Extração e beneficiamento da bentonita no distrito de Pradoso- Ba: Uma análise socioambiental. Roberta Batista de Jesus1 Mestranda em Geografia- UFBA [email protected] Resumo O objetivo desse trabalho foi analisar a extração e o beneficiamento da bentonita no Distrito de Pradoso, localizado no município de Vitória da Conquista-Ba, sob uma visão socioambiental. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram entrevistados funcionários da Companhia Brasileira de Bentonita (CBB) e feito registros de imagens no local. Houve ainda o levantamento de dados em órgão públicos. Após a análise dos dados, pode-se verificar que apesar de recente a exploração da bentonita já provocou mudanças socioambientais na região. A CBB realiza os processos de exploração e beneficiamento do produto que em sua maioria é escoado para região sudeste do país. O advento da indústria movimenta a economia local, promovendo mudanças sociais para a região. Por outro lado, a atividade mineradora já causa impactos ambientais que podem comprometer a qualidade de vida dos moradores. Nesse sentido faz-se necessário um acompanhamento dos órgãos públicos de fiscalização ambiental para que se cumpram as exigências de recuperação das áreas degradadas pela exploração, além de manter a qualidade de vida dos funcionários e moradores da região do Pradoso. Palavras-chave: bentonita, análise socioambiental, impactos ambientais Introdução A concepção de meio ambiente, não pode excluir a sociedade, deve sim, compreender que sociedade, economia, política e cultura fazem parte de processos relativos à problemática ambiental contemporânea - sociedade como componente e como sujeito dessa problemática. A análise ambiental diz respeito às formas como o homem em sociedade apropria-se da natureza, ou seja, a apropriação da natureza pelo indivíduo está sempre inserida numa determinada forma social. A ciência geográfica tem papel fundamental nessa abordagem, uma vez que tem como objeto de estudo a sociedade e sua forma de organização no espaço geográfico. 1 Bolsista da CAPES do Programa de Pós- graduação em Geografia- UFBA. Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Tomasoni. Face ao exposto a adoção da abordagem socioambiental é válida para compreender as transformações resultantes das relações entre o homem e ambiente, ou sociedade /natureza é assim conhecer as circunstâncias que lhes são geradas e tentar entender o total envolvimento dos impactos socioambientais modificadores da paisagem nos estudos dos ambientes. É nesse sentido que essa pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de analisar sob uma visão socioambiental a extração e o beneficiamento da bentonita no Distrito de Pradoso, localizado no município de Vitória da Conquista-Ba. A escolha dessa localidade se deu pela sua importância no cenário municipal e até mesmo nacional devido à exploração do minério bentonita em seu território, fato que tem promovido novas dinâmicas espaciais para o distrito, atraindo grandes empreendimentos que exploram e beneficiam esse mineral. Desta forma, algumas questões foram norteadoras para o resultado desse trabalho, tais como: De que forma se deu o processo de descoberta da bentonita no Pradoso? Como estão organizadas as atividades de exploração e beneficiamento do mineral? Qual o quadro socioambiental resultante dessa atividade mineradora? Espera-se com a pesquisa dirimir tais questões na busca de resultados que possam fornecer dados para o planejamento municipal, suprindo na medida do possível, a falta de estudos que se propõem a uma análise sobre as questões socioambientais locais, disponibilizando materiais que subsidiem pesquisas futuras e/ou processos decisórios que tenham como objetivo os interesses coletivos da sociedade. Visando alcançar os objetivos propostos, foram feitos levantamentos bibliográficos com base em teóricos ligados ao tema, coletas de dados em órgão públicos tais como prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Secretaria do Meio Ambiente. Nesses órgãos foram levantadas questões referentes aos aspectos políticos e sócio-econômicos do distrito. Foram entrevistados funcionários da Companhia Brasileira de Bentonita (CBB) e feito registros de imagens no local para que fosse possível compreender como ocorre a exploração e beneficiamento da bentonita. Área de estudo O Distrito de Pradoso (figura 01) está localizado no extremo oeste do Município de Vitória da Conquista, na Região Centro Sul Baiana do Estado da Bahia. Seu acesso se dá por rodovia pavimentada, a BA 262, no Km 12 em direção ao município de Brumado. A altitude da sede é de 950 m e está situado entre as latitudes 14º 41’ S e 14º 55’S e entre as longitudes 40º 55’ W e 41º 10’ W. José Gonçalves São Sebastião Bate Pé Pradoso Vitória da Conquista Iguá Dantilândia Cabeceira da Jibóia São João da Vitória Veredinha Inhobim Legenda Distrito pesquisado Cercadinh o Cercadinho DIVISÃO DISTRITAL 2000 0 2 4 6 8 10 Km Figura 01: Localização do distrito de Pradoso Fonte: Laboratório de Cartografia UESB O Distrito de Pradoso possui clima predominante semi-árido, possui temperaturas médias anuais de 19,6 ºC, com máxima em torno de 23,5ºC e mínima de 15,1ºC. O período chuvoso da região se concentra nos meses de novembro a janeiro, com índice pluviométrico de 717mm, máximas de 1246mm e mínima de 301mm. Esta região é uma das poucas do país em que existe a Mata de Cipó, tipo de floresta decidual, relativamente alta que possui grande diversidade de fauna e flora. Encontra-se em uma área de transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica devido a esta característica, na Mata de Cipó pode ser encontrado um misto de espécies dos dois biomas, além de espécies endêmicas pouco conhecidas. O distrito abriga uma importante rede hidrográfica, a principal nascente do riacho Quati está em seu território, passando por comunidades como Quatis dos Fernandes, Tesoureiro, Iguá e Quatis do Fumaça. Deságua no Riacho do Jibóia que é afluente do Rio Pardo, uma bacia hidrográfica federal. 1 O capitalismo e suas técnicas na apropriação da natureza Segundo Casseti (1995) o agravamento dos problemas ambientais nasce com as relações de propriedade privada e o antagonismo de classes. Ele sintetiza que os impactos ambientais têm-se agravado em função do maior desenvolvimento anárquico das forças produtivas que estruturam o modo de produção capitalista, enquanto as relações de produção são relações de domínio e submissão. É dessa relação que se constata o grau de dilapidação da capacidade produtiva da terra, com crescente degradação da natureza, determinada por um aproveitamento generalizado e mais intenso dos recursos naturais, sobretudo, através do processo de industrialização, urbanização e agricultura predatória. Leff (2007) aprofunda a discussão abordando que: A problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia a interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo histórico dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo propósito de maximizar lucros e os excedentes econômicos a curto prazo, numa ordem econômica mundial marcada pela desigualdade de nações de classes sociais ( LEFF, 2007, p. 64). Godard (1990) reconhece que a dinâmica histórica dos recursos naturais exerce uma influência sobre as formas econômica de produção ou sobre o desenvolvimento de certos modelos de relações sociais, que estão associados às técnicas, assim a disponibilidade dos recursos naturais num dado momento tende a favorecer certas formas sociais de produção e certos modos de organização social, mencionando ainda as lutas e conflitos que a apropriação desses recursos provoca. A criação de novas técnicas e novos modos de exploração torna possível uma transformação da organização social da produção e das relações sociais. As técnicas desenvolvidas não têm como prioridade os princípios básicos de respeito à natureza, e mesmo àquelas que procuram agir de forma responsável não são democratizadas, ou seja, não favorecem a todos, ao contrário segue interesses segmentados daqueles que as criaram e detêm os meios de produzi-las, geralmente são técnicas de alto custo, por conseguintes cada vez mais distantes da comunidade desprovida. Na visão de Porto-Gonçalves (1990) as técnicas desenvolvidas pelo homem são dependentes de um determinado contexto social, político e cultural, são as mediações entre o social e o natural. Não é apenas por uma razão técnica que a sociedade se desenvolve e se modifica. Isso porque nenhuma técnica tem razão em si mesma, o desenvolvimento e as modificações verificadas no meio social devem-se a um fator de ordem política, evidenciado na tentativa de obter cada vez mais um controle sobre a natureza. Portanto, para o referido autor a solução dos problemas ambientais não é simplesmente de natureza técnica, mas política e cultural, pois para ele a técnica deve servir à sociedade e não esta ficar subordinada àquela. 2 Caracterização e empregabilidade da bentonita Pouco conhecida do grande público, a bentonita é um mineral utilizado em áreas tão distintas quanto a siderurgia e a higiene de animais domésticos. A Bentonita foi assim batizada pela descoberta de uma jazida em Fort Benton (Estados Unidos). É o nome genérico da argila composta predominantemente pelo argilomineral montmorilonita, do grupo das esmectitas, independentemente de sua origem ou ocorrência. Pode apresentar cor branca, ligeiramente esverdeada ou amarelada. As esmectitas possuem como características principais o alto poder de inchamento, até 20 vezes seu volume inicial. Estas características conferem à bentonita propriedades bastante específicas, que têm justificado uma vasta gama de aplicações nos mais diversos segmentos como informa o quadro 01: Tipo de produto Aplicabilidade da Bentonita Cerâmica Age como plastificante, conferindo um aumento da resistência mecânica. Siderúrgica Pelotização de minério de ferro Granulados sanitários Absorção de urina e eliminação de odores dos dejetos de animais domésticos. Tintas Evita o escorrimento da tinta após a aplicação. Material de limpeza Aditivo para detergentes, sabonetes e sabões. Cosméticos Aditivo para formulas de cosméticos Ração animal Traz benefícios econômicos e para a saúde do animal. Alimentos Empregada na filtragem de azeites, óleos e vinhos. Poços de sondagem Refrigera a broca da perfuração, mantém a estabilidade das paredes do furo de sondagem. Geotecnia ambiental Utilizada na impermeabilização de solos. Construção civil Fundações, estaqueamentos e paredes de diafragma. Fundição Fornece ao molde de areia resistência durante o vazamento do metal. Quadro 01: Emprego da bentonita na indústria Fonte: Companhia Brasileira de Bentonita- CBB A expressiva abundância das reservas mundiais de bentonita (figura 02) dificulta a efetivação da estimativa desses recursos em um contexto global. No Brasil, as reservas de bentonita totalizaram aproximadamente 83 milhões de toneladas, das quais 51,4% são relativas às reservas medidas, distribuídas no Estado do Paraná, Município de Quatro Barras, representando 39,0% das reservas lavráveis nacionais; no Estado de São Paulo, nos Municípios de Pindamonhangaba, Taubaté e Tremembé, com 23,4%; no Estado da Paraíba, no Município de Boa Vista com 22,0% e, no Estado do Piauí, no Município Guadalupe com 15,6%. Figura 02: Bentonita bruta Fonte: Mineral Commodity Summaries, 2004. Segundo dados da publicação Mineral Commodity Summaries 2004, elaborada pelo United States Geological Survey – USGS, a produção mundial preliminar de bentonita no exercício de 2003 foi de aproximadamente 10,1 milhões de toneladas, destacando-se as produções dos Estados Unidos (3,97 milhões de toneladas/ano); Grécia (1,2 milhões de toneladas/ano); Comunidade dos Estados Independentes (750 mil toneladas/ano) e Turquia (600 mil toneladas/ano). Não obstante o Brasil figurar entre os dez principais produtores, a produção nacional, nesse período, foi bastante discreta (199 mil toneladas/ano, representando cerca de 2,0% da produção mundial). 2.1 A descoberta da bentonita no distrito de Pradoso A ocorrência da bentonita na região sudoeste da Bahia foi detectada pelos técnicos da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) em meados dos anos 80, quando procuravam cianita no solo da localidade. No entanto, foram encontrados 3 milhões de toneladas de um mineral esverdeado, a bentonita. Segundo o então Secretário de Agricultura do município de Vitória da Conquista, o Sr. Valdomiro da Conceição, essa jazida ficou esquecida pelo Governo do Estado durante muito tempo, sem razões aparentes, ainda que o Estado tenha comprado 50 ha da família que era proprietária da reserva inicial. Essa terra foi adquirida por um valor inferior ao que realmente valia, considerando a presença da bentonita. De acordo informações dos moradores do distrito, os descendentes da família atualmente vivem em condições precárias. Há cerca de 4 anos, o governo abre licitação para a exploração do mineral no Distrito de Pradoso, período em que aumenta a demanda de bentonita e a necessidade de importação. Para o entrevistado é interessante o fato de que, até o momento da abertura da licitação do estado, a existência da bentonita era desconhecida pela população, mesmo que na publicação Oportunidades Agroindústrias da Bahia já era citado o volume da jazida, a qualidade da bentonita, as vantagens competitivas da jazida, ou seja, há quase 10 anos atrás houve a divulgação da área e apenas seis anos depois o governo demonstra interesse em explorá-la. Quanto a licitação, poucas empresas concorrem, sendo vencedora a Geosol, empresa brasileira do estado de Minas Gerais que trabalha com prospecção de sondagem geológica, que era grande consumidora do mineral extraído na região da Paraíba (cerca de 500 t/mês), tendo interesse na exploração pela estratégia de mercado, já que a própria empresa passaria a explorar e beneficiar a bentonita que consome. Nessa licitação, o Estado é o dono da jazida e a empresa vencedora, Geosol, explora pagando ao Estado a concessão de lavra. Para o secretário é um motivo de satisfação saber que a empresa possui capital nacional e proprietários brasileiros e que os recursos estão sendo explorados por uma empresa local. Vencida e licitação, a Geosol começa o trabalho de prospecção para confirmação da área em outubro de 2003. A fase de avaliação da viabilidade econômica foi concluída e se descobriu que as reservas do mineral são muito maiores do que as estimadas inicialmente. Inicia-se o processo de compra de propriedades no local. Essas propriedades foram compradas por valores comerciais razoavelmente elevados em relação às primeiras adquiridas pelo Estado, as indenizações correspondiam de três a quatro vezes o valor da propriedade. Ainda segundo o entrevistado, houve reuniões com a Secretaria de Agricultura e os moradores do distrito no intuito de orientálos em relação à venda de suas propriedades, para que não as negociassem por um preço inferior ao que realmente valiam. A própria empresa ao comprar uma propriedade se encarregava de adquirir outra e equipá-la para o morador, na região do Pradoso ou em outra localidade se este preferir. Através da pesquisa de campo pode-se constatar que a grande maioria das famílias optou por adquirir suas novas propriedades em outras localidades. Durante a entrevista ficou claro que não houve estímulo por parte da Prefeitura para a instalação da empresa na região. No entanto, há interesse desse órgão na exploração da bentonita no distrito de Pradoso pela possibilidade de desenvolvimento do meio rural que essa atividade proporciona, como, por exemplo, gerando mais de cem empregos diretos e duzentos empregos indiretos e possibilitando um dinamismo econômico em toda região. Uma política interna da empresa é que os funcionários sejam moradores do distrito, como forma de retribuir a região pela exploração local. A maioria dos funcionários da mina e até mesmo do escritório, é constituída por membros da comunidade do Pradoso e regiões vizinhas. Segundo dados da prefeitura, o distrito está vivenciando um momento de crescimento econômico, com construção de novas casas e estabelecimentos comerciais. Outras vantagens que podem surgir no distrito é uma melhora de infraestrutura por parte do Estado como construção de estradas. A Geosol, em posse do direito de explorar a jazida de bentonita na região do Pradoso, criou a CBB - Companhia Brasileira de Bentonita, empresa que foi instalada para, além de explorar, beneficiar o produto. Antes do processo de exploração ser iniciado, a CBB funcionava provisoriamente na sede do distrito. Em agosto de 2007, com o início da atividade, foi transferida de forma definitiva para a Estrada Santa Helena, na fazenda Samambaia, Serra do Vital (figura 03), local onde se encontra a mina. Para o projeto foram investidos 30 milhões de reais, uma parte desse capital foi financiada pelo Banco do Nordeste - BNB. Figura 03: Área externa da CBB Fonte: Pesquisa de campo, 2008. As atividades da empresas iniciaram-se em agosto de 2007. O processo começa pela extração do mineral, a mina então é escavada através do desmonte mecânico, sem o emprego de explosivos (figura 04). Figura 04: Mina de bentonita na região do Pradoso Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Em seguida a bentonita é levada para aparelhagem localizada na parte externa da indústria, onde é pesada e triturada. (figura 05). Dessa forma ela está pronta para ser transportada para parte interna onde receberá um banho com produtos químicos que irá aditivá-la. Logo após ocorre o processo de secagem. Para isso é necessário uma semana em temperatura ambiente. A empresa vem buscando meios de tornar o processo de secagem mais eficiente, utilizando estufas que mantêm a temperatura superior à externa, no entanto esse método ainda não vem sendo utilizado em toda produção por estar em fase de aprimoramento. A bentonita aditivada, depois da secagem, passa pelo moinho pendolar, é embalada e acondicionada nos carros que irão transportá-la. A maior parte da bentonita beneficiada na CBB é escoada para a região Sudeste. Figura 05: Processo de beneficiamento da bentonita Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Para Sérgio Lanza, então gerente de produção da CBB, a descoberta dessa jazida trará benefícios para o Brasil, já que o país ainda importa bentonita da Argentina e dos Estados Unidos. Outro benefício é o desenvolvimento de tecnologia nacional a partir de novas aplicabilidades do produto no mercado. O entrevistado informou ainda que o próprio município de Vitória da Conquista terá benefícios com a atividade que gera empregos diretos e indiretos, e também o seu reconhecimento internacional, dada a importância que a bentonita possui no cenário mundial, sendo uma argila muito pesquisada no meio científico. 2.2 A problemática socioambiental das atividades de mineração A mineração é uma atividade em curto prazo, mas com efeitos em longo prazo. A atividade mineira inclui diversas fases, cada uma provocando diferentes impactos ambientais. De modo geral, segundo informações do site www.wrm.org.uy/boletim/71/minera.html , essas fases são: prospecção e exploração das jazidas, desenvolvimento e preparação das minas, exploração das minas e tratamento dos minerais achados nas respectivas instalações, visando a obtenção de produtos comercializáveis. Na fase de prospecção, algumas das atividades com impacto ambiental são: preparação das rotas de acesso, levantamento topográfico e geológico, estabelecimento de acampamentos e instalações auxiliares, trabalhos geofísicos, pesquisa em hidrogeologia, abertura de fossas e poços de reconhecimento, colheita de amostras. Na fase de exploração, os impactos dependem do método empregado. Nas áreas de mata, o simples desmatamento do solo, com a conseqüente eliminação da vegetação mais vasto no caso das minas a céu aberto -, traz impactos a curto, médio e longo prazo. O desmatamento não só altera o habitat de centenas de espécies endêmicas, mas também, impossibilita um fluxo constante de água das florestas para os demais ecossistemas e centros urbanos. O desmatamento de florestas primárias provoca um rápido e fluido escoamento da água de chuva, agravando as enchentes no período de chuva, pois o solo não consegue conter a água da mesma forma que quando ele tem cobertura florestal. Além da área perturbada pela escavação, os danos causados pelas minas na superfície, pela erosão e sedimentação do leito dos cursos de água, se tornam mais graves ainda, devido ao monte de restos de rocha sem valor econômico (chamados de produto estéril) que costumam formar enormes montanhas, às vezes maiores do que a área sacrificada para a escavação. O enorme consumo de água exigido pela atividade mineira geralmente reduz o lençol freático no local, podendo secar poços de água e mananciais. Normalmente, a água acaba sendo poluída pela drenagem ácida, isto é, a exposição ao ar e à água dos ácidos formados em certos tipos de minério - em particular, os sulfúricos - como resultado da atividade mineira, os quais, por sua vez, reagem com outros minerais expostos. Pequenas partículas de metais pesados, que, com o tempo, se separam dos resíduos, são espalhadas pelo vento, se depositando no solo e no leito dos cursos de água e se introduzindo aos poucos no tecido de organismos vivos, como, por exemplo, os peixes. Ainda segundo o site Boletim Mineral, substâncias químicas perigosas usadas nas diversas fases do processamento dos metais, como o cianeto, ácidos concentrados e compostos alcalinos, embora aparentemente controladas, é comum que acabem, de uma forma ou de outra, no sistema de drenagem. A alteração e contaminação do ciclo hidrológico têm efeitos colaterais muito graves sobre os ecossistemas em volta - piores, no caso das florestas - e sobre as pessoas. A poluição do ar pode resultar do pó gerado pela mineração, uma séria causa de doença, geralmente transtornos respiratórios nas pessoas e asfixia em plantas e árvores. Além disso, a atividade mineira consome enormes quantidades de madeira para a construção - no caso das minas subterrâneas - e, também, como fonte de energia, no caso das minas com fornos de fundição alimentados com carvão vegetal. Tanto o barulho do maquinário utilizado na mineração quanto as detonações também caracterizam um grande impacto, pois geram condições que podem ser insuportáveis para a população local e a fauna das florestas. A mineração chega a um lugar com a promessa de geração de riquezas e emprego, mas a grande maioria deixa enormes prejuízos como a apropriação das terras das comunidades locais, impactos na saúde, alterações nas relações sociais, destruição das formas de sustento e de vida das comunidades, desintegração social, mudanças radicais e abruptas nas culturas regionais, deslocamento de outras atividades econômicas locais, atuais e/ou futuras, inclusive as condições de trabalho perigosas e insalubres desse tipo de atividade. Pode-se argumentar que muitas comunidades hoje afetadas deram o seu consentimento. Porém, dificilmente as empresas mineradoras esclarecem para a população local as etapas do processo e os prejuízos que podem causar, pois enfatizam somente os benefícios econômicos. 2.3 A CBB no contexto socioambiental Diante das informações expostas fica evidente que a atividades mineradoras da CBB podem provocar os mencionados impactos socioambientais na região do Pradoso, que ainda não são visíveis já que a exploração é recente. A SEMA, representada pelo Sr. Júlio César Brazão, o então gerente de defesa e fiscalização, informou que as licenças ambientais da empresa foram emitidas pelo Centro de Recursos Ambientais - CRA, um órgão estadual. A primeira, uma licença simplificada com validade em 09 de junho de 2008 e a segunda, uma licença para implantação com validade em 04 de janeiro de 2011. É importante salientar que os requisitos para que a licença seja concedida são: apresentar ao CRA o Plano de Recuperação de áreas degradas - PRAD, apresentar propostas de localização de uma rede de monitoração da qualidade do ar e planos de gerenciamento de recursos hídricos, dentre outras exigências que se referem a normas específicas de mineração. No dia da visita à SEMA para a obtenção dessas informações, o Sr. Júlio Brazão informou que o PRAD não foi emitido ao órgão municipal, apenas cópias das licenças ambientais mencionadas. Quando questionado quanto à relação entre a secretaria e a CBB, o entrevistado informou que cabe a SEMA fiscalizar a aplicação do PRAD. Ele explicou que por se tratar de uma área de grande extensão a ser minerada, o plano de recuperação deverá ser executado paralelo a extração. O órgão é encarregado de acompanhar as atividades da empresa para garantir a recuperação das áreas degradas, sem causar passivos ambientais, que segundo o entrevistado são comuns em Vitória da Conquista devido a não fiscalização da atividade no passado como as de mineração na Serra do Periperi. A empresa reconhece os impactos ambientais gerados pela atividade mineradora, a CBB informou que vem trabalhando para a aplicabilidade do PRAD e para atenuar a insalubridade do local, como a diminuição da emissão de pó no processo de beneficiamento da bentonita, que ainda não é satisfatório para a qualidade do ambiente. A empresa mantém um viveiro com mudas nativas para a reposição da mata após o processo de exploração (figura 06), visto que a CBB zela pela preservação ambiental. Figura 06: Viveiro de mudas nativas mantido pela CBB. Fonte: Pesquisa de campo, 2008. Nesse sentido, espera-se que os órgãos públicos efetivamente fiscalizem as ações da CBB para que as leis ambientais sejam cumpridas rigorosamente, zelando pela qualidade ambiental e qualidade de vida dos trabalhadores e comunidade em geral. Tal ação é extremamente importante, já que no Brasil são contabilizados muitos casos de empresas que exploraram recursos naturais de determinadas regiões deixando para trás um quadro de depredação ambiental e mal estar da população, principalmente das pessoas que foram empregadas nessas atividades. Um exemplo na Bahia, os municípios de Poções e Bom Jesus da Serra que foram palco de décadas da exploração de amianto. A multinacional oriunda da França que se instalou na região deixou impactos visíveis ainda na atualidade, uma abertura de 1 km no solo foi feita na época da extração, além de contaminação de outros recursos naturais. Dezenas de famílias sofrem com as conseqüências da exploração, com doenças no aparelho respiratório entre outras. Após o término das atividades da empresa nenhuma ação foi tomada no sentido de minimizar os impactos causados, fruto da falta de acompanhamento dos órgãos competentes para cobrar da multinacional exploradora ações de recuperação das áreas degradas e melhorias nas condições de vida da população atingida, já que também não existiam medidas de segurança no trabalho dos operários. Para que o exemplo acima mencionado não ocorra com a extração da bentonita na região do Pradoso, é indispensável que as ações de recuperação das áreas mineradas sejam simultâneas a extração. Além disso, devem ocorrer constantes visitas técnicas das instituições responsáveis pela segurança e saúde dos trabalhadores que estão envolvidos em todas etapas do processo de exploração e beneficiamento, garantindo-lhes qualidade de vida. Quando questionado sobre quais benefícios a empresa traria a região do Pradoso, a CBB mencionou os empregos que a atividade proporcionará para famílias da região e algumas práticas de educação ambiental voltadas para a escola local. No entanto, sabese que a atuação CBB não poderia se limitar a isso. Como se trata de uma grande estrutura, a empresa deveria se envolver em ações que beneficiasse a comunidade como um todo, uma forma de compensar a região pela exploração. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de a bentonita ter sido detectada a cerca de uma década no solo da região do Pradoso, a sua extração e beneficiamento é recente na região. A CBB explora e beneficia o mineral que em sua maioria é escoado para região sudeste do país. O advento da indústria movimenta a economia local, promovendo mudanças sociais para a região do Pradoso. Por outro lado, a atividade mineradora já causa impactos ambientais que podem comprometer a qualidade de vida dos moradores, modificando a paisagem natural da região. Nesse sentido faz-se necessário um acompanhamento dos órgãos públicos de fiscalização ambiental para que se cumpra as exigências de recuperação das áreas degradadas pela exploração, além de manter a qualidade de vida dos funcionários e moradores da região do Pradoso. Vale ressaltar que em diversas fases da história da humanidade, os recursos naturais foram explorados de forma irracional e indiscriminada, como exemplo do Brasil no período colonial que teve suas riquezas naturais dilapidadas pelos colonizadores. Ainda hoje a agressão à natureza é uma realidade, e apesar de algumas iniciativas do Poder Público e Privado para a preservação do meio ambiente, muito ainda há para ser feito. À medida que o sistema capitalista avança novas necessidades de consumo são impostas à sociedade. Os impactos ambientais têm-se agravado em função do maior desenvolvimento anárquico das forças produtivas que estruturam o modo de produção capitalista, enquanto as relações de produção são relações de domínio e submissão. E como conseqüência da amplitude desse sistema econômico, verifica-se o grau de dilapidação da capacidade produtiva da terra, com crescente degradação da natureza, determinada por um aproveitamento generalizado e mais intenso dos recursos naturais, sobretudo através do processo de industrialização, urbanização e agricultura e mineração predatória. Cabe a sociedade ver-se como parte integrante da natureza, e não um simples agente transformador. A sociedade ao sentir os efeitos da degradação ao meio natural deve procurar formas de suprir suas necessidades essenciais de maneira sustentável, conservando o meio ambiente ao mesmo tempo. REFERÊNCIAS CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. 2ª edição. São Paulo: Contexto,1995. COMPANHIA BRASILEIRA DE BENTONITA. Material informativo. Vitória da Conquista: 2007. GODARD, Olivier. A gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente: Conceitos, instituições e desafios de legitimação .In: VIEIRA, Paulo Freire (org.) et al. Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento- novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 1997. GONÇALVES, Carlos W. P. Os (des) caminhos do Meio Ambiente. 2ª edição. São Paulo: Contexto, 1990. IMPACTOS ambientais e sociais da mineração. Boletim WRM nº 71, junho de 2003. Disponível em: <www.wrm.org.uy/boletim/71/minera.html>. Acesso em 12/02/08. LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2007. PRODUÇÃO mundial da bentonita. Mineral Commodity Summaries. United States Geological Survey,2004. Disponível em <minerals.usgs.gov/minerals/pubs/mcs/2004/mcs2004.pdf> Acesso em 13/02/08.