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Em outras palavras, com toda propriedade, Bakhtin nos diz:
O simples fato de que a partir de meu lugar único no ser eu veja, eu
conheça o outro, eu pense nele, eu não o esqueça, o fato de que para
mim também ele é, eu sou único a poder fazê-lo para ele em um
momento possível em todo o ser. É precisamente o ato do vivido real
em mim que completa seu ser, ato absolutamente aproveitável e novo,
e que eu sou o único a poder efetuar (2009, p. 35).
Refletir sobre as palavras de Bakhtin irá nos ajudar a compreender o conceito
de alteridade tão necessário nas relações humanas e, acima de tudo, irá fortalecer em
cada um de nós o desejo de tornar possível a luta contra todo e qualquer tipo de espaço
construído com o intuito de invisibilizar a figura do outro, seja através do muro da
ignorância ou das humilhações seculares. Podemos, com certeza, dar continuidade a
esse espaço reflexivo que, ao descrever sobre os fatos que serviram para justificar a
prepotência de uma minoria e a mais desumana história entre senhores e seus escravos,
nos oferece a oportunidade de também contestá-las. Sabemos, no entanto, que tais
reflexões não irão modificar a sutileza de conceitos perpetuados pela ignorância
humana, mas poderá ser um sinalizador, ou seja, uma pequena seta na estrada capaz de
conduzir a todos que, desprovidos de vaidade e qualquer tipo de pré-conceito, possam
se arriscar em busca de outros valores descobertos através do olhar do outro.
É importante enfatizar que, para muitos, essas reflexões são significativas e que
a semente desse novo olhar, através desses novos sujeitos, podem vir a ser
compartilhadas, também, com aqueles que estão comprometidos em fazer a verdadeira
diferença. Porém, o que nos move como sujeitos responsáveis é a certeza que plantamos
uma semente que, se bem cuidada e regada com respeito e humanidade, irá contribuir
para uma visão menos egoísta das relações entre os homens. Entendemos, também, que
a partir de alguns recortes sobre a temática do preconceito racial que foi sendo ratificada
através dos séculos como forma de excluir e desprezar o negro se possa questionar o
porquê do homem branco não se sentir confortável em sua presença.
Nelson Mandela, o grande líder africano, em seus infindáveis e essenciais
questionamentos sobre o racismo costumava recorrer a seguinte expressão: “Se os
homens podem ser ensinados a odiar o outro, da mesma forma podem ser ensinados a
amar...”37. De certa forma, o pensamento de Mandela reforça em nós, cientistas
37
Discurso recorrente e livre de Mandela, ouvido em diferentes momentos.
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Em outras palavras, com toda propriedade, Bakhtin nos diz