UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROJETO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
INTEGRADO AO NEPCS – NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
LABORATÓRIO DE ENSINO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
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Coordenador(a): Prof(a).
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Título:
Laboratório de Ensino de Ciências Sociais
Áreas: Sociologia, Ciência Política,
Subáreas: Sociologia da Educação; Metodologia de
Antropologia e Educação.
Ensino; Didática e Prática de Ensino de Sociologia no
Ensino Médio; Metodologia de Ensino em Sociologia,
Ciência Política e Antropologia no Ensino Superior.
Resumo:
O Laboratório de Ensino de Ciências Sociais terá um caráter exclusivamente acadêmico e visará
o desenvolvimento de projetos de pesquisa, ensino e extensão por meio de um conjunto de ações
a serem implementadas no âmbito do Laboratório: a) assessoria ao ensino de sociologia nas
Escolas Públicas e Privadas de Ensino Médio; b) seleção, organização, aquisição e produção de
materiais pedagógicos a serem disponibilizados para consultas de professores e alunos do nível
médio e fundamental do ensino; c) formação continuada para o professor de Sociologia, Ciência
Política e Antropologia do Ensino Médio e Superior; d) melhoria da qualidade na formação do
aluno de Licenciatura em Ciências Sociais da UFES; e) assessoria ao ensino de Sociologia nos
outros cursos de graduação da UFES e de outras instituições de ensino superior, nas áreas ou
subáreas a que se refere este projeto; f) atendimento aos alunos do Ensino Médio e Fundamental
II, através de encontros, minicursos, oficinas, consultas ao acervo, entre outros; g) atendimento
pessoal aos professores de Sociologia do Ensino Médio; h) Aglutinamento e desenvolvimento de
pesquisas na área de Sociologia da Educação.
Coordenador(a): Prof(a). (Departamento de Ciências Sociais/Ufes)
Órgãos envolvidos:
• Execução: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ciências Sociais
• Apoio Acadêmico: Departamento de Ciências Sociais, Departamento de Didática e Prática de
Ensino, Departamento de Filosofia.
• Apoio Institucional: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Pró-Reitoria de Extensão,
Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro de Ciências Humanas e Naturais.
Localização:
•
NEPCS (Núcleo de Pesquisas em Ciências Sociais/Ufes) – IC II
População - alvo:
•
•
Professores de Sociologia do Ensino Médio
Professores de Sociologia, Ciência Política e Antropologia do Ensino Superior
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•
•
•
Professores de áreas afins das Escolas de Ensino Médio e Fundamental II
Alunos das Escolas de Ensino Médio e Fundamental II
Secretarias de Educação e órgãos de governo
Duração:
Tempo Indeterminado
Justificativa:
POR QUE ENSINAR SOCIOLOGIA?
A sociologia sempre foi vista de modos contraditórios. Ora entendida como “revolucionária”
ou “de esquerda” – uma ameaça à conservação dos regimes políticos estabelecidos –, ora como
expressão do pensamento conservador e “técnica de controle social”, entendida como uma entre
tantas formas estabelecidas pelos diversos Estados no seu afã de manterem a ordem estabelecida.
“Em maio de 1968, durante a revolta dos estudantes de Paris, viu-se escrito em um muro da
Sorbone: ‘Não teríamos mais problemas quando o último sociólogo fosse estrangulado com as
tripas do último burocrata’. Neste mesmo ano, os coronéis gregos acusavam esta ciência de
disfarce do marxismo” (Martins 1996). E, do mesmo modo, os governos militares da América Latina
sempre olharam enviesados para os sociólogos e suas pesquisas. O que a maioria não percebe é
que um sociólogo francês, um outro russo e um terceiro norte-americano mal conseguiam se
entender até a década de 1950 (Aron 1995).
Tantas contradições podem ser explicadas pelo fato de a sociologia abranger uma grande
quantidade de linhas teóricas e paradigmas, bem como pelo fato de ter sofrido influências
ideológicas e de orientações políticas variadas. São dezenas de correntes teóricas muito diferentes
e enfoques diversos sob uma mesma denominação científica que, por vezes, parecem até mesmo
tratar-se de ciências distintas. E, de fato, não é difícil observarmos a influência da ciência social nos
mais diversos campos do saber, especialmente nas chamadas ciências aplicadas. O que, no
entanto, não torna menos necessário um lugar próprio para o ensino de sociologia nas escolas. Ao
contrário, sua importância cresce com as transformações que vivem os dias atuais.
“Se é imprescindível dominar a informática e todas as novas tecnologias para uma
colocação qualificada no mercado de trabalho, também se faz necessário, no universo educacional,
problematizar a vida do próprio aluno, sua existência real num mundo real, com suas implicações
nos diversos campos da vida: ético-moral, sociopolítico, religioso, cultural e econômico. A volta das
disciplinas humanísticas – filosofia, sociologia, antropologia, psicologia, entre outras – tem muito a
contribuir com a formação do jovem naquilo que lhe é mais peculiar: o questionamento.
Desmistificando ideologias e apurando o pensamento crítico das novas gerações, poderemos
continuar sonhando, e construindo, um país, não de iguais, mas justo para mulheres e homens que
apenas querem viver” (Leite 2000).
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Isto nos remete à contribuição que a sociologia pode dar para o desenvolvimento do
pensamento crítico, não porque teria um conteúdo imprescindível – não devemos pensar de modo
messiânico na sociologia. Nem o pensamento crítico se desenvolve devido à aprendizagem de
algum tipo especial de conteúdo. A sociologia tem a contribuir para o desenvolvimento do
pensamento crítico, ao lado de outras disciplinas, pois promove o contato do aluno com sua
realidade, bem como o confronto com realidades distantes e culturalmente diferentes. É justamente
nesse movimento de distanciamento do olhar sobre nossa própria realidade e de aproximação
sobre realidades outras que desenvolvemos uma compreensão de outro nível e crítica.
As mudanças no mundo contemporâneo – no campo das tecnologias, nas relações de
trabalho e nas relações culturais – fez com que a informação tornasse elemento estratégico para o
mundo globalizado devido “aos impactos dos processos que têm sido denominados de globalização
[entretanto] A informação em si é um dado bruto (...) o ato de transformar a informação em
conhecimento não é uma tarefa simples. Exige capacidade de processamento da mesma. Significa
(...) saber o que pode ser feito com os ‘tijolos de saberes’ que o sistema de ensino fornece (...) isto
implica em capacidade de raciocínio, de questionamento, do confronto de outras fontes e
experiências, enfim, habilidades que se adquire ao ser treinado a ver os mesmos panoramas a
partir de diferentes perspectivas. Essa é a habilidade que se adquire por excelência com o estudo
das ciências humanas e, em especial, com a filosofia e a sociologia. É da essência destes campos
de conhecimento a tarefa de desenvolver o pensamento, sem nenhuma utilidade ou objetivo
prático. A preocupação maior está em educar o olhar e processar tanto informações como saberes
já produzidos” (Zorzal 2000).
Eis aqui uma contribuição fundamental da sociologia para os jovens educandos: o estudo e
o conhecimento da realidade social, em si mesma dinâmica e complexa, a compreensão dos
processos sociais e seus mecanismos e a percepção de nossa própria condição enquanto atores
sociais capazes de intervir na realidade. Essas habilidades fornecem os elementos necessários
para a formação de uma pessoa e de um profissional, seja em que área for, consciente de sua
posição, potencialidades e capacidade de ação.
Em qualquer setor da sociedade e em qualquer profissão, a sociologia tem sido um
conhecimento de grande auxílio. “Para o aluno da disciplina, em qualquer nível do ensino, esse
estudo tem se revelado extremamente útil à compreensão da sociedade humana em geral, daquela
onde se vive em particular, dos grupos sociais dos quais participa e para complementar o
entendimento de suas relações com os outros e de si mesmo [...] Há profissões para as quais uma
formação adequada em sociologia é essencial ou importante para o seu exercício. Por exemplo:
todos os profissionais jurídicos, policial, psicólogo, médico, administrador, assistente social,
comunicador social, jornalista, escritor, ator, economista, pedagogo, professor, historiador,
geógrafo, arquiteto, urbanista, ecologista, filósofo, diplomata e político, dentre outras [...] Por outro
lado, toda profissão tem importância social. Assim, o estudo da sociologia auxilia o exercício
responsável e eficiente de qualquer uma delas, já que muitas ações podem ser alteradas pelas
características sociais e culturais das populações sobre as quais se vai atuar” (Lago 1996).
O conhecimento sociológico certamente beneficiará nosso educando na medida em que lhe
permitirá uma análise mais acurada da realidade que o cerca e na qual está inserido. Mais que isto,
a sociologia constitui contribuição decisiva para a formação da pessoa humana, já que nega o
individualismo e demonstra claramente nossa dependência em relação ao todo, isto é, à sociedade
na qual estamos inseridos. Segundo a socióloga Cristina Costa “o conhecimento sociológico é mais
profundo e amplo do que a simples formação técnica – representa uma tomada de consciência de
aspectos importantes da ação humana e da realidade na qual se manifesta. Adquirir uma visão
sociológica do mundo ultrapassa a simples profissionalização, pois, nos mais diversos campos do
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comportamento humano, o conhecimento sociológico pode levar a um maior comprometimento e
responsabilidade para com a sociedade em que se vive” (Costa 1997).
Poderíamos desenvolver uma longa seqüência de argumentos fundamentando a importância
da inclusão da disciplina sociologia nos currículos de ensino médio e, no entanto, é impossível
codificar as reações de espanto e curiosidade ou as mudanças sutis de percepção e linguagem
produzidas nos jovens que já tiveram o privilégio do contato com a ciência social. Menos no trato
com as teorias sociais e mais na postura dos alunos diante da vida em sociedade; menos no
discurso informado por conceitos sociológicos – às vezes bem complexos –, mais nos olhares de
quem se encontra em face de um enigma é que se pode aferir quão importante se torna para os
alunos a descoberta sobre como nossa vida é perpassada por forças nem sempre visíveis, pelo
simples fato de nossa pertença a um grupo social. E não a um grupo social qualquer, mas a esse
grupo, com sua identidade, posição, símbolos e recursos de poder. É na descoberta de nossa
participação numa teia de relações, na compreensão de como a nossa personalidade está
relacionada à linguagem, aos gestos, às atitudes, aos valores, à nossa posição na estrutura social –
em outras palavras: para que o indivíduo de ontem torne-se social, não mais ele e os outros, mas
ele em meio aos outros – que está a justificativa para o ensino dessa ciência nas escolas. Ensinar
sociologia é, antes de tudo, desenvolver uma nova postura cognitiva no indivíduo. Eis o aspecto
humano essencial dessa disciplina.
A sociologia, enquanto disciplina no ensino médio, não realiza nenhuma missão
emancipadora, nem se inscreve num projeto de transformação social. São bem mais modestos os
seus objetivos; mas que isso não nos leve, no entanto, a uma cegueira quanto ao alcance de seus
resultados. Quando o aluno compreende que os cheiros, os gestos, as gírias, as tensões e
conflitos, as lágrimas e alegrias, enfim, o drama vivido por cada ser humano, em grande medida,
são resultantes de uma configuração específica de seu mundo, então a sociologia cumpriu sua
finalidade pedagógica. E no fim das contas, é a cidadania e a democracia de nosso país que saem
ganhando.
O ENSINO DE SOCIOLOGIA E SUAS DESCONTINUIDADES
*
História da intermitência da Sociologia nos currículos no Brasil ( )
A sociologia é uma ciência relativamente nova, pois sua formação data do século XVIII e
XIX. O processo de institucionalização desta ciência dependeu e depende das condições sociais,
econômicas e culturais das sociedades modernas (Fernandes, 1977) (Miceli, 1995)
*
Este item foi transcrito integralmente de Projeto de Extensão Universitária – Laboratório de Ensino de
Sociologia. Prof. Lesi Correa (coord.), Universidade Estadual de Londrina, Paraná, 1998.
7
Na França a Sociologia entra na Academia através dos cursos para formação de
professores. Durkheim foi um sociólogo bastante preocupado com a formação dos pedagogos e
considerava a Sociologia enquanto ciência fundamental na capacitação dos professores. Ele
próprio dedicou-se muito a dar cursos para os pedagogos e desde cedo refletiu sobre a educação
como um processo social e sobre os vínculos da Sociologia com a Pedagogia. (Dias, 1990)
Aqui no Brasil, de certa forma, a Sociologia consolidou espaço, primeiro, na área da
educação destinada à formação de professores. E, em todas as reformas, esta disciplina só
permaneceu nos currículos dos cursos médios de profissionalização do magistério, com o título
Sociologia da Educação. Como afirma Gomes, “a sociologia no Brasil se institucionalizou pela mão
do educador.” (Gomes, 1986: 517)
Fernando de Azevedo foi um sociólogo incansável na luta pela consolidação de um Sistema
de Ensino, público, laico e de qualidade (Fernandes, 1977). Dessa forma, defendia uma educação
que contribuísse para a modernização das relações sociais no Brasil. A formação dos jovens
deveria induzi-los a desejar uma sociedade democrática e industrializada. A Sociologia contribuiria
no desenvolvimento desta personalidade democrática (Azevedo, 1956).
Cronologicamente podemos resumir o percurso da Sociologia no Ensino Médio da seguinte
forma (Corrêa, 1993) (Meksenas, 1995) (Gomes, 1985):
•
1890 - Por influência de Benjamim Constant a sociologia foi incluída nos cursos superiores e
secundários, porém devido a sua morte, na época da implantação dos currículos, a Sociologia
foi deixada de lado.
•
•
1925 – Na Reforma Rocha Vaz, a Sociologia foi introduzida nas escolas secundárias do Brasil.
1928 – A sociologia passa a ser ministrada nas Escolas de formação de professores, a Escola
Normal, atualmente Magistério.
•
1931 – Reforma Francisco Campos ratifica a permanência da disciplina no Ensino Médio,
fazendo com que ela fique no currículo até 1942.
•
•
1933 – Criação da Escola de Sociologia e Política em São Paulo.
1934 – Criação do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo.
•
1942 – Reforma Capanema retirou a obrigatoriedade do ensino da Sociologia nas escolas
secundárias.
O período de 1925 à 1942 pode ser considerado os anos dourados no ensino da Sociologia.
Seu prestígio sai do mundo acadêmico e atinge o cotidiano das classes médias ilustradas. Termos
sociológicos se popularizam, tais como: classes sociais, capital, alienação, feminismo,
desenvolvimento social, crise moral, proletariado, entre outros. Entre 1942 à 1960 assiste-se a um
ataque oficial às ciências sociais, que vai sendo inibida, pouco a pouco, no ensino secundário,
sobrevivendo apenas no curso superior e na escola normal (Meksenas, 1995).
Assim, o percurso da Sociologia nos currículos continua da seguinte forma:
•
1961 – Lei n.º 4.024, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, garante o retorno da
Sociologia nos cursos secundários regulares (científico e clássico).
•
1971 – Lei n.º 5.692, a Sociologia deixa de ser disciplina obrigatória e passa a figurar entre um
rol
de
104
disciplinas
optativas.
O
ensino
secundário
transforma-se
em
ensino
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profissionalizante, deixando pouco espaço para as ciências sociais, a sociologia praticamente
desaparece das escolas.
•
1982 – Lei n.º 7.044, altera aspectos da legislação anterior, relativizando o caráter de
profissionalização do ensino de 2.º Grau, abrindo mais espaço para as Ciências Humanas. A
partir desta lei a Associação dos Sociólogos de São Paulo (ASESP), bem como de Minas
Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro desencadeiam uma luta pelo retorno da Sociologia no 2.º
Grau, definindo-a como ciência estratégica, na formação da cidadania do aluno. Nestes
Estados a Sociologia continua como disciplina optativa, retornando em alguns colégios, o que
representa uma volta problemática, pois o volume pequeno de aulas não atrai os cientistas
sociais, e outros profissionais se responsabilizam pela disciplina, comprometendo o seu
desenvolvimento de maneira à garantir o ensino da Sociologia propriamente dita.
A nova LDB, os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Sociologia
Com a nova LDB, Lei nº. 9.394/96, a situação da disciplina fica ainda mais clara: agora a
sociologia é definitivamente incluída como um dos conteúdos a serem aprendidos pelo educando
durante o Ensino Médio – ao lado de outras ciências como o direito, a psicologia e a economia.
Mesmo considerando que a nova LDB não define como estes conteúdos deverão ser trabalhados,
ainda assim, pode-se considerar um avanço para o desenvolvimento de uma educação realmente
voltada para a construção da cidadania. Cabe-nos, nesse momento, a viabilização do ensino das
disciplinas previstas pelo PCN, para o progresso de nossa educação.
No Espírito Santo, entretanto, a coordenação da reforma do ensino médio insistia – até o
início deste ano, quando foi derrubado o veto do governador José Ignácio ao projeto de lei
estadual que estabelece obrigatoriedade do ensino de sociologia e filosofia no ensino médio – que
conteúdos das disciplinas de ciências sociais e filosofia deveriam ser trabalhados por outras
disciplinas. A proposta era a seguinte: ou se organizariam módulos de ensino, ou se diluiriam os
conteúdos específicos dessas disciplinas no programa curricular de história e geografia. Os
argumentos eram os mais absurdos: desde a falta de professores em número suficiente – ainda que
não se disponha de dados nesse sentido – até o aumento de despesa com pessoal.
A luta pela implantação da disciplina – que vem, ao menos desde 1994, sendo proposta por
professores e alunos do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo –,
conseguiu sua primeira vitória após muitas negociações entre diferentes atores políticos,
incontáveis reuniões, audiências públicas e manifestações em diferentes mídias. Após um longo
movimento, a Assembléia Legislativa do estado aprovou o Projeto de Lei, de autoria do Deputado
Cláudio Vereza, que torna obrigatória a inclusão das disciplinas sociologia e filosofia nos currículos
de ensino médio, agora Lei nº. 6.649, publicada no Diário Oficial do Estado do Espírito Santo em 16
de abril de 2001.
Além dos apoios ativos do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do
Espírito Santo e do Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais Gilberto Freyre, cabe destacar o
papel fundamental desempenhado pela ACSES (Associação dos Cientistas Sociais do Espírito
Santo), que através da criação de um Grupo de Trabalho sobre Sociologia no Ensino Médio, atuou
– e vem atuando – decisivamente pela implantação da disciplina, não apenas nas discussões
políticas, mas também promovendo ações no sentido de subsidiar os professores da área e
construir um capital cultural necessário a um ensino de qualidade. Ações como o I Seminário de
Sociologia e Antropologia no Ensino Médio no Espírito Santo, realizado em 1999 quando contamos
com a presença do professor de sociologia no ensino médio do Colégio Pedro II (RJ), sociólogo
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Benjamin Lago (autor de livro de sociologia para o ensino médio), da pesquisadora da FIOCRUZ,
NOMONOMO???, e representantes públicos; a oficina de ensino de sociologia realizada pelo
professor Dr. Nelson Dacio Tomazi, da Universidade Federal do Paraná, também autor de livro
didático para o ensino médio; bem como a luta pela aprovação da Lei nº. 6.649/2001.
A mais absurda de todas as justificativas levantadas para vetar a inclusão das disciplinas,
no entanto, é o fato da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e dos Parâmetros Curriculares
Nacionais não “determinarem” o ensino da sociologia e da filosofia por meio de disciplinas. De fato,
a Lei 9.394/96, em seu Artigo 36, Parágrafo 1º, item III, reza que ao final do Ensino Médio o
educando deverá demonstrar “domínio dos conhecimentos de filosofia e de sociologia necessários
para o exercício da cidadania”, mas não estabelece que seu ensino seja incluído entre as
disciplinas do núcleo básico, aquelas consideradas obrigatórias. Os PCNs para o Ensino Médio,
volume 4, na página 11, após referir-se aos conhecimentos da história, geografia, sociologia,
filosofia, antropologia, direito, política, economia e psicologia, estabelecem que “tais indicações não
visam a propor à escola que explicite denominação e carga horária para esses conteúdos na forma
de disciplinas”. E mais adiante, na página 22, afirma que esses conteúdos “agrupados e
reagrupados, a critério da escola, em disciplinas específicas ou em projetos, programas e
atividades que superem a fragmentação disciplinar (...)”. Ora, a LDB, que tem força de lei, não
orienta sobre o modo de introdução desses conhecimentos. Já os PCNs deixam em aberto, mas
não descartam a possibilidade de organização de disciplinas, que ficaria a critério da escola. É
interessante observarmos, ainda, que tratam num mesmo nível de importância a história, a
geografia, a sociologia ou a filosofia. Portanto, afirmar que não devemos estabelecer as disciplinas
nos currículos escolares por coerência à lei é distorcer as orientações contidas nesses documentos
que em nenhum momento proíbem sua implantação. E se lançarmos mão desse argumento ele terá
que servir também para a história e geografia, o que nos leva ao ponto inicial.
A questão a ser levantada aqui é se é possível uma aprendizagem significativa da
percepção sociológica na forma proposta. Creio que não. E me valho de um argumento do
professor Howard Gardner, autor de “O Verdadeiro, O Belo e O Bom”, para o qual a aprendizagem
de formas de pensamento somente são efetivas se os alunos têm contato direto com especialistas
da área em questão. O papel do especialista torna-se muito importante neste caso, a não ser que o
objetivo seja a transmissão pura e simples de conteúdos conceituais, o que contraria de modo
gritante a orientação dos PCNs. E a experiência tem demonstrado que o trabalho com a sociologia
no nível médio de ensino causa grande “impacto” na mente dos educandos, o que faz com que a
matéria precise de tempo para ser bem trabalhada e “digerida”. Então, cabe-nos algumas perguntas
– que deveriam ser feitas pelos gestores da educação pública: a proposta de diluição de conteúdos
é coerente com que princípio, projeto pedagógico ou objetivo pensado para a sociologia? O
currículo deve atender meramente a uma exigência legal? Será que os alunos terão domínio de
conteúdos de sociologia e filosofia ao fim do ensino médio com seu estudo diluído ou feito por
“módulos”?
Mais que uma questão legal, porém, a re-implantação da sociologia e da filosofia no ensino
médio significa um salto de qualidade nos projetos pedagógicos de nossas escolas. Senão,
vejamos: a sociologia pode realmente contribuir para o resgate da cidadania na medida em que
fornece informações acerca da estrutura e das relações sociais e cria um espaço privilegiado para
discussões que nem sempre se fazem presentes na escola. Porém, ainda acredito que sua maior
contribuição não está na “formação da cidadania” ou numa pretensa “conscientização” do povo
alienado do seu modo de inserção nas relações sociais. Não, nada disso. A sociologia, enquanto
disciplina no ensino médio, não realiza nenhuma missão emancipadora, nem se inscreve num
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projeto de transformação social. São bem mais modestos os seus objetivos; mas que isso não nos
leve, no entanto, a uma cegueira quanto ao alcance de seus resultados.
Temos como hipótese de trabalho que ensinar sociologia não se resume a fornecer
informações sobre o mundo social, ao contrário do que é apresentado em muitos manuais
disponíveis atualmente. Seja qual for o conteúdo ensinado, ele será sempre um meio para se atingir
o fim: o desenvolvimento da perspectiva sociológica. Mais que discorrer sobre uma série de
conceitos, a disciplina pode contribuir para a formação humana na medida em que proporcione a
problematização da realidade próxima dos educandos a partir de diferentes perspectivas, bem
como pelo confronto com realidades culturalmente distantes. Trata-se de uma apropriação, por
parte dos educandos, de um modo de pensar distinto sobre a realidade humana, não pela
aprendizagem de uma teoria, mas pelo contato com diversas teorias e com a pesquisa sociológica,
seus métodos e seus resultados. Nesse sentido, o objetivo do ensino de sociologia como, aliás,
deveria ser o de qualquer ciência, é proporcionar a aprendizagem do modo próprio de pensar de
uma área do saber aliada à compreensão de sua historicidade e do caráter provisório do
conhecimento – expressões da dinâmica e complexidade da vida. No caso do ensino de sociologia
isso pode ser conseguido por meio da aproximação da metodologia de pesquisa científica à
metodologia de ensino, bem como por ações pedagógicas que busquem desvelar e discutir
narrativas sociais, sejam elas de caráter científico, literário, mitológico, entre outras – suas
implicações, seus dilemas, o que falam da heterogeneidade cultural e da estrutura social. E é
exatamente por identificarmos um longo caminho por ser percorrido no que se refere ao ensino de
nossa disciplina que acreditamos na urgência e necessidade de se institucionalizar um espaço
acadêmico voltado à pesquisa e apoio didático-pedagogico sobre a prática de ensino-aprendizagem
das ciências sociais, seja no ensino médio, seja no ensino superior.
Após termos visto a sociologia ser proscrita deste país pelo governo militar como se fosse uma
ameaça à estabilidade da nova ordem, o valor dado às ciências sociais em geral pelos novos PCNs
é, sem dúvida alguma, um indicador da revalorização deste conhecimento por parte da sociedade
brasileira, uma ciência comprometida, desde sua fundação, com uma estética, uma ética e uma
política como expressões de momentos sócio-históricos determinados.
BIBLIOGRAFIA
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico, São Paulo: Marins Fontes, 1995.
AZEVEDO, Fernando. As ciências no Brasil. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1956.
CORREA, Lesi. A Importância da disciplina Sociologia no currículo do 2.º Grau, a questão da
cidadania, problemas inerentes ao estudo da disciplina em duas escolas de 2.º Grau de Londrina.
1993. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC/SP.
COSTA, Cristina. Sociologia - introdução à ciência da sociedade, São Paulo: Moderna, 1997.
DIAS, Fernando C. Durkheim e a Sociologia da Educação no Brasil. In Em Aberto. Brasília, Ano 9,
n.º 46, abr/jun de 1990.
FERNANDES, Florestan. A Sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1977.
GARDNER, Howard. O Verdadeiro, o Belo e o Bom, Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
GOMES, Cândido. A Educação em Perspectiva Sociológica. São Paulo: EPU, 1985.
GOMES, Cândido. A Sociologia em perspectiva internacional. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos. Brasília, v. 67, n 157, set/dez. 1986.
LAGO, Benjamim Marcos. Curso de Sociologia e Política, Petrópolis: Vozes, 1996.
LEI nº 9.394 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 1996.
LEI nº. 6.649 - Diário Oficial do Estado do Espírito Santo em 16 de abril de 2001.
11
LEITE, Gilson Teixeira. Jornal A Gazeta, Col. Opinião, em 11 de dezembro de 2000.
MARTINS, Carlos Benedito O que é Sociologia, São Paulo: Brasiliense, 1996.
MEKSENAS, Paulo. O Ensino da Sociologia na Escola Secundária. In Leituras & Imagens. Grupo
de Pesquisa em Sociologia da Educação. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC, 1995, pp.67-79.
MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: Editora Sumaré;
FAPESP, volume 2, 1995.
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, volume 4, Ciências Humanas e
suas Tecnologias.
PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – Laboratório de Ensino de Sociologia. Universidade
Estadual de Londrina, Paraná, 1998.
SILVA, Marta Zorzal e. Gazeta Mercantil, 11 de dezembro de 2000.
Objetivos Gerais:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Desenvolver pesquisas sobre ensino de Ciências Sociais no nível médio e superior de ensino;
Desenvolver e aglutinar pesquisas na área de Sociologia da Educação;
Assessorar o Ensino de Sociologia no nível médio de ensino;
Assessorar o Ensino de Sociologia, Ciência Política e Antropologia no nível superior de
ensino;
Desenvolver uma articulação maior entre Universidade e instituições que se dedicam a
Educação Básica (Ensino Fundamental II e Médio), através da assessoria ao ensino de
Sociologia e disciplinas afins;
Desenvolver maior integração entre as áreas de Ciências Sociais e Educação por meio de um
trabalho articulado e de pesquisas interdisciplinares;
Assessorar os cursos de Licenciatura em Ciências Sociais;
Desenvolver um processo de formação continuada para os professores de Ciências Sociais
em exercício, seja no ensino médio, seja no ensino superior;
Constituir um espaço acadêmico de vivência, reflexão metodológica e criação de novas
práticas de ensino e de novos materiais pedagógicos;
Fomentar o desenvolvimento de pesquisas e de grupos de estudos sobre o ensino de
Ciências Sociais, em caráter disciplinar ou interdisciplinar.
Objetivos Específicos:
1. Assessorar os professores dos níveis fundamental, médio e superior de ensino por meio de
cursos de formação e atualização, atendimento, acervo para consulta, encontros, oficinas,
palestras, divulgação de eventos e congressos etc;
2. Assessorar a formação dos futuros professores de Sociologia, Ciência Política e Antropologia
por meio de apoio teórico e pedagógico aos cursos de Licenciatura dessas áreas, bem como
por meio de ofertas de disciplinas optativas;
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3. Planejar, implementar, desenvolver e avaliar projetos de formação continuada para os
professores em exercício por meio de cursos de atualização e capacitação, seja na apropriação
de novos conhecimentos em Teoria e Prática da Educação, seja em áreas temáticas das
Ciências Humanas e Sociais;
4. Implementar, desenvolver e captar recursos para financiamento, entre outras, de Linhas de
Pesquisa sobre: Ensino de Sociologia no Ensino Médio; Ensino de Sociologia, Ciência Política e
Antropologia no Ensino Superior; Sociologia da Educação; e Produção de Materiais
Pedagógicos;
5. Constituir Grupos de Estudos sobre temáticas da área de educação;
6. Atender, prioritariamente, às Escolas Públicas de Ensino Médio e Fundamental por meio do
contato direto com os professores e alunos, que poderá ocorrer nas escolas e/ou na
universidade;
7. Assessorar os alunos dos níveis fundamental, médio e superior de ensino por meio de
minicursos, atendimento direto, acervo para consulta, encontros, oficinas, palestras, divulgação
de eventos e congressos etc;
8. Realizar campanhas de sensibilização, junto às escolas e órgãos de governo e sempre em
parceria com outros atores tais como ACSES e DCSO/UFES, para a implantação das
disciplinas Sociologia nas escolas públicas e privadas de Ensino Médio, por meio de Encontros,
Seminários, Semanas, entre outras ações, dedicados à discussão sobre o assunto;
9. Apresentação de proposta à Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo e dos
municípios para realização de Curso de Capacitação para Professores de Sociologia no Ensino
Médio da Rede Pública;
10. Constituição de um Centro de Documentação e Midiateca para gerenciar acervo do Laboratório,
desenvolvido ou adquirido, incluindo: Materiais Pedagógicos (de apoio ao professor ou para uso
em sala de aula, como textos didáticos, planos de curso e de aula etc), Revistas Técnicas,
Livros da área, arquivos temáticos selecionados a partir de revistas e jornais de circulação
nacional ou local, Fitas de Vídeo, CD Rom, DVD, Monografias, Dissertações e Teses;
11. Criação do Boletim do Laboratório de Ensino de Ciências Sociais da Ufes, de periodicidade
trimestral, que deverá circular em escolas, centros acadêmicos de interesse e secretarias de
educação;
12. Criação da homepage do Laboratório de Ensino de Ciências Sociais da Ufes.
13. Criação da Revista do Laboratório de Ensino de Ciências Sociais da Ufes, de circulação anual.
Avaliação:
A avaliação será contínua durante o desenvolvimento das atividades, dos projetos e das
pesquisas. O projeto terá como princípio a avaliação do processo tanto quanto dos resultados
alcançados de acordo com metas pré-estabelecidas.
Pretende-se avaliar os resultados através de instrumentos aplicados às escolas e aos professores
da área, para verificar se os propósitos do laboratório estão sendo realizados e se atende às
necessidades de sua população-alvo. Pretende-se, periodicamente, avaliar os projetos, pesquisas
e atividades desenvolvidas, para reelaborá-los ou substituí-los. Cada projeto de pesquisa
desenvolvidos deverá apresentar projeto e relatório final a ser incluído no acervo do Laboratório.
13
Disseminação dos resultados:
Os principais mecanismos de disseminação serão os seguintes:
1. Contato constante com as Escolas Estaduais, Faculdades e Secretarias de Educação;
2. Cursos para Professores de Sociologia do Ensino Médio e Professores de Sociologia,
Ciência Política e Antropologia do Ensino Superior;
3.
4.
5.
6.
Seminários e Encontros para discussão dos resultados das pesquisas realizadas;
Revistas Mosaico, Sofia e outras da própria universidade;
Revistas de outras Instituições;
Participação em grupos de pesquisa e estudo sobre temáticas fins da própria universidade e
de outras instituições;
7. Participação em congressos sobre o Ensino das Ciências Sociais;
8. Participação em congressos da área de Educação;
9. Boletim do Laboratório de Ensino de Ciências Sociais da Ufes;
10. Revista do Laboratório de Ensino de Ciências Sociais da Ufes;
11. Homepage do Laboratório de Ensino de Ciências Sociais da Ufes.
Cronograma Permanente segundo Objetivos Específicos:
OBJETIVOS/
ATIVIDADES
PERÍODO - MÊS
Jan
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Fev
Mar
Abr
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
14
OBS: Este cronograma será repetido a cada ano, uma vez que este projeto será por tempo
indeterminado. Cada atividade desenvolvida, seja projeto de pesquisa ou projeto de
extensão universitária, conforme os objetivos específicos, terá seu planejamento próprio
incluindo objetivos, justificativa, cronograma e orçamento.
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LABORATÓRIO DE ENSINO DE CIÊNCIAS SOCIAIS