EROSÃO EM ZONAS COSTEIRAS DO LITORAL CEARENSE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . Waleska Martins Eloia, Kelven Pinheiro de Sousab a Instituto Federal do Ceará ,e-mail: [email protected]; Instituto Federal do Ceará, e-mail: [email protected] Palavras-chave: Processo erosivo, litoral do Ceará, revisão literatura. Introdução As áreas costeiras são-altamente dinâmicas e susceptíveis a sofrer mudanças na paisagem natural, em resposta as diferentes formas de uso e ocupação desta região. Observase em ambientes costeiros que o processo de transporte de sedimento é modificado por destruição da vegetação ou pelas construções urbanas, ocasionando alterações no balanço sedimentar, o qual interfere na estabilidade da linha de costa, podendo gerar perdas por erosão (Muehe, 2001). Já de acordo com Bezerra (2006) a urbanização e a exploração irracional dos recursos naturais acentuam a dinâmica costeira e ocasiona a interrupção do equilíbrio ambiental, gerando efeitos negativos como erosão, assoreamento, contaminação do solo e da água, diminuição dos recursos naturais, da qualidade de vida da população local, desmatamento, entre outros. Diante do exposto o objetivo desse trabalho é avaliar o processo de erosão na zona costeira cearense por meio da análise de trabalhos realizados na área. Material e Método Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura especializada, na qual se realizou uma consulta aos periódicos com artigos científicos, os quais foram selecionados, sendo os critérios de inclusão para os estudos encontrados à abordagem do assunto de maneira abrangente do tema. Logo em seguida, buscou-se estudar e compreender as principais questões envolvidas de forma a se poder fazer uma análise global de todos os artigos. Resultados e Discussão Analisando os trabalhos sobre processos erosivos na zona costeira do Ceará, destacamos os trabalhos realizados em diversas regiões do litoral, que retratam bem a condição e comportamento no Estado, os quais permitem traçar o perfil de uma maneira geral do processo erosivo na região. Morais et al. (2008) estudando a relação do processo erosivo com a dinâmica do rio Jaguaribe e a desvalorização dos imóveis, bem como o declínio das atividades de lazer na Praia de Pontal de Maceió, no Município de Fortim, na costa leste do Estado do Ceará-Brasil, destaca a diminuição da vazão do rio Jaguaribe e aumento da taxa de recuo da linha de costa de 17 m/ano para29 m/ano após o funcionamento do Castanhão. Período no qual, as barracas e bares na faixa de praia foram afastados em 100 m da linha d’água. Sendo que a ausência de manejo adequado, a exemplo das construções de barracas e restaurantes em alvenaria e ausência de sistema de drenagem pluvial favoreceu o retorno dos processos erosivos. Sendo que parte da pós-praia no núcleo urbano da vila de Maceió é ocupada por imóveis dificultando o balanço sedimentar neste setor. Aproximadamente 70% dos imóveis estão localizados há mais de 600 m da linha de costa. Nesse trabalho os r iscos ao patrimônio histórico não foram observados considerando que os imóveis localizados nos primeiros 400 m de distância da linha de costa, vulneráveis a erosão, são recentes, com tempo de construção não superior a 20 anos. Os imóveis localizados nos primeiros 50 m desvalorizaram-se economicamente em até 80%. Os usuários da praia atribuem ao risco de perda do imóvel pela erosão, dificuldade de acesso à praia e impossibilidades na prática do banho de mar como principais fatores de desvalorização dos empreendimentos. Já Fechine (2007) analisou ações dos processos naturais, relacionados com as mudanças sociais impostas à área costeira de Fortaleza, Nordeste do Brasil, ao longo do século XX. O estudo foi individualizado em duas faixas: Sudeste/ Noroeste (SE/NO) e Leste/Oeste (L/O). A primeira parte da desembocadura do Rio Cocó até a Ponta do Mucuripe e a segunda da Ponta do Mucuripe até Foz do Rio Ceará, perfazendo um total de 23 km. Estas faixas são feições dinâmicas que vêm sofrendo com o avanço e recuo da linha de costa. A sua posição no espaço geográfico muda constantemente em várias escalas temporais (diárias, sazonais, decadais, seculares e milenares). Desta forma, a faixa de praia de Fortaleza é afetada por um número muito grande de fatores, alguns de origens naturais e intrinsecamente relacionadas à dinâmica costeira (erosão costeira, variação relativa do nível do mar, dispersão de sedimentos), outros relacionados com as intervenções humanas na zona costeira (obras de engenharia, drenagens, aterramento de praias, construção de espigões, muros de contenção. Relatam que o impacto ambiental e as mudanças, naturais e sociais, nesta região, são significativos. Concluíram que é intenso o avanço da linha de costa na faixa SE – NO (Praia do Futuro, Caça e Pesca e Serviluz), ocorrendo engorda do perfil praial. Já na faixa L/0, um recuo da linha de costa em direção ao continente (Praia do Meireles, Praia de Iracema, Pirambu, L/O e Barra do Ceará) vem se intensificando. Observa-se que essas ações se deram de forma mais intensa posteriormente à construção da grande obra do Porto do Mucuripe, na década de 1940, o qual veio alterar drasticamente toda a dinâmica costeira da cidade de Fortaleza, apresentando-se como um marco das mudanças ambientais da área ao longo do século XX. Oliveira e Meireles (2010) objetivaram avaliar o processo de urbanização na zona costeira e o alcance dos impactos negativos surgidos na área. Assim, confirmaram que a urbanização iniciada com as casas de veraneio e o turismo, gerou impactos ambientais que modificaram a dinâmica do transporte de sedimentos ligado ao campo de dunas e à faixa de praia. Concluíram que a ocupação da zona costeira ocasionou mudanças socioambientais, conjeturando conflitos e degradações de áreas de preservação permanente.. Já Marino e Freire (2013) incluem as zonas costeiras s entre os ambientes mais dinâmicos em nosso planeta, as quais vêm sofrendo com o avanço e o recuo da linha de costa, alterando sua posição regularmente em várias escalas temporais. As áreas litorâneas possuem elevado potencial urbanístico e turístico, e a expansão urbana crescente e desordenada é um problema. Sendo o mapeamento sistemático da linha de costa e o acompanhamento de suas mudanças uma ferramenta para a geração de informações de relevante importância para o planejamento e gerenciamento costeiro. Assim, realizou-se uma análise da linha de costa em quatro trechos do litoral leste da Região Metropolitana de Fortaleza, a partir da análise multitemporal de imagens de sensoriamento remoto e de fotografias aéreas associadas a técnicas de geoprocessamento, abrangendo períodos de 38, 31, 8 e 7 anos, de forma a contemplar a escala interdecadal e interanual, entre os anos de 1972 e 2010. Os resultados demonstram que a variabilidade da linha dessa área apresenta-se bastante instável em sua totalidade. Da praia Porto das Dunas até a margem esquerda do rio Pacoti definiu-se um estágio erosivo, taxa de variação média de 3,53m/ano e -17,67m em 5 anos; entre a foz do rio Pacoti e a praia da Abreulândia, observaram-se índices de erosão média de -0,31m/a e -2,18m em 7 anos; a praia da Abreulândia até a desembocadura do rio Cocó apresentou tendência erosional média de -0,07m/ano e -2,59m, em 38 anos, caracterizando uma estabilidade nesse setor; a Praia do Futuro apresenta uma tendência fortemente progradante, média de +1,43m/ano e +54,33m, em 38 anos. O equilíbrio dinâmico costeiro de toda a área pesquisada tem sido fortemente influenciado pelo crescimento urbano e exponencial, onde é necessária para a implantação das estruturas antrópicas a desconfiguração morfológica e soterramento de alguns ecossistemas, p. ex., faixa praial, campo de dunas e planície flúvio-marinha (estuários). O impacto nesse ambiente implica na supressão de sedimentos que seriam transportados para a praia, para a zona estuarina e para a deriva litorânea, alimentando também outros setores circunvizinhos. A elaboração de uma base multitemporal de imagens de satélite e fotografias aéreas em ambiente de Sistemas de Informações Geográficas favoreceram a identificação e compreensão da dinâmica natural e ambiental das áreas analisadas, sendo essenciais como subsídio às tomadas de decisões acerca do uso e gestão sustentável desses setores. Trata-se de uma importante ferramenta no planejamento e intervenção ambiental, sobretudo por indicar facilmente as tendências de recuo e/ou progradação de uma região ao longo dos anos. Medeiros et al. (2014) comenta que a erosão costeira tem ocasionado transformações na paisagem de diversas praias, ocasionando problemas para a ampliação das atividades produtivas locais, como o turismo, a recreação e o comércio. Porém, as pesquisas não avaliam a percepção ambiental dos utilizadores das zonas costeiras, buscando um melhor entendimento a respeito das necessidades humanas e ambientais que compõem a realidade do local. Destarte, o estudo teve como objetivo realizar um diagnóstico da percepção dos usuários sobre a erosão costeira em uma praia turística no Nordeste do Brasil. Sendo aplicados questionários adaptados à realidade local, divididos nas seguintes partes: informações sobre o entrevistado; formas de utilização da praia e percepção da paisagem. Os resultados identificaram uma concordância da maior parte dos entrevistados com o fato de a erosão costeira na área de estudo ser causada, principalmente, pela ação antrópica. E as medidas de contenção à erosão costeira apontaram ser de importância significativa para melhorar a realidade socioeconômica e ambiental da área. Destacando-se assim a relevância da percepção ambiental aplicada a estudos de erosão costeira como ferramenta no planejamento de obras e/ou políticas que visem ao desenvolvimento sustentável e à recuperação de praias. Rocha et al 2011 buscou-se analisar o comportamento morfológico da desembocadura do sistema estuarino do Rio Pacoti tendo em base dois períodos: um pretérito, em período de estio e um atual, levando-se em consideração ação de maré meteorológica, concluíram que o sistema estuarino do Rio Pacoti ao longo dos anos de análise apresentou estreitamento da foz e erosão na faixa de praia adjacente. O que segundo autores está ligado à construção do barramento do sistema de abastecimento de água de Fortaleza Pacoti/Riachão em 1981, que diminuiu a contribuição do aporte sedimentar advinda da bacia hidrográfica, bem como o seu efeito de molhe na faixa de praia. Bem como, a forte ocupação de hotéis e resorts na área de campo de Dunas a barlamar diminuiu a ação de by pass de sedimentos, justificando-se a erosão e, portando, as mudanças fisiográficas com neste ambiente natural. O recuo da linha de costa a uma taxa de aproximadamente 1,05 metros por ano promoveu a destruição de estruturas fixas construídas pela Colônia de Férias da COFECO e o afloramento da rocha matriz na forma de beach rocks, comprometendo a atividade turística na região da COFECO. Diante dos trabalhos descritos, observa-se que em todos é comum a ocorrência da erosão, associada principalmente a fatores antrópicos, em decorrência da urbanização e o turismo não planejado. Considerações Finais A grande questão no zoneamento urbano das áreas costeiras enfoca principalmente a grande dinâmica do ambiente, associada às ações antrópicas que tornam as áreas ainda mais vulneráveis. São áreas que devem ser preservadas e seu uso é ocupação requer um planejamento estratégico em conjunto a um monitoramento constate. Referências bibliográficas Bezerra, R. G. 2006. Hidrodinâmica do estuário do rio Choró (cascavel/beberibe) litoral leste do estado do Ceará. Fortaleza, Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, 83p. Fechine, J. A. L. 2007. Alterações no Perfil Natural da Zona Costeira da Cidade de Fortaleza, Ceará, ao Longo do Século XX. Fortaleza, Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, 116p. Marino, M. T. R. D.; Freire, G. S. S. 2013. Análise da evolução da linha de costa entre as Praias do Futuro e Porto das Dunas, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estado do Ceará, Brasil. RGCI, Mar 2013, vol.13, no.1, p.113-129. Medeiros, E. 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