Impactos socioambientais dos lava-jatos da cidade de Palmas - TO. Palmas 2009 Bruno Farias Cabral Fabrício Gumiel Ícaro Gonçalves Santos Thiago Justino Impactos socioambientais dos lava-jatos da cidade de Palmas - TO. Palmas 2009 Resumo Tendo-se em conta o rápido crescimento do número de lava-jatos em Palmas-To, este trabalho teve como objetivo analisar a situação desse tipo de empreendimento no que diz respeito a impactos ambientais e sociais gerados, de forma que se levantem dados de todo o seu potencial poluidor e sua capacidade de inclusão social através dos empregos gerados. Essa pesquisa foi realizada através de entrevista, sendo coletados dados de 12 lava-jatos do universo de 30. Pôde-se constatar nessa pesquisa, que a maioria dos lava-jatos capta água de poços; que a água utilizada passa apenas por um método de separação física de água e óleo; e que poucos proprietários têm consciência da situação ambiental de seu estabelecimento. Palavras-chave: lava-jatos; impacto ambiental; Palmas. Abstract Taking into account the rapid growth of numbers of washer-jets in Palmas-To, this work is aimed at analyzing the situation of this kind of business with respect to environmental and social impacts generated in order to rise data their full potential polluter and its capacity for social inclusion through the jobs generated. This research was conducted through interviews, and collected data of 12 washer-jets of the universe, 30. It was noted that research, that most captures washer-jets of water wells, the water is used only by a method of physical separation of water and oil, and that few owners are aware of the environmental situation of its establishment. Keywords: washer-jets; environmental impact; Palmas. 1. Introdução Entre os recursos naturais que o ser humano dispõe, a água consta como um dos mais importantes, sendo indispensável para a sobrevivência. Sendo que a utilização cada vez maior dos recursos hídricos tem resultado em problemas, não só na carência dos mesmos, como também de degradação de sua qualidade. (Mota Suetônio, 2008)[5]. O principal responsável por essa alteração na qualidade da água é o crescimento populacional, através do desenvolvimento industrial de forma inadequada e as demais atividades humanas. Uma das conseqüências desse crescimento populacional é o aumento de demanda de veículos para locomoção. Gerando assim cada vez mais a oferta desses veículos no mercado. Segundo Joel Leite[9], diretor da agência de notícias especializada no setor automotivo AutoInforme: A frota brasileira de veículos vem crescendo nos últimos anos em proporções maiores do que o aumento da população. O resultado é que a relação veículo/habitante vem aumentando paulatinamente nos últimos doze anos. Em 1994 havia no Brasil um carro para cada 10,4 habitantes. Hoje, a relação é 7,9 pessoas por carro. Grande parte dessa frota utiliza-se dos serviços dos lava-jatos, multiplicando assim o número de unidades desse tipo de empreendimento, tanto de forma legal ou ilegal no país. Sabe-se que a grande parte desses lava-jatos não faz nem um tipo de tratamento dos efluentes gerados pela natureza de sua atividade. O que faz aumentar a geração de resíduos, considerável para se poluir e degradar os recursos hídricos. É exigido pela PNMA (Programa Nacional de Meio Ambiente) que esse tipo de empreendimento seja implantado em locais com solos impermeáveis e é necessária a presença de caixas de areia para a retenção do material mais pesado gerado pela lavagem dos automóveis e caixas separadoras de água e óleo. De acordo com os parâmetros de exigência ambientais legais e a consciência ecológica e social, esse tipo de empreendimento como os demais, precisa está paralelo a legislação, e procurar se adequar para manter o desenvolvimento de forma sustentável. Este trabalho vem com o objetivo de analisar a situação desse tipo de empreendimento no que diz respeito a impactos ambientais e sociais gerados, de forma que se levantem dados de todo o seu potencial poluidor e sua capacidade de inclusão social através dos empregos gerados. 2. Materiais e métodos A população pesquisada neste trabalho foi a de proprietários de lava-jatos de Palmas-TO, que possui uma população de 184.010 habitantes (IBGE, 2008)[8]. Foram desenvolvidas entrevista através da aplicação de questionários, semiestruturado, com 10 perguntas, sendo que além dessas perguntas ainda foram anotados em um caderno detalhes que poderiam vir a ajudar no entendimento das informações. Essas pesquisas foram realizadas do dia 1 ao dia 6 de Junho de 2009. Coletou-se dados de um total de 12 lava-jatos da cidade, sendo que estima-se a existência de 30 na cidade. Os dados coletados em forma de questionário e entrevista verbal foram previamente analisados para que fossem respondidas de maneira fácil, a situação ambiental dos empreendimentos e a consciência e educação ambiental dos proprietários e funcionários. Questões como: tempo de funcionamento do lava-jato; quantidade de empregados; origem da água utilizada, quantidade de água utilizada, quantidade de veículos por semana, quantidade de detergente utilizado; existência de tratamento do efluente e se existe conscientização de questões ambientais. 3. Resultados e discussão Foram entrevistados 12 proprietários dos lava-jatos de Palmas, sendo que não houve variação significativa das características a serem questionadas. Os resultados quantitativos e qualitativos vieram a ser comparados, mostrando assim a situação geral mediante resultados individuais. Estima-se que por semana são lavados em média 159 motos, 454 carros e 17 caminhões, utilizando-se em média de 46.000 litros de água, sendo que para cada dez litros de água utiliza-se 1,41 litros de detergente. A quantidade de veículos lavados vem a ser um resultado não tão preciso se analisado por semana, já que existem variações de demanda. De todos esses estabelecimentos apenas 2 (17%), lavam mais que 50 carros por semana e apenas 1(8%) lava menos que 10 carros (tabela 2). Além desses números pode-se observar que a maioria dos empreendimentos é de médio a pequeno porte e que atende mais a região de demanda (66%), situadas entre quadras para o mercado local, lembrando que há menor procura em período chuvoso (Tabela 1). Tabela 1 - Número de veículos lavados por semana Nº de Veículos em (Média) 120 68 50 28 Total 630 Lava-jatos (Média) 16% 8% 56% 20% Total 100% Tabela 2: Número de veículos lavados por semana divididos em quantidade de carros, motos, e caminhões. Veiculo Carros Motos Caminhão Nº de veículos por semana Mais de 50 30 a 50 20 a 29 10 a 19 1a9 Lava-jatos (%) 17% 42% 8% 25% 8% 30 a 50 20 a 29 10 a 19 1a9 8% 17% 58% 17% 10 a 20 1a9 0 (não lavam) 8% 33% 59% Dos lava jatos estudados, todos fazem o lançamento na rede de esgoto, mas apenas 40% têm o tratamento básico com visão à proteção do nosso planeta em si, sendo uma estratégia o aproveitamento de um marketing comercial. O tratamento citado é o de caixa de areia, sistema de separação física do óleo, funciona apenas como um método para minimizar os impactos causados ao meio ambiente, pois não se podem filtrar outros químicos que são solúveis na água, além de retirar apenas a parte “grossa” do óleo a areia tem que ser trocada em tempo determinado de acordo com a quantidade de veículos lavados e resíduos gerados, tornando a areia antiga um passivo ambiental, que normalmente é jogada em terrenos baldios. O óleo e outros derivados de petróleo possuem substancias que são causadoras de vários danos ecológicos e que também afetam a saúde dos seres humanos, por serem tóxicas, bioacumulativas, carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas (CETESB, 2005)[12]. Revisando a Resolução CONAMA nº 357, de 2005[13], que estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes no seu artigo 34º, determina que os efluentes de fontes poluidoras com óleos e graxas minerais só poderão ser lançados direta ou indiretamente 20 mg/L do referido poluente. Esse tipo de empreendimento também pode vir a usar como ferramenta de melhoria tanto financeira como de visão ecológica, o marketing verde, que busca a eficiência no uso dos materiais e também ajuda a reduzir os custos. Empresas que não responderem às questões ambientais com produtos mais seguros e ambientalmente mais saudáveis estão se arriscando a perder a sintonia com o consumidor. Segundo a Amda (Associação mineira de defesa do meio ambiente)[7], ao empregar estratégias de marketing ambiental, a entidade pode aumentar sua credibilidade e legitimidade, definir sua personalidade, área de atuação e imagem, além de agregar valor à marca junto aos diversos compradores Um dos detalhes mais esquecidos e que deve ser bem considerado hoje em dia é a questão do consumo de água em grande escala, pois é um recurso em que as pessoas acreditam que seja inesgotável que vem de uma cultura tal que apelidamos o planeta de, o planeta água, por sua vasta quantidade de água (ocupam 71% da superfície do planeta) só que desses 71% de água, grande parte dela é salgada chegando a 97,5 (Águas de Nova Friburgo)[6]. Estima-se que nos lava-jatos de Palmas, são gastos por semana em média de 46.000 litros de água, sendo que para cada dez litros de água utiliza-se 1,41 litros de detergente. A quantidade de veículos lavados vem a ser um resultado não tão preciso se analisado por semana, já que existem variações de demanda. (representado na tabela 4) Sabendo que a maneira utilizada é de apenas caixas separadoras de efluente, o detergente utilizado em grande quantidade é lançado na rede de esgoto, na utilização convencional, de forma simples sem o tratamento adequado. Os sabões e detergentes sintéticos praticamente não sofrem modificações químicas nos processos de lavagem com água (salvo formações de sais de cálcio, magnésio e outros, quando se usam as chamadas águas duras) e encontram-se, portanto, presentes nas águas residuais de escoamento das operações de lavagem, incorporando-se ao esgoto doméstico (MARTINS, 1998) [15]. Podem também originar diversos problemas ecológicos. Esses problemas dizem respeito à eutrofização, ou seja, ao aumento da fertilidade das águas devido aos fosfatos, o que favorece o crescimento excessivo de algas em águas receptoras de efluentes, provocando a redução acentuada do oxigênio dissolvido nas águas. (FAIRBANKS, 1989)[14]. Na tabela 3 foi representada a quantidade media de água gasta por veículo e um total de veículos por semana. Ao multiplicar esses resultados pode-se notar que, por semana são gastos 35 mil litros de água em 12 lava jatos, com apenas carros, portanto uma quantidade significativa. Tabela 3: média de água por total de veículos Categoria Volume de água médio por veículo Carros Motos Caminhões Total gasto, e veículos 77,08 L 24,75 L 325 L Veículos por semana no total de 12 lava jatos 454 159 17 630 Na tabela 4, foram representadas por categoria de veiculo seu volume de água gasto para sua lavagem. Pode ser visto que a maioria está entre 100 e 50 litros de água gasto por carro, uma media até razoável em comparação com uma cidade de maior porte como São Paulo ou Rio de Janeiro, levando-se em consideração o maior fluxo de carros das duas. Tabela 4: Volume de água Veículos Carro Moto Caminhão Volume de Água (L) 200 a 300 100 a 199 50 a 99 20 a 49 100 a 200 50 a 99 20 a 49 10 a 19 0 a 9 1000 200 a 999 100 a 199 Não lavam Lava Jatos (%) 8% 8% 50% 34% Total: 12(100%) 8% 0% 42% 0% 50% Total: 12(100%) 8% 25% 17% 50% Total: 12(100%) Na análise, 100% desses lava-jatos pesquisados têm como captação de água, o método de poços artesianos. Sendo que para utilização desse meio é necessário a regularização através da outorga de uso da água, que é feito pelo órgão ambiental estadual, o Naturatins. Através de dados fornecidos pelo Naturatins, desses 30 lava-jatos que se estima na cidade, foram contabilizados 13 usuários outorgados ou com declaração de uso insignificante para atividade de lava jatos no município de Palmas – TO. 3.1 Medidas mitigadoras • Existem ainda maneiras de se mitigar o consumo desse volume de água subterrânea. Uma das alternativas viáveis tanto financeiramente como ecologicamente, seria a captação de água da chuva. O que diminui o consumo por parte do empreendedor que vai pagar menos pelo uso de água tratada e para o meio ambiente que diminui o movimento de água do seu corpo hídrico para a cidade, lembrando que a utilização devera ser feita apenas para uso pratico e não para consumo humano. • A redução e utilização dos produtos biodegradáveis que diminui os impactos causados pelos produtos convencionais. • Busca de melhor eficiência no tratamento dos efluentes. • Estudo de reutilização da água. 3.2 Impactos sociais Dos lava-jatos pesquisados, 58% tem de 0 a 2 anos de atividade, ou seja, mais da metade, o que mostra a realidade desse tipo de empreendimento em questões de investimentos. desenvolvimento O populacional. número Em de Palmas lava-jatos essa é proporcional população ao cresceu consideravelmente nos últimos 10 anos, o que responde a baixa idade dos lava jatos. Tabela 4: Volume de água Tempo de atividade dos lava‐jatos Menos de 1 ano De 1 a 3 anos Mais de 10 anos Lava jatos (%) 25% 58% 17% Total: 12(100%) Segundo o SEBRAE, empreendimentos com até 09 funcionários, são caracterizados como microempresa. O que leva ao entendimento do porte dos lava jatos de Palmas, que é apresentada na tabela a baixo (tabela6): Tabela 6: quantidade de funcionário por lava-jatos Quantidade de funcionários 2 funcionários 3 funcionários 4 funcionários mais que 5 Lava jatos (%) 8% 34% 50% 8% Total:12(100%) Conforme o SEBRAE, o ramo de lava jato é uma das atividades que, se dimensionada em pequeno porte, exige baixo investimento para criação de uma empresa. Esse setor caracteriza-se por apresentar clientes que procuram um serviço de qualidade aliado ao preço justo. Esse tipo de empreendimento se feito nas legalidades e nas conformidades vem a ter como impactos sociais positivos, a geração de renda, empregos e a capacitação dos funcionários para atendimento e manejo dos automóveis 4. Conclusão Levantaram-se dados coletados através de questionários. Constatou-se que existe pouca variação de resultados dos 12 pesquisados. A variação de idade do empreendimento também não varia muito, sendo que 58% tem de 1 a 3 anos de existência. Outra questão é a quantidade de funcionários, sendo 84% dos lava jatos têm de 3 a 4 funcionários. A questão preocupante é a situação ambiental. O que indica a má regularização desse empreendimento, tendo como base as normas exigidas por legislações competentes. Um dessas problemáticas são as questões de: captação de água, quantidade de detergente, manutenção de caixas separadoras, entre outros, enfim. A captação de água é feita através de poços, o que indica a necessidade de outorga de uso da água, onde existem apenas 13 lava jatos com esse documento, do universo de 30 no município; Só 40% seguem a exigência mínima de tratamento do efluente, sendo que desses 40% a manutenção da caixa de areia não é feita no tempo regular, o que diminui a capacidade de retenção do óleo; A quantidade de detergente utilizado também é muito grande o que prejudica a saúde dos corpos hídricos quando lançado sem tratamento. Com todas essas questões é perceptível a não preocupação ecológica dos proprietários desses lava jatos, sendo que dos 12 entrevistados, 50% dizem ter consciência das questões ambientais, o que se torna o tanto quanto contraditório já que não fazem nada significativo para minimização dos impactos negativos no meio ambiente. 5. Referências Bibliográficas 1. GUERRA. Antonio Joje Texeira, CUNHA. 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Monografia (Especialização em Química para Professores do Ensino Médio)- Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 1998.