RONDONÓPOLIS (MT): INTENSIFICAÇÃO DO PROCESSO DE
VERTICALIZAÇÃO EM BAIRRO NOBRE
Josenilton Balbino de Melo
Mestre em Geografia/PPGEO/UFMT
[email protected]
Sônia Regina Romancini (Orientadora)
Professora do Departamento de Geografia da UFMT
RESUMO
Esse artigo é fruto da dissertação de mestrado intitulada “A verticalização em
cidades médias: uma análise da cidade de Rondonópolis-MT”, apresentada e
aprovada juntamente ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal de Mato Grosso, no mês de setembro de 2013, tendo como
objetivo analisar o processo de verticalização das construções na cidade de
Rondonópolis-MT, principalmente no bairro da Vila Aurora, sendo considerado bairro
nobre. Para isso se faz necessário entender o crescimento econômico e urbano que
a cidade passou no decorrer dos últimos anos. Esse crescimento de forma mais
acentuada se dá a partir da década de 1970, com a expansão da fronteira agrícola,
pois nesse período a economia do município se baseava principalmente na pecuária
extensiva e na cultura de grãos. A partir de meados da década de 1980, esse
crescimento vem através da monocultura da soja. Paralelo a isso, o crescimento
ocorre com o avanço e modernização da agricultura e da produção, após a
instalação de diversas agroindústrias no município.
Palavras chaves: Crescimento; urbanização; verticalização; Rondonópolis.
INTRODUÇÃO
Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) realizado no ano de 2010, a cidade de Rondonópolis conta com uma
população de 195.476 habitantes, onde cerca de apenas 5% dessa população não
vive no meio urbano. Pode-se afirmar que durante toda sua história, Rondonópolis
teve sua economia baseada no campo, tanto em aspectos voltados apenas à
produção agrícola, como também para o setor do comércio e da prestação de
serviços, sendo assim, o agronegócio se caracteriza como o grande responsável
pelo rápido crescimento e desenvolvimento da cidade.
A
cidade
recebe
no
atual
momento
grandes
investimentos
no
desenvolvimento urbano, aplicados no setor imobiliário, investimentos esses
oriundos principalmente do capital do agronegócio. Mas apesar de todo esse
crescimento, seja ele apenas no aspecto urbano ou econômico, a cidade apresenta
graves problemas sociais/urbanos, iguais de outros grandes e médios centros,
vinculados principalmente pela ausência do poder público na forma de gerir, seja em
planejar ou regulamentar o espaço urbano.
ORIGEM E EVOLUÇÃO URBANA DE RONDONÓPOLIS-MT
A origem do município de Rondonópolis se dá a partir da formação do
“Povoado do Rio Vermelho”, após o ano de 1902 com a fixação de famílias
procedentes de Goiás e Cuiabá, dentre outras localidades do Estado.
Antes da formação desse povoado, segundo Nardes (1997, p. 33), “a região
era, primitivamente habitada pelos índios bororo dos quais ainda hoje há
remanescentes [...]”.
Até a década de 1940, a cidade permaneceu em decadência, devido a
problemas graves ligados a enchentes e doenças. Outra aspecto que vem a
fortalecer esse período de decadência foi com relação ao distrito de Poxoréu, sendo
elevado á categoria de município e se destacando economicamente através da
atividade do garimpo, enquanto Rondonópolis ficava estagnada, deixando de ser
distrito de Cuiabá, e passando a ser distrito de Poxoréu, devido a sua proximidade
com este município.
A retomada do crescimento de Rondonópolis se dá a partir do ano de 1947,
à medida em que o município é inserido no contexto capitalista de produção como
fronteira agrícola mato-grossense, resultado da política do sistema de colônias
implantado pelo governo do Estado. Rondonópolis se destaca e é conhecido
atualmente por suas terras férteis e por sua localização privilegiada, no
entroncamento das rodovias BR 163 e BR 364, que ligam as regiões de norte a sul
do país. A partir desse desenvolvimento econômico, Rondonópolis deixa de ser
distrito de Poxoréu, sendo elevado à categoria de município.
Conforme Nardes (1997, p. 33), “em 10 de dezembro de 1953, a Lei
Estadual nº. 666, determinou sua emancipação político-administrativa sendo
reconhecido, como município de Rondonópolis, em homenagem a Rondon”.
Nas décadas de 1950 e 1960, o crescimento econômico de Rondonópolis se
dá através do campo, enquanto produtor de alimentos e extensão do capital paulista.
Nesse período destaca-se a força da mão-de-obra de migrantes mato-grossenses,
nordestinos, paulistas, mineiros, japoneses e libaneses. Propriamente na década de
1960, Rondonópolis já tem uma estrutura urbana implantada de acordo com o
dinamismo por que vinha passando. Durante esse período, foi definido e realizado o
traçado das ruas centrais, com a implantação de serviços como o abastecimento de
água e o calçamento das avenidas Marechal Rondon e Avenida Amazonas com
paralelepípedos, principais avenidas da atual região central.
Ainda na década de 1960, devido ao crescimento populacional que a cidade
vinha passando, intensifica-se a produção de imóveis. No período da década de
1970 muitos loteamentos são criados na cidade, principalmente com o apoio do
Banco Nacional de Habitação (BNH), que disponibiliza verbas para financiamento da
casa própria, iniciando assim o processo de expansão da cidade que se acelera a
partir da década de 1980 (NARDES, 1997).
Segundo Demamann (2011, p. 80), “a cidade de Rondonópolis, com a
expansão da malha urbana incorpora novas áreas parceladas ao território com a
criação de novos loteamentos entremeados aos espaços vazios”.
Com relação ao crescimento urbano do município, entre o período de 1970 e
1990, a cidade se expandiu para todas as direções, se destacando como o período
de maior expansão física e populacional. Paralelo e responsável por esse
crescimento seria resultado de Rondonópolis desenvolver o mais rápido processo de
modernização do campo que se tenha visto na região Centro-Oeste, dando
destaque à produção de soja e algodão, e também a pecuária de corte. Esse rápido
crescimento e ocupação da área urbana da cidade, e o modo como se dá esse
processo é destacado por Demamann a seguir:
Portanto, a cidade denota uma rápida expansão da área construída,
ampliando-se cada vez mais para a periferia e margens dos rios,
gerando problemas relacionados aos vazios urbanos, exigindo a
necessidade de investimentos no setor imobiliário e ampliação do
transporte público (DEMAMANN, 2011, p. 80-81).
Relacionado à ocupação de áreas localizadas na periferia da cidade e/ou
nas margens dos rios, esse processo ocorria de maneira muito comum, pois nesse
período era apenas necessário ocupar uma determinada área e, posteriormente,
buscar a legalização junto à Prefeitura Municipal. Ressalta-se que, em muito casos,
o poder público foi o incentivador dessas ocupações irregulares como forma de
angariar votos nas eleições, sendo assim, o futuro loteamento seria legalizado.
Como
estratégia
importante
de
valorização
do
solo
urbano
em
Rondonópolis, merece destaque a área doada para a implantação do Campus
Universitário de Rondonópolis (CUR), da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT), no ano de 1976. Nota-se que foi um espaço destinado à implantação do
campus muito distante do centro da cidade, e se mostrava em um local totalmente
caracterizado por um enorme vazio urbano, sem nenhuma área edificada nas
proximidades, apenas pequenas chácaras e o restante da área pertencia a apenas
um proprietário fundiário e, atualmente, é o espaço onde se tem implantados
diversos condomínios fechados horizontais e verticais.
A partir da década de 1980, Rondonópolis passa a ser polo econômico da
região e é classificado como segundo maior município do Estado em importância
econômica, demográfica e urbana. Nesse período, se vê um grande aumento nas
atividades do comércio e da prestação de serviços, sempre voltados a atender às
necessidades do campo.
Já na década de 1990, Rondonópolis projeta-se como “A Capital Nacional do
Agronegócio”, ao mesmo tempo em que cresce o setor agroindustrial, decorrem daí
o sucesso de feiras agrícolas como a Exposul e a Agrishow Cerrado.
Já a partir do ano 2000, as regiões sul e leste da cidade de Rondonópolis
começam a se destacar como de maior predominância para o crescimento urbano,
se instalando nestes locais condomínios fechados horizontais e verticais, grandes
loteamentos para a classe média e alta, além de conjuntos habitacionais. Estes
últimos, porém, mais distantes da malha urbana, conforme afirma Demamann (2011,
p. 146):
O mercado imobiliário da cidade promove transformações por conta
das iniciativas de empreendedores deste ramo, em função das
alterações na estrutura urbana e de preços no solo urbano. As
iniciativas de promotores imobiliários locais estão centradas no fato
de que a cidade, a partir do final da década de 1990, já havia
impulsionado as mudanças na forma de produção do espaço urbano,
principalmente quanto à implementação dos loteamentos fechados.
Apesar da grande quantidade de loteamentos aprovados na cidade,
Rondonópolis possui uma grande reserva de imóveis, sendo que a partir dos dados
levantados juntamente ao setor de cadastro imobiliário da Prefeitura Municipal
(2013), foi possível levantar a quantidade de imóveis edificados e não edificados,
sendo que 57,3% se caracterizam como imóveis prediais (possuem algum tipo de
construção), e 42,7% na categoria de imóvel, ou seja, de maneira ociosa
aguardando algum tipo de valorização (especulação imobiliária).
VERTICALIZAÇÃO COMO FORMA DE EXPLORAÇÃO CAPITALISTA DO SOLO
URBANO
O processo de verticalização é entendido como um dos símbolos mais
importantes da modernização urbana de uma cidade, coincide com profundas
mudanças relacionadas aos aspectos social e cultural das moradias e ao estilo de
vida tradicional das diversas classes sociais, sobretudo das classes média e alta. De
modo geral, a chegada do primeiro prédio, é assim, comumente comemorada com
muita vibração, mesmo em cidades médias e pequenas, onde a verticalização seria
totalmente dispensável. Quanto maior o número de pavimento dos prédios, maior é
o orgulho dos moradores da cidade. Em algumas regiões e países, observa-se até
mesmo certa competição em torno de qual cidade constrói o prédio mais alto.
No aspecto mundial, a verticalização surge de início principalmente nas
grandes cidades, com o objetivo de suprir as necessidades de uso do solo urbano,
defendendo a ideia de desenvolvimento e modernização. É empregada ao uso
residencial como forma de prover as carências de moradia pela população, pois os
locais já estariam edificados e adensados.
Como característica do processo de verticalização, no Brasil não se dá de
forma diferente, tem início nas metrópoles a partir da década de 1920,
primeiramente surgindo nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, pois durante
esse período eram os centros mais desenvolvidos, tanto no aspecto urbano como
econômico do país. A partir da década de 1950, vai se expandindo principalmente
nas Regiões Sudeste e Sul do país, e também nas cidades litorâneas do Nordeste
brasileiro.
Para Silva e Gomez (2007, s/p),
[...] este processo denominado em geral de verticalização se destaca
por ser considerado um elemento modernizador no espaço urbano e
um marco revolucionário na paisagem urbana, responsável pela
produção de novas morfologias e tendências de comportamento
urbano.
Essas transformações nas construções brasileiras surgem principalmente
com o objetivo de mostrar o Brasil como um país moderno, pois saimos de uma
economia
agroexportadora
para
uma
economia
industrializada.
Esse
desenvolvimento industrial impõe ao país alterações e adaptações aos novos
padrões e imagem das cidades brasileiras, principalmente com investimentos do
governo para o surgimento de novas obras e edifícios, sempre com o objetivo de
demonstrar ao mundo que o Brasil era um país em desenvolvimento, e não mais um
país atrasado e subdesenvolvido. Todo esse processo, juntamente com as políticas
do governo e ao capital empregado, resulta em profundas mudanças urbanas na
estruturação e reestruturação das cidades brasileiras, surgindo aí grandes centros
regionais.
O aparecimento de novas construções, sejam elas horizontais ou verticais,
surge como uma nova configuração do espaço urbano, ou seja, o que já era
construído (o antigo) dá espaço ao novo (ao moderno).
Sabe-se que a verticalização está ligada de forma direta com a
metropolização das cidades, visa à busca pela reprodução do capital, tem efeito de
sobrevalorização do solo urbano. Souza (1994) afirma que a verticalização constitui
a identidade da metrópole.
Para muitos estudiosos e pesquisadores, e também nesse artigo, a
verticalização
consiste
em
construções
de
edifícios
a
partir
de
quatro
pavimentos/andares, independente do uso do elevador.
Segundo Souza (1989), a verticalização é concebida como um processo de
produção do espaço, caracterizando um estágio avançado de exploração capitalista
do solo urbano, onde esse tipo de construção tem se expandido pelos continentes,
surgindo especialmente no americano e atingindo diferentes estágios de
desenvolvimento. No Brasil, verifica-se uma explosão desse processo como nunca
visto em outro país, em especial nas construções voltadas para o setor habitacional,
chegando a atingir não somente as cidades grandes, mas também muitas cidades
médias e pequenas.
A autora ressalta ainda que a construção de edifícios com finalidade de
atender à demanda residencial são produzidos e rapidamente consumidos, ou seja,
há uma grande demanda por esse tipo de imóvel.
Sem dúvida, este signo metropolitano que é o processo de
verticalização revela um fantástico processo de produção. A
produção de edifícios, tal como se dá em nossos dias, revela uma
estratégia de capital que, no caso brasileiro, é alimentada pela
questão habitacional. Por serem uma habitação (ou mesmo, ainda
que minoritariamente, voltados para os serviços), os edifícios são,
imediatamente consumo (SOUZA, 1994, p. 147).
O espaço urbano aparece como o lugar onde se concentram as atividades
produtivas, dispondo de infraestrutura para a produção, circulação de mercadorias e
de pessoas, garantindo as condições necessárias para o avanço do processo de
acumulação. Como se sabe e de acordo com as diversas bibliografias consultadas
nesse trabalho, as políticas de desenvolvimento empregadas pelos governos
brasileiros sempre buscaram e buscam atender aos interesses de uma determinada
classe social, ou seja, voltados sempre para atender os interesses da classe que
detém o poder econômico, a fim de cada vez mais aferir uma maior obtenção de
lucro e por conseguinte, uma maior acumulação de capital.
O processo de verticalização é um dos elementos que contribuem para a (re)
produção do espaço urbano nas cidades, pode-se verificar isso, pois com a
verticalização das construções, temos uma multiplicação do solo urbano. Sob esse
prisma, Mendes (1992, p. 30) afirma que:
A verticalização é um processo intensivo de reprodução do solo
urbano, oriundo de sua produção e apropriação de diferentes formas
de capital, principalmente consubstanciado na forma de habitação,
como é o caso do Brasil. Além da associação junto às inovações
tecnológicas, que interferem no processo, alterando a paisagem
urbana.
A verticalização das construções, busca atender uma estratégia de interesse
mútuo entre os diversos capitais existentes, dentre eles o imobiliário, o financeiro, o
fundiário e o produtivo. O capital (re) organiza suas estratégias e promove, no
espaço intraurbano a verticalização como aproveitamento de espaços vazios e (re)
aproveitamento dos espaços mais valorizados.
Sendo assim, o espaço urbano é resultado concreto das constantes
inovações dos processos sociais de produção e reprodução do uso do solo, ou seja,
resultante de conflitos sociais, das desigualdades e das contradições que nele se
manifestam. Além da sociedade civil, tem-se como os principais agentes
responsáveis pela produção do espaço urbano o setor privado e o Estado.
Os agentes privados juntamente com o Estado são os grandes
responsáveis pelo padrão de produção da habitação nas cidades em
geral, ou da forma como o espaço urbano é ocupado no contexto
residencial. O fato é que ao produzir a habitação em larga escala
para o mercado e visando atingir algumas classes sociais, se produz
também a expansão das cidades, valorizando o modo de vida
urbano, atualmente com fortes influências do mundo nos lugares
(BARBOSA, 2012, p. 13).
Essa forma de acumulação e reprodução do capital a partir do espaço
urbano resulta em significativos e profundos efeitos, pois como resultado, esse
processo não se dá de forma igualitária, e sim desigual, gerando um processo
excludente, restringindo sistematicamente a maioria da população ao acesso a bens
e serviços que lhe são de direito (segregação espacial).
O processo de verticalização em Rondonópolis segue a lógica de muitas
outras cidades brasileiras, sendo implantado inicialmente nas áreas centrais da
cidade, devido serem locais mais modernos e dotados de infraestrutura urbana, por
consequência, locais mais valorizados. Primeiramente surgem com a função de
serem destinados ao uso comercial, mas logo depois também voltados ao uso
residencial. Demamann (2011) destaca o início da produção vertical em
Rondonópolis, e sua importância como formadora da primeira centralidade urbana
na cidade:
Em Rondonópolis, o crescimento vertical começou no Centro
Principal da cidade na segunda metade da década de 1970,
cristalizando-se na década de 1980, associada à concentração do
comércio e prestação de serviços ao longo das primeiras avenidas e
ruas, consolidando a primeira centralidade urbana, ligada ao usos
residencial, comercial e misto (DEMAMANN, 2011, p. 156).
No atual momento, esse tipo de investimento em construção vertical tem
saído das áreas centrais e buscado a implantação nas áreas circunvizinhas, voltado
quase sempre para uso residencial. Sabe-se que o mercado dispõe dessa terra
urbana como mercadoria, onde essa tem seu valor de uso e troca relacionados a
diversos fatores, dentre eles localização, acessibilidade e infraestrutura.
Segundo Rodrigues (2003, p. 20),
[...] para morar é necessário ter capacidade de pagar por esta
mercadoria não fracionável, que compreende a terra e a edificação,
cujo preço depende também da localização em relação aos
equipamentos coletivos e a infraestrutura existente nas proximidades
da casa/terreno.
A verticalização das cidades, com relação ao aspecto residencial, tem como
característica ser um modelo burguês de moradia, pois é tido como simbolismo de
poder econômico e de status social para uma determinada parcela da sociedade, ou
seja, é uma forma de moradia segregadora, de acesso apenas a determinada
parcela da população, geralmente a classe dominante, sendo em grande parte as
pessoas que detém o poder político e/ou os meios de produção. Restando à classe
de menor renda, os terrenos de menor valor, geralmente mal localizados e mais
distantes das áreas centrais.
A VERTICALIZAÇÃO NO BAIRRO VILA AURORA
Na cidade de Rondonópolis, a grande e principal área de atração de
investimento das construtoras e incorporadoras imobiliárias, é sem dúvida o bairro
da Vila Aurora I, II e III, considerada área nobre da cidade com o valor dos terrenos
muito elevados. Para Demamann (2011, p. 157):
A partir de 1987, a verticalização na área urbana de Rondonópolis se
cristaliza entre os bairros residenciais, primeiramente na Vila Aurora
e, posteriormente, na Sagrada Família. [...] Acelerando-se nos
últimos anos, impulsionados pela especulação imobiliária, por meio
do uso residencial (2011, p. 157).
A autora esclarece que, ainda na década de 1980, a verticalização atinge um
dos bairros do entorno imediato do Centro Principal, o bairro Vila Aurora, que tem na
proximidade com o centro, um fator importante na valorização para a implantação de
novos empreendimentos em edifícios residenciais (DEMAMANN, 2011).
Além do fator localização, este bairro vem se caracterizando nos últimos
anos como a área de maior poder homogeneizador socioeconômico da cidade,
atraindo diversos tipos de comércios, dentre eles a construção do Rondon Plaza
Shopping, a instalação da Prefeitura Municipal, agências bancárias, prédios
residenciais verticais de alto padrão, lojas de vendas de móveis luxuosos,
supermercados, restaurantes, hotéis, e alguns loteamentos que são voltados para as
classes média e alta, entre outros empreendimentos voltados para atender às
necessidades destas classes sociais.
Grande parte desses comércios está localizada na Avenida Lions
Internacional, podendo caracterizar o bairro como uma nova centralidade em
Rondonópolis, pois atualmente concentra e atende a diversas atividades
econômicas. A construção do Rondon Plaza Shopping, que se instalou distante do
centro principal, reforçou ainda mais a especulação imobiliária do seu entorno.
No bairro da Vila Aurora, conforme Negri (2008, p. 119-120), “se constroem
os prédios mais sofisticados para atender uma exigente classe alta que deseja
segurança, morar em boa localização de fácil acesso ao centro da cidade e,
também, status social”. Vale destacar a importância da implantação do Rondon
Plaza Shopping, que modifica profundamente a estrutura urbana da cidade, pois é a
partir daí que se estabelecem os maiores investimentos em construções verticais, e
apresentam os prédios com maiores números de pavimentos e de maior padrão em
sofisticação.
Ao falar do processo de verticalização de Rondonópolis, Demamann (2011,
p. 161) afirma que:
Tal dinâmica nos revela que, na cidade de Rondonópolis, os
empreendimentos
requerem
boa
infraestrutura
urbana,
principalmente os condomínios verticais que estão localizados mais
distantes do Centro Principal. A lógica do espaço urbano é
reestruturar antigas áreas, criar novas áreas, redefinindo formas,
funções e estruturas urbanas.
Assim, nota-se que o bairro da Vila Aurora, além da área central, tornou-se o
principal foco de atração do comércio em geral, através de quatro eixos principais
que a ligam com o centro principal, as ruas Dom Pedro II, Barão do Rio Branco,
Otávio Pitaluga e Fernando Corrêa da Costa, formando um cone de crescimento,
transformando-se em canalizadores dessa mudança do comércio através da
Avenida Lions Internacional. A construção do Rondon Plaza Shopping nessa área
acentuou o foco de atração das classes média e alta para o local, portanto como já
discorrido
anteriormente,
nota-se
que
há
um
deslocamento
do
comércio
especializado para atender a essa parcela da população.
Como fator decisivo ressalta-se o aspecto da localização, pois o bairro da
Vila Aurora se localiza próximo ao centro da cidade, com ruas de rápido acesso.
Atualmente é o principal locus de valorização e especulação imobiliária em
Rondonópolis, sendo o local de maior velocidade no ritmo de verticalização voltado a
atender às necessidades de segurança e status de uma determinada parcela da
sociedade, ou seja, a que pode pagar, geralmente pessoas ligadas ao agronegócio.
Uma característica importante que o bairro Vila Aurora passa a ter, é com
relação à vida noturna em Rondonópolis, pois até o início da década de 1990, essa
função era exercida pelo centro da cidade. O papel da Vila Aurora mudou, como já
afirmado anteriormente, passa a concentrar bares, lanchonetes, boates, o próprio
shopping Center, entre outros equipamentos.
Para Negri (2008), outro aspecto importante é que o bairro da Vila Aurora
juntamente com a área central de Rondonópolis, constitui um dos poucos bairros da
cidade que possuem rede de esgoto instalada, o que atinge apenas 30% da malha
urbana.
Para que esse processo de verticalização que a cidade de Rondonópolis
vem passando tenha o resultado de atingir o objetivo que é difundido pelos
incorporadores imobiliários, o de progresso e modernização, se faz necessário que o
poder público municipal assuma papel relevante, disciplinando e normatizando o
processo através da legislação urbana.
Na busca por se mostrar como uma cidade desenvolvida e moderna, o poder
público muitas vezes se dobra a atender os interesses dos grupos que produzem
esse espaço urbano, principalmente ao capital imobiliário, alterando assim leis e
decretos que regulamentam esse tipo de construção na cidade. A verticalização em
Rondonópolis é promovida pelo poder público desde a década de 1970, através da
lei n. 471, do dia 13 de abril de 1976, onde os terrenos localizados no perímetro
urbano de Rondonópolis foram regulamentados para a construção de moradias pelo
SFH, favorecidos por financiamentos disponibilizados pelo BNH.
Nesse mesmo ano, no dia 15 de novembro é promulgada a lei n. 504, que
concede isenção predial no prazo de cinco anos aos proprietários que construíssem
edifícios de no mínimo cinco pavimentos (DEMAMANN, 2011).
Corroborando com Demamann (2011), Negri (2008, p. 56) relata que:
Essas leis municipais mostram que ao mesmo tempo em que o
Estado busca regularizar o crescimento da cidade através de
instrumentos legalmente constituídos como o Plano Diretor,
contraditoriamente, cria mecanismos para aumentar a exploração do
parcelamento da cidade, inclusive incentivando a verticalização num
período que a cidade estava sob um crescimento horizontal ainda
incipiente.
Segundo Sette (1996), comparando o crescimento da malha urbana de
Rondonópolis com relação ao crescimento populacional, a cidade teria capacidade
para atender à demanda por moradia para uma população de aproximadamente 500
mil habitantes, pois até esse período, 60% dos lotes se mostravam de maneira
ociosa, o que deixa claro que para a cidade a verticalização de suas construções
não é uma necessidade social, e sim, é tida mais como um status de poder para
determinada parcela da população e como forma de atender a grupos restritos.
Com relação ao trabalho de campo realizado, com o objetivo de espacializar
as construções verticais no bairro Vila Aurora, pode-se afirmar que grande parte dos
edifícios localizados no bairro exercem a função residencial (exceto três edifícios),
se destacando o grande número de edifícios com quatro pavimentos. Em
comparação com os dados levantados por Nardes (1997), a autora registrou apenas
nove edifícios acima de quatro pavimentos, enquanto que nesse trabalho foi
levantando um total de 56 edifícios com essas características.
Um aspecto importante que vale ser destacado é com relação às mudanças
na legislação urbana, onde no Plano Diretor do ano de 1994 proibia a verticalização
em determinados setores do bairro. Essa lei limitando a construção do número de
pavimentos existia em decorrência da pressão da população, pois o bairro se
caracteriza como um bairro nobre, sendo assim, com pessoas de renda mais
elevada, onde estas possuem casas com as mais diversas estruturas de lazer, como
piscina, áreas de confraternização, e defendiam a ideia de que com a construção de
prédios elevados no bairro, perderiam sua privacidade.
Mas apesar de todos os apelos de parte da população moradora na Vila
Aurora, usou-se como favorável para amplas discussões na Câmara de Vereadores
de Rondonópolis, o fator de que em parte do bairro a verticalização era permitida, e
no Plano Diretor do ano de 2006, essa lei foi derrubada, sendo assim, começou a
subir o número de pavimentos dos edifícios. Outro fator importante é com relação ao
valor dos terrenos, sendo muito valorizados, o que incentivou e tornou favorável e
compensatório a verticalização.
O grande número de edifícios nessa região pode ser explicado pela forte
centralidade
que
o
Rondon
Plaza
Shopping
exerce,
se
destacando
os
empreendimentos instalados na frente do shopping a partir de sua inauguração, se
caracterizando como os edifícios mais altos da cidade, com alto padrão de
luxuosidade e de modernidade, dentre eles o Residencial Rondon (17 pavimentos),
Residencial Taiamã (14 pavimentos), Edifício Solar do Cerrado (22 pavimentos) e
Residencial Aurora Boreal (10 pavimentos).
Com relação ao trabalho de campo, ao buscar dados das construções
juntamente ao setor de cadastro da Prefeitura Municipal, pode-se observar que a
maioria dos edifícios de quatro pavimentos, as obras foram realizadas por
construtoras particulares, ou seja, geralmente o proprietário do terreno contratou um
engenheiro e também um mestre de obras para a execução da construção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que Rondonópolis, apesar do grande vazio urbano ainda
existente, tem intensificado cada vez mais o processo de verticalização de suas
construções. Não só com relação a esse tipo de construção, mas outro problema
existente, a cada novo plano diretor estabelecido, e através de novas leis
sancionadas, cada vez mais tem-se expandido a área urbana do município
atendendo, especialmente, aos interesses dos empreendedores imobiliários.
O que se sabe com o processo de verticalização urbana, é que a
lucratividade dos agentes imobiliários tem aumentado de forma acentuada, tendo em
vista que o terreno agora pode ser multiplicado, abrangendo várias salas comerciais
e apartamentos para moradia, isso em um mesmo espaço. Além do fato de que os
custos por terrenos têm elevado os preços de forma progressiva, e cada vez mais
rápida essa valorização do solo urbano através da especulação imobiliária, a cidade
de Rondonópolis sofre dos mesmos problemas de outras cidades brasileiras, ligados
à falta de habitação, segregação espacial, periferização da população, pois acaba
ocasionando cada vez mais na expulsão das classes de baixa renda em busca de
áreas mais baratas, ou seja, para a periferia.
No aspecto da verticalização das construções em Rondonópolis, um
elemento importante no decorrer da urbanização da cidade é a construção do
Rondon Plaza Shopping, que proporciona um novo arranjo espacial, se
consolidando em uma nova centralidade para a cidade, o que tem mobilizado a
instalação de diversos equipamentos urbanos no seu entorno, e tem se
caracterizado como um mecanismo de produto, meio e condição para a reprodução
capitalista.
Assim, podemos afirmar que as incorporadoras imobiliárias juntamente ao
poder público, cada vez mais atentem aos interesses de determinada parcela da
sociedade, a classe dominante, e consequentemente são co-autores/responsáveis
pelo aumento da segregação espacial em Rondonópolis.
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de verticalização: uma (r)evolução na paisagem urbana da cidade de Caruaru-PE.
Disponível em:
http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/senior/RESUMOS/resumo_1749.html
Acessado em: 04 ago. 2009.
SOUZA, Maria Adélia Aparecida de. A identidade da metrópole: a verticalização
em São Paulo. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1994.
______. A identidade da metrópole: a verticalização em São Paulo. São Paulo-SP:
USP, 1989. (Tese de Livre-Docência).
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INTENSIFICAÇÃO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO EM