CMI Centro de Memória e Informação Título do Projeto Um diálogo no século XIX: José de Alencar e Da Costa e Silva Coordenador do Projeto ELIANE VASCONCELLOS Setor ARQUIVO-MUSEU DE LITERATURA BRASILEIRA Data 2014 1. Justificativa/Caracterização do Problema O Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa (AMLB), criado em 1972, destina-se à organização, manutenção e guarda de documentos relativos à nossa literatura. Esse material provém exclusivamente de doações de familiares ou dos próprios literatos. Atualmente, temos sob nossa guarda cento e trinta arquivos privados de escritores. Dentre os arquivos sob a guarda do AMLB, a presença de escritores do século XIX, ou ligados às tendências literárias oitocentistas, é de extrema importância. A pesquisa nesses arquivos, como os de Cruz e Sousa, Nestor Vítor, Antônio Sales, entre outros, revela elementos mais esclarecedores para se compreender um século fértil em tendências artísticas e, consequentemente, em hibridizações estilísticas. Os arquivos do escritor José Alencar e do poeta Da Costa e Silva representam a polarização que o século XIX foi capaz de vivenciar. Em um lado, a obra de Alencar representa o auge do projeto de uma literatura brasileira, com a criação de personagenssímbolo da natureza brasileira, exemplarmente Iracema e O guarani, além da aclimatação da narrativa de origem européia, efetuada nos romances mais famosos de Alencar, como Lucíola e Senhora. No outro lado, no limiar do século XIX e no raiar do século XX, o poeta Da Costa e Silva desenvolve uma poética singular em meio ao cruzamento finissecular do parnasianismo com o simbolismo. Com a visão do contraste, a pesquisa nos arquivos dos dois autores pretende ampliar as possibilidades de compreensão da literatura no século XIX. Embora distantes enquanto representantes de tendências artísticas (romantismo e parnaso-simbolismo), os pontos de contato entre os dois escritores são relevantes. Escritores originários do Nordeste, de Estados que se limitam geograficamente – José de Alencar, natural do Ceará (Mecejana, 1º. maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877); Da Costa e Silva, nascido no Piauí (Amarante, 28 de novembro de 1885 — Rio de Janeiro, 29 de junho de 1950) –, a natureza é um elemento decisivo que marca a obra dos dois autores. Em Alencar, a natureza é a própria fundação da literatura nacional e original. Conforme salienta Araripe Júnior (1978), num dos estudos clássicos dedicados ao escritor cearense, “A natureza exterior não veio a ele, não o coagiu. Foi ele que correu ao seu encontro...” (p. 43). Sobre Da Costa e Silva, José Guilherme Merquior (2000) repararia: “Essa poesia da natureza de Da Costa e Silva suporta a comparação com alguns dos nossos maiores poetas anteriores que sobre a natureza versejaram, e em particular estou pensando na poesia da natureza em Castro Alves.” (p. 42). Mais do que concordância entre autores, essa incidência do tema da natureza nos nossos escritores do século XIX assinalam o grande projeto literário nacional que atravessou tendências, estilos e dicções poéticas. O AMLB é responsável pela guarda do arquivo de José de Alencar e Da Costa e Silva. O projeto de pesquisa proposto para esses arquivos pretende realizar o inventário analítico do arquivo pessoal dos dois autores no âmbito do diálogo que se pode traçar entre ambos, na medida em que suas obras se aproximam e se afastam partilhando um mesmo século. Sobretudo, o inventário dos arquivos pretende ampliar os estudos de Da Costa e Silva, autor de escassa fortuna crítica, para a qual a pesquisa em fontes primárias pode contribuir, além de fomentar um interesse sobre a sua figura. O presente projeto terá duração de dois anos e dará continuidade à publicação de inventários tanto em meio digital (site da FCRB) como convencional (livros em papel) entre os quais destacamos: Thiers Martins Moreira, Augusto Meyer, Manuel Bandeira, Lúcio Cardoso, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Pedro Nava e Antônio Sales. Os trabalhos já entregues ao público têm demonstrado que se trata de um instrumento útil para os estudiosos. 2. Objetivos GERAL: • divulgar o acervo do AMLB junto às universidades, aos centros de estudos brasileiros, tanto no Brasil como no exterior, e aos pesquisadores em geral; • ampliar, qualitativa e quantitativamente, as possibilidades de coleta de fontes sobre a literatura brasileira. OPERACIONAL: • proceder ao inventário analítico dos arquivos de José de Alencar e Da Costa e Silva; disponibilizar o referido instrumento no banco de dados da Fundação Casa de Rui Barbosa. ESPECÍFICOS: • • identificar os documentos relativos à obra literária (originais de romances, ensaios, artigos e outros); empreender a leitura desses documentos e o confronto das versões numa perspectiva genética, a fim de registrar o processo de criação dos titulares; gerar fontes secundárias (inventário analítico on-line) para o estudo da vida e obra de José de Alencar e Da Costa e Silva a partir da fonte primária, ou seja, do seu próprio arquivo. 3. Metodologia e Estratégias de Ação A metodologia e estratégias de ação adotadas no AMLB têm por base os princípios teóricometodológicos da Arquivologia, o Formato MARC 21 (Machine Readable Cataloging), as normas ISADG, ISAAR-CPF, NOBRAD e as normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No caso do presente inventário analítico, metodologia e estratégias envolverão os seguintes passos: • • • • • • • • levantamento e leitura biobibliográfica de e sobre José de Alencar e Da Costa e Silva; leitura e análise dos documentos, reunindo-os e ordenando-os em dossiês que integrarão as seguintes séries: Correspondência pessoal (Cp): composta de cartas, bilhetes, cartões, postais etc. recebidos pelo titular; Correspondência de terceiros (Ct): composta de cartas, bilhetes, cartões, postais etc. que não se destinam nem foram produzidos pelo titular do arquivo mas que foram guardados por ele; Correspondência familiar (Cf): correspondência de familiares do titular, não necessariamente dirigida apenas a ele, mas por ele guardada; Produção intelectual do titular (Pi): composta de romances, crônicas, poemas e outros trabalhos produzidos pelo titular; Produção intelectual de terceiros (Pit): composta de romances, crônicas, poemas e outros trabalhos produzidos por outros literatos e guardadas pelo titular. Documentos pessoais (Dp): composta de certidões, recibos, títulos de nomeação e outros documentos de cunho pessoal do titular; Produção na imprensa (Pim): composta de documentos publicados em periódicos. Diversos (Dv): composta por documentos que não se encaixam nas séries acima e nem justificam a criação de uma outra; descrição dos dossiês por meio do preenchimento de planilhas a serem inseridas no banco de dados da FCRB; pesquisa e determinação da forma autorizada de nomes, segundo o padrão do AACR2, para o estabelecimento de entradas de autoria, citações etc.; inserção das informações das planilhas na base de dados; acondicionamento dos documentos em pasta, caixas e papéis adequados; revisão de todo o inventário elaboração de artigo sobre o trabalho realizado. 4. Resultados e os impactos esperados: • • disponibilização do arquivo de José de Alencar e Da Costa e Silva no banco de dados da Fundação Casa de Rui Barbosa; elaboração de artigo sobre o trabalho realizado. 5 . Cronograma: • • levantamento e leitura de biobibliografia de e sobre José de Alencar e Da Costa e Silva: 1 mês leitura e análise dos documentos reunindo-os e ordenando-os em dossiês que integrarão as séries: 6 meses • • • • descrição dos dossiês por meio do preenchimento de planilhas a serem inseridas no banco de dados da FCRB: 8 meses inserção das informações das planilhas na base de dados. 4 meses revisão de todo o inventário: 3 meses elaboração de artigo sobre o inventário: 2 meses 6. Referências Bibliográficas ALENCAR, José de. Obra completa. 4 v. Rio de Janeiro: Ed. Aguilar, 1959. ARARIPE JÚNIOR. Teoria, crítica e história literária. Sel. e apresentação de Alfredo Bosi. São Paulo: Edusp, 1978. ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. BELLOTTO, Heloisa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro, FGV, 2005. CAMARGO, Ana Maria de Almeida; Goulart Silvana. 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