0 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS DE CIÊNCIAS NATURAIS SOB O ENFOQUE DA: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE Carlos Luis Pereira¹ Maria Delourdes Maciel² ¹ Doutorando no Programa de Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul - São Paulo ¹ Professor na Faculdade Vale do Cricaré- São Mateus - Espírito Santo ² Professora Doutora, Pesquisadora e Orientadora no Programa de Mestrado e Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul- São Paulo RESUMO Este artigo traz como objetivo investigar a organização curricular dos cursos de licenciatura intercultural específica para professores indígenas a presença de disciplinas que discutam a abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade na formação inicial dos 26 cursos existentes no país (SESAI, 2013). A problemática central que norteou este trabalho é por qual razão a temática da Ciência, Tecnologia e Sociedade não tem sido assegurada nos cursos de formação inicial de professores indígenas em licenciatura intercultural específica de Ciências Naturais? Hoje as aldeias indígenas tem gradativamente assumido o perfil das cidades urbanas e os avanços científicos e tecnológicos disponibilizados pela sociedade globalizada tem sido encontrados no cotidiano das aldeias e nos seus territórios etnoeducacionais que através do currículo escolar legal de base nacional comum que é cumprido pelas escolas indígenas por determinação do MEC desde 16/04/1991; E de acordo com dados do censo escolar (BRASIL, 2012) mostra que nas escolas indígenas brasileiras têm um universo de 2.872 unidades de ensino, 12.362 professores sendo destes 90% professores índios e uma população de aproximadamente 896.917 cidadãos que se auto declararam como índios e, atualmente têm cerca de 205.787 alunos distribuídos em toda a Educação Básica. A pesquisa se caracteriza como sendo qualitativa conforme orienta (Acevedo e Nohara,2013), como coleta de dados foi realizado levantamento documental em documentos jurídicos que amparam esta modalidade de ensino tais como: a Constituição Federal de 05/10/1988 nos seus artigos 210,215 e 230, na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996 1 nos seus artigos 26,30, 32,78 e 79 e, no Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas de 1998 e, também examinou-se as matrizes curriculares e as ementas dos cursos de formação de professores indígenas disponibilizados em sites de domínio público; Constatou-se que na organização curricular dos cursos de formação de professores indígenas à abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade não tem sido assegurada na organização curricular, cursos estes de responsabilidade do MEC. Conclui-se que o ensino de Ciências Naturais para o aluno indígena depende destes professores apropriarem na sua formação inicial da abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade contextualizada para a realidade social, ambiental, geográfica, cultural, econômica, social e tecnológica específicas de cada um dos 305 grupos étnicos existentes no território nacional; Ainda concluímos que as Diretrizes Curriculares Nacionais do MEC e nas orientações contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais(1997) e na atual LDB apontam que na Educação Básica a dimensão da Ciência e Tecnologia como eixo integralizador no processo educativo e da formação humana do educando. Palavras- chave: CTS, Formação de professores indígenas, Ciências Naturais. 1. Introdução A formação de professores brasileiros tem sido uma das atuais metas das políticas governamentais do país. Na problematização e foco de investigação desse artigo é investigar in loco qual perfil e contextos tem orientado os cursos formação inicial de professores indígenas nos atuais 26 cursos de licenciatura intercultural específica que tem sido oferecido pelo governo Federal com parcerias com universidades públicas brasileiras? Cursos autorizados pelo Ministério da Educação e Cultura que tem como competência estabelecer as diretrizes curriculares nacionais para todas as modalidades de ensino do país (Bandeira, 1998); Nos dizeres de Oliveira (2002) a prática docente está diretamente correlacionada ao currículo de sua formação inicial que deve assegurar uma sólida formação teórica e prática do docente nas dimensões da diversidade humana, política, ética, multicultural, social, afetiva, cultural étnica e pedagógica. E, Bolívar (2010) acrescenta que as competências básicas da ciência e da tecnologia e o conhecimento científico deve nortear a formação do docente. 2 A dimensão política da formação do professor indígena brasileiro pode ser constatada na sua ação pedagógica na sua escolha dos procedimentos: pedagógicos, metodológicos, teóricos, filósofos e ideológicos na sua gestão crítica e reflexiva da sala de aula no procedimento didático e pedagógico de contextualizar e problematizar os conhecimentos científicos escolares junto com os saberes prévios dos alunos indígenas da etnia pataxó da Bahia, essa é uma nova exigência nos cursos de licenciatura específica dos professores, porque sendo ele um ator social no campo educativo se faz necessário ter domínio básico sobre o enfoque da alfabetização científica e tecnológica, sendo de competência do MEC órgão que regula a educação nacional estabelecer na organização curricular dos cursos de Ciências Naturais do país dentro dos aspectos: teóricos históricos, políticos, culturais, étnicos, científicos, tecnológicos e ambientais (KINCHELOE,1997). Diante do exposto Jacques Delors (2005), propõe para a UNESCO a meta do século XXI que é a criação de uma sociedade mundial com condições produtivas para todos o que requer uma formação docente que auxilia as escolas na sua proposta pedagógica a criar estes projetos. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de 20/12/1996, aponta que na área do conhecimento das Ciências Naturais pode privilegiar o estudo e projetos individuais e coletivos socioambientais e da sustentabilidade para a comunidade social escolar indígena da aldeia de como gerir seus próprios recursos naturais sem agredir o seu próprio meio ambiente, e ainda questionar como o homem branco tem explorado as terras indígenas e extraído suas riquezas. O ensino de ciências para o aluno indígena tem como caráter primordial associá-lo a cidadania e a cultura e o conhecimento científico, e compreender má proposta pedagógica e curricular desta disciplina que a Ciência é uma parte indissociável da cultura e isso implica reconhecer que a Ciência e a Tecnologia está presente na realidade sociocultural e sociocientífica na etnia pataxó da Bahia e, esta requer a necessidade de nos cursos de formação em licenciatura intercultural específica indígena assegurar esses conhecimentos científicos acerca da Educação Científica e Tecnológica (SANTOS, 2007). Para entendermos a questão da formação do professor nos dias recentes, se faz necessário voltarmos no século XVIII pois foi Comenius que no Seminário dos Mestres, instituído por João Batista de La Salle m 1684, preconizou sobre a formação docente. Aqui em solo brasileiro Gatti e Barreto (2009) afirmam de que a formação de professores em cursos 3 de licenciaturas específicas foi inaugurada no Brasil, no final do século XIX, com o objetivo de preparação dos conteúdos científicos, didáticos e pedagógico. A relevância deste artigo é devido aos principais avanços científicos e tecnológicos se fazerem presentes no cotidiano das aldeias e da maioria dos 305 grupos étnicos do país que possuem intenso contato com a cultura e a ciência do homem urbano, porém na escola da própria aldeia a educação científica tem sido ausente. A formação insuficiente do professor indígena, que tem sido analfabeto científico e tecnológico e, na visão de Cortina (2003) o fenômeno da globalização científica, tecnológica, informacional, econômica, cultural e digital se faz presente em todas as sociedades e, no que se refere aos povos indígenas que aproximadamente 324.834 índios estão localizados em territórios próximos ao meio urbano e, 572.083 em área rural, o que mostra a necessidade emergente de nos cursos de licenciatura intercultural específica contemplar os conhecimentos científicos escolares em articulação com as competências e habilidades básicas da Ciência e da Tecnologia para a promoção da educação científica para os alunos indígenas que vivem entre os saberes da sua ciência e tecnologia com os conhecimentos científicos transmitidos pelo currículo legal de referência nacional comum que é exigido pela atual LDB no artigo 26 a todos os alunos da Educação Básica brasileira, inclusive dos cerca de 205.787 mil estudantes indígenas distribuídos em toda a Educação Básica que atualmente ocorre em 98,7% das aldeias do país. Reafirmamos aqui que outra relevância desta produção científica é devido ao número reduzido de pesquisas in loco acerca da educação escolar indígena brasileira apresentados em fóruns, congressos, seminários, artigos, dissertações de mestrado e em teses de doutorado disponibilizadas em sites de domínio público e nos encontros bianuais de pesquisadores da área de ensino de Ciências (ENPEC) neste evento entre os anos de 1997à 2011 tiveram 4.416 produções e destas somente 08 abordavam a temática da educação escolar indígena brasileira, também devido a Lei n° 11.645 de 10 de Março de 2008 que estabelece a obrigatoriedade das escolas da rede pública e privada do país a incluir no currículo real a história e cultura Afro-brasileira e dos povos indígenas, em que o ensino de ciências em muito pode corroborar para que os alunos não indígenas conheçam a cultura, a etnociência e a tecnologia usadas pelos povos indígenas em sua trajetória histórica. O objetivo deste artigo é investigar nos cursos formação inicial de professores indígenas em licenciatura intercultural específica de Ciências Naturais se é assegurado à 4 inclusão na organização curricular de disciplinas que discutam a abordagem da ciência e da tecnologia. 1.1 Formação de professores indígenas em cursos de licenciaturas interculturais Em muitas comunidades indígenas uma realidade existente era o encaminhamento de seus estudantes para as escolas urbanas próximas as aldeias, ocasionando um expressivo êxodo das comunidades para núcleos urbanos fazendo-os perder seus valores, crenças, tradições, línguas, costumes suas ciências. Diante desta realidade teve início em 2003 o Ministério da Educação e Cultura priorizar a ampliação e qualificação de cursos para a formação de professores indígenas no país e, em 2013 foi apresentado as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para as Escolas Indígenas. O perfil deste profissional indígena buscado na formação de professores indígenas em licenciaturas interculturais específicas tem sido em formar um ator sociocultural que atua em múltiplas dimensões sendo: políticas, culturais, ambientais e educativas. As bases legais para a formação intercultural de professores indígenas estão assegurados na Constituição Federal nos artigos 210 e 231, na atual LDB n°9.394/96,no Plano Nacional de Educação e na normatização do Conselho Nacional de Educação de 1999 e dos Parecer do CNE/CEB n° 14/99, e da resolução CNE?CEB n°3/99 e n°14/2011 estabeleceram as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores indígenas. De acordo com essas atuais Diretrizes Curriculares os cursos de formação de professores indígenas devem propiciar aos futuros docentes conhecimento de estratégias pedagógicas, materiais paradidáticos e ainda é assegurado por este documento a educação profissional e tecnológica articulada com os princípios da formação ampla nas diferentes etapas dessa formação e que os conhecimentos acerca da Ciência e Tecnologia sejam ofertados preferencialmente nas terras indígenas em convênio com Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia de acordo com a realidade e especificidade étnico-cultural, científica e tecnológica de cada uma das 305 etnias presentes no país. As metas proposta eram que à formação estivesse integrado ao ensino, pesquisa e extensão e contemplando estudos de temas relevantes como língua materna, gestão educacional, administrativa e meio ambiente e a preservação de suas especificidades socioculturais e socioambientais de cada grupo étnico-cultural. Ainda nessa formação seria espaço privilegiado para a construção de materiais didáticos e pedagógicos que orientariam as práticas pedagógicas e curriculares dos professores indígenas. 5 1.2 Ciência, tecnologia e sociedade nos cursos de formação de professores de ciências naturais indígena. O enfoque abordagem da Ciência, Tecnologia com a Sociedade nos cursos de formação para os professores indígenas em licenciatura intercultural específica é emergente diante do atual fenômeno mundial da globalização econômica, cultural, informacional, tecnológica, ambiental e política que tem ocorrido em todas as sociedades Cortina(2003). Na formação do professor indígena em licenciatura específica de Ciências Naturais pode corroborar para efetivação da educação pela e para a ciência e tecnologia, porque a educação científica e tecnológica aproxima o cidadão comum ao conhecimento da cultura científica que como nos afirma Bandeira (1998)as aldeias brasileiras tem gradativamente assumido o perfil e os hábitos do homem urbano pois observamos no cotidiano das aldeias que os avanços científicos e tecnológicos disponibilizados pela sociedade nacional tem sido encontrados nas aldeias indígenas localizadas no meio rural e urbano; E ainda através do currículo legal que traz a sua marca da cultura de quem o produziu é imposto pelo MEC a educação escolar indígena desde 16/04/1991; E de acordo com os preceitos legais deste órgão e de Bolívar (2010) o ensino de ciências deve estar articulado com a abordagem da Ciência e da Tecnologia como competências e habilidades básicas a serem asseguradas aos alunos no processo educativo da educação básica. Diante deste cenário a problemática é o cumprimento destas exigências requer que os cursos de formação de professores indígenas na sua organização curricular ofertam disciplinas que discutam a abordagem CTS para que os mesmos a posteriori tenham domínio teórico e prático para articular essa temática com os conteúdos específicos de referência nacional comum para a disciplina de Ciências Naturais (BRASIL, 2005). Para Ángel Vazquez Alonso (2006) a Ciência e Tecnologia se apresentam como um eixo articulador e integrador nas sociedades do conhecimento atual, e na formação indígena as ciências e as tecnologias precisam no currículo do professor estar contemplado junto com as disciplinas de referência nacional comum da formação do professor indígena, sendo este um dos grandes desafios devido os diferentes contextos em que está ocorrendo as licenciaturas interculturais específicas. É necessário que nos cursos de formação de professores indígenas de Ciências Naturais que é estruturado numa parte presencial e outra não presencial que dentro da 6 organização curricular é necessário a internacionalidade na reconceitualização do ensino das Ciências no sentido do CTS mediar no processo educativo e da formação humana crítica-reflexiva do cidadão (SANTOS, 2007),pois as decisões ambientais nas aldeias do extrativismo sem controle traz reflexos globais e locais pois a alteração da colheita e do ciclo de vida das espécimes de animais e vegetais que são usadas para a subsistência e aumento da renda familiar através do artesanato de toda a comunidade indígena pataxó da Bahia.. Entre um dos objetivos primários para os cursos de formação específica intercultural de professores indígenas a proposição de ofertar a estes docentes os códigos simbólicos das suas ciência e dos conhecimentos sociocientíficos das sociedades não indígena precisam serem assegurados na organização curricular porque de acordo com o (MEC) e o Referencial Curricular Nacional para Escolas de (1998), e a atual LDB de (1996) e na Constituição Federal de 05/10/1988 é previsto que o ensino para o aluno indígena deve assegurar a disseminação, e a manutenção das suas culturas e ciências tradicionais porém em consonância com os conhecimentos científicos escolares de referência comum, porque o ensino para o aluno indígena deve cumprir o caráter intersocietário quer dizer dialogar com os saberes das suas etnociências tradicionais e tecnologias com os conteúdos científicos específicos da disciplina de Ciências Naturais. De acordo com documentos legais e jurídicos que amparam as ações da educação escolar indígena é necessário no eixo central e articulador da organização curricular que os saberes socioculturais, socioambientais e de suas ciências e tecnologias sejam assegurados dentro de processos pedagógicos próprios de ensino e aprendizagem. Nessa formação do professor indígenas em Ciências Carlos Arguello (2002) nos mostra que um dos pilares é que a escola com seus conhecimentos ancestrais de suas ciências indígenas, precisa valorizar e disseminar os diferentes saberes e sendo a priori reduzir a distância entre a educação da ciência tradicional com a ciências do currículo escolar, tendo como ponto de partida os conhecimentos prévios dos alunos indígenas para transmitir os conhecimentos científico. 1.3 Formação De Professores Indígenas E O Ensino De Ciências Naturais As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica defende que o currículo como um conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção e socialização de significados no espaço social e que contribuem para a construção permanente da 7 identidades sociais, étnicas, culturais, ambientais e do letramento científico e tecnológico dos alunos indígenas(BRASIL,2013). No RCNEI (1998) o apresentam quatro pilares centrais para essa modalidade de ensino o ensino: interdisciplinar, diferenciado, intercultural e bilíngue e, compete como nos alerta Grupioni (2001) que um número expressivo de professores indígenas tem como maior formação o curso de magistério indígena o que lhe permite ter domínio da ciência tradicional da sua própria etnia e, ainda é de sua competência a organização dos materiais didáticos e pedagógicos na sua gestão pedagógica como também é previsto na atual LDB n°9.394 de 20 de Dezembro de 1996. De acordo com o Monte (2003) a prática docente depende do currículo da formação inicial do professor, e para ela, o currículo é uma construção coletiva permanente e mutável, que deve estar contemplado suas organizações sociais, costumes, línguas, culturas, crenças e tradições e ainda no currículo de formação desse professor indígena as suas concepções: antropológicas, filosóficas, ideológicas e metodológicas e pedagógicas deve ser os pilares da sua formação, pois a sua concepção das ciências e dos pressupostos mencionados determinará a sua práxis pedagógicas no ensino dos conteúdos de referência nacional comum da disciplina de Ciências Naturais que desde 16/04/1991 por participarem do sistema de ensino do MEC a escola indígena obrigada a cumprir no seu currículo legal as disciplinas de referência nacional comum que são estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura. Para Grupioni (2006; 2008) os professores indígenas tem tido o magistério como a sua maior formação, e possuem domínio teórico e prático da etnociência e da tecnologia tradicional da cultura da sua própria etnia e, formação insuficiente nos conteúdos científicos escolares específicos da disciplina de ciências naturais porque o curso de magistério indígena não assegura o domínio destes saberes específicos. Para Silva (1995) a construção do processo curricular é elaborado pelo professor na gestão da sala de aula durante o processo educativo e da formação humana do educando. No Parâmetro Curricular Nacional para o ensino de Ciências Naturais (BRASIL, 2001,p.31) é explicitado que a abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade deve estar incluída com os conteúdos de referência nacional comum previstos pelas orientações das diretrizes curriculares nacionais do MEC para a área (BRASIL,2005),o que sinaliza a necessidade de na formação inicial do curso de licenciatura específica para professores indígenas de Ciências Naturais estes saberes da Educação CTS sejam contemplados para que 8 o mesmo tenha subsídios teóricos e práticos para no processo de ensinar e aprender articular essa abordagem nas unidades de ensino previstas pelo órgão que regula toda a educação nacional. 1.4 Educação CTS, saberes docentes e a formação de professores indígenas Para que o ensino nos 385 territórios etnoeducacionais indígenas presentes em cidades brasileiras possam proporcionar um ensino diferenciado e específico é preciso estar adaptado aos contextos políticos e culturais no qual a escola indígena está situada. E, de acordo com os documentos legais e jurídicos que amparam esta modalidade de ensino o caráter intercultultural e bilíngue seja estabelecido com o diálogo intercultural entre os conhecimentos científicos da sociedade nacional com os saberes científicos das ciências de cada um dos 305 grupos étnicos que apresentam importante diversidade e pluralidade em suas identidades socioculturais e socioambientais, tecnológicas e lingüísticas, conforme é orientado pela atual LDB/96 no seu artigo 78. Os cursos de formação de professores indígenas como nos alerta Cavalcante (2003) precisa estar ancorados no desenvolvimento de competências e habilidades básicas acerca do letramento científico e tecnológico. Na atual Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional n° 9.394/96 em seu artigo n° 26 determina que o currículo do ensino fundamental e médio deve ter uma base nacional comum o que significa que devido os alunos indígenas serem cidadãos brasileiros e as ações da educação escolar indígena ser de competência do Ministério da Educação e Cultura desde 16/04/1991 é exigido o cumprimento deste currículo de base legal nacional, o que fica explicitado que nos cursos de formação de professores indígenas aqui discutido o de Ciências Naturais é preciso na organização curricular destes cursos assegura como eixo central e norteador competências e habilidades básicas acerca da ciência e da tecnologia, porque os alunos indígenas tem no seu cotidiano vivenciado os principais avanços científicos e tecnológicos disponibilizados pela sociedade. Trazemos como provocação e discussão neste manuscrito de que competências e habilidade sobre ciência e tecnologia se fazem necessário serem assegurados aos professores indígenas nos cursos de licenciaturas interculturais específicas de Ciências Naturais? Como deve ser as mediações didáticas contextualizadora e problematizadora para o docente de ciências que tem recebido uma formação dentro da tendência pedagógica tradicional? E qual 9 ou quais as concepções de educação em CTS que deve fazer parte dos cursos de Ciências Naturais de formação inicial em licenciatura intercultural específica indígena? E quais os saberes experienciais, profissional, curriculares e disciplinares como nos ensina Tardif (2012) e Gauthier (2006) sobre a educação científica e tecnológica é assegurada no currículo legal e real? Seguindo as ideias acima a sociedade pós-moderna vive em intensa, turbulência, mudanças de paradigmas educacionais, lutas pelo poder e conflitos e mesmo assim o professor precisa ter domínio teórico e prático acerca da ciência e tecnologia para na sua gestão pedagógica construir experiências educativas significativas porque ele é o agente mediador sociocultural e dos conhecimentos científicos escolares. Nos fazendo pensar numa outra vertente Kincheloe (1997) ensina que educar é um ato político e que na formação pedagógica do docente indígena de ciências o mesmo deve contextualizar sobre a abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade para os alunos pataxós da Bahia numa linguagem adequada e fazendo adequações em relação aos procedimentos didáticos, pedagógicos e metodológicos. 2. METODOLOGIA Neste trabalho utilizamos a metodologia de pesquisa dentro da abordagem, qualitativa do tipo pesquisa etnográfica conforme as orientações de (Acevedo e Nohara,2013). E na fase inicial da pesquisa foi realizado levantamento bibliográfico e documental em matriz curricular dos cursos de formação em licenciatura intercultural específica da área de Ciências Naturais; Como técnica de coleta para a obtenção dos dados utilizou-se da: análise documental da organização curricular proposta pelo MEC, entrevista individual com docente da disciplina de ciências e das demais disciplinas do currículo legal em uma escola indígena pataxós da Bahia e com 133 os alunos do ensino fundamental II e do ensino médio, ex-alunos, lideranças da aldeia e gestor educacional. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Nos atuais 26 cursos de formação intercultural específica de professores indígenas do país no curso de Ciências Natural, não tem sido dado enfoque a abordagem da Ciência, Tecnologia e Sociedade como eixo central das disciplinas de referência comum do curso; Constata-se como relata (Santos, 2005b) que tem ainda prevalecido no currículo real das aulas 10 de ciências o ensino científico descontextualizado coma alfabetização, tecnológica e científica, devido a precária formação inicial dos professores de Ciências Naturais indígenas sobre o enfoque CTS, e ainda que o ensino das ciências venha priorizar a construção de uma estrutura geral da área que tenha como princípio o domínio de aprendizagem significativa e de uma sólida formação da abordagem da Ciência, e suas relações coma Tecnologia e com a sociedade (BRASIL, 2001). Verifica-se nos documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais (2001) que um dos objetivos de Ciências Naturais no ensino fundamental II da Educação Básica e que o professor no processo de ensino e aprendizagem desenvolva no processo de aprender a aprender de forma contextualizada para aluno indígena pataxó competências e habilidades básicas acerca da ciência e da tecnologia que lhe permitam compreender o mundo e exercer a sua cidadania de forma crítica sobre este tema pois a sua sociedade vem utilizando dos conhecimentos do letramento científico e tecnológico presentes na sociedade digitalizada atual o que falta é o professor indígena na formação inicial ter domínio teórico e prático de como e qual perspectiva de educação CTS deve ser proposta ao aluno indígena neste atual cenário mundial dominado pela globalização (BRASIL, 2001) nos dias atuais as aldeias indígenas de todo o país vem gradativamente assumindo o perfil das cidades e com isso os avanços científicos e tecnológicos se fazem presentes no cotidiano das aldeias indígenas distribuídas em todo o país, ainda mostramos que através do currículo de base nacional comum que é por imposição do MEC desde 16/04/1991 seguido pela educação escolar indígena brasileira pois de acordo com o MEC os alunos indígenas e professores são cidadãos brasileiros e por isso precisam de dominar os conhecimentos de base nacional comum e, ainda aponta o MEC que cada escola indígena tem autonomia para na parte diversificada do currículo elaborá-lo de acordo com suas especificidades e realidades, e ainda consta no RCNEI de 1998 e na atual LDB n°9.394 de 20/12/1996 que é função do professor a elaboração de proposta pedagógicas adequadas para o seu aluno. Observamos que o professor indígena tem mostrado uma importante dificuldade para assegurar aos alunos os conhecimentos científicos de referência nacional comum em articulação com as suas ciências tradicionais devido a sua formação insuficiente. Constata-se que ao examinar o PCN's de Ciências Naturais (2001) e o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (1998) a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional os conteúdos são apresentados em 4 blocos temáticos: Ambiente, ser 11 Humano e Saúde, Recursos tecnológicos e Terra e Universo nota-se que o enfoque CTS é apresentado como o eixo articulador e central nestes grandes blocos temáticos; Porém ao realizar pesquisa de campo de doutorado em uma escola comunitária indígena na sua ação pedagógica nas disciplinas de referência nacional comum não tem sido assegurado a perspectiva da abordagem da Alfabetização Científica e Tecnológica. Apontamos que é o MEC o responsável pela elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para todas as modalidades de ensino no país ,inclusive para os 26 cursos de formação em licenciatura intercultural específica para os professores indígenas então compete a este órgão assegurar na formação inicial subsídios teóricos acerca da Alfabetização Científica e Tecnológica, porque é o professor o mediador entre a cultura do aluno e os conhecimentos científicos escolares. Nota-se que os cursos de formação para estes professores indígenas que possui 3.570h sendo 1.900h presenciais, 1250h estudos não presenciais e 420h de estágio supervisionado (BRASIL,2012) que também não é apresentado na organização curricular disciplinas que discutam sobre a abordagem da Ciência e Tecnologia. Nota-se ao examinar as Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo MEC para os cursos de licenciatura específica intercultural que nas dimensões proposta é citado que essa formação precisa estar integrada ao ensino, pesquisa e extensão, porém não é explicitado neste documento legal que a abordagem da educação CTS seja um dos eixos norteadores da formação inicial, buscando os subsídios de Cortina (2003), Bolívar (2010), Alonso (2006) e no PCN,s de Ciências Naturais (BRASIL,2001,p.31) é mencionado que a dimensão da Ciência, Tecnologia e Sociedade deve ser assegurada no processo educativo e da formação humana do aluno, porém falta o MEC que estabelece e regula a educação nacional determinar a inclusão na organização curricular destes cursos a inclusão de disciplinas que discutam a educação científica e tecnológica. Constata-se que dos 12.362 professores indígenas somente 3.430 possuem como maior formação o curso de licenciatura intercultural específica e os 8.932 professores possuem a maior formação com o curso de magistério indígena, este curso não tem na sua matriz curricular disciplinas que abordam a temática da Ciência e da Tecnologia, o que contribui significativamente para a não discussão deste tema junto com os conteúdos de referência nacional comum para a área de Ciências Naturais. Verifica-se na aldeia indígena pataxós da Bahia que os alunos indígenas tem utilizado em seu cotidiano aparelhos celulares e nas suas residências há aparelhos de televisão, carros e 12 motos, essa realidade observada nesta escola indígena pataxó da Bahia sinaliza o gradativo processo de aculturação que estes povos vêm sofrendo devido as crescentes mudanças sociais e culturais que a sociedade hegemônica tem imposto aos 305 povos indígenas do país E, conforme nos ensina autores como Bourdieu (1969), Passeron (1975) e Giroux (1983) a escola é o reflexo da sociedade então quer dizer que estas mudanças que vêm ocorrendo dentro das comunidades indígenas são o reflexo da marca da cultura da sociedade dominante que são impostas aos grupos minoritários, está mudança mostra a necessidade emergente de assegurar através do currículo escolar e da formação inicial dos docentes indígenas nos cursos de licenciatura intercultural específica o domínio teórico e prático das competências e habilidades básicas da Ciência e Tecnologia para que este docente na sua ação prática estabeleça diálogo intercultural entre as duas sociedades. 4. CONCLUSÃO O artigo concluiu que os professores de Ciências Naturais indígenas tem tido uma importante dificuldade para ensinar as ciências dentro da abordagem CTS, o que sinaliza que o ensino tem sido dissociado entre a escola, sociedade e os PCN's e as Diretrizes Curriculares Nacionais da disciplina de Ciências Naturais e atualmente as escolas indígenas e as aldeias tem assumido gradativamente o perfil das cidades ora através do currículo legal ou pelo intenso diálogo com o homem branco. Ainda sugerimos que os atuais 26 cursos de licenciatura intercultural específica indígena precisam que o enfoque CTS esteja presente como eixo central e articulador dos cursos de Ciências Naturais para o professor indígena, porque nas aldeias os avanços científicos e tecnológicos estão presentes do contexto do aluno indígena. Ainda mostramos que é necessário na atual contemporaneidade os alunos indígenas e professores no processo de ensino e aprendizagem discutirem de forma contextualizada de acordo com a realidade e especificidade étnico-cultural da aldeia a temática da alfabetização científica e tecnológica. Concluímos que aumentar a formação do professor indígena nos cursos de licenciatura intercultural específica em ciências naturais em muito contribuirá para o aluno indígena exercer a sua cidadania crítica e reflexiva acerca dos avanços científicos e tecnológicos e sua relação com a sociedade local e nacional. O trabalho ainda mostra que o domínio da Ciência e da Tecnologia são fundamentais neste atual cenário em que o fenômeno da globalização econômica e cultural afetam todos os cidadãos, inclusive aos povos indígenas que vêm perdendo as suas terras devido ao crescente 13 processo da industrialização e, precisam elaborar projetos sociais para as suas respectivas comunidades indígenas. 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