UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO EM ENFERMAGEM ISABELE TORQUATO MOZER ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM EM CUIABÁ, MATO GROSSO. CUIABÁ 2014 2 ISABELE TORQUATO MOZER ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM EM CUIABÁ, MATO GROSSO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Área de concentração: Enfermagem e o cuidado à saúde regional. Linha de pesquisa: Estudos do cuidado à saúde. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Christina de Paula Corrêa CUIABÁ 2014 Áurea 3 4 ISABELE TORQUATO MOZER Análise da implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem em Cuiabá, Mato Grosso. Esta dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para obtenção do título de: Mestre em Enfermagem. E aprovada na sua versão final em 24 de fevereiro de 2014 atendendo às normas da legislação vigente da UFMT, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, área de concentração Enfermagem e o cuidado à saúde regional. _________________________________________ Drª Rosemeiry Capriata de Souza Azevedo Coordenadora do Programa BANCA EXAMINADORA: _______________________________ Drª. Áurea Christina de Paula Corrêa Presidente (Orientador) _____________________________ Dr. Jorge Lyra da Fonseca Membro Efetivo Externo ____________________________ Drª. Edir Teixeira Mandú Membro Efetivo Interno _______________________________ Drª. Ruth Terezinha Kehrig Membro Suplente Interno ____________________________ Drª. Sonia Marcon Membro Suplente Externo 5 DEDICATÓRIA Dedico o conteúdo desta dissertação aos gestores de saúde do município de Cuiabá. Que ele sirva de apoio na construção de ações para a saúde masculina. Dedico o título de Mestre àqueles que foram meus alunos e àqueles que ainda serão. Ao meu avô Damasceno: homem de descendência puramente alemã – um símbolo de masculinidade hegemônica. 6 AGRADECIMENTOS Ao Pai Celestial e a espiritualidade amiga que me auxiliou durante todo este período e me mostrou os melhores caminhos a seguir. A minha família: mãe, tia, pai e irmãos pelo apoio e incentivo nesta caminhada. Obrigada por me ensinarem a não desistir e a me portar sempre com caráter e honestidade, não importando a adversidade. À Áurea Christina de Paula Corrêa, minha orientadora por me ensinar a ser uma pesquisadora desde 2008 e por me introduzir no mundo da docência. A minha admiração pelo seu profissionalismo ultrapassa as paredes da Faculdade de Enfermagem. Obrigada por facilitar meu processo de ensinoaprendizagem através da paciência de repetir a mesma coisa várias vezes nas orientações, sempre valiosas, regadas a chá, café e biscoitos. À Áurea Christina de Paula Corrêa, a amiga, que me compreendeu nos momentos difíceis, me auxiliou em escolhas profissionais e esteve comigo em diversos momentos de alegria. Ao meu amor, minha alma afim, Gil Lemes Rosa, pelo amor, carinho, e companheirismo nesta caminhada. Obrigada pelas discussões sobre masculinidade nos domingos à tarde, por sonhar este sonho comigo e por acreditar, desde o começo, que o mestrado seria possível. Você, com o seu amor, foi fundamental. À amiga Rayssa Basílio Arantes, pelas incansáveis discussões sobre o nosso futuro, pelos momentos de cumplicidade e pelo prazer de compartilhar a melhor orientadora. Obrigada por ser tão competente em normas e rodapés. Às pesquisadoras do grupo de pesquisa Gerar, Profª Neuma, Profª Eveline, Profª Janete pelos valiosos ensinamentos em pesquisa. Em especial a Profª Edir pelo abraço aconchegante e estimulante em dezembro de 2010. 7 Ao Prof. Dr. Jorge Lyra da Fonseca e Prof.ª Drª. Ruth Terezinha Kehrig pelas valiosas colaborações desde o momento da qualificação. Vocês foram extremamente importantes para o resultado desta dissertação. Às amigas Renata C. Teixeira e Eveline do Amor Divino pelas horas de alegria e descontração. O mestrado me trouxe a amizade de vocês e fico muito feliz com isso. Obrigada por me ensinarem a ser a docente que estou me tornando. Aos amigos fora do mundo “enfermagem e saúde” por compreenderem as minhas ausências e me amarem mesmo assim. Incluo aqui os meus amigos eternos do Ensino Médio e às minhas irmãs Filhas de Jó. Em especial Luize Calvi Menegassi Castro pela companhia nos sábados à tarde e incentivo mútuo durante todo este período. Às minhas amigas de graduação, e em especial a Ana Caroline Ramirez de Andrade, que compartilhou comigo cada anseio desta caminhada, mesmo estando em do outro lado do país e em outro Programa de Pós Graduação; e a Carla Wunsch por sempre estar disposta a me ajudar e me acalmar em momentos de aflição. Em nome do Sr. Luiz Gonzaga Coelho de Miranda, Diretor da Cadeia Pública de Várzea Grande, agradeço a todos os profissionais desta Unidade Prisional pelo carinho com que me receberam e mais ainda, pelo apoio dado nesta reta final. À Secretaria da Faculdade de Enfermagem, em especial ao Rodrigo, pelo empenho em sempre ajudar. À Secretaria Municipal de Saúde, por me conceder os dados desta pesquisa. Em especial, às minhas “ex-chefes” que me oportunizaram a prática da gestão em saúde. Obrigada por confiarem em mim. 8 À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por me permitir aproveitar o máximo do mestrado através do apoio financeiro nesta caminhada. E por fim, porém não menos importante, agradeço a todos que me mandaram energias positivas e torceram por mim neste projeto. Obrigada Deus, Pai Celestial, por ser tão fantástico comigo. Sempre. 9 RESUMO MOZER, I. T. Análise da implementação da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem em Cuiabá, 2013. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Curso de Pós-Graduação em Enfermagem, UFMT, Cuiabá. 125 p. Orientador: Dra. Áurea Christina de Paula Corrêa A Política de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi instituída em 2009 com o intuito de facilitar/favorecer o acesso de homens aos serviços de saúde, propondo ações humanizadas e resolutivas, capacitando os profissionais de saúde para o atendimento ao homem e incluindo estratégias para a promoção da equidade para distintos grupos sociais, reconhecendo a Atenção Básica como espaço prioritário para o desenvolvimento destas ações. O Ministério da Saúde selecionou 26 municípios para a implantação prévia da PNAISH, sendo Cuiabá uma destas cidades, e para tanto recebeu um incentivo financeiro para a execução desta iniciativa. Este estudo objetivou analisar o processo de implementação da PNAISH em Cuiabá, na perspectiva da equipe gestora dos níveis primário e secundário de atenção à saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Foi realizado um estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo exploratório. Os sujeitos do estudo foram os membros da equipe gestora da SMS-Cuiabá da Atenção Básica e Secundária, entre os anos de 2009 a 2013 - Diretores, Coordenadores e Responsáveis Técnicos ligados à Saúde do Homem. Para o levantamento de dados utilizou-se a técnica de entrevista semi-estruturada e a análise dos documentos municipais que nortearam o processo de implementação - Planos de Trabalho Anuais e Relatórios de Gestão Anais. Os dados foram tratados e analisados através da técnica de análise temática, utilizando a análise de política como ferramenta metodológica, assumindo gênero como referencial teórico direcionador do olhar sobre os achados empíricos. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller sob o protocolo nº 179.098/2012. Os resultados foram apresentados na forma de três manuscritos. O primeiro visou identificar os atores envolvidos na implementação da Política em Cuiabá, estabelecendo relações e graus de mobilização, constatando que a incipiência das relações entre os atores envolvidos na implementação da PNAISH em Cuiabá refletiu negativamente na proposição de ações. O segundo manuscrito analisou o processo de implementação da PNAISH a partir das ações realizadas pelos membros da equipe gestora da SMS, e apontou que estas foram voltadas para os aspectos biológicos da saúde masculina, com ênfase na neoplasia prostática e nas alianças estabelecidas com as empresas do setor privado, como caminho a ser seguido para a implementação da PNAISH. O terceiro manuscrito analisou os documentos municipais que orientaram a implementação da PNAISH em Cuiabá, apontando para a incompreensão, pela equipe de gestão, da concepção teórica que motivou a sua instituição, refletindo em propostas vagas, que não orientam as práticas profissionais. Concluímos que a realidade municipal, no que se refere à implementação da PNAISH, não difere das demais localidades onde estudos deste cunho foram realizados, sinalizando 10 para a dificuldade em operacionalizar uma Política que, inicialmente, busca repensar as formas de pensar o ser homem. Neste sentido, o Ministério da Saúde, enquanto definidor das Políticas, tem a responsabilidade de direcionar as práticas em saúde, fomentando mudanças que visem à melhoria das ações de saúde direcionadas a população masculina, auxiliando os municípios no processo de implementação para a consolidação da PNAISH. Palavras - chave: Saúde do Homem, Gestão em Saúde, Análise de Política. 11 ABSTRACT MOZER, I. T. Implementation Analysis of Integral Attention to Men's Health Policy in Cuiabá, 2013. Dissertation (Master's in Nursing) - Graduate Course in Nursing, UFMT, Cuiabá. 125 p. Advisor: Dr. Christina Aurea Paula Corrêa The Policy for Integral Attention to the Man Health ( PNAISH ) was established in 2009 in order to facilitate the access of men to health services , and resolutive humanized proposing actions, enabling healthcare professionals for the treatment to the man and strategies for inclusion promoting equity for different social groups, recognizing the primary care as a priority area for the development of these actions . The city of Cuiabá was selected by the Ministry of Health to implement the PNAISH receiving financial incentive to do so. This study aimed to analyze the implementation process of PNAISH in perspective of the management team of primary and secondary health care level of the Municipal Health Service ( SMS ) Cuiabá . A study of qualitative approach was conducted exploratory descriptive. The study subjects were members of the management team of Cuiabá SMS Primary Care and Secondary between the years 2009 to 2013, consisting of Officers, Engineers and Technicians Responsible linked to Human Health. We used a semi-structured data collection associated with municipal documents that guided the implementation process of interviewing technique: Annual Work Plans and Reports Management Annals. Data were processed and analyzed using thematic analysis, using policy analysis as a methodological tool and taking gender as a theoretical framework directing our attention to the empirical findings. The study was approved by the Ethics Committee in Research of Julio Muller University Hospital under No. 179.098/2012 protocol. The results are presented in the form of three scientific manuscripts. The first manuscript aimed to identify the actors involved in the implementation of the Policy in Cuiabá, establishing relationships and degrees of mobilization. It was found that the incipient of relations between the actors involved in the implementation of PNAISH in Cuiabá reflected negatively on the proposal of actions. The second manuscript examined the implementation process PNAISH from the actions carried out by members of the management team of SMS pointed out that these were focused on the biological aspects of male health focusing on prostate cancer and that made alliances with companies in the sector private can be a path to be followed for the implementation of PNAISH. The third manuscript examined municipal documents guiding the implementation of PNAISH in Cuiabá pointing to a misunderstanding by the management team of the theoretical framework that motivated its establishment, reflecting in vague proposals, not to guiding professional practices. We conclude that the reality of the capital of Mato Grosso, with regard to the implementation of PNAISH, does not differ from other cities where surveys were conducted also pointing to a difficulty initially operate a policy that seeks to rethink ways of looking at a man. In this regard, the Ministry of Health, while defining policies, has the responsibility of directing health practices, encouraging changes aimed at improving health actions 12 directed at the male population, assisting municipalities in the implementation of the consolidation process PNAISH. Keywords: Men‟s Health, Health Management, Policy Analysis. 13 RESUMEN MOZER, I.T. Análisis de la implementación de la Política de Atención Integral de la Salud del Hombre en Cuiabá, 2013. Disertación (Master en Enfermería – Pos-Grado en Enfermería, UFMT, Cuiabá. 125 p. Orientador: Dra. Áurea Christina de Paula Corrêa La Política de Atención Integral de la Salud del Hombre (PNAISH) fue constituida en 2009 con el objetivo de facilitar el acceso de hombres a los servicios de salud, proponiendo acciones humanitarias y resolutivas, formando a los profesionales de la salud en la atención al hombre e incluyendo estrategias para la promoción de la igualdad entre distintos grupos sociales, reconociendo de esta manera la Atención Básica como prioritaria para el desarrollo de estas acciones. El municipio de Cuiabá fue seleccionado por el Ministerio de Salud para la implementación de la PNAISH, recibiendo financiación para la misma. Este estudio tuvo como objetivo analizar el proceso de implementación de la PNAISH desde la perspectiva del equipo de gestión de primer y segundo nivel de atención de la salud de la Secretaría Municipal de Salud (SMS) de Cuiabá. Se ha realizado un estudio cualitativo del tipo descriptivo exploratorio. Los sujetos del estudio fueron los miembros del equipo de gestión de la SMS de Cuiabá de la Atención Básica y Secundaria entre los años 2009 y 2013, compuesto por Directores, Coordinadores y Responsables Técnicos relacionados con la Salud del Hombre. Se ha utilizado la técnica de entrevista semi estructurada para la recolección de datos asociados con los documentos municipales que orientarán el proceso de implementación: los Planes de Trabajo Anuales y los Informes de Gestión Anuales. Los datos fueron tratados y analizados a través de la técnica de análisis temática, utilizando el análisis de políticas como herramienta metodológica y asumiendo el género como referencia teórica dirigiendo la mirada hacia los hechos empíricos. El estudio fue sometido y aprobado por el Comité de Ética en Investigación del Hospital Universitario Júlio Muller, protocolo nº 179.098/2012. Los resultados se presentan como tres manuscritos científicos. El primer manuscrito pretende identificar a los sujetos involucrados en la implementación de la Política en Cuiabá, estableciendo relaciones y grados de movilización. Se ha encontrado que la insipiencia de las relaciones entre los sujetos involucrados en la implementación de la PNAISH en Cuiabá ha repercutido negativamente en la propuesta de acciones. El segundo manuscrito que analizó el proceso de implementación de la PNAISH a partir de acciones realizadas por los miembros del equipo de gestión de la SMS indicó que éstas estaban relacionadas con los aspectos biológicos de la salud masculina, centradas en la neoplasia de próstata, y que las alianzas creadas con las empresas del sector privado pueden ser un camino a seguir para la implementación de la PNAISH. El tercer manuscrito analizó los documentos municipales que orientan la implementación de la PNAISH en Cuiabá manifestando cierta incomprensión del equipo de gestión sobre la concepción teórica que motivó su institución, reflejada en propuestas imprecisas, no 14 orientadas a prácticas profesionales. Concluimos que la realidad de la capital del mato-grosso, en lo que se refiere a la implementación de la PNAISH, no difiere de los demás municipios donde las investigaciones fueron realizadas, mostrando también dificultad en la aplicación de una política que inicialmente buscaba replantear las maneras de ver al hombre. En este sentido, el Ministerio de la Salud, como creador de Políticas, tiene la responsabilidad de dirigir las prácticas en salud, fomentando cambios que fomenten la mejora de las acciones de salud dirigidas a la población masculina, asistiendo a los municipios en el proceso de implementación de la consolidación de la PNAISH. Palabras-clave: Salud del Hombre, Gestión en Salud, Análisis de Política 15 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Os atores envolvidos na implementação da PNAISH em Cuiabá............................................................................ 63 16 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABS Atenção Básica à Saúde APS Atenção Primária à Saúde ASS Atenção Secundária à Saúde CAPS Centro de Atenção Psicossocial CEM Centro de Especialidades Médicas DST Doença Sexualmente Transmissível ESF Estratégia de Saúde da Família HIV Vírus da Imunodeficiência Adquirida IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MS Ministério da Saúde PAISM Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher PNAB Política Nacional de Atenção Básica PNAISH Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem PSF Programa de Saúde da Família PTA Plano de Trabalho Anual RGA Relatório de Gestão Anual SAE Serviço de Atenção Especializada SES Secretaria Estadual de Saúde SESI Serviço Social das Indústrias SMS Secretaria Municipal de Saúde SUS Sistema Único de Saúde UBS Unidade Básica de Saúde UPA Unidade de Pronto Atendimento 17 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 18 1.INTRODUÇÃO .............................................................................................. 20 2. OBJETIVO ................................................................................................... 28 2.1. Objetivo Geral ........................................................................................ 28 2.2 Objetivos específicos .............................................................................. 28 3. O REFERENCIAL TEÓRICO: O OLHAR PARA OS ACHADOS EMPÍRICOS ..................................................................................................... 29 3.1 A gestão em saúde ................................................................................. 29 3.2 Políticas Públicas de Saúde: formulação, implementação e análise do processo. ...................................................................................................... 30 3.3 Gênero e masculinidades. ...................................................................... 37 3.4 A PNAISH ............................................................................................... 40 4. METODOLOGIA .......................................................................................... 46 4.1 Um pouco sobre Cuiabá ......................................................................... 47 4.2. Os sujeitos ............................................................................................. 48 4.3. A coleta de dados .................................................................................. 49 4.4. A análise ................................................................................................ 51 4.5. Os aspectos éticos ................................................................................. 52 4.6. Caracterização dos sujeitos ................................................................... 53 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 55 5.1 Manuscrito 1: Análise da implementação da PNAISH: os atores envolvidos em uma capital do Centro-Oeste. . ............................................. 56 5.2 Manuscrito 2: Gestão do processo de implementação da PNAISH em uma capital brasileira. . ................................................................................. 77 5.3 Manuscrito 3: A implementação da PNAISH em uma capital brasileira: em foco os documentos municipais. .................................................................. 95 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 111 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 114 APÊNDICE A - ROTEIRO PARA ENTREVISTA DOS GESTORES EM CUIABÁ-MT.................................................................................................... 121 APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ............................................................................................................ 123 ANEXO A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ............................... 125 18 APRESENTAÇÃO Para que as escolhas relativas à realização deste estudo sejam justificadas é preciso esclarecer que, a proximidade com a temática gênero antecedeu meu ingresso no Programa de Pós-graduação em Enfermagem, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, uma vez que vem ocorrendo desde que cursava a graduação em Enfermagem como bolsista de iniciação científica, momento em que participei de uma pesquisa nacional, conduzida pelo grupo CLAVES da FIOCRUZ. Esta pesquisa teve como parceiros, membros do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar, ao qual pertenço, e teve como objeto de estudo a violência entre casais adolescentes, sendo que naquele estudo a análise realizada partiu da perspectiva de gênero. Após a conclusão do curso de graduação e já inserida no mercado de trabalho como enfermeira, outros olhares foram construídos, sempre tendo por referência as reflexões teóricas de gênero, olhar que passou a direcionar meu caminhar como cidadã nesta sociedade. O vínculo empregatício que assumi como prestadora de serviço na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Cuiabá, lotada na Central de Regulação, Controle e Avaliação, conduziu-me a exercer funções na equipe gestora1, atividade que me possibilitou o exercício da gestão em nível central, espaço em que decisões são tomadas para o encaminhamento de soluções de problemas de saúde da população municipal. A articulação na prática destes dois campos do saber, a gestão em saúde e a teoria de gênero, favoreceu a emergência de um campo fértil para indagações teóricas e práticas sobre a saúde do homem durante as discussões no Grupo de Pesquisa Projeto Argos-Gerar e no Curso de Mestrado. As vivências no grupo de pesquisa e no programa de pós-graduação possibilitaram que passasse a olhar e interpretar a sociedade Cuiabana, onde nasci e fui criada, de outra forma, conscientizando-me de que a relação de 1 A pesquisadora ocupou cargos de Supervisora Administrativa em Alta Complexidade junto ao Controle e Avaliação; Gerente da Central de Regulação Oncologia e Coordenadora de Regulação Ambulatorial de Procedimentos de Média e Alta Complexidade. 19 masculinidades e feminilidades entre homens e mulheres, aqui estabelecidas, tem características peculiares, uma vez que a mulher cuiabana ocupa a posição central na família, a de matriarca, exercendo significativo poder de decisão no círculo familiar. Entretanto, no universo público este papel é propositalmente invertido: a matriarca cuiabana, com o intuito de preservar a imagem masculina hegemônica, cria seus filhos homens para que sejam a imagem da virilidade e da força. Esta dubiedade de papéis instigou pesquisadoras do grupo ArgosGerar a se aproximarem de questões relativas à implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que visa trabalhar as questões de masculinidades e feminilidades no contexto da atenção à saúde, especificamente no município de Cuiabá, tendo em vista que gênero passava a figurar entre os estudos do grupo como um referencial teórico, e não mais, apenas, como uma categoria analítica. Assim, conhecendo as ações desenvolvidas no município a partir das observações de estudos desenvolvidos por membros do grupo de pesquisa, partimos do pressuposto que a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem ainda não está efetivamente implementada, uma vez que grande parte das ações propostas localmente restringem-se à prevenção do câncer de próstata, desconsiderando a recomendação do Ministério da Saúde (MS) de tomar a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) como norte para propositura de ações. Para além, atualmente, inexistem estudos sobre o funcionamento da PNAISH no município, bem como há uma incipiência de estudos de implementação de Políticas de Saúde na capital, fato que por si justifica a realização desta pesquisa. 20 1. INTRODUÇÃO O presente estudo é parte do projeto matricial “Análise das práticas assistências e gerenciais de enfermagem realizadas em unidades básicas de saúde e hospitais para atendimento às necessidades em saúde sexual e reprodutiva no município de Cuiabá, Mato Grosso”. Tem por objeto de estudo a implementação da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH) em Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, utilizando a análise de políticas como ferramenta metodológica e gênero como referencial teórico. Segundo Draibe (2001) a implementação de Políticas inclui tanto as atividades - meio, que são aquelas que viabilizam o seu desenvolvimento, quanto às atividades fim, que dizem respeito à sua execução, propriamente dita, antes que se torne rotineira. Em meados dos anos 2000, a produção científica nacional acerca de homens e masculinidades, que assumia como referência teórica a categoria de análise gênero, aumentou significativamente na tentativa de compreender a construção da identidade masculina e sua relação com os cuidados à sua saúde. Neste momento, especificamente os estudos que se posicionavam frente às temáticas “saúde do homem” e “busca de cuidados à saúde” focalizavam, via de regra, questões relativas às doenças que acometem homens e não, propriamente, a sua saúde (GOMES; NASCIMENTO; 2006). Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), excetuando as doenças próprias ou específicas do sexo, para praticamente todas as causas, os coeficientes masculinos de mortalidade são maiores, sendo tal fato observado em todas as faixas etárias (LAURENTI et al., 2005; MELO et al., 2008). Estudos demonstram que determinados agravos à saúde, como os acometimentos do aparelho cardiovascular, as neoplasias de pulmão e próstata, as mortes por causas externas ligadas à violência e acidentes de trânsito, têm estreita relação com o comportamento masculino em seu ambiente social (SCHRAIBER et al., 2005) assertiva que valida a afirmação de que, o modelo hegemônico masculino vigente favorece o descuido com a saúde e, consequentemente, aumenta os riscos a mesma. 21 Este modelo, que se caracteriza pela desvalorização do auto cuidado e que reflete a preocupação incipiente do homem com a sua saúde, tem como consequência a pequena presença masculina nos serviços de atenção primária à saúde (APS), associado à representação de que este nível de atenção à saúde é moroso se comparado à atenção especializada (GOMES; NASCIMENTO, 2006; GOMES; REBELLO; NASCIMENTO, 2011 a; 2011 b; FIGUEIREDO, 2005). Neste sentido, Gomes e Nascimento (2006) afirmam que os profissionais e os gestores devem planejar ações/intervenções voltadas para saúde do homem e para a saúde da mulher sem perder de vista a relação entre os gêneros e sem se distanciar das necessidades humanas. Para estes autores, é impossível ser efetivo nas práticas de saúde, desconsiderando as concepções de gênero da população assistida. Nesta linha, estudos brasileiros têm discutido a importância das unidades básicas de saúde (UBS) serem concebidas e assumidas pela gestão administrativa superior como ordenadoras das redes de atenção à saúde, o que favoreceria sua adequação às necessidades em saúde masculinas devido ao seu caráter de prevenção e promoção. O cumprimento pela APS de suas funções, dentre elas a de fazer diagnóstico local para posteriormente planejar e implementar ações, favoreceria a elaboração do diagnóstico de saúde dos homens, no contexto de cada UBS, possibilitando aos serviços de saúde a criação de condições e definição de estratégias assistenciais para contemplar as diferentes necessidades de saúde dos homens (FIGUEIREDO, 2005). Pesquisas conduzidas no contexto da sociedade brasileira evidenciaram que os homens reconhecem as UBS como espaços voltados para atenção à saúde de mulheres, de crianças e de idosos, tendo em vista que a ênfase dos programas ministeriais, quase sempre, centra-se no atendimento a essas populações, através de estratégias comunicacionais como, cartazes educativos voltados para o público feminino, a própria decoração feminina e infantilizada produzida pelos trabalhadores dos serviços de saúde (BRAZ, 2005; COUTO, 2010; GOMES; REBELLO; NASCIMENTO, 2011a). 22 Ao considerar gênero como uma das dimensões organizadoras das relações sociais que produz desigualdades, é preciso reconhecer nas políticas de saúde construídas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) a existência dessas desigualdades e respondê-las, com vistas à promoção da equidade de gênero (FERRAZ; KRAICZYK, 2010). A maneira como é conduzida a implementação das políticas públicas pode favorecer/reforçar os preconceitos, uma vez que os serviços de saúde normalmente, não ofertam aos homens, de forma eficiente, atendimentos compatíveis com as suas necessidades. Para tanto, faz-se necessário uma mudança paradigmática no que diz respeito à percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua família (BRAZ, 2005). Neste sentido, contrariamente ao imaginário social a respeito do homem e do exercício da masculinidade e sua busca por cuidados de saúde, eles têm interesse em serem vistos, mas esbarram em questões relativas à falta de acesso e a efetividade dos serviços (GUERRIERO et al., 2002; GOMES;NASCIMENTO, 2006;GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007; FONTES et al., 2011; GOMES et al., 2011b) o que denota a magnitude da responsabilidade dos profissionais e gestores da área da saúde ao planejarem e implementarem suas ações (FONTES et al., 2011). Assim, constitui-se um grande desafio programar e implementar ações educativas específicas voltadas ao atendimento de necessidades de saúde da clientela masculina, tendo como obstáculos a deficiência de formação acadêmica dos profissionais, a descontinuidade no oferecimento de educação permanente e as especificidades de gênero que não são contempladas nas práticas de atenção primária à saúde (FIGUEIREDO, 2005). Ferraz e Kraiczyk (2010) acreditam que as políticas de saúde podem contribuir para a superação de obstáculos ao cuidado com a saúde oriundos das desigualdades de gênero. Neste sentido, para que isso ocorra, inicialmente deve haver o reconhecimento da impossibilidade das políticas serem “neutras” 23 em relação a tais desigualdades: não responder a elas significaria contribuir para sua manutenção. Com o objetivo de responder a estas necessidades e associado ao reconhecimento de que os agravos à saúde masculina constituem verdadeiros problemas de saúde pública, o Ministério da Saúde (MS) instituiu, em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH) aprovada com a finalidade de nortear as ações de promoção à saúde e prevenção de agravos recorrentes a esta população, levando em consideração a realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e políticoeconômicos (BRASIL, 2008; 2009a). A PNAISH embasa-se na literatura existente com vistas a propor ações humanizadas e resolutivas, capacitar os profissionais de saúde para o atendimento ao homem e incluir estratégias para a promoção da equidade para distintos grupos sociais. Está atrelada a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2006), em sua formulação de 2006, ao passo que privilegia o acesso ao nível primário de atenção à saúde, considerando as individualidades masculinas, complexidade e inserção sociocultural, tendo a Saúde da Família como estratégia prioritária para o desenvolvimento das ações. No mesmo ano de publicação das intenções da Política, em 2008, as propostas de ações voltadas para a saúde do homem foram reforçadas na 13ª Conferência Nacional de Saúde, presentes em seu Relatório Final, onde foram apresentados como um dos desafios para a efetivação do direito humano à saúde no século XXI, no item 77, e como política pública para saúde e qualidade de vida no item 173 (BRASIL, 2008a). A implantação da PNAISH também foi incorporada como prioridade ao ser incluída entre os componentes de avaliação do Pacto pela Vida para o biênio de 2010-2011, segundo a Portaria ministerial nº 2.669 de 03 de novembro de 2009 (BRASIL, 2009b). Desta forma, o Ministério da Saúde a situou no mesmo patamar de importância das políticas de atenção à saúde da mulher, da criança e a prevenção de agravos imunopreveníveis, devendo ser concebida como uma prioridade dos gestores. 24 Com vistas à implantação desta Política, o Ministério da Saúde selecionou 26 municípios que iniciariam o processo no país. Cuiabá foi um dos municípios selecionados, e com a edição da Portaria nº 3.209, de 18 de dezembro de 2009 (BRASIL, 2009c), obteve o direito de receber o incentivo financeiro para iniciar esse processo, devendo, para tanto, começar com a capacitação dos gestores locais, bem como sua equipe e profissionais da saúde. Na capital mato-grossense, segundo dados do IBGE, em 2010 a causa de mortalidade masculina de maior incidência foram os óbitos por homicídios, lesões intencionais indeterminadas e suicídios com a taxa de 130,01/100 mil homens e em segundo lugar os óbitos por acidentes de trânsito, outros acidentes e quedas representando 81,01/100 mil homens. Vale ressaltar que a taxa nacional destes agravos é de 94,53/100 mil e 64,98/100 mil homens (BRASIL, 2010 a), respectivamente, situando Cuiabá acima das médias nacionais. Segundo a PNAISH que segue, também, as diretrizes do Pacto pela Saúde (BRASIL, 2009), no que diz respeito às competências municipais em uma relação tripartite2, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) deve coordenar, implantar, implementar, acompanhar e avaliar, no âmbito do seu território, privilegiando a Estratégia de Saúde da Família, a efetivação da Política de Saúde do Homem (BRASIL, 2008). Considerando a importância da SMS – Cuiabá no processo de implementação da PNAISH, no contexto municipal, foi proposta a realização de um estudo que objetivou analisar, a partir dos movimentos realizados pelas equipes gestoras do município, a melhoria na compreensão destes processos. Frias, Lira e Hartz (2005) consideram que o município é uma esfera de governo complexa, onde a área da saúde dispõe de relativa autonomia, em relação aos demais níveis de gestão do Sistema. Campos (2007) considera 2 O termo tripartite faz alusão à relação entre os três entes federativos - União, estado e município - na qual todos possuem responsabilidades uns com os outros na busca e efetivação de uma assistência integral e organizada no contexto do SUS. 25 que para que se tenha esta autonomia relativa, a gestão e as práticas de saúde nunca serão apenas um desdobramento da política, uma vez que existe uma dependência em cada uma destas dimensões. Ou seja, nem sempre a adesão a uma política nacional de saúde implica, necessariamente, em esforços para a sua implementação, seja no nível das práticas de saúde propriamente ditas, seja no nível da equipe gestora. Neste sentido, Merhy et al. (2007) afirmam que tanto os profissionais quanto os gestores atuam na governabilidade dos processos políticos e organizacionais no cenário da saúde. No entanto, são os gestores que administram os recursos necessários para dar sentido as políticas, ou não. Os gestores municipais do nível central, neste estudo, são entendidos como os membros da equipe gestora, e que têm o compromisso de viabilizar condições para que o profissional possa mudar suas práticas de saúde, a partir de seus microespaços de poder e de trabalho (MERHY et al., 2007). Assim sendo, considera-se que antes de analisar o trabalho desenvolvido por enfermeiros e demais profissionais da rede básica e secundária de saúde em relação à implementação da PNAISH, é prudente que sejam analisadas as ações desenvolvidas pela equipe de gestão do nível central da SMS com vistas à melhor responder as necessidades masculinas. Gomes, Rebello, Nascimento et al. (2011b) defendem que para efetivação desta Política são necessárias adequações nas unidades de saúde, desde a estrutura física até a formação dos profissionais que ali atuam. A melhor formação profissional, que pode ser obtida por meio de capacitações, deve estar atrelada a mudanças nos aspectos gerenciais e organizacionais dos serviços de saúde, articulando avanços tecnológicos e acolhimento, melhores condições de trabalho e processos de comunicação. Entretanto, estas modificações para atenderem efetivamente as demandas da população masculina não podem estar focadas apenas na atenção básica, mas devem englobar a atenção secundária de forma que o homem tenha um acompanhamento adequado às suas necessidades em saúde também neste nível de atenção. 26 Solla e Chioro (2008) definem atenção básica e secundária conforme o número de pessoas atendidas e suas necessidades. A maior parte dos procedimentos realizados na atenção básica destina-se à maioria dos usuários da região onde está situada, atuando de maneira horizontal de forma que os serviços devem ir ao encontro das necessidades dos mesmos. Na atenção secundária, a população almejada é uma parcela que, naquele instante, apresenta necessidades de cuidado diferenciado. Por isso os serviços de atenção especializada são oferecidos, de uma forma geral, para regiões populacionais maiores, servindo de referência para os casos encaminhados da rede básica ou da alta hospitalar. Para estes autores, na prática, os limites entre a atenção básica e secundária são tênues, pois dependem de definições políticas adotadas em função das circunstâncias sociais e econômicas. Frente ao exposto, este estudo pretende analisar como a implementação da PNAISH transcorreu no âmbito da equipe gestora da SMS de Cuiabá. Para tanto se propõe a utilização da análise de política como ferramenta metodológica, a partir da proposta de Araújo Júnior e Maciel Filho (2001) que a caracterizam como uma categoria de estudo, com características próprias e definidas. Segundo os próprios autores, esta ferramenta utiliza a proposta por Walt e Gilson (1994), pois toma como dimensões a serem consideradas no processo de análise: o contexto, os atores, o conteúdo e o processo. Para efeito de condução deste estudo, assume-se aqui a escolha por focar em três destas dimensões: os atores, o conteúdo e o processo de implementação da PNAISH, visto que outros estudos já se debruçaram sobre a análise do contexto da Política, em âmbito nacional (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009; LYRA-DA-FONSECA, 2008). Diante deste quadro e considerando: que as políticas públicas de saúde podem influenciar na redução dos índices de morbimortalidade masculina; que há necessidade de apoiar a implementação da PNAISH na capital de Mato Grosso; que após quatro anos da publicação da Política houve crescimento no número de estudos publicados em periódicos acerca da 27 organização das práticas de saúde a fim de atender as necessidades de saúde da população masculina; questiona-se: de que forma o município de Cuiabá executou as ações para a efetivação da PNAISH? Quais atores estiveram envolvidos no processo de implementação e seus graus de mobilização? Quais estratégias foram/estão sendo utilizadas para efetivar a PNAISH em Cuiabá? 28 2. OBJETIVO 2.1. Objetivo Geral Este estudo teve como objetivo analisar a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem a partir das ações da equipe gestora do nível primário e secundário de atenção à saúde da Secretaria Municipal de Saúde – Cuiabá. 2.2 Objetivos específicos Identificar os principais atores envolvidos no processo de implantação da PNAISH em Cuiabá, estabelecendo relações e graus de mobilização entre eles; Analisar o processo de implementação da PNAISH a partir das ações explicitadas pelos membros da equipe gestora da SMS; Analisar o conteúdo das propostas da equipe gestora através dos documentos municipais que orientam/orientaram a implementação da PNAISH em Cuiabá. 29 3. O REFERENCIAL EMPÍRICOS TEÓRICO: O OLHAR PARA OS ACHADOS 3.1 A gestão em saúde A gestão em saúde pode ser reconhecida como a direção ou condução de processos políticos-institucionais relacionada ao sistema de saúde, eminentemente conflituosos ou contraditórios, ainda que nos níveis técnicoadministrativo e técnico-operacional desenvolva ações de planejamento, organização, gerenciamento, controle e avaliação dos recursos humanos, financeiros e materiais empregados na produção de serviços de saúde (PAIM, 2003). Desta forma, a qualidade de uma gestão pode ser considerada diretamente proporcional à qualidade do processamento técnico, da condução política e da responsabilização por objetivos e metas do plano de ação de cada pasta de uma Secretaria (SILVA, 2011). O artigo 15 da lei nº 8080/1990 (BRASIL, 1990) definiu como competência de cada nível do SUS a elaboração e atualização periódica dos planos de saúde, tornando-os instrumentos de programação e orçamento da gestão (Muller Neto et al, 2012). Estes devem ser elaborados a partir da avaliação das necessidades de saúde da população. Feito um plano de ação é preciso, ao final de sua implementação, a elaboração de um relatório de gestão, que também se torne instrumento de planejamento do SUS, à medida que relata os avanços e retrocessos da gestão anterior (SILVA; SOUTO JR.; BRÊTAS JR., 2008), sendo, consequentemente, um norte para a construção de novos planos de saúde. A NOB 01/1996 (BRASIL, 1996) que dispõe sobre as modalidades de gestão aponta que, os municípios podem assumir o modelo de gestão plena da atenção básica ou gestão plena municipal, sendo os gestores municipais os responsáveis pelo cumprimento dos compromissos assumidos com os demais gestores e com a população. No que diz respeito a Cuiabá, o município está habilitado junto ao Ministério da Saúde na modalidade de gestão plena, sendo a Secretaria Municipal de Saúde a responsável pela gestão da rede de serviços disponível na capital do estado de Mato Grosso, desde a atenção básica até a 30 alta complexidade, incluindo os recursos humanos e materiais, pela pactuação com os demais municípios, o que lhe confere autonomia, inclusive sobre as transferências financeiras intergovernamentais para a saúde. Com o processo de descentralização das ações de saúde que teve inicio na década de 1990, os municípios habilitados em gestão plena se tornaram protagonistas das suas próprias decisões, influindo assim em espaços privilegiados de implantação de políticas (PAIM; VILAS BOAS, 2008). O arcabouço jurídico institucional do SUS, com suas leis, portarias e normas operacionais básicas, estabeleceu um modelo de gestão democrática, assegurando que representações da sociedade tenham participação garantida (através dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde e das Conferências de Saúde também em âmbito municipal, estadual e federal) no campo das instituições com poder e responsabilidade na formulação e acompanhamento da política de saúde, tornando-os potencialmente capazes de influenciar nas decisões relacionadas às prioridades da agenda política da saúde da sua esfera de governo (Muller Neto et al, 2012). Com vistas a atender as necessidades em saúde de homens, até então invisível no contexto dos serviços de saúde, foi editada a PNAISH que aponta como papel da gestão municipal elaborar estratégias de mobilização e conscientização de homens frente a suas necessidades, desnaturalizando o sujeito a partir do olhar de gênero. 3.2 Políticas Públicas de Saúde: formulação, implementação e análise do processo. O estudo das Políticas Públicas de Saúde não se limita à análise das ações adotadas por diferentes governos ao longo do tempo, mas visa demonstrar a real intenção dessas ações e seus efeitos futuros. Trata, necessariamente, de duas dimensões fundamentais que envolvem o processo de formulação e implementação das políticas de saúde: a dimensão do exercício do poder, e a dimensão da racionalidade envolvida nas propostas de organização, reorganização e escolha de prioridades frente às necessidades 31 de saúde da população. Neste momento é preciso que o Estado esteja ciente de suas responsabilidades e sua autoridade frente a estas necessidades (COHN, 2012). Cada possibilidade representa ganhos e perdas para distintos grupos sociais, porém compete ao Estado, sempre, orientar suas decisões para o bem comum da sociedade. Por outro lado, cada grupo social e/ou econômico pode, por exemplo, defender uma prioridade na área da saúde para que se traduza na principal política de um governo; ou grande parte da sociedade pode entender que outra medida seja prioritária na área da saúde em relação à proposta inicial (COHN, 2012). Para Cohn (2012) os processos políticos se materializam no espaço do Estado, que detém o monopólio dos instrumentos para formulação e, principalmente, implementação das políticas públicas de saúde, seja no que diz respeito à definição de prioridades ou na forma de programá-las, tomando por referência os instrumentos a serem utilizados, o público alvo a priorizar e as fontes de financiamento a recorrer. Assim sendo, pode-se considerar que o processo de implementação de políticas requer um processo de análise, que objetiva: questionar a ação pública, seus determinantes, suas finalidades, seus processos e suas consequências. O objeto principal de análise são os processos de tomada de decisão no momento de construção de uma dada política ou de um grupo de políticas. Tal análise implica: descrição das regras institucionais e sua influência sobre o processo decisório, identificação dos participantes do debate político e das colisões que se podem formar e avaliação dos possíveis efeitos das distintas coalizões sobre as decisões (VIANA; BAPTISTA, 2012, p. 61). Uma das principais contribuições da análise de políticas públicas tem sido a de oferecer maior transparência e reflexão sobre o padrão político e decisório adotados pelo Estado, e a identificação dos condicionantes internos e 32 externos que envolvem o desenvolvimento de uma política, servindo como insumo para novas formulações (VIANA; BAPTISTA, 2012). Tomando por referência os conceitos postulados por Howlett e Ramesh (1995), Viana e Baptista (2012) apontam cinco fases de uma política pública que se constituem em etapas do processo de análise: 1) montagem da agenda, que corresponde a fase de reconhecimento do problema; 2) formulação da política, quando há a definição de proposta de solução; 3) tomada de decisão, quando ocorre a escolha de uma solução; 4) implementação, o momento de pôr uma solução em andamento; 5) avaliação, quando é possível monitorar os resultados (p.65). Considerando a criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, este estudo desenvolvido no contexto da análise de políticas públicas de saúde propõe a análise do momento quatro – o momento da implementação desta política. Para tanto, faz-se necessário compreender o significado do conceito de implementar, iniciando implementação. pela Segundo diferenciação Michaellis - dos Moderno termos implantação Dicionário da e Língua Portuguesa (POLITO, 2004) - implantar origina-se da junção da palavra plantar + im e significa plantar (uma coisa) em outra; arraigar, fixar, estabelecer, introduzir, hastear, arvorar, arraigar-se, estar implantado, estabelecer-se, fixarse, trazendo sentido de fixação, de rigidez. Por sua vez, implementar origina-se do latim implementu + ar e significa executar, levar à prática por meio de providências concretas, remetendo à processo, a uma ação. Ou seja, analisar o processo de implementação de uma política requer olhar atentamente para as ações/processos efetivadas (os) no sentido de alcançar sua concretização. Assim sendo, considera-se que a implementação de um programa ou de uma política corresponde às atividades desenvolvidas para que seus objetivos sejam alcançados (ARRETCHE, 2001). 33 Segundo Viana e Baptista (2012) as fases da construção de uma política, ocorrem de forma dinâmica e em constante negociação, com interferências dos atores envolvidos. Especificamente, na fase de implementação de uma política, é preciso colocar em prática as ações formuladas e que envolvem vários elementos como, o sistema gerencial e decisório, os agentes implementadores da política, os recursos financeiros e materiais chamados de sistemas lógicos e operacionais. Para as autoras, essa fase é crucial, pois é o momento no qual é possível reformular as ações feitas, as decisões tomadas e inclusive alterar suas justificativas. Draibe (2001) avança nesses elementos e os trata como subprocessos do processo de implementação e afirma que devem ser identificados para fins de pesquisa. Neste sentido, identifica seis elementos: 1) sistema gerencial e decisório - conduz às práticas, a sua estrutura hierárquica, e os graus de dependência; 2) processos de divulgação e informação - se as informações básicas sobre a política ou programa chegaram até os agentes executores, público alvo com qualidade, quantidade e antecedência necessária; 3) sistemas de seleção - critérios estabelecidos para o recrutamento dos agentes implementadores e dos grupos beneficiados; 4) sistemas de capacitação oferecimento de conteúdos de maneira qualificada, em quantidade suficiente, adequados e pertinentes às atividades que irão realizar, de forma que após a capacitação os agentes se sintam seguros para efetivar a implementação; 5) sistemas internos de monitoramento e avaliação - os procedimentos e métodos adotados para monitoramento e avaliação devem ser suficientes para contribuir na melhoria da implementação, de forma que os resultados sejam sistematizados e socializados entre os participantes; 6) sistemas logísticos e operacionais - relativo aos recursos financeiros e materiais necessários para alcançar os objetivos propostos de forma a obter o êxito da política ou programa. No processo de implementação de uma política, a autoridade central procura induzir agentes (implementadores) a colocarem em prática os objetivos e as estratégias que lhes são alheias. Entretanto a resposta (aceitação, 34 neutralidade ou rejeição) dos agentes implementadores depende de muitos fatores, tais como: o entrosamento entre formuladores e implementadores; a compreensão da política; o conhecimento de cada fase do processo e da quantidade de mudança necessária à nova política (VIANA; BAPTISTA, 2012). De todos os fatores, este último configura-se como o mais crítico, pois determina os graus de consenso ou conflito em torno das metas e dos objetivos de uma política. Neste sentido, conforme Meter e Van Horn (1975) apud Viana (1996) quanto maior a mudança envolvida, menor o consenso entre os implementadores. Sendo o momento da implementação de intensa negociação, no qual se pode perceber a sustentação dos pactos estabelecidos, é também o momento em que se desvenda a real potencialidade de uma política, os atores que a apoiam, as disputas grupais e seus interesses. Segundo Arretche (2001) a implementação consiste de uma cadeia de relações entre formuladores e implementadores, na qual esses podem estar situados em diversas posições na máquina governamental. Isto implica que, a maior proximidade entre as intenções de formuladores e a ação dos implementadores, dependerá do sucesso do primeiro em obter a adesão dos agentes implementadores aos objetivos propostos. Com base em Hogwood e Gunn (1984), Viana e Baptista (2012) consideram que se o resultado da negociação no momento de formulação da política é o desenho de uma política ruim, com um diagnóstico impreciso e inconsistente em relação à realidade, a chance de se alcançar sucesso no processo de implementação é pequena. Ou seja, se a política é boa, mas a perspectiva de execução é ruim, pela falta de capacidade técnica ou de recursos, também existirão problemas na implementação. Minimamente três razões são apontadas para justificar este acontecimento: o baixo compromisso dos políticos com o momento da implementação; a divisão institucionalizada entre aqueles que formulam e os que implementam a política, sendo eles os sujeito realmente capacitados para 35 identificar os pontos-chaves da operacionalização; e a própria complexidade do processo de implementação que demanda um conhecimento sólido e prévio das variáveis que influem no processo político, e que por mais controladas que sejam, podem apresentar também um comportamento não linear (VIANA; BAPTISTA, 2012). Viana (1996) apresenta as concepções de Meter e Horn (1975) de que a implementação conforma-se como um processo no espaço administrativo, um processo racionalizado de organização, de procedimentos e rotinas. Entretanto para que o processo político tenha sucesso é preciso que haja interação entre formuladores da política, implementadores e os beneficiados por ela. Além de se tratar de um processo contínuo, com inovações constantes e inerentes, a implementação é entendida e analisada numa zona intermediária entre a formulação, ou a decisão política tomada, materializada em lei ou em norma vinculadora, e os resultados da política. Ou seja, analisar a implementação requer a análise da forma como a decisão foi materializada, o que explica muitas causas para os resultados alcançados. Draibe (2001), em trabalho que propôs esboçar metodologias para avaliar políticas públicas, considera que para analisar o processo de implementação é preciso conhecer e compreender a natureza do gerente, dos responsáveis pela implementação, no caso a equipe técnica. Frente ao exposto, propõe-se a realização da análise de política como ferramenta metodológica, com base na proposta de Araújo Júnior e Maciel Filho (2001) que a caracterizam como uma categoria de estudo com características próprias e definidas. Segundo os próprios autores, esta ferramenta utiliza a proposta por Walt e Gilson (1994), que apontam as dimensões a serem consideradas no processo de análise - Contexto, Atores, Conteúdo e Processo. 36 Como dito anteriormente, especificamente, para realizar a análise da implementação da PNAISH em Cuiabá serão analisados o conteúdo, os atores e o processo de implementação da Política, visto que outros estudos já se debruçaram sobre a análise de seu contexto em âmbito nacional (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009; LYRA-DA-FONSECA, 2008). Com o intuito de levar a cabo este estudo faz-se necessário explicitar o que compõe e caracteriza cada dimensão desta proposta. Assumindo as definições de Araújo Júnior e Maciel Filho (2001), neste estudo considera-se que a dimensão Contexto expressa o ambiente na qual a Política é/foi proposta, uma vez que se considera que uma Política deve emergir como resposta a um contexto, interferindo e sendo interferida por ele. A dimensão Atores se constitui nos sujeitos sociais envolvidos no processo, tanto de formulação quanto de implementação, podem ser grupos de pessoas, instituições, organizações ou indivíduos. Nesta dimensão podem ser analisados os interesses dos atores, suas interrelações, a influência que exercem ou podem exercer no processo e seus graus de mobilização. A dimensão Processo envolve as estratégias que foram/estão sendo usadas pelos atores para implementação da Política, as negociações e por ventura a finalidade delas. Recomenda-se que se analise também a implicação dos recursos. Já o Conteúdo abarca todos os componentes de uma Política, tais como: os programas, os projetos, as atividades específicas, as metas, os objetivos propostos para a implementação de uma política de saúde, a coerência das ações, bem como os recursos exigidos para este fim. Assumindo tal concepção, analisar o conteúdo de uma política configura-se como um elemento fundamental para sua compreensão (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2001). É importante ressaltar que as políticas públicas são processuais, dinâmicas e dialéticas, não sendo possível separar cada uma de suas fases, a não ser para fins didáticos (ARAÚJO JÚNIOR; SAMPAIO, 2006). A junção das quatro dimensões proporciona uma profunda e abrangente análise de uma política de saúde, uma vez que o contexto, o conteúdo, os atores e o processo 37 se conformam como diferentes ângulos de um mesmo objeto (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2001). 3.3 Gênero e masculinidades. O termo gênero ganhou a conotação atual a partir do movimento feminista norte-americano iniciado no final do século XX, fazendo referência à organização social da relação entre os sexos. Até então, a distinção social entre homens e mulheres dava-se através do sexo biológico correspondente. Contudo, o termo gênero não nega o sexo, mas também não é determinado diretamente pelo sexo e nem determina diretamente a sexualidade (SCOTT, 1995). Abordar questões relativas ao gênero não implica em falar tão somente de mulheres e de feminismo, mas também sobre homens, uma vez que o mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens, sendo construído dentro e por esse mundo (SCOTT, 1995). Assim, ser homem e ser mulher configura-se como um constructo social e por essa razão sofre variações a partir da sociedade onde os sujeitos estão inseridos. O gênero se constitui em cada ato da vida, seja no plano das ideias, seja no plano das ações, pois a todo o momento, homens e mulheres constituem o gênero em seu cotidiano. Partindo do princípio de que gênero é um elemento teórico transversal à analise de eventos da saúde (VILELLA; MONTEIRO; VARGAS, 2009), pois se processa não só no âmbito familiar mas também no mercado de trabalho e nas instituições e organizações sociais e políticas (SCOTT, 1995), este estudo intenciona trabalhar esses conceitos no cunho da discussão acerca da sua repercussão no processo implementação da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem em uma capital da Região Centro-Oeste do Brasil. Para tanto se faz necessário compreender a organização do SUS para responder às demandas emergentes. Com a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994, concebido com o objetivo de promover o aumento do 38 acesso da população aos serviços de atenção básica3, é a partir da organização destes serviços com uma nova lógica que assume a promoção à saúde e a prevenção de agravos como conceitos/princípios ordenadores, que a APS vem se conformando como projeto prioritário de governo, mantendo-se em vigência até os dias de hoje, não mais sob o formato de programa, mas como uma estratégia. Ao longo dos anos, o MS publicou e aperfeiçoou políticas específicas voltadas a atender questões relativas à saúde da criança e do adolescente, das mulheres e dos idosos, permanecendo a população masculina invisível, frente às ações traçadas para implementação na atenção primária à saúde. A marginalização desta população, segundo Lyra e demais autores (2012), ancora-se em uma cultura de gênero e nas políticas sociais do movimento feminista que tenta pôr um fim à histórica desigualdade que cerca as mulheres (LYRA et al., 2012), sendo necessário ressaltar que as discussões oriundas do campo feminista pouco problematizam os homens e as masculinidades, seja como objeto, seja como sujeito, a não ser como contraponto ao debate sobre a autonomia e o corpo das mulheres (LYRA-DAFONSECA, 2008). Leal, Figueiredo e Nogueira-da-Silva (2012) apontam que, historicamente os formuladores e os implementadores de políticas públicas são homens que, de certa forma, idealizam políticas e programas que garantem, geralmente, privilégios de ordem simbólica e material a homens – ou, pelo menos, a alguns grupos de homens. Entretanto, as discussões provocadas especialmente pelo movimento feminista nas últimas décadas, implicaram na inclusão de gênero enquanto categoria analítica para avaliação de políticas públicas e, enquanto estratégia política para a formulação de políticas e programas, visando reduzir as desigualdades entre homens e mulheres. 3 Neste estudo, optamos por utilizar o termo Atenção Básica à Saúde como sinônimo de Atenção Primária à Saúde apesar de reconhecermos as diferenças conceituais que os envolvem. 39 Neste sentido, ao conceber gênero como óculos por meio do qual o mundo é apreendido pelo sujeito, reconhecendo a existência de atributos relacionados ao universo masculino presentes no cotidiano dos serviços de saúde, a partir de valores sociais e culturais dos profissionais e dos próprios usuários como a invulnerabilidade, o baixo autocuidado e adesão a práticas de saúde, a impaciência, entre outros, tornam estes espaços “generificados” e potencializam desigualdades sociais, invisibilizando necessidades e demandas dos homens e reforçando o estereótipo de que os serviços de APS são espaços feminilizados (COUTO, 2010). Entretanto Lyra, Medrado e Azevedo (2011, p.46) reforçam que é preciso ir para além dos estereótipos que vitimizam mulheres e culpabilizam homens a respeito do cuidado com a sua saúde em um contexto social, sendo necessário produzir reflexões sobre as construções das masculinidades e feminilidades, visto que as relações de gênero apontam mais para "diversidade do que diferença como resposta à dicotomia e desigualdade". Aqui, diversidade é entendida como multiplicidade ou heterogeneidade ao contrário de diferença que, a partir do verbo "diferenciar" expressa o sentido de distinção, de identificar características que não podem ser confundidas. Connel (1995) define masculinidade como a prática de ser homem em torno da posição deles na estrutura das relações de gênero. Neste sentido é preciso reconhecer que existem diversas formas de manifestar a masculinidade e a feminilidade, extrapolando a maneira habitual sem, no entanto, perder sua legitimidade. Desta forma, postula-se o uso do termo masculinidades, no plural. Lyra, Medrado e Azevedo (2011) ainda ponderam que, reconhecer a dimensão relacional de gênero, ancorado nos estudos do movimento feminista, nos possibilita desconstruir os argumentos que culpabilizam os homens pelo não cuidado à sua saúde, sendo a dimensão relacional compreendida a partir das diferenças de poder entre homens e mulheres. Desta maneira, ao adotar uma perspectiva de gênero busca-se compreender como as diferenças se constituem em desigualdades, indo para além dos sexos como determinantes biológicos (MEDRADO; LYRA, 2008). Isto não implica em desresponsabilizar homens, mas em 40 reconhecer que as análises que agregam a dimensão relacional do conceito de “gênero” permitem compreender ou interpretar uma dinâmica social que hierarquiza as relações entre o masculino e o feminino e não apenas entre homens e mulheres, mas nos homens e nas mulheres (MEDRADO; LYRA, 2008, p.820). (grifo nosso) Ou seja, homens e mulheres são influenciados pela relação hierarquizada de poder estabelecida entre o feminino e o masculino, para além, estes autores ainda reforçam que essa dimensão relacional nos permite buscar outros objetos que como raça, cor, classe social e idade, dando maior complexidade a esse olhar. Neste estudo, especificamente, será analisada somente a dimensão relacional de gênero, entretanto sem negar estas outras dimensões que fazem intersecção com essa relação hierarquizada de poder. Assumimos então a perspectiva teórica de gênero utilizada por Lyra da Fonseca (2008), entretanto sem avançar na discussão da dimensão Poder. 3.4 A PNAISH Neste estudo corrobora-se a afirmação de Cunha e Cunha (2002) de que as políticas públicas são construções participativas de uma coletividade que visa à garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõem uma sociedade humana. São criadas como resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade ou do próprio Estado, sendo a expressão do compromisso público de atuação numa determinada área e em longo prazo. Essa constatação pode ser validada a partir da observação de diversas políticas de saúde brasileiras como o Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM) que emergiu a partir de demandas sociais e do próprio movimento feminista; a política de atenção à saúde da criança e do adolescente com base nos movimentos de defesa aos direitos da Criança e do Adolescente (ECA); as políticas referentes ao sangue e os hemoderivados; a política destinada à atenção e prevenção e tratamento ao HIV, entre outras. As conquistas alcançadas a partir destas políticas, em última análise, são 41 resultantes de demandas expressas por movimentos sociais organizados, na luta por atendimento as suas necessidades de saúde. Todavia, a PNAISH caminhou de encontro a esta racionalidade, posto que sua formulação não surgiu a partir de demandas emergentes de movimentos sociais, mas sim para atender a necessidade apresentada pelo próprio Estado como, a de conter os altos custos provenientes dos comportamentos de vulnerabilidade masculinos, ancorada em pesquisas nacionais com cunho epidemiológico (LAURENTI, 2005; MELO et al., 2008) e social (GUERRIERO et al., 2002; FIGUEIREDO, 2005; BRAZ, 2005; GOMES et al., 2006; GOMES E NASCIMENTO, 2006; GOMES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2007; COUTO, 2010; GOMES et al. a, 2011; FONTES et al. 2011; GOMES et al., 2011b). Pode-se considerar que, o uso das informações referentes a estudos epidemiológicos sobre mortalidade e morbidade entre homens e mulheres que apontam a longevidade de mulheres em detrimento dos homens, como o de Laurenti et al. (2005), criou a imagem do homem como vítima de si mesmo, favorecendo a emergência de um novo sujeito a ser considerado pelas políticas públicas, ou um "homem que necessita de atenção especial" (FONSECA, 2008; p.61; MEDRADO; LYRA; AZEVEDO; NOCA, 2010). Neste sentido, Carrara, Russo e Faro (2009) realizaram uma reflexão sobre o modo como a PNAISH foi formulada, apontando distorções entre o que é discutido na Política e os objetivos propostos, evidenciando atores importantes como, as especialidades médicas - no caso os urologistas gestores e formuladores de políticas públicas e representantes dos “movimentos organizados”. A proposta apresentada pela PNAISH assume gênero como conceito central para o planejamento e organização de intervenções voltadas à população masculina. Entretanto, no que diz respeito ao seu desdobramento não aponta na mesma direção, uma vez que as ações concretamente propostas evidenciam sinais de tendência à medicalização do corpo masculino, nos mesmos moldes das propostas referentes às intervenções sobre o corpo feminino. 42 No referido artigo os autores identificam que, desde 2004 a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) dedicava-se a causa da saúde do homem e, ao longo de 2008, exerceu forte pressão sobre setores do governo, parlamentares, conselhos de saúde, e outras sociedades médicas para o lançamento de uma política voltada à saúde desta população. Após o lançamento da PNAISH a primeira campanha vinculada foi a de disfunção erétil (DE) como justificativa de ser uma preocupação masculina e que estaria associada a outras doenças cardiovasculares e endócrinas como a diabetes. Para tanto foi desenvolvida uma campanha publicitária que atrelava a felicidade dos homens à potência sexual, vista como capacidade de obter uma ereção, reforçando a centralidade dos valores que supostamente pretende combater e reforçando a ideia da hegemonia de masculinidade devido à presença da ereção peniana (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). Em 2009, durante os eventos de implantação da PNAISH, a SBU participou ativamente na tentativa de sensibilizar gestores a adotarem políticas que visassem uma assistência urológica mais efetiva nos hospitais e ambulatórios, estabelecendo um paralelo com a ginecologia como especialidade médica para mulheres. Neste momento a SBU iniciou uma campanha para que a urologia fosse a especialidade mais próxima da população masculina (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). Na tentativa de salvar os homens de si mesmo, uma vez que assume que a masculinidade socialmente construída leva esta população a desenvolver hábitos de vida que os coloca em condição de vulnerabilidade, a PNAISH aponta três grandes temas relacionados ao homem – violência, saúde sexual e reprodutiva e tendência à exposição a riscos com consequência nos indicadores de morbimortalidade. Entretanto a força deste movimento da SBU foi tão forte que direcionou dois dos três objetivos da política: 1 - Organizar, implantar, qualificar e humanizar, em todo território brasileiro, a atenção integral a saúde do homem, dentro dos princípios que regem o Sistema Único de Saúde. 43 2 - Estimular a implantação e implementação da assistência em saúde sexual e reprodutiva, no âmbito da atenção integral à saúde. 3 - Ampliar, através da educação, o acesso dos homens às informações sobre as medidas preventivas contra os agravos e enfermidades que atingem a população masculina, destacando seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2008, p. 39). Com a definição destes objetivos, os autores da PNAISH assumem como bandeira que o objetivo principal da Política é enfraquecer a resistência masculina à medicina de uma forma geral. Considerando que a questão de gênero perpassa o modo como a cultura está penetrada em relações de poder, para articular reivindicações e torná-las visíveis enquanto homens, a PNAISH os coloca no mesmo plano que as mulheres, perdendo assim a posição de representantes universais da espécie e suas prerrogativas na hierarquia de gênero. Mostrar-se invulnerável faz parte do exercício de poder masculino e esse poder tem um preço (uma vida mais curta e menos saudável) que os homens parecem ainda não estarem dispostos a pagar (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). Neste sentido tornarem-se sujeitos protagonistas de suas demandas implica em empoderamento, fato que o movimento feminista sempre buscou. No caso dos homens, ser sujeito protagonista de suas demandas implica o contrário: assumir fragilidades e vulnerabilidades, tornando-se visíveis (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). Assim, faz-se necessário ressaltar que a criação de políticas públicas voltadas para o atendimento às necessidades em saúde dos homens não se configura como uma demanda que parta desta população, evidenciando um contrassenso ao modelo hegemônico da masculinidade vigente na sociedade brasileira, pois para os favorecidos numa sociedade onde, via de regra, homens exercem poder sobre mulheres, certo silêncio pode até ser vantajoso (SCOTT, 2010), pois possibilita manutenção desta situação. Desta forma percebe-se que é utilizado o mesmo discurso aplicado as políticas femininas, porém para efeitos opostos (CARRARA; RUSSO; FARO, 44 2009), ou seja, a PNAISH foi pensada nos moldes das Políticas voltadas para o público feminino, porém, ao contrário da proposta defendida pela PNAISH, sem considerar as especificidades de gênero desta população. Para além disso, Medrado et al. (2010) asseveram que a justificativa para a edição da Política baseia-se em dados epidemiológicos relativos ao adoecimento e morte dos homens, demonstrando assim uma leitura limitada sobre os determinantes sociais em saúde, que são marcados por questões relativas ao gênero, a classe social, a raça e a idade, dando pouca visibilidade aos achados de pesquisas qualitativas que exploram valores e normas culturais. Somado a isso, os autores ainda ressaltam que, o processo de formulação da PNAISH além de ter reservado um espaço restrito aos homens, manteve-se a margem das conferências de saúde, espaços legitimados de participação social e discussão no âmbito das políticas e práticas de saúde. Pensando nisso e ancorado nos estudos feministas, Lyra-da-Fonseca (2008) em sua tese de doutoramento, na qual buscou identificar as noções de masculinidades e os lugares definidos para homens na Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil, propôs um conjunto de diretrizes para a formulação de uma política de atenção integral aos homens na área da saúde: 1) Uma política de saúde para homens não deve gerar ameaças aos direitos das mulheres. [...] Deve atuar conjuntamente com as demais políticas de saúde maximizando esforços e minimizando custos; 2) Cuidar da saúde não é apenas tratar de doenças. [...] Não se limitam aos males da próstata ou outras enfermidades; 3) A atenção à saúde masculina deve ser integral; 4) Informação é a base de qualquer política. [...] É preciso qualificar melhor os sistemas de informação, gerando e divulgando sistematicamente os dados; 5) Os homens não são iguais; 6) Homens jovens, negros e pobres merecem atenção especial. [...] Precisamos criar estratégias especiais para atrair esses homens jovens para os serviços de saúde, ressignificando seus valores e 45 oferecendo atenção de qualidade, adequada às suas necessidades, de modo a garantir os princípios de equidade e universalidade do SUS; 7) É necessário também incluir homens idosos. [...] Particularmente no que se refere ao autocuidado; 8) Os serviços de saúde devem ser amigáveis. [...] E atrair esta população, ou seja, não apenas responder essas demandas; 9) É preciso ir onde os homens estão; 10) A emergência é também espaço de prevenção. [...] Para que possa estimular, nos homens, uma revisão de seus valores e práticas, promovendo prevenção secundária; 11) Sexualidade e reprodução também são questões de saúde para os homens; 12) Paternidade é também um direito; 13) Violência de gênero é também uma questão de saúde pública. [...] Para mudar quadros de violência baseadas em gênero, é fundamental implementar ações mais eficazes, aliadas a ações em saúde de caráter preventivo dirigidas aos homens e também de atendimento a autores de violência; 14) A redução de danos deve ser um princípio básico nas ações em saúde. [...] Os serviços de saúde devem rejeitar medidas punitivas, restritivas ou culpabilizantes; 15) Os gestores e profissionais de saúde precisam rever práticas e valores; 16) Saúde é uma questão de cidadania (LYRA-DA-FONSECA, 2008, p. 203-206). Frente ao exposto fica evidente que é imperativo a melhor compreensão do exercício da masculinidade com vistas à implementação da PNAISH com o intento de responder às necessidades em saúde de homens na sociedade brasileira. 46 4. METODOLOGIA Neste estudo foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo descritivo e exploratório que objetivou analisar a implementação da PNAISH no município de Cuiabá, a partir da perspectiva da equipe gestora da Secretaria Municipal de Saúde. Segundo Minayo (2007) a abordagem qualitativa é a que melhor se ajusta ao estudo das relações, das representações/crenças e das percepções e, por tal razão foi assumida como caminho para alcançar os objetivos propostos. A pesquisa de caráter exploratório proporciona uma visão geral acerca de um assunto pouco estudado na literatura científica, o que torna difícil a formulação de hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 2007), o que no caso da pesquisa de abordagem qualitativa se aplica à construção de pressupostos. Segundo este autor, o produto final de uma pesquisa exploratória é “um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais sistematizados” (GIL, 2007, p.43), o que ora se apresenta como uma necessidade no que diz respeito à temática aqui proposta – saúde do homem/implementação da PNAISH. Desta forma as pesquisas descritivas e exploratórias são frequentemente utilizadas por pesquisadores preocupados com a atuação prática e para descrever características de um fato ou fenômeno (GIL, 2007), como as ações de gestores frente à implementação da PNAISH no município. A característica descritiva relaciona-se ao fato de almejar descrever as características de um determinado grupo de trabalhadores da área da saúde, aqueles que ocupam ou ocuparam cargos na gestão da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá. No que diz respeito ao delineamento metodológico, esta pesquisa se enquadra nos moldes de um estudo de caso à medida que foi realizado um estudo em profundidade de um único objeto, com características peculiares, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado (GIL, 2007). Este objeto - a implementação da PNAISH em Cuiabá - possui essa característica, 47 pois a capital mato-grossense além de ter sido selecionada pelo Ministério da Saúde para sua implantação, nos últimos anos, vem sofrendo descontinuidade política em sua condução, o que determinou a emergência de uma diversidade de entendimentos dos gestores acerca das prioridades em saúde e manejo com a gestão nos diversos níveis de atenção à saúde. 4.1 Um pouco sobre Cuiabá Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso foi fundada em 1719 e nasceu da expansão das bandeiras na busca por riquezas e na conquista de novas fronteiras. O município de Cuiabá localiza-se, geograficamente na mesorregião norte-matogrossense, na microregião Cuiabá, que é formada pelos municípios de: Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande (CUIABÁ, 2011). Possui uma extensão territorial de 3.537,17 km², com densidade demográfica de 166,9 hab/km2. Com uma população de 561.329 habitantes, sendo 274.201 homens e 287.128 mulheres (BRASIL, 2013). As atividades econômicas do município estão centradas majoritariamente no comércio (53%), seguido do setor de serviços (43,2%) e indústria (3,5%) (CUIABA, 2011). A respeito das relações de trabalho na SMS, no ano de 2011, estavam cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) 7.825 (sete mil, oitocentos e vinte e cinco) profissionais de saúde, sendo que destes 35,56% são oriundos de concurso ou processo seletivo público. Os contratados por prazo determinado para atender as necessidades temporárias de excepcional interesse público totalizam cerca de 32,64% (CUIABÁ, 2012). A Atenção Básica da capital mato-grossense direciona as ações de 62 Unidades Básicas de Saúde contempladas com a Estratégia de Saúde da Família, representando uma cobertura de 38,72% da população. Estes números não contemplam a população carcerária presente em três unidades prisionais situadas na capital, que também recebe atendimentos 48 correspondentes ao nível básico de atenção, totalizando 3.476 pessoas, sendo destas 2.216 de homens (BRASIL, 2013). Referente aos serviços de Atenção Secundária, Cuiabá dispõe de cinco policlínicas, um Centro de Especialidades Médicas (CEM), um laboratório municipal, um Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Esta por sua vez, inaugurada em junho de 2013, ainda não consta na base de dados do MS como em funcionamento, segundo dados de setembro. A rede de assistência à saúde mental gerida por este nível de atenção conta com cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) correspondendo à cobertura populacional de apenas 0,82% (BRASIL, 2013). Entre os anos de 2009 a 2013 inúmeras mudanças políticas ocorreram na gestão municipal de Cuiabá. Especificamente na gestão da SMS, em janeiro de 2010, ocorreu a troca de toda a equipe de gestão das diretorias de Atenção Básica e Secundária. Neste período seis profissionais, nem sempre de saúde, ocuparam o cargo de Secretário Municipal de Saúde, três assumiram a Diretoria de Atenção Secundária e quatro a Diretoria de Atenção Básica. A cada troca de gestor, a equipe técnica foi alterada, bem como o modo de trabalho ali realizado e, consequentemente, ocorreram mudanças na condução dos processos em curso no município. Neste sentido, a cada mudança da gestão superior da SMS eram/são feitas novas indicações para a ocupação dos cargos do segundo escalão, também considerados como cargos de confiança, e aos primeiros escalões técnicos no âmbito dos serviços de saúde, fato que, em alguma medida, contribui para a descontinuidade de ações em função de interesses partidários e não em função de avaliações ancoradas em necessidades reais. 4.2. Os sujeitos Considerando que as funções inerentes aos cargos de gestão se concretizam entre sujeitos, ainda que com distintos graus de saber e poder 49 (CAMPOS, 2003), o universo de sujeitos selecionados para o estudo foram as equipes de gestores da atenção básica e atenção secundária4 do município de Cuiabá que participaram do processo de implantação e implementação da PNAISH, no período de 2009 a 2013. Foram selecionados também os profissionais que ocuparam o cargo de responsáveis técnicos da área da saúde do homem, nos dois níveis de atenção, nos anos de 2009 a 2013, devido à proximidade com todo o processo a ser realizado. O número de sujeitos que participaram deste estudo foi definido com base no número de gestores municipais e RT de saúde do homem que atuaram na SMS de Cuiabá no período de 2009 a 2013, totalizando 09 membros da equipe gestora e 04 responsáveis técnicos, ou seja, foram sujeitos deste estudo 13 indivíduos. 4.3. A coleta de dados Para a realização da coleta de dados foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada. Esta modalidade de entrevista foi escolhida em função de possibilitar o alcance de maior profundidade nas reflexões, acentuando as preocupações, relevâncias e ênfases que o entrevistado dá para o assunto em pauta, facilitando a abordagem e assegurando que os temas cruciais sejam abordados durante as conversas/encontros (MINAYO, 2010). Gil (2007) nomeia este tipo de entrevista como aquela realizada por pautas e as recomenda quando o entrevistado não se sente a vontade para responder as indagações formuladas com mais rigidez. A atuação profissional prévia da pesquisadora facilitou o caminho em relação ao acesso aos atores sociais, aos documentos, aos relatos dos eventos 4 O nível terciário de atenção à saúde não foi incluído nesta pesquisa visto que a SMS Cuiabá dispõe apenas de um serviço municipal – Hospital e pronto Socorro Municipal, sendo que os demais serviços são conveniados ao SUS e prestam serviços através de instrumentos de contratualização. 50 relativos à PNAISH, bem como favoreceu o desenvolvimento do clima de cumplicidade nos encontros marcados. Considerando a posição política dos entrevistados, bem como os contratos de trabalho precários de alguns, tentou-se elencar pontos chaves a serem abordados, de forma que se sentissem mais confortáveis e seguros para responder os questionamentos. Neste sentido as questões trabalhadas nas entrevistas foram dividas em três momentos. O primeiro relacionado à formação do profissional entrevistado, o segundo abordava as ações realizadas para implementação da PNAISH bem como os membros envolvidos e a terceira a respeito da opinião dos gestores sobre essas ações (APÊNDICE A). O contato inicial com os profissionais foi feito via telefone com aqueles que não ocupavam mais funções na SMS Cuiabá. De início todos concordaram em participar, entretanto um dos sujeitos foi excluído em função de sua indisponibilidade de tempo. A ordem das entrevistas seguiu a lógica da disponibilidade dos mesmos. No total foram treze entrevistados, totalizando cerca de 13 horas de gravação de áudio. As entrevistas foram realizadas em local escolhido pelos próprios participantes do estudo, resumindo-se no ambiente atual de trabalho dos profissionais. Quando eram realizados nas dependências da SMS, especificamente na Diretoria da Atenção Básica, o local não era o mais apropriado devido às condições físicas não permitirem isolamento acústico dos demais espaços, não sendo possível proporcionar um ambiente silencioso. As entrevistas com os profissionais que não desempenhavam mais funções na equipe técnica foram realizadas em seus ambientes de trabalho atual, sendo que uma delas apresentou condições semelhantes ou piores as da Diretoria da Atenção Básica. Os problemas com a estrutura física inadequada articulada com o manuseio impróprio do material inviabilizaram uma das entrevistas, que foi refeita. Neste caso, a pesquisadora voltou a campo e tentou retomar com o profissional de saúde os temas mais relevantes abordados no encontro anterior. 51 Para complementar a coleta de dados também foi realizada a análise documental em documentos primários, que segundo Gil (2007) são aqueles que não receberam nenhum tipo de tratamento analítico, como os planos anuais de trabalho de 2010 a 2013 e os relatórios anuais de gestão dos períodos correspondentes. Não foi possível o acesso ao projeto de implantação da PNAISH elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde, pois o mesmo não foi localizado, nem pela equipe gestora da Atenção Básica, nem pela Equipe responsável pelo Planejamento da SMS, setor responsável pela elaboração de planos para a área da saúde do município, e pelo armazenamento dos projetos da Secretaria. A coleta de dados ocorreu entre os meses de janeiro a junho de 2013. Nos encontros recorreu-se ao gravador digital e posteriormente, as entrevistas foram transcritas na íntegra pela pesquisadora para implementação da análise. Todo material empírico está armazenado no banco de dados do grupo de pesquisa Gerar. É importante ressaltar que, as transcrições foram feitas após as entrevistas, antecedendo, deste modo, a próxima. Esta estratégia favoreceu o processo de coleta e de análise dos dados, interferindo de forma a complementar o roteiro das conversas, pois cada dado novo remetia a questionamentos não previstos anteriormente. A validação dos dados ocorreu por meio da análise dos documentos disponibilizados e dos discursos de alguns participantes que ainda pertencem à equipe de profissionais que atuam na assistência a saúde do município. 4.4. A análise Os dados foram tratados e analisados através da técnica de análise temática conforme descrita por Minayo (2010). Segundo a autora, a análise temática deve ser dividida em duas etapas: em pré-análise, com a realização da leitura flutuante/leitura exaustiva do material, visando à impregnação da 52 pesquisadora pelo conteúdo das entrevistas; e a constituição do corpus do material a ser estudado; formulação e reformulação de hipóteses e objetivos. A segunda etapa consiste na fase de exploração do material visando à classificação para identificar núcleos de compreensão do texto. E a última etapa é o tratamento dos resultados obtidos e interpretação (MINAYO, 2010). Para a condução do processo de análise dos dados, a análise de política foi realizada como ferramenta metodológica para nortear o tratamento dos dados. Para tanto, foi utilizado o modelo de Araújo Júnior e Maciel Filho (2001), que se baseia em Walt e Gilson, que considera quatro dimensões na análise de política: o contexto, os atores, o processo e o conteúdo. Por sua vez, assumiu-se nesta pesquisa que gênero seria tomado como um referencial teórico a ser incorporado no processo de análise, que associado à ferramenta metodológica de análise de política possibilitaria melhor compreensão do processo de implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem no município de Cuiabá. 4.5. Os aspectos éticos Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller e aprovado sob o protocolo nº 179.098/2012 (Anexo A). Os profissionais que aceitaram participar do estudo foram informados previamente sobre os objetivos e relevância da pesquisa no campo da saúde pública. O sigilo e anonimato foram assegurados aos participantes mediante apresentação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B), oferecido no contato com os sujeitos, atendendo à resolução 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde/MS que regulamenta a realização de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 2012). Com vistas a preservar a identidade dos participantes desta pesquisa, os membros da equipe gestora, sujeitos deste estudo, foram identificados como Unidades de Análises, tendo em vista que esses fizeram discursos institucionais, seguidos do número indicando a ordem cronológica da entrevista 53 realizada (UA1, UA2, UA3...). Desta forma garante-se o anonimato visto que, se o nível de atenção ou o cargo ocupado ou o ano fosse exposto, a identificação dos atores seria comprometida aos olhos daqueles que convivem com o universo da SMS no município de Cuiabá. 4.6. Caracterização dos sujeitos Com vistas a favorecer a compreensão do leitor acerca dos sujeitos sociais participantes desta pesquisa, bem como da estrutura organizacional da SMS para a implantação e implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, esses serão descritos a seguir. Para a realização deste estudo, participaram como sujeitos sociais 6 (seis) profissionais do sexo feminino e 7 (sete) do sexo masculino, que se encontravam na faixa etária entre 29 e 50 anos, sendo que a maioria concentrava-se na faixa etária entre os 40 aos 50 anos. Em relação à formação profissional destes sujeitos, relembrando que se tratam de profissionais que fizeram parte da equipe gestora da SMS na Atenção Básica e Secundária, todos possuem nível superior completo. A maioria tem formação na área da Enfermagem, e os demais em Nutrição, Medicina, Administração Hospitalar e Engenharia Sanitária. Destes profissionais, 7 (sete) tem pós-graduação lato sensu nas áreas da saúde da família, saúde pública ou gestão pública, e 2 (dois) concluíram mestrado. A média de tempo de formado foi de 14 (quatorze anos). Apenas três sujeitos referiram ter sido esta a primeira experiência no nível gestão. No que diz respeito aos vínculos empregatícios, 8 (oito) destes sujeitos pertencem ao quadro efetivo de recursos humanos da SMS-Cuiabá e 5 (cinco) foram admitidos através de contratos temporários de trabalho, firmado pelo prazo de dois anos. Entretanto estes contratos frequentemente extrapolam este prazo, sendo rescindidos, via de regra, pelo interesse do servidor e não da administração pública. Este tipo de vínculo empregatício conforma-se como uma prática comum na SMS de Cuiabá. 54 No que diz respeito à estrutura da SMS-Cuiabá é importante situar o leitor sobre o posicionamento da PNAISH no contexto organizacional da Secretaria no que diz respeito à gestão e a responsabilidade técnica para sua implantação e implementação. Três profissionais ocuparam a função de Responsável Técnico (RT) em Saúde do Homem na Atenção Básica. Vale ressaltar que esta função só foi criada, oficialmente, na SMS a partir de 2010, o que significa que o RT que respondia pela Saúde do Homem em 2009 apenas foi informado sobre a edição da PNAISH e sobre os passos para a sua implantação. Inicialmente a responsabilidade técnica pela saúde do homem na Atenção Básica foi coordenada por um profissional que tinha sob sua responsabilidade apenas esta Política. Em função da troca de gestor municipal, no período de agosto de 2011 a janeiro de 2012, a área permaneceu sem responsável técnico, bem como diversas outras Políticas no município. Após este período, novo responsável técnico foi nomeado para responder pelas ações de saúde do homem, conciliando tais ações com a Política de Controle ao Tabagismo. Em março de 2013, mais uma vez, a área técnica da saúde do homem ficou descoberta, permanecendo sem um profissional responsável até o final da coleta de dados em junho de 2013. Em relação à Atenção Secundária, a área técnica da saúde do homem era compartilhada com as ações do planejamento reprodutivo, referido pelos sujeitos como planejamento familiar. Em nenhum momento durante o período desta pesquisa, este nível de atenção ficou sem responsável técnico, apesar das mudanças ocorridas na equipe gestora. A configuração de como isso se deu no plano operacional e político foi diferente, havendo a manutenção das condutas ao longo dos anos, uma vez que ocorreu apenas a mudança de cargos e funções, mas manteve-se a equipe técnica. Além disso, durante o momento de lançamento nacional da Política, Cuiabá enfrentava um movimento grevista da classe médica que reivindicava melhores condições salariais e de trabalho. Na época, em 2009, este movimento centralizou todos os olhares das equipes gestoras da Atenção Básica e Atenção Secundária em Saúde, ficando outras demandas colocadas em segundo plano. 55 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados serão apresentados no formato de três artigos que devem responder aos objetivos deste estudo: 1. Análise da implementação da PNAISH: os atores envolvidos em uma capital do Centro-Oeste; 2. Gestão do Processo de Implementação da Política de Saúde do Homem em uma capital brasileira; 3. A implementação da PNAISH em uma capital brasileira: em foco os documentos municipais. 56 5.1 MANUSCRITO 1: ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA PNAISH: OS ATORES ENVOLVIDOS EM UMA CAPITAL DO CENTRO-OESTE. Isabele Torquato Mozer5 Áurea Christina de Paula Corrêa6 RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar a relação entre os atores envolvidos na implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) em Cuiabá. Trata-se de um estudo descritivo exploratório de abordagem qualitativa. Os sujeitos do estudo foram os membros da equipe gestora da atenção básica e secundária no período de 2009 a 2013, utilizou-se a técnica de entrevista semiestruturada. Para complementar às entrevistas também foi realizada análise documental dos planos anuais de trabalho e dos relatórios anuais de gestão do mesmo período. A análise foi do tipo temática descrita por Minayo, utilizando como ferramenta metodológica a análise de política e o referencial teórico de gênero para olhar os achados empíricos. A análise do material empírico identificou seis atores importantes no processo de implementação da PNAISH em Cuiabá: o Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde, o Gestor municipal e os membros da equipe técnica. A incipiente relação entre eles dificultou a implementação da Política na capital, sendo o Ministério da Saúde um ator chave para o fomento de ações com vistas a redirecionar as práticas de saúde voltas à população masculina. Descritores: Saúde do Homem, gênero e saúde, política de saúde. RESUMÉN Este artículo tiene como objetivo analizar la relación entre los sujetos involucrados en la implementación de la Política Nacional de Atención Integral de la Salud del Hombre (PNAISH) en Cuiabá. Se trata de un estudio descriptivo exploratorio de enfoque cualitativo. Los sujetos del estudio fueron miembros del equipo de gestión de atención básica y secundaria en el periodo de 2009 a 2013, se utilizó la técnica de entrevista semi estructurada. Para complementar las entrevistas también se ha realizado un análisis documental de los planes anuales de trabajo y de los informes anuales de gestión del mismo período. El análisis fue del tipo temática descrita por Minayo, utilizando como herramienta metodológica el análisis de política y el referencial teórico de género para ver los hechos empíricos. El análisis del material empírico identificó seis actores importantes en el proceso de implementación de la PNAISH en Cuiabá: el Ministerio de Salud, la Secretaria Estadual de Salud, el Gestor municipal y los miembros del equipo técnico. La incipiente relación entre ellos dificultó la 5 Enfermeira. Técnica do Sistema Penitenciário SEJUDH/MT. Mestranda do Programa de PósGraduação em Enfermagem, UFMT. Membro do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar da Faen/UFMT. 6 Enfermeira. Doutora. Docente da Faculdade de Enfermagem da UFMT. Líder do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar da Faen/UFMT. Diretora da Faculdade de Enfermagem da UFMT. 57 implementación de la Política en la capital, siendo el Ministerio de Salud un actor clave para el fomento de acciones con vistas a redirigir las prácticas de salud destinadas a la población masculina. Descriptores: Salud del Hombre, género y salud, política de salud. ABSTRACT This article aims to analyze the relationship between the actors involved in the implementation of the National Health Care for the Man (PNAISH) in Cuiabá. This is a descriptive exploratory qualitative study. The study subjects were members of the management team of primary and secondary care in the period 2009-2013, we used the technique of semi-structured interview. To complement the interviews also document review of annual work plans and annual management reports of the same period was performed. The thematic analysis was the type described by Minayo, used as a methodological tool to policy analysis and theoretical framework of gender to look at the empirical findings. The analysis of the empirical material identified six key players in the implementation process of PNAISH in Cuiabá: the Ministry of Health, the State Health Department, the Municipal Manager and the members of the crew. The fledgling relationship between them hindered the implementation of the policy in the capital, with the Ministry of Health of a key actor for the promotion of actions in order to redirect health practices turns the male population. Keywords: Human Health, gender and health, health policy. INTRODUÇÃO Este trabalho situa-se no universo de estudos de análise de implementação de políticas de saúde, especificamente a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) (BRASIL, 2009a), instituída em 2009 pelo Ministério da Saúde (MS) com o intuito de propor ações humanizadas e resolutivas, capacitar os profissionais de saúde para o atendimento ao homem e incluir estratégias para a promoção da equidade para distintos grupos sociais. A PNAISH foi criada atrelada a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2006), em sua formulação de 2006, propondo que seja privilegiado o acesso ao nível primário de atenção à saúde, considerando as individualidades masculinas, a complexidade e a inserção sociocultural, tendo a Saúde da Família como estratégia prioritária para o desenvolvimento das ações. 58 Com vistas à implantação desta Política, o Ministério da Saúde selecionou 26 municípios que iniciariam o processo no país, sendo Cuiabá um dos municípios selecionados. Segundo a PNAISH que segue, também, as diretrizes do Pacto pela Saúde (2009b), no que diz respeito às competências municipais a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) deve coordenar, implantar, implementar, acompanhar e avaliar, no âmbito do seu território, privilegiando a Estratégia de Saúde da Família, a efetivação da Política de Saúde do Homem. Frias, Lira e Hartz (2005) consideram que o município é uma esfera de governo complexa, onde a área da saúde dispõe de relativa autonomia, em relação aos demais níveis de gestão do Sistema. Campos (2007) complementa que para que se tenha esta autonomia relativa, a gestão e as práticas de saúde nunca serão apenas um desdobramento da política, uma vez que existe uma dependência em cada uma destas dimensões. Ou seja, nem sempre a adesão a uma política nacional de saúde implica, necessariamente, em esforços para a sua implementação, seja no nível das práticas de saúde propriamente ditas, seja no nível da equipe gestora. A elaboração da PNAISH respaldou-se na literatura científica existente, posicionando as questões relativas ao gênero como referencial teórico para justificar a sua instituição, atribuindo ao comportamento hegemônico masculino a responsabilidade pela pequena procura do homem por serviços de saúde com foco na promoção e prevenção. Este comportamento é caracterizado pela invencibilidade, violência, fortaleza e não adoecimento, sendo o cuidado com a saúde considerado como um comportamento feminino. Por sua vez os estudos que trabalham com a perspectiva do homem como usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que homens querem cuidar de sua saúde, no entanto deparam-se com questões de acolhimento e organização dos serviços (GUERRIERO et al., 2002; BRAZ, 2005; FIGUEIREDO, 2005; GOMES; NASCIMENTO, 2006; FONTES et al., 2011; GOMES; REBELLO; NASCIMENTO, 2011). A marginalização desta população no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde, segundo Lyra et al. (2012), ancora-se em uma cultura de 59 gênero e nas políticas sociais do movimento feminista que, historicamente, tenta pôr um fim à desigualdade que cerca as mulheres, sendo necessário ressaltar que as discussões oriundas do campo feminista pouco problematizam os homens e as masculinidades, seja como objeto, seja como sujeito, a não ser como contraponto ao debate sobre a autonomia e o corpo das mulheres (LYRA-DA-FONSECA, 2008). Entretanto Medrado, Lyra e Azevedo (2011, p.46) reforçam que é preciso ir para além dos estereótipos que vitimizam mulheres e culpabilizam homens a respeito do cuidado com a sua saúde em um contexto social, sendo necessário produzir reflexões sobre as construções das masculinidades e feminilidades visto que as relações de gênero apontam mais para "diversidade do que diferença como resposta à dicotomia e desigualdade", concebendo diversidade como multiplicidade ou heterogeneidade ao contrário de diferença que, a partir do verbo "diferenciar" expressa o sentido de distinção, de identificar características que não podem ser confundidas. Ferraz e Kraiczyk (2010) acreditam que as políticas de saúde podem contribuir para a superação de obstáculos ao cuidado com a saúde oriundos das desigualdades de gênero. Neste sentido, o primeiro passo para que isso ocorra deve ser o reconhecimento da impossibilidade das políticas serem “neutras” em relação a tais desigualdades: não responder a elas significaria contribuir para sua manutenção. A maneira como é conduzida a implementação das políticas públicas pode favorecer/reforçar os preconceitos, uma vez que os serviços de saúde, via de regra, não ofertam aos homens, de forma eficiente, atendimentos compatíveis com suas necessidades. Para tanto, faz-se necessário uma mudança paradigmática no que diz respeito à percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua família (BRAZ, 2005). Merhy et al. (2007) afirmam que tanto os profissionais quanto os gestores atuam na governabilidade dos processos políticos e organizacionais 60 no cenário da saúde, no entanto, são os gestores que administram os recursos necessários para dar sentido as políticas, ou não. Os gestores municipais do nível central, neste estudo entendidos como os membros da equipe gestora, devem ter o compromisso de viabilizar condições para que o profissional possa mudar suas práticas de saúde, a partir de seus microespaços de poder e de trabalho. Segundo Draibe (2001) para analisar o processo de implementação é preciso conhecer e compreender a natureza do gerente, dos responsáveis pela implementação, no caso a equipe técnica. Frente ao exposto, propõe-se a realização da análise de política como ferramenta metodológica, com base na proposta de Araújo Júnior e Maciel Filho (2001) que a caracterizam como uma categoria de estudo com características próprias e definidas. Segundo os próprios autores, esta ferramenta utiliza a proposta por Walt e Gilson (1994), que apontam as dimensões a serem consideradas no processo de análise - Contexto, Atores, Conteúdo e Processo. A junção das quatro dimensões proporciona uma profunda e abrangente análise de uma política de saúde como se o contexto, o conteúdo, os atores e o processo se conformassem como diferentes ângulos de um mesmo objeto. A dimensão Atores se constitui nos sujeitos sociais envolvidos no processo, tanto de formulação quanto de implementação, podendo ser grupos de pessoas, instituições, organizações ou indivíduos. Nesta dimensão podem ser analisados os interesses dos atores, suas interrelações, a influência que exercem ou podem exercer no processo e seus graus de mobilização. Viana (1996) infere que, sendo o momento da implementação de intensa negociação, no qual se pode perceber a sustentação dos pactos estabelecidos, é também o momento em que se desvenda a real potencialidade de uma política, os atores que a apoiam, as disputas grupais e seus interesses. 61 Assim sendo, este artigo tem como objetivo identificar os principais atores envolvidos no processo de implantação da PNAISH em Cuiabá e estabelecer relações e graus de mobilização entre eles utilizando gênero como referencial teórico. METODOLOGIA Estudo descritivo e exploratório de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, uma vez que Cuiabá foi um dos municípios selecionados pelo Ministério da Saúde para implantação da PNAISH e pelo fato de, nos últimos anos, ter sofrido intensa descontinuidade política na condução da SMS, o que determinou a emergência de uma diversidade de entendimentos dos gestores acerca das prioridades em saúde e manejo com a gestão nos diversos níveis de atenção. Os sujeitos da pesquisa foram os profissionais que ocuparam a Diretoria da Atenção Básica, Diretoria da Atenção Secundária, Coordenadoria da Atenção Básica, Coordenadoria da Atenção Básica, bem como os Responsáveis Técnicos pela saúde do homem nos dois níveis de atenção, no período de 2009, quando ocorreu o lançamento da PNAISH, a 2013 quando foram coletados os dados deste estudo, totalizando treze sujeitos. A coleta de dados foi realizada por meio da técnica de entrevista semiestruturada, realizada em locais definidos pelos próprios sujeitos sociais. As entrevistas foram gravadas e transcritas pela própria pesquisadora. Para complementar às entrevistas também foi realizada análise documental em documentos primários, como os planos anuais de trabalho de 2010 a 2013 e os relatórios anuais de gestão de 2010 e 2011, que foram os únicos localizados e fornecidos pela equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Os dados foram tratados e analisados através da técnica de análise temática conforme descrita por Minayo (2010). Para a condução do processo de análise dos dados, a análise de política foi implementada como ferramenta metodológica para nortear o tratamento dos dados. Para tanto, foi utilizado o 62 modelo de Araújo Júnior e Maciel Filho (2001), baseado em Walt e Gilson, que considera quatro dimensões para a análise de política: o contexto, os atores, o processo e o conteúdo. A análise dos atores permite identificar as relações de poder entre eles e seus graus de mobilização para implementação da PNAISH. Araújo Júnior e Maciel Filho (2001) construíram seis passos para analisar os atores de um processo político a partir dos modelos de Matus (1996) e Reich e Cooper (1996) são eles: 1 - identificar os atores importantes envolvidos na política; 2 identificar a posição de cada ator e sua relação com a política; 3 - descrever a mobilização ou não dos atores de acordo com as suas posições; 4 estabelecer o poder que cada um dos atores exerce sobre outros atores; 5 analisar as possibilidades de aliança e confronto entre eles e; 6 - analisar a viabilidade da política. Por sua vez, assumiu-se nesta pesquisa que gênero seria tomado como um referencial teórico a ser incorporado no processo de análise, que associado à ferramenta metodológica de análise de política possibilitaria melhor compreensão do processo de implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem no município de Cuiabá. A fim de fazer correlações entre os passos optamos por agregá-los conforme fez Lyra-da-Fonseca (2005) em seu estudo ao analisar a formulação das Políticas de Direitos Sexuais e Reprodutivos e a inserção dos homens neste processo, resultando em três etapas: identificação dos principais atores; observação de suas posições em relação à política e seus graus de mobilização; análise da correlação de forças entre eles e as possíveis alianças e confrontos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM com o protocolo número 179.098/2012. 63 RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da leitura exaustiva dos materiais empíricos e complementados com os Planos de Trabalho Anual formou-se o quadro de atores. Com alguns atores a pesquisadora não teve contato, mas foram referidos pelos sujeitos participantes. No quadro abaixo traremos a identificação dos atores e sua respectiva descrição no contexto da PNAISH. Quadro 1. Os atores envolvidos na implementação da PNAISH em Cuiabá. Atores Descrição Profissionais de nível superior em saúde responsáveis pelo planejamento, condução e operacionalização das ações de atenção à A equipe técnica da Secretaria saúde do homem. Neste grupo de atores estão Municipal de Saúde de Cuiabá inseridos os Diretores, Coordenadores e Responsáveis Técnicos da Atenção Básica e Secundária. A Secretaria Municipal de Saúde Órgão municipal responsável pela direção das de Cuiabá (SMS) ações de saúde executadas no município. Órgão estadual responsável pelas ações de A Secretaria de Estado da Saúde saúde de todos os municípios do estado de MT, de Mato Grosso (SES/MT) inclusive aqueles de gestão plena. Ministério da Saúde (MS) Órgão condutor das diretrizes em saúde. O Gestor - Secretário Municipal de Gestor municipal, de nível superior responsável Saúde pela condução política da SMS. Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir dos discursos dos sujeitos da pesquisa articulado com os documentos municipais disponibilizados. A incipiente relação entre a SMS e o MS com vistas à implementação da PNAISH Durante o processo de coleta de dados, o Ministério da Saúde (MS) foi referido por diversas vezes, principalmente pelos Responsáveis Técnicos, uma vez que se configuram como responsáveis por sua execução em conformidade com a proposição legal, o que requer conhecimento profundo sobre a Política, por ser um ator importante no processo de planejamento e implementação das ações planejadas para efetivação da PNAISH. Em certa medida, poderia ser responsabilizado pelo sucesso ou insucesso das ações. 64 Ao se realizar uma análise sobre a cronologia dos fatos ocorridos no processo de implementação da PNAISH em Cuiabá pode-se dizer que, o MS se fez presente apenas no primeiro momento, durante o lançamento da Política em Cuiabá: O Ministério quando eu ligava lá.... Acesso fácil, tanto que o coordenador geral, eu liguei pra ele, pedi pra ele vir nessa sensibilização que eu fiz pra fazer a abertura, explicar a Política ele veio. O responsável nacional pela saúde do homem. Ele falou assim, quando eu estava nesse encontro eu perguntei né ele falou „se você avisar com antecedência eu vou‟. Ai eu marquei pra setembro o encontro e avisei um mês antes e ele veio. Tanto que foi quarta feira a tarde eu deixei a fala toda pra ele, ele conduziu todinho o trabalho de quarta feira, que era mais pra falar da Política né. Nossa, foi ótimo. [trata-se do momento inicial da Política, em 2010] [UA 10]. Os demais profissionais que compuseram a equipe gestora em outros momentos da implementação da PNAISH não demonstraram percepção semelhante: [...] Então [o Ministério da Saúde] lança o programa, cria uma expectativa na comunidade, no profissional e no fim não dá suporte. Saúde do homem é mais ou menos isso, criou e tá aí ó, pra inglês ver. Você não escuta nada, eu pelo menos não vejo nada sobre a saúde do homem mais, mais nada. [UA 8]. P: Por que você acha que isso [a efetivação da PNAISH] não aconteceu? G: Eu acho que também não aconteceu por que também não há um interesse maior do Ministério. Tanto que eles nunca fazem treinamento em saúde do homem, geralmente têm vários cursos, capacitações referentes aos outros programas, saúde do homem nem é comentado, não vem, não tem uma cartilha saúde do homem pelo Ministério. Se você olhar no site mesmo do Ministério, saúde do homem é bem pobre. Até deles mesmo que vem puxando os outros setores, Ministério, aí puxa a SES, aí puxa a baixada, aí puxa a gente. Não tem isso, nem da Baixada [Escritório Regional da Baixada Cuiabana] não puxa a gente, nem do Estado, nem o Ministério, então assim algo que não é só daqui, é nacional. Tem regiões que trabalha melhor? Tem. Como eles trabalham melhor outras coisas também, são pioneiros em outras áreas, mas vindo geral do Ministério não tem, não tem um 'puxa' do Ministério. [UA 11]. [...] quando eu falo de divulgação eu falo desde Ministério da Saúde, porque eu não percebo o Ministério da Saúde envolvido. 65 Eu passo o mês inteiro indo em reunião da saúde da mulher, violência, planejamento familiar, rede cegonha que é a mulher grávida também. E do homem, há dois anos, eu não vejo nem do Ministério. Nenhuma divulgação. [UA 3]. O fato da PNAISH ser recente e envolver questões que demandam reflexões sobre os comportamentos sociais masculinos para sua efetivação, e de as outras políticas proporem ações operacionais corroboram para o estabelecimento de comparação com outras políticas que já dispõem de reconhecimento social e profissional, como a Política de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN), traduzida atualmente na Rede Cegonha que dita estratégias operacionais para garantia da vivência do parto e puerpério com qualidade. Para além, os entrevistados ainda referem pouca cobrança do Ministério da Saúde para a resolubilidade das ações para a população masculina. O papel do MS de fomentador da implantação e implementação de políticas gera expectativas quanto às direções a serem tomadas no processo de implementação da PNAISH, sendo assim, a não participação efetiva do Ministério se reflete direta e negativamente nas ações pensadas e executadas na esfera municipal. Os dados levantados demonstram também certo ritualismo nas ações desempenhadas pelas demais políticas, uma vez que foram traduzidas em programas que funcionam com o objetivo de facilitar as ações necessárias ao atendimento das políticas ministeriais. O fato do Ministério não pré-determinar formulários e protocolos específicos para o acompanhamento das ações relativas à saúde do homem, gera a impressão de não haver um norte para o desenvolvimento do trabalho da equipe de saúde que, geralmente, está acostumada a executar, de forma engessada, a operacionalização das políticas de saúde. Desta forma, os dados levantados junto aos sujeitos deste estudo apontam para a existência de uma diminuída capacidade dos técnicos da SMS em incentivar a reformulação das práticas já existentes: 66 E que esse programa [a saúde do homem] não tem uma coisa fixa, por exemplo, saúde da mulher, tem aquilo, tem pra fazer: tem o formulário do Ministério, acompanhamento já veio pronto do Ministério, você só implementa pro seu município, muda o logo, tem tudo assim, o que é pra fazer, tem um roteiro, tem protocolo pra você seguir. Saúde do homem não tem nada feito ainda, não tem o Ministério pra facilitar você seguir aquilo pra depois você desenvolvê-lo melhor. [UA 11]. A ausência de protocolos e diretrizes que contribuam para a orientação das práticas dos profissionais de saúde para a implementação da PNAISH também foi encontrada em estudo de Leal, Figueiredo e Nogueira-da-Silva (2011) que visou analisar a implementação desta Política em cinco municípios brasileiros. A forma como o Ministério conduziu o acompanhamento das ações para efetivação da PNAISH gerou percepções negativas a respeito do trabalho executado por ele, e principalmente a respeito da importância da PNAISH no país: [...] a impressão que dava era que o Ministério lançou o programa, mas ele não sabia o que fazer, não é? [UA 8]. Esta compreensão refletiu também na importância que o município e seus gestores deram/dão para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. A ausência de relação entre a SES e a SMS: enfraquecendo as ações para a saúde do homem A Secretaria de Estado da Saúde (SES) no contexto do SUS tem papel fundamental no processo de implementação da PNAISH, pois tem a função de coordenar, promover, incentivar, estimular as ações a serem desenvolvidas por este ente federativo (BRASIL, 2009 a). Neste contexto duas ações chamam a atenção: 1) "estabelecer parcerias com as diversas organizações cujas atividades tenham afinidade com as ações propostas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do 67 Homem" e 2) "incentivar junto à rede educacional estadual, ações educativas que visem à promoção e atenção à saúde do homem" (BRASIL, 2009a, p.40). O estabelecimento da necessária articulação com determinadas instituições para atingir estes objetivos, potencialmente, pode favorecer o acesso de homens que eventualmente estejam concentrados em nichos específicos, como aqueles em situação carcerária; no contexto das grandes empresas como na construção civil; nas forças armadas; uma vez que ações em espaços específicos podem favorecer o aprendizado de ações de promoção à saúde e prevenção de agravos. Esta experiência foi discutida em estudo realizado por Figueiredo, McBritton e Peixoto (2012) que realizaram práticas educativas com equipe multidisciplinares em unidades móveis que se instalavam em locais de grande concentração de homens como bares, empresas privadas com funcionários predominantemente masculinos, pátios de estacionamentos rodoviários e caminhoneiros. Foram elaboradas cartilhas sobre prevenção de DST/AIDS em formato de tabelas de jogos da Copa do Mundo de 2010, cartilhas de bolso a respeito da saúde sexual e reprodutiva e cuidados com a saúde de uma forma geral, e cartilhas informando locais de atendimento aos acometimentos mais recorrentes na população masculina. Os autores avaliam que a procura pelos materiais foi grande, principalmente quando associada a temas de interesse dos homens. Entretanto a ausência da SES no planejamento e implementação da PNAISH foi referida e enfatizada por todos os entrevistados, sem exceção: Não, não, nada, nem uma ligação. Nem para falar assim „vamos nos reunir para falar um pouco da Política‟. Nem tudo depende de dinheiro, algumas coisas a gente pode fazer sem dinheiro, como equipe técnica. Mas, partindo da SES, eu como Secundária, nunca recebi. [UA 3]. P: e nesse período que você estava como coordenador, a SES em algum momento fez algum contato com vocês, parceria. Como que isso aconteceu? 68 G: então, essa é uma pergunta extremamente interessante. [...] o estado, a SES, pouco ou quase nada contribuiu para implantação do programa e muito menos ainda na implementação da Política. P: Então pouco quer dizer que ele conseguiu fazer alguma coisa... G: Não, nada. Pouco porque ele existe na programação estadual, que acompanha, elabora relatórios e manda pra Brasília com uma frequência que eu não sei dizer qual é. Mas o fato é que o estado não trabalha com o município. Para esse programa inexiste qualquer ação do estado. [UA 12]. O que chama a atenção é que a ausência da SES, aparentemente, só ocorreu em relação ao processo de implantação e implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, ao passo que a sua presença é notória na condução de diversas outras políticas de saúde assumidas pela própria SES como caminho a ser seguido. Lá no estado entrou em agosto um RT lá de saúde do homem só que ele nunca procurou a gente. Ai eu fui conversar com ele e muitas vezes estão em reunião. Agora a pessoa de tabagismo, que é lá da Secretaria do Estado é muito gente boa, que é a mesma para [saúde da] mulher quanto para [saúde da] homem, [saúde da] adolescente. Mas em relação ao homem, eu não tive. Eu fui uma vez só, me tratou mal, me mandou esperar, chá de cadeira de quase 4 horas. Ai eu nunca mais voltei e ele também não veio atrás de mim. [UA 5]. A situação apresentada demonstra certo desinteresse em relação às questões que dizem respeito ao andamento da implementação da PNAISH. Estudo realizado por Noca (2011) encontrou resultado semelhante ao analisar o discurso sobre saúde e masculinidades produzidas por gestores, profissionais de saúde e usuários de um dos primeiros serviços de saúde exclusivo para a população masculina no Brasil, na região metropolitana de Recife, Pernambuco. O referido estudo demonstrou que a Secretaria Estadual de Saúde ofereceu apoio reduzido a capital do Estado para a implementação das ações planejadas, demonstrando também ações desarticuladas entre a gestão estadual e municipal. Outra situação observada foi a evasão dos profissionais médicos da rede especializada de gestão estadual, pois diversos especialistas da rede do SUS de Cuiabá eram vinculados à gestão estadual e cedidos para atendimentos nos serviços da SMS. Entretanto, nos anos de 2010 e 2011 a 69 SES solicitou o retorno dos servidores cedidos ao município para assumirem as unidades de saúde do estado: [...] hoje a gente tem menos especialistas do que a gente tinha em 2009. Da minha época de diretoria pra cá a gente vem perdendo especialista. Tanto dentro da policlínica como dentro do centro de especialidades médicas, que é um suporte também para a atenção básica. Que é agendado via central de regulação. Então a gente vem perdendo especialista. Primeiro porque o salário não é atrativo, apesar da maioria dos nossos especialistas serem estatutários. Segundo, a gente tinha muitos especialistas que eram da secretaria do estado e que o estado gradativamente vem chamando e esse ano chamou o restante que tava lá. Então a gente perdeu esses especialistas. [UA 1]. Esta situação, de certa forma, aponta para a existência de algum grau de descompromisso da SES com a assistência a saúde masculina prestada na capital do estado, visto que parte dos serviços de média e alta complexidade do estado são referenciados para os serviços credenciados na SMS. Tal atitude da SES contribuiu para redução na oferta de serviços de especialidades médicas, refletindo negativamente no cumprimento das metas a serem atingidas pelo município no Plano de Trabalho Anual elaborado para implementação da PNAISH. Matos (2007) em estudo realizado sobre o processo de implementação do SUS no estado de Rondônia demonstrou que nos serviços públicos de saúde é comum existirem servidores com diversos vínculos empregatícios: do quadro próprio, comissionados, servidores trabalhadores de carreiras „celetistas‟, descentralizadas, trabalhadores servidores terceirizados, contratados temporariamente, consultores de todos os tipos e com várias formas de contratação, estagiários, cooperados de todos os tipos e mesmo trabalhadores atuando sem qualquer vínculo formal de trabalho, como no caso de muitos agentes comunitários de saúde. Ou seja, assim como no estudo de Matos (2007), também se constatou a existência de fragilização dos vínculos empregatícios, situação que compromete a oferta de serviços de saúde à população, uma vez que os 70 diferentes vínculos determinam a existência de diferentes motivações que podem ser encaradas como positivas ou negativas, afetando diretamente a implementação de políticas de saúde que tem como requisito básico manter um nível de continuidade e de estabilidade. Assim, é possível inferir que o SES não cumpriu com o seu papel de coordenar, promover, incentivar, estimular as ações a serem desenvolvidas por este ente federativo (BRASIL, 2009 a), refletindo negativamente no planejamento e desenvolvimento de ações pela SMS, visto que a SES configura-se como um ator fundamental para implementação de Políticas a nível municipal. O envolvimento do gestor X a autonomia da equipe técnica no processo de implementação da PNAISH Neste estudo foi considerado como gestor o Secretário Municipal de Saúde, que foi ocupado por seis profissionais no período de 2009 a 2013. A principal função do gestor da saúde, segundo Carvalho, Machado e Cesse (2004) deve ser a de criar condições favoráveis para formação de alianças internas e externas à gestão, como garantia de ações que visam à mudança com as quais ele esteja comprometido. Os sujeitos deste estudo que foram membros da equipe técnica da SMS de Cuiabá ao serem questionados a respeito dos motivos pelos quais a PNAISH não se encontra, efetivamente, implementada na capital matogrossense referiram a condução do gestor como um dos fatores determinantes: P: então de tudo que você me disse, o que dificultou a implantação desse projeto desde que você tá aqui? G: Foi mais pelos gestores não darem muita assistência. Muitas vezes a gente traz problemas aqui que o próprio gestor poderá resolver e ele deixa pra „fulano‟ e pra „ciclano‟, pra beltrano. [UA 5]. P: e assim já que você acha que ela não está implementada, o que você acha que dificultou essa implementação? 71 G: Vontade política. Vontade política. Vontade política pra gente ter uma equipe, mudar realmente a atenção básica na condição desses programas. [UA 12]. O último excerto aponta que a falta de investimentos na Saúde do Homem foi justificada pela falta de investimentos na Atenção Básica do município, independente das áreas temáticas ou programas instituídos no município. Um dos entrevistados ao referir o pequeno conhecimento sobre os modos de financiamento da Atenção Básica e a sua relação com uma equipe profissional compatível com o perfil exigido para este nível de atenção se remete a "falta de visão" dos gestores. Por sua vez, ao serem questionados sobre os motivos pelos quais o procedimento de vasectomia não estava sendo feito no município com a regularidade esperada e planejada, as respostas extrapolavam a vontade e articulação da equipe técnica: [a vasectomia] Era um procedimento que não estava sendo feito porque não tinha material, não sei o que que era não... se eu talvez lembrar depois eu posso te falar, mas era uma coisa que a própria Central [de Regulação] falou pra gente „olha, não tá na nossa mão entendeu, é lá em cima, é vontade política‟. [UA 10]. Um dos entrevistados inclusive referiu que havia um Urologista na rede SUS que tinha interesse em fazer o procedimento via ambulatorial, porém quando soube que não haveria contrapartida salarial da SMS desistiu do projeto. É importante destacar o quanto as concepções de gênero estão presentes nas atitudes dos gestores e profissionais da equipe técnica, influenciando no modo de operacionalizar a gestão em saúde: Deveria começar novamente a Política de Saúde do Homem. Porque assim, não adianta a gente falar que a gente quer melhorar, que vem dinheiro, se o nosso gestor não dá preferência e achar que o carro chefe é a saúde da mulher, do idoso e da criança. A gente vai só ter palestra de mulher, idoso e criança. [UA 5]. 72 Em outro excerto constata-se a afirmação de que a capacitação dos profissionais não está nos planos para o ano de 2013, mesmo reconhecendo que está é uma necessidade para impulsionar a implementação da Política. Frente ao exposto pode-se inferir que além de haver uma distância entre o que é posto como necessidade e aquilo que é efetivado no município, o profissional técnico não se reconhece como responsável pelas ações de saúde do homem e considera que esta não seja uma prioridade naquele nível de atenção, no momento do estudo: P: [...] Então vocês estão pensando em colocar isso em prática ou não, é uma coisa que você começou a pensar só agora e tem que melhorar a ideia?[no momento o entrevistado fala a respeito de capacitação com os profissionais da atenção secundária] G: Não pensei em colocar isso esse ano, não está nas minhas ações. [...] Mas a gente tem o plano de trabalho anual e não tá inserido no plano da secundária. Não sei da Secretaria, a gente não teve da secundária ainda. Mas é interessante, uma coisa que pode-se fazer... [UA 2]. Desta forma a qualidade de uma gestão pode ser considerada diretamente proporcional à qualidade do processamento técnico, da condução política e da responsabilização por objetivos e metas do plano de ação de cada pasta de uma Secretaria (SILVA, 2011). A análise da relação entre estes dois atores, gestor e equipe gestora, aponta para uma forma de implementação na qual a equipe possui pouco poder decisório frente às prioridades do gestor para a saúde do município. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o objetivo de identificar os atores e analisar a relação entre eles a fim de compreender os seus graus de mobilização, considera-se que o Ministério da Saúde, como instituição fomentadora de mudanças de práticas através de políticas públicas de saúde, precisa definir em qual âmbito ancorará as propostas voltadas para o atendimento às necessidades em saúde do homem: se nos aspectos psicossociais, abordando a dimensão relacional de gênero que mantém estreita relação com os comportamentos vulneráveis 73 socialmente instituídos, ou se nos aspectos biomédicos focados nos males da próstata e planejamento reprodutivo. Considera-se ainda que, segundo o discurso dos sujeitos desta pesquisa, frente ao processo destinado a implantação e implementação da PNAISH em Cuiabá, a SES não apresentou o grau de mobilização necessária, negligenciando a sua função primeira de incentivar a proposição de ações, neste caso, aquelas voltadas à população masculina. A definição clara do caminho a ser assumido como norte para as práticas em saúde voltadas a atender esta população, potencialmente, contribuirá com a implementação da PNAISH nas esferas municipal e estadual, favorecendo os resultados em âmbito nacional. A escolha dos aspectos psicossociais com foco nas ações para implementar a PNAISH exige que gestores repensem suas práticas e valores relacionados aos aspectos da saúde masculina, com vistas a planejar processos livres de condicionantes socioculturais que, em última análise configuram-se em pré-conceitos que são reproduzidos no cotidiano dos serviços de saúde. Neste sentido o apoio do Ministério da Saúde e sua associação com instituições que exercem o fomento e exercício destas práticas conforma-se como uma ação importante. Assim, evidencia-se que há uma necessidade emergente de uma mudança paradigmática que norteie o planejar, organizar e encaminhar os serviços de saúde, desde o nível central de gestão até o nível local, com vistas a criar espaços que favoreçam o estabelecimento de vínculo do homem com os serviços, visando o atendimento às suas necessidades em saúde. REFERÊNCIAS 74 ARAÚJO JÚNIOR, J.L.C.; MACIEL FILHO, R. Developing an operational framework for health policy analysis. Rev. bras. saúde matern. infant., Recife, v.1, n. 3: 203-221, set. - dez., 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BRASIL a. Portaria nº 1.944 de 27 de agosto de 2009. Brasília. Dispõe sobre a instituição da Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem no âmbito do SUS. 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Os resultados evidenciaram a proposição de ações voltadas para a sexualidade e reprodução com foco na detecção precoce do câncer de próstata e a articulação com empresas do setor privado como estratégias para sua implementação. O estudo constatou que estas ações, de maneira geral, não favoreceram a necessária mudança de comportamentos vulneráveis relacionados ao gênero, não ocorrendo a efetiva implementação da PNAISH. Descritores: Gênero e Saúde, Saúde do Homem, Gestão em Saúde. RESUMÉM Este estudio tuvo como objetivo analizar el proceso de implementación de la Política Nacional de Atención Integral a la Salud de los Hombres (PNAISH) en Cuiabá, con referencia al género, en conformidad con la Política. Estudio cualitativo, llevado a cabo con miembros del equipo de gestión de la Salud Municipal. También fueron analizados los Planes de Trabajo Anual e los Informes de Gestión del mismo período. Para el análisis se utilizó la herramienta metodológica - Análisis de Políticas y la técnica de análisis temático. Los resultados mostraron la proposición de acciones para la sexualidad y la reproducción con un enfoque en la detección temprana del cáncer de próstata y la interacción con las empresas del sector privado como estrategias para su implementación. El estudio encontró que estas acciones, en general, no favorecen el necesario cambio de conductas vulnerables relacionados con el género, no se haya producido la efectiva implementación de PNAISH. 7 Enfermeira. Técnica do Sistema Penitenciário SEJUDH/MT. Mestranda do Programa de PósGraduação em Enfermagem, UFMT. Membro do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar da Faen/UFMT. 8 Enfermeira. Doutora. Docente da Faculdade de Enfermagem da UFMT. Líder do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar da Faen/UFMT. Diretora da Faculdade de Enfermagem da UFMT. 78 Palabras clave: Género y Salud, Salud del Hombre, Gestión en Salud. ABSTRACT This study aimed to analyze the implementation process of the National Policy for Men's Health Integral Attention (PNAISH) in Cuiabá using gender how reference, as proposed by the Policy. Qualitative study was conducted with Secretariat Municipal Health management team members of the period 2009 to 2013. The Annual Work Plans and Reports Management from the same period was used to complementary the analyze. During the review process was used the methodological tool - policy analysis and implemented the thematic analysis technique. The results showed actions proposal for sexuality and reproduction with a focus on early prostate cancer detection and interaction with private sector companies as strategies for its implementation. The study found that these actions, in general, did not foster the necessary change of vulnerable behaviors related to gender, not occurring effective implementation of PNAISH. Keywords: Gender and Health, Men‟s Health, Health Management. INTRODUÇÃO O Ministério da Saúde (MS) instituiu, em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) com o intuito de propor ações humanizadas e resolutivas, e de capacitar os profissionais de saúde para o atendimento ao homem, inserindo na proposta estratégias para a promoção da equidade para distintos grupos sociais. Com vistas à implantação da Política, o MS selecionou 26 municípios que iniciariam o processo no país, sendo Cuiabá um destes municípios (BRASIL, 2008). A PNAISH propõe que a Estratégia de Saúde da Família seja tomada como espaço preferencial para a concretização da Política de Saúde do Homem (BRASIL, 2008). Para tanto, o documento da Política embasou-se na literatura científica existente, apontando a importância das questões de gênero para sua implementação, sendo necessário que gênero seja incorporado/concebido como referencial teórico que justifica a sua instituição, por considerar que o comportamento masculino hegemônico, justifica a pequena procura do homem por serviços de saúde que têm como foco principal a promoção da saúde e a prevenção de agravos. O comportamento masculino hegemônico caracteriza-se pela crença em sua invencibilidade, pelo uso da violência, pela credibilidade em sua 79 fortaleza e pela certeza do não adoecimento do homem, sendo o cuidado com a saúde um comportamento considerado feminino. Por sua vez, os estudos que abordam a perspectiva do homem como usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que homens querem cuidar de sua saúde, no entanto esbarram em questões relativas ao acolhimento e a organização dos serviços (BRAZ, 2005). A marginalização da população masculina, no que tange ao acesso aos serviços de saúde, ancora-se em uma cultura de gênero e nas políticas sociais do movimento feminista que tentam por um fim à histórica desigualdade que cerca as mulheres, sendo necessário ressaltar que as discussões oriundas do campo feminista pouco problematizam os homens e as masculinidades, seja como objeto, seja como sujeito, a não ser como contraponto ao debate sobre a autonomia e o corpo das mulheres (LYRA; MEDRADO; BARRETO; AZEVEDO, 2012). Neste sentido é preciso ir para além dos estereótipos que vitimizam mulheres e culpabilizam homens a respeito do cuidado com a sua saúde em um contexto social, é preciso produzir reflexões sobre as construções das masculinidades e feminilidades, visto que as relações de gênero apontam mais para a "diversidade do que diferença como resposta à dicotomia e desigualdade" (MEDRADO; LYRA; AZEVEDO, 2011, p.46). Aqui, diversidade precisa ser compreendida como multiplicidade ou heterogeneidade, ao contrário de diferença que a partir do verbo "diferenciar" expressa o sentido de distinção, de identificar características que não podem ser confundidas. A masculinidade conforma-se na prática de ser homem, a partir da posição que homens ocupam na estrutura das relações de gênero, melhor dizendo, existem diversas formas de manifestar a masculinidade e a feminilidade, extrapolando a maneira habitual sem, no entanto, perder sua legitimidade. As políticas de saúde podem contribuir para a superação de obstáculos ao cuidado com a saúde oriundos das desigualdades de gênero (FERRAZ; 80 KRAICZYK, 2010). Neste sentido, o primeiro passo é o reconhecimento da impossibilidade das políticas serem “neutras” em relação a tais desigualdades: não responder a elas significaria contribuir para sua manutenção. A condução de processo de implementação das políticas públicas pode reforçar os preconceitos, uma vez que os serviços de saúde, via de regra, não ofertam aos homens, de forma eficiente, atendimentos compatíveis com suas necessidades. Para tanto, faz-se necessário uma mudança paradigmática no que diz respeito à percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua família (BRAZ, 2005). Apesar da proposta apresentada pela PNAISH assumir gênero como conceito central a ser utilizado para o planejamento e organização de intervenções voltadas à população masculina, no que diz respeito ao seu desdobramento, não aponta na mesma direção, uma vez que as ações concretamente propostas evidenciam sinais de tendência à medicalização do corpo masculino, nos mesmos moldes das propostas referentes às intervenções sobre o corpo feminino (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). Partindo do princípio de que gênero é um elemento teórico transversal para a análise de eventos da saúde (VILELA; MONTEIRO; VARGAS, 2009), pois se processa não só no âmbito familiar, mas também no mercado de trabalho e nas instituições e organizações sociais e políticas (SCOTT, 1995), neste estudo, gênero ocupa a centralidade da discussão sobre o processo de implementação da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem em uma capital da Região Centro-Oeste do Brasil. O objetivo deste artigo foi analisar o processo de implementação da PNAISH em Cuiabá, com base nas ações referidas pelos membros da equipe gestora municipal, tomando por referência teórica gênero, conforme proposto pela Política. 81 METODOLOGIA Foi realizado um estudo descritivo e exploratório de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, tendo em vista as especificidades do processo de implementação da PNAISH ocorrido em Cuiabá – um dos municípios selecionados pelo MS para a implantação inicial. Nos últimos anos ocorreram inúmeras mudanças na gestão política e administrativa do município. Tais mudanças determinaram a descontinuidade das ações propostas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), uma vez que a cada novo gestor que assumiu a função de Secretário Municipal de Saúde novas propostas foram encaminhadas, novas equipes técnicas foram constituídas e novas prioridades em saúde estabelecidas, o que determinou variação do manejo com a gestão nos diversos níveis de atenção à saúde. Tendo em vista tal característica que gerou um diferencial na administração pública do setor saúde, os sujeitos desta pesquisa foram os profissionais que ocuparam a Diretoria da Atenção Básica, Diretoria da Atenção Secundária, Coordenadoria da Atenção Básica, Coordenadoria da Atenção Secundária, bem como os Responsáveis Técnicos pela saúde do homem na atenção primária e secundária da SMS, no período compreendido entre 2009 e 2013, ou seja, entre o momento do lançamento da PNAISH até o momento em que os dados foram coletados, totalizando treze sujeitos. Com vistas a preservar a identidade dos participantes da pesquisa, os sujeitos deste estudo foram identificados nos excertos como Unidades de Análise (UA), seguido do número da ordem cronológica que foi realizada a entrevista (UA1, UA2,...). A coleta de dados ocorreu com a aplicação da técnica de entrevista semiestruturada realizadas em locais definidos pelos próprios sujeitos deste estudo. As entrevistas foram gravadas e transcritas pela pesquisadora. Complementarmente foi realizada a análise documental dos planos anuais de 82 trabalho de 2010 a 2013 e dos relatórios anuais de gestão de 2010 e 2011, sendo que o relatório de 2012 ainda não estava disponível pela SMS. Para a condução do processo de análise dos dados, a análise de política foi utilizada como ferramenta metodológica para nortear o tratamento dos dados, por ser uma categoria de estudo com características próprias e definidas, uma vez que este modelo predefine quatro dimensões a serem consideradas para implementação da análise de política: o contexto, os atores, o processo e o conteúdo (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2011), uma vez que se conformam como diferentes ângulos de um mesmo objeto. Especificamente neste manuscrito foi tratada a dimensão processo, que propõe a análise das estratégias que foram/estão sendo usadas pelos atores sociais envolvidos na implementação da Política, as negociações e por ventura suas finalidades. Por sua vez, para realização do tratamento e análise dos dados coletados foi utilizada a técnica de análise temática (MINAYO, 2010). Assumiu-se que gênero seria tomado como um referencial teórico a ser incorporado nos processos de análise e interpretação, que associado à ferramenta metodológica de análise de política possibilitaria melhor compreensão do processo de implementação da PNAISH no município de Cuiabá. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM com o protocolo número 179.098/2012. RESULTADOS E DISCUSSÃO Saúde sexual e reprodutiva: a priorização dos aspectos biomédicos A saúde sexual e reprodutiva é um dos aspectos proposto pela PNAISH como prioridade para o atendimento às necessidades em saúde do homem. Neste contexto, em Cuiabá uma das práticas identificadas a partir do 83 material empírico levantado neste estudo foi a da inclusão do homem em ações referentes ao Planejamento Reprodutivo, ações essas desempenhadas majoritariamente pela Atenção Secundária. Segundo os sujeitos deste estudo que foram responsáveis por este nível de complexidade na atenção à saúde, a inclusão do homem no Planejamento Reprodutivo, geralmente, restringe-se a participação na última consulta da mulher, quando sua presença é obrigatória, uma vez que para a realização da laqueadura é preciso à concordância da mulher e de seu companheiro/marido, por tratar-se de um método definitivo de contracepção: Inclusive nas reuniões do planejamento familiar o homem só vai quando a gente fala „o homem tem que vir porque ele tem que assinar o papel pra você fazer‟. (UA 3). A PNAISH tem como um de seus objetivos a implantação e implementação da assistência em saúde sexual e reprodutiva, no âmbito da atenção integral à saúde da mulher e do homem, adulto ou jovem, de modo que propõe a ampliação e qualificação do cuidado ao planejamento reprodutivo masculino e feminino, inclusive assistência à infertilidade (BRASIL, 2008). Neste sentido, as escolhas relativas à vida reprodutiva do casal devem ser uma prática compartilhada e quando desempenhadas no universo individual devem ser feitas com segurança. Estudo realizado com homens e mulheres sobre planejamento reprodutivo demonstrou que, o desejo da participação dos homens, pelas mulheres, e o interesse dos homens em participar são um terreno profícuo para o redimensionamento de papéis. Entretanto, via de regra, a forma de organização dos serviços reforça que ainda é a mulher a principal responsável pelas questões reprodutivas, uma vez que a assistência está voltada, predominantemente, para ela, oferecendo poucas oportunidades de participação masculina (MARCOLINO; GALASTRO, 2001). Segundo os relatórios de gestão do município de Cuiabá, no ano de 2012, somente 263 homens foram atendidos em serviços voltados para o planejamento reprodutivo. Destes homens, 130 foram encaminhados para 84 realização da vasectomia, mas apenas 05 realizaram o procedimento, o que pode significar a existência de uma demanda reprimida no município, e que eventualmente pode determinar o descrédito dos serviços públicos de saúde, da rede municipal, aos olhos destes homens que não conseguiram alcançar seu intento, afastando-o ainda mais destes serviços. A instituição da PNAISH possibilitou o aumento do custo financeiro do procedimento de vasectomia ambulatorial em detrimento do realizado no ambiente hospitalar. Esta iniciativa do MS visava facilitar o acesso ao procedimento, caso assim deseje o homem. A não realização do procedimento de forma ambulatorial compromete a captação de homens interessados, pois, além de esbarrar em preconceitos relativos aos riscos que acreditam existir relativos ao exercício de sua sexualidade, questão que também limita a procura pelo procedimento, também se depara com questões operacionais da SMS, relativas à contratualização e financiamento destes procedimentos. Ao questionar um dos membros da gestão da SMS, do período 2009 a 2013, a respeito das dificuldades relativas ao planejamento familiar para implementar a proposta da PNAISH, o profissional não tinha claro se realmente houve dificuldades: [...] o planejamento familiar já é uma política mais antiga, o homem tem que ir tanto para ele assinar, tanto para ele realizar a vasectomia, então para nós, não mudou muita coisa... (UA 3). Este excerto possibilita inferir que, a implantação da PNAISH no município de Cuiabá não influenciou nas ações que já vinham sendo desenvolvidas no que tange a presença dos homens no serviço de planejamento reprodutivo. Ainda no campo da sexualidade e reprodução, diferentes olhares foram observados para a condução das ações desta área, durante o período estudado nesta pesquisa. Em 2010, no único evento de sensibilização sobre saúde do homem realizado pela SMS Cuiabá, com todos os profissionais da atenção básica e atenção secundária, as temáticas abordadas foram 85 integralmente voltadas para os aspectos biológicos do homem, especificamente do adoecimento como demonstra o excerto abaixo: Pesquisadora: vocês chegaram de, nesta sensibilização, dar algum foco específico pra que os profissionais atendessem este homem da rede? UA: Sim. Por exemplo, a questão do câncer de próstata, o Urologista explicou. Até foi bastante discutido a importância do toque retal que existe uma barreira dos profissionais médicos né, explicou até a técnica e tudo. Foi bem colocado. Sobre o planejamento familiar, sobre as DSTs, foi colocado... Deixa eu ver se eu lembro... Sobre o tratamento dessas DSTs no homem né... Nossa eu achei que foi muito bom. Pesquisadora: Era mais nessas doenças? UA: É, como assim atender, tratar, que exames pedir, tudo isso foi falado sim. Pesquisadora: Como atender? Você fala no caso da medicação? UA: É... do procedimento, exames, exame físico, exame clinico. (UA 10). Pesquisadora: E nessa capacitação você disse que abordou [a entrevistada interrompeu] UA: Não foi capacitação, foi sensibilização. Foram três dias. Abordei sobre saúde mental, sobre DST, claro câncer de próstata né e... E... Aí eu lembro que um dia era saúde metal, o outro dia era sobre DST e o outro sobre câncer de próstata. (UA 10). Considerando que os sujeitos desta pesquisa são membros da equipe gestora, e por tal razão tem o respaldo técnico para direcionar as ações, chama atenção a preocupação demonstrada com aspectos relativos ao biológico, com o patológico, com o tratamento, ou seja, abordagens diferentes da proposta pela PNAISH. Os dados demonstram que as ações relativas à implementação da Saúde do Homem em Cuiabá foram, em sua maioria, voltadas para as questões de ordem orgânica do homem, mas especificamente no campo da saúde sexual e reprodutiva voltadas para a prevenção do câncer de próstata. Considera-se que esta situação advém da cultura profissional vigente que, via de regra, se resume a redução biomédica do corpo, como a única aproximação das necessidades de saúde tidas como válidas para os profissionais. Assim sendo, a inserção de aspectos relativos à cultura 86 generificada somente serão inscritos nas práticas de saúde se este modo de proceder for criticado em suas diversas dimensões (SCHRAIBER, 2012). As capacitações oferecidas aos profissionais são essenciais para a implementação de uma política criada com vistas à reformulação de conceitos sobre o que seja ser homem e sobre a forma adequada de agir socialmente como homem, sobre o exercício das masculinidades. As abordagens realizadas nas capacitações precisam promover a reflexão sobre os determinantes de saúde e buscar estratégias coletivas de remodelar comportamentos que colocam homens em condições de vulnerabilidade. Este é o grande desafio nas práticas de educação permanente em saúde: "produzir auto-interrogação de si mesmo no agir produtor do cuidado; colocar-se ético-politicamente em discussão, no plano individual e coletivo, do trabalho" (MERHY, 2005, p.173). Os achados apresentados neste estudo apontam para a necessidade da realização de capacitações e da qualificação da formação profissional. Tais ações podem contribuir para implementação de mudanças no imaginário dos profissionais e gestores, que concebem o homem como um ser que não busca cuidados a sua saúde e acabam, de certa forma, contribuindo com a permanência (histórica) da cultura relacional de gênero na atenção à saúde (COUTO, et al., 2010). A literatura científica demonstra que as necessidades em saúde masculinas não se limitam aos males da próstata e outras enfermidades relativas aos aspectos biológicos. É preciso considerar os aspectos psicossociais e culturais, sem restringir o cuidado às ações assistenciais ou de caráter emergencial (MEDRADO; LYRA; AZEVEDO, 2011). Entretanto, conforme pode ser constatado nos excertos apresentados, esta capacidade ainda é pouco observada na racionalidade das ações propostas pela equipe gestora da SMS Cuiabá. 87 Ainda em relação ao evento de sensibilização, as falas demonstram que a temática mais trabalhada foi a detecção precoce do câncer de próstata, tendo em vista que no contexto do planejamento reprodutivo, das DST e da saúde mental, os cuidados com a próstata configurava-se como nova temática a ser incorporada pela assistência à saúde oferecida na Atenção Básica e Secundária em Cuiabá: UA: [...] Porque nessas capacitações englobou várias coisas né, DST, preservativo, que já tem. Então a gente orientava mais ainda. Pesquisadora: então vocês pegaram só aquilo que era diferente, aquilo que não era abordado. UA: isso, no caso a próstata. (UA 9). Esta racionalidade refletiu-se na maneira de acompanhar a implementação da PNAISH na capital, que se desdobrou em relatórios quantitativos sobre número de homens que realizaram PSA (Antígeno Prostático Específico ou Prostate Specific Antigen), que fizeram toque retal, encaminhamentos à consulta especializada em Urologia e saúde mental. Resultado semelhante foi encontrado em estudo realizado com enfermeiros de um Centro de Saúde da cidade do Rio de Janeiro que objetivou conhecer e analisar a visão destes profissionais em relação ao atendimento à saúde do homem e que constatou uma visão, reduzida aos problemas da próstata (SILVA et al., 2012). No universo dos sujeitos desta pesquisa poucos foram os que demonstraram a compreensão de que o olhar para os aspectos psicossociais é necessário para a implementação da PNAISH, reconhecendo que não será o aumento da oferta de serviços especializados que determinará o aumento da demanda masculina, em busca de cuidado, pelas/nas unidades básicas de saúde e especializadas, mas sim o acolhimento às suas necessidades: Eu acho que na parte técnica ele [o profissional de saúde] tem preparo, mas ele precisa sempre de aperfeiçoar, principalmente a parte do acolhimento tá. Que isso é uma coisa que a gente acaba... ainda tem muito deficiência. Na parte técnica, a forma de 88 diagnosticar, forma de lidar, tratar, acho que nesse aspecto não tem problema. (UA 4). [...] Porque não precisa de muita coisa pra fazer atendimento na rede primária, é realmente abrir espaço para o homem, recebê-lo, quebrar esse gelo com o homem. Mas eu acho que ainda falta mais sensibilização de toda a equipe, principalmente se você olhar o programa de saúde da família. [...] Então assim, é um trabalho, a nível primário, eu vejo extremamente importante sensibilizar mais a equipe. Material... de que adianta material se a equipe não esta com esse olhar para o homem, não está tendo esse olhar para o homem. (UA 10). Entretanto, este reconhecimento não garantiu que propostas concretas fossem encaminhadas pelos gestores, com vistas a sensibilizar os profissionais que atuam na ponta do sistema de saúde a fim de favorecer a compreensão de que os aspectos psicossociais precisam ser considerados na organização de serviços de atendimento à saúde do homem, como aponta o trecho abaixo: A equipe para poder dar essa assistência ao homem desde o momento que ele chega na policlínica, nesse ponto nós ainda precisamos de muito treinamento, de ver qual que é a intenção da política de saúde do homem. Porque muitas vezes você chega e os profissionais não sabem qual é a intenção dessa política. Na prática nós não percebemos (UA 3). Neste sentido, os diferentes entendimentos a respeito do que seja necessário ser feito para a implementação da PNAISH dificultou o processo, seja no que diz respeito ao atendimento às necessidades de ordem biomédica, seja no que tange ao atendimento de necessidades de fundo psicossocial. As diferenças podem ser constatadas tanto entre os níveis de atenção no mesmo lapso de tempo, quanto na situação contrária - mesmo nível de atenção em períodos diferentes. Todavia, a maioria dos sujeitos do estudo apontou questões biomédicas como norte para organização dos serviços, tomando como referência as ações voltadas para a população feminina, ou seja, ações voltadas para a medicalização do corpo masculino (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). Resultado semelhante foi encontrado no estudo que analisou a implementação da PNAISH em cinco municípios brasileiros, onde houve 89 diferenças de conhecimento das diretrizes da Política e na implantação da rotina dos serviços, resultado também da rotatividade de profissionais (LEAL; FIGUEIREDO; NOGUEIRA-DA-SILVA, 2012). As empresas privadas a frente do processo de articulação com a SMS A estratégia mais referida pelos entrevistados foi a aliança com as empresas do setor privado. Entretanto, chama a atenção o fato de não tratar-se de uma iniciativa da SMS, mas sim das empresas que buscaram a Secretaria, como é evidenciado no trecho abaixo: [...] muitos canteiros de obras que procuram a secretaria pra falar "ah existe um política de saúde do homem, vocês podem explicar na empresa?". Isso vem acontecendo muito, principalmente desde o ano passado, de agosto em diante veio muitas empresas dizendo “olha eu tenho uns 600 homens que trabalham comigo e eu fiquei sabendo que tem uma política do homem e eu queria saber como é que funciona”. Aí a gente vai até o local e explica que a saúde do homem veio pra melhorar o atendimento [...] (UA 5). Em 2010 o Serviço Social da Indústria Nacional (SESI) formulou um documento atrelado a PNAISH, orientando as empresas a se articularem com as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde a fim de fortalecerem as ações educativas de saúde nas indústrias, buscando soluções para os problemas que impedem o exercício de uma vida saudável, aliada às práticas, já existentes, de prevenção de acidentes de trabalho. Frente ao exposto é possível inferir que, a busca pelas secretarias esteja mais relacionada à orientação do SESI do que à própria edição da PNAISH. Apesar de tal constatação pode-se dizer que para a SMS Cuiabá tal iniciativa conformou-se como uma possibilidade de ação concreta para a implantação da Política. No entanto, chama a atenção o fato de que as temáticas abordadas nas palestras realizadas pelas empresas não foram àquelas propostas pela SMS, mas sim as definidas pela administração das empresas. Neste sentido observa-se que a SMS Cuiabá delegou às empresas, ou seja, ao setor privado parte da responsabilidade pela implementação da Política. 90 Considera-se que as alianças estabelecidas para a implementação de uma política devem encontrar modos de operar em conjunto, abstraindo interesses de uma parte isolada e chegando a um bem comum (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2001). Assim, percebe-se que a aliança estabelecida não atendeu aos interesses dos dois lados e sim aos objetivos das empresas privadas, visto que os comportamentos relativos ao cuidado à saúde dos homens aparentemente não mudaram: UA: [...] a gente às vezes fazia palestras [...] naquelas indústrias a parte ali do distrito industrial que pega mais indústrias, que tem mais homens trabalhando. Só que falava, mas ficava por ali mesmo. Pesquisadora: Não conseguia atingir o objetivo? UA: não conseguia o objetivo de trazê-lo pra Unidade (UA 11). O uso de espaços coletivos e contextos majoritariamente composto por homens como espaços privilegiados de discussão sobre promoção à saúde é fundamental, ou seja, é preciso ir onde os homens estão. Neste sentido, o objetivo principal da aliança com os setores onde há presença maciça de homens é a de, não só levar conhecimentos de saúde, mas também sensibilizá-los de que o cuidado a saúde não é apenas coisa de mulher (MEDRADO; LYRA; AZEVEDO, 2011). Estudo que abordou a influência da educação na saúde do homem, através da realização de práticas educativas em empresas, constatou que as palestras realizadas promoveram maior conscientização sobre a importância da prevenção, de buscar orientação médica periódica e de adotar hábitos de vida mais saudáveis. Entretanto, teve como empecilho os horários (in) disponibilizados pelos empregadores para a implementação desta prática, corroborando a importância da articulação entre a iniciativa privada e as secretárias municipais e estaduais de saúde, a fim de firmar parcerias que auxiliem os gestores na divulgação da promoção da saúde masculina (LEITE et al., 2010). A unidade de saúde é considerada como um local pouco apropriado para alcançar a população masculina, tendo em vista o imaginário social que 91 valoriza a imagem de invulnerabilidade do homem e, também, à forma de contratação vigente do mercado de trabalho brasileiro que determina que homens permaneçam em seu local de trabalho por longos períodos, conformando, aquele espaço, como local preferencial para o desenvolvimento de ações preventivas que atinjam este grupo populacional. Os sujeitos deste estudo reconhecem que uma das dificuldades do homem acessar o serviço de saúde é a liberação do empregador. Entretanto, é necessário ponderar também que, homens doentes refletem tanto na diminuição de força produtiva das instituições empregatícias, quanto nos elevados custos com reabilitação da saúde para o sistema de saúde: [...] Aí o homem já perdeu um dia de serviço, perdeu o serviço porque tem que tratar e os patrões não querem saber, querem saber que tem que trabalhar, eles não sabem que aquele homem também fica doente, por isso que tá morrendo. (UA 5). Considerando que o trabalho confere ao homem virtude moral dignificante, firmando-o perante a sociedade e proporcionando reconhecimento social (FIGUEIREDO; SCHRAIBER, 2011), sua ausência para comparecer a serviços de saúde/unidades básicas de saúde, normalmente, não é bem aceita pelos próprios homens visto que, devido à organização de trabalho ali implantada, existe o risco de perderem o período inteiro de trabalho. Desta forma, a articulação com as empresas do setor privado deve ocorrer, havendo a preocupação com os resultados e com o impacto das ações. Orientações e momentos de reflexão em locais com grande concentração de homens, como quartéis e canteiros de obras, são válidos porque alertam os homens sobre os problemas de saúde emergentes, mas a mudança dos comportamentos vulneráveis provenientes da relação entre os gêneros só será possível através do interesse mútuo das instituições em transformar o panorama atual. 92 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o objetivo de analisar o processo de implementação da PNAISH ocorrido em Cuiabá, a partir do olhar sobre as ações realizadas/propostas pelos membros da equipe gestora da SMS, tomando por referência gênero como referencial teórico, em conformidade com o proposto na Política, os dados demonstram que o município, no que diz respeito a este processo nos serviços de atendimento à saúde sexual e reprodutiva, apresenta situação semelhante à encontrada em outras localidades onde estudos semelhantes foram conduzidos. Melhor significando este fato pode-se dizer que, basicamente as ações propostas para a implementação da Política situam-se no campo das práticas voltadas para o atendimento às necessidades em saúde relativas aos aspectos biomédicos, como àqueles que dizem respeito à saúde sexual e reprodutiva, principalmente prevenção de câncer de próstata e planejamento familiar. Destaque deve ser dado a articulação efetivada entre a SMS e as empresas do setor privado como uma estratégia de implementação válida e com perspectivas de resultados positivos no sentido de concretizar a implementação da PNAISH. Entretanto, é importante ressaltar a necessidade do estabelecimento de alianças que produzam resultados positivos bilateralmente, nas quais os interesses do município também sejam atendidos, com vistas a rediscutir o comportamento de homens em relação ao cuidado com a sua saúde. Assim sendo, pondera-se a viabilidade da equipe gestora do município promover a implementação de práticas em saúde, também, voltadas a ressignificação das concepções de profissionais a respeito da relação homem/cuidados de saúde, com vistas a alcançar mudanças na organização dos serviços de saúde no nível municipal, favorecendo a presença de homens nestes espaços, a partir do oferecimento de serviços que realmente atendam às necessidades em saúde apresentadas por este grupo populacional. 93 REFERÊNCIAS ARAÚJO JÚNIOR, J.L.C.; MACIEL FILHO, R. Developing an operational framework for health policy analysis. Rev. bras. saúde matern. infant., Recife, v.1, n. 3: 203-221, set. - dez., 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: Princípios e Diretrizes / Ministério da Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 2008. BRAZ, M. 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Os resultados demonstram a repetição das ações propostas ao longo do período em análise, sugerindo a inexistência de compreensão do que seja necessário para o processo. Os recursos financeiros foram apontados como responsáveis pela insuficiência das ações que devem estar voltadas não só para o aumento da oferta de serviços, mas também para a ressignificação de masculinidades. Descritores: Planejamento em saúde; Gênero e saúde; Saúde do homem; Gestão em saúde. RESUMÉN Este artículo tuvo como objetivo analizar documentos de lo Servicio Municipal de Salud (SMS) de Cuiabá y las acciones de los miembros del equipo de gestión cara a la implantación de la Política Nacional de Atención Integral a la Salud de los Hombres, tomando el género como un marco teórico. Estudio de enfoque cualitativo, descriptivo y exploratorio, que conto con el material empírico – los Planes de Trabajo Anuales e los Informes de Gestión de 20092013 y entrevistas con miembros del equipo directivo de la SMS. El análisis de políticas se realizó como una herramienta metodológica y empleó un análisis temático. Los resultados demuestran: la repetición de las acciones propuestas 9 Enfermeira. Técnica do Sistema Penitenciário SEJUDH/MT. Mestranda do Programa de PósGraduação em Enfermagem, UFMT. Membro do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar da Faen/UFMT. 10 Enfermeira. Doutora. Docente da Faculdade de Enfermagem da UFMT. Coordenadora do grupo de pesquisa Projeto Argos-Gerar da Faen/UFMT. Diretora da Faculdade de Enfermagem da UFMT. 96 en el período considerado, sugiriendo falta de comprensión de lo necesario para el proceso. Recursos financieros fueron considerados como responsables por fracaso de las acciones, no sólo para aumentar la oferta de servicios, sino también para la redefinición de la masculinidad. Palabras clave: Planificación em salud; Género y salud; Salud del hombre; Gestión em salud. ABSTRACT This article aims to analyze the municipal documents used by the Cuiaba‟s Municipal Health Secretary to guide the National Policy for Integral Attention to Men‟s Health implementation taking gender as a theoretical framework. It was used a qualitative, descriptive and exploratory approach with the Annual Work Plans and Reports Management from 2009 to 2013 and interviews with the management team members as a empirical material. It was used the policy analysis as a methodological tool and employed a thematic analysis. The results show repeating actions proposed over the period, suggesting a understanding lack of what is needed for the process. Financial resources were seen as responsible for failure of the actions that should be directed not only to increase the supply of services, but also for the redefinition of masculinity Keywords: Health planning; Gender and health; Men‟s health; Health management. INTRODUÇÃO Este manuscrito aborda o processo de implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) em Cuiabá, Mato Grosso. A Política de Saúde do Homem1 foi elaborada tomando por referência a literatura científica existente e assumiu gênero como referencial teórico que justifica sua instituição, atribuindo ao comportamento masculino hegemônico a razão para a pequena procura do homem por serviços de saúde que tenham como foco a promoção da saúde e a prevenção de agravos. No que tange à sua implementação, a Estratégia de Saúde da Família (ESF) foi apontada como espaço privilegiado para a sua efetivação. Esse comportamento hegemônico caracteriza-se pela crença na invencibilidade, pelo uso da violência, pelo emprego da força física e pela certeza do não adoecimento, sendo o cuidado com a saúde um comportamento considerado feminino. Por sua vez, os estudos que partem da perspectiva do homem como usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que homens também querem cuidar de sua saúde, mas se deparam com questões relativas ao acolhimento e as formas de organização destes serviços. (GUERRIERO, 97 AYRES; HEARST, 2002; FIGUEIREDO, 2005; BRAZ, 2005; GOMES et al., 2006; FONTES, 2011). Ao assumir gênero como o instrumento por meio do qual o mundo é apreendido, reconhecendo a existência de atributos relacionados ao masculino presente no cotidiano dos serviços de saúde, a partir de valores sociais e culturais dos profissionais e dos próprios usuários como, a invulnerabilidade, o baixo auto cuidado e adesão a práticas de saúde, a impaciência, entre outros, tornam estes espaços “generificados” e potencializam as desigualdades sociais, invisibilizando as necessidades em saúde e as demandas dos homens e reforçando o estereótipo de que os serviços de Atenção Primária à Saúde são espaços feminilizados (COUTO et al., 2010). A cultura de gênero dominante, assim como os pilares que sustentam as políticas do movimento feminista, com vistas a romper com a histórica desigualdade que cerca as mulheres (LYRA, et al., 2012), coloca os homens em posição marginal no contexto dos serviços de saúde. Neste sentido, faz-se necessário ressaltar que as discussões oriundas do campo feminista pouco problematizam os homens e as masculinidades, dando luz ao debate sobre a autonomia e o corpo das mulheres (LYRA-DA-FONSECA, 2008), sendo fundamental avançar nesta discussão e produzir reflexões sobre masculinidades e feminilidades, visto que as relações de gênero apontam mais para “diversidade do que diferença como resposta à dicotomia e a desigualdade” (MEDRADO; LYRA; AZEVEDO, 2011). Refletindo sobre a heterogeneidade na construção social das masculinidades e feminilidades, masculinidade deve ser definida como a prática de ser homem em torno de sua posição na estrutura das relações de gênero (CONNELL, 1995), sendo necessário reconhecer que existem diversas formas de manifestar a masculinidade e a feminilidade, extrapolando a maneira habitual, socialmente determinada e culturalmente estabelecida, sem, no entanto, perder sua legitimidade. Frente às inúmeras construções socioculturais estabelecidas em relação aos gêneros pode-se considerar que, as políticas de saúde podem contribuir para a superação de obstáculos ao cuidado com a saúde oriundos 98 das desigualdades de gênero. É preciso reconhecer a impossibilidade das políticas serem neutras em relação a tais desigualdades: não responder a elas significaria contribuir para sua manutenção (FERRAZ; KRAICZYK, 2010). Reconhecendo a influência destas desigualdades no processo de implementação da PNAISH, este estudo objetivou analisar os documentos municipais e as ações dos membros da equipe gestora que orientaram sua implementação em Cuiabá. REFERENCIAL TEÓRICO A Lei nº 8080/1990 (BRASIL, 1990) define como competência de cada nível do SUS a elaboração e atualização periódica dos planos de saúde, tornando-os instrumentos de programação e orçamento da gestão (MULLER NETO, 2012), sendo que esses devem ser elaborados a partir da avaliação das necessidades de saúde da população. Após a implementação do plano de ação é preciso elaborar um relatório de gestão que deve ser utilizado no processo de planejamento, à medida que relate os avanços e retrocessos em relação à gestão anterior (SILVA; SOUTO JUNIOR; BRÊTAS JUNIOR, 2005), servindo, consequentemente, como norte para a construção de novos planos de saúde. A PNAISH aponta como papel da gestão municipal elaborar estratégias de mobilização e de conscientização de homens em relação às suas necessidades em saúde, com vistas à desnaturalizar a cultura de gênero e atender as necessidades em saúde de homens, até então invisíveis no contexto dos serviços de saúde. Apesar da PNAISH definir gênero como conceito central para o planejamento e organização de intervenções voltadas à população masculina, no que diz respeito ao seu desdobramento, o Plano Nacional de Ação, não aponta para essa mesma direção, uma vez que as ações propostas evidenciam tendência à medicalização do corpo masculino, nos moldes das propostas referentes às intervenções sobre o corpo feminino (CARRARA; RUSSO; FARO, 2009). 99 Neste estudo gênero é concebido como elemento teórico transversal para a análise de eventos da área da saúde (VILELA; MONTEIRO; VARGAS, 2009), pois se processa no âmbito familiar, no mercado de trabalho e nas instituições e organizações sociais e políticas (SCOTT, 1995). Assim, este estudo assume este conceito como central para a discussão sobre o processo implementação da PNAISH na capital Matogrossense. Esta pesquisa situa-se no universo de estudos que analisam políticas de saúde, utilizando a análise de política como ferramenta metodológica (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2001), que define as dimensões a serem observadas na análise de implementação de políticas: o Contexto, os Atores, o Conteúdo e o Processo, sendo que cada uma destas dimensões se conformam como um diferente ângulo de um mesmo objeto. Neste artigo foi realizada a análise da dimensão Conteúdo que abarca os componentes: programas, projetos, atividades específicas, metas, objetivos propostos para a implementação de uma Política de saúde, coerência das ações, bem como os recursos exigidos para este fim (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2001). METODOLOGIA Estudo descritivo e exploratório de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, por analisar as especificidades do processo de implementação da PNAISH em Cuiabá, um dos municípios selecionados pelo Ministério da Saúde (MS) para a implantação inicial da Política. A gestão política e administrativa de Cuiabá, nos últimos anos, foi marcada por mudanças que determinaram a descontinuidade das ações propostas pelas equipes gestoras da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), pois a cada novo Secretário Municipal de Saúde que assumiu a função, novas equipes técnicas foram formadas e novos projetos de intervenções elaborados e encaminhados, com base nas prioridades estabelecidas pelo novo gestor; consequentemente não houve linearidade na condução dos processos. Para analisar a implantação da PNAISH em Cuiabá, os dados empíricos foram extraídos dos documentos municipais elaborados neste contexto, a saber: os planos anuais de trabalho de 2010 a 2013 e os relatórios 100 anuais de gestão de 2010 e 2011, sendo que o relatório de 2012 não estava disponível na SMS. Também foram realizadas entrevistas semiestrututradas com profissionais que ocuparam as Diretorias de Atenção Básica e Secundária, as Coordenadorias de Atenção Básica e Secundária, os Responsáveis Técnicos pela saúde do homem nos dois níveis de atenção, no período de 2009 e 2013, do lançamento da PNAISH até a coleta dos dados, totalizando 13 sujeitos. Os encontros ocorreram em locais definidos pelos sujeitos deste estudo. As entrevistas foram gravadas e transcritas pela pesquisadora. Foi implementada a análise de política como ferramenta metodológica para nortear o tratamento dos dados, especificamente na sua dimensão conteúdo (ARAÚJO JÚNIOR; MACIEL FILHO, 2001). Para a análise e interpretação dos dados seguiu-se a proposta de análise temática (MINAYO, 2010), tomando gênero como um referencial teórico que possibilitaria a melhor compreensão do processo. Visando preservar a identidade dos participantes, suas falas foram identificadas como UA, seguidos da ordem cronológica da entrevista realizada (UA1, UA2 ...). Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM Protocolo Nº 179.098/2012. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tensão: o projetado, o executado e o avaliado Esta categoria analisa o projetado e o avaliado na implementação da PNAISH no município, assim como a forma como isso ocorreu através do estabelecimento de correlações entre os Planos de Trabalhos Anuais (PTAs), os Relatórios de Gestão Anuais (RGAs) e os discursos dos membros da equipe gestora. Carvalho, Machado e Cesse (2004) apontam que para promover mudanças o gestor e sua equipe precisam conhecer a realidade, o contexto no qual estão localizadas as organizações de saúde, bem como as condições do ambiente interno de cada gestão. 101 Os dados demonstram que não ocorreu o reconhecimento da realidade local em relação à saúde masculina para identificar necessidades e delinear ações a serem executadas. Ou seja, o planejamento das ações para efetivação da PNAISH não foi elaborado com base nos índices de morbimortalidade da capital de Mato Grosso e/ou no contexto psicossocial de homens, mas sim adaptado de outras realidades, como demonstra o excerto a seguir: Na verdade, o projeto [para a saúde do homem] em si, ele faz um apanhado geral. [...] eles [os técnicos que elaboraram o projeto] tomaram por base o que vinha sendo desenvolvido em Campinas. Campinas já tinha implantado o programa. E para o que a gente precisava em Cuiabá, veio muito a calhar. Então foi adaptado o programa de Campinas né para a realidade Cuiabá e mandada para o Ministério (UA 12). Segundo o Relatório de 2010, a Saúde do Homem foi implantada em 100% no município, corroborando com o discurso de um dos membros da equipe gestora: Até no momento que eu estava foi atingido os 100% [da implantação], que era colocar nas unidades. Os relatórios vinham das unidades, era monitorado pela técnica. Unidade que não mandava o relatório, a técnica tinha todo o seu, entre aspas, „poder‟, de fazer um relatório e enviar pra saber porque que não tinha sido enviado, eu carimbava junto com ela, em seguida, em dois dias, aparecia o relatório. Eu acho que foi atingido o plano, 100%, até aonde eu assumi a Diretoria de Atenção Básica foi respondido. Foi colocado como meta. Ela tinha que melhorar? Tinha que melhorar em seguida, nada é 100% né. 100% é atingir a implantação. 100% era atingir os exames. Então todas essas metas que a gente colocou foram atingidas, 100% da implantação, 100% das unidades capacitadas, 100% dos exames enviados e 100% das respostas com os especialistas. (UA 9). O lançamento realizado no primeiro semestre de 2010 e a sensibilização de outubro do mesmo ano conferiu, segundo o profissional, o status de implantação total da PNAISH no município. Apesar de todas as unidades terem sido convocadas para o evento, nem todas compareceram, conforme outro membro da equipe da mesma época afirmou. Nos anos subsequentes, a meta principal foi implementar a Política através da criação de condições para sua operacionalização, através de seu desdobramento em procedimentos como: Elaborar o Plano de Ação da Atenção a Saúde do Homem; Divulgar nas UBS a Política de Atenção Integral a Saúde do 102 Homem; Elaborar um protocolo municipal de Atenção a Saúde do Homem; Facilitar o acesso da população masculina nas UBS; Realizar rastreamento de câncer de próstata na atenção primária. (PTA, 2011) Implementar o Plano de Ação de Atenção a Saúde do Homem; Divulgar nas UBS a Política Municipal de Atenção Integral a Saúde do Homem; Elaborar um Protocolo Municipal de Atenção a Saúde do Homem; Incentivar o acesso da População Masculino; Realizar rastreamento do Câncer de Próstata na Atenção Primária; Garantir exames para prevenção do câncer de Próstata. (PTA, 2012) Em 2012 as ações propostas no PTA foram as mesmas do Plano de 2011, acrescido apenas da garantia de "exames para prevenção do câncer de próstata", que deve ser compreendido como detecção precoce do câncer de próstata. Para Silva (2011) o estabelecimento de metas configura-se como um ilustrativo da importância da manutenção da coerência interna na implementação de uma política. Assegurar esta coerência torna-se um desafio, uma vez que, a instabilidade no exercício do poder político e as trocas das equipes dirigentes dificultam e prejudicam tanto a coerência da formulação, quanto à implantação e o planejamento de médio e longo prazo. Esta instabilidade e troca de equipes foi evidenciada na capital e refletiu em prejuízo na continuidade das ações planejadas. Almeida (2003) aponta que para a implementação de políticas é preciso haver um processo contínuo e permanente de avaliação, revisão e correção de rota, assegurando a vigência dos objetivos iniciais, assim como a vontade política de alcançá-los. A repetição das ações propostas, como demonstram os excertos, possibilita inferir que talvez não tenha ocorrido uma avaliação adequada das ações ou que as ações planejadas não tenham sido realizadas, visto que o RGA de 2011 não esclarece o processo realizado. Os dados também apontam que, possivelmente, o monitoramento seja um problema no município, tendo em vista a ausência de informações sobre a implementação da PNAISH nos níveis primário e secundário: 103 Ultrassom ele vai ter dificuldade de conseguir, os exames específicos de câncer de próstata. Se for a parte de laboratório sanguíneo, consegue fácil. Agora de precisa de uma biopsia, aí entra em um processo demorado. É demorado (UA 3). Apesar da detecção precoce do câncer de próstata ter sido apontada nos PTAs como uma meta prioritária a ser atingida, ela não se concretizou, visto que nem todos os exames necessários foram efetivamente disponibilizados no município. Estudo realizado nos 26 municípios pilotos para implementação da PNAISH observou, através da análise dos Planos de Ação, a repetição do texto da Política, havendo poucas referências à realidade social, econômica, demográfica ou epidemiológica dos municípios que justificassem as intervenções propostas. Tampouco faz referência à realidade dos serviços de saúde nos municípios ou ao acesso dos homens a estes serviços (LEAL; FIGUEIREDO; NOGUEIRA-DA-SILVA, 2012), situação semelhante à realidade cuiabana. O PTA deve elencar ações gerais a serem realizadas anualmente, para orientar as ações implementadas pelos profissionais que atuam em nível local, aqueles que atuam nas pontas do sistema (PAIM, 2012). Anualmente um PTA e um novo planejamento devem ser elaborados, tomando por referência à avaliação das ações anteriormente implementadas e as iniciativas ainda pendentes, apesar de necessárias à concretização da proposta (SAMPAIO; ARAUJO JUNIOR, 2006). Conforme as orientações do documento que determina as diretrizes e princípios para a implementação da PNAISH (BRASIL, 2008), o reconhecimento da influência da cultura de gênero nos maiores índices de morbimortalidade masculina deve ser olhada de forma atenta a fim de sugerir propostas que visem a mudança deste panorama. Considera-se que, a ausência de um plano coloca em risco o ordenamento das ações da equipe técnica em saúde do homem em Cuiabá e, consequentemente, a implementação da PNAISH como ação prioritária. A divulgação da PNAISH, ação necessária à sua implementação, também foi apontada como insuficiente: 104 O principal é divulgação, a divulgação pra população. Porque nós podemos perceber que sempre que tem eventos que envolve a secretaria de saúde, nós estamos lá, com a saúde da mulher, os preservativos, falando de DST/AIDS, falando sobre gravidez, então pra saúde do homem nem um panfleto a gente divulga, nem um quiosque, nem no carnaval... A saúde do homem, ela é... tá ainda bem fraca (UA 3). Em estudo realizado com enfermeiras de unidades básicas de dois municípios com gestão plena, a fim de analisar as ações e limitações para a implementação da PNAISH, referiram resultado similar visto que a falta de material didático interferiu na compreensão da Política e, consequentemente, no andamento das ações (JULIÃO; WEIGELT, 2012). As propostas para a implementação da PNAISH constantes dos PTAs são genéricas, não havendo qualquer justificativa epidemiológica ou diagnóstica para as proposições, não atendendo assim as questões de gênero apontadas na Política. Neste sentido pode-se considerar que as propostas traçadas não se traduzem, necessariamente, em respostas às demandas de saúde da população masculina do município. Outra necessidade que não foi tratada nos PTAs foi a construção de um sistema de referência e contrarreferência para a saúde masculina, questão que foi apontada pelos sujeitos deste estudo como uma dificuldade. A análise dos PTAs e dos RGAs evidencia que a apresentação das ações previstas e realizadas para a implementação da PNAISH no município é vaga, sem especificidades, se comparadas com as propostas relativas à políticas/programas consolidados, como é o caso da Saúde da Mulher, DST/AIDS. Um dos discursos evidencia a importância dada pela equipe gestora à saúde do homem em meio às demais ações reservadas a outros públicos: É porque é assim, deixa eu explicar. É porque como é muito programa, muita intervenção ao mesmo tempo, que a gente, sinceramente, não é que não lembra. Tá acontecendo tanta coisa ao mesmo tempo, é recurso, tem que correr atrás das coisas que já tão andando, aí esse que tá parado vai sempre deixando de lado (UA11). Os dados apontam para uma situação na qual metas, prioridades e ações são redefinidas com base no interesse individual dos atores envolvidos, 105 interferências por falta de recursos, disputas, pressão social entre outros, comuns no processo de implementação (SAMPAIO; ARAUJO JUNIOR, 2006). As normativas do MS para formulação e execução do planejamento em saúde favorecem o não estabelecimento de grandes compromissos para a solução dos problemas, determinando certo descrédito no planejamento realizado, uma vez que se torna uma proposta teórica (PAIM, 2012). O planejamento para a implementação da PNAISH, no período estudado, se assemelhou aos planejamentos nas demais regiões do país de forma geral, “verticais, ritualísticos, um faz de conta, uma espécie de 'para-nãodizer-que-não-falei-de-flores', sem compromisso com a recomposição de práticas, com a emancipação do sujeito e com a saúde da população” (PAIM, 2012, p. 839). Recurso financeiro: responsável pelo andamento das ações. Os entrevistados apontam os recursos financeiros como o fator incentivador para a implantação da PNAISH: Na verdade o que facilitou de início foi a possibilidade do município de arrecadar mais com a implementação do programa e com a produtividade que as unidades passariam a ter depois do recebimento das verbas em função dessas ações para a saúde do homem. [...] Então inicialmente eu senti na época que a visão do gestor foi essa, de arrecadar mais. Mas não de oferecer para as próprias unidades da atenção básica condições necessárias pra realmente rodar a Política. (UA 12). [...] Nós fomos direto pra implantação mesmo, e o meu objetivo como gestora era: implantar, não perder o recurso, não perder o sexo masculino que ia nas unidades e em 2011 a gente ia começar a incrementar o programa, a melhorar. (UA 9). A intenção inicial da equipe que conduzia a gestão, durante a época dos primeiros passos da implantação da Política, foi a captação de recursos financeiros, ao passo que a inclusão dos homens no rol de ações prioritárias no município seria a consequência deste incentivo. É preciso reconhecer que a viabilidade financeira é um fator importante que define a política a ser desenvolvida e que pode, inclusive, interferir nas concepções teóricas que lhe dão suporte (SAMPAIO; ARAUJO JUNIOR, 2006). No caso da PNAISH, a concepção teórica que lhe dá suporte é a relacional de 106 gênero, entretanto, não foi com base nesta concepção que o MS propôs ações para os municípios. Para os sujeitos deste estudo, o valor disponibilizado para a implantação da PNAISH não seria suficiente para atender as demandas de ordem biológica de homens, uma vez que aumentaria a oferta de serviços especializados: [...] Tem que vir dinheiro. A gente é movido por dinheiro, se não tiver dinheiro, não tem como fazer tratamento (UA 5). Assim, a falta de financiamento associava-se à contratação de novos serviços e não em qualificação da assistência ancorada na compreensão de masculinidades e no fomento a mudanças: G: ... o Ministério deu o primeiro recurso pra implantar e depois é o município que tinha que manter. Você acha que o município vai querer manter? Entendeu? Agora se fosse pra continuar mandando recurso baseado em dados e tal, aí talvez sim. Se não ... É, teria que ter mais recurso. Mas mesmo assim eu fiquei tão desmotivada sabe com aquele recurso que veio... (UA 10). O MS disponibilizou o incentivo a implantação “de estratégias e ações de saúde focadas na população” (BRASIL, 2009), e não o ressarcimento das ações realizadas, ainda assim este recurso financeiro foi apontado como principal impulsionador, o que demonstra certo desconhecimento das formas de financiamento da Atenção Básica (AB), considerando que a PNAISH aponta este espaço como nível de atenção preferencial para sua implementação, ou seja, sua manutenção está atrelada ao Piso da Atenção Básica (PAB). O PAB deve ser utilizado para financiamento das ações de AB propostos nos Planos Municipais de Saúde, portanto estes recursos deveriam ser, também, aplicados para a implementação da PNAISH, uma vez que é espaço preferencial para sua concretização. As formas de financiamento deveriam ser socializadas pelas equipes que conduzem a Atenção Básica e a Secundária, otimizando os recursos já disponíveis pelo MS. No entanto, apenas um dos sujeitos deste estudo demonstrou este conhecimento, se posicionando favorável à melhor utilização do PAB variável para o fortalecimento da atenção à saúde masculina. 107 Entretanto, no Relatório de Gestão do MS de 2011 (BRASIL, 2012) o atraso na definição dos repasses configura-se como falha, assim como a decisão verticalizada em relação aos 26 municípios que seriam contemplados com incentivos financeiros para a implementação da PNAISH. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos documentos municipais que orientam a implementação da PNAISH sinalizou para a importância deles na condução das ações. Ancorado no referencial de gênero considera-se que as ações propostas nos PTAs, devem estar voltadas não só para o aumento da oferta de serviços, mas também para a ressignificação da imagem do ser homem e mulher no contexto dos serviços de saúde. Esta ressignificação não se restringe apenas aos usuários, mas também aos profissionais e gestores que também são influenciados pelos aspectos relacionais de gênero e conduzem as ações municipais a partir de suas experiências neste campo. A significativa rotatividade de profissionais da equipe gestora influenciou negativamente na execução das ações de implementação da PNAISH, visto que os profissionais que participaram da elaboração do plano não, necessariamente, participaram de sua execução, o que influencia no processo, visto que são diferentes olhares em diferentes momentos históricos e políticos. Apontar os escassos recursos financeiros como principal entrave para a efetivação da PNAISH significa um equívoco, que traduz a incompreensão da concepção teórica que motivou a sua instituição, a saber, as características comportamentais masculinas que interferem no cuidado a sua saúde, melhor dizendo, o exercício das masculinidades que são social e culturalmente estabelecidas e que situam os homens em condição de vulnerabilidade. Espera-se que este estudo contribua com a SMS Cuiabá e com outras secretarias municipais de saúde que tenham perfis epidemiológicos, demográficos, sociais e culturais similares a repensarem suas práticas de gestão a fim de contemplar as ações de promoção a saúde masculina no rol de ações prioritárias. 108 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. As três esferas de governo SUS: uma revisão. Saúde em debate, Rio de Janeiro, v. 27, n.65, p. 207-220, set - dez., 2013. ARAÚJO JÚNIOR, J. L. C.; MACIEL FILHO, R. Developing an operational framework for health policy analysis. 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Tal proposta visava evidenciar como transcorria o processo de implementação de uma Política nacional em nível local, com vistas a identificar em que medida a PNAISH estava efetivada no município, ou seja, buscava-se compreender como os serviços de saúde do município se organizaram para responder as necessidades de saúde de homens, tendo em vista que eles passaram a ser considerados prioridades no contexto do SUS. A intenção inicial era demonstrar o distanciamento existente entre as ações planejadas e o que de fato foi realizado/concretizado, identificando os motivos que explicam as situações encontradas, objetivando contribuir para a proposição de estratégias para consolidação da PNAISH, visto que, como demonstraram os dados apresentados e discutidos, a realidade cuiabana não difere de outras capitais brasileiras. A reflexão realizada evidenciou que os gestores, os membros da equipe de gestão e os responsáveis técnicos pela saúde do homem que participaram deste estudo precisam repensar suas práticas e seus valores relativos à saúde masculina, tendo em vista a incipiência percebida em relação ao processo analisado. Esta situação, entre outras causas, pode ser justificada pela intensa rotatividade de gestores e membros da equipe técnica que ocorreu no período de 2009 a 2013 na Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, fato que, certamente, contribuiu em muito para a geração de dificuldades para a 112 manutenção da uniformidade da proposta da PNAISH, resultando assim em poucas ações concretas para sua efetivação no município. A aliança da SMS de Cuiabá com as empresas que solicitaram intervenções relativas à saúde do homem, diretamente em seu corpo de funcionários, emerge como um potencial positivo a ser aproveitado, apesar de tais intervenções não terem recebido efetivamente como resposta destas empresas a contrapartida solicitada pela Secretaria, a saber, que fosse assegurada a liberação de seus trabalhadores do sexo masculino para o comparecimento em consultas médicas anuais e em seus desdobramentos. Ou seja, apesar destas empresas terem sua demanda atendida, a contrapartida necessária não foi alcançada. O Ministério da Saúde enquanto definidor de Políticas de Saúde tem a responsabilidade de direcionar as práticas em saúde, fomentando mudanças que visem à melhoria das condições de saúde da população brasileira. Neste sentido, cabe a este nível de gestão a definição do âmbito em que cada ação em saúde deve se concretizar. Especificamente em relação às ações propostas para atender às necessidades em saúde de homens, cabe ao MS assegurar que o proposto pela PNAISH seja implementado, tanto no que diz respeito aos aspectos psicossociais, considerando a dimensão relacional de que mantém estreita relação com os comportamentos vulneráveis socialmente assumidos por homens no exercício de suas masculinidades, quanto nos aspectos biomédicos focados nos males da próstata e planejamento reprodutivo. Uma vez que o Ministério da Saúde assuma claramente um posicionamento sobre as ações a serem implementadas por estados e municípios em relação ao atendimento das necessidades em saúde de homens, simplificadas serão as definições a serem tomadas nestes dois níveis de gestão, tendo em vista que a estruturação das ações seguiria uma linha condutora, favorecendo a implementação da PNAISH em nível nacional. 113 A Secretaria de Estado da Saúde, enquanto instituição que tem como responsabilidade incentivar e auxiliar na pactuação e organização política das ações de saúde no âmbito local, também deve responsabilizar-se pelas atividades a serem desenvolvidas em Cuiabá, com vistas a direcionar as ações para implementação efetiva da PNAISH. Este estudo teve como limitação a impossibilidade de analisar as ações pactuadas e realizadas no nível terciário de atenção, visto a complexidade desta organização no município. 114 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. As três esferas de governo SUS: uma revisão. 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Qual sua opinião sobre ela? Você já participou de alguma capacitação sobre o assunto, como foi? Como foi a implantação da PNAISH em Cuiabá? Conte-me um pouco sobre isso, se houve capacitação dos trabalhadores, evento de divulgação, como foi o processo? O implantação da PNAISH foi discutida em CIB, reunião do conselho municipal de saúde? A implementação da PNAISH está contemplada no Plano de saúde e/ou relatório de gestão? Houve um acompanhamento/parceria da SES no estabelecimento de metas do plano de saúde ligadas a saúde do homem? Foi feita um diagnóstico/análise situacional do município ou regiões para planejar as ações a fim de atender as necessidades masculinas? 122 Conte-me como a Atenção Primária à Saúde (APS) ou a Atenção Secundária à Saúde (ASS) está organizada para atender a população. Quais serviços a compõe? Como é o seu funcionamento? Bloco III: Visão do gestor Em sua opinião, algo mudou na APS/ ASS após a implantação da política de saúde do homem? A situação de saúde dos homens cuiabanos mudou houve queda nos indicadores em relação ao diagnóstico inicial? Para você, o modo como a APS/ ASS está organizada contempla as necessidades em saúde dos usuários homens? Por quê? Fale um pouco sobre isso. Você acredita que os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários) se sentem preparados/capacitados para atender o homem-usuário de forma integral? Conforme as orientações da gestão, qual foco os profissionais devem ter ao atendimento do homem? Quais as principais ações e estratégias que você, enquanto gestor do SUS, adotou para implementar a Política de Saúde do Homem em Cuiabá? Em sua opinião, qual ação mais contribuiria para a consolidação da política de saúde do homem em Cuiabá? Para você, enquanto gestor, quais foram/são as principais dificuldades para implementar a política de saúde do homem em Cuiabá? O que facilitou essa implementação? Para você, o que está bom e o que poderia melhorar na organização dos serviços da APS/ASS para contribuir com a implementação da política de saúde do homem em Cuiabá? Para você, o modo como a SMS está organizada contempla a necessidade dos usuários homens? Por quê? Conte-me um pouco sobre isso. Em sua opinião a Política de Saúde do Homem está implementada em Cuiabá? Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre o tema? Mais algum comentário? 123 APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM- NÍVEL MESTRADO Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa “Análise da implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem em Cuiabá, Mato Grosso” Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição que recebe assistência. O objetivo deste estudo é analisar o processo de implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) do município de Cuiabá, na perspectiva dos gestores municipais. Sua participação nesta pesquisa consistirá em relatar as ações realizadas por você, gestor, a fim de implementar a PNAISH na capital, bem como as dificuldades e potencialidades do processo. Ressalto que não há risco biológicos, físicos ou psicológicos relacionados a sua participação nesta pesquisa. No entanto, você nos auxiliará na proposição de melhores estratégias para implementação da PNAISH na capital mato-grossense. Os dados referentes à sua pessoa serão confidenciais e garantimos o sigilo de sua participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua 124 identificação. Cada entrevistado será codificado com o nome de um time de futebol, sendo apenas as pesquisadoras reconhecedoras da sua identificação. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e endereço do pesquisador responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer tempo. Seu nome é Isabele Torquato Mozer, local de trabalho Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem. A pesquisa pode ser contactada através do telefone (65) 8143-4343, ou através do e-mail: [email protected]. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller-UFMT- pelo telefone (65) 3615- 8254, com a Prof. Shirley F. Pereira (coordenadora). Considerando os dados acima, CONFIRMO estar sendo informado por escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação por foto e/ou vídeo AUTORIZO a publicação. Eu (nome do participante ou responsável) ......................................................................., Idade:..........sexo:...............Naturalidade:................................... RG Nº:................................................................declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. Assinatura do participante: ........................................................................................................ 125 ANEXO A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP