O Globo/BR, 01 de outubro de 2010 STF Ficha Limpa: Roriz tentou excluir ministro do STF de julgamento CAPA Ficha Limpa: Roriz tentou excluir ministro do STF de julgamento Página 16 Roriz tentou contratar genro de ministro O PAÍS Gravação mostra que ex-governador do DF negociou com advogado para tentar afastar Ayres Britto de julgamento Jailton de Carvalho e Francisco Leali BRASÍLIA. O ex-governador Joaquim Roriz tentou, no iníciodeste mês,contratar umadvogado queégenro do ministro Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal (STF ),para tentar garantir uma decisão favorável à sua candidatura ao governo do Distrito Federal. A negociação foi registrada em vídeo gravado pelo próprio Roriz. As imagens mostram o candidato se dizendo disposto a pagar pelo serviço que o adSTF.empauta.com vogado Adriano Borges Silva pretendia vender. Preço: R$ 4,5 milhões. Produto: um voto favorável de Britto para Roriz, ou o impedimento do ministro na votação. A negociação garantiria vitória do ex-governador. Adriano é marido e sócio de Adrielle Ayres Britto, filha do ministro, também citada na negociação. O ministro negou participação e disse que, quando soube da tentativa de contratação, orientou o genro a "pular fora" porque se tratava de uma manobra de Roriz. Semana passada, por cinco votos a cinco, o STF pg.2 O Globo/BR, 01 de outubro de 2010 STF Continuação: Roriz tentou contratar genro de ministro não conseguiu decidir se a candidatura de Roriz, impugnada com base na lei da Ficha Limpa, deveria ser mantida. Roriz acabou desistindo da candidatura. Ayres Britto votou contra Roriz. Encontro ocorreu em 3 de setembro Roriz e Adriano se encontram em 3 de setembro, quando o STF se preparava para votar o recurso de Roriz e, assim, decidir se o ex-governador poderia permanecer candidato. O encontro entre Adriano e Roriz foi marcado por Eládio Carneiro, advogado do exgovernador no STF. Às 17h37m, Roriz entrou numa sala, acendeu a luz e se sentou à frente de uma mesa. Adriano o seguiu e iniciou a negociação: - Eu vim aqui mais para trazer essa solução, e o governador é que vai ver o que vai poder me ajudar para contemplar este pessoal (...) Nos outros processos em que eu peguei governador ... Estou trabalhando o (ex-senador) Expedito Junior, o pró-labore foi cobrado um milhão e meio e três no êxito né (...)... Não estou colocando isso como um valor, estou pedindo que o governador me ajude pelo menos a pagar uma parte do meu pessoal que tá trabalhando - pede Adriano. Em outrotrecho, Roriz cobrouagarantia dafutura decisão de Ayres Britto. Naquele momento, a expectativa era que os dez ministros estivessem rachados. Metade entendia que a lei da Ficha Limpa valeria para este ano. Assim, Roriz não poderia ser candidato. A outra metade entendia que a lei só deve ser aplicada nas próximas eleições. Bastaria Ayres Britto se declarar impedido, ou votar contra a lei, para assegurar a vitória de Roriz. STF.empauta.com - Eu gostaria da sinceridade sobre o voto do seu sogro? - cobrou Roriz. - A única coisa que eu tô precisando é que ele não leve. Com isso aí, ele não vai participar. Tá impedido diz Adriano. - Então é o êxito - conclui Roriz. Advogado pediu R$ 1,5 milhão adiantado Roriz afirmou ainda que uma decisão liminar favorável à candidatura já seria suficiente. A conversa se arrastou e, mais uma vez, Adriano pediu R$ 1,5 milhão imediatamente, e mais R$ 3 milhões no fim do processo. O advogado cobrou o pagamento pelo menos quatro vezes. Roriz alegou que estava sem dinheiro e não aceitou pagar adiantado. Adriano disse que iria conversar com a mulher. - Então, vou conversar com a minha sócia. Vou ter que compartilhar a situação com ela, porque a decisão é conjunta. (...) Vai ser um desgaste muito grande. A imprensa vai bater muito. Segundo o advogado Eri Varella, um dos auxiliares de Roriz, o ex-governador nada pagou. Varela disse que hoje entrará com notícia-crime no STF contra Ayres Britto, Adriano e Adrielle. - O que ele (Adriano) estava fazendo era extorsão disse Varela. O País/ 16 pg.3 O Globo/BR, 01 de outubro de 2010 STF (continuação de: Ficha Limpa: Roriz tentou excluir ministro do STF de julgamento) 'Roriz certamente manobrou para me excluir'' O PAÍS CARLOS AYRES BRITTO seu impedimento. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF ) Ayres Britto garantiu ontem que não autorizou seu genro a procurar o ex-governador Joaquim Roriz, nem negociar seu voto. Pelo contrário, afirmou ter aconselhado o advogado a não atuar em processos no STF e que caberá a ele responder por seus atos. AYRES BRITTO: Ele foi negociar uma oferta de trabalho. Adriano me disse que, quando caiu a ficha, entendeu que tinha que cair fora. O GLOBO: O que o senhor tem a dizer sobre o vídeo da conversa de Roriz com seu genro? CARLOS AYRES BRITTO: Vi o vídeo. Fiquei sabendo da notícia há uns 20 dias, de que Roriz tentou montar uma equipe e o Adriano (genro) foi procurado por um advogado de Roriz. Adriano foi à casa de Roriz, mas o contrato não foi assinado. Adriano me falou que o interesse do Roriz era contratá-lo para me impedir de votar. Ele deu sequência à conversa para disfarçar. Na medida que percebeu o que queria, deu sequência para cair fora e não aceitar. É o que o Adriano me disse. No vídeo, Adriano deixa claro que a participação dele garantiria seu impedimento. Adriano fala no preço do trabalho dele. AYRES BRITTO: Mas isso não é o preço do ministro. Roriz já sabia que eu votaria contra. Então, certamente, manobrou para me excluir. O senhor acha eticamente correto seu genro advogar no STF? AYRES BRITTO: Não é ilegal, mas não acho correto. Já disse para ele para não advogar no STF. Mesmo assim, ele foi negociar. AYRES BRITTO: Falei com ele: Adriano você não deveria ter nem cogitado entrar nessa causa. Ele disse que recuou a tempo. É maior e capaz. Responde por seus atos. O seu genro o avisou que queriam contratá-lo? AYRES BRITTO: Não interpretei assim. Seria impossível determinar o meu impedimento. Se ele tivesse aceitado, e se tivesse assinado esse contrato escabroso, eu daria um jeito de permanecer nesse processo. AYRES BRITTO: Ele me falou que estava sendo sondado. Falei: não aceite isso. Mas demorou uns dois dias para voltar e me dizer: desfiz o negócio. Abortei o contrato. Há um trecho em que Adriano fala diretamente no O País/ 16 STF.empauta.com pg.4