TENDÊNCIAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA OS ESTADOS DO RN E PB E SUAS RELAÇÕES COM A TSM DO ATLÂNTICO E PACÍFICO 1 Carlos Antônio Costa dos Santos; 2 José Ivaldo Barbosa de Brito RESUMO: O objetivo deste trabalho é estimar e verificar a tendência de índices de detecção de mudanças climáticas, dependentes da precipitação pluvial diária, definidos pela OMM, para os estados do Rio Grande do Norte e Paraíba e analisar suas relações com as anomalias de TSM nas regiões de Niño 1+2, Niño 3, TNA e TSA. Utilizou-se dados diários de 44 postos pluviométricos, os quais apresentaram dados com qualidade confiável e representam todas as microrregiões dos dois Estados, os dados das anomalias de TSM obtidos através da NOAA. Os resultados obtidos mostram que as tendências dos DCS estão melhores correlacionadas com as condições do Oceano Atlântico, enquanto os índices de precipitações extremas (R95p e Rx5day) mostraram correlações significantes com o Pacífico e com o Atlântico. ABSTRACT: The objective of this work is esteem and to verify the trend of indices of detention of climatic change, dependent of the daily pluvial precipitation, defined for the OMM, for the states of the Rio Grande do Norte and Paraíba and to analyze its relations with the anomalies of TSM in the regions of Niño 1 2, Niño 3, TNA and TSA. It was used given data daily of 44 ranks, which had presented given with trustworthy quality and represent all the microregions of the two States, the data of the anomalies of TSM gotten through the NOAA. The gotten results show that the trends of the DCS better are correlated with the conditions of the Atlantic Ocean, while the extreme precipitation indices (R95p and Rx5day) had shown significant correlations with the Pacific and the Atlantic. Palavras-chaves: TSM, mudanças climáticas, semi-árido. 1 Doutorando em Meteorologia - Universidade Federal de Campina Grande, Avenida Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande – PB, Brasil, CEP: 58.19-970 e-mail: [email protected] 2 Professor de Meteorologia - Universidade Federal de Campina Grande, Avenida Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande – PB, Brasil, CEP: 58.19-970 e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Segundo Ghini (2005) o vapor de água, CO2, O3, CH4, N2O entre outros gases presentes na atmosfera retêm parcialmente a radiação térmica que é emitida quando a radiação solar atinge a superfície da Terra. Assim, parte da energia recebida é mantida, promovendo o aquecimento do planeta, e parte volta para o espaço. Dessa forma, tais gases de ocorrência natural, que absorvem raios infravermelhos, são considerados de “efeito estufa. Santos (2006) afirma que quando se fala em mudança climática e em aquecimento global, refere-se ao incremento, além do nível normal, da capacidade da atmosfera em reter calor. Isto vem acontecendo devido a um progressivo aumento na concentração dos GEE na atmosfera nos últimos 100 anos. O IPCC (2001) afirma que a temperatura média global deverá aumentar como resultado do aumento da concentração de GEE na atmosfera. O clima do nordeste tem sua variabilidade associada a padrões de variação em escala planetária. Estes padrões de variação estão associados ao comportamento dos oceanos Atlântico e Pacífico. Conforme Tucci (2003), no Pacífico um dos fenômenos responsáveis por maiores anomalias climáticas ao longo do globo é o ENOS (El Nino Oscilação Sul). Ainda de acordo com Tucci (2003), no Atlântico, nos meses do outono austral, março-abril-maio, período coincidente com a estação chuvosa do setor norte do NEB, o modo de variabilidade oceano-atmosfera de grande escala dominante sobre a Bacia do Atlântico Tropical é o conhecido Padrão do Dipolo do Atlântico, que é o principal sistema meteorológico indutor de chuvas na região do semi-árido no período da estação chuvosa. No clima em escala regional observa-se que os fatores que podem modificá-lo são o desflorestamento e o mau uso dos ecossistemas. Alterando o clima regional e influenciando o sistema global. Em áreas de ecossistemas frágeis e vulneráveis, como o semi-árido, as mudanças climáticas mais drásticas podem ocorrer através da soma das ações produzidas pelos GEE com o mau uso e desflorestamento dos ecossistemas locais (Santos, 2006). Em geral, as mudanças climáticas locais são mediadas por meio de análise de séries históricas de variáveis meteorológicas, a exemplo da temperatura do ar e precipitação pluvial. De acordo com as tendências dessas variáveis para um determinado local é observado se ocorreram mudanças no clima. Em regiões como o Nordeste do Brasil (NEB), principalmente no semi-árido, a precipitação é uma variável determinante das condições do clima local, bem como, da sua variabilidade e de mudança a longo prazo. Portanto, o presente trabalho tem como objetivos determinar índices de detecção de mudanças climáticas para os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, usando dados diários de precipitação, conforme orientação da Organização Meteorológica Mundial (Zhang e Yang, 2004), como também, verificar as correlações entre as possíveis mudanças climáticas e as anomalias de TSM nas regiões de Niño 1+2 e Niño 3, no Pacífico, assim como, nas regiões de TNA a TSA, no Atlântico. Para essa correlação utilizou-se apenas os quatro índices de detecção de mudanças climáticas, dependentes da precipitação pluvial, mais significantes para o Semi-Árido, são eles: DCS (dias consecutivos secos), DCU (dias consecutivos úmidos), R95p (dias muito úmidos) e Rx5day (quantidade máxima de precipitação em cinco dias consecutivos). MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizados dados de precipitação total diário de 44 postos pluviométricos oriundos da antiga rede de postos pluviométricos da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e dos Núcleos Estaduais de Meteorologia e Recursos Hídricos. Para o processamento e homogeneização dos dados foi utilizado o software RClimdex 1.9.1 (CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY, 2004). Dessa forma, estimou-se os índices de detecção de mudanças climáticas, dependentes da precipitação diária, produzidos pelo RClimdex utilizados nesse trabalho. Esses índices são séries temporais calculadas pelo método de regressão dos mínimos quadrados. Essas estatísticas são apresentadas em números e em gráficos, o que facilita a identificação de possíveis mudanças climáticas, com o associado grau de confiabilidade. As correlações lineares foram feitas aplicando o teste-t de Student, para analisar as significâncias estatísticas de cada uma delas. Utilizando-se somente os três maiores níveis de significância, t95 que corresponde a uma significância estatística de 90%, t97,5 (95%) e t99,5 (99%). Os dados das anomalias de temperatura nas regiões de Niño 1+2, Niño 3, TNA e TSA foram obtidos através do website da NOAA (www.cdc.noaa.gov/ClimateIndices/). RESULTADOS E DISCUSSÕES O índice DCS não demonstrou correlação, com significância estatística igual ou superior a 90%, com as regiões do Pacífico. Entretanto, demonstrou correlações estatisticamente significantes, para regiões do Atlântico, mostrando que as tendências dos DCS estão melhores correlacionadas às condições do Atlântico Tropical Norte (95% de significância) e Sul (90% de significância). O índice DCU não demonstrou correlação com significância estatística. Na Tabela 1, os índices que representam os extremos de chuva, R95p e Rx5day, mostraram fortes correlações com as do Pacífico e com a região TNA, do Atlântico, mostrando que os extremos de chuva da região estudada podem ser explicados pelas anomalias de TSM nas regiões especificadas, como exemplo, o ENOS, que segundo Moura et al. (2000), tem grande influência sobre o clima de diversas partes do Globo, incluindo o Oceano Atlântico Tropical e o NEB. As Figuras 1 a 8, representam as variabilidades temporais dos índices e das regiões dos Oceanos Atlântico e Pacífico com significâncias estatísticas dentro dos limites apresentados na Tabela 1. Essas figuras mostram que um aumento na anomalia positiva da TSM do Atlântico Tropical Norte contribui para o aumento do número de DCS, que um aumento nas anomalias positivas na TSM do Oceano Pacífico Equatorial inibe a formação de chuvas sobre o norte do NEB, concordando com Moura et al. (2000). Tabela 1: Correlações entre os índices extremos de chuva e as anomalias de TSM. (*) Significância estatística de 90%, (**) 95% e (***) 99%. DCS DCU Niño 1+2 Niño 3 TNAI 0,266** TSAI -0,225* R95p 0,408*** 0,382*** 0,394*** 200 1.000 150 0.500 100 0.000 50 -0.500 0 -1.000 TNAI DCS (dias) DCS e TNAI 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO DCS TNAI Figura 1: Variabilidade temporal dos índices DCS e TNA, (r = 0,266). 200 1.00 150 0.50 100 0.00 50 -0.50 0 -1.00 TSAI DCS (dias) DCS e TSAI 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO DCS TSAI Figura 2: Variabilidade temporal dos índices DCS e TSA, (r = -0,225). 500.0 400.0 300.0 200.0 100.0 0.0 3.00 2.00 1.00 0.00 -1.00 -2.00 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO R95p NIÑO 1+2 Figura 3: Variabilidade temporal dos índices R95p e Niño 1+2, (r = -0,408). NIÑO 1+2 R95p (mm) R95p e NIÑO 1+2 Rx5day -0,340 ** 0,291** -0,231* 500.0 400.0 300.0 200.0 100.0 0.0 2.00 1.00 0.00 -1.00 NIÑO 3 R95p (mm) R95p e NIÑO 3 -2.00 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO R95p NIÑO 3 Figura 4: Variabilidade temporal dos índices R95p e Niño 3, (r = -0,382). 500.0 400.0 300.0 200.0 100.0 0.0 1.000 0.500 0.000 TNAI R95p (mm) R95p e TNAI -0.500 -1.000 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO R95p TNAI Figura 5: Variabilidade temporal dos índices R95p e TNA, (r = -0,394). 3.00 2.00 1.00 0.00 -1.00 -2.00 250.0 200.0 150.0 100.0 50.0 0.0 NIÑO 1+2 Rx5dias (mm) Rx5dias e NIÑO 1+2 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO Rx5dias NIÑO 1+2 Figura 6: Variabilidade temporal dos índices Rx5day e Niño 1+2, (r = -0,340). 250.0 200.0 150.0 100.0 50.0 0.0 2.00 1.00 0.00 -1.00 -2.00 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO Rx5dias NIÑO 3 Figura 7: Variabilidade temporal dos índices Rx5day e Niño 3, (r = -0,291). NIÑO 3 Rx5dias (mm) Rx5dias e NIÑO 3 1.000 250.0 200.0 150.0 100.0 50.0 0.0 0.500 0.000 TNAI Rx5dias (mm) Rx5dias e TNAI -0.500 -1.000 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970 1968 1966 1964 1962 1960 1958 1956 1954 1952 1950 ANO Rx5dias TNAI Figura 8: Variabilidade temporal dos índices Rx5day e TNA, (r = -0,231). CONCLUSÕES A tendência do DCS demonstrou significativas correlações com as condições das regiões Norte e Sul do Atlântico Tropical. Entretanto, os índices que representam os extremos de chuva apresentaram correlações de significância estatística com as regiões de Niño 1+2 e Niño 3, no Pacífico e com a região do Atlântico Norte Tropical. Evidenciando a forte influência da TSM dos Oceanos Pacífico e Atlântico sobre a precipitação da região estudada, reforçando assim, que a atuação do ENOS e do Dipolo do Atlântico têm grande influência sobre o clima do Nordeste Brasileiro. 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