Por uma mudança
Questionando o modo de vida civilizado
Índice
Introdução..................................................... 1
Origem da civilização................................... 2
Continuidade e ruptura................................. 3
Como matar um monstro assimilador........... 4
Ordem e caos................................................ 6
Podemos viver sem civilização?...................7
A ciência quantitativa................................... 8
Condicionamento humano............................ 10
A evolução artificial..................................... 12
O início do fim............................................. 13
Referências................................................... 14
Introdução
A crítica à civilização não pressupõe uma oposição automática a tudo que a civilização representa. É um
processo de questionamento, e não uma simples acusação. Porém os problemas que o questionamento gera são
complexos e o leitor perceberá alguns deles.
Esse é um assunto delicado, por isso grande parte da discussão é voltada exatamente para pessoas que
nunca se importaram com essas coisas. Você irá encontrar idéias radicais, mas não propostas definidas. A
proposta é abrir canais de diálogo.
Também tentei dar uma resposta para as pessoas que esperam que eu apresente alguma “solução” para
este que é maior problema social de todos os tempos, a própria civilização.
Janos Biro
19 de dezembro de 2007
Esta obra não possui direitos autorais. Pode e deve ser reproduzida no todo ou em parte, além de ser liberada a sua distribuição,
preservando seu conteúdo e o nome de seu autor.
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Origem da civilização
A civilização é um empreendimento cultural que visa organizar os seres humanos de acordo com certa
visão de mundo. Tal visão está expressa na crença de que Deus criou o mundo, as outras espécies, e talvez até
mesmo a mulher, para que o homem os governasse. Quais condições tornaram essa crença possível? Para
entender isso, nós temos que voltar à origem do conceito de terra como propriedade produtora. E este conceito
não é nada antigo, ele só surgiu no último décimo da história humana.
Quais as características principais das sociedades humanas antes da civilização? 1- Tinham um número
reduzido de membros e estabilidade populacional. 2- Baixa complexidade social e ausência de grupos de
interesse massivos. 3- Baixa dependência tecnológica. Nessas condições, havia uma forte necessidade de
relacionamento harmônico entre sociedade e meio-ambiente, cuja inconstância não seria temida ou tratada
como algo a ser dominado, mas respeitada. Numa sociedade desse tipo, a mulher é a figura central, mas ela não
é centralizadora do poder. Ela representa o elo que une os membros da tribo, o laço de sangue. Como a
preservação da tribo dependia do bem estar das mulheres, é provável que seus interesses fossem prioridade.
Elas guiavam e davam sentido à conciliação, à associação e à resolução de conflitos internos.
Durante a maior parte da história humana, prevaleceu o modo de vida de coleta, e não o de caça, de
plantio ou de pastoreio. Porém, com a última glaciação foram criadas as savanas, os vegetais ficaram mais
escassos e nós aumentamos o consumo de carne, aumentando as atividades de caça. Quais seriam as mudanças
que acompanham a prevalência da caça nas atividades humanas?
Uma linguagem específica foi desenvolvida para a caça. A linguagem que existia antes foi criada
visando o cotidiano da tribo: o reconhecimento de plantas, animais, lugares, condições climáticas, situações
favoráveis, perigos, etc. Os caçadores desenvolveram sinais objetivos, porque tinham de ter uma previsibilidade
maior dos comportamentos da caça. Precisavam de respostas específicas para comportamentos específicos. São
sinais sonoros ou gestuais do tipo: “para um comportamento X, façamos Y”. A coordenação de ações exigia o
que seria o germe da ciência objetiva. Isto significa o desenvolvimento de uma linguagem lógica. Cria-se então
uma necessidade maior de uniformidade na linguagem, que leva à uniformidade do pensamento. A linguagem
original só precisava tratar de eventos particulares. Tal linguagem permaneceu mais voltada aos sentimentos do
que ao movimento e ao funcionamento observável do mundo, mais interessada na reconciliação que no jogo
competitivo. Porém, com o início da agricultura expansiva, o homem se vê numa situação diferente. Ele começa
a aplicar o modo lógico de pensar o mundo à organização da tribo, impondo sua visão de mundo em detrimento
da visão anterior. Cria-se o conceito de propriedade produtora.
A civilização quebra o ciclo de provisão natural, que se apresenta em todos os outros animais como
períodos de fartura e fome. Começa a acumular mais e mais excesso, substituindo a caça e a coleta pelo plantio
e criação de animais. Havíamos aprendido como forçar a terra a produzir o que queremos, na quantidade que
exigimos. Sendo que tais atividades eram organizadas quase que exclusivamente pelo sexo masculino, não
tardou até que se chegasse a seguinte conclusão: a mulher é apenas mais um recurso natural para ser
conquistado e explorado, mais um animal para ser domesticado. A geração de uma nova vida ganha outro
caráter: o de produção de propriedade individual, não apenas de filiação. Este é um ponto chave, pois é onde o
conceito de propriedade produtora é aplicado ao ser humano.
Este novo conceito pode ter levado ao culto de novos deuses, deuses antropomórficos. O que importava
agora era o desenvolvimento material com a aplicação do trabalho humano. Com isso, a população cresceu
desproporcionalmente, criando a necessidade de uma contínua reorganização social, que gera tiranias, guerras e
outras calamidades. Como a atividade de plantio não necessita de cooperação igualitária, mas sim de certa
divisão de trabalho, inicia-se a dependência tecnológica e a desigualdade social.
Poderíamos dizer que toda a civilização é um empreendimento fundamentalmente discriminador, que
surge de um raciocínio obsessivo e desequilibrado. Nossa cultura tem gasto uma quantidade incrível de recursos
e de esforço humano apenas para manter seus fundamentos conceituais intactos, para cobrir os sentimentos de
que há algo errado nisso desde o princípio. É preciso perceber que há outras maneiras de pensar o mundo e de
ter uma organização social. Não podemos resolver nosso problema com o mesmo raciocínio que o criou.
Precisamos de uma nova cultura.
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Continuidade e ruptura
A maneira com que criamos nossos filhos é hoje considerada uma espécie de ciência. Apesar disso
existe uma grande perda na qualidade de vida que criamos para eles, e isso se deve em grande parte à aplicação
de um modelo cartesiano dentro da pedagogia e da educação em geral.
A idéia de educação infantil está muito ligada à de formação social e mental. Para estudar a melhor
maneira de educar nossos filhos, a pedagogia dividiu a criança em vários componentes. Ela tem fases
cronológicas de acordo com conceitos de desenvolvimento físico, mental e psicológico. A forma de organizar o
lar e a família tem sido estruturada em costumes e tradições que separam de forma bem definida o que é correto
e o que é incorreto para cada sexo, idade, tipo físico, ambiente e posição social ou religiosa.
O grande efeito negativo dessa separação é a ruptura abrupta entre características naturais e expectativas
culturais. Como todos os mamíferos, a criança humana se desenvolve em seu próprio tempo e de maneira
contínua. Não existe uma ordem correta para as características se desenvolverem. Nossos costumes de educação
são de afastar e esconder certas coisas consideradas inapropriadas para uma criança até certa idade, mas logo
depois que permitimos e retiramos todos os impedimentos esperamos que elas estejam naturalmente adaptadas,
e que não cometam erros, sob o risco de serem punidas.
A sexualidade é com certeza o maior exemplo disso. Bertrand Russell apontou o problema da inibição
da sexualidade como sendo um dos maiores causadores de danos ao ser humano e à sociedade. Quando uma
criança é obrigada a rejeitar ou ignorar seus sentimentos e reações naturais à sexualidade ela acaba se tornando
um indivíduo incapaz de amar e até mesmo cruel com as pessoas com quem virá a se relacionar. Russell diz que
esse tipo de atitude, propagada por morais religiosas, tende a causar vários prejuízos que de outra forma
poderiam ser evitados, e que por sua vez contribuiriam para evitar problemas de escala bem mais ampla.
Fritjoff Capra relaciona o sistema patriarcal como uma das fontes de desequilíbrio social e ecológico.
Este sistema ganha força na separação entre homem e mulher em superior e inferior, o que ocorre em conjunto
com separação entre corpo e mente, e entre homem e natureza. Esta é uma ruptura criada e mantida pela
cultura, e se refaz no desenvolvimento educacional da criança. A reprodução dessa ruptura é passada por meio
dos comportamentos que os pais, em geral, impõem aos seus filhos por condicionamento, devido ao modo de
vida fechado e apressado de nossa civilização. Isto causa na criança um trauma que irá marcar em sua mente as
idéias centrais para a visão cartesiana de homem e de mundo.
Como mamíferos, estamos especialmente ligados às pessoas que cuidam de nós na infância. A criação
tribal é comunitária, e a criança recebe atenção não só da mãe, mas de praticamente todos os membros. Os
adolescentes tribais são pouco conflituosos, e se tornam homens totalmente preparados para a vida. Na nossa
cultura, buscamos desesperadamente o conhecimento que nos permita saber se estamos vivendo corretamente
ou não. Buscamos restrições, porque perdemos nosso parâmetro natural, que levou milhões de anos para ser
criado. Não estamos instintivamente preparados para um modo de vida civilizado. Houve uma ruptura. Somos
educados basicamente para o trabalho, e a educação consiste em pouco mais do que informar-nos do que é
preciso saber para manter a civilização. Boa parte da nossa educação moral não está voltada para o
conhecimento do motivo pelo qual uma ação é favorável, mas sim da punição atribuída a cada ato imoral que
seja detectado.
Como peças numa máquina, nossa coesão é mantida por cortes e ajustes no sentido da exclusão, e não
pela nossa complementação enquanto comunidade. Nossa moralidade se resume a adaptarmo-nos a um
conjunto de regras e dogmas, e não à construção de um aparato para julgar as ações. Essas regras, por sua vez,
são construídas e mantidas sem muita modificação por meio de um processo de universalização, pressupondo
pouca variedade de respostas para cada evento causador de conflito. A individualidade, por outro lado, é
substituída pelo individualismo direcionado apenas aos bens pessoais ou materialmente importantes, e não à
autonomia.
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Quando um adolescente anseia por se desligar dos pais, conseguindo assim uma autonomia cuja
necessidade é extremamente natural, ele se torna ainda mais dependente de um emprego e de uma instituição
para a qual ele será apenas um número. Para nós, é um choque se alguém pergunta qual o sentido do que
estamos fazendo. Geralmente a resposta é negativa, e raramente alguém se esforça para mudar a maneira que
vivemos hoje. Aprendemos a reproduzir o que foi feito antes, mas não a pensar sobre como ou porque isto está
sendo feito. Dessa forma nos tornamos dependentes de instituições que nos dão uma “função”, perdemos toda a
utilidade fora delas. Perdemos nossa função natural para o meio, por isso precisamos substituir por uma função
artificial, mesmo que não nos satisfaça como seres humanos. Isto cria a sensação de que somos objetos e tira
todo o sentido de respeitarmos outras pessoas. Nosso papel na continuidade da evolução da vida no planeta é
substituído pelo papel do colonizador da terra, aquele que deve conquistar um território inimigo e lutar para
preencher seu “vazio” com qualquer coisa que o permita continuar vivendo.
Assim, a cultura vigente estabelece normas e regras sobre o que deve ou não ser feito independente das
condições naturais de cada indivíduo e de cada ambiente, mas não se importa em que se compreenda como ou
porque estas regras existem. Isto faz com que não consigamos mais reconhecer os limites das normas, nem
adaptá-las a outra realidade. A ruptura abrupta na construção da consciência infantil também impõe sérias
“punições” às crianças que naturalmente se esforçam ao máximo para seguir essas regras. Quando um filho é
impedido de admitir e reconhecer sua própria natureza, ele irá fazê-lo dolorosamente, e talvez de maneira
exagerada e prejudicial, ou transferirá seu sentimento de inadequação para outra atividade, geralmente um
vício. No caso da sexualidade, isto leva o indivíduo a iniciar sua vida sexual cheia de preconceitos e prejuízos
que poderão causar frivolidade, incapacidade de sentir prazer e outros problemas de saúde. A maneira com que
se inicia uma vida sexual irá influenciar enormemente a qualidade de vida mental e psicológica do indivíduo.
Para reconhecer a continuidade do desenvolvimento humano é preciso compreender que este
desenvolvimento é um processo natural, que não ocorre de maneiras determinadas e universais. É preciso
reconsiderar as relações a respeito da mulher, do corpo, da natureza e da comunidade. Também não podemos
achar que os problemas sociais e econômicos estão isolados e separados destes problemas, esperando assim que
eles se resolvam separadamente. Em nossa cultura substituímos o universo natural por uma realidade criada a
partir de convicções e ideais que cada vez mais se mostram incapazes de criar um ambiente saudável para se
viver.
Como matar um monstro assimilador
Aqueles que estão tentando colaborar com uma mudança qualitativa na sociedade, defendendo o fim da
submissão e da concentração de poder, têm que ter uma coisa em mente: a capacidade da ordem vigente de
assimilar e transformar movimentos, mesmo os mais radicais, em idéias inofensivas ou mesmo oportunidades
para o comércio e para a perpetuação do capitalismo. O capitalismo já devorou o movimento hippie, que hoje
pode ser comprado em lojas de marca ou em feiras populares. Já devorou o ambientalismo, que é defendido por
supermercados e por igrejas. Está devorando o anarquismo e o feminismo, que estão se tornando acessórios de
moda. Os marxistas se dividem em infinitos grupos que se odeiam mais do que odeiam o capitalismo. Não
podemos simplesmente achar que basta superlotar a boca do monstro até que ele não possa engolir mais nada,
porque sua enorme boca tem um poder incrível de expansão. Cada movimento revolucionário que ele engole
aumenta sua capacidade de engolir outros movimentos com cada vez menos mastigação.
O capitalismo precisa expandir mercados, sempre. Um novo movimento de insatisfeitos é sempre uma
nova oportunidade de vender novos produtos. O capitalismo está perfeitamente satisfeito em vender coisas que
supostamente o criticam, o ofendem e o atacam. Pois enquanto as pessoas continuarem comprando produtos,
ele vai continuar se expandindo. Ele prepara terreno aceitando organizações que supostamente estão tentando
corrigir problemas do sistema. As pessoas estão cada vez mais insatisfeitas, e por isso há cada vez mais
voluntários lutando contra os efeitos do sistema. Eles estão consumindo livros, estão organizando encontros e
estão prosseguindo sua vida como consumidores, por mais conscientes e bem intencionados que sejam. Eles
medem suas conquistas pelas lutas que travam, e não pelas lutas que não mais precisarão ser feitas. Ano após
ano, aumentam os esforços para conter os estragos do monstro, e ano após ano os estragos aumentam. Há mais
assuntos que precisam de atenção imediata e urgente, e há mais pessoas lutando mais firme, e assim por diante.
É uma bola de neve. Somos chamados à ação com cada vez mais emergência, os assuntos se tornam cada vez
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mais importantes, os inimigos são cada vez mais perigosos, até que um dia será tarde demais para começar a
fazer alguma efetiva.
O que eu tenho aqui não é uma proposta, apenas uma sugestão para criar uma alternativa ao
“movimento”. Em primeiro lugar, nunca use essa palavra para se referir ao que você está tentando fazer. A
palavra “movimento” já está carregada de conceitos que atraem o olfato do monstro mais rapidamente. Ao
invés disso, eu sugiro que você não use nome algum. Isso é útil para que as pessoas se perguntem: afinal, o que
é isso que você está fazendo? Se tivermos algo como “movimento eco-anarco-feminista”, as pessoas reagirão
automaticamente ao nome, em geral para dizer que é uma bobagem. Então, nunca faça um movimento, faça
algo mais.
Mas o que este “algo mais” precisa ter para ser realmente imune à assimilação? Há um número de
sugestões que já foram feitas em outras ocasiões e que talvez sejam úteis agora: 1- Duvide das propostas do
passado, tente coisas diferentes. 2- Espalhe idéias e não ideologias. 3- Conte vitórias por mudanças qualitativas,
e não quantitativas. 4- Não melhore o modelo atual, não imponha um modelo novo. 5- Não feche seu objetivo a
alvos específicos, mas amplie sua análise para uma visão ampla dos problemas. 6- Rejeite todos os termos prémoldados que possam etiquetar suas ações. 7- Faça isso por você mesmo, não por um “ideal moral superior”. 8Não espere derrubar o velho para então criar o novo. 9- Dispense tudo que for dispensável. 10- Valorize o que
você pode deixar de fazer antes do que pensar no que fazer. 11- O mais importante: concentre-se nas causas dos
problemas, e não nas conseqüências.
Eu quero comentar algumas dessas sugestões. É possível fazer algo novo? Só há uma maneira de saber:
tentando. Qual a diferença entre espalhar idéias e espalhar ideologias? Uma ideologia lembra um conjunto
completo de idéias, que são facilmente elevadas ao nível de doutrina, e que por sua vez quase sempre se
mantêm através de dogmas. Não podemos nos trancar numa visão estática de mundo, por mais que ela pareça
funcionar nas nossas cabeças, é a cultura que tem que se adaptar a quem nós somos, e não o que somos que tem
que se adaptar à cultura. De nada adianta comemorar coisas como “25 anos de luta!”, “100.000 associados!”,
“10.000 pessoas beneficiadas!”. A medição quantitativa de resultados é enganosa porque a quantidade de
problemas pode estar aumentando ainda mais, nem sempre no mesmo lugar. “Bem, fizemos nossa parte
reduzindo os índices de (o que for) em 35%, agora é nosso trabalho é reduzir os índices de (outra coisa) que tem
aumentado assustadoramente nos últimos anos”. Esta é a importância da visão ampla, não ficar preso a um
resultado fragmentado e insuficiente, mas considerar as conexões entre os problemas. Não só é preciso superar
os termos, mas superar a lógica, a moral e a linguagem civilizatória. Não importa o que estejamos fazendo, se a
idéia comum é a mudança da cultura, precisamos dialogar e perceber que estamos do mesmo lado.
O que há de tão desvantajoso na noção de “movimento”? Para começar, movimentos tendem a separar
as pessoas em grupos distintos: há o movimento feminista, o ecologista, o anarquista, o vegetariano, e eles
mantêm uma coesão. Isto também exclui as pessoas comuns e intimida os novatos: “Você nunca foi numa
reunião, você não usa nossa camiseta, você não doou um centavo, você nem sequer leu este livro, como pode
dizer que faz parte do movimento?”. Fora de um movimento podemos dizer que estamos apenas contribuindo
para uma mudança. Isto atrai novas pessoas sem separar as antigas, estamos apenas trocando idéias. As pessoas
podem fazer parte sem precisar ter carteirinhas de sócio e sem começar de baixo. Não há compromisso com o
grupo só porque é um grupo. Só há compromisso com as suas próprias idéias. Grupos devem ser formados
pelos laços de amizade e intimidade, e não por frágeis laços de idéias comuns, que no fundo podem causar mais
conflitos que resoluções, porque nunca são exatamente iguais. Isso também elimina a hierarquia da experiência,
porque cada um sabe coisas diferentes. É também importante sair do mero jogo numérico de tentar converter o
máximo de pessoas possível. É mais vantajoso em longo prazo desenvolver idéias entre amigos do que entre
desconhecidos, cujo valor passa a ser meramente o de um número a mais para o grupo. Alcançar uma ou duas
pessoas que seja, mas de maneira profunda, é melhor que atingir milhares que se esquecerão do que você disse
na próxima semana, ou não se importarão de verdade com isso. Cada pessoa alcançada assim se torna um vetor
individual para a mudança, ao invés de um componente de um grupo.
Outras armadilhas que podemos evitar são: reduzir tudo a poucas opções: “direita ou esquerda”,
“capitalismo ou socialismo”, “isto ou aquilo”. Um movimento tende a restringir seu alcance dizendo “somos
um movimento pró isto, isto e isto e contra aquilo, aquilo e aquilo outro”. Uma pessoa raramente consegue
fazer parte de mais de um movimento, porque cada um deles exige dedicação exclusiva. Devemos sempre fugir
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do extremismo: “abaixo tudo!”, ou o inverso “tudo é bom, tudo é válido”. É claro que precisamos de definições,
mas elas não precisam ser imutáveis. Elas devem ser flexíveis o bastante para não quebrar no primeiro contato
com a realidade. Quanto maior a descentralização de organização, mais podemos atacar por todos os lados e
atrapalhar bastante a capacidade do monstro de abocanhar a “cabeça do grupo”, mas tudo isso ainda não garante
que não seremos assimilados. Até agora o que foi discutido foi uma alternativa ao “como fazer”. Mas ainda
resta a dúvida central: “O que fazer”.
Eu gostaria de expandir nossa metáfora do monstro que assimila tudo. Ele não só destrói movimentos,
ele adquire seu “poder” quando os assimila, e se torna capaz de usá-los contra os próximos inimigos, como um
vilão de desenhos animados ou histórias em quadrinhos. Contra esse tipo de inimigo existem algumas soluções
criativas, desenvolvidas por contadores de ficções. Uma delas parte do princípio que é impossível não ser
assimilado, mas ainda não está tudo perdido. A idéia é dar algo aparentemente inofensivo para que o monstro
engula. Uma das propriedades dessa coisa, em contato com outro elemento interno do monstro, cria uma nova
coisa, imprevisível para o monstro, e que irremediavelmente o levará à morte ou anulará todos os seus poderes.
É o argumento da propriedade emergente. Outra solução parte do princípio que com bastante paciência e
observação do ponto fraco do inimigo, é possível fazer um ataque letal, que matará o monstro antes que ele
possa assimilar as idéias.
No mais, um detalhe importante é lembrar que não basta se opor ao monstro e buscar sua destruição.
Ainda há o problema de como sobreviver às suas conseqüências, que vão durar por muito tempo mesmo que ele
morra neste instante. Podemos evitar muito sofrimento começando agora a aprender a viver sem depender dele,
e se fizéssemos isso antes dele cair, também estaríamos causando um estrago permanente nele.
Ordem e caos
Todos conhecem o discurso ambientalista: salvar, preservar e cuidar da natureza, como se a natureza
fosse “algo que é nosso”, nossa propriedade, nosso bem maior. Todas essas palavras trazem ordem, como se a
natureza devesse ser mantida de acordo com padrões humanos, como um jardim. Como se toda devastação
fosse criada apenas por “homens maus”. Mas nós não estamos interessados em preservar a aparência das áreas
silvestres para que os “amantes da natureza” possam admirá-la. Temos questões mais abrangentes. Não nos
limitamos a quantificar os estragos e depois dizer: “Definitivamente, temos que parar de poluir!”. Não iremos
simplesmente lembrar as pessoas que estamos poluindo e devastando a natureza, iremos procurar as causas
profundas dessa situação. Não iremos cobrar atitudes paliativas de indivíduos, iremos tentar empreender uma
crítica radical à cultura civilizada. Procedemos a uma análise sistêmica da origem do desequilíbrio.
O ambientalismo hoje lembra o que foi o abolicionismo no passado: um discurso muito mais político e
econômico do que qualquer outra coisa. A razão é que a popularização do ambientalismo, influenciada pelo
próprio desenvolvimento do capitalismo, foi feita sem um contexto apropriado. Todos os conceitos que foram
introduzidos pela ecologia, e que poderia significar uma mudança paradigmática, foram assimilados e tiveram
seu significado mudado. O conceito de sustentabilidade, por exemplo, se encontra totalmente assimilado e é
tratado como “desenvolvimento sustentável”, o que é uma contradição de termos. E não importa quantos
ecólogos digam isso, as empresas investem pesado em publicidade para fazer as pessoas assimilarem o conceito
com o significado que elas quiserem. Com um significado que não seja prejudicial às atividades da empresa,
mas que possa ser benéfico. Ainda que seja um significado oposto ao termo no seu contexto ecológico.
Profissionais qualificados estão movendo recursos significativos para transformar a ecologia numa moda
inofensiva.
Propaga-se uma visão romântica da natureza, como se tudo que é “natural” fosse superior ao que é
“mecânico”. O mercado cria falsos inimigos, colocando a culpa na era industrial apenas porque já possui
condições de iniciar uma nova era baseada em informática e em biotecnologia. Porém todas essas visões fazem
parte de um mesmo esquema maior, que é o esquema de controle da natureza. A visão anterior era de que a
natureza estava contra o ser humano. Os homens procuravam dominá-la sistematicamente. E o resultado disso
foi um controle muito mais preciso e eficiente da natureza. Se as máquinas a vapor podem ser substituídas por
máquinas elétricas, isto não representa uma mudança de direção, mas um avanço na mesma direção. O que as
empresas querem é avançar mais rapidamente, e não mudar de direção. Para elas não há problema algum na
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direção que tomamos, mas simplesmente no uso de tecnologias antiquadas. É como se a vida fosse uma corrida
em que não se pode parar de acelerar. É uma corrida cuja única conclusão é o colapso. Como se não bastasse,
esquecemos que as novas tecnologias têm trazido efeitos inesperados cada vez piores.
Nossa tecnologia é espantosa, porém é uma tecnologia expansiva, da qual nos tornamos cada vez mais
dependentes, e que quase sempre se desenvolve por interesses políticos ou econômicos de grupos dominantes.
Tornamos-nos reféns do desenvolvimento tecnológico quando precisamos dele para manter nosso modo de vida
e ao mesmo tempo lidar com os efeitos nocivos dele. Tão errado quanto confiar que o avanço tecnológico irá
nos salvar é acreditar que a tecnologia é a raiz de todos os problemas, e que basta negá-la para resolver tudo. A
questão não é se vamos andar para frente ou para trás, mas para onde estamos indo e porque escolhemos essa
direção. Nossa cultura é obcecada com o “próximo passo”, com um conceito progressista de evolução. Mas
nossa questão é mais do que afirmar ou negar o avanço. Não estamos presos numa progressão linear, não há
apenas um sentido e uma forma de mudar. A mudança que está sendo proposta hoje pela sociedade e pela
cultura não é a mudança que queremos, é apenas uma mudança superficial que além de não contribuir para a
mudança profunda a torna ainda mais difícil.
Quando lidamos com engenharia genética, por exemplo, devemos ter consciência que estamos alterando
combinações que levaram milhões de anos para se encaixarem na harmonia delicada do ecossistema, e que não
podemos prever o resultado de mudar isso abruptamente. Devemos compreender a diferença entre lentas
mudanças de dentro para fora e mudanças repentinas de fora para dentro. Mesmo que conheçamos tudo que é
humanamente possível conhecer, ainda saberemos muito pouco sobre o funcionamento da natureza. Estamos
infinitamente longe de compreender como a natureza deve ser. As empresas que investem milhões nesse tipo de
pesquisa dizem que qualquer um que se oponha está sendo contra o progresso da ciência. O conhecimento não
pode ser reduzido à capacidade de controlar e recriar a natureza ao gosto do homem. Estamos investindo nesse
conhecimento e perdendo nossa sabedoria ancestral.
Não podemos aperfeiçoar o processo de evolução das espécies. Não temos mais capacidade para fazer
emergir ordem do caos do que a natureza em seu todo. A natureza não é puro caos onde o conhecimento é
inútil. Esta é uma postura extremamente cética. Toda a evolução depende de que os organismos armazenem
informações sobre o meio, para que possam responder e se adaptar a ele. Ordem e caos se completam.
Tentamos controlar o caos impondo uma ordem criada de fora para dentro, e não deixando que ela se revele
para nós. Temos uma impaciência em ordenar o mundo, mas ainda assim os bilhões de anos de evolução na
Terra superam tudo que possamos criar num modelo mental. Pode ser que nos sintamos desesperados por
adquirir controle total, para eliminar todos os “erros”. Talvez estejamos procurando nossa satisfação nos
extremos entre ordem e caos, e não no equilíbrio entre ambos. Observar a natureza pode nos ajudar a perceber
que este equilíbrio não só é possível como é necessário.
Podemos viver sem a civilização?
Os seres humanos passaram pelo menos nove décimos de sua história sem a civilização. Não é de
estranhar que se adaptar à vida urbana é tão difícil e exija tanta dedicação e sacrifício. Não chegamos a este
modo de vida da mesma forma com que chegamos ao modo de vida tribal ou da mesma forma com que as
aranhas chegaram a criar suas teias. Não foi uma adaptação às mudanças do meio, mas uma invenção cultural.
Segundo nossa cultura, fizemos tudo isso com planejamento racional baseado em supostas leis imutáveis.
Lutando contra nossa “danosa herança animalesca”. E nesse caso todos os problemas ambientais resultantes
seriam meras reações colaterais inevitáveis da evolução. Resultados de nossa evidente superioridade, não de um
desequilíbrio crescente. Um preço que o planeta deve pagar pela nossa “evolução”.
Talvez seja isso que faça muitos pensadores imaginarem que a civilização é realização do destino
humano mais sublime, a superação da natureza. Como se tivéssemos atingido um novo estágio, um estágio
superior a todas as formas de vida até agora. Para que uma mudança tão drástica como a mudança da tribo para
a cidade enquanto forma de organização tipicamente humana tenha sido resultado da mera evolução biológica,
teríamos que estar diante de um fato realmente extraordinário. Acreditar que a civilização é o destino
evolucionário da humanidade é ser mais do que otimista. Nós insistimos nessa idéia apesar de tudo que
sabemos sobre evolução.
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Mas como vivemos a maior parte do tempo em tribos, ainda estamos mais bem adaptados para a vida
tribal que para a civilização. Por isso investimos tanto em doutrinação: para que nossa natureza permaneça
sobre controle. Aqueles que não se entregam facilmente à doutrinação se sentem deslocados. E realmente estão,
pois a cidade não acomoda o homem em estado selvagem, foi feita para o homem domesticado. No fundo ainda
estamos tentando nos adaptar, porque nascemos selvagens. Ainda temos as mesmas necessidades instintivas
que foram importantes na vida tribal. Essas necessidades são preenchidas com substitutos insatisfatórios ou
inadequados para a relação original entre homem e meio, criando todo tipo de vícios e prejuízos. Ainda temos a
necessidade, por exemplo, de pertencer a um grupo e obter reconhecimento. Ainda temos a necessidade de
compartilhar experiências e recursos, envolver-nos emocionalmente ou fisicamente com a comunidade, testar
nossas habilidades, imaginar, criar, cuidar. Temos necessidade de apoio mútuo, de amizade, de afeto, e de
muitas outras coisas que são decisivas na organização social tipicamente humana. Infelizmente, quando
destiladas e retiradas do contexto, essas pulsões naturais se tornam falhas de caráter.
Essas qualidades não necessitam de recompensas ou reforços morais, foram selecionados pela evolução.
Estes valores não fazem parte de uma moral coercitiva. Uma vez que o modo de vida tribal se regula sozinho,
não há motivos para coerção. Conviver bem é recompensa por si só. Mas nosso modo de vida civilizado foi
construído sem a menor consideração por essas relações. Parece realmente vantajoso para um membro de nossa
sociedade que ele seja mesquinho, e é isso que ele vai aprender na prática. Somos fortemente influenciados a
ser ambiciosos e individualistas, para nosso próprio bem. A maioria da população nem sequer participa dos
benefícios que esse modo de vida traz. Esses aparentes benefícios não são realmente ganhos que preenchem
necessidades, mas sim contingências criadas pelo próprio modo de vida. Nem os mais ricos podem ficar
plenamente satisfeitos. Estamos diminuindo nossas chances de sobrevivência em longo prazo e insistindo com
todas as forças em algo que não será completamente aproveitado.
Não precisamos ser introduzidos novamente à vida em tribo, não há regras a seguir e passos necessários
para se voltar à tribo. Tribo é simplesmente o único nome que temos para se referir a uma organização social
humana. A civilização é nada mais que uma aglomeração desordenada de tribos que perderam sua identidade e
sua cultura própria. Se superarmos isso, voltaremos a fazer aquilo que estamos naturalmente preparados para
fazer. Não significa que vamos morar em ocas ou vestir tangas. Mas significa que nossa tecnologia precisa ser
simples, barata e fruto de trabalho próprio. Não é possível ser sustentável se ainda existirem corporações
produzindo tudo em larga escala. O futuro sustentável é feito à mão, não por empresas ecologicamente corretas.
Atualmente temos o acúmulo e a expansão como fundamentos econômicos. Entender porque tais
fundamentos são insustentáveis não é difícil. Difícil é sobreviver por muito tempo com eles. Os fundamentos da
vida tribal ainda estão em nós, e não são mantidos por coerção. Eles permeiam nosso inconsciente. Não é
preciso sair das cidades, mas é preciso deixar de construí-las. Esse processo inclui como atividades importantes:
sonhar, brincar, dançar, amar, conversar, rir, subverter e eventualmente transgredir. Podemos começar
rejeitando a doutrinação, questionando a civilização e instigando o questionamento. Todos nós queremos muito
mais do que o máximo que ela tem a nos oferecer. Podemos nos recusar a pôr mais lenha na fogueira da
civilização e ao mesmo tempo nos dedicar mais a nós mesmos. Isso me parece sensato por enquanto, mas não
podemos arriscar colocar todos os ovos na mesma cesta. Devemos diversificar as soluções possíveis, mantendo
ao mesmo tempo a mente aberta e a autocrítica.
Finalmente, não precisamos converter as pessoas. É bom falar sobre o que aprendemos porque isso
ajuda a entender melhor nossas próprias idéias, desenvolvê-las e descobrir coisas novas. Ainda temos a
capacidade de viver em equilíbrio com o meio, sem a civilização. Temos agora que enfrentar o desafio de voltar
a viver naturalmente, não como invasores ou dominadores, mas como seres humanos.
A ciência quantitativa
Durante a história da civilização, a ciência quantitativa tem sido a forma privilegiada para se pensar o
mundo. Este tipo de ciência se desenvolveu em conjunto com a dominação do homem sobre o mundo. Mas o
que ela tem que seja tão evidentemente superior em relação a qualquer outra forma de conhecimento?
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Parmênides, o grande mestre de Platão, tinha a idéia de que o universo é um ser singular operando sobre
leis imutáveis. Platão acreditava que a geometria era o conhecimento mais puro e essencial, e que o corpo era
um mero instrumento que por fim deveria ser abandonar junto com o enganador mundo dos sentidos. Porque
dar esse status à geometria e à matemática? Geometria significa medição da terra. Quantificar a terra é o
pressuposto para dominá-la, assim como contar carneiros só se torna importante quando eles deixam ser
animais livres. A economia e a política, inclusive durante a guerra, caminham sempre juntas com a ciência e a
matemática. De fato, a idéia da natureza dinâmica e complexa vem sendo resgatada por sua maior aproximação
dos fenômenos que ficaram de fora da ciência tradicional. As relações entre as espécies no ecossistema
dificilmente seriam compreendidas sem esses conceitos.
É importante ressaltar que nossa ciência, a ciência da medição, jamais foi neutra ao observar o mundo.
Francis Bacon não estava interessado em compreender como o mundo funciona, mas sim em usar a natureza
como ferramenta para os propósitos da humanidade. Todas as leis que nós estabelecemos a respeito do universo
são contingentes, e não necessárias. A influência das religiões monoteístas em nossa cultura é um dos fatores
adicionais para a permanência da visão mecanicista de mundo. Um único deus controlando o mundo significa
um único conjunto de leis válidas. A perfeição do funcionamento da natureza serve, ao mesmo tempo, de
explicação e de implicação da existência de um deus artífice. Também significa que o mundo não estabelece
suas próprias leis, mas elas são preestabelecidas pela vontade de uma entidade independente dele, que por
prezar os seres humanos acima do mundo, dá ao homem o papel de dominador e governante do mundo.
Um outro evento importante foi o conceito do autômato e a invenção do relógio. A medição do tempo
foi essencial para o controle das ações humanas. Descartes, Galileu e Leibniz eram fascinados por relógios, e
não é de se desprezar a influência dos conceitos mecânicos em suas teorias. Muitos cientistas eram ligados à
igreja, e não passa de superficialidade que ciência e religião sejam opostas, pois funcionam sob a mesma
moldura racional. Mas por que este tipo de “verdade” que nossa ciência é capaz de produzir é considerado tão
importante para a humanidade se foi desenvolvida apenas tão recentemente na história humana?
Não é uma questão de acusar a ciência, a religião, o Estado ou o capital por seus abusos históricos, mas
por seus fundamentos ideológicos. Não é preciso entender matematicamente um ser ou um sistema para poder
conviver com ele. As relações de simbiose na natureza não são relações calculadas de controle ou de poder.
Nosso tipo de conhecimento é especializado, pois ele é desde o começo um método de controle, e apenas
secundariamente de compreensão, e quase nunca de adaptação recíproca. O conhecimento matemático não
representa um avanço na capacidade mental humana. A matemática não nos deixa mais inteligentes.
Para serem entendidas como máquinas compostas de peças com funções próprias, as coisas devem ser
dissecadas e replicadas. Isto significa que os elementos devem ser categorizados e analisados separadamente.
Depois disso, a própria sociedade passou a ser um objeto de estudo, sujeito ao controle. A ciência foi
desenvolvida com um propósito em relação à natureza que não se afasta do propósito da escravidão em relação
aos outros povos. O que garantiu o grande desenvolvimento científico dos últimos tempos não foi o
conhecimento que adquirimos sobre o mundo, mas o poder político que isso gerou. Assim como a expansão da
igreja na idade média não foi mérito de uma humanidade mais religiosa, mas do poder político.
A relatividade, a física atômica e a física quântica, apesar de mudarem alguns dos conceitos da ciência,
apenas transformam o mundo de máquina em construto matemático ou virtual, dando um passo além na mesma
direção da ciência clássica. A visão cibernética da realidade continua dando validade para os interesses
econômicos e políticos dos dominantes. Ao invés de ver o mundo como um grande relógio e deus como um
artífice, podemos ver o mundo como uma simulação de computador e deus como um programador. Isso não
muda os pressupostos básicos do papel do homem como governante do mundo. Muitos dos críticos do modelo
cartesiano acabam adotando um modelo que não corrige esses preconceitos fundamentais, apenas os amenizam
na medida em que a própria realidade exige isso de nós. Mostrar alguns limites, como Heisenberg fez com o
princípio da incerteza, ainda não significa deixar esses pressupostos de lado. O acúmulo jamais seria possível
sem uma motivação e um método. A motivação é a idéia de que o homem é dono do planeta e deve tomar conta
dele. O método é a ciência quantitativa, da qual a física quântica não é exceção.
Todos os povos que criaram grandes desenvolvimentos teóricos quantitativos estavam compromissados
com a expansão de territórios e a concentração de poder, mesmo que os indivíduos não soubessem disso. O
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acúmulo, a expansão e a desigualdade estão diretamente ligados à quantificação do mundo, e por isso a questão
se torna muito mais complexa do que aparenta.
Uma dica para a parcialidade da ciência é dada ao observarmos que apenas alguns anos após o início da
“era da informação” nós formulamos o conceito de que a base da vida é a informação contida no DNA de cada
ser vivo. A digitalização da vida é o próximo passo lógico do processo cartesiano de artificializar a natureza,
aproximando-a cada vez mais da matemática. Existem dogmas que mantém essa visão de mundo, entre elas três
contingências transformadas em necessidades: 1- A quantificação e a redução crescente de todos os elementos
da vida às relações matemáticas ou lógicas. 2- O trabalho e a produção cumulativa, com especialização também
crescente. 3- A repressão dos instintos, dos sentimentos não-quantificáveis, das diferenças e da unicidade de
cada um. Desde Platão, nossas teorias precisam de uma argumentação lógica para convencer. Na história de
nossos pensadores sempre houve um grande medo do erro, da contradição ou do caos. E assim como Platão
expulsa os poetas de sua República ideal, nós banimos a criatividade da vida política e econômica, deixando-a
sem expressão. Essa esfera é puramente mecânica agora.
A influência da ciência quantitativa ultrapassa as ciências exatas, atingindo todo o pensamento humano.
A concepção política de Hobbes, por exemplo, está fundamentada numa espécie de mecanicismo, onde os
homens se organizam apenas pela força do medo, assim como a concepção de Locke está fundamentada na
idéia de que existem leis universais regendo a sociedade. O determinismo de La Mettrie confirma a persistência
desta visão de mundo no pensamento civilizado. Ao invés de um enriquecimento lingüístico, o que temos é uma
linguagem cada vez mais específica. Os filósofos da linguagem, como Russell e Frege, acreditavam que a
redução da linguagem à lógica significava um grande avanço para a filosofia, considerando as linguagens
naturais como primitivas. A biotecnologia e a nanotecnologia são duas formas de afirmar a mesma redução da
vida e da matéria aos conceitos da matemática, pois buscam a replicação artificial da vida. A manipulação dos
genes e a manipulação dos átomos são apenas extensões dos objetivos mais primitivos da nossa visão religiosa
e científica de mundo: o controle de todos os aspectos da natureza para proveito do homem.
Não precisamos criar um novo modelo para entender e subjugar o mundo de maneira menos danosa,
mas sim rejeitar que o mundo tenha sido criado para que o homem tome controle dele. E se não precisamos
controlá-lo para conviver bem, logo perceberemos que muito do que consideramos um grande avanço científico
não passou de uma estratégia para justificar e manter uma cultura expansiva. Faz parte dessa visão de mundo
que as coisas só possam ser explicadas por modelos mentais, o que nos faz pensar que só precisamos de um
modelo mais completo. Mas não vivemos em um mundo completamente sem leis e adverso à humanidade, nem
tendemos naturalmente à autodestruição. Vivemos em um mundo que parece caótico e irregular, mas que é
dinamicamente auto-organizado. Todos os seres deste mundo, inclusive os seres humanos, nasceram dessa
auto-organização e por isso não podem estar em descontinuidade com ele. As leis da natureza não precisam ser
escritas, quantificadas e forçadas a funcionar. A prioridade da quantidade sobre a qualidade nos deixa com uma
visão parcial do mundo, vivendo incompletamente e nos tornando, por fim, seres incompletos.
Condicionamento humano
Uma das perguntas que nós nunca conseguimos responder adequadamente é: se os homens viviam bem,
por que criar um modo de vida tão trabalhoso e complexo? Culpar alguma característica humana não é
suficiente. Levaria a pensar que a civilização é necessária e inevitável. Os argumentos salvacionistas vêem na
natureza do homem, e apenas nela, algo corrupto, e por isso buscam salvar o homem dela, buscando um destino
transcendental para ele. Mas talvez já possamos indicar um caminho para explicar porque alguns homens
escolheram este modo de vida, sem recorrer a argumentos salvacionistas.
A cultura de cada grupo humano é resultado das interações específicas deste grupo com meio em que ele
vive. Grupos de coletores não precisavam expandir territórios, pois sua economia não depende de crescimento.
A espécie humana como um todo tinha estabilidade populacional, mantendo-se em menos de um bilhão de
humanos, que é um número razoável para mamíferos deste porte. E assim como as espécies que vieram antes de
nós, os seres humanos se adaptaram às mudanças mais drásticas de condições ambientais. A característica
diferencial humana – toda espécie tem a sua – é a plasticidade do aparelho cognitivo. A capacidade de
armazenar muitas informações e lidar com elas de maneira bem mais complexa. Graças a isso o ser humano
pode repassar comportamentos por educação de forma bem mais eficiente, o que o levou a poder sobreviver em
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diferentes ambientes e situações sem que seu corpo precisasse mudar demais. Esta pode ser uma vantagem a
curto prazo, mas também uma armadilha em longo prazo.
Entre as mudanças ambientais, uma das mais severas é o fenômeno da glaciação. Houve muitas
glaciações de diferentes escalas, sendo que a última ocorreu provavelmente há cerca de 20 mil anos. A
glaciação é um fenômeno em que a temperatura média da terra se abaixa, criando um inverno planetário intenso
e duradouro. Durante as glaciações os vegetais se tornaram mais escassos, e os coletores precisaram recorrer
mais à caça. Outras mudanças na organização social provavelmente foram necessárias para essas situações. A
caça como principal fonte de alimento exige uma organização hierárquica, com aumento do poder masculino.
Uma parte da autonomia deve ter sido sacrificada em nome da sobrevivência do grupo, principalmente na
relação sexual. Torna-se importante manter o máximo de pessoas vivas; ter quantos filhos for possível e manter
uma rígida estrutura social para unir os membros, independente de sua afinidade mútua.
Porém, todos os outros mamíferos grandes que se adaptaram à caça não viviam em grupos grandes. O
lobo, por exemplo, se organiza em grupos pequenos, mas apresenta uma estrutura hierárquica de castas, onde
um macho alfa subjuga os outros membros do grupo e tem prioridade sobre as fêmeas. Lobos também
apresentam hábitos de acumular e proteger comida, um forte senso de territorialidade e empregam bastante
esforço na defesa contra invasores e predadores, tendo inclusive criando um sistema de comunicação bastante
avançado. A semelhança entre a organização social do lobo, feita para resistir a ambientes hostis, e a
organização social humana após a última glaciação não devem ser pura coincidência. E a diferença entre ambas,
que é nosso crescimento populacional acelerado, é significante para entender a insustentabilidade estrutural da
civilização. Há certas características populacionais que não podem coexistir sem desequilíbrio crescente.
As glaciações podem ter condicionado alguns grupos humanos, auxiliando-os a alterar radicalmente seu
comportamento e embarcar num projeto de acúmulo e expansão. Tendo criado um trauma das glaciações, eles
podem ter feito uma mudança cultural para evitar sofrimento futuro. Esta mudança envolve um acúmulo de
recursos sem precedentes, em que o desenvolvimento da agricultura e da criação de animais foi conseqüência, e
não causa. Também era preciso uma disciplina rígida de cultivo e criação de animais. Isto poderia ser feito, por
exemplo, criando o mito de que as pessoas que vivem dessa forma são mais avançadas em relação às demais.
Neste novo modo de vida não poderia haver desperdício de terras ou de pessoas. Quanto mais membros e
espaço, maior a produção e maiores as chances de sobreviver. Para isto foram desenvolvidas técnicas de
dominação, como as guerras de aniquilação e conquista, além das religiões salvacionistas. Por um lado temos
tecnologias que nos permitem um alto crescimento populacional, por outro temos religiões que nos mantém
com medo de uma catástrofe iminente, cuja causa é nossa própria natureza, reproduzindo o trauma necessário
para manter esta estrutura social.
Apenas alguns agrupamentos humanos embarcaram neste novo modo de vida. Assim que a última
glaciação se foi, quase todos os grupos humanos voltaram ao modo de vida mais ou menos original. Mas pelo
menos um desses grupos desenvolveu um modo de vida de escassez, em que o acúmulo de comida e a ocupação
de territórios são coisas tão importantes que chegam a ser virtudes religiosas. Culturalmente, criaram um modo
de vida que pudesse minimizar os danos de uma nova era do gelo. Eles continuaram fazendo o que estava sendo
reforçado por contingências ambientais mesmo na ausência destas. Os motivos para continuar tiveram que ser
inventados. Tais motivos fazem parte do que eu chamo de mitologia salvacionista, que é a crença de que o
homem está condenado a um modo de vida rígido e trabalhador, e que a condição humana é de desespero e
angústia pela inevitabilidade da morte e do sofrimento.
A rara estabilidade climática que começou no final da última glaciação proporcionou condições para o
modo de vida expansionista, mas não determinou o que faríamos. Isso foi escolha nossa. Assim como
escolhemos fazer isso, podemos escolher outros modos de vida completamente diferentes. Estamos agora nos
condicionando para uma situação que não faz mais parte da realidade. Podemos procurar formas de quebrar o
condicionamento e resgatar o conhecimento necessário para voltar a viver de forma autônoma. Algumas formas
de fazer isso foram sugeridas. Dizem que os cães de Pavlov deixaram de responder ao condicionamento em
situações extremas. É mais ou menos o que leva algumas pessoas a crer que a sociedade só mudará se houver
uma grande catástrofe, mas isso é apenas uma conseqüência da crença salvacionista. Por outro lado, a mera
conscientização da massa, parece ter uma abrangência mínima, pois o verdadeiro desejo da massa não é se
livrar deste modo de vida, mas sim viver de forma melhor nele. Reconhecem apenas os efeitos que os atingem.
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Ao invés disso devemos nos perguntar se é possível continuar mantendo os pressupostos que sustentam a
sociedade de massas.
Não defendo o “mito do bom selvagem”. Os pensadores do século XIX não sabiam que os homens
viveram tanto tempo em comunidades sustentáveis e autônomas. Se soubessem, não diriam que o estado de
natureza era insustentável e que o contrato social é inevitável. Não faz sentido dizer que o homem viveu todo
esse tempo miseravelmente, pois ele teria sido excluído pela seleção natural se assim fosse. Se os outros
animais são sustentáveis, porque não os homens? O que alguns chamam de paraíso perdido é apenas a condição
necessária para sobrevivência, nenhum modo de vida insustentável duraria tanto tempo sem destruir o ambiente
ou a si mesmo. O ecossistema mantém as espécies capazes de conviver em harmonia. Harmonia não significa
que o homem vivia como um leão vegetariano das mitologias cristãs e dos desenhos animados. Toda nova
espécie ocupa um nicho que antes era ocupado por outra. Predadores não estão em desarmonia com o meio,
nem criam extinção em massa, quanto mais devastação de seu próprio habitat. Nem parasitas fazem isso, ou não
sobreviveriam. Os seres humanos não são a doença, nem os predadores nem as parasitas da terra. A
humanidade não tem nada a ver com isso, é a civilização que é insustentável.
Alguns insetos são altamente sociais, possuem castas, acumulam recursos, expandem territórios, fazem
guerra, e devastam regiões. Mas como eles utilizam uma pequena parte da biomassa do planeta, não
comprometem o equilíbrio do ecossistema. Não são pragas naturais, são pragas para nossas plantações. Mas se
eles ocupassem a biomassa com plantações da mesma forma com que nós a ocupamos, com certeza seu modo
de vida estaria destinado ao fracasso. O mundo tem sua autonomia, não nascemos para governá-lo. Essa crença
fundamental para a civilização é também letal para humanidade.
A evolução artificial
Ainda há cientistas e pensadores que acreditam que o homem esteja tão afastado da natureza que já não
participa mais do processo de evolução da vida. A idéia é que a própria natureza teria tornado o homem
independente dela, quando deu a ele a racionalidade. Mas é estranho imaginar porque o homem resolveu dar
sua “arrancada” civilizatória há apenas 10.000 anos se seu cérebro continua o mesmo desde o primeiro ser
humano. Será que levamos todo este tempo para saber o que fazer? Talvez nos faltasse um pouco de coragem?
Ou talvez seja porque não é a forma do cérebro que define como vamos viver, e sim o que decidimos fazer com
nossos cérebros.
A maneira com que escolhemos usar nossos cérebros nos últimos 10 mil anos nos trouxe conseqüências
lastimáveis. No entanto, como não podemos criticar nosso avanço, não temos outra opção senão deduzir que a
natureza nos quer fora da evolução. Mas como evoluir é necessário, e os desejos da natureza nunca foram muito
importantes mesmo, decidimos que vamos evoluir assim mesmo. O passo final para provarmos à natureza que
podemos viver sem ela é fazer nossa própria evolução. É por isso que precisamos tanto dos conhecimentos da
genética. Uma vez que reconhecermos todos os genes bons e os separarmos dos genes maus, podemos
simplesmente eliminar aquelas partes de nossa natureza que nos incomodam. Isto é chamado de eugenia.
Não podemos saber previamente qual característica genética irá propiciar maior adaptação ao meio. O
critério que está sendo usado nem sequer é a adaptação ao meio, e sim a manutenção da civilização. Mas a
capacidade de convivência harmônica entre os membros da sociedade não é um critério de sobrevivência, pois a
sociedade humana é um membro de um sistema maior, o ecossistema, e como tal também deve estar em
harmonia com os outros membros desse sistema. Tal harmonia dificilmente pode ser predefinida pela
capacidade racional humana. É como se as áreas urbanizadas fossem nosso novo habitat, construído pela
própria ação humana. Como um habitat artificial pode acomodar toda a espécie humana? Não acomoda, temos
que deixar vários aspectos de fora. Não há espaço para tentar conviver com nossos instintos. Temos que
suprimi-los.
Talvez não haja nada que possamos fazer para deter este processo diretamente, mas podemos
indiretamente enfraquecer suas condições de possibilidade. Nenhum animal tem seu modo de vida organizado
exclusivamente por seu próprio cérebro. Instintos não são refugos de capacidades atrasadas do homem. Essa
confusão é provocada pelo fato de que a evolução cultural ocorre bem mais rapidamente do que a evolução
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biológica, mas elas não são equivalentes. A evolução cultural apenas melhora nossa capacidade de seleção de
comportamentos culturais, mas não nos dá novas características.
Alguns neurobiólogos defendem que, por ser a parte mais recente ou avançada do cérebro, o teleencéfalo é superior às outras partes, e sua função deve substituir as funções primitivas do cérebro para que o
homem possa evoluir. Mas a evolução de um organismo não é progressiva. A evolução biológica não se
acelera. A cultura é um aspecto superficial de uma espécie, ela não tem o poder de acelerar ou de prever a
seleção natural, e logo não pode acelerar a evolução do homem. Só é possível dizer que uma evolução artificial
sobrepõe-se a uma evolução natural se o homem não mais for visto como um ser natural, e sim apenas um ser
cultural. Tal visão é ingênua e demasiadamente restrita. A totalidade do ser humano é muito mais ampla que
qualquer uma de suas culturas. A defesa de uma superioridade da evolução artificial tem intenções que não
estão longe da manipulação genética, da engenharia social e da eugenia.
O início do fim
Nenhuma solução pode surgir até que se reconheça o problema. Mas o quando o problema não está
exatamente no que estamos fazendo, mas sim na forma que pensamos (inclusive a forma com que pensamos o
problema), as coisas ficam um pouco mais complicadas. Porque uma forma de pensar não é como um objeto.
Não há um manual sobre como construir formas de pensar adequadas. Ninguém pode ensinar a forma de pensar
correta, porque não há forma de pensar correta.
Muitas pessoas acham que o problema aqui exposto já está bem reconhecido, só falta ação... Mas o que
está sendo discutido hoje é “que ações são adequadas”, e não “por que agimos assim?”. Discutimos
aquecimento global em termos do que fazer para evitá-lo, mas não discutimos a idéia que o possibilita. A
maioria das pessoas não questiona a civilização, apenas aspectos contingentes dentro dela.
Não podemos mostrar um problema numa forma de pensar como mostramos algo num objeto... Uma
forma de pensar só pode ser corrigida internamente, por autocrítica. Quem não observa os limites de sua visão
não tem como mudá-la. E quem mudou sua visão não tem como reproduzir a mesma realidade. Se o problema
continuar, não será por falta de ação, mas por falta de visão, ou melhor, pela persistência numa visão
fundamentalista.
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Sites e blogs:
http://largue.rg.com.br
http://celulazero.blogspot.com
http://punkcanibal.zip.net
http://sabotagem.revolt.org
http://duplipensar.net
http://ervadaninha.sarava.org
http://ativismoabc.guardachuva.org
http://projetociclovida.blogspot.com
http://alemdacivilizacao.blogspot.com
http://delinquente.blogger.com.br
Livros e textos:
Konrad Lorenz
Daniel Quinn
Pierre Clastres
John Zerzan
Jarred Diamond
Mark Meritt
Marshall Sahlis
A demolição do homem
Evolução e modificação do comportamento
Oito pecados do homem civilizado
A história de B
Além da civilização
A sociedade contra o Estado
Futuro primitivo
O pior erro da história humana
The Unsustainability and Origins of Socioeconomic Increase
A primeira sociedade da afluência
Agradecimentos a todos que fizeram parte do processo criativo deste livro, em especial a Elaine
Cristina, sem a qual eu não teria feito nada.
Ilustrações das páginas 1 e 14: Diego Dyan.
Comente os textos no blog http://umanovacultura.blogspot.com ou participe do grupo de discussão
http://br.groups.yahoo.com/group/umanovacultura.
“Nossa mente é adaptada para os pequenos bandos coletores de alimentos nos quais nossa família passou 99% de sua existência, e não
para as desordenadas contingências por nós criadas desde as revoluções agrícola e industrial” - Steven Pinker
“Os povos mais primitivos do mundo têm poucas posses, mas não são pobres. Pobreza não é uma pequena quantidade de bens, nem é
apenas uma relação entre meios e fins. Acima de tudo, é uma relação entre pessoas. Pobreza é um status social. Assim como é uma
invenção da civilização” - Marshall Sahlins
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Por uma mudança - Centro de Mídia Independente