O SERVIÇO SOCIAL COMO UMA PROFISSÃO EM SAÚDE Fabrício da Silva Campanucci Jessica Furuhata Inácio Letícia Orlandi Baldow Vanessa de Souza Novaes Orientadora: Profª. Drª. Líria Maria Bettiol Lanza RESUMO O Sistema Único de Saúde – SUS trouxe uma série de aspectos inovadores na saúde brasileira como o próprio conceito ampliado de saúde e o princípio da integralidade, que pretenderam um redimensionamento a atuação profissional na área. Dessa forma, diferentes profissionais passam a compor as equipes de trabalho e disputam tanto o projeto de saúde em curso, a saber, o público/universal e o privado/mercantil, bem como maior vinculação teóricoprática com a mesma, associando a produção de conhecimento e o processo de trabalho em saúde. O estudo bibliográfico realizado procurou compreender como o serviço social enquanto uma profissão em saúde tem se situado nesse debate, a partir das características de uma profissão em saúde e a permanência do serviço social nesse contexto. Dessa forma, verificou-se que é legítimo o serviço social ser considerado uma profissão em saúde, por suas incursões nessa área e sua reconhecida utilidade social nos serviços de saúde. Ainda, aponta para os dilemas do exercício profissional nas contradições da política de saúde e as demandas emergentes apresentadas a profissão. Palavras chave: política de saúde; profissão em saúde; serviço social 857 1 O DEBATE SOBRE AS PROFISSÕES EM SAÚDE Para se compreender as características das profissões em saúde é necessária uma análise que perpasse vários ângulos, abrangendo qual a relevância do “existir” de uma profissão na atual sociedade. As profissões são reconhecidas em um campo por seu poder e prestígio que se traduzem em um arsenal de conhecimentos e técnicas que lhe são próprios. Portanto, goza de autoridade cognitiva e normativa que lhe confere certo grau de autonomia (MACHADO, 1996). É nesse sentido que ocorrem as diferenças entre as profissões e as ocupações e entre as profissões de nível superior (formação ampliada, cultural e humanística) e nível técnico (capacitação para o trabalho). As profissões também se moldam no âmbito político e econômico, quer para proteger seus interesses coorporativos, quer para elaborar uma direção social para o conjunto da profissão (NETTO, 2006). Dessa forma, além dos conhecimentos relativos à atuação mais técnica, as profissões em saúde comportam em seus projetos profissionais uma visão ou entendimento da política de saúde que, no Brasil, tem se traduzido em um modelo público/universal ou privado/mercantil. Esse traço impacta na forma e conteúdo da prestação de serviços e ações em saúde oferecidos por esses sujeitos. Nesta perspectiva, as profissões encontram-se intimamente vinculadas à lógica capitalista e ao seu movimento histórico, havendo permanências, alterações em sua oferta, procura e estatuto social que demandam análises mais aprofundadas do que revelam. Na área da saúde, a profissão médica é a profissão em saúde por excelência e as profissões vinculadas à assistência (enfermagem, odontologia, fisioterapia, etc) derivam dela. É por isso que sempre ressurge a 858 questão do “Ato Médico” como uma normativa do que compete aos profissionais médicos e não-médicos. Soma-se a isso, o prestígio e status que os médicos ocupam entre as profissões em saúde na realidade dos serviços frente a outras profissões, mas também o poder que exercem na condução das políticas e dos serviços de saúde a ponto de sustentarem o denominado modelo “biomédico” da saúde. É fato que esse quadro vem sofrendo alterações com a expansão do ensino superior de cursos de graduação em saúde, sobretudo no setor privado, e com o surgimento de novas profissões no âmbito da área como, por exemplo, os agentes comunitários de saúde. No entanto, tais alterações redimensionaram a oferta de profissionais, mas não alteraram ainda, a herança do status social para as profissões tidas como “mais tradicionais” que, no caso da saúde, remete imediatamente ao médico, enfermeiro e dentista. São muitas as profissões em saúde, assim como são muitos os estatutos profissionais que se traduzem em reconhecimento social e econômico, prestígio e poder divergentes entre elas. Deve-se acrescentar a esse quadro o que alguns estudiosos têm denunciado como um crescente incentivo ao ensino técnico- profissionalizante em detrimento do ensino universitário e de como tal opção tem consonância com os interesses do mercado de alta produtividade que se traduz no aligeiramento da formação profissional em saúde (PEREIRA; RAMOS, 2006). A responsabilidade pela formação dos profissionais em saúde é do SUS -artigo 15, inciso IX, da Lei Orgânica da Saúde (BRASIL,1990) - e vários esforços tem sido feitos para adequar a formação necessária para o trabalho em saúde com qualidade (como as mudanças curriculares, a maior integração entre ensino-serviços de saúde, entre outros). Todavia, a formação dos profissionais ainda é um desafio para o sistema, isso porque são muitas as 859 profissões com seus interesses particulares que se movem no cotidiano dos serviços de saúde (BETTIOL, 2010). Para esse estudo tomamos como fundamento a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 218, de 06 de março de 1997, que determinou o conjunto das profissões em saúde1. Essa definição partiu do conceito presente na Constituição Federal de 1988 e também na Lei Orgânica da Saúde, além de expressar a importância da atuação interdisciplinar no âmbito dessa política. Nesse sentido, houve uma ampliação das profissões ditas “em saúde” e nelas foi incluso, formalmente o Serviço Social. 2 A UTILIDADE DO SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE Embora o reconhecimento formal do Serviço Social como uma profissão da saúde seja recente, o trabalho dos assistentes sociais é requisitado nesta área desde meados da década de 1940 e, ainda hoje, o setor representa um dos espaços socioocupacionais mais significativos para o Serviço Social no Brasil (BRAVO, 2009). De acordo com Costa (2009, p. 315), houve uma ampliação do mercado de trabalho dos assistentes sociais no âmbito do SUS e as contratações desses profissionais em saúde resultam de três ordens de fatores: “da ampliação técnico-horizontal das subunidades e serviços; da redefinição das competências ocupacionais, fruto de novas necessidades técnicas e operacionais; e, da necessidade de administrar as contradições principais e secundárias do sistema de saúde no Brasil”. Para a autora, 1 Segundo a referida Resolução, são profissões em saúde educação física, enfermagem, farmácia, fonoaudiologia, medicina, nutrição, odontologia, psicologia, terapia ocupacional, medicina veterinária, química, serviço social, fisioterapia, biologia, biomedicina. 860 [...] a constatação primordial é a de que as atuais contradições, presentes no processo de racionalização/reorganização do SUS, constituem-se no principal vetor das demandas ao Serviço Social. Isto é: as necessidades da população confrontam-se com o conteúdo e a forma de organização dos serviços. Nesse sentido, ao atender às necessidades imediatas e mediatas da população, o Serviço Social na saúde interfere e cria um conjunto de mecanismos que incidem sobre as principais contradições do sistema de saúde pública no Brasil (COSTA, 2009, p. 315). Não se pode negar que os avanços conquistados pelo exercício profissional de assistentes sociais na saúde ainda são insuficientes, principalmente pelo fato do Serviço Social ter adentrado a década de 1990 “com uma incipiente alteração do trabalho institucional”, pelo fato da categoria profissional ter permanecido “desarticulada do Movimento de Reforma Sanitária” e pela pequena contribuição no que se refere às questões colocadas à profissão na prática em saúde (BRAVO, 2009, p. 205). No entanto, observa-se a partir dos resultados da pesquisa de Costa (2009) que a utilidade do Serviço Social na saúde pode ser comprovada através do que a autora denomina “Núcleos de Objetivação do Trabalho do Assistente Social”. Isto porque tais núcleos expressam os objetivos, os instrumentos utilizados no cotidiano laboral e a relevância do exercício profissional de assistentes sociais na área. Trata-se de cinco eixos de atividades que “podem ser desenvolvidas concomitantemente em um mesmo processo de atendimento aos usuários ou de forma isolada, no interior mais geral de cooperação, envolvendo as diversas unidades, subunidades, setores, saberes e atividades profissionais” (COSTA, 2009, p. 318). Um deles é o “Levantamento de dados para caracterização das condições socioeconômicas e sanitárias dos usuários” dos serviços de saúde. 861 Este núcleo implementado através de de objetivação do trabalho, comumente entrevistas, “formulários cadastrais, fichas de evolução/diagnósticos sociais”, objetiva desvelar as variáveis que interferem no processo saúde-doença, no diagnóstico e no tratamento (COSTA, 2009, p. 318). A sua principal utilidade reside em facilitar o fluxo de informações e a comunicação entre o serviço e a família/cuidadores do usuário para agilizar a resolução de problemas surgidos no decorrer do processo de prestação dos serviços (COSTA, 2009, p. 319). Mas esse banco de dados também pode - e deve - embasar a elaboração de políticas de saúde e a adequação dos serviços às reais necessidades de saúde da população usuária. A “interpretação de normas e rotinas”, o segundo núcleo descrito por Costa (2009, p. 323), volta-se a organização do fluxo de atendimento e a normatização da permanência de familiares e acompanhantes nas unidades de saúde. Não se trata de repreender os pacientes ou acompanhantes, mas de informá-los no momento dos atendimentos individuais ou grupais sobre como os serviços funcionam, enfatizar os horários, períodos e prazos de retorno, fomentar o cumprimento dos procedimentos terapêuticos recomendados, etc. Cabe ainda aos assistentes sociais, compor as equipes responsáveis pela elaboração das normas e rotinas, além de promover o cumprimento das mesmas. Para tanto, é indispensável que o profissional tenha domínio das normas, portarias e manuais de funcionamento não só do serviço onde atua, mas da rede de serviços que constitui o SUS. Cristalizando a informação como um dos principais instrumentos de trabalho dos assistentes sociais, outro núcleo de objetivação do trabalho 862 desses profissionais consiste em implementar “procedimentos de natureza socioeducativa, informação e comunicação em saúde” (COSTA, 2009, p. 325). Essas ações, segundo a autora, servem para habilitar a população a utilizar os serviços corretamente, assegurando que o usuário tenha acesso a todo tipo de atendimento necessário. Ademais, ações com essas características devem buscar a humanização do atendimento e a criação de mecanismos de escuta de usuários e profissionais como medidas estratégicas para qualificar a oferta de serviços públicos de saúde. Considerando que boa parte das atividades desenvolvidas por assistentes sociais no âmbito do SUS vincula-se diretamente a efetivação do direito a saúde, o “agenciamento de medidas e iniciativas de caráter emergencial-assistencial” constitui mais um relevante eixo de atuação profissional. Este núcleo de objetivação do trabalho reúne os esforços dos profissionais do Serviço Social para providenciar transporte, agilizar exames e consultas, intermediar aquisição de remédios, alimentos, órteses e próteses, entre outros. Em suma, na realidade dos serviços de saúde, especialmente nos hospitais, todo e qualquer problema que envolva dificuldade de deslocamento, de acesso a medicamentos, exames, alimentos, documentos etc., é encaminhado ao assistente social (COSTA, 2009, p. 336). De um modo geral, tais atividades funcionam como formas de amenizar os efeitos mais nocivos da histórica demanda reprimida fornecendo condições objetivas para a população acessar os serviços, “constituindo-se numa espécie de elo invisível” (COSTA, 2009, p. 337). O quinto e último núcleo de objetivação do trabalho dos assistentes sociais didaticamente divididos por Costa (2009) é o “desenvolvimento de atividades de apoio pedagógico e técnico-político”, cujo 863 conteúdo relaciona-se “com as mudanças realizadas em função do processo de descentralização, municipalização, hierarquização dos serviços e mais recentemente demandas relativas à política de humanização” (COSTA, 2009, p. 337). No âmbito da Atenção Básica, consiste em promover cursos, seminários, debates, oficinas, articulação de profissionais e saberes, etc. em torno da implementação das políticas, programas e serviços de saúde tal como prescreve a vasta legislação da área. Mas também tem a finalidade de assessorar o “processo de implantação, (re)estruturação e funcionamento dos conselhos gestores das unidades de saúde, dos conselhos distritais e municipais” (COSTA, 2009, p. 337). Nota-se, portanto, que A objetivação do trabalho do assistente social, na área da saúde pública, é composta por uma grande diversidade e volume de tarefas que evidenciam a capacidade desse profissional para lidar com uma gama heterogênea de demandas, derivadas da natureza e do modo de organização do trabalho em saúde, bem como das contradições internas e externas ao sistema de saúde (COSTA, 2009, p. 340). No contexto em que as contradições que circundam e permeiam o SUS transformam-se em demandas para o Serviço Social, os assistentes sociais vão se consolidando na área como trabalhadores que possuem importância e utilidade social. E é esta a grande contribuição de Costa (2009): elucidar que os assistentes sociais têm atuado nas contradições do SUS, ou seja, onde o SUS não funciona, e isso requer que a profissão inove, atualize e requalifique sua prática, fortaleça o debate em torno da defesa da saúde pública no país incluindo os usuários e as demais profissões em saúde. 864 Nesse último ponto, evidencia-se que o trabalho em saúde no SUS é essencialmente coletivo e a atuação em equipes permite que os diferentes trabalhadores revisem suas práticas e possam se fortalecer no processo de trabalho, na medida em que a atuação em equipe exige domínio de seu campo disciplinar, mas também capacidade de aprender com o outro. 3 O TRABALHO EM EQUIPE E AS PROFISSÕES EM SAÚDE Devido a alterações no entendimento do que viria a ser saúde a partir do Movimento da Reforma Sanitária (desde 1970) passou-se a compreender a saúde como algo definido “no contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas” (BRAVO, 1996, p 77). Através desse movimento específico e também de mobilizações populares durante o processo constituinte (1987-88), foi possível garantir na Constituição Federal Brasileira de 1988 a saúde como direito de todos e dever de Estado. Conceito reafirmado pela Lei 8.080 de 1990 – Lei Orgânica da Saúde. É no contexto do SUS que se indicou um novo modo de ver e entender a saúde e também outra forma de operacionalizar o cuidado. Isto significa que com o advento do SUS operou-se uma mudança teórico-prática perceptível no conceito ampliado de saúde. Deste modo, ficou definido que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País (BRASIL, 1990). 865 De acordo com a concepção de determinantes sociais do processo saúde-doença explicitada nas leis de criação do Sistema Único de Saúde, reforçou-se a necessidade de incorporação das diferentes profissões nesta área, a essência do trabalho em saúde como um trabalho coletivo e, principalmente, [a]noção de atenção integral ao paciente, tendo em conta os aspectos preventivos, curativos e de reabilitação que deveriam ser contemplados a partir dos conceitos de processo saúdedoença, de história natural das doenças e da estratégia de integração (PEDUZZI, 2008, p. 420). Outro fator que trouxe à tona a importância do trabalho em equipe é a crítica aos modelos de produção do cuidado fragmentados e alienantes, tanto para o usuário quanto para o profissional. Dessa forma, pensar no trabalho interdisciplinar das profissões é uma tentativa de: 1) promover um atendimento integral ao usuário, como dito anteriormente; e, 2) permitir aos profissionais a compreensão dos diversos e multideterminados fatores que atingem esse usuário, isto é, trabalhar numa visão de totalidade substituindo assim o trabalho isolado de cada profissão e a fragmentação excessiva do trabalho. No Brasil, a Estratégia Saúde da Família (ESF) - conhecida inicialmente como Programa Saúde da Família (PSF) que foi instituído em 1994 - teve como fio condutor o trabalho em equipe. Sob esta ótica, responsabilizouse pela saúde da comunidade de um território de referência tendo como finalidade a reorganização da atenção à saúde, partindo da atenção primária à saúde que envolve não somente as ações vinculadas à doença, mas também a promoção e a prevenção à saúde. Frente ao quadro demográfico atual do Brasil, onde há um aumento de doenças, principalmente as crônicas nãotransmissiveis como diabetes, doenças cardiovasculares e enfermidades respiratórias, por exemplo, a ação das equipes é fundamental ao atendimento integral, não focando o modelo biomédico. 866 É inegável que houve avanços, no entanto, devido a cultura brasileira relacionada à compreensão da saúde ainda há a prevalência do modelo biomédico, medicamentoso e hospitalocêntrico como a base da produção do cuidado à saúde no país. Com isso, muitas vezes o trabalho de integração se torna apenas trabalho agrupado, como explica Peduzzi (2008), sendo apenas a reunião de diversos profissionais em um mesmo espaço físico. O resultado dessa equação é sentido pelos usuários que são vistos como “sujeitos-partes” dos diferentes enfoques profissionais e não conseguem, muitas vezes, entender a complexidade e diversidade das ações e procedimentos que lhe são indicados. É assim, um “paciente” que nada sabe e nada questiona, pois também nada compreende, já que é somente a manifestação de uma patologia. É nesse cenário que o serviço social se incorpora as profissões em saúde, ancorado na questão dos determinantes sociais da saúde e dos princípios do SUS, entre os quais se destaca o da integralidade. Ao eleger esse princípio de forma ampliada, considera-se que a produção do cuidado em saúde envolve uma série de ações, práticas e saberes que ultrapassam o setor saúde, valorizando a análise e a atuação intersetorial. No entanto, essa tem sido historicamente uma difícil tarefa a ser cumprida pelo SUS, justificado em âmbito estrutural pelo quadro mais geral da saúde pública no país (superlotação dos serviços, qualidade do acesso, subfinanciamento, precarização da força de trabalho, dentre tantos outros) e pelo processo de formação profissional dos trabalhadores em saúde que supervaloriza o saber especializado e que tem trazido várias consequências no cotidiano dos serviços de saúde. São conhecidas as denúncias desse caráter parcelar, fragmentado e, consequentemente, desumanizado no trabalho em saúde e de como esse movimento fortaleceu a ontologia da doença e não do sujeito 867 (CAMPOS, 2003). Dessa forma, advoga-se que a formação dos trabalhadores em saúde deve conjugar os saberes, competências e habilidades próprias e uma alta capacidade de atuação interdisciplinar aberta ao diálogo e a aprendizagem com o outro. CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção do cuidado em saúde, em uma perspectiva integral, exige que as equipes atuem de forma interdisciplinar, entendida aqui como a reciprocidade de saberes; a co-responsabilidade técnica e a horizontalização das relações de poder no ato de cuidar. Dessa maneira, rompe com a lógica dos campos disciplinares e fechados em si mesmo, em que cada um contribui com seu ato particular na soma das partes para mover a lógica em outro sentido, ou seja, o saber especializado, ou “saber complexo” de cada área ou profissão deve compor um conjunto articulado de ferramentas à disposição da melhoria das condições de saúde da população brasileira. Nesse sentido, o serviço social reforça seu status de profissional em saúde. Como já demonstrado nesse texto, a profissão possui uma atuação legitimada socialmente nessa área, portanto, tem uma função social no SUS. Todavia, com o conceito ampliado de saúde e o princípio da integralidade, há uma requalificação do social na saúde, ou seja, o modelo biomédico que foca a doença e a cura é fraturado pela compreensão da necessidade de compreender como vive e trabalha esse homem e assim, abre espaços para ações de promoção e prevenção da saúde. Espaços de informação e educação em saúde que exigem um conhecimento ampliado da rede de serviços públicos – condição que a formação generalista do serviço social fornece e disponibiliza para as equipes de saúde. É notório que a atuação em equipes no contexto do SUS, ainda é um desafio, bem como a vinculação das diferentes profissões com a defesa da saúde pública universal e de qualidade. No entanto, é uma prerrogativa para 868 a melhoria das condições de saúde da população brasileira e sendo assim, os estudos sobre como as profissões em saúde organizam a problemática da saúde em seus aspectos formativos e do exercício profissional é um permanente objeto de estudo que não pode ser abandonado. 869 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTIOL, Liria Maria. Atualizando o debate: formação profissional, trabalho em saúde e serviço social. 2010. Tese (Doutorado) apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília. 1990. Disponível em: <www.portal.saude.gov.br>. Acesso em 25 mar 2012. BRAVO, Maria Inês Souza. Serviço Social e Reforma Sanitária: Lutas Sociais e Práticas Profissionais. 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