagem não deve deixar espaço para dúvidas, ou contribuirá para que o receptor da mensagem seja também ele deixado em incerteza. É importante que a mensagem seja clara e directa ao assunto a abordar, reduzindo-se o risco de dúvidas, interpretações várias e até mesmo erróneas206. A mensagem apresentada no poster, é clara: “Sem? (e o indivíduo da imagem mostra um preservativo) Não contem comigo!” A mensagem não deixa margem para dúvidas: sem preservativo, não há relações sexuais. O poster distribuído na Suíça, foi uma produção conjunta da AIDS-HIlfe e Bundesamt für Gesundheitwesen207. 93 94 guia de boas práticas Use um tipo e tamanho de letra legível Este aspecto diz respeito ao texto e é particularmente importante no caso da panfletos, desdobráveis ou cartazes. Procure escolher um tipo de letra de fácil leitura e que seja claro. Certifique-se também que o texto tem um tamanho suficiente para ser lido208. Tenha em mente que se escrever um texto usando apenas maiúsculas, ele é mais difícil de ler209. O cartaz aqui apresentado apresenta a seguinte mensagem : “Podemos escolher com quem ter sexo. Podemos protegermo-nos usando preservativo”. O cartaz foi colocado em espaços públicos, e assegura a comunicação através de um tamanho e tipo de letras legíveis. O material de prevenção foi produzido no âmbito do Projecto “Actividades de apoio para prevenir e controlar o VIH/sida na Argentina”210. Procure limitar a quantidade de informação por material211 Tendo em conta o último ponto, é fácil concluir que, um material de I.E.C. para ser eficaz, deve procurar limitar a quantidade de informação por material. Se não o fizer, maria teresa silva santos corre o risco dos beneficiários do material o acharem muito maçador, e de difícil leitura, exigindo muita concentração, e difícil de ser memorizado212. O panfleto apresentado foi distribuído pelo Ministério da Saúde do Brasil, no âmbito da campanha lançada no dia Mundial de Luta contra a Sida em 2007: “Sua atitude tem muita força na luta contra a SIDA”213. A quantidade de texto, como se pode verificar, é a menor possível e a que existe é apresentada de forma bastante simples. B'"0=#1=%;"0*#'("',G)$&2':J>1%-&2 Artistas, actores e actrizes jogadores de futebol, líderes comunitários e líderes religiosos podem exercer uma influência considerável nas atitudes e comportamentos. De uma forma geral quando uma pessoa com quem nos sentimos motivados para “imitar”, toma determinado comportamento, é possível que sinta uma forma de pressão social para agir de igual modo214. Esta é uma perspectiva que vai aliás ao encontro da Teoria da Acção Racional desenvolvida por Ajzen e a sua referência à importância de grupos ou pessoas de referências (ver pp. 35-37)215. 95 96 guia de boas práticas O poster apresentado foi criado em 2004, por uma ONG local do Camboja216, e contou com a colaboração de uma atleta famosa no país, para promover a redução do estigma em relação às pessoas que vivem com VIH/sida. No poster é possível ler-se “Qualquer pessoa com VIH pode nadar comigo… Se quiseres saber mais sobre VIH e sida, por favor, liga para o 012 999 009/12 999 009” Inthanou, a linha de telefone que significa arco-íris em português. A linha conta com nove conselheiros que disponibilizam informação sobre VIH, saúde reprodutiva e sempre que necessário, referenciam para serviços de aconselhamento, centros de testagem, e outros serviços de saúde, como acesso a clínicas para ISTs. Prestam também informações sobre tratamento, apoio e redes de pessoas que vivem com VIH para apoio psicológico. O envolvimento de pessoas com características semelhantes '>"0",-%.$%#2'(#'2")';&*"$%&1 Alguns autores consideram no entanto que o envolvimento de pessoas com características mais próximas das características dos beneficiários do seu material, será mais eficaz na mudança de comportamento. É possível que o beneficiário do material sinta uma maior identificação e que essa identificação o faça supor ser capaz. Bandura (como McGuire217) refere aliás que quanto mais próximo o seu interlocutor estiver das condições do beneficiário, mais persuasiva será a comunicação (ver pp. 46-47). Comum ao uso do envolvimento de figuras públicas ou ao envolvimento de pessoas com características semelhantes às dos beneficiários do seu material, está o facto de ambos os modelos fornecerem pistas acerca de como pensar sobre um problema e como contorná-lo218. maria teresa silva santos Este é um cartaz produzido pela UNESCO com o objectivo de combater o estigma dirigido às pessoas que vivem com VIH/sida219. A mensagem traduz o contexto de organização familiar seguido na Índia, em que as mulheres vão viver para casa das mães dos maridos. Ou seja nora e sogra coabitam. A mensagem desta sogra pode ser traduzida pelo seguinte: “O que tem de errado a minha nora viver com VIH? Ainda assim ela é minha nora! Na Índia apesar do aumento generalizado de pessoas que vivem com VIH/sida, a infecção continua a ser vista como o resultado de um comportamento imoral. É frequente que uma pessoa que viva com VIH/sida seja muitas vezes rejeitada pela família, pela comunidade e lhe seja recusada assistência médica. O cartaz socorre-se de uma mulher comum, com as mesmas características de tantas mulheres indianas, com o objectivo de promover a identificação e por via da identificação promover a redução de atitudes e comportamentos estigmatizantes. A Mensagem é adequada à realidade das pessoas a que se destina É importante que a mensagem faça referência à circunstância de vida dos beneficiários a quem se destina. Para isso, a mensagem deve fazer sugerir o contexto social, económico, de idade, de género e cultural dos destinatários da mensagens. O resultado são mensagens que fazem parte do quotidiano das pessoas, e por isso proporcionam a identificação, esperando-se com isto que influenciem atitudes e comportamentos220. Toda a mensagem que utilizar a linguagem, o vocabulário, as expressões, e mesmo a língua materna dos beneficiários a quem se destina, oferece maiores garantias de ser eficaz221. Por exemplo, de que serve escrever em português se os beneficiários do material não sabem ler português?* Uma jovem prestará mais atenção a uma mensagem escrita de uma maneira pouca familiar ou mais familiar para ela, usando palavras e símbolos que domina e compreende? De que serve escrever “pénis” ou “vagina” em material destinado a meninos * Esta afirmação no entanto não é contrária ao princípio de, no caso de imigrantes, a mensagem ser escrita na língua materna do imigrante e na língua do pais de destino, como forma de promover a integração e reduzir a exclusão. 97 98 guia de boas práticas de rua no Brasil, se estão pouco familiarizados com o vocabulário, e em vez disso utilizam “pica” ou “xoxota”?222 O conjunto de cartazes preparados pelo Ministério da Saúde do Brasil223, no âmbito da Campanha “Sua atitude tem muita força na luta contra a AIDS” que coincidiu com o Dia Mundial de Luta contra a SIDA, espelham bem as preocupações referidas. As mensagens estão escritas na linguagem coloquial usada entre jovens e imbuídas de referências às vivências próprias do jovem brasileiro: “festa”, “axé”, “barulho”, “forró”, “rock” são alguns exemplos. A carga familiar da linguagem utilizada é reforçada pelas ilustrações utilizadas: roupa, maquilhagem expressões corporais, acessórios e outros elementos da imagem. Mas sobre isso falaremos adiante. maria teresa silva santos O receptor da mensagem é esclarecido sobre o seu papel De nada serve passar uma mensagem, se ao receptor nada cabe fazer. Por isso, é bastante importante que quando produzir uma mensagem, se certifique que o receptor é esclarecido sobre o seu papel, seja uma atitude ou comportamento224. Ilhas Tiwi Austrália Nas ilhas Tiwi, no norte da Austrália, a comunidade transgénera e transexual, mais conhecida por “Sistergirls” responde por cerca de 4% da população local das ilhas. O material apresentado foi produzido pela Federação Australiana das Organizações que desenvolvem trabalho na área do VIH/sida225 e tem como objectivo promover a auto-estima e combater o estigma da população em geral, relativamente à comunidade de transgéneros, ao mesmo tempo que promove o uso do preservativo. O preservativo é apresentado como a solução para prevenir o VIH e de outras ISTs, através da mensagem: “As Sistergirls dizem: mantém-te protegida. Os preservativos protegem-nos do VIH e da maior parte das Infecções Sexualmente Transmissíveis.” Procure apresentar razões para a solução proposta Não basta dizer o que fazer. É necessário, que exponha as razões porque é necessário optar-se por determinada solução. Um indivíduo tem de sentir-se seguro, de que a solução proposta é a que mostra ser mais adequada e mais eficaz. Desta forma fortalece 99 100 guia de boas práticas a solução proposta e tem mais garantias de conduzir a uma mudança de atitudes e de comportamentos226. know your HIV status - get tested Knowing your HIV status can save your life, and the lives of others! If you are HIV negative, you can make the choice to stay that way. If you are HIV positive, you can find ways to stay healthy. You can go onto anti-retroviral treatment (ART) at the right time. You can find ways to protect yourself and those around you from infection. Speak to your health worker about free confidential counselling and HIV testing for you and your partner. ENGLISH Red Ribbon Resource Centre (011) 880 0405 AIDS Helpline 0800 012 322 www.aidsinfo.co.za Figura 6 Poster para a promoção do teste do VIH — Khomanani Campaign Consortium Neste material, é avançado um conjunto de razões para fazer o teste do VIH: “Ao saberes o teu estado viral podes salvar a tua vida e a vida dos outros: › › › › Se fores VIH negativo, podes tomar a decisão certa para continuares negativo; Se o resultado for positivo, podes encontrar maneiras de te manteres saudável; Podes iniciar o tratamento anti-retroviral na altura certa; Podes encontrar maneiras de te protegeres a ti e aos outros. Fala com o teu profissional de saúde sobre aconselhamento e testagem para ti e para o teu parceiro.” maria teresa silva santos O cartaz é um produto da campanha Khomanani desenvolvido pelo Governo da África do Sul227 que tem como objectivo contribuir para a redução de novos casos de infecção por VIH/sida, aumentar a adesão ao tratamento e promover o apoio existente para pessoas que vivam com VIH/sida. Percepção do risco É importante não confundir percepção do risco com a ideia de fatalidade ou mesmo morte, como são frequentemente associadas. Sendo verdade que muitas pessoas não têm atitudes e comportamentos seguros porque não se percepcionam a si próprias em situação de risco (ver Modelo de Crenças em Saúde), então significa que, o que é necessário é promover a percepção do risco por parte das pessoas. A associação da ideia de risco à ideia de morte, pode ter efeito o perverso de contribuir para o adiamento da testagem, por medo, por exemplo, ao mesmo tempo que contribui para o aumento da ideia de estigma. Este tem sido o caso mostrado pela experiência de alguns países, como veremos adiante. No cartaz produzido pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido228, é desenvolvida a ideia de risco, associada ao facto de muitas das ISTs não apresentarem sintomas visíveis, pelo que a partir do momento que não se use preservativo, está-se em risco de contrair uma IST. A mensagem diz “Eu vou transmitir-te uma”. Nesta mensagem a ideia de risco foi explorada, sem que fosse necessário recorrer à ideia de morte ou de fatalidade. Figura 7 Cartaz para a promoção do uso do preservativo — Department of Health 101 102 guia de boas práticas Até que ponto o apelo ao medo em campanhas para promoção ("'&*%*)("2'"'-#;:#$*&;"0*#2'2"G)$#2'K'",-&6@ O apelo ao medo em campanhas de promoção de comportamentos seguros divide investigadores e profissionais. Teoria de condução do medo Para um conjunto de investigadores, o medo quando usado de modo moderado ou reduzido em mensagens de saúde, é mais eficaz na promoção de comportamentos seguros do que o medo elevado. Segundo esta teoria os indivíduos experimentam alguma forma de ansiedade, tensão ou medo quando confrontados com informação sobre saúde que os coloque em possível situação de perigo229. A ansiedade, tensão ou medo experienciados pelo indivíduo podem surtir dois tipos de reacção: › › seguir as recomendações sugeridas pela mensagem para reduzir o perigo; evitar confrontar-se com mensagens que lhe provoquem ansiedade, reduzir a possibilidade de determinada situação ocorrer consigo ou ainda descredibilizar a fonte da mensagem230. Para os defensores deste modelo, um indivíduo é tanto mais susceptível de se deixar persuadir pelas recomendações sugeridas pela mensagem, quando está ao seu alcance a possibilidade de reduzir o perigo. Para estes autores, quanto maior o nível de medo transmitido pelas mensagens, e quanto maior a sensação de redução do medo devido às medidas oferecidas passíveis de proteger o indivíduo, mais eficaz será a mensagem. Por exemplo, se a mensagem referir a possibilidade de morte, e se a mensagem assegurar que o indivíduo não morrerá, desde que siga determinado comportamento, a possibilidade do indivíduo passar a seguir o comportamento recomendado é bastante elevada231. No entanto, quando o medo que uma mensagem gera é tão intenso que as acções recomendadas pela mensagem não são suficientes para gerar a confiança entre os indivíduos, então a resposta passará por evitar confrontar-se com a mensagem, reduzir a possibilidade de determinada ocorrência acontecer consigo, entre outras defesas possíveis232. Por exemplo, se a mensagem referir que determinado problema de saúde pode conduzi-lo à morte, mas se lhe propuser uma solução que apenas reduza a probabilidade de vir a morrer, a sua reacção pode passar por sempre que vir determinada mensagem, “desviar o olhar”. Sente que não vale a pena seguir as recomendações da mensagem, porque a solução proposta não elimina por completo a possibilidade de vir a morrer. maria teresa silva santos Em conclusão, reduzidos ou moderados níveis de apelo ao medo são vistos como passíveis de serem mais eficazes na mudança de comportamento, do que elevados níveis de apelo ao medo233. O Modelo da resposta paralela Outra corrente defende que o apelo ao medo induz à mudança de comportamento. É o caso do “modelo da resposta paralela” proposto por Leventhal. Segundo este modelo, o apelo ao medo gera duas respostas distintas: › › o controlo do perigo; o controlo do medo. Estas duas respostas ocorrem em paralelo e em simultâneo234, ou seja quando exposto ao apelo do medo, o indivíduo reage para controlar o perigo e reage para controlar o medo. O controlo do perigo diz respeito às acções ou estratégias desenvolvidas pelo indivíduo para controlar o perigo. Esta é uma resposta cognitiva ao medo que a pessoa experiencia. A partir desta resposta o indivíduo desenvolve acções capazes de o proteger do perigo235. Quando a resposta passa pelo controlo do medo, o indivíduo experiencia formas de o controlar (como por exemplo a negação). Neste caso estamos perante uma reposta emotiva ao medo. Em resumo, para o autor deste modelo, o apelo ao medo gera comportamentos protectores por parte do indivíduo. O medo que provoca é mais importante pela resposta cognitiva que gera, ou seja, a estratégia que o indivíduo gera para controlar o perigo, do que pela ansiedade que provoca. Teoria da motivação para a protecção Para R. Rogers, como para Leventhal, o medo é mais importante para ajudar o indivíduo a compreender a dimensão do perigo, do que pela ansiedade que provoca236. A avaliação que o indivíduo faz de determinada situação vai depender de três factores: › › › a percepção da gravidade do perigo ou ameaça; a probabilidade de determinada situação de perigo ocorrer com o indivíduo, caso não sejam tomadas medidas preventivas; a eficácia da resposta para prevenir a ocorrência da situação de perigo237. 103 104 guia de boas práticas De acordo com este modelo, um indivíduo seguirá as recomendações de uma mensagem, quanto mais convencido estiver da gravidade da ameaça e da sua susceptibilidade à ameaça (o risco que corre de vir a passar pela situação de perigo). É possível que, enquanto estiver a analisar este modelo, se recorde do Modelo de Crenças em Saúde (apresentado nas pp. 37-40). R. Rogers reconhece que as variáveis apresentadas na Teoria da Motivação para a Protecção são as mesmas que as variáveis identificadas pelo Modelo de Crenças em Saúde238. No entanto, adianta que a mais valia desta teoria assenta no facto das variáveis identificadas terem sido manipuladas experimentalmente, com o objectivo de estudar os resultados gerados. O que os resultados permitiram verificar, é que da leitura das variáveis, o indivíduo retira o seu nível de motivação para se proteger, que por sua vez determinará o nível de mudança do seu comportamento239. Outros argumentos a favor do apelo ao medo Os defensores do uso do medo em campanhas de prevenção do VIH/sida, argumentam que o uso do medo é efectivo, porque é capaz de prender a atenção do espectador, beneficiando a memorização da mensagem. Numa pesquisa conduzida entre jovens universitários foram utilizados cartazes que faziam uso de diferentes estratégias. O primeiro cartaz usou o factor “choque”* para passar a mensagem “Don’t be a F--idiot”, enquanto que o segundo o factor medo, “If you get the AIDS virus now, you and your driver’s license could expire at the same time”** e o terceiro informava, “Acquired Immunodeficiency Syndrome”***240. Nos três cartazes foi acrescentada a frase “usa preservativos”. A primeira fase do estudo revelou que o cartaz que utilizou o factor choque, revelou maiores índices de atenção, recordação e reconhecimento quando comparado com os restantes posters. Na segunda fase da pesquisa, os alunos que tinham estado envolvidos na primeira fase, foram confrontados com um conjunto de material de prevenção, não só relacionado com VIH/sida mas com outras situações. A ideia deste estudo consistiu em perceber que grupo de indivíduos (se os que tinham nomeado o factor choque, se os que tinha nomeado o factor medo, ou se os que tinham nomeado o factor informação) se sentiam mais impelidos a recolher informação sobre VIH/sida. * Para o autor a palavra choque em publicidade implica uma associação entre o factor surpresa e o factor violação da norma social instituída. A título de exemplo refere o caso de uma campanha da marca F.C.U.K. que numa anúncio publicitário desafia “F.C.U.K. all night long”, numa atitude desafiadora da norma social que coloca o sexo num espaço privado. ** “Se tiveres o vírus da sida, tu e a tua carta de condução têm o mesmo prazo de validade”. *** Síndroma da Imunodeficiência Adquirida. maria teresa silva santos Os alunos que mais material relacionado com VIH/sida recolheram foram aqueles que na primeira fase da pesquisa tinham nomeado o poster com o uso do medo, na sua atenção, recordação e reconhecimento241. A pesquisa conclui por isso que o medo induz à alteração de comportamento, mais do que o choque ou a informação. Embora esta pesquisa venha demonstrar que o uso do medo mostre ser mais eficaz na mudança de comportamento do que o uso do factor choque, o estudo oferece sérias limitações, como por exemplo o facto do comportamento que é medido estar relacionado com a procura de informações (a quantidade de material relacionado com VIH/sida que é recolhida pelos estudantes) e não com o uso consistente do preservativo. Como estes estudo, muitos outros estudos que defendem que o apelo ao medo é eficaz na promoção do uso consistente do preservativo, apresentam um conjunto de fragilidades que iremos analisar com maior cuidado de seguida. Crítica às teorias apresentadas Muitas das investigações que conduziram aos resultados avançados pelas teorias apresentadas foram conduzidas em laboratório, e por isso falham ao excluir um conjunto de variáveis que influenciam o processo de decisão de um indivíduo242. Assim, excluem por exemplo de que forma as relações do indivíduo influenciam as suas decisões e de que forma constrangimentos económicos, culturais, sociais e de género impactam sobre o indivíduo. Por isso mesmo, entendem o indivíduo como tomando todas as suas decisões com base na informação recebida. Ou seja, todas as decisões são função da informação, que lhe chega, o que não acontece na vida real. Por outro lado, mesmo que se considere que o apelo ao medo possa ser eficaz na promoção do uso consistente do preservativo, este ganho não pode ser dissociado de outras eventuais perdas, como por exemplo, o aumento da estigmatização em relação às pessoas que vivem com VIH/sida ou os efeitos sobre a testagem, com o número de pessoas que procuram fazer o teste do VIH/sida a diminuir. Efeitos adversos em resultado do apelo ao medo Para um conjunto de autores, o apelo ao medo pode gerar respostas contrárias ao esperado pelos criadores das mensagens. Estas podem incluir243: › › › evitar visualizar a mensagem e desligar; evitar processar a componente de ameaça da mensagem; o indivíduo não se revê na mensagem e considera que “isso” acontece apenas aos outros; 105 106 guia de boas práticas › o indivíduo procura identificar argumentos que contradigam a veracidade da mensagem. Para alguns autores estas respostas, são importantes, na medida em que elas contribuem para diminuir a percepção do risco que é feita pelo indivíduo, quando na verdade não contribui para diminuir a sua situação real de risco. O indivíduo situado em relações de poder diferenciadas Um estudo levado acabo nos Estados Unidos no Estado da Geórgia mostrou que mulheres a viverem em situação de pobreza, e em especial mulheres de minorias urbanas, estavam em situação de maior risco de contraírem VIH/sida244. Entre os factores que mais contribuíam para colocar estas mulheres em situação de risco acrescido, encontravam-se as relações sexuais mantidas com homens com um historial de comportamentos de risco. As mulheres sem poder que estavam nestas relações eram submetidas a múltiplas formas de abuso, incluindo relações sexuais forçadas. O estudo revelava também que havia maior probabilidade destas mulheres terem histórias de consumo de marijuana e álcool. As mulheres que eram forçadas a manter relações sexuais mostravam também maiores probabilidades de maria teresa silva santos terem sido vítimas de abuso sexual por parte do seu parceiro e acreditavam que pedir-lhes para usar preservativo, podia levar a uma situação potencialmente violenta245. Muitas mulheres que estão em situação de risco de serem infectadas com VIH e que solicitam o uso do preservativo esbarram com a resistência e até mesmo violência dos seus companheiros246. O diferencial de poder, determina que, numa variedade de situações, alguns indivíduos detenham poder sobre outros, e por isso a negociação do uso do preservativo não se faz em relações de igualdade, mas de desigualdade. Quais os resultados para esta mulher depois de confrontada com uma mensagem que faz apelo ao medo? Quais as consequências para todos os indivíduos que estão em relações sexuais de exercício desigual do poder? Limitações do contexto onde se situa o indivíduo Um estudo de 1996, realizado nos Estados Unidos, dava conta que se podia adivinhar a elevada percentagem de jovens que tinham iniciado a actividade sexual, pelo número de ISTs diagnosticadas e gravidezes não planeadas, neste grupo etário247. O mesmo estudo dava conta das inúmeras barreiras enfrentadas pelos jovens no que toca o acesso e uso consistente do preservativo: confidencialidade, custo, o acesso, vergonha, objecção por parte do parceiro. As jovens raparigas, em particular, revelaram experienciar mais resistência quando pediam ajuda numa loja para encontrar os preservativos, do que os rapazes. Um estudo conduzido na República Democrática do Congo em Kinshasa e Bukavu, entre Abril e Maio de 2004, mostrou que barreiras socioculturais e a rígida obediência ao Vaticano, estava a impedir muitos jovens de receberem informações correctas no que dizia respeito à educação sexual248. Mostrava também que muitos educadores de pares, técnicos de projectos, bloqueavam o acesso destes jovens a preservativos. E o que dizer do casos em que crianças órfãos se prostituem na rua como estratégia de sobrevivência? (ver p. 32) Quais os efeitos para estas pessoas de uma campanha que se socorra do apelo ao medo? Será que a falta de acesso a preservativos vai conduzi-los para uma estratégia de abstinência? O uso do medo em campanhas de prevenção, implicações para as pessoas que vivem com VIH Na Austrália, o aumento da incidência do VIH/sida entre homossexuais conduziu à produção de campanhas que usaram o medo para promover a prevenção. Para compreender o impacto deste tipo de campanhas foi realizada uma pesquisa junto de quatro grupos focais, diferenciados por idade e seropositividade249. Nos grupos foram analisados cinco posters, três dos quais utilizaram o efeitos secundários do tratamento para desencadear o medo, e dois usaram a morte para o mesmo fim. 107 108 guia de boas práticas “Tomar tratamento para o VIH pode ser um problema bem gordo. Evitar o VIH é simples: Usa preservativo. Não há nada de positivo em ter VIH.*” “Os tratamentos para o VIH fizeram-me perder a face — literalmente. Evitar o VIH é simples: Usa preservativo. Não há nada de positivo em ter VIH.**” “Gerir o tratamento para o VIH pode ser um problema bem “merdoso”. Evitar o VIH é simples: Usa preservativo. Não há nada de positivo em ter VIH.***” Um conjunto de temas saiu da discussão com os grupos focais, como a estigmatização das pessoas que vivem com VIH/sida, a vergonha, e o cepticismo relativamente ao valor do tratamento. Daqui resultou claro que o uso do medo associado aos efeitos secundários dos tratamentos anti-retrovirais tem resultados pobres a vários níveis250. * “Taking HIV treatments can be one big fat problem. Avoiding HIV is simple-Use condoms. There’s nothing positive about HIV.” ** “Treatments for HIV made me loose face — literally. Avoiding HIV is simple — Use condoms. There’s nothing positive about HIV.” *** “Managing HIV treatments can be really shitty. Avoiding HIV is simple — Use condoms. There’s nothing positive about HIV.” maria teresa silva santos A experiência do Uganda, por outro lado, chama-nos a atenção para as implicações de uma mensagem pela negativa, através do medo. “Beware of AIDS. AIIDS kills” traduz o mote de muitas das campanhas levadas a cabo, no início das campanhas de prevenção desenvolvidas no país. As implicações foram o aumento do estigma relativamente às pessoas que viviam com VIH/AIDS. A constatação deste facto viria a determinar uma abordagem pela positiva, capaz de promover a prevenção, o controlo e a redução do estigma251. O medo e o impacto na promoção do teste do VIH Estima-se que na União Europeia, 30% das infecções possam estar subdiagnosticadas, o que levou Coordenadores Nacionais dos Programas do VIH/sida a identificar a promoção da testagem como uma medida prioritária252. Uma revisão da literatura existente sobre a realização do teste do VIH/sida foi realizada com o objectivo de identificar que factores promovem o teste e que factores contribuem para que o indivíduo não faça o teste253. Foram seleccionados artigos publicados apenas depois de 1996 (data em que foi introduzida a medicação anti-retroviral) redigidos em inglês, e com dados recolhidos nos chamados países ocidentais. Foram analisados cinquenta estudos. Da revisão destes estudos concluiu-se que: › › os indivíduos não sentem necessidade de realizar o teste porque não se percepcionam em situação de risco; os indivíduos não realizam o teste porque têm medo das consequências de estarem infectados. Segundo o mesmo estudo, as consequências que mais receiam, estão relacionados com o custo social da doença e nomeadamente a estigmatização. Esta segunda razão, foi apontada como tendo menos peso do que a primeira razão254. Daqui se retiram duas importantes notas. Primeiro, se o medo é já apontado como uma razão para não realizar o teste, o uso do medo em campanhas de prevenção pode vir a agravar o medo que impede a realização do teste. Esta é uma assumpção que carece de verificação. Segundo, os estudos apontam para um aumento da estigmatização das pessoas que vivem com VIH quando campanhas de prevenção recorrem ao medo. Se o medo de fazer o teste do VIH está relacionado com o custo social da doença, nomeadamente com a estigmatização, é de supor que numa ambiente de maior estigmatização, mais medo os indivíduos terão de realizar o teste. Uma abordagem pela positiva Mesmo quando alguns autores consideram que o apelo ao medo pode ser eficaz, consideram também que uma abordagem pela positiva tem produzido melhores resultados255. Uma 109 110 guia de boas práticas abordagem pela positiva é aquela que é capaz de desenvolver competências que ajudem o indivíduo a negociar o uso do preservativo, seja na colocação do uso do preservativo, seja “premiando” um comportamento que já é seguro. Uma mensagem pela positiva atinge três objectivos: a prevenção, o controlo e a redução do estigma. Você pode saber como se proteger, mas se o medo estiver instalado dentro de si, você irá fazer o teste? Uma mensagem pela positiva, é capaz de promover a prevenção, ao mesmo tempo que não o inibe de fazer o teste. Isto não significa que uma mensagem dirigida para a prevenção tenha de incluir uma mensagem para redução do estigma. Significa sim, que uma mensagem que promova a prevenção deve seguir uma abordagem pela positiva, sob pena de trazer implicações negativas, nomeadamente o aumento do estigma. A mensagem pode ser traduzida da seguinte forma: “O amor não protege do VIH. Faz o teste. Claro que tu o amas e de certeza que ele te ama a ti. É por essa razão que te deves proteger a ti e a ele. Fala sobre o VIH. Usa preservativos”. Neste produto a Planned Parenthood256, optou por colocar no mesmo material um apelo ao uso de preservativo e ao mesmo tempo, um apelo à realização do teste, juntando amor e o uso do preservativo. Por outro lado, usa o tema do amor, para promover o uso do preservativo e do teste. Ou seja, o uso do preservativo e a realização do teste aparecem como uma expressão e um acto de amor, e de protecção por si próprio e daquele que se ama. Neste sentido introduz um novo argumento na negociação do uso do preservativo, para além do tema da confiança ou da ausência dela, que a investigação tem mostrado trazer piores resultados257. No material da direita, da autoria do Programa Municipal de DST/Aids de Cubatão258, no Brasil, a mensagem para o uso do preservativo, não é feita através do receio, do medo, do terror, mas sim, através de uma ideia de tranquilidade que o uso de preservativo pode proporcionar. maria teresa silva santos O material ao contrário de promover a ansiedade, transmite a ideia de segurança que o uso do preservativo traz. Ser capaz de atrair a atenção Com a quantidade diária de informação com que todos somos confrontados diariamente, é preciso que uma mensagem seja muito atractiva para pararmos e reflectirmos sobre ela. Um desafio para uma boa mensagem é por isso que seja bastante apelativa, capaz de prender a sua atenção259. Isto pode ser conseguido através do texto, da ilustração ou do suporte. A mensagem da esquerda por exemplo, chama a atenção pelo trocadilho e pelo facto desse trocadilho ter sentido de humor e ser atrevido ao mesmo tempo. Este material é da autoria da empresa promocional Guerra Chapéus260. Já a mensagem da direita, uma proposta da marca de preservativos brasileiros Jontex, chama a atenção pelo tom utilizado, que se evidencia particularmente na palavra “porra” e pelo trocadilho com a palavra porra, que no Brasil é usada coloquialmente para designar “esperma”. Aqui, é evidente o tom provocador capaz de atrair a atenção. 111 9. 4"$6'='K,89."2%"'=$&6/,8N%& Vantagens no uso da ilustração A ilustração de um texto pode fazer-se através de desenhos, banda desenhada, vídeo, ou fotografia. A ilustração tem a grande vantagem de clarificar, reforçar ou até mesmo de complementar o texto261. A ilustração é um excelente apoio para a memorização da mensagem e para a sua compreensão262. Para comunidades com baixos níveis de literacia, as vantagens no uso da ilustração aumentam consideravelmente. Neste caso, as exigências ao nível da produção de ilustrações são acrescidas, pois nelas se deve depositar toda a eficácia da comunicação. Eis alguns exemplos da função que a ilustração pode desempenhar: › a ilustração clarifica o sentido da mensagem; Nestes dois cartazes desenvolvidos pelo Ministério da Saúde do Chile, o texto escrito é clarificado com o apoio da imagem263. Ou seja, o preservativo deve ser usado sempre, e não se devem correr riscos, o que, no caso da primeira mensagem é reforçado pelo atravessamento da rua e no caso da segunda mensagem pelo uso do capacete. 114 guia de boas práticas › a ilustração reforça a mensagem escrita; Este material foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde do Brasil, durante o Carnaval de 2004264. Socorrendo-se de uma situação extrema, um peixe dentro do preservativo, a mensagem tinha como objectivo reforçar a ideia de que o VIH/sida não é transmitido quando se usa o preservativo. O texto, é reforçado com uma ilustração que através do humor reforça a mensagem escrita, ou seja preservativo é tão resistente que mesmo servindo de aquário, não rebenta. › a ilustração complementa o texto: O texto do lado direito é um poster da autoria do AIDS Institute, NYS Health Department265. Neste exemplo, é visível a complementaridade entre imagens e o texto: “A sida não se transmite por nenhuma destas situações”. Se o texto aparecesse sozinho, ou se as imagens aparecessem sem texto, a mensagem era ininteligível. Juntos tornam possível a comunicação. Figura 8 Cartaz para esclarecimento das formas de transmissão do VIH-NYS Department of Health AIDS Institute maria teresa silva santos › a ilustração substitui o texto: A importância de uma ilustração é tanto maior quanto menor é o grau de literacia dos beneficiários do material de I.E.C. Caso os beneficiários não dominem uma língua escrita, o uso exclusivo de ilustrações pode ser uma alternativa viável. Neste caso, a capacidade de comunicar através de desenhos é ainda mais exigente, mas possível! Em 2004, o Ministério da Saúde do Brasil e o Instituto do Memorial das Artes Gráficas organizaram o primeiro Festival Internacional de Humor para prevenção e controlo das DST e AIDS. A ilustração da direita, da autoria do cartoonista Arraya, foi um dos trabalhos seleccionados na categoria prevenção266. A sua leitura, como se pode verificar, dispensa palavras. Existem um conjunto de dicas que podem contribuir para uma boa ilustração. Não sobrecarregue o seu material com imagens267. Esta recomendação é particularmente válida para os materiais que se destinam a circular em comunidades com baixos níveis de literacia. Ao certificar-se que as ilustrações não são sobrecarregadas com imagens, está também a garantir que o material é mais fácil de ser lido, compreendido e seguido268. Se o olhar do beneficiário for directo aos objectos que são cruciais para compreender a mensagem, significa que não se perde em pormenores capazes de o desviar do objectivo do seu material Este é um trabalho do artista plástico norte-americano, Keith Harring, datado de 1988. O autor mostra que a masturbação é sexo seguro269. A eficácia da mensagem é conseguida através de um desenho simples, que não se perde em adornos excessivos, garantindo que o receptor se focalize na mensagem que é passada. Figura 9 Material sobre sexo seguro — Keith Haring artwork Ó Estate of Keith Haring 115 116 guia de boas práticas Apresente as ilustrações na sequência mais lógica Se o material incluir uma sequência de mensagens ou várias etapas, certifique-se que a ordem é feita da maneira que é mais lógica para a sua audiência270. Um caso extremo por exemplo, pode ser ilustrado pelo facto da cultura ocidental ler da direita para a esquerda, mas já a cultura chinesa ler de cima para baixo, da direita para a esquerda, e a cultura árabe da direita para a esquerda. Estas notas são particularmente importantes se estiver a produzir material para comunidades imigrantes ou se estiver envolvido num projecto que tenha como objectivo a produção de material para uma cultura diferente da sua. O material271 descreve as várias etapas para colocar o preservativo feminino, através de uma leitura que se faz da direita para a esquerda, porque este é o modo mais disseminado dentro da cultura ocidental, mas como o leria um árabe ou um chinês? Use imagens familiares O uso de imagens familiares vai permitir uma identificação entre a mensagem e os seus beneficiários. Isto não significa apenas que tenham de ser culturalmente apropriadas, o que é fundamental, mas adequadas também às referências de género, idade, e circunstâncias sociais e económicas. A familiaridade das imagens pode ser conseguida através da roupa, acessórios, edifícios, utensílios, objectos ou actividades que são comuns no grupo para o qual o seu material é produzido272. A referência a objectos do quotidiano que integram a realidade em que se movem as pessoas, são bastante mais fáceis de memorizar do que diagramas, mapas ou gráficos273. maria teresa silva santos Este material foi produzido pela ONG Arco-íris274 e integra a campanha da ONG para a promoção do uso do preservativo junto da comunidade homossexual, bissexual e de transgéneros. A maquilhagem e expressão facial pretendem suscitar a identificação entre a pessoa utilizada na campanha com outros Drags e por essa via, promover o uso do preservativo entre a comunidade Drag. O material produzido no âmbito do Serviço Nacional de saúde do Reino Unido275, pretende alertar para o risco que se corre sempre que não se usa preservativo. A imagem reproduz todo um conjunto de referências vivenciais de um jovem comum no Reino Unido. Estas referencias são visíveis na roupa usada pela jovem da imagem: relógio de pulso, o cinto e a roupa, a postura da jovem e até mesmo pelo fundo de um vermelho vivo. Figura 10 Cartaz para a promoção do uso do preservativo — Department of Health Use imagens simples O uso de imagens pouco complexas tem como objectivo facilitar a compreensão rápida da ilustração e da mensagem que lhe é associada. Tem ainda o objectivo de não dispersar o beneficiário do seu material do que é fundamental na mensagem, evitando distracções do objectivo principal276. Se em vez de uma ilustração simples, tentar comunicar a sua mensagem através de uma imagem cheia de detalhes e pormenores pode correr o risco do beneficiário do seu material se distrair, inclusivamente do objectivo da mensagem. 117 118 guia de boas práticas Este material foi produzido pelo Ministério da Saúde do Brasil, no âmbito de uma Campanha Nacional de Prevenção, lançada em 2002277, que tinha como objectivos principais a consciencialização dos direitos das profissionais do sexo feminino, a negociação com clientes pelo uso da camisinha, o esclarecimento do uso correcto do preservativo e a promoção do preservativo feminino. Este material em específico tinha como principais destinatários os clientes de profissionais do sexo. A imagem é bastante simples. Nela estão incluídos os elementos principais da mensagem: uma profissional do sexo e um preservativo como pano de fundo. /$"2*"'&*"034#'&#'2%G0%,-&(#'(#2'2L;>#1#2'I)0*#'(#2' >"0",-%.$%#2'(#'2")';&*"$%&1 Enquanto que em algumas comunidades transmitirá a ideia de dia e noite com recurso a um relógio, em outras comunidades, onde o relógio ainda não é um bem comum, fará referência ao dia através do desenho do sol e à noite através do desenho da lua, por exemplo. O mesmo cuidado deverá ter quando usar um animal, objectos, ou roupa, já que alguns destes elementos podem variar de significado de cultura para cultura. Certifique-se pois que o significado que você atribui ao material, é o mesmo significado que os beneficiários do seu material atribuem278. Este material é resultado de uma iniciativa do Amamkay Instituto de Estudos e Pesquisa em parceria com a Associação para Prevenção e Tratamento da AIDS, Centro de Promoção da Saúde e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro com o apoio do Banco Mundial e da Cooperação Portuguesa (através do Centro de Novas tecnologias)279. O material promove o uso do preservativo através da linguagem brasileira de sinais junto de pessoas com necessidades especiais. Esta linguagem carrega um conjunto de símbolos que são apropriados para a comunidade de pessoas com necessidades auditivas especiais. maria teresa silva santos Uso o estilo mais apropriado para ilustrar: H#*#G$&,&2'#)'("2"0?#2@ Junto de alguns grupos será mais adequado o uso de fotografias, junto de outros grupos será mais adequado o uso de desenhos. Em alguns grupos o uso de uma linha de contorno será mais adequada do que o uso de um desenho colorido. Em outros grupos, o uso de cartoons será mais adequado. Descobrir qual o estilo ilustrativo mais adequado à sua audiência é fundamental280. Este material é uma produção dos preservativos Kamasutra281 e promove o uso de preservativos como parte integrante de um desejo sexual. O criativo aqui optou pelo uso da fotografia. O material, resultado de um campanha alemã para prevenção do VIH/sida, passa a mensagem de que perverso é não usar preservativo282. Neste caso optou-se pelo desenho. Figura 11 Poster para a promoção do uso do preservativo “Sex Toys”-Michael Stich Stiftung 119 10. 4"#$%0"+,M%"5/.2$K'/",& 0%)&,(%)&"%"'=$&6/,8N%&3 Existe um conjunto de, pelo menos três possibilidades, que poderá considerar em resposta à pergunta: “A quem cabe produzir as mensagens e ilustrações?”. Estas possibilidades incluem: › › › Técnicos do projecto de produção de material de I.E.C.; Técnicos especializados na produção de mensagens e ilustrações; As próprias pessoas que constituem o grupo focal com quem trabalha. Técnicos do projecto de produção de material de I.E.C. Com esta opção correm-se muitas vezes alguns riscos, que é necessário evitarem-se. Acontece não raras vezes que os técnicos adivinham as dúvidas da comunidade com quem trabalham, ou que determinem o que é importante para as pessoas saberem e o que não é. Acontece também com frequência, assistir-se à produção de material não adequado, em especial nas zonas rurais de muitos países em vias de desenvolvimento, onde parte da população não sabe ler nem escrever. A mesma situação é observada em muito material de I.E.C. distribuído junto de comunidades imigrantes, para quem a língua do material, é diferente da língua na qual comunicam. Se está encarregue de produzir material de I.E.C. procure realizar primeiro um diagnóstico das necessidades de informação da comunidade. A partir daqui, terá mais dados sobre que informação é necessário trabalhar no seu material. Não se esqueça de adequar o seu 122 guia de boas práticas material às circunstâncias sociais, económicas e culturais da comunidade com quem trabalha e acima de tudo, certifique-se que falam a mesma língua, seja ela verbal ou não verbal. /$#,22%#0&%2'"2:"-%&1%6&(#2 Pode também requerer o apoio de profissionais especializados, sejam eles redactores, ilustradores, designers, argumentistas, técnicos de som e imagem, realizadores ou até técnicos de marketing e publicidade. Em alguns casos, o seu apoio é imprescindível, noutros, no entanto é uma opção. Se optar pelo produção de um vídeo, é possível que venha a sentir necessidade de recorrer a ajuda especializada ao nível do tratamento de imagem, som entre outros. Caso opte por este possibilidade a produção de um creative brief é prioritária. Um creative brief, é um documento onde deverá incluir toda a informação necessária para orientar na produção de material de I.E.C.283: › Tipo de audiência a quem quer dirigir o seu material? › Objectivo da comunicação O que pretende com o material? Transmitir informações, sensibilizar a sua audiência, alterar atitudes ou comportamentos? › Obstáculos Que obstáculos impedem a sua audiência de mudar de comportamentos ou de atitudes? › Benefícios Quais as vantagens para audiência de estar mais sensibilizada, melhor informada, ou de ter mudado de atitudes e comportamentos? › Razões Que razões sustentam que uma mudança de atitudes ou comportamentos conduzem ao conjunto de vantagens identificadas? maria teresa silva santos › Tom Qual o tom mais apropriado para comunicar com a audiência seleccionada? O tom de uma mensagem pode ser humorístico, didáctico, autoritário, coloquial, amigável, carinhoso, agressivo ou outro. › Meio de comunicação Que canal é o mais apropriado para chegar à audiência seleccionada? De resto, importa acrescentar que a maior parte do material de I.E.C. produzido é resultado da primeira ou segunda opção e mais raramente da terceira. As próprias pessoas que constituem o grupo focal com quem trabalha Se optar por esta possibilidade caberá às pessoas com quem trabalhou no diagnóstico de necessidades de informação e no diagnóstico dos comportamentos de risco mais frequentes, prosseguir o trabalho e iniciar a construção das mensagens e produção das ilustrações. Esta possibilidade oferece um conjunto de vantagens e desvantagens em relação às situações anteriores. › Mais garantias de adequabilidade Se o material for produzido pelas próprias pessoas que integram o grupo focal terá mais garantias de adequabilidade do material. Esta adequabilidade pode ser visível ao nível da língua e linguagem utilizadas, referências culturais, sociais, económicas e de idade. Quem para além das próprias pessoas, conhece melhor as palavras e expressões mais utilizadas pelas pessoas no seu dia a dia, as referências sociais, culturais, os constrangimentos económicos e de idade entre outros?; › Empoderamento dos elementos que integram o grupo focal e da comunidade Se já realizou os diagnósticos de necessidades de informação e de comportamentos de risco mais frequentes através de grupos focais, terá com certeza aprendido bastante com as pessoas que integraram o grupo focal, sobre o que o grupo ou comunidade a que pertencem, sabem, efectivamente, sobre VIH/sida e que comportamentos de risco são mais frequentes. As pessoas que integraram o grupo focal, estarão com certeza mais confiantes, pois terão tomado consciência do facto de que também elas podem ensinar, quando muitas destas pessoas estão 123 124 guia de boas práticas habituadas a aprender apenas com os técnicos que vêm de fora. Imagine agora, se estas pessoas tomarem consciência da sua capacidade para criar, apenas porque estão mais organizadas, porque você depositou confiança nas suas capacidades e porque foram estimuladas?; › Mais tempo É provável que se optar por esta via, venha a necessitar de mais tempo, do que se entregar a tarefa de construção de mensagens e de ilustrações a profissionais. Primeiro, porque estas pessoas não são profissionais, e precisarão de mais tempo até ter construído uma frase ou produzido uma ilustração. Em segundo lugar, porque para estas pessoas, esta não é a sua actividade principal e muito menos aquela onde vão buscar os seus rendimentos. Este aspecto é particularmente relevante no caso dos mais pobres, para quem o custo oportunidade de participação nas sessões é calculado com maior rigor do que os não pobres. Nestes casos, acontece também que a escala de prioridades destas pessoas, o VIH/Sida pode aparecer como um problema remoto perante problemas mais prementes como encontrar emprego, habitação adequada, matrícula dos filhos, entre outros; › Mais eficiente Mais eficiente do que a segunda opção porque não envolve o pagamento de honorários a profissionais. Comparativamente com a primeira opção é com certeza mais cara para as pessoas que participam nas sessões (lembrar custo oportunidade). Para o projecto, esta solução será mais ou menos eficiente dependendo, se envolve despesas de deslocação do técnico até à comunidade. 11. B.M/%"."0%'. Que meios? Através de que meios se informa, educa e comunica? O material através do qual se informa, educa e comunica pode envolver tanto os “meios de comunicação de massa” como os meios de comunicação interpessoal, meios tradicionais ou gráficos e audiovisuais284. Meios de comunicação interpessoal Os meios de comunicação interpessoal promovem a comunicação e não só a transmissão de informação. Os meios de comunicação interpessoal incluem a educação por pares, aconselhamento e debates em pequenos grupos, o teatro do oprimido, visitas domiciliárias. M"%#2'("'-#;)0%-&34#'G$.,-#2'"'&)(%#=%2)&%2 Os meios de comunicação gráficos e audiovisuais referem-se aos meios que utilizam a imagem e o som para comunicar. Referem-se a panfletos, concertos, música, vídeos, e PowerPoint entre outros285. Meios de comunicação tradicionais Os meios de comunicação tradicionais dizem respeito aos meios que têm sido historicamente desenvolvidos e utilizados por determinado grupo, comunidade ou população. Têm a vantagem de serem familiares para a comunidade ou grupo. Os meios de comunicação tradicionais podem incluir músicas, danças, jogos e festividades286. 126 guia de boas práticas Meios de comunicação de massa Quando pensa em meios de comunicação de massa, pensa espontaneamente em rádio, televisão, jornais, revistas e cinema, e brochuras e panfletos. Sempre que um meio de comunicação: 1. for dirigido a uma audiência grande, heterogénea e anónima; 2. for público, rápido e efémero; 3. implicar um comunicador que esteja integrado numa complexa organização envolvendo muitas despesas; estamos a referirmo-nos a meios de comunicação de massa287. Qual o meio mais apropriado? O que pretende, sensibilizar, informar, ou promover atitudes e comportamentos seguros? Nas décadas de quarenta e cinquenta pensava-se que os meios de comunicação de massa tinham um impacto directo, imediato e determinante nas audiências. Esta capacidade dos meios de comunicação de massa para influenciar atitudes e comportamentos foi teorizada no modelo da “agulha hipodérmica”288. Em 1940, num estudo que viria a revolucionar a crença nos meios de comunicação de massa na formação de atitudes e comportamentos, Lazarsfeld mostrou que entre seiscentos eleitores inquiridos, apenas alguns davam conta que as decisões tinham sido influenciadas pelos meios de comunicação de massa. As conclusões deste estudo mostraram que os conteúdos dos meios de comunicação de massa tinham de obter o consentimento de opinion makers, antes de se serem tomados pelo indivíduo. Este estudo voltou a colocar a ênfase nas relações interpessoais e o seu carácter complementar aos meios de comunicação de massa na interiorização de mensagens, seja contrariando, seja reforçando. Era o modelo “two step flow hypothesis”. Investigação mais recente vem demonstrar que o modelo, na verdade, não é constituído apenas por duas fases. Em alguns casos, os meios de comunicação de massa podem ter um efeito directo, coexistindo com uma pluralidade de fases289. A investigação e a prática de terreno têm vindo a mostrar que os meios de comunicação de massa parecem ser mais eficazes para alertar e sensibilizar, enquanto que os meios de comunicação interpessoal se mostram mais eficazes na promoção de comportamentos e atitudes290. De facto, os meios de comunicação de massa oferecem a possibilidade de maria teresa silva santos comunicar com um número elevado de pessoas, em simultâneo. A televisão em particular, é particularmente atractiva, ao aliar som e imagem, exigindo pouco esforço de compreensão por parte das audiências291 e em particular, dos grupos não capacitados para ler: analfabetos, crianças e cegos. Por outro lado, os meios de comunicação de massa têm dificuldade em adequar e diferenciar a sua mensagem, exactamente porque falam para um grande público que encerra muitas diferenças de atitude, e com diferentes posições económicas, sociais, de culturas diferentes, etc.292 Por exemplo, foi notado, por um conjunto de investigadores, que a novela de rádio Twende na Wakati que passou na Tanzânia, partir de 1993 contribuiu de forma determinante para colocar o VIH/sida na agenda, tendo-se notado que as pessoas começaram a mostrar abertura para falar no assunto293. O que confirma a capacidade dos meios de comunicação de massa para informar e sensibilizar, ao mesmo tempo que se os conteúdos ao serem falados e discutidos, são potenciados pelos meios de comunicação interpessoais. Não se pode ignorar também que a maior ou menor eficácia dos meios pode estar relacionada com os conteúdos. Imagine-se que os conteúdos de uma peça de teatro não foram adequados à audiência, ao contrário dos conteúdos difundidos por um programa de televisão. É possível, que neste caso, o programa de televisão se venha a revelar mais eficaz do que o meio de comunicação interpessoal294. A eficácia de um meio não pode ser avaliada, sem que se tenha em conta o conteúdo das mensagens. Mas a escolha do meio mais adequado vai depender também da sua disponibilidade de tempo, dinheiro, e recursos humanos especializados. Vai depender ainda do contexto dos beneficiários para os quais os materiais de I.E.C. estão a ser produzidos. Significa que a eficácia dos meios de comunicação não depende apenas de uma avaliação linear, outras variáveis têm de ser tidas em conta, embora haja indícios da maior adequabilidade dependendo do efeito que se pretende produzir, sensibilizar ou influenciar atitudes e comportamentos. 127 guia de boas práticas N$"="'$"2);#'(&2'=&0*&G"02'"'("2=&0*&G"02'(#2';"%#2'%("0*%,-&(#2295* Desvantagens Meios de comunicação interpessoal Vantagens 128 Meios áudio-visuais Meios tradicionais › Atingem um › Comparativamente › Podem não ser número reduzido eficientes. consomem bastante de beneficiários. › Têm sido muitas tempo. › A sua produção vezes utilizados › Exigem formação pode consumir fora do contexto especializada de bastante tempo. educativo e cultural. quem está no › Exigem muitas vezes terreno. recursos humanos › Atingem um especializados. número reduzido de beneficiários de cada vez. › Conferem mais credibilidade à mensagem. › Permitem a discussão detalhada do assunto. › Dão espaço para a discussão de assuntos pessoais e sensíveis. › Permitem analisar e discutir crenças que obstam a mudança de atitudes e de comportamentos. › Criam espaço para a participação; › Criam espaço para a reacção e resposta, para a discussão e debate. › Fazem uso de › Especialmente no normas já aceites caso dos panfletos pelo grupo ou e vídeos, permitem comunidade. que se revisite o › Incutem um produto mais do carácter familiar que uma vez. ao material. › São normalmente › Promovem o atractivos. envolvimento da › Capazes de promover comunidade. a transmissão de informação complexa. › Especialmente no caso dos panfletos, podem ser produzidos localmente. › No caso de vídeos e panfletos, são facilmente transportados. Meios de massa › Inapropriados para contextos onde a televisão e rádio não se encontram implantados. › Difíceis de segmentar por audiências. › Impossibilidade de reacção. › Envolvem dispêndio elevado de recursos. › Atingem um número elevado de pessoas. › Permitem a repetição. * Este quadro, que aqui é apresentado de forma rígida, nem sempre tem correspondente com a realidade. Hoje em dia são cada vez mais ou programas de televisão que promovem a discussão através do telefone em directo para o programa. Ainda assim, quando comparado com um debate a nível comunitário o espaço deixado para a discussão é relativamente reduzido. A necessidade de flexibilização aplica-se a vários meios aqui apresentados. Não obstante, consideramos que este quadro pode ser útil para se obter uma ideia rápida e se compreenderem as diferenças gerais na utilização de um ou outro meio. maria teresa silva santos A decisão final vai depender de um conjunto de situações, umas relacionadas com a sua Organização, outras relacionadas com o contexto onde vai ser desenvolvida a estratégia de I.E.C.. Na perspectiva da associação, ONG ou instituto empenhado na elaboração de material de I.E.C. Existe um conjunto de constrangimentos de ordem organizacional (relacionados com a sua instituição) que deverão ser pesados antes de decidir o meio de suporte à sua estratégia de I.E.C. São eles: › Disponibilidade de recursos Terá de ter em consideração os recursos de que dispõe e os recursos necessários para produção do material. › Exigência de Recursos Humanos Já vimos que para a produção de alguns meios, torna-se necessária a contratação de serviços especializados, para outros a formação de facilitadores ou promotores de saúde comunitários. Para outros ainda, a produção pode fazer-se de modo mais caseiro e sem contratação adicional recursos humanos. › Disponibilidade de Tempo A disponibilidade de tempo refere-se ao tempo de vida do seu projecto. Imagine que inicialmente tinha previsto realizar um vídeo, será que um ano é suficiente? O seu projecto prevê apenas concepção, ou também produção e distribuição? Quando conceber um projecto para a produção de material de I.E.C., ou com uma componente de produção de material de I.E.C. tenha o aspecto do tempo em conta. !"0(#'";'-#0*&'#'-#0*"8*#'";'<)"'=%=";'#2'>"0",-%.$%#2'(#';&*"$%&1' de I.E.C. Para que a sua estratégia seja bem sucedida, ou seja para que seja capaz de responder aos objectivos delimitados, é imprescindível que faça uma análise cuidada do contexto. Nessa análise deverá ter em conta os seguintes aspectos: › Disponibilidade de Tempo Diz respeito ao tempo que os beneficiários do seu material têm para participar na produção do material ou para serem posteriormente imputados pelo seu material. Imagine, por exemplo, que opta por realizar uma sessão de educação para a saúde 129 130 guia de boas práticas dirigida a mães, pela manhã, em determinada comunidade. Será que as mães que pretende envolver têm disponibilidade para participar ou assistir à sessão de educação para a saúde? Já numa situação de distribuição do material, imagine que optou pela projecção de um vídeo comunitário, aos Sábados ao fim da tarde. Será que não colide com o horário de jantar em família, enquanto ainda há uma réstia de luz? Este é um conjunto de situações hipotéticas que o alertam para a importância de conhecer bem a realidade das pessoas com quem trabalha. › Acessibilidade Uma questão que terá de colocar é se os seus beneficiários têm acesso ao material que seleccionou. A título de exemplo, de que serve ter produzido anúncios para televisão se os seus beneficiários não têm aparelho, nem acesso a um. › Poder de compra Quando estiver na fase de concepção do material de I.E.C. mais adequado para a comunidade em causa, um importante elemento a considerar é se existe poder de compra na comunidade: › para aceder ao material produzido, no caso de implicar desembolso de dinheiro. Imagine que considera a produção de crachás que alertam para o uso do preservativo e que para recuperar algum do dinheiro investido no projecto deseja vendê-los a um preço simbólico. Será que na perspectiva dos seus beneficiários, o valor proposto é simbólico? › se a comunidade dispõe de poder de compra para adoptar os comportamentos promovidos pelo seu material. Imagine neste caso, que o seu material propõe o uso de preservativos, mas os preços dos preservativos que existem no mercado são bastante elevados. › Adequabilidade O material para ser eficaz, tem de ser compreendido pela audiência a que se destina. Para garantir este nível de entendimento, tem de certificar-se que o seu material está de acordo com o nível de literacia, com o contexto cultural, social, de idade, género e económico. Imagine que tinha prevista a produção de panfletos, mas a comunidade para os quais os panfletos são dirigidos não fala, no seu dia-a-dia, a língua veiculada pelo panfleto. Qual o nível de eficácia esperado deste panfleto? Imagine por exemplo que se propõe fazer um concerto com conhecidos artistas nacionais. Os artistas que vão actuar são ídolos da juventude local. No entanto, os beneficiários que pretende atingir são homens e mulheres acima dos quarenta, que desconhecem os artistas do cartaz. Que nível de eficácia se pode esperar? maria teresa silva santos Os meios passo a passo Nesta secção, iremos analisar um conjunto de meios possíveis a que pode recorrer para passar a sua mensagem: Testemunhos Os testemunhos têm-se revelado como relevantes meios de I.E.C.. Facilitam a identificação e tornam os assuntos mais reais e mais próximos da dia a dia das pessoas. Os testemunhos têm sido particularmente utilizados na luta contra o estigma e discriminação de pessoas que vivem com VIH/sida e são muitas vezes as pessoas que vivem com VIH/sida os protagonistas dos testemunhos. Veja-se o caso de Oom. Oom, com 35 anos, é hoje mãe de duas filhas e está à frente de uma ONG que acompanha crianças filhas de pais que vivem com VIH/sida. Vive e trabalha em Banguecoque, na Tailândia. “Há quatro anos, tive o meu primeiro filho, agora estou grávida do segundo. Tenho ainda outra criança que adoptei, quando ainda era um bebé, seis anos atrás. Pessoalmente, senti-me bastante orgulhosa quando tive o meu primeiro filho, apesar de terem sido momentos difíceis para mim sob todos os aspectos. Agora a minha filha já tem a sua própria vida, que ela será capaz de conduzir da forma que achar mais adequada. Como mulher vivendo com VIH/sida, eu espero que todas as pessoas aprendam a trabalhar de forma solidária, e a tratarem todos de forma igualitária e com respeito quer as pessoas que vivem com VIH/sida, quer com pessoas que vivam sem VIH/sida. Todos nós devíamos aprender a ultrapassar os nossos preconceitos, não obstante o que cada um é, ou faz com as suas vidas”296. Importa ainda acrescentar que, o impacto esperado de um testemunho parece aumentar quando é assumido por uma figura pública, que publicamente assume que vive com VIH/sida. O Uganda, conta na sua história de luta contra o VIH/sida, com testemunhos de figuras públicas, que segundo muitos foram determinantes para combater o estigma e discriminação de pessoas que vivem com VIH/sida. A primeira figura pública a tomar este passo, foi o músico Philly Lutaaya, quando regressou do exílio na Suécia, no início de 1989. Nos meses seguintes, o conhecido músico fez uma tournée juntando a sua música a mensagens de controlo e prevenção. Escolas e igrejas contaram com testemunhos seus. A sua vida viria a servir de inspiração para muitos que, no Uganda e em outros países africanos, juntam esforços para o controlo do VIH/sida297. 131 132 guia de boas práticas Banda desenhada A banda desenhada é outro meio possível, aliando a linguagem verbal à não verbal, oferecendo, por essa razão, maiores possibilidades para quem tem dificuldades de leitura. “A viagem” é uma revista de trinta e duas páginas, fruto da produção conjunta da Organização Internacional para as Migrações — OIM, da Associação de Apoio às Populações Migratórias da África Austral e da Agência de Cooperação Sueca para o Desenvolvimento298. Com esta revista, pretende-se chamar a atenção para a realidade que atravessa a vida de muitas mulheres imigrantes moçambicanas, que vão trabalhar para a África do Sul. A revista levada a cabo junto de cento e oitenta e três moçambicanas, que trabalhavam em doze fazendas da África do Sul, relata situações de trabalho servil e pouco rentável, a quem faltavam informações sobre VIH/sida. Relata também situações em que foram abusadas sexualmente pelos seus supervisores, não lhes tendo sido dada qualquer margem de manobra para negociar as práticas sexuais, ficando ao critério dos homens o uso do preservativo. Figura 12 Capa da Banda Desenhada para sensibilização do VIH/sida — Organização Internacional para as Migrações — OIM Anúncios em televisão Anúncios de televisão têm por objectivo tratar directamente o assunto a que se propõem. Por exemplo, no anúncio aqui apresentado, o Ministério da Saúde do Brasil299, optou por tratar da negociação do uso do preservativo, que é desvalorizado pelo jovem rapaz, mas que é um compromisso para a jovem rapariga. maria teresa silva santos 133 134 guia de boas práticas Programas de televisão Os programas de televisão oferecem a possibilidade de cruzar ou encadear temas diversos e inclusivamente de introduzir temáticas polémicas junto de um público, que tem por hábito assistir a determinado programa. Um exemplo de um programa de televisão com sucesso entre os jovens, que terá contribuído para a discussão sobre VIH/sida foi a telenovela juvenil Malhação300. Na temporada de 1999, foi decidido introduzir uma personagem, a Érica, que era uma jovem rapariga que vivia com VIH/sida e era também amiga de infância da protagonista da história, a Tatiana. Aproveitaram-se as audiências elevadas que o programa suscitava junto do público jovem, para colocar esse mesmo público a falar e a discutir sobre o VIH/sida. 70J0-%#2'";'$.(%#' Especialmente em contextos onde a televisão ainda é um meio pouco acessível, a rádio assume um papel de destaque. E não exige que se saiba ler ou escrever. Ao contrário do que sucede com os programas, o anúncio não dedica tempo à discussão de um tema, ou assunto. Em vez disso, recorre a spots, usando frases normalmente curtas, fáceis de memorizar, cujo principal objectivo passa normalmente por sensibilizar. Os anúncios têm a vantagem de poderem ser intercalados com outros programas, com garantias de audiência junto do grupo a que se pretende chegar, oferecendo por isso garantias de que o spot vai ser ouvido por quem se deseja. Na República Dominicana, a Family Health International com o apoio do Ministério da Saúde e de um conjunto de ONGs locais, produziu sete anúncios de rádio que deverão ser também difundidos em salas de espera de hospitais, gabinetes do governo, nos tempos de espera de chamadas de telefone, e até mesmo na via pública, através de altifalantes e em autocarros 301 públicos . A campanha tem por objectivo promover a não discriminação e estigma das pessoas que vivem com VIH/sida. Num dos anúncios, o gerente de uma empresa admite que costumava canalizar parte da sua verba para despiste de VIH/sida entre os seus colaboradores, tendo substituído esta estratégia pela educação para a prevenção no local de trabalho. Num outro anúncio, um jovem rapaz fala da sua melhor amiga, uma mulher que vive com VIH e maria teresa silva santos que participa em todas as actividades no grupo de amigos que ambos frequentam, “porque não se apanha VIH só por se sair connosco302. A fotografia acompanha um dos anúncios que foi transmitido na televisão, panfletos e cartaz. A campanha “Faz com que a tua vida tenha cor” mostra um conjunto de crianças, sem que se saiba quem vive com VIH e quem não vive. A campanha pretende mostrar que as pessoas que vivem com VIH são iguais e têm os mesmo direitos que todas as outras pessoas na sociedade. /$#G$&;&2'("'$.(%# O programa de rádio tem a vantagem de ser mais estendido no tempo, permitindo várias possibilidades: desde a realização de entrevistas, à recepção de chamadas e colocação de dúvidas por parte dos ouvintes, à discussão e análise mais detalhada dos temas. O programa de rádio “Conversando com o meu melhor amigo” tem sido um sucesso entre os jovens do Nepal que, aos Sábados, ouvem discussões francas e abertas sobre problemas pessoais que afectam os jovens do país303. Desde temas como o casamento entre castas até à sexualidade. O programa conta actualmente com cerca de 4,5 milhões de jovens ouvintes. Educadores de pares A educação por pares é hoje tida como uma das estratégias mais eficazes ao nível da comunicação para a alteração de comportamentos e de atitudes. Esta estratégia oferece um conjunto de vantagens: 135 136 guia de boas práticas › › › › › ! garantia de que a linguagem é adequada ao público a quem se destinam as acções de prevenção; oferece mais garantias de ser procurada pelos seus pares, por comparação com outras estratégias que envolvem a necessidade de comunicação com um não par; tem um raid de influência alargado. No caso dos jovens por exemplo, é admissível que chegue aos que estão fora da escola e aos que frequentam o sistema de ensino. No caso das mulheres, é admissível que a influência de uma educadora de pares, chegue às colegas de trabalho, ao grupo de mulheres da família, à igreja, associações em que participam, e a outras mães com as quais conviva. permite que a abordagem médica normalmente priorizada por profissionais de saúde e professores, seja complementada pela linguagem da afectividade304. mostra ser mais eficaz na promoção de atitudes e de comportamentos seguros, pois permite o diálogo e a comunicação. No Botswana, foi implementado um projecto de educação por pares, que decorreu ao longo de cinco anos junto de um grupo de trezentas mulheres a viverem e a trabalharem em zonas urbanas do país. Entretanto, foi conduzido um estudo, cujos resultados são fruto de um estudo comparativo com um grupo de mulheres que não participou no projecto. O conjunto de mulheres que participou mostrou: possuir mais conhecimentos sobre a infecção pelo VIH, ISTs e sobre comportamentos seguros; mostrou atitudes mais positivas relativamente ao uso do preservativo; mostrou também ter comportamentos sexuais mais seguros e mais atitudes positivas relativamente às pessoas que vivem com VIH305. Foi este princípio que conduziu ao Projecto de Educação por Pares promovido pela Farm worker Justice Fund, Inc. e pelo National Council of La Raza nos Estados Unidos da América. Os factos mostravam que, as campanhas de prevenção do VIH/SIDA não chegavam aos imigrantes e trabalhadores sazonais. Partindo deste dado, as duas organizações promoveram o treino de um conjunto de imigrantes e de trabalhadores sazonais, que falando a mesma língua que os restantes imigrantes e trabalhadores sazonais, utilizando as mesmas referências e símbolos, estavam em condições de oferecer mais garantias de que a mensagem seria efectivamente compreendida pelos beneficiários finais do projecto306. maria teresa silva santos Clubes Os clubes em meio escolar podem ser uma forma de complementar o que é ensinado e discutido por via do currículo. Vivem dos seus associados e são nesse sentido resultado da mobilização de alunos ou professores, o que explica em certa medida que a discussão sobre VIH/sida ultrapasse, em muitas casos, a abordagem biomédica, para abranger a vertente afectiva, e tomar em conta o contexto social económico em que as relações têm lugar307. Na Etiópia até 2004 pelo menos, o VIH/SIDA não estava introduzido no currículo dos alunos, pelo que para preencher esta lacuna, alunos e professores do ensino secundário se juntaram-se para criar os clubes ANTI-Sida308. Na Escola Secundária de Dilber, duzentos e cinquenta alunos, dos três mil e quatrocentos que frequentavam a escola, estavam inscritos no clube Anti-SIDA. Destes duzentos e cinquenta alunos inscritos, cento e sessenta e cinco eram jovens raparigas. Ao clube cabia promover um conjunto de actividades: um programa de rádio escolar difundido ao longo de quinze minutos e debates em grupo, que têm lugar todos os Sábados309. Caixa das perguntas A caixa de perguntas é um meio muito utilizado, especialmente em contextos onde é importante a preservação do anonimato, sendo um meio privilegiado para o esclarecimento de dúvidas. No interior rural do Quénia, uma caixa foi colocada num tronco de um damasqueiro310. A caixa tem sido enchida com perguntas das seiscentas crianças que frequentam a escola primária de Diemo. A maioria das perguntas são sobre sexo, parte das quais sobre VIH. Muitas destas perguntas são reveladoras dos dilemas enfrentados por estas crianças e pelas raparigas 137 138 guia de boas práticas em particular: “Existe um sugar-daddy que me prometeu oferecer tudo o que eu precisar. O que é que eu posso fazer para ele me apoiar, sem que eu tenha de me tornar sua amante?”311 Internet Portais, blogues, e-mails, sítios de conversação e outros figuram também como meios para comunicar sobre IST/VIH/sida. Tendo em conta que o número de utilizadores de internet, com idade superior a quinze anos, parece rondar os seiscentos e noventa e quatro milhões, ou seja 14% da população mundial312, não é de estranhar que este seja um meio cada vez mais utilizado para comunicar sobre IST/VIH/Sida. Jornais, revistas Jornais e revistas têm também estado na linha da frente na informação sobre IST/VIH/ sida. Podem assumir-se como revistas especializadas na área ou não sendo especializadas, incluir artigos ou anúncios sobre prevenção e controlo. Podem ser dirigidas a grupos específicos, ou à população em geral. Podem ter uma abrangência local, regional, nacional ou transfronteiriça. A “Saber Viver” é uma revista criada no Brasil, em 1999 orientada para o bem estar das pessoas que vivem com VIH/sida313. Conta actualmente com 90 mil exemplares, distribuídos gratuitamente em unidades de saúde públicas, ONGs que trabalham na área. Estima-se que a revista chegue a quatrocentos e cinquenta mil pessoas. Os assuntos tratados pela revista incidem maioritariamente sobre saúde, valorização da auto-estima e cidadania das pessoas que vivem com VIH/sida. A revista é dinamizada pela Associação Saber Viver. maria teresa silva santos /&0O"*#2 Os panfletos, brochuras ou desdobráveis têm sido dos meios mais utilizados para difundir informação sobre VIH/sida. Oferecem a vantagem de poderem ser levados pelos destinatários e revisitados sempre que necessário (ao contrário por exemplo da televisão, que por enquanto não é possível fazer andar para trás!). Este panfleto que tem por objectivo promover a conscientização da população gay, foi produzido no âmbito da aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de Aids e das DST entre gays, homens que fazem sexo com homens (HSH) e travestis, pelo Ministério da Saúde do Brasil314. Autocolantes Os autocolantes têm acompanhado inúmeros programas de informação e sensibilização do VIH/sida. Têm a vantagem de permitir a partilha, conferir visibilidade, e de conterem algum grau de inter-actividade (é uma escolha do utilizador o local onde vai colar o seu autocolante). Criada em 1988 por profissionais ligados à Arte, a Visual AIDS funciona como uma galeria que tem como objectivo contribuir para a sensibilização da opinião pública no que concerne o 139 140 guia de boas práticas VIH/Sida através da promoção de exposições, produção de publicações e trabalhando em parceria com artistas, galerias, museus e organizações que desenvolvem trabalho na área do VIH/sida315. Os autocolantes aqui apresentados foram desenvolvidos por Nayland Blake. A mensagem pode ser traduzida para: “O amor aconteceu aqui em __/__/__. Pode voltar a acontecer. Traz o amor de volta. Mantém os teus amantes seguros. As tuas palavras, pensamentos e acções podem prevenir a sida”. Figura 13 Material para a promoção do uso do presevativo — Nayland Blake for Visual AIDS, www.visualAIDS.org Teatro O teatro tem a vantagem de aproximar a linguagem, por vezes muito técnica, de uma linguagem mais corrente. Oferece ainda a possibilidade de dar forma a questões que por vezes parecem distantes. Esta faculdade está ainda mais presente no caso do Teatro do Oprimido. Umas das técnicas mais utilizadas é a do Teatro Fórum. Aqui é discutido um problema real, que não é resolvido pela personagem/actor. Cabe ao público substituir o personagem/actor que é o elemento oprimido, por soluções alternativas, dentro do mesmo enquadramento em que a personagem tomava decisões316. Em Salvador da Baía, Brasil, um conjunto de jovens apoiados pela ONG “Grupo de Apoio à Prevenção AIDS” levou à cena, uma peça para prevenção e controlo do VIH/sida317. A peça que teve lugar na rua, no centro da cidade, apresentava um conjunto de personagens com vidas próximas do real, cada uma com a sua própria história unindo-as um denominador comum: a falta de informação e o preconceito. Na peça, surgem como temas prioritários o uso do preservativo, a homofobia e as discussões em torno destes conflitos. Concursos Os concursos promovem a participação efectiva das pessoas. Para além de permitir um envolvimento real, são normalmente acompanhados de publicidade e portanto divulgação. Permitem também a partilha e a descoberta. maria teresa silva santos Em 2004, o Ministério da Saúde do Brasil e o Instituto do Memorial das Artes Gráficas do Brasil promoveram o “1º Festival Internacional de Humor para Prevenção da AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis.318” O objectivo principal da iniciativa consistiu em criar mais um espaço capaz de promover o envolvimento todos para travar o vírus e a valorização de todos os que vivem com VIH/sida. O exemplo apresentado foi uma das propostas seleccionadas na categoria tratamento319. Jogos Os jogos são outra importante ferramenta capaz de permitir o envolvimento, o engajamento e a discussão. Incluem os mais recentes jogos de internet, como a adaptação de jogos mais tradicionais. Os jogos podem ser um importante meio para comunicar sobre IST/VIH/Sida entre crianças e jovens, aliando diversão e educação. Em Moçambique, o Projecto “CERJOVEM” promoveu a elaboração de um jogo para ser utilizado entre jovens, com o objectivo de promover a prevenção e controlo do VIH/sida. Concertos O concerto, é em princípio um meio mais adequado para comunicar com os jovens. Oferece a possibilidade de colocar na agenda a questão do VIH/sida, colando-a à imagem de um estilo de estar na vida, ídolos da juventude, músicas que se cantam. O concerto é, por norma, um grande acontecimento entre os jovens. Falar sobre sida num concerto ou dedicar um concerto à prevenção e controlo do VIH/sida, é introduzir a questão do VIH/sida num grande acontecimento. 141 142 guia de boas práticas No dia Mundial de Luta contra a Sida, em 2006, coube ao artista de hip hop MAGZ realizar um concerto na escola secundária Martin Luther King em Nova Iorque320. O concerto, que contou com a total adesão dos jovens, incluiu duas músicas sobre sida. A primeira foi escrita em colaboração com a UNICEF para marcar o lançamento da campanha “Unite for Children. Unite against AIDS” (em português “Unam-se pelas crianças. Unam-se contra a sida.). A segunda, “Too much”, foi dedicada a um guarda de uma escola de Brooklyn falecido em consequência da sida. Figura 14 Fotografia do artista de Hip Hop MAGZ — UNICEF Música Uma música que fale sobre VIH/sida, ou que simplesmente refira o VIH/sida, é, à semelhança do concerto, um meio de levar as pessoas que gostam de ouvir música a ouvirem falar sobre VIH/sida. Pode, à semelhança do concerto, estar associada a um cantor ou cantora famosa, e dessa forma potenciar a eficácia da mensagem. Tiësto, de nacionalidade holandesa, por exemplo lançou uma música para o projecto Dance4Life, que reúne artistas em prol do combate à AIDS321. Mural Os murais são outro tipo de meio utilizado na prevenção sobre VIH/sida. São um meio relativamente barato e realizados em locais de acesso público. Em 2007, na Namíbia, um grupo de estudantes da escola primária de Katura, em conjunto com um grupo de estudantes do Centro de Arte John Muafangejo e artistas locais, utilizaram as paredes da escola primária para produzir uma série de murais322. O projecto identificou três grandes objectivos: Figura 15 Mural para sensibilização do VIH-AVERT; www.avert.org maria teresa silva santos › › › sensibilizar a população para a questão do VIH/sida; permitir que os artistas expressassem os seus sentimentos em relação à epidemia; valorizar as artes visuais. T-shirts As t-shirts oferecem a possibilidade da pessoa manifestar de forma expressa a sua adesão a determinada proposta, ou causa. Ao usar uma t-shirt, “veste-se” e faz-se circular uma mensagem. No caso do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, a mensagem que era passada entre crianças que viviam ou que estavam na rua, era que estivessem atentos ao VIH/sida. A mensagem reconhece a qualidade mais valorizada pelos meninos de rua para sobreviverem na rua, o ser-se “malandro” e associa a prevenção a esta característica. Assim, “malandro mesmo é aquele que não dá mole para o VIH/sida!”. Cartazes de rua Os cartazes de rua são um meio amplamente utilizado. Chegam a um número elevado de pessoas, e têm a vantagem de não possibilitarem a mudança de canal, de frequência, ou o virar a página. Na capital do Botswana, Gabarone, foi colocado um cartaz de rua com o objectivo de apoiar as pessoas que vivem com VIH/sida323. No cartaz era possível ler-se “Apoie quem vive com VIH/sida. Também existe um futuro para as pessoas que vivem com VIH”. Figura 16 Cartaz para a não discriminação das pessoas que vivem com VIH/sida — UNICEF/HQ01-0195/Giacomo Pirozzi 143 144 guia de boas práticas Carrinhas As carrinhas são um meio particularmente adequado para locais com poucas, ou nenhumas acessibilidades e com poucos recursos locais. Atenção no entanto, que esta solução tem de se ter em conta os custos de manutenção da carrinha e a eventual necessidade de recursos humanos especializados, capazes de zelar pela sua conservação. Para Khumalo-Sakutukwa324 uma carrinha móvel que disponibilize aconselhamento e testagem voluntária é a solução ideal para ultrapassar as barreiras estruturais que impedem a generalização da testagem. Segundo o investigador, a pesquisa vem mostrando que, ao optar-se por esta resposta: › › › reduzem-se os custos com a viagem para um centro urbano onde exista uma clínica de testagem; com a presença da carrinha em locais de públicas de concentração da população, como mercados, contribui-se para a familiarização da população com o processo de testagem; ao contribuir-se para a familiarização, estará a contribuir-se também para a redução do estigma. Educadores de Rua Os educadores de rua, invertem a lógica de que os cidadãos precisam de se deslocar para obter informações ou mesmo serviços. Com a educação de rua, é o educador quem vai ao encontro das pessoas, onde quer que elas se encontrem. Permite um contacto individualizado e personalizado. Esta estratégia é hoje amplamente utilizada pelo marketing e mesmo pelo marketing social, em particular nos países mais desenvolvidos, sensibilizando a opinião pública para determinada causa e suscitando o seu apoio. A quantidade de solicitações endereçada à sociedade civil, terá talvez contribuído para reduzir a eficácia desta estratégia. Em muitos contextos no entanto, a educação de rua continua a ser a resposta mais eficaz. No âmbito do “Programa Prostituição Masculina e Feminina” o Projecto Axé tem desenvolvido um conjunto de projectos, virados para a prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis e VIH/sida. O “Projecto Programa” por exemplo, dirige-se a jovens rapazes, profissionais do sexo na cidade do Rio de Janeiro. É através dos educadores de rua que o projecto se desenvolve. O contacto é estabelecido, individualmente com os jovens, que são alertados para a importância do uso do preservativo, e para a importância da saúde e acesso à justiça325. maria teresa silva santos Outros Os meios identificados até agora figuram entre os meios mais frequentemente utilizados para a produção de material de I.E.C.. Mas existem outras possibilidades. Obeliscos vestidos com preservativo, sacos das compras, carteiras e postais são outras possibilidades, que podem ser utilizadas com mais ou menos eficácia, muito dependendo do contexto, como já foi analisado. No entanto, existe ainda uma série grande de possibilidades por explorar. Use a sua criatividade e o seu ouvido. Esteja atento a si e às sugestões dos outros, em especial aqueles para quem o material é dirigido! Na República Democrática do Congo, os sacos de plástico foram utilizados para publicitar o uso de preservativos masculinos da marca Prudence326. Figura 17 Saco para a promoção do uso do preservativo “Prudence” — Population Service International — PSI A caixa de fósforos foi uma produção do Conselho Nacional de Prevenção e Controlo do México327. P;'-#;>%0&(#'("'=.$%#2';"%#2@ E por vezes a solução mais adequada e que dá indícios de ser mais eficaz, passa pela utilização de vários meios, ao mesmo tempo, ou de forma sequenciada. O importante é que os meios se complementem, no sentido de reforçar a mensagem328. 145 146 guia de boas práticas Por exemplo, se um anúncio no jornal é eficaz para alertar para a importância do uso do preservativo, complementá-lo com um programa de rádio permitirá aprofundar e desenvolver a importância do uso do preservativo. Um combinado de vários meios pode, na verdade, oferecer um conjunto de vantagens, que se traduzem em maior eficácia. Eis algumas das situações que são possíveis pelo combinado de meios: efeito repetição, maximização da cobertura de audiências, aprofundamento e discussão do tema/problema, validação de conceitos, motivação para agir, entre outros329. 12. B.M/%","6%&6,(%0 Porquê testar? A testagem consiste em analisar a versão final do material que produziu com grupos de pares idênticos àquele com quem trabalhou, para a produção de material de I.E.C. antes de dar o material por fechado e pronto a ser produzido em escala e distribuído330. Para os materiais de I.E.C. que não foram produzidos de forma participativa com integrantes dos grupos para quem o material é produzido, esta etapa é ainda mais importante. Nestes casos, a testagem vai garantir que os conceitos, e as mensagens que foram produzidas por uma equipa de criativos da área do marketing e publicidade, por exemplo, são efectivamente compreendidos pela audiência a quem se destina o material. Se as pessoas não percebem a mensagem, então estamos perante um material de I.E.C. não eficaz331. Nos casos em que o material é produto de um processo participativo, a testagem tem como finalidade confirmar que a mensagem é efectivamente compreendida pelo grupo mais alargado que se pretende alcançar com o material. A testagem surge assim, como o processo pelo qual, se pode medir e eventualmente aumentar, o nível de eficácia do material de I.E.C. produzido. Com quem testar? Idealmente a testagem deve ser realizada com dois tipos diferentes de grupos: › conjunto de pessoas com características idênticas àquelas com quem trabalhou na produção de material de I.E.C. e que correspondem ao perfil da audiência que 148 guia de boas práticas › pretende atingir com o seu material. É importante que este grupo de pessoas não conheçam de antemão, nem o material que está a ser analisado, nem os demais participantes da sessão332. os actores chaves da comunidade, ou seja o conjunto de pessoas que têm o papel de facilitadores ou de bloqueadores, relativamente ao material, podendo aprová-lo ou rejeitá-lo. Imagine por exemplo uma situação em que são produzidos folhetos sobre a importância do uso do preservativo, que deverão ser distribuídos em escolas, em que a média de idades dos alunos se situa nos dezasseis anos. O material terá sido desenvolvido com a colaboração de alunos e professores. No entanto, alguns pais quando tomam conhecimento dos panfletos desaprovam a sua distribuição nas escolas e organizando-se em Associações de Pais, ditam a retirada dos panfletos das escolas. Caso se tivesse ouvido de antemão a opinião dos pais sobre o material, esta situação poderia ter sido evitada. Como testar? A metodologia que mais tem sido utilizada para realizar a testagem de materiais de I.E.C., é a do grupo focal333. Idealmente, as versões a serem testadas, devem estar o mais próximo possível da versão final, que vai ser distribuída. No entanto, porque esta versão implicará normalmente custos acrescidos, aconselha-se a produção de uma versão, que sem exigir grandes esforços financeiros, seja capaz de reproduzir com alguma fidelidade o produto final334. Os grupos focais permitirão avaliar os materiais em relação às características requeridas para sua eficácia, a saber 335: › › › › › › clareza, ou seja saber se o grupo compreendeu a mensagem que o material pretende transmitir; capacidade para chamar a atenção — confirmar se os materiais despertam a atenção do grupo, provocando nele uma vontade para ler, ouvir, assistir; relevância — se a audiência compreendeu o problema, se revê este problema no seu dia-a-dia, e se reconhece o valor da solução proposta; nível de lembrança — se as mensagens são simples, claras; se o grupo se sente motivado para agir; credibilidade — se o grupo acredita nas informações transmitidas; maria teresa silva santos › pontos fortes e fracos — que aspectos dos material mais agradam ao grupo e que aspectos mais desagradam. Da testagem poderão sair informações e recomendações relevantes, no sentido de alterar alguns aspectos do material. Um exemplo concreto de testagem De seguida, vai encontrar um exemplo concreto de mudanças sugeridas num folheto de prevenção ao VIH/sida dirigido a mulheres profissionais do sexo, produzido pela Secretaria de Estado de Pernambuco336. O material foi analisado num grupo focal constituído por nove mulheres profissionais de sexo, do Rio de Janeiro: Aspectos analisados Enfoque Problemas encontrados Em desacordo com o título. O folheto enfoca o sexo feito pelas profissionais do sexo pelo lado do prazer e não, do trabalho (“Veja aqui como não abrir mão do seu prazer”; “Viva o prazer. Faça sexo seguro”). O folheto enfoca em primeiro lugar as informações sobre “Como se pega Aids”. Conceitos O “Trabalhe com segurança” é impróprio. O conceito de segurança é bem mais amplo: as DST/aids não são os únicos riscos a que as trabalhadoras sexuais estão expostas. O subtítulo “Facilite sua vida” também é impróprio, pois remete para a suposta “vida fácil”. Mudanças recomendadas Tratar o sexo como actividade profissional. “Informe-se aqui como trabalhar sem riscos”; “Trabalhe com segurança. Faça sexo seguro”. Enfatizar formas de prevenção, que só aparecem no verso do folheto e como usar camisinha. Substituir o título por algo como “Trabalhe sem correr riscos de saúde.” ou “Trabalhe sem medo da Aids”. Substituir o subtítulo por algo como: “Cuide-se: use camisinha.” ou “No trabalho ou no prazer, sempre com camisinha”. 149 150 guia de boas práticas Aspectos analisados Estilo de redacção Problemas encontrados O trecho “Camisinha evita filhos e doenças sexualmente transmissíveis. Não abra excepção para ninguém. Só faça com camisinha.” está esquisito, difícil de entender. Mudanças recomendadas Usar o artigo no início da frase: “A camisinha…” Trocar filhos por “a gravidez”. Deixar claro que é para fazer “sexo” só com camisinha. A frase modificada seria: “A camisinha evita a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis. Não abra excepção para ninguém. Só faça sexo com camisinha”. Vocabulário A palavra “prostituta” é pejorativa e não deve ser usada. A expressão “secreções sexuais” não é clara e confunde o leitor. Num trecho fala-se de doenças “sexualmente transmissíveis, em outro de “doenças venéreas”. Usar sempre “profissionais do sexo” ou “trabalhadoras sexuais”. É melhor falar em “esperma” e “líquidos vaginais”. Uniformizar: usar sempre “doenças sexualmente transmissíveis”. Formato “O folheto é muito pequeno e a gente perde com facilidade. Ele é todo dobradinho e, aí, a gente não lê na ordem certa.” Aumentar o tamanho e a largura do folheto, colocando um ou duas dobras, apenas. Programar as dobras de modo a facilitar a leitura na ordem adequada. Uso de cores “A cor no geral não tem nenhuma função especial: o folheto podia ser preto e branco”. “Camisinha amarela?! Tomara eu usar camisinha, ainda vou comprar a colorida?!…” Usar a cor para realçar ou acentuar trechos mais importantes. Ilustrar a camisinha com o modelo mais simples e acessível possível. maria teresa silva santos Aspectos analisados Problemas encontrados Mudanças recomendadas Tipo e forma de ilustrações Quando se fala que a “mãe infectada pode transmitir o HIV para o filho durante a gravidez, no parto, e na amamentação”, a ilustração que aparece é a da transfusão sanguínea, que é repetida depois, no lugar certo. Não há nenhuma ilustração retratando a colocação e a retirada da camisinha. “Na capa do folheto, a camisinha aparece enorme e a trabalhadora sexual pequenininha, quando o principal, ali, é a mulher”. Adequar a ilustração colocando uma mulher grávida e/ou amamentando. Neste momento, “não se quer informar (nem é preciso) sobre a transmissão vertical. Assim, isso pode sair do folheto”. Incluir ilustrações que mostrem a colocação e retirada da camisinha. A colocação, de preferência, deverá ser feita pela própria trabalhadora sexual, aproveitando para excitar mais o homem. Dar personalidade às ilustrações, valorizando a mulher e impedindo que ela se sinta diminuída frente à camisinha. Caracterização das personagens A aparência da trabalhadora sexual na capa, retrata aquelas que fazem “trottoir”. Existem muitas que não fazem. As trabalhadoras sexuais nem sempre fazem “trottoir”. A ilustração deve retratar não uma, mas um conjunto de diferentes trabalhadoras sexuais (louras, morenas, negras, mulatas) sem usar estereótipo: de salto alto, minissaia e rodando bolsinha. In SCHIAVO, Márcio Ruiz; MOREIRA, Eliesio — Guia de Produção e Uso de Materiais Educativos. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Politicas de Saúde, Coordenação Nacional de DST e AIDS; 1998. p. 49, 50 151 13. O$,)6."6%05."=%<,","5/.2$K'/ 0,6%/',="2%"?IGIJI",2%#$,2."%"%*+,K3 Existem dois tipos de tempo que devem ser tidos em conta: o tempo da produção do material e o tempo necessário para serem observadas mudanças ao nível de atitudes e comportamentos. Quanto tempo para produzir material de I.E.C. adequado? A bibliografia disponível refere serem necessários entre doze e dezoito meses, para completar um ciclo completo de produção de material de I.E.C. Se optar por retirar a avaliação, e isolar o processo de produção do material propriamente dito, alguns autores fazem descer o número de meses necessários para cinco meses, outros para nove meses337. De seguida, poderá encontrar um exemplo possível de um plano de trabalho (ver quadro da página seguinte). Um ponto a reter neste aspecto, é que a bibliografia revista prevê o recurso a profissionais da área da publicidade e marketing bem como ilustradores profissionais. Se optar por construir as mensagens ao nível dos grupos focais, e entregar a ilustração do material a um integrante do grupo focal, existem razões para crer que o tempo necessário aumente bastante, já que ficará dependente da disponibilidade das pessoas e da sua motivação. A experiência levada a cabo no Projecto CRIAS ao nível da produção de material de I.E.C., demonstrou que o tempo variava bastante de grupo para grupo, dependendo principalmente da existência ou não de um ilustrador, no seio do próprio grupo. Quando havia, o tempo médio necessário para a produção de material de I.E.C. situava-se em oito meses, avaliação não incluída. 154 guia de boas práticas Actividade Mês 1 I Recrutamento de pessoal x II Formação do pessoal x III Recrutamento dos participantes no grupo focal x IV Trabalho com os grupos focais 2 3 4 5 6 7 x x 8 9 10 11 12 x x x Rascunho dos materiais: V Análise dos dados gerados pelos grupos focais, desenho das mensagens; x Elaboração de um quadro resumo com os dados; x Colaboração com os ilustradores ; x Rascunho do texto x x Testagem e revisão dos materiais: VI Testagem, revisão e testagem adicional até atingir um ponto satisfatório; x Pré-apresentação às pessoas e organizações interessadas; x Revisão e testagem até os materiais terem atingido um ponto satisfatório. x x VII Aprovação final pelos grupos interessados em utilizar o material x VIII Impressão x x IX Formação de profissionais de saúde X Distribuição x XI Avaliação x In ZIMMERMAN, Margot (et al) — Developing Health and Family Planning Print Materials for Low-luterate audiences: a guide : PATH, 1989. p. 15 maria teresa silva santos Quanto tempo para produzir material capaz de promover a adopção de atitudes e comportamentos seguros? Alguns estudos mostram que os efeitos imediatos de estratégias de prevenção estão mais ligados ao aumento de conhecimentos e fazem-se sentir mais ao nível da motivação para agir, do que ao nível da mudança de comportamento propriamente dita. A longo prazo no entanto, enquanto que a motivação para agir parece diminuir, a mudança de comportamento parece aumentar338. Uma explicação avançada é que o uso do preservativo passa a ser automático339. Consensual é a necessidade das campanhas serem continuadas no tempo. No final dos anos 80, o Programa para o Controlo da SIDA no Uganda, dava conta que cerca de 6% da população vivia com VIH340. No início dos anos 90, o Uganda era tido por muitos como o mais amplamente afectado pela epidemia. Campanhas de prevenção, promoção de atitudes e comportamentos seguros, controlo, o apoio prestado a pessoas que vivam com VIH/sida confluiu para ganhos sucessivos durante a década de 90. Em 2000, o país pressentia já, que podia eventualmente, ser vítima do seu próprio sucesso. Com a epidemia controlada, os fundos disponíveis para apoiar o Uganda foram diminuindo341. De facto, já em 2006, o relatório de actualização do controlo da epidemia anualmente divulgado pela ONUSIDA, dava conta que os possíveis ganhos durante a década de 90, pareciam estar a ser alvo de erosão, com o número de pessoas a usar o preservativo de forma consistente, a diminuir342. Existe ainda um outro tipo de efeitos a longo prazo. Indicadores recolhidos após a exposição ao material podem ser fracos indícios dos efeitos que poderão ocorrer a longo prazo, mesmo depois do material já não ser recordado. É possível que a mensagem tenha impacto em assuntos mais remotos não explicitamente discutidos pela mensagem343. 155 14. !)2%",5='+,/".$"2'&6/'M$'/". 0,6%/',="?IGIJI3 A distribuição de material de I.E.C. está dependente do formato que tiver sido escolhido para passar a mensagem. Assim, por exemplo se o formato tiver sido o panfleto, a questão coloca-se em termos dos locais mais frequentados pelas pessoas que se pretende envolver na campanha mas se o formato tiver sido a televisão, a questão da distribuição coloca-se relativamente à questão do melhor horário, ou da relação possível com os programas que recolhem mais audiências. Por outro lado, decisões relativas à distribuição terão de ter em conta as características do grupo que pretende envolver. Se a sua intenção é chegar a jovens, uma discoteca será em princípio mais adequada do que um super-mercado. Diferentes formatos, colocarão desafios diferentes com soluções igualmente diferentes. No entanto, lembre-se sempre de verificar quais as situações em que pode atingir o máximo número de pessoas do grupo que pretende envolver344. No caso do panfleto e em todos os casos que implicam uma distribuição física do material verifique: › › › os locais de maior concentração do grupo que pretende envolver, que podem ser bares, igrejas, centros de saúde, discotecas, escolas, empresas, ou outros; os locais de fácil acesso, que não impliquem despesas de deslocação, nem envolvam gastos de tempo; os locais que não levantem possibilidade de estigmatização. Por exemplo, se pretende distribuir material sobre tratamento do VIH/sida, e se a sua Associação tem como objectivo apoiar pessoas que vivam com VIH/sida, e está localizada numa comunidade em que as pessoas exercem algum controlo social, não opte por distribuir o material exclusivamente na sua Associação. 158 guia de boas práticas No caso da televisão e de outros meios de comunicação de massa, como por exemplo a rádio, verifique: › › que a campanha de prevenção ou controlo é colocada no horário que corresponde ao horário em que o grupo que pretende envolver, segue o programa; que a campanha de prevenção é intercalada com os programas mais ouvidos ou vistos pelo grupo que pretende envolver, conseguindo desta forma uma associação entre a campanha e o programa. Por exemplo, ao colocar uma campanha de prevenção dirigida a jovens junto do programa de televisão mais visto pelos jovens e que passa uma imagem cool, é de esperar que a mensagem seja associada a este programa ao estilo de vida veiculado pelo programa. Q"H"$R0-%&2'>%>1%#G$.,-&2 1 UNAIDS — 2010 Aids epidemic update. Geneva: UNAIDS, 2010. p. 20. 2 Kaleeba, Noerine; Kadowe, Joyce Namulondo; Kalinaki, Daniel; Williams, Glen — Open Secret: People facing up to HIV/AIDS in Uganda. London: ActionAid, 2000, p. 3. 3 Hedebro, Gorän — Communication and Social Change in Developing Nations: A Critical View. Iowa: The Iowa State University Press, 1982, p. 5. 4 Selaimen, Gabriela — Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação. Rio de Janeiro: RITS, 2004, p. 21. 5 Fiske, John — Introduction to Communication Studies. London: Routledge, 1990, p. 21. 6 Epskamp, Kees; Boeren, Ad — Education and communication: a conceptual framework in Epskamp, Kees; Boeren, Ad — The empowerment of culture: development and communication and popular media. The Hague: Centre for he Study of Education in Developing Countries, 1992, p. 15. 7 Epskamp, Kees; Boeren, Ad — Education and communication: a conceptual framework in Epskamp, Kees; Boeren, Ad — The empowerment of culture: development and communication and popular media. The Hague: Centre for he Study of Education in Developing Countries, 1992, p. 14. 8 Fiske, John — Introduction to Communication Studies. London: Routledge, 1990, p. 2. 9 Epskamp, Kees; Boeren, Ad — Education and communication: a conceptual framework in Epskamp, Kees; Boeren, Ad — The empowerment of culture: development and communication and popular media. The Hague: Centre for he Study of Education in Developing Countries, 1992, p. 17. 10 Nwosu, Peter — Introduction in Communication and the transformation of society — A developing region’s perspective. Nwosu, Peter; Onwenmechell, Chuka, M’Bayo, Richard, ed., London: University Press of America, 1995, p. 13. 11 UNIFEM; APGEN; UNDP; UNAIDS; UNICEF; UNHCR — Women, Gender and HIV/AIDS in East and Southeast Asia: UNIFEM, p. 1. 12 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 10. 160 guia de boas práticas 13 Middleton-Lee, Sarah — Uma Educação pelos pares eficaz: trabalhar sobre saúde sexual e reprodutiva e o VIH/Sida com crianças e jovens. Maputo: Save The Children, 2004, pp. 15-16. 14 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 6. 15 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 25. 16 Edström, Jerker; Cristobal, Arthur; De Soysa Chulani; Sellers Tilly — Ain’t misbehavin’: beyond individual behaviour change. S. l.: PLA Notes 37 (2000), p. 22. 17 Norwegian Group On Hiv/Aids And Gender — HIV/AIDS: an awareness raising folder. Oslo: Working Group on HIV/AIDS and Gender, 2001, p. 5. 18 Whelan, Daniel — Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 5. 19 India HIV/ AIDS Alliance; ICRW; VMM; PWDS; MAMTA; LEPRA INDIA — Women & HIV/ AIDS: The Changing Force of the Epidemic in India. S. l. 20 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 16. 21 Norwegian Group On HIV/AIDS And Gender — HIV/AIDS: an awareness raising folder. Oslo: Working Group on HIV/AIDS and Gender, 2001, p. 6. 22 ONUSIDA — Mulheres e o SIDA: Ponto de vista da ONUSIDA. S. l.: UNAIDS, 1997, p. 3. 23 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 6. 24 ONUSIDA — Mulheres e o SIDA: Ponto de vista da ONUSIDA. S. l.: UNAIDS, 1997, p. 3. 25 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 6. 26 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 6. 27 Williams, Glenn; Miligan, Amand, Odemwingie, Tom — A Common cause: Young people sexuality and HIV/AIDS in three African Countries. Oxford: ActionAid, UNAIDS, DFID, 2006, p. 3. 28 UNAIDS — Young people ‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/ YoungPeople›, visitado em 23 de Setembro de 2008 29 UNAIDS — Young people ‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/ YoungPeople›, visitado em 23 de Setembro de 2008 30 UNAIDS — Aids epidemic update. Geneva: UNAIDS, 2006, p. 3. 31 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p 16. 32 India HIV/ AIDS Alliance; ICRW; VMM; PWDS; MAMTA; LEPRA INDIA — Women & HIV/ AIDS: The Changing Force of the Epidemic in India. S. l., p. 2. 33 Whelan, Daniel — Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 9. 34 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 10. 35 UNAIDS; UNHCR — UNAIDS Policy Brief: HIV and Refugees. S. l.: UNAIDS, 2007 maria teresa silva santos 36 UNAIDS — Refugees and internally displaced people ‹http://www.unaids.org/en/Policies/Affected_communities/Refugees.asp›, visitado em 23 de Setembro de 2008 37 Mary Haour-Knipe Conference notes 38 Aids and Mobility — How HIV-Positive People with an uncertain residence status survive in Europe. S. l.: NIGZ; AIDS&Mobility; AIDES, p. 20. 39 Haour-Knipe, Mary Conferência Europeia: O direito à prevenção, tratamento, cuidados de saúde e apoio contra o VIH/SIDA para os migrantes e as minorias étnicas na Europa: a perspectiva da comunidade, 7,8, Lisboa, 2008 — Visão Geral — Introdução, dados, escala do problema, questões em aberto e desafios. PowerPoint apresentado na Conferência 40 Guest, Emma — Children of AIDS — Africa’s Orphan Crisis. Scottsville: University of Natal Press, 2003, p. 5. ISBN 1-86914-030-3 41 Guest, Emma — Children of AIDS — Africa’s Orphan Crisis. Scottsville: University of Natal Press, 2003, p. 5. ISBN 1-86914-030-3 42 UNAIDS — 2006 Report on the global AIDS epidemic. Geneva: UNAIDS, p. 114. ISBN 92 9 1735116 43 Riehman, Kara S.; Kral, Alex H.; Anderson, Rachel; Flyn Neil; Bluthenthal, Ricky — Sexual Relationships, secondary syringe Exchange and gender differences in HIV risk among drug injectors. Journal of Urban Health: Bulletin of Ney York Academy of Medicine. 81: 2 (2004), p. 250. 44 UNAIDS — Men who have sex with men ‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/ MenSexMen/›, visitado em 24 de Setembro de 2008 45 UNAIDS — UNAIDS Policy Brief: HIV and Sex Between Men. S. l.: UNAIDS, 2006 46 UNAIDS People in prison settings ‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/ PeoplePrison/›, visitado em 24 de Setembro de 2008 47 Coordenação Nacional para a Infecção do VIH/Sida — Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do VIH/Sida. Lisboa; CNIVS, 2006, p. 5. 48 Guest, Emma — Children of AIDS — Africa’s Orphan Crisis. Scottsville: University of Natal Press, 2003, p. 1. ISBN 1-86914-030-3 49 Guest, Emma — Children of AIDS — Africa’s Orphan Crisis. Scottsville: University of Natal Press, 2003, p. 51. ISBN 1-86914-030-3 50 Ennew, Judith — Outside childhood: street children’s rights in Franklin, Bob (ed.). The handbook of children’s rights: comparative policy and practice London; New York, NY: Routledge, 1995, p. 206. 51 UNAIDS — Sex Workers and clients ‹http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/KeyPopulations/ SexWorkers/›, visitado em 13 de Fevereiro de 2009 52 UNAIDS — Female sex worker HIV prevention projects: lessons learnt from Papua New Guinea, Índia and Bangladesh. Geneva: UNAIDS, 2000, p. 09. 53 UNAIDS — Female sex worker HIV prevention projects: lessons learnt from Papua New Guinea, Índia and Bangladesh. Geneva: UNAIDS, 2000, p. 09. 54 UNAIDS — Female sex worker HIV prevention projects: lessons learnt from Papua New Guinea, Índia and Bangladesh. Geneva: UNAIDS, 2000, p. 10. 55 UNAIDS — Making a difference: The media and HIV/AIDS. Geneva: UNAIDS, 2004, p. 3. 56 UNAIDS — Making a difference: The media and HIV/AIDS. Geneva: UNAIDS, 2004, p. 4. 161 162 guia de boas práticas 57 Kaleeba, Noerine; Kadowe, Joyce Namulondo; Kalinaki, Daniel; Williams, Glen — Open Secret: People facing up to HIV/AIDS in Uganda. London: ActionAid, 2000, p. 40. 58 Rosenstock, Irwin — Why people use health services. The Milbank Memorial Fund Quarterly. S. l.: Milbank Memorial Fund. 44:3, (1966) Part 2: Health Services Research 59 Hayes, Diane; Ross, Catherine — Concern with appearance, Health Beliefs and Eating Habits. Journal of Health and Social Behaviour. S. l.: American Sociological Association. 28:2 (1987), p. 120. 60 In Rosenstock, Irwin M. — Why People Use Health Services. The Milbank Memorial Quarterly. S. l.: Milbank Memorial Fund. 44:3 (1965), p. 98. 61 In Rosenstock, Irwin M. — Why People Use Health Services. The Milbank Memorial Quarterly. S. l.: Milbank Memorial Fund. 44:3 (1965), p. 99. 62 In Rosenstock, Irwin M. — Why People Use Health Services. The Milbank Memorial Quarterly. S. l.: Milbank Memorial Fund. 44:3 (1965), p. 99. 63 In Rosenstock, Irwin M. — Why People Use Health Services. The Milbank Memorial Quarterly. S. l.: Milbank Memorial Fund. 44:3 (1965), p. 99. 64 Hayes, Diane; Ross, Catherine — Concern with appearance, Health Beliefs and Eating Habits. Journal of Health and Social Behaviour. S. l.: American Sociological Association. 28:2 (1987), p. 120. 65 In Rosenstock, Irwin M. — Why People Use Health Services. The Milbank Memorial Quarterly. S. l.: Milbank Memorial Fund. 44:3 (1965), p. 101. 66 Sood, Suruchi, Nambiar, Devaki — Comparative Cost-effectiveness of the components of Behaviour Change Communication Campaign on HIV/aids. Journal of Health Communication. S. l.: Bertrand, Jane T.; Huchinson. ISSN 1087-0415. 11:143-162 (2006), p. 145-146. 67 Ajzen, I. — Attitudes, personality and behaviour. 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(et al) — An empirical Typology of subjects within stages of change. Addictive Behaviors. Elsevier Science Ltd. ISSN 0306-4603(94)00069-7. 20: 3 (1995), p. 299. 75 Velicer Wayne F. (et al) — An empirical Typology of subjects within stages of change. Addictive Behaviors. Elsevier Science Ltd. ISSN 0306-4603(94)00069-7. 20: 3 (1995), p. 299. maria teresa silva santos 76 Prochaska, James et al “Measuring the Processes of Change: Applications to the Cessation of Smoking” Journal of Consulting and Clinical Psychology, 1988, Vol. 56, No. 4, p. 526. 77 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 11. ISBN 0-02-926671-8 78 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 162. ISBN 0-02-926671-8 79 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 164. ISBN 0-02-926671-8 80 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 164. ISBN 0-02-926671-8 81 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 165. ISBN 0-02-926671-8 82 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 170. ISBN 0-02-926671-8p. 83 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 171. ISBN 0-02-926671-8 84 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 171. ISBN 0-02-926671-8 85 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 174. ISBN 0-02-926671-8 86 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 182. ISBN 0-02-926671-8 87 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 191. ISBN 0-02-926671-8 88 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 257. ISBN 0-02-926671-8 89 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 203. ISBN 0-02-926671-8 90 Rogers, E. — Diffusion of Innovations. 4ª ed. New York: Free Press, 1995, p. 259. ISBN 0-02-926671-8 91 Evans, Catrin et Lambert, Helen — The limits of behaviour change theory: condom use and contexts of HIV risk in Kolkata sex industry. Culture, Health & Sexuality. S. l. ISSN 1464 — 5351. 10:1, p. 29. 92 Mcguire, William J — Theoretical Foundations of Campaigns In RICE, Ronald; PAISLEY, William — Public communication campaigns. Beverly Hills: Sage Publications, 1981, p. 45. 93 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. xi. 94 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 26. 95 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 27. 96 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 26. 97 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 25. 98 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 18. 99 Bandura, Albert — Human Agency in Social Cognitive Theory. American Psychologist. S. l.: American Psychologist Association. 44:9 (1989), p. 1176. 100 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 20. 101 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 20. 102 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 20. 163 164 guia de boas práticas 103 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 21. 104 Bandura, Albert — Social Foundations of Thought and Action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs NJ: Prentice Hall, 1986, p. 20. 105 Bandura, Albert — Human Agency in Social Cognitive Theory. American Psychologist. S. l.: American Psychologist Association. 44:9 (1989), p. 1175. 106 Bandura, Albert — Human Agency in Social Cognitive Theory. American Psychologist. S. l.: American Psychologist Association. 44:9 (1989), p. 1176. 107 Bandura, Albert — Human Agency in Social Cognitive Theory. American Psychologist. S. l.: American Psychologist Association. 44:9 (1989), p. 1176. 108 Bandura, Albert — Human Agency in Social Cognitive Theory. American Psychologist. S. l.: American Psychologist Association. 44:9 (1989), p. 1177. 109 Bandura, Albert — Self-efficacy in Changing Societies. New York: Cambridge University Press, 1995, p. 4. ISBN 0-5-521-47467-1 110 Whelan, Daniel — Gender and HIV/AIDS: Taking Stock of research and programmes. Geneva: UNAIDS, 1999, p. 23. 111 Evans, Catrin et Lambert, Helen — The limits of behaviour change theory: condom use and contexts of HIV risk in Kolkata sex industry. Culture, Health & Sexuality. S. l. ISSN 1464 — 5351. 10:1, p. 31. 112 Evans, Catrin et Lambert, Helen — The limits of behaviour change theory: condom use and contexts of HIV risk in Kolkata sex industry. Culture, Health & Sexuality. S. l. ISSN 1464 — 5351. 10:1, p. 34. 113 Evans, Catrin et Lambert, Helen — The limits of behaviour change theory: condom use and contexts of HIV risk in Kolkata sex industry. Culture, Health & Sexuality. S. l. 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London: ActionAid, 2000, p. 12. 119 Middleton-Lee, Sarah — Uma Educação pelos pares eficaz: trabalhar sobre saúde sexual e reprodutiva e o VIH/Sida com crianças e jovens. Maputo: Save The Children, 2004, p. 4. 120 International Planned Parenthood Federation — The Power of Prevention-Stories from JTF Projects in Africa and Asia. London: International Planned Parenthood Federation, 2003, p. 11. 121 Economic Security for Women Fight AIDS. The Global Coalition on Women and AIDS (ed.) Issue nr. 3. 122 Edström, Jerker; Cristobal, Arthur; De Soysa Chulani; Sellers Tilly — Ain’t misbehavin’: beyond individual behaviour change. S. l.: PLA Notes 37 (2000), p. 25. maria teresa silva santos 123 Edström, Jerker; Cristobal, Arthur; De Soysa Chulani; Sellers Tilly — Ain’t misbehavin’: beyond individual behaviour change. PLA Notes 37 (2000), p. 23. 124 Smith, Ann; Howson, John — Safely through the night: a review of behaviour change in the context of HIV/AIDS. 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