Pontifícia Universidade Católica do Paraná Curso de Pós-Graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO BRASÍLIA 2003 Dione Mary de Cerqueira Barbosa Édison Franklin Almeida Leonir Bampi Ricardo Nelson Gonçalves Tereza Cristina Parente Rebello Pinheiro Vilmar Agapito Teixeira A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Pós-graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito para a obtenção do grau de Pós-graduado. Orientador: Prof. Dr. Carlos Olavo Quandt BRASÍLIA 2003 Dione Mary de Cerqueira Barbosa Édison Franklin Almeida Leonir Bampi Ricardo Nelson Gonçalves Tereza Cristina Parente Rebello Pinheiro Vilmar Agapito Teixeira A Aprendizagem Organizacional otimizando resultados do Tribunal de Contas da União Dissertação aprovada como requisito para a obtenção do grau de Pós-graduado no Curso de Pós-graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela banca examinadora formada pelos professores: Orientador: Prof. Dr. Carlos Olavo Quandt / PUCPR Prof. Dr. Fernando Flávio Pacheco / PUCPR Prof. Dr. Antônio Raimundo dos Santos / PUCPR Brasília, 14 de novembro de 2003. RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar a aprendizagem organizacional no Tribunal de Contas da União – TCU. A partir de uma revisão na literatura, levantou-se, por meio de análises documentais e entrevistas com especialistas da área de educação na organização, a situação das práticas de aprendizagem organizacional, evidenciando as previsões nos planos e a realidade com que ocorrem na instituição. Do cruzamento dessas informações, analisou-se, por pilar sustentador das organizações de aprendizagem (estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação) como a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados no TCU. A grande importância deste estudo reside no fato de se agrupar, de forma inédita, grande parte das práticas de aprendizagem apresentadas na literatura e compará-las com a situação encontrada em um órgão público, no caso o TCU. ABSTRACT This monograph aims to investigate the organizational learning principles at the Brazilian Court of Audit (Tribunal de Contas da União – TCU). Based on a survey in the literature, the status of the organizational learning practices was verified through documental analysis and interviews with specialists on education within the organization. The survey brought to focus the institution’s plans related to organizational learning and how they were implemented. Cross examining this information, taking into account support’s aspects of learning organizations (strategy, culture, management and information technology), it was analysed how this practice can optimize results in TCU. The great importance of this study, which has never been done before, lies upon benchmaking learning practices described in the literature with situations found in the public organization, in this case the Tribunal de Contas da União. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Mudança de Paradigma de Treinamento para Aprendizagem........................................................... 32 Tabela 2 - Características da aprendizagem formal e informal.......................................................................... 32 Tabela 3 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Estratégia ............................... 68 Tabela 4 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Cultura ................................... 68 Tabela 5 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em Gestão .......... 69 Tabela 6 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em TI.................. 70 Tabela 7 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Estratégia90 Tabela 8 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Cultura .. 91 Tabela 9 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Gestão.... 91 Tabela 10 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI........... 92 Tabela 11 - Distribuição de Cargos no TCU ........................................................................................................ 95 Tabela 12 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Estratégia ................. 123 Tabela 13 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Cultura ..................... 123 Tabela 14 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Gestão....................... 124 Tabela 15 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - TI .............................. 125 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Circuitos simples e duplo de aprendizagem....................................................................................... 17 Figura 2 - Modelo dos pilares sustentadores das Organizações que aprendem ................................................. 30 Figura 3 - Relação de causa e efeito entre as perspectivas do BSC.................................................................... 44 Figura 4 - Ciclo PDCA........................................................................................................................................ 83 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................8 1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL: PRINCÍPIOS, CONCEITOS E PRÁTICAS......12 1.1 APRENDIZAGEM ................................................................................................................................. 12 1.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL ................................................................................................... 15 1.3 ORGANIZAÇÕES DE APRENDIZAGEM .................................................................................................. 24 1.4 PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL ................................................................ 30 1.4.1 Paradigma do Treinamento para a Aprendizagem Organizacional ........................................... 31 1.4.2 Aprendizado como Atividade Social: Comunidades de Práticas............................................... 33 1.4.3 Vias de Aprendizagem .............................................................................................................. 36 1.4.4 As Cinco Disciplinas ................................................................................................................. 36 1.5 PILARES DE SUSTENTAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM .................................................... 41 1.5.1 Estratégia................................................................................................................................... 41 1.5.2 Cultura....................................................................................................................................... 45 1.5.3 Gestão........................................................................................................................................ 49 1.5.4 Tecnologia da Informação......................................................................................................... 59 1.6 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL .......................................... 67 2 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS NAS ORGANIZAÇÕES..........................................................................................................................71 2.1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA ESTRATÉGIA ................................................... 73 2.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA CULTURA ........................................................ 77 2.3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA GESTÃO .......................................................... 80 2.4 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO....................... 85 2.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL .......................................... 90 3 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO TCU ..............................................................93 3.1 O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO ................................................................................................... 93 3.1.1 Modelo Institucional ................................................................................................................. 94 3.1.2 Pessoas ...................................................................................................................................... 95 3.1.3 Jurisdição................................................................................................................................... 96 3.1.4 Tipos de Controle Adotados...................................................................................................... 98 3.1.5 Deliberações.............................................................................................................................. 99 3.1.6 Planejamento Estratégico ........................................................................................................ 100 3.1.7 Plano de Diretrizes e Planos de Ação...................................................................................... 101 3.2 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................................................... 102 3.3 COLETA DE DADOS ........................................................................................................................... 103 3.3.1 Plano Estratégico do TCU (PET) de 2003-2007 ..................................................................... 103 3.3.2 Plano de Diretrizes do TCU para 2003.................................................................................... 106 3.3.3 Planos Diretores das Unidades Básicas do TCU para 2003 .................................................... 108 3.3.4 Entrevistas com especialistas internos..................................................................................... 109 3.3.5 Relatório de Avaliação de Gestão do TCU em 2002............................................................... 116 3.4 PROJETO ATENA ............................................................................................................................... 120 3.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO TCU.......................... 123 4 COMO A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL PODE OTIMIZAR RESULTADOS NO TCU ...........................................................................................................................................126 4.1 ESTRATÉGIA ..................................................................................................................................... 126 4.2 CULTURA.......................................................................................................................................... 129 4.3 GESTÃO ............................................................................................................................................ 131 4.4 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ........................................................................................................ 133 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 135 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 140 ANEXO I ............................................................................................................................... 145 8 INTRODUÇÃO O desenvolvimento desta pesquisa é uma oportunidade para investigar o quanto o Tribunal de Contas da União - TCU utiliza o processo de aprendizagem organizacional para otimizar seus resultados. A dinâmica organizacional tem sido tema bastante explorado nos últimos anos. Pesquisas e ensaios teóricos comumente abordam mudanças no ambiente corporativo (estratégias, cultura, gestão e tecnologia da informação) para fazer frente a uma conjuntura cada vez menos estável. São freqüentes as tentativas de identificar modelos e práticas mais eficazes, fontes de vantagem competitiva e explicações para o desempenho de pessoas e organizações. Diante desse contexto de mudanças constantes e de busca por resultados efetivos, uma organização pública centenária como o TCU, responsável por assegurar a correta aplicação dos recursos públicos em benefício da sociedade, deve contemplar, na sua gestão, práticas de desenvolvimento de pessoas em ambiente de intensa produção de conhecimento e de ações produtivas complexas. O sucesso da atuação do TCU depende da sua capacidade de aprender e de mudar as circunstâncias. Para tanto, necessita-se contar com características nobres do ser humano que compõe a organização, a exemplo da criatividade, do comprometimento e da motivação para aprender, da capacidade de saber fazer e querer fazer, e não apenas com habilidades e atitudes próprias da era industrial, onde a simplicidade das tarefas não exigia maiores envolvimentos pessoais. Como diz DUTRA (2002, p. 209), “a preparação para o futuro exige dois investimentos simultâneos. Um na modernização do sistema de gestão das pessoas e outro no estímulo e suporte ao desenvolvimento das pessoas por si próprias”. 9 Portanto, à medida que as organizações tornam-se mais complexas, sofisticadas e intensivas em conhecimento, surge a necessidade de se implantar práticas de aprendizagem organizacional como forma de disseminar conhecimentos necessários à perpetuação do negócio. Entende-se, ainda, que a vida profissional e social oferece às pessoas múltiplas oportunidades de aprendizagem. O ambiente de trabalho, segundo LE BOTERF (apud FREITAS et al, 2003, p. 81), “talvez seja o principal espaço educacional dentro da organização”. Para esse autor (id. ib.), “qualquer situação de trabalho pode tornar-se uma oportunidade de aprendizagem à medida que constitui um objeto de análise, um momento de reflexão e de profissionalização”. A aprendizagem é produto do aprendizado individual e grupal, e é importante para a competitividade e desenvolvimento da organização. Todavia, esse processo de Educação nas corporações carece de uma estratégia e de modelos de gestão que facilitem a criação de uma cultura de aprendizagem, apoiada por infra-estrutura de tecnologia da informação. Certas práticas e condições internas definem o sucesso de uma organização que aprende, o que influencia seu desempenho e sobrevivência. Nesse sentido, espera-se que a aprendizagem organizacional, alinhada às estratégias da organização, produza alternativas para aumentar a produtividade e, conseqüentemente, resultados efetivos. A adoção de sistema eficaz de gestão da aprendizagem organizacional pode levar funcionários, clientes, fornecedores, parceiros e distribuidores a produzirem muito mais quando seus conhecimentos, habilidades e atitudes estiverem focalizados nas metas a serem atingidas. Com base no referencial teórico exposto acima, faz-se clara a necessidade de orientação estratégica para o desenvolvimento de modelo de gestão voltado para o fortalecimento da aprendizagem organizacional, em especial, no contexto atual de transformação da gestão pública, onde ganha ênfase a efetividade em relação à eficácia e a 10 obtenção de resultados não apenas mensuráveis, mas, principalmente, resultados reconhecidos como úteis e compensadores pela sociedade. Espera-se, portanto, que o fortalecimento da capacidade de aprendizagem gradativamente torne os instrumentos de controle mais integrados, conferindo ao Tribunal maior visão sistêmica da Administração Pública; possibilite atuação mais célere e objetiva; favoreça o redirecionamento do controle externo para áreas, programas, projetos, entidades, obras ou serviços de maior significância sócio-econômica; possibilite incrementos sucessivos na qualidade dos trabalhos de controle; e possibilite ao Tribunal colaborar cada vez mais para a efetiva e regular gestão dos recursos públicos, em benefício da sociedade. Assim, como objetivo geral do presente trabalho pretende-se investigar como a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados do TCU. Nesse sentido, o capítulo 1 trata dos princípios, conceitos e práticas de aprendizagem organizacional levantados na literatura existente. Apresenta os conceitos de aprendizagem organizacional e organizações de aprendizagem, além de outros que servirão de referência para o estudo proposto. Aborda, também, os pilares, considerados neste trabalho, como sustentadores do processo de aprendizagem organizacional (estratégia, cultura, gestão e tecnologia de informação), e o quadro teórico de práticas e sinais indutores de aprendizagem organizacional, apontadas pelos estudiosos do assunto como sinais mais significativos das organizações de aprendizagem. No segundo capítulo, busca-se trazer exemplos de como as organizações otimizam resultados por meio da aprendizagem organizacional. São relatados práticas de sucesso no desenvolvimento da aprendizagem organizacional que contribuíram decisivamente para alcance de resultados corporativos. O Capítulo 3, por sua vez, além de apresentar o funcionamento da instituição em estudo, o Tribunal de Contas da União (TCU), apresenta um diagnóstico de suas práticas de aprendizagem organizacional. Para identificar essas práticas, utilizou-se de entrevistas com 11 especialistas internos e de pesquisa documental nos planos estratégico (2003-2007), de diretrizes (2003) e diretores das unidades básicas (2003), além do relatório de gestão (2002). O estudo de como as ações de aprendizagem podem otimizar resultados no TCU, realizado no Capítulo 4, é dividido por pilar sustentador das organizações de aprendizagem. A análise resgata as práticas e os sinais de aprendizagem selecionados na revisão de literatura do Capítulo 1, e as boas práticas de algumas organizações de sucesso, descritas no Capítulo 2, confrontando-as com o diagnóstico do TCU descrito no Capítulo 3. Dessa análise resultaram recomendações e outras providências relacionadas à aprendizagem organizacional que podem auxiliar a instituição no cumprimento eficaz e eficiente de sua missão e no alcance efetivo da sua visão de futuro. 12 1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL: PRINCÍPIOS, CONCEITOS E PRÁTICAS O processo de aprendizagem nas organizações não está mais relacionado apenas com atividades formais desenvolvidas em ambientes de treinamento, sala de aula, ou qualquer outra circunstância estruturada. Ele deve estar relacionado a qualquer oportunidade de criação, aplicação ou disseminação de conhecimentos, cujo foco deve ser o aprendiz, da forma mais personalizada possível. A aprendizagem tem sido considerada como estratégia de competitividade ou como um meio para que as organizações desenvolvam competências e alcancem melhores resultados. Neste capítulo, apresentam-se diversos entendimentos extraídos da literatura sobre aprendizagem organizacional e organizações de aprendizagem, e ainda, os conceitos que servirão de referência para o estudo aqui proposto. Por fim, aborda-se os pilares, considerados neste trabalho, como sustentadores do processo de aprendizagem, com foco em resultados, e o quadro teórico de práticas e sinais indutores de aprendizagem organizacional, apontadas pelos estudiosos do assunto como sinais mais significativos das organizações de aprendizagem. 1.1 APRENDIZAGEM A aprendizagem organizacional efetiva-se a partir da aprendizagem individual, pois quem aprende são as pessoas. Portanto, é preciso discorrer sobre como esse segundo fenômeno acontece para que possamos explorar o primeiro. A aprendizagem individual é considerada de suma importância no ambiente organizacional porque a informação entra e é disseminada na organização por intermédio dos indivíduos. 13 Em organizações complexas diferentes tipos de aprendizagem podem ocorrer ao mesmo tempo e em diferentes direções e velocidades. Os modelos de aprendizagem individual são sustentados por dois modelos teóricos: modelo behaviorista e o modelo cognitivista (FLEURY e FLEURY, 1997). O primeiro tem como foco o comportamento, considerado passível de observação e mensuração. Considera que a análise do comportamento implica o estudo das relações entre eventos estimuladores, respostas e conseqüências. Para essa teoria, aprendizagem envolve mudança de comportamento. O segundo modelo é mais abrangente, procura explicar fenômenos mais complexos, como a aprendizagem de conceitos e a solução de problemas. Considera dados objetivos, subjetivos, comportamentais e ainda crenças e percepções dos indivíduos que influenciam na percepção da realidade. A aprendizagem é considerada nesse modelo como um evento interno, não observável e inferido através do desempenho das pessoas. As abordagens de aprendizagem organizacional, atualmente, incorporam esses dois modelos. Há argumentos que a cognição e o comportamento são tão entrelaçados que é até contraproducente querer definir aprendizagem como um processo cognitivo ou comportamental, uma vez que se pode identificar diferentes tipos de aprendizagem decorrentes de mudanças cognitivas e/ou comportamentais (INKPEN e CROSSAN, 1995). Nos casos de haver mudança cognitiva sem a correspondente mudança comportamental ou vice-versa, é gerada uma tensão entre o sistema de crenças da pessoa e as suas ações o que caracteriza o estado de dissonância cognitiva que significa a incoerência, a diferença “entre o que a pessoa sabe ou crê e o que faz” (FESTINGER, 1975, p. 11). Esse estado gera um desconforto que pode levar a pessoa a tentar reduzi-lo por meio da busca de novas aprendizagens, voltando ao estado de conforto. A organização pode inclusive provocar essa situação para gerar novos aprendizados. 14 A teoria da Gestalt, precursora do cognitivismo, pesquisa a aprendizagem por insight, que se caracteriza como um processo que, quando completado, dá à pessoa a impressão de ter subitamente compreendido alguma coisa ou chegado à solução de um problema. Esse processo depende de conhecimento, experiências anteriores, de tempo para maturação e estabelecimento de novas relações. Afinal, aprendizagem é um processo de mudança, resultante de prática ou experiência anterior, que pode vir, ou não, a se manifestar em mudança perceptível de comportamento (FLEURY e FLEURY, 1997). Já se fala que na era da revolução, não será o conhecimento que produzirá a nova riqueza, mas o insight, produzindo inovações descontínuas. Segundo HAMEL (HSM, 2001), “em um mundo não linear, apenas idéias não lineares criarão novas riquezas, pois a inovação não linear exige que a empresa rompa os grilhões dos precedentes e imagine soluções inteiramente inéditas para as necessidades dos clientes”. O processo de aprendizagem é um processo de mudança que envolve as fases de aquisição, retenção, transferência e generalização. Portanto a ausência de qualquer uma dessas dimensões compromete a aprendizagem. Além disso, a aprendizagem depende de certas condições como a presença de conhecimento anterior e estímulos ambientais. Daí a importância de cuidados no gerenciamento da aprendizagem nas organizações, pois depende de aspectos pessoais como interesse em aprender e habilidades cognitivas, como também, de aspectos relativos a suporte organizacional, tais como: gerência voltada para a aprendizagem, cultura de valorização da inovação no ambiente de trabalho, permissão para o erro no processo de experimentação e ambiente propício para transferência de conhecimento. A aprendizagem pode acontecer por assimilação, que significa absorver informações para as quais o aprendiz já possui estruturas prontas que se coadunam com a situação vivenciada, ou por acomodação, que segundo PIAGET (apud PEREIRA, 2003), acontece 15 quando o indivíduo passa por uma mudança estrutural interna de suas crenças, idéias e atitudes, experiência onde o resultado é a transformação do ser. Um aspecto importante da aprendizagem é a capacidade de desaprender, que é muito mais difícil de ser desenvolvida do que a capacidade de aprender. Ela se caracteriza pela renovação dos conhecimentos passados, mesmo aqueles que levaram ao sucesso. À medida que o conhecimento se consolida ele corre o risco de tornar-se obsoleto em função das constantes mudanças do ambiente. Portanto, gerenciar a aprendizagem significa promover a aquisição de novas competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), assim como a eliminação de competências obsoletas e inúteis. Depreende-se que quanto mais lento o processo de “desaprender”, maior a dificuldade da organização em adaptar-se às mudanças que o ambiente impõe. Portanto, embora se reconheça o aprendizado como processo que se inicia no indivíduo, pode-se dizer que ele é potencializado pela interação social. Em especial, no desenvolvimento de produtos e serviços intensivos em conhecimento, que se caracterizam como muito complexos, percebe-se a importância do aprendizado e do trabalho em equipe envolvendo sucessivas etapas de iteração (esboço, revisão, outra produção e outra revisão). 1.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL A aprendizagem organizacional é elo construtivo entre organizações e pessoas, contribui para a melhoria do desempenho e da produtividade, bem como para a melhores condições de trabalho. Trata-se, portanto, de mercado de oferta de competências profissionais, por parte dos trabalhadores do conhecimento, e de investimento, por parte da organização, no desenvolvimento contínuo de pessoas e na busca de apropriação do conhecimento gerado. Esse mecanismo econômico-social possibilita a transformação da matéria-prima capital 16 humano em capital intelectual da organização. Segundo STEWART (1998, p. 78), “o capital humano cresce de duas formas: quando a organização utiliza mais o que as pessoas sabem e quando número maior de pessoas sabe mais coisas úteis para a organização”. Para manter capital humano que possa ser útil a organização precisa estimular o trabalho em equipe, comunidades de práticas e outras formas sociais de aprendizado, para que possa ficar menos dependente do talento individual. A literatura que trata de aprendizagem organizacional baseia-se em várias disciplinas como psicologia, administração, sociologia e antropologia. Essa multidisciplinariedade gera contribuições complementares e às vezes contraditórias. O conceito de aprendizagem organizacional tem sido usado de formas distintas e algumas vezes aparece em superposição com outros conceitos como criatividade, mudança, flexibilidade e inovação. Nota-se, facilmente, que a aprendizagem organizacional é uma construção coletiva que transforma o conhecimento criado em nível individual em ações concretas em direção aos objetivos organizacionais. A aprendizagem ocorre no nível individual, mas com a participação de um fenômeno organizacional mais amplo (STEIL et al, 1999), o que corrobora o que já foi dito neste estudo sobre o processo de aprendizagem e explica referências à aprendizagem organizacional como sendo uma metáfora relativa ao aprendizado individual. Para ARGYRIS e SCHÖN (apud STEIL, 2002), a aprendizagem organizacional é o processo pelo qual uma organização exercita a sua competência e inteligência coletiva para responder ao seu ambiente interno e externo. É o processo contínuo de detectar e corrigir erros, portanto é um processo heurístico de tentativa, erro e contínua correção de rumo. A organização precisa gerenciar esse processo, pois se não houver ambiente de tolerância ao erro com foco em desenvolvimento, a aprendizagem fica comprometida. Intolerância ao erro leva a não fazer e não fazer não leva a aprender. 17 A aprendizagem organizacional pode ser de ciclo simples ou incremental e de ciclo duplo ou transformadora (ARGYRIS apud PEREIRA, 2003). Esse autor afirma que o modelo de aprendizado mais indicado para mudanças organizacionais profundas é o de circuito duplo, que permite questionar o que se aprende e revisar princípios e valores, também conhecido como aprendizagem abrangente. Esse mecanismo deve ser usado em situações que não são resolvidas com mudanças sucessivas de estratégias e que na verdade se agravam com o tempo. O aprendizado de ciclo simples atinge apenas o nível de estratégias e processos e é chamado também de aprendizagem restritiva. Valores Ações Erros Fundamentais Circuito simples de aprendizagem Circuito duplo de aprendizagem Figura 1 - Circuitos simples e duplo de aprendizagem A aprendizagem organizacional ocorre quando os participantes de uma organização experimentam uma situação problemática, investigam-na e encontram soluções do interesse da organização, ou seja, mediante processo de reflexão sobre suas práticas e posterior ação para reestruturar atividades e atitudes diante da organização (ARGYRIS e SCHÖN, 1996). Nesse sentido, a tecnologia da informação está dando transparência a coisas que podiam ser ocultadas. E a transparência requer uma redução dos mecanismos de defesa. Esses autores usam o conceito de inconsciência habilidosa (não saber mais o que cria determinada habilidade) e de incompetência habilidosa (que leva as pessoas a erros derivados da autopreservação, o que vai contra o real aprendizado, pois não leva à conscientização do que não se sabe). Tais conceitos têm ajudado muito a compreender fenômenos envolvidos no processo de aprendizagem como necessidades, valores, crenças, suposições, pressupostos, regras, teorias e conseqüências das nossas ações. 18 Quanto a influência das estruturas organizacionais no processo da aprendizagem, observa-se que tanto nas estruturas burocráticas que privilegiam a ordem e a manutenção, como nas estruturas adhocráticas mais favoráveis à mudança e a flexibilidade, a aprendizagem ocorre. Nas primeiras a aprendizagem é reativa e incremental, e nas segundas a aprendizagem é proativa e transformadora. Portanto, o tipo de aprendizagem nas organizações varia num contínuo de mais preservação para mais voltada ao processo de mudança. Importante observar que a aprendizagem organizacional pode ser inibida por movimentos de contra-aprendizagem que ARGYRIS (apud SENGE, 2002) denominou de argumentação defensiva e de rotinas organizacionais defensivas. A primeira refere-se a ações desenvolvidas e utilizadas pelas pessoas que as previnem de experimentarem constrangimentos ou situações ameaçadoras nas organizações. A segunda diz respeito a rotinas organizacionais que na forma de políticas, práticas e ações, também as previnem dessas experiências. Da mesma forma que no processo de aprendizagem individual, as crenças e valores das pessoas precisam ser levados em consideração no processo de aprendizagem organizacional, como variáveis significativas quando se quer mudanças reais e duradouras. Por algum tempo, acreditou-se que bastaria investir na transmissão do conhecimento para que esse fosse incorporado e utilizado. A transformação do conhecimento em ação, que caracteriza a competência, depende essencialmente da pessoa querer ser e querer agir. Para LE BOTERF (apud FLEURY e FLEURY, 2001, p. 20) competência é um “saber responsável e reconhecido, que implica em mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades num contexto profissional determinado”. A aprendizagem organizacional envolve o processo contínuo de detectar e corrigir erros. Errar significa aprender, envolvendo autocrítica, a avaliação de riscos, a tolerância ao fracasso e a correção de rumo, até alcançar os objetivos (SENGE, 2000). Alguns princípios 19 para a construção de comunidades que aprendem, sugeridos por (SENGE, 2000), ajudam a entender aspectos relacionados com o processo de aprendizagem: 1) focalizar em necessidades reais, não construí-la sobre bases abstratas; 2) agir e aprender fazendo; 3) buscar questões unificadoras, que unam as pessoas em torno delas; 4) a busca do momento certo para o desenvolvimento comunitário; 5) promover encontros; 6) declarar os pontos de vista em debate, nos encontros, além dos aprendizados, anseios, pressupostos, etc; 7) instilar o reconhecimento; 8) realizar envolvimento por completo, utilizando todo tipo de colaboração possível de maneira criativa; 9) comemorar. Mas como diz o autor, esses princípios só terão sentido a partir do compartilhamento da visão, onde pode ser criado um sentimento de coletividade e de coerência entre as diversas práticas e atividades da organização. Sem isso a aprendizagem coletiva pode parecer abstrata e sem sentido. Outra questão a ser considerada é como compatibilizar o processo de aprendizagem na organização com a concretização de metas organizacionais. O processo de aprendizagem organizacional não pode mais ser visto como dissociado do trabalho e sim como inerente a ele. Se as políticas organizacionais não considerarem essa questão, correm o risco de estarem fortalecendo forças concorrentes as quais desgastam e desanimam os que poderiam estar produzindo com maior qualidade e efetividade. A organização quer funcionários mais preparados para enfrentar os atuais e futuros desafios. Caso contrário, eles serão engolidos por práticas autofágicas que já não mais agregam valor a organização e diminuem a força do seu 20 capital humano. “As chances de uma organização mudar com sucesso dependem da capacidade dos funcionários de aprender novos papéis, processos e habilidades. Essa capacidade de ativar a inteligência, a inventividade e a energia do funcionário nunca foi tão primordial quanto na economia do conhecimento” (MEISTER, 1997, p. 7). Para SENGE (apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 21), “o ser humano vem ao mundo motivado a aprender, explorar e experimentar, mas a maioria das instituições em nossa sociedade é orientada mais para controlar do que para aprender, recompensando o desempenho das pessoas em função de obediência a padrões estabelecidos e não pelo seu desejo de aprender”. Uma questão importante relativa à aprendizagem nas organizações é como se dá a passagem do aprendizado individual para o organizacional. Para NONAKA e TAKEUCHI (1997, p. 80) o processo acontece através da “espiral do conhecimento”, onde o conhecimento tácito é mobilizado e ampliado na organização através de quatro formas de conversão: 1) “socialização” – conversão do conhecimento tácito para novo conhecimento tácito – através da observação, imitação ou prática. Há familiarização do indivíduo com o trabalho, o compartilhamento de experiências e modelos mentais, mas como não se torna explícito não pode influenciar a empresa como um todo. Em geral esse processo acontece com o treinamento no ambiente de trabalho e desenvolve ambiente de interação; 2) “externalização” – de tácito para explícito – essa conversão acontece normalmente por meio do uso de metáforas, conceitos, analogias, usadas em geral nos diálogos e reflexões coletivas, o que favorece a articulação do conhecimento tácito. Os autores consideram essa forma de conversão como a mais importante para a criação do conhecimento; 3) “combinação” – de explícito para explícito – significa a combinação e reconfiguração de vários conjuntos de conhecimentos explícitos, como 21 documentos, textos, e-mails, etc, que disponibilizados, podem levar a novos conhecimentos. Esse processo normalmente é utilizado em ações formais de aprendizagem; 4) “internalização” – de explícito para tácito – quando um conhecimento novo é compartilhado com toda a organização, outros funcionários começam a reformulá-lo e internalizá-lo, ou seja a usar esse conhecimento para alargar, estender e reestruturar o seu próprio conhecimento tácito. As ações de aprendizagem que utilizam as simulações e experimentos facilitam essa forma de conversão. Essas formas de conversão dependem também da cultura organizacional. Assim, uma estratégia válida para as organizações de aprendizagem seria associar o conhecimento explícito e tácito. No primeiro caso, estimulando a comunicação do conhecimento através de práticas formais de aprendizagem, como treinamentos, palestras, encontros técnicos, etc. E no segundo caso, estimulando iniciativas que privilegiem a experiência, a observação, a imitação, a reflexão e a prática do aprendiz. Numa empresa criadora do conhecimento os quatro tipos de conversão existem e interagem. A atividade central de uma empresa criadora de conhecimento consiste em tornar os conhecimentos pessoais disponíveis para todos, continuamente e em todos os níveis da organização. Para NONAKA (apud STARKEY, 1997), inovações contínuas dependem de se conseguir recolher percepções tácitas e com freqüência altamente subjetivas, intuições e palpites de empregados, e tornar essas percepções disponíveis para prova e uso de toda a empresa. O conhecimento explícito é formal e sistemático e por isso facilmente compartilhado. O conhecimento tácito é pessoal, difícil de se formalizar e, portanto, de compartilhar. Além disso, está enraizado na ação e no envolvimento de uma pessoa em dado contexto. O conhecimento tácito tem uma dimensão cognitiva importante que consiste em modelos 22 mentais, crenças e perspectivas entranhadas que são automaticamente tomadas como verdadeiras e, portanto, difíceis de serem articuladas. Quando os funcionários inventam um conhecimento novo, eles estão se reinventando e a própria empresa. É um processo contínuo de autorenovação pessoal e organizacional. Esse é um aspecto ainda pouco explorado no que se refere a motivação das pessoas para participarem de projetos inovadores. Elas podem vir a enxergar nessa participação uma oportunidade de recomeçar, de melhor aproveitar seus recursos pessoais, de serem reconhecidas, de serem respeitadas, de autorealizar-se. Autores que tratam de desenvolvimento organizacional dizem que os trabalhadores do conhecimento dividem sua lealdade entre sua profissão, por um lado, e a organização empregadora, por outro. O comprometimento dos trabalhadores com a empresa ocorrerá desde que lhes forneçam recursos necessários para trabalhar em projetos interessantes. Se isso não ocorrer, os trabalhadores do conhecimento procurarão outros espaços para articular suas idéias. Uma situação de trabalho não é automaticamente uma oportunidade de aprendizagem. Será preciso que ela seja objeto de certo tratamento para se tornar uma oportunidade. Para LE BOTERF (apud FREITAS et al, 2003, p. 81) “qualquer situação de trabalho pode tornar-se uma oportunidade de aprendizagem à medida que constitui um objeto de análise, um momento de reflexão e de profissionalização”. As empresas criadoras de conhecimento estão tão envolvidas com idéias quanto com ideais. Nesse processo é o comprometimento pessoal dos empregados com a organização, o sentido de identidade do funcionário em relação à missão da empresa, que fará a diferença. Para que isso aconteça é preciso que a empresa tenha uma compreensão compartilhada do que quer e defende. É importante que a empresa estimule os funcionários a reexaminar tudo o que automaticamente tomam como verdadeiro, e os gerentes podem ajudar oferecendo uma estrutura conceitual que os ajude nesse processo. Os membros de uma equipe, através da 23 prática do diálogo, reúnem suas informações e as examinam de diferentes ângulos e, com o tempo, chegam a integrar suas perspectivas individuais em uma perspectiva coletiva. Esse diálogo pode e deve envolver quantidade considerável de conflitos e desacordos. Mas, é exatamente esse conflito que impulsiona as pessoas a questionar premissas existentes e dar sentido a suas vivências em uma nova forma. Para SNYDER e CUMMING (apud STEIL, 2002) o que os indivíduos aprendem em uma organização pode ou não se transformar em aprendizagem organizacional. Ela torna-se organizacional na medida em que: é realizada para alcançar propósitos organizacionais; é compartilhada com os membros da organização; os resultados da aprendizagem são incorporados em sistemas, estrutura e cultura organizacionais. A aprendizagem vai ultrapassar o nível individual à medida que as organizações desenvolvam sistemas e ambiente que facilitem a transferência da aprendizagem individual para o nível grupal e organizacional, ou seja, quando o conhecimento dentro da organização se materializar nas rotinas, regras, procedimentos, estrutura e na cultura. A partir desse conceito, considera-se que o principal desafio das organizações, no que se refere a aprendizagem, é o de criar condições para auxiliar a transferência do conhecimento individual para o organizacional. Daí a importância da existência de um modelo de gestão de pessoas que considere o aprendizado (captura e desenvolvimento de competências), em todos os seus mecanismos institucionais, tais como: seleção e recrutamento, avaliação de desempenho, sistema de sucessão gerencial, alocação de pessoas e remuneração. Pode-se deduzir, a partir de todos esses conceitos, que a aprendizagem organizacional supõe um novo entendimento da realidade em que se vive, da forma como se trabalha, das relações que se estabelecem entre as pessoas e das práticas organizacionais, que deliberadamente procuram aproveitar e estimular a criação de conhecimento. 24 1.3 ORGANIZAÇÕES DE APRENDIZAGEM Empresas que propositadamente desenvolvem estratégias para gerenciar o conhecimento ou condições para fortalecer a aprendizagem organizacional são reconhecidas como organizações que aprendem. O que essa expressão denota é a necessidade das pessoas nas organizações estarem em aprendizado contínuo para melhorar e mudar seu trabalho, cada vez mais intensivo em conhecimento. Uma empresa baseada em conhecimento é uma organização de aprendizagem que reconhece o conhecimento como um recurso estratégico. As pessoas envolvidas nos processos produtivo e suas relações assumem uma importância distintiva, pois são elas que criam o conhecimento, capturam, disseminam e utilizam. O poder em organizações do conhecimento não vem mais do nível hierárquico, mas do próprio conhecimento, que passa a exigir novos perfis profissionais para esse novo trabalhador do conhecimento (SVEIBY, 1998). Uma organização que aprende desenvolve a prática de refletir sobre o desempenho atual e os fatores geradores, de pensar em várias possibilidades de futuro, de escolher o que deseja, de planejar e implementar ações para se mover para a nova situação escolhida, ou seja, adquire a capacidade de criar o futuro que deseja. Esse processo de gestão da aprendizagem organizacional passa pela medição de resultados a partir da elaboração de um conjunto de indicadores e medidores da aprendizagem organizacional. São organizações mais flexíveis, adaptáveis e mais capacitadas a decidir e construir seu próprio futuro. Para PEDLER (apud FERNANDES, 1998, p. 2), a organização que aprende é “uma organização que facilita o aprendizado de todos os seus membros, transformando-se continuamente”. Para SENGE (apud TERRA, 2001, p. 65) nas “organizações que aprendem as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e 25 onde as pessoas estão constantemente ‘aprendendo a aprender’ coletivamente”. Esse autor acrescenta (id.): “essas organizações são mais flexíveis e tem maior capacidade de se adaptarem e se reinventarem a cada momento”. Para SENGE (1999), a essência da organização que aprende está num ciclo intenso de aprendizado que consiste num processo contínuo de desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais que permitem aos membros da organização criarem novas percepções e sensibilidades a respeito da realidade que vivem, possibilitando o desenvolvimento de novas crenças e competências. E ele sugere a prática das “cinco disciplinas” básicas do aprendizado como forma de ativar esse processo: domínio pessoal, visão compartilhada, modelos mentais, aprendizado em equipe e pensamento sistêmico. As definições mais comuns de uma organização que aprende enfatizam sua capacidade de adaptação a aceleradas mudanças que ocorrem no mundo. Capacidade para aprender, adaptar-se e mudar. Para GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 21), “organizações que aprendem são organizações capacitadas em criar, adquirir e transferir conhecimentos e em modificar seus comportamentos para refletir esses novos conhecimentos e idéias”. De fato, os motivos mais evidentes que levaram as empresas a considerarem a aprendizagem organizacional como uma grande alavanca do processo produtivo foram as grandes, rápidas e contínuas mudanças no ambiente externo das organizações que as levaram a busca do desenvolvimento de novas estruturas e sistemas mais adaptáveis e eficientes para dar respostas às mudanças, além dos avanços tecnológicos que exigem pessoas mais qualificadas. O caso típico é o das empresas japonesas. Os japoneses possuem uma devoção quase frenética à aprendizagem. Para eles a aprendizagem é um processo contínuo, adaptativo e interativo que os habilita à inovação de produtos e processos e a conseqüente competitividade de sua indústria (IMAI, 1990). 26 Observa-se, portanto, que a aprendizagem organizacional se impõe como uma necessidade fundamental na economia do conhecimento, onde os negócios estão mais complexos, muito dinâmicos e os conhecimentos se tornam obsoletos rapidamente, o que exige a necessidade de constante busca de novas competências. Daí a importância de maior investimento no processo de desenvolvimento de atitudes relacionadas com o saber, mais do que o próprio saber. As quatro aprendizagens consideradas como essenciais para o profissional do século XXI pela UNESCO (apud DELORS, 1998), que conforme já foi dito, enfrentará um contexto de grandes e rápidas mudanças em todas dimensões da sua vida, são: 1) “aprender a conhecer” – conciliar cultura geral, um repertório cultural abrangente, com conhecimento técnico específico. Para DELORS (apud FREITAS et al, 2003, p. 91), a cultura geral representa “o passaporte para a educação permanente, na medida em que desperta o gosto e fornece as bases para se aprender ao longo de toda a vida”; 2) “aprender a fazer” – diante do aumento da complexidade do trabalho, das situações inusitadas que se apresentam é fundamental que as pessoas se lancem às ações com o espírito de aprender fazendo, pois não se pode mais imaginar que alguém esteja totalmente preparado primeiro para depois começar a agir. O trabalho será cada vez mais desafiador e menos prescritivo. Assim, ZARIFIAN (1999, p. 68) define competência como “a tomada de iniciativa e de responsabilidade pelo indivíduo em relação a situações profissionais às quais ele é confrontado”; 3) “aprender a viver junto” – reconhecimento por parte de todos da interdependência. É muito difícil encontrar alguém que domine todas as dimensões de ações complexas como as que estão sendo postas para o 27 trabalhador do conhecimento. Portanto o sucesso dessas ações depende do envolvimento de várias pessoas, que precisam aprender a conhecer mais sobre o outro, sua história, seus valores, suas crenças, aceitar e reconhecer o ganho da diversidade humana na realização de projetos comuns; 4) “aprender a ser” – abrange o desenvolvimento da autonomia e responsabilidade profissional e social (cidadania) e responsabilidade pelo autodesenvolvimento de forma que se sinta apto a lidar com situações profissionais complexas, onde são envolvidos conflitos, necessidades de tomadas de decisão rápidas, enfrentamento de situações nunca vividas antes, etc. O estudo das estratégias adotadas, das políticas estabelecidas, das práticas e rotinas mais valorizadas e exercitadas possibilita avaliar o nível de interesse de uma organização por mudanças e inovações. Assim, fica clara a relação da aprendizagem com o processo de mudança organizacional. E pode-se inferir que uma organização, na figura de seus dirigentes, que não quer mudar, não desenvolverá deliberadamente um ambiente propício à aprendizagem, o que exige maior atenção e esforço dos seus membros nessa direção. Será, então, um processo mais longo, e árduo. Assim, para se atingir uma verdadeira cultura de aprendizagem será necessário reunir uma arquitetura de idéias norteadoras, inovações em infra-estrutura, teoria, métodos e ferramentas. Esse é o traço característico das recomendações e análises dos diversos autores que tratam do tema. Para CABRAL (2000, p. 227-247) a aprendizagem organizacional se apóia em quatro elementos, muito semelhantes aos que suportam o processo de inovação: cultura, estratégia, estrutura e ambiente. A diferença entre a abordagem da inovação e da aprendizagem estaria na visão dos resultados almejados, pois, enquanto a inovação focaria o 28 desempenho econômico e a competitividade, a aprendizagem organizacional pretende alavancar os processos de gestão. O processo de aprendizagem numa organização envolve a identificação dos conhecimentos de que a organização necessita, o desenvolvimento ou aquisição dessas competências e a sua estruturação, disseminação, uso e incorporação no processo produtivo. Assim, a Aprendizagem Organizacional é identificada como uma prática da “Gestão do Conhecimento”, juntamente com a “Educação Corporativa”, a “Gestão de Competências”, a “Gestão do Capital Intelectual” e a “Inteligência Empresarial ou Organizacional” (SANTOS et al, 2001). Conforme demonstrado por SANTOS et al (2001, p. 265), algumas condições são exigidas para a implantação da Gestão do Conhecimento. Essas condições devem ser interpretadas como extensivas às suas práticas, tendo em vista o grau de integração e interdependência entre elas, com vistas a atender às suas diferentes funções. Dentre essas condições, destacam-se: 1) “uma visão estratégica do negócio, percebendo o conhecimento como um (novo) recurso que propiciará vantagem competitiva e perpetuidade nos propósitos da organização; 2) uma cultura organizacional favorável ao ambiente de inovação e criatividade, estimulando as práticas de Gestão do Conhecimento; 3) um modelo de gestão de natureza flexível, propiciando agilidade e adaptabilidade diante das mudanças do ambiente externo que exigem um permanente aprendizado organizacional; 4) uma infra-estrutura de tecnologia, sobretudo na área de gestão da informação, que facilite e agilize o uso de bases de dados e da conversão de conhecimento tácito em conhecimento explícito; 29 5) uma liderança pró-ativa e visionária que estimule permanentemente a busca de novos conhecimentos e que priorize o capital humano da organização como seu principal ativo.” Observa-se que a aprendizagem organizacional é um processo de transformação no qual as partes interessadas contribuem por meio de sua aprendizagem “individual”. Ao esclarecer um pouco mais esse conceito, FINGER e BRAND (apud EASTERBY-SMITH, 2001) definem aprendizagem organizacional como meio, e organização de aprendizagem como fim, o elemento adicional é a estratégia organizacional, ou seja, a aprendizagem organizacional é apenas um meio para alcançar a estratégia. Nesse sentido, tornar-se uma organização de aprendizagem deve ser um dos objetivos estratégicos das organizações. Portanto, pode-se depreender que a expressão aprendizagem organizacional refere-se a como os diferentes recursos da organização – pessoas, informações, tecnologia etc. – interagem, com o objetivo de promover mudanças de crenças, comportamentos, atitudes, cultura com vistas a melhoria ou transformação das práticas e do desempenho organizacionais. Já a expressão organização de aprendizagem refere-se ao ambiente onde a aprendizagem acontece e que deveria contar com condições como estratégias, cultura, modelo de gestão e tecnologias que favoreçam o desenvolvimento da aprendizagem. Reconhecendo, dessa forma, que a aprendizagem organizacional agrega valor aos resultados da organização, gera inovação/melhoria, muda ou cria condições para a mudança de comportamento e se traduz na essência do compartilhamento do conhecimento, passa-se a adotar, no contexto deste trabalho, como definição de aprendizagem organizacional, o seguinte conceito: processo de criação, compartilhamento e utilização de conhecimento pelo qual são desenvolvidas as competências organizacionais, visando expandir a capacidade de gerar resultados relevantes para a organização. 30 Da mesma forma, reconhecendo que o ambiente de aprendizagem é determinado pelo grau de alinhamento e coerência de esforços organizacionais, adota-se, o seguinte conceito para organização que aprende (organização de aprendizagem): ambiente onde as estratégias, a cultura, o modelo de gestão e as tecnologias da informação propiciam a aprendizagem organizacional. Figura 2 - Modelo dos pilares sustentadores das Organizações que aprendem Mais adiante, no item 1.5 – Pilares de Sustentação das Organizações que Aprendem, discorre-se sobre as características de cada uma dessas dimensões que suportam as políticas e práticas de aprendizagem organizacional. 1.4 PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Considerando os conceitos anteriores oriundos de estudos que constantemente estão buscando novas respostas para um mundo novo, é que as organizações começaram a repensar seus processos de aprendizagem e sentiram a necessidade de alinhamento com a realidade 31 atual. Assim novos princípios e práticas de aprendizagem organizacional estão sendo postos e discutidos, dos quais se evidenciam a seguir o paradigma do treinamento para a aprendizagem organizacional, o aprendizado como atividade social, as vias de aprendizagem e as cinco disciplinas. 1.4.1 Paradigma do Treinamento para a Aprendizagem Organizacional As práticas de treinamento formais ou informais devem ser revistas para que possam melhor atender as necessidades da sociedade que exige maior rapidez e efetividade nas ações de aprendizagem, de forma a melhor atender seus clientes e manterem ou desenvolverem sua essencialidade. STEWART (1999, p. 358) propõe algumas práticas para dar maior eficácia aos treinamentos: 1) “Enfatize os treinamentos em ação” – o treinamento em sala de aula tem baixa eficácia: metade dos participantes continuam ligados no trabalho de verdade, e outra metade desliga-se tanto que não fica atenta nem ao treinamento. Além disso metade dos participantes já sabe a maior parte do que está sendo apresentado e a outra metade não precisará disso tão cedo. O aprender fazendo tem várias vantagens: funciona, enquanto aprendem estão trabalhando e já promovendo retorno para a empresa, tratam de aspectos reais do negócio da empresa, o aprendizado em ação constrói redes sociais, chama a atenção da alta gerência para os talentos da organização; 2) “Impregne o aprendizado informal ao trabalho cotidiano” – há provas de que as pessoas aprendem mais com treinamento informal do que com instruções formais em sala de aula. O investimento é imediato para o empregado e para o empregador; impulsiona o moral e contribui para a retenção de pessoal; 32 3) “Treine para o trabalho de hoje, não para o de amanhã e treine para aumentar a flexibilidade geral da força de trabalho” – precisamos contar com pessoas competentes em todos os níveis e em todos os cargos para aumentar nossa capacidade de responder às mudanças e aproveitar as oportunidades; 4) “Foco nas habilidades-chave e nos trabalhadores do conhecimento” – o treinamento deve enfatizar os pontos que diferenciam a empresa das outras (competências estratégicas). Quanto aos treinamentos genéricos, compre-os prontos. Concentre seus esforços no que torna sua empresa única e singular. As tabelas a seguir apresentam as principais características da mudança do paradigma do treinamento para aprendizagem e da aprendizagem formal e informal. Antigo paradigma de treinamento Paradigma de aprendizagem no século XXI Prédio Local Atualizar qualificações técnicas Conteúdo Aprender ouvindo Metodologia Funcionários internos Público-alvo Professores/Consultores de Universidades Externas Evento único Desenvolver o estoque de qualificações do indivíduo Corpo Docente Freqüência Meta Aprendizagem disponível sempre que solicitada – em qualquer lugar, a qualquer hora Desenvolver competências básicas do ambiente de negócios Aprender agindo Equipes de funcionários, clientes e fornecedores de produtos Gerentes seniors internos e um consórcio de Professores Universitários e Consultores Processo contínuo de aprendizagem Solucionar problemas empresariais reais e melhorar o desempenho no trabalho Fonte: 1997, Corporate University Xchange, Inc. Tabela 1 - Mudança de Paradigma de Treinamento para Aprendizagem. Aprendizagem informal Altamente relevante para as necessidades do indivíduo A aprendizagem varia entre os aprendizes – esses aprendem coisas diferentes dependendo da necessidade Pequena defasagem entre o conhecimento atual e o alvo O aprendiz decide como fará a aprendizagem Aplicabilidade imediata (aprendizagem “just-intime”) Aprendizagem formal Relevante para alguns, não tanto para outros Espera-se que a aprendizagem seja constante entre os aprendizes. Todos eles são expostos às mesmas coisas Defasagens variáveis entre conhecimento atual e o alvo O treinador decide como ocorrerá a aprendizagem Tempo variável para a aplicabilidade – poderia ser próxima a aprendizagem, bem antes oou muito depois Ocorre em ambiente que não é de trabalho Ocorre no ambiente de trabalho (frequentemente) Fonte: adaptado do Center for Workforce Development, Education Development Center, Inc., The Teaching Firm: Where Productive Work and Learning Converge, Newton, Mass.: Center For Workforce Development, Education Development Center, jan. 1998, p. 177. Tabela 2 - Características da aprendizagem formal e informal 33 A falta de referenciais consistentes para o desenvolvimento de ações de treinamento e desenvolvimento nas organizações tem denegrido sua contribuição, tem tornado muito caro o processo e gerado baixa motivação dos participantes. Sem esses referenciais não se pode estabelecer a relação entre acões de treinamento e aprendizado organizacional. BROWN (apud STEWART, 1998, p. 84), diretor do Centro de Pesquisas do Aprendizado (CPA), da Xerox Document Co., afirmou que a falsa correlação entre o aprendizado com treinamento e educação constitui hoje um dos erros mais comuns e mais caros da gerência das empresas. O Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC) aboliu o treinamento e passou a desenvolver o modelo de competências, onde os clientes descrevem o que esperam das pessoas com que lidam no Banco, considerando os vários papéis funcionais. No Banco, de posse de seus mapas de competência, que mostram suas lacunas de competências, os funcionários têm acesso a livros e softwares na “Sala de Aprendizado” de cada filial; os gerentes são instruídos a deixar que os colegas aprendam com eles e se necessário podem fazer cursos. O banco define as competências essenciais da empresa e mostra aos indivíduos como se desenvolverem dentro dela (STEWART, 1998, p. 84). 1.4.2 Aprendizado como Atividade Social: Comunidades de Práticas A principal descoberta do Centro de Pesquisa do Aprendizado (CPA) da Xerox é que o aprendizado constitui uma atividade social, ocorre em grupos, embora nem todos os grupos sejam oportunidades de aprendizado. Grupos que aprendem, são comunidades de prática que têm características especiais. Surgem espontaneamente, portanto é um grupo informal, por sentirem-se atraídas por uma força que é tanto social quanto profissional, cooperam de forma direta, sondam-se mutuamente, ensinam uns aos outros, exploram juntos um novo assunto. Não se pode criar comunidades dessas por decreto, mas facilmente podem ser destruídas por 34 práticas gerenciais incompatíveis com o seu desenvolvimento. Características das comunidades de prática do CPA, descritas por WENGER (apud STEWART, 1998, p. 86): 1) elas têm história, desenvolvem-se ao longo do tempo; 2) elas têm um empreendimento e não uma agenda, ou seja elas se formam em torno de uma tentativa de agregar valor a algo do qual todos os membros estão participando; 3) o empreendimento envolve aprendizado – com o tempo as comunidades encontram uma forma de lidar com o mundo que compartilham. As comunidades de prática são responsáveis por si mesmas. Ninguém as possui. As pessoas entram e ficam porque têm algo a aprender e algo com que contribuir. O trabalho realizado é de propriedade do grupo. Elas realizam dois trabalhos principais de formação do capital humano: transferência do conhecimento e inovação. Pesquisas realizadas a respeito do porque de alguns grupos formais demorarem mais do que outros na realização de uma tarefa demonstraram que as pessoas não se comunicavam formalmente, portanto não podiam entender os papéis e as necessidades uns dos outros e não podiam resolver os problemas juntos. Mostra a importância dos grupos de trabalho terem um senso mútuo de propósito e o compartilhamento de idéias de forma a diminuir o tempo necessário para encontrar respostas. Sabe-se que as organizações, mais do que nunca, precisam de grupos informais e até muitas vezes invisíveis na organização, e que sejam imunes à gerência no sentido convencional. A estrutura formal pode erguer barreiras ao aprendizado, como a dificuldade de expor suas idéias de forma que se sintam livres. Os gerentes podem ajudar essas comunidades reconhecendo sua importância, pelo menos dentro das unidades de negócio. É mais difícil isso acontecer quando as comunidades cruzam fronteiras mesmo dentro do limite organizacional. Alguns gerentes ainda têm dificuldade de enxergar os ganhos organizacionais que esses 35 grupos podem gerar, até porque têm um olhar mais forte para os problemas e soluções com foco na sua área de atuação. Falta-lhes muitas vezes a visão sistêmica da organização, e ainda contribui para isso o reconhecimento dado pela organização na maioria das vezes, mais pela atuação e sucesso local, do que pela atuação integrada. Isso reforça o olhar voltado para dentro da unidade de negócio. BARLEY (apud STEWART, 1998, p. 90), professor da Universidade de Stanford (EUA) diz: “Com a proliferação das comunidades de prática, os princípios ocupacionais começam a concorrer com os princípios administrativos. As responsabilidades de uma pessoa para com a comunidade das quais ela faz parte entram em conflito muitas vezes com as regras e os interesses da empresa na qual ela trabalha”. STEWART (1998), diz que cada vez mais os trabalhadores do conhecimento, que levam para seu trabalho não só seus corpos mas também suas mentes e até suas almas, oferecem sua mais profunda lealdade às suas profissões e comunidades de prática, e não aos seus empregadores: podemos alugar as pessoas, mas não podemos possuí-las. A entrega do capital humano a empresa tem que ser voluntária. É possível criar laços fortes entre as pessoas e a organização estimulando o desenvolvimento de comunidades de prática em áreas consideradas estratégicas – as atividades difíceis de substituir. Essas comunidades de aprendizado criam e socializam o conhecimento. MINTZBERG (1998) afirma que as estruturas organizacionais tradicionais não são capazes de introduzir “sofisticação inovadora”. Ele cita o modelo adhocrático como mais favorável a esse processo onde os gerentes “raramente gerenciam no sentido usual de dar ordens; em vez disso, passam boa parte do tempo agindo na forma de elemento de ligação para coordenar o trabalho lateralmente, entre as diversas equipes que executam seu trabalho” (MINTZBERG, 1998, p. 239). Os grupos de comunidade de prática, em última análise, imitam as práticas das pequenas empresas onde praticamente não existe burocracia, a comunicação é rápida e sem 36 barreiras físicas ou organizacionais e onde é valorizado um alto grau de sentimento de identidade grupal e lealdade. É um ambiente que estimula a interatividade e a inovação. 1.4.3 Vias de Aprendizagem São canais onde a aprendizagem flui naturalmente e as pessoas interagem, geram conhecimento, aprendem e se desenvolvem. GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 23), propôs cinco vias pelas quais a aprendizagem organizacional pode ocorrer, a saber: 1) “resolução sistemática de problemas” – envolve diagnóstico elaborados com métodos científicos, uso de dados para a tomada de decisão e uso de ferramental estatístico para organizar as informações e fazer inferências; 2) “experimentação” – que envolve a procura e teste de novos conhecimentos; 3) “experiências passadas” – tornando disponível a todos os sucessos e fracassos cometidos; 4) “circulação de conhecimento” – as novas idéias devem ser disponibilizadas e compartilhadas; 5) “experiências realizadas por outros” – observar e aprender com as experiências dos outros. As vias de aprendizagem são práticas de aprendizagem evidenciadas em qualquer organização, em menor ou maior grau de ocorrência. Entretanto, tais práticas devem ser institucionalizadas e freqüentes para servir de veículo de difusão do conhecimento. 1.4.4 As Cinco Disciplinas “As Cinco Disciplinas” foram propostas por SENGE (2000) como práticas para o processo de inovação e aprendizagem, que considera a capacidade de adaptação às mudanças 37 aceleradas e contínuas do mundo que vivemos e o desejo humano de ser criativo e produtivo. Esse autor, foca no princípio o indivíduo, seu processo de autoconhecimento, depois passa para o grupo e finalmente para a organização através do desenvolvimento do raciocínio sistêmico que deverá ser considerado em qualquer prática da organização. 1.4.4.1 Domínio Pessoal É a disciplina de entender seus próprios objetivos, de esclarecer o que é realmente importante para si (seus projetos pessoais), pelo autoconhecimento contínuo, e de ver a realidade de forma objetiva, com maior clareza, o que gera dentro de si a chamada “tensão criativa” responsável pela busca de soluções. O domínio pessoal vai além da competência, da abertura espiritual, significa viver a vida de forma criativa e não apenas reativa. “A necessidade de criar não se limita unicamente ao campo das artes, podendo englobar tudo que diz respeito à vida, do mundano ao mais profundo” (FRITZ apud SENGE, 1990, p. 137). O domínio pessoal implica em um nível especial de proficiência em todos os aspectos da vida pessoal e profissional e em desenvolvimento emocional o maior grau de alavancagem para desenvolvermos o nosso potencial (SENGE, 2000, p. 138). Pessoas com alto nível de domínio pessoal vivem em contínua aprendizagem, pois acreditam que nunca estão prontos e que a recompensa é a viagem. 1.4.4.2 Modelos Mentais São imagens que as pessoas formam sobre o funcionamento do mundo que limitam e determinam suas formas habituais de pensar e de agir. São idéias profundamente enraizadas e 38 tidas como verdades absolutas e que não consideram sua incompletude humana. O problema dos modelos mentais não está em ser certo ou errado, mas surge quando eles são tácitos, estão abaixo do nível de consciência, não sendo assim examinados, avaliados e possivelmente mudados. Mas os modelos mentais podem impedir o aprendizado como podem também acelerar, desde que se adotem práticas organizacionais que favoreçam a externalização dos seus modelos mentais e crie-se o hábito de reavaliação constante, ajudando aos tomadores de decisão, em especial, a reformular sua visão de mundo. É fundamental que as pessoas nas organizações reconheçam que o que temos são suposições e não verdades absolutas, vistas através do nosso modelo mental. Esse é formado em determinado momento da nossa vida e se não o reavaliarmos, mais nos atrapalha do que nos ajuda. Por mais que façamos nossas reavaliações, são sempre incompletas e cronicamente não sistêmicas. Para ARGYRIS e SCHÖN (1996), os indivíduos desenvolvem rotinas defensivas para proteger seus modelos mentais. Essas rotinas são as que impedem a reavaliação dos seus modelos mentais. Empresas vêm aperfeiçoando seu trabalho com modelos mentais, por meio do desenvolvimento de técnicas básicas de reflexão, exposição e análise de modelos mentais. SENGE (2000) destaca o desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais de reflexão e conversação sobre premissas e padrões de comportamento que permitam aos atores organizacionais a criação de novas percepções sobre a realidade em que vivem e para a descoberta dos modelos mentais existentes, inclusive, para identificar se o modelo mental que norteia as ações dos membros da organização é favorável ao processo de aprendizagem ou bloqueador. 39 Como prática desse processo SENGE (2000) sugere identificar os modelos mentais predominantes nos tomadores de decisão por meio de entrevistas ou observação de comportamentos em reuniões, observar o processo de comunicação entre pares e entre os diversos segmentos hierárquicos, a forma como acontecem os relacionamentos interpessoais na organização, o comportamento dos gestores de diferentes níveis hierárquicos, frente a situações novas e relevantes e frente a sugestões de servidores. Pode-se dizer que qualquer mudança significativa nas organizações só acontecerá se houver profundas mudanças na mentalidade das pessoas que a compõem. Isso pode acontecer pela mudança nas pessoas, mediante um processo contínuo de desenvolvimento de novas capacidades e habilidades, ou pela mudança das pessoas (demissão, aposentadoria e novas admissões). 1.4.4.3 Visão Compartilhada Quando um objetivo é percebido como concreto e legítimo, as pessoas dedicam-se e aprendem não como uma obrigação, mas por vontade própria, construindo visões compartilhadas. Para SENGE (2000), as visões compartilhadas têm sua origem nas visões pessoais, gerando um relacionamento de comprometimento e responsabilidade pelo todo e não de simples aceitação de dada situação. Assim, é importante saber em que medida a missão, os objetivos estratégicos e as metas de uma organização estão disseminados e internalizados entre todos os seus empregados. Através do estabelecimento de objetivos comuns cria-se identidade de longo prazo. 1.4.4.4 Aprendizagem em Grupo ou Equipe 40 A aprendizagem em grupo começa pelo estabelecimento de objetivos comuns e do desenvolvimento do domínio pessoal, pois equipes talentosas são formadas por pessoas talentosas. Requer a prática do diálogo e da discussão que são as duas formas dos grupos conversarem. Na primeira, as questões complexas e delicadas são exploradas de forma livre e criativa, onde cada um escuta ativamente os outros, sem se manifestar e, na segunda, são apresentadas e defendidas várias idéias, buscando-se a melhor, para apoiar alguma decisão. As duas práticas são complementares. De fato, o aprendizado em equipe “é o processo de alinhamento e desenvolvimento da capacidade de um grupo criar resultados que seus membros realmente desejam” (SENGE, 1990, p. 213). 1.4.4.5 Pensamento Sistêmico Refere-se, no caso de uma organização, ao fato do empregado percebê-la como um todo interdependente ao invés de um conjunto de áreas e processos estanques, onde pelo efeito feedback as ações podem se reforçar ou equilibrar umas às outras. Portanto, é importante identificar o quanto os empregados conhecem a respeito de outras áreas da organização e como o seu trabalho contribui para a consecução dos objetivos comuns. Para a área de gestão de pessoas, em especial, é importantíssimo que todos conheçam a relação do seu trabalho com todas as outras unidades. É o reconhecimento do impacto da atuação de uma área nas outras. É o quadro de referência que norteia as ações como um todo e ajuda a ver como modificar os padrões de forma efetiva e não casuística e pontual. O desenvolvimento de projetos organizacionais é uma prática de aprendizagem bastante efetiva, pela forma como seus membros interagem com o ambiente interno e externo, pela forma como compartilham o conhecimento de maneira ágil, pela exigência de contínua reflexão, pela supremacia do interesse dos participantes em relação aos aspectos formais da 41 organização. Normalmente, no desenvolvimento desse tipo de projeto, verifica-se a força das cinco disciplinas para o processo de aprendizagem nas organizações. 1.5 PILARES DE SUSTENTAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM Com base no referencial teórico abordado nos itens 1 a 4 deste trabalho, define-se que o ambiente de aprendizagem organizacional será determinado pelo grau de alinhamento e coerência de quatro pilares, considerados pelos autores dessa dissertação, sustentadores do processo de aprendizagem: estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação. Discorre-se a seguir sobre a relação entre a aprendizagem e os pilares citados, a fim de identificar práticas e sinais indutores que as organizações possam desenvolver e aperfeiçoar o processo de aprendizagem organizacional, se transformando em organizações que aprendem. 1.5.1 Estratégia A estratégia organizacional, sob qualquer de suas formas de realização e expressão, contribui decisivamente para os resultados do processo de aprendizagem organizacional. Ao determinar as metas e os objetivos da organização, bem como a amplitude de ações disponíveis para a consecução de sua orientação estratégica, a estratégia impõe limites ao processo decisório e fornece um contexto para a percepção e interpretação do ambiente, influenciando, assim, a aprendizagem. As alternativas estratégicas percebidas em uma organização são função de sua capacidade de mudança (FIOL e LYLES apud CARRIERI e CABRAL, 2002). 42 A contribuição mais direta e óbvia da estratégia para o processo de aprendizagem ocorre pela explicitação de planos, políticas, metas, diretrizes ou ações incrementadoras da aprendizagem. O Serpro, caso de destaque em gestão de conhecimento no Brasil, optou por estabelecer orientação estratégica explícita para a alavancagem da aprendizagem organizacional. Segundo MACEDO et al (apud SANTOS et al, 2001, p. 60) foram instituídas como políticas corporativas oficiais, dentre outras, a “promoção da aprendizagem organizacional”, “o mapeamento e o desenvolvimento de competências institucionais”, “a preservação do conhecimento organizacional e seu compartilhamento e reutilização”, “o fomento da criação de conhecimento como vantagem competitiva”. Essas políticas se desdobraram em diretrizes que assegurem o exercício das práticas de mapeamento de competência com registro em árvore do conhecimento, incentivo à instrutoria interna, manutenção de base corporativa de conhecimento, registro das competências individuais em ferramenta automatizada, gestão de talentos (perfis profissionais), educação à distância, documentação de sistemas, absorção de conhecimentos no relacionamento com parceiros na terceirização, etc. Outra razão para considerar a estratégia organizacional como fator de aprendizagem é que ela sistematiza para as pessoas uma visão de futuro, um conjunto de valores. Segundo TERRA (2001, p. 103-109), “pela formulação estratégica a alta administração tem condições de definir o foco, as macro-visões sobre projetos inovadores, as áreas de conhecimento a serem exploradas pela organização. Além disso, nesse processo se estabelecem metas ambiciosas, desafiadoras, e um permanente senso de direção e de urgência (e não de ansiedade) e de necessidade de inovação contínua”. Como visto anteriormente, “a visão compartilhada é essencial para a organização que aprende, pois fornece o foco e a energia para a aprendizagem” (SENGE, 2002, p. 234). Tal afirmação enfatiza, entretanto, a distinção entre as visões meramente aceitas, 43 freqüentemente redigidas e impostas pelo topo da hierarquia, das visões verdadeiramente compartilhadas. A visão compartilhada é a única capaz de gerar comprometimento pessoal de longo prazo e de conduzir as pessoas à aprendizagem generativa, porque estão “lutando para alcançar um objetivo de profunda importância para elas” (SENGE, 2002, p. 234). As aspirações pessoais se elevam com a visão compartilhada, sem a qual não há organização que aprende. A visão estimula novas formas de agir e de pensar, bem como a exposição de idéias a flexibilização de pontos de vista, o risco e a experimentação (SENGE, 1998). O próprio processo de reflexão estratégica proporciona ricas oportunidades de aprendizagem. Como defende DE GEUS (apud STARKEY, 1997) – um dos líderes do mundialmente famoso trabalho de consultoria interna em planejamento da Shell, empresa pioneira na utilização de cenários no planejamento, – o processo de tomada de decisão leva ao aprendizado, pois as pessoas constroem naturalmente novos modelos mentais enquanto interagem com o meio e entre si, internamente. No entanto, esse processo é demasiado lento. O planejamento teria a capacidade de acelerar esse processo de aprendizagem. Reconhecidamente, o trabalho de reflexão estratégica com o uso de exercícios com cenários permitiu à Shell aprender antecipadamente as ocorrências relevantes, aumentando a capacidade do grupo de adaptação ante as instabilidades e incertezas ambientais. Segundo DE GEUS (apud STARKEY, 1997, p. 118), “o verdadeiro propósito do planejamento eficaz não é fazer planos, mas mudar o microcosmo, os modelos mentais que esses tomadores de decisões carregam em suas mentes”. A aprendizagem organizacional, embora constitua essencialmente um processo, pode, ela própria, configurar uma estratégia. MITZENBERG et al (2000) identificam dentre as escolas de estudo da estratégia, a “Escola da Aprendizagem”. Essa escola, classificada como descritiva, tem por premissa que o cenário atual, de elevada complexidade interna nas 44 empresas, e a crescente velocidade das mudanças ambientais desaconselha a formulação de estratégias deliberadas com seus planos formais rígidos, relativamente estáveis, e voltadas para o controle. Abre-se assim espaço para a ênfase em estratégias emergentes, flexíveis e orientadas para o resultado. Instrumentos de gestão como o “balanced scorecard” (BSC) também demonstram a influência da dimensão estratégia no processo de aprendizagem. Nesse gênero de ferramenta, que na visão de seus criadores foi elevado a “sistema operacional de um novo processo gerencial estratégico”, uma das quatro perspectivas pelas quais as organizações são estrategicamente analisadas diz respeito justamente ao aprendizado e crescimento (KAPLAN e NORTON, 2001, p. 34). A perspectiva do aprendizado oferece as condições para o crescimento sustentável da organização, ou seja, como mobilizar o capital intelectual para a inovação, a mudança e a melhoria contínua dos processos de trabalho e do nível de satisfação dos clientes, a fim de atingir os resultados que a organização se propõem – sua missão institucional. Satisfação e fidelidade dos clientes para incrementar as receitas Melhoria nos processos levam à melhoria de produtos e serviços aos clientes Expertise, empregados criativos questionando o status quo e trabalhando para a melhoria dos processos Aprendizagem e crescimento dos empregados é a base para a inovação e a criatividade Financeira Clientes Processos Internos Aprendizado e Crescimento Fonte: The Balance Scorecard Institute (BSCI, 2002). Figura 3 - Relação de causa e efeito entre as perspectivas do BSC 45 1.5.2 Cultura Outro pilar no qual ser orienta a análise desse trabalho é a cultura organizacional, pois embora já seja consenso na literatura que as empresas precisam de um sistema eficientede aprendizagem para o enfrentamento desse novo momento que se caracteriza por mudanças rápidas e vultuosas, “o desafio é que esta dinâmica da aprendizagem precisa estar fundamentada sobre valores básicos, que dêem consistência às práticas organizacionais” (FLEURY, 1997, p. 30). Compreender como as pessoas interagem, as relações de poder da organização, e sua forma de expressar ou de escamotear através de suas práticas organizacionais, é fundamental para entender como acontece a aprendizagem dentro do espaço organizacional (FLEURY e FLEURY, 1997). Entender como a organização reage diante de problemas a serem resolvidos (busca soluções inovadoras ou ignora o problema?) – também é decisivo para esse processo. O ambiente da organização como um todo influencia muito o processo de aprendizagem. Assim como a cultura pode influenciar o sistema de aprendizagem de uma organização, esse também pode moldá-la. Dessa forma os conceitos de aprendizagem e cultura são considerados como indissociáveis, pois as pessoas aprendem dentro de um contexto cultural que pode ir mudando na medida em que a aprendizagem vai se consolidando e colaborando para a mudança de percepções e ao longo do tempo provocando mudanças mais profundas da cultura organizacional. Dado o interesse das organizações de promoverem mudanças substanciais, em resposta às novas exigências externas, faz-se necessário realçar a relação entre a cultura e a aprendizagem organizacional. Como ela pode favorecer ou inibir esse processo. A cultura é um produto do aprendizado em grupo que se desenvolve através do compartilhar de um 46 conjunto de crenças, valores, símbolos e normas, e a integração dos indivíduos dentro de uma cultura pautada por objetivos comuns facilita o aprendizado e é o maior desafio em direção ao futuro de uma organização (SCHEIN apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 24). O mesmo autor definiu a cultura de uma organização como sendo um “conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas” (SCHEIN apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 24). A cultura de uma organização, com o passar do tempo, vai sendo disseminada por meio de diversos mecanismos organizacionais como: sistema de medição e controle, reação dos líderes diante de crises organizacionais; sistema de recompensas e atribuição de status; critérios para seleção, recrutamento, promoção e exclusão; estrutura organizacional; sistemas e procedimentos organizacionais; disposição do espaço físico; histórias, lendas e símbolos; declarações formais da filosofia organizacional e seus credos. Esses mecanismos atuam como instrumentos pedagógicos, como sendo os padrões de verdade para nortear os comportamentos dentro da organização (SCHEIN, 1994). Em 1993, esse autor discutiu como os padrões culturais dominantes em uma organização podem dificultar os processos de aprendizagem e de mudança (SCHEIN, 1993). O processo de aprendizagem ocorre de forma lenta e gradativa, o que pode vir de encontro com as expectativas da organização, que se preocupa com respostas rápidas às suas intervenções. Assim, pode-se afirmar que a aprendizagem apresenta-se como força propulsora da criação da cultura e de sua consolidação. Ou seja, as oportunidades de aprendizagem fazem parte do processo de formação cultural das empresas. A relação da cultura com o processo de aprendizagem não é estática nem linear, muito pelo contrário é dinâmica e supõe 47 circularidade. A cultura instalada em uma organização é fruto de experiências vividas em situações de enfrentamento com sucesso, de problemas internos ou de adaptação ao ambiente externo. Portanto é conseqüência da aprendizagem da organização, e ela só é colocada a prova quando já não consegue dar respostas às novas exigências interna ou externas. O tipo de aprendizagem que ocorre, em especial nas organizações ocidentais, é muito mais voltado para a manutenção do “status quo” do que para a transformação. No máximo chegam a processos de melhoria do que já existe. Nessas empresas ainda não existe base cultural condizente com a aprendizagem do tipo transformador (SCHEIN, 1995). Os pressupostos negativos sobre a natureza humana foram consolidados há muito tempo, sendo, portanto, árduo modificá-los de uma hora para outra. Tais pressupostos básicos de cultura são considerados obsoletos diante das exigências da atualidade, e a dificuldade em mudá-los, leva-nos a pagar caro por isso (SCHEIN, 1993). A maioria das organizações ainda é muito burocrática, verticalizada e muito mais orientada para o controle do que para o desenvolvimento. As pessoas são mais recompensadas pela obediência “cega” aos padrões estabelecidos do que pela capacidade de refletir, avaliar, interpretar, experimentar e agir. Essas características mostram uma visão extremamente mecanicista de ver o mundo organizacional. As principais características de uma cultura que inibem a aprendizagem organizacional foram descritas por SCHEIN (apud SILVA, 2001, p. 63), a saber: 1) "as questões relacionadas às tarefas têm precedência sobre as que se referem aos relacionamentos” – o discurso dos dirigentes é de valorização das pessoas e relacionamentos, mas é dada uma importância muito maior ao trabalho que pode ser quantificado (cumprimento de metas); 2) “concentração nos sistemas e não nas pessoas” – a finalidade principal é a de moldar as pessoas a partir dos sistemas estabelecidos, e não o contrário; 48 3) “as pessoas na organização são vistas como reativas” – elas mudam como reação a forças externas ameaçadoras; 4) “a organização é enxuta e má” – a perspectiva da organização para resolução e adequação dos seus problemas é de curto prazo e os dirigentes vêem os seus funcionários como maus por natureza, que não podem ter folga, portanto a empresa deve ser enxuta; 5) “compartimentalização da resolução dos problemas” – as pessoas acreditam que a melhor maneira de resolver problemas é desmembrá-lo em seus componentes, analisando cada um deles separadamente para depois reinserí-los no contexto sistêmico; 6) “restrição do fluxo de informações” – a detenção da informação ainda é vista como status e poder; 7) “crença na competição individualizada” – a ênfase cultural é no individualismo – o trabalho em equipe é considerado uma necessidade prática, porém é algo intrinsecamente indesejável; 8) “crença na supremacia dos líderes” – tanto os líderes como os seguidores acreditam que os primeiros devem assumir o controle das situações, serem decisivos, firmes e dominantes, ou seja não devem reconhecer que são vulneráveis. Já uma organização voltada para a aprendizagem possui uma série de características como o compartilhamento de informações e experiências, o estímulo a experimentar o novo, o estímulo à participação de todos na resolução de problemas. Essa percepção é reforçada pelos estudos de McGILL e SLOCUM JÚNIOR (1995) que apontam características de culturas voltadas para a aprendizagem, tais como: abertura a experimentos; encorajamento para aceitar riscos (responsavelmente); disposição de aceitar fracassos e aprender com eles. 49 TERRA (2001, p. 232), apresenta, também, alguns sinais da cultura voltada para aprendizagem: 1) “as pessoas se sentem estimuladas pelo próprio trabalho; 2) as pessoas conversam umas com as outras, incluindo aquelas de diferentes níveis hierárquicos; 3) as relações são informais; 4) as pessoas tem tempo para aprender; 5) as pessoas não estão focadas apenas em sua área de trabalho e no curto prazo; 6) as pessoas falam abertamente sobre erros passados e lições aprendidas; 7) a empresa tem facilidade em atrair e manter os melhores talentos, mesmo sem pagar, necessariamente, mais do que o mercado; 8) a atitude é uma das principais características avaliadas na contratação de pessoal; 9) os muitos indicadores de resultados são amplamente divulgados; 10) a discussão dos valores da organização é vista como algo altamente relevante.” Para esse autor a criação do conhecimento organizacional depende muito do contato humano, da intuição, do conhecimento tácito, da cooperação, da explicitação de modelos mentais, da diversidade de opiniões e do pensamento sistêmico. 1.5.3 Gestão Destacam-se os modelos de gestão de pessoas e arranjos organizacionais, formais e informais, que favoreçam a aprendizagem organizacional por serem coerentes, consistentes no 50 tempo e por alinharem estratégias, pessoas e processos na busca de resultados. Entende-se por gestão a função gerencial que determina, implementa e acompanha as políticas, objetivos, alocação de recursos e outras atividades sistemáticas necessárias ao cumprimento da missão de uma organização. Os instrumentos de gestão apóiam a relação contínua entre as pessoas e as empresas e garantem o nível de informação das pessoas em relação à organização e viceversa. Por sua vez, modelo de gestão é uma abstração e uma simplificação que nos ajuda a compreender e a agir sobre a realidade. Para WARR (apud DUTRA et al., 2001), sob a ótica da psicologia social os modelos funcionam como “peneiras” permitindo que determinadas idéias e ações passem e desautorizam outras e como “moldes” estruturando a maneira de pensar sobre determinada realidade, tornando-a de tal forma familiar e conhecida que os agentes envolvidos podem trabalhar sobre essa realidade. Essa forma de pensar sobre modelos demonstra sua importância para os tomadores de decisão nas organizações. A estruturação do processo de gestão de pessoas iniciou-se com a introdução nas empresas do paradigma taylorista ou fordista que lembra o nome dos dois expoentes da Administração Científica. Tais paradigmas tinham como espinha dorsal a definição de cargos – conjunto de tarefas associadas ao desempenho em um posto de trabalho. Surgindo assim, os critérios de seleção das pessoas, a necessidade de treinamento para o bom desempenho das tarefas e o sistema de recompensa. Nessa época, a função crítica das empresas era produção. Esperava-se dos funcionários habilidade e algum conhecimento, o suficiente para executar suas tarefas, e dos supervisores o controle disciplinar de forma a conseguir dos operários a maior produtividade. Essa forma de organização do trabalho foi muito criticada em especial por tornar o trabalho humilhante e degradante e ainda por não promover o processo de desenvolvimento das pessoas por si mesmas (EBOLI apud DUTRA, 2002). 51 Na década de 60 surgiu na Europa a abordagem sociotécnica para a organização do trabalho nas empresas. Começou assim a aparecer as primeiras fissuras do paradigma anterior e na década de 70, as críticas se tornaram mais robustas e melhor sustentadas gerando nos anos 80 uma verdadeira crise em relação aos modelos de gestão de pessoas. Na realidade, o modelo conceitual-teórico existente, já não respondia às necessidades do momento, mas não se tinha outro para colocar no lugar. Essa situação provocou discussões acadêmicas a respeito do assunto, o que gerou um grande aprendizado e um lastro razoável de experiências capazes de criar novas abordagens sobre o tema. Esse quadro gera grandes pressões sobre novas formas de gestão de pessoas. A discussão, nesse contexto, tem assumido como premissas (DUTRA, 2002, p. 16-17) que: 1) o desenvolvimento da organização está diretamente relacionado a sua capacidade de desenvolver pessoas e ser desenvolvida por elas e, portanto, o processo de aprendizagem organizacional deve ser centrado nas próprias pessoas, respeitando sua individualidade; 2) o processo de gestão de pessoas deve ser integrado e atender aos interesses e expectativas da organização e das pessoas de forma a dar sustentação a uma relação produtiva; 3) a gestão de pessoas deve oferecer à organização uma visão clara sobre o tipo e nível de contribuição de cada pessoa e às pessoas o que a empresa pode oferecer como retribuição; 4) todas as pessoas que têm algum tipo de relação com a empresa são impactadas pelas práticas de gestão. A troca de paradigma na gestão de empresas, ou seja, a passagem da administração taylorista/fordista para a gestão flexível, teve impacto forte no comportamento das organizações. Estruturas verticalizadas e centralizadas cedem espaço a estruturas horizontais e 52 amplamente descentralizadas. A rígida divisão entre trabalho mental e manual tende a ser eliminada; tarefas fragmentadas e padronizadas tornam-se integrais e complexas, exigindo, de toda a organização, pessoas com capacidade de pensar e de executar diversas tarefas ao mesmo tempo. Se na era taylorista/fordista a produção era padronizada e centralizada, o trabalho era alienante, a tecnologia com automatização rígida e o trabalhador banalizado e inserido em rotina de trabalho rígida, os novos modelos de gestão mostram produção fundamentada na flexibilidade, na diversificação e na autonomia, bem como no uso de tecnologia com automação flexível e o perfil do trabalhador gestor. Tudo isso representa um forte impacto sobre o perfil de gestores e colaboradores que as instituições precisam encontrar atualmente. Exige-se cada vez mais postura voltada para autodesenvolvimento e para aprendizagem contínua. Um conceito que merece registro por resumir a visão moderna de gestão de pessoas é o de DUTRA (2002, p. 17), que caracteriza a gestão de pessoas como “um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de expectativas entre a organização e as pessoas, para que ambas possam realizá-las ao longo do tempo. Diferentemente do que acontece com os outros recursos da organização, o que acontece entre organização e pessoas é um conjunto de relações essencialmente humanas, sociais, entre grupos interpessoais e organizacionais”. Analisando um pouco mais os modelos de gestão, verifica-se a construção do conceito de Gestão do Capital Humano. A partir da década de 70 muito se falou sobre capital humano na produção acadêmica americana, em especial SCHULTZ (1973, p. 15) afirmava: “minha tese é que o pensamento econômico tem negligenciado examinar duas classes de investimento que são de capital importância nas modernas circunstâncias. São eles os investimentos no homem e na pesquisa”. Os defensores dessa teoria consideram os trabalhadores como potenciais possuidores de capital humano. Na visão de DAVENPORT (2001) os empregados devem ser considerados não como capital humano, mas como 53 investidores e proprietários do capital humano. As pessoas possuem habilidades, comportamentos, energia pessoal e tempo que lhes são próprios e que criam o capital humano. São as pessoas e não as organizações que decidem quando, como e onde o aplicarão. Elas fazem suas próprias escolhas na realidade. Essa concepção de trabalhadores como investidores, mais que meros ativos, realça que a relação empregado/empresa depende da capacidade e disposição de cada uma das partes em oferecer benefícios para a outra, sem que nenhuma das partes leve vantagem sobre a outra. Como no mercado financeiro, os investidores movimentam seus capitais quando avaliam que podem obter resultados melhores em outro lugar. Muitos termos foram adicionados a esse conceito, mas a maioria concorda que esse conceito abrange capacidade, experiência e conhecimento. Para DAVENPORT (2001) capital humano inclui os seguintes conceitos: capacidade, comportamento, empenho e tempo. STEWART (1998) sugere alguns princípios para a gerência do capital humano como: 1) as empresas não possuem o capital humano, mas sim compartilham a propriedade desse ativo com seus funcionários, e somente reconhecendo essa propriedade compartilhada é que a empresa pode gerenciar e lucrar com esse ativo. Relacionamentos antagonistas com funcionários podem gerar destruição da riqueza; 2) para criar capital humano que possa ser útil, a empresa precisa estimular o trabalho em equipe, comunidades de prática e outras formas sociais de aprendizado, para que possa ficar menos dependente do talento individual que vai embora junto com a pessoa quando ela volta para casa ou quando sai da empresa. As equipes interdisciplinares captam, formalizam e capitalizam o 54 talento, pois ele passa a ser compartilhado e menos dependente de qualquer indivíduo. O talento individual não pode ser mal visto e sim gerenciado; 3) a empresa deve reconhecer, sem sentimentalismos, quais são os funcionários que são ativos, ou seja, aqueles que ninguém faz melhor do que eles (proprietários), ou que o trabalho que fazem cria o valor pelo qual os clientes pagam (estratégicos). As pessoas com tais talentos são ativos nos quais investir. Outros são custos a serem minimizados. Pela necessidade de recorte do tema, discorre-se apenas sobre o capital humano, mas não se pode deixar de reconhecer que esse trabalha junto com o capital estrutural e do cliente. Não basta investir em pessoas, sistemas e clientes separadamente. Eles podem apoiar uns aos outros; eles podem subtrair uns aos outros. O capital humano e o capital estrutural se apóiam quando a empresa tem um senso de propósito compartilhado, quando a gerência utiliza mais a recompensa do que a punição. E eles se destroem quando não há valorização do que é feito na empresa e esta está mais voltada para o controle do comportamento do que para o controle da estratégia. De forma geral, verifica-se alguns valores subjacentes às modernas práticas de gestão (DUTRA, 2002), tais como: 1) desenvolvimento e satisfação mútuos – as práticas de gestão de pessoas devem estimular e criar condições para que pessoas e empresa desenvolvam-se mutuamente, o que permitirá a ambas atuarem em situações cada vez mais complexas, considerando não só os objetivos estratégicos e negociais como o projeto profissional e de vida das pessoas; a consistência no tempo de forma a permitir nessa realidade cada vez mais turbulenta, que tanto as pessoas como a empresa tenham referenciais possíveis; 55 2) transparência com clareza de critérios que norteiam a gestão e constante alimentação de informações sobre a aplicação dos mesmos de forma a evitar a interpretações fantasiosas próprias da falta de informação; 3) simplicidade ao se estabelecer critérios, facilitando assim, compreensão, análise, discussão, consenso, aceitação e comprometimento em torno dos valores e de sua prática; 4) flexibilidade para se adaptar aos diferentes contextos organizacionais e às pressões das mudanças nesses contextos. Registra-se por fim, quanto à gestão de pessoas, que estimular, manter e desenvolver as competências necessárias para o bom êxito do negócio é hoje o principal desafio do processo de gestão de pessoas. Cabe ao gestor dominar conceitos, modelo de ação e ferramentas que concretizem essa tarefa, criando oportunidades de aprendizagem em todos os momentos da dinâmica organizacional. A literatura tem mostrado que o processo de aprendizagem organizacional não se basta no ambiente de sala de aula ou de centros de treinamento, mas cada vez mais está no dia a dia de trabalho onde o agir confunde-se com o pensar, o fazer com o inovar, a produção com a aprendizagem. Analisando a gestão sob a ótica dos arranjos organizacionais, verifica-se que os arranjos organizacionais formais fornecem as estruturas, os sistemas e os procedimentos que orientam e motivam os comportamentos. Conseqüentemente, tais arranjos exercem importante influência sobre o aprendizado organizacional e a inovação. Os arranjos organizacionais formais e informais incluem os elementos-chave descritos a seguir. 56 1.5.3.1 Mecanismos interligadores formais A opção da forma básica de organização (por exemplo, por produto, por mercado, funcional, geográfica) concentra os recursos nas contingências estratégicas críticas. Seja qual for a forma básica escolhida, as organizações devem desenvolver mecanismos formais de interligação interna, mecanismos esses que são importantes veículos para a criatividade, a inovação e conseqüentemente, para a aprendizagem. Tais interligações – pontos interligando funções díspares – estimulam a cooperação e a resolução de problemas em toda a organização. Por exemplo (STARKEY, 1997): 1) Equipes, comitês ou forças-tarefas aglutinam indivíduos de diversas áreas para trabalhar em oportunidades ou problemas comuns. Na Lilly Research, por exemplo, onde o laboratório foi organizado por disciplinas, equipes de pesquisa organizadas por áreas terapêuticas reuniam o conhecimento de cientistas e gerentes de diferentes disciplinas. Na Xerox, uma diretoria de inovação reuniu um grupo diversificado de executivos de marketing, produção e P&D para avaliar e oferecer elementos prévios para futuros negócios da empresa; 2) Gerentes de projetos desempenham um papel interligador formal que dissemina e aprofunda a perspectiva da gerência-geral na organização interna. O gerente de projeto trabalha para obter integração e coordenação no desenvolvimento de um novo produto e/ou processo; 3) Reuniões formais propiciam um ambiente regularmente programado para que indivíduos de diferentes áreas possam compartilhar informações e trocar idéias. Essas reuniões têm o benefício adicional de construir relacionamentos informais, os quais facilitam ainda mais a resolução de problemas e cooperação 57 interorganizacional. Por exemplo, a NCR faz reuniões do tipo “show and tell”1, onde o pessoal de P&D, marketing e produção revelam suas mais recentes idéias. Nas feiras de produtos da Union Carbide, as várias divisões apresentam seus novos produtos e idéias umas para as outras. Na Tetra-Pak, equipes interfuncionais visitam regularmente os clientes e depois voltam a se reunir para gerar idéias de novos produtos/processos. 1.5.3.2 Organização informal A competente formação de um grupo de indivíduos e a correta organização formal não bastam para lidar com as complexidades e incertezas inerentes ao trabalho inovador. A organização informal deve reforçar e complementar o sistema formal. Embora os mecanismos da organização formal facilitam o aprendizado e a inovação corporativa, a criatividade individual provém de uma organização informal saudável. Várias dimensões da organização informal são particularmente importantes na gestão da inovação e aprendizado, destacam-se os valores essenciais e as normas. Os valores essenciais às bases normativas de uma unidade de negócios são crenças relativas àquilo que é bom ou mau, certo ou errado, em determinada empresa. Por exemplo (STARKEY, 1997), os valores essenciais da IBM são a importância dos indivíduos, do serviço e da excelência; da Tandem são a qualidade, a excelência pessoal e o trabalho em equipe. Um claro conjunto de valores essenciais ajuda a focalizar e motivar o comportamento. Empresas inovadoras têm valores essenciais claros que fornecem foco num cenário repleto de 1 mostrar e falar a respeito – um método usado principalmente em escolas, segundo o qual as crianças levam um objeto para ‘mostrar e falar a respeito’ aos colegas 58 diversidade, como também um objetivo comum que possa ter a concordância dos profissionais e divisões das mais diversificadas áreas. Alguns exemplos de valores essenciais que facilitam a inovação e o aprendizado: desenvolvimento de tecnologia que atenda as necessidades dos usuários; autonomia individual e identificação organizacional; aceitação de riscos e tolerância com fracassos; informalidade na resolução de problemas; eficácia funcional e organizacional; altos padrões de desempenho no curto e no longo prazo; e ênfase nos recursos humanos e na importância do crescimento e desenvolvimento individual. Em complementação aos valores essenciais, são as normas que dão os referenciais comportamentais claros, não fornecidos por aqueles; elas elaboram e especificam o significado dos valores essenciais dentro da empresa. Normas são comportamentos esperados: quando violadas, o indivíduo ou grupo é formalmente censurado. Por exemplo, as normas ajudam a especificar os códigos de vestuário, linguagem, padrões e horário de trabalho, processos decisórios, relações chefe-subordinado, comunicação interunidades, processos de resolução de conflitos e nível de aceitação de risco e grau de liberdade informal dentro da organização. De modo geral, organizações altamente inovadoras têm normas que enfatizam a informalidade no comportamento, vestuário e relações chefe-subordinado; altos padrões de trabalho e expectativas de alto desempenho individual e do grupo; flexibilidade nos padrões decisórios e de resolução de problemas e de conflitos; e fortes vínculos informais dentro e fora da organização. Tal informalidade, alto padrão de trabalho e exposição a múltiplas fontes de informação facilitam a cooperação, o aprendizado e a inovação. Empresas menos inovadoras, por outro lado, têm normas que enfatizam a formalidade, a padronização e a organização ‘segundo o manual’. Analisando ainda, os arranjos organizacionais, destaca-se a formação de comunidades e redes, e observa-se que a tecnologia destruiu a hierarquia. Já existiam redes 59 antes do computador, mas uma rede de tecnologia energiza as redes sociais, deixa de ser coadjuvante para suplantá-las. As redes se tornaram o meio através do qual a organização trabalha. Não se imaginava quando os computadores começaram a aparecer que eles iriam subverter o poder. As redes permitem que a informação que antes fluía ao longo das hierarquias circule diretamente entre os funcionários. O e-mail é um acontecimento cultural importante, modifica a maneira de administrar a empresa (Bill Raduche, executivo de informação da Sun Microsystems). As redes subvertem a autoridade gerencial. Elas inspiram um estilo informal; as pessoas que se comunicam por redes eletrônicas são menos submissas a seus superiores e mais capazes de dizer o que pensa, às vezes sem moderação. Ferramentas como o e-mail, teleconferência e groupware permitem que as pessoas trabalhem juntas mesmo à distância e independente das fronteiras departamentais ou empresariais, às vezes sem que o chefe nominal saiba. O trabalho da gerência costumava ser planejar, organizar, executar e medir. Na organização em rede, o trabalho do gerente pode ser descrito em termos orgânicos: definir, nutrir e alocar. 1.5.4 Tecnologia da Informação Neste pilar, verifica-se que, por um lado, o desenvolvimento da Tecnologia da Informação (TI) veio pressionar a organização para introduzir mudanças, por outro lado essa mesma tecnologia veio oferecer meios para atender em parte a essa pressão. Essa conjugação de fatores culminou com o estabelecimento das bases teóricas, a partir de 1990, do que passou a ser chamado de gestão do conhecimento. A TI, entretanto, desempenha um papel de infra-estrutura, pois a Gestão do Conhecimento envolve também aspectos humanos e gerenciais. DAVENPORT e PRUSAK 60 (1998) deixam claro as limitações da TI ao afirmar que a Gestão do Conhecimento só poderá ocorrer com a ampla mudança de comportamento na organização. Ou seja, a TI isoladamente não possibilitará o compartilhamento do conhecimento e não criará uma organização de aprendizado contínuo. Muitas organizações utilizam recursos computacionais, como ferramentas de mapeamento de conhecimento, repositórios de informações, comunidades virtuais de prática, entre outras, para suportar as funcionalidades de sua estrutura de Gestão do Conhecimento. Em termos de aprendizagem organizacional, pode-se identificar três momentos ou estágios: a aquisição, o compartilhamento e o uso do conhecimento. Os processos de geração e disseminação do conhecimento são típicos das práticas de Aprendizagem Organizacional e Educação Corporativa. Já os processos de mapeamento, valoração, codificação e classificação do conhecimento são suportados pelas metodologias de Gestão de Competências e Gestão do Capital Intelectual. Importante salientar que o sentido organizacional e a integração dessas práticas estão centrados na dimensão estratégica, trabalhada pela Gestão do Conhecimento (SANTOS et al, 2001). As principais funcionalidades de uma estrutura de Gestão do Conhecimento são, segundo DAVENPORT e PRUSAK (1998): a geração, a codificação e a transferência de conhecimento. A geração de conhecimento é um processo de criação que ocorre nas mentes das pessoas da organização através da interação entre conhecimento tácito e explícito (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). A codificação de conhecimento consiste na identificação e na classificação do conhecimento organizacional existente, embutido em documentos, repositórios, rotinas, processos, práticas, normas e, principalmente, nas mentes das pessoas. Já a transferência de conhecimento consiste em disseminar conhecimento para onde ele possa gerar valor, ou seja, para onde possa ser utilizado na execução de alguma atividade 61 organizacional. Nesse sentido, pode-se identificar práticas de aprendizagem organizacional e as ferramentas que dão suporte a elas. Importante destacar que a infra-estrutura de redes a interligar os diversos atores no processo de geração, disseminação e uso do conhecimento é condição sine qua non para a gestão do conhecimento e, por consegüinte, à aprendizagem organizacional. Organizações onde a força de trabalho está dispersa ou dependem da comunicação com fornecedores e parceiros, as soluções de TI que “rodam” nas suas redes estão se tornando o ambiente para conversar, trocar idéias e resolver problemas. Outro fator importante é a capacidade da organização para utilização de tecnologia, implicando não só em conhecimento, mas também em vivência, utilização das ferramentas. Logo, é fundamental a definição de estratégias e políticas para a internalização de novas tecnologias e para a capacitação das pessoas envolvidas. 1.5.4.1 Geração de Conhecimento A criação de novo conhecimento está diretamente ligada à criatividade e à capacidade de inovação. Em organizações industriais esse processo é bastante visível e estruturado nos programas de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Já no setor de serviços, pode-se buscar paralelo nos processos de melhoria e mudança organizacionais que visam alcançar padrões de excelência, maior desempenho e qualidade em processos internos e de atendimento aos clientes. As práticas mais comuns nesse estágio de aprendizagem são suportadas por ferramentas de apoio à inovação, mais comum no setor industrial (novos produtos e patentes), e por ambientes de groupware, materializado principalmente nas chamadas comunidades virtuais de prática. Essas comunidades são grupos informais de pessoas que compartilham conhecimento e impressões sobre uma área específica. Esse compartilhamento pode ocorrer com ou sem intermédio de tecnologia da informação, por 62 exemplo, através de encontros regulares entre seus membros ou através da utilização de correio eletrônico e/ou outra tecnologia. Afinal, a criação do conhecimento depende do contato humano, do conhecimento tácito, da diversidade de opiniões (TERRA, 2001). No entanto, a utilização de TI pode aumentar o alcance e a efetividade do compartilhamento, do armazenamento e da recuperação de conhecimento pelos membros das comunidades, construindo formas de comunicação, aprendizado, estruturação e acesso às idéias e experiências (TEIXEIRA, 2000). A auto-aprendizagem e aprendizagem em grupo também são propulsoras da geração de conhecimento, suportadas por “Sistemas de Construção de Bases Inteligentes de Conhecimento” e “Sistemas de Mapas de Conhecimento” (CARVALHO, 2000). O consumo das informações dos bancos de dados multidimensionais (data warehouses) é feito por meio da técnica de datamining (mineração de dados) (JAMIL apud CARVALHO, 2000). Essa técnica serve para procurar o conhecimento escondido na base de dados. Hoje, tem-se muitos dados nas organizações, mas poucas informações. Os padrões repetitivos e a informação potencial não-trivial, desconhecida hoje, estão nos bancos de dados. Isso tem a ver com Redes Neurais, Análise Baseada em Casos, Visualização de Dados, entre outras técnicas, ainda pouco utilizadas nas organizações. Somente algumas organizações no Brasil estão preparadas, hoje, para uma “garimpagem de dados”. O uso das facilidades de educação à distância para a aprendizagem propiciam o desenvolvimento de competências e o intercâmbio maior de saberes (MORAN apud ELEUTÉRIO, 2003), condição favorável à explicitação, combinação e geração de novos conhecimentos. As aplicações de educação à distância exigem o trabalho conjunto de especialistas de TI, de negócio e de design, para que o produto final seja realmente proveitoso. Não basta apenas ter conteúdo; é necessário ter diagramação visual e utilizar recursos de mídia variados (como forma de motivar o aluno); não basta que o conteúdo seja 63 assertivo, é preciso que enfoque também o lado prático, o dia-a-dia de quem trabalha com essa informação. 1.5.4.2 Codificação de Conhecimento A implementação de bases estruturadas de conhecimento consiste na identificação do conhecimento (informação interpretada) necessário para a organização a fim de disponibilizálo facilmente às pessoas que dele necessitam, no momento certo. Os resultados da gestão do conhecimento baseada essencialmente em sistemas de informação foram decepcionantes, pois o “input” de informação não se traduziu necessariamente em “output” de conhecimento. Conforme compilado por TERRA (2001), mais importante que informação “just-in-case” é informação “just-in-time”. Portanto, a construção de sistemas de informação e de bases de conhecimento devem levar em consideração se as informações armazenadas agregam valor ao fluxo de decisão da organização e como levá-las às pessoas que dela precisam. As bases de conhecimento são construídas a partir do mapeamento de conhecimento. O mapa de conhecimento, ou seja, o conhecimento organizacional existente e sua localização, bem como o conhecimento necessário para a realização eficaz do negócio constituem as informações a serem identificadas e catalogadas. A “árvore de conhecimento” (LEVY, 1995) é uma métrica usada para mapeamento de conhecimento e estruturação das competências organizacionais e profissionais que sustentam as atividades da organização. As bases de conhecimento, construídas a partir do mapeamento, devem permitir consultar as competências individuais e identificar quais competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) são necessárias aos empregados e quais áreas de atuação eles deveriam conhecer para exercer de modo eficiente o seu trabalho. 64 A codificação do conhecimento normalmente é apoiada por ferramentas WEB que dão suporte ao ambiente de Intranet e servem de portal para as bases de conhecimento. Sistemas de Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) cumprem bem o papel de codificar o capital estrutural da organização, como armazéns do conhecimento explícito (DAVENPORT e PRUSAK, 1998). A gestão eletrônica e a edição eletrônica dos dados reagrupam informações facilitando seu arquivamento, acesso, consulta e difusão, tanto a nível interno, como externo. Ferramentas de Workflow (fluxos de processos padronizados) são úteis para codificar o conhecimento relativo aos processos de trabalho e regras de negócio, principalmente os mais padronizados, automatizando atividades estruturadas e ordenadas (CARVALHO, 2000). Atualmente, diversas soluções de gestão, denominadas de “business intelligence” incluem processamento e apresentação de informações gerenciais, disponibilizando-as para que os gerentes responsáveis pelos processos possam realizar visualizações dinâmicas, isto é, sincronizadas com os acontecimentos do negócio. Este recurso é genericamente denominado EIS (Executive Information Systems) ou DSS (Decision Support Systems). Na sua implementação, estes sistemas são modelados, isto é, configurados conforme as regras do negócio, definindo-se diversas métricas de desempenho. Também podem ser configurados alertas antecipados (triggers), que disparam procedimentos específicos (como enviar e-mail para seu supervisor), bem como relatórios de exceção, que ressaltam o que não está ocorrendo conforme o planejado. O EIS é como um painel, um painel de um carro ou de uma aeronave. Sistemas de informações executivas, gerenciais, de apoio e decisão, na verdade, atendem a uma camada estratégica de uma organização, ou de uma instituição. Esses sistemas não têm o caráter operacional. Eles atuam através da identificação de indicadores que são ou de negócios ou de gestão, para que se possa tomar decisão, rápida ou certa. Quando os gerentes precisam de informações, o que se vê, na maioria dos casos, é que eles recorrem a 65 outras formas/fontes de informação (como uma rede de contatos) ou buscam extraí-las das bases de dados corporativas. Isso ocorre porque os sistemas de informações tradicionais não são feitos para os gerentes, mas simplesmente para automatizar as operações. Informações gerenciais devem monitorar os fatores chave de sucesso de um empreendimento ou negócio, qualquer que seja, público ou privado. São fundamentais para tomar a decisão correta dentro da estratégia traçada. Sistemas de Informações Gerenciais não podem deixar de prever o modelo estratégico de uma organização. É muito difícil fazer um sistema de informação nessa categoria, se não se tem visão estratégica. Pela modelagem estratégica é possível identificar fatores críticos de sucesso ou fatores chave para que os problemas sejam evitados. Essa é uma postura pró-ativa de gestão, complementada pela utilização de sistemas de informações gerenciais pertinentes. Quanto as base de dados, atualmente estão disponíveis tecnologias como os “Data Marts e os Data Warehouses (armazéns de dados) (JAMIL apud CARVALHO, 2000). Essas tecnologias visam trazer a base de dados discreta, em termos de lançamentos e transações. Cada dado, cada elemento, cada evento, de forma consolidada numa camada de decisão estratégica, chamada multidimensional. Essa camada vai prover uma facilidade de análise maior do que os bancos relacionais utilizados pelos sistemas de informação tradicionais. Um banco de dados multidimensional acaba sendo como um tubo, com várias visões. É apenas uma foto dos dados naquele momento, ele não sofre alterações, ele não é volátil. Assim, enquanto a parte operacional está sofrendo atualização, o Data Warehouse é apenas carregado, lido e manipulado de acordo com a necessidade. Não será preciso, entretanto, armazenar tudo em bancos da própria organização, muitos dados e informações estão na Internet, alguns gratuitamente, outros pagos – às vezes bem pagos. Os data warehouses se transformaram em data megastores, grandes volumes de dados disponíveis, de conhecimento mundial, incluindo até mesmo qualquer área do conhecimento humano. 66 1.5.4.3 Transferência de Conhecimento Boa parte das iniciativas de Gestão do Conhecimento envolve o compartilhamento de melhores práticas, ou seja, o que é conhecido. Mapas de conhecimento são facilidades criadas para indicarem a localização de documentos/conhecimento ou conteúdos produzidos na organização e para servirem como páginas amarelas (cadastro de especialistas) a fim de localizar as pessoas detentoras dos conhecimentos necessários em determinado momento. Na realidade, as diversas tecnologias disponíveis hoje e que possibilitam a aprendizagem nas organizações têm o atributo de permitir a transferência e o compartilhamento de conhecimentos. Cita-se o caso do Serpro (MALHEIROS e PINHO, 2003), como forma de demonstrar essa característica. O Serpro, visando a preservação e evolução do conhecimento empresarial, investiu em um “Processo Corporativo de Gestão de Conhecimento e Aprendizagem Organizacional” como estratégia de implementação da Gestão do Conhecimento na empresa, envolvendo formação de comitês específicos nas unidades; definição de uma política de Gestão de Conhecimento, formulação de práticas, metodologias e ferramentas para gestão de conhecimento; desenvolvimento da comunicação empresarial; adequação das normas empresariais e migração dos conteúdos existentes nas Intranets das unidades para um “Portal do Conhecimento Corporativo” (TERRA, 2002). A tecnologia utilizada para suportar a gestão do conhecimento apoiou as principais atividades e práticas do programa de Gestão do Conhecimento do Serpro. Pode-se identificar a convergência de vários recursos para esse fim (MALHEIROS e PINHO, 2003): 1) “mapeamento das competências institucionais e individuais, através de instrumentos como a Árvore de Conhecimentos e o sistema Perfil – gestão de currículos e saberes individuais; 67 2) mapeamento do conhecimento organizacional, de seus processos no desenvolvimento de produtos e prestação de serviços; 3) a formação de comunidades de conhecimento inter-unidades, uma estrutura de fóruns presenciais e virtuais para discutir os conhecimentos corporativos; 4) o Portal Corporativo, incorporando as várias Intranets e ferramentas de gestão do conhecimento”. A implantação da gestão do conhecimento no Serpro ilustra bem como a tecnologia da informação pode dar suporte à criação, disseminação e armazenamento do conhecimento. Nessa estratégia, destaca-se o Portal Corporativo, como ferramenta essencial à difusão do conhecimento e a recuperação/obtenção rápida de informações úteis para as pessoas na organização. Os portais de conhecimento corporativo representam uma aplicação, nas corporações, do conceito de portais da Internet (Yahoo, Terra, AOL, UOL, etc), como alternativa criativa à catalogação e gerenciamento do imenso volume de informações produzido e disponível aos empregados. Os portais devem prover um único ponto de acesso a todos os recursos de informação e conhecimento importantes para a organização. O grande desafio, no caso dos portais, é a interface dos usuários, decisiva para atrair e criar uma identidade virtual e a manutenção atualizada dos seus conteúdos. Os portais têm o propósito, também, de acabar com as “ilhas de informação”, integrando-as em uma única aplicação, como porta de entrada para todos os usuários (ALVIM apud CARVALHO, 2000). 1.6 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL As principais práticas e sinais consideradas na literatura como indutoras da aprendizagem organizacional, com a respectiva referência dos seus defensores, estão 68 apresentadas nas tabelas a seguir. Tais tabelas, construídas a partir de todo o referencial teórico apresentado neste capítulo, servem de mapa para a avaliação do grau de aderência de políticas e práticas organizacionais à aprendizagem, possibilitando, além do diagnóstico, a elaboração de recomendações de desenvolvimento. Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na ESTRATÉGIA Aprendizagem de Circuito Duplo: questionar o que se aprende e revisar princípios e valores Aprendizagem em Equipe: equipes interdisciplinares, auto-organizadas e com autonomia Aprendizagem Inerente ao Trabalho: existência de políticas e práticas organizacionais que consideram a aprendizagem inerente ao trabalho Benchmarking externo: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados das organizações para identificar oportunidades de melhoria de desempenho Contrato de Expectativas: clareza e simplicidade no que a organização oferece e o que espera das pessoas Desaprendizagem: reavaliação e renovação de competências na organização Estrutura Adhocrática: mais favorável à mudança e à flexibilidade; a aprendizagem é proativa e transformadora Gestão de Pessoas: modelo integrado com foco na aprendizagem e desenvolvimento Participação da Liderança na Aprendizagem: participação comprometida da alta liderança de no processo de aprendizagem Pertencimento: expressão das práticas organizacionais por meio de símbolos de pertencimento (logomarcas, slogans) Prática de Reconhecimento: premiação à aprendizagem em equipe Projeção de Cenários: exercício de projeção de cenários futuros Projetos abrangentes: desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional Reconhecimento da Inovação: reconhecimento pela participação em projetos inovadores Redução dos Mecanismos de Defesa: conscientização do que não se sabe (autopreservação) Rodízio Estratégico de Servidores: alocação planejada de pessoas Tabela 3 - Referenciais Teóricos ARGYRIS (1992) STEWART (1998) MEISTER (1999) GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997) NONAKA E TAKEUCHI (1997); DAVENPORT (2001) SENGE (2000) EBOLI (apud DUTRA, 2002); MINTZBERG (1998) DUTRA (2002); EBOLI (apud DUTRA, 2002) BARLEY (apud STEWART, 1998); MITZBERG (1998) SCHEIN (1990); ARGYRIS (1992) DUTRA (2002) DE GEUS (apud STARKEY, 1997) SENGE (2000) NONAKA E TAKEUCHI (1997) ARGYRIS E SCHÖN (1996) NONAKA E TAKEUCHI (1997) Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Estratégia Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas Referenciais Teóricos na CULTURA Ambiente de Confiança e Segurança: crença da inexistência de risco ARGYRIS (1992) interpessoal Comunidades de Prática: grupos informais com interesse comum WENGER (apud STEWART, 1998) Cultura de Aprendizagem: tempo para aprender, relações informais, as TERRA (2001) pessoas falam abertamente sobre erros passados e lições aprendidas, facilidade de atrair e manter os melhores talentos, valorização da atitude na seleção de pessoal, discussão de valores da organização é visto como relevante Tabela 4 Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Cultura 69 Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas Referenciais Teóricos na GESTÃO Alinhamento Estratégico: os processos de aprendizagem estão alinhados SNYDER E CUMMING (1998) com os propósitos organizacionais Aprendizagem de Circuito Simples: mudança sucessiva de estratégia e processo (processo de melhoria, mudança incremental, aprendizagem restritiva,) Aprendizagem por Insight: a organização gera oportunidades para imaginar soluções inéditas Autodesenvolvimento: buscar diferentes formas de aprendizagem interna e externamente ao ambiente de trabalho Benchmarking interno: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados entre unidades da organização para identificar oportunidades de melhoria de desempenho Foco do Controle Gerencial: controle da estratégia e não do comportamento Gerência do Desconforto: a organização gera estado de desconforto como provocação de aprendizagem Gerência do Processo de Aprendizagem: ambiente de tolerância ao erro com foco em desenvolvimento Gerência Educadora: gerentes voltados para o desenvolvimento das pessoas, da aprendizagem e da inovação (gerente como líder do trabalho de equipe) Gestão por processos para facilitar a aprendizagem: estruturação da organização para definir, produzir, avaliar e melhorar seus serviços, produtos e processos de trabalho ARGYRIS (1992); ARGYRIS E SCHÖN (1978) TEORIA DA GESTALT IN FLEURY E FLEURY (1995) SENGE (2000); UNESCO (1998); EBOLI (apud DUTRA, 2002) MEISTER (1999); SENGE (2000) MORGAN (1986); (1998) FESTINGER (1975) STEWART ARGYRIS (1992) DUTRA (2002) SENGE (2000); GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997); TUSHMAN E NADLER (STARKEY, 1997) Indicadores de Aprendizagem Individual: existência de indicadores e PEDLER (1989) medidores de aprendizagem individual Indicadores de Aprendizagem Organizacional: existência de PEDLER (1989) indicadores e medidores de aprendizagem organizacional Prática de Diálogos e Reflexões Coletivas: práticas organizacionais que NONAKA E TAKEUCHI (1997); favoreçam a externalização dos modelos mentais para criar o hábito de SENGE (2000); DE GEUS reavaliação de conceitos e crenças (externalização do conhecimento). (STARKEY, 1997) Prática de Simulação e Experimentação: procura e teste de novos NONAKA E TAKEUCHI (1997) conhecimentos (internalização do conhecimento) Resultados de Aprendizagem: incorporação dos resultados de SNYDER E CUMMING (1998) aprendizagem aos processos, sistemas, estrutura e cultura Transparência e Coerência da Gestão: clareza de critérios e coerência de ARGYRIS (1992); NONAKA E atos no processo de gestão TAKEUCHI (1997); TERRA (2000); STEWART (1998) Visão Compartilhada: missão, objetivos e metas da instituição PEDLER (1989); SENGE (2000) disseminados e internalizados (comprometimento) Tabela 5 Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em Gestão Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na Tecnologia da Informação (TI) Árvore do Conhecimento: estruturação das competências organizacionais e profissionais para construção de bases de conhecimento. Bases inteligentes de conhecimento: são usadas para capturar uma parcela do conhecimentos de trabalhadores com destaque de produtividade Cadastro eletrônico de especialistas: contém biografias do conhecimento de profissionais internos e consultores externos. Funcionam como páginas amarelas – indicam o conhecimento, mas não o contém Comunidades virtuais de práticas: grupos de pessoas ligadas Referenciais Teóricos LEVY (1995), MALHEIROS e PINHO (2003) CARVALHO (2000) MALHEIROS e PINHO (2003) WENGER (apud STEWART, 70 Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas Referenciais Teóricos na Tecnologia da Informação (TI) informalmente pelo conhecimento especializado e compartilhado, e pela 1998), TERRA (2001) paixão por um empreendimento em conjunto Educação à distância: processo de ensino-aprendizagem, mediado por ELEUTÉRIO (2003) tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporariamente Gerenciamento eletrônico de documentos: repositórios de importantes CARVALHO (2000), documentos corporativos que atuam como armazéns do conhecimentos DAVENPORT e PRUSAK (1998) explícito Groupware e workflow: sistemas informatizados que oferecem suporte CARVALHO (2000), para o trabalho em grupo e para padronização e automatização de MALHEIROS e PINHO (2003) processos de trabalho Business Intelligence: soluções para processamento e apresentação de JAMIL apud CARVALHO (2000) informações gerenciais. Uso de técnicas de mineração de dados (datamining) e de armazenamento multidimensional (datawarehousing) Portal do Conhecimento Corporativo: interface amigável e integrada TERRA (2002), MALHEIROS e (baseado em padrões WEB) que orienta o usuário final em sua navegação PINHO (2003), CARVALHO pelos diversos sistemas de informação da organização (2000) Tabela 6 Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em TI 71 2 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS NAS ORGANIZAÇÕES O sucesso e a sobrevivência de uma organização é avaliado por meio de resultados. Tais resultados devem refletir as necessidades das partes envolvidas na organização – acionistas, clientes, fornecedores, funcionários, comunidades, etc. Assim, essas necessidades devem ser identificadas, entendidas e utilizadas no desenvolvimento de processos de trabalho, de produtos e serviços, que produzirão resultados que agregam valor de maneira diferenciada às partes interessadas. Os líderes, de posse de todas essas informações, estabelecem as diretrizes e formulam as estratégias para direcionar a organização e o seu desempenho, bem como para determinar a sua posição competitiva. As estratégias são desdobradas em planos de ação que servem como referência para a tomada de decisões e para a aplicação de recursos na organização. Para permitir a comunicação clara das diretrizes e das estratégias para as partes interessadas, criar sinergia na implementação e possibilitar a análise do desempenho é planejado e operacionalizado um sistema de medição baseado em indicadores, formando um painel de controle da organização. Os resultados devem ser analisados e criticados para estabelecer ações corretivas e preventivas, consolidando, assim, o controle do desempenho e o aprendizado organizacional. As pessoas que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e satisfeitas, atuando em um ambiente propício à consolidação da cultura da excelência, para executarem e gerenciarem adequadamente os processos, identificarem as melhores alternativas de captação e aplicação de recursos e utilizarem os bens e serviços provenientes de fornecedores para transformá-los em produtos, criando valor para os clientes, de acordo com o que estabelecem as estratégias e os planos da organização. 72 Os resultados são o grande orientador para o acompanhamento do desempenho da organização e suas tendências em relação aos clientes e ao mercado, à situação econômicofinanceira, às pessoas, aos fornecedores e aos processos organizacionais. Esses resultados, em forma de conhecimento, retornam para toda a organização para reorientar as ações e fomentar o aprendizado, na forma de melhorias ou de inovação das práticas de gestão e dos respectivos padrões de trabalho. Os passos acima descrevem o ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Action) (CAMPOS, 1996) constante do Modelo de Excelência adotado no Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), instituído pela Fundação para o Prêmio Nacional de Qualidade (FPNQ), e demonstram a preocupação com a aprendizagem no âmbito de um modelo sistêmico de gestão. Segundo esse modelo, a aprendizagem é transversal a todos os critérios de excelência, ou seja a toda a organização, como um fundamento essencial para a obtenção da excelência no desempenho. Daí a necessidade de se internalizar na cultura da organização, tornando-se parte do trabalho diário em quaisquer de suas atividades (Critérios de Excelência, FPNQ, 2003). Observa-se, portanto, que a aprendizagem organizacional se impõe como o grande elo construtivo entre as empresas e as pessoas, como estratégia de competitividade ou como um meio para que as organizações desenvolvam competências, pois ela contribui decisivamente para o atendimento das expectativas de melhor desempenho e de desenvolvimento contínuo das organizações. Atender essas expectativas pressupõe colocar a aprendizagem a serviço da melhoria contínua – na busca da eficiência, qualidade e produtividade –, assim como da inovação, na busca da efetividade, adaptação às mudanças do ambiente e sobrevivência. Este capítulo apresenta exemplos de como as organizações otimizam resultados por meio da aprendizagem organizacional. O capítulo aborda exemplos de organizações que tiveram grande sucesso no desenvolvimento de práticas de aprendizagem organizacional 73 sustentadas nos quatro pilares das organizações que aprendem – estratégia, cultura, gestão e tecnologia de informação – do modelo desenvolvido no capítulo anterior deste trabalho. 2.1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA ESTRATÉGIA A estratégia como processo de aprendizagem pode ser uma boa explicação para a longevidade de empresas como Shell, Mitsubishi, Booker McConnell e British American Tobacco. O que há de comum nessas organizações? Elas nunca ficaram paradas. Reconheciam forças internas que podiam ser desenvolvidas à medida que mudavam as condições ambientais. A Mitsubishi, por exemplo, foi criada em 1870 como empresa de transporte marítimo e de comércio, adquiriu minas de carvão para garantir que tivesse o minério nos porões dos navios, construiu estaleiros para reparos de navios importados e, a partir dos negócios de câmbio que havia iniciado, desenvolveu um banco para financiar os embarcadores de mercadorias (DE GEUS apud STARKEY, 1997). Várias empresas têm demonstrado que a inovação sustentada, embora difícil, é certamente exeqüível. Grandes empresas, tais como, IBM, 3M, Citicorp, American Airlines, GE, Merck e Philip Morris, como também empresas menores, tais como, Rolm, Wang, Charles River Breeding Labs, Federal Express e Dunkin’ Donuts, têm se mantido altamente inovadoras por prolongados períodos. Elas têm gerido simultaneamente o duplo desafio de inovar para o mercado presente e para o futuro (TUSHMAN e NADLER apud STARKEY, 1997). A Bristish Petroleum (BP) credita um valor agregado de cerca de US$ 100 milhões como resultado de uma estratégica clara de apoiar iniciativas de gestão do conhecimento dirigidas a necessidades reais da empresa, tais como, redução de custos na abertura de pontos de venda e eficiência na perfuração de poços de petróleo. A abordagem é simples: um ciclo de 74 aprendizagem “antes”, “durante” e “depois” de qualquer evento resultam em lições aprendidas que são refinadas e transformadas em melhores práticas e disseminadas na intranet da empresa (HSM, 2000). Os benefícios decorrentes do planejamento não são apenas estratégias, objetivos e metas que surgem, mas também a aprendizagem que ocorre durante o processo. Se o aprendizado é um objetivo estratégico, então a maneira pela qual estruturamos o processo de planejamento e quem envolvemos nesse processo pode fazer importante diferença. O papel dos líderes da organização nesse processo é fundamental na determinação de um consenso sobre quais são as competências essenciais para a organização, qual é a visão estratégica em termos das metas desafiadoras para mudar a realidade e como são comunicadas aos diversos níveis hierárquicos. São exemplos da atuação da alta administração como propulsor da inovação e aprendizagem os casos da GE, “ser o 1º ou 2º colocado em todos os mercados onde atua”, da Motorola, “qualidade 6 sigma”, da Intel, “exemplo de oganização do trabalho”, da Polaroid, da Merck, da Kyocera e da HP, dentre outros (TERRA, 2001). A Xerox, cujo principal negócio é prestar serviços de assistência técnica aos clientes, lançou em 1996 o Eureka, um “sistema tático social” que inclui 25 mil representantes de campo com laptops e Internet e utiliza um sistema de documentação comum a todos, para facilitar a comunicação lateral. Os representantes contribuem com dicas úteis que ajudaram a empresa a reduzir em 5% os custos de peças e mão-de-obra. Os representantes têm acesso a mais de 5 mil dicas por mês, e a cada mil inspeções técnicas é gerada pelo menos uma nova dica. O que torna o sistema autosustentável é o reconhecimento dado ao funcionário por participar. Cada vez que um representante contribui seu nome sai no sistema. Isso motiva as pessoas a assumir a responsabilidade da criação dessa base de conhecimento comum (HSM, 2000). 75 Converter conhecimento implícito em explícito significa encontrar uma forma de expressar o inexprimível. Essa preocupação foi superada pela alta administração das empresas japonesas com o uso de linguagem figurada e simbolismos para articular suas intuições e insights. O uso de metáforas, analogias e modelos são ideais para isso. Quando a Honda inaugurou um novo conceito de carro com o slogan “let´s gamble” ou “Vamos arriscar” queria expressar quando iniciou os projetos que levaram ao City, o diferenciado carro urbano da empresa. Processo similar ocorreu com o projeto da minicopiadora da Canon e da máquina de fazer pão da Matsushita (NONAKA apud STARKEY, 1997). Vários outros exemplos de desenvolvimento da aprendizagem organizacional sustentada pela estratégia podem ser reconhecidos nas organizações que adotaram o balanced scorecard (BSC) como modelo de gestão e avaliação de desempenho institucional. Desenvolvido no início da década de 1990 com o objetivo de resolver problemas de mensuração, derivados da constatação de que na era do conhecimento a capacidade das organizações de desenvolver, fomentar e mobilizar ativos intangíveis é fator crítico de sucesso, o BSC acabou sendo usado para implementar novas estratégias. Assim os criadores do BSC constataram que, ao contrário da tendência geral de insucesso das organizações em executar suas estratégias, as organizações que adotaram o BSC as implementavam com êxito e aufeririam retornos positivos entre 12 e 24 meses. Esse fenômeno, denominado por KAPLAN e NORTON (2000) de “organizações focadas na estratégia”, ocorreu com o uso do BSC para alinhar as unidades de negócio e as pessoas em torno de metas gerais e focar os processos críticos da organização em torno da estratégia. Nesse contexto, visão, estratégia e recursos fluíam de cima para baixo enquanto sinergia, inovação, feedback e aprendizado refluíam de baixo para cima. Com esse foco, alinhamento e aprendizagem, as organizações exibiam desempenho extraordinário e o todo realmente se transformava em muito mais do que a soma das partes. 76 O segredo do sucesso do BSC está na sua lógica poderosa de preservar as mensurações retrospectivas do desempenho financeiro (ou outra dimensão de resultado para organizações sem fins lucrativos) com outros vetores do desempenho futuro (perspectivas do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento), cuja relação de causa e efeito fornece a arquitetura para a formação de novos elos organizacionais. Nessa abordagem, diversos vetores de desempenho organizacional devem ser reunidos de modo alinhado com a estratégia corporativa, gerando um conjunto de indicadores que extrapolam as formas tradicionais de medida de desempenho, particularmente o enfoque em medidas financeiras. O termo utilizado, Balanced Scorecard, reflete o equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazos, entre medidas financeiras e não financeiras, entre indicadores de tendências e ocorrências e entre perspectivas interna e externa (KAPLAN e NORTON, 1997). A perspectiva Financeira ou de Resultados avalia se a implementação da estratégia está contribuindo para o alcance dos objetivos (rentabilidade, crescimento, valor de mercado, competitividade, no caso de empresas que visam lucro e, produtividade, eficácia, satisfação, reconhecimento, imprescindibilidade etc, no caso de entidades sem fins lucrativos). A perspectiva interna foca as operações críticas (processos e competências que devem ser continuamente melhorados). A perspectiva do cliente tenta avaliar como está a organização na visão do cliente (relacionamento da organização e identificação quanto à eficácia, qualidade, tempestividade, efetividade, etc). Já a perspectiva da inovação e aprendizagem avalia a capacidade da organização de aprender, inovar, melhorar e mudar (pessoas e ambiente propício à aprendizagem). O uso contínuo da metodologia do BSC possibilitou a criação de um novo sistema gerencial em organizações como Mobil, CIGNA, Rockwater, Chemical Bank, Halliburton, AT&T Canadá, Prefeitura da Cidade de Charlotte no estado americano da Carolina do Norte, Governo do Estado de Washington (EUA), Duke Childen´s Hospital, May Institute, dentre 77 diversos exemplos de organizações de vários portes, sejam privadas, públicas ou do terceiro setor (KAPLAN e NORTON, 2000). A utilização do BSC por organizações sem fins lucrativos revelou que essas organizações enfrentam sérias dificuldades na definição nítida de suas estratégias. KAPLAN e NORTON (2000) se depararam com documentos sobre estratégia de mais de 50 páginas e boa parte desses documentos, após a explicitação da missão e visão, consistia de listas de programas e iniciativas, em vez de resultados almejados pela organização. A rigor, nessas organizações não havia estratégia, mas apenas intenções. Os planejadores não entenderam que estratégia não é apenas o que a organização pretende fazer, mas também o que a organização decide não fazer. O modelo do BSC utiliza fatores tangíveis e intangíveis para avaliação da performance, demonstrando o resultado de ações executadas e os condutores da performance futura. Esse modelo coloca a aprendizagem organizacional como um alicerce do desenvolvimento organizacional. A aprendizagem organizacional é o estopim do processo de melhoria e de mudança e, como tal, deve-se creditar a ela grande parte dos resultados já alcançados, como também dos que ainda poderão ser alcançados pela organização. 2.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA CULTURA Os valores, crenças e a cultura da organização têm significativo impacto sobre o processo de aprendizagem e sobre o grau de eficácia com que a empresa pode se adaptar e mudar. Em particular, a comunicação deficiente entre pessoas e entre organizações pode ser um importante impedimento ao aprendizado e à melhoria dos processos organizacionais. Segundo ATKINSON (2000, p. 17), ao analisar como criar mudanças culturais, descreve o caso da General Eletric Co. (GE) na forma abaixo: 78 “Molde sua cultura. O que é que as companhias mais importantes estão fazendo para aperfeiçoar sua cultura? Esta pergunta foi feita pelo superintendente de uma companhia logo após haver adquirido uma divisão de uma companhia financeira do Reino Unido. Debateu-se o assunto quando a equipe no comando da companhia recentemente adquirida reuniu-se pela primeira vez para discutir estratégias futuras. Imediatamente a equipe se concentrou na questão de mudança e melhorias. E, logo a seguir, a conversa se voltou para “cultura corporativa”, deixando claro que os membros da equipe precisavam entender rapidamente como se poderia substituir a cultura desatualizada, burocrática, com respostas lentas e atitudes negativas, que vigorava na empresa adquirida, por uma cultura nova. Antes de qualquer outra coisa, prepararam sua estratégia para a integração posterior à compra, dando-se um prazo de 90 dias para transformarem totalmente a cultura e a empresa. Passado um ano, a antiga empresa tinha sido completamente retivalizada e funcionava com um ritmo, velocidade e qualidade na oferta de serviços bem melhores do que quaisquer outros considerados anteriormente. O processo funcionou pela simples razão de que a equipe de diretores tinha uma visão clara das possibilidades da empresa. Rejeitavam as opiniões autolimitantes dos antigos donos, estabeleceram metas, desenvolveram uma atitude firme e otimista e transmitiram e implementaram práticas semelhantes através de toda a rede de empresas. Essa companhia é a GE, uma das empresas mais importantes do mundo, que entende o poder da cultura e usa todos os artifícios que tem a seu dispor para desenhar sua cultura corporativa exatamente como deseja. Busca formas positivas de fazer com que as coisas funcionem e insiste continuamente na questão da cultura.” Mudar a cultura corporativa tornou-se um modismo em administração. Existe de fato a necessidade de mudar hábitos profundamente arraigados em muitas organizações. Essa necessidade exige mudanças no comportamento. Porém, “mudar a cultura” não irá produzilas. A cultura é singularmente persistente. Na verdade, a mudança no comportamento funciona somente se puder ser baseada na cultura existente. A Marshall Field, em Chicago (EUA), foi uma das primeiras lojas de departamentos de alta classe em grandes cidades a enfrentar problemas no anos 70 – e também uma das primeiras a se livrar deles. Três ou quatro CEOs (chief information office) sucessivos tentaram 79 mudar a cultura – sem sucesso. Então veio um novo CEO, que perguntou: “O que temos de fazer para melhorar os resultados?” Todos os seus gerentes de lojas sabiam a resposta: “temos de aumentar a quantia que cada comprador gasta por visita”. Então ele perguntou: “alguma das nossas lojas fez isso?” Três ou quatro delas – de um total de 30 – faziam. “Vocês poderiam nos contar”, pediu o novo CEO, “o que fazem para ter os resultados desejados?” Em todos os casos, esses resultados eram atingidos não por se fazer alguma coisa diferente, mas por se fazer, sistematicamente, algo que todos sabiam que deveria ser feito, tinham nos manuais de políticas e pregavam – mas somente as poucas exceções estavam praticando (DRUCKER, 1993, p. 127). Esse exemplo mostra que a alta administração deve certificar-se de que o comportamento eficaz, originado pela própria cultura da organização, seja de fato praticado. Isso significa acima de tudo que a direção deve perguntar, sistematicamente e repetidamente: “O que nós da direção, e esta empresa como um todo, fazemos para ajudá-los a produzir os resultados que todos desejamos?” E: “O que fazemos que os impede de se concentrar nesses resultados necessários?” (DRUCKER, 1993, p. 127). A licença criativa da 3M é um bom exemplo de gestão que respeita a cultura, estimulada pela estratégia de constante inovação. A 3M injeta desejo de inovação em toda a empresa com a permissão para que todo o pessoal técnico dedique 15% do seu tempo para trabalhar em projetos que eles mesmos escolhem. Eles não precisam de aprovação e nem de prestar contas à gerência. Essa prática foi introduzida na empresa pelo seu presidente depois que um funcionário inventou o produto-base da 3M, as fitas Scotch, ignorando suas ordens. Foi graças a essa prática que um técnico da 3M desenvolveu logo depois o post-it. Observa-se que o sucesso da 3M não ocorre por acaso, como algumas de suas invenções, mas pela visão clara, compartilhada e coerente que geram autonomia e confiança nos níveis técnicos e gerenciais. 80 Um dos pilares do sucesso da 3M é justamente a consciência que a direção da organização têm em manter uma cultura que encoraje a criação e a inovação, fortalecendo práticas que favoreçam a criatividade e a inovação, como estímulo a cooperação interdepartamental, autonomia e formas de recompensa e premiação a metas desafiadoras (30% das vendas derivadas de produtos com menos de 4 anos de idade) e promoção pelas realizações. Algumas organizações trabalham a questão cultura remodelando seus espaços físicos a fim de melhorar a interação e o compartilhamento do conhecimento tácito e para influenciar a criatividade. Em ambos os casos, a preocupação está em facilitar os contatos informais e a comunicação em todos os sentidos. Assim, salas de relaxamento e descontração, salas de ginástica (Du Pont), quadra de basquete (Lotus), salas de jogos e humor (Kodak), salas de meditação (Canon e Kao) e projetos de completos de fábricas (Toyota) e de escritórios (Alcoa) são construídos com esse intuito (TERRA, 2001). 2.3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA GESTÃO O processo de inovação é fundamentalmente um processo de geração de conhecimento. Muitas idéias surgem de insights e outras de combinações ou adaptações de idéias recusadas pelos patrocinadores na organização. As organizações de sucesso aprenderam a induzir o processo de inovação e aproximar o gerador de idéias e os patrocinadores. Um exemplo desse tipo de prática é a alocação balanceada de recursos da Texas Instruments, para operações e projetos inovadores. Na 3M, há um grupo de novos negócios, mas um gerador de idéias pode se dirigir a qualquer patrocinador. Se a idéia não for aceita, ainda assim é mantida viva para ser testada oportunamente (GALBRAITH apud STARKEY, 1997). 81 A área de consultoria gerencial da Ernest & Young está engajada a mais de 6 anos no compartilhamento de experiências pelo qual os consultores aproveitam os conhecimentos adquiridos por seus colegas em situações similares com outros clientes. Por exemplo, após a implantação de SAPs (pacote de software empresarial) numa empresa-cliente, uma comunidade de interesse (denominada Coin) verifica o que foi aprendido, escolhe as questões mais relevantes e publica numa central de conhecimento. Essa prática possibilita acelerar a solução de problemas e levar os resultados aos clientes mais rapidamente (HSM, 2000). Algumas organizações conseguiram derrubar barreiras ao processo de aprendizagem e criatividade, como a falta de tempo e a visão limitada, criando “espaços” para que as pessoas reflitam com os outros sobre o que sabem. Uma empresa farmacêutica japonesa tem um salão de chá onde os pesquisadores podem sentar-se e discutir seus projetos com os colegas. A Buckman Labs possui uma sala virtual chamada “Break Room” na qual as pessoas interagem socialmente e ajam como uma comunidade, afixando piadas, avisos de compra e venda, receitas culinárias, datas de aniversário, etc (HSM, 2000). De fato, a gestão de pessoas parece ser o campo mais complexo do gerenciamento das organizações, mas o que pode facilitar mais o aprendizado e o desenvolvimento organizacional. A Alabama Gas Corp (Alagasco), uma divisão da Energen, monitora constantemente o funcionário porque acredita que seu bem-estar implica uma satisfação maior do cliente. A Alagasco desenvolveu programas para melhorar a experiência e a vivência das pessoas, buscando aumentar não só a confiança na sua capacidade, mas também nos colegas e chefes. Um dos programas permite a transferência temporária do funcionário para realizar funções diferentes da suas e desenvolver novas habilidades, ampliando o escopo geral de sua experiência (HSM, 2000). O Departamento de Pessoal do Estado da Geórgia nos EUA desenvolve uma metodologia para mapear os melhores desempenhos por um processo de pesquisa de 82 competências e identificar os melhores, que são entrevistados com vistas a verificar como trabalham. Pesquisas comportamentais detectam e documentam o que os melhores empregados têm em comum, em termos de métodos de trabalho, atitudes, regras básicas. Essa metodologia facilita o recrutamento e a alocação de pessoas a determinadas funções e permite disseminar as práticas de quem tem melhor desempenho (HSM, 2000). O esforço de gestão da aprendizagem organizacional nas organizações têm desaguado na criação de departamentos ou instituições específicas para promoção do aprendizado, denominadas Universidades Corporativas. Pode-se citar empresas como Motorola, Arthur D. Little, Disney, McDonald´s, Nokia, Oracle, IBM, GE. No Brasil já iniciaram suas atividades a Escola Amil, Instituto de Formação Carrefour, Universidade Algar, Unite da Telemar, Academia Universidade de Serviços do Grupo Accor, Boston School do Bank Boston, Visa Trainning e Universidade Datasul (EBOLI apud PEREIRA, 2003). A prática de valorização das pessoas da Telemar merece destaque no cenário nacional. O programa de trainee da empresa, que nasceu da privatização de 16 operadoras do antigo sistema Telebrás, pressupões treinamento direcionado com acompanhamento da área de recursos humanos, possibilitando ao trainee vivenciar situações reais de trabalho, interagindo com diversas gerências, participando de projetos individuais e em grupo, atuando em mais de uma área profissional para aprofundar o conhecimento sobre o negócio da Telemar. O objetivo desse programa de treinamento em serviço é fornecer uma visão estratégica e sistêmica da organização, fazendo que com desenvolvam habilidades de relacionamento, de gestão de pessoas e de processos mediante treinamento formal e dirigido (FLEURY e FLEURY, 1997). A Andrade Gutierrez fez grandes investimentos em tecnologia na implantação de um programa de Gestão do Conhecimento, mas que dependia, essencialmente, de incentivar as pessoas a compartilhar soluções e disseminar conhecimento. Assim, desenvolveu política de 83 gestão de pessoas com premiação para contribuições. O programa de Gestão do Conhecimento da AG criou um quadro técnico, composto por nove grupos de profissionais de reconhecida experiência, que funciona como “editores do conhecimento”, pois são responsáveis pela avaliação contínua da qualidade e relevância do conteúdo dos bancos de dados e das contribuições (CARVALHO, 2000). Muitas organizações já empreenderam projetos e esforços de planejamento e gestão estratégica baseado no ciclo PDCA, um dos mais importantes conceitos da gestão pela qualidade total, apesar de muitas tratarem esta iniciativa como projeto e não como processo. Observa-se que o giro do ciclo PDCA não tem fim, justamente por se tratar de um processo de aprendizagem contínua, muito similar ao efeito da aplicação do BSC como modelo de gestão estratégica (conforme discutimos no item anterior deste capítulo). O ciclo PDCA é ilustrado a seguir: Figura 4 - Ciclo PDCA Como se pode observar na figura anterior, a etapa “P” do ciclo PDCA é aquela pela qual passam todas as organizações que desenvolvem planejamentos estratégicos e que gera, 84 como produto final, o chamado “Plano Estratégico”. Porém, algumas organizações não entendem o planejamento estratégico como processo, carecendo da visão que lhes permitiria conceber os métodos para a execução do plano (etapa D), a verificação do planejado com relação ao executado (etapa C) e a geração de ações corretivas e re-planejamento (etapa A). Um bom exemplo de aplicação do ciclo PDCA e de integração com modelos de gestão (BSC e modelo de excelência) é o “Sistema de Gestão de Indicadores de Desempenho” da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SEGES/MP, 2002). Para o desenvolvimento de um sistema de medição (painel de bordo) e avaliação de desempenho (análise crítica) a SEGES utilizou os critérios de excelência do Programa de Qualidade no Serviço Público (PQSP), baseado no Modelo de Excelência em Gestão do Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ) da Fundação para o Prêmio Nacional de Qualidade (FPNQ). Na implementação e gestão do planejamento estratégico foram utilizados o ciclo PDCA e princípios do BSC. Um sistema de medição do desempenho global foi implementado como ferramenta gerencial (painel de bordo). A oportunidade de aprendizagem organizacional nessa metodologia está principalmente na etapa de análise crítica do desempenho, momento em que se faz uma reflexão do andamento das ações a partir dos indicadores de desempenho. Esse processo de aprendizagem é normalmente incremental, ou seja conduz a melhorias contínuas (aprendizagem de circuito simples). Entretanto, se a análise crítica de desempenho for feita com um conjunto de indicadores construídos a partir da lógica do BSC, à luz da estratégia da organização, estariam criadas as condições para identificação das necessidades de mudanças estruturais nos processos internos a fim de alavancar os resultados (aprendizagem de circuito duplo). Em 1995, o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), implantou um novo Modelo de Gestão, iniciando as atividades dos Processos Corporativos em 1996. Em 85 1999, foi criado o “Processo Corporativo Gestão do Conhecimento e Aprendizagem Organizacional”, passando a tratar a Gestão do Conhecimento como um assunto de importância estratégica para a organização. Inicialmente foi concebida e aprovada a “Política SERPRO de Gestão do Conhecimento e Aprendizagem Organizacional” e delineadas as Práticas que deveriam ser introduzidas na empresa (CADAIS e DE FARIA, 2003). A política de Aprendizagem Organizacional do SERPRO engloba estudos, diretrizes e orientações para a implementação no SERPRO do processo de aprendizagem organizacional, de forma que a organização possa aprender melhor e em menor espaço de tempo, obtendo e mantendo vantagem competitiva e considerando aspectos relevantes como questionamento, experimentação, comunhão de propósitos, visão comum, combinação de diferentes pontos de vista para aumentar a compreensão da questão ou tema a ser tratado (MACEDO et al., apud SANTOS et al, 2001). 2.4 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA INFORMAÇÃO NA TECNOLOGIA DA Certamente, a informação é essencial ao processo de aprendizagem. É útil pensar em sistemas de informação como facilitadores ou dificultadores da aprendizagem organizacional. Sistemas de informação separados, que ocultam a interdependência e dão um falso senso de controle, não são realistas. Entretanto, sistemas de informações gerenciais que transformam dados da organização em informações e depois ajudam os gerentes a transformar informações em conhecimento e conhecimento em ação, são essenciais. O desafio está em decidir que informações e conhecimento – e em que forma – são necessários. Se tivermos a aprendizagem organizacional em mente como objetivo no desenho dos sistemas de informação, teremos maior probabilidade de gerar as informações e o 86 conhecimento que os gerentes necessitam para tomar ações efetivas. Essa foi a conclusão que a Analog Devices, fabricante de semicondutores dos EUA, chegou ao utilizar informações mundiais na linha de produtos (STATA apud STARKEY, 1997). As tecnologias de informação têm auxiliado decisivamente as empresas no esforço de aprendizagem organizacional. A BP não alcançaria os resultados que contabiliza sem o apoio da Intranet da empresa, para compartilhar os ativos de conhecimento formado pelas lições genéricas e específicas aprendidas. Da mesma forma o ambiente de workgroup formado por aplicativos compartilhados e videoconferência disponível para cerca de 1,5 mil pessoas, envolvendo funcionários, parceiros, associados e fornecedores da BP. Outro recurso muito importante nesse processo de aprendizagem é a identificação dos detentores de conhecimentos específicos, ou seja, “quem sabe o quê” na organização. A TI auxiliou a BP nesse particular criando uma lista de “páginas amarelas” de mais de 10 mil funcionários (HSM, 2000). As mais de cem comunidades de práticas do Banco Mundial não poderiam reunir especialistas em diversos assuntos de interesse da organização, espalhados pelo mundo, conectados a uma base de conhecimento, sem a aplicação de tecnologias de comunicação e informática. A Xerox incorporou um software de tradução a seu sistema Eureka para que os representantes de campo possam ler as dicas de manutenção em seu idioma, quebrando a barreira de linguagem para o processo de aprendizagem (HSM, 2000). Vale destacar, entretanto, que nesses exemplos as práticas geraram benefícios às organizações não apenas pelas soluções tecnológicas, mas pelo reconhecimento da importância do relacionamento humano, necessário para o compartilhamento de conhecimentos, além de obstáculos culturais e comportamentais. O Wal-Mart é lider no mercado de varejo em grande parte devido a seus sistemas de logística de informações onde seus gigantescos centros de distribuição e seus bancos de dados passam a ser o centro nervoso da corporação. A FedEx utiliza-os como fonte de vantagem 87 competitiva. Empresas como HSBC e Citibank só sobrevivem com sistemas financeiros globais (JOÃO apud PEREIRA, 2003). A Embraer conseguiu disputar a liderança no mercado de aviões regionais com a família ERJ 145, toda projetada e desenvolvida em CAD-CAM. Como os projetos são complexos e a quantidade de informação para o desenvolvimento de uma nova família ou modelo são enormes há a necessidade de ferramentas de auxílio a todas as atividades envolvidas o que torna a estrutura de tecnologias de informação básica para que a Embraer possa obter vantagem competitiva (JOÃO apud PEREIRA, 2003). O compartilhamento de conhecimento e experiências viabilizado pela TI mostra toda a sua força numa empresa multinacional espalhada por mais de 190 países, como é o caso da Siemens. O programa chamado ShareNet possibilita que 400 mil funcionários em todo o mundo possam trocar experiências, apresentar sugestões, buscar informações para resolução de problemas, pedir dicas para colegas e comentar idéias e sugestões. Essa ferramenta torna possível a grande economia de tempo e recursos, evitando-se erros comuns já comentados por outras pessoas em processos semelhantes. Existem perto de 600 fóruns de discussão sobre os mais variados temas na comunidade formada pelo ShareNet. A participação é incentivada por uma política de milhagem que pode levar a prêmios e benefícios profissionais. A atualização das informações é controlada automaticamente, sendo que a cada seis meses os participantes recebem mensagem para atualizar as informações, senão serão deletadas da base de conhecimento (BANAS, 2001). A Andrade Gutierrez (AG) desenvolveu programa de gestão do conhecimento voltado para o aproveitamento das melhores práticas, evitar repetição de erros e concentrar-se em soluções de maior eficácia e qualidade. O programa da AG concentra-se no compartilhamento do conhecimento já existente na área de execução de obras, considerada pela empresa como seu grande diferencial competitivo (larga experiência de mais de 50 anos 88 de atividade), procurando transformar o conhecimento tácito em explícito. A AG implantou o TelTech (versão mais recente chamada de Sopheon) que apresenta funcionalidade de um sistema de mapa de conhecimento e uma ferramenta voltada para intranet. As informações são armazenadas em cinco banco de dados de profissionais, obras, experiências adquiridas, subcontratados e de padrões (CARVALHO, 2000). Um exemplo de comunidade de práticas virtual é a Rede de Tecnologia de Minas (Retec) que, em parceria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), disponibiliza um site na Internet contendo lista de discussão acoplada com correio eletrônico para integrar atores envolvidos em projetos de financiamento nas áreas de gestão empresarial, melhoria de produto/processo e capacitação tecnológica. A Fiemg faz triagem de perguntas de empresários e busca respostas junto aos parceiros como Sebrae, Senai e UFMG (CARVALHO, 2000). A Educação à Distância (EaD) é outro recurso que, com o desenvolvimento das tecnologias de informação, tem sido muito utilizado em programas de aprendizagem nas organizações. Exemplos como os da Telemar, Algar, Siemens, Embratel, Motorola e Souza Cruz são exemplos bem sucedidos (SURRAGE apud ELEUTÉRIO, 2003). Esse texto cita pesquisa realizada pela PwC Consulting onde foi constatado que 20% de 500 empresas brasileira consultadas já estão utilizando EaD para treinamento de seus funcionários, principalmente nos segmentos de Bancos e Telecom. A estratégia de gestão do conhecimento e aprendizagem organizacional adotada pelo Serpro enfoca especialmente a tecnologia associada à gestão de conhecimento, os sistemas de informação utilizados e como o conhecimento permeia a organização. O objetivo é transformar o conhecimento em um bem de todos ao invés de um bem de um indivíduo e criar um ambiente onde o aprendizado e absorção da cultura organizacional por novos indivíduos sejam os mais rápidos possíveis. A tecnologia tem um papel relevante nessa gestão direta do 89 saber e é essencial para a reutilização do conhecimento. Ela atua como facilitadora, fornecendo a estrutura para retenção, compartilhamento e distribuição de conteúdos por diversos meios, como: correio eletrônico, portal corporativo, Intranet, sistema de fluxo de trabalho, ferramenta de educação à distância, banco de dados de conhecimento, sistema de páginas amarelas (sistema perfil) associado um banco de dados com a árvore do conhecimento SERPRO com as competências organizacionais e individuais necessárias a empresa (MALHEIROS e PINHO, 2003). A “Agência de Informação Embrapa” corresponde a um conjunto de várias Agências de Produto, que organizam informação técnica relevante para o agronegócio, especializada por produto, estruturada sob a ótica da cadeia produtiva do agronegócio, e disponibilizada na Internet para atender a perfis diversificados de consumidores de informação: produtores rurais, extensionistas, pesquisadores, técnicos, professores, estudantes, etc. Todo o conjunto de informações é organizado e armazenado em meio eletrônico. Assim, foram criados um repositório de conteúdos de informações, categorizados segundo os diferentes ambientes de consumo da informação, e um site onde são disponibilizadas as informações das diversas agências de produtos. Para manter os dados desse site íntegros e constantemente atualizados, fez-se necessário construir um sistema automatizado, baseado na arquitetura cliente servidor e acessado através da Intranet da empresa, para inserção, alteração e exclusão de dados das diversas agências de produtos, permitindo a troca e o reuso desses dados. A integração dessas soluções de software resultou no gerenciador de conteúdos da “Agência de Informação Embrapa” (EVANGELISTA et al, 2003). 90 2.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Apesar dos vários exemplos de práticas da aprendizagem sustentadas nos quatro pilares do nosso modelo de organizações que aprendem, pode-se verificar que é tênue a fronteira entre uma e outra dimensão de sustentação, sendo que muitas práticas poderiam ser classificadas em mais de um pilar. Entretanto, essa divisão lógica serve ao seu propósito de demonstrar que para o sucesso das organizações há que se estruturar práticas de aprendizagem suportadas por estratégias claras e compartilhadas, por modelos de gestão que favoreçam principalmente o engajamento das pessoas na criação de uma cultura de aprendizagem e pelo uso intensivo de tecnologias da informação capazes de não só facilitar o compartilhamento de conhecimento, mas a codificação e organização do conhecimento vital para o desenvolvimento das organizações. Agrupa-se nas tabelas a seguir as práticas de aprendizagem encontradas nas diversas organizações descritas neste capítulo, facilitando a identificação dos casos estudados. Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional Aprendizagem de Circuito Duplo Reconhecimento da Inovação Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na ESTRATÉGIA IBM, 3M, Citicorp, American Airlines, GE, Merck, Philip Morris, Rolm, Wang, Charles River Breeding Labs, Federal Express, Dunkin’ Donuts e British Petroleum IBM, 3M, Citicorp, American Airlines, GE, Merck, Philip Morris, Rolm, Wang, Charles River Breeding Labs, Federal Express, Xerox e Dunkin’ Donuts Aprendizagem em Equipe Xerox, Ernest & Young Projetos abrangentes 3M, Honda, Matsushita, Canon, Intel, HP Pertencimento Honda, Kao Participação da Liderança na Aprendizagem Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte (EUA), Governo do Estado de Washington (EUA), Duke Children’s Hospital, May Institute, Merck, Kyocera, GE, Motorola, HP Gestão de Pessoas Alagasco, Departamento de Pessoal do Estado da Geórgia (EUA), Andrade Gutierrez Tabela 7 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Estratégia 91 Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na CULTURA Comunidades de Prática 3M, Ernest & Young, Xerox Cultura de Aprendizagem: Licença Criativa 3M, Xerox Ambiente de Confiança e Segurança: 3M, Xerox Tabela 8 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Cultura Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na GESTÃO Prática de Diálogos e Reflexões Coletivas: melhores práticas disseminadas British Petroleum, Buckman Labs, SEGES/MP Aprendizagem por insight: inovação 3M, Honda, Matsushita e Canon Visão compartilhada: internalização de missão e visão Alinhamento estratégico Foco do controle gerencial: Balanced Scorecard Indicadores de Aprendizagem Individual Indicadores de Aprendizagem Organizacional Transparência e Coerência da Gestão SERPRO, Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute Reconhecimento da Inovação: Licença Criativa 3M Gerência do Processo de Aprendizagem 3M, SERPRO, Motorola, Arthur D. Little, Disney, McDonald´s, Nokia, Oracle, IBM, GE, Escola Amil, Instituto de Formação Carrefour, Universidade Algar, Unite da Telemar, Academia Universidade de Serviços do Grupo Accor, Boston School do Bank Boston, Visa Trainning, Universidade Datasul e Andrade Gutierrez Prática de Simulação e Experimentação 3M, SERPRO Aprendizagem de circuito simples SEGES/MP Tabela 9 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Gestão Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI Comunidades virtuais de prática: ShareNet, Eureka, Coin, PowerPacks 3M, Ernest & Young, Xerox, Banco Mundial, Siemens, Retec/MG Gerenciamento eletrônico de documentos Xerox 92 Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI Bases inteligentes de conhecimento British Petroleum, Wal-Mart, Embrapa, Embraer, Andrade Gutierrez Business Intelligence: sistemas de informações gerenciais Analog Devices, Wal-Mart, FedEx, HSBC, Citibank Portal do conhecimento corporativo SERPRO, Siemens, Andrade Gutierrez Árvore do conhecimento: Sistema Perfil, Agência de Informação Embrapa SERPRO, Embrapa, Groupware e Workflow SERPRO, Wal-Mart, FedEx, HSBC, Citibank Cadastro eletrônico de especialistas SERPRO, British Petroleum, Banco Mundial Educação à distância Telemar, Algar, Siemens, Embratel, Motorola e Souza Cruz, SERPRO Tabela 10 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI 93 3 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO TCU Este capítulo trata da identificação das práticas de aprendizagem organizacional em uso no Tribunal de Contas da União quando comparadas ao que prescreve a literatura sobre o assunto, conforme levantamento do Capítulo 1. Para identificar essas práticas, utilizou-se de entrevistas com especialistas internos e de pesquisa documental nos seguintes documentos internos: Plano Estratégico do TCU 2003/2007 (TCU, 2003a), Plano de Diretrizes de 2003 (TCU, 2003b) e Planos Diretores das Unidades Básicas de 2003 (TCU, 2003c, 2003d, 2003e, 2003f), além do Relatório de Gestão de 2002 (TCU, 2003g). As entrevistas resultaram no documento constante do Anexo 1 deste trabalho, que mostra a percepção dos entrevistados de forma consolidada. A pesquisa documental, por sua vez, serviu para complementar as informações dos entrevistados e demonstrou o que a instituição procura em termos de aprendizagem, que materializa-se no planejamento estratégico e nos planos de diretrizes das unidades do TCU. Antes de fazer o diagnóstico da aprendizagem organizacional no TCU é preciso compreender melhor o funcionamento da instituição e como está configurada em termos da estrutura e competências. 3.1 O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO O Tribunal de Contas da União encontra-se em posição singular no cenário da administração pública brasileira. Fiscaliza os órgãos e entidades dos três Poderes federais, sem subordinar-se a qualquer deles. O Tribunal tem jurisdição em todo o território nacional e como competências (BRASIL, 1988): 1) emitir parecer prévio das contas do Presidente da República; 94 2) julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos; 3) apreciar a legalidade dos atos de admissão de pessoal e de concessões de aposentadorias, reformas e pensões civis e militares; 4) realizar inspeções e auditorias por iniciativa própria; 5) fiscalizar a aplicação de recursos da União repassados a estados, ao Distrito Federal ou a municípios; 6) aplicar sanções e determinar a correção de ilegalidades e irregularidades em atos e contratos; 7) apurar denúncias apresentadas por qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato sobre irregularidades ou ilegalidades; De acordo com os preceitos legais, o Tribunal, no âmbito de sua competência e jurisdição, tem poder regulamentar, podendo, em conseqüência, expedir atos e instruções normativas sobre matéria de sua atribuição e sobre a organização dos processos que lhe devam ser submetidos, obrigando ao seu cumprimento, sob pena de responsabilidade. 3.1.1 Modelo Institucional O Tribunal de Contas da União é composto de nove ministros, dos quais seis são indicados pelo Congresso Nacional e três pelo Presidente da República, com aprovação pelo Senado Federal. A nomeação dos ministros é efetivada por decreto do Presidente da República e o mandato é vitalício. A escolha dos ministros do Tribunal é realizada entre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; com idoneidade moral e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública; e mais de dez anos de exercício de 95 função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados. O presidente e o vice-presidente do Tribunal são escolhidos entre os demais ministros para mandato de dois anos (BRASIL, 1992). O Tribunal é órgão público, portanto, segue o princípio de que somente lhe é permitido fazer aquilo que a lei prevê. Diferentemente do setor privado, ao qual é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe. Essa regra subtrai significativamente o poder de discricionariedade e de agilidade da instituição, quando comparada com o setor privado. O processo decisório adota o modelo de órgão colegiado, com poderes fiscalizatórios e judicantes. Essa característica pressupõe uma organização em duas instâncias básicas: uma técnica e outra decisória. 3.1.2 Pessoas O Tribunal possui quadro próprio de pessoal, estabelecido por lei (BRASIL, 2001), cujos cargos são regidos pelo Regime Único dos Servidores Públicos Federais (BRASIL, 1990). O quadro de pessoal prevê 2.120 cargos efetivos, distribuídos de acordo com a tabela adiante. Quanto à alocação, 65% estão dedicados à atividade fim, e 35% a atividades de apoio. Categoria Funcional Efetivo Previsto Cargos de nível superior 1.136 Cargos de nível básico ou médio 984 Total 2.120 Tabela 11 - Distribuição de Cargos no TCU A forma de ingresso, a remuneração, as atribuições e o desenvolvimento na carreira são estabelecidos por lei. O ingresso se dá exclusivamente mediante concurso público. A remuneração é composta por duas parcelas: uma de valor fixo e outra variável, de acordo com 96 o desempenho pessoal e institucional. As atribuições e o desenvolvimento profissional seguem um conjunto de regras estabelecido por lei, cujas características e cultura são bastante marcantes, como: estabilidade; alto grau de burocracia; padronização; limitação de desenvolvimento na carreira (a mudança de cargo somente é admitida por meio de concurso público, assim como as atribuições de um cargo não podem ser exercidas por ocupante de outro cargo); promoção por antiguidade em vez de por merecimento; jornada de trabalho fixada em lei (BRASIL, 2001). 3.1.3 Jurisdição O Tribunal de Contas da União tem jurisdição própria e privativa, em todo o território nacional, sobre as pessoas e matérias sujeitas a sua competência. Conforme dispõe a Constituição Federal (BRASIL, 1988) e a Lei Orgânica do Tribunal (BRASIL, 1992), estão sob sua jurisdição: 1) qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie, aplique ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome dessa, assuma obrigações de natureza pecuniária; 2) aqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao Erário; 3) os dirigentes ou liqüidantes das empresas encampadas ou sob intervenção ou que, de qualquer modo, venham a integrar, provisória ou permanentemente, o patrimônio da União ou de outra entidade federal; 97 4) os responsáveis pelas contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; 5) os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que recebam contribuições parafiscais e prestem serviço de interesse público ou social; 6) todos aqueles que lhe devam prestar contas ou cujos atos estejam sujeitos à sua fiscalização por expressa disposição de lei; 7) os responsáveis pela aplicação de quaisquer recursos repassados pela União, mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a estados, ao Distrito Federal ou a municípios; 8) os sucessores dos administradores e responsáveis, até o limite do valor do patrimônio transferido, nos termos previstos na Constituição Federal; 9) os representantes da União ou do Poder Público Federal na Assembléia Geral das empresas estatais e sociedades anônimas de cujo capital as referidas pessoas jurídicas participem, solidariamente com os membros dos Conselhos Fiscal e de Administração, pela prática de atos de gestão ruinosa ou liberalidade à custa das respectivas sociedades. Como se observa, é bem abrangente a jurisdição do Tribunal de Contas da União sobre o universo de pessoas físicas e jurídicas, não sendo exclusiva sobre os agentes públicos, mas sobre qualquer pessoa que der causa a perda, extravio ou que cause prejuízo ou dano ao Erário. A informação constitui a matéria prima do exercício do controle. Os trabalhos são organizados na forma de processos (autos processuais). Os órgãos técnicos do Tribunal efetuam a análise e a instrução preliminar. Os ministros atuam como relatores e presidem a 98 instrução do processo, competindo-lhe submeter proposta de decisão ao colegiado, que delibera a decisão final. 3.1.4 Tipos de Controle Adotados Em geral, o Tribunal de Contas da União exercita dois tipos de controle: concomitante e a posteriori. O controle concomitante realiza-se ao mesmo tempo em que se executa o ato ou atividade. Nesse caso, acompanha a realização do ato para verificar a regularidade de sua formação, contribuindo para que eventuais erros sejam tempestivamente sanados ou até mesmo evitados. A atuação concomitante possibilita a adoção de medidas corretivas para prevenir a ocorrência ou continuidade de dano ao Erário. No Tribunal, esse tipo de controle é exercido quando da realização de inspeções, auditorias e acompanhamentos. Configura-se, por exemplo, na fiscalização de um contrato em andamento e no acompanhamento dos processos de privatização e de concessão de serviços públicos. O controle a posteriori é realizado após a conclusão do ato ou atividade, visando corrigir-lhe eventuais defeitos, declarar a sua nulidade ou dar-lhe eficácia. No Tribunal, é exercido, por exemplo, quando da análise das prestações e tomadas de contas das unidades jurisdicionadas do Tribunal, ou do exame da legalidade dos atos de admissão de pessoal e de concessão de aposentadorias, reformas e pensões. Contudo, pode-se dizer que o Tribunal também exerce o controle prévio à medida que atua orientando e alertando o gestor público quanto à boa e regular utilização dos recursos públicos, feitas principalmente por meio das recomendações e determinações contidas nas decisões do Plenário. 99 3.1.5 Deliberações No desempenho de suas atribuições, o Tribunal recebe, periodicamente, uma parte da documentação contábil e outros demonstrativos relativos à atuação das unidades sujeitas à sua jurisdição, que são apreciados sob a forma de tomadas e prestações de contas. Estas contas são analisadas sob os aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade, eficiência e eficácia, após o que são julgadas regulares, regulares com ressalvas, irregulares ou iliquidáveis. A primeira hipótese ocorre quando a prestação de contas expressa, de forma clara e objetiva, a exatidão dos demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gestão do responsável. As ressalvas, por sua vez, decorrem da existência de impropriedades ou faltas de natureza formal de que não resultem danos ao erário. Já a irregularidade das contas advém da omissão no dever de prestá-las; da prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração a norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial; de dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico; de desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos e de reincidência no descumprimento de determinações do Tribunal. Por fim, as contas serão consideradas iliquidáveis quando caso fortuito ou força maior tornar materialmente impossível o julgamento de mérito. A decisão do Tribunal da qual resulte imputação de débito ou cominação de multa torna a dívida líquida e certa e tem eficácia de título executivo. Nesse caso, o responsável é notificado para, no prazo de quinze dias, recolher o valor devido. Se o responsável, após ter sido notificado, não recolher tempestivamente a importância devida, é formalizado processo de cobrança executiva, o qual é encaminhado ao Ministério Público junto ao Tribunal para, 100 por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) ou das unidades jurisdicionadas ao TCU, promover a cobrança judicial da dívida ou o arresto de bens (TCU, 2003i). 3.1.6 Planejamento Estratégico O sistema de planejamento e gestão do TCU fundamenta-se nos princípios da identificação e da prevenção de problemas e na visão de longo alcance como estratégia para o desenvolvimento da organização. Na fase de formulação do plano estratégico são delineados os objetivos institucionais para se alcançar a visão de futuro da organização, presentes os paradigmas estabelecidos na análise dos ambientes interno e externo. Tal análise tem por objetivo a identificação de pontos fortes e oportunidades de melhoria da instituição, bem como de oportunidades e ameaças externas ao desempenho de sua missão. O plano estratégico deve conter, como elementos mínimos, valores, visão de futuro, missão, objetivos estratégicos, estratégias e indicadores de gestão. No TCU eles são definidos na forma a seguir (TCU, 2003a): 1) Valores: é um conjunto de crenças e princípios que orienta as atividades da instituição. Quando claramente estabelecidos, ajudam a organização a reagir rápida e decisivamente nas situações inesperadas que se apresentam. São valores do Tribunal: ética, efetividade, independência, justiça e profissionalismo. 2) Visão de futuro: é a expressão que traduz a situação futura desejada para a instituição. A visão é estabelecida sobre os fins da instituição e corresponde à direção suprema que a organização busca alcançar. É visão de futuro do Tribunal: “ser instituição de excelência no controle e contribuir para o aperfeiçoamento da administração pública”. 101 3) Missão: exprime a razão de ser da instituição. É a finalidade mais ampla ou objetivo maior que engloba a contribuição da instituição para a sociedade. Define o que é a instituição e o que ela faz. Não deve ser confundida com os produtos ou serviços ofertados pela instituição. É missão do Tribunal: “assegurar a efetiva e regular gestão dos recursos públicos, em benefício da sociedade”. 4) Objetivos estratégicos: são os fins a serem perseguidos pela instituição no cumprimento de sua missão institucional. Determina o direcionamento das ações. 3.1.7 Plano de Diretrizes e Planos de Ação O plano de diretrizes, produto principal do planejamento anual, contém as diretrizes institucionais estabelecidas para determinado exercício. Representa o ponto de partida dentro do processo de desdobramento para elaboração dos planos diretores que admitem, também, desdobramentos subseqüentes. O nível operacional encerra a última etapa do desdobramento das diretrizes e os respectivos planos de ação. A partir dos objetivos estratégicos do Tribunal, do diagnóstico de ambiente (autoavaliação de gestão, pesquisa de satisfação, percepções institucionais, entre outros) e de projetos em andamento, são definidas diretrizes para o TCU, que, posteriormente, são desdobradas em todos os níveis gerenciais para implementação. Cada diretriz é constituída por uma meta e pelas medidas prioritárias e suficientes para seu alcance. Na seqüência dos desdobramentos, dependendo do método utilizado, as metas ou as medidas superiores constituirão metas para os desdobramentos subseqüentes. 102 No ponto mais elevado do planejamento, tem-se como produto as diretrizes do Tribunal, expressas no Plano de Diretrizes do TCU. No nível subseqüente, tem-se os planos diretores das unidades básicas e secretarias ou equivalentes. Os planos de ação expressam as ações de curto prazo, prioritárias e suficientes, para se alcançar determinada meta. Estão formados por um conjunto de medidas de ação direta (não-desdobráveis) encadeadas de forma lógica ao alcance da meta. Integram o plano de ação, como elementos mínimos, as seguintes informações: a meta do nível superior, o seu indicador (item de controle), a medida a ser executada, o nome da pessoa responsável pela execução, o prazo máximo para execução da medida e o modo de executá-la. Os planos de ação podem ser elaborados em qualquer nível gerencial desde que expressem ações a serem implementadas na própria unidade ou subunidade. 3.2 METODOLOGIA DE PESQUISA A metodologia empregada para levantar as práticas e sinais indutores de aprendizagem no TCU partiu, inicialmente, do levantamento dos relatos na literatura, conforme apontado no Capítulo 1. A lista de práticas e sinais indutores de aprendizagem organizacional serviu para elaborar um roteiro de entrevista, com o objetivo de verificar o grau de implementação no âmbito da instituição. Foram realizadas cinco entrevistas com especialistas da área de educação no Tribunal, utilizando-se de roteiro previamente definido. As pesquisas foram transcritas e condensadas em um único documento, consistente no Anexo I, que reflete o conjunto das opiniões e visões dos entrevistados. Simultaneamente à realização das entrevistas, procedeu-se a ampla pesquisa documental para verificar práticas de aprendizagem organizacional relatadas internamente. Assim, foram consultados os seguintes documentos: 103 1) Plano Estratégico do TCU (PET) para o período de 2003 a 2007 (TCU, 2003a); 2) Plano de Diretrizes Estratégicas do TCU para o exercício de 2003 (TCU, 2003b); 3) Plano Diretor de 2003 das seguintes unidades básicas do TCU: a. Secretaria Geral das Sessões – SGS (TCU, 2003c); b. Secretaria Geral de Administração – Segedam (TCU, 2003d); c. Secretaria Geral de Controle Externo – Segecex (TCU, 2003e); e d. Instituto Serzedello Corrêa – ISC (TCU, 2003f); 4) Relatório de Avaliação de Gestão do TCU em 2002 (TCU, 2003g); 5) Proposta do Projeto Atena – Modelo de Gestão do Desenvolvimento de Pessoas por Competência (TCU, 2003h). 3.3 COLETA DE DADOS A seguir, demonstra-se, para cada fonte de dados, os resultados obtidos. 3.3.1 Plano Estratégico do TCU (PET) de 2003-2007 A pesquisa documental revelou que no planejamento estratégico e nos planos de diretrizes apresentam-se metas que contemplam esforço, ainda que incipiente, no sentido de elevar o TCU ao status de uma organização que aprende. A leitura atenta do planejamento estratégico do TCU para 2003-2007 revela fortes intenções da administração do TCU em implantar práticas de aprendizagem organizacional. Pode-se citar vários pontos do plano estratégico em que se vislumbra essa tendência. Na seqüência, comenta-se algumas das maiores evidências observadas. 104 O alinhamento estratégico, por exemplo, pode ser notado em medidas como (TCU, 2003a, p. 21-22): 1) “inserir nos cursos e treinamentos disciplinas que capacitem o servidor a atuar de maneira compatível com a imagem institucional e a estabelecer o diálogo público” (estratégia 5 – gerenciar a imagem institucional e o diálogo público); 2) “instituir modelo de gestão de pessoas por competências, integrado às estratégias do TCU” (estratégia 7 – desenvolver política de gestão do conhecimento); 3) “adotar modelos de promoção de aprendizagem organizacional e de educação corporativa” (estratégia 7). A gestão de pessoas pode ser também materializada por meio da implementação efetiva da primeira medida da estratégia 7: “instituir modelo de gestão de pessoas por competências, integrado às estratégias do TCU” (Ibid., p. 22). A prática de educação à distância deverá ser promovida com mais intensidade, pois na estratégia 1 do Plano Estratégico (ampliar e aprimorar o uso da tecnologia da informação) apresentam-se medidas como: “implementar sistemática de educação continuada em tecnologia da informação, com ênfase na educação a distância”; “garantir recurso de videoconferência”; e “disponibilizar áudio das sessões nas estações de trabalho da rede e áudio e vídeo das TVs Câmara e Senado nos gabinetes de Ministros e assessorias” (Ibid., p. 20-21). O rodízio estratégico de servidores poderá ser viabilizado com a implementação da medida “b”, constante da estratégia 10 (assegurar elevado nível de satisfação dos servidores), que planeja “instituir política de movimentação de servidores inter e intra-unidades” (Ibid., p. 105 24). Embora o rodízio não tenha sido planejado com esse propósito estratégico, vislumbra-se a possibilidade ser utilizado como prática de aprendizagem. Na estratégia 9 (aperfeiçoar processos de trabalho no TCU) consta a medida “desenvolver e consolidar cultura de trabalhos de amplitude nacional ou sistêmicos” (TCU, 2003a, p.23), o que pode se constituir na realização da prática de projetos abrangentes. A tecnologia da informação poderá desempenhar papel preponderante no processo de aprendizagem, se atender às seguintes medidas (Ibid., p. 22): 1) “tornar disponível no Portal TCU informações e conhecimentos estruturados” (estratégia 7); 2) “aprimorar o fluxo de informações, por meio informatizado” (estratégia 7). Não há no Planejamento Estratégico indicadores de aprendizagem organizacional e pessoal. Poderão, no entanto, serem desenvolvidos na implementação da política de gestão de desempenho institucional e pessoal, conforme previsto nas medidas “a” e “b” da estratégia 8 (Aperfeiçoar o sistema de planejamento e gestão do TCU) (Ibid., p. 23). Por último, os resultados da aprendizagem deverão ser postos à disposição das pessoas, como se observa da leitura das seguintes medidas do planejamento estratégico (Ibid., p. 22-23): 1) “tornar disponível no Portal TCU informações e conhecimentos estruturados” (estratégia 7); 2) “aperfeiçoar e disseminar o uso de metodologia para a realização de auditorias de conformidade e financeira” (estratégia 9 – aperfeiçoar processos de trabalho no TCU); 3) “desenvolver procedimento padrão para auditorias de fraude e desvio” (estratégia 9). 106 3.3.2 Plano de Diretrizes do TCU para 2003 Ainda no campo das intenções, o Plano de Diretrizes para 2003 apresenta diversos pontos de convergência de práticas que facilitariam o processo de aprendizagem organizacional no TCU. Cita-se, a seguir, algumas das medidas previstas (TCU, 2003b, p. 3135): 1) “ampliar a integração entre as unidades participantes em trabalhos conjuntos de fiscalização”; 2) “desenvolver e consolidar cultura de trabalhos de amplitude nacional ou sistêmicos”; 3) “ampliar a utilização de tecnologia de informação nos trabalhos de fiscalização, incluindo o desenvolvimento de software de apoio a auditorias”; 4) “desenvolver metodologia de acompanhamento da gestão, seleção e planejamento de auditorias, por meio da utilização de datawarehouse que integre dados de sistemas da Administração Pública”; 5) “ampliar o uso de métodos quantitativos e qualitativos nos trabalhos de fiscalização”; 6) “unificar o plano de fiscalização, tornando-o flexível, definindo quantidades mínimas de auditorias e de HDF2 por unidade técnica, proporcionalmente à força de trabalho e resguardando percentual de realização de auditorias por iniciativa das unidades”; 7) “ampliar a política de treinamento em auditoria, (Anop3 e PDPA4)”; 2 HDF é a sigla que representa o indicador de homens-dia de fiscalização. Anop é a sigla que representa as auditorias de natureza operacional. 4 PDPA é a sigla que representa o Programa de Desenvolvimento Profissional em Auditoria. 3 107 8) “intensificar o processo de aprendizagem sobre metodologias de auditoria utilizadas por outros órgãos de controle e entidades de fiscalização superior, especialmente tribunais de contas”; 9) “implementar sistemática de monitoramento do cumprimento e do impacto das deliberações do TCU”; 10) “instituir e incentivar o uso do cadastro de especialistas’; 11) “aprimorar as metodologias de planejamento e execução de fiscalização, em especial as relativas a fiscalizações preventivas e as com foco em riscos e resultados”; 12) “instituir controle de qualidade dos trabalhos realizados”; 13) “aprimorar a gestão de informações no âmbito do TCU”; 14) “elaborar e implantar instrumentos de diagnóstico de necessidade de treinamento”; 15) “desenvolver ações de aprendizagem organizacional”; 16) “instituir modelo de gestão de pessoas por competências integrado às estratégias do TCU”; 17) “ampliar a participação de servidores em eventos externos de capacitação”; 18) “implementar, acompanhar e aperfeiçoar política de gestão de desempenho pessoal”; 19) “desenvolver cursos de educação a distância”; 20) “ampliar a utilização de mecanismos para compartilhamento de conhecimento”; e 21) “implantar sistemática de reconhecimento e divulgação dos trabalhos realizados”. 108 3.3.3 Planos Diretores das Unidades Básicas do TCU para 2003 Além das medidas previstas no plano estratégico de 2003 do TCU, aponta-se outras, detectadas nos planos estratégicos específicos de suas unidades, que complementam o entendimento da direção que se pretende tomar na questão da aprendizagem organizacional da instituição, tais como: 1) “disseminar e utilizar os padrões definidos de apoio ao planejamento, execução, elaboração de relatórios e controle de qualidade de auditorias de conformidade” (TCU, 2003e, p. 126); 2) “utilizar instruções padronizadas e simplificadas” (Ibid.); 3) “atender demandas específicas de treinamento e desenvolvimento” (TCU, 2003f, p. 88); 4) “mapear potenciais parceiros para intercâmbio sobre controle externo” (Ibid.); 5) “estabelecer parcerias para promoção de ações de treinamento e desenvolvimento” (Ibid.); 6) “estimular a divulgação interna de boas práticas de auditoria” (Ibid.); 7) “manter programa de bolsas para o estudo de idiomas” (Ibid.); 8) “gerir ações de diálogo público visando aprimorar ação educativa do Tribunal” (Ibid., p. 89); 9) “propor sistemática de identificação e disseminação de boas práticas de gestão pública” (Ibid., p. 90); e 10) “elaborar cartilha para constituição de processos de tomada de contas especial” (Ibid.). 109 3.3.4 Entrevistas com especialistas internos As entrevistas realizadas com cinco especialistas em aprendizagem pertencentes ao quadro da instituição estão consolidadas no demonstrativo constante do Anexo I. Nesse demonstrativo pode-se observar a intensidade com que tais práticas foram percebidas e as evidências relatadas pelos entrevistados. Como práticas mais freqüentes foram identificadas a divulgação de sumários executivos de trabalhos relevantes, o desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional e as ações formais de treinamento. Porém, essas ações, realizadas por meio de cursos, seminários, workshops e palestras, foram em atendimento a demandas pontuais e casuísticas, sem que houvesse o alinhamento com o direcionamento estratégico de modo a gerar ações integradas de aprendizagem organizacional. Da mesma forma, foram identificadas as seguintes práticas percebidas como pouco freqüentes ou raras no TCU: 1) aprendizagem por insight (oportunidades geradas pela organização para a produção de soluções inéditas): observada em alguns projetos e ações, tais como o Grupo Tendências do Controle da Gestão Pública5, Projeto de Cooperação do TCU-Reino Unido6, Gestão de Projetos7, Fiscobras8 e em cursos de pós-graduação; 5 O Grupo Tendências do Controle da Gestão Pública foi uma pesquisa realizada em 1999/2000 para possibilitar a reorientação estratégica do Tribunal frente aos novos desafios da gestão pública e a crescente ampliação das competências institucionais. 6 O Projeto de Cooperação do TCU-Reino Unido é um acordo de transferência de tecnologia em auditoria de programas financiado pelo Departamento de Cooperação Internacional do Reino Unido – DFID com o apoio técnico da KPMG Consultores. 7 Projeto de implantação da metodologia de gestão de projetos no TCU (PJGP). 8 Fiscobras é um sistema informatizado de fiscalização de obras públicas que permite a elaboração do relatório ao longo do desenvolvimento da auditoria, a fim de possibilitar a consolidação de informações a serem apresentadas ao Congresso Nacional. 110 2) desaprendizagem (reavaliação e renovação de competências na organização): raramente observada, trouxe como únicas evidências a dispensa de prestação de contas dos conselhos de profissões regulamentadas e a alteração na forma de exame das alegações de defesa; 3) aprendizagem de circuito simples (processo de melhoria de estratégia e processo de trabalho): trouxe como evidências as aprendizagens em cursos, desenvolvimento de projetos e encontros técnicos; 4) aprendizagem de circuito duplo (questionamento do que se aprende e da revisão de princípios e valores organizacionais): observada em casos isolados, principalmente nos desdobramentos da pesquisa Tendências do Controle da Gestão Pública; 5) benchmarking externo (procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados das organizações para identificar oportunidades de melhoria de desempenho): observado como uma movimentação tímida, citando-se como exemplos o intercâmbio com entidades de fiscalização superior de outros países; 6) comunidades de prática (grupos informais com interesses comuns): raramente observada, tendo como única evidência apontada uma lista de discussão em fiscalização de obras; 7) autodesenvolvimento (busca por diferentes formas de aprendizagem interna e externa ao ambiente de trabalho): apontou-se um movimento de pessoas em busca de especialização e oportunidades criadas por cursos de pós-graduação; 8) diálogos e reflexões coletivas (externalização dos modelos mentais com o objetivo de reavaliação de conceitos e crenças): apontada apenas em encontro 111 de dirigentes, reuniões de planejamento estratégico e algumas reuniões da Secretaria Geral de Controle Externo – Segecex; 9) simulação e experimentação (procura e teste de novos conhecimentos): foi reconhecida apenas em projetos piloto que precedem a implantação de novos métodos e técnicas; 10) encontros colaborativos (promoção de encontros formais para a resolução de problemas com foco em necessidades reais): evidenciam-se pelos encontros de Chefes do Serviço de Administração, dos dirigentes do TCU e da Segecex9, e em reuniões de planejamento de eventos de treinamento; 11) aprendizagem em equipe (formação de equipes interdisciplinares, autoorganizadas, autônomas e com foco em resolução de problemas): observada em projetos, auditorias integradas e grupos de trabalho; 12) benchmarking interno (procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados entre unidades da organização para identificar oportunidades de melhoria de desempenho): é visto como raro, apesar de terem sido citadas várias evidências, tais como, o primeiro encontro para discutir melhores práticas das unidades da Segecex (realizado em 2002), o Sistema de Diretórios do TCU – Sisdir10 (possibilita a organização e o compartilhamento dos documentos gerados), as auditorias de orientação centralizada11 e os encontros de dirigentes do TCU; 9 Reuniões mensais da Comissão Técnica de Controle Externo – CTCE, formada pelos Secretário-Geral de Controle Externo e os dirigentes das unidades da Segecex. 10 O Sisdir foi desenvolvido pela Secretaria Adjunta de Fiscalização – Adfis, baseado em soluções desenvolvidas na 5ª e 4ª Secretarias de Controle Externo (5ª Secex e 4ª Secex). 11 Modelo iniciado pela 6ª Secretaria de Controle Externo (6ª Secex) de auditorias de abrangência nacional, cuja coordenação e consolidação das informações obtidas pelas secretarias de controle externo nos estados é centralizada em uma secretaria de controle externo na sede. 112 13) educação à distância (processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporariamente): evidenciado em alguns casos, tais como os cursos de operação de sistemas computacionais gravados em CD-Rom (Sistema Fiscalis12 e Sisac13), treinamento do MS-Project pela Internet e videoconferências sobre auditorias de programas feita entre a Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas – Seprog e as secretarias de controle externo nos estados. 14) reconhecimento da inovação (reconhecimento pela participação do servidor em projetos inovadores): percebido apenas em casos isolados, tais como nas designações para funções comissionadas e nas indicações para viagens de estudos de pessoas que participam ativamente em projetos importantes e trabalhos de grande impacto na organização; 15) visão compartilhada (disseminação e internalização da missão, objetivos e metas institucionais): evidencia-se na identificação, de modo geral, dos técnicos da área-fim com a missão do Tribunal; 16) resultados de aprendizagem (incorporação dos resultados de aprendizagem aos processos, sistemas, estrutura e cultura): apresentou evidências como o Projeto Atena, Projeto Gestão de Projetos, mudança de estrutura provocada pela Pesquisa Tendências do Controle da Gestão Pública, Projeto de Cooperação TCU-Reino Unido, mudanças dos processos da Secretaria de Fiscalização de 12 13 Sistema de Planejamento e Programação de Fiscalizações. Sistema de Registro e Apreciação de Atos de Admissão e Concessão de Pessoal. 113 Pessoal – Sefip e a experiência da Quarta Compartilhada14 na 4ª Secretaria de Controle Externo; 17) projeção de cenários (exercício de projeção de cenários futuros): evidenciado apenas no planejamento estratégico; 18) foco no controle gerencial (controle da estratégia e não do comportamento): apresentou evidências apenas no controle do cumprimento das metas institucionais que definem o valor da gratificação de desempenho dos servidores; 19) contrato de expectativa (declaração clara e simples do que a organização oferece e espera das pessoas): não foi revelado nada que sustente esse aspecto, a não ser raras discussões isoladas da avaliação de desempenho; 20) cultura de aprendizagem (cultura aberta à reflexão sobre erros e lições aprendidas, favorável a reserva de tempo para a aprendizagem, que valoriza as relações informais, que estimula a reflexão sobre valores): apontou-se a autoavaliação de gestão, mas sem conseqüências visíveis, a especialização em métodos e técnicas de controle e a disponibilidade para participar de treinamentos; 21) redução dos mecanismos de defesa (conscientização da organização, daquilo que não sabe e da necessidade de mudança de estratégias, competências, práticas e processos de trabalho): apontou poucas evidências, como a Pesquisa Tendências do Controle da Gestão Pública, o Projeto de Cooperação TCUReino Unido e cursos de Pós-graduação em Controle Externo e Gestão do Conhecimento; 14 Encontros técnicos nos quais são compartilhadas as experiências em auditorias e trabalhos relevantes. 114 22) ambiente de confiança e segurança (ambiente percebido como seguro para expressão de idéias e sentimentos): não foi evidenciado como um traço organizacional e sim como de alguns substratos, citando-se como exemplo a iniciativa do Canal Aberto com a Presidência do TCU15; 23) estrutura adhocrática (mais flexível, favorável à mudança, onde a aprendizagem é proativa e transformadora): foi identificada apenas em casos isolados de desenvolvimento de projetos; 24) gerência educadora (gerência voltada para o desenvolvimento das pessoas, da aprendizagem e da inovação): foi considerado como casos raros e isolados; 25) transparência e coerência da gestão (clareza de critérios e coerência da ações no processo de gestão de pessoas): não foi apontada uma única evidência por quatro dos respondentes e para um apresentou como exemplo isolado critérios de seleção para pós-graduação e para eventos externos, mas que devem ser melhorados; e 26) apoio da tecnologia da informação à aprendizagem (utilização de ferramental de tecnologia da informação para viabilizar a formação de comunidades de prática virtuais, gerenciamento eletrônico de documentos, bases inteligentes de conhecimento, portal corporativo, árvore do conhecimento, workflow e cadastro eletrônico de especialistas): apresentou como evidência uma única lista de discussão com participação efetiva para ampliar o conhecimento, e algumas iniciativas ainda incipientes como videoconferência, cadastro de especialistas, palestras, discursos, tutoriais e sistema de atendimento da 15 Possibilidade criada em 2001 para que os servidores enviassem e-mails ao Presidente do TCU, os quais eram respondidos, inicialmente, pelo próprio Presidente. Atualmente esse mecanismo está disponível na Intranet TCU sob o nome “Fale com o Presidente”. 115 Secretaria da Tecnologia da Informação – Setec, dentre outras informações importantes, disponíveis na intranet do TCU. Finalmente, foram identificadas as seguintes práticas para as quais não foram apresentadas evidências objetivas que demonstrassem a sua existência na organização: 1) alinhamento estratégico (alinhamento dos processos e aprendizagem com os propósitos organizacionais); 2) reconhecimento (premiação à aprendizagem em equipe); 3) pertencimento (utilização de recursos de comunicação simbólica, como logomarcas e slogans, ou não - relação de nomes -, que promova a sensação de pertencimento a mesma organização por parte de todos os membros); 4) gerência do desconforto (adoção deliberada de estratégias ou ações que provoquem nas pessoas a necessidade de aprender); 5) gerência do processo de aprendizagem (ambiente de tolerância ao erro com foco em desenvolvimento); 6) participação da liderança na aprendizagem (participação comprometida da alta liderança no processo de aprendizagem como indutores e partícipes); 7) gestão de pessoas (modelo integrado com foco na aprendizagem e desenvolvimento das pessoas); 8) indicadores de aprendizagem individual (existência de indicadores e medidores de aprendizagem individual); 9) indicadores de aprendizagem organizacional (existência de indicadores e medidores de aprendizagem organizacional); 10) rodízio estratégico de servidores (alocação planejada de pessoas com o objetivo de promover a aprendizagem); e 11) gestão por processos (metodologia de gestão que facilite o aprendizado). 116 Como pode ser visto, a aprendizagem organizacional apresenta um vasto campo para ser explorado no TCU. Poucas são as práticas e sinais, descritos na literatura como indutoras do aprendizado, adotadas na instituição, em virtude de duas características apontadas pelos entrevistados, que impedem ou dificultam a aprendizagem, que são: 1) a cultura conservadora, entendida como aquela voltada para a tarefa, para visões e realizações a curto prazo, reativa, onde os problemas são tratados de forma compartimentada e a informação é vista como fonte de poder, que evidenciou-se como característica da organização; e 2) a estrutura burocrática, caracterizada pela ordem e manutenção do status quo, estrutura rígida e hierárquica, a aprendizagem é mais reativa e incremental do que proativa e transformacional, a qual foi identificada como a estrutura percebida no Tribunal. 3.3.5 Relatório de Avaliação de Gestão do TCU em 2002 Como resultado de reuniões de avaliação da gestão de 2002, realizadas pelas unidades da Secretaria do TCU, elaborou-se diagnóstico que apresentava, dentre muitos pontos fortes, as seguintes práticas de aprendizagem organizacional (TCU, 2003g): 1) reuniões mensais nas unidades técnicas; 2) realização de encontros técnico-gerenciais de dirigentes, da Segecex, de diretores e de chefes de serviços; 3) formação de grupos de trabalho que realizam benchmarking e propõem novas oportunidades para atuação; 4) participação em eventos externos (congressos, seminários, premiações); 117 5) uso de matrizes para elaboração dos planos de auditoria nas áreas de programas, pessoal etc.; 6) participação de servidores do TCU em eventos sobre a avaliação de programa de governo; 7) sistemática de divulgação e elaboração dos sumários executivos, com expansão para toda a área fim; 8) elaboração e distribuição do Informativo TCU e dos relatórios de atividades; 9) identificação de referenciais externos para comparação em função do destaque obtido pela entidade de fiscalização superior em ramos específicos do controle externo; 10) benchmark de práticas de gestão em processo de auditoria, como nos casos dos projetos com o Reino Unido e com o Canadá; 11) realização de encontro anual de dirigentes, com espaço para a avaliação dos resultados alcançados; 12) análise crítica de desempenho e de práticas de gestão realizada periodicamente (indicadores e auto-avaliação); 13) incorporação da metodologia de gestão de projetos; 14) prática de formação de grupos de trabalho; 15) existência de poucos níveis hierárquicos na estrutura organizacional, o que favorece a negociação de idéias inovadoras; 16) comunicação a todos os servidores, por e-mail, de fiscalizações iniciadas no período; 17) cursos de pós-graduação em auditoria de obras, controle externo e gestão do conhecimento; 18) realização de curso de gestão secretarial; 118 19) captação de conhecimentos de especialistas no âmbito das consultorias externas contratadas, como nos projetos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID16, do Projeto de Gestão de Projetos – PJGP e do Projeto de Cooperação TCU-Reino Unido; 20) treinamentos realizados no âmbito do Projeto de Desenvolvimento Profissional em Auditoria – PDPA e na área de auditoria de natureza operacional; 21) plano de ação para utilização sistemática de conhecimento acerca de decisões do TCU, desenvolvido no âmbito da Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas – Seprog e 4ª Secretaria de Controle Externo; 22) avaliação do Sistema Impact de treinamento (avaliação das reações aos treinamentos); 23) manuais de auditoria de natureza operacional e de fiscalização; 24) implantação de programas de treinamento em auditoria; 25) programa de formação para servidores para disseminar características dos processos de trabalho da área fim; 26) elaboração de sumários executivos referentes às auditorias de programas; 27) avaliação crítica do processo de análise e registro de atos de pessoal, que levou à implantação da análise automática de atos de admissão; 28) avaliação crítica do processo de exame de contas, que levou à sistemática do diferimento; 29) aperfeiçoamento das fiscalizações mediante a intensificação da auditoria de natureza operacional e da utilização de matrizes de risco, relevância e materialidade para definir foco de fiscalização; 16 Projeto de Modernização do TCU por meio de financiamento junto ao BID. 119 30) avaliação crítica do processo de auditoria de natureza operacional utilizada como referência os processos similares do Reino Unido e do General Account Office – GAO17; 31) utilização de resultados das pesquisas de satisfação de clientes do setor engenharia (anos de 2000 e 2001) para reformular sistemáticas de trabalho; e 32) estabelecimento de fórum de discussão e padronização de atividades dos serviços de administração, no âmbito da Segecex. Nessas reuniões de avaliação de gestão, apontou-se, também, oportunidades de melhorias no âmbito do Tribunal. Dentre esses pontos, destacam-se os seguintes, por conterem percepções de aprendizagem organizacional: 1) definir processos de seleção e obtenção de informações para tomada de decisão; 2) aperfeiçoar base de informações sobre as unidades jurisdicionadas; 3) aperfeiçoar a coleta, o registro, a integração e o acesso a informações gerenciais; 4) aprimorar a sistemática de armazenagem, compartilhamento e disponibilização de conhecimento nas unidades técnicas; 5) assegurar uniformidade na divulgação de informações no âmbito interno, pelas unidades técnicas e adjuntas da Segecex; 6) propor o estabelecimento de indicadores de gestão e de desempenho, por meio de benchmarking no âmbito das entidades de fiscalização superiores e dos tribunais de contas dos estados e municípios, para avaliar os resultados do TCU; 17 Viagens de estudos realizados pelo TCU junto a entidade de fiscalização superior dos Estados Unidos da América. 120 7) ampliar a utilização, nas ações de controle, das informações existentes em bases de dados de órgãos públicos; 8) aperfeiçoar o sistema de avaliação das ações de aprendizagem (Sistema Impact); 9) proporcionar oportunidades de realização de cursos de especialização/aperfeiçoamento, principalmente nas unidades nos estados; 10) implantar metodologia de educação à distância; 11) dar preferência, na realização de acordos de cooperação, a entidades de fiscalização superior que adotem o modelo de corte de contas, para identificação de novas práticas passíveis de implementação no TCU; 12) estruturar banco de dados sobre assuntos técnicos; 13) ampliar a utilização de sumários executivos; 14) racionalizar a análise dos processos; e 15) promover encontros e/ou cursos de capacitação a terceirizados que trabalham no TCU. 3.4 PROJETO ATENA O Projeto Atena se propõe a desenvolver um modelo de gestão do desenvolvimento de pessoas por competências, capaz de estimular o autodesenvolvimento dos servidores e de propiciar o alinhamento das ações de seleção, treinamento, desenvolvimento, alocação e desempenho profissional às estratégias institucionais (TCU, 2003h). Atualmente, a maior parte dos cursos oferecidos no TCU é desenhada a partir de demandas dos clientes e não de necessidades decorrentes diretamente das estratégias. O percentual de eventos de treinamento realizados sob demanda no ano de 2002 foi de 79,6% 121 (144 do total de 181 eventos), quando o esperado seria que a menor parte dos eventos fosse feita sob demanda e a maior parte derivasse diretamente das estratégias do TCU. O projeto espera aumentar a eficácia das ações de treinamento por meio da definição das competências requeridas pelos papéis desempenhados pelos servidores do TCU, da estruturação de programas de treinamento com base nas competências definidas e da preparação dos gerentes para a gestão da performance de sua equipe. Entende-se por competência o conjunto de conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes necessárias à realização exitosa de determinado trabalho. O desenvolvimento de determinada competência por uma pessoa guia-se por uma trilha de aprendizagem, que é um conjunto ordenado de recursos de aprendizagem planejado para essa finalidade. Por recursos de aprendizagem entende-se qualquer recurso utilizado para promover a aprendizagem, tais como cursos, seminários, estágios, livros, vídeos e listas de discussão, entre outros. Atualmente os servidores não dispõem de referencial para direcionar seu desenvolvimento profissional. Não existe descrição de quais conhecimentos e habilidades são necessários para desempenhar cada papel dentro da organização. Além desse referencial, é fundamental que exista motivação das pessoas para cuidar de seu autodesenvolvimento. Nesse sentido, o projeto pretende introduzir sistema de reconhecimento que estimule o desenvolvimento das pessoas. Como produtos do projeto espera-se obter: 1) glossário de competências organizacionais e pessoais; 2) documento de descrição das trilhas de aprendizagem; 3) recursos de aprendizagem prontos para uso; 4) manual descritivo do modelo e catálogo de competências, 5) trilhas e recursos de aprendizagem disponíveis; 6) instrumento para avaliação de lacunas de competências; 122 7) especificação técnica para licitação da solução de TI. Em reunião com dirigentes das unidades do Tribunal, realizada em setembro de 2003, foram homologadas as competências organizacionais que irão nortear as ações de educação do TCU. São essas as Competências organizacionais do Tribunal, consideradas como o conjunto das melhores práticas para o cumprimento da missão e da construção da visão de futuro do TCU (Ibid.): 1) “Orientação Estratégica: capacidade de interagir sistematicamente com o ambiente e identificar mudanças, riscos, oportunidades, tendências e outros sinais, bem como de definir, priorizar e comunicar estratégias que favoreçam a criação de valor para todas as partes interessadas; 2) Gestão de Relacionamento: capacidade de dialogar e interagir com agentes internos e externos, como também de influenciá-los, visando à execução das atribuições institucionais e ao fortalecimento da imagem do TCU; 3) Gestão de Pessoas: capacidade de desenvolver políticas e gerenciar práticas que permitam conciliar as expectativas e necessidades dos servidores com as do TCU, de modo a gerar satisfação pessoal e melhor desempenho profissional; 4) Tecnologia em Controle Externo: capacidade de captar, desenvolver e aplicar procedimentos e conhecimentos que propiciem a efetividade do controle; 5) Domínio da Informação: capacidade de reconhecer, captar, tratar e tornar disponíveis, interna e externamente, informações relevantes para o acompanhamento da gestão pública e o suporte à tomada de decisão; e 6) Gestão de Processos de Trabalho: capacidade de sistematizar e gerenciar processos de trabalho de modo a obter o melhor desempenho do TCU”. 123 3.5 RESUMO NO TCU DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL A seguir apresentam-se tabelas com resumo da situação das práticas no TCU, divididas pelos pilares sustentadores da aprendizagem organizacional. Meio de Levantamento Análise Documental dos Planos Entrevistas Análise Documental do Relatório de Avaliação de Gestão do exercício de 2002 (pontos fortes) Tabela 12 - integração entre unidades durante as fiscalizações cultura de fiscalizações sistêmicas ou de amplitude nacional benchmarking externo (nacional e internacional) política de gestão de desempenho pessoal reconhecimento e divulgação dos trabalhos realizados mapeamento de potenciais parceiros para intercâmbio parcerias em ações de treinamento e desenvolvimento disseminação de boas práticas de gestão pública Pouco freqüentes ou raras: Desaprendizagem aprendizagem de circuito duplo benchmarking externo aprendizagem em equipe reconhecimento da inovação projeção de cenários contrato de expectativa redução dos mecanismos de defesa estrutura adhocrática. Inexistentes: Reconhecimento pertencimento participação da liderança na aprendizagem gestão de pessoas rodízio estratégico de servidores benchmarking externo estrutura organizacional pouca verticalizada realização de cursos de pós-graduação contratação de consultorias externas programa de formação de novos servidores avaliação crítica de processos Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Estratégia Meio de Levantamento Análise Documental dos Planos Entrevistas Análise Documental do Relatório de Avaliação de Gestão do exercício de 2002 (pontos fortes) Tabela 13 - Práticas e Sinais focados na ESTRATÉGIA Práticas e Sinais focados na CULTURA disseminar padrões de qualidade em auditorias de conformidade estimular a divulgação interna de boas práticas de auditoria Pouco freqüentes ou raras: comunidades de prática cultura de aprendizagem ambiente de confiança e segurança incorporação da metodologia de gestão de projetos Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Cultura 124 Meio de Levantamento Análise Documental dos Planos Entrevistas Análise Documental do Relatório de Avaliação de Gestão do exercício de 2002 (apontadas como pontos fortes) Tabela 14 - Práticas e Sinais focados na GESTÃO aprimoramento da política de incremento da qualidade das fiscalizações (treinamento, padrões, controle de qualidade, divulgação de boas práticas) unificação do plano de fiscalização monitoramento do cumprimento e do impacto das deliberações aprimoramento da gestão de informações implantação de diagnóstico de necessidade de treinamento desenvolvimento de ações de aprendizagem organizacional desenvolvimento de cursos à distância ampliação do compartilhamento de conhecimento utilização de instruções padronizadas e simplificadas treinamento e desenvolvimento para necessidades específicas manutenção de programa de bolsas para o estudo de idiomas gerência de ações de relacionamento com clientes preferenciais edição de cartilha de constituição de tomada de contas especial Freqüentes: desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional ações formais de treinamento Pouco freqüentes ou raras: aprendizagem por insight autodesenvolvimento diálogos e reflexões coletivas simulação e experimentação encontros colaborativos aprendizagem de circuito simples benchmarking interno visão compartilhada resultados de aprendizagem foco no controle gerencial gerência educadora transparência e coerência da gestão Inexistentes: alinhamento estratégico gerência do desconforto gerência do processo de aprendizagem indicadores de aprendizagem individual indicadores de aprendizagem organizacional gestão por processos reuniões mensais e encontros técnico-gerenciais divulgação de sumários executivos edição do Informativo TCU e dos relatórios de atividades análise de práticas de gestão incorporação da metodologia de gestão de projetos formação de grupos de trabalho comunicação interna, por e-mail, das fiscalizações iniciadas realização de programa de formação de novos servidores, de cursos de pósgraduação e de treinamento em auditoria avaliação de treinamentos com o uso do Sistema Impact aperfeiçoamento das fiscalizações pelo uso de matrizes de planejamento e de risco, relevância e materialidade, bem como de manuais de auditoria e pela intensificação das auditorias de natureza operacional avaliação crítica do processo de auditoria de natureza operacional utilização de pesquisas de satisfação de servidores para reformular sistemáticas de trabalho estabelecimento de padronização de atividades administrativas Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Gestão 125 Meio de Levantamento Análise Documental dos Planos Entrevistas Tabela 15 - Práticas e Sinais focados em TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (TI) ampliar a utilização de TI nas fiscalizações desenvolver metodologia de acompanhamento da gestão, seleção e planejamento de auditorias, por meio da utilização de datawarehouse instituir e incentivar o uso do cadastro de especialistas aprimorar a gestão de informações Pouco freqüentes ou raras: comunidade virtual de prática (implementada na forma de lista de discussão) business intelligence (implementada na forma de datawarehousing interno) educação à distância (implementada na forma de vídeos de treinamento) Inexistentes: gerenciamento eletrônico de documentos portal do conhecimento corporativo árvore do conhecimento workflow e groupware cadastro de especialistas Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - TI 126 4 COMO A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL PODE OTIMIZAR RESULTADOS NO TCU No presente capítulo, analisar-se-á, por pilar sustentador das organizações de aprendizagem, como a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados do TCU. Para tanto, resgata-se as práticas e sinais indutores de aprendizagem selecionados na revisão de literatura do Capítulo 1 e as boas práticas de aprendizagem de algumas organizações de sucesso, descritas no Capítulo 2. Nessa análise, confronta-se o referencial teórico com os resultados das entrevistas realizadas junto a especialistas internos e da pesquisa documental, descritos no Capítulo 3, a fim de identificar áreas com maior “gap” e que mereçam maior atenção no TCU. Finalmente, recomenda-se ações prioritárias e outras providências relacionadas à aprendizagem organizacional no TCU, para auxiliar a organização no cumprimento eficaz e eficiente de sua missão e no alcance efetivo da sua visão de futuro. 4.1 ESTRATÉGIA A estratégia influencia a aprendizagem ao fornecer contexto para percepção e interpretação do ambiente (reflexão estratégica), bem como por sistematizar para as pessoas uma visão de futuro, um conjunto de valores. O papel da liderança de promover uma visão compartilhada é decisivo para elevar as aspirações pessoais, estimulando novas formas de agir e de pensar, bem como a exposição de idéias, a flexibilização de pontos de vista, o risco e a experimentação. Observa-se, pelas intenções descritas nos planos do TCU e no relato de pontos fortes e oportunidades de melhoria na gestão, uma preocupação predominante em buscar referenciais externos de comparação, internalizar métodos e técnicas empregados por 127 organizações de controle em países desenvolvidos, e em capacitar os técnicos da casa. A ausência ou pouca freqüência de sinais de aprendizagem voltados à inovação e mudança, com base na reflexão interna, considerando as variáveis ambientais, reforça esse pensamento. Em contrapartida, há pouca ênfase na estratégia do TCU para aproveitar o conhecimento existente na organização, seja o conhecimento tácito inerente aos profissionais da casa, seja no capital estrutural já produzido por esses profissionais e que se encontra disperso e enclausurado na departamentalização organizacional. Além dessas possibilidades, existe o caminho mais rápido para geração de novos conhecimentos, formado pela reflexão coletiva, desaprendizagem de competências ultrapassadas e identificação das competências necessárias, tudo isso com o capital humano do TCU. Outro flanco pouco aproveitado é o conhecimento inerente ao relacionamento entre o TCU e outros órgãos públicos e entidades privadas, principalmente aqueles diretamente interessados no controle externo. É talvez a competência organizacional com maior “gap” e merecedora de políticas e ações específicas com objetivo de ampliar o capital de relacionamento. O diagnóstico efetuado no âmbito do Projeto Atena, onde foi identificada a competência “Gestão do Relacionamento”, reforça a necessidade dessa atenção. Observa-se, também, que as práticas não evidenciadas no TCU (reconhecimento, pertencimento, participação da liderança na aprendizagem, gestão de pessoas e rodízio estratégico de servidores) são justamente práticas que permitiram às instituições indicadas no Capítulo 2 alcançarem o estágio de organizações de aprendizagem. Naqueles casos, o sucesso exigiu patrocínio efetivo da liderança na definição de política voltada para inovação, mudança transformadora, geração de conhecimento, desenvolvimento integrado de pessoas, visão compartilhada e de aprendizagem em equipe. Com base nos planos do TCU e na avaliação da gestão de 2002, que já sinalizam a preocupação com aprendizagem organizacional, observa-se falta de sintonia entre intenções e 128 resultados, provavelmente em função das ações ou projetos previstos estarem focando muito mais a ação em detrimento da estratégia. São ações isoladas que em muitos casos não encontram alinhamento com o referencial estratégico. Verifica-se a preocupação em prever ações mobilizadoras que não conseguem promover a sinergia suficiente na organização. Tal fato se deve, provavelmente, a ausência de visão sistêmica e compartilhada da estratégia mais adequada para ao TCU. O foco na ação impede que se sistematize para as pessoas uma visão de futuro coletiva. O Plano Estratégico do TCU não permite que seus servidores se situem adequadamente, e enxerguem um perfeito entendimento do que a organização espera deles. O foco da estratégia na ação, no que se faz atualmente, impede o desenvolvimento de ações estruturantes, focadas no que se deveria fazer e na criação das condições para que as pessoas façam o que deve ser feito. A amplitude dos objetivos e estratégias, a maioria provenientes de demandas departamentais ou visões setoriais da melhor estratégia, contribui para a dificuldade na comunicação e no desdobramento das diretrizes e metas. Como nem todas as ações são alcançadas, resta aos planejadores a sua repetição no próximo exercício, muitas vezes mudando apenas a sua redação. A leitura dos planos revela ora um foco estratégico, ora um foco operacional, muito ligado aos problemas de produtividade e de efetividade da atuação do TCU. As práticas de aprendizagem pouco freqüentes pode ser reflexos da ausência de políticas que acolham institucionalmente a aprendizagem como uma estratégia patrocinada e praticada pela liderança da casa e entendida e reconhecida pelos servidores. Toda organização desenvolve práticas de aprendizagem, no caso do TCU não é diferente, basta ver a lista de práticas reconhecidas nos documentos da casa e nas respostas dos especialistas consultados (Capítulo 3). O que se pode dizer é que são práticas isoladas, que podem não produzir 129 resultado institucional porque não encontram respaldo em políticas e estratégias corporativas declaradas e entendidas por todos. Pode-se observar, pelo resultado do levantamento, que o terreno é fértil para a aprendizagem de circuito duplo, para o reconhecimento pela inovação e para a aprendizagem em equipe. A experiência recente da gestão de projetos no TCU e do estabelecimento de metodologias de fiscalização de programas, de obras e de desestatização tem demonstrado isso. Dois exemplos mencionados como pontos fortes na avaliação de gestão ilustram esse pensamento: a avaliação crítica do processo de exame de contas, que levou à sistemática do diferimento, e a avaliação crítica do processo de análise e registro de atos de pessoal, que levou à implantação da análise automática de atos de admissão. Afinal, o principal propósito dos planos é formular e comunicar a estratégia, a fim de desenvolver o pensamento estratégico que consiga enfrentar a complexidade e a incerteza ambiental. 4.2 CULTURA Os conceitos de aprendizagem e cultura são considerados como indissociáveis, pois as pessoas aprendem dentro de um contexto cultural que pode mudar à medida que a aprendizagem vai se consolidando e colaborando para a mudança de percepções e, ao longo do tempo, provocando mudanças mais profundas da cultura organizacional. A cultura é produto do aprendizado em grupo e se desenvolve no compartilhamento do conjunto de crenças, valores, símbolos e normas. A integração dos indivíduos dentro de uma cultura pautada por objetivos comuns facilita o aprendizado e é o maior desafio em direção ao futuro de uma organização. Os padrões culturais dominantes de uma organização podem dificultar os processos de aprendizagem e de mudança (SCHEIN, 1993). Com relação ao pilar da cultura, o Plano de Diretrizes do TCU não apresentou, de forma explícita, medidas ou ações que trabalhassem os aspectos culturais. Somente nos 130 Planos Diretores das Unidades Básicas do TCU é que foram apontadas ações no sentido de disseminar conhecimentos e boas práticas de gestão. As entrevistas realizadas identificaram que ainda não há uma cultura de aprendizagem internalizada no TCU, caracterizada por relações informais, tempo para aprender, abertura para as pessoas compartilharem erros passados e lições aprendidas, valorização da atitude na seleção de pessoal e discussão de valores, como aspecto relevante para a organização. As práticas de aprendizagem focadas na cultura, apontadas como pouco freqüentes no TCU, foram as comunidades de prática, ainda muito incipientes, e o ambiente de confiança e segurança, localizado em determinados grupos. Essas entrevistas, no entanto, indicaram como forte característica do TCU a cultura conservadora, ou seja, uma cultura voltada para a tarefa, para visões e realizações de curto prazo e ações reativas, onde os problemas são tratados de maneira compartimentalizada e a informação é vista como fonte de poder a ser preservada. Por outro lado, na visão dos gestores do TCU, consubstanciada no Relatório de Avaliação de Gestão de 2002, o ponto forte da organização, no pilar cultural, foi a incorporação da metodologia de gestão de projetos. Nesse mesmo relatório, apontou-se como oportunidade de melhoria a realização de cursos de especialização e aperfeiçoamento, principalmente nas unidades do TCU nos estados. Estabelecer valores e comportamentos que, mais provavelmente, irão contribuir para a melhoria do desempenho do TCU, é uma forma explícita de trabalhar a cultura organizacional. Imagine se fôssemos capazes de desenhar uma cultura corporativa, o que faríamos? Agiríamos para determinar os valores que iriam criar condições favoráveis para motivação das pessoas a terem um desempenho que se adequasse a padrões estabelecidos; definiríamos quais valores seriam trabalhados e como esses se relacionariam às metas da instituição; identificaríamos valores que pudessem ser estimulantes, positivos e orientados para clientes; dedicaríamos o esforço necessário ao processo de decisão, sobre os padrões de 131 desempenho que os gerentes deveriam atingir; traduziríamos os valores desejáveis em comportamentos, especialmente no comportamento dos gerentes; e avaliaríamos se os valores importantes para o TCU estão sendo considerados em todas as práticas organizacionais. Cabe destacar que a cultura corporativa é fundamental para inibir ou encorajar o desempenho do TCU. É por meio das práticas de aprendizagem dos demais pilares (Estratégia, Gestão e TI) que a cultura pode ser alinhada ou gerenciada. Nesse sentido, é importante verificar se as normas e diretrizes institucionais não reforçam traços da cultura conservadora. 4.3 GESTÃO Gestão é o conjunto de funções gerenciais que determinam, implementam e acompanham as políticas, objetivos, alocação de recursos e outras atividades sistemáticas necessárias ao cumprimento da missão de uma organização. Por sua vez, os instrumentos de gestão apoiam a relação contínua entre as pessoas e as empresas e garantem o nível de informação das pessoas em relação à organização, e vice-versa. Observa-se nos documentos do TCU, analisados neste trabalho, a ausência de uma política de gestão institucional que contemple de forma integrada todas as dimensões (processos, pessoas, estrutura, tecnologias, etc.) a serem gerenciadas, o que provoca esforços em várias frentes, mas sem a criação de sinergia. Ao contrário, leva à perda de energia por parte das pessoas, dispersão de ações, diminuição da motivação para o trabalho e para participar do processo de aprendizagem organizacional, além do estresse e de afastamentos por doenças. O processo de gestão de pessoas deve oferecer ao gestor conceitos, modelo de ação e ferramentas capazes de estimular, manter e desenvolver competências necessárias ao bom 132 êxito do negócio da organização, criando oportunidades de aprendizagem em todos os momentos da dinâmica organizacional. Por sua vez, os arranjos organizacionais (estruturas, sistemas, procedimentos, normas, políticas) orientam e motivam comportamentos, exercendo assim influência sobre o aprendizado. No TCU, a ausência de um modelo integrado de gestão de pessoas compromete o processo de desenvolvimento dos servidores, entendido como “a capacidade para assumir e executar atribuições e responsabilidades de maior complexidade” (DUTRA, 2002, p. 101), pois sem o suporte organizacional para a aprendizagem, torna-se difícil transformar os conhecimentos, habilidades e atitudes em ações. Sem a adoção de sistemas de avaliação de desempenho e de recompensas que reconheça e estimule o aprendizado, de alocação que considere a competência desenvolvida, de remuneração que considere o desenvolvimento é muito difícil promover melhorias e mudanças organizacionais que só acontecem com pessoas comprometidas e com competências desenvolvidas. A prática de aprendizagem por circuito duplo, em especial, se praticada pelos dirigentes do TCU, pode facilitar o exercício permanente de reflexão sobre os princípios e estratégias que nortearão esta organização, de forma a corresponder efetivamente às demandas das partes interessadas. Além disso, essa prática de aprendizagem deve gerar ambiente mais favorável ao entendimento e compartilhamento da visão institucional. Outro aspecto observado é o maior destaque que é dado aos eventos de planejamento estratégico em detrimento à reflexão sobre o seu conteúdo, o que é demonstrado pela apresentação repetitiva de algumas de suas proposições, com medidas e ações que se alternam entre estratégia e ação, entre tática e operacional. Apesar das várias intenções declaradas no Relatório de Avaliação de Gestão a respeito de ações de aprendizagem, como reuniões mensais nas unidades técnicas; realização de encontros técnico-gerenciais de dirigentes; realização de encontro anual de dirigentes, com espaço para a avaliação dos resultados 133 alcançados; poucas foram as práticas de aprendizagem identificadas pelos entrevistados em relação ao pilar de gestão. Ou seja, essas oportunidades ainda não estão sendo exploradas de forma a gerar novos conhecimentos e a mudar comportamentos. O processo de aprendizagem organizacional do Tribunal ainda está focado em cursos, ou seja, ações formais de aprendizagem e não na exploração de qualquer prática de trabalho em que possa haver algum tipo de reflexão que promova a melhoria ou a transformação dos processos de trabalho. A ausência de alinhamento do processo de aprendizagem com o direcionamento estratégico e ausência da gerência do processo de aprendizagem organizacional, evidenciada nas entrevistas, parece estar sendo suscitada de forma adequada pelo Projeto Atena (citado no Capítulo 3). 4.4 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO A Tecnologia da Informação (TI) desempenha papel de infra-estrutura para a gestão do conhecimento, que, por sua vez, envolve aspectos humanos e gerenciais. A TI isoladamente não possibilitará o compartilhamento do conhecimento e não criará uma organização de aprendizado contínuo. Muitas organizações utilizam ferramentas computacionais, como as de mapeamento e armazenamento de conhecimento, comunidades de prática, entre outras, para suportar as funcionalidades de sua estrutura de gestão. No contexto de uma organização que aprende, a TI deve atuar como facilitadora do processo de aprendizagem, empregando, em qualquer solução de tecnologia disponibilizada, recursos para captação, codificação ou disseminação de conhecimentos, inerentes ao trabalho dos analistas do TCU. O correio eletrônico, por exemplo, tornou-se ferramenta fundamental nos últimos anos e é grande disseminadora de informações que podem ampliar o conhecimento. Mas há outras necessidades, como sistemas de informações gerenciais, 134 comunidades virtuais de práticas, bases inteligentes de conhecimento, infra-estrutura para educação à distância, gerenciamento da disponibilidade e confiabilidade da infra-estrutura de rede. É impossível construir uma organização que aprende sem recursos tecnológicos, necessários para alcançar a todos, em qualquer lugar, ao mesmo tempo, em quantidade e diversidade necessárias. Apoio fundamental às demais dimensões sustentadoras da aprendizagem, é a posição que ocupa no modelo de pilares. O que se observa da análise dos dados obtidos no diagnóstico da aprendizagem organizacional no TCU é a ausência de políticas e estratégias bem definidas para os três estágios nos quais a TI oferece suporte à aprendizagem na organização: a aquisição, o compartilhamento e o uso do conhecimento. Os investimentos em TI têm a tendência de serem incrementais e procedimentais, ou seja, moldados pela demanda dos processos de trabalho. O caráter das ações de TI no TCU, normalmente reativas, originam-se nas diretrizes desconectadas de políticas claras de valorização do conhecimento como recurso estratégico. A tecnologia da informação no TCU mostra-se em processo de evolução de sistemas procedimentais para a integração de dados e a geração de informações gerenciais, que dêem apoio à gestão e à reflexão estratégica. As atividades do TCU sinalizam a necessidade de criação urgente de bases de conhecimento, mapeando as competências organizacionais e profissionais inerentes aos processos de trabalho. Aliado a isso, deve-se criar o ambiente de portal para troca e contínua disseminação dos conhecimentos produzidos. No flanco externo não é diferente, preocupando o TCU a necessidade do domínio das informações que levarão ao conhecimento sobre como a Administração Pública está estruturada, em termos dos seus fluxos de informação e decisão, bem como dos resultados que vem produzindo. Todo esse aparato informacional visa alinhar os métodos e técnicas de controle aos pontos de risco que demandam maior atenção do TCU. 135 CONCLUSÃO A presente dissertação investigou como a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados do TCU, a partir dos sinais de aprendizagem identificados pelos principais autores do assunto, bem como de boas práticas em organizações que obtiveram sucesso após a adoção da aprendizagem organizacional. De acordo com o referencial teórico estudado, a aprendizagem é um processo de mudança, resultante de prática ou experiência anterior, que envolve fases de aquisição, retenção, transferência e generalização. Para uma organização, a aprendizagem pode ser entendida como o exercício da inteligência coletiva para responder ao ambiente interno e externo; é um processo contínuo de detectar e corrigir erros, de reflexão sobre práticas e posterior ação corretiva. Desenvolver estratégias para gerenciar o conhecimento ou condições para fortalecer a aprendizagem organizacional, com ênfase na capacidade de aprender, adaptar-se e mudar, define a organização que aprende. No contexto deste trabalho, adota-se como definição de aprendizagem organizacional o processo de criação, compartilhamento e utilização de conhecimento pelo qual são desenvolvidas as competências organizacionais, visando expandir a capacidade de gerar resultados relevantes para a organização; e de organização que aprende (organização de aprendizagem) o ambiente onde as estratégias, a cultura, o modelo de gestão e as tecnologias da informação propiciam a aprendizagem organizacional. Entende-se que o ambiente de aprendizagem é determinado pelo grau de alinhamento e coerência de esforços organizacionais, suportados nos pilares da estratégia, da cultura, da gestão e da tecnologia da informação. O levantamento realizado junto ao TCU permitiu constatar que, de maneira geral, há sinais incipientes de aprendizagem organizacional, sinais esses, isolados, de iniciativa de alguns setores ou pessoas. Essa constatação é reflexo da ausência de políticas que acolham 136 institucionalmente a aprendizagem como uma estratégia patrocinada e praticada pela liderança da casa, entendida e reconhecida pelos servidores. Quanto ao aspecto da gestão, o diagnóstico do TCU identificou que as dimensões processos, pessoas, estruturas e tecnologias não são tratadas de forma integrada. Essa pode ser a principal causa de perda de energia, dispersão de ações, diminuição da motivação para o trabalho e para participar do processo de aprendizagem. Essa baixa sinergia é agravada pela ausência de políticas e diretrizes estratégicas que valorizem o conhecimento como principal recurso da organização. No que se refere a cultura organizacional, foram evidenciados aspectos dificultadores do desenvolvimento de ambiente de aprendizagem, tais como: falta de tempo para aprender; abertura para as pessoas compartilharem erros passados e lições aprendidas; baixo estímulo a relações informais; ausência de discussão de valores; cultura voltada para tarefa, visões e realizações de curto prazo, com predominância de ações reativas; ausência de visão sistêmica; e informação vista como fonte de poder. Esses aspectos devem ser trabalhados para desobstruir o caminho para a evolução da cultura de aprendizagem. No que tange à Tecnologia da Informação (TI) não há alinhamento entre os investimentos de TI e as poucas iniciativas de aquisição, compartilhamento e uso do conhecimento vital para o sucesso da organização. Tal fato se deve, em parte, a ausência de políticas de gestão do conhecimento. A TI desempenha papel de infra-estrutura para a gestão do conhecimento, ou seja, a adoção de ferramentas e soluções de TI não criará, por si só, uma organização de aprendizado. Para que o TCU seja uma organização de aprendizagem, como mostram as intenções contidas nos documentos institucionais, é preciso estimular o compromisso coletivo, de forma a reorientar o pensamento e o comportamento. Ao permitir a autonomia individual de todos os membros da organização, o TCU estará ampliando a chance de introduzir oportunidades 137 inesperadas e dos indivíduos se automotivarem para criar novos conhecimentos. Uma condição essencial para isso é promover a interação entre a organização e o ambiente externo, ter uma atitude aberta diante dos sinais ambientais, para explorar a ambigüidade, a redundância ou os ruídos desses sinais para melhorar o seu próprio sistema de conhecimento. Questionar a validade de nossas atitudes, em relação ao mundo, estimula a criação do conhecimento organizacional (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). Além de aspectos organizacionais, fatores pessoais que facilitam o processo de aprendizagem organizacional, devem ser trabalhados no TCU, tais como autoconfiança (acreditar que é capaz de aprender), motivação (interesse, esforço, persistência em direção a aprender), flexibilidade (capacidade de lidar com novos conhecimentos ou novas experiências) e comprometimento organizacional (identificação da pessoa com os valores e objetivos da organização). O comprometimento de toda a alta administração também é considerado como um dos fatores determinantes do processo de aprendizagem organizacional, na medida em que as ações dessa influenciam muito as crenças e comportamentos dos membros da organização (DAVENPORT, 2001). Mudanças evolutivas pressupõem a prática da desaprendizagem de forma que haja rompimento com pressupostos obsoletos que já não ajudam mais a organização a ter sucesso em suas empreitadas, mas a atrapalham (SENGE, 2000). É importante que o TCU avalie o seu alinhamento cultural com as necessidades e expectativas da realidade social externa. É fundamental, no entanto, conhecer e trabalhar os fatores dificultadores da aprendizagem, pois retiradas essas barreiras, o processo de aprendizagem organizacional tende a fluir e tornar-se irreversível. No caso do TCU, faz-se necessário mitigar os seguintes fatores dificultadores da aprendizagem organizacional, conforme diagnóstico neste trabalho: 1) tendência natural de preservação do status quo; 138 2) fragilidade na reflexão de aspectos mais profundos das práticas organizacionais; 3) atenção elevada em pequenos problemas locais do dia-a-dia, ao invés dos problemas mais globais e sistêmicos; 4) falta de estímulo às pessoas em solicitar ajuda, admitir erros e procurar feedbacks; 5) baixo compartilhamento de conhecimentos, pela falta de ambiente de confiança e de segurança; 6) prática de recompensas individuais, que reforçam a idéia de que o poder está em ter o conhecimento apenas para si. Considerando o acima exposto, conclui-se que a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados do TCU se gerenciados os pilares de estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação com foco na aprendizagem, para minimizar as deficiências citadas. Para que a aprendizagem organizacional possa ser implantada no TCU, recomenda-se priorizar os seguintes passos: 1) definir organização de aprendizagem como um dos seus objetivos estratégicos; 2) instituir políticas e diretrizes corporativas que mencionem explicitamente a importância da aprendizagem organizacional; 3) promover a internalização, junto a todos os servidores, dos princípios, conceitos e práticas relativos a organização de aprendizagem; 4) identificar impedimentos e obstáculos ao ciclo de aprendizagem em cada setor da organização; 5) elaborar projetos institucionais, concretos e criativos, que coloquem o TCU no caminho das organizações que aprendem. 139 Todavia, ressalta-se que os projetos de implantação da aprendizagem organizacional no TCU devem ser orientados pelas seguintes diretrizes: 1) criar a identidade de longo prazo para o TCU, por meio do estabelecimento de objetivos comuns, entendidos por todos os servidores; 2) institucionalizar oportunidades para diálogo e reflexão construtiva sobre resultados e desempenho, questionando princípios e valores; 3) resolver problemas de forma coletiva a partir de suas próprias experiências, com enfoque global e interdisciplinar, mantendo prioridades em mente; 4) valorizar o trabalho em equipe como forma de produzir e compartilhar conhecimentos; 5) desenvolver as competências profissionais, alinhadas com as estratégias organizacionais, por meio de diferentes ações de aprendizagem; 6) estimular ações de aprendizagem que privilegiem a experiência, a observação, a imitação e a prática do aprendiz; 7) desenvolver indicadores de aprendizagem organizacional, para que o progresso desse processo seja avaliado e a aprendizagem gerenciada. Futuros estudos podem utilizar esta dissertação como base, especialmente aqueles que desejarem investigar indicadores de aprendizagem organizacional por pilar estudado nesta monografia (estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação); examinar práticas mais eficazes para transferência de conhecimento dos indivíduos à organização; avaliar a relação entre inovação e aprendizagem organizacional; estudar modelos de gestão com foco em aprendizagem; pesquisar soluções de tecnologia da informação que auxiliem na aquisição, compartilhamento e uso do conhecimento; dentre outros temas. 140 REFERÊNCIAS ARGYRIS, Chris. Enfrentando defesas empresariais: facilitando a aprendizagem organizacional. Rio de Janeiro: Campus, 1992. ARGYRIS, Chris; SCHÖN, Donald. Organizational Learning, II. Theory, Methods and Practice. Addison Wesley: Reading, 1996. ______. Organizational Learning: A Theory of Action Perspective. Addison Wesley: Reading, 1978. ATKINSON, Philip. Criando Mudança Cultural. 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Uso de matrizes de fiscalização e responsabilização em auditorias, a internalização de metodologias de fiscalização a partir do projeto TCU-Reino Unido, elaboração de sumários executivos, relatórios de impacto de acompanhamento de programas, a gestão de projetos no TCU, etc. Contas. Nomeação para Função. Mantém práticas arcaicas em vigor. Há conservadorismo excessivo; medo do novo. Alteração na forma de exame das alegações de defesa. Supressão da fase da rejeição anterior ao julgamento de contas. Dispensa de prestação de contas dos conselhos de profissões regulamentadas 80% 20% O TCU promove ou permite oportunidades para construir soluções inéditas? Desaprendizagem: reavaliação e renovação de competências na organização 40% Reconhecimento da Inovação: reconhecimento pela participação em projetos inovadores 20% No TCU existe alguma forma explícita ou implícita de reconhecimento por participação em projetos inovadores? Quais? Sim, criação de secretarias especializadas: SEFID, SEPROG. Não revisa práticas de controle de contas. Foco no operacional; não questiona demanda, tempo e as pessoas não param para isso. Pesquisa Tendências do Controle da Gestão Pública. CERDS, Washington/EUA. Explicitamente não vê sinais, mas implicitamente acha que ocorre quando do aproveitamento das pessoas que se envolvem ou participam ativamente de projetos importantes e trabalhos de grande impacto na organização, a exemplo da Pesquisa Tendências do Controle (2000). 20% 4 20% No TCU revisamos os princípios que sustentam nossas práticas? 40% Aprendizagem de Circuito Duplo: questionar o que se aprende e revisar princípios e valores 20% 3 100% O TCU costuma descartar conhecimentos e práticas que não agregam mais valor? 40% 2 Evidências Objetivas Existe no TCU a prática de premiação à produção em equipe? Nunca Raro Às vezes 40% 40% 20% 20% 40% 40% 40% Projeto Atena, Gestão de Projetos. Mudança estrutura (Pesquisa Tendências do Controle), simplificação de processos. Citou os exemplos das práticas, metodologias e técnicas internalizadas no Projeto TCUReino Unido, as inovações derivadas dos projetos e da própria gestão por projetos, as mudanças nos processos da SEFIP, a 4ª compartilhada (4ª Secex), a base de conhecimento por temas da SERUR e a lista de discussão da SECOB. 60% 100% 9 O TCU utiliza exercícios de projeção de cenários futuros, que orientem o processo de reflexão e formulação estratégica? Prática de Reconhecimento: premiação à aprendizagem em equipe Depende do segmento organizacional, na Segecex é mais visível (área-fim). A missão, mas somente ela, é bem conhecida do pessoal da área-fim. Não sabe informar quanto ao ISC e Segedam. Compromisso depende do perfil das pessoas (atitudes). Avalia que os servidores mais novos têm um perfil “missionário” e se identificam mais com a missão do TCU. Faz parte da natureza e formação sócio-cultural dessas pessoas (valores intrínsecos de cidadania). Plano Estratégico. Apenas percepções colhidas em congressos, seminários e informações sobre movimentos na Administração Pública. 20% 8 Os processos de aprendizagem organizacional estão alinhados com o direcionamento estratégico? Resultados de Aprendizagem: incorporação dos resultados de aprendizagem aos processos, sistemas, estrutura e cultura As práticas geradas no processo de aprendizagem são incorporadas aos processos, sistemas, cultura e estrutura? Projeção de Cenários: exercício de projeção de cenários futuros Evidências Objetivas Não existe processo de planejamento de aprendizagem organizacional, são alinhados com a demanda. Apenas atende às demandas. 40% 7 O direcionamento institucional (missão, valores, etc) é percebido como internalizado por todos no TCU, de forma a gerar comprometimento? Alinhamento Estratégico: os processos de aprendizagem estão alinhados com os propósitos organizacionais 20% 6 Visão Compartilhada: missão, objetivos e metas da instituição disseminados e internalizados (comprometimento) 20% 5 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 146 10 Nunca Raro Às vezes Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 147 Projetos abrangentes: desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional 20% 20% 20% Existe definição clara e simples por parte do TCU acerca do que oferece e do que espera das pessoas? Benchmarking externo: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados das organizações para identificar oportunidades de melhoria de desempenho 20% O TCU adota a prática de comparar-se a instituições líderes ou excelentes em determinadas práticas, objetivando a aprendizagem e aperfeiçoamento? Auditorias, Projeto Atena. Matriz de Planejamento, Matriz de Risco, Outras. ANOp, Auditoria de Obras. Fiscalização com orientação centralizada. Auditoria da marenda escolar foi lembrada, mas não há a prática intencional, com objetivos de aprendizagem. Projetos de mudança organizacional, tais como, o Projeto Atena, o Projeto Certificação da Gestão Pública, o Projeto Datawarehouse, a Pesquisa Tendências do Controle, etc. Cumprimento de metas Procedimentos gerenciais voltados para resultados quantitativos em detrimento do qualitativo/ impacto. Catraca e suas flexibilizações; Avaliação de desempenho considera aspectos qualitativos. Metas têm ajudado na mudança do comportamento dos gerentes para se concentrarem na gestão por resultados. As expectativas não estão definidas no nível estratégico. Discussões da avaliação de desempenho. Enfoque atual apenas no que se espera dos servidores. Projeto Reino Unido. GAO, NAO, Canadá. Reino Unido – Matriz de Planejamento; Visitas e estágios no Canadá – Análise de risco; Visitas e estágios no GAO – Técnicas de avaliação de programas. Há movimentação para isso, mas ainda é tímida. Citou exemplo de tentativa da Seplan em estabelecer indicadores comuns aos órgãos de controle (TCE e EFS, via INTOSAI) para possibilitar comparação entre essas unidades. 40% 13 Contrato de Expectativas: clareza e simplicidade no que a organização oferece e o que espera das pessoas 40% 12 80% O controle gerencial privilegiao controle dos resultados, em lugar do comportamento do servidor? 60% Foco do Controle Gerencial: controle da estratégia e não do comportamento 20% 11 40% 40% O TCU adota a prática de desenvolver projetos de dimensão institucional ? Evidências Objetivas Nunca Às vezes Raro 20% 20% 20% No discurso, sim, na prática, pouco. Pesquisa Tendências do Controle, Convênios com outros Tribunais, Entidades de Fiscalização Superiores, OLACEFs, INTOSAI (mais efetiva) Cursos de especialização com PGCE e GCO. Mudança de foco: obras e programas. Projeto Reino Unido: iniciativa em que se assume o que não se sabe. Acha que isso ocorre com freqüência em razão das constantes avaliações sobre os processo de trabalho no TCU. Discussão de roteiro de auditoria pela equipe. Não existem “estudos de casos de auditoria” Não se acumula conhecimento decorrente de práticas de controle. Auditorias de abrangência nacional PDPA Projeto Controle da Regulação (Sefid). Existem políticas e práticas que demonstrem que o TCU considera que a aprendizagem é um processo ou fenômeno inerente ao trabalho? 40% Aprendizagem Inerente ao Trabalho: existência de políticas e práticas organizacionais que consideram a aprendizagem inerente ao trabalho 60% 16 60% No TCU, de modo geral, são adotadas ou aceitas práticas compatíveis com uma cultura favorável à aprendizagem, ou seja, aberta à reflexão sobre erros e lições aprendidas, favorável à reserva tempo para a aprendizagem, que valoriza as relações informais, que estimula a discussão sobre valores, etc Redução dos Mecanismos de Defesa: conscientização do que não se sabe (autopreservação) O TCU reconhece a necessidade de mudanças de estratégias, competências, práticas e processos de trabalho? Evidências Objetivas Autoavaliação de gestão não é devidamente utilizada. O TCU está criando um cultura de metodologias e técnicas de controle, com maior especialização e também foco em questões de políticas públicas (apesar de incipiente). Disponibilização para treinamentos. Existe dentro das divisões técnicas; Nos gabinetes um pouco; Entre unidades, especialmente, ambiente desfavorável 40% 15 Cultura de Aprendizagem: tempo para aprender, relações informais, as pessoas falam abertamente sobre erros passados e lições aprendidas, facilidade de atrair e manter os melhores talentos, valorização da atitude na seleção de pessoal, discussão de valores da organização é visto como relevante 40% 14 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 148 Nunca Raro Às vezes 40% Você percebe o ambiente como seguro para manifestação de suas idéias e sentimentos sem que sejam julgadas? Cultura Conservadora: cultura voltada para a tarefa, pessoas, voltada para o curto-prazo, reativa, compartimentalização de problemas, informação vista como poder 20% 20% 80% O TCU se utiliza de recursos de comunicação simbólica (logomarcas, slogans) ou não(,relação de nomes etc), que promova a sensação de pertencimento a mesma organização por parte de todos os membros? Ambiente de Confiança e Segurança: crença da inexistência de risco interpessoal A cultura organizacional se aproxima de uma cultura conservadora, ou seja, voltada para tarefas, para visões e realizações de curto prazo, reativa, onde os problemas são tratados de forma compartimentada e a informação é vista como fonte de poder a ser preservada? 40% 60% Projeto Atena Especialistas ISC Acha que em geral as pessoas se identificam funcionalmente com o TCU (logotipo, crachá, carreira de estado, etc), mas não se lembra de uso de slogans motivadores e muito menos de logomarcas ou símbolos representativos com esse objetivo de congregar pessoas sob uma legenda. Depende do substrato onde a pessoa se encontra. Acha que as pessoas se sentem mais seguras para opinar em foros ou canais alternativos à organização, como a lista de discussão da AUDITAR. Acha que o CANAL ABERTO da Presidência do TCU foi uma boa idéia, mas que não vem sendo utilizada nesta gestão. Tem melhorado (aproxima-se de freqüente). Ressalva da informação como fonte de poder. Dispensa comentários. 20% 20 É incentivada a existência de grupos informais com interesses e objetivos comuns, que busquem novos conhecimentos ou solução de determinados problemas ou questões? Pertencimento: expressão das práticas organizacionais por meio de símbolos de pertencimento (logomarcas, slogans) 20% 19 Evidências Objetivas Falta comunidades de conhecimento. Lista de discussão de Fiscalização de Obras Reconhece apenas a lista de discussão da SECOB como um exemplo, ainda tímido, desse tipo de prática. 60% 18 Comunidades de Prática: grupos informais com interesse comum 20% 17 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 149 O TCU aprende com a experiência, modificando incremental e sucessivamente, a partir dos “feedback” obtidos, suas estratégias e processos? Raro Às vezes Nunca Bolsa de idiomas, Ninguém obedece resolução de graduação (tempo). O Tribunal não busca isso. Inexistência de normas que definem áreas prioritárias de desenvolvimento; estimula idiomas. Cursos de Pós no ISC e ações de intercâmbio já mencionadas. Pela natureza desafiadora dos trabalhos e pelo profissionalismo dos técnicos há um movimento constante das pessoas para se especializar e manter-se atualizado em relação a temas mais preocupantes. Sistemas informação provocam desconforto em pessoas sem familiaridade com recursos de informática, mas não é ação proposital. Acha que ocorre apenas quando as próprias pessoas se sentem incomodadas no ambiente onde estão trabalhando. 60% 40% 60% 20% 20% 20% 60% O ambiente organizacional tolera bem os erros reconhecidamente provocados pelos esforços de aprendizagem (inovação, criatividade e desenvolvimento)? Aprendizagem de Circuito Simples: mudança sucessiva de estratégia e processo (processo de melhoria, mudança incremental, aprendizagem restritiva,) Evidências Objetivas Em algumas “ilhas” há maior tolerância 60% 24 O TCU adota deliberadamente estratégias ou ações para que as pessoas sejam induzidas a se sentirem insatisfeitas ou desconfortáveis com seus níveis de conhecimento? Gerência do Processo de Aprendizagem: ambiente de tolerância ao erro com foco em desenvolvimento 20% 23 O ambiente organizacional estimula que as pessoas busquem por iniciativa própria ações e estratégias de desenvolvimento pessoal e profissional? Gerência do Desconforto: a organização gera estado de desconforto como provocação de aprendizagem 20% 22 Autodesenvolvimento: buscar diferentes formas de aprendizagem interna e externamente ao ambiente de trabalho 20% 21 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 150 Não existe cultura para repassar experiências, falta memória. Edição de normativos consideram erros passados. Cursos Projetos Elaboração / proposição / discussão pelas Secex dos Planos de auditoria Quarta compartilhada (4ª Secex) Encontros técnicos (reuniões promovidas pela Segecex e Seplan para troca de idéias, boas práticas etc.) Enxerga isso apenas a partir dos projetos que abrem novos horizontes na organização. Nunca Raro Às vezes 80% 20% 20% Encontro de Dirigentes, Reuniões de Planejamento Estratégico, Reuniões da Segecex. Diálogos estratégicos, Reuniões Segecex. 40% O TCU adota práticas institucionalizadas de diálogos e reflexões coletivas, que explicitam modelos mentais, com o objetivo de reavaliar conceitos e crenças? Falta intercâmbio entre secretarias. Falta cultura de aprendizagem internamente nas secretarias. Não-acompanhamento da efetividade dos trabalhos/ impacto. Exceção nos níveis burocráticos mais elevados (plenário, etc.) Tendência a zona de desconforto entre as secretarias especializadas e as genéricas deve levar à reflexão sobre os processos de trabalho. 40% 27 Os arranjos estruturais no TCU, em geral, se aproximam do padrão estrutural da Adhocrático, mais flexível, favorável à ação proativa e a mudanças transformadoras? Estrutura Burocrática: privilegia a ordem e a manutenção do status quo; a aprendizagem é reativa e incremental Os arranjos estruturais no TCU, em geral, se aproximam do padrão estrutural da Burocracia, mais rígido e enfatizando a autoridade de nível hirárquico, privilegia a ordem e a manutenção do status quo menos favorável a mudanças transformadoras e à ação proativa? Prática de Diálogos e Reflexões Coletivas: práticas organizacionais que favoreçam a externalização dos modelos mentais para criar o hábito de reavaliação de conceitos e crenças (externalização do conhecimento). Evidências Objetivas Porque os projetos não são tão freqüentes. Procedimentos de análise. Difusão de conteúdo metodológico: SEPROG/ ADFIS. Gestão por projetos, formação de grupos de trabalho. 20% 26 Estrutura Adhocrática: mais favorável à mudança e à flexibilidade; a aprendizagem é proativa e transformadora 80% 25 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 151 Nunca Raro 20% 40% 60% 80% 20% 100% 32 Existem no TCU indicadores ou medidores da aprendizagem individual? Indicadores de Aprendizagem Organizacional: existência de indicadores e medidores de aprendizagem organizacional Existem no Tribunal indicadores ou medidores da aprendizagem organizacional? 100% 31 O TCU adota modelo integrado de gestão de pessoas com foco na aprendizagem e no desenvolvimento? Indicadores de Aprendizagem Individual: existência de indicadores e medidores de aprendizagem individual Reconhece nos projetos piloto esse tipo de prática. 20% 30 Prática de Simulação e Experimentação: procura e teste de novos conhecimentos (internalização do conhecimento) O TCU adota a prática de proporcionar a experimentação e a simulação com objetivos de aprendizagem? Gestão de Pessoas: modelo integrado com foco na aprendizagem e desenvolvimento Evidências Objetivas Falta comprometimento do nível estratégico (Considerou o nível estratégico das autoridades até os secretários) Heterogeneidade de atuação. 40% Os integrantes do nível organizacional estratégico participam de forma comprometida, como indutores e partícipes dos processos de aprendizagem? 29 Às vezes Participação da Liderança na Aprendizagem: participação comprometida da alta liderança de no processo de aprendizagem 20% 28 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 152 Não existem indicadores, como vai medir? Existe no TCU a prática de formar equipes insterdisciplinares,(inter unidades) autoorganizadas e autônomas com foco em resolução de problemas? Nunca Raro Às vezes 40% 20% Encontros SA/Segecex. Reuniões de planejamento de cursos e outros eventos Reuniões entre Adfis, Setec, Adcon, Seplan ações restringem-se à média gerência Citou os encontros periódicos com os chefes de SA, com os dirigentes e a própria reunião mensal da Segecex. 10% 80% 80% Regras do Cursos de Gerenciamento Organizacional, critérios de pós-graduação, seleção para eventos externos, embora possam não ser os melhores Projetos fechados e de outras áreas Projetos, Auditorias integradas. Projetos, grupos de trabalho. Projetos e Grupos de Trabalho. Projetos e Grupos de Trabalho, que devem migrar para o modelo de projetos. 20% 36 O corpo gerencial do TCU desenvolve papel de líder orientador- educador, colaborando para os processo de aprendizagem, de inovação e para desenvolvimento das pessoas? Transparência e Coerência da Gestão: clareza de critérios e coerência de atos no processo de gestão Existem critérios claros, declarados e obedecidos na gestão de pessoas, que norteim o processo de desenvolvimento de pessoas no TCU? Aprendizagem em Equipe: equipes interdisciplinares, auto-organizadas e com autonomia Evidências Objetivas Quase nunca, casos raros, aprendizado interno. Depende do gerente. 20% 35 O TCU costuma realizar encontros colaborativos formais para a resolução de problemas, com foco em necessidade reais? Gerência Educadora: gerentes voltados para o desenvolvimento das pessoas, da aprendizagem e da inovação (gerente como líder do trabalho de equipe) 60% 34 Encontros Colaborativos: promoção de encontros colaborativos formais para resolução de problemas com foco em necessidades reais 20% 33 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 153 Nunca Raro 60% 20% 40% 40% Benchmarking interno: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados entre unidades da organização para identificar oportunidades de melhoria de desempenho O TCU adota a prática de ensino a distância? 20% 60% O TCU realiza benchmarking interno entre unidades do TCU? Prática de ensino à distância: processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporariamente Melhores práticas da Segecex (Seplan só nos dois últimos anos). Reuniões e encontros (dirigentes, Segecex). Sisdir – começou na 4ª Secex – Adfis tornou corporativo. Auditoria de abrangência nacional, modelo iniciado pela 6ª Secex. Citou os encontros técnicos da Segecex (apesar do plural só ocorreu o primeiro no ano passado). 20% 40 Visão tênue de processo; cada um faz uma parte do processo 80% 39 Às vezes O TCU adota a prática de alterar a distribuição (alocação) das pessoas com o objetivo estratégico de promover aprendizagem? Gestão por processos para facilitar a aprendizagem O TCU pratica gestão por processos? Evidências Objetivas Existe, mas com outros objetivos. 20% 38 Rodízio Estratégico de Servidores: alocação planejada de pessoas 20% 37 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 154 2 a 3 iniciativas Fiscalis, Sisac, auto-aprendizagem (projetos). Videoconferência. Fiscalis MS Project Tutoriais do Siscac e GPD (seplan) videoconferência Citou o treinamento em gestão de projetos feito com a CATO pela Internet. 80% Nunca Raro Às vezes Apoio da TI à Aprendizagem: Arvore do Conhecimento, Bases Inteligentes do Conhecimento, Cadastro eletrônico de especialistas, Comunidades virtuais de práticas, Educação a Distância, Gerenciamento eletrônico de documentos, Groupware e Workflow, Business Intelligence, Portal do Conhecimento Corporativo 20% 41 Freqüente Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional Sempre 155 Evidências Objetivas Sisdir – GED – a ser testado Lista de discussão que na maioria das vezes morre Tem TI mas não tem a prática Cadastro da ADFIS. Listas de discussões, cadastros de especialistas, intranet. Videoconferência Tutoriais ? do sistema de atendimento da Setec, consultados via intranet Palestras e discursos disponíveis na intranet Acha que estão sendo feitos alguns esforços para isso e citou como exemplos o cadastro de especialistas e a lista de discussão da SECOB (reconhece que existem outras listas, mas esta é, segundo a percepção do entrevistado, a única que tem uma participação efetiva e um resultado eficaz para ampliar o conhecimento dos participantes em auditorias de obras).