UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE PSICOLOGIA Mulheres com HIV/Aids: construções de sentidos e grupo psicoterápico Profª. Dr. Tânia Maria Cemin Wagner – Coordenadora Profª. Ms. Denise Rasia Bosi – Pesquisadora Catiane Pinheiro da Rosa – Bolsista voluntária Objetivo geral Identificar as representações vivenciadas por mulheres e suas construções de sentidos, na medida que vivem com o HIV e organizar uma formatação adequada e eficiente de trabalho em grupo psicoterápico focal, ambos contemplando o campo de saúde coletiva. Objetivo da etapa Identificar o estado de saúde mental de mulheres que convivem com HIV/Aids, buscando medir o desajustamento emocional e levantar a percepção que a paciente tem da sua doença. Metodologia Foi realizada a aplicação individual dos testes EFN (Escala Fatorial de Neuroticismo) e WHOQOOL-HIV- bref para oito participantes, sendo todas mulheres e diagnosticadas com HIV/Aids. Com as informações obtidas foi possível realizar um estudo de cunho qualitativo sobre a convivência dessas mulheres com a doença. Resultados da etapa Verificou-se que a idade média das participantes é de 46 anos de idade, a profissão prevalente é do lar e seis participantes têm filhos. A média de convivência com o HIV/Aids é de onze anos, sendo que sete infectaram-se com sexo com homens e uma delas através da injeção de drogas. Em relação ao EFN pode-se verificar que três integrantes manifestaram níveis de ansiedade e depressão muito altos, duas manifestaram níveis de vulnerabilidade e ansiedade muito baixos, uma manifestou níveis de depressão muito altos, uma manifestou ansiedade muito baixa e uma não manifestou resultados relevantes para análise. Em relação ao WHOQOOL-HIV- bref identificou-se que as participantes 2, 4, 5 e 7 apresentaram domínios com índices de preocupação, como os domínios físico, em relação ao meio ambiente e o psicológico. Em relação à auto-avaliação da saúde, cinco referiram estar com sua saúde entre “boa” e “muito boa”; duas “nem boa, nem ruim” e somente uma verbalizou estar “ruim”. Ainda identificou-se que seis participantes referiram que não estão doentes atualmente, uma mais ou menos e uma que está doente. Discussão Em relação à testagem realizada, identificou-se que duas participantes encontram-se em níveis preocupantes na Escala Fatorial de Neuroticismo (EFN), ou seja, uma (participante 6) encontra-se com vulnerabilidade e ansiedade muito baixas e a outra (participante 7) com ansiedade e depressão muito altas. Relaciona-se essa informação com a de que essas duas participantes encontram-se em estágio sintomático da doença, significando que podem estar mais preocupadas e estressadas com suas perspectivas de saúde e fantasias atreladas. A participante 6 encontra-se com todos os fatores desse teste abaixo dos níveis esperados, ou seja, abaixo do que é considerado adequado pelo próprio instrumento. Uma outra informação da participante 7, que pode estar relacionada a esses níveis de ansiedade e depressão, é o fato dela ter esse diagnóstico há cerca de 1 ano apenas, sendo que ela possui o menor tempo de convivência com HIV das oito participantes desse estudo. Ainda em relação a esse teste, as participantes 2 e 4 apresentaram índices que requerem atenção em relação à ansiedade e depressão, e a participante 5 em relação à depressão. Os resultados obtidos em relação a auto-avaliação da saúde podem estar indicando fantasias de morte envolto da doença. De acordo com Selli e Cechin (2007), a notícia da soropositividade pode ser considerada traumática, representando para o indivíduo um abalo equivalente a um terremoto. Assim, questiona-se se essas mulheres conseguem falar sobre os seus medos e suas percepções mais genuínas, na medida em que há uma perspectiva de horror a sua frente, como se ainda estivesse bem, perto do quanto ainda pode piorar. Considerações finais Os resultados obtidos apontam para a presença de níveis de vulnerabilidade, ansiedade e depressão nas mulheres que participaram do estudo, e em alguns casos, os níveis mostram-se preocupantes à medida que denotam o estado de saúde mental. O estudo realizado comprova uma adaptação negativa de pessoas com HIV/Aids frente a convivência com a doença, expressa em dificuldades sexuais, sociais e emocionais. (Freitas, Gir e Rodrigues, 2000). Pode-se inferir também a dificuldade de falar sobre o HIV/Aids, aceitar limitações e lidar com o estigma associado a doença. Referências bibliográficas Freitas, M. R. I.; Gir, E. & Rodrigues, A. R. F. (2000). Compreendendo a sexualidade de indivíduos portadores de HIV-1. Rev. Esc. Enf., USP, v.34, n.3, p. 258-63, set. Selli, L. & Cechin, P. L. (2007). Mulheres com HIV/Aids: fragmentos de sua face oculta. Revista Brasileira de Enfermagem, 60 (2), 145-149.