UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” “EVASÃO ESCOLAR” NO ENSINO SUPERIOR X SISTEMA DE COTAS JUPIACI NUNES ORIENTADORA Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA Rio de Janeiro 2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” “EVASÃO ESCOLAR” NO ENSINO SUPERIOR X SISTEMA DE COTAS Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: Jupiaci Nunes Rio de Janeiro 2010 AGRADECIMENTOS Agradeço com grande alegria aos professores que me auxiliaram neste trabalho. Agradeço especialmente à minha orientadora que me conduziu nesta empreitada. Agradeço também aos amigos e familiares pela paciência e compreensão. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todas as pessoas que contribuíram para a realização do mesmo e dedico especialmente à minha esposa, que participou efetivamente no processo de construção deste trabalho com suas idéias e sugestões. RESUMO A evasão no ensino superior é um tema pouco discutido no meio acadêmico, mas é de fundamental importância para entendermos a dinâmica de uma universidade. Este trabalho tem o objetivo de debater o sistema de cotas para estudantes egressos de escolas públicas e analisar os programas do governo federal na busca de políticas afirmativas, como por exemplo, o ProUni, o Sistema de Cotas, o Plano Nacional de Assistência Estudantil e o ENEM. Analisaremos as questões pedagógicas envolvendo as Instituições de Ensino Superior (IES), professores e alunos cotistas e as relações entre estes alunos e os que ingressam na universidade sem reservas de cotas; uma reflexão sobre a situação socioeconômica dos alunos de baixa renda no ambiente universitário e suas dificuldades de aprendizagem causadas pelo ensino precário que tiveram na educação pública básica, além de uma analogia entre a autoestima desses alunos e a aprendizagem Discutiremos os motivos que levam os estudantes a se evadirem da graduação, levantando hipóteses possíveis para tentar responder a esses questionamentos. A maioria dos alunos que ingressam pelo sistema de cota precisa de algum tipo de ajuda para se manter na universidade. Por isso, se faz uma reflexão sobre as bolsas de iniciação científica com ajuda financeira para alunos carentes na tentativa de desenvolver o potencial dos mesmos e promover sua permanência no ensino superior. Isso é necessário uma vez que muitos alunos de baixa renda abandonam a graduação por razões financeiras, já que muitos precisam trabalhar e não conseguem conciliar trabalho e estudo. E por fim, buscaremos alternativas para o combate à evasão escolar no ensino superior sugerindo mais investimentos nas políticas educacionais de assistência estudantil e ações afirmativas para a promoção da cidadania, assim como melhores condições de estudo para os estudantes do sistema de cota em prol da democratização do ensino superior. METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido inicialmente com base em pesquisas, reportagens e artigos sobre as políticas públicas na área de educação, especificamente sobre acesso, permanência e evasão no ensino superior. Os dados coletados nos mostraram que há divergência nos resultados apresentados sobre o desempenho dos estudantes cotistas em relação aos não cotistas. Os artigos e entrevistas coletadas de jornais na internet nos levaram por um caminho de análise atravessado por uma intervenção pedagógica no que tange o sentimento do aluno em sala de aula (Alves, 2003). Os dados analisados mostraram um aumento significante no número de matrículas no ensino superior e maior acesso para estudantes de baixa renda oriundos de escolas públicas, negros e indígenas. No entanto, essas políticas de ações afirmativas também geram divergência de opiniões no meio acadêmico e na opinião pública; mostraram, também, que a evasão no ensino superior atinge aos estudantes cotistas de diversas maneiras, como dificuldades financeiras, deficiência de aprendizado, má relação com professores e colegas de classe. A falta de orientação e acompanhamento por parte das IES também é um fator ocasionador da evasão. Com as análises chegamos à conclusão de que é preciso maior investimento governamental na área de assistência estudantil oferecendo melhores condições de moradia, transporte, alimentação e recursos pedagógicos nas Instituições de ensino, pois o estudante de baixa renda precisa ter, no ensino superior, os mesmos subsídios governamentais que tinha na educação básica. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I “EVASÃO ESCOLAR” NO ENSINO SUPERIOR 10 CAPÍTULO II OS FATORES OCASIONADORES DA EVASÃO 18 CAPÍTULO III SOLUÇÕES POSSÍVEIS: PROPOSTAS DE MUDANÇA 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 ANEXOS 37 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 51 WEBGRAFIA 52 ÍNDICE 53 8 INTRODUÇÃO “Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou (...) o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...” (João Guimarães Rosa, 1986: 26-52). O governo federal, nos últimos anos, tem se empenhado para que mais pessoas tenham acesso ao ensino superior. Um exemplo disso são as bolsas do PROUni e o sistema de cotas para alunos oriundos de escola pública, negros afrodescendentes, indígenas e estudantes de baixa renda. Este trabalho tem como objetivo identificar quais fatores influenciam o processo de ensino-aprendizagem desses estudantes na Universidade e buscar respostas para o problema da evasão de alunos cotistas nos primeiros períodos do curso. Uma análise minuciosa dos projetos educacionais do governo federal e das instituições, como por exemplo, o ENEM, ENADE e PROUNI, também se faz necessária para tentar explicar como se dá não só o acesso, mas a permanência de alunos cotistas na universidade, além do sistema de cotas, matéria que tem gerado muita polêmica no meio acadêmico e na opinião pública. O objeto de estudo deste trabalho são os estudantes que ingressam nas Universidades públicas do Rio de Janeiro por meio de cotas para alunos de escola pública, no que tange à permanência desse estudante até a conclusão 9 do curso. Além disso, serão abordadas questões pedagógicas relativas à atividade docente que dizem respeito à interação entre professores e alunos cotistas. Deve-se considerar que, historicamente, o sistema de educação pública básica oferece um ensino de baixa qualidade (os exames avaliativos da educação básica mostram baixo desempenho de estudantes da rede pública) para uma população pobre que não vê na educação perspectivas de mudança socioeconômica. A justificativa para a realização deste trabalho está fundamentada na necessidade que existe de se buscar estratégias para combater a evasão de alunos de baixa renda que ingressam na Universidade por meio do sistema de cotas, visto que diversos fatores interferem na qualidade do ensino destes estudantes. Uma das hipóteses para tentar explicar os motivos da evasão é a de que muitos desses estudantes estão inseridos num contexto socioeconômico que não permite sua permanência no meio acadêmico, visto que diversos fatores internos e externos interferem no processo ensino-aprendizagem – mais adiante abordaremos o conceito de ensino-aprendizagem. Outra hipótese possível é a de que nas Universidades, públicas principalmente, que têm em seu quadro de alunos indivíduos de classe média/alta, que em sua maioria não trabalham e tem seus estudos custeados pelos pais, antagonizando com a situação de estudantes pobres, que têm de trabalhar para custear seus estudos, tendo pouco tempo para se dedicar ao curso, é onde a desigualdade social e educacional é mais evidente. A condição socioeconômica é de fundamental importância para entendermos como se dá o processo de ensino-aprendizagem de estudante de baixa renda. Espera-se com este trabalho confirmar as hipóteses apresentadas e traçar um panorama da situação acadêmica de alunos de baixa renda egressos de escolas públicas no meio universitário; propor soluções para diminuir o índice de evasão nesta categoria de alunos e melhorar a relação entre a 10 instituição, professores e alunos para uma maior democratização do ensino superior. CAPÍTULO I “EVASÃO ESCOLAR” NO ENSINO SUPERIOR Atualmente, tem crescido consideravelmente o nível de escolarização do brasileiro em geral. As pessoas estão despertando para a necessidade de se buscar a escolarização como meio de ascensão social. Isso inclui o ensino superior, uma vez que apenas o nível médio já não atende mais as expectativas e exigências do mercado de trabalho, cuja competitividade nos empurra para a formação continuada, especialização para se destacar no mercado. A evasão é muito pesquisada e combatida no nível fundamental e médio, mas pouco investigada no nível superior. Por isso nos demos a esta empreitada no intuito de levantar o questionamento e a reflexão sobre o assunto e delinearmos algumas hipóteses causadoras da evasão no ensino superior. Uma análise sobre as políticas de cotas para alunos oriundos de escola pública demonstra que existe um esforço no sentido de democratizar o acesso aos bancos das universidades e, com isso, diminuir as desigualdades sociais. Outra questão que precisa ser respondida é a postura pedagógica do corpo docente em relação às dificuldades que poderão surgir por parte dos alunos. Tais carências podem ser de ordem diversa, como por exemplo: carência financeira, afetiva, de conteúdo, cognitiva, etc. Isso tudo no mundo competitivo de hoje se constitui em obstáculos que vão se construindo aos poucos e minando a motivação inicial de graduandos – motivação é o que 11 impulsiona o discente no sentido de descobrir o novo, construir o conhecimento. Consequentemente, toda a equipe pedagógica e administrativa, administradores, coordenadores e supervisores, além de professores, têm de estar envolvida no processo de ensino-aprendizagem no esforço de evitar a evasão nos primeiros períodos da graduação. Nesse sentido, “o sistema educacional deve, para o momento, ser um real e corajoso ícone alternativo para nossas vidas entre tantos ícones que só nos estimulam negativamente. Deve a escola, como todo ônus oriundo da ação da mudança, ser um espaço democrático, sistema aberto que permita a inserção da vida em seu interior para que o homem concreto possa se problematizar e, assim, conscientizandose para a ação da mudança” (Freitas, 2000, p.140). Essa perspectiva educacional nos remete ao esforço institucionalizado para a abertura da Universidade aos estudantes de baixa renda – muitos desses não teriam condições de ingressar no nível superior sem as políticas de cotas. 1.1 O Sistema de Cotas nas Universidades A exclusão no Ensino Superior começa muito antes de o aluno entrar em uma Universidade pública. São poucos que conseguem embarcar no barco chamado Universidade Federal ou Universidade Estadual. A competição é acirrada e somente os que estão mais bem preparados para realizar essa travessia é que conseguem embarcar. E estar bem preparado para essa jornada significa cursar bons, se não excelentes, Ensino Fundamental e Médio, complementados por um ou mais anos em um curso preparatório. É certo que os alunos que concluem o Ensino Médio em escola da rede pública conseguem ingressar no Ensino Superior, mas o número de aprovados é sempre menor do que o daqueles que frequentaram a escola particular. Assim, ser bem preparado para ingressar em uma Universidade, além de representar um grande desafio, é privilégio de poucos. A superação das desigualdades socioeconômicas impõe-se como uma das metas de qualquer sociedade que aspira a uma maior equidade 12 social. Em face aos problemas sociais, algumas alternativas são propostas para atenuação de desigualdades que mantém em condições díspares cidadãos de estratos sociais distintos. Uma das alternativas propostas é o sistema de cotas que visaria a acelerar um processo de inclusão social de grupos à margem da sociedade. O sistema de cotas para negros, indígenas e alunos de baixa renda egressos de escola pública foi implantado pelo governo federal com o objetivo de diminuir a desigualdade de chances que esses alunos tinham de ingressarem no ensino superior. O projeto de lei 546/2007, aprovado na Câmara dos Deputados em 20/11/2008 estabelece o sistema de cotas nas universidades públicas federais e instituições de educação profissional e tecnológicas. Se aprovado no Senado, determina que 50% das vagas sejam destinadas para alunos que realizaram todo o ensino médio em escola pública. Enquanto não é aprovado segue as instruções que já existem: Nas universidades, a adoção de reserva de vagas começou em 2000, com a aprovação da lei estadual 3.524/00, de 28 de dezembro de 2000. Esta lei garante a reserva de 50% das vagas, nas universidades estaduais do Rio de Janeiro, para estudantes das redes públicas municipais e estaduais de ensino. Esta lei passou a ser aplicada no vestibular de 2004 da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). A lei 3.708/01 institui o sistema de cotas para estudantes denominados "negros" ou "pardos", com percentual de 40% das vagas das universidades estaduais do Rio de Janeiro. Esta lei passou a ser aplicada no vestibular de 2002 da UERJ e da UENF. A atual lei 4.151/03 aglutinou as leis 3.524/00 e 3.708/01 com o seguinte texto: “A Governadora do Estado do Rio de Janeiro, Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 13 Art. 1º - Com vistas à redução de desigualdades étnicas, sociais e econômicas, deverão as universidades públicas estaduais estabelecer cotas para ingresso nos seus cursos de graduação aos seguintes estudantes carentes: I - oriundos da rede pública de ensino; II - negros; ”. (http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/b24a2da5a077847c032564f 4005d4bf2/e50b5bf653e6040983256d9c00606969?OpenDocument) O sistema de cotas é considerado uma medida polêmica, gerando debates acalorados nos círculos acadêmicos. É algo que divide opiniões, embora seja um consenso de que algo deva ser feito para diminuição das desigualdades entre os cidadãos e grupos sociais. No entanto, a ideia que se tem é que as cotas produzem uma separação dentro da sociedade, passando a impressão de que negros, ou afrodescendentes, são menos capazes do que brancos. Certamente essa afirmação não cabe no contexto atual, em que a ciência já comprovou que seres humanos são igualmente capazes independentemente de cor/etnia. Para isso, basta que haja igualdade de condições e estímulos adequados à aprendizagem. 1.2 Critérios de seleção Existem hoje, no Brasil, diversas formas de ingresso ao ensino superior: O vestibular, normalmente utilizado por todas as instituições sejam públicas ou privadas; o Novo ENEM e o ProUni. No vestibular as universidades podem optar pelo sistema de cotas. Sendo assim, no ato da inscrição o candidato escolhe se vai concorrer às vagas pelo sistema de cotas ou não. Já no ENEM os candidatos que tiverem a maior nota têm chances de conseguir uma bolsa de estudos numa universidade particular ou o ingresso em universidades federais. De acordo com a Lei de cotas, as vagas não preenchidas por alunos cotistas serão preenchidas por candidatos às vagas regulares. Segundo levantamento da Folha de São Paulo (19/03/2007), das vagas oferecidas em 9 das 15 instituições que adotam o sistema de cotas, 2000 não foram preenchidas. Isso corresponde a aproximadamente 33% do total de vagas oferecidas. 14 Pesquisadores e educadores têm explicações diversas para a sobra de vagas, que passam por falta de preparo do cotista, pouca informação sobre o benefício e regras muito rígidas (Takahashi e Calgaro, 2007). Segundo o professor do programa de pós-graduação em educação da UERJ Henrique Sobreira, as instituições impõem regras que impedem a participação de estudantes carentes no vestibular e a principal causa é a fixação de um teto de renda mínima muito baixo. No caso da UERJ, um candidato às cotas precisa ter renda familiar per capita de no máximo R$ 630,00, quantia inferior a dois salários mínimos. Segundo a Folha, cada escola segue uma lógica. Nas universidades estaduais do Rio de Janeiro, por exemplo, as instituições precisam reservar 45% de suas vagas. Dentro desse percentual, há uma sub-reserva para estudantes negros (20%), alunos egressos de escola pública (20%) e indígenas (5%). A justificativa das universidades para a sobra de vagas é a falta de preparo dos estudantes carentes oriundos da rede pública de ensino básico. Mesmo tendo as vagas reservadas, os candidatos que concorrem pelo sistema de cotas precisam obter uma nota mínima para ingressar nas instituições. Na UERJ, por exemplo, o candidato precisa acertar 40% do exame de qualificação – esta seria uma tentativa de manter um padrão mínimo de qualidade. Esse despreparo por parte dos alunos da educação básica pública evidencia a baixa qualidade do ensino público nas redes municipais e estaduais de ensino. Com isso, a criação do sistema de cotas nas universidades não atingirá plenamente o objetivo de inclusão social se não houver um investimento significativo na educação pública básica. 15 1.2.1 ENEM como meio de acesso ao ensino superior O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM – foi criado em 1998, pelo Inep – Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais. É uma prova aplicada anualmente, com o objetivo de avaliar os alunos e a qualidade do ensino médio em todo o país. Atualmente o ENEM tem sido utilizado também como forma de ingresso ao ensino superior através do PROUNI, ou como processo de vestibular de algumas universidades públicas e particulares. O critério de avaliação é a nota que o estudante obtém no ENEM, quanto maior a nota, maiores são as chances de se conseguir uma bolsa com o PROUNI, ou o ingresso com bolsas oferecidas pelas próprias universidades particulares ou ainda utilizar a nota como forma de ingresso nas universidades públicas para aquelas que adotarem essa forma de ingresso. O PROUNI foi criando em 2004 pelo governo federal e busca atender os estudantes de baixa renda ou provenientes de escolas públicas. A finalidade desse programa é a concessão de bolsas de estudos parciais ou integrais em universidades particulares e em contrapartida as universidades ganham isenção em alguns tributos. O Novo ENEM sofreu uma grande reformulação para poder servir de ingresso em universidades públicas federais. As universidades possuem autonomia e podem optar entre quatro possibilidades de utilização do novo exame como processo seletivo: • Como fase única, com o sistema de seleção unificada, informatizado e on-line; • Como primeira fase; • Combinado com o vestibular da instituição; • Como fase única para as vagas remanescentes do vestibular. MEC (http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1331 8&Itemid=310) 16 1.3 Estudantes do Sistema de Cotas X Evasão A questão da evasão no ensino superior vem sendo debatida com bastante empenho pelos órgãos competentes no Brasil, pois afeta diretamente a qualidade do ensino e as metas de crescimento do país. O desafio é criar e gerir instrumentos capazes de garantir a permanência discente no ensino superior, seja através de reforma curricular, adoção de cotas, programas de financiamentos, bolsas, etc. Existem diversos fatores que podem causar a evasão escolar no ensino superior. Mas vamos focar nos estudantes que entraram na universidade através do sistema de cotas sociais para estudantes de escola pública que é o tema central desta pesquisa. Por que muitos deles abandonam o curso? Descobrir os motivos dessa evasão pode fazer com que políticas públicas sejam adotadas como forma de complementar as já existentes no que se refere ao sistema de cotas sociais. Foi feito um estudo na Universidade Estadual de Londrina no qual os docentes foram entrevistados em relação aos alunos cotistas: O estudo foi conduzido considerando como população a totalidade dos docentes que ministraram aulas aos alunos cotistas nos anos de 2005 e 2006. Neste caso, foram envolvidos 1080 docentes. Os questionários foram encaminhados por malote aos Departamentos, dos quais foram contatados por telefone um a um, colocando-se a importância dos questionários respondidos. Dos docentes consultados, 152 responderam, ou seja, 14% dos docentes consultados (www.repositorio.seap.pr.gov.br). O questionário buscou respostas a questões como: a) se houve mudança de natureza pedagógica no desenvolvimento dos conteúdos disciplinares em função do ingresso de estudantes cotistas; b) conhecimento dos docentes sobre quem é ou não cotista; c) principais dificuldades apresentadas pelos cotistas. 17 Dos docentes que conseguem identificar os alunos cotistas dos não cotistas o fazem informalmente, através dos próprios estudantes. Embora, a pesquisa tenha atingido apenas 14% do total de docentes que ministraram aulas aos alunos dos primeiros anos, foi bastante significativo em termos de resultados obtidos, tais como: 1) 85% dos docentes não identificam os alunos cotistas e quando isto acontece, o fazem de maneira informal, demonstrando não haver por parte da Instituição uma preocupação no acompanhamento efetivo dos mesmos; 2) dos docentes que identificam os alunos cotistas 72% admitem que estes têm maior grau de dificuldades que os demais, sendo estas dificuldades em maior percentagem pela falta de conhecimentos básicos, dificuldades na realização de tarefas e não conseguem acompanhar a turma; 3) dos docentes que identificam os alunos cotistas 41,67% efetuaram alguma mudança de ordem pedagógica a fim de minimizar dificuldades apresentadas ; 4) 82% dos docentes não identificam qualquer tipo de preconceito com relação a alunos cotistas; 5) 66,67% dos docentes observam dificuldades financeiras em alunos cotistas a ponto de interferir no desempenho escolar, principalmente com relação à aquisição de livros e outros materiais didáticos. Nesta mesma universidade foi calculada a porcentagem de alunos que abandonam o curso. Em relação aos alunos oriundos de escola pública que entram através do sistema de cotas a evasão girou em torno de 4,09% enquanto que a evasão dos estudantes que entraram através da cota universal girou em torno de 7,88%, este cálculo assim como a pesquisa anterior tem como referência o ano de 2005. Cabe ressaltar que o número de alunos que entraram através do sistema de cotas sociais é bem menor que o número de alunos que entraram através das cotas universais. Esse estudo foi relatado 18 aqui apenas para se ter uma ideia geral da quantidade de alunos cotistas que abandonam o curso e os motivos que podem ter ocasionado tal ato. No próximo capítulo estudaremos mais profundamente os motivos relatados por alunos cotistas que abandonaram o curso superior. CAPÍTULO II OS FATORES OCASIONADORES DA EVASÃO A exclusão não se restringe somente às condições de acesso às Universidades. Permanecer na universidade é trabalho árduo e requer condições para que o aluno ingressante consiga concluir o curso de graduação escolhido. É preciso que ele tenha formação pregressa suficiente que lhe garanta um bom desempenho acadêmico, apoio familiar, suporte econômico, estrutura emocional e psíquica e segurança de que a escolha do curso corresponda às suas expectativas futuras. Esses requisitos, no entanto, ainda não são suficientes. As causas da evasão costumam ser variadas. Estudos têm apontado descontentamento com horários das disciplinas, falta de cursos noturnos, impossibilidade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, mau relacionamento professor-aluno (Cunha & cols., 2001; Veloso & Almeida, 2001), pouca integração social à universidade, expectativas não correspondidas e falta de informações sobre curso e profissão, mau desempenho, reprovações e atraso, problemas financeiros, entre outros. Segundo uma pesquisa realizada em 2004 pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) para traçar o 19 perfil dos estudantes que freqüentam as instituições federais brasileiras, 43% dos universitários têm renda familiar de até R$ 927,00 e de acordo com os dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o número de jovens de baixa renda é ainda maior. O questionário socioeconômico mostrou que 30,1% dos universitários das instituições públicas possuem renda de até três salários mínimos. Ainda de acordo com o Fonaprace, que representa decanos e reitores das universidades federais, 65% dos universitários precisam de algum tipo de ajuda para se manter na universidade. Muitos não conseguem se manter longe de casa, bancando alimentação, transporte e livros e são obrigados a deixar a graduação. 2.1 Autoestima e aprendizagem A cena é comum em diversas salas de aula: alunos que parecem estar dormindo, ou prestando atenção em qualquer outra coisa menos na aula. A participação inexiste e o mais incrível é que os próprios professores podem estar estimulando esse comportamento, através de atitudes que parecem bem intencionadas, mas acabam produzindo efeito negativo nos alunos. A vida escolar compete com o mundo real: produção, trabalho, dinheiro, prazer, necessidades, interesses, aprendizagens informais... Além do mais, a realidade brasileira muitas vezes exige que os alunos desfavorecidos entrem precocemente no mercado de trabalho, prejudicando o tempo dedicado à sua formação. Os alunos oriundos de escolas públicas por muitas vezes têm dificuldades de acompanhar a turma numa universidade por conta de um ensino básico precário que é o ensino básico das escolas públicas existentes no país. O Ensino básico precisa preparar os alunos para que ingressem na universidade em par de igualdade com os estudantes de escolas particulares, mas infelizmente temos problemas educacionais sérios que ainda precisam ser discutidos e melhorados. Enquanto isso não ocorre os estudantes cotistas têm dificuldades no aprendizado, o que muitas vezes faz com o os professores 20 estruturem o conteúdo programático das aulas de forma que facilite o aprendizado desses alunos. Por outro lado isso gera certa insatisfação entre os outros alunos fazendo com que os alunos cotistas sejam culpados pela decadência das escolas públicas, acabam sendo discriminados pelos colegas, diminuindo sua autoestima e desmotivando-o para a busca do conhecimento. Então aqueles alunos que já tinham dificuldades acabam bloqueando ainda mais a sua aprendizagem por se sentirem excluídos e sem motivação alguma para seguir adiante. Os estudantes desmotivados acabam por abandonar o curso achando que jamais conseguirão estar no mesmo nível dos outros alunos. 2.2 Dificuldades Financeiras influenciam na aprendizagem Alunos cotistas destacam as dificuldades financeiras como um fator da evasão no ensino superior. Muitos alunos oriundos de escola pública sonham em entrar numa universidade pública e um dos motivos é que não têm como arcar com o custo de uma universidade particular. Mas se manter em uma universidade pública não é algo barato. Os custos com livros didáticos e outros materiais que auxiliam o aprendizado é alto; e ainda têm os custos de transporte porque a maioria das universidades públicas fica longe da casa dos estudantes. Os alojamentos não são para todos e muitas vezes eles têm que pegar até quatro conduções por dia, gerando um grande gasto no orçamento familiar. Podemos contar ainda com o fato de não conseguirem conciliar o estudo com o trabalho. Nas universidades públicas existe uma estrutura curricular que exige do aluno dedicação exclusiva, pois as disciplinas são lecionadas em horários diversificados, fazendo com que o discente precise ficar durante todo o dia no campus. Tudo isso nos impõe uma reflexão a respeito da situação desfavorável do aluno cotista: estes durante o ensino básico na escola pública contavam com benefícios concedidos pelo poder público, como por exemplo, uniformes, livros, cadernos e material didático em geral, além de alimentação e transporte público gratuito. Atrelado a isso, podemos mencionar, 21 também, a afirmação de Batista e Meneses (2003) a respeito do significado que os educandos atribuem ao trabalho escolar e ao tempo em que vivem na escola: “Julgam este tempo como um tempo instrumental a outras finalidades, tais como: ser aprovado no vestibular, ingressar no mercado de trabalho, ter acesso à merenda, ter o cuidado de adultos enquanto os pais trabalham fora de casa, entre outros”. No ensino superior não é diferente, com algumas exceções. Ao ingressar no ensino superior, o aluno cotista se depara com um mundo muito diferente do que estava acostumado. Não pode mais contar com a ajuda de antes, apenas com sua família e seu esforço próprio. Daí a necessidade de trabalhar para manter seus estudos e garantir sua formação, indo na contramão da conjuntura que se estabelece. Esta é uma questão que será abordada mais aprofundada no próximo capítulo. 2.3 Relacionamento entre Cotistas e Não-Cotistas Os problemas de relacionamento entre alunos cotistas e os alunos não cotistas foi destacado como um dos principais fatores que influenciam os alunos a abandonarem o ensino superior. O atual sistema de cotas gera muita polêmica entre os alunos e as cotas raciais para negros geram um maior preconceito entre os alunos na universidade do que antes. Como exemplo, temos um artigo publicado pelo Jornal Folha Dirigida sobre a UERJ: “Estudo divulgado pela UERJ em 2006 mostrou que os professores da instituição, primeira a adotar o regime de cotas no país, consideraram o desempenho dos cotistas igual ou superior ao dos não cotistas. “Foram ouvidos 557 professores da UERJ, Ufal, UNB e Uneb, dos quais somente 7,6% consideraram o desempenho dos cotistas como ruim ou péssimo, enquanto 73,7% avaliaram este desempenho como bom ou muito bom. Na mesma direção, 90,3% destes professores apontam que o nível acadêmico da universidade se manteve igual ou melhorou após a adoção das cotas. Também 93,6% apontam que as 22 relações raciais na universidade se mantiveram iguais ou melhoraram após a entrada dos cotistas”, alegou. Porém, segundo Ubiratan Ioro, o estudo não condiz com a realidade. O educador ressalta ainda que, na prática, o sistema promove segregação dentro da universidade. “O estudo foi feito na época em que eu estava saindo da direção da faculdade de Economia e sei que ele não é verdadeiro, pois o pessoal que está lá é favorável às cotas e distorceram o resultado. Sou docente e percebo com clareza que está havendo separação entre alunos brancos e negros, o que antes não existia. Na UERJ, sempre houve muitos alunos pobres, provenientes dos Colégios de Aplicação e do Pedro II, e, mesmo assim, havia uma convivência muito boa”, salientou.” Este artigo comprova que ainda não existe uma estatística coerente e verdadeira em relação às cotas, mas o que se percebe é que nos dias atuais e com as atuais políticas públicas para o ensino superior há uma separação clara entre alunos que entram na universidade através da reserva de cotas e os que entram sem reserva. Alunos cotistas se dizem discriminados por outros alunos pelo fato de entrarem de uma forma “mais fácil” na universidade. Alunos não-cotistas taxam os outros alunos como “ladrões” das vagas que poderiam ser de outros que se dedicaram ao vestibular com afinco, mas como há uma porcentagem das vagas destinadas aos cotistas acabam não conseguindo entrar na universidade. Esse preconceito gera nos alunos cotistas uma desmotivação que aliada a outros fatores como citados anteriormente (dificuldades financeiras, dificuldades na aprendizagem, etc.) contribuem de forma significativa para que abandonem o curso. Nesse sentido, “cria-se, por assim dizer, um mecanismo interno em cada pessoa que a leva a, ao encontrar-se com o outro, realizar uma avaliação cujo resultado final deva ser a resposta à pergunta: É da minha tribo? Em caso afirmativo, considera-o amigo, mas em caso negativo, o outro é sentido como ameaça e precisa ser anulado para que o medo do perigo sentido cesse”, Batista e Meneses – orgs (2003). 2.3.1 Problemas de Mau Relacionamento Professor-Aluno 23 Os problemas de relacionamento interpessoal na universidade não giram apenas em torno dos alunos cotistas e não cotistas, giram também em torno do professor e do aluno cotista. O relacionamento professor-aluno é atravessado por afetos de amor e de ódio (ambivalência). Na educação infantil e no ensino fundamental essas relações podem ser percebidas de maneira mais clara, já que para as crianças os professores ocupam o papel de “pais substitutos”, herdando os sentimentos que inicialmente foram endereçados a esses. No ensino superior as transferências de afeto também acontecem, ainda que de maneira menos perceptível, onde o professor ocupa “lugares” na psique do aluno que, na maioria das vezes, não corresponde ao seu lugar na vida real. Sabemos que o ato de aprender sempre pressupõe uma relação com outra pessoa: a que ensina. Esta pessoa que ensina – o professor, é colocado pelo aluno numa determinada posição que pode ou não propiciar a aprendizagem. Entre esses dois personagens do processo de ensinoaprendizagem estabelece-se um campo de relações, que propicia as condições para aprender, denominado transferência. Transferir é o mesmo que deslocar algo (sentido) de um lugar para o outro, sendo que essas transferências atribuem um sentido especial à uma figura determinada pelo desejo. Na relação professor-aluno a transferência se produz quando o desejo de saber do discente se liga a um elemento particular que é a pessoa do professor. Dessa forma, o conteúdo a ser ensinado deixa de ser o centro do processo pedagógico e a figura do professor e sua significação para o aluno é que passam a ser a chave para o aprendizado. Se um aluno, por alguma razão consciente ou não, não se sente a vontade com determinado professor, não consegue autorizá-lo a lhe ensinar algo, não gosta do seu jeito, sua postura, sua voz, com certeza, haverá dificuldades em aprender conteúdos que emanem desse professor, ainda que possam parecer interessantes ou necessários. Neste caso, o aluno pode ter transferido algo negativo para a figura desse professor que passou a ocupar um lugar de recusa na psique 24 desse aluno, um lugar que nunca foi da pessoa real do professor, mas que, por alguma razão, esse passa a ocupar devido a transferência do aluno. Um professor, por mais que não queira, pode desenvolver maior afinidade com determinado aluno, ouvir melhor suas posições, encará-lo com os olhos do sucesso, estimulá-lo a crescer com mais afinco, ao passo que, com outro aluno, pode desenvolver uma relação de distanciamento, de recusa, de não envolvimento – o que tem ocorrido com freqüência nas universidades. Segundo Paulo Freire, “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”, Freire (2003, P.78). No entanto, alguns professores tendem a dar mais atenção aos melhores alunos na universidade visando um futuro profissional promissor do mesmo, enquanto que os alunos cotistas que têm dificuldades de aprendizagem acabam ficando à margem da turma criando, assim, uma barreira no relacionamento professoraluno causando a desmotivação do educando pelas aulas. O fato é que alunos são pessoas, constituídas por tramas originais, que causam reações aos seus interlocutores, sendo o professor um deles, e essa ação-reflexão precisa ser alcançar a todos no processo de ensino-aprendizagem. Quando isso não acontece, a visão libertadora de educação proposta por Freire cai por terra. Rubem Alves dá testemunho desta falta de diálogo entre professor e aluno, e ainda cita como exemplo Jorge Luis Borges: Não me espanto, portanto, que tenha aprendido tão pouco na escola. O que aprendi foi fora dela e contra ela. Jorge Luis Borges passou por experiência semelhante. Declarou que estudou a vida inteira, menos nos anos em que esteve na escola. Era, de fato, difícil amar as disciplinas representadas por rostos e vozes que não queriam ser amados. (ALVES, 2003, P.17) Ainda contamos com aqueles professores que infelizmente transferem para os alunos a insatisfação com o sistema de cotas. Muitos 25 professores são contra, e usam como base a idéia de que os alunos que entram na universidade através da reserva de cotas sociais acabam por diminuir o nível dos alunos que entram sem reserva, pois durante as aulas precisam diminuir o ritmo ou mudar o conteúdo de maneira que os alunos cotistas possam acompanhar. Esses professores acabam, em sala de aula, discriminando esse aluno, o que aumenta a animosidade entre cotistas e não cotistas. Isso faz com que os alunos cotistas não se sintam à vontade para expor suas dúvidas e manter um bom relacionamento com seu próprio professor. Contribuindo tal fato para a desmotivação desse aluno e seu mau desempenho nas avaliações. 2.3.2 As IES e o relacionamento com os alunos cotistas Os dirigentes das instituições federais de ensino não demonstram satisfação com o atual sistema de cotas. O problema não está na criação de políticas de ações afirmativas, mas na imposição da quantidade de vagas reservadas, a determinação fere a autonomia das Universidades, segundo eles. O que os dirigentes propõem é que as universidades sejam estimuladas a adotarem ações afirmativas, sem impor modelos. As IES acabam transferindo para os alunos cotistas a sua insatisfação com o sistema da seguinte forma: não facilitam a permanência do cotista no ensino superior, não há um preparo ou adequação da universidade para receber esse aluno. O aluno cotista entra na universidade, mas não tem nenhum apoio por parte da instituição para permanecer na mesma e não estamos falando de apoio financeiro, que dependeria de verba do governo, mas de apoio pedagógico, com incentivos e projetos, além de um acompanhamento mais aprofundado desses alunos. Muitos alunos ficam desmotivados pela falta de acolhimento por parte das instituições. Por isso, é preciso que haja um envolvimento de toda equipe técnico-pedagógica no sentido de propiciar aos alunos cotistas, e não cotistas também, os meios necessários para a sua adaptação ao novo ambiente educacional. Freitas 26 (2000) confirma esta tese quando diz que o sistema educacional deve ser um real e corajoso ícone alternativo para nossas vidas entre tantos ícones que só nos estimulam negativamente. E enquanto não olharmos os que nela (escola/universidade) vivem e trabalham – o homem concreto – não poderemos em nada melhorá-la. Em outras palavras, o relacionamento entre IES, professores e alunos deve se dá dialogicamente para que o processo de ensino-aprendizagem caminhe na direção da humanização. Estes ditos de Paulo Freire traduzem bem a postura de algumas instituições em relação aos alunos: “Como posso dialogar, se me sinto participante de um gueto de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”? Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar”? (FREIRE, 1987, P.80) Partindo da premissa de que não existe o diálogo entre IES e alunos cotistas por causa da insatisfação pela imposição de reserva de vagas, tirando a autonomia da universidade, certamente áreas importantes do desenvolvimento cognitivo do educando ficarão prejudicadas, como por exemplo, sua autoestima, o desejo de aprender, o relacionamento com professores e colegas de turma, entre outros. Trabalhar em coletividade deve, ou pelo menos, deveria ser a ação primeira da universidade. Esta tem como missão principal gerir os relacionamentos professor-aluno e dos alunos entre si. No entanto, como já foi dito, isso não acontece normalmente, conforme Jair Militão da Silva: “O trabalho coletivo não é algo que possa ser considerado usual em nossa cultura, havendo necessidade de uma deliberada atuação visando à formação de pessoas aptas a atuar em conjunto. É preciso que se utilize uma pedagogia do trabalho coletivo, originada no 27 campo da educação comunitária e que contribua para a criação e manutenção de um sujeito coletivo” (SILVA, 2001, apud Batista e Meneses et al, 2003) CAPÍTULO III SOLUÇÕES POSSÍVEIS: PROPOSTAS DE MUDANÇA Não podemos nos preocupar só com a entrada dos estudantes no sistema, na universidade. Além da entrada, é preciso uma preocupação de acompanhamento desse estudante dentro dessa política pública de Educação Superior. Esse acompanhamento significa formar profissionais que, no futuro, sejam altamente capacitados para o mercado de trabalho ou para a área acadêmica. Um trabalho interessante que busque apoio para a realização de estágios e pesquisa para que o estudante tenha ajuda à sua permanência por meio de estudos, pesquisa e de estágios seria uma boa proposta para manter os cotistas na universidade. Segundo Pedro Demo, a universidade hoje tem uma lacuna considerável quando se trata de pesquisa, principalmente nas particulares. Ele diz que é praticamente inexistente o estímulo e incentivo à pesquisa por parte da instituição em relação ao professor, e deste em relação aos alunos. Os professores, em suas práticas docentes, estão limitados a dar aulas e nada além disso. Que a universidade deveria ser um espaço de prática excessiva de pesquisa é fato. Este é um fato que precisa de atenção por parte dos envolvidos no processo de construção do conhecimento: governo, instituições, professores e alunos. A construção do conhecimento se dá através 28 da busca do novo, do que ainda não foi descoberto, ou que está encoberto e precisa ser desvelado em suas particularidades, características individuais do objeto pesquisado. Assim, a pesquisa é o ponto-chave do processo de ensinoaprendizagem, pois é por meio dela que acontecem as descobertas. As mudanças aqui propostas devem ser consideradas em um contexto mais amplo: mudanças em todo o sistema educacional, começando pela educação básica com melhorias na qualidade de ensino e no ensino superior, com investimentos em pesquisa e interação com a comunidade local. Esta aproximação ganha a confiança da comunidade ao redor da universidade e eleva a autoestima daqueles alunos da rede básica de educação fazendo com que vislumbrem a possibilidade de ingresso no ensino superior. A recente mudança no sistema de seleção para os candidatos à uma vaga no ensino superior, com o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), que é o sistema informatizado, gerenciado pelo Ministério da Educação, por meio do qual as instituições públicas de educação superior participantes selecionarão novos estudantes exclusivamente pela nota obtida no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) 2009, permitirá que mais estudantes de escolas públicas ingressem na graduação, mas se engana quem acha que as mudanças no novo mecanismo de acesso às universidades públicas são o maior desafio. A permanência daqueles que conseguem atravessar o estreito "funil" e assegurar uma vaga no ensino superior é uma questão mais intrigante. Segundo dados do MEC, cerca de 30% dos estudantes de todo Brasil, que são aprovados em vestibulares de universidades públicas, desistem do curso. A evasão em sua quase totalidade afeta estudantes egressos da rede pública, que apresentam dificuldade em acompanhar o ritmo de sala de aula. Segundo a presidente nacional do Fórum de Graduação (Forgrad), pró-reitora da Universidade Rural de Pernambuco, Maria José de Sena, a interação com as escolas nos anos que antecedem o ingresso no ensino 29 superior é a saída possível e eficiente para reverter o cenário atual do ensino médio no Brasil. "Não dá mais para ficar de braços cruzados esperando que as escolas ofereçam o nível de qualidade esperado. O ensino médio na rede pública, apesar das adequações, passa por problemas estruturais sérios como a insuficiência de profissionais e deficiências em prédios, equipamentos e material de apoio. O que estamos propondo é a inserção, a integração da universidade às escolas. Queremos provar que se a universidade estiver junto com o ensino médio, os resultados serão diferentes", afirma. Nesse contexto, temos exemplos positivos de que a integração entre universidade e ensino médio pode produzir bons frutos no que tange a qualidade do ensino. Os colégios de aplicação, como CAp-UERJ e CAp-UFRJ estão entre os melhores na avaliação do ENEM, perdendo apenas para os tradicionais Colégio de São Bento (média 80,58), Colégio Santo Inácio (média 76,09) e Colégio Santo Agostinho (média 75,97). Na avaliação do ENEM/2008 o CAp-UFRJ (média 75,25) ocupou a 4ª posição no ranking das melhores escolas do Rio de Janeiro, seguido pelo CAp-UERJ (média 75,11) na 5ª posição. Isso demonstra que, quando a universidade está integrada com o ensino médio, a qualidade do ensino se mostra nos processos avaliativos. Mas é importante lembrar que os colégios de aplicação, assim como os colégios federais, selecionam seus alunos por meio de processo seletivo (concurso). Desta forma, seus alunos já ingressam com um nível de conhecimento considerável, se destacando de outros alunos da rede pública regular que não seguem o mesmo processo. 3.1 Como combater a evasão? Esta é uma pergunta que requer uma reflexão aprofundada das questões socioeconômicas envolvendo a vida acadêmica do aluno cotista. Não é demais recordar que quem ingressa na universidade por meio da reserva de cotas tem baixo poder aquisitivo. Ou seja, este aluno certamente precisará de ajuda para se manter no meio acadêmico – ajuda de ordem financeira, 30 psicológica e pedagógica principalmente. Além do caráter financeiro, a autoestima do aluno tem grande importância no seu processo de formação. Então, a instituição precisa estar atenta para esta questão e trabalhar no sentido de integrar e incluir este aluno carente em todos os processos de aprendizagem no meio universitário, disponibilizando diversos recursos que possibilitem a sua integração, tais como participação nos debates que definirão os caminhos a serem seguidos pela universidade, a aproximação do professor no sentido de acolher a este aluno e estimulá-lo na busca do conhecimento. No Brasil, são raríssimas as instituições de ensino superior (IES) que possuem um programa profissionalizado de combate à evasão, com planejamento de ações, acompanhamento de resultados e coleta de experiências bem sucedidas. Este problema vem sendo estudado sistematicamente há muitos anos nos EUA, onde se encontram os dados mais completos e as estatísticas mais abrangentes sobre as causas e as formas de combater a evasão estudantil. Segundo professor Vincent Tinto, da Universidade de Syracuse, considerado uma das maiores autoridades mundiais neste assunto, “as pesquisas mostram que a freqüência e a qualidade da interação dos estudantes com os professores, funcionários e colegas é um dos principais indicadores não só da permanência, mas também do aproveitamento estudantil”. A necessidade de o aluno estar envolvido não só com seu aprendizado, mas também com o dos seus colegas, estimulou nos EUA a criação dos chamados centros de aprendizagem. Professor Roberto Lobo (http://professorrobertolobo.blogspot.com/2009/06/evasao-noensino-superior-causas-e.html) De acordo com Roberto Lobo, Professor Titular da USP-SP, é recomendável para o combate à evasão no ensino superior que haja “especial atenção ao aluno ingressante, com programas de integração e nivelamento, seminários, tutorias, apoio na escolha de disciplinas, etc; Análise dos dados locais de evasão que identifique as épocas críticas e as principais causas e que resulte em estratégias especiais para os maiores candidatos à evasão; Programas permanentes de orientação e acompanhamento dos alunos; Envolvimento de toda a IES no combate à evasão. Ela não é um problema só 31 do coordenador de curso ou do setor de apoio ao estudante, mas de todos os professores e funcionários, além da Administração Superior”. Por isso, é preciso que haja integração entre as IES, professores e alunos num esforço conjunto de favorecer a permanência daquele aluno com menor rendimento em decorrência de lacunas deixadas em sua aprendizagem na educação básica. 3.2 Condições de estudo para estudantes cotistas No Brasil, diversas universidades têm buscado estratégias de combate à evasão e favorecimento da permanência dos alunos na graduação. Temos como exemplo a UERJ, que vem auxiliando os alunos cotistas para a sua permanência na universidade. Pioneira brasileira na adoção das cotas em razão de uma lei estadual (com a reserva de 45% de suas vagas do vestibular para afro-descendentes, alunos de escolas públicas, deficientes físicos e outras minorias étnicas desde o ingresso de 2003), a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) vem preocupando-se em dar condições para que seus alunos cotistas mantenham-se na universidade e tenham condições de obter o melhor rendimento possível. Assim, a partir de 2004, quando passou a ser exigida comprovação de carência socioeconômica dos ingressantes cotistas, todos os alunos que entram na universidade pelo sistema de cotas passaram a receber uma bolsa de iniciação acadêmica. Sabemos que é algo um pouco complicado já que ela não tem autonomia financeira, todos os recursos que tem dependem de liberação do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Mas a universidade tem a consciência de que os alunos cotistas oriundos de escola pública não têm como comprar seus livros, o que significa que a universidade, dentro de suas bibliotecas setoriais, tem de ter mais livros para serem consultados por eles, tem que dispor de mais computadores para que esses alunos possam fazer seus trabalhos e, ainda, promover a inclusão digital para aqueles alunos mais carentes. 32 Desde 2004, todos os alunos que ingressam pela reserva de vagas têm uma bolsa, que está vinculada ao programa de iniciação acadêmica. A bolsa de iniciação acadêmica equivale a R$ 190 mensais, e exige do bolsista dedicação semestral de 105 horas em atividades paralelas à graduação. O programa de iniciação acadêmica é para que o cotista tenha sucesso acadêmico. Partindo do princípio que, se este aluno está concorrendo pela reserva de vaga, é provável que ele não teve na sua trajetória escolar as mesmas oportunidades educacionais e sócio-culturais que os aprovados pelo vestibular sem reserva tiveram. Está é uma tentativa de nivelamento entre alunos cotistas e não cotistas para que exista maior integração em sala de aula. Outra atitude adotada pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) é a preocupação de uma estrutura bem montada da instituição para facilitar a inclusão dos cotistas. Destaque para o sistema de bibliotecas que dá conta da questão pedagógica no acesso aos livros exigidos na formação dos graduandos. Podemos citar também o restaurante universitário, que oferece comida de qualidade, almoço e jantar, a R$ 1,30, significando democratização de acesso à instituição. A partir dos dados mostrados, percebe-se a necessidade de se criar mecanismos e estratégias de melhorias na estrutura do sistema educacional superior para que os alunos com baixo poder aquisitivo tenham condições de se manter no meio universitário. Mas, para isso, é preciso que haja um empenho do poder público no sentido de oferecer aos estudantes, as condições necessárias à sua permanência na universidade. Um acompanhamento pedagógico também se faz necessário no sentido de que as IES precisam acompanhar o desenvolvimento dos alunos dentro da graduação escolhida. Uma escolha mal direcionada pode resultar na desistência do aluno em relação ao curso e até mesmo ao sistema de ensino. Ou seja, uma equipe de orientadores, pedagogos e psicólogos precisa estar apostos para tentar suprir qualquer dificuldade ou anseio que o sujeito 33 aprendente possa ter. Vemos a importância deste apoio pedagógico e psicológico tendo como base a neurociência e seu estudo no campo do desenvolvimento cerebral e aquisição da inteligência. Segundo Relvas (2008), “a emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados”. Sendo assim, faz-se necessário que o aluno se sinta confortável em seu ambiente de estudo para que a aprendizagem aconteça de forma satisfatória. 3.2.1 Subsídios governamentais Com base nos dados da pesquisa, percebemos a necessidade que há de uma intervenção do poder público no que diz respeito ao acesso e permanência de estudantes de baixa renda no ensino superior. Em vista disso, diversas iniciativas têm dado resultado positivo no combate à evasão. Um deles é o Plano Nacional de Assistência Estudantil elaborado pelo governo federal, que prevê a criação de um fundo que destinará 10% do orçamento de custeio das instituições exclusivamente para financiar programas de moradia, alimentação, transporte, pesquisa e inclusão digital para estudantes de baixa renda. A partir de 2008, o fundou passou a receber R$ 120 milhões, dobrando os recursos em relação a 2007. Com esse financiamento os estudantes cotistas poderão permanecer na universidade. Sem gastos com transporte e alimentação poderão investir no seu material de estudo e podendo morar perto na universidade, dedicarão mais tempo aos estudos necessários para o acompanhamento das aulas, destacando que os alunos oriundos de escola pública têm dificuldades maiores de aprendizagem em relação aos outros alunos oriundos de escola particular. Já o financiamento em pesquisa pode criar programas de inclusão dos alunos cotistas nos quais possam aprimorar seus estudos e receber uma bolsa-pesquisa que facilitará ainda mais a sua vida na universidade, podem ser criados cursos de informática, inglês, entre outros que enriquecerão os conhecimentos dos estudantes para que possam estar no nível tão sonhado pelas universidades, se os estudantes oriundos de 34 escola pública não estão no nível das universidades, mas estão nas universidades então faremos com que estejam no nível fornecendo è eles instrumentos para que possam concluir seu curso e elevar cada vez mais o nível da educação superior no país. O governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral sancionou uma lei sobre a bolsa de estudos nas universidades estaduais. Na Uerj, como já relatado anteriormente, há algum tempo existe uma bolsa para os estudantes que entraram através das cotas socioeconômicas, mas a lei vem para melhorar ainda mais esse benéfico aos estudantes. A partir do segundo semestre de 2008 as universidades estaduais do Rio de Janeiro (Uerj e Uenf) passam oferecer aos seus alunos cotistas uma bolsa de estudos não apenas no primeiro ano como acontecia na Uerj, mas a partir de agora durante todo o curso e a bolsa que tinha o valor de R$ 190,00 passa a ser de R$ 250,00. As bolsas contribuem para que os alunos cotistas permaneçam nas universidades. Com o dinheiro compram seu material para estudo, pagam transporte, e demais despesas que necessitem. As universidades públicas necessitam de verbas e incentivos do governo para oferecerem aos seus alunos cotistas um ambiente adequado à sua realidade com suporte para que possam dar continuidade aos seus estudos e concluir o ensino superior. Sem esses incentivos governamentais é praticamente impossível a permanência desses alunos nas universidades. Quando falamos em suporte abrangemos o financeiro, o estrutural e o intelectual, ou seja, criação de laboratórios para que esses alunos possam fazer suas pesquisas, criação de cursos extras, ampliação de bibliotecas, aumento dos alojamentos para que os alunos possam dormir na universidade, incentivo na criação de programas de pesquisa envolvendo os alunos cotistas, entre outros. O objetivo principal é ajudar os estudantes cotistas a permanecerem na universidade, concluírem o curso e entrarem no mercado de trabalho, assim o ciclo estará completo. Facilitar apenas a entrada dos alunos menos favorecidos na universidade não adianta se eles não permanecerem 35 nem concluírem seu curso. O sistema de cotas socioeconômicas veio para permitir a entrada desses alunos nas universidades públicas, mas precisamos dos subsídios governamentais para que o ciclo seja completo e que ao final esses estudantes sejam profissionais qualificados e inseridos no mercado de trabalho. Considerações Finais As políticas públicas para o ensino superior serviram de base para a nossa análise de como se dá o acesso e a permanência no ensino superior. Além disso, pudemos observar que muito há de ser feito para que a democratização do ensino se realize em todas as esferas da educação pública. Hoje o ensino público se configura, em termos qualitativos, como uma pirâmide invertida no sentido de que a base abarca toda a educação pública básica e de má qualidade, servindo à classe social mais pobre. Já a ponta da pirâmide, onde está o ensino superior, oferece uma educação de boa qualidade para a classe social mais abastada, configurando, assim, o que parece ser um panorama paradoxal da educação: educação pública básica para o pobre x educação pública superior para o rico. Ao analisarmos os motivos da evasão, percebemos que são os mais variados possíveis e que não é um problema de fácil resolução. Em se tratando de seres humanos, a complexidade é inevitável, pois cada um tem seus motivos, desejos e anseios. Sendo assim, as carências financeiras, cognitivas, materiais, etc, precisam ser atenuadas para que o aluno tenha condições de aprendizagem. A maioria dos alunos egressos de escola pública, com exceção daqueles oriundos dos colégios de aplicação e federais, ingressa na universidade com deficiência de aprendizado. Este parece ser o cerne do problema, pois a questão da qualidade do ensino público deve ser discutida urgentemente, com seriedade pelos governantes, na busca de soluções concretas para a melhoria da qualidade. 36 O relacionamento interpessoal do aluno cotista precisa ser visto de forma humanística. Este aluno precisa ser acolhido no meio acadêmico e seu potencial precisa ser estimulado para que se desenvolva e alcance o nível da turma. O professor tem papel fundamental nesta questão: buscar a integração entre os alunos na promoção da igualdade de aprendizado. Além disso, é importante que o professor eleve a autoestima do alunado. O envolvimento do aluno com o conteúdo a ser aprendido só é possível quando sua autoestima está elevada e também quando o conteúdo tem significação para ele. Além da situação socioeconômica do aluno cotista, tem-se em evidência a questão racial que, de forma mascarada, mina a tentativa de democratizar o ensino no Brasil. Como afirma Ubiratan Ioro, professor da Faculdade de Economia da UERJ, “está havendo separação entre alunos brancos e negros, o que antes não existia”. Esta é uma questão que precisa ser discutida dentro da universidade, pois o fator determinante para a inserção no sistema de cotas não é a cor, mas a situação socioeconômica. Sempre houve em nossa sociedade, uma relação de poder entre as classes sociais mais favorecidas e as menos favorecidas. Por isso, quando presenciamos no ambiente universitário posições antagônicas a respeito do sistema de cotas, fica clara esta relação de poder, como afirma Freitas, “a escola é o poderoso instrumento de reprodução dos valores das classes hegemônicas e como tal, quaisquer aspirações de espaço para autonomia e liberdade devem ser desestimulados” (FREITAS, Nilson Guedes de. 2000, p.65). Desta forma, a inserção do aluno de baixa renda na universidade se constitui, de certa forma, em ameaça e invasão ao espaço da elite. Esta é uma barreira que se formou historicamente em nossa sociedade, desde os tempos do Brasil colônia, em que apenas os filhos dos poderosos iam para a faculdade. Enfim, o sistema de cotas se constitui em uma das formas de políticas afirmativas para garantir o acesso de estudantes pobres ao ensino superior, com o intuito de cumprir a meta do Plano Nacional de Educação – 37 PNE de ampliar de 9% para 30% a população de 18 a 24 anos no ensino superior até 2010. No entanto, não foi estabelecido um planejamento para que também a permanência do estudante na universidade seja garantida. Só recentemente as autoridades perceberam que é importante promover a permanência deste aluno. Este trabalho serviu para mostrar que a evasão no ensino superior precisa ser combatida e vista como um investimento por parta dos governos e instituições, já que existe um custo com o aluno dentro da universidade. Este aluno só poderá corresponder esse investimento a partir do momento em que estiver atuando no mercado de trabalho, produzindo para a melhoria da sociedade. ANEXOS ANEXO 1 INTERNET http://www.observatoriojovem.org/materia/cotas-para-escolas-p%C3%BAblicasem-debate Cotas para escolas públicas em debate Por Correio Braziliense | 16.jul.2008 As cotas para estudantes de escolas públicas nas universidades podem estar perto de se tornar realidade. Na última semana, a Comissão de Educação do Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 546/2007, de autoria da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que determina a criação de reserva de 50% das vagas oferecidas em instituições federais de educação profissional e tecnológica para alunos 38 egressos da rede pública. Em emenda oral, o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) sugeriu que a determinação fosse estendida às universidades federais. Os senadores aprovaram por unanimidade Como a aprovação na comissão tinha caráter terminativo, o texto do projeto não precisou de votação no plenário do Senado. Foi enviado direto para a Câmara dos Deputados, onde também será analisado. Lá, outro projeto que prevê a criação de reserva de vagas em universidades federais aguarda desde 2006 para ser votado. A falta de acordo entre os líderes da Casa fez com que a iniciativa ficasse tanto tempo na gaveta. O texto do Senado pode ser anexado à nova proposta e, assim, esta não precisará percorrer todas as comissões da Câmara: só precisará passar pelo plenário. De qualquer jeito, a votação depende da vontade política dos deputados. Na Câmara, já foram realizados inúmeros debates, inclusive com a apresentação de resultados das universidades que adotam políticas de ação afirmativa similares. O ministro da Educação, Fernando Haddad, também participou de encontros com os parlamentares para expor sua opinião sobre o projeto. Mas a polêmica parece estar bem longe do fim. As divergências de opiniões sobre a decisão de reservar parte das vagas mais disputadas nos vestibulares do país não se restringe aos congressistas. Insatisfação Os dirigentes das instituições federais de ensino não demonstram satisfação com o projeto. De acordo com as associações que os representam, o problema não está em criar políticas de ações afirmativas, mas sim na imposição da quantidade de vagas reservadas. Para o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Amaro Lins, a determinação fere a autonomia das universidades. “Reconhecemos a importância de incluir as camadas excluídas, mas as instituições deveriam escolher a melhor maneira de fazer isso”, enfatiza. O reitor acredita que o melhor seria estimular as universidades a adotarem ações afirmativas, sem impor modelos. “Há muitas práticas sendo realizadas pelas instituições. Acho que o momento é adequado para discutirmos os resultados obtidos por essas universidades”, defende. Segundo ele, o tema será colocado em pauta na próxima reunião da Andifes, que deve ocorrer em agosto. A intenção é convencer os deputados a debaterem ainda mais o assunto. 39 O Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub) deverá apoiar a Andifes. Para o presidente do Crub, Gilberto Garcia, o momento é de definição. “É preciso acabar com a discussão e partir para prática”, diz. Ele, que é reitor da Universidade São Francisco (SP), acredita que, nas federais, já existem cotas não questionadas pela sociedade. “A concorrência nos vestibulares das federais acaba privilegiando apenas os que têm condições de pagar por uma preparação diferenciada.” Gilberto defende que a experiência das cotas seja adotada desde que tenha um prazo para terminar. Para ele, o projeto aplicado em ciclos e sem a imposição de uma reserva única de melhor, segundo o reitor, seria definir uma faixa percentual que cada instituição escolha um parâmetro. no país, deve ser vagas. O e deixar Entenda o Projeto do Senado No mínimo 50 das vagas de cada processo seletivo das instituições federais de educação superior, profissional e tecnológica deverão ser destinadas a estudantes egressos de escolas públicas Essas vagas deverão ser preenchidas, por curso e por turno, por autodeclarados negros e indígenas em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população do estado onde está a instituição, de acordo com o último censo do IBGE As pessoas com deficiência terão direito de concorrer às vagas reservadas, mesmo que não tenham cursado a educação básica em escolas públicas Pré-requisitos Os candidatos às vagas da educação profissional deverão ter concluído todo o ensino fundamental em escolas da rede pública. No caso de quem quiser disputar uma vaga nas universidades federais, é preciso ter concluído o ensino médio em colégios da rede A aplicação da regra A partir da aprovação do projeto, as instituições terão quatro anos para implementar a reserva de vagas por completo. A cada ano, elas terão de reservar, pelo menos, 25% das vagas para os estudantes de escolas públicas 40 Acompanhamento A lei determina que o Ministério da Educação acompanhe e avalie a aplicação da lei. Ao contrário de outros projetos apresentados para criação de cotas, o do Senado não fala em período de duração da lei. No projeto sobre o mesmo tema que tramita na Câmara, o prazo é de 10 anos Vitória para os estudantes Para os alunos de escola pública, a aprovação do projeto no Senado já uma vitória. “Essa era uma reivindicação antiga do movimento estudantil. Consideramos a aprovação uma vitória. Vamos continuar mobilizados e pressionar os deputados para que eles aprovem as cotas também”, afirma a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lúcia Stumpf. Ela acredita que alguns parlamentares utilizarão a previsão de reserva de cotas raciais proporcionais à população de cada estado, contida no projeto do Senado, para tentar barrar a votação. Lúcia discorda que a medida fira a autonomia das universidades. Para ela, o poder de decisão das federais deve sempre estar abaixo dos projetos do país. “As universidades têm autonomia pedagógica e administrativa, mas devem estar subordinadas aos interesses do país. Democratizar o acesso ao ensino superior é uma diretriz”, faz coro a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Os alunos de escola pública acreditam que a instituição de ensino passará a ser mais valorizada depois da implementação do projeto. “As escolas públicas não são valorizadas pela sociedade e esse novo sistema de cotas contribuirá para que os alunos da rede recebam mais qualificação”, aposta Nathália Soares, 17 anos. Ela e os colegas Marilha dos Santos, 19, Igor Araújo, 17, Lorena Umbelina, 16, Thaís Porfírio, 17, Arthur Augusto Freitas Nascimento, 17, encaram as cotas como uma motivação a mais para estudar, mas defendem investimentos na escola, acima de tudo. “Serão mais oportunidades para os alunos, mas é preciso melhorar a qualidade de ensino”, opina Marilha. 41 Qualidade do ensino - Apenas criar o sistema de cotas para alunos de escolas públicas não é suficiente A criação de cotas para estudantes de escolas públicas nas universidades federais, se aprovada, não atingirá plenamente o objetivo de inclusão social ao qual se propõe enquanto não houver investimentos na educação básica. Os projetos de ações afirmativas são temporários. Por isso, a qualidade do ensino nas escolas públicas precisa melhorar. Algumas iniciativas, como a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), serão importantes. Mas não bastam. Funcionários do Ministério da Educação e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República estão discutindo mudanças para o ensino médio. Em dezembro do ano passado, uma comissão foi nomeada pelos ministros Fernando Haddad, da Educação, e Mangabeira Unger, de Assuntos Estratégicos, para propor soluções de reestruturação e expansão dessa etapa da educação básica. No dia 25, o grupo precisa entregar um relatório aos ministros. No documento, os técnicos sugerem a criação de um movimento: o ensino médio nacional. Carlos Artexes, coordenador-geral do ensino médio da Secretaria de Educação Básica do MEC, explica que a medida não pretende unificar todas as escolas, mas garantir que todas tenham um padrão mínimo de qualidade em infra-estrutura, qualificação de professores e investimento. O coordenador comenta que, hoje, o custo de um aluno do ensino médio é de R$ 1 mil por ano. Com a criação do Fundeb, o valor subirá para R$ 1,3 mil, em média. No entanto, ele considera a quantia baixa. “Estamos propondo R$ 2 mil. Para se ter ensino de qualidade, é preciso uma proposta educacional adequada, estrutura física, professores formados e capacitados e dinheiro.” A proposta do grupo também inclui a criação de modelos diferentes de escolas de ensino médio. Elas seriam temáticas. Por exemplo, algumas estariam integradas ao ensino profissional, outras à iniciação científica e ainda às artes. “Queremos criar oportunidades de identificação. Mas essas possibilidades ainda precisam de muito debate”, afirma. Outra idéia do grupo é criar um colégio especialmente para os jovens e adultos que já passaram dos 18 anos de idade. Nesses estabelecimentos, os alunos poderiam cursar tanto o ensino médio regular quanto a educação para jovens e adultos. De acordo com Artexes, a medida respeitaria melhor as necessidades desse público. 42 É importante destacar que as propostas ainda serão colocadas em debate na sociedade e não serão feitas alterações nas diretrizes curriculares. “Não haverá mudança por decreto. É preciso começar a abrir diálogo”, diz o coordenador do ensino médio. Na opinião de Artexes, as escolas devem ser valorizadas independentemente da gestão que possuem. E eles, o que querem? Apesar de tantas discussões sobre o ensino médio, os mais interessados nas mudanças — os próprios alunos — são pouco ouvidos. Os jovens reclamam que quem toma as decisões não conhece o que eles pensam. Wagner Rony de Souza Amaral, 18 anos, Davi Xavier dos Reis, 17, Mayara de Almeida, 18, e Raysa Martins, 17, criticam a falta de espaço na sociedade para a discussão de temas de grande relevância ao país. “Nós temos de ser ouvidos. A mudança final afetará a gente”, pondera Mayara. Os quatro estudantes do Centro de Ensino Médio 10 de Ceilândia são unânimes ao afirmar a necessidade de mudanças nas escolas públicas. Para os jovens, a qualidade do ensino está aquém do desejado. Para eles, faltam aulas práticas, equipamentos novos e formação continuada para os professores. “As aulas são chatas e acabam desinteressando ao aluno. Os professores deveriam diversificar as aulas, sair da sala, fazer passeios”, comenta Davi. Com a proposta de criar escolas diferenciadas, eles acreditam que os alunos se interessariam mais pelos estudos. Eles gostariam de aprender sobre profissões na escola, poder realizar cursos técnicos, se preparar para o vestibular e se tornar cidadãos. “É preciso oferecer opções variadas, mas sem perder a qualidade. Precisamos ser preparados para a vida. Às vezes, temos a sensação de que o MEC só se preocupa com números”, lamenta Wagner. Jovens preocupados com o trabalho Uma pesquisa realizada em São Paulo pelo projeto jovens Agentes pelo Direito à Educação (Jade), da organização Ação Educativa, mostra que, apesar das múltiplas expectativas dos jovens em relação à escola, ele estão muito preocupados com o mundo 43 do trabalho. Quando entraram no ensino médio, 43% dos entrevistados esperavam sair prontos para entrar no mercado. Depois, os estudantes apontaram como maior anseio a preparação para prestar o vestibular (25%). Os dados da pesquisa deram origem a um relatório intitulado Que ensino médio queremos?, divulgado em junho. Participaram da primeira fase 880 estudantes, que responderam questionários sobre a avaliação que fazem da escola, dos professores e dos próprios alunos, e as expectativas e os anseios em relação ao ensino médio. Depois, 177 pessoas, incluindo professores e funcionários dos colégios, foram convidados a aprofundar as discussões em grupos de diálogo. Projetos de futuro Ana Paula Corti, coordenadora da pesquisa, diz que a necessidade apontada pelos jovens de aproximar a escola do mercado de trabalho chamou a atenção dos pesquisadores. “Eles mostram que esse interesse não se limita a realizar um curso profissionalizante. Na verdade, eles precisam de uma orientação ampla para obter informações sobre o mercado, as opções profissionais”, comenta. Na opinião dos estudantes, a escola se dedica a preparar o jovem para o vestibular (confira o quadro), mas isso não adianta muito quando a maior dificuldade deles é traçar projetos para o futuro. O curioso é que, quando perguntados sobre as prioridades que o ensino médio deveria ter, eles apontaram a formação para a entrada na universidade (43%). É importante compreender que, para os alunos, essa também é uma garantia de futuro profissional melhor. Dione Gleik Soares Rosa, 18 anos, Delano Pereira Silva, 19, Thiago Moura da Silva, 19, Jordana Guimarães, 18, e Heloísa Nogueira, 18, alunos do Centro de Ensino Médio Gisno, da Asa Norte, sentem dificuldades em eleger uma prioridade para essa etapa. Thiago lembra que, sem o diploma, conseguir qualquer emprego é difícil. Dione acredita que o melhor seria focar o aprendizado na universidade. “Na verdade, sem o ensino superior, a gente não arranja trabalho”, opina. De modo geral, na pesquisa, os estudantes consideram a infra-estrutura dos colégios regular. Há um grande descontentamento em relação às condições dos equipamentos (33% a consideram ruim ou péssima), dos laboratórios (36% afirmam que a situação deles é ruim ou péssima e 29% contam que o espaço não existe na escola) e das atividades de informática (14% dizem que há trabalhos na área e 40% avaliam o que realizam como ruim ou péssimo). 44 Dione, Delano, Thiago, Jordana e Heloísa também reclamam da falta de investimentos no colégio em que estudam. Eles contam que os laboratórios de ciências estão empoeirados e inutilizados por causa da falta de profissionais. “A falta de práticas desmotiva os alunos. Para os professores também é ruim, porque eles não têm recursos para dar aulas diferentes”, critica Jordana. Anexo 2 INTERNET http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assessoria_imprensa/mostra_noticia.php ?codigo=5774 MEC lança plano de assistência estudantil Ministério vai liberar R$ 120 milhões para programas de moradia, alimentação, transportes e inclusão digital Os projetos de assistência estudantil das universidades federais ganharão novo fôlego e atenderão mais alunos. No dia 6 de setembro, o Ministério da Educação (MEC) lançará o Plano Nacional de Assistência Estudantil, que prevê a criação de um fundo que destinará 10% do orçamento de custeio das instituições exclusivamente para financiar programas de moradia, alimentação, transporte, pesquisa e inclusão digital para estudantes de baixa renda. A partir do ano que vem, o fundo receberá cerca de R$ 120 milhões. Os recursos dobrarão em relação ao que foi investido na área de assistência estudantil neste ano. O Plano Nacional de Assistência Estudantil é uma reivindicação antiga de estudantes e dirigentes das instituições. Não há regras nem verba destinada exclusivamente a custear programas de auxílio a jovens de baixa renda atualmente. As universidades mantêm projetos com recursos próprios e não conseguem atender à demanda de todos os alunos que necessitam de apoio para concluir a graduação. Segundo o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), que representa decanos e reitores das federais, 65% dos universitários precisam de algum tipo de ajuda para se manter na universidade. Hoje, apenas 13% dos estudantes são atendidos. Muitos não conseguem se manter longe de casa, bancando alimentação, transporte e livros e são obrigados a deixar a graduação. O Fonaprace realizou duas pesquisas para traçar o perfil dos estudantes que freqüentam as instituições federais brasileiras. O último estudo, feito em 2004, mostrou que 43% dos universitários têm renda familiar de até R$ 927. Nessa época, foram avaliados 530 mil alunos. Pelo menos 227 mil deles eram candidatos em potencial aos programas de assistência estudantil. De acordo com os dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o número de jovens de baixa renda é ainda maior. As respostas dos questionários socioeconômicos apontam que 30,1% dos universitários das instituições públicas possuem renda de até três salários mínimos. Considerando o número de matriculados atual (1.192.189 nas públicas), há 358 mil jovens nessa condição. Ronaldo Mota, secretário de Educação Superior, lembra que, com as políticas de ampliação das vagas nas universidades públicas, será necessário ampliar ainda mais as políticas de assistência. “As federais já desenvolviam projetos nessa área há um bom tempo. O plano unifica as ações, respeitando as diferenças regionais, e amplia a capacidade de atendimento das instituições”, destaca. O secretário ressalta também que os jovens de baixa renda estão entrando cada vez mais nas federais. Com isso, torna-se imprescindível oferecer condições para que eles permaneçam no curso. Regras básicas 45 Na portaria que estabelecerá o plano, o MEC não determina os programas que devem ser criados pelas universidades. Mas define áreas básicas para investimento, que nortearão as atividades desenvolvidas nas instituições de ensino. Entre os pontos principais, estão moradia estudantil, alimentação, transporte, assistência de saúde, inclusão digital, cultura e esporte (veja quadro). Para Raquel Figueiredo Lima, de 22 anos, estudante de letras-espanhol na Universidade de Brasília (UnB), o principal é garantir ampliação da oferta de moradia. “É a parte mais difícil”, reflete. Raquel, Ana Bárbara Benjamim, 24, e Cid Fragoso, 25, são moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU) da UnB. Os três enfrentam a saudade de casa — a família de Raquel vive em Monte Belo (GO), a de Ana Bárbara, em Santa Maria da Vitória (BA), e a de Cid, em Uberlândia (MG) — e as dificuldades financeiras para concluir o curso de graduação. Para os três, os programas de assistência estudantil são fundamentais. Sem o auxílio da universidade, eles admitem que seria difícil levar o curso. “Sem a bolsa, não teria condições de me manter”, afirma Cid. O estudante de licenciatura em enfermagem e obstetrícia faz estágio e paga R$ 0,50 pelas refeições no restaurante universitário. Cid lembra que as vagas não são suficientes para atender à demanda. Ana Bárbara decidiu tentar uma vaga na UnB porque havia moradia estudantil. Agora, ela participa da associação dos moradores da casa e luta pela construção de mais um prédio na UnB. Para os jovens, o plano de assistência será um avanço. “Tudo o que for para melhorar a situação nos deixa felizes”, destaca Ana. Recursos insuficientes Os critérios para distribuição do dinheiro destinado ao fundo do Plano Nacional de Assistência Estudantil ainda não estão completamente definidos. Mas, de acordo com Mota, algumas características serão levadas em conta: o número de alunos de cada instituição e a existência de políticas de ação afirmativa e inclusão de egressos da rede pública na universidade. Segundo o secretário, todo o projeto está sendo discutido e estabelecido com a participação da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Para o reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), presidente da entidade, Arquimedes Ciloni, a proposta está de acordo com os anseios da comunidade acadêmica. “Com o plano, vamos ampliar o que já fazíamos e aumentaremos as taxas de conclusão de curso dos estudantes. Muitos desistem por falta de apoio hoje”, diz. A Andifes recomendará aos reitores que ouçam os estudantes para definir onde o dinheiro será aplicado. Para a presidente da UNE, Lúcia Stumpft, é preciso criar creches para as mães universitárias, reformar e aumentar o número de vagas nas moradias estudantis. O decano de Assuntos Comunitários da UnB, Pedro Sabi, planeja fazer uma pesquisa com os estudantes de baixa renda para que apontem as prioridades. A instituição pretende criar cursos de línguas e informática para os alunos de baixa renda. Hoje, a CEU possui 368 vagas, são oferecidas 300 bolsas-permanência, 1.492 estudantes pagam R$ 1 nas refeições do Restaurante Universitário e outros 617, R$ 0,50. “Pela primeira vez, temos a certeza de que existirão recursos para a assistência”, reforça. Até a semana passada, Lúcia Stumpft não havia lido o documento final produzido pelo MEC. Mas ela ainda não está satisfeita com os valores anunciados. “Entendemos que essa é uma ação emergencial, mas são necessários R$ 200 milhões. Lutaremos para alcançar esse valor”, garante. De acordo com o secretário, até 2.010, esse montante será atingido. “Essa é parte da solução. O orçamento de custeio das universidades deve aumentar nos próximos anos”, afirma. Como funcionará O documento que será divulgado pelo MEC não estabelece quais os projetos de assistência que as instituições devem adotar, já que cada universidade tem autonomia para definir suas prioridades. Mas o plano enumera as áreas que precisam ser atendidas. Saiba o que deve ser apresentado no dia 6: A primeira providência (e mais importante) será a criação de um fundo específico para a assistência estudantil, cujos recursos chegarão a 10% do orçamento anual de custeio das federais. Em 2008, quando começará a distribuição do dinheiro do fundo, a soma atingirá cerca de R$ 120 milhões. Os critérios de distribuição dos recursos ainda não estão completamente definidos, mas levarão em conta o número de alunos das universidades, os programas de ação afirmativa e de inclusão de egressos de escolas públicas. O MEC espera aumentar essa verba no futuro. 46 O documento prevê a ampliação e a reforma das moradias estudantis Um dos pontos fundamentais para o MEC é que as instituições promovam a inclusão digital dos estudantes de baixa renda. Por isso, o plano sugere que as universidades planejem a aquisição de equipamentos e a criação de cursos de capacitação na área de tecnologia para atender a esses alunos. As universidades poderão investir também em transporte para os estudantes de baixa renda. A idéia é evitar que os universitários deixem de freqüentar as aulas ou de realizar projetos de pesquisa porque não podem custear a locomoção de uma localidade para outra. As instituições deverão garantir alimentação aos estudantes que precisam de auxílio, seja por meio dos restaurantes universitários ou de outros projetos. Está previsto também o investimento em assistência de saúde. As instituições devem garantir aos alunos de baixa renda o acesso aos serviços de atendimento básico em ambulatórios. Isso inclui também assistência psicológica. Garantir atividades de esporte, cultura e lazer aos alunos também faz parte do pacote. As instituições poderão, por exemplo, financiar apresentações teatrais e musicais, criar cineclubes e construir ou reformar quadras esportivas. Incentivo aos educadores Outro projeto do Ministério da Educação será lançado no dia 6 de setembro. O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) pretende complementar o Plano Nacional de Assistência Estudantil. Serão investidos outros R$ 72 milhões no projeto, que distribuirá 20 mil bolsas a estudantes de cursos de licenciatura. A idéia é estimular os jovens a concluir os cursos e aumentar a qualidade da formação profissional deles. Terão prioridade os alunos dos cursos nas áreas de física, química, biologia e ciências (áreas em que há mais carência de professores na rede pública), artes e música. Os bolsistas ganharão R$ 300 por mês e desenvolverão projetos para melhorar os indicadores de desempenho escolar de colégios das redes municipais e estaduais de ensino. Manifestações pela educação A União Nacional dos Estudantes (UNE) iniciou, na semana passada, uma Jornada Nacional de Lutas. Foram realizadas passeatas e manifestações por todo o país em defesa da educação. Um dos 18 pontos da pauta de reivindicações é a criação imediata do Plano Nacional de Assistência Estudantil. Além disso, os estudantes pedem a regulamentação do ensino privado para combater o aumento abusivo de mensalidades, a ampliação dos investimentos em educação para, no mínimo, 7% do PIB, a expansão de vagas nas universidades e o benefício do passe livre estudantil. Foram feitas ocupações nas universidades federais de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará, Santa Catarina e São Paulo. Na Faculdade de Direito da USP, cerca de 400 estudantes foram retirados da instituição pela tropa de choque da Polícia Militar. Os atos foram organizados em parceria com entidades sindicais e movimentos sociais, como o MST e a CUT. ANEXO 3 INTERNET http://www.universia.com.br/gestor/materia.jsp?materia=10643 dia 17/02/2010 – 08:40hs Como as universidades gerenciam o sistema de cotas 47 Gestores adotam iniciativas que facilitam a inclusão dos cotistas Publicado em 19/04/2006 - 00:01 A+ | A- | | Não deixe de ler • • Como as universidades gerenciam o sistema de cotas Pesquisa: 53% apóiam cota para aluno de escola pública Por Carlos Brazil A questão da reserva de vagas para segmentos específicos da população no ingresso às universidades públicas está na ordem do dia das discussões sobre Educação no país. Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 73/99, que propõe a destinação de 50% das vagas das universidades e escolas técnicas federais a estudantes de escolas públicas, negros e indígenas. Porém algumas universidades brasileiras já se anteciparam à legislação federal e adotaram seus próprios sistemas de cotas de ingresso no vestibular. Como estas instituições se prepararam e organizam a inserção e a gestão desses novos grupos na Universidade? A UnB (Universidade de Brasília), por exemplo, criou a Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas, responsável pela organização dos programas voltados à melhor inserção dos cotistas na universidade. Jacques Jesus, gestor desta assessoria, lembra que ela foi implementada para possibilitar uma gestão centralizada do processo. Segundo ele, estão envolvidas "questões que não se relacionam apenas à entrada dos estudantes no sistema, na universidade. Além da entrada, é preciso uma preocupação de acompanhamento do estudante dentro dessa política pública de Educação Superior. Esse acompanhamento significa formar profissionais que, no futuro, sejam altamente capacitados para ir para o mercado de trabalho ou para a área acadêmica". "Meu trabalho envolve, primeiramente, busca de apoio para a realização de estágios e pesquisa para que o estudante tenha ajuda à sua permanência por meio de estudos, pesquisa e de estágios. Além disso, temos um projeto que é criar um espaço físico na universidade em que os estudantes encontrem uma referência da cultura negra, de valorização da diversidade, um 'Centro de Convivência Negra'", destaca o assessor da UnB, onde as cotas raciais foram adotadas no segundo processo seletivo de ingresso à universidade de 2004, com uma cota de 20% das vagas destinadas a afrodescendentes. Além disso, a UnB se preocupa em divulgar a importância do sistema de cotas mesmo fora da universidade. "Dentro da universidade, os estudantes já têm sido bem absorvidos. A gente tem trabalhado para que haja cada vez mais inclusão deles aqui. E temos o Projeto Cotistas nas Escolas, que visa informar as pessoas de fora da universidade sobre o que é o sistema de cotas. Nós vamos às escolas públicas, levamos informações, material, cartazes e cartilhas, que são distribuídos a professores, 48 estudantes e demais membros da comunidade. Também temos um site do sistema de cotas na Internet, em que você pode se informar mais sobre o tema: www.unb.br/cotas". Pioneirismo Pioneira brasileira na adoção das cotas em razão de uma lei estadual (com a reserva de 45% de suas vagas do vestibular para afrodescendentes, alunos de escolas públicas, deficientes físicos e outras minorias étnicas desde o ingresso de 2003), a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) vem preocupando-se em dar condições para que seus alunos cotistas mantenham-se na universidade e tenham condições de obter o melhor rendimento possível. Assim, a partir de 2004 - quando passou a ser exigida comprovação de carência sócio-econômica dos ingressantes cotistas -, todos os alunos que entram na universidade pelo sistema de cotas passaram a receber uma bolsa de iniciação acadêmica. "Desde o ingresso de 2004 nós estamos lidando com alunos pobres. Como a universidade administra isso? É complicado, porque ela não tem autonomia financeira. Todos os recursos que tem dependem de liberação do governo do estado (do Rio de Janeiro)... Na medida em que a gente está atendendo um aluno que não tem como comprar seus livros, significa que a universidade, dentro de suas bibliotecas setoriais, tem que ter mais livros para serem consultados por ele, temos que dispor de mais computadores para que esse aluno possa fazer seus trabalhos. O que essa gestão (do reitor Nival Nunes de Almeida) fez de imediato foi disponibilizar bolsas, e essa foi uma negociação árdua. Desde 2004, todos os alunos que ingressam pela reserva de vagas têm uma bolsa, que está vinculada ao programa de iniciação acadêmica", explica Marcia Souto Maior Mourão Sá, professora da Faculdade de Educação e diretora do Departamento de Projetos Especiais e Inovação da UERJ. A bolsa de iniciação acadêmica equivale a R$ 190 mensais, e exige do bolsista dedicação semestral de 105 horas em atividades paralelas à graduação. "O programa de iniciação acadêmica é para que o cotista tenha sucesso acadêmico. Partindo do princípio que, se este aluno está concorrendo pela reserva de vaga, é provável que ele não teve na sua trajetória escolar as mesmas oportunidades educacionais e sócio-culturais que os aprovados pelo vestibular sem reserva tiveram. A universidade não pode zipar tudo o que ele não teve e dar para ele. A gente não pode trazer de volta nem a Educação Fundamental nem o Ensino Médio para cá, porque a nossa missão é outra. Mas a universidade pode instrumentalizar esse aluno. Daí a criação do programa", destaca Marcia. Na UFPR (Universidade Federal do Paraná), outra pioneira na adoção do sistema de cotas, o reitor Carlos Augusto Moreira Júnior destaca que a estrutura bem montada da instituição facilita a inclusão dos cotistas. Destaque para o sistema de bibliotecas, que, segundo o reitor, dá conta da questão pedagógica no acesso aos livros exigidos na formação dos graduandos. Ele cita, também, o restaurante universitário, que oferece comida de qualidade, almoço e jantar, a R$ 1,30, significando democratização 49 de acesso à instituição. "Além disso, temos uma política forte de bolsas de estudos: entregamos anualmente 1.800 bolsas para alunos que realmente precisam do auxílio por questão de fragilidade sócio-econômica. E a gente tem atendido bem toda essa situação", afirma. Adotado no vestibular de 2004 para 2005, o sistema de cotas da UFPR reserva 20% das vagas para candidatos que tenham cursado todo o período acadêmico básico e médio em escolas públicas e outros 20% das oportunidades para pessoas que se declarem negras. O sistema de cotas somente é adotado na segunda fase do vestibular da federal paranaense. Na primeira fase, todos os candidatos concorrem em igualdade de condições. Questão sócio-econômica A UERJ - que no ingresso do vestibular de 2003 adotou as cotas sem cláusula de restrição a candidatos com carências sócio-econômicas - mudou o sistema a partir do ingresso de 2004. Atualmente, para entrar pela reserva de vagas, além de comprovar ter sido aluno de escolas públicas (com 20% das vagas oferecidas no vestibular), ou se declarar negro ou pardo (outros 20% das vagas), ou portador de deficiência física ou ser integrante das demais minorias étnicas (5%), todo candidato às cotas precisa comprovar ter carência financeira. Segundo a professora Marcia Souto Maior, esse sistema acaba sendo mais democrático do que as cotas estritamente destinadas a alunos do ensino público ou a negros. "Eu participei de três bancas examinadoras de monografias de alunos de Estatística. Esses alunos fizeram pesquisa de opinião sobre como, internamente e externamente, as pessoas avaliavam as cotas. O que eu percebi nesses estudos é que a cota se tornou muito mais palatável, tanto internamente quanto externamente, quando ela teve o corte sócio-econômico, quanto passou a ter esse caráter de inclusão social, mesmo. Eu, particularmente, como educadora, é nessa cota que aposto. Este é um diferencial da UERJ para o resto do país", indica. Avaliação Outro elemento que é considerado importante pelos gestores universitários é o acompanhamento do rendimento acadêmico dos alunos cotistas. Todas as três universidades consultadas pelo Universia dispõem ou promovem acompanhamento dos resultados obtidos por esses alunos. "Existe um comitê de acompanhamento dos cotistas e estamos observando que não há nenhuma diferença em termos de notas, pelo menos desde o ano em que foi implantado o sistema, no vestibular de 2004 para 2005, quando verificamos que, no primeiro ano, os alunos que entraram pelas cotas acompanharam adequadamente os estudos, não houve diferença para os outros alunos", avalia o reitor da UFPR. 50 Já a UnB e a UERJ estão desenvolvendo estudos aprofundados sobre o aproveitamento dos cotistas. Porém, os resultados ainda não foram concluídos. Mesmo assim, Jacques Jesus, da UnB, observa: "O que tenho visto ao longo do semestre é que o desempenho entre estudantes do sistema de cotas e os demais é muito semelhante, não há diferença significativa". Legislação O Projeto de Lei 73/99 foi discutido profundamente nos últimos meses e incorporou diversas propostas de representantes de entidades ligadas à sociedade civil, às instituições de ensino superior e ao próprio governo. Sua tramitação na Câmara ainda depende da votação em plenário. Se aprovado, o projeto segue para apreciação do Senado. Acordo entre o governo e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), prevê votação em regime de urgência do projeto na Casa. Mesmo assim, o projeto ainda recebe observações: "A minha crítica é que o tempo que se perde para as instituições se adequarem a esta lei é muito grande (está previsto que as universidades federais terão seis anos para oferecerem 50% de suas vagas ao sistema de cotas). A desigualdade social no país é tão imensa que nós deveríamos implantar esse sistema o mais rápido possível. Nós temos condições de implantar já no próximo ano, se for o caso", afirma o professor Moreira Júnior. "A princípio, nós (da UFPR) manteremos o nosso sistema, que é de 20% das vagas para negros e 20% para alunos das escolas públicas, até que venha o projeto de lei efetivamente implantado." Para concluir, o reitor da UFPR aposta no otimismo: "O país precisa tanto diminuir desigualdades que eu diria que o sistema de cotas é uma necessidade nas universidades públicas brasileiras. Tomara que seja uma necessidade temporária. O nosso plano de metas de políticas afirmativas é para 10 anos. Tomara Deus que após esses 10 anos o Brasil tenha se desenvolvido tanto que o acesso a uma universidade seja praticamente universal. Mas, neste momento, não vejo outra forma de promover igualdade social". 51 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALVES, Rubem. A alegria de ensinar, 6ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2003. DEMO, Pedro. Universidade, Aprendizagem e Avaliação: horizontes reconstrutivos. Porto Alegre: Mediação, 2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 37ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. FREITAS, Nilson Guedes de. Pedagogia do Amor: caminho da libertação na relação professor-aluno / Nilson Guedes de Freitas. – Rio de Janeiro: WAK Ed., 2000. HOUAISS, Antônio (1915-1999) e VILLAR, Mauro de Salles (1939-). Dicionário Houaiss da língua portuguesa / Antônio Houaiss e Mauro de Salles Villar, elaborado pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. 1. ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström. Educação Comparada / Manoel Bergström Lourenço Filho; organização Ruy Lourenço Filho, Carlos Monarcha – 3. ed. – Brasília: MEC/Inep, 2004. RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação: despertando inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Wak Ed., 2008. Revisitando a Prática Docente: Interdisciplinaridade, Políticas Públicas e Formação. João Gualberto de Carvalho Meneses, Sylvia Helena S. S. Batista, (orgs.). – São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. WEBGRAFIA BARDAGI, Marucia Patta & HUTZ, Cláudio Simon. “Não havia outra saída”: percepções de alunos evadidos sobre o abandono do curso superior. 52 Disponível em: www.pepsc.bvs.psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=5151382712009000100010 Acesso em : 06/11/2009 – 16:05:55 BRAZIL, Carlos. Como as universidades gerenciam o sistema de cotas. Disponível em: http://www.universia.com.br/gestor/materia.jsp?materia=10643 Acesso em: 17/02/2010 – 08:40:00 CAMPOS, Vanessa T. Bueno. Evasão de alunos nos cursos de graduação na Universidade Federal de Uberlândia – MG. (1990-1999). Disponível em: www.ichs.ufop.br/conifes/anais/edu/edu1104.htm Acesso em: 20/12/2009 – 20:09:15 FERREIRA, Márcia Ondina Vieira. Política Educacional para o Ensino Superior: o “Pacote Portella”, 1995. Disponível em: www.publicacoes.inep.gov.br/detalhes.asp?pub=4316 Acesso em: 06/11/2009 – 15:35:26 FILHO, Roberto Leal Lobo e Silva. EVASÃO no ensino superior: causas e remédios, 2009. 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Disponível em: www.inpeau.ufsc.br Acesso em 04/01/2010 – 19:20:25 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I – Há 54 “EVASÃO ESCOLAR” NO ENSINO SUPERIOR 10 1.1 O Sistema de cotas nas universidades 11 1.2 Critérios de seleção 13 1.2.1 ENEM como meio de acesso ao ensino superior 1.3 Estudantes do Sistema de Cotas X Evasão 15 16 CAPÍTULO II OS FATORES OCASIONADORES DA EVASÃO 18 2.1 Autoestima e aprendizagem 19 2.2 Dificuldades Financeiras influenciam na aprendizagem 20 2.3 Relacionamento entre Cotistas e Não-Cotistas 21 2.3.1 Problemas de Mau Relacionamento Professor-Aluno 22 2.3.2 As IES e o relacionamento com os alunos cotistas 25 CAPÍTULO III SOLUÇÕES POSSÍVEIS: PROPOSTAS DE MUDANÇA 27 3.1 Como combater a evasão? 29 3.2 Condições de estudo para estudantes cotistas 31 3.2.1 Subsídios governamentais 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 ANEXOS 37 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 51 WEBGRAFIA 52 ÍNDICE 53