RONDONÓPOLIS (MT): INTENSIFICAÇÃO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO EM BAIRRO NOBRE Josenilton Balbino de Melo Mestre em Geografia/PPGEO/UFMT [email protected] Sônia Regina Romancini (Orientadora) Professora do Departamento de Geografia da UFMT RESUMO Esse artigo é fruto da dissertação de mestrado intitulada “A verticalização em cidades médias: uma análise da cidade de Rondonópolis-MT”, apresentada e aprovada juntamente ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, no mês de setembro de 2013, tendo como objetivo analisar o processo de verticalização das construções na cidade de Rondonópolis-MT, principalmente no bairro da Vila Aurora, sendo considerado bairro nobre. Para isso se faz necessário entender o crescimento econômico e urbano que a cidade passou no decorrer dos últimos anos. Esse crescimento de forma mais acentuada se dá a partir da década de 1970, com a expansão da fronteira agrícola, pois nesse período a economia do município se baseava principalmente na pecuária extensiva e na cultura de grãos. A partir de meados da década de 1980, esse crescimento vem através da monocultura da soja. Paralelo a isso, o crescimento ocorre com o avanço e modernização da agricultura e da produção, após a instalação de diversas agroindústrias no município. Palavras chaves: Crescimento; urbanização; verticalização; Rondonópolis. INTRODUÇÃO Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado no ano de 2010, a cidade de Rondonópolis conta com uma população de 195.476 habitantes, onde cerca de apenas 5% dessa população não vive no meio urbano. Pode-se afirmar que durante toda sua história, Rondonópolis teve sua economia baseada no campo, tanto em aspectos voltados apenas à produção agrícola, como também para o setor do comércio e da prestação de serviços, sendo assim, o agronegócio se caracteriza como o grande responsável pelo rápido crescimento e desenvolvimento da cidade. A cidade recebe no atual momento grandes investimentos no desenvolvimento urbano, aplicados no setor imobiliário, investimentos esses oriundos principalmente do capital do agronegócio. Mas apesar de todo esse crescimento, seja ele apenas no aspecto urbano ou econômico, a cidade apresenta graves problemas sociais/urbanos, iguais de outros grandes e médios centros, vinculados principalmente pela ausência do poder público na forma de gerir, seja em planejar ou regulamentar o espaço urbano. ORIGEM E EVOLUÇÃO URBANA DE RONDONÓPOLIS-MT A origem do município de Rondonópolis se dá a partir da formação do “Povoado do Rio Vermelho”, após o ano de 1902 com a fixação de famílias procedentes de Goiás e Cuiabá, dentre outras localidades do Estado. Antes da formação desse povoado, segundo Nardes (1997, p. 33), “a região era, primitivamente habitada pelos índios bororo dos quais ainda hoje há remanescentes [...]”. Até a década de 1940, a cidade permaneceu em decadência, devido a problemas graves ligados a enchentes e doenças. Outra aspecto que vem a fortalecer esse período de decadência foi com relação ao distrito de Poxoréu, sendo elevado á categoria de município e se destacando economicamente através da atividade do garimpo, enquanto Rondonópolis ficava estagnada, deixando de ser distrito de Cuiabá, e passando a ser distrito de Poxoréu, devido a sua proximidade com este município. A retomada do crescimento de Rondonópolis se dá a partir do ano de 1947, à medida em que o município é inserido no contexto capitalista de produção como fronteira agrícola mato-grossense, resultado da política do sistema de colônias implantado pelo governo do Estado. Rondonópolis se destaca e é conhecido atualmente por suas terras férteis e por sua localização privilegiada, no entroncamento das rodovias BR 163 e BR 364, que ligam as regiões de norte a sul do país. A partir desse desenvolvimento econômico, Rondonópolis deixa de ser distrito de Poxoréu, sendo elevado à categoria de município. Conforme Nardes (1997, p. 33), “em 10 de dezembro de 1953, a Lei Estadual nº. 666, determinou sua emancipação político-administrativa sendo reconhecido, como município de Rondonópolis, em homenagem a Rondon”. Nas décadas de 1950 e 1960, o crescimento econômico de Rondonópolis se dá através do campo, enquanto produtor de alimentos e extensão do capital paulista. Nesse período destaca-se a força da mão-de-obra de migrantes mato-grossenses, nordestinos, paulistas, mineiros, japoneses e libaneses. Propriamente na década de 1960, Rondonópolis já tem uma estrutura urbana implantada de acordo com o dinamismo por que vinha passando. Durante esse período, foi definido e realizado o traçado das ruas centrais, com a implantação de serviços como o abastecimento de água e o calçamento das avenidas Marechal Rondon e Avenida Amazonas com paralelepípedos, principais avenidas da atual região central. Ainda na década de 1960, devido ao crescimento populacional que a cidade vinha passando, intensifica-se a produção de imóveis. No período da década de 1970 muitos loteamentos são criados na cidade, principalmente com o apoio do Banco Nacional de Habitação (BNH), que disponibiliza verbas para financiamento da casa própria, iniciando assim o processo de expansão da cidade que se acelera a partir da década de 1980 (NARDES, 1997). Segundo Demamann (2011, p. 80), “a cidade de Rondonópolis, com a expansão da malha urbana incorpora novas áreas parceladas ao território com a criação de novos loteamentos entremeados aos espaços vazios”. Com relação ao crescimento urbano do município, entre o período de 1970 e 1990, a cidade se expandiu para todas as direções, se destacando como o período de maior expansão física e populacional. Paralelo e responsável por esse crescimento seria resultado de Rondonópolis desenvolver o mais rápido processo de modernização do campo que se tenha visto na região Centro-Oeste, dando destaque à produção de soja e algodão, e também a pecuária de corte. Esse rápido crescimento e ocupação da área urbana da cidade, e o modo como se dá esse processo é destacado por Demamann a seguir: Portanto, a cidade denota uma rápida expansão da área construída, ampliando-se cada vez mais para a periferia e margens dos rios, gerando problemas relacionados aos vazios urbanos, exigindo a necessidade de investimentos no setor imobiliário e ampliação do transporte público (DEMAMANN, 2011, p. 80-81). Relacionado à ocupação de áreas localizadas na periferia da cidade e/ou nas margens dos rios, esse processo ocorria de maneira muito comum, pois nesse período era apenas necessário ocupar uma determinada área e, posteriormente, buscar a legalização junto à Prefeitura Municipal. Ressalta-se que, em muito casos, o poder público foi o incentivador dessas ocupações irregulares como forma de angariar votos nas eleições, sendo assim, o futuro loteamento seria legalizado. Como estratégia importante de valorização do solo urbano em Rondonópolis, merece destaque a área doada para a implantação do Campus Universitário de Rondonópolis (CUR), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no ano de 1976. Nota-se que foi um espaço destinado à implantação do campus muito distante do centro da cidade, e se mostrava em um local totalmente caracterizado por um enorme vazio urbano, sem nenhuma área edificada nas proximidades, apenas pequenas chácaras e o restante da área pertencia a apenas um proprietário fundiário e, atualmente, é o espaço onde se tem implantados diversos condomínios fechados horizontais e verticais. A partir da década de 1980, Rondonópolis passa a ser polo econômico da região e é classificado como segundo maior município do Estado em importância econômica, demográfica e urbana. Nesse período, se vê um grande aumento nas atividades do comércio e da prestação de serviços, sempre voltados a atender às necessidades do campo. Já na década de 1990, Rondonópolis projeta-se como “A Capital Nacional do Agronegócio”, ao mesmo tempo em que cresce o setor agroindustrial, decorrem daí o sucesso de feiras agrícolas como a Exposul e a Agrishow Cerrado. Já a partir do ano 2000, as regiões sul e leste da cidade de Rondonópolis começam a se destacar como de maior predominância para o crescimento urbano, se instalando nestes locais condomínios fechados horizontais e verticais, grandes loteamentos para a classe média e alta, além de conjuntos habitacionais. Estes últimos, porém, mais distantes da malha urbana, conforme afirma Demamann (2011, p. 146): O mercado imobiliário da cidade promove transformações por conta das iniciativas de empreendedores deste ramo, em função das alterações na estrutura urbana e de preços no solo urbano. As iniciativas de promotores imobiliários locais estão centradas no fato de que a cidade, a partir do final da década de 1990, já havia impulsionado as mudanças na forma de produção do espaço urbano, principalmente quanto à implementação dos loteamentos fechados. Apesar da grande quantidade de loteamentos aprovados na cidade, Rondonópolis possui uma grande reserva de imóveis, sendo que a partir dos dados levantados juntamente ao setor de cadastro imobiliário da Prefeitura Municipal (2013), foi possível levantar a quantidade de imóveis edificados e não edificados, sendo que 57,3% se caracterizam como imóveis prediais (possuem algum tipo de construção), e 42,7% na categoria de imóvel, ou seja, de maneira ociosa aguardando algum tipo de valorização (especulação imobiliária). VERTICALIZAÇÃO COMO FORMA DE EXPLORAÇÃO CAPITALISTA DO SOLO URBANO O processo de verticalização é entendido como um dos símbolos mais importantes da modernização urbana de uma cidade, coincide com profundas mudanças relacionadas aos aspectos social e cultural das moradias e ao estilo de vida tradicional das diversas classes sociais, sobretudo das classes média e alta. De modo geral, a chegada do primeiro prédio, é assim, comumente comemorada com muita vibração, mesmo em cidades médias e pequenas, onde a verticalização seria totalmente dispensável. Quanto maior o número de pavimento dos prédios, maior é o orgulho dos moradores da cidade. Em algumas regiões e países, observa-se até mesmo certa competição em torno de qual cidade constrói o prédio mais alto. No aspecto mundial, a verticalização surge de início principalmente nas grandes cidades, com o objetivo de suprir as necessidades de uso do solo urbano, defendendo a ideia de desenvolvimento e modernização. É empregada ao uso residencial como forma de prover as carências de moradia pela população, pois os locais já estariam edificados e adensados. Como característica do processo de verticalização, no Brasil não se dá de forma diferente, tem início nas metrópoles a partir da década de 1920, primeiramente surgindo nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, pois durante esse período eram os centros mais desenvolvidos, tanto no aspecto urbano como econômico do país. A partir da década de 1950, vai se expandindo principalmente nas Regiões Sudeste e Sul do país, e também nas cidades litorâneas do Nordeste brasileiro. Para Silva e Gomez (2007, s/p), [...] este processo denominado em geral de verticalização se destaca por ser considerado um elemento modernizador no espaço urbano e um marco revolucionário na paisagem urbana, responsável pela produção de novas morfologias e tendências de comportamento urbano. Essas transformações nas construções brasileiras surgem principalmente com o objetivo de mostrar o Brasil como um país moderno, pois saimos de uma economia agroexportadora para uma economia industrializada. Esse desenvolvimento industrial impõe ao país alterações e adaptações aos novos padrões e imagem das cidades brasileiras, principalmente com investimentos do governo para o surgimento de novas obras e edifícios, sempre com o objetivo de demonstrar ao mundo que o Brasil era um país em desenvolvimento, e não mais um país atrasado e subdesenvolvido. Todo esse processo, juntamente com as políticas do governo e ao capital empregado, resulta em profundas mudanças urbanas na estruturação e reestruturação das cidades brasileiras, surgindo aí grandes centros regionais. O aparecimento de novas construções, sejam elas horizontais ou verticais, surge como uma nova configuração do espaço urbano, ou seja, o que já era construído (o antigo) dá espaço ao novo (ao moderno). Sabe-se que a verticalização está ligada de forma direta com a metropolização das cidades, visa à busca pela reprodução do capital, tem efeito de sobrevalorização do solo urbano. Souza (1994) afirma que a verticalização constitui a identidade da metrópole. Para muitos estudiosos e pesquisadores, e também nesse artigo, a verticalização consiste em construções de edifícios a partir de quatro pavimentos/andares, independente do uso do elevador. Segundo Souza (1989), a verticalização é concebida como um processo de produção do espaço, caracterizando um estágio avançado de exploração capitalista do solo urbano, onde esse tipo de construção tem se expandido pelos continentes, surgindo especialmente no americano e atingindo diferentes estágios de desenvolvimento. No Brasil, verifica-se uma explosão desse processo como nunca visto em outro país, em especial nas construções voltadas para o setor habitacional, chegando a atingir não somente as cidades grandes, mas também muitas cidades médias e pequenas. A autora ressalta ainda que a construção de edifícios com finalidade de atender à demanda residencial são produzidos e rapidamente consumidos, ou seja, há uma grande demanda por esse tipo de imóvel. Sem dúvida, este signo metropolitano que é o processo de verticalização revela um fantástico processo de produção. A produção de edifícios, tal como se dá em nossos dias, revela uma estratégia de capital que, no caso brasileiro, é alimentada pela questão habitacional. Por serem uma habitação (ou mesmo, ainda que minoritariamente, voltados para os serviços), os edifícios são, imediatamente consumo (SOUZA, 1994, p. 147). O espaço urbano aparece como o lugar onde se concentram as atividades produtivas, dispondo de infraestrutura para a produção, circulação de mercadorias e de pessoas, garantindo as condições necessárias para o avanço do processo de acumulação. Como se sabe e de acordo com as diversas bibliografias consultadas nesse trabalho, as políticas de desenvolvimento empregadas pelos governos brasileiros sempre buscaram e buscam atender aos interesses de uma determinada classe social, ou seja, voltados sempre para atender os interesses da classe que detém o poder econômico, a fim de cada vez mais aferir uma maior obtenção de lucro e por conseguinte, uma maior acumulação de capital. O processo de verticalização é um dos elementos que contribuem para a (re) produção do espaço urbano nas cidades, pode-se verificar isso, pois com a verticalização das construções, temos uma multiplicação do solo urbano. Sob esse prisma, Mendes (1992, p. 30) afirma que: A verticalização é um processo intensivo de reprodução do solo urbano, oriundo de sua produção e apropriação de diferentes formas de capital, principalmente consubstanciado na forma de habitação, como é o caso do Brasil. Além da associação junto às inovações tecnológicas, que interferem no processo, alterando a paisagem urbana. A verticalização das construções, busca atender uma estratégia de interesse mútuo entre os diversos capitais existentes, dentre eles o imobiliário, o financeiro, o fundiário e o produtivo. O capital (re) organiza suas estratégias e promove, no espaço intraurbano a verticalização como aproveitamento de espaços vazios e (re) aproveitamento dos espaços mais valorizados. Sendo assim, o espaço urbano é resultado concreto das constantes inovações dos processos sociais de produção e reprodução do uso do solo, ou seja, resultante de conflitos sociais, das desigualdades e das contradições que nele se manifestam. Além da sociedade civil, tem-se como os principais agentes responsáveis pela produção do espaço urbano o setor privado e o Estado. Os agentes privados juntamente com o Estado são os grandes responsáveis pelo padrão de produção da habitação nas cidades em geral, ou da forma como o espaço urbano é ocupado no contexto residencial. O fato é que ao produzir a habitação em larga escala para o mercado e visando atingir algumas classes sociais, se produz também a expansão das cidades, valorizando o modo de vida urbano, atualmente com fortes influências do mundo nos lugares (BARBOSA, 2012, p. 13). Essa forma de acumulação e reprodução do capital a partir do espaço urbano resulta em significativos e profundos efeitos, pois como resultado, esse processo não se dá de forma igualitária, e sim desigual, gerando um processo excludente, restringindo sistematicamente a maioria da população ao acesso a bens e serviços que lhe são de direito (segregação espacial). O processo de verticalização em Rondonópolis segue a lógica de muitas outras cidades brasileiras, sendo implantado inicialmente nas áreas centrais da cidade, devido serem locais mais modernos e dotados de infraestrutura urbana, por consequência, locais mais valorizados. Primeiramente surgem com a função de serem destinados ao uso comercial, mas logo depois também voltados ao uso residencial. Demamann (2011) destaca o início da produção vertical em Rondonópolis, e sua importância como formadora da primeira centralidade urbana na cidade: Em Rondonópolis, o crescimento vertical começou no Centro Principal da cidade na segunda metade da década de 1970, cristalizando-se na década de 1980, associada à concentração do comércio e prestação de serviços ao longo das primeiras avenidas e ruas, consolidando a primeira centralidade urbana, ligada ao usos residencial, comercial e misto (DEMAMANN, 2011, p. 156). No atual momento, esse tipo de investimento em construção vertical tem saído das áreas centrais e buscado a implantação nas áreas circunvizinhas, voltado quase sempre para uso residencial. Sabe-se que o mercado dispõe dessa terra urbana como mercadoria, onde essa tem seu valor de uso e troca relacionados a diversos fatores, dentre eles localização, acessibilidade e infraestrutura. Segundo Rodrigues (2003, p. 20), [...] para morar é necessário ter capacidade de pagar por esta mercadoria não fracionável, que compreende a terra e a edificação, cujo preço depende também da localização em relação aos equipamentos coletivos e a infraestrutura existente nas proximidades da casa/terreno. A verticalização das cidades, com relação ao aspecto residencial, tem como característica ser um modelo burguês de moradia, pois é tido como simbolismo de poder econômico e de status social para uma determinada parcela da sociedade, ou seja, é uma forma de moradia segregadora, de acesso apenas a determinada parcela da população, geralmente a classe dominante, sendo em grande parte as pessoas que detém o poder político e/ou os meios de produção. Restando à classe de menor renda, os terrenos de menor valor, geralmente mal localizados e mais distantes das áreas centrais. A VERTICALIZAÇÃO NO BAIRRO VILA AURORA Na cidade de Rondonópolis, a grande e principal área de atração de investimento das construtoras e incorporadoras imobiliárias, é sem dúvida o bairro da Vila Aurora I, II e III, considerada área nobre da cidade com o valor dos terrenos muito elevados. Para Demamann (2011, p. 157): A partir de 1987, a verticalização na área urbana de Rondonópolis se cristaliza entre os bairros residenciais, primeiramente na Vila Aurora e, posteriormente, na Sagrada Família. [...] Acelerando-se nos últimos anos, impulsionados pela especulação imobiliária, por meio do uso residencial (2011, p. 157). A autora esclarece que, ainda na década de 1980, a verticalização atinge um dos bairros do entorno imediato do Centro Principal, o bairro Vila Aurora, que tem na proximidade com o centro, um fator importante na valorização para a implantação de novos empreendimentos em edifícios residenciais (DEMAMANN, 2011). Além do fator localização, este bairro vem se caracterizando nos últimos anos como a área de maior poder homogeneizador socioeconômico da cidade, atraindo diversos tipos de comércios, dentre eles a construção do Rondon Plaza Shopping, a instalação da Prefeitura Municipal, agências bancárias, prédios residenciais verticais de alto padrão, lojas de vendas de móveis luxuosos, supermercados, restaurantes, hotéis, e alguns loteamentos que são voltados para as classes média e alta, entre outros empreendimentos voltados para atender às necessidades destas classes sociais. Grande parte desses comércios está localizada na Avenida Lions Internacional, podendo caracterizar o bairro como uma nova centralidade em Rondonópolis, pois atualmente concentra e atende a diversas atividades econômicas. A construção do Rondon Plaza Shopping, que se instalou distante do centro principal, reforçou ainda mais a especulação imobiliária do seu entorno. No bairro da Vila Aurora, conforme Negri (2008, p. 119-120), “se constroem os prédios mais sofisticados para atender uma exigente classe alta que deseja segurança, morar em boa localização de fácil acesso ao centro da cidade e, também, status social”. Vale destacar a importância da implantação do Rondon Plaza Shopping, que modifica profundamente a estrutura urbana da cidade, pois é a partir daí que se estabelecem os maiores investimentos em construções verticais, e apresentam os prédios com maiores números de pavimentos e de maior padrão em sofisticação. Ao falar do processo de verticalização de Rondonópolis, Demamann (2011, p. 161) afirma que: Tal dinâmica nos revela que, na cidade de Rondonópolis, os empreendimentos requerem boa infraestrutura urbana, principalmente os condomínios verticais que estão localizados mais distantes do Centro Principal. A lógica do espaço urbano é reestruturar antigas áreas, criar novas áreas, redefinindo formas, funções e estruturas urbanas. Assim, nota-se que o bairro da Vila Aurora, além da área central, tornou-se o principal foco de atração do comércio em geral, através de quatro eixos principais que a ligam com o centro principal, as ruas Dom Pedro II, Barão do Rio Branco, Otávio Pitaluga e Fernando Corrêa da Costa, formando um cone de crescimento, transformando-se em canalizadores dessa mudança do comércio através da Avenida Lions Internacional. A construção do Rondon Plaza Shopping nessa área acentuou o foco de atração das classes média e alta para o local, portanto como já discorrido anteriormente, nota-se que há um deslocamento do comércio especializado para atender a essa parcela da população. Como fator decisivo ressalta-se o aspecto da localização, pois o bairro da Vila Aurora se localiza próximo ao centro da cidade, com ruas de rápido acesso. Atualmente é o principal locus de valorização e especulação imobiliária em Rondonópolis, sendo o local de maior velocidade no ritmo de verticalização voltado a atender às necessidades de segurança e status de uma determinada parcela da sociedade, ou seja, a que pode pagar, geralmente pessoas ligadas ao agronegócio. Uma característica importante que o bairro Vila Aurora passa a ter, é com relação à vida noturna em Rondonópolis, pois até o início da década de 1990, essa função era exercida pelo centro da cidade. O papel da Vila Aurora mudou, como já afirmado anteriormente, passa a concentrar bares, lanchonetes, boates, o próprio shopping Center, entre outros equipamentos. Para Negri (2008), outro aspecto importante é que o bairro da Vila Aurora juntamente com a área central de Rondonópolis, constitui um dos poucos bairros da cidade que possuem rede de esgoto instalada, o que atinge apenas 30% da malha urbana. Para que esse processo de verticalização que a cidade de Rondonópolis vem passando tenha o resultado de atingir o objetivo que é difundido pelos incorporadores imobiliários, o de progresso e modernização, se faz necessário que o poder público municipal assuma papel relevante, disciplinando e normatizando o processo através da legislação urbana. Na busca por se mostrar como uma cidade desenvolvida e moderna, o poder público muitas vezes se dobra a atender os interesses dos grupos que produzem esse espaço urbano, principalmente ao capital imobiliário, alterando assim leis e decretos que regulamentam esse tipo de construção na cidade. A verticalização em Rondonópolis é promovida pelo poder público desde a década de 1970, através da lei n. 471, do dia 13 de abril de 1976, onde os terrenos localizados no perímetro urbano de Rondonópolis foram regulamentados para a construção de moradias pelo SFH, favorecidos por financiamentos disponibilizados pelo BNH. Nesse mesmo ano, no dia 15 de novembro é promulgada a lei n. 504, que concede isenção predial no prazo de cinco anos aos proprietários que construíssem edifícios de no mínimo cinco pavimentos (DEMAMANN, 2011). Corroborando com Demamann (2011), Negri (2008, p. 56) relata que: Essas leis municipais mostram que ao mesmo tempo em que o Estado busca regularizar o crescimento da cidade através de instrumentos legalmente constituídos como o Plano Diretor, contraditoriamente, cria mecanismos para aumentar a exploração do parcelamento da cidade, inclusive incentivando a verticalização num período que a cidade estava sob um crescimento horizontal ainda incipiente. Segundo Sette (1996), comparando o crescimento da malha urbana de Rondonópolis com relação ao crescimento populacional, a cidade teria capacidade para atender à demanda por moradia para uma população de aproximadamente 500 mil habitantes, pois até esse período, 60% dos lotes se mostravam de maneira ociosa, o que deixa claro que para a cidade a verticalização de suas construções não é uma necessidade social, e sim, é tida mais como um status de poder para determinada parcela da população e como forma de atender a grupos restritos. Com relação ao trabalho de campo realizado, com o objetivo de espacializar as construções verticais no bairro Vila Aurora, pode-se afirmar que grande parte dos edifícios localizados no bairro exercem a função residencial (exceto três edifícios), se destacando o grande número de edifícios com quatro pavimentos. Em comparação com os dados levantados por Nardes (1997), a autora registrou apenas nove edifícios acima de quatro pavimentos, enquanto que nesse trabalho foi levantando um total de 56 edifícios com essas características. Um aspecto importante que vale ser destacado é com relação às mudanças na legislação urbana, onde no Plano Diretor do ano de 1994 proibia a verticalização em determinados setores do bairro. Essa lei limitando a construção do número de pavimentos existia em decorrência da pressão da população, pois o bairro se caracteriza como um bairro nobre, sendo assim, com pessoas de renda mais elevada, onde estas possuem casas com as mais diversas estruturas de lazer, como piscina, áreas de confraternização, e defendiam a ideia de que com a construção de prédios elevados no bairro, perderiam sua privacidade. Mas apesar de todos os apelos de parte da população moradora na Vila Aurora, usou-se como favorável para amplas discussões na Câmara de Vereadores de Rondonópolis, o fator de que em parte do bairro a verticalização era permitida, e no Plano Diretor do ano de 2006, essa lei foi derrubada, sendo assim, começou a subir o número de pavimentos dos edifícios. Outro fator importante é com relação ao valor dos terrenos, sendo muito valorizados, o que incentivou e tornou favorável e compensatório a verticalização. O grande número de edifícios nessa região pode ser explicado pela forte centralidade que o Rondon Plaza Shopping exerce, se destacando os empreendimentos instalados na frente do shopping a partir de sua inauguração, se caracterizando como os edifícios mais altos da cidade, com alto padrão de luxuosidade e de modernidade, dentre eles o Residencial Rondon (17 pavimentos), Residencial Taiamã (14 pavimentos), Edifício Solar do Cerrado (22 pavimentos) e Residencial Aurora Boreal (10 pavimentos). Com relação ao trabalho de campo, ao buscar dados das construções juntamente ao setor de cadastro da Prefeitura Municipal, pode-se observar que a maioria dos edifícios de quatro pavimentos, as obras foram realizadas por construtoras particulares, ou seja, geralmente o proprietário do terreno contratou um engenheiro e também um mestre de obras para a execução da construção. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se concluir que Rondonópolis, apesar do grande vazio urbano ainda existente, tem intensificado cada vez mais o processo de verticalização de suas construções. Não só com relação a esse tipo de construção, mas outro problema existente, a cada novo plano diretor estabelecido, e através de novas leis sancionadas, cada vez mais tem-se expandido a área urbana do município atendendo, especialmente, aos interesses dos empreendedores imobiliários. O que se sabe com o processo de verticalização urbana, é que a lucratividade dos agentes imobiliários tem aumentado de forma acentuada, tendo em vista que o terreno agora pode ser multiplicado, abrangendo várias salas comerciais e apartamentos para moradia, isso em um mesmo espaço. Além do fato de que os custos por terrenos têm elevado os preços de forma progressiva, e cada vez mais rápida essa valorização do solo urbano através da especulação imobiliária, a cidade de Rondonópolis sofre dos mesmos problemas de outras cidades brasileiras, ligados à falta de habitação, segregação espacial, periferização da população, pois acaba ocasionando cada vez mais na expulsão das classes de baixa renda em busca de áreas mais baratas, ou seja, para a periferia. No aspecto da verticalização das construções em Rondonópolis, um elemento importante no decorrer da urbanização da cidade é a construção do Rondon Plaza Shopping, que proporciona um novo arranjo espacial, se consolidando em uma nova centralidade para a cidade, o que tem mobilizado a instalação de diversos equipamentos urbanos no seu entorno, e tem se caracterizado como um mecanismo de produto, meio e condição para a reprodução capitalista. Assim, podemos afirmar que as incorporadoras imobiliárias juntamente ao poder público, cada vez mais atentem aos interesses de determinada parcela da sociedade, a classe dominante, e consequentemente são co-autores/responsáveis pelo aumento da segregação espacial em Rondonópolis. REFERÊNCIAS BARBOSA, Luciana Antunes. A produção e o consumo do espaço da habitação no setor imobiliário em Limeira-SP: de 1980-2000. Rio Claro-SP: UNESP: 2012. (Tese de Doutorado). DEMAMANN, Mirian Terezinha Mundt. Rondonópolis – MT: campo, cidade e centralidades. São Paulo-SP: USP, 2011. (Tese de Doutorado). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acessado em: 25/06/2011. MENDES, Cesar Miranda. O edifício no jardim, um plano destruído. A verticalização de Maringá. São Paulo-SP: USP, 1992. (Tese de Doutorado). NARDES, Antonia Marilia Medeiros. Rondonópolis/MT: reconstruída. Brasília, UnB, 1997. (Dissertação de Mestrado). sua espacialidade NEGRI, Silvio Moisés. O processo de segregação sócio-espacial no contexto do desenvolvimento econômico da cidade de Rondonópolis – MT. Rio Claro: UNESP, 2008. (Tese de Doutorado). RODRIGUES, Arlete Moysés. Moradia nas cidades brasileiras. São Paulo: Contexto, 2003. SETTE, Denise Maria. O clima urbano de Rondonópolis. São Paulo-SP: USP, 1996. (Dissertação de Mestrado). SILVA, Alderlan Wellington de Oliveira; GOMES, Edvânia Tôrres Aguiar. Processo de verticalização: uma (r)evolução na paisagem urbana da cidade de Caruaru-PE. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/senior/RESUMOS/resumo_1749.html Acessado em: 04 ago. 2009. SOUZA, Maria Adélia Aparecida de. A identidade da metrópole: a verticalização em São Paulo. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1994. ______. A identidade da metrópole: a verticalização em São Paulo. São Paulo-SP: USP, 1989. (Tese de Livre-Docência).