Mulheres organizadas N°3 Maio 2004 AKTEA: Nereida da mitologia grega simbolizando a beira-mar. A cooperação existente entre as mulheres de pescadores é tão antiga como os ofícios do mar, mas actualmente tem adquirido maior importância em quase todos os países europeus com a criação de redes ou associações de mulheres. Rede FEMMES As mulheres de pescadores sempre foram solidárias na hora de superar os duros golpes e de manterem-se informadas, apesar das eventuais diferenças pessoais ou profissionais que pudessem ter com os homens. Nos últimos vinte anos, esta cooperação organizou-se em vários países europeus. Três fatores comuns às sociedades ocidentais explicam esta evolução: a crescente rejeição da insegurança sob todos os seus aspectos; o desejo das mulheres de que se reconheça seu papel económico e social; e, a dificuldade para as mulheres de pescadores expressarem-se no seio das organizações profissionais dos homens. As intervenções durante o seminário organizado pela rede FEMMES em Vaasa (Finlândia), em setembro passado, mostraram que ao organizarem-se, as mulheres podem ao mesmo tempo fazer progredir a sua situação e a dos pescadores. Os participantes do seminário de Vaasa. motivada por uma investigadora da Universidade de Newcastle. Essa rede reúne uma dezena de mulheres vindas da Escócia, da Inglaterra, da Irlanda do Norte e das ilhas Shetland (dotadas de uma organização própria desde agosto de 2003), bem como mulheres da Irlanda, cuja organização nacional, Mna na Mara, celebrou em zzz fevereiro deste ano uma reunião nacional. Associações por quase todas as partes As norueguesas encontram-se associadas desde 1946, mas somente em 1983 essa organização tornou-se independente da dos homens (ler página 3). As associações das "mulheres do litoral" existem também na Finlândia, mas são menos activas actualmente devido à falta de recursos humanos e financeiros. Quanto às suecas, presentes graças à cooperação entre os países escandinavos, pode-se dizer que estão tentando constituir sua própria organização. Mantendo o r umo O programa europeu FEMMES encontra-se atualmente na metade do caminho. As atas do seminário realizado em Brest estão prontas e as do seminário de Vaasa serão divulgadas em breve. Este número da AKTEA tem sido em grande parte elaborado à partir dos debates de Vaasa. Nos Países Baixos, as mulheres organizaram-se para fazer frente às crises que abalaram a pesca nos anos 90. Uma característica particular de essas mulheres é que elas não quiseram formar qualquer associação, preferindo a flexibilidade de uma rede. Foram igualmente as dificuldades dos anos 90 que reforçaram as associações das mulheres de pescadores na França e que conduziram à formação de uma federação. Os promotores do programa FEMMES propuseram a organização de uma conferência internacional que se realizará em Santiago de Compostela, na Galícia, de 10 a 13 de novembro de 2004, após o terceiro seminário do programa FEMMES. Esta conferência/fórum será uma oportunidade para divulgar de uma forma ainda mais acentuada a ação das mulheres européias. Até hoje, as diversas atividades da rede FEMMES mobilizaram 250 pessoas e puseram em contacto 40 organizações. Trata-se agora de contrastar as experiências européias com as de outras regiões do mundo. Esperamos a participação de novas pessoas e contamos com diferentes contribuições. Katia Frangoudes No Reino Unido, as mulheres levaram muito tempo para dar o primeiro passo, desanimadas, sem dúvida, pelas decisões políticas dos governos sucessivos. No entanto, uma rede é criada à partir do ano passado, 1 E D I T O R I A L Mais ao Sul, Espanha conta tanto com associações de mulheres produtoras, principalmente de marisqueiras, quanto com associações de mulheres de pescadores propriamente ditas. As portuguesas e as italianas, em contrapartida, ainda não se encontram organizadas. Finalmente, como última criação européia, acaba de surgir uma associação de mulheres de pescadores gregas. uma forma muito concreta, mas também com uma visão de conjunto dos problemas que os homens parecem não ter. Contudo, raras são aquelas que estão dispostas a levar suas idéias para o campo político. A inserção de suas experiências e reflexões numa rede pode contribuir ao fortalecimento de sua auto-estima, animando-as a fazerem-se ouvir. A segurança no mar é a questão central para as mulheres de pescadores, estando sempre na origem da criação das associações. Diante da despreocupação (dissimulada ou real) dos homens, em relação aos problemas da segurança, as mulheres tentaram agir em dois níveis. De um lado, demandando ao poder público o incremento das normas de segurança, para tornarem obrigatórios os cursos de formação no tocante à utilização do material e para aumentarem os meios de intervenção e de socorro no mar. De outro lado, fazendo pressão junto aos seus esposos e aos capitães dos barcos para que as normas de segurança sejam aplicadas, como por exemplo que os coletes salva-vidas sejam utilizados e que se respeitem os horários de descanso. Outro cavalo de batalha é a obtenção do reconhecimento dos desaparecidos no mar por conta de um naufrágio o mais rápido possível. França: reunificação As duas federações de mulheres associaram-se em outubro de 2003 para criar a "Federação de Mulheres do Meio Marítimo". Esta iniciativa representa um começo onde se simplifica o panorama associativo, com a intenção de obter maior eficácia. O programa para o ano 2004 inclui o intercâmbio de informações de teor interno e externo; a modificação do estatuto do cônjuge colaborador; a formação de mulheres no meio marítimo e a segurança à bordo dos navios. (contato : [email protected]) Grécia: criação As mulheres do município de Nea Machaniona criaram em outubro de 2003 a associação "mulheres da pesca", que agrupa esposas de armadores de todas as categorias de barcos, as esposas dos marinheiros e as esposas dos pescadores. Para ampliar este movimento, foi organizada uma reunião nacional em 12 de dezembro de 2003. Como em qualquer outra parte, estas mulheres reclamam o reconhecimento do seu trabalho. Publicou-se um boletim informativo intitulado "Mulheres da pesca". (contato : [email protected]) Reino Unido: primeiros passos O final do ano de 2003 assistiu à criação de uma rede informal de mulheres preocupadas com a pesca na Irlanda e no Reino Unido (incluindo Inglaterra, Escócia, ilhas Shetland e Irlanda do Norte). Promovida por uma investigadora, esta rede funcionará principalmente por correio electrônico. ( contato: [email protected]) zzz Respaldo ao marido A esposa do pescador ocupa-se geralmente da contabilidade, da comercialização e da manutenção do material. O objetivo das associações para as mulheres de pescadores centra-se na conquista do direito à formação e à aquisição de um estatuto que reconheça sua contribuição económica e que lhes dê acesso a uma cobertura social própria. As associações procuram também ajudar os cônjuges a diversificar os rendimentos da família, para que sejam menos dependentes do produto da pesca. As mesmas exigem que as mulheres possam ter acesso à cursos de formação reconhecidos fora do sector pesqueiro e que possam beneficiar-se de ajudas (empréstimos bancários, apoio técnico) para a criação de actividades de valorização da produção (oficinas de transformação, turismo marítimo, etc.). Membros da Rede FEMMES: França : CEDEM Univ. de Bretagne Occidentale - Associação Mulheres entre Terra e Mar, Bretanha Sul - Espanha : Universidad de La Laguna, Iles Canaries - Cofradia de Pescadores de Cambados, Galicia - Portugal : Universidade da Madeira- Mutua dos Pescadores, Lisboa - Finlândia : Osterbottens Fiskarförbund r.f., Vaasa - Reino Unido e Irlanda : membros não organizados Identificação do projecto Financiamentos: Contrato n° Q5TN-2002-01560 - CCE, DG Pesca - 5ème PCRD. Programa “Qualidade de Vida e gestão dos recursos marinhos”. Coordenação do projecto: Katia Frangoudes, CEDEM, França. Esta publicação não reflecte necessariamente a opinião da Comissão das Comunidades Europeias e em caso algum antecipa a sua atitude neste domínio. Reprodução dos artigos autorizada sob reserva da menção obrigatória dos autores e dos financiamentos. Editado pelo Centre de Direito e de Economia do Mar (CEDEM) - Directora da publicação: Katia Frangoudes Coordenação: Françoise-Edmonde Morin- ISSN 1765-2669 - Impressão Bureau 2000, Plougastel - Tiragem em português 1000 exemplares -Participaram neste número: Sébastien Metz, VinVis, Mariet Groen, Cornelie Quist, Michèle Pendelièvre. Luta feminista Determinadas associações de mulheres incluem-se de cara num projecto feminista. Reagrupam em maioria as mulheres produtoras, principalmente as cultivadoras de marisco ou marisqueiras, as quais desejam obter um estatuto e fonte de ingressos próprios, fazendo reconhecer sua atividade como distinta da de seus maridos. Em algumas regiões onde existe uma tradição bastante patriarcal, como na Galícia, estas reivindicações são portadoras de uma reorganização social profunda. As mulheres abordam as questões ligadas à pesca de 2 N E W S Noruega Antigas associadas As mulheres de pescadores norueguesas foram as primeiras da Europa a organizaremse. Elas tiveram uma grande influência sobre as condições de vida e de trabalho nas comunidades litorâneas. Rede FEMMES A pesca é um sector de actividade crucial na Noruega. Representa o segundo lugar nas exportações do país, depois dos hidrocarbonetos. Cerca de 38.000 pessoas dependem directamente da pesca, alicerce da vida econômica e social de todo o litoral norueguês. Porém, se a pesca é assunto dos homens, a estabilidade da comunidade é assunto das mulheres. As norueguesas organizaram-se muito cedo visando ajudar as famílias de pescadores em dificuldades. Variadas associações locais foram criadas após a Segunda Guerra Mundial e reagrupadas desde 1953 na Associação Norueguesa das Mulheres de Pescadores (NFK), integrada na Associação Nacional de Pescadores. Pouco a pouco, a NFK amplia suas actividades. As reivindicações feministas dos anos 70 entram no cenário da pesca, e as esposas de pescadores desejam desde então adquirir maior visibilidade, reivindicando não só a favor de sua comunidade, mas também a seu favor. Em 1983, a NFK torna-se independente. Conta actualmente com 2.500 membros, distribuídos por 86 associações locais e 11 associações de condados. O secretariado da NFK emprega de maneira fixa uma mulher de pescador. As associações dos condados elegem três delegadas, que se reunem de três em três anos. As actividades da NFK podem reagrupar-se em quatro blocos: O NFK está presente no seminário de Vaasa. Contato : [email protected] res, que, aliás, estão freqüentemente no centro das operações. Política de pesca A situação dos pescadores e de seus familiares está ligada à política do governo e às condições dos recursos. A NFK, por suposto, tomou a frente destas questões, tentando influenciar a gestão dos recursos haliêuticos, fazendo com que se reforce os controles da qualidade dos frutos-do-mar e lutando contra à contaminação dos oceanos. A nível internacional, a ação política das norueguesas toma a forma de um programa de cooperação com as associações de mulheres dos países nórdicos para a definição de normas comuns em diferentes âmbitos (intervenções de socorro; reconhecimento dos desaparecidos no mar, etc.). A NFK destaca-se também através de um programa de escolarização das filhas de pescadores em Angola. Vida na comunidade Este é o campo tradicional de intervenção: arrecadação de fundos, manifestações culturais, apoio moral. As ações de apoio financeiro às famílias em dificuldades levaram à obrigação, por parte dos capitães de barcos, em assegurar seus marinheiros. A melhoria diária do nível de vida da comunidade local é perseguida com a criação de creches, a construção de piscinas, etc. O trabalho das mulheres Estas distintas atividades destinadas a elevar a qualidade da vida cotidiana na costa e a possibilidade de melhor enfrentar a insegurança, não impediram que um número crescente de mulheres abandonassem o litoral para ir às cidades. Este fato tem levado as associações de mulheres a lançar ações destinadas a oferecer às mulheres novas perspectivas de trabalho no mundo da pesca. A NFK tem podido angariar fundos públicos para a formação em gestão de empresas. O desenvolvimento rápido da aqüicultura deve muito, também, às mulheres. Por outro lado, a NFK esforçase por obter uma alteração da lei relativa à transmissão das embarcações às viúvas dos patrões de barco: as disposições são tais que por agora as esposas estão obrigadas a vender o barco no prazo de um ano. Segurança marítima Após vários anos de campanha, as norueguesas conseguiram cursos de formação sobre a segurança no mar a um custo mínimo para os pescadores. Muitos pescadores deslocados para a indústria petroleira nas plataformas marítimas, voltaram à pesca com uma melhor percepção dos riscos para a saúde e da segurança no trabalho. Os serviços de socorro marítimo devem-se igualmente em grande parte às mulhe3 Finlândia Organização suspensa As associações de "mulheres do litoral" funcionaram razoavelmente bem nos anos 90. Desde então, por falta de voluntárias e de perspectivas de desenvolvimento para a pesca, encontram-se estagnadas. Rede FEMMES Inspirada pelo dinamismo das norueguesas, no início dos anos 90, Camilla Österman teve a ideia de criar um grupo de mulheres de pescadores nas ilhas Åland. Esta iniciativa se reflete na Finlândia, em particular nas regiões de língua sueca, e leva à criação de um grupo de mulheres do litoral, estabelecido sob a proteção da Associação Nacional de Pescadores. O coletivo adquire representação nas comissões de trabalho e cooperação informais, mas não consegue penetrar nas estruturas oficiais. Para terem mais peso, apesar de dependerem das organizações masculinas, as finlandesas apostam pela cooperação com os países nórdicos. Noruega é o motor principal. O primeiro objectivo comum é a segurança no mar. O Conselho de Ministros Nórdico considera o informe de 1997, sendo que este resulta num projeto de formação em matéria de segurança marítima coordenado por uma universidade islandesa. A finlandesa Marja Rak apresenta aos participantes do seminário de Vaasa sua linha de vestuário em pele de peixe curtida. (contato : http://www.noolan.com) Encorajadas por este sucesso relativo, as mulheres empreendem o desenvolvimento e a harmonização da segurança socioeconômica no sector da pesca entre os países nórdicos. É elaborado um novo informe abrangendo temas tais como a falta de indenizações em caso de acidente, as pensões e os salários-mínimos, a protecção das mulheres de pescadores e o reconhecimento dos desaparecidos no mar por circunstância de um naufrágio. Entretanto, desta vez os resultados são escassos. Réseau FEMMES Rede FEMMES Seduzida, Michèle Pendelièvre (FETEM) sonha com a sua transformação... A nível internacional, o movimento de mulheres de pescadores na Finlândia não se revela muito dinâmico. As ações mantêm-se a um âmbito muito local e centram-se principalmente em torno da arrecadação de fundos, através da venda de camisetas e de peixe com batatasfritas. No auge da sua actividade, a associação finlandesa organiza encontros entre as populações litorâneas para divulgar informações sobre a instalação de pequenas unidades de transformação dos frutos-do-mar e sobre as possíveis fontes de financiamento. As mulheres mostram-se interessadas, mas não ao ponto de se deslocarem para assistir às reuniões em locais um pouco afastados de sua região. O desenvolvimento da associação finlandesa de mulheres do litoral tropeça em dois obstáculos. Por um lado, as mulheres são as primeiras a deixar o setor da zzz 4 pesca em caso de dificuldades. Por outro, o compromisso individual com as causas comuns é débil. A falta de voluntárias supõe um problema para as associações de mulheres do litoral, visto que não existe na Finlândia qualquer movimento feminista no qual possam apoiar-se para ampliar seu foro. A situação atual seria como uma espécie de doce resignação. ( contato : [email protected]) zzz Retrato Do pescador ao prato A vida familiar de Camillan Kalaherkku levou-a a deixar a restauração para lançar-se na preparação e na venda de filetes de arenque. História de uma pequena empresa familiar dirigida por uma mulher. Oriunda de Ostrobotnie, Camillan Kalaherkku vive numa localidade de 400 habitantes, que conta com sete pescadores artesãos. Seu marido é um deles. Camillan começou a trabalhar aos 19 anos na restauração, após ter concluído seus estudos na escola de hotelaria onde aprendeu a cozinhar e sobre o serviço de funcionamento de um restaurante. Casou-se aos 22 anos e manteve seu trabalho até o nascimento do seu primeiro filho. Ela e seu marido trabalhavam então à noite, e Camillan, tanto por necessidade quanto por escolha, teve a idéia de abandonar a restauração e dedicar-se a transformar e acondicionar os arenques pescados pelo seu marido. Christine Escalier Arenque com endro No início, ela alugava uma cozinha onde preparava os filetes: mostarda, alho e sobretudo endro, a sua especialidade. Vendia seus produtos nos mercados municipais vizinhos, um pouco no Natal e sobretudo no verão durante a temporada turística. O negócio funcionava bem e Camillan pôde, pouco a pouco, assumir as despesas (transporte, aluguel de um local) para participar das exposições de produtos do mar e assim equipar-se com um local segundo as normas sanitárias européias. Posto de Camilla na festa do Arenque em Helsinki. Ela produz actualmente entre 20 e 30 produtos diferentes. Em alta temporada, seu local emprega até dez pessoas, principalmente aposentados. Camillan possui uma marca própria, a qual distribui principalmente durante a celebração das exposições e começa a introduzir-se em supermercados. Ela cria uma receita todos os anos para renovar a sua oferta. Além disso, vende uma parte importante da sua produção a um único comprador, que revende em grandes superfícies com outra marca. Este cliente lhe garante um volume de negócios mínimo, o que lhe permite dedicar algum tempo para a produção. Rede FEMMES Contudo, Camillan está bastante preocupada com o futuro. Sua atividade depende da pesca de seu marido, que ela compra a preço do mercado local. Agora bem, duas ameaças surgem sobre a pesca do arenque: a restrição das qüotas e, o que é ainda pior, a proibição de pescar se os problemas da contaminação de dioxinas se agravarem. Visita e degustação no local de Camillan. Contato : [email protected] 5 Na adversidade VinVis Países Baixos Os membros da rede VinVis. Algumas mulheres voluntárias têm assumido a responsabilidade de defender as famílias de pescadores atingidas pela crise. Nos seus três anos de existência, esta rede provou o seu valor. Na sua maioria, as mulheres de pescadores holandesas envolvem-se no trabalho de seus maridos. Sejam esposas de marinheiros ou de patrões de barco, tenham ou não um emprego alheio ao setor pesqueiro, elas assumem sempre numerosas tarefas: contabilidade, operações bancárias, trâmites administrativos, vendas em leilão, limpeza, comércio, psicultura, etc., bem como assuntos relacionados com a tripulação, no caso das esposas de patrões. A pesca está no coração da sua existência. Finalmente, esta rede veio à tona, apesar das reticências, em junho de 2000. Promovida por uma mulher externa à pesca, depende do voluntariado de somente uma dúzia de pessoas. As trocas de informações e idéias fazem-se essencialmente por correio electrônico. Informalidade, discrição e conciliação são suas palavras-chaves. Trata-se mais de defender os interesses das famílias e da comunidade do que promover as condições das mulheres de pescadores. Agora bem, ainda que o meio da pesca holandesa seja relativamente pequeno e socialmente homogêneo, existem grandes diferenças culturais a nivel regional e, sobretudo, uma rivalidade profunda entre as duas grandes organizações profissionais. As mulheres activas na rede VinVis não estão querendo implicar-se neste conflito, muito pelo contrário, desejam trabalhar em colaboração estreita com ambas organizações masculinas. Porém, o seu papel não recebe qualquer reconhecimento. Elas nunca foram convidadas a participar das reuniões das duas grandes organizações profissionais masculinas, e ao contrário das agricultoras, elas mesmas nunca tiveram a iniciativa de estruturar-se como associação. Num meio profundamente machista, sua posição social permanece muito débil. No entanto, as mais jovens aceitam cada vez menos esta situação em comparação com as mulheres mais maduras. Não é de surpreender, portanto, que a idade média das mulheres de pescadores vinculadas à rede VinVis (Vrouwen in de Visserij, "As mulheres nas pescarias") seja de apenas 30 anos. As dificuldades enfrentadas pelas pescarias holandesas neste início do novo milênio facilitaram o andamento da rede. A crise do bacalhau em 2001, produzida pela decisão da União Européia de fechar certas zonas de pesca no Mar do Norte, para freiar o esgotamento dos recursos, e a do camarão em 2003, zzz 6 Suécia após a denúncia por parte das autoridades holandesas do acordo que regulava a produção, deram sentido e maior visibilidade ao compromisso das mulheres. Tornando-se defensoras da comunidade dos pescadores, puderam reestabelecer um pouco sua imagem pública. Assim mesmo, obtiveram também um certo reconhecimento por parte das organizações de pescadores, que se mostram menos paternalistas. zzz Em construção As mulheres de pescadores suecos criaram em 2000 uma micro-rede, porém elas necessitam de apoios externos para poder avançar. A perpetuidade da rede passa pela sua transformação em associação? A questão preocupa aos membros da Vin Vis. Na verdade, isto permitiria que dispusessem de mais fundos e que não dependessem dos meios institucionais de outras organizações, como por exemplo da página Web das organizações de pescadores. Mas ao mesmo tempo, a proximidade e a flexibilidade da rede prestam-se mais ao diálogo, em contrapartida de experiências e da definição de um projeto comum. A decisão merece ser ponderada com aten ção. (contato : [email protected]) Os pescadores casados têm maiores possibilidades econômicas do que os solteiros. Isto é o que mostram os estudos suecos. De fato as mulheres desempenham um papel especial na indústria pesqueira, promovendo aos pescadores ao mesmo tempo segurança, rentabilidade e reconhecimento de sua atividade. "Os coletes salva-vidas são para os amadores". Esta concepção é a priori uma constante entre os pescadores, mas as mulheres podem contribuir para revertê-la se lhes possibilita o acesso às informações técnicas necessárias aos seus maridos. Já é bem conhecido o fato de que a formação obrigatória acerca da segurança marítima para os pescadores raramente passa da teoria à prática. Para que isto aconteça, a contribuição das mulheres pode ser muito valiosa. Os camarões neg r os O conservadorismo dos pescadores suecos revela-se também no fato de recusarem a possibilidade de dedicar-se a outras actividades que não seja a pesca em si mesma: atividades como a transformação e o acondicionamento, definitivamente não são nem serão o seu ofício. As suas mulheres, em contrapartida, estão abertas a tais atividades, pois são elas que tradicionalmente garantem o rendimento complementar. Porque não ajudá-las a obter esse rendimento complementar proveniente da própria actividade pesqueira? As propostas de diversificação não se limitam, aliás, à transformação: a psicultura e a pesca esportiva são duas áreas rentáveis, nas quais as mulheres podem atuar ativando-as. Nos anos 90, o preço do camarão era tão baixo que os pescadores holandeses foram obrigados a aumentar gradativamente o volume das pescas como tentativa de impedir a diminuição de seus rendimentos. Os "stocks" acumularam-se causando um aumento da tensão social. Para sair da crise, as organizações de produtores dinamarqueses, alemães e holandeses, associaram-se com as principais empresas de distribuição, firmando um acordo voluntário de regulação dos montantes pescados. O acordo revelou-se eficaz e o camarão voltou a constituir-se em um setor rentável e atrativo. A pesca não é para a Suécia uma actividade crucial como é para a Noruega. Para ser ampliada e desenvolver-se, a rede de mulheres deverá nutrir-se da experiência e do dinamismo das organizações de outros países. (contato : [email protected]) Rede FEMMES Em janeiro de 2003, ocorreu algo imprevisto: as autoridades da competência holandesa romperam com o acordo tripartido, denunciado que o mesmo era contrário às leis da concorrência, e com isso impuseram aos pescadores e aos distribuidores multas exorbitantes. A superprodução reapareceu, provocando graves dificuldades às famílias de pescadores. As mulheres da VinVis colaboraram estreitamente com os representantes dos pescadores para contatar com os responsáveis políticos, tentando fazer com que eles aderisem à sua causa. Esta campanha de opinião pública permitiu levar o debate ante o parlamentos holandês e europeu. A delegação em Vaasa das associações escandinavas de mulheres de pescadores. Mariet Groen 7 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL AKTEA AS MULHERES NA PESCA, O MARISQUEIO E A AQÜICULTURA: APRENDENDO DO PASSADO E DA AÇÕES NO PRESENTE VISÕES PARA O FUTURO 10-13 Novembro de 2004 - Hotel Congreso, Santiago de Compostela, Galicia, Espanha Apresentação Do sul ao norte as mulheres desempenham um papel importante no setor da pesca e da aqüicultura dentro das comunidades costeiras. Este papel está ligado à produção, ao processamento ou à venda do produto. Em todos os casos, o trabalho das mulheres é uma contribuição essencial para as unidades de produção e para o sustento da casa, assim como para o desenvolvimento social da comunidade. As mulheres também podem contribuir na diversificação da renda da família participando em atividades que não se relacionam necessariamente com o setor pesqueiro ou a aqüicultura. Seu trabalho freqüentemente resulta invisível nas estatísticas, raramente é reconhecido com uma remuneração e em geral não goza do reconhecimento legal que lhes daria acesso aos sistemas de proteção social, formação, crédito, assim como a outros recursos. As mulheres estão começando a levantar suas vozes para ganhar o reconhecimento de seu papel, mas também para participar ativamente em discussões públicas sobre as comunidades e a forma de vida vinculada à pesca, sobre a segurança no mar, a gestão dos recursos, o desenvolvimento da economia local, os mercados, a participação da comunidade na tomada de decisões, ou a investigação. As mulheres também estão começando a participar em associações autônomas ou junto aos homens dentro das organizações tradicionais do setor pesqueiro. Algumas delas desejam compartilhar suas análises e experiências participando no estabelecimento de uma rede internacional e favorecendo o intercâmbio com os/as investigadores/as. Conferência AKTEA Esta conferência se dirige às mulheres vinculadas ao setor pesqueiro, à aqüicultura ou o marisqueo, assim como aos/as investigadores/as que trabalham sobre o papel da mulher em tais âmbitos. Organizar-se-á uma excursão pré-conferência as comunidades costeiras próximo ao dia 10 de novembro. Do dia 11 ao dia 13, os/as participantes terão a oportunidade de debater à partir de apresentações orais, sessões de pôsters e fóruns de discussão. Solicitação de contribuições (prazo 15 de Junho 2004) As propostas de contribuições podem ser enviadas a secretaria da Conferência até o dia 15 de junho de 2004. Tais contribuições podem realizar-se sob a forma de uma apresentação oral, um pôster ou através da animação de um fórum de discussão. Haverão traduções simultâneas em espanhol, francês e inglês. Para maiores detalhes sobre estes temas, o envio de resumos e a inscrição no Congresso acudir a página web da conferência: http://conference.fishwomen.org Organizadores - Universidad de Bretaña Occidental, CEDEM, Brest, França - Universidad de Laguna, Instituto de Ciências Políticas e Sociais, Tenerife, Espanha - Universidade de Madeira, Departamento de Ciências da Educação, Funchal, Portugal - Universidad de Tromso, Departamento de Estudos do Planejamento e as Comunidades, Tromso, Noruega - Consellería de Pesca del Gobierno Gallego, Santiago de Compostela, Espanha Ajuda Financeira Dirección General de Pesca, Comissão Européia, Bruxelas, Bélgica - Universidad de Bretaña Occidental, CEDEM, Brest, França - Consellería de Pesca del Gobierno Gallego, Santiago de Compostela, Espanha