Pelo Socialismo Questões político-ideológicas com atualidade http://www.pelosocialismo.net __________________________________________________ Publicado em: http://www.opednews.com/articles/opedne_nafeez_m_060831_us_army_contemplates.htm Tradução do inglês de PAT Colocado em linha em: 2011/09/18 O exército dos EUA pondera redesenhar o mapa do Médio Oriente para adiar o iminente colapso global Nafeez Mosaddeq Ahmed* opednews.com, 31 de agosto de 2006 Num artigo pouco referido, publicado no princípio de agosto, no Armed Forces Journal, uma revista mensal para oficiais e líderes da comunidade militar nos Estados Unidos, o antecipadamente reformado major Ralph Peters expõe as ideias mais recentes do atual pensamento estratégico dos EUA. E elas são extremamente perturbadoras. Limpando etnicamente todo o Médio Oriente O major Peters, anteriormente designado para o Gabinete do Chefe Adjunto do Staff da Inteligência, onde era responsável pela guerra futura, esboça francamente como o mapa do Médio Oriente deveria ser fundamentalmente redesenhado, num novo esforço imperial para corrigir erros passados. “Sem grandes revisões de fronteiras, nunca veremos um Médio Oriente mais pacífico”, observa ele, mas a seguir acrescenta ironicamente: “Oh, e um outro pequeno segredo sujo com 5.000 anos de história: a limpeza étnica funciona”. Assim, reconhecendo que a ambiciosa reconfiguração de fronteiras que propõe envolveria necessariamente uma massiva limpeza étnica e os inerentes banhos de sangue, talvez numa escala genocida, ele insiste que, a menos que seja implementada, “podemos tomar como certo que uma parte do banho de sangue na região continuará por si próprio”. De entre as suas propostas está a necessidade de estabelecer “um estado curdo independente” para garantir o há muito negado direito dos curdos à autodeterminação. Mas por trás dos sentimentos humanitários, o major Peters declara que “Um Curdistão livre, estendendo-se desde Diyarbakir até Tabriz, seria o estado mais pró-ocidental entre a Bulgária e o Japão”. Ele repreende os Estados Unidos e os seus parceiros de coligação por perderem “uma gloriosa oportunidade” para fraturarem o Iraque, o qual “deveria ter sido imediatamente dividido em três estados mais pequenos”. Isto deixaria “três províncias de maioria sunita do Iraque como um estado truncado, que podia eventualmente escolher unificar-se com a Síria, que perde o seu litoral para um Grande Líbano orientado para o Mediterrâneo: a Fenícia renascida”. Entretanto, o sul xiita do antigo Iraque “formaria a base de um estado árabe xiita confinando com 1 grande parte do Golfo Pérsico”. A Jordânia, uma amiga dos EUA e Israel na região, poderia “manter o seu actual território, com alguma expansão para o sul a expensas dos sauditas. Por seu lado, o estado não natural da Arábia Saudita sofreria um desmantelamento tão grande quanto o do Paquistão”. O Irão também poderia “perder um grande troço de território para o Azerbeijão Unificado, o Curdistão livre, o Estado Árabe Xiita e o Baluquistão livre, mas ganharia as províncias em torno de Herat, no atual Afeganistão”. Embora possa ser impossível implementar agora este vasto programa imperial, com o tempo, “surgirão fronteiras novas e naturais”, conduzidas pelo “inevitável e concomitante banho de sangue “. Quanto aos objectivos deste plano, o major Peters é igualmente franco. Se bem que inclua as necessárias advertências acerca da luta “pela segurança em relação ao terrorismo e pela perspectiva da democracia”, menciona também a terceira importante questão — “e pelo acesso aos abastecimentos de petróleo numa região que está destinada a combater entre si”. Toda a coisa soa perturbadoramente familiar, especialmente para aqueles que leram as cogitações do então ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Oded Yinon. Manter o mundo seguro… para a nossa economia Apesar de tentar apresentar a sua visão como um exercício com o objetivo de democratizar de forma desinteressada o Médio Oriente, numa contribuição para o jornal trimestral Parameters, do US Army War College, há quase uma década, ele reconheceu com algum júbilo que: “Aqueles de nós que podem ordenar, digerir, sintetizar e aplicar conhecimentos relevantes levantam voo — profissionalmente, financeiramente, politicamente, militarmente e socialmente. Nós, os vencedores, somos uma minoria”. Esta minoria entrará inevitavelmente em conflito com a vasta maioria da população do mundo. “Para as massas mundiais, devastadas por informação que não podem administrar ou interpretar efectivamente, a vida é ‘maldosa, brutal … e em curto-circuito’”. Em “qualquer país e região”, estas massas que não podem “entender o novo mundo” nem “beneficiar das suas incertezas… tornar-se-ão os inimigos violentos dos seus governos inadequados, dos seus vizinhos mais afortunados e, finalmente, dos Estados Unidos”. Portanto, o choque que vem aí não é na realidade sobre sangue, fé, etnicidade… de modo algum. É sobre do fosso entre os que têm e os que não têm. “Estamos a entrar num novo século americano”, diz ele, numa referência velada ao Projecto da administração Bush, com o mesmo nome do ano em que foi escrito. No novo século, “ tornar-nos-emos ainda mais ricos, mais letais culturalmente e cada vez mais poderosos. Nós excitaremos ódios sem precedentes”. Ao prever o percurso futuro da US Army, o major Peters argumenta que “Veremos países e continentes dividirem-se entre ricos e pobres numa reversão das tendências económicas do século XX”. Neste contexto, afirma ele, “nós, nos Estados Unidos, continuaremos a ser percebidos como os ricos finais” e, por isso, “o terrorismo será a forma de violência mais comum”, juntamente com “a criminalidade transnacional, tumultos civis, secessões, conflitos de fronteiras e guerra convencionais”. Entretanto, “na defesa dos seus interesses”, aos EUA “será exigido intervir em algumas destas contendas”. E a seguir resume tudo isto em um parágrafo sem ambiguidades: “Não haverá paz. A qualquer momento do resto das nossas vidas haverá múltiplos conflitos em formas diversas por todo o globo. Conflitos violentos dominarão as manchetes, mas as lutas culturais e económicas serão mais constantes e finalmente 2 mais decisivas. O papel de facto das forças armadas dos EUA será manter o mundo seguro para a nossa economia e aberto para o nosso assalto cultural. Para tais fins, faremos uma razoável quantidade de mortes”. Então, o que estimulou a decisão do major Peters a transmitir a sua visão para o Médio Oriente no Armed Forces Journal, neste momento, na esteira da mais recente crise do Médio Oriente? Alguns desenvolvimentos críticos. Fonte: convergência iminente de crises globais Segundo uma fonte americana, com alto nível de acesso ao establishment militar, político e da inteligência dos EUA, os responsáveis pela política ocidental não têm dúvida de que o mundo enfrenta a convergência iminente de múltiplas crises globais. Estas crises ameaçam não só minar a base do poder ocidental nas suas atuais configurações militares e geopolíticas, mas também desestabilizar todos os fundamentos da civilização industrial. A fonte afirma que os dados petrolíferos mais recentes indicam que “a produção global de petróleo provavelmente atingiu o pico dois anos atrás”. Isto é consistente com as descobertas de geólogos respeitados, tais como o principal perito em esgotamento petrolífero, Dr. Colin Campbell, que, no final dos anos 90 previu que a produção mundial de petróleo atingiria o pico no princípio do século XXI. “Chegámos ao fim da primeira metade da Era do Petróleo”, disse o Dr. Campbell, que tem um doutoramento em geologia pela Universidade de Oxford e mais de 40 anos de experiência na indústria petrolífera. Analogamente, Kenneth Deffeyes, um geólogo e professor emérito da Universidade de Princeton, estimou que o pico se verificou perto do fim de 2005. A fonte também disse que os principais analistas financeiros dos EUA, em privado, acreditam que “um colapso do sistema bancário mundial está iminente, perto de 2008”. Embora a advertência seja consistente com os resultados públicos de outros peritos, esta é primeira vez que é prevista uma data mais precisa. Numa análise previsional retirada de fontes financeiras altamente colocadas, o historiador americano Gabriel Kolko, professor emérito da Universidade de York, concluiu em Julho último que: “Todos os factores que contribuem para os crashes — alavancagem excessiva, alta de taxas de juros, etc — existem… Agora, as contradições afundam o sistema financeiro mundial e existe um crescente consenso entre aqueles que o endossam e aqueles que, como eu, acreditam que o ‘status quo’ é tão propenso à crise como imoral. Se acreditarmos nas instituições e personalidades que têm estado na linha da frente da defesa do capitalismo, e devíamos acreditar, podemos muito bem estar à beira de crises sérias”. A fonte também comentou o perigo da rápida mudança climática. Ainda que as estimativas mais convencionais sugiram que a catástrofe climática global não se verificará antes de outros 30 anos fora do normal, aduziu que a multiplicação de vários “pontos de rutura” indiciava que uma série de eventos climáticos devastadores podia “desencadear-se nos próximos 10 a 15 anos”. Mais uma vez, isto é consistente com as conclusões de outros peritos – o mais recente relatório, de uma task-force conjunta do Instituto para a Investigação de Políticas Públicas no Reino Unido, do Centro para o Progresso Americano nos EUA e o Instituto Australiano disse, em Janeiro do ano passado, que, se a média da temperatura mundial subir “dois graus centígrados acima da média da temperatura mundial prevalecente em 1750, antes 3 da revolução industrial”, isso desencadearia uma corrente irreversível de desastres climáticos. No seu relatório, a task-force diz: “Admite-se a possibilidade de se chegar a pontos de rutura climáticos fundamentais – por exemplo, a perda das camadas de gelo do Antártico Oeste e da Gronelândia (que, em conjunto, podem elevar o nível do mar mais de 10 metros no espaço de alguns séculos), o fim da circulação termossalina oceânica (e, com isso, da Corrente do Golfo) e a transformação dos solos e florestas do planeta de dissipadores líquidos de carbono em fontes líquidas de carbono.” A fonte também revelou que generais americanos ensaiaram repetidamente jogos de guerra, numa perspectiva de conflito com o Irão, mas concluíam sistematicamente que as simulações apontavam para “um absoluto desastre nuclear”, do qual não emergiria qualquer vencedor claro. Os cenários ensaiados eram tão funestos, disse ela, que os generais recomendaram a responsáveis da administração que evitassem uma tal guerra, a todo custo. Contudo, a fonte informou que a administração Bush está a ignorar os receios dos militares americanos. Neste contexto, parece que as cogitações do major Peters decorrem menos de uma assumida confiança no poder americano do que de um sentimento de crescente desespero e incomodidade, à medida que a arquitectura política, financeira e energética do sistema global se está a fragmentar cada vez mais, sob o peso da sua própria instabilidade intrínseca. Contudo, apesar da aparência sombria da situação, há claramente uma dissenção fundamental acerca da atual trajetória da política americana e ocidental nos mais altos níveis de poder. A fonte observou que “a humanidade está à beira de um precipício e tanto podemos aí cair, como evoluir noutro sentido. Não estou certo sobre aquilo com que poderemos comparar o novo ser humano, mas, seja o que for, terá claramente de envolver um conjunto completamente novo de ideias e valores e uma nova forma de olhar para o mundo que respeite a vida e a natureza”. * O Dr. Nafeez Mosaddeq Ahmed é o autor de “A User’s Guide to the Crisis of Civilization” [Pluto Press (RU) e Palgrave Macmillan (EUA)]. Nafeez é um autor de bestsellers e um analista de segurança internacional especializado no estudo da violência de massas. [O sítio da rede referenciado apresenta, noutro local, um currículo mais desenvolvido do autor e o endereço do seu blog: nafeez.blogspot.com – NT] 4