ASPECTOS NEUROCIRÚRGICOS NUM DOENTE VIH+ RESUMO Apesar de se manter hoje um grave problema de saúde pública com importantes repercussões socioeconómicas, graças à intervenção da Infecciologia em centros diferenciados a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) tornou-se numa maioria dos casos uma doença crónica. Esse facto, pelo aumento da sobrevida sob risco de infeção oportunista ou neoplasia, abre portas à necessidade de rapidamente diagnosticar e tratar complicações e comorbilidades, objectivo que por vezes adquire contornos desafiantes. O contacto com o foro neurológico / neurocirúrgico é frequente e obriga por vezes a intervenção cirúrgica. Os autores apresentam o caso clínico de um homem de 47 anos, portador de infecção pelo VIH (conhecida desde 2008, em contexto de infecção oportunista), tabagismo activo (cerca de 700 UMA), e história de nódulos pulmonares de etiologia por esclarecer, sem seguimento. Trabalhava frequentemente no estrangeiro, incluindo um período de 6 meses em Angola no ano de 2009. 1. Em Maio de 2011, por um quadro de cefaleias holocraneanas intensas, associadas a episódios de vómito, tonturas e diminuição da força muscular generalizada, foram diagnosticadas lesões múltiplas encefálicas, interpretadas inicialmente como sendo mais provavelmente lesões de natureza infecciosa, mas após cirurgia o diagnóstico foi de metástase de carcinoma de provável origem pulmonar. 2. Em Dezembro de 2011, em contexto de síndrome febril mas também de alteração postural cervical, défice motor do membro superior esquerdo e ptose palpebral, foi diagnosticada fractura patológica de vértebra cervical, com empiema epidural e mielorradiculocompressão. A opção terapêutica foi a de cirurgia descompressiva, verificando-se uma infecção por Nocardia. 3. Em Outubro de 2012, o paciente referiu de novo um quadro progressivo de disestesias ("ardência") no membro inferior direito e atingimento mais tarde também do pé contra-lateral, seguidos depois de retenção urinária. O exame neurológico era compatível com um síndrome do cone medular, e em RMN foi descrita uma lesão expansiva, interpretada inicialmente como correspondendo a um abcesso do cone medular. Após cirurgia, o estudo anatomopatológico revelou nova lesão metastática por adenocarcinoma. Os autores pretendem sublinhar os diversos quadros neurológicos e as múltiplas dificuldades que existem na orientação de doentes com infecção VIH.