XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011 AVALIAÇÃO ECOTÓXICOLOGICA DE GRÂNULOS PLÁSTICOS (PELLETS) UTILIZANDO OURIÇO-DO-MAR Nobre, C. R.1; Maluf. A.1; Cortez. F. S.1; Cesar. A.1; Turra. A.2; Pereira, C. D. S.1 1 UNISANTA – Universidade Santa Cecília, Laboratório de Ecotóxicologia - Rua Oswaldo Cruz, 266, 11040-601, Santos, São Paulo. E-mail: [email protected]; [email protected]. 2 USP – Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico (IO) - Departamento de Oceanografia Biológica - Praça do Oceanográfico, 191, 05508-900, Cidade Universitária, São Paulo, São Paulo. RESUMO Pellets são grânulos plásticos derivados do propileno, como o polipropileno, polietileno e poliestireno. Atualmente há uma crescente ocorrência desse material no ambiente marinho oriundo de atividades portuárias e industriais. Devido à sua porosidade, apresenta alta capacidade de associação a contaminantes, princialmente orgânicos, atuando como uma via de transporte e exposição de poluentes para organismos marinhos. Nesse contexto, o presente estudo avaliou a toxicidade de pellets plásticos virgens e pellets coletados na praia de SantosSP, através do ensaio de desenvolvimento embriolarval do ouriço do mar Lytechinus variegatus. Os ensaios foram realizados empregando-se os tratamentos interface pellet-água e elutriato. Foi observada toxicidade crônica de pellets virgens em ambos os tratamentos, enquanto os pellets de praia apresentaram efeito apenas no tratamento de interface pelletágua. A toxicidade dos pellets pode estar associada à sua própria composição ou a diferentes xenobióticos associados, e representam um risco à biota aquática. Palavras chave: Toxicidade, Pellets, Lytechinus variegatus. INTRODUÇÃO Os plásticos podem ser encontrados sob a forma de grânulos, também denominados “plastic pellets” ou nibs. Os pellets mais comuns são derivados do propileno, como o polipropileno, polietileno e poliestireno (SHIBER, 1982 e 1987; PRUTER, 1987; EPA, 1992). compostos são aditivados (misturados ou ligados quimicamente) para alterar as características do polímero, tais como as propriedades estéticas, físicas e relacionadas com a facilidade de ser posteriormente processados (ex. porosidade) (EPA, 1992). Os pellets são levados em grandes quantidades ao ambiente marinho por perdas nos processos de produção, transporte e/ou transformação, pelos rios ou sistemas de esgoto ou de drenagem de águas pluviais. Desta forma, causam impactos estéticos, econômicos e ambientais. Como exemplos impactantes, podemos citar a ingestão de pellets por animais, a deposição em grande quantidade em praias e a sua toxicidade. De acordo com ANANTHASWAMY (2001) muitos aditivos presentes nos pellets são conhecidos como sendo tóxicos e seus efeitos podem ser severos em organismos aquáticos que ingerem os pellets. Além disso, os polímeros plásticos funcionam como veículos para alguns compostos tóxicos como DDT, PCBs e nonofenóis (CARPENTER et al., 1972; SHIBER, 1979 e 1982; MATO et al., 2001). Apesar de sua reconhecida composição e associação a poluentes, escassos estudos abordam efeitos tóxicos à biota marinha. Nesse contexto, o presente estudo tem por objetivo avaliar a toxicidade dos pellets plásticos(coletados em praia e vindos da industria (virgem)) através de testes de toxicidade crônica de curta duração com ouriço-do-mar Lytechinus variegatus. MATERIAIS E MÉTODOS A toxicidade crônica de Pellets oriundos diretamente da industria (virgem) e Pellets coletados na praia de Santos – SP, foi avaliada a partir do ensaio de toxicidade crônica de curta duração com ouriço-do-mar Lytechinus variegatus (ABNT 15350/2006). Foram empregando dois tratamentos: Interface Pellet-Água (IPA) e Elutriato. Para o tratamento IPA, utilizou-se o método adaptado de CESAR et al (2004). 2 ml de pellets foram posicionados em tubos de ensaio e fixados por uma rede de plâncton acoplada a Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011 um anel plástico. Por fim adicionou-se 8ml de água de diluição marinha e o sistema foi deixado em repouso por 24 horas antes da inserção dos organismos. O tratamento Elutriato foi adaptado da ANBT NBR 15350 (2006) onde foram colocados 200 ml de pellets em béqueres de 1L e depois completados com 800 ml de água de diluição marinha. A solução foi agitada em aparelho de Jar-test por 30 minutos e deixado em repouso por 24 horas. Foram realizados 3 ensaios para cada tratamento com 4 réplicas para cada amostra. Em paralelo aos ensaios foram realizadas análises fisico-quimicas (pH, O.D, Temperatura e Salinidade). Os dados obtidos foram análisados estatisticamente com o auxilio do software TOXSTAT 3.5 (WEST & GULLEY, 1996) onde foram avaliados a normalidade e homogeneidade através de F-TEST e CHI-QUADRADO, posteriorermente foram realizadas comparações pareadads utilizando o T-TEST com bioequivalência de 0,86 para ensaios com ouriço-do-mar em amostras quimicas e efluentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO No tratamento de Interface Pellet-Água (Figura 1) foi observada toxicidade tanto para os pellets virgens como para os pellets de praia. Para o tratamento Elutriato (Figura 2) somente os pellets virgens apresentaram toxicidade. A toxicidade apresentada pelos pellets virgens pode estar relacionada à sua composição. Segundo BICEGO et al (2010) os pellets virgens contem altas concentrações de hidrocarbonetos alifáticos (AHs). Trabalhos pretéritos também observaram altas concentrações de compostos orgânicos em pellets coletados em ambientes marinhos (ENDO et al, 2005 e BICEGO et al, 2010). A diferença na toxicidade dos pellets se mostrou influenciada pelas distintas maneiras de preparo dos ensaios. A fase interface pellet-água simula um contato sem atrito ou agitação vigorosa, tipica do ambiente experimentado por organismos epibentonicos, onde os contaminantes contidos na amostra podem migrar para a coluna dágua através de difusão, causando a toxicidade. No tratamento elutriato, a agitação vigorosa do pellet com a água pode promover maior volatilização de alguns compostos, fato demonstra a importância do uso de diferentes tratamentos (CESAR et al, 2004). Figura 1: Tratamento Interface Pellet-Água. * significa diferença significativa em relação ao controle (p = 0,05). CONCLUSÃO A toxicidade observada em amostras de elutriato e interface pellet-água demonstram a capacidade de pellets plásticos virgens e expostos ao ambinete marinho causar efeitos adversos em organismos marinhos, conferindo risco ecológico à introdução desse material no ambiente aquático. Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011 Figura 2: Tratamento Elutriato. * significa diferença significativa em relação ao controle (p = 0,05). REFERÊNCIAS ABNT NBR 15350. 2006. Ecotoxicologia aquática -Toxicidade crônica de curta duração Método de ensaio com ouriço-do-mar (Echinodermata:Echinoidea). ANANTHASWAMY, A. 2001. Junk food - A diet of plastic pellets plays havoc with animals immunity. New Scient., 169(2274): p. 18. BÍCEGO, M. C. ; TANIGUCHI, S. ; SASAKI, S. T. ; TURRA, A. ; COLABUONO, F. I. ; FISNER, M. ; MONTONE, R. C. 2010. Varredura de hidrocarbonetos em grânulos plásticos da praia de Embaré, Baixada Santista, São Paulo, Brasil. In: Antropicosta Iberoamerica, 2010. Cananéia, São Paulo. Resumo. 1: p.1. CARPENTER, E. J.; ANDERSON, S. J.; HARVEY, G. R.; MIKLAS, H. P.; PECK, B. B. 1972. ‘Polystyrene spherules in coastal waters’. Science, 178: p. 749. CESAR, A.; MARÍN, A.; MARÍN-GUIRAO,L. & VITA, R. 2004. Amphipod and sea urchin test do assess the toxicity of Mediterranean sediments: the case of Portmán Bay. Scientia Marina. 68: 205-213. ENDO, S.; TAKIZAWA, R.; OKUDA, K., TAKADA, H.; CHIBA, K.; KANEHIRO, H.; OGI, H.; YAMASHITA, R.; DATE, T. 2005. Concentration of polychlorinated biphenyls (PCBs) in beached resin pellets: Variability among individual particles and regional differences. Mar. Pollut. Bull. 50(10): 1103-1114. EPA. 1992. Plastics pellets in the aquatic environment (Final Report) – EPA/842-B-92-010. Washington, Environmental Protection Agency. MATO, Y.; ISOBE, T.; TAKADA, H.; KANEHIRO, H.; OTAKE, C.; KAMINUMA, T. 2001. Plastic resin pellets as a transport medium for toxic chemicals in the marine environment. Environ. Science & Tech. 35(2): 318-324. PRUTER, A. T. 1987. Sources, quantities and distribution of persistent plastics in the marine environment. Mar. Pollut. Bull. 18(6B): 305-310. SHIBER, J. G. Plastic pellets on the coast of Lebanon. 1979. Mar. Pollut. Bull. 10: 28-30. SHIBER, J. G. 1982. Plastic pellets on Spain's Costa del Sol beaches. Mar. Pollut. Bull. 13: 409-412. SHIBER, J. G. 1987. Plastic pellets and tar on Spain's Mediterranean beaches. Mar. Pollut. Bull. 18(2): 84-86. WEST, INC GULLEY, D. 1996. TOXSTAT®. Computer Program. Version 3.5. University of Wyoming. Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia