CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CARLOS HENRIQUE SILVA DE CASTRO EMERGÊNCIA DE COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM ENGAJADAS: quando questões identitárias (não) resultam em diálogo Belo Horizonte 2010 11 CARLOS HENRIQUE SILVA DE CASTRO EMERGÊNCIA DE COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM ENGAJADAS: quando questões identitárias (não) resultam em diálogo Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovações Sociais, Educação e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Processos Educacionais: Tecnologias Sociais e Desenvolvimento Local. Orientadora: Profª. Drª. Ana Elisa Ferreira Ribeiro. Belo Horizonte 2010 22 C355e Castro, Carlos Henrique Silva de Emergência de comunidades virtuais de aprendizagem engajadas: quando questões identitárias (não) resultam em diálogo / Carlos Henrique Silva de Castro. – 2010. 191f.: il. Orientador: Profª. Drª. Ana Elisa Ferreira Ribeiro. Dissertação (Mestrado) - Centro Universitário UNA, 2010. Programa de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Bibliografia f.156 – 160. 1. Comunidades virtuais – aprendizagem. I. Ribeiro, Ana Elisa Ferreira II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658.114.8 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA, campus Guajajaras 33 44 Ao vô Arlindo, dedico! 55 AGRADEÇO... A todos aqueles com quem dialoguei ao longo da minha formação. Às queridas Lucília Machado e Ana Elisa Ribeiro por me darem as mãos ao longo de todo este processo, pela orientação cuidadosa e sempre preocupada, pelos endereços e caminhos apontados, pelas provocações e questionamentos que tanto colaboraram para o meu crescimento. À inspiradora Carla Coscarelli pelo diálogo proporcionado desde a graduação. Aos pesquisadores dos eventos que tive a oportunidade de participar, que muito contribuíram para a minha produção científica. Às amigas leitoras e revisoras, Ana Paula, Goreti e Mariana. Aos amigos leitores e tradutores, Célia, Giovanni e Thiago. Aos funcionários e cursistas do Knight Center que gentilmente consentiram na realização da pesquisa. Em especial, à Vanessa Higgins pela presteza e gentileza com que sempre me atendeu. Aos colegas e professores do Centro Universitário UNA. Em especial, aos queridos parceiros de escrita Aluízio Barros, Beth Almeida, Fran Silveira, Janaína Tizzoni e Jane Medeiros. Ao meu pai, Tadeu, à minha mãe, Lúcia, que sempre acreditam e torcem por mim. Aos irmãos Anderson e Alessandro, ao sobrinho João Pedro, às cunhadas Adriane e Cristiane, pelo carinho e pela presença de sempre. Aos amigos sempre presentes. Em especial, Daniel, Elbia, Fabiana, José Euríalo, Mel, Pablo e Sidnei. Ao querido Ricardo, principal parceiro nos momentos de ansiedade e insegurança, mas também nos momentos criativos e de vitórias nesses 20 meses de mestrado. À espiritualidade que permitiu que todos esses encontros acontecessem. Que nosso diálogo sempre cresça! 66 Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Paulo Freire 77 RESUMO O tema da presente pesquisa é a interação conseguida em Comunidades Virtuais de Aprendizagem (CVAs) por pessoas com objetivos comuns, definido(s) pelas suas identidades e evidenciados no dialogismo presente nos seus discursos. As CVAs são, em síntese, um agrupamento de pessoas que mantêm uma relação dialógica mediada pela internet, capaz de levar adiante discussões públicas a fim de construírem ou reconstruírem aprendizagem sobre determinado assunto. Entre as CVAs, encontramos dois tipos distintos. O primeiro deles refere-se às CVAs Situacionais, voltadas para atender objetivos específicos de determinadas situações. O segundo deles refere-se àquelas cujos objetivos se estendem criando laços de relacionamentos mais fortes e duradouros, as CVAs Estendidas. Como problema de pesquisa, colocamos a seguinte questão: “Como emergem Comunidades Virtuais de Aprendizagem engajadas?” Como objetivo geral, buscamos exemplificar como emerge uma CVA engajada. Para atingirmos tal propósito, trabalhamos com três objetivos específicos: 1) verificar como as identidades locais contribuem para o processo dialógico em ambiente virtual com o objetivo específico da aprendizagem; 2) verificar a existência de possíveis diferenciações entre os laços construídos virtualmente a partir do engajamento dos sujeitos; 3) verificar como se dá o processo dialógico em ambiente virtual com o objetivo específico da aprendizagem. Como hipótese, consideramos que a interação ocorrerá a partir do dialogismo referenciado em identidades locais que apontem para a emergência de CVAs engajadas. Na busca de resposta ao problema apontado, trabalhamos com um estudo de caso nos moldes qualitativos. O caso em questão refere-se a uma parte dos diálogos produzidos em ambiente virtual por 37 alunos e 2 formadores de um curso denominado “Jornalismo 2.0 para professores”, ofertado de abril a maio de 2010, pela instituição Knight Center, ligada à Universidade do Texas, EUA. Os dados retirados dos diversos fóruns e chats, propiciados pelo referido curso, apontam para a comprovação da hipótese levantada, uma vez que os diálogos produzidos são, em sua maioria, motivados por questões ligadas às identidades dos cursistas. Palavras-chave: identidades locais; polifonia; dialogismo; Comunidades Virtuais de Aprendizagem; engajamento. 88 ABSTRACT The theme of the present research is the interaction achieved in Virtual Learning Communities (VLCs) by people with common goals, defined by their identities and evidenced in the dialogism present in their discourses. The VLCs are, in short, a grouping of people who maintain a dialogic relationship mediated by the internet, able to carry on public discussions in order to build or rebuild learning experience about a given subject. Among the VCAs, we find two distinct types. The first one refers to the Situational VCAs. They are aimed at meeting specific goals of certain situations. The second type refers to those of which goals are extended, creating stronger and longlasting relationships, the Extended VLCs. As a research problem, we raise the following question: "How do engaged Virtual Learning Communities emerge?" As the general goal, we search for examples of how an engaged VCL emerge. To achieve such purpose, we work with three specific objectives: 1) to ascertain how the local identities contribute to the dialogic process in a virtual environment with the specific goal of learning; 2) to verify the existence of possible differences between the relationships virtually built in the subjects’ engagement and; 3) to verify how the dialogic process in virtual environment is made with the specific objective of learning. As a hypothesis, according to theoretical analysis, we consider that the interaction will occur from the dialogism of local identities that point to the emergence of engaged VLCs. In the search for an answer to the challenge, we work with a case study in a qualitative manner. The case refers to a part of the dialogues produced in a virtual environment by 37 students and two instructors of a course called "Journalism 2.0 for instructors," offered from April to May, 2010, by the institution Knight Center, attached to the University of Texas, USA. The data from the various forums and chat rooms, enabled by that course, point to the proof of the hypothesis, once the dialogues produced are mostly motivated by issues related to the identities of the students. Keywords: local identities; polyphony, dialogism, Virtual Learning Communities, engagement. 99 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Informações sobre o curso............................................................. 68 Quadro 2: Local de moradia dos cursistas........................................................ 72 Quadro 3: Solicitação de autorização para pesquisa........................................ 78 Quadro 4: Solicitação de depoimentos............................................................ 79 Quadro 5: Critérios de avaliação do curso “Jornalismo 2.0 para professores” 84 Quadro 6: Evidências de polifonia I.................................................................. 86 Quadro 7: Evidências de polifonia II................................................................ 88 Quadro 8: Fórum - “E se nossos alunos nos vissem?”.................................... 91 Quadro 9: Fórum - Um país desigual............................................................... 95 Quadro 10: Fórum - O trabalho dos colegas é inspiração.................................. 99 Quadro 11: Fórum - Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha?..................... 100 Quadro 12: Fórum – Chat.................................................................................. 107 Quadro 13: Chat 1 - Trecho 1.............................................................................. 109 Quadro 14: Chat 1 - Trecho 2............................................................................ 111 Quadro 15: Fórum - Chat.................................................................................... 113 Quadro 16: Chat 2 - Trecho 1............................................................................. 115 Quadro 17: Chat 2 - Trecho 2............................................................................. 117 Quadro 18: Chat 3............................................................................................... 118 Quadro 19: Fórum - Wikipédia não é fonte.......................................................... 123 Quadro 20: Fórum - A Wikipédia como ponto de partida.................................... 126 Quadro 21: Fórum - Participação na Wikipédia.................................................. 127 Quadro 22: Fórum - Teoria x Técnica x Tecnicismo........................................... 130 Quadro 23: Chat informal.................................................................................... 133 Quadro 24: Fórum - E depois?........................................................................... 135 Quadro 25: Depoimentos.................................................................................... 142 Quadro 26: Fórum - Vamos continuar a nos ver?............................................... 145 Quadro 27: Fórum - Grupos da tarefa da semana.............................................. 145 Quadro 28: Fórum - Grupo sobre blog................................................................ 146 Quadro 29: Fórum - Estratégias para incorporar melhor a tecnologia on-line na sala de aula...................................................................................... 147 Quadro 30: Fórum - Grupo 6 - Sugestões para discutir o tema 2....................... 148 Quadro 31: Uso do Orkut como ambiente colaborativo....................................... 149 1 10 LISTA DE SIGLAS AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CV - Comunidade Virtual CVA - Comunidade Virtual de Aprendizagem EaD - Educação a Distância E-Tec - Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil FUNDAP - Fundação do Desenvolvimento Administrativo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística JOL – Jornalismo On-line MEC - Ministério da Educação OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico RSS - Real Simple Syndication TDIC - Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação UAB - Universidade Aberta do Brasil UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá 1 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 14 SOBRE TEMA, PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS ....................... O Brasil contemporâneo e a educação ..................................................... A Educação a Distância cada vez mais próxima ....................................... Processos de interação e comunicação para uma aprendizagem colaborativa ............................................................................................... 2.4 O que são Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)?.......................... 2.5 O diálogo e a aprendizagem ...................................................................... 2.6 A identidade, o local e a formação de Comunidades Virtuais de Aprendizagem engajadas........................................................................... 2.7 O problema ................................................................................................ 2.8 Hipótese ..................................................................................................... 2.9 Objetivos ........................................ ........................................................... 2.9.1 Objetivo geral ............................................................................................. 2.9.2 Objetivos específicos ................................................................................. 2.10 Um estudo de caso .................................................................................... 18 18 19 3 3.1 3.1.1 3.1.2 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 36 36 36 38 40 44 47 49 3.6.1 3.6.2 3.6.3 3.6.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................. Inovação no âmbito educacional ............................................................... Inovação: da gênese ao conceito atual ..................................................... Inovação e EaD ......................................................................................... A identidade, a linguagem e as questões sociais ...................................... O poder da linguagem e o poder exercido pela linguagem ....................... Um novo lugar para a identidade ............................................................... Dialogismo e polifonia na constituição das identidades ............................ Comunidades, Comunidades Virtuais, Comunidades Virtuais de Aprendizagem Situacionais e Estendidas.................................................. Por objetivos comuns................................................................................. Relações efêmeras constituem uma comunidade?.................................... Comunidades Virtuais................................................................................. Comunidades Virtuais de Aprendizagem Situacionais e Estendidas......... 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.4.1 4.4.2 4.5 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO ................. A pesquisa qualitativa e sua relação com a presente pesquisa ................ Justificando o estudo de caso ................................................................... O caso ....................................................................................................... Os sujeitos da pesquisa ............................................................................. Os formadores ........................................................................................... Os cursistas ............................................................................................... Corpus, dados e instrumentos de coleta de dados ................................... 63 63 64 67 69 70 71 73 5 5.1 5.2 5.3 ANÁLISE DE DADOS E APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS ............. Proposições e síntese de conceitos .......................................................... Em busca de vozes ................................................................................... Das identidades locais ............................................................................... 82 82 85 89 2 2.1 2.2 2.3 21 24 26 27 29 34 34 34 34 34 52 54 55 58 59 1 12 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.3.4 5.4 5.4.1 Quando as experiências dialógicas locais face a face motivam o diálogo Quando identidades definidas pela geografia local motivam o diálogo ... Quando identidades definidas em território virtual motivam o diálogo .... O poder da linguagem na (re)construção da identidade ........................... Diálogo para emergência de CVA Situacional engajada ........................... A experiência em chat aponta para a emergência de uma comunidade engajada.................................................................................................... 5.4.2 A interação no fórum e a emergência de CVA Situacional engajada......... 5.5 Situacional ou Estendida: uma fronteira incerta ........................................ 5.5.1 Novas motivações e a emergência de CVA Estendida ............................. 5.6 Quando a interação não acontece ............................................................. 5.7 Assim emerge uma CVA engajada............................................................. 6 90 92 97 100 105 108 120 133 140 144 150 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 153 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 156 APÊNDICES ........................................................................................................ 161 ANEXO ................................................................................................................ 184 1 13 Capítulo 1 1 14 INTRODUÇÃO A presente pesquisa nasce de uma curiosidade em relação ao espaço virtual, às diferentes linguagens que dele emergem e, ainda, ao grande potencial para a educação que ele apresenta. O primeiro contato deste pesquisador com a informática deu-se no ano de 1994, quando ainda não se podia contar com uma telemática que contribuísse fortemente para a interação social, como na atualidade. As primeiras oportunidades de acessar o espaço virtual aconteceriam em 2000, quando criou sua primeira conta de e-mail1, começou a utilizar o conteúdo da web em pesquisas voltadas ora para a sua formação, ora para o entretenimento e, rapidamente, a usar as ferramentas disponíveis para interação. Pela internet, pesquisou, leu, compartilhou, baixou, escutou, viu, dialogou, o que representou, para ele, um mundo novo, tão grande quanto pudesse buscar nas redes cada vez mais globais por meio das quais continuou fazendo contatos, surfando por novas ondas e buscando descobrir sempre mais. Foi no ano de 2002, quando estudava na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que teve sua primeira experiência com o ensino/aprendizagem on-line. Cursou a disciplina “Teorias do texto aplicadas ao Português: da oração ao hipertexto”, que contava apenas com a ferramenta e-mail para a comunicação e a interação, mas era bastante inovadora na forma de fomentar o diálogo e proporcionar a aprendizagem. A disciplina propiciava interação com todos os envolvidos no processo educacional, que trocavam textos e impressões sobre suas produções, em um diálogo constante, que resultou na confecção de ricos trabalhos, bem como na troca de muitas experiências com os colegas e com a professora. A partir de então, o autor tornou-se um observador contumaz de fóruns, blogs, redes sociais, grupos de e-mails e toda forma de interação on-line, sempre proporcionada por ferramentas que se multiplicam todos os dias, mas que, ao que parece, 1 Esclarecemos que o universo que envolve a presente pesquisa se utiliza de muitos termos da língua inglesa e, por isso, optou-se por não utilizar itálico para tais termos, mesmo porque muitos deles já estão dicionarizados no Brasil. 1 15 necessitam mais da afinidade e dos interesses daqueles que buscam um diálogo na rede do que exatamente do desenho da ferramenta em uso. O contato com a Educação a Distância (EaD), baseada nos processos colaborativos, que se utiliza de várias ferramentas oriundas da rede, como os fóruns, chats, perfis, wikis, entre outros, ocorre no ano de 2008. É de 2008 a 2009 que cursa a Especialização “Design Instrucional para EaD Virtual”, ofertada pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). A partir de então, surgem os primeiros questionamentos sobre o que se tornaria sua temática de pesquisa. Foi nesse curso, ofertado em ambiente virtual, que contava com muitas das atuais e populares ferramentas interativas disponíveis na internet, que ficou evidenciado, pelas suas observações, feitas sem o rigor científico necessário, que em muitos momentos o diálogo ocorria, mas, em outros momentos, não. A partir dessas observações iniciais, surgiram várias questões que se transformaram em projeto de mestrado, no final de 2008, representando o ponto de partida para a realização da presente dissertação. O tema da presente pesquisa é a interação conseguida em Comunidades Virtuais de Aprendizagem (CVAs) por pessoas com objetivos comuns, definido(s) pelas suas identidades e evidenciados no dialogismo presente nos seus discursos. Defenderemos, ao longo do texto, que as identidades, sempre ligadas às experiências sociais que os sujeitos vivenciam, é que fomentarão o diálogo para a emergência de comunidades engajadas, que, por sua vez, contribuirão positivamente para a aprendizagem. Acreditamos que a importância deste trabalho está em poder contribuir com a pesquisa em gestão social, linguagens, educação e desenvolvimento local, entre outros temas, envolvidos no universo da discussão colocada. O processo constitutivo da dissertação para esta investigação será apresentado em 6 capítulos, sendo esta parte introdutória o primeiro deles. Os demais são: Capítulo 2: Trata de um capítulo que busca contextualizar o leitor sobre a temática de investigação e todo o universo que a cerca: 2.1) O Brasil contemporâneo e a educação; 2.2) A Educação a Distância cada vez mais próxima; 2.3) Processos de interação e comunicação para uma aprendizagem colaborativa; 2.4) O que são 1 16 Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)? 2.5) O diálogo e a aprendizagem; 2.6) A identidade, o local e a emergência de Comunidades Virtuais de Aprendizagem engajadas; 2.7) O problema de pesquisa; 2.8) Hipótese; 2.9) Objetivos e; 2.10) Um estudo de caso. Capítulo 3: Versa sobre o referencial teórico que compõe a investigação com a finalidade de auxiliar na composição da problematização; na elaboração das questões de pesquisa e da hipótese; nos documentos de investigação e; embasar a análise dos dados obtidos. O capítulo é dividido em seis seções: 3.1) Inovação no âmbito educacional; 3.2) A identidade, a linguagem e as questões sociais; 3.3) O poder da linguagem e o poder exercido pela linguagem; 3.4) Um novo lugar para a identidade; 3.5) Dialogismo e polifonia na constituição das identidades, e; 3.6) Comunidades, Comunidades Virtuais, Comunidades Virtuais de Aprendizagem Situacionais e Estendidas. Capítulo 4: Trata da metodologia utilizada e dos procedimentos de investigação, bem como os sujeitos pesquisados, corpus e instrumentos de coleta de dados. Capítulo 5: A análise do conteúdo e apresentação dos resultados. Capítulo 6: Considerações finais sobre os resultados obtidos, bem como as lacunas encontradas a fim de fomentar novas pesquisas e a continuidade do diálogo. Com base na pesquisa desenvolvida, elaboramos uma proposta de intervenção educacional que possui o objetivo de levar aos interlocutores, profissionais de EaD, sobretudo os responsáveis pelo design instrucional de cursos a distância, um “Manual de Instruções para a Construção de Cursos On-line” que aponta caminhos para o fomento de Comunidades Virtuais de Aprendizagem (CVAs) mais dialógicas. Nossa proposta de intervenção conta com duas ações distintas e complementares. A primeira delas, como pode ser visto no Apêndice 1, trata-se do referido manual. A segunda ação, Apêndice 2, refere-se à criação de um blog, intitulado Educlick2, no qual divulgaremos o produto desenvolvido e outras pesquisas da área. 2 educlick.wordpress.com 1 17 Capítulo 2 1 18 SOBRE TEMA, PROBLEMA, HIPÓTESE E OBJETIVOS 2.1 O Brasil contemporâneo e a educação Nos últimos anos, muitos avanços quantitativos são notados na educação brasileira. Os números oficiais dão conta de uma taxa de matrícula crescente da década 1980 em diante. De acordo com Rigotto e Souza (2005, p. 340-341), na década de 1970, “(...) a taxa de matrícula líquida no ensino fundamental brasileiro era de apenas 68%, reduzindo-se ainda a 64% em 1980. Nos anos de 1980, essa taxa aumentou, chegando a 86%, em 1991, a 90%, em 1995 e a 101%, em 2003”. Porém, constatamos que ainda há um grande caminho a ser percorrido. No endereço eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3 , podemos verificar que a taxa de analfabetismo dos brasileiros com idade acima de 15 anos, para o ano de 2007, era de 10%. Avaliando todo o continente sulamericano, encontramos números bem melhores. A Argentina, o Uruguai, o Chile e a Guiana apresentam, respectivamente, 2,4; 2,1; 3,5; e 1 pontos percentuais para o mesmo item. Diante desse cenário, a demanda pelo ensino de qualidade e de menor custo é latente. Com grande potencial para a disseminação da informação e do conhecimento, surgiu a internet comercial, que é difundida cada vez mais rapidamente pelo país. Dados disponíveis na Pesquisa sobre o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil: TIC Domicílios e TIC Empresas 20094 apontam que 32% dos lares brasileiros possuem computadores, sendo que 24% destes lares possuem acesso à internet. Entre os que têm internet em casa, 34% possuem uma velocidade inferior a 256 kbps, 23% não souberam responder e os demais representam a faixa de velocidade acima de 256 kbps. Entre aqueles que não têm internet em casa, 22% afirmam que acessam a rede em outros lugares e, ainda, 45% de toda a população brasileira já utilizou computador. Diante de tal cenário, a EaD assume papel fundamental para a disseminação do conhecimento. Com as tecnologias cada vez 3 4 http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php http://www.cetic.br/tic/2009/index.htm 1 19 mais integradas e acessíveis, a viabilidade de cursos a distância torna-se cada vez maior. É inegável o papel da educação no desenvolvimento do ser humano. Desenvolvimento, no seu mais amplo sentido - cultural, social e econômico -, que gera pesquisas nos diversos campos do conhecimento. No Brasil atual, as tentativas de se massificar o ensino superior já lançam mão das mais novas possibilidades tecnológicas existentes. A EaD torna-se, assim, importante aliada em um país de dimensões continentais, como este, onde o ensino não chega às mais longínquas localidades por motivos diversos, como falta de recursos para a construção das dependências, falta de profissionais qualificados nas regiões mais afastadas dos grandes centros, falta de uma organização voltada para priorizar a realidade local de alunos trabalhadores, entre outras impossibilidades. Problemas de ordem diversa que podem ser resolvidos, pelo menos em parte, como apostam pesquisadores e governos, com escolas a distância. A confiança nesse novo e possível sistema de ensino ocorre por conta das novas possibilidades de interação que têm o potencial de colocar os atores da educação, discentes e docentes, separados espacialmente, mais próximos por meio de uma interação que se tornou possível com o advento da web e, sobretudo, da web 2.0. Tais fatos fazem com que a EaD cresça, seja regulamentada e cada vez mais utilizada. Resta-nos saber como esses alunos, de um perfil tão novo quanto a telemática, aprendem, para assim alinharmos as práticas educacionais em busca de bons resultados em termos qualitativos. 2.2 A Educação a Distância cada vez mais próxima A história da EaD tem seus primeiros registros no século XVIII. Segundo Gusmão5 (2008), a iniciativa de um professor de taquigrafia de nome Cauleb Phillips, no ano de 1728, em Boston, nos Estados Unidos da América, tornou-se um marco no ensino a distância no mundo. William R. Harper, reitor da Universidade de Chicago, no ano de 1886, escreveu: 5 http://www.alphanews.com.br/materias.asp?id=954 2 20 Chegará o dia em que o volume da instrução recebida por correspondência será maior do que o transmitido nas aulas de nossas academias e escolas; em que o número dos estudantes por correspondência ultrapassará o dos presenciais. (GUSMÃO, 2008) Na época, tais palavras poderiam ser consideradas como profecia um tanto improvável de se concretizar. Mas, na atualidade, a realidade já aponta para a concretização das previsões do Sr. Harper, embora, certamente, por meio de uma tecnologia que ele não imaginaria que viria a se popularizar no final do século XX. No Brasil, segundo Castela (2008), a introdução da EaD ocorreu em 1904, com o lançamento de cursos por correspondência de Escolas Internacionais. A partir de então, só se registram avanços com o advento de novas tecnologias e, com estas, o surgimento de novas possibilidades e facilidades para o ensino. Com o rádio vieram os cursos da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, do Instituto Monitor, em 1939, e do Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Com a televisão, já na década de 1970, introduzem-se cursos supletivos por meio de uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho, juntamente com a Fundação das Indústrias de São Paulo. Na década de 1990, começam a surgir as primeiras iniciativas pela internet. No Brasil, a consolidação da tendência ocorre na década seguinte, com a criação de leis para a devida regulamentação. Em 19 de dezembro de 2005, o conceito da Educação a Distância no país é apresentado pelo Decreto n. 5622, no parágrafo 1º de seu primeiro artigo: Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e tempos diversos. (BRASIL, 2005) A partir de então, surgem novos programas educacionais voltados para a EaD como o Universidade Aberta do Brasil (UAB), que prevê a disseminação do ensino superior de qualidade, e o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec), voltado para a oferta de cursos técnicos de nível médio. Notamos, ainda, crescente número de instituições de ensino de iniciativa privada voltadas para atender à demanda do ensino a distância. Em números, segundo o 2 21 Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância 6 de 2008, a quantidade de instituições cresceu 54,8% de 2004 para 2007 e a de alunos matriculados, naquele momento, passava de 2,5 milhões. Todos os cursos voltados para a aprendizagem colaborativa conhecidos utilizam-se das plataformas de EaD criadas para funcionarem como Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), motivo pelo qual recebem este nome. As novas possibilidades da rede mundial de computadores tornaram possível a troca de informações e experiências sincronicamente, de modo aproximado às vivenciadas em uma sala de aula convencional, em um bate-papo informal ou assincronamente. Nesta última modalidade, há ferramentas de interação com grande valor educacional, como fóruns de discussão, construção coletiva de textos, blogs, em redes sociais para divulgação de produção, em leitura e estudo individual e em avaliações postadas em sistemas de comentários. As vantagens ficam por conta do acesso, que pode ser feito de lugares nos quais, antes, o ensino não chegava, em horários que até então não era possível frequentar uma sala de aula presencial, ampliando as possibilidades de ensino. Salientamos que, apesar do grande crescimento alcançado pela internet, ainda não podemos dizer que já se trata de uma rede acessível à maioria da população. Não obstante, tal questão tem o objetivo de ilustrar o cenário em que se insere o objeto de pesquisa e não será debatida no presente estudo. Para que essas novas e crescentes possibilidades resultem em um ensino de qualidade, não basta que existam ferramentas que possibilitem a interação. Nesse novo cenário, uma das questões a serem colocadas é como se dá a aprendizagem dos docentes que se utilizam dessas ferramentas. Assim, notamos a permanência de velhos desafios. 2.3 Processos de interação e comunicação para uma aprendizagem colaborativa Da década de 1990 em diante, com o advento da internet, presenciamos o crescimento espantoso do número de informações disponíveis e o início de uma 6 http://www.abraead.com.br/anuario/anuario_2008.pdf 2 22 nova forma de organizá-las. Com essa crescente oferta de conteúdo e espaço para a produção, surgem novas ferramentas que permitirão aos usuários integrarem-se às redes de seu interesse, selecionarem e criarem conteúdos. Aliados ao barateamento de ferramentas de produção, tais como computadores, câmeras fotográficas digitais, máquinas digitalizadoras, softwares de edição de som e imagem, e diversos outros itens, antes de uso restrito de profissionais, esses elementos transformam o ambiente virtual em um espaço fecundo para a produção do conhecimento e seu compartilhamento. A partir de então, há uma alteração na realidade da divulgação da informação e sua apropriação. Agora, o espectador torna-se agente na produção dos conteúdos, seja de textos, de imagens, de vídeos, arquivos sonoros, da avaliação de conteúdos encontrados na rede por meio de ferramentas que já são utilizadas por grande parte da população. Em razão dessas novas e criativas formas de interação, elaboração de conteúdo e divulgação, organização de informação, construção coletiva e participativa, cunhouse o termo web 2.0. A expressão apareceu pela primeira vez em uma palestra de Tim O’Reilly, presidente e diretor executivo da empresa de comunicação O’Reilly Media, em evento no ano de 2003 (PANISSI, 2007)7. O vocábulo designa a segunda geração da web, na qual o espectador torna-se também agente, as interfaces tornam-se mais intuitivas e novos projetos e processos editoriais são criados, agregando tecnologias e linguagens que surgem a partir dos pressupostos colaborativos segundo os quais qualquer usuário da rede pode contribuir na construção de conteúdo, de acordo com normas específicas de cada ferramenta, site, ambiente, etc. Bons exemplos desse novo conceito são facilmente recuperáveis. Há sites em que o único ofertante de conteúdos é o usuário, como o YouTube8, que hospeda vídeos, ou o Flickr9, que hospeda fotos. Na construção de textos, é importante citar a relevância de blogs, com seus sistemas de comentários, cujo papel é avaliar o conteúdo disponibilizado, bem como sugerir novos temas e tópicos. Os sistemas wiki transformaram-se em ambiente fértil para a escrita colaborativa, quando um usuário 7 http://colunas.g1.com.br/tiraduvidas/2007/06/06/ainda-nao-entendeu-o-que-e-a-web-20-a-genteexplica 8 www.youtube.com 9 www.flickr.com 2 23 escreve o texto inicial e outros que acessarem, dentro de normas específicas de cada sistema, podem revisar, editar, reescrever, de acordo com pesquisas pessoais ou sua vontade. Há críticas sobre a Wikipédia10, enciclopédia on-line que funciona nos citados moldes, porém, há pesquisas que apontam que verbetes mais polêmicas e visadas, como “islamismo”, não ficam na rede mais do que quatro minutos com informações erradas, tão grande é o número de usuários que se utilizam do serviço e estão dispostos a colaborarem com a veracidade e a correção das informações fornecidas (ANDERSON, 2006). Na organização de conteúdos e informações, é importante frisar a importância das chamadas tags. Trata-se de palavras/rótulos/etiquetas que indexam os conteúdos de acordo com o interesse do usuário e servem para a recepção de novos conteúdos indexados com aquela mesma tag. Nos sites de fotos, por exemplo, podemos buscar imagens com o rótulo “educação”, da mesma forma em sites de vídeos e assim por diante, de acordo com a indexação feita pelo colaborador que postou o conteúdo. Ainda sobre organização de informações, há os sistemas RSS, abreviatura de “Real Simple Syndication”. Trata-se de uma indicação de existência de novo conteúdo naquele blog ou site que será enviado automaticamente para uma página agregadora de conteúdos, outra ferramenta que facilitará a vida de quem se interessa por muitos sites ou que, para se atualizar, tem sempre que buscar atualizações nos sites de referência. Ainda sobre agregadores de conteúdos, os mais populares são o iGoogle 11 e o NetVibes12. O usuário desses serviços gratuitos pode colocar as informações que encontra em um único espaço virtual. Uma vez acessado por meio de senha pessoal, janelas apontam conteúdos, como novas mensagens de e-mails, novas postagens nos blogs e sites que o usuário considera relevantes, tudo organizado em forma de abas indexadas por ele mesmo, de acordo com suas preferências. Assim, o usuário não precisará mais ficar horas na rede verificando seus três, quatro ou cinco e-mails, seus quinze blogs favoritos, etc. As informações de atualização vêm até ele, facilitando a organização das informações e do conhecimento. Sobre organização de conhecimento, também há o sistema de guardar os endereços de sites, matérias e 10 pt.wikipedia.org www.google.com.br/ig 12 www.netvibes.com 11 2 24 artigos favoritos, tal qual se faz no navegador do computador pessoal, em sites que mantêm os favoritos do usuário sempre on-line, indexados por tags, podendo o usuário publicar sua página de favoritos para acesso de outros usuários, a exemplo do Delicious13 e do Trailfire14. A vida de quem tem acesso a muita informação na rede está mais fácil. Se, para muitos, todas essas informações soam como novidades, para milhares de jovens das novas gerações, termos como wiki, blog, chat ou podcast já são parte de seu universo. Diante dos elementos levantados, a internet torna-se um meio propício para o ensino a distância, disponibilizando novas ferramentas de interação e comunicação, inicialmente focadas na rede aberta para fins não-educacionais ou educacionais não-formais, que foram logo incorporadas às plataformas de EaD, com a finalidade de transformá-las em ambientes colaborativos efetivos. 2.4 O que são Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)? Os programas destinados a apoiar as atividades da EaD, que reúnem diversas das ferramentas colaborativas comentadas anteriormente, acrescidas de outras voltadas para gerenciamento de cursos e de avaliações, são denominados Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). O planejamento para o uso de tais ferramentas deverá permitir a criação de trabalhos, a participação de todos os autores, bem como a administração de cursos via web por parte da equipe de formadores. Trata-se de ambientes com interface amigável, nos moldes da internet aberta, com potencial para a interação entre todos os autores do aprendizado, assim como o armazenamento e o compartilhamento de informações e trabalhos desenvolvidos. Enfatizamos que AVA refere-se apenas aos softwares e suas ferramentas, como descreve Ribeiro (2007): Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) são softwares educacionais via internet destinados a apoiar as atividades de educação a distância. Estes softwares oferecem um conjunto de tecnologias de informação e comunicação que permitem desenvolver as atividades no tempo, espaço e ritmo de cada participante (RIBEIRO, 2007, p. 40). 13 14 delicious.com trailfire.com 2 25 Grosso modo, os AVA funcionam como salas de aula virtuais, onde há espaço para a interação entre alunos e docentes, visualização das aulas por meio de links de fácil acesso, ementas, atividades, avaliações, entre várias outras possibilidades. Nos AVA existentes - como TelEduc, Moodle ou Blackboard -, é possível trabalhar com ferramentas de comunicação, com ferramentas tradicionais do ensino e, ainda, obter o auxílio de outras ferramentas de gerenciamento, como pontua Paiva: Esses aplicativos, geralmente, oferecem uma interface gráfica, e algumas ferramentas tais como: ferramentas de comunicação assíncrona (fórum, email, blog, mural) e síncrona (chat); ferramentas de avaliação e de construção coletiva (testes, trabalhos, wikis, glossários); ferramentas de instrução (textos, atividades, livros, vídeos) ferramentas de pesquisa de opinião (enquete, questionários); e ferramentas de administração (perfil do aluno, cadastro, emissão de senha, criação de grupos, banco de dados, configurações, diários de classe, geração de controle de frequência e geração de relatórios, gráficos e estatísticas de participação). (PAIVA, 2010, no prelo) Nesses espaços, as aulas funcionam com a apresentação das atividades a serem executadas e a orientação devida do corpo docente, que será o responsável pela mediação e pela promoção da interação entre os discentes para a construção de conteúdos, de acordo com os temas estudados, e sua posterior publicação no próprio ambiente em que o curso é ofertado, nos moldes das populares redes sociais virtuais, como Orkut 15 , Facebook 16 , MySpace 17 ou qualquer outra. Contudo, a existência de ferramentas que possibilitam a interação parece não bastar para que o diálogo realmente se efetive. Como afirma Paiva: “(...) o que determina a orientação epistemológica de um curso não é o AVA, mas o design de cada curso.” (PAIVA, 2010, no prelo). Assim, cremos que o diferencial se dará pelo planejamento educacional envolvido, pelo acompanhamento das atividades e pelo diálogo promovido que deve contar com a participação dos diversos sujeitos envolvidos no ambiente de aprendizagem, cada qual com sua identidade, que possibilitarão a constituição de comunidades virtuais para uma efetiva aprendizagem. Retornaremos a este assunto, com a devida argumentação, em momento oportuno. No capítulo específico que trata da metodologia de pesquisa, serão apresentadas as ferramentas utilizadas na produção dialógica selecionada para a presente pesquisa. 15 www.orkut.com.br www.facebook.com 17 www.myspace.com 16 2 26 2.5 O diálogo e a aprendizagem O tema interação remete à produção dialógica, à presença de mais de uma voz, a chamada polifonia, que resulta em construção de sentido. Ou seja, o sentido é construído a partir do diálogo constante que o homem, sujeito social, produz, no contato face a face ou mediado. Quando se fala em aprendizagem, também se quer referir à produção de sentidos. Para Bakhtin (2006), a enunciação é a objetivação externa da atividade mental, daí a importância do diálogo na produção de sentidos. Na teoria bakhtiniana (2006, p. 114), “(...) a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor”. E, de acordo com Gutierrez, que se utiliza da teoria bakhtiniana: Aprender é compreender, é construir conhecimento social e dialogicamente, considerando todos os conhecimentos acumulados pela humanidade. Uma construção que tem como mediadora a linguagem, pois ao compreender tornamo-nos parte do texto, numa interação como relação dialógica mediante a confrontação de sentidos, uma compreensão responsiva ativa e que exige duas consciências. (GUTIERREZ, 2005, p. 6) Para Siemens (2004 apud SANT’ANA, 2008), o ensino que se utiliza das características elencadas deve apresentar alguns princípios básicos. Os princípios citados pelo referido autor vão ao encontro da teoria bakhtiniana, que coloca a interação como fundamental na construção de sentidos: Aprendizagem e conhecimento apóiam-se na diversidade de opiniões. Aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou fontes de informação. Aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos. A capacidade de saber mais é mais crítica do que aquilo que é conhecido atualmente. É necessário cultivar e manter conexões para facilitar a aprendizagem contínua. A habilidade de enxergar conexões entre áreas, idéias e conceitos é uma habilidade fundamental. Atualização (“currency” – conhecimento acurado e em dia) é a intenção de todas as atividades de aprendizagem conectivistas. A tomada de decisão é, por si só, um processo de aprendizagem. Escolher o que aprender e o significado das informações que chegam é enxergar através das lentes de uma realidade em mudança. Apesar de haver uma resposta certa agora, ela pode ser errada amanhã devido a mudanças nas condições que cercam a informação e que afetam a decisão. (SIEMENS, 2004 apud SANT’ANA, 2008, p. 5) Trata-se de princípios que contribuem para a presente pesquisa, uma vez que creditam o aprendizado ao diálogo. A necessidade da diversidade de opiniões é 2 27 confirmada por Siemens, que, no referencial teórico e no raciocínio aqui adotados, traduzir-se-á na presença de diversas identidades no espaço virtual, evidenciadas pelas diversas vozes presentes no discurso. Vozes estas trazidas pelos diálogos estabelecidos ao longo da vida e pelas conexões que tais diálogos possibilitam. Conexões feitas a partir das contribuições dadas pelo sujeito do discurso que, se fizerem sentido para o interlocutor, passarão a fazer parte da sua cadeia discursiva e resultarão em aprendizagem. E mesmo se tais conexões não fizerem sentido para o sujeito, certamente contribuirão para uma nova cadeia de raciocínio que o levará a tal conclusão. Isso contribuirá para um novo diálogo entre o sujeito, suas leituras e experiências, reorganizando seu pensamento para que argumente contrariamente à posição da qual discorda, resultando também em construção de sentido, em aprendizado. Afirmamos, assim, que o diálogo sempre contribuirá para a (re)construção de sentidos. Tema ao qual retornaremos em momento oportuno, a fim de garantir uma estruturação adequada das proposições de trabalho desta pesquisa. 2.6 A identidade, o local e a emergência de Comunidades Virtuais de Aprendizagem engajadas A construção da identidade envolve o meio social e todas as experiências vividas pelos sujeitos. Experiências estas que oscilam de acordo com os diversos interesses, motivações e condições de sobrevivência, que, invariavelmente, dependerão do lugar no qual o sujeito está inserido. Castells confirma tal assertiva da seguinte forma: A construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedade, que reorganizam seu significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como a sua visão de tempo/espaço. (CASTELLS, 1999, p. 23) Dessa forma, a identidade será sempre constituída de características locais, visto que a construção de sentidos, constitutiva da identidade, é dada a partir do local. Martins, em texto de Carlos, afirma que: a história local é a história da particularidade embora ela se determine pelos componentes universais da história. Isto é, embora na escala local raramente sejam visíveis as formas e conteúdos dos grandes processos 2 28 históricos, ele ganha sentido por meio deles, quase sempre ocultos e invisíveis (...) é no âmbito local que a história é vivida e é onde pois tem sentido. (MARTINS, apud CARLOS, 1996, p. 25-26) A autora ainda enfatiza que a “história tem uma dimensão social que emerge no cotidiano das pessoas, no modo de vida, no relacionamento com o outro, entre estes e o lugar (...)” (CARLOS, 1996, p. 26). Colocada a importância das questões sociais, emanadas do local em que o sujeito está inserido, há de se refletir sobre os modos de associação encontrados pelos sujeitos, especialmente as chamadas comunidades. Collins e Garcia, utilizando do arcabouço teórico de Garrison et al. e Anderson et al., destacam o importante papel das comunidades na EaD: Garrison et al. (2000) e Anderson et al. (1998; 2001) salientam que um dos caminhos fundamentais para o desenvolvimento da qualidade da educação on-line é a formação de comunidades críticas, reflexivas e colaborativas de aprendizagem, construídas na interação e formadas para desenvolver pessoas mais críticas e capazes de manter relações de interdependência para a solução de problemas, de desenvolver mais eficientemente a autonomia para aprender. (COLLINS & GARCIA, 2009, p. 336) Sílvio (2007 apud BACKES, 2007, p. 13) afirma que, “ao longo da história, os sociólogos foram definindo comunidade como grupo de pessoas que possuem objetivos comuns e se relacionam por meio de interações, escala de valores comuns e interesses”. Tal conceito encontra a definição de Neirotti e Poggi (2005), que, ampliado para a nova realidade tecnológica, contempla também o objetivo da aprendizagem na formação das comunidades. Para estes últimos, Comunidade de Aprendizagem dão conta de espaços amplos de aprendizagem, geográficos ou virtuais, sistemáticos ou não. Já Sartori (2003, p. 3) avança um pouco mais e descreve as comunidades virtuais como: (...) espaços formados por agrupamentos humanos no ciberespaço. Seu funcionamento está diretamente ligado, num primeiro momento, às redes de conexões proporcionadas pelas tecnologias de informação e comunicação e, num segundo momento, à possibilidade de, neste espaço, pessoas com objetivos comuns se encontrarem, estabelecerem relações e desenvolverem novas subjetividades. (SARTORI, 2003, p. 3) Vemos, nos ambientes virtuais, onde é possível estabelecer e manter relações sociais, um espaço que extrapola a concepção de local concebida antes dessa nova realidade, permitindo até mesmo a constituição de comunidades virtuais, tal como defende Sartori (2003). E a formação de comunidades nesses espaços é de grande 2 29 relevância no processo de aprendizagem, por meio da participação e da colaboração para se atingir o objetivo da produção dialógica, que ocorre constantemente na interação, visto que o dialogismo é constitutivo do discurso. Outras particularidades acerca das CVAs serão discutidas em capítulo próprio, como, por exemplo: A partir de qual momento da interação ocorrida pode-se configurar uma comunidade engajada? O que caracteriza uma comunidade virtual? Ou ainda: O que diferencia uma comunidade de aprendizagem das demais que não recebem esse título? Por ora, adiantamos que trabalhamos nesta pesquisa na busca de exemplificar dois tipos de CVAs: as voltadas para atender objetivos de determinadas situações, que nomeamos de Situacionais, e aquelas cujos laços se estendem para além dos objetivos prévios estabelecidos, fruto do engajamento dos sujeitos que delas participam, que nomeamos de Estendidas. 2.7 O problema No meio científico, já existem diversos estudos que analisam a existência de atividades voltadas para a interação e uma efetiva construção de novos enunciados a partir do diálogo. Elencamos quatro estudos diferentes, efetuados em ambientes virtuais voltados para a aprendizagem, com as características citadas, a fim de exemplificarmos a possibilidade de emergência de CVAs engajadas. Os estudos foram realizados em experiências diferentes de EaD, em que se verifica a presença de diálogo e a construção de sentidos, conforme marco teórico deste estudo. O primeiro deles é um texto que avalia a existência de interação em ambiente virtual em três atividades diferentes baseadas em três ferramentas interativas: o chat, o wiki e o fórum. Entre as atividades desenvolvidas com os alunos, torna-se relevante para este trabalho o comentário dos resultados alcançados em um chat e um fórum. Axt et al. (2006) acusam sucesso ao atingir os objetivos traçados – de participação coletiva e, inevitavelmente, produção dialógica – entre os participantes em todas as atividades avaliadas. Na atividade de chat, a tentativa era trazer o entendimento individual de cada cursista sobre um texto previamente discutido. O objetivo era criar uma atmosfera de debate em que cada significação era discutida e avaliada, reconhecendo-se a 3 30 existência de outros pontos de vista, de conceitos ideológicos divergentes, “considerando o dialogismo como o princípio constitutivo da possibilidade de interação” (AXT et al., 2006, p. 6). Os autores do artigo descrevem o espaço de interação da seguinte forma: (...) no Teleduc, na sala de bate-papo (...), a experiência coletiva tinha como objetivo, na discussão conceitual, uma troca de conhecimentos forjada principalmente no embate e na partilha de interpretações diferentes a partir da leitura de textos comuns: literalmente, o espaço de linguagem como “arena” de lutas entre significações. (AXT et al., 2006, p. 5) O fato de os autores nomearem o espaço de “arena” leva-nos a concluir que o diálogo ocorrera. Portanto, o objetivo traçado de interação para o compartilhamento de significações sobre um texto foi atingido. Continuamente à atividade de chat, houve também a atividade do fórum, na qual os alunos poderiam elaborar melhor os conceitos, trazer novas reflexões sobre o conteúdo em debate e novos textos pesquisados ou indicados pelos docentes. Na segunda atividade, também é observada construção satisfatória de um diálogo, que resulta em aprendizagem com base na presença das diversas vozes necessárias à interação. Segundo os autores: Ainda que sob modalidades diferenciadas, em cada um desses espaços de interação havia como que uma consigna implícita: escrevia-se para o outro, fosse o outro um colega de grupo, ou o outro constituído pela equipe de formadoras, ou ainda o outro discursivo dos enunciados dos autores lidos. O coletivo movia o ambiente. Era a partir do outro que nós nos sentíamos convocados, ou não, a participar. A partir do coletivo, o próprio espaço (de aprendizagem, de autoria) ia sendo produzido. Neste sentido, a possibilidade de produção coletiva responde a dois pressupostos teóricos: (a) do diálogo como constitutivo do movimento do aprender; e (b) da aprendizagem como processo autoral, ao mesmo tempo individual e coletivo. (AXT et al., 2006, p. 5) O objetivo estabelecido na atividade, da constituição do diálogo para a construção do conhecimento, mais uma vez, foi atingido. Tal produção dialógica, em ambas as atividades, aponta para a emergência de uma CVA engajada visto que os sujeitos mostram-se motivados e os diálogos se efetuam, tal como planejado no desenho instrucional. Em outro texto, Costa et al. (2005) analisam questões da linguagem na interação ocorrida na ferramenta “Forchat”, que integra chats e fóruns, de uma disciplina de 3 31 curso de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que, apesar de se basear na linguagem escrita, aponta para características do discurso oral. As autoras apresentam, inicialmente, características do enunciado à luz da teoria bakhtiniana, segundo a qual a riqueza da produção está no diálogo estabelecido entre os seres humanos, trazendo contribuições que emanam de suas particularidades, seja de conteúdo, seja de estilo, e, ainda, pela seleção particular de recursos da língua. Segue o trabalho ressaltando a presença das três esferas do enunciado levantadas por Bakhtin, conteúdo temático, estilo e construção composicional, destacando-se os traços afetivos do discurso direto presente nos diálogos estabelecidos nos chats. Tal afetividade também é constituinte do diálogo, de acordo com Bakhtin. Expõem as autoras: Por entre ditos e escritos, e não ditos e escritos, vai se criando uma atmosfera dialógica, afetiva, com emoção, nesse “bonde” Forchat. Diz-nos Bakhtin, 2000, que “Em relação ao homem, a emoção em geral – amor, ódio, compaixão, piedade – é, num grau variável, dialógica (p. 340)”. (COSTA et al., 2005, p. 6) Como terceiro exemplo de existência de diálogo em ambiente virtual, utilizamos a análise de Giordan e Dotta (2008), em artigo que avalia a construção de dialogismo e a presença de polifonia em dois momentos distintos de uma ferramenta denominada “Tutor em Rede”, que funciona nos moldes de um fórum. Eles apontam a presença do diálogo e da reconstrução de sentidos, por diversas vezes. Ora se dão pela apropriação do discurso do outro e pela reconstrução de sentido, ora pela problematização feita por um dos atores do aprendizado, o que faz com que seu interlocutor volte a explicar seu posicionamento, traga novas argumentações ao discurso, produzindo uma série de novos discursos, sentidos e enunciados. Diante das análises feitas pelos autores, concluímos que A construção de significados deu-se a partir de uma cadeia discursiva e hipertextual que permeou a interação. O retorno do aluno ao sistema para estabelecer nova interação indica que algumas marcas de enunciação, como o convite ao diálogo, são importantes para se comporem novas situações de aprendizagem (...); entretanto, outras análises precisam ser realizadas para podermos verificar se há regularidades no diálogo virtual e se ampliam a qualidade e a quantidade dos enunciados de professores e alunos a partir dessa dialogia. (GIORDAN & DOTTA, 2008, p. 141) 3 32 Como quarta e última contribuição para a presente problematização, apresentamos a pesquisa de Antunes (2007). O artigo da pesquisadora versa sobre a formação de CVA em ambiente virtual do Programa de Aperfeiçoamento de Educação a Distância da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP) do estado de São Paulo. No referido ambiente, o conteúdo é apresentado aos cursistas em forma de tutorial. A formação de CVA ocorre “em fóruns pedagógicos, informais e técnicos” (ANTUNES, 2007, p. 553), nos quais os cursistas buscam esclarecer suas dúvidas com colegas e mediadores, que os auxiliam na busca das respostas de que necessitam, sem, entretanto, responder-lhes de forma direta aos questionamentos. Segundo a autora, o ambiente contava, na época da pesquisa, com oito mil servidores inscritos e a produção diária de postagens chegava ao número de três mil. A autora explica a metodologia: Não cabe ao Mediador Técnico entregar de maneira direta as respostas aos questionamentos apresentados pelos aprendizes, mas sim levá-los a buscar estas respostas, na releitura e posterior discussão do material apresentado no bloco Tutorial, ou ainda, através da reflexão realizada a partir de situações apresentadas em ambiente de trabalho dos aprendizes, ou no compartilhamento do questionamento apresentado com membros da comunidade. (ANTUNES, 2007, p. 555) Diante dos relatos da autora, sobretudo sobre o número de postagens nos fóruns, notamos diálogo constante entre os aprendizes. Verificamos no relato a busca por se criar um espaço colaborativo, no qual o cursista possa expor opiniões, dúvidas, conclusões e ajudar seus pares, tornando a interação resultante em um exemplo de produto ideológico, de acordo com a abordagem bakhtiniana, no que diz respeito à construção de sentido. O que motivaria tais diálogos? Por se tratar de curso voltado para empregados do setor público que exercem funções semelhantes em espaços físicos diferentes e, muitas vezes, distantes, podemos inferir que a motivação iniciase nas questões identitárias visto que o espaço era buscado para sanar dúvidas relativas ao trabalho diário, específico das identidades dos funcionários públicos de setores administrativos do Estado de São Paulo. Ainda de acordo com Antunes, “A CVA é o principal elo entre os servidores públicos que desenvolvem trabalhos afins, além de importante ponto de referência para aqueles que estão iniciando suas atividades profissionais dentro da área específica abordada.” (ANTUNES, 2007, p. 555). 3 33 Nos quatro casos citados, a formação de CVA efetiva-se por meio do diálogo, que, por sua vez, ocorre na busca de objetivos comuns entre os cursistas. Objetivos comuns às diferentes identidades percebidas: estudantes e trabalhadores em busca de interação para a construção e reconstrução de aprendizagem. Não há citações, em nenhum dos casos, de continuidade dos diálogos após se atingir o objetivo inicial dos cursistas. Tal fato não anula a possibilidade de criação de laços mais fortes que resultem em formação de CVAs que se estendam com a renovação dos objetivos. Porém, o início da interação se dá por situações específicas, tal qual relatado no último estudo citado, qual seja, solucionar dúvidas e problemas pontuais. Trata-se de exemplos de formação de CVAs Situacionais. Nos três primeiros exemplos (AXT et al., 2006; COSTA et al., 2005; GIORDAN & DOTTA, 2008), os mesmos incômodos permanecem. Que motivações tiveram os alunos para dialogar? Foram compelidos pela obrigação de cumprimento de créditos, ou algo que o valha, ou motivados a partir da leitura de textos comuns ou com mesma temática? Entre as questões que surgem diante de tal análise, enumeramos as mais relevantes, diretamente ligadas à principal questão deste trabalho. São elas: • Por que os diálogos acontecem? • Que motivações teriam os cursistas em dialogar no ambiente virtual? • Estariam essas motivações ligadas às questões identitárias dos sujeitos? • Seriam os cursistas suficientemente engajados para levarem os diálogos adiante? Tais questões apontam para o problema de pesquisa construído para este trabalho: Como emergem Comunidades Virtuais de Aprendizagem engajadas? Por ora, esclarecemos que uma Comunidade Virtual de Aprendizagem é uma comunidade que se utiliza da mediação do computador e da internet, voltada para atender objetivos ligados à aprendizagem. No capítulo 3, seção 3.6, retomaremos essa discussão, a fim de aclarar a teoria utilizada para a presente pesquisa. 3 34 2.8 Hipótese Há carência de respostas para as questões elencadas sobre a emergência de CVAs engajadas. Os estudos apontados na seção anterior, dentre muitos pesquisados, limitam-se a exemplificar a ocorrência dos diálogos sem detalhar os modos e momentos dos acontecimentos ou as motivações que tenham se mostrado definidoras das interações. A partir de tal reflexão, apontamos como hipótese, conforme referencial teórico a ser explicitado posteriormente, que a interação ocorrerá a partir do dialogismo referenciado em identidades locais que apontem para a emergência de CVA engajada. 2.9 Objetivos 2.9.1 Objetivo geral Exemplificar como emerge uma CVA engajada. 2.9.2 Objetivos específicos • Verificar como as identidades locais contribuem para o processo dialógico em ambiente virtual com o objetivo específico da aprendizagem; • Verificar a existência de possíveis diferenciações entre os laços construídos virtualmente a partir do engajamento dos sujeitos; • Verificar como se dá o processo dialógico em ambiente virtual com o objetivo específico da aprendizagem. 2.10 Um estudo de caso Na busca de respostas ao problema de pesquisa identificado, optamos por estudar o caso de um curso ofertado pelo Knight Center para o Jornalismo nas Américas, ligado à Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos da América, denominado “Jornalismo 2.0 para professores”. Buscamos, no referido caso, ilustrar o fenômeno da emergência de CVAs engajadas de acordo com a teoria estudada no capítulo 3, a seguir. 3 35 Capítulo 3 3 36 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Inovação no âmbito educacional 3.1.1 Inovação: da gênese ao conceito atual É nos idos de 1980 que a temática inovação começa a fazer parte da agenda de diferentes setores da economia, como fruto do aumento da competitividade trazida pela abertura dos mercados internacionais. Nos países desenvolvidos, tal fato ocorre com a incorporação de medidas voltadas para a valorização de inovações nas políticas de comércio internacional pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sob a perspectiva de a inovação possuir grande potencial para o avanço científico, com esperados impactos econômicos. No Brasil, é a partir de meados dos anos de 1990 que os investimentos nas Políticas de Inovação se iniciam (ANDRADE, 2005). Apesar de tornar-se rapidamente um dos principais focos das políticas de investimento, tal conceito, ainda em 2010, carece de amplo debate e pesquisas que contribuam para aclarar as lacunas deixadas pelos diversos estudiosos que trabalham com a temática desde a sua gênese, em Schumpeter, no início do século XX (ANDRADE, 2005). O conceito desenvolvido por Schumpeter possui caráter corporativo que envolve pesquisa e investimento e não menciona a participação dos atores, nem mesmo no processo produtivo. O conceito toma força com a teoria da “hélice tripla”, que propunha a conjunção de Estado, universidade e empresas para trazerem soluções que contassem com atividades científicas e tecnológicas (ANDRADE, 2005). Notamos, assim, a ênfase dada aos produtos e o esquecimento dos processos e práticas sociais envolvidos no processo inovativo, atendendo a demandas específicas dos envolvidos, quais sejam, governos e empresas. Diante de problemas como o que levava ao sucesso de determinadas experiências e ao insucesso de outras, a partir de 1980, constrói-se um novo conceito que volta seu foco para a formação e o desenvolvimento de redes no processo inovativo (FREEMAN, 1992 apud ANDRADE, 2005). O velho paradigma “não conseguiu alterar significativamente o elenco de agentes envolvidos nas práticas da inovação – sobretudo universidades, empresas e órgãos governamentais” (ANDRADE, 2005, p. 148). Os insucessos de alguns processos inovativos são explicados, posteriormente, 3 37 por Latour (apud ANDRADE, 2005). Para este autor, eles podem ser explicados pelo fato de os pesquisadores da inovação desconsiderarem aqueles que sofreriam maior impacto com os produtos finais alcançados, a população e seus interesses, que, por sua vez, seriam melhor diagnosticados se tivessem seu meio observado, se fossem ouvidos, o que resultaria em produtos e processos de maior aceitação e com maior potencial para o sucesso. Para Latour: “Toda inovação solicita um contexto que lhe seja favorável e, caso seja impedido de manipular tal ambiente, o agente inovador se verá incapacitado para impor novas regras de articulação entre as tecnologias e o comportamento social” (LATOUR apud ANDRADE, 2005, p. 149). Volta-se, assim, para as questões sociais que envolvem o processo produtivo no seu processo de concepção específico, todavia sem, ainda, seu conceito contemplar o importante papel da sociedade. Em 1997, um novo conceito para ambiente de inovação, que encontra o conceito de Latour, ampliando-o, é cunhado por Maciel. Para a autora, ambiente de inovação: (...) procura dar conta do conjunto de condições – limites, obstáculos, possibilidades, estímulos – da inovação em uma determinada formação social. Ambiente de inovação refere-se portanto ao conjunto de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que estimulam ou dificultam a inovação (...) (MACIEL, 1997, p. 109 apud ANDRADE, 2005, p. 150) Essa nova perspectiva articula tecnologia, economia e vida social de forma aberta e inclusiva, ultrapassando a relação tida como essencial e fechada entre inovação e setor produtivo até então. O conjunto das características do meio e seus elementos sociais tornam-se, tardiamente, há de se dizer, componentes da inovação. Com a popularização da internet, novas práticas sociais vão se configurando e ampliando o ambiente inovativo. Sujeitos diversos, com identidades diversas, encontram-se em um espaço virtual que permite a interação motivada por interesses vários. Trata-se de um novo e ascendente espaço social que, nos próximos anos, tornaria reais possibilidades de interação difíceis de serem concebidas pelo homem médio da sociedade. Surgem então preocupações como a interação em ambiente virtual a partir da constituição de redes nesse novo espaço. O conceito de redes que melhor se ajusta ao novo espaço é o descrito por Castells. Para o autor, o termo rede 3 38 (...) possui um significado sociológico tradicional, como interconexão de nós diferenciados, composta por agrupamentos humanos diversos. A chegada da era da informação, que articula a microeletrônica e o pósfordismo, representa para Castells o contexto social propício para a ampliação da sociabilidade em rede do século XXI. (CASTELLS, 1999 apud ANDRADE, 2005, p. 151) A interconexão de nós descrita por Castells avança por onde a limitação física do espaço antes não permitia, possibilitando assim a formação de agrupamentos dos mais diversos. A relevância da pesquisa sobre inovação em educação já havia sido percebida desde as alterações propostas por Latour ao conceito inicial de Schumpeter, que o ampliara, agregando a este a relevância das questões sociais. Tal visão atinge seu ápice de abertura com as pesquisas de Maciel, que inclui no espaço inovativo os impactados pela inovação e sua cultura, sendo que estes devem ser os reais agentes de inovação. Trata-se de uma realidade observada por diversos autores e que se refletirá em políticas socioeducacionais, uma vez que educação, cultura, inovação, tecnologia e economia se aproximam a partir das contribuições de Latour e Maciel sobre a descrição de inovação e espaço inovativo. 3.1.2 Inovação e EaD As pesquisas sobre inovação socioeducional emergem no século XXI. Para Messina et al. (2008, p. 10), inovação “dá conta de algo que se reinventa, que busca alterar a sua orientação, saindo dos limites de seu espaço habitual. Inovação é antes de nada sair do familiar e incursionar pelo desconhecido (...)” 18. Messina, alguns anos antes, destacou dois componentes que distinguem inovação: “a) a alteração de sentido a respeito da prática corrente e b) o caráter intencional, sistemático e planejado, em oposição às mudanças espontâneas” (MESSINA, 2001, p.226). A autora, em consonância com o caráter sociológico defendido por Latour e Maciel, enfatiza que (...) atualmente a inovação é algo aberto, capaz de adotar múltiplas formas e significados, associados com o contexto no qual se insere. Destaca-se, igualmente, que a inovação não é um fim em si mesma, mas um meio para transformar os sistemas educacionais. (MESSINA et al., 2008, p. 226) Em revisão da literatura sobre a temática, encontramos o ponto de vista de Neirotti e Poggi, que, por sua vez, ressoa no conceito de Messina, complementando-o: 18 Tradução nossa. 3 39 (...) pode-se afirmar que a inovação educacional pode não ser a invenção de um novo dispositivo ou de uma nova prática, mas que constitui uma novidade a partir da perspectiva do processo que caracteriza um conjunto de atores (sejam eles membros de uma escola, de uma comunidade ou simplesmente de um grupo). (NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 142) O conceito de espaço inovativo de Maciel é reafirmado por esses autores, que defendem que a inovação está condicionada por posicionamentos políticos, sociais, culturais e epistemológicos (NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 142). Porém, eles trazem uma novidade ainda não apresentada neste trabalho. Defendem que o que é inovador para uma pessoa ou grupo pode não ser para outros, uma vez que tal percepção “depende da perspectiva e das representações ou concepções dos diferentes sujeitos envolvidos com a educação, a escola, o ensino, a aprendizagem, o sujeito que se quer formar, a sociedade, a cultura, etc” (GUIJARRO apud NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 142-143). E continuam: Em segundo lugar, as inovações não são ‘a-históricas’, mas se definem em função do contexto e do tempo, de tal forma que aquilo em que um contexto pode ser inovador, pode não ser em outro, e o que em um momento foi inovador, em outro contexto determinado pode deixar de sê-lo ao converterse em rotina. Toda inovação realiza-se em reação a uma situação determinada que se quer transformar, e o novo se define em relação com o anterior; o que é inovação em um país ou escola é tradição em outra. Por último, a relatividade da inovação expressa-se no fato de que ela depende da sociedade, cujas demandas tenta satisfazer e, ao mesmo tempo, está condicionada pelo sistema educativo e social na qual está escrita. (GUIJARRO, apud NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 143) Cremos que a pesquisa sobre interação em ambiente virtual deve se distanciar da abordagem schumpeteriana, que focaliza inovações em seu caráter pontual e específico, ou seja, o produto tecnológico e seus benefícios para o mercado, deixando de lado a preocupação com o impacto e a acolhida social das inovações (ANDRADE, 2005). Conforme se defende neste trabalho, uma análise da interação só se torna possível a partir da verificação da materialização das identidades que ocorrerá por meio da linguagem, do diálogo. E, como consequência, não há como analisar o discurso produzido em determinado espaço desconsiderando os atores de tais discursos, uma vez que o uso dos pressupostos das relações sociais perpassa pela linguagem produzida por estes. Dessa forma, esta pesquisa trabalha com a inovação do ponto de vista sociológico, uma vez que busca respostas para satisfazer problemas de ordem dialógica e identitária ocorridos na interação em ambientes virtuais. 4 40 Consideramos que a pesquisa inovadora em educação deve encontrar o conceito de ambiente inovativo descrito por Maciel, que busca articular tecnologia, economia e vida social, de forma aberta, inclusiva e para além da relação entre inovação e setor produtivo. Processos mecanizados, direcionados a uma massa, que desconsiderem os aspectos sociais, certamente se tornarão ineficazes diante de sujeitos tão distintos. Tal posicionamento encontra a perspectiva de construção de CVA para uma efetiva aprendizagem. Visto que a formação de CVA depende necessariamente do dialogismo e da polifonia, e das diversas questões subjacentes a esses conceitos, o presente trabalho utiliza-se dos seguintes conceitos, já apresentados: 1) Inovações Sociais, tal como concebe Latour, que não se limitam às questões puramente tecnológicas, ultrapassam a lógica produtivista e atingem o âmbito das relações sociais, das ações e das representações; 2) Ambiente Inovativo, tal como concebe Maciel, consoante o conceito de Latour e ampliando-o, na medida em que valoriza o espaço social dos atores da inovação. O que se deve pretender com pesquisas dessa ordem é contribuir para a emergência de ambientes virtuais que valorizem as questões sociais e permitam a construção de enunciados e, consequentemente, conhecimento. Isso só será possível se se conhecer como emerge o processo interativo e as CVAs, objeto desta pesquisa. Inovação em EaD não é estudar unicamente o aparato tecnológico que envolvem as práticas, mas envolver neste estudo reflexões sobre o ambiente e os sujeitos das tais práticas, no uso e na apropriação dessas tecnologias. 3.2 A identidade, a linguagem e as questões sociais O senso comum caracteriza identidade apenas como as características individuais dos sujeitos, sem problematizar o meio que os cercam e as questões culturais que permeiam as localidades nas quais estão inseridos, tão distintas quanto os próprios sujeitos. Tal afirmativa pode ser comprovada facilmente consultando os maiores coletivos de significados da sociedade brasileira, como os populares dicionários Aurélio e Houaiss. Porém, algo não citado nesses dois livros é a carga cultural que porta o sujeito, intrinsecamente ligada às questões locais que o cercam, essenciais 4 41 ao conceito de identidade. Defendemos que a sua constituição é marcada pelas relações do indivíduo com a sociedade na qual está e esteve inserido ao longo de sua vida. Castells afirma que, no que diz respeito a atores sociais, entende-se por identidade “o processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado” (CASTELLS, 1999, p. 22). Destacamos, no conceito do autor, a questão relativa ao processo da constituição de significados. Silva problematiza conceitos que se limitam a explicar identidade como aquilo que cada um é. O mesmo autor contribui para a compreensão da identidade e da diferença. Para ele, “A identidade assim concebida parece ser uma positividade (‘aquilo que sou’), uma característica independente, um ‘fato’ autônomo. Nessa perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria: ela é autocontida e auto-suficiente” (SILVA, 2000, p. 1). Ainda de acordo com o autor, a identidade é identificada a partir da concepção daquilo que não se é, da diferença do normativo que, por sua vez, se torna a moradia da identidade sob esta concepção. Nessa linha de raciocínio, a diferença é identificada como “aquilo que o outro é”. O que resulta numa aproximação entre os dois conceitos, uma vez que a identidade é o referencial a partir do qual se define a diferença e a diferença é o referencial a partir do qual se define a identidade, sendo uma dependente da outra. Fato que se refletirá na tendência que se tem de tomar aquilo que somos como a norma pela qual descrevemos ou avaliamos aquilo que não somos. Visto que identidade e diferença compõem um sistema de significação cultural socialmente atribuído (CASTELLS, 1999; SILVA, 2000), torna-se relevante o esclarecimento do conceito de “significado”. Para Castells (1999, p. 23), tal termo denomina “a identificação simbólica, por parte de um ator social, da finalidade da ação praticada por tal autor”. Assim, as identidades, construídas e percebidas pelos indivíduos e grupos, estão estreitamente atreladas aos sistemas de representação, que, por sua vez, se dão a partir dos símbolos criados por determinados sujeitos ou agrupamentos. É a partir dos significados apresentados por esses sistemas de significação que os indivíduos se posicionam como sujeitos. Para Silva: 4 42 A identidade é um significado - cultural e socialmente atribuído. A teoria cultural recente expressa essa mesma idéia por meio do conceito de representação. Para a teoria cultural contemporânea, a identidade e a diferença estão estreitamente associadas a sistemas de representação. (SILVA, 2000, p. 6) De acordo com esse mesmo autor (SILVA, 2000), o conceito clássico de representação era focado em uma dimensão mental, como representação do “real” na consciência, como se a percepção individual estivesse descolada das questões sociais que cercam o indivíduo. Tal posicionamento se altera a partir dos registros pós-estruturalistas, que dão conta de uma representação concebida como um sistema de significação externo, descartando quaisquer conceitos que se aproximassem ou mimetizassem a concepção filosófica clássica. O conceito de representação torna-se, assim, reconhecido única e exclusivamente pelos traços visíveis, exteriores, tais como os ditos, escritos, desenhados, pintados, filmados, fotografados, ou seja, textos de quaisquer naturezas produzidos pelo homem, a linguagem, que, por sua vez, apresenta-se como o sistema de representação mais comum e amplamente utilizado para concretizar os sentidos dados individualmente pelos significados construídos em grupo. A partir de tais considerações, afirmamos que identidade e diferença são resultado da produção linguística, tal como defende Silva: Além de serem interdependentes, identidade e diferença partilham uma importante característica: elas são o resultado de atos de criação lingüística. Dizer que são o resultado de atos de criação significa dizer que não são “elementos” da natureza, que não são essências, que não são coisas que estejam simplesmente aí, à espera de serem reveladas ou descobertas, respeitadas ou toleradas. A identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais. (SILVA, 2000, p. 2) O conceito de representação, assim como os sistemas linguísticos, carrega marcas de indeterminação, ambiguidade e instabilidade, visto que se trata de um processo de construção que está em constante mutação, assim como os valores presentes na sociedade, sobretudo na contemporaneidade, marcada pela globalização. Realidade esta que traz, facilmente, questões estrangeiras para o local, que serão absorvidas e modificadas de acordo com as características identitárias específicas dos sujeitos ali existentes. Para Silva: 4 43 Isto significa questionar quaisquer das pretensões miméticas, especulares ou reflexivas atribuídas à representação pela perspectiva clássica. Aqui, a representação não aloja a presença do “real” ou do significado. A representação não é simplesmente um meio transparente de expressão de algum suposto referente. Em vez disso, a representação é, como qualquer sistema de significação, uma forma de atribuição de sentido. Como tal, a representação é um sistema lingüístico e cultural: arbitrário, indeterminado e estreitamente ligado a relações de poder. (SILVA, 2000, p. 6) A indeterminação da linguagem, que, como já colocado, é viva e, por isso mesmo, está em constante evolução, decorre de uma característica fundamental do signo. Este, por sua vez, não coincide com a coisa ou com o conceito. Tal qual a identidade, o signo carrega sempre não apenas o traço daquilo que ele substitui, mas também o traço daquilo que ele não é, ou seja, precisamente o traço da diferença. Assim, nenhum signo pode ser simplesmente reduzido a si mesmo ou ao seu sentido stricto. A estrutura do signo, da linguagem que é formada pelo signo, pelos sistemas de significação e sentido, oscila. E, tal qual a identidade, que necessita de um referencial para ser identificada, a diferença, o signo, também necessita de um referencial, que é aquilo que ele não é. Trata-se da sua diferença. Dessa forma, linguagem e identidade aderem uma à outra e a identidade local só teria sentido se relacionada a uma cadeia de significação formada por outras identidades locais, que, por sua vez, tampouco são fixas, naturais ou predeterminadas. Segundo Silva, É por meio da representação que, por assim dizer a identidade e a diferença passam a existir. Representar significa, neste caso, dizer: ‘essa é a identidade’, ‘a identidade é isso’. É também por meio da representação que a identidade e a diferença se ligam a sistemas de poder. Quem tem o poder de representar tem o poder de definir e determinar a identidade. É por isso que a representação ocupa um lugar tão central na teorização contemporânea sobre identidade e nos movimentos sociais ligados à identidade. Questionar a identidade e a diferença significa, nesse contexto, questionar os sistemas de representação que lhe dão suporte e sustentação. (SILVA, 2000, p. 6) A visão de Silva sobre a concretude das relações sociais se darem por meio da linguagem é confirmada por Bakhtin (2006), que coloca a comunicação como principal ferramenta dos agentes sociais na formação do fenômeno ideológico. Para ele, (...) esse espaço semiótico e esse papel contínuo da comunicação social como fator condicionante não aparecem em nenhum lugar de maneira mais clara e completa do que na linguagem. A palavra é o fenômeno ideológico por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra não comporta nada que não esteja ligado a essa função, nada que não tenha sido gerado por ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social. (BAKHTIN, 2006, p. 34) 4 44 Se se depende das relações sociais para a constituição da identidade, se se depende da linguagem para a configuração da identidade, encontramos na fala, (...) o motor das transformações lingüísticas, ela não concerne os indivíduos; com efeito, a palavra é a arena onde se confrontam os valores sociais contraditórios; os conflitos da língua refletem os conflitos de classe no interior mesmo do sistema: comunidade semiótica e classe social não se recobrem. A comunicação verbal, inseparável das outras formas de comunicação, implica conflitos, relações de dominação e de resistência, adaptação ou resistência à hierarquia, utilização da língua pela classe dominante para reforçar seu poder etc. (BAKHTIN, 2006, p. 7) As contradições somente são colocadas quando se produzem enunciados. E isso permitirá um ringue de debate onde emissor e receptor dialogarão, utilizarão do texto do outro, redefinirão sentidos e significados e (re)construirão o signo e, como consequência, as identidades. Por vezes, ocorrerá que nem todas as vozes terão espaço neste ringue, o que resultará em uma imposição de valores por parte do privilegiado que tem o poder da palavra, por processos diversos, como a “performatividade” e a “repetição”. 3.3 O poder da linguagem e o poder exercido pela linguagem As questões do poder vêm à tona quando se analisa o poder das palavras. Notamos que, assim como a linguagem, a identidade busca se firmar. Todavia, tal qual a linguagem, ela evolui e pode escapar, conforme os interesses dos sujeitos. Assim, cria-se uma força que busca fixar a identidade contra uma força contrária, que sempre agrega novos signos, visto que o signo não é só o que ele apresenta, mas também o que não representa. A definição da identidade e da diferença é, portanto, objeto de disputa entre grupos sociais. Nessa competição, estão envolvidos interesses mais amplos, que agregam novos recursos simbólicos e materiais à identidade, em constante reconstrução. Para Silva (2000, p. 3), “A afirmação da identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais”. Assim, identidade e diferença são impostas. Ao se definir a normalização, as fronteiras, ao se classificar, exclui-se aquilo que não é o normal, que ultrapassa as fronteiras eleitas como espaço da normatização e a classificação, ou seja, hierarquiza. Silva (2000) afirma que se simplesmente descrevermos identidade e diferença a partir dos processos discursivos e linguísticos que as criam, estaremos simplesmente fixando-as, sem entender a dinâmica processual envolvida. Para 4 45 resolver tal problema, o autor recorre ao conceito de “performatividade”, apresentado por Judith Butler. Segundo esta autora, o (...) conceito de performatividade desloca a ênfase na identidade como descrição, como aquilo que é – uma ênfase que é, de certa forma, mantida pelo conceito de representação – para idéia de “tornar-se", para uma concepção da identidade como movimento e transformação. (BUTLER, 1999 apud SILVA, 2000, p. 6) O mesmo autor recorre à descrição inicial de “performatividade”, desenvolvida por Austin (1998, apud SILVA, 2000), que dá conta de linguagem como algo que ultrapassa as barreiras da descrição de ações. Porém, a linguagem apresenta outro viés ligado diretamente às questões de poder. Algumas proposições podem fazer com que algo se efetive. São as chamadas proposições “performativas”. Como exemplo, o autor cita: “‘Eu vos declaro marido e mulher’, ‘Prometo que te pagarei no fim do mês’, ‘Declaro inaugurado este monumento’” (SILVA, 2000, p. 6). É o que ocorre normalmente pelas classes dominadoras, usar-se de preposições tidas como descritivas para transformarem determinados fatos em verdade. Fatos que, por meio de um diálogo em que reside uma força de convencimento maior por parte de uns poucos, acabarão por contribuir com a constituição e a reconstrução de identidades. A força da performatividade na construção da identidade reside em uma característica intrínseca ao signo: a repetição. Quanto ao signo, segundo o referencial teórico saussiriano, trata-se da visão psíquica que se tem da coisa ou do objeto, a partir do nome que é dado a ele. Para Fiorin (2002, p. 67), “Os signos são, assim, uma forma de apreender a realidade. Só percebemos no mundo o que nossa língua nomeia”. O senso comum tem como signo a própria palavra, mas ele extrapola o conceito de palavra e atinge a forma psíquica que se tem da coisa, a partir da palavra que a nomeia. E para a palavra ser dotada de significado e sentido, constituir-se um signo, é necessário que seja conhecida por um grupo de pessoas, que faça parte de um universo comum de significação para esse grupo, que se constitua significativa para o grupo, que faça parte do sistema de signos que formam a língua daquele grupo, como um nome que se dá a determinada coisa. Quando se ouve a palavra “livro”, remete-se a um objeto formado por capa e miolo, de papel, ou plástico, ou aço, com texto e/ou imagens, e assim por diante. Essa visão não é só de um falante da língua portuguesa, mas certamente de todo falante ou de uma grande parcela deles. A isso se denomina signo. E para atingir este status, ele deverá ser 4 46 repetível. Derrida (1992, apud SILVA, 2000) amplia essa ideia para a linguagem que contribuirá para a construção da identidade. Segundo Silva: (...) ‘a escrita é repetível’. Segundo Derrida, isso vale para a linguagem em geral. Ele chama essa característica, essa repetibilidade da escrita e da linguagem, de ‘citacionalidade’. Nesses termos, o que distingue a linguagem (como uma extensão da escrita) é sua citacionalidade: ela pode ser sempre retirada de um determinado contexto e inserida em um contexto diferente. É exatamente essa ‘citacionalidade’ da linguagem que se combina com seu caráter performativo para fazê-la trabalhar no processo de produção da identidade. (SILVA, 2000, p. 7) Esse processo se dará conforme a repetição de determinada posição colocada como a mais correta, ou a preferida pela maioria, ou que se encontra dentro dos limites morais aceitáveis para aquele grupo social, e, assim, poderá tornar-se hegemônica e passará a valer como verdade constituinte das identidades que se querem influenciar, até ser questionada. É o que se observa na interação por meio da mídia, da política, da escola, do meio social em geral, para a venda de produtos ou ideias. E continua Silva: “Minha frase é apenas mais uma ocorrência de uma citação que tem sua origem em um sistema mais amplo de operações de citação, de performatividade e, finalmente, de definição, produção e reforço da identidade cultural.” (SILVA, 2000, p. 7). É no questionamento que reside o poder de interrupção dessa cadeia de “citacionalidade” que reproduz o pensamento identitário hegemônico, a fim de se instaurarem novas identidades (BUTLER, 1999 apud SILVA, 2000). E assim, por meio do diálogo, torna-se possível levar e trazer ideologias, com seus valores e crenças, localizados no seio social do qual brotam, construindo e reconstruindo identidades. Para Bakhtin (2006, p. 29), cujos conceitos encontram a visão aqui tratada de identidade e linguagem, “Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia”. Sendo assim, “Cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade.” (BAKHTIN, 2006, p. 30). Visto que o signo porta ideologias, constituintes de identidades, e é por meio dele que tais ideologias serão transmitidas, encontramos a comunicação, que se dá pela utilização da linguagem, como a ferramenta essencial à construção e reconstrução de identidades. A interação se 4 47 dará por meio de enunciados que, por sua vez, são um conjunto de signos que invariavelmente serão sempre dotados de ideologias produzidas no meio social, características do local onde reside o sujeito. O signo, que recebe uma nomeação, a palavra, então é o principal transmissor de ideologias e, por consequência, identidades locais. Bakhtin (2006) esclarece: É portanto claro que a palavra será sempre o indicador mais sensível de todas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam, que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados. A palavra constitui o meio no qual se produzem lentas acumulações quantitativas de mudanças que ainda não tiveram tempo de adquirir uma nova qualidade ideológica, que ainda não tiveram tempo de engendrar uma forma ideológica nova e acabada. A palavra é capaz de registrar as fases transitórias mais íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais. (BAKHTIN, 2006, p. 40) Assim, a transmissão das mudanças sociais só se dará por meio de uma interação formada por uma cadeia discursiva hipertextual que portará toda a construção identitária do falante, que, por sua vez, é transitória, visto que está em constante mutação, de acordo com o exercício da linguagem, mutante tal qual a identidade, como já defendido anteriormente. 3.4 Um novo lugar para a identidade O espaço das práticas sociais é, sobretudo, aquele que possibilita aos sujeitos o (re)conhecimento a partir de seus interesses e, até a atualidade, ainda possuía uma limitação relativa à possibilidade de deslocamento. Se o espaço geográfico define grande parte das nossas relações ao longo da vida, com a ampliação do espaço no qual o homem passa a conviver e a dialogar, possibilitado pela internet e suas conexões em redes, presenciamos o deslocamento do local até então limitado para um território muito mais amplo. O local é o ambiente das experiências vivenciadas mais intimamente, que possibilita a existência de tais práticas e que também é modificado por elas. O lugar e o sujeito que o habita são marcados um pelo outro numa troca constante, que resulta na especificidade do local. Carlos descreve o lugar como produto das relações sociais da seguinte forma: O lugar é o produto das relações humanas, entre homem e natureza, tecido por relações sociais que se realizam no plano do vivido, o que garante a construção de uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizadora produzindo a identidade, posto que é aí que o homem se reconhece, pois é o lugar da vida. (CARLOS, 1996, p. 30) 4 48 É dos lugares onde os sujeitos habitam e realizam suas trocas sociais que emanam as identidades, visto que a identidade está diretamente ligada à prática social que se (re)constituirá em um espaço delimitado, o espaço da prática social que não necessita ter necessariamente uma delimitação geográfica. Existe na localidade a dimensão histórica que estabelece uma ligação entre o que é externo ao sujeito e à sua prática cotidiana. Para Carlos (1996, p. 20), “(...) esta dimensão instala-se no plano vivido e que produziria o conhecido-reconhecido, isto é, é no lugar que se desenvolve a vida em todas as suas dimensões”. Isso também significa pensarmos a história local - que se desenvolve em função de hábitos, interesses, interação, linguagem, cultura - como reflexo do exterior. Carlos afirma que: A natureza social da identidade, do sentimento de pertencer ou das formas de apropriação do espaço que ela suscita, liga-se aos lugares habitados, marcados pela presença, criados pela história fragmentária feita de resíduos e detritos, pela acumulação dos tempos, marcados, remarcados, nomeados, natureza transformada pela prática social, produto de uma capacidade criadora, acumulação cultural que se inscreve num espaço e tempo. (CARLOS, 1996, p. 29) A ampliação notada dos espaços físicos para espaços que extrapolam a ideia de local cristalizada no passado, como um espaço social delimitado geograficamente, tem proporcionado a uma gama cada vez maior de sujeitos a possibilidade de construção de uma rede de significados e sentidos específicos desses novos ambientes, por meio de processos iguais aos de sempre: diálogo a partir de interesses comuns que faz com que surjam novos significados e sentidos, redesenhando e (re)construindo signos, evidenciando sempre tais práticas por meio da linguagem. As afirmações feitas sobre a ampliação do lugar são confirmadas por Carlos, conforme se segue: “Hoje percebemos que cada vez mais nos distanciamos da idéia do lugar visto apenas enquanto ponto de localização dos fenômenos, isto é, um ponto no mapa, visto apenas enquanto situação determinada por coordenadas do traçado geográfico” (CARLOS, 1996, p. 31). Tal posicionamento remete às facilidades de deslocamento que experimentamos nos dias atuais, mas também à ampliação do lugar em virtude das múltiplas e acessíveis conexões que permitem a muitos homens ampliarem suas redes de contatos. O local, essencial à construção das identidades, agora é mais amplo, mas ainda assim possui um delimitador, os interesses dos sujeitos e suas afinidades sociais e culturais que serão definidoras do 4 49 diálogo que terão, bem como da construção de sentidos e significados que comporão ou modificarão. Há maiores possibilidades de interação, mas as ferramentas apenas, mais uma vez, não serão definidoras da interação que ocorrerá. 3.5 Dialogismo e polifonia na constituição das identidades Por tudo que discutimos nas seções anteriores, afirmamos que a construção de conhecimento e identidades só se dará a partir do discurso, formado por vários enunciados dotados de significações diversas, de acordo com o meio social no qual o sujeito se insere e interage, o seu local. Em todo este trabalho, a palavra “enunciado” deverá ser lida como o produto do discurso, o texto. Sendo que texto deverá ser considerado uma unidade linguística dotada de sentido. Segundo o arcabouço teórico bakhtiniano: O texto é a expressão de uma consciência que reflete algo. Quando o texto se torna objeto de cognição, podemos falar do reflexo de um reflexo. A compreensão de um texto é precisamente o reflexo exato do reflexo. Através do reflexo do outro, chega- se ao objeto refletido. (BAKHTIN, 1997, p. 340-341) Bakhtin nos dá muitas características dos enunciados, sendo eles a concretização da atividade linguística. Para Bakhtin, os enunciados são dialógicos por excelência, pois um é sempre feito para outro, pertence a uma cadeia discursiva ou “Cada enunciado é um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados” (BAKHTIN, 1997, p. 291). E este diálogo se dará na alternância do sujeito que produzirá um enunciado em resposta ao outro, cada um da sua vez: Todo enunciado - desde a breve réplica (monolexemática) até o romance ou o tratado científico - comporta um começo absoluto e um fim absoluto: antes de seu início, há os enunciados dos outros, depois de seu fim, há os enunciados-respostas dos outros (ainda que seja como uma compreensão responsiva ativa muda ou como um ato-resposta baseado em determinada compreensão). O locutor termina seu enunciado para passar a palavra ao outro ou para dar lugar à compreensão responsiva ativa do outro. O enunciado não é uma unidade convencional, mas uma unidade real, estritamente delimitada pela alternância dos sujeitos falantes, e que termina por uma transferência da palavra ao outro, por algo como um mudo “dixi” percebido pelo ouvinte, como sinal de que o locutor terminou. (BAKHTIN, 1997, p. 294) É esta alternância dos sujeitos falantes na produção de enunciados, das réplicas ao parceiro de diálogo, que ocorre de forma regular, que comprova a eficiência da construção de identidades. O diálogo possibilita que os sujeitos do discurso se 5 50 manifestem. Para Bakhtin, a produção verbal, em uma visão não estritamente linguística, pode representar uma “voz social”: Dois tipos de produções verbais, dois enunciados confrontados um com o outro entabulam uma relação específica de sentido a que chamamos dialógica. Sua natureza específica. Os elementos da língua dentro do sistema da língua ou do “texto” (numa acepção rigorosamente lingüística) não podem encetar uma relação dialógica. Tal relação pode estabelecer-se entre as línguas, os dialetos (dialetos territoriais, sociais, jargões), os estilos (funcionais) da língua (limitando-nos à língua falada e à linguagem científica), em outras palavras: podem estes elementos falar um com o outro? Isto é possível, mas somente mediante uma abordagem não lingüística, ou seja, somente mediante uma transformação que os torne uma “visão do mundo” (ou um tipo de percepção do mundo, realizada pela língua ou pela fala), um “ponto de vista”, uma “voz social”, etc. (BAKHTIN, 1997, p. 347) E assim, o enunciado nunca será mais do que uma resposta composta apenas daquilo que lhe preexiste, que lhe é externo, que lhe foi dado pronto e acabado. Dialogar é criar e construir conhecimento. Bakhtin pontua que o enunciado sempre cria algo novo e irreproduzível, relacionado a um valor próprio do sujeito que constrói o enunciado. E assim, o “dado se transfigura no criado” (BAKHTIN, 1997, p. 348). E ainda, que o enunciado sempre está impregnado do outro: O enunciado está repleto dos ecos e lembranças de outros enunciados, aos quais está vinculado no interior de uma esfera comum da comunicação verbal. O enunciado deve ser considerado acima de tudo como uma resposta a enunciados anteriores dentro de uma dada esfera (...) (BAKHTIN, 1997, p. 316) Daí, podemos concluir que sempre que se produz um enunciado estamos dialogando com o outro. Mesmo que tal dialogismo seja produzido além da interação face a face entre sujeitos. Estudar e compreender é dialogar. Dialogar com o enunciado dado, do qual se é o leitor, e se produzem novos enunciados a partir das interpretações feitas, ligadas diretamente aos conhecimentos de mundo do sujeito que dialoga, as suas experiências em sociedade. A língua e a vida estão diretamente ligadas. Se não existir linguagem e comunicação, a vida se extinguirá. Para Bakhtin, “Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua (BAKHTIN, 1997, p. 279)”. E ainda, “A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a realizam, e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua (BAKHTIN, 1997, p. 282)”. 5 51 Somente o diálogo possibilitará novas situações de aprendizagem. É a partir do diálogo que se tornará possível a alteração do signo. Como esclarece Bakhtin: Todo signo, como sabemos, resulta de um consenso entre indivíduos socialmente organizados no decorrer de um processo de interação. Razão pela qual as formas do signo são condicionadas tanto pela organização social de tais indivíduos como pelas condições em que a interação acontece. Uma modificação destas formas ocasiona uma modificação do signo. (BAKHTIN, 2006, p. 43) Os enunciados como a concretização da atividade linguística são formados por palavras, que são os nomes que se dão aos signos, que, por sua vez, possuem significados para o meio social em que foram construídos, e sentido para o sujeito que deles se utilizam. Esse significado coletivo e esse sentido individual só são construídos pela presença de diversas vozes, de natureza social, trazidas pela (re)construção contínua dos enunciados. Para Bakhtin: “Em cada palavra há vozes, vozes que podem ser infinitamente longínquas, anônimas, quase despersonalizadas (a voz dos matizes lexicais, dos estilos, etc.), inapreensíveis, e vozes próximas que soam simultaneamente” (BAKHTIN, 1997, p. 353). Sendo assim, o sentido será construído pela presença dessas diversas vozes e as individualidades que trazem cada uma delas como vozes sociais que são, cheias de sentidos, característica intrínseca à natureza delas, como esclarece Bakhtin: “O sentido se distribui entre as diversas vozes. Importância excepcional da voz, da individualidade” (BAKHTIN, 1997, p. 342). Mas além dessas vozes de terceiros que ecoam nos enunciados, também há no enunciado a voz do seu autor, e uma terceira, a voz do seu leitor. Cada qual com sua carga social. Bakhtin afirma que a palavra é um drama com três personagens: A palavra (e em geral, o signo) é interindividual. Tudo o que é dito, expresso, situa-se fora da “alma”, fora do locutor, não lhe pertence com exclusividade. Não se pode deixar a palavra para o locutor apenas. O autor (o locutor) tem seus direitos imprescritíveis sobre a palavra, mas também o ouvinte tem seus direitos, e todos aqueles cujas vozes soam na palavra têm seus direitos (não existe palavra que não seja de alguém). A palavra é um drama com três personagens (não é um dueto, mas um trio). E representado fora do autor, e não se pode introjetá-lo (introjeção) no autor. (BAKHTIN, 1997, p. 350) Visto que o dialogismo é dotado de características sociais, de todos aqueles envolvidos no processo de enunciação, representado por vozes diversas, desde o mais longínquo dos ecos até o locutor e o interlocutor, evidencia-se então a 5 52 importância do dialogismo na constituição das identidades, uma vez que o diálogo é de natureza social e ele é tecido desde sempre. Os mais remotos valores ainda impregnam nossos discursos. E assim se explica o racismo que se esconde e diminui, mas persiste; a maneira como a mulher é vista e tratada na sociedade que evolui a passos estreitos; entre outras questões cotidianas da contemporaneidade as quais se desejam eliminar e não se conseguem. “A enunciação é de natureza social” (BAKHTIN, 2006, p. 111). Todavia, a interação que resultará em transmissão de ideologias para a constituição de identidades só ocorre quando há mais de um sujeito envolvido, da mesma comunidade linguística, e eles compartilham interesses. Sujeitos para os quais as vozes presentes em seus enunciados se assemelham. Sujeitos que dialoguem, precisamente, com interesses comuns. Serão esses interesses que levarão emissor e receptor a dialogarem. Bakhtin observa: (...) para observar o fenômeno da linguagem, é preciso situar os sujeitos – emissor e receptor do som –, bem como o próprio som, no meio social. Com efeito, é indispensável que o locutor e o ouvinte pertençam à mesma comunidade lingüística, a uma sociedade claramente organizada. E mais, é indispensável que estes dois indivíduos estejam integrados na unicidade da situação social imediata, quer dizer, que tenham uma relação de pessoa para pessoa sobre um terreno bem definido. (BAKHTIN, 2006, p. 69-70) Nesse momento da constituição desta linha de pensamentos, evidenciamos a relevância da constituição de comunidades para a existência de um processo de trocas ideológicas, que resultará em aprendizagem de emissor e receptor, que trocarão de papel ao longo do diálogo, dando espaço às vozes que o “outro traz” com sua identidade local. É trazendo cada participante a sua contribuição, qual seja, o questionamento, a produção de enunciados, que a reconstrução de identidades e aprendizagem se tornará possível. O espaço comunitário é o espaço no qual os sujeitos da mesma comunidade linguística, tal qual referido por Bakhtin (2006), se situam. 3.6 Comunidades, Comunidades Virtuais, Comunidades Virtuais de Aprendizagem Situacionais e Estendidas Os homens sempre se reuniram em grupos, motivados por diversos interesses específicos de suas identidades. É essa organização em prol de interesses comuns 5 53 que, inicialmente, sinaliza para o conceito de comunidade. Ouve-se falar em comunidade acadêmica, comunidade de países emergentes, comunidade como o espaço de socialização local e inúmeras outras possibilidades. Tal termo tem sido utilizado amplamente, às vezes com pouco critério, mas podemos notar sempre que o elemento social, em alguma medida, é apontado como integrador destes grupos. Rodríguez Illera esclarece que a palavra comunidade provém do latim commune e communis. Em uma tradução para o português, apresentada pelo mesmo autor, o termo é descrito como “conjuntamente, em comum, conjunto de pessoas que se vinculam pelo cumprimento de obrigações comuns e recíprocas e que se utiliza desde meados do século XV” (RODRÍGUEZ ILLERA, 2007, p. 117). Porém, o que possibilitará a união de pessoas para o alcance de objetivos comuns é a interação. Sem interação, face a face ou mediada, as relações para a formação de comunidades não ocorreriam. Axt (2006) confirma tal assertiva: A base de sustentação de uma comunidade, no que tem de mais geral, parece ser fundamentalmente a interação. Algum tipo de interação, que sustente, nem que seja uma comunicação incipiente, parece ser sempre condição necessária para processos auto-organizativos de qualquer comunidade no mundo. (AXT, 2006, p. 259) Assim como Axt, Kowch e Schwier confirmam a importância da interação. Para estes, “interação é a chave – e a interação depende de muitos modos de comunicação face a face ou mediada eletronicamente” 19 (KOWCH; SCHWIER, 1997)20. Dessa forma, somente poderemos chamar um agrupamento de “comunidade” se evidenciarmos diálogo entre os atores. Destacamos que a importância da sua formação está na interação para a troca e a construção de novos conhecimentos que se tornam possíveis apenas quando há interesses comuns presentes nas identidades, trazidas por cada sujeito, a serem reconstruídas com base no diálogo estabelecido. Questões como os objetivos que levam as pessoas a se reunirem em comunidade, tempo de interação, laços criados, qualidade das interações, entre outras, serão levantadas ao longo desta seção, a fim de estabelecermos diferenciações e aclararmos o recorte realizado preste trabalho. 19 Nossa tradução para: “Interaction is key – and interaction depends on many modes of face to face and mediated (eletronic) communication” (KOWCH; SCHWIER, 1997). 20 http://www.eric.ed.gov/PDFS/ED405857.pdf 5 54 3.6.1 Por objetivos comuns Na literatura consultada sobre comunidades, diversos posicionamentos podem ser encontrados. Tentaremos aqui tecer uma teia dialógica entre alguns autores e delimitarmos alguns conceitos que encontrem os objetivos da pesquisa no campo da educação, da interação e da linguagem. Para Silvio, (...) uma comunidade é um tipo especial de grupo social. Um grupo social é um conjunto de pessoas que perseguem uma finalidade comum, para o qual estabelecem uma rede de relações que são produto de interação e comunicação, cuja conduta se rege por um conjunto de normas culturais e 21 compartilham interesses, crenças e valores comuns . (SILVIO, 2000, p. 249) O autor retoma as questões da interação voltada para a busca de interesses comuns, questão levantada anteriormente. E são exatamente os interesses colocados, como normas, crenças e valores, os definidores da identidade e dos limites do grupo que o diferenciam do seu entorno e possibilitam a existência da interação. O posicionamento de Silva (2000) e Rodríguez Illera (2007) é reafirmado por Neirotti e Poggi (2005), que contribuem para a pesquisa sobre comunidades com diversas abordagens em estudo de projetos educativos inovadores na América Latina. Os autores trazem a concepção de comunidade, segundo Williams, que a descreve como “(...) a condição de ter algo em comum; um sentido de identidade e características comuns” (WILLIAMS, 2003 apud NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 37). Tentam desmistificar a ideia do comunitário como sendo a sociedade tradicional ou rural. Não que não seja possível formarem-se comunidades nesses meios, mas que o termo não se limita a eles e se estende por quaisquer locais onde haja elementos sociais que unam sujeitos. E por local, entende-se que é tudo aquilo que pertence aos espaços ou lugares das relações sociais que, como as próprias relações sociais e os sujeitos e suas identidades. Espaços estes que, após a ascensão da internet, levam cada vez menos em conta as questões geográficas e cada vez mais as questões territoriais simbólicas, como o sentimento de pertença que o sujeito pode adquirir em um espaço dialógico. Neirotti & Poggi concluem que comunidade (...) sugere, efetivamente, a idéia de proximidade por interesses comuns e por outras marcas tais como o aspecto efetivo e o sentido de pertencimento. A proximidade pode ser originada no parentesco, na vizinhança, na 21 Tradução nossa. 5 55 participação de uma cultura comum ou no exercício de atividades baseadas em interesses comuns. (NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 40) Barbosa acrescenta que “comunidade não é algo estático, pronto, acabado, mas dinâmico, está sempre em movimento e apresenta características específicas em determinados contextos em que estão inseridas” (BARBOSA, 2006, p. 40). Tal posicionamento é o indício de que há várias nuances que marcam a sua emergência, de acordo com o contexto em que se encontra. Fazemos, então, um esforço no sentido de elencar alguns aspectos do espaço comunitário que contribuam para aclarar o conceito de comunidade. Utilizando do arcabouço teórico de Brint, Neirotti & Poggi (2005) apresentam as propriedades necessárias a um agrupamento para que este seja considerado uma comunidade. São seis propriedades: quatro que recebem o nome de estruturais e duas, culturais. Seguem-se na sequência explicitada: Vínculos sociais densos e demandantes; filiação e implicação em instituições; rituais; existência de grupos reduzidos; percepções de semelhança (por meio de qualquer tração ou característica como, por exemplo, características físicas ou culturais, estilos ou formas de vida, experiências históricas de ‘outros’); e crenças comuns em um sistema de idéias, ordem moral ou um grupo. (BRINT apud NEIROTTI & POGGI, 2005, p. 40) Problematizamos a questão dos vínculos. Devem ser densos e demandantes? Fruto de filiação ou com implicações em instituições? Trata-se de um posicionamento extremista que descarta grande parte das “comunidades” contemporâneas, experimentadas pelo homem, como algumas virtuais, que podem ser estabelecidas por laços menos densos do que aquelas que são fruto de qualquer parentesco ou vizinhança geográfica, mas, nem por isso, serão menos demandantes que comunidades rurais ou uma comunidade de bordadeiras de sucesso que expõem, exportam, vendem. Surge, assim, uma nova questão a ser debatida: a efemeridade das relações em comunidades será um definidor de sua formação? 3.6.2 Relações efêmeras constituem uma comunidade? Para responder à questão posta como subtítulo desta seção, utilizamos dos dizeres de Kowch e Schwier, que perceberam a tendência de comunidades surgirem com relações menos densas, na década de 1990. Para os autores, “Comunidades de Aprendizagem para o próximo século referem-se mais sobre harmonia que 5 56 solidariedade ou unidade” 22 (KOWCH; SCHWIER, 1997). Recorremos ainda aos dizeres de Rodríguez Illera sobre a associação. Para o autor, tal termo “(...) reger-seia por um distanciamento experiencial e físico, um tipo de agrupamento baseado na conveniência, com uma duração temporal mais circunscrita aos interesses compartilhados” (RODRÍGUEZ ILLERA, 2007, p. 117). Chamamos a atenção para a questão temporal levantada pelo autor. Para este, agrupamentos com “duração temporal mais circunscrita aos interesses compartilhados” são associações. Porém “(...) o que é chamado Comunidade é algo que podemos encontrar como forma associativa de forma concreta e real” (RODRÍGUEZ ILLERA, 2007, p. 118). Com base no pensamento do autor, defendemos que mesmo os agrupamentos que possuem relações menos densas, se compartilham interesses e estabelecem o dialogismo, são comunidades. Ou ainda, se há dialogicidade, são comunidades, uma vez que o diálogo e a construção de sentido só serão possíveis com a existência de objetivos e valores comuns. Recuero, utilizando-se do conceito de Rheingold, que, segundo a autora, foi um dos pioneiros na utilização do termo “comunidade virtual”, define-a da seguinte forma: As comunidades virtuais são agregados sociais que surgem da Rede [Internet], quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço. (RHEINGOLD, 1995, p. 20, apud RECUERO, 2006, p. 122) Já se adentra para o conceito de comunidade virtual, mas, por ora, avaliamos apenas a questão da efemeridade das relações no espaço comunitário. Na citação, aparece novamente a questão temporal sem uma quantificação específica. Da mesma forma, aparece referência à quantidade de pessoas e de sentimentos humanos que tampouco são quantificados ou é apresentada uma forma de fazê-lo. Sobre a quantidade de pessoas, a partir de reflexão sobre o que pontua o autor, concluímos que, havendo discussões públicas, há quantidade suficiente de pessoas. Sobre os sentimentos, é possível verificar sinais de algum desses enunciados produzidos pelos sujeitos. Porém, o autor não especifica quais sentimentos ou quantidade deles. O simples interesse não seria um sentimento? E esse sentimento não seria comum a todos aqueles que se aproximam e estabelecem algum tipo de 22 Nossa tradução para: “Learning communities for the next century are more about harmony than solidarity or unity” (KOWCH; SCHWIER, 1997). 5 57 relação com o grupo que busca o mesmo objetivo? Cremos que, se há diálogo, há acolhimento e grandes chances de surgimento de um sentimento de pertença. Por ora, o que parece ser consenso e definidor do conceito de comunidade é: agrupamento de pessoas que se unem em prol de objetivo(s) comum(ns) e, para tanto, mantêm uma relação dialógica. Sobre a temporalidade, esbarramos em duas correntes. A primeira, que se aproxima das características tradicionais de comunidades, defende que, para se formar uma comunidade, deverá haver laços fortes entre os sujeitos. Tais laços se estendem por períodos de tempo mais longos e não atendem a interesses momentâneos ou passageiros. Já a segunda, que leva em conta as novas tecnologias digitais de informação e comunicação, que permitem a emergência de comunidades, admite relações mais fluidas ou efêmeras que atendem a diversas necessidades, incluindo-se aí as mais pontuais, ligadas a situações específicas. Segundo Recuero, Wellman (1997) defende que os laços sociais estariam sendo amplificados através do desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte. Não mais restritas a pequenos vilarejos e grupos, os laços sociais seriam mais fluidos, menos fortes e mais amplos. (RECUERO, 2006, p. 121) Na contramão aparece Corrêa, afirmando que “Outro aspecto relevante para a formação de comunidades virtuais é a permanência temporal, para que os integrantes se sintam realmente parte de um agrupamento de tipo comunitário” (CORRÊA, 2005, p. 4). Parece sensata a definição do tempo mínimo para a formação de comunidade. E como mínimo, consideramos aquele necessário para que os sujeitos se sintam parte de uma comunidade. Cremos que a comprovação desse sentimento de pertencimento se dará por manifestações dialógicas por parte do sujeito que é acolhido pelo espaço comunitário. Ou seja, se dialoga, faz parte do espaço comunitário. Somando-se à questão colocada anteriormente, relativa às discussões públicas (RHEINGOLD, 1995, apud RECUERO, 2006), consideramos que aqueles que fazem parte de tal discussão são os sujeitos dessa comunidade. Acreditamos que o fator efemeridade das relações é um diferenciador de dois tipos de comunidades que emergem no início século XXI. O primeiro trata das comunidades com laços mais pontuais e o segundo será uma extensão do primeiro, na medida em que os laços entre os sujeitos se fortalecem e podem deixar de ser efêmeras. 5 58 3.6.3 Comunidades Virtuais Com o avanço das TDICs, configura-se um novo tipo de comunidade até então não conhecido: as comunidades virtuais. O termo Comunidade Virtual (CV) sugere as relações proporcionadas pelos diferentes fenômenos relacionados à interação mediada pelo uso do computador. Ou seja, trata-se de uma comunidade com as características já relatadas - valores e interesses comuns que oportunizarão a interação e o desenvolvimento de laços com densidades distintas - que contará com mediação via internet, utilizando-se de todo o aparato tecnológico disponível, que possibilitará a dialogicidade por meio de textos, vídeos, áudios, etc. As CVs emergem juntamente com as novas possibilidades de diálogo e ampliação do local local como a prática social pertencente a determinado lugar, mesmo se tratando de um lugar simbólico - proporcionados pela internet. Compartilham as mesmas ideias, Kowch e Schwier. Para estes, “Comunidades Virtuais de Aprendizagem são comunidades de aprendizagem baseadas não na geografia real, mas em propósitos compartilhados” 23 (KOWCH; SCHWIER, 1997). E ainda apontam a importância da tecnologia, sobretudo no que diz respeito à superação das limitações geográficas: Através da tecnologia, os aprendizes podem se reunir a partir de praticamente qualquer lugar, e podem construir os seus próprios grupos formais ou informais. Assim, comunidades virtuais de aprendizagem são separados por espaço, não por tempo, uma vez que a comunicação pode ser facilitada pela tecnologia em tempo real, superando parcialmente as 24 inibições geográficas. (KOWCH; SCHWIER, 1997) Sartori (2003), em sua descrição de CV, confirma os pressupostos adotados para este trabalho. Para a autora, a questão da sociabilidade continua presente, mesmo quando se trata de comunidades formadas por sujeitos que podem estar distantes no espaço e no tempo e interagem no ciberespaço. E, antes disso, ela traz o diálogo ou debate como elemento essencial à sociabilidade. Diz-nos a autora: “Através da ação a distância é possível o desenvolvimento de novas sociabilidades e subjetividades, tornando-se um espaço que materializa a comunicação, a cultura e a educação” (SARTORI, 2003, p. 1). 23 Nossa tradução para: “Virtual learning communities are learning communities based not on actual geography, but on shared purpose” (KOWCH; SCHWIER, 1997). 24 Nossa tradução para: “Through technology, learners can be drawn together from almost anywhere, and they can construct their own formal or informal groups. As such, virtual learning communities are separated by space, but not time, as communication can be facilited by technology in real time, partially overcoming geographical inhibitions” (KOWCH; SCHWIER, 1997). 5 59 Com base na fala da autora, confirmamos que relações menos efêmeras também são possíveis de se construírem na internet, uma vez que a materialização da comunicação, da cultura e da educação pode ocorrer em relações menos densas. Sartori aponta, ainda, a partir das análises dos conceitos de CV, apresentados por Rheingold e Vilches, a existência de um sentido de pertencimento e de um projeto em comum propiciados pela comunicação que os sujeitos desenvolvem no espaço virtual. Para a autora, (...) o senso de pertencimento é possível em virtude de uma territorialidade simbólica, manifestada nas ações executadas a distância. Eles participam, emitem opiniões, constroem novos significados, tecem uma rede de cooperação oportunizada pelo processo de comunicação bidirecional. (SARTORI, 2003, p. 6) Na mesma linha de raciocínio, manifesta-se Peruzzo. Utilizando-se do arcabouço teórico de Palácios, a autora afirma que o sentimento de pertencimento, elemento fundamental para a definição de uma Comunidade, desencaixa-se da localização: é possível pertencer a distancia. Evidentemente, isso não implica a pura e simples substituição de um tipo de relação (face a face) por outra (a distância), mas possibilita a coexistência de ambas as formas, com o sentimento de pertencimento sendo comum às duas. (PALÁCIOS apud PERUZZO, 2002, p. 11) Kowch e Schwier (1997) pontuam que a ideia de construção é central para a noção de CV. Esclarecem que, para satisfazer aos requisitos de uma CV, a tecnologia dá condições aos sujeitos de negociação, intimidade, compromisso e engajamento, sem os quais a emergência de uma CV não seria possível. 3.6.4 Comunidades Virtuais de Aprendizagem Situacionais e Estendidas Para Rodríguez Illera, o que definirá uma Comunidade de Aprendizagem é o objetivo educacional. Segundo o autor, (...) a influência educativa está situada em primeiro lugar, de maneira explícita e intencional, repensada ou matizada por enfoques teóricos que contemplam a influência entre iguais, o consenso democrático sobre os objetivos de aprendizagem, ou situar os interesses dos aprendizes no centro da ação educativa, mas sempre no contexto de um processo educativo majoritariamente situado no interior de uma instituição educativa que o assegura e o tutela. (RODRÍGUEZ ILLERA, 2007, p. 121) Assim, tratamos agora de um espaço comunitário que se diferencia dos demais pelo objetivo específico da educação e pelo amparo de uma instituição educativa. Não 6 60 defendemos que ambientes educativos não-formais não contribuam para a aprendizagem. Muito pelo contrário. Desses espaços também emanam novos significados e, portanto, contribuem para a aprendizagem. Porém, o diferencial que definirá se uma comunidade é ou não de aprendizagem será o objetivo voltado para tal e o amparo devido de uma instituição educativa. Unindo os conceitos de comunidade de aprendizagem e comunidade virtual obtemos o conceito de Comunidade Virtual de Aprendizagem. Trata-se de um debate incipiente que pode encontrar posicionamentos divergentes entre os estudiosos. Porém, parecem coerentes as seguintes conclusões às quais chegamos neste processo: 1) Consideramos comunidade um agrupamento de pessoas que se unem em prol de objetivo(s) comum(ns), definido(s) pelas suas identidades, e, para tanto, mantêm uma relação dialógica capaz de levar adiante discussões públicas, tal como defendem Sílvio (2000), Recuero (2006), Backes (2007), Rodrigues Illera (2007) e outros. 2) O que diferencia as comunidades virtuais de outras é a utilização das TDICs como mediadoras da interação que ocorrerá a distância. 3) O que diferencia comunidades de aprendizagem de outras é o objetivo específico da aprendizagem. 4) Os fatores tempo, quantidade de interações e laços criados aparecem como definidores de dois tipos específicos de comunidades. O primeiro diz respeito àquele cujas relações possuem uma duração temporal circunscrita aos interesses compartilhados, tal qual descreve Rodríguez Illera (2007), e prioriza a harmonia sobre a unidade, tal como descrevem Kowch e Schiwer (1997). Concebemos, assim, o conceito de “Comunidade Situacional”, uma vez que está circunscrita a objetivos específicos. O segundo diz respeito àquelas cujo engajamento dos sujeitos contribui para a criação de vínculos densos nas relações, tal como descrevem Neirotti & Poggi (2005). Para este, adotamos o nome de “Comunidade Estendida”, uma vez que os laços se estendem para além dos objetivos inicialmente compartilhados. Entendemos ainda que a segunda inicia-se a partir da primeira, na medida em que os laços se tornam mais densos, seja por mudança de objetivos na interação ou pelo objetivo não se esgotar. Alguns objetivos perduram por toda a vida, como, por 6 61 exemplo, comunicar-se pelo simples motivo de se ter alguém para compartilhar sucessos, insucessos, planos, metas; comunicar-se com um grupo de profissionais que sempre nos traz novidades de um meio em que estamos inseridos; entre outras razões. Esclarecemos que, tal como afirma Corrêa (2006), há um tempo mínimo para que qualquer um dos tipos se efetive. Trata-se do tempo de aparecimento do sentimento de pertença, que se traduz, conforme explicitado ao longo do texto, no tempo necessário para a ocorrência da interação. Combinando esses diferentes tipos, encontramos as CVAs Situacionais e as CVAs Estendidas. 6 62 Capítulo 4 6 63 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO 4.1 A pesquisa qualitativa e sua relação com a presente pesquisa Para a descrição da metodologia utilizada, cremos que é conveniente um levantamento histórico e sucinto acerca da pesquisa qualitativa. No campo científico, até o início do século XX, o único paradigma de pesquisa utilizado era o quantitativo, caracterizado por ser voltado apenas para a coleta e a análise de dados quantitativos e empíricos. Tal metodologia muito contribuiu para a evolução da ciência, todavia não deu conta dos aspectos culturais, sociais e políticos que fazem parte da realidade do ser humano. Ainda no século XIX, iniciaram-se pesquisas, sobretudo nos Estados Unidos da América, de caráter social. Prática que se desenvolveu ao longo do século XX, quando recebeu o nome de pesquisa qualitativa. (BOGDAN & BIKLEN, 1994). Segundo Patton (1986, apud ALVES-MAZOTTI & GEWANDSZNAJDER, 1998), a pesquisa qualitativa caracteriza-se por trazer: (...) descrições detalhadas de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos observados; citações literais do que as pessoas falam sobre suas experiências, atitudes, crenças e pensamentos; trechos ou íntegras de documentos, correspondências, atas ou relatórios de 'casos’. (1986, apud ALVES-MAZOTTI & GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 148) Trata-se de características necessárias para o campo da educação, no qual o estudo aprofundado de eventos, atores envolvidos e suas culturas tornam-se de relevância extrema para o sucesso da pesquisa. Nesta investigação, notamos a necessidade de verificarmos tais aspectos, uma vez que a construção de CVA envolve questões de sociabilidade e produção de discurso, a partir de interação e cooperação, valorização de identidades, construção e reconstrução de outras, entre outros fatores a serem pesquisados. De acordo com Bogdan & Biklen (1994, p. 47-50), as pesquisas qualitativas possuem cinco características principais. São elas: 1) A fonte direta de dados é o ambiente natural, e o investigador constitui-se o principal instrumento; 6 64 2) Trata-se de pesquisa descritiva; 3) Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que pelos produtos; 4) Os investigadores qualitativos tendem a analisar seus dados de forma a considerar as suas descobertas, sempre em consonância com o todo de que faz parte, como construtora das abstrações e novos conceitos que poderão surgir ao longo do processo; 5) O significado do subjetivo é de importância vital para a descrição correta dos processos e resultados alcançados. Diante de tais considerações, concluímos que um trabalho de pesquisa em educação deve considerar as características do meio em que se situa, as subjetividades dos atores do aprendizado, as formas de apropriação de informações e a construção dos conhecimentos de cada sujeito, além de, por último, levar em consideração como se dá tal processo. Tais características estão presentes no paradigma qualitativo e justificam a escolha de tal metodologia. 4.2 Justificando o estudo de caso Para o presente trabalho, optamos por pesquisar os diálogos produzidos em fóruns e chats de um curso ofertado pelo Knight Center para o Jornalismo nas Américas, ligado à Universidade do Texas, em Austin, EUA, denominado “Jornalismo 2.0 para professores”. Salientamos que este pesquisador não fez parte, direta ou indiretamente, do grupo de discentes ou docentes, e os sujeitos pertencentes a tais grupos não tinham nenhuma informação da existência de interesse em se realizar qualquer tipo de pesquisa no ambiente em que o curso foi ofertado. O interesse por parte deste pesquisador surgiu posteriormente, motivado pela crença de que as interações ocorridas no ambiente poderiam ser uma importante fonte de dados, com características que o aproximavam de um caso de emergência de CVA. Afirmativa que será comprovada com a apresentação da análise dos dados encontrados no ambiente virtual em que foi ofertado o curso em questão. A teoria acerca da pesquisa de estudo de caso indica que tal metodologia é adequada aos estudos de fenômenos sociais complexos, contemporâneos, onde haja a necessidade de “se preservar as características holísticas e significativas dos 6 65 acontecimentos da vida real” (YIN, 2005, p. 20), a fim de encontrar respostas a questões do tipo “como” e “por que” (YIN, 2005, p. 26). Porém, respostas a questões como estas também podem ser encontradas em pesquisas históricas ou experimentais. O que se torna definidor do método do estudo de caso é estar direcionado a questões contemporâneas, o que elimina a possibilidade de uma pesquisa histórica, e se tratar de um método em que não se altera ou se manipula o contexto dos acontecimentos, o que elimina a pesquisa experimental. Temos, nesta pesquisa, uma questão do tipo “como”, que busca entender um fenômeno contemporâneo: a emergência de CVAs. O estudo foi conduzido de modo a não alterar o contexto ou o comportamento dos pesquisados, visto que não existe uma delimitação clara, mesmo que hipoteticamente posta, entre a ocorrência do fenômeno e o contexto em que este se verifica. Se optássemos por uma alteração do contexto ou do comportamento dos sujeitos envolvidos, teríamos comportamentos motivados por outras questões diferentes das espontâneas baseadas nos valores, crenças e motivações diversas ligadas às identidades dos sujeitos. Isso poderia nos levar a resultados irreais sobre como se dá a emergência de uma CVA engajada, visto que até uma informação dada aos sujeitos sobre a realização desta pesquisa poderia influenciar na quantidade e na qualidade de interações no ambiente virtual selecionado como caso de estudo. Para Yin, um conceito claro de pesquisa de estudo de caso abrange questões de escopo e de técnicas utilizadas. Quanto às questões de escopo, Yin nos alerta que um estudo de caso é uma investigação de caráter empírico que: • investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando • os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos. (YIN, 2005, p. 32) Alves-Mazzoti, em texto que busca conceituar os estudos de caso, bem como delimitar o uso deste tipo de pesquisa, apresenta-nos os critérios tidos por Stake como essenciais a tais pesquisas. Segundo a autora, trata-se de “uma investigação que focaliza um fenômeno original, tratando-o como um sistema delimitado cujas partes são integradas” (ALVES-MAZZOTI, 2006, p. 649). 6 66 Ou seja, trabalhamos com estudo de caso por inferirmos, de acordo com o referencial teórico adotado, que as questões contextuais que envolvem o problema de pesquisa são definidoras, em parte ou no todo, deste problema. O fenômeno e seu contexto encontram-se integrados. A forma com a qual trabalhamos na análise dos dados nos remete às técnicas utilizadas em estudos de caso, tal como descreve Yin (2005). Para o autor, a investigação de estudo de caso • enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, • baseia-se em várias fontes de evidências, como os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, • beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise de dados. (YIN, 2005, p. 33) As características descritas pelo autor são similares ao percurso percorrido na presente pesquisa. Trata-se de uma situação em um contexto que entendemos ser único, em uma realidade pouco investigada, tanto nas questões de escopo quanto nas técnicas, e que apresenta diversas variáveis, de acordo com as proposições a que chegamos com o estudo da bibliografia pertinente ao problema em estudo e aclaradas nos capítulos 1, 2 e 3 deste trabalho. Alves-Mazzoti, utilizando a nomenclatura de Stake (2000), classifica o estudo de caso como intrínseco, instrumental e coletivo, a partir das finalidades específicas de cada tipo. Interessa-nos aqui o tipo denominado por Stake de “instrumental”, por ser este o que melhor se adapta à nossa pesquisa. Para a autora, parafraseando Stake, No estudo de caso instrumental (...) o interesse no caso deve-se à crença de que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode servir para fornecer insights sobre um assunto ou para contestar uma generalização amplamente aceita, apresentando um caso que nela não se encaixa. (ALVES-MAZZOTI, 2006, 641-642) Acreditamos que a presente pesquisa é o embrião para muitas outras, tal qual descrito acima por Alves-Mazzoti. Não que pretendamos generalizar os resultados obtidos. Porém, uma vez confirmada a hipótese de pesquisa, novos casos poderão ser analisados sob o mesmo olhar, na busca de se encontrarem pontos de convergência entre eles, a fim de estabelecer um diálogo sobre as questões teóricas levantadas. Tal posição acerca dos estudos de caso se ampara no conceito de Yin 6 67 sobre as “generalizações analíticas” e de Stake sobre as “generalizações naturalísticas”. Para Yin, “Na generalização analítica o pesquisador está tentando generalizar um conjunto particular de resultados a alguma teoria mais abrangente” (YIN, 2005, p. 58). Ou seja, como na maioria das pesquisas, a totalidade de resultados não pode ser generalizada devido às particularidades de sujeitos e contextos. Já Stake (1978, apud ALVES-MAZZOTI, 2006) propõe uma mudança de perspectiva com relação às generalizações e introduz o conceito de generalização naturalística. Segundo Alves-Mazzoti, parafraseando Stake, trata-se de uma mudança de perspectiva: sugere que ao invés de assumir a responsabilidade de definir para que populações e/ou contextos os resultados obtidos podem ser generalizados, o pesquisador deixe essa decisão para o leitor. Este, ao se deparar com a descrição detalhada dos sujeitos, das relações que mantêm entre si, de seus comportamentos e das situações em que ocorrem, enfim, com uma “descrição densa” do caso, decidirá se as interpretações, hipóteses, insights apresentados naquele estudo podem ser aplicados ao caso de seu interesse. (ALVES-MAZZOTI, 2006, p. 650) Nesta perspectiva, buscamos narrar os resultados obtidos de forma detalhada e transparente, a fim de proporcionar ao leitor um texto que lhe sirva de ferramenta de comparação com outras experiências que conhece ou que venha a conhecer ou pesquisar no futuro. 4.3 O caso O caso em estudo é constituído pelo conjunto das interações de 37 alunos, de um professor e de uma assistente de um curso on-line denominado “Jornalismo 2.0 para professores”, ofertado pelo Knight Center para o Jornalismo nas Américas, instituição pertencente à Universidade do Texas, em Austin, EUA. A criação do referido centro data de agosto de 2002 (KNIGHT CENTER, 2006)25. O Knight Center funciona como um programa de extensão para treinamento profissional de jornalistas na América Latina e no Caribe. Seu objetivo principal é: (...) ajudar jornalistas a desenvolver programas de treinamento autosustentáveis que aumentarão os níveis ético e profissional do jornalismo, contribuindo assim para o aprimoramento da liberdade de imprensa e da democracia no hemisfério. (KNIGHT CENTER, 2006) 25 http://www.knightcenter.utexas.edu/about.php 6 68 Para alcançar tal objetivo, as atividades de treinamento promovidas são feitas em parceria com organizações independentes de jornalismo, a fim de desenvolverem “experiências e estratégias necessárias para se tornarem atores permanentes e auto-sustentáveis em seus respectivos países” (KNIGHT CENTER, 2006). O curso que resultou no conjunto de interações do presente caso foi ofertado de 5 de abril a 2 de maio de 2010. No site da instituição estão disponíveis as informações sobre o curso que compuseram o quadro 1, que segue. QUADRO 1 Informações sobre o curso Jornalismo 2.0 para professores Datas do Curso: de 5 de abril a 2 de maio de 2010 Período de Inscrição para o processo de seleção: Entre 5 e 21 de março, 2010 (encerra às 22:00 horário de Brasília) Idioma: Português Objetivos do curso: * Oferecer aos professores e instrutores de jornalismo um espaço de discussão e desenvolvimento de novas ideias sobre o ensino do jornalismo on-line. * Compreender as novas realidades e processos informativos gerados pela web com ênfase no ensino sobre a prática jornalística. * Abordar temas como desafios do jornalismo on-line, técnicas de ensino do jornalismo on-line, ferramentas do jornalismo on-line e as grandes polêmicas sobre o assunto. * Desenvolver atividades interativas através do curso e planejar futuras aulas sobre jornalismo on-line com os conceitos abordados. Requisitos do curso: * Trabalhar como professor ou instrutor de jornalismo há pelo menos 2 anos. * Ter conhecimento básico sobre buscas na web e sobre programas como Powerpoint, Irfanview, Audacity, MovieMaker e DreamWeaver. * Compromisso de desprender entre 10 e 15 horas por semana para o curso. * Demonstrar interesse em aplicar os conhecimentos obtidos sobre o ensino do jornalismo on-line em aulas atuais ou em um futuro próximo. Descrição do Curso: Este curso é voltado para professores e instrutores de jornalismo que lecionam ou pretendem lecionar o jornalismo on-line. Ele oferece um espaço para discussão, experimentação e desenvolvimento de novas ideias sobre o ensino do jornalismo on-line. Partindo de uma perspectiva multi e transdisciplinar, o curso leva em conta as novas realidades e processos informativos gerados pela web, com ênfase especial nas transformações ocorridas na prática jornalística graças ao protagonismo crescente do público nos processos de produção de notícias. O curso consiste de quatro módulos, com um módulo por semana. O curso terá uma semana adicional para a entrega do trabalho final. No primeiro módulo, os grandes desafios gerados pela internet na prática do jornalismo e, consequentemente, do ensino do jornalismo serão abordados. O segundo módulo tratará do estudo e experimentação das principais técnicas de ensino por meio da internet. O terceiro módulo abordará o uso das principais ferramentas do jornalismo on-line, a partir de uma perspectiva pedagógica, tais como Twitter, YouTube, Podcast, RSS entre outros. No quarto e último módulo do curso, os alunos discutirão os temas mais polêmicos na transição do jornalismo convencional para o jornalismo praticado na web, como credibilidade, direitos autorais, futuro da imprensa e outros. O curso será conduzido inteiramente on-line e é dividido em módulos semanais que possuem aulas em vídeo, áudio, powerpoint, texto, documentos e outros recursos on-line úteis. O curso terá chats, com discussões ao vivo, e fóruns, com discussões assincrônas, sobre os temas abordados pelo curso. O curso terá também atividades e exercícios semanais que contarão para a conclusão com sucesso do curso. 6 69 Os participantes poderão estudar em seu próprio passo e de acordo com seus próprios horários, mas deverão cumprir com os prazos dos exercícios semanais e com as exigências de participação do curso. Os alunos que completarem o curso com sucesso receberão um certificado de participação do Centro Knight. FONTE: http://knightcenter.utexas.edu/cis.php?page=9820 A partir de tais informações, constatamos que o curso busca reunir professores de jornalismo, falantes de língua portuguesa, interessados nas questões midiáticas surgidas com a internet que envolvem a carreira jornalística. Inferimos ainda que se trata de uma proposta de curso bastante dialógica. Tal afirmativa pode ser comprovada com dois dos quatro objetivos listados, que apontam claramente tratar-se de um espaço voltado para o diálogo. São eles: Oferecer aos professores e instrutores de jornalismo um espaço de discussão e desenvolvimento de novas ideias sobre o ensino do jornalismo on-line (JOL) e; Desenvolver atividades interativas através do curso e planejar futuras aulas sobre jornalismo on-line com os conceitos abordados (grifo nosso). Característica definidora no momento da escolha do caso. Conforme descrição do curso, e evidenciado ao se acessar o AVA no qual foi ministrado, as atividades foram divididas em quatro módulos complementares. Houve atividades individuais e coletivas. Como atividades individuais, citamos o preenchimento de dados de perfil com pequena biografia, por meio do qual se pode fazer um levantamento das características do grupo, bem como as características individuais dos alunos; leituras sucintas acerca da temática de estudo em arquivos no formato PPT e pequenas audições sobre a temática de estudo. Destacamos que a maior parte das atividades foi coletiva, em consonância com os princípios elencados como essenciais à formação de CVA, na bibliografia utilizada para este estudo, de acordo com o capítulo 3. Tais atividades foram ofertadas sincronicamente, via chat, e assincronicamente, via fórum ou wiki. O corpus de pesquisa é formado por parte dos enunciados produzidos nas atividades de chat e fórum, a serem listados com a justificativa da escolha no item cinco deste capítulo. 4.4 Os sujeitos da pesquisa O curso ofertou 50 vagas, que foram todas preenchidas. Entre os matriculados, dois alunos desistiram logo na primeira semana, restando 48. Para todos esses, foram 7 70 enviadas solicitações via e-mail para utilização dos enunciados produzidos. Obtivemos autorização de 37 dos matriculados, do professor e da assistente. Esses dois últimos orientaram e mediaram as discussões ocorridas em ambiente virtual. Estas 39 pessoas são os sujeitos desta pesquisa. As autorizações encontram-se arquivadas em local seguro e foram remetidas à instituição Knight Center para a liberação de senha de acesso ao AVA no qual o curso foi realizado. Os nomes reais dos sujeitos foram preservados. Os nomes utilizados neste texto são pseudônimos. No Anexo 1, ao final da dissertação, sintetizamos as informações descritas pelos próprios sujeitos na ferramenta Perfil, do AVA Moodle, utilizado no curso. Constam nesta síntese dos perfis o nome fictício do sujeito, local onde reside atualmente, formação e profissão e, em alguns casos, alguma informação adicional considerada relevante pelo próprio sujeito no momento da descrição do seu perfil. Em diversos casos, omitimos os nomes das instituições em que trabalham ou estudaram para dificultar a identificação dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Descrevemos aqui uma série de observações sobre esses sujeitos, feitas a partir dos perfis descritos espontaneamente por eles, que nos auxiliaram na descrição geral de suas características e nos serviram de orientação no que se refere às identidades dos sujeitos, educadores com formação em jornalismo, em sua maioria, no momento da análise dos dados. 4.4.1 Os formadores A equipe de formadores, como já descrito, é composta por um professor, que chamamos de Reinaldo, e uma assistente, que chamamos de Angelina, que elaboraram o material didático e eram os responsáveis pela mediação das interações. O que nem sempre se mostrou necessário, tendo em vista o engajamento observado por parte de alguns sujeitos. O professor é brasileiro e reside em Florianópolis, Santa Catarina. É mestrando em Engenharia e Gestão do Conhecimento, possui 35 anos de experiência na carreira jornalística, é professor de ensino presencial em Florianópolis e trabalha com EaD para o Knight Center. A assistente é brasileira, nascida em São Paulo, capital, reside na cidade de Cheyenne, Estado de Wyoming, nos Estados Unidos da América, é doutora em Jornalismo pela Universidade do Texas e trabalha no Knight Center desde sua fundação, em 2002. 7 71 4.4.2 Os cursistas Em ordem alfabética, nomeamos os cursistas da seguinte forma: Adolfo, Alessandro, Anderson, Antônio, Aparecida, Assis, Bernardo, Caio, Cecília, Célia, Clarice, Darcy, Fabiana, Gabriel, Giovanni, Heloísa, Horácio, João, Jorge, José, Jurandir, Lúcia, Mariana, Mel, Michel, Nina, Oscar, Ricardo, Rita, Rosa, Sebastião, Sônia, Tadeu, Thaís, Vera e Virgínia. Enfatizamos que, no Anexo 1, encontra-se um quadro com os nomes e as características descritas por cada um em seus perfis. Por se tratar de uma condição preestabelecida para inscrição no curso, todos os sujeitos de pesquisa apresentam-se como sendo da área jornalística, direta ou indiretamente. Nota-se que os interesses descritos estavam relacionados, de alguma maneira, ao conteúdo do curso. Porém, existem algumas especificidades encontradas na descrição dos perfis que merecem destaque. Entre os 37 cursistas, temos as seguintes particularidades, que não representam necessariamente uma diferença no perfil de cada cursista, mas podem nos dar valiosas dicas sobre algum aspecto de suas formações ou de suas vidas pessoais que mais valorizam. Como exemplo, notamos que alguns se sentem jornalistas, outros professores e outros, ainda, jornalistas professores. Vejamos: • Antônio se declara graduado em História; • Jorge e Sônia se declaram graduados em Comunicação Social, sem especificar a habilitação; • 23 cursistas se declaram jornalistas. Destes, Adolfo se declara, ainda, fotógrafo e diretor de audiovisual. Assis se declara, também, designer gráfico; • Caio se declara jornalista e graduando em Ciências Sociais; • Mel se declara graduada em Letras e em Jornalismo. Não se declara jornalista, apesar de ter essa graduação; • Nina se declara professora, escritora, artista plástica e blogueira e não informa sua graduação; • Mariana é a única que declara sua idade, qual seja, 31 anos; • 22 sujeitos afirmam possuir ou estar cursando pós-graduação stricto sensu. Destes, quatro cursaram ou estão cursando doutorado no exterior; 7 72 • 29 afirmam ser professores. Destes, 28 são docentes de ensino superior; um afirma ser instrutor de jornalismo e outro não especifica o curso em que dá aulas ou o nível de ensino; • Seis não informam qual graduação possuem; • Virgínia declara ser mãe; • Ricardo não informa se é professor. Entre os 37 cursistas, dois moravam em Portugal. O primeiro deles é Michel, um brasileiro que se encontrava na cidade de Braga para finalidade de pesquisa. Era bolsista da CAPES e realizava pesquisa para instituição pública brasileira de São Paulo. O segundo é Ricardo, português que reside na capital Lisboa. Os 34 restantes moravam no Brasil, divididos em todas as regiões, em 16 estados e várias cidades, todas com instituições de ensino superior, onde trabalham, conforme Quadro 2, abaixo. QUADRO 2 Local de moradia dos cursistas S SE CO NE N Região Estado AM PA AL BA CE PB DF GO MS ES MG RJ SP PR RS SC Capital ou Região Metropolitana 1 (Maceió) 2 (Fortaleza) 1 (João Pessoa) 5 (Brasília) 1 (Goiânia) 1 (Campo Grande) 1 (Vila Velha) 3 (Belo Horizonte) 3 (Rio de Janeiro) 1 (São Paulo) 2 (Curitiba) 1 (Porto Alegre) - Interior 1 (Parintins) 1 (Santarém) 1 (Paraibuna) 1 (Viçosa) 2 (1 Campinas, 1 São Bernardo do Campo) 2 (1 Maringá, 1 Guarapuava) 1 (Frederico Westphalen) 3 (1 Blumenau, Itajaí, 1 São Miguel do Oeste) Outras características relevantes para o diálogo serão citadas ao longo da análise dos dados, de acordo com a necessidade de descrição das identidades de cada cursista. 7 73 4.5 Corpus, dados e instrumentos de coleta de dados O corpus da pesquisa é composto por parte da base de dados do citado curso. Desta base de dados, optamos por trabalhar com as atividades interativas que possuem registro dos diálogos produzidos. Tal afirmação é relevante na medida em que atividades do tipo wiki são interativas, mas não houve como se fazer uma análise do produto final com vistas a verificar as diversas contribuições e o diálogo produzido quando da elaboração do texto conjunto. A impossibilidade foi detectada quando os cursistas declararam em fóruns e sessões de chat, no AVA, ter usado outras ferramentas, além do wiki, tais como o Google Docs e emails pessoais, para a interação que resultou no texto coletivo em uma das duas atividades disponibilizadas na ferramenta. Dessa forma, uma análise do resultado final e do histórico de interações disponibilizado para os formadores na ferramenta wiki do Moodle poderia nos levar a falsas conclusões. Houve uma segunda atividade ofertada em wiki que também não contribuiu com nossa análise, uma vez que não se tratava da construção de um texto coletivo, mas apenas de indicações de sites para pesquisa, sem nenhum registro de diálogo entre os cursistas. Assim, excluímos as atividades do tipo wiki e trabalhamos com as sessões de chat e fóruns. A possibilidade de utilizarmos os enunciados produzidos em sessões de chat e fóruns atendia à nossa expectativa por constatarmos que estas são as ferramentas mais comuns utilizadas em CVs, e que possibilitam a expressão de diversas vozes, com suas questões identitárias, e a produção dialógica. Porém, há diferenças entre uma e outra ferramenta que devem ser consideradas, tal como a sincronia ou assincronia. Paiva e Rodrigues pontuam que: Os fóruns on-line de discussão formam uma modalidade de gênero digital que se caracteriza por possuir objetivos comunicativos diversos e estabelecidos por membros que constituem uma comunidade discursiva virtual. Na maioria das vezes, essas listas de discussão, (...) são gêneros que medeiam interesses discursivos de comunidades preferencialmente acadêmicas, tendo características comunicativas assíncronas. (PAIVA; 26 RODRIGUES, 2007) Os autores reafirmam a importância dos fóruns para a constituição de comunidades e, em outro artigo, descrevem as principais características da ferramenta da seguinte forma: 26 http://www.veramenezes.com/moderador.pdf 7 74 Assim como nas listas de discussão por e-mail, pode-se publicar, responder ou apenas ler uma mensagem. A diferença é que as mensagens ficam armazenadas em uma homepage em vez de serem 27 enviadas para cada usuário. (PAIVA; RODRIGUES, 2004) As sessões de chat, por sua vez, podem apresentar dificuldades no seu uso, apesar de alguns autores relatarem que a sua importância está na socialização da turma, sobretudo com os formadores (COLLINS et al., 2003). Collins relata que a utilização do chat como ferramenta de mediação não é tão simples como pode parecer. Para ela: É apenas ilusória sua semelhança com o ambiente físico em que a conversação natural ocorre, e, em ambientes de aprendizagem mediados pelo computador, por extensão, com a sala de aula. Essas semelhanças e simplicidade ilusórias são alimentadas, ainda, pelo grande número de publicações de orientação sobre como promover interação significativa para aprendizagem em conferências eletrônicas ou ambientes de comunicação assíncrona. Tais orientações sinalizam que participar em conferências eletrônicas adequadamente é difícil e deve ser aprendido. Em contrapartida, a falta de orientação sobre como participar bem em chats parece implicar que não é necessário aprender a fazê-lo. (COLLINS et al., 2003, p. 44) Ficamos atentos às observações de Collins, Paiva e Rodrigues para a nossa análise. Salientamos que as atividades de chat e fórum ocorreram em todos os módulos do curso, de acordo com a descrição a seguir: a) Atividades opcionais à disposição dos alunos durante todo o curso, sem atribuição de nota pela participação: • Fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”: Foram abertos 15 tópicos, nos quais foram feitos 187 comentários; • Fórum denominado “Suporte Técnico (questões gerais sobre o sistema do curso)”: Foi aberto um único tópico, que recebeu três comentários; • Chat denominado “Chat para conversas informais entre alunos”: Foi aberta uma única sessão, com a participação de dois cursistas, sendo que um produziu 17 enunciados e o outro, 11. b) Atividades do Módulo 1 (Desafios do ensino do jornalismo on-line): 27 http://www.veramenezes.com/forum.pdf 7 75 Este módulo tratou dos grandes desafios gerados pela internet na prática jornalística e no seu ensino. Analisamos parte do conteúdo das atividades propostas. São elas: • Fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 1”: Foram criados 11 tópicos pelos cursistas, que geraram 113 enunciados denominados “comentários” pela ferramenta; • Fórum denominado “Fórum Específico Módulo 1”: Com o tema sugerido pelo professor “Como as faculdades de jornalismo no Brasil estão se adaptando ao ensino do jornalismo na Web?”, foram criados 11 tópicos, que geraram 158 comentários; • Chat denominado “Chat Semana 1”: Foi aberta uma única sessão, que contou com a presença dos dois formadores e 22 cursistas, que produziram 630 enunciados. c) Atividades do Módulo 2 (Técnicas de ensino): O segundo módulo tratou do estudo das principais técnicas de ensino por meio da internet. Analisamos parte do conteúdo das atividades propostas. São elas: • Fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 2”: Foram criados 13 tópicos pelos cursistas, que geraram 125 comentários; • Fórum denominado “Fórum Específico Módulo 2”: Como o tema sugerido pelo professor “Quais as principais vantagens e desvantagens no uso da Wikipédia em aulas de jornalismo on-line?”, foram criados sete tópicos, que geraram 98 comentários; • Chat denominado “Chat Semana 2”: Foi aberta uma única sessão, que contou com a presença dos dois formadores e 16 cursistas, que produziram 318 enunciados. d) Atividades do Módulo 3 (Ferramentas do Jornalismo On-Line): O terceiro módulo abordou o uso de ferramentas do jornalismo on-line como Twitter, YouTube, Podcast, RSS entre outras, a partir de uma perspectiva pedagógica. Analisamos parte do conteúdo das atividades propostas. São elas: • Fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 3”: Foram criados 13 tópicos pelos cursistas, que geraram 84 comentários; 7 76 • Fórum denominado “Fórum Específico Módulo 3”: Com o tema sugerido pelo professor “O Twitter pode ser uma ferramenta de ensino nas disciplinas de jornalismo on-line?”, foram criados 9 tópicos, que geraram 97 comentários; • Chat denominado “Chat Semana 3”: Foi aberta uma única sessão, que contou com a presença dos dois formadores e 12 cursistas, que produziram 374 enunciados. e) Atividades do Módulo 4 (Grandes Polêmicas): O quarto módulo foi dedicado ao debate de temas considerados polêmicos na transição do jornalismo convencional para o jornalismo praticado na web, tais como credibilidade, direitos autorais, futuro da imprensa e outros que pudessem surgir. Analisamos parte do conteúdo de quatro atividades propostas. São elas: • Fórum denominado “Fórum para quem quiser compartilhar o exercício 4”: Foram criados dois tópicos pelos cursistas, que geraram oito comentários; • Fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 4”: Foram criados sete tópicos pelos cursistas, que geraram 79 comentários; • Fórum denominado “Fórum Específico Módulo 4”: Com o tema sugerido pelo professor “O jornalismo cidadão deve ser estimulado ou não no ensino do jornalismo on-line?”, foram criados 14 tópicos, que geraram 100 comentários; • Chat denominado “Chat Semana 4”: Foi aberta uma única sessão, que contou com a presença dos dois formadores e 13 cursistas, que produziram 451 enunciados. A análise dos dados se deu com parte dos enunciados produzidos, conforme descrito, que serão citados ao longo do próximo capítulo para ilustrar as conclusões a que chegamos. Em nenhum momento traremos aqui a produção dialógica completa das sessões de chat ou fóruns. Tratar os dados desta forma seria inviável por questões de espaço e de os fenômenos se repetirem, não sendo necessário ilustrarmos com todos os dados. Porém, foi feita a leitura integral dos dados e análise criteriosa daqueles que poderiam contribuir com a presente pesquisa, corroborando ou não a hipótese levantada. Os trechos selecionados para análise serão apresentados em quadros numerados, com os enunciados produzidos pelos sujeitos devidamente numerados da seguinte forma: para enunciado 1 utilizamos a sigla E01; para enunciado 2 utilizamos a sigla E02; e assim por diante. Porém, isso não quer dizer que o E02 tenha sido produzido imediatamente após o E01. Em 7 77 alguns casos, suprimimos enunciados produzidos entre um e outro aqui apresentado pelo fato de serem menos relevantes para a discussão que se levanta no momento da análise dos dados. As partes dos enunciados aqui reproduzidas foram copiadas e coladas neste documento, tal como foram digitadas. Alguns poucos problemas de digitação foram corrigidos com vistas a tornar o diálogo legível. Salientamos que os letramentos necessários à interação, inclusive os digitais, dos cursistas são extremamente satisfatórios. Porém, para interação on-line que exige, nos casos de chats, uma digitação tão rápida quanto se possa aproximar do raciocínio, é comum que muitas vezes ocorram problemas na utilização da língua, aproximando-se da língua oral e distanciando-se do padrão acadêmico de escrita. A escolha do caso, solicitação de autorização para pesquisa, coleta e análise dos dados se deram da seguinte forma: O problema de pesquisa nos direcionava para a busca de um caso de provável emergência de CVA. Assim, deveríamos encontrar um caso que tivesse características próximas às apontadas na teoria descrita no capítulo 3 desta dissertação, a fim de trabalharmos com a hipótese levantada, qual seja, a interação ocorrerá a partir do dialogismo notado nos diálogos, referenciado em identidades locais, que apontem para a emergência de CVA engajada. O curso a que se refere o caso era conhecido da orientadora, tendo em vista que ela fez parte do quadro de cursistas. Uma vez conhecidas algumas características básicas do curso, que o aproximavam da situação oportuna para um estudo de caso, partimos para o contato com a instituição Knight Center, a fim de se conseguir autorização para a pesquisa. Fomos informados pela instituição que a pesquisa poderia ser feita desde que os cursistas envolvidos autorizassem a utilização dos enunciados produzidos por eles. Foi enviado e-mail solicitando autorização para a pesquisa para todos os cursistas. O documento informou do que tratava a pesquisa e garantiu aos cursistas que permaneceriam anônimos. Como contrapartida pela autorização, os resultados seriam divulgados para a instituição Knight Center e para os cursistas, ao final do 7 78 processo. O texto de solicitação de autorização pode ser conferido no quadro 3, a seguir: QUADRO 3 Solicitação de autorização para pesquisa Caros colegas de curso, Oriento uma pesquisa de mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, PPG de uma instituição particular em Belo Horizonte (MG), da qual sou colaboradora. O tema da pesquisa é interação e formação de comunidades virtuais de aprendizagem. O autor do trabalho é Carlos Henrique Castro, que já está qualificado e pretende defender a dissertação no segundo semestre de 2010. Tenho certeza da seriedade de Carlos Henrique, mas precisamos atender a algumas diretrizes locais e mesmo do Knight Center em relação à ética em pesquisa acadêmica. Em razão disso, solicitamos a vocês uma autorização de uso do corpus formado por nossas interações (chat, wiki e fórum) no curso de Jornalismo 2.0 para professores, além de posteriores entrevistas, via e-mail, com alguns colegas ou um eventual questionário por meio de formulário on-line. A autorização pode vir na forma de uma declaração por e-mail, já que este tipo de texto já constitui corpo de prova, em caso de problemas judiciais. Carlos Henrique precisa de nossos textos (conversas, debates e wikis) para analisar, à luz da teoria do discurso de Bakhtin, só mesmo eventualmente citando exemplos (na forma de trechos). Os nomes de todos nós serão omitidos. No caso de haver um questionário, ele também não trará nossos nomes, a não ser que prefiramos e autorizemos de outra forma. O Knight Center autorizou que Carlos Henrique utilize o corpus de nossas interações nesta pesquisa, desde que os envolvidos declarem estar de acordo. Somente após isso, Carlos terá acesso à plataforma Moodle em que fizemos o curso. De nossa parte, a contrapartida é que enviaremos a vocês a dissertação, quando estiver finalizada e defendida, com os devidos ajustes propostos pela banca, se for o caso. Aguardo posicionamento de cada um de vocês, torcendo para que seja pró-pesquisa. Abraço, Ana Elisa Ribeiro Outros quatro e-mails reforçando o pedido foram enviados e quando somamos 37 autorizações, solicitamos à instituição uma autorização formal para trabalhar com os enunciados produzidos pelos cursistas que autorizaram a pesquisa. O processo de autorização findou-se em 28 de julho de 2010, com o envio da senha de acesso ao AVA no qual o curso foi ofertado. A partir de então, iniciamos a análise das características declaradas pelos sujeitos e do corpus da pesquisa. 7 79 A coleta de dados deu-se com a cópia, leitura e a descrição dos dados disponíveis no AVA em que o curso foi ofertado, que compreende as declarações feitas pelos próprios cursistas e formadores na ferramenta perfil, bem como todos os enunciados produzidos nas seções de chat e nos fóruns abertos durante o curso. A fim de facilitar o trabalho a ser feito com os dados, os arquivos foram copiados digitalmente para um documento no software Word, resultando em cerca de 350 páginas de texto configurado em folha tamanho A4, fonte Times New Romam, corpo 10 e espaçamento simples entre linhas. A partir desse momento, foram feitas a leitura e a seleção dos dados que deveriam exemplificar o processo de emergência de CVA a que nos propusemos. A seleção dos dados se deu com base em algumas proposições a que o referencial teórico nos conduziu, a serem explicitadas no capítulo 5, conjuntamente com a análise dos dados. Para exemplificarmos tais proposições, buscamos as interações que melhor se adequavam à teoria e outras que poderiam comprovar o contrário do que a teoria apontava. Uma vez realizada a exemplificação nestes dois vieses, as interações restantes foram desconsideradas visto que os fenômenos se repetiam. Durante a avaliação dos dados, surgiu a necessidade de verificarmos com alguns cursistas se as interações evoluíam com algum colega de alguma forma, visto que os diálogos produzidos no ambiente virtual sinalizavam a existência de um engajamento suficientemente satisfatório para a continuidade das relações. Diante de tal indício, foi enviada uma solicitação de depoimento a todos os cursistas. O texto do documento solicitava um depoimento sobre a continuidade ou descontinuidade das relações virtuais iniciadas no ambiente do curso. Caso continuassem, questionava ainda se havia alguma motivação ou objetivo específico identificado pelo cursista. O texto da solicitação foi copiado integralmente no quadro 4, a seguir: QUADRO 4 Solicitação de depoimentos Caros ex-cursistas do Knight Center, Como vocês sabem e autorizaram, estou realizando pesquisa de mestrado verificando alguns pontos que contribuem para a emergência de comunidades virtuais de aprendizagem engajadas nos enunciados produzidos para o curso "Jornalismo 2.0 para professores". O e-mail logo abaixo trata da autorização solicitada por Ana Elisa Ribeiro, colega de curso de vocês, minha orientadora. A pesquisa 8 80 já está na reta final e em breve comunicarei os resultados obtidos. Para finalizar o trabalho, conto mais uma vez com a colaboração de vocês com um pequeno depoimento com pelo menos umas 10 linhas sobre os seguintes aspectos: 1) O relacionamento iniciado virtualmente através do curso continuou com algum colega, de alguma forma? 2) Em caso de resposta positiva ao item anterior, você pode descrever rapidamente como as novas interações acontecem? (ferramentas utilizadas, frequência, assuntos normalmente tratados, etc...) 3) Ainda em caso de resposta positiva ao primeiro item, qual é o objetivo destas novas interações? 4) Você acredita que algum dos objetivos estabelecidos ao se matricular no curso foi atingido? Se sim, qual objetivo? 5) Novos objetivos surgiram a partir das interações estabelecidas no curso? Estes objetivos contribuem para as novas interações? Grato pela atenção de todos, Carlos Henrique de Castro Apenas dois cursistas, notadamente mais engajados, responderam a essa solicitação. Em busca de mais alguns depoimentos, a fim de termos uma variedade de posicionamentos, enviamos mais nove solicitações individuais, direcionadas aos nove primeiros nomes da lista de perfis, com conteúdo semelhante ao apresentado no quadro 4 e direcionado a cada um dos cursistas escolhidos. Recebemos mais quatro depoimentos que foram utilizados na análise dos dados na seção 5.5.1 que versa sobre as CVAs Estendidas. A leitura de todos os dados foi feita buscando a descoberta das várias trajetórias dialógicas estabelecidas no ambiente, a fim de exemplificarmos os conceitos utilizados, as proposições que deles se originaram e a hipótese de trabalho, como pode ser visto na seção a seguir. 8 81 Capítulo 5 8 82 ANÁLISE DE DADOS E APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS 5.1 Proposições e síntese de conceitos O objetivo deste capítulo é buscar evidências sobre a hipótese de que a interação ocorrerá a partir do dialogismo referenciado em identidades locais que apontem para a emergência de CVA engajada. Para chegarmos a essa hipótese, baseamo-nos em algumas proposições que nortearam o desenvolvimento do referencial teórico. São elas: 1) A identidade e a diferença são baseadas em significados constituídos a partir de atributos culturais socialmente adquiridos por meio das relações que os sujeitos experimentam ao longo de suas vidas, de acordo com os lugares em que estão inseridos, delimitados geograficamente ou simbolicamente, e suas práticas locais. 2) O dialogismo só se torna possível a partir da polifonia, que é a presença de diversas vozes nos discursos dos sujeitos, oriundas de diálogos estabelecidos com outros sujeitos ao longo de suas vidas; 3) A identidade é gerada e modificada a partir das relações sociais. 4) O dialogismo será dotado de ideologias típicas de identidades locais específicas, originadas polifonicamente. 5) A performatividade, a citacionalidade e o questionamento é que contribuem para que significados típicos de um conjunto de identidades prevaleçam sobre outros. 6) A identidade se concretiza por meio da atividade linguística, ou seja, da construção de enunciados, que são conjuntos de signos cheios de significados socialmente atribuídos e, portanto, polifônicos. 7) Novos diálogos permitem a (re)construção de sentidos e, portanto, de identidades. Levantamos, ainda, alguns conceitos que contribuem para o desenvolvimento da pesquisa. Em síntese, são eles: 1) Entendemos por comunidade um agrupamento de pessoas que se unem em prol de objetivo(s) comum(ns), definido(s) pelas suas identidades, e, para tanto, mantêm uma relação dialógica capaz de levar adiante discussões públicas. 8 83 2) O que diferencia uma comunidade virtual de uma comunidade geográfica é a telemática como mediadora do processo interativo. 3) O que diferencia uma comunidade de aprendizagem de outras comunidades é a finalidade educacional da primeira. Notamos, ainda, que as CVAs possuem diferenciações entre elas. Contribui para a presente pesquisa a diferenciação notada no que se refere à efemeridade das relações. Assim, nomeamos dois tipos específicos de CVAs: 1) CVA Situacional: diz respeito àquelas nas quais as relações possuem uma duração temporal circunscrita a atender aos objetivos primários dos sujeitos, sendo, portanto, mais efêmeras; 2) CVA Estendida: diz respeito àquelas cujo engajamento dos sujeitos propiciou a criação de vínculos densos, seja por surgirem novos objetivos que levem à continuidade da interação ou por estes objetivos se renovarem. Inferimos que uma CVA Estendida pode se iniciar a partir de uma CVA Situacional. Buscaremos neste capítulo analisar o corpus de dados a partir das interações ocorridas de acordo com as proposições listadas de 1 a 7, nesta mesma seção. A ordem com a qual foi construída a lista das proposições não definiu a sequência de tratamento dos dados. Salientamos que as motivações que levaram às interações que compõem o caso em estudo distanciam-se da simples finalidade de tirar nota. Tal posicionamento é uma inferência feita a partir dos critérios de avaliação definidos para o curso, conforme descrito no quadro 5, disponível no AVA no qual o curso foi ofertado, a seguir. Ao longo da análise dos dados, buscaremos exemplificar como se dá o processo de emergência de uma CVA engajada e as motivações que levaram o grupo às interações. 8 84 QUADRO 5 Critérios de avaliação do curso “Jornalismo 2.0 para professores” 1) Participação nos fóruns (geral e especifico) e nos chats. Máximo total final: 20 pontos. - Essa nota é dividida da seguinte maneira: 1 ponto para aqueles que tiveram no mínimo 1 participação em cada fórum geral (dúvidas e debates gerais) e 1 ponto para aqueles que tiveram no mínimo 1 participação no fórum específico por semana/módulo. Aqueles que participaram do chat da semana receberão 1 ponto por semana. Daremos até 2 pontos para a qualidade de participação. O total é de 5 pontos de participação por semana. 2) Trabalhos em grupo do módulo 1 e dos exercícios individuais dos módulos 2 e 3. Máximo total final: 15 pontos. - Cada exercício vale até 5 pontos, sendo 1 ponto por conclusão e até 4 pontos pela qualidade. 3) Trabalho de conclusão do curso. Nota máxima: 45 pontos. PARA RECEBER O CERTIFICADO: Os participantes com um total de menos de 48 pontos não receberão certificado. Os participantes com total de notas entre 48 pontos e 64 receberão o certificado simples e os participantes com total de notas acima de 65 pontos receberão o certificado de excelência. Fonte: http://knightcenter.utexas.edu/cis.php?page=9820. Visto que a exigência de participação nos fóruns e sessões de chats propostos é de um único comentário ou postagem, inferimos que aqueles que tiveram um número expressivo de postagens não estavam preocupados apenas em cumprir a sua obrigação. Todavia, no momento da análise dos enunciados produzidos, buscamos evidências de construção de sentido, que deve ser fruto do diálogo, elemento essencial à emergência de comunidades engajadas, de acordo com os pressupostos teóricos aqui adotados. Iniciamos a análise dos dados buscando a presença da polifonia, invariavelmente constituinte do dialogismo, fenômeno que pode ser notado pelos enunciados produzidos na interação e que será o responsável pela (re)construção de sentidos e, consequentemente, identidades. Em um segundo momento, o foco se voltou para a busca de evidências que apontassem para as características identitárias constituídas localmente que resultaram em diálogo, a partir do dialogismo constituinte de tais características, e que podem ser evidenciadas a partir da análise dos dados. Em um terceiro momento, elencamos características encontradas no caso em estudo que evidenciem a presença do dialogismo nos diálogos e a construção de sentidos, essenciais à formação de CVA. Em um quarto momento, buscamos identificar o tipo 8 85 de comunidade identificado no caso. Por último, descrevemos alguns momentos nos quais o diálogo não se estabelece. 5.2 Em busca de vozes De acordo com o arcabouço teórico bakhtiniano, é possível notar a ocorrência da polifonia ao longo de toda produção dialógica, uma vez que a produção de sentido se dá por meio do diálogo. A polifonia é uma construção do indivíduo de acordo com os diálogos estabelecidos nas relações sociais. É possível notar diversas ocorrências da presença de outras vozes nos discursos de outros, verificando fenômenos como a citacionalidade direta ou parafraseada e a (re)construção de sentidos a partir de diálogos produzidos. É isso que tentaremos fazer a seguir. Iniciamos a análise listando, no quadro 6, quatro enunciados produzidos separadamente, em momentos diferentes da produção dialógica dos cursistas, com o objetivo de mostrar como é evidente a existência da polifonia. Em todos os enunciados produzidos, a polifonia se evidencia quando verificamos a citação de outras produções dialógicas. Os fenômenos são notados em ocasiões diferentes. Vejamos: • Em E01, Thaís comenta uma experiência externa ao grupo, comparando-a com a que experimenta com o grupo. É um claro exemplo de significado produzido a partir da observação de contextos diversos, construído por diferentes sujeitos, que resulta em diálogo; • Em E02, Antônio sintetiza o que para ele tem significado nos debates sobre Software Livre e Software Proprietário, debates estes ocorridos no mesmo AVA, mas em momentos diferentes, naturalmente polifônicos. A partir do que faz sentido para ele, no que se refere à colaboração e à interação, cita o endereço de um site, tecendo uma rede dialógica a partir de referências novas e passadas que fazem parte do seu universo de significações; • Em E03 e E04, Mariana e Michel, consecutivamente, apresentam referências externas ao grupo. Ela indica um site e ele, uma matéria de jornal, que acreditam ser do interesse de todos, de acordo com os valores identitários notados, quais sejam, a importância da palavra e da educação para os professores de jornalismo on-line. A fala de ambos é polifônica na medida em que se constrói a partir do diálogo com 8 86 outros autores/sujeitos, ora externos, ora internos ao momento dialógico, ou seja, os autores do site e da matéria e os colegas de curso, que, com seus enunciados produzidos, levaram Mariana e Michel a crerem que os conteúdos seriam de seu interesse. QUADRO 6 Evidências de polifonia I E01 Re: Algumas dúvidas / por Thaís - sexta, 30 abril 2010, 18:29 Colegas, Estou fazendo um outro curso também ligado ao KC. E o ritmo é incrivelmente mais enlouquecedor do que este aqui. 3,4 tarefas complicadas por semana. A diferença, que notei na hora: não há reflexão, diálogo, troca. Já comentei isso com os moderadores de lá. Eles concordam. Mas a turma é heterogênea, muitos jornalistas de mercado que arrepidam só de ouvir a palavra reflexão. Enfim, se ajuda, este é o depoimento de quem está enlouquecendo literalmente no "tarefismo". Aqui é meu refúgio ... onde tenho tempo pra ler, conversar trocar ideias. E quantas ideias legais Abraços,Thaís. E02 Software Livre e Licenças alternativas ao copyright / por Antônio - quarta, 14 abril 2010, 18:50 Salve pessoal, Por aqui damos bastante ênfase ao debate software livre x software proprietário. Daí partimos para a colaboração e interatividade. Mostramos que ainda é possível construirmos alternativas, temos a possibilidade de superar a mídia de mercado – construindo como alternativa a ela uma comunicação colaborativa e des-hierarquizada. Temos exemplos bastante interessantes inclusive com mídia comunitária, como a Rede Mocoronga de Comunicação Popular (www.redemocoronga.org.br). E por aí, quem mais está trabalhando com esta perspectiva? E03 doe palavras / por Mariana - quarta, 28 abril 2010, 07:54 Recebi este link de uma ex-aluna, fiquei encantada. é a participação de todos para amenizar a dor. com palavras: http://www.doepalavras.com.br/ E04 "A melhor educação do mundo" / por Michel - terça, 13 abril 2010, 06:48 Gente, foi publicado na edição de hoje do jornal Público, de Portugal, um pequeno artigo intitulado "A melhor educação do mundo" que achei muito pertinente às nossas discussões. Segue o anexo e vejam o que acham. (Na mesma página, acima, há também um artigo curioso sobre o Brasil). Porém, a polifonia pode ser menos evidente do que em uma ocorrência de citação visto que todo enunciado produzido, sem exceção, é fruto de outras experiências dialógicas e, portanto, portador de ideologias construídas polifonicamente. Todo o discurso é polifônico e, portanto, constituído de dialogismo. No quadro 7, a seguir, avaliamos a ocorrência da polifonia no décimo tópico do fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”. O tópico trata-se de um questionamento e refere-se a um tema que, a princípio, deve interessar a grande parte dos cursistas: “dá pra salvar o bom jornalismo?”. A pergunta carrega uma série de referências que interessa às identidades presentes no AVA, dos professores de jornalismo on-line. O contexto é um artigo, que um 8 87 cursista apresenta aos colegas, que trata da possível venda de um grande jornal estadunidense e dos problemas enfrentados pelo mercado editorial impresso. Em um momento encontramos o seguinte enunciado: “(...) vale a pena salvar os jornais?… sabe-se lá, se Obama vai salvar a indústria automobilística americana, talvez… mas Mossberg pensa rápido e diz que esta é a pergunta errada; a pergunta apropriada seria… será que dá pra salvar o bom jornalismo?…”. Em E01, o cursista Antônio dialoga com o referido artigo, dialoga com todas as vozes com as quais teve contato e contribuem para que o tema tenha sentido para ele, dialoga com os colegas na experiência do caso em estudo ao apresentar a matéria aos demais cursistas, dando continuidade ao diálogo a respeito da questão proposta para debate. Em E02, Thaís agradece a indicação do texto e, dialogando com a matéria e com Antônio, logo discorre sobre o problema da crise dos impressos e espera que, mesmo os colegas que não tenham lido o referido texto também estejam inteirados do assunto, visto que o tema faz parte das discussões atuais do mundo jornalístico, a que pertencem todos e, que, portanto, marca suas identidades, construídas no meio jornalístico brasileiro, de diferentes lugares, há de se frisar. Dialoga com o que sabe sobre o que dizem os donos de jornais: “Pelas bandas brasileiras, ainda não consegui entender porque os donos de jornais insistem em dizer que não há crise para os impressos”. Dialoga com outras questões contemporâneas que impactam diretamente o tema: “É certo que nossa realidade, assim como a chinesa, é bastante diferente do resto do mundo. Sempre tivemos uma 'exclusão analógica' com milhares de pessoas sem acesso a jornais e revistas. Também a alfabetização em nosso país é tardia”. A polifonia é facilmente identificada em toda a fala. Na sequência, comenta o atual momento do jornalismo impresso brasileiro, em uma fala em que se evidenciam, mais uma vez, outras vozes que dão conta do crescimento das vendas do produto editorial no Brasil. Questiona se será apenas uma “marolinha”, palavra também carregada de outros significados atribuídos em outras ocasiões, como a que o presidente brasileiro, Lula, chamou de “marolinha” o impacto que a crise mundial de 2008 teria no Brasil. Apropria-se de várias vozes que deram conta da referida crise e sintetiza: “Acho que os Estados Unidos da matéria acima somos ‘nós amanhã’ (ou hoje à tarde). E se não reconhecermos a crise agora talvez seja tarde para salvar o nosso bom jornalismo.” Finaliza indicando outros dois textos 8 88 com os quais também já dialogou e crê que interessarão aos colegas. O aspecto polifônico pode ser notado em toda a cadeia dialógica dos enunciados produzidos. No quadro 7, a seguir, muitas vezes poderá ser evidenciado o aspecto polifônico tal como em E03, quando Jorge responde aos colegas Antônio e Thaís. Como em E04, em que Tadeu dialoga com os colegas sugerindo uma matéria que acrescenta ao debate outra questão: financiamentos e credibilidade da notícia. Clarice, a respeito disso, em E05, pontua: “Acredito que os diretamente envolvidos não podem patrocinar a repórter”. E Thaís responde, em E06: “Se o financiamento ficar explícito e, como disse a Clarice, houver limites ...”. Em E07, Bernardo traz a questão dos ebooks, ligando a matéria sugerida para leitura em E01. Em E08, Sebastião finaliza, na tentativa de dialogar com os colegas a partir do conhecimento que tem sobre a teoria do autor McLuhan e suas observações a respeito da ferramenta Twitter, não encontra mais respostas. Sebastião não terá sido claro o suficiente para motivar a continuação do diálogo? Evidenciamos que a rede textual construída é toda polifônica e cessa quando não encontra eco de vozes na identidade do interlocutor. Interlocutor este que pode não responder por motivos diversos, tais como: concorda e vê necessidade de prosseguir com a discussão, ou se trata de um ponto de vista conclusivo, ou óbvio demais. Ou seja, só haverá diálogo se os sujeitos se interessarem pelo assunto sempre trazendo novas vozes ao debate. QUADRO 7 Evidências de polifonia II E01 E02 dá pra salvar o bom jornalismo? / por Antônio - domingo, 11 abril 2010, 12:21 Salve pessoas, Sugestão de leitura do fim de semana é o texto do Silvio Meira. Dá um bom debate: dá pra salvar o bom jornalismo? (link para: http://smeira.blog.terra.com.br/2009/04/12/d-pra-salvaro-bom-jornalismo/ XXXXX) Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Thaís - domingo, 11 abril 2010, 13:34 Ótima contribuição, Antônio. Pelas bandas brasileiras, ainda não consegui entender porque os donos de jornais insistem em dizer que não há crise para os impressos. É certo que nossa realidade, assim como a chinesa, é bastante diferente do resto do mundo. Sempre tivemos uma 'exclusão analógica' com milhares de pessoas sem acesso a jornais e revistas. Também a alfabetização em nosso país é tardia. No momento atual, realmente observamos um pequeno crescimento na venda de jornais por aqui. Mas será sustentável? Será que teremos uma 'marolinha' também neste aspecto? Ou estamos confiando demais no tal segmento "populares de qualidade" (sic) ? Acho que os Estados Unidos da matéria acima somos 'nós amanhã' (ou hoje à tarde). E se não reconhecermos a crise agora talvez seja tarde para salvar o nosso bom jornalismo. Vale ler o artigo de Rogério Christofoletti: http://monitorando.wordpress.com/2010/02/02/a-crise-dos-jornais-chegou-ao-brasil/ e também um curioso estudo feito pela Ipsos Marplan com o título O Poder do Meio Jornal: 8 89 E03 E04 E05 E06 E07 E08 http://www.anj.org.br/sala-de-imprensa/cobertura-de-eventos/2008/7o-congresso-brasileirode-jornais/palestras/CinthiaDAuria.pdf Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Jorge - terça, 13 abril 2010, 22:09 Boa, Antônio; e mandou bem, Thaís. Às vezes penso se não idealizamos um pouco essa coisa de "bom jornalismo", mas não dá pra negar que existe algo melhor do que vem sendo feito em muitas circunstâncias. Porém, talvez uma eventual queda na circulação tenha a ver com aspectos de ordem sociológica mais do que com a qualidade do jornalismo praticado. Tenho reclamado muito, com os mais próximos, da falta de criatividade de algumas coberturas. Será que a originalidade não anda meio escassa na grande imprensa? Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Tadeu - quarta, 14 abril 2010, 09:26 Para apimentar o debate, sugiro a leitura de: "NY Times" aceita financiamento externo para reportagens, em http://www.mauriciostycer.com.br/ny-times-aceita-financiamento-externopara-reportagens. Abs. Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Clarice - quarta, 14 abril 2010, 09:30 Experiência inovadora, mas até que ponto não compromete a credibilidade do jornal? Acredito que os diretamente envolvidos não podem patrocinar a repórter. Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Thaís - domingo, 18 abril 2010, 12:48 Nossa ... polêmica pra valer essa. Confesso não ter opinião formada a respeito. A princípio, não me cheira bem ... mas, se pensarmos bem, por que não? De certa forma isso já acontece quando jornalistas viajam a convite de empresas, governos ou promotores de eventos. Se o financiamento ficar explícito e, como disse a Clarice, houver limites ... Taí algo pra pensar domingo à noite Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Bernardo - quinta, 22 abril 2010, 13:26 Gosto de discutir isso. Penso que o jornal impresso não vai resistir, embora isso não signifique o fim do jornalismo escrito e nem das empresas jornalísticas que conseguirem mudar seus modelos de negócio. Quando os kindles e os ipads se popularizarem com banda larga de verdade, não fará sentido gastar dinheiro com papel para notícia que teremos quentinha em uma tela que carregamos pra lá e pra cá. Sem contar que os celulares tb devem evoluir pra facilitar a leitura. Os grandes nós de fato não me parecem ser o suporte papel (afinal, ele encarece a produção de notícias e poderia aliviar as empresas). A questão está em como viabilizar a publicidade na internet, atraindo os anunciantes e fazendo com que as propagandas tenham de fato efeito, pois há muita dispersão na forma como ela está hoje nas telas. Re: dá pra salvar o bom jornalismo? / por Sebastião - quarta, 14 abril 2010, 16:56 Jorge, também apostaria em aspectos que você definiu como de ordem sociológica. Avalio que o meio internet está radicalizando a análise feita por McLuhan quando do surgimento de um novo meio: ele é a mensagem, ao reconfigurar as relações sociais e os fluxos de informação. A internet, com a convergência de todos os meios anteriores, mais a instantaneidade, está mudando nossa relação com o mundo, literalmente sem fronteiras. E na prática está transformando toda a audiência em um meio também - é só pensar no Twitter, parece que todo mundo quer dar o furo do dia por lá. O bom jornalismo, que precisaria ser melhor definido, resgataria o paradigma do 1 para todos? Acho que não... 5.3 Das identidades locais A primeira proposição para este estudo trata-se do processo de constituição da identidade e da diferença de acordo com o que definem Silva (2000) e Castells (1999). A partir da leitura desses autores, constituímos uma linha investigativa que considera que identidade e diferença são baseadas em significados constituídos socialmente por meio das relações que os sujeitos experimentam ao longo de suas 9 90 vidas. Visto que o grupo de alunos em análise é formado por jornalistas-professores, professores-jornalistas ou professores que dialogam com a área jornalística e trabalham diretamente como professores ou coordenadores de cursos de jornalismo, inferimos que suas identidades sejam reflexo de tais práticas experimentadas em suas instituições e com seus alunos ou, ainda, experimentadas virtualmente com profissionais da área, autores, leitores, alunos e outros com interesses e motivações comuns. Assim, espera-se do grupo uma prática dialógica que retrate essas identidades. Na análise dos enunciados produzidos, muitas vezes constatamos que tal inferência é verdadeira e buscamos evidenciá-la nas quatro seções que seguem. 5.3.1 Quando as experiências dialógicas locais face a face motivam o diálogo Utilizamos aqui oito enunciados de um total de 12 produzidos para um único tópico do fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre alunos)”, que ficou disponível durante todo o curso. O referido fórum não tinha um tema como referência, caracterizando-se como realmente livre para as interações dos alunos de acordo com as motivações e os objetivos do grupo. Nesse fórum, foram abertos 11 tópicos, sendo que três foram direcionados à interação de grupos de trabalho para uma atividade específica, do tipo wiki, ofertada na semana inicial do curso. O tópico que analisamos neste primeiro exemplo denomina-se “E se nossos alunos nos vissem?” e foi proposto por Thaís, em 08/04/2010, conforme evidenciado em E01, no quadro 8, que segue. Participam do trecho de diálogo os cursistas Thaís, Cecília, Nina, Rita, Henrique, Jurandir e Antônio. No perfil, Thaís, de Belo Horizonte/MG, não se descreve como professora, mas em vários instantes se assume como tal, ficando claro que na sua identidade aparece a marca da educadora. Nina, de Brasília/DF, se descreve como professora. Rita, também de Brasília/DF, se descreve como jornalista e professora. Henrique, de Itabuna/BA, se descreve como jornalista. Jurandir, de São Bernardo do Campo/SP, se diz jornalista e professor. Antônio é graduado em História e se diz professor de curso de Comunicação Social. Notamos, assim, um conflito no que se refere a se assumir a identidade de professor ou de jornalista, ou de professor-jornalista, ou de jornalista-professor, por parte dos sujeitos. Porém, apesar de alguns não se descreverem como prioritariamente professores, neste tópico, os sete sujeitos se 9 91 assumem como tais ao responderem à questão e trazerem suas experiências locais para o ambiente dialógico virtual. Destacamos a fala de Henrique, que se diz jornalista e não cita ser professor na descrição do perfil e, no entanto, utiliza o termo “mestre”, em E05, para referir-se a si mesmo aos colegas. De acordo com os diálogos produzidos, nota-se que a prática da docência e as experiências interativas com os alunos, ocorridas presencialmente, motivam o diálogo. Trata-se de sujeitos distantes espacialmente que trocam experiências no ambiente virtual. Enumeramos alguns pontos interessantes da produção dialógica: • Cecília participa, mas não opina em E02; • Nina, em E03, pontua que acha que “não” em resposta a pergunta de Thaís em E01 (E se nossos alunos nos vissem?); • Rita, em E04, contribui com uma experiência que teve com um aluno na qual se declara alfabetizada em contraposição à situação do aluno, que tenta corrigi-la quanto ao uso “correto” do “internetês”; • Henrique opina, em E05, que os alunos não “aliviariam” nos comentários e classifica-os, ironicamente, de “delicados”; • Thaís, em E06, mesmo geograficamente distante de Henrique, concorda com este no que se refere à crueldade existente na fala dos alunos e exemplifica com uma experiência real pela qual passou com seus alunos. Fato com o qual Jurandir também concorda, em E07; • Antônio, em E09, opina que seria alvo dos alunos por não ter participado da forma que considera ideal na primeira semana de curso. Acrescenta ainda que seus alunos valorizam a atualização por parte do professor. Ainda em E09, Antônio pontua que utilizou, em sala de aula, material do Knight Center, estabelecendo diálogo entre os formadores, autores utilizados no curso, o cursista e os alunos do cursista. Evidencia-se aí o caráter polifônico do diálogo, ao qual retornaremos em seção específica. QUADRO 8 Fórum - E se nossos alunos nos vissem? E01 E02 E se nossos alunos nos vissem? / por Thaís - quinta, 8 abril 2010, 16:43 Estava pensando com meus teclados e compartilho com os colegas. E se nossos alunos nos vissem trabalhando em equipe e colaborativamente? Sairíamos bem na fita? Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Cecília - quinta, 8 abril 2010, 21:36 hehehehe 9 92 E03 E04 E05 E06 E07 E08 Taí uma boa pergunta. Confesso que não consigo nem imaginar a resposta. Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Nina - quinta, 8 abril 2010, 23:51 acho que não! E diriam: aluno é sempre aluno! cada macaco no seu galho...rs Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Rita - sexta, 9 abril 2010, 07:50 Certa vez eu participava de um chat e um aluno chegou por perto. Ficou perplexo como o meu grupo de professores teclava as palavras completas. "Não é assim que se escreve, professora", disse ele. "Sai pra lá", brinquei, "isso aqui é para gente alfabetizada!". Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Henrique - sexta, 9 abril 2010, 09:55 Penso que esta leitura dependeria do aluno. Assim como há professores aplicados, há também alunos aplicados, alguns até mais do que nós, mestres. Mas, considerando a regra, a maioria não aliviaria nos comentários "delicados" da nossa performance, tendo em vista que a gente também não alivia. Basta observar os nossos fóruns aqui...hehehe. Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Thaís - sexta, 9 abril 2010, 19:01 Não aliviariam mesmo Henrique. Parece que a crueldade impera nos comentários de alguns representantes desta Geração Y. Esta semana, fiz com meus alunos um exercício de exposição, crítica e interatividade em que eles tinham que assistir e avaliar os áudio slideshows uns dos outros. Fiquei impressionada com o rigor e até falta de gentileza de algumas avaliações. E olha que nem eram anônimas ... Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Jurandir - sexta, 9 abril 2010, 19:38 Com certeza mostra que estamos em consonância com eles. Vez por outra vejo alunos caçoando de professores que sequer têm e-mail. Quando "falamos" a língua deles e agimos colaborativamente, inclusive com o que aprendemos com eles, para eles e por eles, temos a evoluir e ganhar. Re: E se nossos alunos nos vissem? / por Antônio - domingo, 11 abril 2010, 12:15 Eu falei para eles do curso e tenho trabalhado com os materiais do Knight Foundation em sala de aula. Eu participei menos que queria nesta primeira semana daí acho que eles iriam cair na minha pele. Foi legal para eles verem que nós estamos sempre em busca de aprimoramento e isso foi dito por eles. abraços, Antônio Conclui-se que a realidade local dos cursistas, constituinte de suas identidades, contribui para o diálogo. Tal posicionamento se confirma com outros exemplos que seguem. 5.3.2 Quando identidades definidas pela geografia local motivam o diálogo O tópico intitulado “Um país desigual” foi proposto por Antônio e refere-se ao quarto tópico do fórum denominado “Fórum Específico Módulo 1”, que teve o tema “Como as faculdades de jornalismo no Brasil estão se adaptando ao ensino do jornalismo na Web?”, sugerido pelo professor. Para todo o fórum, foram criados 11 tópicos, que geraram 158 comentários. O tópico que examinamos agora gerou 15 enunciados, dos quais selecionamos dez para exemplificação. Notamos, nesse tópico, que cada cursista apresenta sua realidade local, muitas vezes contraditória, gerando uma rede discursiva que aponta a experiência local como um definidor da identidade. Nos enunciados produzidos, lemos relatos de suas realidades e questionamentos sobre as realidades em que vivem os demais 9 93 cursistas. A motivação, neste caso, é justamente a troca dessas experiências, que se mostram ora diferentes, tanto quanto os lugares geográficos que os sujeitos habitam, ora semelhantes, de acordo com aspectos financeiros e estruturais dessas mesmas localidades. Tais fatores contribuem para a (re)definição das identidades dos cursistas, professores de jornalismo on-line, que buscam, nos relatos dos outros, pontos de convergência e comparação. Vejamos: • O tópico é aberto por Antônio, como se evidencia em E01, que descreve as dificuldades de infraestrutura da cidade de Santarém, no Pará, localizada na Amazônia, com uma problemática estrutura viária e, entende-se, também de cabeamento que atenda às necessidades tecnológicas locais, tal qual se consegue em grandes centros do país, como a capital federal e outras mais. Segundo Antônio, “A Amazônia ficou conhecida pela sua capacidade de usar a internet para o ativismo ambientalista muito antes da internet ser um fenômeno comercial e agora está num rumo de preparar boa informação e interatividade na rede”. Destaca também a responsabilidade que governantes devem assumir para a construção de infraestrutura necessária e os avanços conseguidos, mesmo com tantas restrições. São marcas da identidade deste professor de jornalismo on-line da Amazônia com acesso restrito; • Em diálogo direto com Antônio, Nina, em E02, afirma que possui infraestrutura favorável na instituição em que leciona, em Brasília/DF. Porém, a falta de engajamento de alguns profissionais a deixa pessimista e, então, ela desabafa: “(...) eu conheço alguns lugares da Amazônia e confesso que o esforço daí sobrepõe a infraestrutura daqui”. São as marcas da identidade da professora de jornalismo online de um grande centro urbano; • Em E03, Antônio aponta endereços virtuais nos quais algumas iniciativas de Santarém podem ser conferidas. Nina, em E04, encerra dizendo que irá acessar os sites para se inteirar. Observamos o caráter polifônico dos enunciados produzidos, na medida em que os sujeitos trazem para o espaço dialógico suas experiências sociais, que estabelecem e corroboram o diálogo; • Um novo sujeito adentra a discussão. Em E05, Darcy contextualiza sua realidade, que se aproxima à de Brasília e se distancia da realidade experimentada no Norte do país. Porém, pontua que “(...) a má notícia é que isso não significa necessariamente mais atenção às novas tecnologias no ofício do jornalismo”. Tal 9 94 enunciado é também uma referência direta ao E02, produzido por Nina, de Brasília, que encontra as características identitárias do cursista, também professor de jornalismo on-line em uma instituição de uma cidade na qual o acesso não possui restrições; • Em E06, Cecília, também de Brasília, pontua que os profissionais de sua instituição se mostram como aqueles que Nina descreve, mas alega que isso não a desanima. Trata-se de mais um cursista com características identitárias semelhantes às de Darcy e Nina, no que se refere a acesso às novas tecnologias e à maneira como os outros colegas de trabalho lidam com a internet na educação; • Em E07, Horácio, de Parintins, outro professor de jornalismo on-line da Amazônia, tal como Antônio, interessa-se pela experiência do colega: “Estamos longe por aqui de termos um “pontão digital” e um movimento que pense essas questões mais organicamente. Quem sabe essa articulação possa nos ajudar a pensar coisas conjuntas?!!” Antônio propõe uma parceria em E08. Para este, Parintins parece ser uma “Cidade digital”, não especificando exatamente do que se trata a expressão. Já o colega Horácio descreve em, E09, a tal “Cidade digital” como falaciosa. Notamos então uma partilha de experiências em que alguns alunos são motivados ao diálogo a partir da prática descrita pelo colega distante, ou não, geograficamente e com infraestruturas semelhantes ou distintas. É o caso da experiência de Antônio, que interessa ao colega Horácio por se tratar de uma região com infraestrutura e geografia assemelhadas Essa mesma experiência interessa Nina, por se contrastar com a sua, em que há boa estrutura de comunicação, não utilizada pelo corpo docente de sua instituição. Relato parecido é o de Darcy, que também pertence a um local que possui boa infraestrutura, mas sem boas práticas. O que difere as experiências de Darcy e de Nina é o otimismo que a última não tem. O que aproxima Darcy de Cecília é justamente esse otimismo, que ambos têm. São identidades construídas localmente, baseadas em aspectos geográficos e econômicos, que possibilitam o diálogo e o efetivo dialogismo entre os sujeitos. Os diálogos completos vêm a seguir: 9 95 QUADRO 9 Fórum - Um país desigual E01 E02 Um país desigual / por Antônio - segunda, 5 abril 2010, 21:47 É bastante difícil traçar um panorama Brasil, uma análise do país por completo. O Brasil segue um país desigual. Desigual em infraestrutura de telecomunicações, internet, telefonia celular, etc. Isso tem muito impacto no fazer jornalismo on-line em cada região. Eu sou professor de uma faculdade do oeste do Pará, região com muitas dificuldades de comunicação. Não falo de comunicação por rodovias ou infovias, isso não há. Aqui em Santarém a comunicação se dá pelos rios, o Tapajós, o Amazonas, o Arapiuns, o Guamá, o Negro, entre tantos outros. Santarém está no meio entre Belém e Manaus, uma média de 800 kilometros em linhas reta dessas cidades. Não há estradas de rodagem entre essas cidades. Ou falamos de dois dias e meio de barco entre nós ou de várias centenas de reais num vôo de avião. Por incrível que possa parecer a pauta da inclusão digital, do software livre e das redes sociais aqui avançou muito. A instituição em que trabalho tem alguns laboratórios e realizo um trabalho para aproximar o alunado ao tema do jornalismo on-line com recursos como laboratórios e internet. O interessante é que a primeira turma de jornalistas formados no interior da Amazônia (fora as capitais) foi ano passado, com a turma de experientes jornalistas que alcançaram a graduação em 2009, alguns com mais de 25 anos de atividade na área. Com esse exemplo um pouco mais radical quero dizer que sou um otimista. Se aqui na Amazônia estamos realizando um esforço grande, caro e de resolução política institucional (e eu sou só um professor/ativista) creio que não existe porquê não encarar esse desafio: a relativa precariedade do conhecimento da comunicação mediada por computadores e o jornalismo on-line em algumas regiões. A Amazônia ficou conhecida pela sua capacidade de usar a internet para o ativismo ambientalista muito antes da internet ser um fenômeno comercial e agora está num rumo de preparar boa informação e interatividade na rede. É preciso ter como desafio pressionar por uma política pública de inclusão digital que capilarize telecentros, lan houses, conexões domésticas e comerciais que transformem o números de usuários em nossa região, concretizando para o profissional a interatividade com um número maior de leitores. Antônio Re: Um país desigual / por Nina - terça, 6 abril 2010, 03:09 Olá, Antônio! Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Nina e sou professora na capital federal. Por aqui, já não posso dizer o mesmo a respeito de tantos esforços e fico a me questionar se a "escassez" não é exatamente um critério de valorização e aproveitamento de recursos e criatividade. Digo isso por que onde dou aulas temos laboratórios (não diria excelentes) e não há um "ativismo" em pesquisar, compreender, estimular o uso, por exemplo, de softwares livres, redes sociais etc. Recentemente consegui liberação de acesso a páginas consideradas "inoportunas": blogger! Uns poucos professores se envolvem na exploração dos recursos digitais e virtuais. A grande maioria ainda prefere o quadro branco e as aulas expositivas. Ressalto que estou falando de um centro urbano, político e supostamente interessado nas últimas tecnologias. Entretanto, vejo mais busca pelo concurso público, pela acomodação, do que pelo desafio de se desenvolver as TICs, aprender o jornalismo diante das novas mídias etc. Estou pessimista demais? Será que fugi à proposta do tema? Contudo, deixo aqui minhas angústias compartilhadas com vocês . Antônio, eu conheço alguns lugares da Amazônia e confesso que o "esforço" dai sobrepõe a "infraestrutura" daqui. abraço, Nina. 9 96 E03 E04 E05 E06 E07 Re: Um país desigual / por Antônio - terça, 6 abril 2010, 07:09 Salve Nina, Eu entendo isso. Vivi a maior parte da vida no Rio de Janeiro e conheço o pacto de mediocridade que vemos em alguns centros universitários. Acho sim que você tem razão. A dificuldade de acesso a uma internet banda larga de qualidade por muito tempo, telefonia celular 3G muito irregular, nos faz ter um ambiente de pouca habilitação para as tecnologias de informação e comunicação. Ou seja, os meus alunos tem menos contato histórico com a internet e com dispositivos móveis mas, por outro lado têm uma curiosidade e uma disposição para o desafio muito grande. Aqui temos o Pontão de Cultura Digital do Tapajós que vem buscando recuperar o tempo perdido. Amanhã começa um grande evento em Santarém chamado Feira de Cultura Digital nos Bairros e Comunidades. É um evento que levará internet banda larga para a periferia e trará vários representantes de comunidades ribeirinhas para debater cultura digital, software livre, conhecimento compartilhado e preparar um encontro de cultura digital simultâneo ao Fórum Social Pan Amazônico que acontecerá em novembro de 2010. Você pode ler sobre a Feira de Cultura Digital em: http://redemocoronga.org.br/2010/04/05/ii-encontro-de-conhecimentos-livres-forumamazonico-de-cultura-digital/ e http://feiraculturadigital.blogspot.com/ abraços, Antônio Re: Um país desigual / por Nina - terça, 6 abril 2010, 09:54 Oi, Antônio! Vou entrar nos links que você sugeriu. Obrigada! Abraços, Nina Re: Um país desigual / por Darcy - terça, 6 abril 2010, 10:00 Olá Antônio, Estou no outro extremo, no Sul do Brasil, Santa Catarina. A universidade na qual leciono tem infraestrutura que, se não é das melhores, tem condições de atender boa parte das demandas. Como é uma universidade paga, temos um número expressivo (se não total) de alunos com acesso à internet e às novas tecnologias. Mas, a má notícia é que isso não significa necessariamente mais atenção às novas tecnologias no ofício do jornalismo. Temos, sim, iniciativas isoladas bastante positivas como o uso de blogs em sala de aula, mas ainda não reconhecida e realizada como iniciativa institucional, integrada ao programa do curso. E também sou um otimista, como você. Acredito ser indispensável cada vez mais a utilização das novas tecnologias em sala de aula e, consequentemente, no uso do jornalismo desses profissionais que ajudamos a colocar no mercado. Sem deixar de lado o incentivo ao espírito crítico, à leitura "off line" e`a paixão ao jornalismo. Darcy. Re: Um país desigual / por Cecília - terça, 6 abril 2010, 14:22 Antônio e demais, Também sou professora em Brasília e concordo com as colocações da Nina. Por outro lado, também sou uma otimista e mesmo com todas as resistências e dificuldades, acredito que precisamos continuar trabalhando para aprimorar e integrar o uso das ferramentas digitais nos cursos de jornalismo. A meu ver, não há mais muito sentido em termos apenas uma disciplina de "jornalismo on-line" no curso quando todo o fazer jornalismo atualmente se volta para o uso das tecnologias digitais. Re: Um país desigual / por Horácio - quinta, 8 abril 2010, 01:00 Camarada Antônio, Leio seu relato e vejo com muita alegria que não estou só! Semelhante a vc, mas com uma realidade bem mais complicada, também estou na Amazônia, um pouco mais ao Norte, na Ilha Tupinambarana de Parintins, ensinando jornalismo digital e tentando usar essas ferramentas para "democratizar" a sociedade. Estamos longe por aqui de termos um "pontão digital" e um movimento que pense essas questões mais organicamente. Quem sabe essa articulação possa nos ajudar a pensar coisas conjuntas?!! Afinal de contas, estamos a apenas 10 horas de uma cidade para outra...e em distâncias amazônicas, isso não é nada! rá! E vamos conversando! 9 97 E08 E09 Horácio Re: Um país desigual / por Antônio - domingo, 11 abril 2010, 10:31 Salve Horácio, Legal, estamos mesmo bem perto. Quando vier por Santarém nos avise e aí vemos que parcerias podemos pensar. Parintins tem a cidade digital que eu ainda não vi em funcionamento. Tem ponto de cultura aí em Parintins? abraços, Antônio Re: Um país desigual / por Horácio - segunda, 12 abril 2010, 00:05 Antônio, na verdade essa "Cidade Digital" Parintinense é falaciosa. Temos uma das piores internets do país, eu que o diga. Inclusive esta é uma pesquisa que pretendo desenvolver aqui, a relação da internet com o poder local... Com certeza muito me interessa a experiência com o Pontão de Cultura de vcs!Tem uma comunidade indígena aqui na cidade e eles estão ávidos para entrar na rede, o ponto de cultura seria uma grande possibilidade... Vamos trocar uns e-mails depois, para mantermos contato! Horácio Notamos, com o relato apresentado, que as motivações para o diálogo podem ser tão parecidas quanto as realidades em que os sujeitos estão inseridos (nos casos de Santarém e Parintins), ou distantes e complementares, também, como os locais em que os sujeitos estão inseridos (nos casos de Brasília e Santarém), de acordo com as identidades dos professores educadores construídas e modificadas localmente. 5.3.3 Quando identidades definidas em território virtual motivam o diálogo De acordo com o arcabouço teórico de Carlos (1996), que descreve o local como as relações sociais que o sujeito experimenta a partir do seu lugar, passamos a considerar o diálogo produzido virtualmente também como local, como já defendido no capítulo 3. Tal pressuposto se baseia na constatação de que nesse espaço as identidades podem ser construídas e modificadas. Nos dados de que dispomos para análise, de acordo com o caso em estudo, podemos evidenciar a veracidade de tal posicionamento com os enunciados produzidos a todo instante. Escolhemos aqui parte de enunciados produzidos no final do curso, visto que se trata de um momento no qual fica mais evidente a contribuição do diálogo produzido neste local virtual para as identidades dos docentes-jornalistas que fizeram o curso. Para tanto, selecionamos um tópico do último fórum, criado na última semana. O tema foi “as questões polêmicas”, entre as quais se inserem o direito autoral, a ética, o futuro da imprensa e do jornalismo, entre outros assuntos de interesse das identidades dos docentes jornalistas que temos como sujeitos de pesquisa. No fórum 9 98 denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 4” foram criados sete tópicos pelos cursistas, que geraram 79 comentários. O tópico que utilizamos para nossas análises neste momento foi criado por Michel, em 28 de abril de 2010, como pode ser verificado em E01. Em referência direta ao diálogo produzido durante todo o curso, Michel nomeia o tópico com uma exclamação: “O trabalho dos colegas é inspiração!” Notamos, nesta exclamação, a natureza dialógica da frase, visto que o colega assume que se inspirará nas experiências dos colegas, das quais tomou conhecimento no espaço dialógico proporcionado pelo curso, e sua natureza polifônica, na medida em que agrega nessas inspirações os discursos por ele eleitos como inspiradores, como declara em E01: “Acho que o aprendizado nessa interação foi intenso e inspirador”. E lança um questionamento, convidando os colegas a refletirem sobre o mesmo tema: “É válido adaptarmos à realidade de cada professor, de cada escola, as práticas e o trabalho descrito por alguns colegas nos wikis ou nos fóruns?” O tópico contou com sete enunciados que reproduzimos no quadro 10. Algumas considerações sobre os diálogos produzidos: • Em E02, Adolfo responde ao questionamento de Michel, em E01, afirmando que “sim”, que o maior ganho no curso foi a troca, ou seja, a troca de conhecimentos entre os participantes, construindo e reconstruindo novos sentidos. E faz uma ressalva que deve ser interpretada como uma constatação, por parte do cursista, de que é possível construir conhecimento colaborativamente e distantes espacialmente: “mesmo on-line”. O grifo é nosso a fim de destacar a estranheza demonstrada pelo cursista com uma identidade que parece, em um primeiro instante, conhecer bem as potencialidades da web 2.0 e as metodologias de EaD para resultados satisfatórios em construção coletiva; • Em E03, Michel retoma a palavra e enfatiza que os cursistas têm que “(...) aproveitar essa troca de experiências para o aprimoramento das nossas aulas”. Trata-se de mais uma evidência de que o diálogo produzido em ambiente virtual reconfigurou a identidade do cursista em algum grau, visto que ele irá utilizar o conhecimento produzido em suas aulas, ou seja, contribuiu para a construção de sentidos; 9 99 • Esta última constatação também serve para Mel. Esta, por sua vez, em E04, assume que não é docente e que o curso foi importante para lhe dar repertório para trabalhar com seus bolsistas: “Encontrei nesta turma os parceiros que buscava. A experiência me deu maior segurança e referência para que eu possa trabalhar com os bolsistas o que for mais urgente”. Mais uma constatação de que em território virtual é possível se (re)construir sentidos e identidades; • Ricardo confirma, mais uma vez, o pressuposto, em E05, Fabiana, em E06, e Thaís, em E07. QUADRO 10 Fórum – O trabalho dos colegas é inspiração E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 O trabalho dos colegas é inspiração! / por Michel - quarta, 28 abril 2010, 13:48 É válido adaptarmos à realidade de cada professor, de cada escola, as práticas e o trabalho descrito por alguns colegas nos wikis ou nos fóruns? Acho que o aprendizado nessa interação foi intenso e inspirador. Re: O trabalho dos colegas é inspiração! / por Adolfo - quinta, 29 abril 2010, 11:24 Michel, Acredito que sim. Na minha primeira avaliação, o que de mais marcante este curso trouxe foi a troca entre os seus participantes, mesmo on-line, isso para mim é claro. abs Re: O trabalho dos colegas é inspiração! / por Michel - quinta, 29 abril 2010, 14:42 Concordo com vc, Adolfo. Por isso mesmo temos que aproveitar essa troca de experiências para o aprimoramento das nossas aulas. Além disso, espero que levemos adiante canais desse tipo. Re: O trabalho dos colegas é inspiração! / por Mel - quinta, 6 maio 2010, 22:37 Salve Michel! Nesta experiência, eu recebi mais do que pude dar. Na verdade, eu não ensino JOL, apenas coordeno uma agência on-line de divulgação científica. Mas lá eu trabalho com um pequeno grupo de bolsistas e se faz necessário dar continuidade ao processo contínuo de pesquisa das nossas possibilidades técnicas e conceituais. Daí, surgiu a necessidade de pensar JOL como uma atividade de ensino e no meu aperfeiçoamento para ministrar os conteúdos e técnicas imprescindíveis para a realização do trabalho. Encontrei nesta turma os parceiros que buscava. A experiência me deu maior segurança e referência para que eu possa trabalhar com os bolsistas o que for mais urgente. Re: O trabalho dos colegas é inspiração! / por Ricardo - domingo, 9 maio 2010, 11:38 para mim foi uma grande inspiração. A maior foi ver que há tanta vontade de aprender mesmo por parte de quem tem missão de ensinar. Eu, por mim, vi muitas dúvidas e questões que me despertaram para temas em que estava meio adormecido. E foi um excelente acordar. Re: O trabalho dos colegas é inspiração! / por Fabiana - domingo, 9 maio 2010, 17:51 Michel, foi uma experiência muito interessante. Os colegas não só nos inspiraram como nos possibilitaram novas metodologias de ensino usando novas tecnologias. Eu não ministro disciplinas de jornalismo on-line, mas já trabalho com ferramentas que me possibilitem o crescimento da disciplina. Foi uma experiência muito legal. Abs, Fabiana Re: O trabalho dos colegas é inspiração! / por Thaís - domingo, 9 maio 2010, 18:57 Foi mesmo uma das partes mais importantes do curso. A troca entre os colegas, a organização e atuação dos professores fizeram deste um dos melhores cursos a distância de que já participei. Obrigada, colegas 1 100 5.3.4 O poder da linguagem na (re)construção da identidade O processo constitutivo da identidade ultrapassa as questões de observação e chega às de poder por meio da performatividade, da citacionalidade e do questionamento. Performatividade trata-se da utilização de proposições que podem modificar algum significado atribuído, a fim de privilegiar interesses de um ou de muitos. Muitas vezes essa modificação pode acontecer por meio da citacionalidade e está no questionamento o poder de interrupção desse processo. Esse também é um fenômeno constituinte do dialogismo, que faz parte da (re)construção da identidade, de caráter polifônico. Existem, no conjunto de diálogos que analisamos, diversos exemplos de performatividade por citacionalidade de ideias, nomes e descrição de experiências. Sobretudo pelo caráter interativo do curso, que privilegiou a troca de experiências. Passamos às reflexões feitas a partir do tópico nove do fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o módulo 1”, que traz a pergunta formulada por Assis: “Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha?”. O contexto da discussão insere-se na realidade da primeira semana de aulas, quando os cursistas ainda estavam se conhecendo e foram reunidos em grupos pelos formadores a fim de que desenvolvessem um texto conjunto na ferramenta wiki. O tema do grupo de Assis, Ricardo, Sônia e Tadeu, o Grupo 2, é “Uso da internet na sala de aula”, que podemos inferir que tenha sido a motivação para Assis abrir o tópico de discussão. Os quatro sujeitos citados participam da discussão. Também participam Oscar, Fabiana e Nina, que não são do Grupo 2 na atividade wiki, mas, como não veem limitação para que participem da discussão e estão engajados no curso, também criam enunciados, conforme pode ser observado no quadro 11. QUADRO 11 Fórum - Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? E01 Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Assis - terça, 6 abril 2010, 20:25 Colegas (principalmente os da equipe). O propósito deste tópico e iniciarmos nossa discussão para subsidiarmos nosso texto. Vou começar falando das experiências que tive na disciplina que ministrei, uma oficina de 8 créditos. As aulas eram todas em laboratório de informática com internet ligada o tempo todo, mas usamos um programa chamado TRS, que possibilita a apresentação da tela do professor para todos os computadores da rede da sala e o bloqueio e desbloqueio do 1 101 E02 E03 E04 E05 E06 E07 E08 acesso. Com o TRS o professor pode acompanhar o que cada um está fazendo. Outra ferramenta que usei muito foi o Ning (uma pequena rede social), que disponibiliza blog (sem muitos recursos, mas serve), espaço para postagem de fotos, videos, documentos, mensagens e muito útil no acompanhamento e memória do curso. Por enquanto é isso. Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Ricardo - quarta, 7 abril 2010, 17:24 Colegas, da minha experiência depende muito da faixa etária dos grupos. Para os mais jovens ter instant messaging ali à mão é uma tentação. Para os mais adultos o interesse é muito diferente. Aprendi a viver com as duas situações e, mesmo quando não é preciso no momento, sempre digo para ligar o PC no início da sessão. Assim eles se acostumam e mesmo para os mais distraídos em poucos dias deixa de ser foco de atenção e passa a ser tão importante como os velhos papel e caneta. Mas confesso que hoje já começa a ser difícil não trabalhar sempre on-line. Minhas sessões se baseiam muito em mostrar bons e maus exemplos, boas e más maneiras de construir jornalismo on-line, e funciona muito bem deixar os alunos investigar, procurar e depois discutir. Mais do que dar eu as conclusões, são eles que as descobrem e o resultado tem sido muito bom. Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Sônia - quinta, 8 abril 2010, 12:16 Ricardo, penso que deixar o aluno investigar e trazer suas próprias conclusões, como você falou, é uma forma de não ficarmos "disputando" espaço com a Internet. Talvez uma aula mais participativa, como você propõe, e menos expositiva, como estamos acostumados, seja a melhor maneira de integrarmos o computador em nossas aulas. O que acha? Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Ricardo - sábado, 10 abril 2010, 17:06 Sônia, eu acredito que esse é o melhor caminho. Vejo-me mais como um orientador de desenvolvimento do que como alguém que transmite algumas "verdades", até porque isso levanta novas questões: será que os alunos hoje acreditam que algum de nós é detentor de algum tipo de "verdade”, quando há tantos milhões de opiniões e conhecimentos à distância de um clique? Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Ricardo - sábado, 10 abril 2010, 19:25 colegas... vou postar esta mensagem nos nossos dois fóruns - acrescentei muitas referências no wiki e muitas citações - quase todas em inglês. gostava que alguém visse e desse opinião. o que for para usar depois se traduz (posso fazer isso, se for necessário) nesse momento são 1h24 de domingo e meu cérebro está começando a entrar em modo screen saver... bom trabalho Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Ricardo - domingo, 11 abril 2010, 15:37 colegas, estive lendo a proposta de trabalho e gostei muito do que li. poderia ter mudado alguns detalhes mas me parece que pouco mais iria acrescentar. parabéns pelo trabalho de todos. Ricardo Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Tadeu - quarta, 7 abril 2010, 20:07 Assis, o TRS a que você se refere é o desse link: http://www.trscompany.com/br/? Se for, qual versão você usa em sala? Para o trabalho em grupo, qual a reação dos alunos ao bloqueio? Abs. Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Assis - quinta, 8 abril 2010, 15:56 Oi, Tadeu O TRS é este mesmo. Não sei a versão que está instalada hoje, pois não estou ministrando aulas desta disciplina por estar na coordenação do curso. Quanto à reação quando eu bloqueio, eu utilizo esse momento como descontração. Dou um aviso de que vou bloquear as máquinas e começo uma contagem regressiva: 10, 9, 8... fica aquela correria "peraí professor, deixa eu terminar um negócio aqui!". É quando eu exerço todo o meu poder. Ou seja, sem estresse. O TRS tem inúmeros recursos, inclusive provas on-line, com gabaritos diferenciados para 1 102 E09 E10 E11 E12 E13 E14 E15 computadores vizinhos, correção automática de questões objetivas e espaço para questões discursivas, também com possibilidade de algum grau de correção automática (análise matemática). Ainda não uso estes recursos, mas assisti a uma palestra de um colega na Unifor (onde ensino) e vi as potencialidades do programa. Uma parte do processo seletivo da Unifor tem sido feito com ele, em nível experimental. valeu, abs Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? /por Tadeu - sexta, 9 abril 2010, 13:00 Obrigado Assis. Tentarei baixar o demo que eles disponibilizam para entender melhor o programa, mas pela sua descrição é bastante útil e completo. Valeu a dica. Abs. Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Tadeu - sexta, 9 abril 2010, 17:34 Assis e colegas, Criei o Fórum "Grupo 2" para concentrar os comentários sobre nosso trabalho, deixando este para reflexões mais gerais que possam envolver integrantes dos outros grupos interessados no tema. Espero não estar complicando. Abs Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Nina - segunda, 12 abril 2010, 10:22 Eu, particularmente, ainda acho que a internet mais ajuda do que atrapalha. Mesmo que alguns alunos se dispersem, o que é normal em qualquer aula sem computador, as vantagens quanto ao estímulo à pesquisa, inclusão digital, ganho nas habilidades de navegação ainda são mais positivas que negativas. Gostei da experiência do Assis quanto ao uso do Ning, vou experimentar. abraços! Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Ricardo - segunda, 12 abril 2010, 10:46 acabei de ver que é preciso fazer o seguinte: eu estou começando aulas agora em cinco minutos. alguém pode publicar? IMPORTANTE: Incluir, aqui no site do curso, um documento em word ou texto que contenha as seguintes informações. Um dos participantes do grupo fica responsável por fazer essa inclusão até o prazo do exercício: A – Nome e sobrenome dos participantes do grupo B – Tema escolhido C- Link para o wiki do grupo Caso você ainda tenha dúvidas , por favor entre em contato com o instrutor por correio eletrônico ou pelo Fórum para que eu possa ajudá-la/lo. Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Tadeu - segunda, 12 abril 2010, 14:46 Colegas de grupo, Alertado pelo Ricardo, fiz o upload do arquivo .doc com as informações solicitadas. Com isso a tarefa aparece como concluída na minha barra de progressão. Ok para todos? Abs Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Fabiana - segunda, 12 abril 2010, 14:08 Estou tendo uma experiência interessante com a Internet. Os meus alunos são livres para levarem notebooks, netbooks, Smathphones e outros apetrechos. O interessante é quando eles buscam informações que possam complementar a aula. Principalmente, quando estamos fazendo produção de pauta. O ruim é quando eles ficam vendo videos e chamando a atenção dos outros alunos e dispersam. Nada que um bom diálogo para o retorno das atividades da aula. Re: Internet na sala de aula ajuda ou atrapalha? / por Oscar - domingo, 2 maio 2010, 21:20 Olha, talvez em outros tempos se discutia se os livros atrapalhavam ou ajudavam nas salas de aula. A tecnologia é acessório, o que importa é a forma como encara o aluno. Se houver tarefa e acompanhamento a internet e os computadores sempre serão benéficos em um processo de autêntica aprendizagem. Algumas observações acerca da produção dialógica: • Em E01, notamos que, por se tratar de um tópico com uma pergunta direta, as colocações do sujeito que propõe a questão, Assis, têm caráter performativo, visto 1 103 que ele direciona as respostas para um ou outro sentido apenas. Na medida em que o sujeito inicia uma discussão, descrevendo uma experiência com a utilização de duas ferramentas da internet na sala de aula, evidencia-se a intenção de nortear a discussão para esse contexto, do uso de tais ferramentais, o que pode limitar a discussão. • Tadeu, em E07, responde diretamente às colocações do colega, mostrando- se interessado por sua experiência e, sobretudo, pelo uso das ferramentas; • Em E08, Assis esclarece a versão do software e conta mais detalhes sobre sua experiência, respondendo diretamente às perguntas de Tadeu, que afirma, em E09, que vai adquirir o software de controle das máquinas para testá-lo; • Em E11, tal como Tadeu, Nina faz a seguinte afirmação: “Gostei da experiência do Assis quanto ao uso do Ning, vou experimentar”. Vemos aí o poder da citacionalidade difundindo o uso dos referidos softwares, mas essa citacionalidade também pode ocorrer, como já posto, com ideias; • E, como observado por Ribeiro e Castro (2010), nenhum dos sujeitos questiona a utilização de um software para monitoramento da tela dos computadores dos alunos – software este que reproduz as velhas metodologias verticalizadas de ensino presentes nas salas de aulas tradicionais, tão criticadas, mas ainda presentes na prática educacional. Marca evidente da identidade docente dos educadores jornalistas em análise, ainda ligada aos pressupostos tradicionais do ensino. Os interesses dos cursistas, calcados em suas identidades de professores de jornalismo on-line, que vivenciam as questões relativas às transformações pelas quais passam os projetos e processos editoriais na atualidade, voltam-se então para aprender sobre a utilização das TDICs no jornalismo para, posteriormente, ensinálas aos seus alunos. • Em E02, Ricardo, dialogando com o título do tópico proposto por Assis e com suas experiências locais, comenta que, para alunos mais jovens, ferramentas de mensagens on-line instantâneas podem ser uma “tentação” e que uma forma de lidar com isso é usar as ferramentas para que sejam vistas, como qualquer outro material didático voltado para o auxílio à pesquisa e ao estudo; 1 104 • Em E03, Sônia dialoga diretamente com Ricardo, em concordância com a proposta dialógica do colega; • Em E04, Ricardo, em diálogo com a teoria construtivista e a realidade que o cerca, acrescenta que o professor atual deve ser um orientador, uma vez que a gama de informações disponíveis na rede possibilita que o conhecimento esteja ao alcance de muitos; • Na mesma linha de raciocínio seguem Nina, em E11, e Fabiana, em E14; • Oscar, em E15, pontua que se trata apenas de uma ferramenta que dependerá de planejamento: “Se houver tarefa e acompanhamento, a internet e os computadores sempre serão benéficos em um processo de autêntica aprendizagem”. Fica evidente que, em um grupo que objetiva estudar JOL, não há espaço para se negar o importante papel da telemática e do potencial dialógico das redes virtuais. Talvez isso iniba comentários contrários àqueles que vão nessa direção. Porém, de certa forma, alguns cursistas relatam problemas enfrentados nessa área. Como exemplo, Ricardo, em E02, mostra um ponto de vista que aponta diferenças no trato das ferramentas por parte de adolescentes, para os quais o instant messaging se torna uma tentação, e de adultos, para os quais o interesse é diferenciado. O segundo exemplo é o de Fabiana, em E14, que timidamente aponta problemas de desvio de atenção dos seus alunos causados, supostamente, por vídeos disponíveis on-line. Provavelmente, se o tópico tivesse recebido como tema “Os problemas do uso da internet na sala de aula”, haveria mais enunciados produzidos apontando problemas. É a força da performatividade traçando os rumos do diálogo. Paralelamente, Ricardo traz à tona outra gama de enunciados ligados à tarefa de grupo, que não é o cerne das discussões, mas envolve a temática em questão e alguns colegas de grupo que se encontram no mesmo território virtual. • Em E05, E06 e E12, o cursista negocia detalhes sobre a tarefa; • Tadeu, em E10, alerta que o tópico não foi criado para essa discussão e que, por isso, abriu tópico destinado às discussões do Grupo 2 para continuarem o diálogo sobre a tarefa; • Porém, em E13, Tadeu confirma ter finalizado a tarefa. 1 105 Mais uma vez, notamos a força performativa de alguns enunciados. Mesmo se tratando de espaço inadequado, segundo avaliação de Tadeu, envolvido no desvio do foco do tópico, ele atende à orientação do colega Ricardo e utiliza, novamente, o espaço para confirmar que a “outra” questão está resolvida. Enquanto isso, no outro tópico do mesmo fórum, criado com o título “Grupo 2 – computador conectado em sala de aula”, nove outros enunciados são produzidos sobre questões técnicas de finalização da atividade no AVA, pedido de revisão de texto e tempo restante para concluir a atividade. Resta-nos a seguinte questão: o objetivo da discussão foi atendido neste tópico demonstrado no quadro 11 ou no próprio wiki? Como já citado, em depoimento de muitos cursistas, a atividade wiki foi desenvolvida utilizando mais de uma plataforma, como o Google Docs e e-mails pessoais. Assim, uma análise das contribuições no próprio wiki não nos servirá de exemplo seguro dos resultados alcançados em termos dialógicos. A ausência da análise dos dados dessa ferramenta não trará nenhum prejuízo ao presente trabalho, uma vez que o caso apresenta ampla gama de enunciados produzidos em fóruns e chats. Em vários exemplos percebemos a existência de diferenças e identidades, desencadeadoras do processo dialógico, que só é possível a partir da cadeia de vozes que permeia os diversos discursos. O objetivo que marca a identidade de todos é a aprendizagem com colegas que possuem experiências e interesses assemelhados, que se utilizam da telemática para estabelecer um processo dialógico acerca das diversas questões que buscam responder sobre a temática por meio das discussões que o curso proporciona. Trata-se de uma CVA Situacional notadamente engajada, tal como caracterizamos no capítulo 3 e buscamos evidenciar ao longo desta análise. 5.4 Diálogo para emergência de CVA Situacional engajada A partir da conclusão de que, para haver uma comunidade, necessita-se de diálogo, e que, para haver diálogo, necessita-se de um sentimento de pertencimento, que será possibilitado pelos objetivos dos cursistas, de acordo com suas identidades locais, passamos agora a verificar a existência de um espaço dialógico que possa 1 106 ser caracterizado como CVA Situacional engajada. Para essa tarefa, duas questões resolvidas inicialmente, referentes ao objetivo do grupo, qual seja, a aprendizagem do “Jornalismo On-line” e o local de formação que se refere ao ambiente virtual, um território simbólico definido pela construção de enunciados e sentidos por parte dos cursistas. Já foram apontados exemplos de dialogismo e diálogos no ambiente e os esforços agora se voltam para descrever como se desenrolou o processo dialógico. O curso foi realizado em quatro semanas, com quatro pontos diferentes para serem discutidos por meio de fóruns e chats semanais, entre outras atividades. Entre os interesses gerais dos cursistas, ligados ao objetivo do curso, foram declarados: jornalismo, webjornalismo, comunicação, sociologia, arquitetura da informação e diversos outros ligados ao mundo jornalístico. Destoam dos interesses gerais outros do tipo psicologia, história, bioética. No entanto, há muitos pontos de convergência que levaram a diálogos promissores, tal como buscamos apontar ao longo de toda a análise. O início do processo comunicativo deu-se a partir da iniciativa de Thaís de abrir um tópico no fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”, com o título “Twitter”, em 4 de abril de 2010, no qual já divulgou seu endereço no microblog, sendo seguida por outros 42 colegas de curso, que divulgaram seus endereços até o dia 2 de maio de 2010. Na primeira semana de curso, os contatos foram marcados pelo interesse comum em produzir o texto conjunto na ferramenta wiki. O assunto rendeu vários tópicos nos fóruns do AVA e ainda dominou a sessão de chat da semana. No fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”, encontramos o tópico nove, “Chat”, aberto pelo professor Reinaldo, em 7 de abril, que, em E01, no quadro 12, busca esclarecer o funcionamento do chat, marcar horário de encontro com os cursistas e outros detalhes. Heloísa e Fabiana confirmam o compromisso em E02 e E03, e a partir daí começam a surgir problemas relacionados à sincronia da ferramenta e às diferenças identitárias de um e outro cursista, quais sejam, em espaços físicos diferentes, com atividades diferentes, de aspectos profissionais ou pessoais, mesmo sendo todos professores de JOL, alguns não poderiam se encontrar virtualmente no horário combinado. Anderson, Antônio e 1 107 Thaís (em E04, E05 e E06) alertam que não poderão participar, visto que têm outros compromissos no mesmo horário. A assistente Angelina, em E07, informa, um dia depois da realização da sessão, que aqueles que não puderem participar poderão acessar, posteriormente, o histórico das sessões. Em E08, Jurandir mostra-se um pouco decepcionado em não poder participar. Em E09, Bernardo demonstra seu interesse em participar do chat do dia 22 de abril e Mariana sugere, em E10, que essa sessão de chat de 22 de abril tenha um tema ou provocação para discutirem. Notamos que o grau de motivação e engajamento dos cursistas é grande e todos os que se manifestam gostariam de participar da atividade. QUADRO 12 Fórum - Chat E01 Chat / por Reinaldo - quarta, 7 abril 2010, 09:38 Oi, Teremos hoje à noite o primeiro chat entre os participantes do curso. É uma oportunidade para aprofundar e personalizar um pouco mais a troca de ideias e experiências que já começou, e com que intensidade, nos fóruns do curso. O chat vai exigir, às vezes, um pouco de paciência, por dois motivos: a) Muita gente querendo falar ao mesmo tempo; b) Falhas na comunicação. Pode acontecer que alguém faça uma pergunta e enquanto a resposta não vem, vários outros entrem também na conversa. Quando a resposta chegar, ela pode já estar defasada. Assim é bom ser bem objetivo e sintético nas perguntas para poupar tempo de comunicação e dos demais participantes. Quando cair a comunicação de alguém, a recomendação é fechar o chat e reabri-lo outra vez. Talvez alguma coisa seja perdida no intervalo, mas a sequência da conversa pode ser recuperada mais tarde pelo histórico. Há ainda duas alternativas no chat: você pode mantê-lo atualizado constantemente, o que às vezes gera um pouco de aflição em quem não está acostumado, ou então usar o recurso da atualização manual. A opção está disponível num quadrinho na parte de baixo da janela do chat. Bom, a gente se vê às oito da noite, hora de Brasília. Até lá E02 Re: Chat / por Heloísa - quarta, 7 abril 2010, 11:57 Marcado, professor! E03 Re: Chat / por Fabiana- quarta, 7 abril 2010, 14:11 Marcadíssimo professor Reinaldo. Nos encontramos no chat às 20 horas. Inté, Fabiana. E04 Re: Chat / por Anderson - quarta, 7 abril 2010, 14:58 Caro professor Reinaldo, boa tarde, Infelizmente não poderei participar do chat, pois nesse horário tenho aulas na FAAP. Mas me comprometo a levantar as informações apos o evento para dar continuidade as aulas. abraços Anderson E05 Re: Chat / por Antônio – quinta, 8 de abril, 11:01 Salve Prof. Reinaldo, Eu também tenho esse problema, dou aula nas terças, quartas e quintas de noite. Mas vou ler 1 108 E06 E07 E08 E09 E10 o papo. abraços, Antônio Santarém, PA Re: Chat / por Thaís - quinta, 8 abril 2010, 12:25 Também eu. Pena. Mas lerei o histórico. Re: Chat / por Angelina - sexta, 9 abril 2010, 17:15 Ola! Sabemos que nem todos conseguem entrar nos dias e horários propostos. é um risco que corremos. Mas a sugestão para aqueles que não podem é ler o histórico e incluir comentários e duvidas nos fóruns, OK? Tentamos oferecer em dias variados. Na semana que vem vai cair na quinta. Mas agente vai tentando, espero que um deles pelo menos de para vocês participarem. Abraços, Angelina. Re: Chat / por Jurandir - sexta, 9 abril 2010, 19:41 Obrigado pela alentadora resposta! Re: Chat / por Bernardo - quinta, 22 abril 2010, 13:07 O chat é hoje às 18h, né? acho que desta vez consigo participar Re: Chat / por Mariana - quinta, 22 abril 2010, 13:59 Como vai funcionar o chat de hoje? o professor Reinaldo poderia propor um tema, ou fazer uma provocação, para que nós pudéssemos interagir. Nos últimos dois dias fiquei afastada das atividades (adoeci), mas estou retomando. abs As reclamações que surgem demonstram uma preocupação dos cursistas em não terem seus objetivos alcançados devido às impossibilidades de estarem presentes no debate síncrono. Mariana, em E10, reclama, já na data da terceira sessão de chat, demonstrando seu descontentamento com a forma com a qual foi conduzida a sessão de que participou. Os motivos das reclamações de Mariana ficam mais claros a partir da leitura do histórico da sessão de chat a que ela se refere, a primeira. Notamos que, nas explicações sobre a sessão, em E01, o professor Reinaldo não esclarece o objetivo do encontro, o que causou alguns problemas relacionados ao foco da discussão, como poderá ser verificado no próximo tópico. 5.4.1 A experiência em chat aponta para a emergência de uma comunidade engajada A participação da primeira sessão de chat foi dos dois formadores e de 22 cursistas, que produziram 630 enunciados. Apesar de quantitativamente parecer se tratar de um bom resultado, o diálogo foi pouco produtivo. Sem um objetivo traçado para o encontro, o foco se voltou para os assuntos dos textos a serem desenvolvidos em grupo para a já citada atividade de wiki da primeira semana. E com participantes de 1 109 todos os grupos, os sujeitos, engajados na referida atividade, negociaram alguns detalhes e se organizaram focando o trabalho. Vejamos uma descrição do que percebemos em alguns dos enunciados produzidos: • Em E01, Michel já anuncia que é do Grupo 4 e volta a confirmar, em E03, que o seu grupo é “dos blogs”; assim como Clarice, que esclarece que é do Grupo de educação a distância, em E02; Caio, em E014, afirma que é do Grupo 6; Em E35, Heloísa busca alguém do seu grupo. Várias outras tentativas desse tipo são registradas ao longo de toda a sessão; • Em E04, o professor Reinaldo cumprimenta a todos e é saudado por Mel, em E05; • Sebastião tem dúvidas sobre o wiki em E06, E09 e E11 e Reinaldo busca sanar suas dúvidas em E07, E08 e E10; • Mel, em E12, agradece a criação dos wikis por parte da assistente Angelina e declara que estava fazendo a atividade no Google Docs, mas estava muito complicado; • Em E24 e E25, Horácio busca ser “ouvido”: “pessoal vcs estão recebendo minhas mensagens?” Entre outras discussões, os cursistas já se mostram um tanto perdidos: • Como Heloísa, em E26: “sim, Horácio (respondendo a Horácio que também não compreende o que ocorre)”; Horácio, em E28: “...”; Henrique, em E30: “saudações amigos... tô entrando com o bonde andando... vou me situar na conversa primeiro”; Magda, em E32: “isso aqui é rapidão, hein! brainstorm elevado à enésima potência vezes a raiz quadrada de....”; Michel, em E33 e E34, Adolfo, em E36, e vários outros exemplos que poderíamos citar. QUADRO 13 Chat 1 - Trecho 1 E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 17:56 Michel: buenas... algum de vcs está no grupo 04? 17:57 Clarice: eu sou do grupo de educação a distancia. 17:57 Michel: ok, eu sou dos blogs 17:57 Reinaldo: Oi, Boa noite, olha é um prazer enorme poder compartilhar com vocês estas quatro semanas, e pela amostra dos primeiros dias, a experiência vai ser única. 17:58 Michel: que bom, de minha parte, certamente será 18:01 Sebastião: minha primeira dúvida é quanto à forma do wiki para o primeiro trabalho 18:01 Reinaldo: Sebastião, fale um pouco mais da tua divida.... 1 110 E08 E09 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16 E17 E18 E19 E20 E21 E22 E23 E24 E25 E26 E27 E28 E29 E30 E31 E32 E33 E34 E35 E36 18:01 Reinaldo: duvida, 18:02 Sebastião: a Angelina criou os links para o wiki. É uma plataforma com templates específicos ou espaço para postar conteúdo? 18:03 Reinaldo: É um espaço para postar conteúdos. O grupo vai produzir um texto conjunto 18:04 Sebastião: Exemplos, os tópicos de discussão relacionados ao tema devem ser replicados lá? ou o refinamento da discussão? 18:04 Mel: Que bom que ela criou os wikis...eu estava atrapalhada com o GoogleDocs 18:04 Sebastião: a discussão nos fóruns está bastante rica 18:04 Caio: estou no grupo 6, que discutirá os problemas e vantagens do uso da net em sala de aula, quem está liderando esse grupo? 18:05 Mel: Tornou nosso trabalho mais fácil...Acho que é a XXX, que iniciou a discussão, Caio 18:05 Clarice: Eu quero saber quem coordena o da educação a distancia 18:05 Magda: Olá, Boa noite coleg@s! 18:05 Reinaldo: O importante é o trabalho conjunto. Imaginem que vocês estão colaborando para a redação de um verbete da Wikipédia. 18:06 Angelina: Tem um wiki para cada grupo, fica separado assim. Vocês podem ver o conteúdo dos outros grupos, mas devem somente entrar e modificar os conteúdos do seu próprio wiki, OK? Qualquer duvida ou dificuldade desses wikis me avisa 18:06 Magda: E tem que ter coordenador, Clarice? 18:10 Heloísa: Oi a todos 18:10 Reinaldo: Oi Horácio, oi Heloísa 18:10 Heloísa: Olá, professor 18:12 Horácio: pessoal vcs estão recebendo minhas mensagens? 18:13 Horácio: pessoal vcs estão recebendo minhas mensagens? 18:13 Heloísa: sim, Horácio (respondendo a Horácio que Tb não compreende o que ocorre) 18:13 Michel: sim, Horácio 18:15 Horácio: ... 18:15 Heloísa: Parece que estamos tendo dificuldades com escrita colaborativa. Acho isso bem curioso, especialmente neste curso. 18:15 Henrique: saudações amigos... tô entrando com o bonde andando... vou me situar na conversa primeiro 18:16 Michel: gente, quem do grupo 04 está no chat? 18:16 Magda: isso aqui é rapidão, hein! brainstorm elevado à enésima potência vezes a raiz quadrada de.... 18:16 Michel: hahaha... gostei, Magda. 18:17 Magda: ai, Jesus... 18:17 Heloísa: alguém do G5? 18:18 Adolfo: Uma primeira observação nessa experiência é que um chat com tantas pessoas e tantas conversas pode ficar confuso, bem confuso Notamos que, mesmo diante do caos comunicativo que se estabeleceu, os cursistas estavam motivados, possuíam objetivos conjuntos, que por ora se voltaram para a construção do texto colaborativo em grupos distintos, tentaram se organizar, buscaram soluções e reclamaram, como se vê no quadro 14. O engajamento inicial é facilmente percebido. A seguir, tecemos algumas considerações sobre o que observamos no espaço dialógico: 1 111 • Os enunciados que vão de E37 a E39, de E41 a E53, somados aos de E55, E57, E59 e outros, são produzidos por integrantes do Grupo 5, visando a organização do processo de realização da tarefa de construção de texto conjunto; • Em E40, o professor Reinaldo alerta sobre o quão confusa pode ser uma sessão de chat direcionada a 50 participantes; • Como o Grupo 5, o Grupo 6 também busca os caminhos para um diálogo proveitoso em E54, E56, E65 e em outros enunciados não reproduzidos no quadro 14; • Em E64 e em E66, Henrique busca os integrantes do seu grupo e traz uma sugestão a todos, procurando solucionar o caos dialógico estabelecido; • Em E65, Caio, do Grupo 6, busca seus colegas de grupo, assim como Jorge busca os seus, em E67, e José busca os seus, em E68. Assim como fazem outros colegas, posteriormente; • O que começa a se destacar então são as reclamações sobre os problemas em que se veem inseridos os sujeitos que buscam uma conformidade no diálogo, como pode ser notado em E69, E70, E71, E73, E76. QUADRO 14 Chat 1 - Trecho 2 E37 E38 E39 E40 E41 E42 E43 E44 E45 E46 E47 E48 E49 E50 E51 E52 E53 E54 E55 E56 18:18 Adolfo: eu sou, Heloísa 18:18 Heloísa: Adolfo, acho que podemos combinar com nosso grupo o start do texto, né 18:19 Adolfo: estou lá no Docs colocando a minha colaboração... espero ajudar... e talvez vc não saiba, mas vc é a coordenadora do nosso grupo... 18:19 Reinaldo: Sim, Adolfo, um chat com 50 participantes, as vezes fica meio confuso. Por isto é preciso um pouco de paciência. 18:19 Heloísa: hehehehe fiquei sabendo agora 18:19 Clarice: Membros do grupo 5, acho que podemos discutir no fórum, por e-mail e skype. 18:19 Adolfo: sim... já estou colaborando lá com o q vc escreveu 18:19 Heloísa: Clarice, por e-mail, que tal? Já andei enviando mensagens para quem se manifestou 18:20 Heloísa: Adolfo, então a gente vai mexendo no texto e vai puxando o fio 18:20 Heloísa: não entrei lá agora, só você que mexeu? 18:20 Clarice: Heloísa , pode ser por e-mail. Alguém já pensou numa estrutura ? 18:20 Adolfo: sim... Heloísa... o que sugiro é que vc depois faça o copidesque e feche o texto final, ok? 18:21 Heloísa: Pensei. Deixei lá no Google Docs. Vou enviar convite pra você 18:21 Adolfo: acho que só eu mexi até agora 18:21 Heloísa: claro, pode contar, Adolfo 18:21 Magda: hello, grupo 5? 18:21 Heloísa: Oi Magda 18:21 Caio: grupo 6, eu prefiro trocar ideia por e-mail, vocês aderem? 18:21 Clarice: Heloísa, ok. 18:21 Sebastião: sim, fecho com e-mail 1 112 E57 E58 E59 E60 E61 E62 E63 E64 E65 E66 E67 E68 E69 E70 E71 E72 E73 E74 E75 E76 E77 E78 E70 E80 E81 E82 E83 E84 E85 E86 E87 E88 E89 18:21 Heloísa: Somos eu, você, Clarice, Adolfo, Cecília e mais alguém 18:22 Reinaldo: Adolfo, na produção coletiva, não há necessidade de um copydesk final. Ele é feito também coletivamente. 18:22 Heloísa: já existe um esqueleto de texto no Google Docs 18:22 Magda: Heloísa, olá! Isso 18:22 Heloísa: vou enviar convite pra você, Magda 18:22 Magda: e tem o Darcy 18:22 Magda: ok, Heloísa. Tks 18:23 Henrique: pessoal do G7, sugiro conversarmos sobre questões específicas do grupo após o chat ou em outro momento. 18:23 Caio: imagino que por e-mail anda mais rápido, e podemos replicar as mensagens e falar com todos do g. 6 18:24 Henrique: o mesmo sugiro para os demais colegas, para nos concentrarmos nas dúvidas e questões a apresentar para o Reinaldo 18:24 Jorge: ih, fiz uma confusão danada aqui. Prezados grupo 4, só agora vi que estava com vocês. contem comigo 18:24 José: alguém do grupo 3? 18:26 José: estou tentando acompanhar feito cego em tiroteio 18:26 Adolfo: Bitt... cuidado com as balas perdidas 18:26 Henrique: Reinaldo, sugeri que nos concentrássemos nas dúvidas e questões a apresentar a você neste momento, deixando as questões específicas de cada grupo para outro momento. 18:26 Fabiana: Cadê a galera do G7? Só eu na área? 18:26 José: já vi que o grupo 3 tinha que se falar antes 18:26 Heloísa: Magda e Clarice, já enviei o convite do Google Docs para vocês, ok? O Adolfo já começou a contribuir. E eu só dei um esqueletão esboço mesmo. Podemos rever, reorientar, mexer. 18:27 Mariana: eu tenho participado de trabalhos colaborativos (geralmente no Google Docs) com alunos e com professores. Creio que o mais importante é termos um foco comum. 18:27 Henrique: Ou o objetivo deste chat é este "brainstorm" mesmo? 18:27 Heloísa: Concordo, Mariana 18:27 Mariana: Michel, mensagem via mail? 18:31 Fabiana: Reinaldo, ainda dá tempo de mudar de grupo. Me identifiquei muito com a discussão de ensino à distância. Posso mudar? 18:32 Reinaldo: Fabiana, ai eu teria que ver com a Angelina para que um grupo não fique desfalcado 18:32 Heloísa: Fabiana, se quiser vir pro G5, estamos trabalhando com ensino a distância. 18:33 Fabiana: O meu grupo está bem grande... se não me engano é um dos maiores 18:34 Reinaldo: OK Fabiana, se a Angelina não se opõe, você pode mudar de grupo. Angelina, vc está por ai.... 18:35 Heloísa: Fabiana, se o prof. Reinaldo disser que pode, seja bem-vinda à nossa discussão. Preciso enviar um convite do Gdocs pra você, ok? 18:36 Reinaldo: Sim, Fabiana, se o teu grupo original é grande e teus colegas não se sentiram desfalcados ou prejudicas, vc pode mudar 18:36 Magda: tô adorando isso aqui, gente! 18:36 Heloísa: Magda tá empolgada 18:37 Caio: pessoal queria dizer que está sendo ótimo participar essa experiência com vcs, tb to adorando Magda 18:37 Adolfo: Sim... pode ser um caos comunicativo... tantas mensagens cruzadas! Apesar dos problemas relatados na tentativa de se formar um espaço dialógico com todos os cursistas ao mesmo tempo e das reclamações destacadas, que poderiam desmotivar o grupo, consideramos que já existe um sentimento de pertencimento por parte dos cursistas, o que é característico de uma comunidade engajada em 1 113 espaço virtual. A existência de tal sentimento pode ser evidenciada a partir da observação de que os cursistas buscam o diálogo e protestam se não o conseguem, da forma mais organizada possível. Em comunicação face a face, também estaríamos sujeitos ao mesmo tipo de situação, que nos levaria a nos reunirmos em espaços reservados aos nossos interesses pessoais. O sentimento de pertencimento fica cada vez mais claro, na medida em que um número maior de cursistas traz suas experiências para o espaço dialógico contribuindo para o crescimento da produção de enunciados e, consequentemente, do diálogo. Na busca por atingir os objetivos traçados, referentes ao aprendizado sobre as questões relativas ao jornalismo 2.0, o cursista Adolfo abriu um tópico para discussão de propostas para uma nova sessão de chat no fórum denominado “Dúvidas gerais e debates sobre o módulo 2”. No seu tópico, Adolfo, em 12 de abril, propôs a criação de uma pauta, conforme se verifica em E01. Alguns cursistas concordaram com a proposta de se estabelecer uma pauta, como pode ser evidenciado em E02 a E08, E12 e E13, sob a justificativa de tornar o debate mais produtivo. Notamos claramente a motivação dos sujeitos, que buscavam atingir seus objetivos, comuns às identidades dos docentes de jornalismo on-line. Opinam, demandam soluções, apropriam-se dos discursos uns dos outros. Tudo aponta para a emergência de uma comunidade engajada. QUADRO 15 Fórum – Chat E01 E02 E03 E04 E05 E06 Chat / por Adolfo - segunda, 12 abril 2010, 21:33 Como sugestão, e a partir da experiência da semana passada, acredito que seria produtivo a definição de uma pauta de assuntos a ser discutida/debatida/desconstruída no chat dessa semana. Fica a ideia, boa ou má. Re: Chat / por Célia - segunda, 12 abril 2010, 21:49 Acho interessante... Até para saber como foram as dinâmicas de produção colaborativa nos diversos grupos e compartilharmos as experiências para que todos possamos observar o que funciona ou não... Rita... O que acha de marcarmos com nossos colegas do grupo 03 um chat para discutirmos nossa produção da semana passada? Re: Chat / por Rita - segunda, 12 abril 2010, 21:55 Boa idéia Célia; eu posso na quarta-feira pelas 17 horas ou um pouco antes. Re: Chat / por Angelina - terça, 13 abril 2010, 13:02 Adorei a ideia de vocês Rita. Vou apontar para o Reinaldo, assim ele pode ver se vale a pena abrir essa ideia para os outros grupos também. A iniciativa eh super valida. Abraços, Angelina Re: Chat / por Jurandir - quarta, 14 abril 2010, 14:40 Concordo! Re: Chat / por Tadeu - terça, 13 abril 2010, 08:18 1 114 E07 E08 E09 E10 E11 E12 E13 Concordo com a sugestão de pauta para o próximo chat. Confesso que fiquei um tanto perdido com a diversidade de conversas simultâneas sobre o trabalho de cada grupo, sem saber exatamente como contribuir para o debate geral. Re: Chat / por Clarice - terça, 13 abril 2010, 13:56 A sugestão de pauta seria ideal. Também fiquei tonta com as mensagens sobre tema diversos. Re: Chat / por Sebastião - terça, 13 abril 2010, 15:02 Acho que a pauta será muito produtiva também. A experiência da semana passada valeu como estréia, mas esta semana podemos avançar no resultado do chat. Re: Chat / por Reinaldo - terça, 13 abril 2010, 16:01 Oi pessoal, Acho que a sugestão de organizar uma pauta para o chat é excelente, perfeita. E acho que poderíamos desde já colocar sobre a mesa a possibilidade de fazermos uma análise da primeira semana e de problemas surgidos na segunda semana, já que o chat será na quinta, às oito da noite (Brasília). Acredito que o ideal agora seria fazer uma avaliação sobre aspetos pontuais, já que no final do curso haverá uma avaliação em profundidade na qual vocês poderão questionar tudo. Agora no meio do curso, o melhor é verificar erros que ainda podem ser corrigidos. Para detalhar a pauta, minha sugestão seria analisar a primeira semana sob os seguintes aspetos: a) Como funcionou a interatividade entre os alunos e entre estes e os monitores; b) Quais as principais dificuldades enfrentadas c) Sugestões de melhorias e correções pontuais d) Questões sobre o exercício dois Os chats são normalmente confusos, principalmente quando há muita gente na sala. É uma característica da ferramenta, mas podemos contribuir para que fique menos confusa, se colocarmos questões objetivas. Outra questão é o entra e sai inevitável por causa das interrupções de banda e de circuitos. Atrapalha é claro, mas não temos como evitar. Mesmo com todas as imperfeições, o sistema de chats é uma ferramenta útil. O negócio é usá-la dentro de suas limitações. Um abraço. Reinaldo. Re: Chat / por Jorge - terça, 13 abril 2010, 21:52 Prezado professor Reinaldo, Será que os 4 itens não são demais? Naturalmente, não quero subestimar a capacidade cognitiva de todos aqui (inclusive a minha), mas é que a quantidade de dados que surgem no chat é tão grande que, talvez, limitar a 2 ou 3 tópicos deixasse a comunicação mais clara (isso é uma hipótese). Ou então trabalharmos mesmo com 4 itens, mas demarcando horários de discussão para cada um deles. Re: Chat / por Mariana - quarta, 14 abril 2010, 13:33 creio que podemos tentar ter um "animador" do chat, no sentido de indicar a ordem dos temas/tópicos, como propõe o Jorge Re: Chat / por Adolfo - quarta, 14 abril 2010, 00:04 Caro Reinaldo, Acho interessante essa pauta proposta. Como ainda estamos assimilando a experiência da primeira semana, acredito ser oportuno falar sobre o método do curso... a interatividade, o wiki etc. Talvez adiante, possamos tb dar espaço para discutirmos o conteúdo da semana, os powerpoints etc. Talvez, como o Jorge observou, não haja tempo para discutir tudo, mas acho que na hora se vai ajeitando os temas na medida em que se esgotam, ou não. Infelizmente, nessa quinta, estarei em sala dando aula. Mas vou pegar o histórico do chat depois. abs a todos, Adolfo Re: Chat / por Assis - quinta, 15 abril 2010, 16:43 Li o chat passado e concordo com Adolfo de que uma pauta agiliza o processo, até porque é pouco tempo, e isso pode melhorar a produtividade do debate. Como vemos nos enunciados reproduzidos acima, surgiram justificativas e sugestões para uma mediação mais eficaz diante das insatisfações causadas na 1 115 sessão de chat da primeira semana. O chat da segunda semana contou com 16 cursistas e os dois formadores. Notamos um aumento do número de ausências, porém, o dia da semana em que a sessão foi ofertada foi diferente da primeira sessão. Assim, não podemos afirmar que o aumento no número de ausentes se deu por se sentirem desmotivados diante do caos experimentado na sessão anterior. Nessa segunda sessão, foram produzidos 318 enunciados. Um número menor que o primeiro, é verdade, porém notamos um crescimento na qualidade do diálogo estabelecido, visto que os cursistas tinham um objetivo negociado, já possuíam alguma intimidade com o grupo e, portanto, o sentimento de pertencimento já fazia parte da realidade daqueles mais engajados e, assim, criaram maior número de enunciados voltados ao atendimento do objetivo de aprendizagem sobre a temática do curso. Discutiram, inicialmente, a experiência coletiva de construção de texto na ferramenta wiki pela qual passaram na primeira semana, como pode ser verificado em todo o quadro 16, que segue: QUADRO 16 Chat 2 - Trecho 1 E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 E08 E09 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16 17:58 Reinaldo: Bom, para a gente botar a bola pra rolar, talvez o primeiro assunto seja comentar o exercício wiki do primeiro módulo. Que acham... 18:00 Assis: Achei legal, o exercício do primeiro módulo. No começo rola uma certa vergonha de tomar a iniciativa 18:01 Ricardo: concordo com o Assis. foi bom ver com o caos se foi organizando sem grande estresse 18:01 Reinaldo: Assis, o processo wiki rompe com uma série de rotinas e impõe uma quebra de modelos. 18:01 Reinaldo: Deve ser visto como um processo. Não como um a receita. 18:02 Clarice: No grupo 5 houve a participação, acredito, de quase todos. Mas foi com o impulso da Heloísa e a determinação da Cecília que chegamos lá. 18:03 Mariana: no grupo 4 não houve a participação de todos 18:03 Reinaldo: Eu examinei o histórico dos vários grupos e vi que as edições variaram de grupo para grupo. 18:03 Assis: Achei interessante que o texto não ficou um Frankstein, parecia feito por um só 18:03 Ricardo: para mim o principal foi toda a gente sentir que podia acrescentar algo, sem medo e sem o peso de alguém distribuir trabalho. cada um foi fazendo o que podia 18:03 Rita: Como Clarice refere aos grupos, vejo que a coordenação, liderança, foi o segredo dos melhores wikis 18:04 Reinaldo: Rita, na fase inicial, a liderança é importante, mas depois ela tem que perder relevância em favor do conjunto. 18:05 Assis: Acho que é uma experiência que pode ser replicada na sala de aula 18:05 Reinaldo: O wiki é na verdade um sistema de recombinação de ideias, um pouco como o remix da música eletrônica. 18:05 Mariana: nós do grupo 4 fizemos o trabalho sem uma coordenação e ficou tudo coordenado, penso 18:05 Heloísa: Há vários trabalhos (relatos de experiência) publicados que mostram que a escrita colaborativa, especialmente em wikis, tem características como as que nós experimentamos. Não estamos fora da curva do gráfico. 1 116 E17 E18 E19 E20 E21 18:06 Sônia: Concordo, Reinaldo. No nosso grupo os textos mudavam de ordem e lugar a cada edição. 18:06 Reinaldo: Minha experiência em aulas com wiki é que devem ser no mínimo três a quatro aulas. A primeira para quebrar o gelo, para os alunos fazerem a catarse. 18:07 Mariana: confesso que não acreditava que daríamos conta. Mas gostei de ver tantas experiências interessantes 18:07 Alessandro : Pegando o bonde andando. Mas gostaria de dizer que minha impressão é de que a experiência wiki não foi muito wiki no nosso grupo. Dividimos o trabalho por partes e atuamos mais no modo tradicional de escrita. 18:07 Heloísa: No G5 a coisa demorou a começar efetivamente, mas depois a execução foi rápida. As lideranças foram necessárias (e foram naturais, sem eleição) apenas para arrematar o trabalho ou para iniciá-lo. Tal como preconizado pela teoria bakhtiniana, as falas são polifônicas e já denotam as modificações notadas nas identidades dos cursistas, no que se refere à quebra de paradigmas acerca da construção colaborativa de textos. Já mantêm uma discussão pública, condição necessária à formação de uma comunidade virtual (RODRÍGUEZ ILLERA, 2007) e o diálogo se amplia. Surgem novos assuntos diretamente relacionados à questão em debate, qual seja, a escrita colaborativa, e vários sujeitos trazem suas experiências externas ao grupo, agregando sempre novas vozes aos significados construídos em grupo e aos sentidos construídos individualmente. Para exemplificar, selecionamos um segundo trecho da mesma sessão de chat, no quadro 17. O assunto agora é autoria coletiva. Como se observa, um se apropria da fala do outro, como Reinado dialogando com Virgínia, em E01, Jorge com Virgínia, em E02, e Assis com Virgínia, em E04. Trazem outras vozes para o discurso, como Heloísa, em E08 (acerca do New London Group e das avaliações da CAPES), e Ricardo, em E09 (acerca das plataformas e a permanência da importância da autoria). O diálogo engajado está definitivamente estabelecido. O sentimento de pertencimento faz parte dos sujeitos, que buscam atingir os objetivos propostos e buscados pelas CVAs, a aprendizagem. Satisfeito com o resultado, em E15, o professor Reinaldo sugere manter o mesmo tipo de planejamento para as próximas sessões de chat. É o que ocorre, e os resultados obtidos são parecidos. 1 117 QUADRO 17 Chat 2 - Trecho 2 E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 E08 E09 E10 E11 E12 E13 E14 E15 18:19 Reinaldo: Virgínia, o wiki acaba com o direito de autor em produções colaborativas. 18:22 Jorge: Virgínia, tenho insistido nesse aspecto apontado por você 18:22 Virgínia: sim, mas os colaborativos do impresso estão assinados, assumidos e responsabilizados 18:22 Assis: Virgínia, o que acontece é que agora tudo pose ser mais misturado, os créditos vão para a equipe 18:23 Ricardo: o colaborativo on-line também é assinado 18:23 Jorge: não só em termos éticos propriamente ditos, mas especialmente no que diz respeito ao valor da notícia (ainda que uma coisa tenha diretamente a ver com a outra, claro) 18:23 Tadeu: Concordo com o Assis, quem foi redator já teve de lidar com vários autores presentes. Mas como redator é uma figura em extinção... 18:23 Heloísa: Algumas equipes de pesquisadores trabalham assim. Não tem lista de nomes, tem o nome do grupo, tipo New London Group. É bacana... só não sei como a Capes avaliaria isso nas pós-graduações brasileiras... 18:24 Ricardo: me parece que a questão de quem é o autor não muda com o meio: papel, rádio Tv ou on-line é tudo igual 18:24 Jorge: sim, Ricardo, concordo. Ainda que na mídia impressa diária a autoria seja um pouco mais bem definida 18:24 Ricardo: não sei se acontece com vocês, mas meus alunos muitas vezes esquecem de assinar. passo a vida insistindo que texto anônimo não existe desde a idade média 18:24 Clarice: A Capes divide a nossa pontuação nos artigos em conjunto. E ainda dizem que é importante trabalhar em grupo. 18:25 Heloísa: pois é, Clarice... complicado, né? 18:25 Reinaldo: A autoria continua, mas ela deve assumir outros formados, fora da assinatura. Vejam o caso do pessoal da música eletrônica. Eles trabalham basicamente com remixagem de linhas de código de músicas. 19:01 Reinaldo: Pessoal, para o próximo chat vamos manter mais ou menos o mesmo esquema de hoje. Vou propor uma agenda de três pontos, vocês opinam pelo fórum e depois tentamos segui-la no chat. Com um maior amadurecimento dos cursistas, no que tange ao sentimento de pertença estabelecido, engajamento, compromisso, o diálogo flui mais facilmente, novos significados são trazidos pelos colegas, com identidades tão diversas quanto suas experiências, vão (re)construindo sentidos coletivamente e o diálogo se estabelece no ambiente comunitário. Tal assertiva se mostra mais claramente nos fóruns, que relataremos no próximo tópico. Notamos que a presença dos cursistas diminui semana após semana nas sessões de chat, o que parece ser consequência do caráter sincrônico da ferramenta, que exige a presença no ambiente virtual em horário específico. Tal afirmação é feita a partir da observação de que as reclamações sobre as sessões de chats, em tópicos de fórum específicos para o tema, referem-se ao horário das sessões e às datas. Sempre existem reclamações do tipo das que registramos no quadro 12, anteriormente, enunciados de 4 a 9. Outra hipótese que não pode ser comprovada com os dados de que dispomos refere-se à diminuição do engajamento de alguns diante dos resultados pouco 1 118 práticos que as sessões de chat possibilitaram alcançar, tal como alertara Collins et al. (2003), citados na seção 4.3. Porém, notamos, na nossa base de dados, que, apesar de ser uma experiência um tanto caótica, os resultados em socialização são positivos, visto que o espaço se tornou ponto de negociação de pendências dos cursistas, avaliação de conteúdos produzidos e, portanto, de (re)construção de sentidos e, consequentemente, de identidades, que estão diretamente ligadas aos sentidos individuais e significados coletivos. Porém, a quantidade e a qualidade dos enunciados produzidos aumentaram. Na sessão aberta na terceira semana, houve 12 cursistas on-line que produziram 374 enunciados. Destes enunciados, parte refere-se aos temas sugeridos na pauta de discussão. Para essa terceira sessão, foi sugerido discutir a atividade individual da semana 2 (um questionário sobre a realidade das faculdades de JOL), uma atividade da semana 3 (disponibilizar links com a temática do curso em ambiente wiki) e a criação de uma rede de contatos. A outra parte dos enunciados refere-se diretamente ao diálogo polifônico estabelecido entre os cursistas, a partir de temas que emergem no meio do furacão dialógico. Exemplificamos a riqueza de sentidos produzidos com 28 enunciados sobre a participação do leitor em um texto no quadro 18, a seguir. QUADRO 18 Chat 3 E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 E08 E09 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16 16:16 Mariana: nosso jornal on-line XXXXXXXX abriu espaço para o leitor e pusemos uma obudsqvina para ser a mediadora dos comentários. Os alunos não gostaram das críticas. eles têm uma visão equivocada do leitor. pensam que eles são apenas confirmadores do que está escrito 16:17 Ricardo: Mariana, a visão de seus alunos é a do jornalista do século XX 16:17 Ricardo: de alguém que é dono da verdade e imune a críticas 16:18 Ricardo: mas leitor do século XXI (felizmente já não quer ficar de boca fechada 16:18 Mariana: mas eles são nascidos lá 16:18 Mariana: no século XX 16:18 Ricardo: mas nós já estamos no XXI 16:18 Mariana: e os currículos das universidades não ajudam muito 16:18 Ricardo: o mundo mudou, e a relação de comunicação também 16:18 Mariana: exatamente 16:18 Mel: Os alunos têm dificuldade de se colocarem no lugar do leitor de modo geral 16:19 Mariana: e aí é que vejo o espaço para o jornalismo 16:19 Ricardo: jornalista hoje é mais um organizador especializado de informação, um criador de relações com os leitores 16:19 Sebastião: Ricardo, não estou bem certo disso 16:19 Michel: Mariana e Ricardo, vcs tocaram no que considero o X da questão e tem a ver com a formação 16:20 Mel: Acho que projetam uma representação de hierárquica 1 119 E17 E18 E19 E20 E21 E22 E23 E24 E25 E26 E27 E28 16:20 Michel: concordo, mel 16:20 Mariana: tem um livro chamado o segredo da pirâmide (em que ele diz que é um erro pensar que a pirâmide está invertida, onde o autor fala da profissão e do fazer jornalístico que é interessante para esta nossa discussão 16:21 Ricardo: em minhas aulas eu passo o tempo explicando que o jornalista não está acima do leitor 16:21 Ricardo: é uma relação ao mesmo nível 16:21 Mariana: adelmo genro filho, é o autor. O livro é da década de 1970. O autor morreu pouco tempo depois. A família deixou o trabalho dele acessível na internet 16:22 Caio: Ricardo, como vc diz, o jornalista hj, é um organizador, um empacotador, sai o gatekeeping e entra o gatewatching 16:22 Mariana: eu, quando trabalhava na folha, no jb e no globo, sempre gostei de dar plantão nos domingos pela manhã. era quando mais ligava assinante com problema (e o serviço fechado, neste dia). aprendia muito 16:22 Caio: mas o a investigação, ela nao a faz mais? Vem dos internautas? 16:22 Bernardo: exato, Caio. a sociedade não depende da gente para saber, mas podemos ajudá-la a encontrar a informação 16:23 Caio: e essa coisa de "empacotar" e não sair da redação, não é estranho? 16:23 Michel: mas olha: acho que tem ver, sobretudo, com a falta de transdiscipliridade com que trabalhamos tb ou seja: com o projeto pedagógico. acho que o "nó górdio" está aí. 16:23 Alessandro : O sábio Philip Meyer fazia essa previsão, de que o jornalista seria um analista e organizador de informação, nos anos 70, né? E os relatos contam sempre com as vozes polifônicas e resultam em (re)construção de sentidos e identidades destes docentes de JOL, ávidos por novas experiências, na expectativa de se tornarem melhores educadores: • Mariana, em E01, traz uma informação externa à comunidade sobre as críticas dos leitores recebidas pelos jornalistas do jornal de sua instituição; • Ricardo, em E02, E03 e E04, caracteriza o jornalista do século XX em contraposição ao leitor do século XXI. Mariana ameniza, em E05: “mas eles são nascidos lá” e, em E06: “no século XX”. E Ricardo, em E07: “mas nós já estamos no XXI”. Mariana tenta buscar respostas que justifiquem o comportamento de seus alunos em relação às críticas, em E08: “e os currículos das universidades não ajudam muito” e, finalmente, concorda, em E10, com o colega, que afirma, em E09, “o mundo mudou, e a relação de comunicação também”. No trecho descrito, a performatividade é exercida por Ricardo, que reafirma seu ponto de vista com argumentos que levam Mariana a reconstruir sentidos e assumir o mesmo posicionamento de Ricardo; • E Ricardo continua, em E13: “jornalista hoje é mais um organizador especializado de informação, um criador de relações com os leitores”. E mais 15 enunciados sobre o assunto são criados, posteriormente. 1 120 O caráter um tanto desordenado das sessões de chat não foi alterado. A ferramenta mostrou-se melhor utilizada quando houve planejamento e diretrizes mínimas para a discussão, como os tópicos criados semanalmente pelo professor Reinaldo, a partir da segunda semana, por sugestão dos alunos. A partir dessa organização, notamos que a produção dialógica entre os cursistas buscava atender aos objetivos predefinidos e, assim, frustrava menos os cursistas. Dessa forma se desenrolaram a maioria dos temas que discutiram. Com objetivos comuns, identidades assemelhadas no que se refere à formação e funções exercidas no mercado de trabalho e diferenças tão claras na riqueza de experiências que uniu esses sujeitos no ambiente virtual, podemos afirmar que temos uma CVA Situacional engajada, posição que se torna mais fácil de defender na medida em que os trabalhos de observação e leitura dos dados avançam. 5.4.2 A interação no fórum e a formação de CVA Situacional engajada A estrutura dos fóruns, por si só, já garante uma interação mais ordenada do que a verificada nas sessões de chat. Primeiramente, cada fórum pode ser sobre um tema sugerido no desenho instrucional do curso, o que direcionará o diálogo. A partir do tema, um cursista mais engajado pode abrir um tópico, ou vários, dentro desse fórum, para discutir uma das nuances do tema proposto. Então, o que notamos é uma discussão mais focada. O que também contribui para este foco mais preciso é o caráter assíncrono da ferramenta, que permite que o outro sujeito pense e até pesquise antes de postar, possibilitando uma reflexão maior na construção do enunciado do que o que verificamos nos chats. O resultado encontrado neste estudo é a (re)construção de sentidos e, como consequência, de aprendizagem e de identidades, característica imprescindível a uma CVA Situacional engajada, como pode ser verificado nos exemplos que seguem. O primeiro exemplo a ser citado se desenrola a partir da segunda semana de curso, quando se discutem técnicas de ensino e aprendizagem, como o uso de ferramentas colaborativas. Somamos o tema da semana ao fato de, na semana anterior, os cursistas terem passado por uma experiência de produção de texto coletivo em wiki. Assim, o assunto certamente apresentava um grau elevado de recorrência nos diálogos produzidos naqueles dias. O referido exemplo é o fórum denominado “Fórum Específico Módulo 2”, que teve como tema, sugerido pelo professor Reinaldo, 1 121 a seguinte questão: “Quais as principais vantagens e desvantagens no uso da Wikipédia em aulas de jornalismo on-line?”. O fórum teve sete tópicos criados pelos alunos que geraram um total de 98 comentários, em diálogo direto com a pergunta do professor. Selecionamos três dos tópicos criados e verificamos a produção de sentidos. O critério utilizado na seleção foi o caráter dialógico evidente e mais facilmente demonstrável nas discussões e entre um tópico e outro, visto que o tema central dos três tópicos selecionados é a Wikipédia. No primeiro tópico, denominado “Wikipédia não é fonte”, origina-se uma problematização que encontra eco na produção textual dos cursistas, nos enunciados do tópico e em outros tópicos. Observamos a produção dos cursistas: • Em E01, Jurandir, em resposta no tópico “Wikipédia não é fonte”, criado por uma colega de curso que não faz parte do corpus de pesquisa, afirma que, na instituição em que trabalhou, é proibido o uso da enciclopédia colaborativa virtual como fonte bibliográfica. Ao final, afirma: “(...) mas, cientificamente falando, ainda sou cético”; • Em E02, Horácio discorda, alegando que a Wikipédia é um conjunto de referências que possui problemas como várias outras fontes. Com o que concorda Adolfo, em E03; • Em E04, Assis parece ponderar sobre as duas posições e afirma que a referida enciclopédia deve ser usada como ponto de partida e que o problema que vê é a mudança nos verbetes, que não deixa histórico para ser referenciado; • Anderson também opta pelo caminho sinalizado por Assis, em E05, e afirma que a enciclopédia não deve ser considerada fonte primária, que os alunos têm poucos critérios para a utilização de boas referências. Sugere ainda uma aula sobre o tema. Notamos aí uma tendência, por parte de Anderson, a ter o assunto como encerrado e partir para o próximo ponto, o que pode reforçar o poder de performatividade do posicionamento adotado por ele e Assis; • Em E06, Jurandir sugere um teste de confiabilidade: criar falsos verbetes para a Wikipédia e verificar o tempo para correção do problema; • Em E08, Sebastião concorda que a Wikipédia não deve ser usada como única fonte, a exemplo de Assis e Anderson, e se mostra otimista quanto ao uso da enciclopédia: “Acho que à medida que usamos descobrimos como reduzir o risco de reproduzir uma informação equivocada”; 1 122 • Em E09, Henrique é enfático e defende que a Wikipédia não tem o rigor científico necessário para ser usado como fonte, a exemplo de Jurandir; • Em E10, Sônia chama a atenção para o fato de que outros textos on-line podem ser perdidos a partir de uma mudança de endereço, por exemplo. Questiona ainda o que chama de “ditadura do impresso”, que trata da atitude que valoriza o impresso como de maior credibilidade do que o on-line; • Em E11, Aparecida diferencia o uso para pesquisa científica e o uso cotidiano; • Em E12, Jurandir volta a dialogar com a ideia da confiabilidade dada por um processo editorial certificado, como aqueles qualificados com conceito Qualis, e se reafirma como cético em relação à confiabilidade da Wikipédia; • Horácio não se dobra, em E13, e encerra sua participação no espaço dialógico alegando que “(...) quem dará a veracidade do verbete será quem o escreveu”, esquecendo-se do fato de que na Wikipédia, normalmente, os artigos são anônimos; • Em E14, Nina dialoga com todas as ideias debatidas. Questiona a qualidade e a veracidade de fontes oficiais e o quão críveis podem ser as fontes informais. Retoma afirmando que o mais importante é saber analisar a fonte. Busca referências em outras vozes para exemplificar: “Tem cientista que mente. Lembram-se do caso cientista sul-coreano que mentiu sobre células tronco? http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,cientista-sul-coreano-e-condenadopor-fraude-em-clonagem,456621,0.htm”. Para formular sua resposta, a cursista mostra-se em diálogo direto com seu curso de mestrado: “Meu mestrado em Bioética tem muito me mostrado sobre o paradigma da verdade científica em contraposição com outros paradigmas de verdades religiosas, culturais etc. Como trazer a pluralidade de pensamentos, respeitar a diversidade, se continuarmos buscando sempre as mesmas fontes?”. E finaliza: “Páginas morrem. Livros esgotam. O conhecimento é mutante”; • Em E15, Henrique continua defendendo sua posição original, alegando que a Wikipédia não é checável, como outras fontes, e, portanto, não serve como fonte. Com o que concorda Oscar, em E17. 1 123 QUADRO 19 Fórum - Wikipédia não é fonte E01 Re: Wikipédia não é fonte / por Jurandir - quarta, 14 abril 2010, 15:13 Nas instituições que trabalhei e trabalho, todos os manuais de TCC vedam a utilização de citações da Wikipédia. Quando fazia mestrado na XXXX fizemos um experimento com alguns verbetes colocando alguns termos fakes para saber o tempo de verificação e modificação desses verbetes errados. Alguns (como verbetes de estados brasileiros) ficaram dias na rede com informações falsas. Concordo com a perspectiva de colaboração e até de interação informativa das enciclopédias livres mas, cientificamente falando, ainda sou cético. E02 Re: Wikipédia não é fonte / por Horácio - quinta, 15 abril 2010, 16:16 Permitam-me discordar, colegas. Acho sim que a wikipédia pode ser usada como fonte, inclusive científica. O discurso de que ela não é confiável não é tão uniforme assim, inclusive na academia. As mesmas falhas que encontramos nesse wiki são encontradas (às vezes bem piores) em matérias que seguem a risca as "técnicas jornalísticas tradicionais". Eu acho que estamos num momento onde as redes colaborativas trazem muitas dúvidas, muitas questões. A feitura de notícias, reportagens etc. têm hoje a disposição de uma infinidade de fontes, o que acontece, como no bom e velho jornalismo, é que a fonte precisa ser confiável, e como vcs bem sabem, a wikipédia não é só uma fonte, são várias em um sistema integrado. Vamos ao debate, entonces. Horácio E03 Re: Wikipédia não é fonte / por Adolfo - segunda, 19 abril 2010, 09:02 Concordo com o Horácio... E04 Re: Wikipédia não é fonte / por Assis - quinta, 15 abril 2010, 16:52 É mais não é. É uma fonte para começo de conversa, para se ter uma primeira visão do assunto e para encontrar fontes mais seguras sobre o assunto. Um problema que vejo quanto ao uso da wikipédia em trabalhos acadêmicos é que, você cita hoje um trecho (caso se admita como viável), mas este trecho pode ser modificado e a referência na verdade já é outra. Alguém que vá se valer daquela citação (apud) pode estar divulgando uma informação que nem existe mais. Tudo bem, isso também pode acontecer com a versão impressa de um livro, com uma edição revisada e ampliada, mas a edição de referência ainda existe, foi substituída apenas na nova edição, mas está referenciada, diferente da wiki que já foi deletada e não pode mais ser resgatada. E05 Re: Wikipédia não é fonte / por Anderson - quinta, 15 abril 2010, 18:09 Caros amigos, concordo que o wiki não é uma fonte válida e nem deve ser utilizado como fonte primária. Mas temos de levar em consideração que este formato de enciclopédia e as buscas na rede são as ferramentas mais utilizadas pelos alunos no cotidiano deles. O mais assustador é a falta de critério e reflexão sobre os conteúdos que estão sendo trazidos aos trabalhos. Uma forma que acredito ser interessante de trabalho é uma aula geral sobre como fazer pesquisas utilizando estas ferramentas digitais. Normalmente acabam revelando aos alunos os buracos desses recursos. E06 Re: Wikipédia não é fonte / por Jurandir - quinta, 15 abril 2010, 21:42 Justamente! Não sou radical quanto ao execramento da Wikipédia como fonte primária, mas, mais que um livro (teoricamente consolidado e revisado) é mais confiável para um trabalho científico, isso é! Repito que sou entusiasta da colaboração, inclusive do Jornalismo Colaborativo, principalmente após o livro Jornalismo Cidadão: informa ou deforma?, que é a tese de pósdoutorado da professora Graça Targino (da Universidade Estadual do Piauí). Mas não podemos apenas achar a ferramenta como salvadora científica e ter todas as respostas às nossas demandas, principalmente acadêmicas. Que tal fazermos alguns experimentos com a Wikipédia? Testarmos os tempos dos termos fakes? Podemos fazer algo sobre Jornalismo (que, teoricamente, é uma seara de pessoas mais informadas). Topam? Abraços! E07 Re: Wikipédia não é fonte / por Horácio - sexta, 16 abril 2010, 01:16 Colegas, não sei se fui mal interpretado (ou não me expressei corretamente),mas em momento algum disse que a wikipédia deve ser usada como fonte primária ou a única fonte possível. O 1 124 E08 E09 E10 E11 E12 E13 que eu disse é que ela é sim uma valiosa forma de colaboração e "pesquisa didática", que pode ser inicial ou substancial, dependendo do que vc procura, claro. Há esse empecilho técnico mesmo, ou seja, uma referência pode ser mudada e vc não tem mais aquele material registrado que fora utilizado. O que não aconteceria num livro, por exemplo. Re: Wikipédia não é fonte / por Sebastião - sexta, 16 abril 2010, 15:58 Concordo com o entendimento de que a wikipédia não pode ser usada como única fonte, mas parece que há um consenso que esse aspecto não desmerece sua importância como base de conhecimento coletivo e modelo de produção colaborativa. Só me preocupo em não alimentar um estigma que tenta colar na Wikipédia, relacionada à suposta falta de credibilidade do modelo. Acho que à medida que usamos descobrimos como reduzir o risco de reproduzir uma informação equivocada. Re: Wikipédia não é fonte / por Henrique - sexta, 16 abril 2010, 22:03 Caros colegas, Também tenho uma posição ainda “conservadora” sobre o uso do Wikipédia. Ao meu ver, no uso jornalístico, vale a máxima da checagem, o que automaticamente vai levar a uma outra fonte. É verdade que todas as fontes (pessoas, documentos, levantamentos, etc.) não estão isentas de atender a algum interesse em jogo. Mas, porque a informação vinda de determinadas instituições ou pessoas tem mais credibilidade do que outras então? Confiabilidade e credibilidade não se constroem da noite pro dia. Alguém aí publica dados de fontes desconhecidas? Ah, tava lá no site Wikipédia. Ótimo, mas de onde esse dado foi tirado? Quais os critérios adotados para obtê-lo? Tá na rede, tá valendo? Quanto ao uso em pesquisas científicas, como usar uma fonte que não passa por um crivo científico, como uma comissão editorial especializada no assunto? Aceitar o conteúdo do Wikipédia como tendo validação científica é, em minha concepção, invalidar o rigor científico exigido pelos periódicos e demais publicações do gênero. Convenhamos que um artigo científico escrito por vários autores, publicado inclusive no ambiente virtual, é diferente de um texto escrito por uma gama de autores desconhecidos. A produção colaborativa, tal como no Wikipédia hoje, em minha concepção, é válida como um exercício exploratório acerca de um verbete não como um dado pronto para divulgação. Re: Wikipédia não é fonte / por Sônia - sábado, 17 abril 2010, 13:28 (...) sobre o fato levantado de que um termo citado da Wikipédia, tempos depois, pode não estar mais lá, é um risco que corremos sempre que pegamos algo no ciberespaço. O link que hoje funciona, amanhã pode estar quebrado e não termos mais acesso àquele conteúdo. Na faculdade, canso de ouvir meus alunos dizendo que outros professores vetam o uso de qualquer fonte que esteja na Internet. Aí eu pergunto: e as teses, dissertações que estão nos BD, não valem? Sei que estamos discutindo especificamente a wikipédia e que os colegas aqui não acham isso, mas lembrei desse fato e acho que é importante também discutirmos essa "ditadura do impresso". Principalmente se formos ver a situação de muitas bibliotecas. Quando oriento, o aluno sempre pergunta: mas será que a banca não vai questionar o fato de termos tantos artigos on-line e tal? Eu sempre digo para ele responder que o tema JOL é novo e se não utilizarmos fontes on-line, ficamos com nossa pesquisa comprometida. Re: Wikipédia não é fonte / por Aparecida - domingo, 18 abril 2010, 16:07 Acho que esta questão da Sônia é que pega quando se fala na Wikipédia como fonte. No entanto, qualquer um de nós a usa cotidianamente para questões de pesquisa. Para nos dar norte em relação a alguma questão. É assim que venho tratando a enciclopédia com os alunos Re: Wikipédia não é fonte / por Jurandir - sábado, 17 abril 2010, 18:31 A questão não é o meio é a forma e a credibilidade. Se acredita mais em uma Revista Qualis A (mesmo on-line) ou em uma que nunca se ouviu falar? Não que o que esteja na Qualis A seja melhor, mas, quer queira quer não, já há um processo de sedimentação. Talvez o mesmo que daqui a alguns anos nos faça (ou ao menos me faça) ser menos cético sobre a cientificidade da Wikipédia. Re: Wikipédia não é fonte / por Horácio - sábado, 17 abril 2010, 00:50 Bom, pra encerrar minha participação neste debate sobre a Wikipédia gostaria de registrar meu total apoio as (novas) mídias colaborativas. Não sou nenhum pouco "conservador" e como um colega colocou antes, não quero ser também um dos que fortalecem este estigma de que a Wikipédia não é fonte confiável. Como disse antes, o que dará a veracidade do verbete será quem o escreveu. 1 125 É isso. E14 Re: Wikipédia não é fonte / por Nina - sábado, 17 abril 2010, 13:41 Eu acho essa discussão muito interessante e fiquei a pensar na velha prática brasileira: faça o que eu digo não faça o que eu faço. (...) Se o jornalismo hoje estivesse, em geral, seguindo os critérios teóricos de investigação, apuração, verdade etc. teríamos uma sociedade muito mais preparada e informada. Porém, o que vejo é um jornalismo (generalizando obviamente) superficial, apressado e pouco "confiável". Dizer que uma fonte oficial é melhor que uma informal, também me incomoda. Nem sempre o que é oficial é verdade. Nem sempre o que é informal é pouco crível. Nesse sentido, temos que lembrar do jornalismo ambiental cujas temática é tão ampla e as correntes são tão variadas que temos notícias para todos os gostos. Não sei se estou me fazendo entender. Mas para mim mais importante que "desqualificar" uma fonte é saber analisá-la e ter senso crítico. Seja ela um cientista, um pescador, um livro, a wikipédia. Não importa. Tem cientista que mente. Lembram-se do caso cientista sul-coreano que mentiu sobre células tronco? http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,cientista-sul-coreano-e-condenadopor-fraude-em-clonagem,456621,0.htm Como um colega disse aqui no fórum, as fontes sempre defendem seus interesses. E, por isso mesmo precisamos avaliar, checar, cruzar dados de qualquer fonte. Não é fato de ser publicada em papel ou ter uma universidade ou órgão público que, por si só, dará credibilidade às informações. Gosto muito dessa discussão sobre fontes. Estariam elas se reconfigurando nesta época em que vivemos com tanta circulação de informações, possibilidade de interpretações, construção coletiva do saber, paradoxos, contradições científicas etc.? Meu mestrado em Bioética tem muito me mostrado sobre o paradigma da verdade científica em contraposição com outros paradigmas de verdades religiosas, culturais etc. Como trazer a pluralidade de pensamentos, respeitar a diversidade, se continuarmos buscando sempre as mesmas fontes? Quanto a fato da wikipédia não poder ser citada por que o verbete se modifica, penso que qualquer documento on-line corre esse mesmo risco. As informações de um site do governo, por exemplo, não são as mesmas desde o início. O conteúdo vai se transformando. Qualquer citação on-line e, por isso, a obrigatoriedade de se colocar a data da consulta nas referências. Páginas morrem. Livros esgotam. O conhecimento é mutante. é um bom debate! E15 Re: Wikipédia não é fonte / por Henrique - domingo, 18 abril 2010, 00:00 Fonte é sempre fonte. Portanto, checagem e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Pra esquentar mais um pouco o debate. Certa vez tive problema com a precisão de uma informação de uma fonte oficial, um diretor clínico de um importante hospital oncológico no sul da Bahia. O caso foi destaque no Estado. Pois bem, logo que veio o questionamento sobre um número divulgado, entrei em contato com o diretor clínico, deixando claro que havia sido quebrada uma relação de 'confiança'. Ao final da conversa, ficou tudo esclarecido. Não havia erro de informação, mas a omissão de um outro dado paralelo importante para a compreensão exata do ocorrido, o que explicitamos na reportagem seguinte sobre o assunto. Perguntas: e se a fonte fosse o Wikipédia, a quem recorreria para fazer o esclarecimento ou, pelo menos, a quem "cobraria" pela divulgação do dado impreciso? Qual explicação daria para minha direção de jornalismo? Que encontrei o dado no Wikipédia? Seria uma justificativa plausível? E16 Re: Wikipédia não é fonte / por Oscar - domingo, 2 maio 2010, 21:08 Também acho. Proíbo meus alunos de usarem Wikipédia como fonte. Ela deve ser visitada como qualquer outro site, mas se usar informações dali faça algumas contraprovas! Paralelamente, outras discussões são feitas sobre os problemas e as potencialidades da Wikipédia, em outros tópicos abertos no fórum da semana. A ideia de que a Wikipédia deve ser usada como ponto de partida, e outros pontos de vista que dialogam com os enunciados dos cursistas, é discutida no tópico que 1 126 recebe o título de “A Wikipédia como ponto de partida”. Nesse tópico, questões como checagem e avaliação da informação, o mau uso da ferramenta pelos alunos e a utilização da ferramenta como ponto de partida retornam à discussão. Vejamos alguns exemplos de enunciados que confirmam a polifonia, evidenciada pelo dialogismo notado nos diálogos produzidos na comunidade: • Como pode ser visto, em E01, Henrique defende seu posicionamento no diálogo mostrado anteriormente, no quadro 19; • Em E02, Adolfo também mantém as convicções que defendeu no quadro 19: da convivência harmoniosa entre Wikipédia e outras fontes; • Em E03, José também opta pela utilização “consciente” e relata uma experiência pessoal, com a qual contribui Henrique, em E04, agregando sugestões à experiência, a fim de que se adéque como atividade para os alunos. QUADRO 20 Fórum - A Wikipédia como ponto de partida E01 E02 E03 E04 Re: A Wikipédia como ponto de partida / por Henrique - sexta, 16 abril 2010, 22:33 Concordo, Antônio. Desconsiderar não. Mas, já que a plataforma é colaborativa, prefiro pensar em alunos que efetivamente vão colaborar do que alunos que apenas vão nutrir-se do conteúdo irrefletidamente, como geralmente ocorre. E aí não dá pro "caboclo" ir pro Wikipédia em busca da salvação para sua alma. Insisto: o ponto de partida deve ser a fonte confiável e precisa, desta surge o debate e as eventuais colaborações, seja em que plataforma for. Re: A Wikipédia como ponto de partida / por Adolfo - quarta, 14 abril 2010, 23:13 Acho que a Wikipédia é uma boa fonte de consulta, uma ótima porta de entrada para se pesquisar um tema ou objeto. Claro, ela não pode ser a única referência, nem a pesquisa deve se esgotar no on-line, seja onde for. Mas, não vejo problema em citar a Wikipédia, desde que não seja a única fonte. Tem pouco tempo, talvez um ou dois anos, um estudo americano (acho) fez uma comparação entre verbetes da Enciclopédia Britânica e a Wikipédia, e elas tinham mais ou menos a mesma precisão nos conceitos apresentados. Acho que a colaboração e a revisão do que se escreve é uma ótima barreira para se evitar grandes erros de informação. Claro, um verbete obscuro, que ninguém visita ou checa, pode estar sujeito a imprecisões ou pura manipulação mesmo... mas a tendência é que os principais verbetes sejam bem construídos.... abs, Adolfo Re: A Wikipédia como ponto de partida / por José - quinta, 15 abril 2010, 09:58 Já foi dito. Tudo é uma questão de saber usar e, no caso de alunos, checar os trabalhos (o que dá um trabalho extra para nós). Veja como uso em alguns casos. Convidei um professor para uma palestra aos meus alunos no mestrado. Liguei meu netbook e fui checando tudo que ele falava, acrescentando informações sobre autores citados etc. Usei o wiki. E foi muito. Com uso criterioso, se todos os alunos tivessem seus nets ou smartphones em sala as aulas seriam mais dinâmicas e interessantes, Re: A Wikipédia como ponto de partida / por Henrique - sexta, 16 abril 2010, 22:40 E no Wikipédia podemos escolher a fonte? Quando se trata do trabalho em sala de aula, não seria mais adequado usar plataformas colaborativas para ampliar e revisar conceitos de uma pesquisa já realizada a partir de fontes reconhecidamente confiáveis? Daí, pode-se abrir um novo verbete ou revisar um existente. 1 127 Acerca da questão de experiências com o uso da Wikipédia, outros tópicos também se tornaram espaços de debates e troca de experiências. Trazemos alguns poucos enunciados criados no tópico “Participação na Wikipédia” para ilustrar a diversidade de sentidos construída na comunidade. Quem inicia a discussão é Nina, que busca relatos de experiência, tal como ilustra E01. E seguem: • Em E02, Cecília se mostra temerosa quanto à credibilidade das informações da enciclopédia ; • Em E03, Heloísa afirma já ter colaborado e traz para o campo dialógico uma gama de informações que para ela fazem sentido para dialogar com os colegas. Heloísa faz uma breve explanação sobre o funcionamento da enciclopédia e da comunidade que a mantém atualizada, do trabalho colaborativo, dos wikipedistas, da pesquisa de Carlos D’Andrea e outros. • Em E04, Sebastião afirma ter aprendido muito e diz que pesquisará sobre os recursos e se interessa pela pesquisa citada. Em E05, Clarice, que já buscou o texto na rede, indica o endereço de acesso ao texto indicado por Heloísa; • Em E06, Henrique afirma já ter colaborado também e se declara interessado pelo tema a partir do relato de Heloísa. QUADRO 21 Fórum - Participação na Wikipédia E01 E02 E03 Participação na Wikipédia / por Nina - segunda, 12 abril 2010, 10:19 Alguém aqui é colaborador da Wikipédia e poderia brevemente contar sua experiência sobre o processo de inclusão e revisão? Re: Participação na Wikipédia / por Cecília - segunda, 12 abril 2010, 14:53 Nina, Já pensei em contribuir, mas nunca materializei o desejo. Confesso que no fundo tenho restrições por conta dos problemas de credibilidade das informações... Re: Participação na Wikipédia / por Heloísa - quarta, 14 abril 2010, 12:35 Contribuí uma vez com um verbete que me interessava muito. No entanto, a dinâmica da wikipédia (para que você vire o que aquela comunidade de prática chama de wikipedista - não é um participante eventual, portanto) obriga você a se tornar frequentador, se quiser "tomar conta" do seu verbete. Outro dia um jornal em São Paulo trouxe uma matéria sobre o wikipedista que toma conta do verbete São Paulo. É um carinha de 19 anos. Muito legal. Acho a ideia da escrita colaborativa muito legal, em termos de desenvolvimento de conhecimentos e atitudes, mas acho que é uma entre outras que as pessoas precisam desenvolver. A wikipédia é muito mais cheia de regras do que a gente imagina. Tenho um amigo que pesquisa isso e tem sido muito legal ler o trabalho dele. É o Carlos D'Andréa, da Federal de Viçosa. Eu ando trabalhando com a ideia de conhecimento distribuído e computação em nuvem, daí a escrita colaborativa aparece e preciso "testar" os alunos. O processo de redação/edição na wikipédia é complexo, monitorado, etc. Tem um artigo do Carlos sobre o verbete com o acidente TAM, aquele do avião que se chocou contra um galpão. Está na Intercom, se não me engano. É bem 1 128 E04 E05 E06 ilustrativo. Outro debate interessante é a briga, inclusive entre os wikipedistas, sobre se a ideia é produzir verbetes ou notícias... Que assuntos merecem virar verbetes? Sem falar que existem as wikinotícias (wikinews), que é outra praia, jornalística mesmo, e ainda um espaço da wikipédia dedicado a professores que querem experimentá-la com seus alunos. É bacana. Re: Participação na Wikipédia / por Sebastião - quinta, 15 abril 2010, 10:19 Aprendi muito Heloísa. Vou pesquisar mais sobre os recursos. Fiquei interessado também no artigo do Carlos D'Andrea, sobre o verbete com acidente da TAM. Re: Participação na Wikipédia / por Clarice - quinta, 15 abril 2010, 19:21 Sebastião, O texto do Carlos D´Andrea pode ser acessado no seguinte endereço: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-0268-1.pdf Re: Participação na Wikipédia / por Henrique - sexta, 16 abril 2010, 22:49 Também colaborei isoladamente umas duas vezes em temas que me interessavam. Em ambas, fui mais instigado pela necessidade de correção de informações, mas acabei acrescentando também. Porém, é complicado acompanhar, pois não sou um wikipedista, tal como comentou sobre a Heloísa. Aliás, fiquei bem mais interessado pelo tema a partir do seu relato, Heloísa. E vários outros enunciados foram criados a partir do tema Wikipédia, tanto no espaço dialógico coletivo quanto, certamente, fora dele, uma vez que as questões levantadas são tantas, assim como a motivação e engajamento demonstrados na participação dos cursistas ao relatarem suas experiências, buscarem novas experiências, questionarem, dialogarem, a fim de construir sentido e conhecimento para melhor conduzirem suas próprias aulas. Assim, novos sentidos vão sendo construídos, a partir do diálogo polifônico de um grupo que se aproxima por questões identitárias, tais como o desejo de se tornarem melhores educadores em JOL. Assim, emerge uma Comunidade Virtual de Aprendizagem engajada. A tendência ao diálogo vai se confirmando, bem como nossa hipótese de trabalho. Na terceira semana de curso, o tema em estudo era “Ferramentas do Jornalismo On-line”. Encontramos um bom exemplo de produção de sentido no fórum denominado “Fórum Específico Módulo 3”, que teve como tema a seguinte questão:“O Twitter pode ser uma ferramenta de ensino nas disciplinas de jornalismo on-line?” O cursista Alessandro, professor de jornalismo em instituição privada de Belo Horizonte, propõe o tópico “Teoria x Técnica x Tecnicismo”, como se observa no quadro 22, em E01. O cursista questionou os colegas sobre a importância da técnica em JOL em um enunciado que defende que o professor conheça a execução de determinadas ferramentas. E segue a produção dialógica: 1 129 • Alessandro, que abre o tópico, afirma, entre outras coisas, que boa parte dos professores de JOL não domina questões técnicas e a partir daí questiona: 1) “Será que, além de dar subsídios aos alunos para que reflitam sobre conteúdos e maneiras de se contar histórias, também não temos que atender às expectativas deles na produção de conteúdo multimídia – por exemplo, ensinando-os a editar áudios e vídeos, a montar sites, a fazer infografias animadas ou não, etc?”; 2) “Será, ainda, que reciclagens como a proposta por cursos como o do Knight Center não deveriam incluir também o treinamento de professores nessas novas tecnologias?"; • Nina, em E02, mostra-se favorável ao pensamento de Alessandro; • Darcy, em E03, também concorda e dialoga com a forma de ensinar dos construtivistas, na medida em que defende um ensino provocador que dê subsídio à construção de respostas; • Ricardo, em E04, informa de início que não quer ser extremista e faz discurso em favor do professor, que é grande conhecedor de conteúdo e prática, o que significa responder positivamente às indagações de Alessandro, em E01; • Em E05, encontramos uma evidência clara de sentido construído no espaço dialógico que emergiu no curso com a citação de Henrique: “(...) Evidentemente, é inconcebível pensar em ser professor sem estudar, se atualizar, constantemente. Porém, não entendo que o professor tem que saber sempre mais que o aluno. Esta idéia remete a um modelo de ensino que já não condiz com a realidade atual. Reinaldo falou sobre isso nos módulos anteriores”. Com essa fala, justificou sua opinião contrária, na tentativa de quebrar a hegemonia identitária que defendia naquele espaço, até então, que o professor tem que ser um grande conhecedor de teoria e prática; • Em E06, Thaís concorda com a importância de se conhecer teoria e prática e reconta uma experiência de sua prática, perguntando aos colegas se eles contam com auxiliares; • Em E07, Alessandro dialoga com a questão de o aluno ensinar o professor, colocada por Henrique, em E05: “Não enfrentei, até hoje, situação em que um aluno me ensinasse algo... infelizmente”. E ainda responde a Thaís a respeito de possuir ou não um monitor: “Não tenho monitor oficial, mas elejo um ou outro raro aluno como uma espécie de multiplicador, por perceber nele ou nela mais conhecimentos e interesse que os demais”; 1 130 • Nina, em E08, comenta que reprova alunos. Em E09, responde a Thaís, dizendo tomar a mesma atitude em alguns casos. Em E12, é Ricardo que concorda com a atitude e diz fazer o mesmo. E cada um faz a sua ligação, constrói a sua teia discursiva, de acordo com o conhecimento de mundo adquirido por meio do convívio social. São identidades semelhantes no que se refere à função que exercem em suas instituições, professores de JOL, com diferenças construídas localmente. Retomaram o assunto do monitor, do papel de “ensinar” e “avaliar” o conhecimento, conferido tradicionalmente ao professor, da teoria versus prática, do aprender com o aluno, do papel de provocador que o professor deve assumir. Estes últimos assuntos denotam o reconhecimento, por parte desses profissionais, do papel de mediador que as novas teorias de aprendizagem apontam como característica essencial do professor. Contudo, o que se observa, na maioria dos enunciados produzidos, é a visão de que o papel central do professor está mais voltado para repasse de conhecimento do que para a mediação da aprendizagem. QUADRO 22 Fórum - Teoria x Técnica x Tecnicismo E01 E02 E03 Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Alessandro - segunda, 19 abril 2010, 13:41 (...) será que essa discussão teoria x técnica x tecnicismo não é potencializada pelo fato de boa parte dos professores de JOL não dominarem a técnica e ficarem com aquele discurso de "não sou peão, sou arquiteto"? (...) Será que, além de dar subsídios aos alunos para que reflitam sobre conteúdos e maneiras de se contar histórias, também não temos que atender às expectativas deles na produção de conteúdo multimídia – por exemplo, ensinando-os a editar áudios e vídeos, a montar sites, a fazer infografias animadas ou não, etc? Será, ainda, que reciclagens como a proposta por cursos como o do Knight Center não deveriam incluir também o treinamento de professores nessas novas tecnologias?" Abraços Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Nina - segunda, 19 abril 2010, 14:33 Eu realmente acho que o fato do professor não dominar as tecnologias empobrece a aula em vários sentidos. primeiro, por que ele deixara certas discussões enfraquecidas por desconhecer os potenciais tecnológicos de determinada ferramenta. segundo, por que a própria teoria se altera diante de novas possibilidades e paradigma são superados, então o docente precisa acompanhar a "evolução" do pensamento da época em que vive e isso, hoje, passa pelo conhecimento das tecnologias. terceiro, independentemente da área de atuação precisamos saber mesclar teoria e prática, para não pender somente para um ou outro aspecto da profissão. Tanto o excesso de teoria quanto o excesso de técnica, penso, prejudicam.(...) Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Darcy - segunda, 19 abril 2010, 15:20 Eu concordo com a Nina e acrescento mais uma provocação. Acredito que é imprescindível conhecermos as tecnologias e fazer uso delas - ainda que, claro, seja muito difícil conhecer todas. Eu mesmo não conheço. Mas, mais do que só ensinar a técnica, me parece que o papel do professor é instigar as perguntas e não somente dar respostas. Saber ensinar o que se 1 131 E04 E05 E06 E07 E08 E09 sabe é tão importante quanto saber. Provocar o espírito crítico, do porque, o tempo todo, o porque das coisas, não é tarefa fácil, mas é profissão de fé (sendo aí um pouquinho romântico), e é a tarefa para a qual nos dispomos, a despeito de todas as outras lutas paralelas de carga horária, salário, infraestrutura e que tais. Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Ricardo - segunda, 19 abril 2010, 16:14 sem querer entrar em extremismos, o papel do professor sempre foi saber mais do que o aluno para ter algo a transmitir. quando se fala de um meio como esse que estamos usando, não dominar a sua linguagem em termos práticos, não conhecer as suas possibilidades, dificuldades e impossibilidades, empobrece em muito o ato de ensinar. E mais, faz com que o professor perca o respeito do aluno, que assim vai passar ignorando tudo o resto, mesmo que seja fundamental. Não digo que seja preciso ser mestre em tudo, mas tem de saber fazer e falar com experiência feita. Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Henrique - domingo, 25 abril 2010, 07:33 (...) Evidentemente, é inconcebível pensar em ser professor sem estudar, se atualizar, constantemente. Porém, não entendo que o professor tem que saber sempre mais que o aluno. Esta idéia remete a um modelo de ensino que já não condiz com a realidade atual. Reinaldo falou sobre isso nos módulos anteriores. O desafio do professor hoje é explorar e administrar as competências e habilidades dos alunos, muitas vezes aprendendo com eles. Isso pode acontecer muito bem em relação ao uso das novas tecnologias. Em uma sociedade que estabelece relações cada vez mais interativas, o ensino precisa também se adaptar. Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Thaís - segunda, 19 abril 2010, 17:51 Também acho fundamental a reciclagem constante e o domínio mínimo da técnica. O grande desafio, neste caso, é mesclar teoria e reflexão com o ensino das ferramentas. Como os colegas lidam com isso? Hoje mesmo dei uma aula complicada, com muitas partes técnicas, mescladas ao conteúdo... o desnível entre os alunos é grande e o desgaste para atender 25, individualmente, é enorme. Saí da aula esgotada, ainda que satisfeita pelo resultado final. Vocês trabalham com monitor? Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Alessandro - segunda, 19 abril 2010, 18:12 (...) Não enfrentei, até hoje, situação em que um aluno me ensinasse algo... infelizmente. Não tenho monitor oficial, mas elejo um ou outro raro aluno como uma espécie de multiplicador, por perceber nele ou nela mais conhecimentos e interesse que os demais. De qualquer forma, é tudo muito desgastante! Como disse a Thaís, atender bem e resolver problemas de 25 alunos, no meu caso completamente neófitos em informática e internet, em aulas de JOL não é mole, não. Às vezes, penso em entregar os pontos... Já nas aulas posteriores ao ensino desta ou daquela ferramenta, a teoria e pratica específica sobre os conteúdos, a organização da informação no meio, etc flui bem. Abs, Alessandro Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Nina - segunda, 19 abril 2010, 22:02 Thaís, eu não tenho monitor oficial assim como o Alessandro, mas eu tbm elejo uns raros iluminados para me ajudarem. (...) gosto muito do trabalho em duplas e no inicio de aulas mais técnicas sempre peço que levantem a mão para as perguntas: quem domina muito bem? quem domina razoável? quem não domina nada? dai misturo os alunos para haver uma troca maior do que as velhas panelas de amizade. Tem dado certo. (...) Devo ressaltar que eu reprovo alunos que não atingem um mínimo que eu, claro, estabeleço (sou bem exigente) para que possam no outro semestre se dedicar mais. Digo isso, pq não sei se é a prática de vocês, pois sabemos que algumas faculdades particulares não deixam reprovar (já tive até nota alterada em diário no semestre seguinte a algumas reprovações de alunos). Acho que aqui vale um antigo dilema meu: a inserção social x qualidade de ensino x qualidade do profissional x diploma a qualquer preço. Muitas vezes, olho para um aluno e tenho quase a certeza de que ele nunca será jornalista, mas o que fazer? (...) O que os colegas e o professor Reinaldo acha disso? Estarei sendo muito rigorosa? Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Thaís - segunda, 19 abril 2010, 22:38 Oi Nina, Então seremos duas. Também reprovo nas minhas disciplinas e, pelas graças dos céus, ainda que trabalhando em uma privada, nunca houve restrição ou impedimento. 1 132 E10 E11 E12 E13 E14 E15 Ai colega ... nem me fale da angústia em olhar aquele bando de jornalistas na colação de grau, sabendo que a grande maioria nunca passará perto da profissão escolhida. Quanto aos critérios de avaliação, confesso ser mais rigorosa frente ao desinteresse do que pelo desconhecimento técnico. Muitas vezes o aluno não leva mesmo jeito para o on-line, mas corre atrás, está sempre presente, dá o melhor de si. Tem coisa melhor que aluno interessado? Fico o tempo que for preciso, encontro nos finais de semana, levo para o laboratório ... Mas não tenho muita paciência com quem não quer nada com a dureza ... Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Nina - terça, 20 abril 2010, 00:12 Ah...eu também tenho agonia de aluno preguiçoso e desinteressado. É, no fim das contas, acho que acabamos dando mais "pontos"' pelo esforço do que para as habilidades em si (quando não são inexistentes, obviamente)... Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Adolfo - quarta, 21 abril 2010, 10:27 Sinto a mesma coisa, Nina. Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Reinaldo - quarta, 21 abril 2010, 13:55 Oi Nina, O teu dilema é também o meu e de quase todos os demais colegas. Evidentemente não dá para ser "bonzinho" e deixar todo mundo passar. Temos que valorizar o esforço e isto é para mim o valor supremo. Acho que nós professores não podemos ter a pretensão de saber tudo num campo tão vasto quanto é o do jornalismo na Web. Não se trata só da técnica mas principalmente de motivar os alunos para a interação com o público. O jornalismo on-line não é um jornalismo para o público, mas com o público. Ainda não temos fórmulas para atingir este objetivo (duvido que algum dia as teremos) portanto o fator preponderante é a vontade (sinônimo de esforço) para chegar lá. Concordo que a maioria das faculdades ainda são fábricas de diplomas, fato que muitos alunos também aceitam sem contestar. Não é difícil distinguir os alunos interessados dos que estão desmotivados. Quando a turma é grande e o tempo escasso, prefiro trabalhar, preferencialmente, com os motivados. Os limites entre ser duro e ser tolerante são muito flexíveis. Cada caso é um caso. O grande divisor de águas é o respeito que o aluno nutre pelo professor, respeito este baseado no reconhecimento da capacidade de orientar e não na autoridade. Eu sou duro apenas no que se refere às presenças porque acho injusto ser tolerante quando há alunos que enfrentam dificuldades para assistir às aulas. Quanto às notas, geralmente, o aluno preguiçoso não consegue chegar à média mínima de aprovação. Um abraço. Reinaldo Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Nina - quarta, 21 abril 2010, 14:09 Obrigada professor, é bom saber que meu pensamento está alinhado com o seu. Ha muito tenho adotado o critério mais rígido quanto à frequência e preguiça. Inclusive tenho a máxima que repito: é melhor apresentar um texto mais ou menos com as próprias palavras (do aluno) do que um texto bem escrito e forjado (zero, nesse caso). Ética e esforço, dedicação acima de tudo! abraços. Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Jorge - sexta, 23 abril 2010, 19:04 Concordo, Thaís. Já tinha comentado em outros fóruns que, embora pareça até um clichê, a reflexão em torno da técnica deve ser priorizada - ou o aluno vira um repetidor. Isso soluciona, em parte, algumas das ansiedades criadas em sala de aula. Re: Teoria x Técnica x Tecnicismo / por Sônia - domingo, 25 abril 2010, 17:19 Thaís, acho que ter um monitor na disciplina de Jornalismo On-line é fundamental. Tentamos várias vezes instituir formalmente a monitoria na faculdade, mas devido a problemas financeiros não conseguimos. No entanto, num semestre estava orientando um aluno (hoje mestrando em Comunicação na UERJ) e como ele já havia passado pela matéria, me deu uma grande ajuda. Foi ótimo. Consegui atender melhor os alunos, pois, como você coloca, o desnível é muito grande. Esse foi o semestre que consegui realizar mais coisas. Nos demais, o que tenho feito é criar/disponibilizar alguns tutoriais simples (gostaria de usar o wink, mas ainda não consegui tempo) para as ferramentas de modo a ajudar os alunos. 1 133 5.5 Situacional ou Estendida: uma fronteira incerta Consideramos, nesta pesquisa, a existência de pelo menos dois tipos específicos de CVA. Como já colocado, o primeiro diz respeito àquele tipo em que as relações se estabelecem a fim de atender objetivos definidos e tais relações findam-se quando se atinge a meta. É o que chamamos de Comunidade Virtual de Aprendizagem Situacional. O segundo tipo diz respeito àquelas comunidades que contam com laços que se estreitam e se renovam, de acordo com os objetivos dos sujeitos. É o que chamamos Comunidade Virtual de Aprendizagem Estendida. Ao longo de toda a pesquisa, o foco foi direcionado a encontrar laços e vínculos estabelecidos por meio de diálogos que atendessem aos pressupostos de uma CVA. Já esperávamos que, caso encontrássemos evidência de uma CVA Situacional notadamente engajada, haveria possibilidade de encontrarmos também laços mais estreitos e com possibilidade de renovação. E não tardou que algum indício de emergência de CVA Estendida aparecesse. Na primeira semana de aulas, em 11 de abril de 2010, no canal de chats denominado “Chat para conversas informais entre alunos”, foi aberta uma sessão, a única do canal em todo o curso, por Thaís e Alessandro. Thaís produziu 17 enunciados e Alessandro, 11. Todos eles reproduzidos no quadro 23. QUADRO 23 Chat informal E01 E02 E03 E04 E05 E06 E07 E08 E09 E10 E11 E12 E13 E14 E15 E16 15:23 Thaís: oI 15:23 Alessandro : Opa. E então? 15:23 Thaís: Acho que concluímos né e ficou bem legal 15:23 Thaís: em relação à conclusão 15:24 Alessandro : É, mas senti que nem todos compareceram. Podia ter sido mais rico. 15:24 Thaís: vou acrescentar uma comparação dos nossos resultados com a da pesquisa da Rede Icod 15:24 Thaís: reforçando a sua colocação da discrepância em relação ao suporte das escolas 15:24 Alessandro : Não cheguei a ver a conclusão pronta. Deixa eu olhar. 15:24 Thaís: Uma das conclusões a que se chega, a partir, sobretudo, dos relatos apresentados acima sobre o uso de blogs no ensino do Jornalismo On-line – feitos por professores de várias regiões brasileiras –, é a de que tal prática, talvez assim como o próprio ensino do jornalismo, não goza de unicidade e padronização no país. 15:25 Thaís: peraí 15:25 Thaís: vou publicar lá agora 15:25 Alessandro : Ah, tá 15:27 Thaís: ok ... atualizei ... dê uma olhada por favor ... o último parágrafo ficou meio deslocado ... mas acho que passa. 15:27 Alessandro: Xovê. 15:27 Thaís: k 15:30 Alessandro : Achei realmente que o último parágrafo ficou deslocado. Mas tá bacana. E tem outra coisa que não expus no meu relato: eu uso blogs porque não temos na escola um domínio no qual possamos mexer. No 8º período, uso o meu domínio, XXXX, fazendo subs 1 134 para os alunos. E17 15:31 Alessandro: É uma vergonha, né? E18 15:31 Thaís: é ... também não tenho na faculdade que trabalho ... aliás, tínhamos mas a burocracia era tanta para pagar todo mês que desisti e passei a utilizar o meu domínio E19 15:32 Thaís: mas não posso reclamar E20 15:32 Thaís: principalmente com este novo grupo que comprou. Têm dado todo o apoio que preciso lá ... E21 15:32 Alessandro : *inveja* E22 15:33 Thaís: ainda vou te levar pra lá ... rsrs E23 15:33 Alessandro : Putz, ia ser tudo. Aqui, vou voltar pro meu frila. Acho que vc fez... digo, nós fizemos um grande trabalho. E24 15:34 Alessandro : Só uma dúvida... vc vai colocar isso em word e mandar pra Angelina? E25 15:34 Thaís: é fizemos sim ... só mais uma coisa... vc sabe identificar os autores dos relatos 3 e 4? E26 15:34 Thaís: Tá ... vou fazer isso ... acho meio estranho, já que está on-line dentro da plataforma, mas tudo bem. E27 15:35 Alessandro : Ok, vamos aguardar o novo conteúdo. Beijo procê e muito obrigado E28 15:36 Thaís: ok ... bjos .. té mais O assunto que domina o bate-papo é o texto construído coletivamente, na primeira semana, pelo grupo do qual os dois fazem parte, como se nota de E03 a E16. E continuam: • A partir de E16, quando Alessandro comenta sobre o “domínio”, que a escola em que trabalha não possui, o foco do diálogo se volta para insatisfação de Alessandro com a instituição na qual trabalha; • Em E18, E19 e E20, Thaís relata que não pode reclamar de sua escola, que passa por uma boa fase; • Em E21, Alessandro denota seu desejo de trabalhar na mesma instituição que a colega; • Em E22, Thaís se compromete: “ainda vou te levar pra lá ... rsrs”; • Quando Alessandro responde, em E23: “Putz, ia ser tudo”. O trecho apresenta um momento de maior cumplicidade entre os sujeitos, que extrapola os objetivos de aprendizagem do curso, ou o objetivo específico que a conversa parecia ter até o momento, qual seja, discutir os detalhes finais da atividade em grupo. Assim, podemos afirmar que o compromisso de Thaís com o colega, mesmo que não venha a se efetivar, é sinal de uma renovação de laços e aponta para a emergência de uma CVA Estendida, que ultrapassa o território definido virtualmente para a CVA Situacional. 1 135 Apesar de, em alguns momentos, não ter sido evidenciado engajamento por parte dos cursistas em se estender as relações, encontramos exemplos claros dessa intenção por parte de outros. Na última semana de curso, em 26 de abril de 2010, no fórum denominado “Dúvidas gerais e debates sobre o Módulo 4”´, foi criado pelo cursista Horácio o tópico chamado “E depois?”, tópico ao qual respondem os formadores Reinaldo e Angelina e vinte cursistas diferentes, como pode ser evidenciado no quadro 24. QUADRO 24 Fórum - E depois? E01 E02 E03 E04 E05 E depois? / por Horácio - segunda, 26 abril 2010, 23:25 A pergunta é provocativa e tem essa intenção. E depois do curso, o que vamos fazer? Digo não individualmente em nossas salas, faculdades ou universidades... A articulação e o aprendizado em Rede é o grande diferencial desta área do jornalismo digital e também do conhecimento. O que acham de continuarmos, trocando idéias e experiências de nossos trabalhos Brasil (e mundo) a fora?... Re: E depois?/ por Tadeu - terça, 27 abril 2010, 07:51 Horácio, Na penúltima página do ppt C do módulo 4 o Reinaldo diz que "os participantes serão também incentivados a criar uma rede virtual para continuar a troca de informações e conhecimentos, mesmo depois do final do curso". Acho ótima a idéia, mas não sei como executá-la. Talvez os colegas com mais experiência em grupos, blogs e wikis possam sugerir opções. De qq forma, acho que devemos aproveitar enquanto os fóruns estão abertos para decidirmos como manter este contato, que me tem sido muito útil, apesar de corrido. Abs Re: E depois? / por Reinaldo - terça, 27 abril 2010, 07:53 Horácio, Você de certa forma se antecipou. Um dos desdobramentos desejáveis do curso é que os participantes formem uma rede para continuar a troca de idéias e de experiências. O KC manterá o curso em aberto por um bom tempo para permitir consultas de participantes e troca de mensagens. A rede permitirá um intercambio mais amplo e permanente, porque vai depender exclusivamente de seus integrantes. Vocês podem também decidir formar mais de uma rede para contemplar especificidades das áreas de trabalho. Mas a decisão é de vocês. Um abraço Reinaldo Re: E depois? / por Angelina - quarta, 28 abril 2010, 20:20 Oi Horácio, oi Reinaldo...tenho uma noticia nem tão boa. Por causa de espaço nos nossos servidores, estamos tendo que remover os alunos dos cursos duas semanas apos o termino do curso. Antes eu esticava para uns 3 meses, mas o pessoal do Centro Knight disse que infelizmente não da mais para fazer isso. O sistema fica carregado e prejudica o andamento dos outros cursos que estão em andamento. Duas semanas eu garanto. Mais que isso, infelizmente não dá. Mas o meu contato fica, e se, ao decorrer do tempo, alguém precisar de algum material, pede pelo meu email (pode usar também o meu pessoal xxxxxx) Angelina Re: E depois? por Nina - quarta, 28 abril 2010, 22:03 Angelina, não tem como "salvar" os conteúdos, debates, do curso para que a gente tenha como guardar para futuras consultas? acho que seria muito bom, pois tem várias discussões ótimas, falas que podemos em um momento mais tranquilo organizar para debates em sala de aula... como viabilizar isso? Abraços 1 136 E06 E07 E08 E09 E10 E11 E12 E13 E14 Re: E depois? por Angelina - terça, 4 maio 2010, 19:12 Nina, O conteúdo você pode salvar no seu computador. Vocês podem baixar as apresentações em PPT e guardar no computador, podem também salvar os arquivos em Word (como as transcrições) ou Excel para usos pessoais futuros (e recomendamos mesmo que façam isso). Para o áudio, ele esta em flash, que não dá para salvar. Mas acho que se você baixar o Real Player no seu computador e tentar acessar o áudio assim, é possível que de para salvar (sei que isso foi solução em outros cursos que ajudei por aqui). Sobre os outros conteúdos, como fórum e wiki, fica mais difícil salvar. Se você quiser salvar para seu uso pessoal (como o da ajudar a formular discussões em suas aulas - ótima idéia!), acho que acaba sendo um certo trabalho para fazer isso, passando por cada discussão (tema) e copiando e colando em um documento Word. Isso pode ser mais rápido nos wikis, mas mais complicado para os fóruns. Você pode usar também funções de printscreen, copiando os conteúdos da tela e salvando. Existem alguns programas na web que copiam os conteúdos de uma pagina na internet para acesso depois. Nunca usei, mas acho que no livro da Sandra Crucianelli, que esta disponível no Centro Knight, ela comenta sobre um recurso assim. Enfim, existem algumas soluções paliativas. Vai dar um trabalhinho, mas da para fazer. Se você for fazer isso e gravar em seu computador (ou CD, DVD etc) sem problemas. Só fica complicado se você disponibilizar esse conteúdo on-line, porque tudo o que foi produzido aqui, inclusive por vocês, foi feito em caráter privado (não aberto da rede). Re: E depois? / por Angelina - terça, 4 maio 2010, 19:13 Ah, tenho os áudios zipados aqui. Se alguém quiser, posso passar, mas são pesados. E, claro, somente para uso pessoal. Angelina Re: E depois? / por Fabiana - domingo, 9 maio 2010, 17:56 Angelina, gostaria de saber se teremos acesso sempre a este site com o que foi produzido pelo grupo. Acredito ser um material extremamente rico e a correria cotidiana não nos possibilitou checar e ver tudo o que foi postado, sites, arquivos, artigos e muito o mais. Gostaria que sempre que precisasse e pudesse voltar a visitar esta página para repensar tópicos e fazer novas buscas. Re: E depois? por Angelina - terça, 11 maio 2010, 18:32 Oi Fabiana, Por duas semanas a mais depois do curso terminar vocês tem o acesso normal a todo o material do curso. Alguns colegas já passaram os arquivos copiados em word na lista que agente montou (você já deve estar incluída). Você pode gravar tudo no seu computador (ou imprimir) para uso pessoal depois do curso. Re: E depois? por Jurandir - domingo, 2 maio 2010, 15:41 Os velhos paradoxos da Rede! Re: E depois? / por Mel - terça, 27 abril 2010, 10:01 Que tal pensarmos em fazer um trabalho juntos para tornarmos nosso "encontro" mais concreto? Exemplo, que tal produzirmos um e-book do tipo "Redação Virtual: Jornalistas nas Redes Sociais”? Seria uma estratégia de mantermos o foco e nos disciplinarmos em meio ao turbilhão de atividade de cada um. Re: E depois? / por Clarice - terça, 27 abril 2010, 12:05 Tem também o I encontro nacional do projeto O ensino do jornalismo na era da convergência tecnológica, que tem o apoio do Procad/Capes. O evento foi antecipado para agosto. Vamos discutir o programa agora no dia 5 de maio. Todos podem enviar trabalhos. Logo enviarei para vocês a chamada. Também gostaria de encontrar todos os participantes deste grupo pessoalmente, seria bem legal. Re: E depois? / por Sebastião - terça, 27 abril 2010, 13:47 Acho importante criar uma rede para continuar a trocar experiências. Isso tem sido o mais bacana aqui do curso. Lembrei da rede Ning, onde poderíamos criar uma comunidade nossa, com opção para upload de conteúdos. Mas embora dê a sugestão, pessoalmente não tenho disponibilidade este semestre para tomar à frente. Re: E depois? / por Reinaldo - terça, 27 abril 2010, 14:05 Oi Mel, acho esta uma excelente sugestão que poderíamos discutir um pouco mais no chat de quinta feira. Se você me autoriza, ou posso levar esta sugestão à direção do Knight Center para que ele forneça o suporte técnico para a produção deste eBook , após a conclusão do curso. Na verdade o eBook, por sua natureza virtual acabará se tornando um livro dinâmico e 1 137 E15 E16 E17 E18 E19 E20 E21 E22 E23 se transformando na materialização de uma rede de colaboradores. Um abraço Reinaldo Re: E depois? / por Bernardo - terça, 27 abril 2010, 15:47 Ótimas ideias aqui. Penso que o Ning não é uma boa pq começa a ser cobrado no mês que vem. A ideia do E-book é muito interessante e uma forma de nos comprometermos. Outra ideia é criarmos um blog coletivo para que cada um poste os conteúdos que julgar interessante sobre JOL. Desta forma, tb podemos nos comunicar em rede usando o próprio blog. No blogger há opção de seguir, no wordpress não sei exatamente que função pode nos servir. Mas imagino que alguém pode ter uma sugestão de rede melhor para mantermos nosso contato. Re: E depois? / por Thaís - terça, 27 abril 2010, 20:10 OI pessoal, Ótimas ideias. Posso me responsabilizar pela criação do Blog coletivo e também de um Twitter para divulgarmos as publicações. Mas terá que ser na sexta-feira. Sufoco, sufoco até lá ... Além deste curso aqui, estou fazendo o de Ferramentas Digitais para Jornalismo de Serviço Público. Uma turma jovem num pique danado! E-book? O ensino do jornalismo na era da convergência tecnológica? Topo todas ! Contem comigo! Re: E depois? / por Virgínia - terça, 27 abril 2010, 20:45 Eu acho a idéia do e-book fantástica, mas o Ning está começando a cobrar pelas hospedagens, pois eu sou coordenadora da rede http://jornalista-so-com-diploma.ning.com/ e tenho recebido mensagens neste sentido. Bem, acho que o mundo on-line é maravilhoso, porém pra mim que sou "migrante' ainda preciso da troca de idéias, brainstorms que vão muito além das letras escritas, faz parte daquela idéia mal pronunciada ou meio colocada que ao final de um debate é o melhor do artigo... por isso acho que poderíamos ver a possibilidade de fazer uma mesa deste curso online dentro do encontro do Procad, quem sabe com a apresentação dos trabalhos, o debate e o aprimoramento, a gente não monte um e-book ou um livro mesmo, com ISBN e tal? Bom, somos todos professores universitários e publicamos com frequência. Não seria o caso de aproveitar o encontro pra "fechar" uma publicação? Re: E depois? / por Heloísa - terça, 27 abril 2010, 20:36 Acho muito legal se esta rede se formar e ficar mais estável. Tomara que o curso tenha sido apenas um primeiro ponto de encontro. Há muitos eventos, muita discussão pela frente, muito o que fazer, pensar, relatar. Contem comigo para todas essas iniciativas. Re: E depois? / por Alessandro - quarta, 28 abril 2010, 12:13 Topo a ideia do ebook e a de criarmos uma rede permanente de discussões sobre JOL. Count me in. abs Re: E depois? / por Michel - quarta, 28 abril 2010, 13:20 Ótima questão, Horácio. Mas para além disso, "depois" também virão outros cursos dessa natureza. Adorei a experiência. Re: E depois? / por Cecília - quarta, 28 abril 2010, 13:50 Também considero as idéias muito boas. Tenho dúvidas se o blog é a melhor alternativa já de início. Talvez fosse interessante consolidar o grupo primeiro, não? Quanto ao e-book, contem comigo! Re: E depois? / por Antônio - quinta, 29 abril 2010, 06:55 Salve, Também acho muito interessante a idéia do E-Book. Também me parece legal mantermos um blog, o pessoal aqui é bastante criativo e contribui bastante. Mas como a gente pode se dispersar depois das duas semanas após o curso o que seria mais fácil seria abrir um grupo (lista) para nossas "reuniões de pauta". O Google tem ferramentas que podem facilitar esse trabalho e ainda poderemos compartilhar textos e mesmo escrever coletivamente (como no wiki) no google documents. Mas vamos ouvir mais opiniões e ver o que é melhor para todos. Re: E depois? / por Assis - quinta, 29 abril 2010, 13:30 E Depois? Bem, penso em replicar o curso na minha Universidade. Ministrar o curso para os colegas professores que não conseguiram vaga. Este curso foi bastante concorrido e muitos 1 138 E24 E25 E26 E27 E28 E29 E30 E31 E32 ficaram de fora. Consultei a Angelina e ela me informou que não haveria problema eu utilizar o material fornecido, desde que não fosse com fins lucrativos. Sou coordenador de curso e considero que o curso serviria como uma base para um nivelamento a respeito do tema. Muitos professores são recalcitrantes na hora de aprender certas novidades, mas a metodologia aqui utilizada facilita a transmissão dos conhecimentos. Tenho a vantagem de ter uma colega nesta turma, a Virgínia, que já está oficialmente convocada para dividir comigo a missão de multiplicar a experiência. E é para breve... Re: E depois? / por Reinaldo - quinta, 29 abril 2010, 14:26 Oi Assis, Não há problema em você replicar o curso, mas só gostaria de te avisar que devem ser oferecidas novas edições do curso, porque como você disse, não foi possível acomodar todos os candidatos nesta edição. Muitos candidatos excelentes tiveram que ser deixados de fora. Abraço Reinaldo Re: E depois? / por Henrique - quinta, 29 abril 2010, 20:10 Todas as idéias apresentadas para que mantenhamos contato são ótimas. Porém, como temos pouco tempo de contato por aqui, penso que seria mais rápido e prático, além de útil, criarmos de imediato um e-mail coletivo no qual poderemos trocar mensagens e enviar materiais de interesse comum. O que acham? Re: E depois? / por Clarice - sexta, 30 abril 2010, 09:01 Pelo que entendi, a Angelina vai fazer uma lista de discussão para gente. Certo? Re: E depois? / por Antônio - sábado, 1 maio 2010, 11:58 Eu também entendi que vai rolar uma lista do Centro Knight para nós. Acho que será a melhor forma da gente ter tempo para encontrar a melhor para pensarmos em produzir alguma coisa coletivamente. Re: E depois? / por Anderson - sábado, 1 maio 2010, 16:23 Caro professor Reinaldo, Há como juntarmos todo o material do curso em um único arquivo subdividido em pastas? Se pudermos seria interessante, pois poderíamos gravar em um dvd (por exemplo) e utilizamos o mesmo formato para pesquisa do conteúdo. Vi muitas informações boas, mas não consegui aproveitar tudo que passou nessas 4 semanas. Por isso, a consulta. abraços Re: E depois? / por Lúcia - sábado, 1 maio 2010, 15:21 Acho que a ideia de um blog onde cada um pudesse postar suas experiências, positivas e negativas, seria interessante. É a partir dos exemplos que podemos adaptar a realidade de nossas universidades... Re: E depois? / por Célia - segunda, 3 maio 2010, 17:04 Pessoal: Considero as idéias ótimas! Adoraria continuar a discutir as tecnologias e o jornalismo com todos... Acredito que podemos crescer muito com isso e criar boas redes de pesquisa que sem o curso seriam mais difíceis de serem construídas. Estou à disposiçáo para ajudar no que for preciso: para o ebook, para a mesa no evento do Procad, para o blog e para possíveis parcerias... Abs a todos e ótima semana! Re: E depois? / por Horácio - segunda, 3 maio 2010, 23:05 Opa, fiquei alguns dias sem acessar o curso (desta fez fazendo um curso presencial de jornalismo científico na Amazônia) e parece que meu questionamento repercutiu...Idéias bem legais e possivelmente concretizáveis. Eu acho que podemos começar com o básico: uma lista de discussão, preferencialmente do Yahoo (faço uso deste serviço há mais de 10 anos e até agora não encontrei serviço melhor, ah, e gratuito!) para que possamos amadurecer os projetos e possíveis articulações. A idéia de, quem sabe, escrevermos, juntos, um livro digital é muito massa! Ainda mais se vier com o issn do Knight Center, da Universidade do Texas (é possível Reinaldo e Angelina???) e seria o resultado concreto de um trabalho coletivo e em rede, de professores de jol de todo o Brasil!!! O que me dizem?Alguém se propõe a criar a lista com o endereço eletrônico dos interessados? Horácio Re: E depois? / por Jurandir - terça, 4 maio 2010, 09:36 Podem incluir o meu nome na lista! 1 139 E33 E34 Re: E depois? / por Jorge - terça, 4 maio 2010, 20:10 Concordo. Venho buscando instrumento de análises da criatividade na narrativa jornalística, e gostaria de colaborar também nisso - mas igualmente no que quer que for proposto pelos colegas. Re: E depois? / por Bernardo - domingo, 9 maio 2010, 10:49 Acho que a ideia do blog é a melhor e cada um de nós pode ser seguidores e colaboradores. Assim, mantemos a produção coletiva e o contato. e o material postado pode servir para a produção do livro. Se for uma lista de discussão, podemos criá-la e abrir para outros participantes. Vemos na discussão do tópico uma clara preocupação em se entender a rede de relacionamentos para além dos territórios simbolicamente estabelecidos do curso. Atentemo-nos para alguns pontos: • Em E01, Horácio convida os colegas a estender as relações para outras ocasiões, com o objetivo de trocar experiências sobre os trabalhos de todos; • Em E02, Tadeu se manifesta pedindo apoio aos colegas “mais experientes”, para que consigam uma solução web 2.0 para perpetuar a rede de relações; • Em E03, professor Reinaldo intervém, informando que um dos objetivos do curso é exatamente criar novas redes e que essa é uma tarefa dos cursistas. Afirma ainda que o ambiente ficará aberto para discussões após o término do curso, informação que Angelina descarta em E04, afirmando que a instituição apaga o conteúdo ao final do curso; • De E05 a E09, notamos um esforço na busca de solução para se guardar o conteúdo produzido no AVA; • Em E09, a assistente Angelina confirma a existência de um grupo de e-mails (lista) que já vem sendo usado para troca de arquivos. Trata-se de uma evidência concreta da existência de engajamento por parte de uns, a fim de se estabelecer relações com laços mais densos, além das possibilitadas pelo AVA do curso, o que aponta para a possibilidade de emergência de CVA Estendida; • Em E11, Mel sugere a produção de um e-book coletivo; Clarice, em E12, sugere que participem de um evento científico e que se encontrem fisicamente; Sebastião, em E13, sugere a criação de uma “comunidade” virtual em uma rede social; Thaís, em E16, promete abrir um blog para a turma. E os demais acrescentam, dão novas sugestões, tentam solucionar possíveis complicadores, querem continuar o diálogo estabelecido nas quatro semanas de curso. Será a emergência de uma CVA Estendida? Para atender a essa nova 1 140 questão, solicitamos a todos os cursistas o envio de depoimentos sobre a continuidade das relações. Obtivemos dois retornos atendendo à primeira solicitação e, então, enviamos oito solicitações de depoimentos personalizadas aos oito primeiros nomes que apareciam na nossa lista de cursistas que autorizaram a pesquisa. Conseguimos outros quatro. Os seis depoimentos e o resultado da nossa análise podem ser vistos na próxima seção. 5.5.1 Novas motivações e a emergência de CVA Estendida A fim de verificarmos os indícios de emergência de CVA Estendida, colhemos seis depoimentos, como já explicitado no capítulo 4 e seção anterior, que foram copiados integralmente conforme o quadro 25, a seguir. Salientamos que os depoimentos foram colhidos cerca de cinco meses após o final do curso, tempo suficiente para verificar a continuidade ou não das relações iniciadas no curso em estudo. Na seção anterior, apontamos alguns indícios de que as interações poderiam continuar para além do território simbólico construído na CVA Situacional, oportunizada pelo curso de acordo com as conclusões a que chegamos nas seções anteriores. No tópico “Twitter”, do fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”, em 4 de abril de 2010, já citado na seção 5.4, no qual 43 colegas divulgaram seus endereços na rede social, e em diversos outros momentos do curso, ficou clara a intenção de se dar continuidade às relações iniciadas no curso. Os depoimentos colhidos apontam que existem esforços por parte de alguns, para manter o relacionamento, alcançar o objetivo de se editar um e-book e, ainda, relatam a existência de novos projetos. Vejamos: • Em E01, Thaís, ao invés de fazer um depoimento em forma de texto, opta por responder aos tópicos apresentados na solicitação. A cursista afirma que o relacionamento continuou precariamente via Twitter, Grupo de discussão (Grupo de e-mails) e Google Docs. Na resposta ao tópico 3, Thaís afirma, ainda, que mantém relações profissionais com dois colegas de Belo Horizonte e que mantém contatos com os demais sobre a criação de um livro colaborativo como produto das interações e debates do curso. Notamos por este depoimento que, apesar de Thaís afirmar que se trata de um relacionamento precário, o grupo se utiliza de três ferramentas interativas, incluindo uma de edição de texto. Assim, cremos que existe 1 141 um grande potencial para a formação de CVA Estendida, uma vez que possuem condições de negociação, compromisso, interação. Notamos engajamento por parte daquele que abriu o Google Docs para as escritas comuns e daqueles que usam o Twitter e a lista de e-mails. Resta-nos saber que tipo de uso é feito das ferramentas, se resulta ou não em construção de significados; • Em E02, Oscar volta a comentar sobre a lista de e-mails (lista do Knight Center) na qual discutem os interesses que provaram ter durante todo o curso: novas tecnologias, JOL e softwares voltados para a comunicação. Mais uma vez, aparece o relato da utilização da lista de e-mails citada por Thaís e por Angelina, no quadro 24. Interessante observar que Oscar não relata o projeto do e-book. Talvez não esteja tão engajado nesse projeto quanto os demais ou não creia na possibilidade de materialização do objetivo da turma. Porém, apesar de se mostrar pouco motivado, Oscar comprova que a interação continua acontecendo; • Tal como Thaís e Oscar, Heloísa, em E03, mostra-se pouco motivada para projetos conjuntos com todos da turma. Porém, outros projetos parecem ter surgido: “(...) eu mesma já fiz um convite a uma colega do curso para uma palestra na instituição em que trabalho”. Mas as distâncias geográficas parecem não contribuir com esse tipo de colaboração em maior escala: “Fiz isso porque moramos na mesma cidade, mas se eu dispusesse de verba, certamente poderia convidar outros colegas”. E sobre o e-book, a cursista esclarece que o projeto se enfraqueceu a partir de exigências burocráticas da instituição de ensino Knight Center. Com isso, o engajamento da líder do projeto diminuiu. Relata ainda que, no intuito de levar o projeto do livro adiante, foi aberto um documento no Google Docs para a construção coletiva. Porém, a ação não surtiu o efeito desejado. Afirma que os e-mails entre o grupo diminuíram e que o Twitter pode ser a ferramenta mais adequada para o “contato remanescente”. Com essa fala notamos que, mesmo não tendo sido como planejado, como relatou Thaís, ainda existem laços entre alguns membros. Por fim, esclarece que se distancia um pouco das identidades dos ex-colegas, visto que não é jornalista e não se “identifica tanto com aquelas ideias”; • Em E04, Virgínia assume-se pouco engajada na interação com os colegas. Porém, tem um novo objetivo, um projeto de pesquisa de doutorado, no qual pretende retomar o diálogo com os sujeitos do caso em estudo; • Mariana, em E05, afirma que mantém contato com Michel, com o qual participou de um projeto de livro. E, sobre o e-book, afirma que está acompanhando 1 142 o diálogo via grupo (lista de e-mails). Assim como os outros depoentes, o depoimento de Mariana confirma que alguns contatos permanecem, porém, longe dos objetivos demonstrados nos enunciados construídos pelos cursistas; • Adolfo, em E06, confirma que os objetivos comuns traçados durante o curso estão estagnados ou foram abortados. Afirma que existe um espaço para interação no qual nunca se inseriu. E finaliza: “E nem sei se vou algum dia”. QUADRO 25 Depoimentos E01 E02 E03 E04 E05 Por Thaís - 18/09/2010 1) O relacionamento iniciado virtualmente através do curso continuou com algum colega, de alguma forma? Continuou, mesmo que de forma um pouco precária. 2) Em caso de resposta positiva ao item anterior, você pode descrever rapidamente como as novas interações acontecem? (ferramentas utilizadas, frequência, assuntos normalmente tratados, etc...) As interações acontecem via Twitter, grupo de discussão e Google Docs. São esporádicas, pois todos têm seus afazeres, mas planejamos fazer um livro com o conteúdo do curso. 3) Ainda em caso de resposta positiva ao primeiro item, qual é o objetivo destas novas interações? Mantenho contato profissional com dois integrantes, também professores em BH. Com os demais, conversamos a respeito do livro. 4) Você acredita que algum dos objetivos estabelecidos ao se matricular no curso foi atingido? Se sim, qual objetivo? Sim. Todos eles. O curso foi um excelente espaço para debate e uso de novas ferramentas. Foi muito bom compartilhar as angústias comuns com os colegas e perceber em que nível estamos no ensino de JOL, nos diversos cantos do país. 5) Novos objetivos surgiram a partir das interações estabelecidas no curso? Estes objetivos contribuem para as novas interações? Sim. A partir do curso, surgiu o objetivo de fazermos um livro conjunto. Na prática, está meio devagar, mas ainda assim é um objetivo coletivo resultante das interações e debates gerados no curso. Por Oscar - 19/09/2010 Usamos a lista do knightcenter! O interesse é novas tecnologias! Coisas envolvendo o jornalismo on-line e o uso de programas aplicados a comunicação! Por Heloísa - 27/09/2010 O curso de jornalismo para professores foi ótimo. Um pouco depois de terminado, fomos todos incluídos em uma lista da instituição que o promoveu. Era uma forma de continuarmos em contato. Trocamos ideias, mas nada vingou dali, ao menos com a minha participação. Vários de nós passamos a nos seguir no Twitter e eu mesma já fiz um convite a uma colega do curso para uma palestra na instituição em que trabalho. Fiz isso porque moramos na mesma cidade, mas se eu dispusesse de verba, certamente poderia convidar outros excolegas. A turma começou a planejar um e-book, mas a instituição solicitou que isso só fosse feito com todos os cuidados possíveis em relação a autorizações, ética, etc. Isso minou um pouco o pique das pessoas. A jornalista que liderava a iniciativa, por exemplo, me pareceu meio chateada com a situação e não fez mais tanto esforço. Abriram um arquivo no Google Docs para trabalharmos todos na construção do livro, mas não sei se as pessoas continuam visitando e contribuindo com o texto. Eu mesma visitei algumas vezes, sem contribuir, e não voltei. Os e-mails entre nós diminuíram. Talvez o Twitter tenha sido mais adequado a esse contato remanescente. E talvez meu caso seja específico... não sou jornalista e não me identifico tanto com aquelas ideias. Mas foi muito legal conhecer as pessoas. Por Virgínia - 27/09/2010 Sobre o contato, tenho que admitir que me envolvi pouco, mas estão todos comigo para uma futura conversa, pois pretendo pesquisar no doutorado este perfil profissional e devo procurar todo mundo desta lista, inclusive você e sua dissertação, para buscar respostas a essa minha indagação. Por Mariana - 27/09/2010 1 143 E06 (...) tenho mantido contato mais estreito com o Michel, que tb está fazendo doutorado sobre currículos de jornalismo. escrevi, a convite dele, um capítulo para um livro que ele está coordenando sobre o assunto. Meu texto trata da experiência de ensino no Campus On-line. tb tenho acompanhado o grupo, que pretende transformar em um livro eletrônico o resultado daquele nosso encontro. abs Por Adolfo – 27/09/2010 Bom, sendo muito sincero, acho que havia sim uma expectativa de continuidade com o relacionamento entre os professores etc. Foi até levantado, e se deu início mesmo, um projeto de publicação. Mas, e aí falo da minha parte, acredito que isso não foi para frente. A rotina de aulas, trabalhos, vida particular, excesso de informação etc etc etc, me impediu de participar como o programado. Eu até hoje guardo um e-mail, de alguém da lista, que ficou de abrir um Google Docs com material para edição dos participantes etc. Mas, acredite, ainda não fui lá! E nem sei se vou algum dia. Mas, uma vez decidido por esse caminho, acho plenamente possível a continuidade desse trabalho, embora qualquer empresa (sic) desse tipo demande tempo e dedicação... Espero que tenha ajudado. abs, Adolfo. Notamos, no quadro acima, desânimo de todos os sujeitos em manter relações que incluam todo o grupo. Um dos pressupostos de comunidade, segundo Kowch e Schwier (1997), é a existência de uma harmonia que só é possível com negociação, intimidade, compromisso e engajamento. Não havendo engajamento, torna-se impossível a negociação, a intimidade e o compromisso. Outro pressuposto de uma comunidade é a existência de discussões públicas (RHEINGOLD, 1995, apud RECUERO, 2006) entre o grupo. Notamos que alguns dos depoentes relataram trocar e-mails com o grupo, via lista de e-mails, e, ainda, contatar o ex-cursista via Twitter. Parece se tratar de discussões públicas, porém, em nenhum dos depoimentos, constatamos a existência de construção de sentido nessas discussões. O quadro que vislumbramos parece se tratar de uma interação falaciosa entre o grupo e produtiva em alguns casos isolados entre pequenos grupos ou duplas. Assim, não podemos afirmar que possuímos um exemplo de CVA Estendida. Porém, reconhecemos o valor da CVA Situacional para a (re)construção de sentidos, identidades, e, consequentemente, aprendizagem, sobretudo com o engajamento notado no caso analisado, e, ainda, para iniciar um movimento dialógico que resulte em novos laços, mesmo que sejam pontuais - como aqueles identificados em alguns depoimentos que relatam a existência de um diálogo remanescente, como nas relações entre Michel e Mariana; entre Heloísa e o colega de Belo Horizonte, do qual não cita o nome; entre Thaís e os dois colegas de Belo Horizonte, dos quais também não cita os nomes. 1 144 Concluímos que, para se verificar a emergência de uma CVA Estendida, haveríamos de entrevistar todos os sujeitos envolvidos, o que demandaria trabalho e tempo, com fortes indícios de chegarmos a um resultado negativo. Assim, abre-se espaço para novas pesquisas sobre este e outros problemas levantados ao longo da dissertação, aos quais retornaremos no último capítulo. 5.6 Quando a interação não acontece Como reflexão final acerca da produção dialógica que compõe o corpus deste estudo, esta seção traz alguns exemplos nos quais o diálogo não toma uma forma que evidencie ganhos significativos em (re)construção de sentidos e significados, ou seja, o diálogo não se estabelece. Não é nossa pretensão responder a questões como “Por que a interação não acontece?” ou quaisquer outras assemelhadas. Acreditamos que este é trabalho destinado a outra pesquisa. Enfatizamos que o problema de pesquisa do presente trabalho é, pois, “Como emergem CVAs engajadas?”, ou seja, buscamos elucidar como o diálogo se estabelece a ponto de podermos chamar a união dos sujeitos desta interação de CVA engajada. Porém, cremos que exemplificar quando o fenômeno não acontece nos ajudará a compreender melhor as motivações para sua ocorrência. Na busca do primeiro exemplo da não ocorrência de diálogo, escolhemos o tópico aberto por Mariana no fórum denominado “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”. Em todo o fórum, foram abertos 15 tópicos, que receberam 187 comentários. No tópico 1, Mariana pergunta, como pode ser visto em E01, no quadro 26, que segue, se continuarão a se “verem”. A cursista não obteve resposta, motivo pelo qual escolhemos este tópico como nosso primeiro exemplo da não ocorrência de interação. Inicialmente, parece um quadro de desprezo à colega, mas observamos que Mariana criou o tópico depois do término das atividades do curso, que ocorreu dia 2 de maio de 2010. Naquele instante, os colegas já haviam trocado contatos e criado, inclusive, um grupo de e-mails, a fim de manterem contato, como detectado na seção anterior. Portanto, conclui-se que diálogo não aconteceu no AVA, inicialmente, porque os cursistas já não o frequentavam. Caso o frequentassem, inferimos que, provavelmente, a cursista teria tido algum retorno, uma vez que aqueles que se interessaram em manter contato encontraram formas de estender as 1 145 relações. Mariana é que se mostra em descompasso temporal com os colegas, que já haviam se organizado para dar continuidade às interações iniciadas no AVA. QUADRO 26 Fórum - Vamos continuar a nos ver? E01 Vamos continuar a nos "ver"? / por Mariana - segunda, 10 maio 2010, 05:25 podemos continuar usando este endereço para contatos? vou sentir falta de abrir estas páginas de organização confusa mas de conversas sempre interessantes. Como segundo exemplo da não ocorrência de diálogo, o que parece ser falta de engajamento, trazemos o primeiro tópico aberto no mesmo fórum do primeiro exemplo que recebeu 187 comentários em 15 tópicos diferentes: “Área do aluno (para conversas informais entre os alunos)”. O referido tópico recebe o nome de “Grupos da tarefa da semana” e foi aberto por Aparecida, como pode ser visto em E01. A cursista busca se integrar em um grupo para a atividade da primeira semana, qual seja, escrever com os colegas de grupo um artigo em ferramenta wiki sobre um tema dado pelo professor Reinaldo. Como vemos em E02, a assistente Angelina esclarece para a cursista que, em busca de agilidade, a divisão dos grupos teve a regra alterada e, a partir de então, ficou a cargo dos formadores. Os alunos, caso se interessassem, poderiam solicitar alterações. QUADRO 27 Fórum - Grupos da tarefa da semana E01 E02 Grupos da tarefa da semana / por Aparecida - segunda, 5 abril 2010, 15:16 Estou interessada em discutir a utilização dos blogs em sala de aula. Alguém se habilita a coordenar este grupo??? Abçs Re: Grupos da tarefa da semana / por Angelina - segunda, 5 abril 2010, 15:28 Oi Aparecida Fico feliz que você conseguiu entrar rapidinho no curso. (...) resolvemos mudar um pouco a formação dos grupos. Falei com o Prof. Reinaldo hoje e achamos que poderia ficar demorada a formação do grupo da forma como tínhamos originalmente pensado para o exercício. Aí pensamos no seguinte: formamos os grupos e, caso alguém queria mudar de grupo ou queira incluir qualquer pessoa no grupo em que esta, é só me mandar um email que eu faço o possível para mudar os grupos. Assim não perdemos muito tempo com isso, já que o curso passa super rápido. Vou mandar uma mensagem sobre isso ainda hoje para todos. Angelina. O tópico recebe apenas mais um comentário, de um colega que diz se interessar pela discussão. Apesar de o tópico receber apenas 3 comentários, Aparecida se integra a um grupo, como pode ser visto no quadro 28, que segue. Este quadro 1 146 refere-se a uma parte dos diálogos produzidos no quinto tópico do fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 1”, que teve 113 enunciados produzidos para 11 tópicos. Em E01, Thaís apresenta a lista de colegas que compõem o seu grupo. A lista contém 10 nomes mais o nome da própria Thaís. Dentre os 11 integrantes, suprimimos dois nomes, por se tratar de cursistas que não autorizaram a pesquisa. Consta na lista o nome de Aparecida com um “ok” na frente. Em E01, Thaís afirma que o “ok” é a confirmação de que a pessoa faz parte do grupo, ou seja, não pediu nenhuma alteração aos formadores. Em E02, Aparecida afirma ter postado uma contribuição para o trabalho em grupo na ferramenta wiki, demonstrando integração com o grupo. Podemos inferir a partir de tais evidências que o diálogo aconteceu, provavelmente por outra ferramenta. Confirmamos a participação de Aparecida na atividade em grupo acessando o histórico de acessos da ferramenta wiki. Nele consta que o texto final recebeu 91 postagens sendo que, destas, três foram de Aparecida, no dia 9 de abril de 2010, às 13h39, 14h e 14h35. A última postagem no artigo do grupo foi feita em 10 de abril de 2010, às 19h06, por Thaís. Evidenciamos a construção de sentido no texto final do grupo que possui algumas evidências de diálogo. Concluímos assim, que a interação e o objetivo estabelecido para a comunicação foi alcançado, qual seja, de construir um texto conjunto sobre um tema preestabelecido. QUADRO 28 Fórum - Grupo sobre blog E01 E02 Grupo sobre blog / por Thaís - segunda, 5 abril 2010, 19:13 Oi pessoal Estou no grupo sobre o blog. O tema é ótimo. Vou postar o nosso grupo sugerido aqui e quem já deu o ok. (...) Fabiana Oscar Rosa - ok Aparecida - ok Alessandro - ok Thaís - ok + Antônio Precisamos traçar algumas estratégias. A primeira é definir como será a nossa comunicação até o Wiki chegar. Abraços, Thaís Re: Grupo sobre blog / por Aparecida - sexta, 9 abril 2010, 13:41 Pessoal, incluí um relato de contraponto na nossa Wiki. Olhem lá!!!!! Abçs 1 147 Como terceiro e último exemplo do que parece ser a não ocorrência de diálogo, trazemos um tópico criado no fórum denominado “Dúvidas e debates gerais sobre o Módulo 1”. Neste fórum foram criados 11 tópicos pelos cursistas, que geraram 113 enunciados. Trata-se do terceiro tópico do fórum, denominado “Estratégias para incorporar melhor a tecnologia on-line na sala de aula”, aberto por Sebastião, como pode ser visto no quadro 29, que segue, em E01. QUADRO 29 Fórum - Estratégias para incorporar melhor a tecnologia on-line na sala de aula E01 Estratégias para incorporar melhor a tecnologia on-line na sala de aula / por Sebasitião - sexta, 9 abril 2010, 10:37. O objetivo deste tópico é reunir idéias para responder à questão acima e está dirigido principalmente aos integrantes do grupo 6. Sugestão: utilizar redes sociais como parte da dinâmica em sala de aula, já que a cultura das redes está entranha nos usuários de internet. Uma comunidade no Orkut pode servir como espaço para os alunos esclarecerem dúvidas da disciplina entre si e também compartilhar idéias e conteúdos relativos ao plano de ensino. Poderia haver rodízio no papel de moderador, como tarefa, e todos os alunos ganhariam com esse aprendizado. Além disso, podemos explorar conteúdos multimídia, com alunos gravando depoimentos relevantes e publicando na comunidade. Outro ponto é o fortalecimento dos laços entre os alunos. Em seu tópico, Sebastião faz uma sugestão, qual seja, utilizar redes sociais no processo de ensino-aprendizagem. O tópico não recebeu nenhum comentário. Parece que Sebastião não está em sintonia com os colegas, que já dialogam sobre o tema proposto em outro tópico, aberto por Mel. Evidenciamos essa assertiva com o conteúdo do tópico 11 do mesmo fórum, aberto em 7 de abril de 2010, dois dias antes do tópico de Sebastião, com o nome de “Grupo 6 - Sugestões para discutir o tema 2”. Neste tópico, reproduzido integralmente no quadro 30, a seguir, há somente três enunciados produzidos: • Em E01, Mel, que abre o tópico, sugere uma questão e cinco itens para reflexão do grupo. O tópico de Sebastião denomina-se “Estratégias para incorporar melhor a tecnologia on-line na sala de aula” com o conteúdo da sua postagem está diretamente ligado ao tema 2 para o trabalho em grupo dado na primeira semana (a atividade do texto colaborativo em wiki), notamos que interessa a Sebastião o uso pedagógico das redes sociais. O texto de Mel enumera cinco itens para reflexão e não cita o uso pedagógico de tais ferramentas. Com interesses distintos, o diálogo não se estabelece; 1 148 • Em E02, Caio informa que postou um texto na plataforma wiki. A iniciativa atende ao objetivo de contribuir para a tarefa, mas não confirma um diálogo direto com as questões levantadas pelos outros dois colegas; • Em E03, Sebastião replica o exposto por Mel no item três de sua explanação, mas a colega não responde. QUADRO 30 Fórum - Grupo 6 - Sugestões para discutir o tema 2 E01 E02 E03 Grupo 6 - Sugestões para discutir o tema 2 / por Mel - quarta, 7 abril 2010, 19:25 Tema 2 : Problemas decorrentes do uso de computadores com acesso à internet em sala de aula. Dispersa a atenção do aluno? Ajuda na interatividade entre aluno e professor? Contextualização do problema: sugestões de itens para reflexão: 1.a sala de aula enquanto um ambiente de aprendizagem tradicional; 2. a sala de aula enquanto uma sala de redação tradicional versus redação informatizada; 3. a fragilidade da formação didática do professor de jornalismo, formado para noticiar não para ensinar; 4. as condições de infraestrutura das salas de aula informatizadas; 5. os alunos como agentes de conhecimento e o processo de identificação com os conteúdos disponibilizados Re: Grupo 6 - Sugestões para discutir o tema 2 / por Caio - quarta, 7 abril 2010, 21:15 Mel e colegas eu postei um texto na plataforma Wiki. Re: Grupo 6 - Sugestões para discutir o tema 2 / por Sebastião - sexta, 9 abril 2010, 10:44 Não acho que a fragilidade da formação do professor de jornalismo, mais preparado para noticiar seja o principal problema. O desafio da tecnologia on-line é para a educação, como área geral, e para todos os professores. Nós do jornalismo on-line talvez até tenhamos mais intimidade com o ferramental que um pedagogo tradicional. Estamos ainda num processo de aprendizado, porque não conseguimos acompanhar a velocidade das mudanças (eita, clichê) do mundo digital. Somos a geração que vai ter que arriscar mais para ver o que funciona melhor ou não. Já li inúmeros artigos sobre a batalha entre a escola tradicional e a tecnologia on-line. A primeira tem perdido feio. Se alguém tiver o link para alguma matéria sobre isso, pode colocar o link no nosso Wiki ou enviar como arquivo. No histórico de acesso do grupo de Mel e Sebastião na ferramenta wiki, evidenciamos que os dois participaram da edição do texto final. Assim, concluímos que, em alguma medida, dialogaram. Porém, não podemos afirmar que tal diálogo resulte em emergência de CVA engajada sem constatarmos que os dois participaram efetivamente da atividade e, assim, (re)construíram sentidos, o que não ocorreu na observação realizada. Buscamos nos dados algum diálogo que pudesse contribuir para que Sebastião atingisse o seu objetivo de trocar experiências sobre a utilização de redes sociais em sala de aula. No fórum denominado “Dúvidas gerais e debates sobre o Módulo 2”, no qual foram criados 13 tópicos pelos cursistas, que geraram 125 comentários, encontramos um novo tópico criado por Sebastião, em 13 de abril de 2010, 1 149 denominado “Uso do Orkut como ambiente colaborativo”. Notamos que, quando o assunto ficou restrito ao grupo da atividade wiki, o diálogo fluiu pouco em termos de enunciados produzidos nos fóruns. Ressaltamos, mais uma vez, que o wiki não foi avaliado no sentido de se verificar a interação dos sujeitos, uma vez que eles declararam ter feito parte da tarefa com interações via e-mail ou Google Docs. Quando Sebastião abre o novo tópico, voltado para todos os colegas de curso, ele encontra colegas com motivações similares em suas identidades, de docentes de jornalismo on-line, o que resulta em diálogo, (re)construção de sentidos e, por fim, aprendizagem a partir do dialogismo constitutivo dos discursos: • Em E01, em 13 de abril, Sebastião abre o tópico relatando suas preocupações, que dialogam com E01 do quadro 29, postado 4 dias antes; • Em E02, Thaís relata ter utilizado duas redes sociais diferentes em atividades didáticas e jornalísticas. Relata ainda que vivenciou em sua escola um caso no qual a rede social Orkut foi bastante utilizada, sem citar maiores detalhes; • Em E03, Sebastião agradece o retorno de Thaís e questiona sobre uma das redes citadas pela colega, bem como sobre algum artigo sobre o caso de utilização do Orkut na escola; • Em E04, Darcy informa que teve uma experiência com redes sociais na educação, que está relatada no texto do grupo 5, produzido em wiki, no primeiro módulo; • Em E05, Jurandir passa para o colega o link da “comunidade” de sua instituição no Orkut; • Em E06, Bernardo relata o uso que faz em sua instituição da rede social Twitter e revela que não obteve sucesso no uso do Orkut. QUADRO 31 Fórum - Uso do Orkut como ambiente colaborativo E01 E02 Uso do Orkut como ambiente colaborativo / por Sebastião - terça, 13 abril 2010, 15:11 Algum colega tem experiência com utilização do Orkut em sala de aula? Faz algum tempo que rascunhei um projeto, com o objetivo de criar uma comunidade da disciplina para troca de informações; fóruns e tira-dúvidas entre os alunos; postagem de material multimídia e links de interesse. Cito o Orkut pela penetração que a rede tem no Brasil e por ser o mais popular entre os meus alunos. Ainda não coloquei em prática porque sinto necessidade de ter apoio institucional para a experiência. Uma vez na rede, mesmo com uma comunidade restrita a membros, não temos mais controle sobre o resultado da "conversa" e inevitavelmente o nome da instituição de ensino estará atrelado à experiência. Re: Uso do Orkut como ambiente colaborativo / por Thaís - terça, 13 abril 2010, 16:15 1 150 E03 E04 E05 E06 Oi Sebastião, Orkut e Facebook não. Mas já utilizamos o Ning para um projeto social com participação de alunos. Funcionou como um ponto de encontro para troca de informações, formação de grupos, postagem de matérias. Porém, não foi específico da disciplina JOL. Foi um projeto amplo da escola inteira, com cobertura do Jornalismo e mais de 500 alunos envolvidos. Já utilizei também outra rede social chamada Multiply. Com essa, tive resultados muito interessantes no Jornalismo. Por falar em monitorar a imagem da instituição na rede, tivemos um case muito interessante qdo nossa escola foi comprada por um grupo XXXXX. O Orkut pegou fogo! A ação envolveu analistas de redes sociais e foi bem interessante. Abraço, Thaís. Re: Uso do Orkut como ambiente colaborativo / por Sebastião - terça, 13 abril 2010, 16:31 Oi, Thaís, valeu pelo retorno. Não conheço o Multiply, está disponível na rede? Sobre o case da sua faculdade, se você tiver um paper, apreciaria muito a leitura. Abraços. Re: Uso do Orkut como ambiente colaborativo / por Darcy - quarta, 14 abril 2010, 08:07 Olá Sebastião, participei de uma experiência que está descrita lá no Wiki do Grupo 5 do Módulo 1. Não só com o Orkut, na verdade, mas na construção de uma comunidade na disciplina de Redes Sociais na Internet. No nosso caso, deu certo e muitos frutos. Re: Uso do Orkut como ambiente colaborativo / por Jurandir - quarta, 14 abril 2010, 14:59 Temos a experiência na XXXXX com a nossa "comunidade": XXXXX. Que é uma ferramenta de ajuda na socialização do material da disciplina Prática II - Webjornalismo. Re: Uso do Orkut como ambiente colaborativo / por Bernardo - domingo, 18 abril 2010, 18:05 Cheguei a tentar uma experiência de comunidade no orkut, mas não obtive sucesso. Talvez porque na universidade o orkut é bloqueado e daí não tinha como estimular o uso nas aulas. Tenho usado o Twitter e há retornos positivos, principalmente para divulgação das matérias postadas em nosso site. Mas quero ampliar o uso de divulgação para interatividade com leitores/usuários. Notamos que Sebastião conseguiu algum diálogo. Porém, não podemos afirmar que o objetivo do cursista, de dialogar sobre a utilização pedagógica do Orkut, foi atingido, uma vez que só há uma tréplica de Sebastião solicitando à colega Thaís mais informações sobre a sua experiência com Orkut e sobre uma rede social que desconhecia, em E02. As réplicas dos demais colegas não são treplicadas. Verificamos, ainda, que alguns cursistas produziram mais enunciados que outros e, portanto, possuem maior engajamento na produção dialógica. Percebemos que, sem estes sujeitos engajados, o diálogo provavelmente não se estabeleceria e uma CVA notadamente engajada não emergeria. 5.7 Assim emerge uma CVA engajada Ao longo do nosso estudo, buscamos avaliar uma hipótese de trabalho levantada a partir do estudo de uma teoria que apontava as identidades locais como responsáveis pelo diálogo, a partir do dialogismo constitutivo dos discursos, que, por sua vez, ao estabelecer discussões públicas, resultaria em uma comunidade engajada. Comunidade esta possibilitada pela telemática e voltada para a aprendizagem. Utilizamos para a nossa análise os enunciados produzidos pelos 1 151 sujeitos da pesquisa, uma vez que esses textos são a expressão mais clara das identidades e ideologias que portam estes sujeitos. Exemplificamos, ao longo de nossa análise, que a identidade construída, constituída de características locais que podem ser identificadas pela polifonia presente no dialogismo dos discursos, pode levar ao diálogo. Concluímos que o diálogo, por sua vez, determina a (re)construção das identidades, que gerarão novos diálogos e o fortalecimento da dialogicidade, que poderá determinar novas (re)construções de sentidos, aprendizagens e identidades, e, assim, sucessivamente. Trata-se de um círculo de aprendizagem baseado na troca de experiências, ao qual chamamos de comunidade, que atinge resultados melhores quando possui engajamento por parte dos sujeitos, algo que não pode ser previamente definido no desenho instrucional dos cursos. Porém, o ponto inicial de uma comunidade, engajada ou não, será sempre o objetivo comum de um grupo, que resultará em diálogo. O objetivo comum do grupo que estudamos era dialogar a respeito das questões que envolvem o ensino do Jornalismo On-line. Diálogo este que se efetivou a partir da união de um grupo com interesses comuns. Relatamos os caminhos possíveis para a emergência de uma CVA engajada na medida em que exemplificamos os percursos trilhados pelos sujeitos do caso estudado. Como já nos posicionamos anteriormente, não acreditamos que os resultados aos quais chegamos neste estudo sejam replicáveis para todos os cursos ofertados on-line. Todavia, os resultados podem ser comparados e certamente auxiliarão novas pesquisas na área. Concluímos que encontramos um caso de emergência de CVA Situacional engajada, com vasta gama de construção de sentidos. Contudo, não chegamos a um resultado positivo no que se refere à emergência de CVA Estendida. Ainda assim, acreditamos que a importância do estudo não se torna menor diante de tal fato, uma vez que a aprendizagem proporcionada pelo curso foi exaustivamente exemplificada e, portanto, gera resultados significativos. Acreditamos ainda que a existência de uma CVA Estendida está diretamente ligada ao engajamento e aos interesses do grupo que possibilitará a união de um grupo para o diálogo. E se encontramos os sujeitos de um grupo, que tendem a formar uma CVA Estendida, distantes espacialmente e com um território simbólico não estabelecido para a ocorrência dos diálogos, haverá grandes dificuldades para a emergência dessa CVA. Como reunir um grupo com essas características? É uma pergunta a ser respondida em futuras pesquisas. 1 152 Capítulo 6 1 153 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir de uma perspectiva inovativa, na qual imergimos no espaço social simbólico dos sujeitos, verificamos, nesta pesquisa, os fatores que contribuíram para a emergência de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem engajada. Tal como apontava a hipótese de trabalho, as identidades dos sujeitos, observadas nos seus discursos polifônicos, é que possibilitaram o diálogo, com a finalidade de atender ao objetivo da aprendizagem sobre novos processos editoriais e Jornalismo On-line. Como resultado de nossas análises, notamos que o diálogo produzido é fruto das motivações, valores, crenças e objetivos dos sujeitos da interação. E entre estas motivações, encontramos uma peculiar ansiedade em discutir questões novas na docência do Jornalismo, que agora conta com suportes tão novos e diversos quanto as experiências pelas quais passam esses profissionais. No espaço dialógico, mostrou-se necessário o sentimento de pertencimento, que pode ser notado na intimidade adquirida pelos sujeitos e em seu engajamento. Condições essas essenciais à emergência de uma CVA engajada. Notamos que, em todos os enunciados analisados, as características do grupo social não só contribuem favoravelmente ao diálogo como orientam todo o processo dialógico construído nos fóruns. Não se pretende generalizar os resultados a que chegamos aqui, todavia parece correto afirmar que as experiências sociais vivenciadas face a face ou mediadas pelo computador não apresentam diferenças no que se refere à (re)construção de sentidos sobre determinados temas e, portanto, de identidades. O que definirá a produção dialógica são as experiências sociais, independentemente de o território em que foram vivenciadas ser geográfico ou simbólico, como o virtual. Para exemplificarmos a hipótese de trabalho, buscamos atender aos objetivos específicos traçados. A fim de atender ao primeiro deles, iniciamos a análise de dados identificando a contribuição dada pelas identidades locais ao processo dialógico a partir da polifonia presente nas vozes dos sujeitos. Para atender ao segundo objetivo específico, voltamos nossos esforços para nos aprofundar em uma 1 154 análise sobre as relações estabelecidas e as possíveis diferenças existentes entre as identidades dos docentes jornalistas definidas face a face e virtualmente a partir do engajamento demonstrado pelos sujeitos. Como contribuições das identidades locais, notamos que o poder da linguagem foi exercido no espaço dialógico por meio da performatividade, da citacionalidade e do questionamento. Em diversos momentos da análise, evidenciamos a criação de uma teia discursiva na qual os sujeitos mais engajados (re)construíam sentidos, identidades e aprendizagem. Para atender ao terceiro objetivo traçado, buscamos evidências da (re)construção de sentidos nos debates propiciados no ambiente por meio do diálogo estabelecido. Uma vez exemplificada a construção de sentidos a partir do dialogismo presente nos debates, concluímos que se tratava de um caso de emergência de CVA Situacional engajada. Salienta-se que o papel do mediador, o qual poderia corroborar o processo dialógico, não ficou evidenciado, na medida em que a participação do formador se dá pontualmente nas sessões de chats, em avaliações breves de atividades desenvolvidas e retorno a dúvidas dos cursistas. A partir da primeira conclusão a que chegamos, nos esforçamos em buscar evidências da emergência de uma CVA Estendida. Concluímos que a análise dos dados disponíveis, acrescida de alguns depoimentos dos sujeitos, não apontava para a sua emergência. Porém, a emergência de uma CVA Estendida não foi descartada, uma vez que alguns grupos e duplas de sujeitos ainda se relacionam de alguma forma e possuem um projeto comum, qual seja, a edição dos textos produzidos no curso para o lançamento de um e-book. Enfatizamos que os ex-cursistas do Center Knight não se mostraram engajados na busca de atender tal objetivo. Ao longo deste trabalho, deparamo-nos com diversas questões que podem fomentar novas pesquisas na área. Elencamos aquelas que nos pareceram mais relevantes: • Como emergem as Comunidades Virtuais de Aprendizagem Estendidas? • Como se dá o processo de construção identitária “ficcional” que ocorre em diversos casos em Comunidades Virtuais? • As estratégias pedagógicas utilizadas na educação a distância estão considerando a importância do diálogo e da polifonia na aprendizagem em ambiente virtual? • Como são avaliados os enunciados produzidos pelos e-estudantes? 1 155 • As estratégias pedagógicas levam em conta que cada sujeito tem uma identidade distinta por suas experiências locais, que estas se cruzam nos AVAs e podem ou não se tornarem sujeitos de um diálogo, na formação de CVA? Ou todas essas identidades são abstraídas pela necessidade de homogeneizar os procedimentos pedagógicos? • Que estratégias pedagógicas trabalham os interesses comuns que movem os sujeitos de diferentes locais e os possíveis choques de identidade social e cultural no espaço dos AVAs? • Que estratégias pedagógicas são utilizadas para a construção de rede discursiva e hipertextual que permita a emergência, ou estimule a constituição, de uma CVA? Concluímos que o que se pretende com pesquisas dessa ordem é contribuir para uma prática dialógica mais rica de significados em ambientes virtuais que valorize as identidades sociais e culturais, permitindo, por meio de uma gestão social, a construção de enunciados e, consequentemente, de conhecimento. Práticas pedagógicas que consigam sucesso nesse aspecto contribuirão para preencher as lacunas encontradas no fomento do diálogo, tais como as elencadas no parágrafo anterior, em ambientes virtuais de aprendizagem, com vistas à formação de CVAs e à emergência de CVAs engajadas, e representarão uma inovação para a EaD, respaldada em participação e legitimidade. Cremos que estas e outras questões, bem como o presente estudo, contribuem para as reflexões sobre o ambiente comunitário e a Educação a Distância. Assim, abre-se espaço para novos trabalhos que busquem elucidar os pontos ainda obscuros na aprendizagem on-line. Por fim, trazemos nos Apêndices 1 e 2 um produto desta dissertação. Trata-se de uma proposta de intervenção educacional que possui o objetivo de levar aos interlocutores, profissionais de EaD, sobretudo os responsáveis pelo design instrucional de cursos a distância, um “Manual de Instruções para a Construção de Cursos On-line” que aponta caminhos possíveis para o fomento de Comunidades Virtuais de Aprendizagem (CVAs) mais dialógicas. 1 156 REFERÊNCIAS ABRAEAD - Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. 4. ed. São Paulo: Instituto Monitor, 2008. Disponível em: http://www.abraead.com.br/anuario/anuario_2008.pdf. Acesso em: 21/09/2010. ALVES-MAZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais. São Paulo: Pioneira, 1998, p.147-189. ALVES-MAZOTTI, Alda Judith. Usos e abusos do estudo de caso. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, v. 26, n. 129, set./dez. 2006, p. 637-651. ANDERSON, Chris. A cauda longa. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 2006. ANDRADE, Thales de. 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Profissão/formação Jornalista, mestrando em Engenharia e Gestão do Conhecimento, professor presencial de jornalismo em faculdade de Florianópolis e professor em EaD na Universidade do Texas. Doutora em Jornalismo pela Universidade do Texas. Jornalista, fotógrafo e diretor de audiovisual. Doutor em jornalismo por universidade portuguesa. Professor e pesquisador das relações entre tecnologias e comunicação social, especialmente no jornalismo em duas faculdades privadas do Rio de Janeiro. Jornalista. Mestre em Ciência da Informação. Professor de Jornalismo Digital em faculdade privada de Belo Horizonte. Consultor e produtor de publicações impressas e websites. Jornalista, especialista em Política Internacional. Mestre em Rádio. Outros 35 anos de experiência em rádio, jornais, revistas, televisão e agências de notícias, no Brasil e no exterior. Interesses: comunicação política, comunicação internacional/ transnacional, efeitos da mídia, inclusão social e estudos de audiência. Trabalha para o Knight Center desde sua criação em 2002, e trabalhou em mais de 20 cursos de EaD no Centro, além de trabalhar com o boletim semanal e outras áreas da instituição. Interesses: Comunicação, jornalismo, artes, fotografia e cinema Interesses: jornalismo, literatura, cinema. 16 anos de profissão. Atuou em grandes empresas de 1 185 6 Aparecida 7 Antônio Professor universitário de cursos de Rádio, TV, Propaganda e Jornalismo de universidades paulistas. Maringá, PR, Professora de centro Brasil. universitário do Paraná. Doutora em Comunicação e Semiótica. Coordenadora de Jornalismo da Rádio Universitária do centro universitário em que trabalha, coordenadora de um Grupo de Pesquisa em Comunicação Digital e de uma Especialização em Mídias Digitais. Jornalista da assessoria de comunicação de universidade pública do Paraná. Santarém, Graduado em História. Foi PA, Brasil. consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Especialista em avaliação e gestão de projetos sociais e pesquisador na área de cinema e vídeo. Professor em curso de Comunicação Social em instituição de ensino superior no Pará. 8 Assis Fortaleza, CE, Brasil. 9 Bernardo Campinas, SP, Brasil. Jornalista e designer gráfico. Doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Coordenador de curso de jornalismo em universidade do Ceará. Professor de Jornalismo de universidades do comunicação brasileiras. Interesses: Comunicação, webjornalismo, semiótica. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Teoria Geral da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: inclusão digital, sociedade da informação, história, software livre e sociedade civil. Participa de conselhos de organizações da sociedade civil brasileiras e internacionais e tem publicado artigos e contribuições nos campos de sua atuação. Interesses: jornalismo, design jornalístico, webjornalismo. 1 186 10 Caio 11 Cecília 12 Célia 13 Clarice 14 Darcy 15 Fabiana Vila Velha, ES, Brasil. interior de São Paulo. Jornalista, mestre em História Social das Relações Políticas. Cursa Graduação em Ciências Sociais. Professor em centro universitário do Espírito Santo. Interesses: comunicação, jornalismo, laboratório de jornalismo, sociologia. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: Gêneros Jornalísticos e Laboratório e Teorias da Comunicação. Brasília, DF, Jornalista, Mestre em Interesses: jornalismo Brasil. Comunicação. digital, redes sociais, Coordenadora de curso de participação política na graduação em Jornalismo Internet, arquitetura da e professora de ensino informação, usabilidade. superior em outras duas instituições de Brasília. Coordenadora de agenda cultural eletrônica de Brasília. Frederico Professora de curso de Interesses: Westphalen, jornalismo em Radiojornalismo, RS, Brasil. universidade pública do convergência, rádio Rio Grande do Sul. digital, tecnologias da informação e da comunicação, metodologia da pesquisa em jornalismo, teorias da comunicação e do jornalismo. Curitiba, PR, Professora de Jornalismo Interesses: ensino do Brasil. Digital em universidade jornalismo digital privada do Paraná. Jornalista. Doutora por universidade estrangeira. Itajaí, SC, Jornalista e professor de Brasil. Redação de universidade do interior de Santa Catarina. Goiânia, GO, Jornalista, especialista em Interesses: jornalismo Brasil. História, mestre em ambiental, científico e comunicação por redes sociais, universidade pública de movimentos sociais. Brasília. Professora de Tem experiência na área universidade privada de de Comunicação, com 1 187 Goiás. Integra a Linha de Pesquisa de Comunicação e Cidadania, atualmente pesquisando educação, redes sociais, meio ambiente e Cerrado. ênfase em Comunicação e Política, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino, jornalismo, pesquisa, comunicação, cidadania, espaço público, mídia, política, imagem pública, comunicação política, comunicação e democracia, esfera pública, políticas de comunicação. Interesses: comunicação social, jornalismo, psicologia, sociologia. Trabalhou em diversas mídias (TV, rádio, revista, jornal e web) nos estados de Santa Catarina e Paraná, aficionado por leituras relacionadas ao campo do Jornalismo e da Comunicação. 26 anos de experiência em jornalismo. Atuou como repórter, redator e editor em jornais e televisão. 16 Gabriel São Miguel do Oeste, SC, Brasil. Jornalista, professor em universidade do interior de Santa Catarina. Desenvolveu pesquisas na área de informação multimidiática, educomunicação, jornalismo, memória e identidade. 17 Giovanni Brasília, DF, Brasil. 18 Heloísa Belo Horizonte, MG, Brasil. 19 Horácio Parintins, AM, Brasil. Jornalista, especialista em marketing político. Instrutor de cursos de jornalismo e assessoria de imprensa com foco em novas mídias em Brasília. Consultor de comunicação de instituição de Brasília. Foi coordenadora de cursos de especialização em instituições privadas de Belo Horizonte. Professora de especialização em instituições privadas de Belo Horizonte e de mestrado em Estudos de Linguagens em instituição pública de Belo Horizonte. Sua especialidade é a relação entre linguagens e tecnologias. Jornalista e professor de Interesses: pesquisas universidade pública no sobre mídias digitais e Amazonas. sua relação com a sociedade, 1 188 20 Henrique Itabuna, BA, Brasil. Jornalista, especialista em Políticas Públicas e Projetos Sociais. Mestrando em Cultura e Turismo. 21 Jorge Viçosa, MG, Brasil. Graduado em Comunicação Social, mestre em Letras. Trabalha na Coodenadoria de Comunicação Social de universidade pública do interior de Minas Gerais. 22 José Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 23 Jurandir São Bernardo do Campo, SP, Brasil. Jornalista. Foi professor, chefe do Departamento de Expressão e Linguagens e vice-diretor de instituição de ensino superior. É coordenador de curso de graduação de Comunicação Social e de MBA em universidade privada do Rio de Janeiro. Tem 31 anos. É jornalista e professor universitário. Doutorando em Comunicação Social em Universidade privada de São Paulo. É pesquisador, extensionista e professor efetivo de Universidade pública do Piauí. principalmente os fenômenos ligados a política e a cultura. Interesses: comunicação e cultura; novas tecnologias. Experiência na área da Comunicação, com ênfase em Telejornalismo, em docência superior e em coordenação de equipes e projetos. Interesses: jornalismo, esportes, comunicação institucional. Possui experiência como repórter e editor de TV em importantes emissoras atuando no interior de Minas Gerais. Foi assessor de comunicação e professor de faculdade do interior de Minas Gerais. Diz-se flamenguista, agnóstico, leitor de literatura policial e, apesar dos inúmeros pesares, eternamente jornalista. Interesses: jornalismo digital, telejornalismo, comunicação coorporativa, editoração. Experiência em jornal impresso e TV. Interesses: Discussões e debates sobre comunicação e novas tecnologias. Tem sete anos de experiência em docência do Jornalismo e 12 anos de experiência profissional jornalística, 1 189 24 Lúcia 25 Magda 26 Mariana Guarapuava, Professora de Jornalismo PR, Brasil. em universidade pública em Guarapuava, Paraná. Mestre em História Social e doutoranda em Comunicação. Integra a Equipe Multidisciplinar da Universidade Aberta do Brasil (UAB). --Brasília, DF, Jornalista há 31 anos. Brasil. Professora de jornalismo em universidade pública de Brasília desde 1997. Mestre pela mesma instituição. 27 Mel Maceió, AL, Brasil. Graduada em Letras e em Jornalismo. Mestre em Letras e doutora em Comunicação e Semiótica. Professora de curso de comunicação social em universidade pública de Alagoas. 28 Michel Braga, Portugal. 29 Nina Brasília, DF, Brasil. Doutorando em Ciências da Comunicação. Bolsista (Capes) em Portugal de novembro de 2009 a julho de 2010. Professor do curso de Comunicação Social: Jornalismo em instituição de São Paulo. Professora de Jornalismo em várias disciplinas e pesquisadora de redes sociais, linguagens, atos comunicativos, discursos, senso crítico, ética, dentre outros conhecimentos. Escritora e artista plástica. Blogueira há muitos anos, usa a internet como meio pedagógico, artístico, pessoal e profissional. dos quais nove anos em jornalismo na Internet. Interesses: história, fotografia, jornalismo. -Trabalhou em importantes veículos de comunicação no Brasil. Possui experiência na área de Comunicação, com ênfase em Semiótica, atuando principalmente nos seguintes temas: semiótica, jornalismo digital, jornalismo literário e divulgação científica. Interesses: jornalismo, formação de jornalistas, cidadania, tecnologias Interesses: Filosofia, tecnologias, jornalismo, escrita, literatura, criatividade, internet, redes sociais, comportamento, comunicação, ética, bioética, ciências, periodismo, blog, discursos, artes, jornalismo científico, jornalismo ambiental, 1 190 jornalismo digital. 30 Oscar Curitiba, PR, Brasil. 31 Ricardo Lisboa, Portugal. 32 Rita Blumenau, SC, Brasil. 33 Rosa Campo Grande, MS, Brasil. 34 Sebastião Brasília, DF, Brasil. 35 Sônia 36 Tadeu 37 Thaís Professor de ensino superior em instituição pública do Paraná. Jornalista, formador de jornalismo em imprensa e on-line e consultor editorial. Jornalista e professora. Mestre em instituição pública baiana e doutora em instituição estrangeira. Jornalista e professora de curso de Comunicação Social no Mato Grosso do Sul. Jornalista, mestre em Comunicação Social, professor de jornalismo e publicidade em instituição de ensino superior de Brasília. Participa também da equipe responsável por serviços de novas mídias em banco público brasileiro. Porto Alegre, Formada em Comunicação RS, Brasil. Social, mestre em Cognição e Linguagem. Professora de ensino superior no interior do Rio de Janeiro. Doutoranda em Informática na Educação em instituição gaúcha. Rio de Jornalista, mestre em Janeiro, RJ, Comunicação, foi Brasil. professor em instituições cariocas. Doutorando em Ciência da Informação com pesquisa sobre a cobertura das eleições presidenciais brasileiras por agências e veículos transnacionais a partir de 1989. Belo Jornalista, especialista em Horizonte, Comunicação e Experiência de mais de 20 anos em importantes veículos de comunicação. Alguma vivência no jornalismo profissional. Experiência como repórter, pauteira e editora em jornal, rádio, TV e sites regionais. Interessa-se por jornalismo on-line. Interesses: comunicação multimídia, Jornalismo on-line, redes sociais, mobilidade, didática 2.0. Interesses: informação digital, cobertura política, jornalismo internacional e futebol. Experiência em importantes veículos de comunicação brasileiros. Interesses: jornalismo, educação, comunicação, 1 191 MG, Brasil. 38 Vera 39 Virgínia Tecnologias Digitais, mestre em Educação e Tecnologias. Professora de Jornalismo On-line em instituição privada de Belo Horizonte. João Pessoa, Professora de PB, Brasil. universidade pública da Paraíba. Fortaleza, Mestranda em CE, Brasil. universidade pública bahiana. Professora de Jornalismo de universidade privada de Fortaleza. É mãe. convergência de mídias, tecnologias digitais, modelagem em biscuit. Interesses: Análise do discurso midiático, jornal impresso, novas tecnologias e redes sociais.