V Encontro Anual da ANDHEP - Direitos Humanos, Democracia e Diversidade. 17 a 19 de setembro de 2009, UFPA, Belém (PA). Grupo de Trabalho: Direitos Econômicos e Sociais e Políticas Públicas de Direitos Humanos Título: Declaração de Belém de Atenção à Migração Feminina entre Brasil e Suriname Autores Lúcia Isabel da Conceição Silva – UFPA e Sociedade dos Direitos Sexuais Amazônia Marcel Hazeu - Sociedade dos Direitos Sexuais Amazônia / mestrando NAEA/UFPA. A DECLARAÇÃO DE BELÉM DE ATENÇÃO À MIGRAÇÃO FEMININA ENTRE BRASIL E SURINAME O processo de discussões e trabalho que culmina na elaboração da Declaração de Belém de atenção à migração feminina entre Brasil e Suriname diz respeito a um processo que relaciona fenômenos afetos a formas de organização populacional e de inserção social: migração feminina e políticas públicas para o enfrentamento a um crime que, em função da maior ou menor condição de vulnerabilidade das mulheres no contexto migratório, tem concretamente se associado a esta como uma forma de escravidão moderna. Trata-se de um tema complexo, sobretudo porque se insere na discussão de uma série de outras temáticas. Falamos de uma miríade de circunstancias, fatos e fatores, os quais não são possíveis abordar sem uma alusão às questões das violências e das violências de gênero, das questões que ligam poder e sexualidade, sem discutir a questão da pobreza e da miséria e destas com o fenômeno histórico das migrações na formação e mudanças dos grupos populacionais humanos. É forçoso, portanto, pontuar o lugar onde estas questões se entrecruzam, ainda que, ao mesmo tempo, seja difícil localizar esse entrecruzamento. Neste texto queremos apresentar reflexões sobre a questão da migração feminina entre Brasil e Suriname e sobre o processo da construção da declaração de Belém, como instrumento de mudança, suas perspectivas e limitações. Como é sempre necessário começar por algum lugar, vamos a uma discussão inicial sobre o fenômeno da migração. É fato que os movimentos migratórios fazem parte da história de formação dos grupos humanos, estando, de formas diversas relacionados a características de exploração e conhecimento de novos lugares, expansão de fronteiras, e muito fortemente, relacionados às condições de heterogeneidade geográfica, social, econômica, política ou cultural entre os diferentes grupos. Nas últimas décadas este movimento tem, entretanto, se intensificado, facilitado pelo desenvolvimento tecnológico, de processos de comunicação e de transporte, mas, sobretudo, em função do patente aumento das condições de exclusão social e miséria de uma grande parcela da população e os processos de exclusão moral e simbólica ou os diferentes perfis de vulnerabilidade que estes determinam. Atualmente as estimativas dão conta de que aproximadamente 191 milhões de pessoas vivam fora de seus países de origem. Desse total, cerca de 02 milhões são brasileiros, dos quais 69,5% são mulheres. Nestes números se entrecruzam desigualdades entre as pessoas, países e regiões, em geral gente de um sul pobre e marginalizado que busca no norte desenvolvido no qual encontra, via de regra, mais marginalização e violação de direitos. Por traz da decisão de migrar há sempre a expectativa de mudar de vida, buscar outras oportunidades que não encontram em seus lugares de origem. As mudanças no perfil do migrante demonstram a contundência da falta de garantia dos direitos aos cidadãos: mais mulheres, mais pobres, menos escolaridade, nenhuma qualificação profissional, perfil que vai também configurar menores possibilidades de ascensão e inserção social e maior vulnerabilidade a violações de direitos. O maior número de mulheres reflete ainda o aumento da responsabilização destas como únicas provedoras do sustento dos filhos e dos domicílios. Os dados mostram também que são estas as mais vulneráveis a violações. Uma palavra sobre migração e vulnerabilidades Conforme já adiantado acima, estes chamados tempos modernos dão conta de estreitar as associações entre os dois conceitos. O termo vulnerabilidade, bastante requisitado nos discursos sobre questões sociais, está em geral associado à pobreza ou exclusão donde derivam as expressões “populações vulneráveis, “situação de risco ou vulnerabilidade social”. Como a vulnerabilidade não é uma questão de identidade individual, mas conseqüência do contexto e condições sociais, culturais e econômicas nas quais as pessoas vivem e que transformam características da pessoa num vetor de exclusão, adotamos como definição de trabalho “pessoas em situação de vulnerabilidade”. Fala-se de processos, de certa forma, reprodutivos, já que resultantes da pobreza e ao mesmo tempo, concorrem com sua manutenção. É como uma reação em cadeia: uma não inserção ou inserção deficiente como geradora de uma primeira vulnerabilidade: ausência de renda. Esta por sua vez, leva a não acesso a bens e serviços sociais básicos (educação, saúde, moradia, saneamento), que condicionam, por sua vez, limitações às capacidades de indivíduos ou grupos de agirem no meio social, de acessar informações, serviços ou direitos, enfim, de nele operar e se movimentar. Trata-se da falta concreta, de bens, de recursos e até de comida e, da ausência de condições (esta também concreta) de usufruir com qualidade dos bens e serviços ou de reivindicá-los como direito. Tem-se, portanto, a exclusão moral ou simbólica a que está submetida ampla parcela da população, confinada em geral, às periferias inchadas das grandes cidades, aliás, um produto também dos processos migratórios intensos entre campo e cidade ou entre as cidades menos e mais desenvolvidas. Parece que aqui, tanto se ilustra o sentido reprodutivo das chamadas vulnerabilidades, quanto começa a se configurar a relação entre os dois termos em questão. Pode-se dizer que a migração é ao mesmo tempo resultante de processos de vulnerabilidades e provocadora de extrema vulnerabilidade aos migrantes ou desterritorializados. A perspectiva criminalizadora ou de segurança nacional com a qual se tem encarado a questão da migração tem ignorado os deveres dos Estados no que diz respeito aos direitos dos migrantes e de suas famílias, inclusive aqueles já reconhecidos por normas internacionais, aos quais os Estados mesmo aderindo voluntariamente, têm se omitido de respeitar e garantir concretamente. As vulnerabilidades afetam presente, passado e futuro dos sujeitos. No contexto da migração diz-se que se estas se apresentam no antes, durante e depois da viagem: no lugar de origem os sujeitos convivem com desrespeito aos direitos humanos, desigualdade, falta de oportunidades; migram e, no lugar de destino encontram novas situações de vulnerabilidades: torna-se um “estranho” que está num lugar que não lhe pertence e ou ao qual ele não pertence. Os indicadores de fragilidade social e psicológica parecem evidentes nas precárias possibilidades de inserção, de autonomia e de acesso a trabalho, moradia, rede de apoio. Vale ressalvar que não se trata de debilidade individual, já que do ponto de vista do sujeito, são exatamente os mais corajosos que migram, migrar exige determinação. Tratam-se, sobretudo das interrelações nas condições dos contextos sociais, econômicos, culturais e jurídicos como determinantes de vulnerabilidades. Ao migrante resta então: aceitar relações trabalhistas mais exploradoras, já que não gozam das mesmas garantias trabalhistas aplicadas aos nacionais; enfrentar preconceitos e discriminações diversas, tais como de invasores, mão de obra barata, ameaças ao território ou aos postos de trabalho dos nacionais, primeiros suspeitos ou causadores dos problemas ou confusões. Os migrantes sofrem com a não possibilidade da participação na dinâmica social e na vida política do país, além das objetivas dificuldades com o idioma, com a documentação e a vida na informalidade. Em geral se submetem a jornadas exaustivas de trabalho porque precisam mandar dinheiro para o lugar de origem ou são submetidos a condições análogas à escravidão. Enfim, à expectativa de vida melhor, a migração frequentemente responde com mais exclusão, marginalização, isolamento cultural e, por conseguinte, enfraquecimento de sua identidade cultural. A questão das mulheres Os fatores de vulnerabilidades que afetam o todo da população vão revelar impactos diferenciados para segmentos populacionais diversos em função de marcadores sociais específicos. Por exemplo, não é possível falar das vulnerabilidades das mulheres no contexto da migração, descurando dos históricos processos de formação das desigualdades de gênero responsáveis por demarcar o lugar e posição das mulheres nas diferentes sociedades. Vai exigir ainda, o olhar sobre os direitos das mulheres e a longa história de luta por tais direitos, além da necessidade de demarcar o direito à diferença, à privacidade, ao uso do corpo e à vivência da sexualidade. Vale dizer que o enfrentamento das vulnerabilidades vai exigir esse mesmo olhar. Já que, conforme dito anteriormente, as vulnerabilidades se circunscrevem nos espaços e contexto sociais, políticos ou geográficos a que os sujeitos estão inseridos, parece útil referir ao lugar ou não lugar das mulheres no contexto da Amazônia. Um contexto no qual o lugar e papel das mulheres sempre foram configurados em função do trabalho masculino, se organizando historicamente nas bordas deste. Se para os homens, os projetos de desenvolvimento exploradores e devastadores pensados para a Amazônia reservaram os amplos processos migratórios para os garimpos ou a expectativa de subemprego nas construções dos grandes projetos de exploração das riquezas naturais, para as mulheres pobres da Amazônia sobraram os deslocamentos atrás destes homens para ocupar lugares ainda mais periféricos e em função das necessidades destes: cozinheiras, trabalhadoras domésticas, prostitutas, ou não raro uma combinação destes, fora ou dentro de casamentos neste novo contexto onde novas relações se estabelecem, reforçando violações de gênero ou criando formas de resistência. Em geral, esta organização se dá, frequentemente pela intermediação de aliciadores ou traficantes. Desta regra geral se distanciam histórias de mulheres que se tornam donas de boates, garimpos ou comércios, nos quais, porém, elas geralmente reproduzem os mesmos mecanismos de exploração de outras mulheres, esta interrelação entre dominação de classe e gênero, entretanto, merece mais estudo. Algumas outras situações são típicas dessa permissividade como, por exemplo, um tipo específico de coronelismo no qual homens de poder (políticos, delegados, fazendeiros etc) se apropriam das mulheres exercendo sobre estas, grande poder e submetendo-as a abuso e exploração sexual. Outro exemplo é a cultura das afilhadas ou crias de família, que são as meninas de outras regiões pobres ou municípios que são recebidas nas casas de famílias com melhores condições, onde trabalham como empregada doméstica, muitas vezes em troca de comida e roupa e acabam sendo iniciadas sexualmente pelo chefe da família ou seus filhos homens. Vemos ainda as várias modalidades de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rotas fluviais nas beiras de rio, a exploração nas zonas portuárias e estradas ou nas ruas dos centros urbanos. Todos exemplos de uma dinâmica que foi / é responsável por fragilizar a posição da mulher na Amazônia e produzir uma cultura permissiva à exploração da mão de obra feminina no mercado de sexo e no âmbito doméstico, contribuindo grandemente para a configuração do crime de tráfico de mulheres. São situações que configuram o que se pode chamar de sub-cidadania das mulheres que aceitam facilmente as propostas para abandonar seu local de origem atrás de oportunidades. Não se trata de mulheres que arriscam e exploram individualmente um caminho desconhecido, mas de sujeitos que escolhem uma opção que historicamente e estruturalmente foi construída para as mulheres pobres na Amazônia: a migração sem garantias, para destinos com imagens social e culturalmente construídas como bons lugares para ganhar dinheiro ou para casar com um homem que as tira da pobreza. Estas histórias e situações são facilmente e comumente encontradas nas periferias das cidades da Amazônia, configurando várias rotas de migração e muitas outras de tráfico de mulheres, que iludidas por promessas de ganhos altos e vida melhor aceitam propostas e são violadas em seus direitos. Todas estas situações facilitam entender em que condições as mulheres aceitam as propostas ou “consentem”. Fica fácil também entender a geografia das rotas de migração e tráfico cada vez mais bem desenhadas: mulheres de Rio Branco e Porto Velho para a Bolívia e Peru; do Amazonas para a Venezuela; da República Dominicana para o Panamá ou Suriname, de Goiás para a Espanha dentre tantas outras, do Brasil (mais especificamente do Pará) para o Suriname, rota que nos interessa neste texto discutir. Um pouco da história sobre migração e migração feminina entre Brasil e Suriname Embora Brasil e Suriname sejam dois países com tímidas relações econômicas, a migração de brasileiras e brasileiros para o Suriname sempre foi intensa. Em comum, além de uma área de fronteira, uma história de colonização violenta por europeus, num processo que, em ambos os países praticamente dizimou sua populações nativas (indígenas) e viveram um período de escravidão que trouxe para suas terras milhões de africanos. Em comum ainda histórico de guerra civil e golpes militares em seu processo de organização política Atualmente, o Suriname possui uma população de aproximadamente 450 mil habitantes, com uma área de pouco mais de 160 mil Km². A base da economia está nos setores de comércio e serviços, sendo um país rico em madeiras e minérios. Seu PIB de 2, 241 milhões (BM. 2007) o que o coloca na 148ª posição no ranking dos países. Migrantes e descendentes de javaneses, indianos, chineses, brasileiros atraídos pela necessidade de mão de obra e estímulo à migração, fazem do Suriname hoje o que se pode chamar de uma sociedade plural, embora tal conceito adquira um peculiar sentido no contexto surinamês. Os descendentes de africanos, hindustanos, chineses, holandeses e javaneses formam os principais pilares da organização surinamesa. Estes grupos, entretanto, se acham divididos em partidos políticos, áreas de trabalho, vida social, religiões etc, num processo de afirmação de identidades e dificuldades de integração entre eles, com claras fronteiras que se constroem em torno da diversidade cultural, racial, étnica, lingüística etc. Relatos indicam que desde a década de 40 o fluxo de migrantes brasileiros para o Suriname é visível, motivado por aberturas de garimpos e a grande expectativa de ganhos nas atividades de mineração. A partir da década de 90, quando a atividade garimpeira entra em crise no Brasil, este fluxo se intensifica atraindo milhares de brasileiros, que uma vez lá, passam a disputar espaço com os chamados negros da floresta (Marrons), população descendente dos antigos escravos e praticantes tradicionais desta atividade. De forma geral, pode-se dizer que estas migrações mais recentes, como é o caso do Brasil ou da China ainda não chegam a se enquadrar na mesma percepção de identidade nacional dos migrantes mais antigos, sendo, ao contrário, vistos como ameaça à organização social estabelecida. Para os brasileiros, especificamente, está reservada uma certa atitude negativa e preconceituosa por parte dos surinameses, atitude que acaba favorecendo um ambiente de vulnerabilidades. Esta postura se intensifica quando se trata das mulheres, para as quais uma das mais fortes representações é de “puta”. Estudos têm identificado diferentes formas de exploração de mulheres em áreas urbanas ou em garimpos (ANTONIUS-SMITS, 1999), dentre as quais acampamentos de prostitutas, cozinheiras ou vendedoras que também prestam serviços sexuais. Os clubes em Paramaribo são, entretanto, os locais nos quais mais se materializa as situações de tráfico. No ano de 2001, o serviço de saúde público, no qual as mulheres realizam exames obrigatórios de DSTs e AIDS, identificou 308 brasileiras (STICHTING MAXI LINDER ASSOCIATION, 2001). A PESTRAF (Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Pessoas; LEAL, 2002) identificou 241 rotas, dentre elas, esta que liga o norte do Brasil ao Suriname. Por se tratar de um tema polêmico no Suriname (aliás no Brasil também) a produção de conhecimento ainda é escassa, sendo mais possível encontrar relatos em matérias de jornais, estudos de pesquisadoras independentes ou alguns casos do judiciário. Partindo da compreensão de que um problema só poderá ser enfrentado e resolvido, quando ele é de fato assumido como problema e compreendido em suas diversas dimensões, é que algumas organizações de direitos humanos começam a assumir o desafio de construir conhecimento de forma coletiva em torno dos aspectos que configuram o crime de tráfico: identificar rotas e descrever situações, identificar e dar voz ás mulheres, construir com estas formas de enfrentamento também coletivo. É com esta intenção que se fez a proposta a Pesquisa Tri-nacional sobre Tráfico de Mulheres do Brasil e República Dominicana para o Suriname. Além dos objetivos acima, a referida pesquisa visou à construção de uma rede de intervenção e de conhecimento de organizações não-governamentais contra o tráfico de pessoas na Amazônia oriental brasileira, República Dominicana e Suriname. Como horizonte claro, colocou-se também a elaboração de instrumentos para influenciar políticas públicas, programas e serviços voltados para enfrentamento ao tráfico de pessoas e para as relações entre os países. Dentre outros, os resultados da pesquisa possibilitaram a identificação de um perfil qualitativo das mulheres que vivenciaram situação de tráfico, bem como algumas descrições da forma como este se concretiza. De forma resumida, constatou-se que: • Tratam-se de mulheres jovens - 14 e 34 anos, que são mães desde a adolescência e vem de famílias muito pobres do interior do estado e de famílias muito pobres algumas “dadas” para outras famílias. São também moradoras da periferia ou nos municípios do interior do estado; moradias precárias. • Sabem ler e escrever, mas tem baixa escolaridade, em média 05 anos. • No que diz respeito ao trabalho, várias trabalharam como empregadas domésticas desde a adolescência ou infância, sendo estas experiências frequentemente associadas a abusos e maus-tratos. Também viveram majoritariamente experiência de trabalho informal (bicos, diaristas, manicuras), com renda muito baixa, elas não tiveram acesso a profissionalização. Metade delas já trabalhava como prostituta antes de migrar. • Relatam histórias de violência (pais, padrastos ou ex-companheiros, abuso sexual, agressões físicas ou gravidez ainda adolescentes) como motivos para a saída cedo de casa. • São solteiras ou vivem uniões instáveis com homens brasileiros ou estrangeiros; nenhuma se autodenomina casada. Elas sobrevivem da pouca e irregular ajuda dos pais dos filhos. Vivem em geral com mães, avós ou parentes, com quem deixam os filhos ficam quando viajam. São em geral provedoras financeiras das famílias. Os convites ou aliciamentos são feitos por pessoas conhecidas com promessas sedutoras. Elas desconheciam as condições reais de trabalho (a forma de acumulação das dívidas, as regras, apreensão do passaporte, proibições de sair e se comunicar com a família. Relatam rotinas de regras e dívidas, confinamento, uso de bebidas e drogas, diversas formas de violência física (espancamentos) e psicológica (ameaças). Todas relatam as expectativas de uma vida melhor como grande motivação para a decisão de migrar. Nenhuma delas contou na sua história de migração com qualquer tipo de apoio ou serviço, nem no Suriname nem no Brasil. Assumindo o processo de migração feminina como foco de incidência política. A Declaração de Belém se insere num processo de intervenção na qual organizações da sociedade civil em Belém (Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais, Grupo de Mulheres Brasileiras e Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos) assumiram o compromisso de atuar na defesa das mulheres migrantes brasileiras que vivem e vivenciaram violações de direitos no Brasil e Suriname antes, durante e depois de sua migração entre estes dois países. Influenciar nas políticas públicas passa por uma compreensão sobre como a elaboração e implementação de políticas ocorre. Capella (2007) apresenta no seu texto “perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas” o modelo de múltiplos fluxos, desenvolvido por John Kingdom para responder por que alguns problemas se tornam importantes para um governo. Kingdon (2003, in CAPELLA, 2007) considera as políticas públicas como um conjunto formado por quatro processos: • Estabelecimento de uma agenda de políticas públicas • Consideração das alternativas para a formulação de políticas públicas, com base nas quais as escolhas serão realizadas; • A escolha dominante entre o conjunto de alternativas disponíveis • Implementação da decisão. Entende-se que uma questão passa a fazer parte da “agenda governamental” quando desperta a atenção e o interesse dos formuladores de políticas. Em virtude da complexidade e volume de questões que se apresentam a esses formuladores, apenas algumas são realmente consideradas em um determinado momento. Estas compõem a ‘agenda decisional’, um subconjunto da agenda governamental que contempla questões prontas para uma decisão ativa. Segundo Kingdon (2003, in CAPELLA, 2007) há três fluxos decisórios relativamente independentes que nos momentos que convergem produzem as mudanças: o fluxo 1) dos problemas; 2) das soluções ou alternativas e 3) da política. Para uma situação ser considerada um problema a forma como esta é definida é muito importante. Precisa-se de indicadores; eventos, crises e símbolos; retorno das ações governamentais. Os problemas são construções sociais, envolvendo interpretação. Uma vez considerados por formuladores de políticas eles podem alcançar a agenda governamental. A pesquisa tri-nacional reuniu indicadores e evidências da existência de um problema concreto. A sua divulgação no meio de um debate nacional sobre o enfrentamento ao trafico de pessoas ajudou a chamar atenção do poder público. A realidade descrita na pesquisa revelou que a política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas não tinha impactado na situação pesquisada, o que estimulou alguns setores dentro do governo a considerar este problema. No fluxo das alternativas e soluções, as idéias não necessariamente são geradas à percepção de problemas específicos e, portanto, desenvolve se muitas vezes independente do fluxo de formulação dos problemas. Neste caso se criam soluções e depois procuram problemas para as quais podem ser apresentadas soluções tecnicamente viáveis e com custos toleráveis. As soluções são criadas por especialistas, pesquisadores, assessores parlamentares, funcionários públicos etc. Estas idéias ganham força através da divulgação em diferentes fóruns, procurando ganhar cada vez mais adeptos e reconhecimento da sua validade. Kindom (2003, in CAPELLA, 2007) argumenta que idéias muitas vezes são mais importantes nas escolhas de uma alternativa do que a influência de grupos de pressão ou como argumenta Farias (2003) quando aborda idéias, conhecimento e políticas públicas “o variável conhecimento tem um destaque na formação e gestão de políticas públicas”. A pesquisa produziu um profundo conhecimento sobre a realidade de migração de mulheres brasileiras para Suriname e apontou propostas de soluções, como um diálogo permanente entre Brasil e Suriname, a qualificação da atuação do consulado brasileiro em Suriname e a criação de serviços em Belém. Estas idéias foram levadas a fóruns onde havia presença de técnicos de vários ministérios e da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime Organizado) que começaram a apostar na proposta e levá-la para os diversos espaços de discussão dentro do governo federal. Técnicos da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do UNODC e do Itamaraty adotaram a idéia de investir em ações binacionais e agregar a este movimento a criação e fortalecimento de serviços. O ministério da justiça, que foi um dos financiadores da pesquisa, não entrou neste processo de intervenção através de um diálogo binacional, Esta “ausência” pode estar relacionada com o fato de que os especialistas do Ministério da Justiça já tinham elaborado as suas soluções para o enfrentamento ao tráfico de pessoas e assim, segundo Kindom, têm uma resistência a novas idéias, diferente dos outros atores mencionados que estavam mais abertos e sem definições prontas para o problema do trafico de mulheres para Suriname. O terceiro fluxo, segundo Kingdon (2003, in CAPELLA, 2007), da dimensão política também tem uma dinâmica própria. Diferente do fluxo de soluções, onde estas são construídas na base de persuasão e difusão de idéias, no fluxo política as coalizões são construídas em um processo de barganha e negociação política, dependendo do “clima” nacional (compartilhamento por várias pessoas das mesmas questões durante certo tempo), das forças políticas organizadas (pelos grupos de pressão) e mudanças dentro do próprio governo (de pessoas estratégicas, gestão, composição no congresso etc.) O início de um novo governo é, segundo Kingdon, o momento mais propício para mudanças na agenda. A realização e finalização da pesquisa coincidiram com a mudança no Governo Estadual do Pará e na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos se criou uma coordenadoria que focava o enfrentamento ao trafico de pessoas, assumindo a responsabilidade para a implementação das estratégias que nasceram junto com a pesquisa. As organizações brasileiras da Aliança Global contra Trafico de Mulheres (GAATW) mobilizava e pressionava permanentemente o governo federal demandando formulação e implementação de políticas públicas. Em determinadas circunstâncias os três fluxos são reunidos, gerando uma oportunidade de mudança na agenda. Neste momento o problema é reconhecido, uma solução está disponível e as condições políticas tornam o momento propício para a mudança. Os fluxos políticos e de problema influenciam mais o momento oportuno do que o fluxo de soluções. O interesse pode também cessar quando um dos fluxos não avança mais, por exemplo, quando o problema parece estar resolvido, as soluções não surtem efeitos. A declaração de Belém é o documento final formulado no Encontro Binacional Brasil Suriname sobre migração feminina (2009). Este encontro é o resultado da mobilização e articulação realizadas depois do lançamento da pesquisa. A publicação da pesquisa foi distribuída para deputados estaduais, senadores, ministérios, secretarias, revistas, jornais e apresentada em fóruns e congressos. Técnicos e especialistas da UNODC, Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Ministério da Saúde e Itamaraty se propuseram a assumir uma tentativa de investir no diálogo sobre atenção a migração feminina entre o governo e a sociedade civil dos dois países, como proposto na pesquisa e apresentada pelas organizações brasileiras da sociedade civil responsável pela pesquisa. O objetivo deste diálogo era estabelecer relações diretas entre atores governamentais e não governamentais que de alguma forma podem atuar na garantia dos direitos das mulheres brasileiras migrantes em Suriname. Juntos, representantes da Governo Estadual do Pará, dos ministérios e das organizações na governamentais acima citados, realizaram encontros preparatórios em Brasília e Belém e elaborou-se o termo de referência do encontro. Este movimento qualificou a concepção sobre a realidade da migração entre os dois países e as possibilidades de intervir. Tratando-se de um encontro binacional, os contatos com representantes governamentais e da sociedade civil em Suriname ficaram sob a responsabilidade do Itamaraty, através da embaixada em Suriname e da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres. O encontro chegou a seu tamanho político máximo (interpretado como a adesão de autoridades e confirmação de participação) dez dias antes da sua realização. A ministra das políticas para mulheres e o embaixador do Brasil em Suriname confirmaram sua presença, enviando um convite especial para todos os ministros do Brasil, a embaixada em Suriname investiu nas conversas diplomáticas em Suriname, sete representantes dos principais ministérios de Suriname confirmaram sua presença e enviaram uma apresentação sobre a política surinamesa, as secretarias estaduais pleitearam por vagas e representantes da sociedade civil se inscreveram para poder participar e tudo indicou que existia um clima (ambiente) favorável para avançar significativamente no desejado diálogo. Alguns fatos ocorreram que mudaram a dimensão do encontro: Uma reportagem sobre tráfico de mulheres para Suriname de uma grande rede de televisão foi veiculada algumas semanas antes do encontro, na qual informações desatualizadas macularam a imagem da embaixada brasileira em Suriname e outras descontextualizadas sugeriram um envolvimento direto e indireto do Governo Surinamês na dinâmica do trafico de mulheres naquele país; As enchentes dos rios na Amazônia deixaram vários municípios no Estado do Pará em situação de calamidade e a Governadora do Estado do Pará decidiu visitar as regiões atingidas, no período da realização do encontro. A ministra de políticas para mulheres cancelou sua presença, alegando que politicamente não podia estar participando do encontro na ausência da governadora do Estado. O embaixador do Brasil em Suriname também decidiu não participar. Ambos garantiram a presença de representantes diretamente ligados ao tema do encontro. No dia da viagem dos representantes dos ministérios de Suriname, quatro deles comunicaram que não podiam participar, justificando que elas foram impedidos a viajar por ordem superior. O Ministério da Justiça, que coordena a implementação do Plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas e cujo representante iria contribuir na apresentação sobre os acordos bilaterais, não compareceu. O encontro contou com a presença de uma delegação representativa de especialistas dos ministérios (Saúde, Emprego e Renda, Itamaraty, Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Embaixada de Suriname), a representante oficial e técnicas da UNODC, o Secretário e técnicos da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e justiça do Pará, além de dezenas de técnicos de outras secretarias, órgãos de justiça e representantes da sociedade civil de Belém e de organizações filiadas da Gaatw. Do Suriname a delegação era formada por representantes de organizações da sociedade civil, um técnico da Polícia de Fronteira e uma técnica do Ministério da Saúde. Depois de dois dias de trabalho os participantes aprovaram o texto da declaração de Belém sobre atenção à migração feminina entre Brasil e Suriname, com 28 recomendações (veja anexo). Considerando a análise sobre migração e gênero e a realidade desvendada pela pesquisa tri-nacional, a declaração apresenta avanços significativos para pensar políticas e intervenções no contexto da migração de mulheres entre Brasil e Suriname. Em primeiro lugar as mulheres migrantes se tornaram visíveis na diplomacia brasileira, inserindo a defesa de seus direitos nas negociações e diálogos sobre acordos bilaterais. Em segundo lugar se enfatizou o direito a saúde como pilar de atuação na garantia dos direitos da mulher e o fortalecimento da organização dos e das migrantes e sua ativa participação nas intervenções de prevenção a violações dos seus direitos e a migrante, pela primeira vez no Estado do Pará, ganharam atenção especial como sujeitos passíveis de políticas públicas específicas. O status do documento é de uma declaração dos participantes que, na sua maioria, participaram como técnicos e especialistas (geradores de alternativas), tendo poucos “pares” (especialistas da mesma área dos dois países) para estabelecer diálogos e não participavam ministros, governadora com peso para adoção política das recomendações. Devido esta ausência as recomendações parecem estar formuladas de forma geral, sem um direcionamento mais direto para órgãos responsáveis pela sua tradução em práticas. Muito da importância da Declaração de Belém vai depender do empenho das organizações protagonistas do evento em dar continuidade a ações que mantém este início de diálogo, da divulgação da declaração de Belém e das estratégias de incidência política para que os três fluxos de aprovação e implementação de políticas públicas se encontram em prol dos direitos das mulheres migrantes e suas famílias. Apesar de que as expectativas não foram de todo cumpridas, acreditamos que um passo importante foi dado. DECLARAÇÃO DE BELÉM SOBRE ATENÇÃO À MIGRAÇÃO FEMININA ENTRE BRASIL E SURINAME Os homens e mulheres representantes das organizações da sociedade civil e das secretarias e ministérios brasileiros e surinameses, abaixo identificados, reunidos no Encontro Binacional: “Diálogos sobre a atenção à Migração Feminina entre Brasil e Suriname”, realizado nos dias 14 e 15 de maio de 2009, na cidade de Belém do Pará, no Brasil, afirmam a importância da cooperação entre os dois países para garantir a melhoria da situação dos migrantes, especialmente das mulheres, em ambos os países. • • • • • • • • • • Considerando que Brasil e Suriname ratificaram a declaração dos Direitos Humanos e o protocolo adicional à Convenção de Palermo sobre o Crime Organizado Transnacional; Considerando que Brasil e Suriname são signatários da Convenção pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher; Considerando que ninguém deve ser discriminado por sua raça, sexo, trabalho, profissão, origem, nacionalidade ou orientação sexual; Considerando que Brasil e Suriname são Estados amazônicos e membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e países vizinhos que mantêm estreitas relações comerciais, culturais e econômicas entre si; Considerando que ambos os países trazem na sua história o movimento migratório como um dos pilares de constituição de sua identidade; Considerando que há uma presença marcante de brasileiros e de brasileiras no território surinamês; Considerando que as mulheres formam atualmente a maioria da população migrante na América do Sul; Considerando que mulheres sofrem nos seus países de origem e nos países de destino para os quais migram violências múltiplas de gênero; Considerando que migrantes formaram historicamente e nos dias de hoje parcela importante da força de trabalho e de inovações em diversos países, incluindo o Brasil e o Suriname; Considerando que a falta de proteção e assistência às mulheres migrantes as tornam alvos fácies de exploração no âmbito doméstico e do trabalho, • Considerando a vulnerabilidade das mulheres brasileiras nos clubes de prostituição, nos garimpos, na prostituição de rua ou nos clubes clandestinos no Suriname, Recomendamos: • • • • • • • • • • • • • • A criação de um subgrupo de trabalho para tratar das questões de gênero no âmbito do grupo de trabalho bilateral sobre migração Brasil-Suriname; A identificação e a articulação das redes governamentais e nãogovernamentais locais de atendimento às mulheres migrantes no Brasil e no Suriname, incluindo as Embaixadas, com objetivo de construir um fluxo efetivo de apoio; A realização de uma qualificação constante voltada para o atendimento integral ao público, humanizando os serviços oferecidos, sobretudo nas áreas de Saúde, Assistência Social e Educação; A garantia de recursos para a execução de ações para a implantação do Pacto de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, com enfoque no tráfico de pessoas e na migração; Articular as ações e debates entre as organizações e movimentos de mulheres e direitos humanos do Suriname e do Brasil, especialmente da Amazônia; Qualificar as mulheres retornadas do Suriname para atuarem como promotoras de Direitos na sua rede de contatos; Que o Estado não dependa somente de informações apresentadas pelas próprias vítimas e suas famílias, por meio de denúncia, para buscar conhecer melhor o fenômeno do tráfico de pessoas nessa rota; Estimular a procura da rede de serviços estatais por parte das mulheres migrantes e de seus familiares por meio da divulgação de informações sobre os serviços disponíveis e qual a atuação que se pode esperar de cada um deles; Identificar formas adequadas de levantamento de dados; A sensibilização e qualificação permanente dos servidores públicos, em especial dos profissionais de saúde, incluindo agentes comunitários de saúde no Brasil e Suriname para realizarem uma abordagem baseada nos direitos humanos, objetivando uma melhor percepção da realidade da mulher migrante e atendimento a essa população; A capacitação dos profissionais de saúde do Suriname atuando no garimpo para uma abordagem multidisciplinar que facilite a disseminação de informações de interesse das migrantes (direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos e outros). Ações de enfrentamento ao estigma e preconceito institucional com relação a esse público: Promover a articulação entre a Embaixada Brasileira e o Ministério da Justiça no Suriname; Avaliar o programa de repatriação do MRE com vistas a verificar se existe a necessidade de adaptá-lo para atender melhor às demandas apresentadas pelas mulheres migrantes em situação de vulnerabilidade/exploração com • • • • • • • • • • • • • • • relação tanto ao seu retorno ao Brasil, quanto ao preenchimento de suas necessidades imediatas; Que a Embaixada brasileira no Suriname promova a aproximação dos serviços de assistência de ONGs daquele país com a comunidade de brasileiros residentes; Estimular a criação de espaços de referência para as brasileiras migrantes no Suriname e no Brasil, buscando como inspiração experiências dos dois países; Estimular o fortalecimento da organização de migrantes brasileiros no Suriname; Enfatizar nas campanhas o enfoque da prevenção à violação dos direitos humanos das migrantes, com foco na conscientização sobre os seus direitos; A adequação dos materiais de comunicação às especificidades da população alvo (idioma); Apoiar estratégias de comunicação comunitária; Difusão entre a comunidade de migrantes brasileiras das informações sobre o papel das Embaixadas e dos Consulados; Inserir nas estratégias de desenvolvimento regional o enfoque de gênero com programas de geração de renda, criando oportunidades de inserção digna no mercado de trabalho para as mulheres; Promover parcerias e programas de qualificação profissional, geração de renda e micro-crédito para as migrantes, ao retornarem à sua origem; Ampliar o olhar da saúde sobre a mulher migrante, com capacidade para identificar situações de exploração não apenas no contexto do trabalho sexual, mas em todas as outras áreas de inserção profissional; Desenvolver ações de assistência aos filhos das mulheres migrantes que permaneceram no Brasil; Incentivar a participação dos próprios migrantes como sujeitos na luta de seus próprios direitos; Promover encontros e troca de informações entre forças policiais do Brasil e do Suriname; Sensibilizar a população sobre o papel dos órgãos de segurança pública na promoção e defesa dos direitos humanos; Esta declaração será encaminhada para os Governos do Brasil e do Suriname para adaptação, adoção e implementação das recomendações. No prazo de um ano, um novo encontro poderá ser organizado para a avaliação de avanços, dificuldades e sugestões para políticas e ações voltadas para tema. (Belém, 15 de maio de 2009) Referências CAPELLA, Ana Claudia N. Perspectivas Teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas. In: HOCHMAN, Gilberto, ARRETCHE, Marta, MARQUES, Eduardo (org). Políticas públicas no Brasil. Rio de Janeiro, Editora Fio Cruz, 2008. DECLARAÇÃO DE BELÉM disponível em http://www.sodireitos.org.br/site/userfiles/Declaracao(1).pdf; acessado em 21/08/2009 FARIA, Carlos Aurélio Pimenta de. Idéias, conhecimento e políticas públicas. Um invetário sucinto das principais vertentes analíticas recentes. In. Revista Brasileira de Ciencias Sociais. Vol 18, n. 51, 2003 LELA, Maria Lucia, LEAL, Fátima (org). Pesquisa Nacional sobre tráfico de muher, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial. Brasília, Cecria, 2002; SMITS, Christel (coord). Gold and commercial sex. Exploring the link between small scale gold mining and commercial sex in the rainforest of Suriname. Paramaribo, 1998. 42p SODIREITOS. Pesquisa Tri-nacional sobre Tráfico de Mulheres do Brasil e da República Dominicana para o Suriname: uma intervenção em rede. Belém. Sodireitos, 2008. STICHTING MAXI LINDER ASSOCIATION. Profile of clubs and informal sexual locations in Paramaribo and Nieuw Nickerie. Paramaribo, 2001. 43p