XIV SIMGeo
Simpósio de Geografia da UDESC
2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL,
COOPERATIVISMO E ASSOCIATIVISMO
COOPERAÇÃO, COOPERATIVISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: uma
relação possível?
Roberto Tadeu Ramos Morais1
Resumo
Ao analisar as possíveis relações entre cooperação, cooperativismo e desenvolvimento
local o estudo propõe uma discussão acadêmica e, ao mesmo tempo, partir para responder
o porque de se ter despertado para a questão do cooperativismo como uma alavanca nas
propostas de desenvolvimento. Autores como Bandeira (2000), Boisier (2001), Barquero
(2002), Schmidt (2002), Batella e Diniz (2006) e Gawlak e Ratzke (2007) foram
consultados para melhor referenciar os conceitos relacionados a problemática. Os dados
secundários das fontes pertinentes de informação qualitativa e exploratória foram
analisados. É feita, neste momento, uma análise do Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal – IDHM situados na região do Vale do Taquari/RS. Os resultados
demonstraram que a presença de empresas cooperativas na região contribui para o
desenvolvimento local através da geração de renda, retenção de recursos na comunidade
onde atua, melhor nível educacional, maior longevidade e melhoria da qualidade de vida
das pessoas.
Palavras-Chaves: Cooperação, Cooperativismo, Desenvolvimento Local.
Abstract
To analyze the possible relations between cooperation, cooperatives and local
developmente the study proposes and academic discussion while from to because of having
to question the cooperatives as a lever in development proposals. Authors as Bandeira
(2000), Boisier (2001), Barquero (2002), Schmidt (2002), Battela e Diniz (2006) and
Gawlak and Ratzke (2007) were consulted to better reference the concepts related to
problematic. Secondary data from the following relevant qualitative information soures
was analysed. At present a analysis of the Municipal Human Development Index – IDHM
into further five municipalities situated within te Taquari/RS valley region. The results
demonstrate that the companies cooperatives in the region contribute to local development
througth income generation, retention of resources of the communities it is involved in, a
better educational level, as increased longevity and improve people’s quality of live.
Keywords: Cooperation, Cooperativism, Local Development.
1
Doutor em Desenvolvimento Regional e professor das Faculdades Integradas de Taquara – FACCAT.
E-mail: [email protected]
niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Florianópolis, Santa Catarina
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Introdução
Pretende-se com o presente estudo contribuir para o amadurecimento das
discussões na área do cooperativismo e do desenvolvimento local através de uma análise
das relações existentes entre os temas na lógica de que em regiões onde a presença de
empresas cooperativas é observada obtêm-se melhores índices de desenvolvimento
humano municipal – IDHM. Para atender a esse objetivo, a metodologia utilizada é a
exploratória, descritiva e interpretativa, com o cruzamento de dados secundários coletados
no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB) e da base de dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil
2013.
Atualmente discute-se com freqüência o cooperativismo e o desenvolvimento local,
já que estes são uma realidade no Brasil e implicam em uma melhoria da qualidade de vida
das pessoas.
Segundo dados da OCB o número de cooperativas no Brasil em 2011, ficou em
6.586, com mais de 10 milhões de associados e 296 mil empregados. Especialmente no Rio
Grande do Sul são 550 cooperativas registradas no sistema OCB, com 1.999.766
cooperados e 48.755 empregados.
A OCB procedeu a estudo em municípios com e sem cooperativas que permitiu
perceber que os valores médios do IDH para os municípios com a presença de cooperativas
são maiores do que aqueles que não têm cooperativas. SCARPIN (2007) já havia realizado
estudo semelhante no Estado do Paraná e o site “easycoop” também discute o tema.
Por esses motivos, estudos no campo do cooperativismo têm alcançado cada vez
mais destaque e importância nos dias atuais. Nesse sentido, o problema de pesquisa
procurará saber: Existe relação entre o crescimento do IDH-M em cidades que possuem
cooperativas?
Este artigo está estruturado em cinco seções, incluindo esta introdução. A segunda
seção, logo a seguir, consiste na fundamentação teórica do estudo, abrangendo a
cooperação, a cooperativa e o cooperativismo; o desenvolvimento local e o índice de
desenvolvimento. A caracterização da região do Vale do Taquari – RS é explicitada na
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terceira parte para que, na seção subseqüente, apresente-se os resultados e discussões. Na
última seção, constam as considerações finais.
Cooperação, Cooperativa e Cooperativismo
O ser humano em sua essência nasceu para cooperar. É através da cooperação que
as pessoas se integram para satisfazer suas necessidades. A história brasileira já mostrava
por volta de 1610, através das primeiras Reduções Jesuíticas a tentativa de criação de um
Estado em que a ajuda mútua prevalecesse. Esse movimento, segundo Schmidt (2002)
visava o bem estar do indivíduo e de sua família acima dos interesses econômicos da
produção.
Destarte essas colocações são importantes para distinguir e compreender as
especificidades do modelo cooperativo, a partir dos conceitos básicos de cooperação,
cooperativa e cooperativismo. Pereira (1993, p. 5), diz que “Cooperação vem do verbo
latino cooperari, de cum e operari = operar juntamente com alguém. Significa trabalhar
junto, trabalhar em conjunto. É uma forma de integração social e pode ser entendida como
ação conjugada em que as pessoas se unem, de modo formal ou informal, para alcançar o
mesmo objetivo”. A partir desta afirmativa é possível estabelecer que a origem da
cooperação encontra-se na própria gênese da humanidade, mediante seu modo de ser, viver
e agir diante de objetivos comuns.
Na sequência, define-se o que seja uma cooperativa conforme estabelecido no
congresso do Centenário da Aliança Cooperativa Internacional – ACI, realizado na cidade
de Manchester, Inglaterra, em 1995. “Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas
que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas,
sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e
democraticamente gerida” (ACI, 1995 apud OCB-GO, 2004, p. 10). Portanto, a união pela
cooperação e ajuda mútua, gerida de forma democrática e participativa, com objetivos
econômicos comuns e cujos aspectos legais e doutrinários é o que distingue uma
cooperativa de outras sociedades.
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As cooperativas se dividem em três categorias: a) singulares que tem como objeto
a prestação direta de serviços aos cooperados, os quais são no mínimo de 20 (vinte)
pessoas físicas; b) centrais ou federações que objetivam organizar as cooperativas
singulares, devendo ser composta pelo mínimo de 3 (três) cooperativas singulares; c)
confederações que, também, devem organizar as cooperativas de uma forma mais ampla,
com uma composição mínima de 3 (três) cooperativas centrais (CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DO COMÉRCIO, 2003).
Oportuno destacar que as cooperativas podem assumir diversas atividades
conforme a atividade econômica, sendo as mais comuns aquelas dedicadas aos seguintes
13 (treze) ramos: agropecuário, saúde, consumo, crédito, educação, habitação, mineração,
produção, transporte, trabalho, turismo e lazer, especial e infraestrutura (GAWLAK e
RATZKE, 2007). O Quadro 1 apresenta o ramo e uma descrição sumária de sua respectiva
atividade.
Quadro 1 – Ramos do Cooperativismo
Ramo
Atividade
Agropecuário
Produzir, comercializar e beneficiar produtos.
Saúde
Trabalhar com a saúde humana.
Consumo
Compra em comum de bens de consumo para seus associados.
Crédito
Satisfazer as necessidades econômicas e sociais dos seus associados.
Educação
Promover a educação nas escolas, a fundação e/ou manutenção de
estabelecimentos de ensino.
Habitação
Têm como objetivo a construção de moradias para seus associados.
Mineração
Atuação voltada para a pesquisa, extração, lavra, industrialização,
comércio, importação e exportação de produtos minerais.
Produção
Operar nos setores artesanal e industrial, produzindo diversos tipos de
bens e mercadorias.
Transporte
Organizar a prestação de serviços em diversas áreas.
Trabalho
Organizar a prestação de serviços em diversas áreas.
Turismo
e Prestar serviços turísticos, artístico, de entretenimento, de esporte e de
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Lazer
hotelaria.
Especial
Atender pessoas que necessitem de tutela ou que se encontram em
situação de desvantagem nos termos da Lei nº 9.867/99.
Infraestrutura
Prestar serviços essenciais como energia e telefonia.
Fonte: Adaptado de GAWLAK e RATZKE (2007)
As atividades descritas no Quadro 1 demonstram que os diferentes ramos atendem
parcela significativa da economia brasileira e, por sua natureza, são capazes de alinhar o
desenvolvimento econômico ao social.
Por fim, o cooperativismo que no Brasil é representado pela Organização das
Cooperativas Brasileiras – OCB, seu órgão máximo que tem por objetivo a promoção, o
fomento e a defesa do sistema cooperativista brasileiro, em todas as instâncias políticas e
institucionais, inclusive no exterior. Trata-se de um movimento de alcance internacional
que “[...] busca constituir uma sociedade justa, livre e fraterna, em bases democráticas,
através de empreendimentos que atendam às necessidades reais dos cooperantes, e
remunerem adequadamente a cada um deles” (OCB-GO, 2004, p.9). Para pensadores como
Robert Owen (1771-1858) e Charles Fourier (1772-1837), o cooperativismo é tanto uma
filosofia como um modelo socioeconômico que, com o passar dos anos, se expandiu em
diferentes regiões, territórios, indiferente da cultura, língua ou o credo.
Nesse sentido, sete princípios universais norteiam sua caminhada. O primeiro
denomina-se adesão voluntária e livre, ou seja, todas as pessoas estão aptas a utilizar os
seus serviços e a assumir as responsabilidades como membros, sem discriminação de sexo,
social, racial, política e religiosa (OCB-GO, 2004).
Gestão democrática e livre é o segundo princípio, deixando claro que as
cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus membros, com ativa
participação na formulação das suas políticas e tomadas de decisões. A participação
econômica dos sócios compreende o terceiro princípio significando que cada sócio
contribui eqüitativamente para o capital de suas cooperativas e controlam-no
democraticamente (OCB-GO, 2004).
O princípio da autonomia e independência está garantido pela Constituição
Federal, no inciso XVIII do artigo 5º, que diz “A criação de associação, e na forma da lei, a
de cooperativas independem de autorização, sendo vedada à interferência estatal em seu
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funcionamento”. Portanto, esse princípio garante que a cooperativa possa cumprir com
seus objetivos e metas sem a intervenção externa.
A educação é o compromisso do movimento cooperativo desde sua gênese. O
quinto princípio, educação, formação e informação, busca formar o pensamento dos
sócios a fim de que entendam a complexidade e a riqueza da doutrina cooperativista. Seu
objetivo é a permanente capacitação à prática cooperativista dos seus associados,
familiares e a comunidade onde a cooperativa está inserida (CRÚZIO, 2002).
A intercooperação, sexto princípio, visa à cooperação entre cooperativas para que
haja um fortalecimento e do desenvolvimento do cooperativismo. Esta intercooperação
poderá se dar na forma de troca de informações, experiências, produtos e serviços entre as
cooperativas, viabilizando o setor enquanto atividade econômica (VEIGA e FONSECA,
2001).
O último princípio denominado de interesse pela comunidade, traz a
responsabilidade social como tema central a fim de promover o desenvolvimento
sustentado das suas comunidades. É por meio do cooperativismo que a comunidade se
fortalece e tem grandes chances de alcançar objetivos comuns (VEIGA e FONSECA,
2001).
Não menos oportuno é apontar o pensamento de Pinho (2000) que afirma não
serem sinônimos cooperar, cooperativismo e cooperativa. Para o referido autor os
conceitos são distintos. Enquanto a cooperação significa ação conjunta com vista ao
mesmo objetivo, o cooperativismo, por sua vez, significa, doutrina e, finalmente a
cooperativa seria uma entidade onde as pessoas cooperam objetivando o mesmo fim.
Desenvolvimento Local
Discutir o desenvolvimento local implica necessariamente entender o caráter
endógeno de sua peculiar abordagem, ou seja, um processo de aproveitamento das
potencialidades locais que pressupõe a participação dos atores daquela localidade, sejam
eles econômicos, públicos ou privados em prol de uma melhoria da qualidade de vida das
pessoas que usam o território.
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Buarque (1999, p. 9), corrobora com o que foi visto acima ao descrever o
desenvolvimento local como “[...] um processo endógeno registrado em pequenas unidades
territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a
melhoria da qualidade de vida da população”. Sua abordagem sustenta-se a partir de três
eixos: processo endógeno, dinamismo econômico e melhoria da qualidade de vida.
Entende-se por processo endógeno os fatores internos ao território capazes de transformar
um impulso externo de crescimento em desenvolvimento para toda sociedade. O
dinamismo econômico, originalmente decorrente da Teoria da Dinâmica Econômica de
Michal Kalecki (1954), não se limita as regiões caracterizadas por produção flexível, alta
tecnologia e forte capacidade de inovação com crescimento da renda, isto é, em regiões
periféricas é possível encontrar iniciativas bem sucedidas de mobilização endógena,
dinamismo, inovação, melhoria de renda e das condições de vida da população. Por último,
melhorar a qualidade de vida da população pressupõe a redução da exclusão social
(pobreza e desigualdade), desconcentrar a renda, melhorar a saúde pública, entre outros.
Franco (1998, p. 7), traz a ampliação do conceito acrescentando os termos
integrado e sustentável.
[...] desenvolvimento local integrado e sustentado é um novo modo
de promover o desenvolvimento, que possibilita o surgimento de
comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas
necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocações locais
e desenvolver suas potencialidades específicas, além de fomentar o
intercâmbio externo, aproveitando-se de suas vantagens locais.
Percebe-se que o desenvolvimento local integrado e sustentável busca induzir o
desenvolvimento no âmbito local, preconizando não só o crescimento econômico, mas
também, tudo o que for necessário para potencializar as vantagens de uma determinada
localidade, priorizando simultaneamente os aspectos da integridade e sustentabilidade das
ações propostas.
O local tem importante papel no desenvolvimento, autores como Bandeira (2000),
Boisier (2001), Vázquez-Baquero (2002), só para citar alguns, ressaltam a dimensão local
como um elemento fomentador de integração da atividade econômica, social, política e
cultural, que conjuntamente, são condicionantes para o alcance do desenvolvimento.
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Bandeira (2000) afirma que é necessário valorizar as iniciativas de abrangência
local, pois essas podem ser submetidas a diagnósticos mais precisos da realidade e das
potencialidades dessas localidades, cuja problemática tende a ser da mesma natureza.
Boisier (2001) diz que o desenvolvimento local pode tomar forma em território de
variados tamanhos, mas não em todos, devido a complexidade do seu processo. E,
finalmente, Vázquez-Baquero (2002) identifica três dimensões no desenvolvimento local:
a) econômica – os empresários locais e sua capacidade de organizar os fatores produtivos
locais; b) sociocultural – os valores e as instituições servem de base para o processo de
desenvolvimento e, c) político-administrativa – os fatores políticos criando um ambiente
propício ao desenvolvimento local.
Ademais, segundo Martinelli e Joyal (2004), o modelo de desenvolvimento local
somente ocorre quando as iniciativas partem de baixo para cima, ou seja, da população.
Assim, os próprios atores locais são protagonistas do desenvolvimento e não mais os
governos através do planejamento centralizado. O grande impulso deste processo
denominado de descentralização, que nada mais foi do que uma estratégia de aposta da
reforma do Estado ao contexto da globalização e da crise fiscal da década de 1980, se deu
com a Constituição Federal de 1988, quando o município passa a ser o ator principal na
formulação execução de políticas públicas. Com esta mudança os municípios e as
comunidades ganham capacidade de decisão e autonomia de gestão na escolha de suas
diretrizes, programas e projetos.
Na seqüência será discutido o índice de desenvolvimento, em especial o IDH –
Índice de Desenvolvimento Humano e o IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal, e sua importância para o fortalecimento do poder local.
Índice de Desenvolvimento
Ao longo das últimas três ou quatro décadas (1980 – 2015) freqüentemente se
confundiu o conceito de desenvolvimento com o de crescimento econômico. Talvez seja
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mais facial explicar o segundo porque implica um Produto Interno Bruto (PIB2) mais
elevado ao passo que o desenvolvimento está envolto por um conjunto de indicadores que,
muitas vezes, têm dificuldade em expressá-lo.
Na verdade, um indicador de desenvolvimento nada mais é do que uma medida
quantitativa de um determinado recorte da realidade que fornece uma boa visão acerca do
resultado que se deseja medir. Importante ressaltar que os resultados são apenas
aproximações do que efetivamente está ocorrendo, necessitando, sempre, de uma análise
qualitativa para que o seu significado esteja dentro do contexto em que está inserido. Por
esta razão existe uma busca permanente por medidas sócio-econômicas que abarquem
outras dimensões, além da econômica, fundamentais da vida e da condição humana
(ROSSI e MARTINS, 2008).
Entre estas medidas encontra-se o IDH, lançado pela Organização das Nações
Unidas (ONU), em 1990, com o fito de verificar o grau de desenvolvimento de um país a
partir de um conjunto de indicadores de desempenho (SCARPIN e SLOMSKI, 2007). O
IDH leva em conta três dimensões básicas da existência humana: a) uma vida longa e
saudável; b) o acesso ao conhecimento e, c) um padrão de vida digno. Estas três dimensões
são mensuradas no IDH pelos indicadores: a) esperança de vida ao nascer; b) taxas de
alfabetização e de matricula e, c) PIB per capita3. Para cada indicador, valores mínimos e
máximos são selecionados, sendo fixada uma escala entre 0 (zero) e 1 (um) (FUKUDAPARR et al., 2004).
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estabeleceu três
categorias principais:
a) 0 ≤ IDH < 0,5 Baixo desenvolvimento humano
b) 0,5 ≤ IDH < 0,8 Médio desenvolvimento humano
c) 0,8 ≤ IDH ≤ 1 Alto desenvolvimento humano
2
Representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa
determinada região, durante um período determinado.
3
É o produto interno bruto, dividido pela quantidade de habitantes de um país.
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A Figura 1 apresenta a estruturação do IDH global de acordo com Fukuda-Parr et al.
(2004).
Figura 1 – Estruturação do IDH
Dimensão
Uma
vida
longa
e
saudável__________Conhecimento
___________________Nivel de vida digno
Indicador
Esperança de vida ao nascer
Taxa de alfabetização
Taxa de
PIB per capita
de adultos
Escolarização Bruta
(dólar PPC4)
Índice de Alfabetização
Índice (TEB)
de Adultos
Índice da Educação
PIB
Índice
de Dimensão
Índice de Esperança de Vida
IDH
4
Paridade do Poder de Compra
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Índice do
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Fonte: Adaptado de Fukuda-Parr et al (2004)
Analisando-se a Figura 1 se percebe que o cálculo do IDH parte das três dimensões
onde, para cada uma, é criado um índice.
A dimensão vida longa e saudável é obtida através do cálculo do índice
denominado de índice de esperança de vida. Para Fukuda-Parr et al. (2004, p. 259), esse
índice mede “[...] a realização relativa de um país na esperança de vida à nascença”. A
segunda dimensão, conhecimento, é avaliada pelo índice da educação, que por sua vez é
composto de dois índices, o índice de alfabetização de adultos e o da escolarização bruta
(TEB). Uma vez que os dois índices estão à disposição é realizada uma ponderação de 2/3
à alfabetização de adultos e de 1/3 à escolarização.
Ao final, a terceira dimensão, o nível de vida digno que é calculado utilizando o
PIB per capita ajustado (dólares PPC). Scarpin e Slomski (2007, p. 918) afirmam que “O
conhecimento é ajustado porque, para alcançar um nível elevado de desenvolvimento
humano, não é necessário um rendimento ilimitado”.
Na verdade, no IDH, o rendimento é uma espécie de substituto para as dimensões
do desenvolvimento humano que não estejam refletidas na primeira e na segunda
dimensão. Para calcular o IDH basta fazer a média aritmética dos índices.
Na esteira do IDH é desenvolvido o IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores do IDHM são mais
adequados para avaliar as condições núcleos sociais menores ou as cidades médias. Tais
cidades ocupam posição de destaque na hierarquia urbana e são conhecidos, dentre outras
características, por apresentarem uma qualidade de vida superior (BATELLA e DINIZ,
2006).
O IDHM agrega três dimensões do desenvolvimento humano: a) vida longa e
saudável; b) acesso ao conhecimento e, c) padrão de vida.
A primeira dimensão é mensurada pela expectativa de vida ao nascer. Já o cálculo
da segunda dimensão é mediante a composição de indicadores de escolaridade da
população adulta e do fluxo escolar da população jovem e, finalmente, o padrão de vida
que é medido pela renda municipal per capita, ou seja, a renda média individual de cada
residente no município analisado. Todos os dados são obtidos dos Censos Demográficos
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do
Instituto
Brasileiro
de
Geografia
e
Estatística
–
IBGE
(ATLAS
DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO DO BRASIL, 2013).
As faixas do IDHM, são:
IDHM entre 0 – 0,499: Muito Baixo Desenvolvimento Humano
IDHM entre 0,500-0,599: Baixo Desenvolvimento Humano
IDHM entre 0,600 - 0,699: Médio Desenvolvimento Humano
IDHM entre 0,700 - 0,799: Alto Desenvolvimento Humano
IDHM entre 0,800 e 1: Muito Alto Desenvolvimento Humano
No site do PNUD encontra-se um esclarecimento sobre o IDHM que expõe:
Populariza a ideia de que desenvolvimento não se resume à
perspectiva do crescimento econômico, mas sim facilita a
comparação entre municípios, conduz a um diálogo mais
informado na discussão de políticas e estimula a busca por
melhores desempenhos socioeconômicos entre os municípios
brasileiros.
Em síntese o IDHM, embora com pequenas diferenças metodológicas (Quadro 1)
em relação ao IDH, busca ampliar a discussão junto a sociedade sobre a qualidade de vida
existente nos municípios brasileiros.
Quadro 1 – Diferença entre o IDH e o IDHM
EDUCAÇÃO
LONGEVIDADE População Adulta
População
RENDA
Jovem
IDHM
Esperança de vida 18+
ao nascer
fundamental
completo
com % 5-6 na escola
% 11-13 nos
anos finais do
fundamental
% 15-17 com
fundamental
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Renda mensal
Per
Capita
(Em
R$
Ago/2010)
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completo
% 18-20 com
ensino
médio
completo
IDH Global
Esperança de vida Média de anos de Anos esperados Renda
ao nascer
estudo de 25+
de estudos
média
nacional
Capita
Per
(US$
5
ppp 2005)
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013)
Percebe-se pela leitura do Quadro 1 que o IDHM é uma adaptação metodológica do
IDH ao nível mundial, diferenciando-se pelo uso de alguns indicadores. O primeiro mede o
desenvolvimento humano de países em contexto global e o segundo compara municípios
brasileiros entre si. Em 2013, a metodologia de cálculo do IDHM foi alterada para
acompanhar as modificações metodológicas do IDH Global 2010. O Atlas do
Desenvolvimento Humano do Brasil 2013, já traz os dados de 1991 e 2000 recalculados de
conformidade com os ajustes e considera as novas divisões municipais ocorridas entre
2000 (5.507 municípios) e 2010 (5.565 municípios).
Caracterização da Região do Vale do Taquari – RS
A região do Vale do Taquari está localizada na macrorregião nordeste do Rio
Grande do Sul, agregando atualmente trinta e seis municípios que totalizam 327.723
habitantes, conforme o censo de 2010 (IBGE, 2010), sendo que 26,16% corresponde a
população rural e 73,84% a urbana. Lajeado é a cidade polo da região, com 71.445
habitantes, o equivalente a 21,80% da população regional (FEE, 2014).
Figura 2 – Municípios do Vale do Taquari
5
Poder de Paridade de Compra (Banco Mundial – 2005)
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Fonte: SEPLAG (2014)
A Figura 2 demonstra que o Vale do Taquari está localizado em uma região central
no Estado cuja distância de Porto Alegre é de aproximadamente 150 quilômetros. Sua
infraestrutura conta com o modal hidroviário (Porto de Estrela), ferroviário, rodoviário e
um aeródromo regional.
Outro detalhe importante é o fato de que apenas 5 municípios6 concentram 53,68%
do total da população da região e 22 municípios (70,97%) possuem população até 5.000
habitantes, caracterizando a região do Vale do Taquari como predominantemente rural, já
que 21 dos 36 municípios possuem população rural superior a urbana. Estes foram os
municípios analisados ao longo desta pesquisa tomando-se como critério de escolha a
concentração da população total.
A economia é baseada em pequenas empresas e médias propriedades onde
prevalecem minifúndios de propriedade familiar. No meio rural, estão registrados 43 mil
produtores rurais. São centenas de famílias que se dedicam à agricultura e pecuária e
elevam a região em nível estadual, ocupando a segunda colocação em produtividade rural
(R$/Km²). É reconhecida produtora de alimentos, sendo que 80% de sua atividade
produtiva vêm do agronegócio (CODEVAT, 2010).
Neste
contexto,
as
cooperativas
contribuem
significativamente
para
o
desenvolvimento da região já que podem e devem ser um ator social coletivo relevante
6
Encantado, Teutônia, Estrela, Lajeado e Taquari.
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para a melhoria da qualidade de vida das comunidades as quais pertencem. Entre as
cooperativas, nos mais diversos ramos, destacam-se: CERTEL – Cooperativa Regional de
Eletrificação; COSUEL – Cooperativa dos Suinocultores de Encantado; CERTAJA –
Cooperativa Regional de Energia e Desenvolvimento Rural Taquari; Cooperativa
LANGUIRU Ltda; UNIMED Cooperativa de Serviços de Saúde; UNIODONTO –
Cooperativa de Serviços dos Vales do Taquari e Rio Pardo; Cooperativa de Crédito Rural
Ouro Branco, entre outras.
Resultados e Discussões
Ao analisar a realidade dos trinta e seis municípios no IDHM 2010, os resultados
demonstram que em todos houve crescimento nos indicadores demonstrando melhorias nas
condições de bem-estar da população. Concomitante, Lajeado e Nova Bréscia destacam-se
por possuírem o IDHM de 0,778.
Quando analisados os dados contidos no Atlas de Desenvolvimento Humanos do
Brasil 2013, cujos índices apontam para o IDHM Educacional (IDHM-E), os cinco
municípios analisados apresentam índices de médio e alto desenvolvimento humano,
conforme Tabela 1.
Tabela 1 – IDHM-E
ANO
1991
2000
2010
Encantado
0,413
0,561
0,687
Estrela
0,361
0,531
0,684
Lajeado
0,409
0,592
0,704
Teutônia
0,314
0,512
0,650
Taquari
0,289
0,491
0,629
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)
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Percebe-se que a evolução em todos os municípios analisados é contínua desde o
ano de 1991. Deste conjunto destaca-se a cidade de Lajeado com 0,704 de IDHM-E (alto
desenvolvimento humano) e, também, o polo central desta região. Considerando-se o
período de 1991-2010, verifica-se um crescimento de 72,12% no IDHM-E no município de
Lajeado e de 117,64% em Taquari. Em Lajeado encontram-se as principais instituições de
ensino fundamental, médio e superior da região, com destaque para a Universidade do
Vale do Taquari – Univates que, em 2014, está oferecendo a 15ª Turma de Especialização
em Gestão de Cooperativas. Já em Taquari a educação infantil, o ensino fundamental e
médio são destaques com forte presença das escolas municipais.
O esforço de cada um dos municípios em direção a melhores resultados em
educação e acesso ao conhecimento é impossível de ser contestado, já que em 2000, quatro
municípios apresentavam IDHM-E baixo e Taquari (0,491) muito baixo desenvolvimento
humano. Em 2010 todos se situavam com alto desenvolvimento humano em educação.
De acordo com os dados de 1991-2010 as variáveis formadoras do IDHM
Longevidade (IDHM-L), Tabela 2, apresentam melhorias sensíveis em cada um dos
municípios analisados, sendo que todos passaram de classificação de alto para muito alto
desenvolvimento humano. Nas cinco cidades o IDHM-L (2010) é superior ao IDHM-L
para o Brasil (0,816) e, para o Rio Grande do Sul (0,84), somente a cidade de Lajeado não
obteve um IDHM-L superior.
Tabela 2 – IDHM-L
ANO
1991
2000
2010
Encantado
0,772
0,852
0,858
Estrela
0,751
0,824
0,850
Lajeado
0,748
0,832
0,840
Teutônia
0,709
0,799
0,849
Taquari
0,747
0,821
0,855
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)
niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Florianópolis, Santa Catarina
XIV SIMGeo
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No IDHM-L variáveis como acesso à saúde da população, o saneamento, a
criminalidade, entre outros são avaliados. Encantado figura como o município com maior
expectativa de vida ao nascer (76,5 anos) estando acima da média estadual (75,7 anos),
segundo o IBGE (2014).
Um aspecto levado em consideração para se averiguar a real situação de
desenvolvimento de uma localidade é a renda. A Tabela 3 apresenta o IDHM Renda
(IDHM-R), dos municípios em estudo no período 1991-2010.
Tabela 3 – IDHM-Renda
ANO
1991
2000
2010
Encantado
0,688
0,719
0,764
Estrela
0,662
0,707
0,776
Lajeado
0,698
0,741
0,796
Teutônia
0,654
0,697
0,751
Taquari
0,603
0,672
0,737
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)
Observa-se que não existem considerações a serem realizadas muito diferentes das
anteriores, já que houve crescimento nos índices de desempenho de cada um dos
municípios. Embora para a região os números de 2010 se mostrem superiores ao do País
(0,739) e, em alguns casos, ao do Estado do Rio Grande do Sul (0,769), ainda existem
desigualdades quando se analisa a renda per capita (Tabela 4).
Tabela 4 – Renda Per Capita
ANO
1991
2000
2010
Encantado
576,97
703,11
931,47
Estrela
491,63
652,25
1002,78
Lajeado
616,43
805,03
1130,85
niversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Florianópolis, Santa Catarina
XIV SIMGeo
Simpósio de Geografia da UDESC
Teutônia
467,57
610,11
854,63
Taquari
341,64
522,53
786,91
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2013)
Mesmo observando que a renda per capita melhorou entre 1991-2010, ainda
encontram-se disparidades entre a menor e a maior renda, havendo uma oscilação de
43,7%. Por outro lado, a renda per capita média no Brasil em 2010, segundo o Atlas de
Desenvolvimento Humano (2013) foi de R$ 767,02 e no Estado do Rio Grande do Sul de
R$ 959,24. Desta forma, todos os cinco municípios possuem uma renda acima da média
brasileira e muito próxima ou acima da estadual.
Considerações Finais
O Vale do Taquari conta com grande potencial agrícola e industrial. Possui um
território heterogêneo com cidades urbanizadas e outras completamente agrícolas. Em uma
perspectiva futura, já espaço tanto para o cultivo de novos produtos no ambiente rural
quanto para implantação de industrias no meio urbano.
O IDHM-E do Vale do Taquari é superior ao do Estado e do País em quatro dos
cinco municípios analisados, contando, ainda, com cinco faculdades e ou universidades.
Isso indica uma possível expansão da mão-de-obra qualificada nos próximos anos.
A longevidade foi a dimensão do IDHM com maior crescimento, em torno de 6%,
no período 2000-2010. A longevidade no estado, no mesmo período, cresceu 4,7%. Dentre
as explicações para o aumento da esperança de vida, destaca-se a melhoria da qualidade de
vida da população em geral, a melhoria da educação e das condições sanitárias.
A renda municipal per capita, ou seja, a renda média de cada residente no
município é outro critério utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) para avaliar o desenvolvimento humano municipal.
Os cinco municípios analisados possuem IDHM-R superiores a 0,70 (alto
desenvolvimento humano). Com índices superiores a média brasileira (0,739), em quatro
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dos cinco municípios analisados, fica evidenciada que a capacidade média de aquisição de
bens e serviços por parte dos habitantes é significativa, uma vez que está a indicar a
garantia de um padrão de vida capaz de assegurar suas necessidades básicas, como
alimentação, moradia, água, condições sanitárias, entre outros. No Brasil, o IDHM-R,
apresentou um crescimento no período de 1991 a 2010 de 14,2%, enquanto nos municípios
analisados a média foi de 14,54%. Entretanto, em Taquari e Estrela o crescimento foi de
22,2% e 17,22% respectivamente.
Este indicador apresenta a limitação de não considerar a desigualdade de renda
entre os habitantes, isto é, mesmo que o município apresente uma elevada renda per capita,
poderá ter uma grande parcela de sua população vivendo na pobreza.
Com base nos valores do IDHM para os municípios analisados, foi possível notar
que o desenvolvimento humano foi maior onde havia cooperativas. Segundo pesquisa
realizada pela FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade
Estadual de São Paulo) e publicada no site ‘EasyCoop: cooperativismo em revista’,
enquanto em uma cidade sem cooperativa a média do IDH é de 0,66, com uma ou mais
cooperativas o indicador sobe para 0,70.
Por fim, ao analisar as relações possíveis entre o cooperativismo e o
desenvolvimento local verifica-se que esta forma de organização social proporciona ganho
de renda, retenção de recursos na comunidade onde atua, melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos e contribui para o desenvolvimento da região e, conseqüentemente, do IDHM. Os dados secundários obtidos por esta pesquisa indicam que o cooperativismo traduz
não apenas o critério econômico, mas também social e que se reproduz em efeitos culturais
na forma de promoção do desenvolvimento local.
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