PARQUES DE MANAUS: UMA PROPOSTA DE ENSINO DE BIOLOGIA EM ESPAÇOS NÃO-FORMAIS Rosa Eulália Vital da SILVA Universidade do Estado do Amazonas Maria de Fátima BIGI Universidade do Estado do Amazonas RESUMO: O ensino de Biologia no intuito de atender os objetivos propostos de aproximar ciência e tecnologia da população vem contribuindo para mudança na sociedade pela democratização da ciência e formação para a cidadania. Os parques urbanos criados para melhorar a qualidade de vida da população cumprem também as funções: ecológica, estética e recreativa. Esta proposta tem por objetivo atender as necessidades educacionais, como espaço privilegiado para o desenvolvimento de educação não-formal. A cidade de Manaus com seus parques urbanos possibilita desenvolver nestes espaços uma educação com característica interdisciplinar, aproximando os conhecimentos produzidos pelos cientistas para a população. Esta educação de caráter não-formal é proposta como uma metodologia para o ensino de Biologia, permitindo que seus objetivos sejam alcançados ao apresentar pelo contato mais próximo os elementos naturais oferecidos pelos parques urbanos um laboratório para suas práticas. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Biologia, Espaços não formais, aprendizagem significativa. Introdução O ensino de ciências deve privilegiar espaços de aprendizagem que possibilitem ao aluno a ressignificação de saberes adquiridos no contexto da experiência de cada um deles. A utilização desses espaços privilegiados de ensino e aprendizagem é responsabilidade dos professores que assumem com discernimento o seu fazer pedagógico. Assim, as diferentes formas de ensino são classificadas na literatura como: educação formal, educação não-formal e educação informal. A educação formal é aquela que está presente no ensino escolar institucionalizado, cronologicamente gradual e hierarquicamente estruturado; o ensino informal entendemos como aquele que qualquer pessoa adquire através de experiências próprias nos diversos ambientes; a educação não-formal compreende-se como possibilidade organizada e sistemática que se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino. Neste contexto a utilização dos parques urbanos como metodologia educacional para apropriação dos saberes científicos possibilita integrar as diversas disciplinas acadêmicas num contexto diferenciado do ambiente escolar. Pois os parques permitem estabelecer um diálogo entre o que se aprende na escola e a prática que pode ser incorporada à vida dos alunos, contribuindo para diminuir a distância entre o pesquisador, a ciência, o desenvolvimento tecnológico e a vida das pessoas. Neste ínterim, os espaços não-formais oportunizam aos alunos a possibilidade de interação de ver, tocar e aprender numa relação homem-natureza. Assim, entendemos que os espaços não-formais oferecem subsídios para o professor no ensino de ciências, emergindo como desafio para tornar o ensino mais prazeroso e ampliando o interesse dos alunos. 1 O ensino de Biologia Faz-se necessário compreender que o ensino de Biologia precisa ir além do currículo, visto que as práticas de ensino ainda se caracterizam pelo uso do livro didático e os limites da sala de aula, proporcionando um ensino e aprendizagem descontextualizada da realidade (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002) e dos problemas cotidiano que os alunos trazem quando vem para escola: desenvolvimento fisiológico, reprodução, doenças, gravidez, envelhecimento, desaparecimento de espécies animais e vegetais. Temas que permitem um diálogo enriquecedor para professores e alunos, porque tratam da vida. Segundo os PCNs (BRASIL, 2002), o ensino de Biologia deve estar voltado para a formação das habilidades fundamentais nos alunos, tais como a pesquisa, a leitura crítica que oportuniza formar opiniões próprias, argumentar e atuar nos mais diversos cenários, fazer escolhas conscientes, preparado-os para um convívio social harmônico, cidadão. Entretanto, Moura e Vale (2003), Delizoicov, Angotti e Pernambuco, (2002) reconhecem que os processos de ensino e aprendizagem não viabilizam de forma satisfatória a apropriação dos conteúdos científicos, pois se baseiam em método expositivo da escola tradicional, e não considera os conhecimentos trazidos pelos alunos. O que contradiz as orientações dos PCNs (2002) orientando para um ensino interdisciplinar e contextualizado, que valorize o raciocínio e a construção do conhecimento pelos agentes envolvidos, priorizando menos a memória, o receber e aceitar tudo pronto na posição submissa, tradicional dos alunos. 2 O aprendizado da Biologia possibilita compreender o mundo como um organismo vivo, contribuindo para que seja percebida a singularidade da vida humana em relação aos demais seres vivos, em função de sua incomparável capacidade de intervenção no meio. Este ensino valoriza o conhecimento prévio do aluno, sua interação com os fatos do cotidiano e o saber sistematizado, estimulando uma leitura crítica das interferências da ciência e da tecnologia na sociedade, destacando a necessidade de buscar melhor qualidade de vida não apenas em nível individual, mas do próprio planeta como um todo, através da aquisição de novos valores e atitudes, formando o cidadão (TEIXEIRA; VALE, 2003) Ocorrendo a necessidade de que as atividades pedagógicas coloquem o aluno de Biologia em contato com o seu objeto de estudo: o fenômeno da vida em todas as suas formas de manifestação quer num ambiente natural ou modificado pelo homem. Uma das tarefas do professor é selecionar conteúdos e adequar metodologias de ensino que permitam atividades variadas e estimulem a criatividade e o interesse dos alunos. Sendo conveniente criar ou simular situações em que os alunos sejam solicitados a relacionar o conhecimento teórico e sua aplicação a situações de prática comum. Conceber esta forma de ensinar implica na aplicação de metodologias e uso de recursos didáticos que possibilitem uma aprendizagem ao aluno tornar-se construtor de seu conhecimento, em vez de recebê-los prontos, incompreensíveis. Isto permite, ainda, desenvolver de habilidades tais, como, a observação, o registro, comparação de dados, a proposição de modelos, formular hipóteses e transferir este conhecimento para novas situações. Para isso o professor deve utilizar as mais variadas ferramentas para ensino, desde o laboratório, como espaço pedagógico onde os alunos experimentam e avaliam idéias, hipóteses, levantadas em classe sobre os fatos ou fenômenos naturais ou tecnológicos, presentes no dia-a-dia e que constituem objetos de estudo das ciências; até a realização das atividades experimentais na e fora da escola no intuito de superar a prática que consiste em utilizar o laboratório apenas para demonstração e compreensão de leis e teorias científicas imutáveis. Devido a falta de laboratório nas escolas propõe-se atividades de educação nãoformal para suprir essa carência, pela visitação de centros de ciência, universidades, 3 parques e museus, que desenvolvem metodologias lúdicas, capazes de estimular os alunos a aprender e expressar esses conhecimentos atraves de uma nova linguagem, conforme apresentado pela visitação de alguns parques urbanos da cidade de Manaus. 2 O ensino de Biologia em espaços não formais: os parques urbanos Os parques urbanos contribuem para uma melhor qualidade de vida ambiental no espaço urbano, cumprindo importantes funções ecológicas, estéticas, recreativas. Nesses ambientes são desenvolvidas atividades culturais, de lazer e descanso ao ar livre, contribuindo para mitigar as condições nem sempre favoráveis do ambiente urbano. A utilização de parques urbanos para o desenvolvimento da educação nãoformal se dá pelas suas características, oportunizando um ambiente que estimula a curiosidade dos visitantes, suprindo algumas das carências da escola como a falta de laboratórios, recursos audiovisuais, entre outros, conhecidos por estimular o aprendizado (VIEIRA, BIANCONI, DIAS, 2003). Atraves destes espaços é possível mostrar que a ciência pode ser feita de forma lúdica, divertida e informal. Por isso Stuchia e Correia (2005) reconhecem os centros de ciência com o objetivo de facilitar a compreensão dos processos que envolvem ciência, incentivando a popularização do conhecimento científico, além de tornar a ciência e a tecnologia mais próximas da realidade das pessoas (MOURA, VALE, 2003). Tornandose um recurso pedagógico das aulas, esses locais podem ser utilizados como instrumentos importantes no ensino de ciências, por transformarem tudo o que é transmitido pelos professores em algo visível, palpável e atrativo, incentivando o interesse pela descoberta e análise do universo científico. Pela integração das diversas disciplinas acadêmicas, os parques podem estabelecer um diálogo entre o que se aprende na escola e a prática que pode ser incorporada à vida dos alunos. Desse modo, a divulgação científica através dos parques pode contribuir para diminuir a distância entre o pesquisador, a ciência, o desenvolvimento tecnológico e a vida das pessoas. 3 Práticas de ensino de Biologia em espaços não formais em alguns ambientes da cidade de Manaus 4 Com a finalidade de tornar o ensino de Biologia mais próximo dos alunos, relacionando com o contexto no qual estão inseridos (STUCHIA; CORREIA, 2005; MOURA; VALE, 2003; TEIXEIRA; VALE, 2003; BRASIL,2002) são apontados a necessidade da utilização dos parques urbanos da cidade como metodologia para o ensino de Biologia. O Jardim Botânico Reserva Florestal Adolpho Ducke; o Bosque da Ciência; o Parque dos Bilhares; o Parque do Mindu, a Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável Sokka Gakkai; o Parque Sauim Castanheira podem ser transformados em espaço para a divulgação e apropriação do conhecimento científico funcionando como instrumentos para aproximação do saber produzido pelos cientistas em algo que faz parte do cotidiano e da vida de cada cidadão, como alguns desses parques já oferecem. Localizado na Rua Uirapuru, s/nº, bairro Cidade de Deus, e funcionando de terça a domingo, das 8h às 18h. A Reserva Ducke ou Jardim Botânico de Manaus compreende uma área de 100 km². Representa uma pequena parte da área protegida, com plantas, árvores e animais típicos da selva. Logo na entrada do parque, há um monumento, que representa os diferentes tipos de madeira encontrados na Amazônia, e um viveiro de mudas, com as plantas nativas do lugar. O Jardim Botânico conta com uma biblioteca especializada em literatura sobre botânica e meio ambiente, além de um pavilhão para a realização de eventos e palestras sobre a natureza. Para conhecer este lugar é necessário caminhar através de inúmeras trilhas abertas na mata, que somam mais de 3 quilômetros, que permite observar animais que fazem parte da biodiversidade amazônica. Outro parque que traz a marca da pesquisa é o Bosque da Ciência, inaugurado em 1995, como parte das comemorações dos 40 anos do INPA. O Bosque da Ciência possui área de 13 hectares, localizado na sede desse Instituto de Pesquisa. Foi projetado e estruturado para fomentar e promover o desenvolvimento do programa de Difusão Científica e de Educação Ambiental do INPA, ao mesmo tempo preservando os aspectos da biodiversidade existente no local. Por isso, entre seus objetivos está o de oferecer à população uma nova opção de lazer com caráter sócio-científico e cultural, propiciando aos visitantes interesse pelo meio ambiente, além de oferecer atrativos turísticos e entretenimento (INPA, 2008). 5 No espaço do bosque da Ciência encontra-se a Casa da Ciência, cuja proposta é a de um espaço que possa transmitir aos visitantes as atividades realizadas pelo INPA por meio de projetos e programas, e como os resultados das pesquisas podem interferir diretamente no cotidiano das pessoas. Sua concepção é mostrar a Amazônia de forma transdisciplinar, e de que maneira é possível compatibilizar o desenvolvimento humano com o econômico. O Parque Ponte dos Bilhares localizado entre as Avenidas Constantino Nery e Djalma Batista no Bairro da Chapada. Dispõe de variada infra-estrutura para o lazer, apresentação cultural em uma área de fácil acesso próxima ao centro da cidade. Com uma area de de 60 mil metros quadrados, o Parque margeia o Igarapé do Mindu. Em sua concepção arquitetônica conhecida como Belle Époque, procura retratar um passado em que as praças da cidade eram lugares públicos agradáveis e bem freqüentados pela população. 4 Proposta de ensino de Biologia em parques urbanos de Manaus A educação em ciências não deve ser algo desvinculado da realidade do cidadão, ele deve ser apropriado pela população desmistificando a idéia de um conhecimento permitido para alguns iniciados e sustentando um projeto de sociedade desigual (STUCHIA; CORREIA, 2005, MOURA; VALE, 2003; TEIXEIRA; VALE, 2003, BRASIL, 2002). Os espaços de educação não-formal proporcionam uma maior aproximação do ensino de ciências à realidade dos cidadãos. Ao utilizar os parques urbanos são oportunizados uma educação científica que aproxime este conhecimento com a realidade do cidadão. O que acarreta a necessidade de inseri-los nos programas das escolas como complemento ao ensino formal, visto que os espaços das escolas não dispõem de áreas verdes ou até de mesmo de áreas amplas que permitam aos alunos explorar este contato direto com a natureza, algumas vezes de forma ainda intocada pelo homem, como no Jardim Botânico Adolpho Ducke. Os parques são ambientes de enriquecimento cultural de grande potencial a ser aproveitado pelos professores, oportunizando a realização de projetos de educação para um trabalho interdisciplinar, envolvendo as diversas ciências naturais. Este contato com 6 aspectos do ambiente possibilita aos alunos adquirir conhecimentos científicos necessários para compreender o equilíbrio da enorme biodiversidade presente em um ecossistema amazônico e sua interação com o espaço urbano, representando pelas alterações que são claramente percebidas como no caso do Parque dos Bilhares. Numa demonstração da relação dialética na construção de uma ponte entre a educação formal e a não-formal. A partir da idéia de que o aprendizado na escola deve possibilitar a compreensão de que a ciência não tem respostas definitivas para tudo (MOURA, VALE, 2003) Outra característica é caráter lúdico desse tipo de experiência, é o de envolver todos os órgãos dos sentidos nessa proposta de ensino, desenvolvendo o aluno em sua inteireza e não apenas no aspecto cognitivo atraves da estimulação da sensibilidade, valores estéticos, éticos e porque não, religiosos, lembrando que o ser humano habita uma mesma casa, o planeta Terra. Proposta para o ensino de Biologia em espaços não-formais: uma proposta interdisciplinar. a) Público–Alvo: 40 professores; b) Assessoramento Pedagógico através de palestras com a Temática: “Ensino-não formal: Parques Urbanos de Manaus”; c) Seminários; d) Oficinas Pedagógicas: Confecção de um Roteiro Básico de Visitação e Associação de Conteúdos Curriculares; e) Visitação guiada aos parques urbanos da Cidade de Manaus; e f) Relatório – Avaliação com a Confecção de um Portfólio. Os objetivos propostos para os alunos consistem em: a) observação e valorização do ambiente; b) Visitação guiada com paradas obrigatórias pelo professor, para abordagens de temas curriculares; e c) Elaboração pelos alunos de uma técnica (dança, poesia, dramatização, canto, mural temático) para a representação do espaço visitado. Considerações Finais Os parques urbanos são exemplos da necessidade da integração do homem com a natureza, símbolos que lembram que apesar de todo desenvolvimento tecnológico produzido pela ciência, há uma carência fundamental que impulsiona o homem em direção a natureza, são valores que devem ser preservados e estimulados. Por outro viés, 7 os parques urbanos de Manaus, fazem parte do cotidiano dos habitantes desta cidade que fica no coração da Amazônia com todas as suas riquezas, portanto é erro não utilizar estes ambientes como metodologia de ensino de Biologia. Os vários autores que refletem sobre o ensino de ciências nos últimos anos são unânimes em afirmar que este ensino deve levar em consideração os conhecimentos que os alunos trazem para a escola, que deve ser contextualizado a partir de sua realidade. Assim, essa proposta de utilização destes espaços permitirá atender aos objetivos de um ensino de ciências que cumpra suas finalidades. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: Mec; SEMTEC, 2002. COUTINHO-SILVA, Robson et. al. Interação museu de ciências-universidade: contribuições para o ensino não-formal de ciências. Disponível em < http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php? pid=S0009-67252005000400015&script=sci_arttext > Acesso em: 01 jun. 2008. DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André e PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. TEIXEIRA, Paulo Marcelo Marini; VALE, José Misael Ferreira do. O ensino de Biologia e cidadania: problemas que envolvem a prática pedagógica de educadores. In: NARDI, Roberto (org.). Educação em ciências: da pesquisa à prática docente. São Paulo: Escrituras, 2003. MOURA, Graziela Ribeiro Soares; VALE José Misael Ferreira do. O ensino de ciências na 5ª e 6ª séries da Escola Fundamental. In: NARDI, Roberto (org.). Educação em ciências: da pesquisa à prática docente. São Paulo: Escrituras, 2003. STUCHIA, Adriano Marcus; CORREIA, Nestor Santos. O parque do conhecimento da Universidade Estadual de Santa Cruz. X V I Simpósio Nacional de Ensino de Física. Resumos. Rio de Janeiro: 2005. Disponível em <http://www.sbf1.sbfisica.org.br/ eventos/snef/xvi/cd/resumos/T0713-1.pdf.> Acesso em: 30 mai 2008. VIEIRA, Valéria; BIANCONI, M. Lucia; DIAS, Monique. Espaços não-formais de ensino e o currículo de ciências. Cienc. Cult. vol.57, n.4, São Paulo Oct./Dec. 2005. Disponível em < http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php? pid=s0009-67252005000400014&script=sci_arttext > Acesso em: 01 jun. 2008. 8