Ano XV I— nº 02 - Março /2013 Informativo da APRUMA- S. Sind. do ANDES-SN - Gestão 2012 /2014 “AUTONOMIA E RESISTÊNCIA: Em Defesa da Previdência Pública Integral” Eleições UFMA: ganhos democráticos e derrotas da Reitoria Atendendo à determinação da Justiça Federal, o Reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) convocou eleições para chefes de departamentos, coordenadores de cursos e diretor geral e coordenadores de Ensino do Colégio Universitário (COLUN), as quais foram realizadas no Campus do Bacanga, e para Diretor do Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia (CCSST) do Campus Imperatriz. No último dia 20 de fevereiro, a abertura das urnas mostrou a Reitoria se retirando do sufrágio com duas grandes derrotas que sinalizavam um grande avanço democrático para a UFMA. A primeira delas teve como cenário o COLUN. Os três candidatos da preferência do Magnífico perderam os cargos de Diretor Geral, Coordenação Ensino do 1° Grau e Coordenação Ensino do 2° Grau para docentes que mostraram suas indignações contra a intervenção da Reitoria naquele Colégio de Aplicação, a qual foi uma retaliação à greve nacional dos docentes das universidades públicas federais, em 2012. As três vitórias confirmam a prática histórica dos servidores públicos em escolher, por eleições diretas, os seus representantes, um direito aviltado nessa atual administração UFMA. 8 Março Dia Internacional da Mulher Parabéns às mulheres que construiram e que fazem a Universidade Federal do Maranhão! A segunda grande derrota aconteceu no Campus de Imperatriz. O atual Coordenador pro tempore conseguiu tão somente um terceiro lugar. Em que pese não concordar com o processo de Consulta Prévia, a APRUMA entende que o desejo dos votantes deva ser respeitado. A Diretoria da APRUMA tem lutado para que as escolhas de representantes docentes ocorram sempre por eleições diretas. Parece que a Comissão Coordenadora desse processo eleitoral atuou de forma mais organizada que em outros tempos não tão remotos. Teve atenção com as normas universitárias e evitou irregularidades que motivassem contestações administrativas ou legais. Como lição de casa: precisamos modificar os Regimento e Estatuto da UFMA, a fim de garantirmos maior democratização em todas as instâncias universitárias de todos os campi. Com o cuidado de evitar que tenham a “cara” da Administração Superior. Por fim, uma pergunta que não quer calar: por que a Administração Superior da UFMA não realizou eleições para coordenadores de cursos no Campus de Chapadinha? Página 2 MULHERES DE LUTA NO CONSUN/UFMA Sirliane Paiva - Representante da APRUMA/SS no COSUN Março se aproximando e começam os preparativos para o Dia Internacional da Mulher. Muitos foram os avanços desde que o Decreto n° 21076, de 24 de fevereiro de 1932, tornou legal o voto feminino no Brasil, se quisermos utilizar como referência uma conquista contemporânea da luta de mulheres brasileiras para reconhecimento de direitos humanos que ainda lhes têm sido negados. Os resultados desses enfrentamentos só puderam ser concretizados porque, em algum momento, mulheres tiveram coragem para dar voz às desigualdades históricas entre gêneros. Não sem que barbáries fossem cometidas. Algumas delas, silenciosas, a exemplo de o Estado Brasileiro deixar em liberdade o ex-marido de Maria da Penha, passados 15 anos de sua condenação por tentativa de homicídio. Em 1998, a cearense que deu nome a Lei 11.340, juntamente com o Centro para a Justiça e o Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, colocou o Estado Brasileiro como réu junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o qual foi responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica e familiar contra mulheres e obrigado a finalizar o processo que motivou a denúncia e a instituir Políticas Públicas para o enfrentamento desse tipo de violência. Realizaram mais as mulheres brasileiras: foram protagonistas de movimentos sociais pelo direito à terra e à moradia, à vida e a serviços públicos de saúde e educação e contra o Regime Militar, a carestia e a exploração de trabalhadores, entre outras lutas. Esses exemplos fizeram seguidoras na Universidade Federal do Maranhão. Professoras de diferentes épocas de nossa Universidade têm usado a voz para denunciar autoritarismos, opressões, desmandos, irregularidades e perseguições. Nessa perspectiva, me senti estimulada a enaltecer o destemor de quatro mulheres presentes na reunião (convocada após a Administração Superior ser intimada pela Justiça Federal) do Conselho Universitário da Universidade Federal do Maranhão (CONSUN/UFMA), em 08/02/2013, na qual foi demitido o professor Ayala Gurgel. A primeira mulher a exercer o direito à voz (a relatora do processo foi indicada e, portanto, entendo que não possa ser referenciada como as outras), em um CONSUN que parece primar pelo silêncio e pela pressa em concluir os trabalhos, foi a professora Sirliane Paiva. Representante da Associação de Professores da Universidade Federal do Maranhão (APRUMA), ela questionou irregularidades, como a inclusão de ex-dirigentes do Diretório Central de Estudantes (DCE) com portarias vencidas na relação de conselheiros e problemas na contagem dos votos. Todavia, ouviu do Presidente do CONSUN: “É uma prerrogativa do Presidente encaminhar” e “Professora, por favor, a senhora está atrapalhando a votação”. Em resposta a um dos seus questionamentos, os presentes ouviram da Secretária dos Colegiados Superiores, após a primeira votação: “[...] De acordo com a frequência, o quórum não fechou”. Quando da segunda votação para condenação do professor Ayala Gurgel, a Mesa contabilizou 28 votos e a professora Sirliane Paiva conferiu 25. A representante da APRUMA reclamou, mas não recebeu atenção do Presidente do Página 3 CONSUN. Dela teve origem o único voto contra a demissão do professor Ayala Gurgel. De frente para o Plenário, altiva e segura como sempre. Também merecem os nossos aplausos três alunas da UFMA: Glenda Moreira, Lívia Aroucha e Dayara Cutrim. Glenda Moreira é integrante da diretoria recentemente eleita e empossada do DCE Ninguém pode nos calar, que inexplicavelmente não foi reconhecida pelo CONSUN. No início da sua fala, chamou atenção do Magnífico Reitor ao que dizia e escrevera. Agradeceu a presença dos antecessores que prestigiavam a nova gestão. Lembrou o 17 de Setembro de 1979, segundo ela uma das maiores manifestações estudantis maranhenses durante a Ditadura Militar, para reiterar que a nova direção do DCE primará pela justiça e Democracia (a liberdade de expressão jamais poderá ser suprimida) e se posicionará contra decisões opressoras. As outras duas alunas enalteceram as atividades acadêmicas do professor Ayala Gurgel. Deve ter sido gratificante para ele ter escutado: “Poucos professores me fariam vir até aqui, na frente de tantas pessoas [...] Na verdade, ele queria que nós nos tornássemos pensadores! Que nós realmente questionássemos tudo aquilo que fosse colocado para nós! [...] Um professor diferente, alternativo, nada convencional e insuportavelmente verdadeiro [...] Eu me orgulho por fazer parte dessa Universidade quando encontro professores desse tipo [...] Professores apaixonados pelo que fazem; professores que nos respeitam como alunos e transformam a sala de aula em um grande espetáculo [...] Foi apenas no 3º período, com este professor, que eu descobri o que é estender o conhecimento da Universidade para a comunidade [...] Muitos professores passam pela nossa vida acadêmica [...] poucos nos marcam, poucos vivem essa vida conosco”. E deve ter causado incômodo, a alguns conselheiros, o que declarou uma delas: “[...] Eu acho muito difícil, hoje, alguém se posicionar, aqui, por tudo o que tem acontecido; por essa falta de liberdade de expressão. Às vezes, até dá medo do que falar; medo de falar alguma coisa que não se deve [...] Eu, em momento algum, me senti ofendida pelo posicionamento do professor. Pelo contrário, eu achei que ele realmente fez o que deveria ter feito como posição de cidadão: expressar, exercer a sua liberdade de expressão. [...] Nunca me senti ameaçada pelo posicionamento do professor. [...] Eu me sinto ameaçada com tudo isso que está acontecendo. De, talvez, não poder me expressar pela possibilidade de ser punida. E isso é muito grave! Porque parece que a gente tem só que obedecer ao Sistema, fazer o que deve ser feito, sem criticar. E não foi isso que eu aprendi. E não é isso que espero fazer no futuro! A passividade de um Plenário que não fez uso do direito à voz só foi interrompida quando a conselheira representante da APRUMA pediu que os votantes fossem identificados em suas preferências. A reclamação foi geral, especialmente por aqueles que exercem funções sem terem sido eleitos. Parece pouco o que essas quatro mulheres realizaram? Não, é no dia a dia, nos espaços públicos, em ambientes de trabalho e na família, que entregamos o destino de nossas vidas e asseguramos ou desconstruímos os direitos humanos. Elas mostraram, na reunião do dia 08/02/2012, que sem a coragem de fazer frente à submissão, opressão, dominação e violência afundaremos cada vez mais em práticas autoritárias totalmente anacrônicas. Marizélia Ribeiro Curso de Medicina UFMA (Departamento de Medicina III) Doutora em Políticas Públicas Colegas Impossível manter indiferença ao caso da demissão do prof. Gurgel. Mesmo os que temem represálias à liberdade de manifestação não deixaram de perceber a arbitrariedade, a fragilidade das acusações e a excessiva pena aplicada. Apesar de decretado, o caso não está encerrado. Tornou-se pauta de discussão permanente. O autoritarismo revelado foi devidamente registrado e sua eventual repetição apenas o confirmará Profª Célia M. Motta Departamento de Sociologia e Antropologia Página 4 A SUBMISSÃO MAJORITÁRIA DO CONSUN E A POSIÇÃO DA APRUMA CONTRA A DEMISSÃO DO PROFESSOR WILDOBERTO BATISTA GURGEL O processo de perseguição ao professor Wildoberto Batista Gurgel, travestido de Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que passou pela homologação do reitor Natalino Salgado e, por determinação da justiça, culminou com a votação no CONSUN no último dia 8 de fevereiro, mostra a capacidade que a reitoria da UFMA tem de transformar um direito em crime, e por conseguinte de inverter valores. Se o professor, no exercício do direito à liberdade de expressão crítica, afirmou (dentre outras coisas) que havia alterações ilegais de notas no antigo Sistema de Controle Acadêmico (SCA), o certo era investigar a veracidade de suas afirmações, visando, isto sim, zelar pela imagem da universidade. Diga-se de passagem: tratava-se de um sistema frágil, criticado por vários professores da UFMA. Tanto é verdade que a administração superior tomou medidas no sentido de fazer mudanças radicais no sistema, o que resultou no atual Sistema Integrado de Gerenciamento de Atividades Acadêmicas (SIGAA). Se o SCA, que tinha pouquíssimo tempo de implantação, fosse seguro e eficiente, não tinha necessidade de ter sido mudado. Como não era seguro, foi feita a mudança. Apesar de todos os indícios, a reitoria inverteu os valores, dando provimento para a instauração de um injustificado PAD, visando punir o professor com pena máxima. Devido à fragilidade dos argumentos utilizados no PAD para justificar a demissão do professor, a relatora do processo no CONSUN, professora Edith Ramos, demorou 1 hora e 40 minutos para fazer a leitura do seu relatório. A referida professora presidiu a banca de um concurso público para professor A FAVOR DA DEMISSÃO do Curso de Direito da UFMA, que o Ministério Público Federal recomendou à Universidade “[...] a anulação dos editais Proen nºs 185/2011 e 195/2011 e da homologação do resultado final do concurso. Para o MPF, o concurso promovido pela Ufma revelou-se contrário às normas da Resolução nº 120-Consun e ofensivo aos princípios da impessoalidade, isonomia e moralidade.” Os frágeis argumentos foram repetidos ao longo do relatório, passando a falsa impressão de que os conselheiros estavam em processo de convencimento de que a demissão era a posição mais acertada, pois “limpava a imagem da UFMA”. Para uma votação de tamanha gravidade, é impossível acreditar que os conselheiros não necessitassem debater a matéria após a leitura do relatório, principalmente os 11 que se abstiveram. Do(a) s conselheiro(a)s, apenas a representante da APRUMA, Seção Sindical do ANDES-SN, professora Sirliane Paiva, usou a tribuna do CONSUN para se pronunciar. Talvez tenha sido a única a levar o posicionamento discutido com a base que ela representa. Também usaram a tribuna, o Advogado Guilherme Zagalo e o presidente da APRUMA, professor Vilemar Gomes, bem como duas estudantes, tod(a)os em defesa do professor Wildoberto Batista Gurgel. O advogado do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e uma representante da diretoria recém empossada dessa representação estudantil também fizeram o uso da voz e se manifestaram contra a permanência de ex-dirigentes como conselheiros, todos com portarias vencidas. Página 5 ABSTENÇÃO Aqueles que votaram a favor da demissão ou se abstiveram, disseram sim para o retorno da censura, para a gestão autoritária, para o fim das liberdades democráticas. Disseram não à liberdade de cátedra. Os conselheiros que foram eleitos em suas unidades acadêmicas, disseram não à autonomia dessas unidades. Aqueles que votaram a favor da demissão, ou se abstiveram, foram subservientes à reitoria. Por que o reitor Natalino Salgado, já no início de fevereiro do ano passado, antes mesmo de conferir a extensão dos fatos, antes mesmo de constituir uma Comissão de Sindicância, já expressou o que queria, ao lado de integrantes da Administração Superior, ao afirmar em entrevista coletiva: “se o professor não conseguir comprovar, eu vou abrir um processo disciplinar administrativo. [...] Ele pode sofrer advertência até a perda da função do emprego dele como professor da nossa instituição”? Observa-se, pelas suas palavras, que o processo administrativo foi concluído satisfazendo o desejo do reitor. Foi feito um grande trabalho de marketing para incutir na opinião pública, especialmente no seio da comunidade acadêmica, que o professor não teve um comportamento digno a altura do cargo público que exerce. Não foi o que declarou duas de suas alunas que se pronunciaram no CONSUN. Não é o que ele demonstrou ao coordenar um DINTER, um PIBIC, e ao integrar uma Comissão de Ética. Não foi o que disse a conselheira Sirliane Paiva, que votou a favor de sua permanência, talvez o único voto com conhecimento sobre o processo (outros conselheiros quando questionados à véspera do julgamento afirmaram desconhecer o PAD). Não é o que diz a Comissão de Aperfeiçoamento do Ensino Superior, a CAPES quando lhe outorgou um prêmio pela excelência de sua tese de doutorado. Não é o que pode ser concluído através de sua produção científica e de seus livros que servem para exaltar a nossa Universidade. A reitoria critica a APRUMA por tornar público o processo, tentando, a todo custo, mantê-lo em segredo, justificando que era por respeito ao servidor, conforme manifestou em nota oficial. Entretanto, antes da constituição da Comissão de Sindicância, diga-se, antes de começar a investigação, a Reitoria já tinha expedido nota à imprensa com opinião formada contra o professor e na sequência, por manifestação pública do reitor, já sinalizava para a condenação. Essas manifestações precipitadas chamam-se manter segredo? Esse tratamento pode receber o nome de respeito ao professor? A APRUMA assume sua posição de buscar ampla divulgação de processos envolvendo o(a)s docentes e suas relações com a universidade pública. Entendemos que o nome da APRUMA, Seção sindical do ANDES-SN, foi citado na Nota Oficial por constituir-se um espaço democrático construído na luta coerente com seus princípios históricos. Na defesa do projeto de universidade, que inclui gestão democrática, com respeito à autonomia das unidades acadêmicas, eleições diretas para todos os campi e dentro do prazo regimental, que luta pela liberdade da crítica, que luta por um plano de capacitação docente, pela carreira digna de professor federal e pela Previdência Pública Integral. Em conjunto com setores populares da sociedade, luta por amplos direitos sociais, como o direito à educação pública de qualidade em todos os níveis e à saúde pública e gratuita. Enfim, não existe nada de avanço nos direitos sociais e na universidade brasileira que não tenha as mãos trabalhadoras e limpas dos professores que fazem a luta e a resistência através dos seus sindicatos. O ANDES-Sindicato Nacional e suas Seções Sindicais – continuam lutando pela autonomia, respeito e liberdade acadêmica pressupostos, sem os quais, não existirão boas universidades. DIRETORIA DA APRUMA Página 6 Manifestação do Professor Wildoberto Gurgel Olá, tod@s Eu ainda não tenho palavras para agradecer a APRUMA e vem essa administração superior, em nota oficial, afirmando que eu estou sendo usado como “bode expiatório” do meu sindicato. Quando assumi em 20 de julho de 1998, fui levado por Plínio Fontenelle, então chefe do Departamento de Filosofia à época, para conhecer a UFMA. A primeira parada foi na sede da APRUMA, onde me filiei naquele mesmo dia. Foi minha primeira ação na UFMA. É bem verdade que depois, desgostoso com o rumo que a APRUMA estava levando, pedi meu desligamento, que, felizmente, durou pouco tempo. Desde que levei meu caso à APRUMA não encontrei apenas sindicalistas lutando por uma causa, contra uma injustiça praticada a um docente; encontrei pessoas, seres humanos, sensíveis, autênticos, amigos. Várias vezes fui consultado sobre os rumos a tomar e participei das decisões mais importantes. Isso não é ser bode expiatório. Bode expiatório é o que essa administração quis fazer comigo. Sou grato a APRUMA e acredito que ainda iremos reverter isso. Façamos o seguinte: leia Nota Oficial da UFMA sobre a minha demissão http://www.ufma.br/noticias/ noticias.php?cod=41261 que foi postada no site oficial da instituição (digo oficial porque hoje a atual gestão conta com muitos porta-vozes), no dia 11 de Fevereiro de 2013, (uma segunda-feira de carnaval) e atentem para as estratégias desqualificatórias e não coerentes com os fatos (mentirosas?) ali expostas: item 3: eu não ministro nem ministrava aula no CEUMA nos últimos dois anos. Como posso ser demitido por uma coisa que não é fato? Como a Procuradoria Jurídica da UFMA e o Ministério Público podem permitir que um professor seja demitido sem que o processo apresente provas concretas do que diz? Pode um PAD tomar como prova cabal a opinião de um blogueiro para demitir um professor universitário? item 4: o departamento de filosofia NUNCA foi ouvido sobre o caso nem tomou qualquer posição. Assim como o CCH, conforme ordena a legislação vigente. O que existe é uma nota assinada pelo chefe do departamento (que por coincidência era o mesmo na época em que dei entrada no processo reclamando do procedimento de alteração das minhas notas), publicada sem consultá-lo, e ainda no dia 07 de Fevereiro, muito antes de ser intimado a depor e apresentar provas. Nesse item diz que não apresentei provas. Há controvérsias. Não só apresentei como elas ainda estão paradas (aquele processo nunca foi à frente, até hoje). Existia uma saída muito simples, que recomendei: confrontar as notas que lancei na caderneta com aquelas que aparecem no sistema e observar se são as mesmas. Depois, caso não sejam, investigar porque não são. No caso do plágio, verificar se o texto apresentado como tese e os textos que apresentei como plagiados são iguais ou diferentes. O porquê de a comissão não tê-lo feito, não sei qual a razão; item 5: a comissão sindicante não pediu a minha demissão nem considerou o caso grave, mas apenas uma infração leve ao artigo 116 da lei 8112/90, cuja penalidade seria uma advertência. A demissão foi forjada em outro ambiente. Não há nenhuma orientação do Ministério Público pedindo minha demissão. Se há, não foi apresentada a mim ou à minha representação jurídica; item 7: o CONSUN só foi convocado porque a Justiça Federal foi acionada. O reitor já havia me negado recurso nesse caso por duas vezes, a primeira com o PAD em andamento e a segunda após a sua finalização. A mesma justiça ordenou que não deveria devolver salários recebidos, ser reintegrado ao quadro da instituição e receber os retroativos, até que o processo seguisse o ritual administrativo completo; item 8: o PAD não ocorreu em sigilo, a própria UFMA convocou coletiva de imprensa e anunciou, ainda em Fevereiro de 2012, a possibilidade de minha demissão. Contudo, de uma hora para outra, o processo sumiu do SIPAC (site da instituição), dificultando o seu acompanhamento. Não me considero usado pela APRUMA e sou muito grato ao apoio sindical que recebi, pois não se trata de uma ofensa pessoal, mas de uma agressão à categoria docente. Não fosse a resistência da APRUMA, não só a minha, mas a situação de outros docentes poderia estar bem pior; item 9: a administração superior não pode dar o assunto por encerrado, pois ainda cabem recursos ao processo, e tanto ela quanto qualquer um de nós estamos sujeitos à lei, não acima dela. Parece que a comunidade acadêmica não se deu por satisfeita e interpreta essa ação como maculativa à imagem da instituição. As pessoas que fazem a UFMA sabem o que realmente está acontecendo e parecem não concordar com isso, afinal, ali também tem muita gente boa, de caráter e moral ilibada. Por fim, não há no Termo de Indiciação nem no Relatório Final a apresentação de fatos reais existentes (pois a alegação que ministrei aula no CEUMA nos últimos dois anos ou que o faça, não é verdadeira) nem outras provas que digam EXATAMENTE o porquê de estar sendo demitido. Não tenho o poder de movimentação de mídia nem de aliciamento que aquele(s) que quer(em) me demitir tem(têm), mas tenho comigo a honra e a verdade. A justiça virá. Ayala Gurgel Filósofo/Tanatologista Doutor em Políticas Públicas Página 7 REUNIÃO DO CONSUN EM 8 DE FEVEREIRO DE 2013 Dr. Guilherme Zagallo Assessoria Jurídica da APRUMA/SS Prof. Vilemar Silva Presidente da APRUMA/SS Dr. Rafael Silva -Assessoria Jurídica do atual DCE solicitando a relação e identificação dos votantes Leitura do Relatório que reafirmou pela demissão do Professor Ayala Gurgel Acesse nosso site: www.apruma.org.br http://www.facebook.com/apruma.secaosindical [email protected] CONSELHO EDITORIAL Marizélia Rodrigues Costa Ribeiro Carlos Agostinho Couto Tamires de Jesus Moraes Página 8 RACISMO NO TERCEIRO MILÊNIO: a permanência preocupante de uma noção do século XIX Desde o início desde século XXI que o racismo está sendo novamente potencializado. É preciso estar atento às suas metamorfoses mais recentes. Aqueles que consideram o racismo negativo, injurioso e difamatório, como o mais pernicioso para a dignidade humana, esquecem de outros aspectos importantes da questão. O racismo positivo – aquele que positiva traços culturais com base em supostos elementos biológicos, genéticos ou inatos – tem efeitos ainda mais devastadores, pois atua disfarçado em escaramuças sedutoras; produzindo sequelas ainda mais profundas. A característica básica dessse discurso camuflado é encobrir seus fins discriminatórios, exaltando traços positivos, ao invés dos negativos; como exemplo, temos expressões do tipo “os negros são mais alegres, sorridentes, rítmicos, etc.”, “sambistas natos”, “os índios são da floresta”, e assim por diante, edulcorando características que seríam supostamente ausentes nas outras “raças”. Tais pressuposições são tão infundadas quanto tolas... Em momentos festivos e de celebração, observamos esses lexemas se reproduzirem ainda com bastante força; acrescentado-se o apelo sexual e da sensualidade, atribuídas em grau mais elevado aos que têm a pele escura: a “cor do pecado”! Tais categorizações não são novas; o racialismo na linha de Gobineau, Lombroso e outros autores do século XIX, também positivavam traços raciais. Ser “racista” não é só aquele que aponta e discrimina negatividades na herança supostamente “racial”, genética ou biológica (remetidas às supostas “índoles” inatas); mas também àqueles que positivam traços e comportamentos humanos, sob este prisma! Os politicamente corretos, postura hoje tão em voga, costumam considerar que bastaria estar do lado dos oprimidos, para nos isentarmos das responsabilidades diante do conhecimento e da pesquisa rigorosa dos termos e dos discursos; sempre nos interpelando de modo inconsciente e implícito. Todavia, o correto mesmo é não ignorar o caráter multiforme das relações sociais e os des- dobramentos dos poderes. É comum observarmos pessoas que condenam e bradam pela superação das teorias de Nina Rodrigues, Oliveira Viana, e outros, sem nunca terem lido uma obra sequer desses autores. E curiosamente, por causa desse desconhecimento mesmo, vivem proclamando a noção de “raça” de forma naturalizada; noção que jamais adquiriu estatuto científico, constatável na leitura dos textos de Claude Lévi-Strauss. O que realmente surpreende e se destaca hoje é a força da colonização das categorias eurocêntricas e anglo-saxônicas na cabeça de nossos “intelectuais”; ao naturalizarem noções abstratas e gerais, tais como “cultura/raça negra” e “cultura/ raça branca”. Como se fosse possível alcançar alguma objetividade com pressuposições desde tipo. É necessário abandonarmos essas dicotomias, especialmente entre nós sul-americanos, caribenhos e centro-americanos. É preciso investir mais numa pesquisa que alargue nossa imaginação sociológica sobre nossa própria sociedade, e paremos de pensá-la através dos olhos dos europeus e estadunidenses. Alexandre Fernandes Corrêa Associado III – Antropologia. Departamento de Sociologia e Antropologia/UFMA. Coordenador do CRISOL – Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais.