PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS FORENSES Aplicação da Nanotecnologia Como Técnica e Controle, Monitoramento e Remediação da Poluição Química da Água Laura Maria Silva Magalhães 1 Alex Fabiano Cortez Campos 2 1 Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília. Analista Ambiental do IBAMA, Coordenadora Substituta de Ferrovias e Rodovias da Diretoria de Licenciamento Ambiental do IBAMA; Aluna de especialização em Biociências Forenses IFAR/PUC 2 Doutor em Físico-Química; Professor adjunto da Faculdade UnB–Planaltina/ Universidade de Brasília; [email protected] Resumo Numa realidade de conflitos cada vez mais constantes pelo uso de recursos hídricos, as nanotecnologias têm se tornado uma ferramenta importante em atividades de remediação, controle e monitoramento de água. A nanotecnologia estende a ciência de materiais para o domínio de partículas e interfaces com dimensões extremamente pequenas, da ordem de um a cem nanômetros. Partículas nesta escala de tamanho (nanopartículas) apresentam uma grande relação superfície/volume e, em decorrência, possuem propriedades mecânicas, ópticas, magnéticas e químicas distintas daquelas de partículas em escala macroscópica. Avanços em ciência e em engenharia de nanoescala estão fornecendo oportunidades sem precedentes para desenvolver mais processos de purificação de água econômica e ambientalmente aceitável. Neste trabalho serão apresentadas algumas aplicações da nanotecnologia para o controle, monitoramento e remediação da água contaminada por poluentes químicos, bem com das vantagens de desvantagens do uso da nanotecnologia para esta finalidade. Palavras-chave: Nanotecnologia, contaminação, poluentes químicos, remediação, água Application of Nanotechnology as Technical Control, Monitoring and Remediation of Water Chemical Pollution Abstract A reality of increasingly constant conflicts with the use of water resources, the nanotechnology has become increasingly used at the remediation activities, control and monitoring of water. The nanotechnology area inserts in to materials science for the domain of particulates and interfaces with extremely small dimensions, the order of one hundred nanometers. Particles in this size range (nanoparticles) feature a large surface/volume ratio and, in consequence, have mechanical properties, magnetic, optical or chemical properties different from those of particles on macroscopic scale. Advances in science and engineering of nanoscale are providing unprecedented opportunities to develop more water purification processes economically and environmentally acceptable. This work will be presented some applications of nanotechnology for the control, monitoring and remediation of contaminated water by chemical pollutants as well as the advantages of disadvantages of using nanotechnology to this purpose. Key-words: Nanotechnology, contamination, chemical pollutants, remediation, water 1. Introdução A água descontaminada, ou seja, livre de agentes patogênicos e substâncias químicas tóxicas, é essencial para a saúde humana. Também é matéria-prima essencial em uma variedade de indústrias estratégicas incluindo eletrônica, produtos farmacêuticos e alimentos. Neste contexto, o mundo vem enfrentando um enorme desafio: de um lado está a crescente demanda por qualidade e quantidade de água limpa; de outro está a carência cada vez maior de fontes disponíveis de água doce. Essa menor disponibilidade de água descontaminada pode ser justificada por alguns fatores, dentre eles: o aquecimento global e a ocorrência de períodos de secas prolongados; população em crescimento; competição por demandas de uma variedade de usuários e tratamento e/ou destinação inadequada de resíduos. Como agravante aos fatores indicados acima, podemos citar ocorrências frequentes de acidentes de grande porte com poluentes químicos, como o derramamento de Petróleo em grande escala, no golfo do México, em 2010. Na tentativa de reverter este quadro e atender à demanda crescente por água descontaminada, o Estado e a comunidade científica testam o emprego de novas tecnologias e a elaboração de normas cada vez mais rigorosas para o controle e monitoramento da qualidade da água. No Brasil, a obrigatoriedade da preservação da qualidade da água em todo o território nacional acha-se estabelecida na Constituição Federal de 1988, como conseqüência do Art. 225, que estabelece o preceito da proteção ao meio ambiente. Em seu Art. 23, deixa clara a competência supletiva dos Estados e Municípios para “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer das suas formas” (Branco, 1992). A Lei N° 6.938, de 31 de agosto de 1981, conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente, tem como um de seus instrumentos “o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental” e a Lei Nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, denominada Política Nacional de Recursos Hídricos, tem como principal instrumento “o enquadramento de corpos de água em classes, segundo seus usos preponderantes da água” (Lanna, 2004). O enquadramento de corpos de água em classes, previsto na Resolução CONAMA Nº 357/05, é o instrumento de planejamento que estabelece metas para garantir à água o nível de qualidade correspondente a uma classe, a ser alcançada e mantida, e que possa assegurar o uso preponderante para um segmento de corpo hídrico. No entanto, além de elaboração de leis e normas ambientais, urge a necessidade de aplicação de tecnologias cada vez mais eficientes, capazes, com maior rapidez e menores custos, de detectar, quantificar e remediar a contaminação da água em casos de poluição química. Algumas das técnicas mais recentes para realizar o monitoramento da qualidade da água envolvem nanotecnologias. Segundo Quina (2004), a nanotecnologia estende a ciência de materiais para o domínio de partículas e interfaces com dimensões extremamente pequenas, da ordem de um a cem nanômetros. Partículas nesta escala de tamanho (nanopartículas) apresentam uma grande relação superficie/volume e, em decorrência, exibem frequentemente propriedades mecânicas, ópticas, magnéticas e químicas distintas daquelas de partículas em escala macroscópica. Avanços em ciência e em engenharia de nanoescala estão fornecendo oportunidades sem precedentes para desenvolver mais processos de purificação de água econômica e ambientalmente aceitável (Savage e Diallo, 2005). A maioria das aplicações ambientais da nanotecnologia se enquadra em três categorias: (i) dos ambientalmente benignos e/ou produtos sustentáveis (por exemplo, química verde ou prevenção à poluição), (ii) a remediação de materiais contaminados com substâncias perigosas e (iii) sensores para agentes ambientais. Embora estas três categorias sejam geralmente interpretadas em termos de substâncias químicas ou materiais não biológicos, deve-se notar que eles também se aplicam aos agentes microbianos e materiais biológicos. Em particular, as nanotecnologias desempenham um grande papel nos esforços atuais para desenvolver melhores métodos para detecção e descontaminação de agentes químicos e biológicos prejudiciais, que são – em muitos aspectos – questões ambientais (Tratnyek e Johnson, 2006). Inserido neste contexto, o presente trabalho objetiva, por um lado, discutir as aplicações das nanotecnologias como técnicas de controle, monitoramento e remediação da poluição química da água, com base em três artigos científicos de periódicos de importante fator de impacto. Por outro lado, trata ainda da importância e das vantagens e desvantagens da utilização destas técnicas, ainda pouco empregadas no Brasil, para o monitoramento e a remediação da qualidade da água. 2. Aplicação da Nanotecnologia Como Técnica de Controle, Monitoramento e Remediação da Poluição Química da Água A crescente demanda de água tem gerado grandes conflitos e uma necessidade cada vez maior de utilização de tecnologias mais baratas e eficazes para o tratamento e a disponibilização de água para o consumo. A ocorrência de grandes acidentes, a ausência ou tratamento inadequado de efluentes e até o risco de ataques terroristas em redes de abastecimento de água de uma população exige o domínio de técnicas para o monitoramento, controle e remediação de corpos hídricos contaminados. Dentre as técnicas utilizadas, as nanotecnologias têm vantagens promissoras, uma vez que requerem menor quantidade de matéria prima, empregam materiais com elevada reatividade, devido a maior superfície de contato com os reagentes e, portanto, apresentam maior eficiência para alcance e tratamento dos poluentes químicos em recursos hídricos. Avanços em nanociência sugerem que muitos dos problemas atuais que envolvem a qualidade da água poderiam ser resolvidos ou mitigados pela utilização de nanosorbentes, nanocatalisadores, nanopartículas bioativas, membranas nanoestruturadas catalíticas e filtração reforçada de nanopartículas, entre outros produtos e processos resultantes do desenvolvimento da nanotecnologia. Inovações no desenvolvimento de novas tecnologias para dessalinizar água estão entre os mais promissores. Além disso, como a nanotecnologia permite a elaboração de materiais que reduzem as concentrações de compostos tóxicos para níveis de sub-ppb, ela se constitui em uma ferramenta poderosa que pode ajudar tanto no alcance dos padrões de qualidade de água quanto como alerta de saúde pública (Savage e Diallo, 2005). O documento entitulado “Removal of Petrochemical from Water Using Magnetic Filtration”, de (Apblett et al, 2001), comparou a eficiência da nanotecnologia de filtração magnética com outras técnicas convencionais, tais como extratores magnéticos, incluindo carbono ativado/magnetita ou compósitos de ferrita de níquel e ferro revestido por polímero, além de pós de óxidos de ferro, visando ao desenvolvimento de sistemas de componente único para uso como filtração magnética. Essa proposta está baseada em materiais magnéticos que podem adsorver contaminantes orgânicos derivados de petróleo e permitir sua separação da água por meio da filtração magnética De acordo com este artigo, a separação magnética foi desenvolvida como um processo de recuperação e controle da poluição para muitos problemas ambientais e industriais, incluindo tratamento de resíduos radioativos da água; efluentes de siderúrgicas; dessulfurização de carvão; separação de minérios e resíduos de mineração; processamento de argila, e purificação de água potável e filtração de água de resfriamento em reatores nucleares. Segundo os autores, a aplicação eficiente da filtragem magnética para descontaminação do petróleo e as operações de tratamento de resíduos é atraente porque pode fornecer rápida remoção de contaminantes aquosos de rejeitos. Isso, juntamente com a capacidade de ativar e desativar o filtro por via eletrônica (evitando qualquer necessidade de contato mecânico), permite a minimização da exposição dos trabalhadores aos agentes nocivos. No entanto, uma vez que a maioria dos contaminantes de interesse para a indústria de petróleo não são magnéticos, um material adsorvente deve ser desenvolvido para fixar os contaminantes e permitir sua separação magnética. Sendo assim, o objetivo da pesquisa relatada foi o desenvolvimento de nanosorbentes magnéticos, isto é, materiais magnéticos nanoestruturados com potencial para adsorver contaminantes, no caso derivados de petróleo, e permitir sua separação da água através da filtração magnética. Essa adsorção é similar à usada para o tipo mais comum de extratores magnéticos de íons metálicos, na qual um filtro magnético é disperso em uma resina polimérica de troca iônica (Apblett et al, 2001). O carbono ativado tem uma longa história como adsorvente de contaminantes inorgânicos, compostos orgânicos voláteis, clorocarbonos, dentre outros. Assim, a conversão de carbono ativado em um material magneticamente ativo proporcionaria um avanço para a filtração magnética. Apblett et al (2001) relataram um método de preparação de carbono poroso que foi carregado com partículas de ferro. O uso desse material como carreador magnético proporcionou, por exemplo, a vetorização de medicamentos para órgãos ou tumores. Assim, com base nesses resultados, materiais similares foram preparados utilizando óxidos de ferro depositados em carbono. O compósito de carbono magneticamente ativado poderia ser disperso como um pó fino extremamente reativo que adsorveria produtos petrolíferos com cinética reforçada em relação ao material granular usado em colunas e, assim, o pó poderia ser rapidamente separado do fluxo aquoso por filtração magnética. Neste fim, o compósito magnético foi preparado por um novo processo em que foi sintetizada magnetita ou ferrita de níquel impregnados de carbonos ativados (Apblett et al, 2001). Segundo os autores, a separação de emulsões de óleo/água também pode ser obtida utilizando-se extração magnética. A superfície externa do extrator possui uma forte afinidade com o petróleo, bem como com as cadeias hidrofóbicas de qualquer superfície que possa estar presente. Desta forma, seria possível a formação de micelas de óleo/surfactantes ligadas fortemente a esses extratores, possibilitando assim, a separação da água por meio da aplicação de um campo magnético. Este método representa uma potencial alternativa a outros métodos de separação de emulsões, tais como filtros de aglutinação, além de fornecer economia considerável de tempo e dinheiro para a indústria petrolífera. Assim, segundo Apblett e colaboradores (2001), com o objetivo de desenvolver um método fácil para preparar compósitos de carbonos magneticamente ativos, foram realizados testes com diferentes extratos magnéticos com vistas a comparar sua eficiência. Difratogramas de raios X obtidos pelo método do pó confirmaram a preparação da magnetita nanocristalina, enquanto resultados de espectroscopia de infravermelho comprovaram a presença de uma fase em carbono ativo no compósito. Um procedimento semelhante usando gluconato de níquel/gluconato de ferro (II) possibilitou a preparação de um compósito à base de ferrita de níquel. Testes magnéticos indicaram que os compósitos sintetizados são ferromagnéticos. Além disso, nenhum dos pós demonstrou qualquer magnetização remanente na ausência de campo magnético, uma propriedade importante para que o material não sofra aderência ao aço desmagnetizado. Além disso, no caso da magnetita, a falta de uma magnetização de remanência comprova que as partículas sintetizadas eram suficientemente pequenas, como se objetivava inicialmente. Os autores relatam ainda que, como esperado, o material de ferrita contendo níquel exibiu a resposta mais forte a um campo magnético. Um teste com o nanosorbente magnético foi realizado usando soluções aquosas de decano com uma concentração de 104 ppm, um ponto abaixo do limite de solubilidade de decano na água. Isso significou um desafio para a separação de extratos magnéticos, pois o decano deveria ser adsorvido da solução e não de uma fase não aquosa, que é muito mais fácil de separar. Como resultados, todos os nanosorbentes magnéticos removeram quantidades significativas de decano de soluções aquosas com bom desempenho, mostrando que compósitos de carbonos ativados e nanomateriais magnéticos funcionalizados com polidimetilsiloxano (PDMS) são materiais bastante específicos. Em suma, os resultados mostraram que nanosorbentes magnéticos são eficazes para a remoção de decano e, por extrapolação, outros hidrocarbonetos, da água. O compósito de carbono ativado com ferrita de níquel também foi testado por sua capacidade de desmobilizar uma emulsão muito estável. Ele foi brevemente misturado com uma emulsão e, em seguida, separado por filtração magnética. Como resultado, verificou-se que os compósitos magnéticos foram capazes de romper o equilíbrio emulsificante, sugerindo que a otimização do extrator magnético poderia resultar na completa separação de uma emulsão de óleo em água. Os autores ressaltaram ainda que a emulsão usada no estudo era extremamente estável devido à quantidade de surfactante utilizado e que, provavelmente, exemplos do mundo real possam não ser tão desafiadores. O artigo “Nanotechnologies for environmental cleanup”, de Tratnyek e Johnson, (2006), trata das três categorias em que se enquadram as aplicações ambientais da nanotecnologia, sendo estas: os ambientalmente benignos e/ou produtos sustentáveis; a remediação de materiais contaminados com substâncias perigosas e sensores para agentes ambientais. Embora estas três categorias sejam geralmente interpretadas em termos de substâncias químicas ou materiais não biológicos, deve-se notar que eles também se aplicam aos agentes microbianos e materiais biológicos. Em particular, as nanotecnologias desempenham um grande papel nos esforços atuais para desenvolver melhores métodos para detecção e descontaminação de agentes biológicos prejudiciais, que são – em muitos aspectos – questões ambientais. Os autores esclarecem também as incertezas que ainda existem sobre as características fundamentais desta tecnologia, que dificultaram aos engenheiros suas aplicações para otimizar o desempenho ou para avaliar o risco para a saúde humana ou ambiental. Segundo Tratnyek e Johnson (2001), entre as muitas aplicações da nanotecnologia que têm implicações ambientais, a remediação de águas subterrâneas contaminadas por nanopartículas contendo ferro zero-valente (nZVI – Zero Valent Iron Nanoparticles) é um dos mais proeminentes exemplos de uma rápida tecnologia emergente, com consideráveis benefícios potenciais. Naquele trabalho foram abordadas três características fundamentais que comumente contribuem para um mal-entendido desta tecnologia, mostrando que: (i) o nZVI usado em remediação de águas subterrâneas é maior do que partículas que efetivamente apresentam efeitos de tamanho nano; (ii) a maior reatividade deste nZVI é essencialmente o resultado de sua elevada área de superfície específica; e (iii) a mobilidade de nZVI será inferior a poucos metros em quase todas as condições relevantes. Uma implicação de sua mobilidade limitada é que a exposição humana resultante de aplicações de remediação de nZVI é mínima. No entanto, informou-se que existem muitas características desta tecnologia sobre a qual muito pouco se sabe: por exemplo, quão rapidamente nZVI será transformado e para quais produtos; se este resíduo será detectável no ambiente e como as modificações na superfície de nZVI irão alterar sua destinação ambiental a longo prazo e a eficácia para correção de problemas. Segundo os autores, com relação à remediação de contaminantes ambientais, a gama de aplicações de nanotecnologia espelha o espectro de estratégias 'não-nano' de remediação de contaminantes. Duas das distinções importantes que definem tipos de tecnologias de remediação convencional também se aplicam para as nanotecnologias para correção de problemas: adsortiva versus reativa e in situ e ex situ. Tecnologias de remediação adsortiva removem contaminantes (especialmente metais) por sequestro, enquanto tecnologias reativas afetam a degradação de contaminantes, às vezes, a produtos completamente inofensivos (por exemplo, CO2 e H2O em caso de contaminantes orgânicos). Tecnologias in situ envolvem tratamento de contaminantes presentes no local, enquanto as ex-situ referem-se a tratamento após a remoção do material contaminado para um local mais conveniente (por exemplo, bombeamento subterrâneo de contaminante da superfície e tratamento em reatores na superfície). Como exemplos de nanotecnologias ex situ, os autores citaram a remediação de contaminantes por adsorção, que pode ser ajustada de acordo com os contaminantes, como mercúrio, cromato, arsenato, e selenito; e a ultrafiltragem com “enriquecimento” de dendrímeros, para remover Cu(II) da água e lavagem do solo para remover contaminação por Pb(II). Ambos os tipos de adsorventes nanoestruturados podem ser recuperados com o concentrado de material perigoso que eles adsorverem. Quanto ao uso da nanotecnologia para a degradação in situ de contaminantes, os autores informaram que, quando viável, essa abordagem é preferencial sobre outras práticas porque pode ser mais rentável. No entanto, esta prática exige o deslocamento do tratamento até o local de contaminação e isso tem provado ser um importante obstáculo a sua utilização. A nanotecnologia tem especial relevância devido ao seu particular potencial para injeção de partículas de tamanho nano (reativa ou adsorção) em meios porosos contaminados, como solos, sedimentos e aquíferos. Dessa forma, seria possível criar tanto (i) zonas in situ reativas com nanopartículas que são relativamente imóveis; ou (ii) plumas de nanopartículas reativas que migram para zonas contaminadas, se as nanopartículas forem suficientemente móveis (Tratnyek e Johnson, 2006). Apesar de uma variedade de tipos de nanopartículas poderem ser aplicáveis para remediação in situ, destacou-se que, de longe, o maior interesse está atualmente em nanopartículas que contêm nZVI. A aplicação de nZVI para correção deriva do potencial para reparação química aperfeiçoada e/ou mais opções de organização que complementam a já bem desenvolvida ciência e engenharia de remediação de contaminantes com o 'convencional' tamanho milímétrico do ZVI. No entanto, segundo o artigo, o rápido surgimento de tecnologias de remediação baseadas em nZVI tem obscurecido – e talvez até mesmo exacerbado – alguns equívocos generalizados sobre os princípios fundamentais subjacentes a esta tecnologia e as implicações práticas da sua utilização no ambiente. Esses princípios foram agrupados em três características das nanopartículas: morfologia, reatividade e mobilidade. A morfologia diz respeito ao regime de tamanho, já que essas moléculas e materiais, enquanto partículas, resultam em propriedades exclusivas, ou pelo menos qualitativamente diferentes do que as partículas maiores. Um desses exemplos é o confinamento quântico, que surge porque a bandgap (diferença energética entre a banda de valência, e a banda de condução em materiais isolantes, condutores ou semicondutores) aumenta à medida que diminui de tamanho das partículas, e este efeito contribui para algumas das propriedades úteis do tamanho nano da fotocatálise. Outra propriedade que se altera bastante é a superfície específica. Tendências qualitativamente similares se aplicam a propriedades relacionadas como a proporção de átomos de superfície/volume e a fração do volume da partícula comprimida em uma camada superficial de espessura finita. Segundo os autores, mesmo sob condições de laboratório, partículas de nZVI tendem a se agregar, produzindo aglomerados que podem aproximar a mícrons de tamanho. Estas considerações sugerem que nZVI e materiais relacionados que são usados em aplicações de remediação ambiental não irão exibir as propriedades extraordinárias que se aplicam às verdadeiras partículas de tamanho nano e se comportarão, em muitos aspectos, como colóides ambientais. A maior reatividade que muitas vezes é atribuída às nanopartículas pode ser o resultado da maior área de superfície total; maior densidade de sítios reativos nas superfícies de partículas, e/ou maior reatividade intrínseca dos sítios de superfície reativas. Juntos, esses fatores produzem três resultados operacionalmente distintos para nZVI: (i) degradação de contaminantes que não reagem detectavelmente com partículas maiores de material similar; (ii) degradação mais rápida dos contaminantes que já reagem com taxa útil com partículas maiores; ou (iii) produtos mais favoráveis de contaminantes que são degradados rapidamente por materiais maiores, mas que geram subprodutos indesejáveis. Independentemente da razão exata para alta reatividade, esta tende a se correlacionar com a baixa seletividade, o que faz a correção com nZVI suscetível a ineficiência por causa da reação de partículas com substâncias não-alvos, incluindo o oxigênio dissolvido e água. Esta demanda natural, juntamente com a demanda decorrente da reação com os contaminantes alvo, implica que nZVI terá uma vida útil limitada em ambientes de meios porosos, potencialmente requerendo reinjeção de nZVI e, assim, aumentando o custo do tratamento. Como alternativa, um curto tempo de vida de nZVI in situ poderá revelar-se benéfico, limitando o potencial de exposição indesejada em receptores abaixo do gradiente (se as partículas apresentarem grande mobilidade) (Tratnyek e Johnson, 2006). Já quanto à mobilidade, ainda de acordo com o trabalho de Tratnyek e Johnson (2006), geralmente supõe-se, simplificadamente, que as nanopartículas são altamente móveis em meios porosos porque são muito menores que os espaços dos poros. Em geral, a mobilidade de nanopartículas em ambientes de meios porosos saturados é determinada pelo produto do número de colisões das nanopartículas com o meio poroso por unidade de distância de transporte, onde a probabilidade de que qualquer colisão resultará na remoção de nanopartículas do sistema de fluxo (ou seja, o coeficiente de colagem). As colisões podem resultar de três processos: difusão Browniana, interceptação e sedimentação gravitacional. Para as nanopartículas, nas condições que são típicas de meios porosos ambientais, a difusão Browniana é o processo de colisão dominante. Relatou-se, no entanto, que o coeficiente de adesão para nZVI não modificado em diversos tipos de meios porosos varia tipicamente em uma escala que corresponde a distâncias de transporte de apenas alguns centímetros em meios porosos sob condições típicas das águas subterrâneas. Isto levou a grande interesse na modificação da superfície das nanopartículas para aumentar a distância do transporte. Menores coeficientes de adesão para estas e outras nanopartículas foram relatados, mas mesmo estes coeficientes de adesão baixos não prevêem mobilidade nas águas subterrâneas para mais que alguns metros, exceto quando estas escoam em velocidades muito altas e, possivelmente, quando existem fraturas. Sendo assim, segundo Tratnyek e Johnson (2006), a discussão sobre morfologia, reatividade e mobilidade das nanopartículas no contexto de remediação ambiental demonstra que a compreensão atual dos processos básicos envolvidos nesta tecnologia está ainda incompleta e evoluindo. Além de dificultar o prosseguimento com a engenharia de implementações em grande escala, estas incertezas dificultam a avaliação dos riscos que essa tecnologia pode trazer à saúde humana ou ao ambientee. Especificamente com relação aos aplicativos in situ de nZVI (ou materiais relacionados) para correção de ambientes com meios porosos, não há ainda qualquer investigação e desenvolvimento que diretamente e substancialmente aborda a questão do risco. Até o momento, segundo o artigo, pode-se apenas concluir que nZVI e materiais relacionados utilizados para aplicações de remediação in situ não são tão pequenos, reativos, persistentes, ou móveis como a maioria dos materiais, fato que sugere o potencial de risco humano ou ecológico. No artigo “Nanomaterials and Water Purification: Opportunitties and Challenges”, Savage e Diallo (2005) fornecem uma visão geral do uso de nanomateriais na purificação da água. Destacam-se os recentes avanços no desenvolvimento de novos materiais em nanoescala e processos de tratamento de águas superficiais, águas subterrâneas e águas residuais industriais contaminadas por íons metais tóxicos, radionuclídeos, solutos orgânicos e inorgânicos, bactérias e vírus. Além disso, discutem alguns desafios associados ao desenvolvimento de nanomateriais funcionais econômica e ambientalmente aceitáveis para purificação da água. Para este fim, quatro classes de materiais de nanoescala estão sendo avaliados como materiais funcionais para purificação de água: (1) nanopartículas de óxidos metálicos, (2) nanotubos de carbono, (3) zeólitas e (4) dendrímeros. Estes têm uma ampla gama de propriedades físico-químicas que os tornam um atrativo particular como separação e mídia reativa para purificação de água. As nanopartículas têm duas propriedades principais que as tornam particularmente atraentes como sorbentes. Em termos de massa, têm áreas de superfícies muito maiores que partículas volumosas. Além disso, as nanopartículas também podem ser funcionalizadas com vários grupos químicos que aumentam sua afinidade por alguns poluentes, aumentando a eficiência na sua remoção. Em relação aos nanosorbentes, que são amplamente utilizados como meios de separação em purificação de água para remover poluentes orgânicos e inorgânicos de água contaminada, Savage e Diallo (2005), citaram como exemplos as propriedades exclusivas de nanopartículas que tem capacidade 3 a 4 vezes maior de adsorção seletiva de ânions e íons metálicos (como Pb(II), Cu(II) e Cd(II)) na purificação da água do que a do pó de carbono e do carbono ativado granulado. Citou-se ainda a eficácia das zeólitas na remoção de metais pesados Cr(III), Ni(II), Zn(II), Cu(II) e Cd(II) de efluentes resultantes das atividades de galvanoplastia. Segundo os autores, nanopartículas tem grande potencial como catalisadores na purificação de água e capacidade oxirredutora para ativação de meios devido às suas grandes áreas de superfície e propriedades ópticas. Durante a última década, as nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2) surgiram como fotocatalisadores promissores para purificação de água. Nanopartículas de TiO2 são muito versáteis, pois podem servir tanto como catalisadores oxidantes como redutores de poluentes orgânicos e inorgânicos. Como exemplo, citou-se a remoção total de carbono orgânico de águas contaminadas por meio da adição de nanopartículas de TiO2 na presença de luz ultravioleta. Nanopartículas de TiO2 bem como Ferro zero valente (Fe0) em nanoescala e partículas bimetálicas de Fe0 foram eficientes na degradação de compostos orgânicos (por exemplo, hidrocarbonetos, dioxinas, furanos, PCBs etc.) e na redução de íons metálicos tóxicos (por exemplo, Cr 6+, Ag+ e Pt2+) em soluções aquosas. Tanto o Fe0 quanto nanopartículas bimetálicas de Fe0 também têm sido usadas com êxito para transformação de íons metálicos, como por exemplo o Cr 6+ para formas de Cr3+, menos tóxicos e móveis. Ainda segundo esses autores, outra utilização da nanotecnologia são alguns processos que ocorrem em membranas, tais como ultrafiltração (UF), nanofiltração (NF) e osmose reversa (OR). Esses equipamentos surgem como os principais componentes das avançadas tecnologias de purificação e dessalinização da água; remoção da matéria orgânica natural; contaminantes biológicos; poluentes orgânicos, nitratos e até arsênio de águas subterrâneas e de superfície. De acordo com o artigo, a técnica de nanofiltração também pode ser usada para remover pequenas quantidades de U(VI) da água do mar e para dessalinizar água. Reduções substanciais nas quantidades de contaminantes orgânicos e biológicos (por exemplo, as bactérias e vírus) foram alcançadas usando este processo. Filtros de nanotubos de carbono - membranas de filtração compostas por cilindros ocos com paredes de nanotubo de carbono radialmente alinhados - tem se mostrado eficazes na remoção de bactérias (Escherichia coli e Staphylococus aureus) e vírus da poliomielite sabin 1 de água contaminada. Como vantagem, os filtros de nanotubos de carbono são facilmente limpos por dispersão e esterilização em autoclave. De acordo com Savage e Diallo (2005), oxidantes fortes, como o cloro, são atualmente usados como desinfetantes para agentes patogênicos (por exemplo, as bactérias e vírus) no tratamento de água. Os mecanismos inativam patógenos pela imparidade da função celular de agentes patogênicos por destruição de componentes principais (por exemplo, parede celular) e também por meio da interferência com os processos metabólicos celulares de agentes patogênicos, promovendo a inibição do crescimento de agentes patogênicos por bloqueio da síntese dos principais constituintes celulares (por exemplo, proteínas de DNA, coenzimas e parede celular). No entanto, estes compostos geram subprodutos de desinfecção tóxicos, como trihalometanos, ácidos haloacéticos e aldeídos. Devido a essa toxicidade, o desenvolvimento de desinfetantes alternativos tem se tornado necessário para que a água de abastecimento público seja enquadrada em normas de saúde cada vez mais rigorosas. Informou-se que nanomateriais também estão oferecendo oportunidades para desenvolver produtos biocidas livres de cloro. As nanopartículas de MgO são biocidas muito eficazes contra bactérias gram-positivas e gram-negativas (Escherichia coli e Bacillus megaterium) e esporos de bactérias (Bacillus subtillus). Caracterização das interações das nanopartículas com as bactérias por microscopia de força atômica (AFM), transmissão por microscopia eletrônica (TEM) e microscopia confocal a laser, revelou mudanças consideráveis na integridade das membranas celulares, resultando na morte de bactérias na maioria dos casos. Outro exemplo do uso de nanopartículas como biocida citado pelos autores é o tratamento de resíduos contaminados com Ag(I) e compostos de prata. Os resultados relatam eficiência contra a Escherichia coli. Descreveu-se também que fibras de acetato de celulose (CA) com nanopartículas embebidas em Ag também são biocidas eficazes contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, incluindo Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. Como técnica de ultrafiltração avançada de dendrímeros, citou-se a utilização de Membranas de Osmose Reversa (RO), que possuem poros de tamanhos de 0.1-1.0 nm e, portanto, são muito eficazes na retenção de solutos de orgânicos e inorgânicos dissolvidos com massa molar abaixo de 1000 Da. As membranas de nanofiltração (NF), por outro lado, são muito eficazes na remoção de dureza (por exemplo, cátions multivalentes) e solutos orgânicos com massa molar entre 1000-3000 Da (por exemplo, material orgânico natural). No entanto, são necessárias altas pressões para operar as membranas RO e NF. Por outro lado, membranas de ultrafiltração (UF) requerem baixa pressão (200-700 kPa). Infelizmente, elas não são muito eficazes na remoção de soluto de orgânicos e inorgânicos dissolvidos com massa molar abaixo de 3000 Da. Avanços em química macromolecular, como a invenção de polímeros dendríticos, estão fornecendo oportunidades sem precedentes para desenvolver processos eficazes de UF para purificação de água contaminada por íons metálicos tóxicos, radionuclídeos, solutos orgânicos e inorgânicos, bactérias e vírus. Polímeros dendríticos são macromoléculas altamente ramificadas com composição controlada que apresentam muitas características particularmente atraentes como materiais funcionais para purificação de água. Estas nanopartículas "leves", com tamanhos na faixa de 10-20 nm, podem ser usadas como ligantes de alta capacidade e solúveis recicláveis em água para íons tóxicos metálicos, radionuclídeos e ânions inorgânicos. No entanto, de acordo com o artigo, a utilização de nanomateriais como técnica de purificação da água ainda possuem alguns desafios, pois são os pilotos da revolução de nanotecnologia. Um gargalo chave para as aplicações da nanotecnologia para purificação de água será a disponibilidade de fornecedores que podem fornecer grandes quantidades de nanomateriais a preços economicamente viáveis. Estudos recentes prevêem que a maioria dos nanomateriais será versão em nanoescala de produtos já estabelecidos, como sílica, dióxido de titânio, argilas, pós metálicos, polímeros e produtos químicos. Maiores quantidades de nanotubos de carbono, fulerenos e dendrímeros também estarão disponíveis, e assim estes nanomateriais tornar-se-ão componentes-chave de produtos eletrônicos, sistemas de entrega de medicamentos, baterias, pilhas de combustível, dentre outras utilidades. Ainda segundo o trabalho de Savage e Diallo (2005), a integração dos nanomateriais em sistemas existentes de purificação de água é outro desafio importante. Processos de membrana, como RO, NF e UF estão se tornando as tecnologias de purificação de água 'padrão' para indústria e serviços de utilidade pública porque eles são flexíveis, escaláveis, modulares e relativamente fáceis de operar e manter. Os autores concluem também que agentes quelantes dendríticos em nanoescala combinados com membranas UF comercialmente disponíveis podem ser facilmente integrados a processos ou sistemas de purificação de água existentes, uma vez que quelantes dendríticos eficientes e de baixo custo tenham sido selecionados ou sintetizados. No entanto, mais exames laboratoriais e testes de escala-piloto são necessários para integrar novelos nanoestruturados e membranas reativas nos sistemas de purificação de água existentes. 3. Considerações Finais Acredita-se que nanomateriais se tornarão componentes críticos de sistemas de purificação de água pública e industrial, assim como maiores progressos na síntese de materiais funcionais econômicas e ambientalmente aceitáveis. O desenvolvimento de membranas inteligentes, com superfícies de biofilme resistentes e envolvidas por sensores que automaticamente ajustam o desempenho de membrana e sua seletividade é uma das principais metas em longo prazo para possibilitar a dessalinização e a purificação de água (Savage e Diallo 2005). Prevê-se que nanomateriais serão os principais componentes de tais membranas. Como exemplo, o desenvolvimento de nanopartículas de TiO2 ativado por luz visível poderia ter um impacto significativo no abastecimento de água. A liberação controlada dessas nanopartículas nas águas de superfície expostas à luz solar pode reduzir significativamente a carga de carbono orgânico através da degradação fotoquímica oxidativa. No curto prazo, pode-se antecipar que nanomateriais ajudarão a resolver problemas desafiadores de purificação de água incluindo: (1) a dessalinização de água salobra; (2) a recuperação de íons metálicos valiosos e tóxicos concentrados na membrana, facilitando assim a eliminação da salmoura; (3) o desenvolvimento de biocidas livres de cloro e (4) a purificação de água contaminada por contaminantes tóxicos, como perclorato, produtos farmacêuticos, compostos quirais e compostos endócrinas perturbadores. Nanomateriais podem ser funcionalizados com vários grupos químicos para aumentar sua afinidade em direção a um determinado composto. Eles também podem servir como ligantes de alta capacidade, seletivos e recicláveis de íons de metais tóxicos, radionuclídeos, solutos orgânicos e inorgânicos e anions em soluções aquosas. Também oferecem oportunidades sem precedentes para desenvolver catalisadores mais eficientes de purificação de água e mídias ativas de oxirredução devido suas grandes áreas de superfície e propriedades ópticas, eletrônicas e catalíticas dependentes de forma e tamanho (Savage e Diallo, 2005). Como exemplo, a escala de reatores fotocatalíticos baseados em TiO2 é mal entendida, embora sejam progressos significativos no desenvolvimento de nanopartículas visíveis a TiO2 ativados por luz. Por outro lado, acredita-se que nanosorbentes (por exemplo, nanocristais inorgânicos, nanopartículas carbonizadas e zeolitos), nanopartículas ativadas por oxirredução (por exemplo, Fe0 e Fe0 bimetálicos) e nanopartículas bioativas (por exemplo, MgO e Ag) podem ser prontamente integradas em estações de tratamento de água existentes (Savage e Diallo, 2005). No que tange à remoção de contaminantes orgânicos derivados de petróleo em água, a técnica de filtração magnética se apresenta como uma alternativa promissora (Apblett et al, 2001). Compósitos magnéticos de óxidos metálicos podem atuar como nanosorbentes magnéticos e adsorver eficientemente hidrocarbonetos em corpos hídricos, permitindo sua separação magnética. Hoje o maior desafio está em desenvolver econômica e ambientalmente métodos de separação aceitável de meios reativos que podem ser implantados na alimentação de reatores para a purificação de água contaminada por misturas de (i) íons metálicos, (ii) solutos orgânicos e (iii) bactérias. No entanto, a utilização de nanomateriais como técnica de remediação, controle e monitoramento da qualidade de água ainda é pouco conhecida, fato que, segundo Tratnyek e Johnson (2006), pode acarretar riscos a saúde humana ou ao meio ambiente. A destinação ambiental e toxicidade de um material são questões críticas na seleção de materiais e projetos para purificação de água. Pouco ainda se sabe sobre o destino ambiental, transporte e toxicidade dos nanomateriais. Segundo Savage e Diallo (2005), nenhuma investigação sistemática da estabilidade hidrolítica, oxidativa, fotoquímica e biológica dos nanomateriais (como dendrímeros, nanopartículas carbonizadas, óxidos metálicos) em sistemas naturais e de engenharia ambiental foi publicada na literatura. De acordo com o artigo, medições in vitro e in vivo de toxicidade e biodistribuição tem sido realizadas em apoio à utilização do dendrímeros como reagentes de transfecção de DNA, agentes carreadores de contraste de íons metálicos para imagens de ressonância magnética, droga direcionadas e veículos de entrega de agentes terapêuticos e inibidores virais. Estes estudos globais sugerem que dendrímeros não tóxicos e biodegradáveis podem ser sintetizados através de uma seleção criteriosa dos blocos de construção de dendrímeros (por exemplo, grupos nucleares e terminais). Reconhecendo isso, alguns grupos adotaram a posição de 'precaução' de que aplicativos in situ de nanopartículas para correção devem ser proibidos, enquanto outros têm recomendado, com efeito, que pesquisa em todas as frentes deve prosseguir em paralelo. No entanto, este dilema de como (ou se) regulamentar a aplicação de nanopartículas para a remediação deve ser aliviada em breve, com os resultados de vários estudos em curso. Até então, avaliação de risco relativo aos pedidos in situ de nanopartículas na remediação continuará a basear-se em grande parte em extrapolações de considerações desenvolvidas a partir de estudos de contextos relacionados, mas potencialmente muito diferentes, onde as nanopartículas ocorrem no ambiente. 5. Referências AISSE, M. M. Padrões de Qualidade Ambiental: Discussão de Alguns Parâmetros Relacionados ao Lançamento de Efluentes Líquidos e a Qualidade dos Corpos Receptores, Rev. Sanare, v.8 n.8, p.39-49 Julho a Dezembro de 1997, Curitiba, PR. APBLETT, A. W., Al-FADUL, M. S. e TRAD, T., Removal of Petrochemical from Water Using Magnetic Filtration, In: Proceedings of the 8th International Environmental Petroleum Consortium, 2001, Oklahoma, Stillwater: Departament of Chemistry. BRANCO, S. M. Aspectos Institucionais e Legais do Controle da Poluição, in: Porto, R.L.L. e outros (Org.) Hidrologia Ambiental, São Paulo, Brasil: ABRH/EDUSP, 1992, pp. 349-373,. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 out 1988. BRASIL. Lei N° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federal do Brasil, Brasília, 31 de agosto de 1981. BRASIL. Lei N° 9.433, de 08 de Janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art, 21 da Constituição Federal e altera o art. 1 da Lei N° 8.001,de 13 de março de 1990. Diário Oficial da República Federal do Brasil, Brasília, 09 de janeiro de 1997. BRASIL. Resolução CONAMA N° 357, de 17 de março de 2005. Estabelece a Classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Diário Oficial da República Federal do Brasil, Brasília, 17 de março de 2005. QUINA, F. H.. Nanotecnologia e o Meio Ambiente: e Riscos. Perspectivas Quím. Nova, São Paulo, v. 27, n. 6, dezembro 2004. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0100-40422004000600031&lng=en&nrm=iso>. 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