DIÁRIO DA PROFESSORA E DO ALUNO DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE NA AÇÃO EDUCATIVA
PORTILHO, Evelise Maria Labatut- PUCPR
[email protected]
CRUZ, Juliana Boff Aramayo - PUCPR
[email protected]
AFONSO, Maria Gabriela Zgôda Cordeiro- PUCPR
[email protected]
SILVA, Thalita Folmann da- PUCPR
[email protected]
Eixo Temático: Educação Infantil
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
A pesquisa “Aprendizagem e Conhecimento na Ação Educativa” iniciou uma nova etapa em
2009, focando o papel profissional da professora da Educação Infantil e sua percepção pessoal
enquanto educadora na construção do conhecimento, para transformar, qualitativamente, a
relação educativa entre professora/aluno. Na Educação Infantil a criança inicia a
sistematização do conhecimento e, portanto, necessita de um profissional habilitado a
potencializar a sua capacidade de aprendizagem e desenvolvimento. O objetivo desse artigo é
apresentar o Diário de Aula como instrumento de pesquisa de professoras e alunos da
Educação Infantil. Zabalza (2004), Claxton (2005), Cerisara (1999), Barbosa (2009) são
alguns dos autores que fundamentam a investigação. Os participantes da pesquisa foram 3
professoras e 50 alunos entre 3 e 6 anos, de duas escolas particulares da cidade de Curitiba.
Os resultados indicaram a necessidade de realinhar os instrumentos, com destaque ao local do
registro da professora no diário do aluno; o tempo e o número de vezes em que o diário do
aluno deve ser aplicado; a formatação e o espaço da folha do diário do aluno; e a definição
das consignas. Foi possível constatar a eficiência e efetividade dos diários, tanto do aluno
quanto da professora, como instrumentos que permitem expressar e refletir o processo de
aprender, além de oportunizar à docente de Educação Infantil, sentir-se pesquisadora de sua
realidade.
Palavras-chave: Aprendizagem. Diários de aula. Professora de Educação Infantil. Professor
Pesquisador.
Contextualização da Pesquisa
3331
Com o objetivo de conhecer as estratégias de aprendizagem da criança em processo de
alfabetização, iniciou-se em 2005 uma pesquisa denominada “Aprendizagem e Conhecimento
na Formação Docente”
1
, que tinha como metas: a) diferenciar as modalidades de
aprendizagem das crianças de 1ª etapa do ciclo I com históricos escolares distintos; b)
conhecer os diferentes estilos de ensinar das professoras alfabetizadoras e relacioná-los com
os estilos de aprendizagem dos alunos; c) observar o ambiente escolar, especificamente a sala
de aula.
Ao analisar o histórico escolar das crianças pesquisadas observou-se que a maioria já
havia frequentado creches, CEMEIS (Centro Municipal de Educação Infantil), centros e
escolas de Educação Infantil, como demonstra o gráfico 1:
Histórico escolar dos alunos da 1ª série do
Ensino Fundamental
A. Sem escolaridade
Anterior
13%
14%
B: CMEI + etapa inicial
na escola
17%
C: (c) CMEI + Jardim III
no CMEI
D: Esducação Infantil
Particular
27%
11%
18%
E: Etapa Inicial na
Escola
Sem dados
Gráfico 1 – Histórico escolar dos alunos da 1ª série do Ensino Fundamental
Fonte: Dados da Pesquisa Aprendizagem e Conhecimento na Formação Docente.
Das 403 crianças, 13% não possuíam escolaridade anterior. Dito de outra forma, a
maioria das crianças que cursavam a 1ª Etapa do Ciclo I do Ensino Fundamental, tinha
frequentado a Educação Infantil. No entanto, não foi identificada diferença significativa na
utilização de estratégias de aprendizagem entre as crianças que cursaram a Educação Infantil e
as que estavam na escola pela primeira vez.
A partir deste dado, surgem as questões: por que as crianças que frequentaram a
Educação Infantil não apresentaram diferença nas estratégias de aprendizagem no processo de
alfabetização em comparação com aquelas que ingressaram direto no Ensino Fundamental?
Qual tem sido a prioridade na Educação Infantil: cuidar e/ou sistematizar o conhecimento?
Qual o papel da professora de Educação Infantil na aprendizagem das crianças?
1
Publicação no prelo. O resumo pode ser encontrado no site do CNPQ-Plataforma Lattes.
3332
Foi então que, a partir desses questionamentos, surgiu no final de 2008, o interesse do
grupo em desenvolver uma nova etapa da pesquisa com enfoque na Educação Infantil, seus
alunos, professores e o movimento de ensino/aprendizagem que ocorre nesse segmento.
As escolas selecionadas pertencem a um município do Estado do Paraná, sendo duas
da rede privada e duas da rede pública. Nestas escolas os participantes são as professoras que
atuam com crianças de três a seis anos, bem como seus respectivos alunos e a comunidade
escolar: pais e funcionários.
A pesquisa tem como objetivo identificar o papel profissional e social da professora de
Educação Infantil, sua percepção pessoal como educadora na construção do conhecimento e a
representação social que a comunidade escolar faz de seu trabalho e ela faz de si mesma.
Como instrumentos de investigação foram selecionados questionários, entrevistas
semi-estruturadas, observação do ambiente educativo e diários de aula.
Este artigo relata a elaboração dos diários das professoras e dos alunos, suas
contribuições, dificuldades e alterações necessárias para a utilização do instrumento na
pesquisa.
Como questões norteadoras desta fase da pesquisa, destacam-se: os diários de aula são
instrumentos adequados a uma investigação científica no âmbito da Educação Infantil? O
desenho utilizado no diário dos alunos é um meio eficaz de verificação da aprendizagem?
Quais critérios de análise podem ser identificados com a aplicação dos diários de aula?
Professor da Educação Infantil
O professor de Educação Infantil necessita mais do que nunca ressignificar seu papel
frente à sociedade acadêmica, desmistificando a velha máxima que
professora
de
crianças de zero a seis anos são meras cuidadoras e que o papel de ensinar destina-se aos
demais professores.
Em face das transformações que a Educação Infantil vem sofrendo, principalmente a
partir da década de 1970, quando aumentou o número de estudos e pesquisas nessa área, de
acordo com Sousa (1996), sabe-se que há inúmeras discussões a respeito da dimensão do
educar e cuidar na Educação Infantil.
Para atender as necessidades infantis, essas duas dimensões precisam aliar-se, como
relatado por Bujes no documento organizado pelo Movimento Interfóruns de Educação
Infantil do Brasil (2002)
3333
a educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos
complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária,
como sabemos têm necessidades de atenção, carinho, segurança, sem as quais elas
dificilmente poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam
contato com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com as pessoas e
as coisas deste mundo e com as formas de expressão que nele ocorrem. Esta
inserção das crianças no mundo não seria possível sem que atividades voltadas
simultaneamente para cuidar e educar estivessem presentes. O que se tem verificado,
na prática, é que tanto os cuidados como a educação têm sido entendidos de forma
muito estreita (p. 115).
Percebe-se na Educação Infantil, um caráter “assistencialista”, muitas vezes restrito ao
cuidado em relação às necessidades básicas da criança, como higiene e alimentação. É
necessário aliar os aspectos educacionais e assistenciais, ou seja, aliar o educar e o cuidar.
Cerisara (1999) afirma que toda instituição social cumpre a tarefa de educar. As
instituições de Educação Infantil têm o desafio de educar e cuidar, sem dicotomizar esses dois
aspectos, uma vez que a formação da identidade e personalidade da criança nos primeiros seis
anos de vida torna a Educação Infantil relevante para a aprendizagem das crianças.
E, se a Educação Infantil, interfere e fundamenta a aprendizagem e a educação de cada
ser humano, pergunta-se: que tipo de profissional é necessário para promover situações de
aprendizagem sistemáticas e fundamentais para a formação do sujeito?
Faz-se mister repensar o papel do profissional que atua com crianças da Educação
Infantil, pois estes, como afirma Nicolau (1990) podem “estimular ou bloquear as buscas
infantis”, bem como podem considerar “as tentativas infantis como erros ou como parte de
um processo construtivo” (p.209). Dessa forma, a competência do professor é condição
essencial para a qualidade educativa na Educação Infantil. Portanto, este professor, para que
possa criar situações adequadas de trabalho, além de conhecer as etapas do desenvolvimento
da criança, necessita ter noções de como esta constrói o conhecimento, precisa ser um
pesquisador em contínuo processo de atualização, conforme afirma Sousa (1999).
O desenho da criança como forma de registro na Educação Infantil
A Educação Infantil é o segmento da educação básica destinada a atender crianças de
zero a seis anos de idade. As instituições que atendem essa faixa etária são instituições que
atuam de uma forma diferente dos demais centros educacionais, uma vez que seus alunos
estão aprendendo a conhecer, experimentar, lidar com suas emoções, sentimentos, frustrações,
ou seja, estão aprendendo a formar suas opiniões acerca do mundo que os rodeiam. Essa
3334
instituição tem também a função de desenvolver os aspectos físico, psicológico, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade.
Neste segmento de ensino, o aprender ocorre de forma lúdica que, segundo Weiss
(2002), significa: “(...) processo de jogar, brincar, representar e dramatizar como condutas
semelhantes na vida infantil” (p.71). Essas atividades lúdicas ocorrem na Educação Infantil
por meio das brincadeiras direcionadas e também das brincadeiras livres. Segundo Barbosa no
livro organizado por Parolin (2009),
Principalmente na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a
brincadeira precisa ser verdadeiramente brincadeira, pois auxilia na formação da
imaginação e no repertório simbólico, tão importante para aprendizagens futuras,
como a linguagem escrita e tantas outras linguagens existentes em nosso mundo (p.
111).
Na Educação Infantil, as crianças se convertem em sujeitos ativos do processo de
aprendizagem quando despertadas para o prazer e a responsabilidade de aprender. Essa atitude
participativa é o ponto de partida indispensável para a capacidade de pensar, discriminar,
cooperar e ter a habilidade de se adaptar às novas exigências do grupo e do meio.
Por acreditar em tais afirmações, buscou-se criar para a criança um instrumento que
respeitasse essas características das fases de aprendizagem e também que possibilitasse a cada
uma delas registrar seus conhecimentos de forma espontânea. Por esse motivo o registro no
diário do aluno será realizado por meio de desenhos, uma vez que esse recurso é o início do
processo de registro escrito, no qual a criança exprime suas aprendizagens e apresenta algo
significativo desse momento de descobertas.
Na testagem prévia com 50 crianças de Educação Infantil, escolhidas aleatoriamente
em duas escolas, pode-se perceber desenhos desde a fase da garatuja até o desenho
estruturado que indica diferentes fases do desenvolvimento infantil, conforme as imagens
abaixo:
Criança de 4 anos
Criança de 3 anos
Criança de 5 anos
Ilustração 1 - Diário dos Alunos (crianças de 3, 4 e 5 anos)
Fonte: Imagens obtidas do diário das crianças.
3335
Esse desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas desde
a passagem dos rabiscos iniciais, ou seja, da garatuja (a ação sobre a superfície do papel,
podendo ser desordenada ou ordenada) para construções cada vez mais elaboradas dos
primeiros símbolos que podem ser formas definidas que apresentam maior ordenação e
podem estar se referindo a situações de aprendizagem concretas em sala de aula.
Diário da professora e do aluno
Em diferentes escolas de Educação Infantil é possível encontrar professores que
realizam um registro diário das atividades, bem como do desenvolvimento dos alunos nas
situações propostas. Esses registros possibilitam ao professor refletir sobre sua prática
pedagógica, sobre a aprendizagem dos alunos, avaliá-los e autoavaliar-se.
Zabalza (2004) desenvolveu uma pesquisa em que os professores foram convidados a
registrarem o cotidiano escolar. Ao analisar os registros nos diários, ele caracterizou os
diferentes relatos, observou a relevância desse instrumento para o desenvolvimento de
pesquisas educacionais, sugerindo que o Diário de Aula seja aplicado com os alunos, entre
outros aspectos.
O registro da ação docente e discente nos diários contribui para promover a
participação reflexiva da professora de Educação Infantil enquanto agente produtor de
conhecimento e pesquisadora; conhecer o seu processo de aprendizagem; reconhecer a
importância da formação e atuação reflexiva para a formação de um aluno com autoria de
pensamento.
Segundo Zabalza (2004), o registro no Diário é um instrumento de pesquisa
importante, pois
escrever sobre o que estamos fazendo como profissional (em aula ou em outros
contextos) é um procedimento excelente para nos conscientizarmos de nossos
padrões de trabalho. É uma forma de “distanciamento” reflexivo que nos permite ver
em perspectiva nosso modo particular de atuar. É, além disso, uma forma de
aprender (p. 10).
Numa nova cultura de aprendizagem, o professor não mais ensina. Ele é quem ensina
e quem aprende. O uso do Diário de Aula como instrumento de pesquisa cria uma
3336
oportunidade do professor tornar-se um sujeito reflexivo, um pesquisador de sua prática. Ao
registrar e analisar o diário, a professora tem a possibilidade de rever sua ação em sala de
aula, bem como perceber, por meio do diário do aluno, se o tema trabalhado foi significativo e
propiciou uma aprendizagem significativa para a criança.
Desta forma, o professor tem a oportunidade de tomar consciência de sua ação,
observar, a partir do relato feito no seu diário, a presença de aspectos como: atitudes dos
alunos, atividades desenvolvidas, desafios encontrados, conquistas realizadas, entre outras
possibilidades.
Aplicação dos diários
Para que fosse possível observar a consistência e adequação do diário como
instrumento de pesquisa, foram selecionadas duas escolas particulares, 3 professoras e 50
alunos de 3 a 6 anos.
Ao final de um dia de atividades, cada criança foi convidada a registrar no Diário do
Aluno, por meio de desenho, o que a professora ensinou durante o período de aula e o que ele
aprendeu. Quando necessário, as crianças participavam oralmente, com os relatos sobre seus
desenhos. O comentário de cada criança foi registrado pela professora.
Além da professora oportunizar um momento para a aplicação do Diário do Aluno,
também sua participação foi importante quando registrou seu cotidiano. Ao relatar sua
vivência no Diário, envolveu-se como pesquisadora e não somente como sujeito pesquisado.
No diário, a professora relatou as atividades desenvolvidas, o encaminhamento das
mesmas, o desenvolvimento das crianças, entre outros aspectos que julgou importante
abordar. As professoras elencaram os elementos relevantes de sua prática e os organizaram
com autonomia, sem intervenção ou sugestão.
Na primeira escola, durante a semana em que foram aplicados os diários, as crianças
estavam envolvidas num projeto bimestral que tinha como tema a “Era dos Dinossauros”.
Abaixo podemos observar o relato descrito no Diário da Professora da turma:
A aula sobre os dinossauros foi iniciada com uma conversa para perceber quais
conhecimentos as crianças já possuíam sobre o assunto. Para então aprofundar.
Tínhamos por objetivos levar os alunos a perceberem as teorias sobre a extinção, o
habitat, a alimentação, tamanho, como era o planeta na época dos dinossauros e
como eles viviam. Para isso utilizamos diferentes recursos e estratégias, tais como:
vídeos, cartazes, livros, revistas, modelagem com argila e jornal.
Professora de crianças de 5 e 6 anos
3337
O depoimento acima vem de encontro com alguns dos pontos salientados no
Documento Introdutório do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998),
tais como
para que as aprendizagens infantis ocorram com sucesso, é preciso que o professor
considere, na organização do trabalho educativo os conhecimentos prévios de
qualquer natureza, que as crianças já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem
por meio de uma construção interna ao relacionar suas idéias com as novas
informações de que dispõem e com as interações que estabelece (p.30).
O referendado acima se relaciona com a proposta da professora, quando a mesma parte
dos conhecimentos prévios das crianças acerca do tema, para iniciar o trabalho.
Claxton (2005) cita estudos realizados com crianças desde o nascimento até os nove
anos, examinando a relação entre as primeiras experiências e suas posteriores disposições ou
competências para aprendizagem. O aspecto de melhor prognóstico foi a qualidade das
interações que tiveram com os pais, e mais fortemente com seus cuidadores e professores de
pré-escola. Assim, enfatiza-se a relevância da atuação do professor nessa etapa da
escolarização, bem como a importância do seu papel de pesquisador contínuo.
Quando as crianças fizeram o registro no Diário do Aluno foi visível o interesse
demonstrado ao aprenderem sobre as teorias que abordam a extinção dos dinossauros. Os
comentários das crianças e os desenhos justificaram que o momento foi significativo,
provocou os aprendizes e permitiu a aquisição de novos conhecimentos, num clima de
descontração, conforme observado no desenho retirado do diário dos alunos de 5 e 6 anos.
Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6
Ilustração 2 - Diário dos Alunos (crianças de 5 e 6 anos)
Fonte: Imagens obtidas no teste do Diário do Aluno.
3338
Além de registrar os conhecimentos adquiridos sobre os dinossauros, as crianças
conseguiram registrar, ordenar e sistematizar os conhecimentos que foram mais significativos
na sua aprendizagem, possibilitando à professora uma constatação das aprendizagens
ocorridas ao longo do desenvolvimento do projeto.
A esse respeito, a professora de sala comentou em uma conversa informal com uma
das pesquisadoras
O interesse das crianças pelo tema dinossauros me possibilitou trabalhar com
assuntos atuais, como por exemplo: a extinção dos dinossauros é um fato, mas o
perigo que alguns animais do tempo deles correm em se tornarem instintos está
despertando um novo tema que é a preservação da natureza, a responsabilidade que
cada um deles tem para com o planeta Terra. Ainda pode agregar os trabalhos às
disciplinas de matemática, linguagem, natureza e sociedade.
Professora de crianças de 5 e 6 anos
Em outra escola, com crianças de 4 e 5 anos, a aplicação dos diários ocorreu durante a
realização do projeto “Ruas e Quadras”, além de outros temas abordados. Na Ilustração 2, é
possível observar a relação entre o projeto desenvolvido na semana e os demais conteúdos
trabalhados.
Quadro 01
Quadro 02
Quadro 03
Quadro 04
Ilustração 3 - Diário dos Alunos (crianças de 4 e 5 anos)
Fonte: Imagens obtidas no teste do diário das crianças.
Segundo o relato da professora em seu diário:
3339
Neste projeto “ruas e quadras”, pretendo delimitar o que é quadra e os “tipos” de
quadras existentes. O que é uma rua? Como devemos atravessar? Quais são os
sinais de trânsito que encontramos? Quem pode trafegar na rua? Em relação à
quadra, o que será uma quadra? Na quadra existe o quê? Quadras com lojas,
shopping e vendas são comerciais. Quadras com casas e prédios são residenciais. A
partir da conversa com os alunos fui ampliando as questões acima, a partir das
ideias que eles tinham a esse respeito. Após os questionamentos e colocações das
crianças e da professora, na própria sala foi feito com fita crepe no chão uma
simulação de ruas e quadras. Cada criança recebeu uma caixa de sabonete e
determinou o significado dela (carros, prédios, hospitais, farmácias...), em seguida
cada um falou o que havia imaginado e colocou no esquema localizado no chão.
Voltamos à conversa, e então determinamos se era uma quadra comercial,
residencial.... Por último fizemos uma atividade no papel, na qual os alunos tinham
um desenho de ruas e quadras e deveriam pintar somente as quadras com lápis de
cor.
Professora de crianças de 4 e 5 anos
O relato proferido pela professora remete a aspectos da aprendizagem construtiva
abordada por diferentes autores, dentre eles, Pozo (2002), que descreve a importância do
conhecimento prévio do aprendiz.
Ainda em conversa informal de uma pesquisadora com a professora, esta comenta que
O trabalho com as vogais iniciou em abril e as crianças fazem diariamente
atividades sensoriais, passando o dedo indicador na lixa que tem a forma de cada
letra cursiva; fazem uma atividade denominada “análise do som”, na qual a criança
procura em revistas figuras que tenha em seu nome o som da vogal trabalhada por
cada aluno e trabalham a escrita da vogal cursiva no quadro de giz. Os alunos ficam
muito entusiasmados, e como estão iniciando o processo de identificação das
vogais nas palavras, normalmente, para identificar se tem ou não a vogal que
procuram na palavra, pronunciam os sons de forma bem definida, como exemplo:
co-mi-dAAA.
Professora de crianças de 4 e 5 anos
Em diversos diários, entre os desenhos, apareceu a escrita de algumas vogais. Percebese assim que a aprendizagem das vogais está muito presente nos registros das crianças,
apresentando-se como conteúdo relevante que vem sendo trabalhado desde o início do ano e
permanece como foco da aprendizagem.
Nessa etapa da pesquisa foi possível constatar a eficiência e efetividade dos diários,
tanto do aluno quanto da professora, como instrumento para obtenção de dados a respeito da
aprendizagem de alunos e a reflexão do trabalho desenvolvido pela professora de Educação
Infantil, tornando-se pesquisadora de sua realidade. A este respeito Zabalza (2004, p. 26)
aponta “não menos importante nesse uso do diário como recurso de pesquisa é o próprio fato
3340
de que torna os que o escrevem (professores, alunos, colaboradores, estagiários, etc.) em
pesquisadores”.
O uso deste instrumento transforma os sujeitos participantes em investigadores da
realidade em que estão inseridos e possibilita que a pesquisa científica contribua para a
aprendizagem dos envolvidos, sejam eles pesquisadores, professores ou alunos. A reflexão
oportunizada pelo instrumento favorece uma aprendizagem significativa, bem como oferece
subsídios para possíveis transformações na prática pedagógica.
Conclusão
A aplicação dos Diários da Professora e dos Alunos possibilitou ao grupo de
pesquisadores algumas reflexões. Ao aplicar o diário com crianças de três anos, percebeu-se
que os desenhos, na sua maioria, encontravam-se na fase de garatuja, necessitando de um
registro escrito da professora, sinalizando a representação do desenho do aluno. Dessa forma,
ficou definido que as anotações da professora acerca do desenho infantil devem ocorrer no
verso da folha para não interferir na produção do aluno.
Também, foi decidido que a aplicação do instrumento deve acontecer em três
momentos distintos: início, meio e término de um novo conteúdo. A aplicação em períodos
diferenciados permite acompanhar a aprendizagem das crianças e da professora, valorizar a
aprendizagem como processo e não apenas resultado de um único momento.
Outra alteração realizada no Diário do Aluno refere-se à disposição do papel durante
as três aplicações, ou seja, na primeira a folha deve estar na vertical e os quadros para
desenhos dispostos na horizontal. Na segunda aplicação a folha deve estar posicionada na
horizontal e os quadros para o desenho, na vertical. Na última etapa da aplicação as crianças
recebem duas folhas em branco, nas quais devem realizar os desenhos com o papel disposto
da maneira que preferirem. As diferentes posições do papel têm como objetivo observar como
as crianças fazem seus registros nessas situações, em espaços diferenciados, e assim verificar
se este aspecto interfere de alguma forma nas representações gráficas da criança.
Na aplicação dos instrumentos, é importante a utilização de uma consigna única,
ficando estabelecido que, nos Diários dos Alunos, os títulos dos registros serão: “O que a
professora me ensinou” e “O que eu aprendi”.
O diário da professora permanece sem nenhuma alteração, visto que responde à sua
finalidade. Desta forma, verifica-se que a ferramenta do diário permite a quem registra, seja
3341
aluno ou professora, apresentar o que lhe é significativo, bem como expressar e refletir o seu
processo de aprender.
A reflexão oportunizada pela aplicação dos Diários de Aula contribuiu para a
reestruturação dos instrumentos e revisão dos objetivos e procedimentos da pesquisa, que terá
uma nova etapa no segundo semestre de 2009.
REFERÊNCIAS
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Perspectiva. Revista do Centro de Ciências da Educação. Florianópolis: UFSC, v.17, n.
Especial.
CLAXTON, G.; tradução LOPES, M. F. O desafio de aprender ao longo da vida. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
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Brasil. Campo Grande: UFMS, 2002.
KRAMER, Sonia. Criança e legislação – a educação de 0 a 6 anos”. Em Aberto. Brasília:
INEP/MEC, ano 7, n. 38, p. 33-38, abril/junho 1998.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, SECRETARIA DE EDUCAÇAO
FUNDAMENTAL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília:
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NICOLAU, M.L.M. Textos básicos de Educação Pré-escolar. São Paulo: Ática, 1990.
PAROLIN, Isabel (org). Sou Professor!: a formação do professor formador. Curitiba: Ed.
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POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres. Porto Alegre: Artmed, 2002.
SOUSA, A. M. C. de. Educação infantil: Uma proposta de gestão municipal. Campinas:
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WEISS, M. L. Psicopedagogia clínica: uma visão dos problemas de aprendizagem escolar.
Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
ZABALZA, M. A.; trad. ROSA, E. Diários de Aula: um instrumento de pesquisa e
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diário da professora e do aluno da educação infantil