IV ENCONTRO EM EDUCAÇÃO AGRÍCOLA
I FÓRUM DE DEBATES SOBRE A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
07 a 11 de maio de 2012
O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA EM CENTROS
DE FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA NO SUDOESTE DO PARANÁ: PRIMEIRAS
APROXIMAÇÕES
Fernanda Luiza Algeri.1
Maria de Lourdes Bernartt2
Na região sul do Brasil existem 71 CEFFAs, denominadas Casas Familiares Rurais e Casas
Familiares do Mar: 43 CFRs no Paraná; 22 em Santa Catarina, sendo 20 CFRs e 02 do Mar e 6 CFRs
no Rio Grande Sul. Estes Centros de Formação por Alternância tiveram seu início no sul do Brasil a
partir da década de 1980.
Ainda continua grande a carência de estudos a respeito do tema, bem como de suas
características pedagógicas e das atividades praticadas no seio desse modelo de formação
(TEIXEIRA, BERNARTT & TRINDADE, 2008), Queiroz (2002), Estevam (2003, p. 14), e Silva
(2005).
Os estudos sobre a Pedagogia da Alternância na UTFPR - Câmpus Pato Branco iniciaram em
2006, por um grupo de pesquisadores da Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR).
Em 2011 e 2012 estes estudos envolvem alunos de graduação, mestrandos e doutorandos.
O presente estudo intitulado “A Importância do Ensino da Língua Inglesa em Centros de
Formação por Alternância no Estado do Paraná” está vinculado ao Programa de Iniciação Científica
(PIBIC-2011/2012), no qual nos coube investigar o modo como se dá o ensino de língua inglesa nas
CFRs no Estado do Paraná, sua importância e sua utilidade para o contexto da educação do campo,
especialmente em Casas Familiares Rurais (CFRs), as quais adotam o sistema da Pedagogia da
Alternância como método pedagógico, o que se diferencia muito do método aplicado nas escolas
urbanas.
Este projeto está vinculado a um projeto mais amplo, o qual se intitula “Referenciais Teóricos
e Metodológicos para a Educação do Campo: A Pedagogia da Alternância, desenvolvido, desde
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês. UTFPR Câmpus Pato Branco.
(PIBIC/Voluntária)
2 . Docente da UTFPR Câmpus Pato Branco. Orientadora.
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2006, por professores pesquisadores do grupo de pesquisa Centro de Apoio ao Desenvolvimento
Regional, pertencentes ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Câmpus Pato Branco”. O objetivo geral
deste consiste em ampliar e aprofundar os estudos sobre os referenciais teóricos e metodológicos
para a Educação do Campo, em geral, e para a Pedagogia da Alternância, em particular. Até o
presente momento, já se envolveram neste estudo vários alunos: de graduação (Iniciação Científica e
Estágio Curricular Supervisionado), de mestrado e uma aluna de doutorado. Além disso, o projeto
está em diálogo com pesquisadores de outras
universidades, tais como: UTFPR Câmpus
Curitiba/PPGTE; URI – Frederico Westphalen/PPGEDU; UFRRJ/PPGEA; e UNOCHAPECÓ.
A partir das experiências e das visitas que fizemos a algumas Casas Familiares Rurais no
sudoeste do Paraná, foi possível perceber que os docentes envolvidos nesta escola são: monitores
(técnicos contratados pela Associação Regional das Casas Familiares Rurais e do Mar do Sul do
Brasil) e professores (da rede pública do Estado do Paraná). Em relação aos professores, estes são,
no geral, em número reduzido, não passam de quatro, contratados e cedidos pela Secretaria de
Estado do Paraná, por área: das linguagens, seus códigos de apoio e suas tecnologias; das ciências
da natureza e suas tecnologias; das ciências humanas e sociais e suas tecnologias. Tem sido possível
notar que há uma grande rotatividade (contratação); os professores não permanecem por muito
tempo nas CFRs, porque de acordo com uma professora entrevistada em conversa informal, “para se
trabalhar em uma CFR é necessário muita força de vontade, e disposição, porque você não é
simplesmente uma professora, você é mãe, é psicóloga, é amiga, e tem muito trabalho e visitas para
fazer e, além do mais, o reconhecimento financeiro é muito baixo para tanto trabalho”; sendo assim,
para se trabalhar em CFRs é necessário gostar muito, ter muito amor pelo que faz, pois a experiência
é inovadora, desafiadora, o contexto é muito diferente do contexto de educação urbana, e a
apresentação ao processo de ensino/aprendizagem dentro das CFRs, por vezes, pode ser impactante.
Em uma das visitas realizadas em uma CFR do sudoeste do Paraná, fomos informados que a
professora de Línguas da CFR encontrava-se afastada de suas atividades, pois estava em licença.
Encontramos uma acadêmica do 3º período de Letras, sem qualquer conhecimento sobre a Pedagogia
da Alternância e o modo como se trabalha dentro das CFRs. Ela foi contratada pela Secretaria de
Estado do Paraná, pelo Processo Seletivo Seriado (PSS).
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A partir de situações encontradas, iguais a essa, perceber a pouca relevância demonstrada por
essa Secretaria no que tange à seleção de professores para esse tipo de escola, cuja atuação necessita
de preparação prévia e conhecimento sobre os instrumentos e dos métodos que regem a Pedagogia da
Alternância.
Em outra visita a uma CFR, conversamos com a professora de Línguas e, quando questionada
sobre o ensino de língua inglesa na CFR, ela nos disse que essa era a parte mais difícil de sua
atuação docente, pois já se passara muitos anos desde sua formação em Licenciatura em Letras, e
que já não lembrava mais da maioria dos conteúdos e vocabulários que precisava ensinar aos alunos,
diz em entrevista que “(...) Inglês pra mim é um massacre!” e continua : “eu tenho que estudar tudo
de inglês pra poder passar pra esses alunos (...) eu tenho que estar revendo todos os conceitos,
revendo as escritas, revendo palavras, vocabulário...” (Excerto da entrevista, 2012)
Foi possível perceber que, o ensino de Língua Inglesa nas CFRs é um tanto deficiente, uma
vez que os professores não estão devidamente preparados para assumirem aulas de Língua Inglesa
em um contexto de educação do campo,
Segundo a professora entrevista, para aplicar os conteúdos de Língua Inglesa e os outros que
trabalha (Língua Portuguesa e Artes), ela não pode “...sair de dentro do currículo da escola base,
porque nós temos que obedecer o que tem lá dentro das DCEs” (Excerto da entrevista, 2012). Afirma
também que utiliza o livro didático e que se apoia muito em pesquisas na Internet para tentar trazer
algo diferente aos alunos ou mesmo para pesquisar sobre os conteúdos que precisar ensinar aos
alunos. Em relação aos materiais que utiliza com os alunos, disse que usa mais o livro didático para
que os alunos tenham o que pesquisar em casa na hora de fazer alguma tarefa ou pesquisa, pois a
maioria deles não tem acesso à internet e são muito pobres de recursos materiais extras.
Outro aspecto que notamos foi a dificuldade de adaptação dos temas geradores de cada
semana aos conteúdos de língua inglesa, mesmo que as sugestões de trabalho com o tema estejam no
Plano de Formação, assim mesmo torna-se difícil o ensino da língua estrangeira.
O grau de importância que a Língua Inglesa vem atingindo no mundo atualmente não pode
ser ignorado. A Língua Inglesa está sendo ensinada na maioria das escolas no Brasil, (GIMENEZ,
2006). Ela tornou-se um instrumento importante em qualquer situação internacional, como no caso
de conferências científicas ou leitura de artigos científicos. O inglês tornou-se uma ferramenta
indispensável na qualificação para uma vaga de emprego, em transações comerciais e até nas
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atividades mais simples, como acessar a internet. Para o meio rural o cenário não é diferente. Na
atualidade, é possível encontrar no meio rural tecnologias que facilitam o contato com a Língua
Inglesa, como é o caso da Internet e da TV por satélite.
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais do Estado do Paraná para Línguas Estrangeiras
Modernas (Paraná, p. 57, 2008),
um dos objetivos da disciplina de Língua Estrangeira
Moderna é que os envolvidos no processo pedagógico
façam uso da língua que estão aprendendo em situações
significativas, relevantes, isto é, que não se limitem ao
exercício de uma mera prática de formas linguísticas
descontextualizadas.
Neste sentido, podemos perceber que, o objetivo dos temas geradores dentro das CFRs é
contextualizar o ensino, dentro do meio de vivência dos sujeitos envolvidos no processo de
ensino/aprendizagem, neste caso, o meio rural. O que falta para o aprendizado de língua estrangeira
é, de fato, utilizar a língua em situações relevantes e/ou úteis para eles no seu dia a dia ou
futuramente, que não sejam descontextualizados do tema gerador, do meio em que vivem ou de
algum gênero textual que embase o aprendizado da língua estrangeira, sempre buscando
contextualizar com os objetivos do ensino da Pedagogia da Alternância.
Segundo as DCEs (Paraná, p. 57, 2008),
ao estudar uma língua estrangeira, o aluno/sujeito
aprende também como atribuir significados para
entender melhor a realidade. A partir do confronto com a
cultura do outro, torna-se capaz de delinear um contorno
para a própria identidade. Assim, atuará sobre os
sentidos possíveis e reconstruirá sua identidade como
agente social.
O aluno pode ser agente da sociedade em que vive, buscando compreender a sua realidade e a
realidade de diferentes povos e culturas, como por exemplo, compreender como alunos de outros
países falantes da Língua Inglesa, como por exemplo o Canadá, trabalham a Pedagogia da
Alternância, identificando as diferenças e as semelhanças entre as diversas culturas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim, a partir dessa experiência neste projeto de pesquisa, ainda vigente, foi possível
perceber a dinâmica do trabalho das Casas Familiares com a Pedagogia da Alternância e o
envolvimento das famílias com a Associação da Casa Familiar Rural e a educação dos jovens do
meio Rural.
Observamos que o ensino da Língua Inglesa está relacionado ao tema gerador da semana da
alternância constituindo-se, assim, um marco diferencial entre esta modalidade de ensino centrado na
Pedagogia da Alternância e o modo convencional de ensinar.
Através dos dados coletados é possível observar que, para os professores, o ensino da Língua
Inglesa não é muito fácil, contudo este tem grande utilidade para os alunos, porque mesmo vivendo
no campo, eles têm acesso a muitas tecnologias as quais necessitam de conhecimento básico de
Língua Inglesa, como, por exemplo, a Internet. A Língua Inglesa ensinada nas CFR´s no sudoeste do
Paraná, até o momento, está mais voltada para a interpretação de textos e para a aquisição de
vocabulário.
Casa Familiar Rural de Pato Branco – Paraná Acadêmica
Fonte: Dados da Pesquisa (2011/2012)
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Horta da Casa Familiar Rural de Pato Branco - Paraná
Fonte: Dados da Pesquisa (2011/2012)
BIBLIOGRAFIA
GIMENEZ, T. Aspectos da Linguagem: Considerações teorico-práticas: English in a New World
Language Order. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, P. 59-71, 2006.
PARANÁ. Diretrizes curriculares de língua estrangeira moderna para a educação básica.
Secretaria do Estado de Educação do Paraná. P. 57, 2008.
TEIXEIRA, E. S; BERNARTT, M. L; TRINDADE, G. A. Estudos sobre Pedagogia da Alternância
no Brasil: revisão de literatura e perspectivas para a pesquisa. In: Revista Educação e Pesquisa. São
Paulo: FEUSP, v.34, n.2, p. 227-242, maio/ago. 2008.
AGRADECIMENTOS:
Os pesquisadores agradecem o apoio da Fundação Araucária e da UTFPR para a realização
da pesquisa.
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