163 Em outras palavras, com toda propriedade, Bakhtin nos diz: O simples fato de que a partir de meu lugar único no ser eu veja, eu conheça o outro, eu pense nele, eu não o esqueça, o fato de que para mim também ele é, eu sou único a poder fazê-lo para ele em um momento possível em todo o ser. É precisamente o ato do vivido real em mim que completa seu ser, ato absolutamente aproveitável e novo, e que eu sou o único a poder efetuar (2009, p. 35). Refletir sobre as palavras de Bakhtin irá nos ajudar a compreender o conceito de alteridade tão necessário nas relações humanas e, acima de tudo, irá fortalecer em cada um de nós o desejo de tornar possível a luta contra todo e qualquer tipo de espaço construído com o intuito de invisibilizar a figura do outro, seja através do muro da ignorância ou das humilhações seculares. Podemos, com certeza, dar continuidade a esse espaço reflexivo que, ao descrever sobre os fatos que serviram para justificar a prepotência de uma minoria e a mais desumana história entre senhores e seus escravos, nos oferece a oportunidade de também contestá-las. Sabemos, no entanto, que tais reflexões não irão modificar a sutileza de conceitos perpetuados pela ignorância humana, mas poderá ser um sinalizador, ou seja, uma pequena seta na estrada capaz de conduzir a todos que, desprovidos de vaidade e qualquer tipo de pré-conceito, possam se arriscar em busca de outros valores descobertos através do olhar do outro. É importante enfatizar que, para muitos, essas reflexões são significativas e que a semente desse novo olhar, através desses novos sujeitos, podem vir a ser compartilhadas, também, com aqueles que estão comprometidos em fazer a verdadeira diferença. Porém, o que nos move como sujeitos responsáveis é a certeza que plantamos uma semente que, se bem cuidada e regada com respeito e humanidade, irá contribuir para uma visão menos egoísta das relações entre os homens. Entendemos, também, que a partir de alguns recortes sobre a temática do preconceito racial que foi sendo ratificada através dos séculos como forma de excluir e desprezar o negro se possa questionar o porquê do homem branco não se sentir confortável em sua presença. Nelson Mandela, o grande líder africano, em seus infindáveis e essenciais questionamentos sobre o racismo costumava recorrer a seguinte expressão: “Se os homens podem ser ensinados a odiar o outro, da mesma forma podem ser ensinados a amar...”37. De certa forma, o pensamento de Mandela reforça em nós, cientistas 37 Discurso recorrente e livre de Mandela, ouvido em diferentes momentos.