MESTRADO ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA RISCOS E ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA: FLANELAS E MALABARISTAS. JULIANO BATISTA DOS SANTOS Neste trabalho, o componente expressivo da vida social é tratado como uma fonte de impressões observada pessoalmente ou recebidas através de entrevistas de outrem: flanelas e malabaristas, principalmente. A todo o momento, eu, assim como outros cidadãos, atentos ou desatentos, cruzamos, mesmo que esporadicamente, com os protagonistas da dissertação, que cotidianamente colocam às suas vidas em riscos por uma série de razões, tais como transitar entre veículos em movimento, expor -se sem nenhuma proteção às intemperes climáticas e/ou ficar sujeitos à violência verbal e física própria das ruas. Na prática, uma ameaça não apenas à vida, como também aos valores relacionados à dignidade humana, que a cada novo dia, ou noite, em meio aos múltiplos modos informais de fazer dinheiro, confirma que às margens da sociedade existem indivíduos ou grupos de indivíduos que buscam resistir e ao mesmo tempo superar o estigma da exclusão social, sem, contudo, infringirem regras morais e/ou legais, mas obrigatoriamente ressignificando os espaços topológicos e tópicos do município de Cuiabá em Mato Grosso a partir de representações que são muitas vezes julgadas como inadequadas ao tipo ideal social vigente, fato que na perspectiva pós-moderna opera como contestação do conceito de dualidade própria das sociedades binárias, possível somente de ser realizada no cotidiano, ou seja, naquilo que é aparentemente inútil ou insignificante aos arquétipos da razão instrumental. Para desvendar as relações, estratégicas e táticas dos protagonistas da dissertação, é elaborada, em um primeiro momento, uma reflexão sobre a relação entre a cidade, o cotidiano e o consumo, cujas teorias, em especial de Maffesoli, Certeau, Pais, Goffman e Augé, orquestram a referida fundamentação. Em seguida, é apresentada, após intensa pesquisa de campo, associada à convivência e entrevistas semiestruturadas (ou não) junto aos cuidadores ou pseudocuidadores de veículos automotores, como eles se apropriam de um local público e transformam sua posse em uma região de domínio perante os transeuntes. Para encerrar, é exposto, também por meio de dados elencados mediante o uso de recursos etnográficos, quais são os cruzamentos utilizados pelos artistas de rua na prática do malabarismo nos semáforos de Cuiabá, as artimanhas empregadas em seus espetáculos e como cada malabarista aprendeu a dominar os instrumentos das modalidades circenses. Nesse contexto, conclui-se que a ideia central deste trabalho é desvelar nas relações do dia a dia, tendo como campo de estudo os espaços comuns às pessoas em Cuiabá, o que Certeau denomina como Artes de Fazer, no sentido de modelizar, por antropomorfização, os não lugares em lugares, isto é, as ruas em estacionamentos e os semáforos em palcos. PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO VI MOSTRA DA PÓS-GRADUAÇÃO/2014