1 1 INTRODUÇÃO Atualmente, percebemos em nossa clínica, muitos casos que não foram submetidos a tratamento ortodôntico, com queixa de dores de cabeça, sensibilidade dentária, devido à retração gengival, perda óssea alveolar horizontal e vertical, lesão endopério, estalos na articulação têmporomandibular (ATM), entre outras queixas. Devido a esses problemas tornaremse rotineiros, existe a necessidade de se fazer uma triagem nesses pacientes, constatando-se a falta de ajuste oclusal no tratamento. Esses casos não possuíam guias anteriores e/ou guia em canino, ou seja, não tinham movimentos excursivos estabelecidos. Os sinais e sintomas mais comuns de trauma oclusal são: aumento da mobilidade dentária, migração dos dentes, facetas de desgaste oclusal, dor pulpar, impacção alimentar, dor durante e após o contato oclusal, abscesso periodontal com dor (agudização), dor e disfunção na ATM com hipersensibilidade muscular (Williamson, 1976). Buscando na literatura sobre o ajuste oclusal, reconhece-se que, o objetivo do tratamento ortodôntico é estabelecer uma oclusão funcional que esteja em harmonia com o sistema neuromuscular e a ATM (Sadowsky et. al, 1980). O ajuste oclusal por desgaste seletivo é de fundamental importância na ortodontia para a finalização do tratamento e controle pós-contenção quando avaliamos a oclusão de forma dinâmica e estática, buscando as características de uma oclusão funcional e estável em harmonia com o sistema neuromuscular 2 e as articulações têmporo-mandibulares (ATMs). E, um dos critérios para se alcançar esta oclusão funcional ideal seria a ausência de interferências e/ou prematuridades (CALAZANS et al., 2000). Contatos oclusais indevidos, relações intermaxilares alteradas e outras desarmonias oclusais podem levar a patologia do sistema rinoestomatoglossognático, principalmente disfunções da ATM. O tratamento ortodôntico tem sido, muitas vezes, apontado como uma das causas destas disfunções (RIBEIRO et al., 1989). Segundo Haydar et al., em 1992, o objetivo do tratamento ortodôntico deve ser uma oclusão funcional, estética e estável ao final do tratamento. 3 2 PROPOSIÇÃO A proposição deste trabalho foi revisar a literatura sobre o ajuste oclusal através da eliminação de interferências oclusais, contatos prematuros e deflectivos, visando a estabilidade oclusal. 4 3 REVISÃO DE LITERATURA Riedel, em 1960, determinou alguns fatores para o tipo e a duração da contenção: o número de dentes movimentados, a distância que estes dentes sofreram movimentação, a oclusão, a idade, a causa do mau posicionamento, a rapidez da correção, o grau de rotações corrigidas e o comprimento das cúspides. Devemos estar preocupados com o os planos inclinados, tamanho do arco, pressão muscular, contatos proximais e metabolismo celular. Os incisivos inferiores devem estar na posição vertical sobre o osso basal, com suas raízes paralelas para que a contenção não se torne um problema. Sabemos que a estabilidade dos resultados é um dos principais objetivos do tratamento ortodôntico, portanto a contenção depende da oclusão estável, que deve ser estabelecida dentro dos limites do equilíbrio muscular. Nos casos em que a largura intercaninos mandibular foi alterada na sua dimensão original ocorreu recidiva após a remoção da contenção. O autor classifica o uso da contenção de acordo com cada caso, dividido em quatro grupos: Grupo I: casos que não necessitam de contenção em ambos os arcos. A. a sobremordida anterior foi razoavelmente estabelecida; B. a sobremordida posterior deve ter uma boa intercuspidação estabelecida normalmente, sem ter sido cruzada; C. alguns casos planejados com extração; D. casos de molares superiores e inferiores distalizados ou pré-molares mesializados para proporcionar espaço para a irrupção do segundo pré-molar; E. casos de Classe II tratados com direcionamento do crescimento estabilizado, não há necessidade da contenção. Grupo II: casos em que é necessário a contenção permanente ou 5 semi-permanente em um ou ambos os arcos; A. casos de expansão realizada em um ou ambos os arcos; B. casos de Classe II ou Classe III, nos quais houve adaptação muscular e terapêutica com elásticos; C. graves rotações, em especial em dentes anteriores superiores e inferiores e em pré-molares inferiores; D. casos com diastemas. Grupo III: casos que exigem diferentes comprimentos de contenção; A. casos de Classe II, com ou sem extração, não necessitam de contenção mandibular terapêutica se os dentes estão bem posicionados desde que o arco original mandibular não mostre quaisquer rotações graves de dentes e que não haja interrupções no contato do alinhamento no plano vertical; B. casos de sobremordida profunda podem exigir um tempo indeterminado de contenção com o objetivo de manter os resultados obtidos; C. casos de Classe II, Divisão 2 requer período indeterminado de contenção, possivelmente em resposta à adaptação da musculatura, tendo relação com a estabilidade dos resultados; D. casos de correções da Classe III com cirurgia; E. casos de irrupção ectópica dos dentes exigem diferentes planejamentos de contenção. As três causas mais comuns de falhas na contenção são: 1. falta de cuidado na correção das rotações; 2. desenvolvimento de mordida dupla através do uso excessivo de elásticos de Classe II; 3. todas as rotações devem ser levemente sobretratadas para permitir pequena recidiva que, em geral, aparece até mesmo anos após a remoção da contenção. Em todos os casos de maloclusão dentária em que o estado de equilíbrio muscular é preservado durante o tratamento, terá um resultado estável e será mantido sem contenção mecânica. A intenção do autor foi salientar que estamos lidando com um organismo vivo, que sofrerá 6 constantes alterações conforme a idade avançar. Não podemos medir esse crescimento por meio de critérios estatísticos, portanto, se torna difícil prever a recidiva após a remoção da contenção, no pós-tratamento ortodôntico. O autor concluiu que os a contenção não é um item para além do tratamento, mas é uma parte do tratamento em si e deve ser incluída no plano de tratamento. Heide e Thorpe, em 1965, relataram a importância da estabilidade oclusal no pós-tratamento ortodôntico. Foram selecionados, aleatoriamente, 10 casos tratados ortodonticamente, os quais seus modelos de estudo foram montados em articulador simples e as posições de relação cêntrica (RC) e excursões excêntricas foram estudadas. Em todos os casos, a RC e a oclusão cêntrica (OC) não coincidiram. A estabilidade dos resultados no pós-tratamento depende muito da coincidência entre a RC e a OC, conseguida durante o tratamento ou por ajuste oclusal, e dos movimentos mandibulares funcionais balanceados. Interferências oclusais e contatos prematuros, em algum grau, podem causar danos aos dentes, membrana periodontal e ao osso de sustentação. Concluíram que contatos primários em RC existiram em todos os casos, movimentos laterais da mandíbula evidenciaram falta de boa distribuição do stress funcional nas posições de trabalho; interferências cuspídeas em lados de trabalho ou balanceio, ou em ambos. O ajuste oclusal não pode ser substituído por uma boa correção ortodôntica, mas deve ser utilizado como tratamento adjunto. 7 Figura 1: Relação Cêntrica (Dawson, 2008). Williams, em 1971, propôs tratar desordens oclusais, eliminando a discrepância entre a RC e a oclusão habitual (OH). Antes do ortodontista harmonizar a RC e a OH, ele precisa aprender a colocar o paciente na posição de RC. A cabeça da mandíbula deve estar numa posição mais retruída e confortável na fossa articular. A manobra é a seguinte: com o paciente reclinado, ele abre a boca, e aos poucos fecha cerca de metade do caminho, enquanto é mantida pressão para posterior sobre os dentes. Move-se a mandíbula até que o primeiro contato de dentes é sentido. Esta é a posição de relação cêntrica. O tratamento ortodôntico oclusal encontra-se dividido em duas partes: a primeira é o uso do aparelho ortodôntico até sua remoção, a segunda é após o tratamento ativo já concluído e envolve a reanatomização das superfícies oclusais dos dentes com diamantes e pedras, denominado equilíbrio oclusal ou ajuste oclusal. Discrepâncias oclusais devem ser eliminadas antes do tratamento com o aparelho ortodôntico. O ortodontista deve desenvolver o hábito de verificar a oclusão do paciente a cada consulta, ao invés de simplesmente pedir-lhe para "fechar" ou "morder". Assim como o dentista deve ajustar a oclusão após a colocação de uma nova prótese, o 8 ortodontista deve assumir a responsabilidade de recontornar as superfícies oclusais para acomodar a nova oclusão que ele criou. Portanto, deve-se buscar a harmonia entre a RC e a OH através do ajuste oclusal, para que se tenha estabilidade após o tratamento ortodôntico. Andrews, em 1972, verificou seis características significativas observadas em um estudo de 120 pacientes não tratados ortodonticamente com oclusão normal. Estas constantes foram designadas por seis chaves de oclusão normal. Ortodontistas têm a vantagem de se orientar no diagnóstico ortodôntico, ou seja, condição “sinequanon” de uma boa oclusão. A coleta de dados foi durante o período de 1960 a 1964. Dentre os cento e vinte casos não tratados ortodonticamente com oclusão normal, os modelos de dentes que foram selecionados faziam parte dos seguintes grupos: (1) nunca haviam feito tratamento ortodôntico; (2) foram simples e agradável aos olhos de terceiros; (3) tinham uma mordida que parecia normalmente correta e, (4) em minha opinião não se beneficiariam de tratamento ortodôntico. As coroas dos dentes foram estudadas intensivamente para verificar quais características seriam encontradas consistentemente em todos os modelos. Características como a cúspide mésio-vestibular do primeiro molar superior permanente ocluindo no sulco central vestibular do primeiro molar inferior permanente foram encontradas em todos os modelos. Outros achados emergiram, como angulação mésio-distal e inclinação vestíbulo-lingual das coroas. Estes 120 casos normais não tinham nenhum tipo de rotação. Não havia espaços entre os dentes. O plano de oclusão variou geralmente de plana para uma ligeira curva de Spee. A intercuspidação dos dentes era melhor quando o plano de oclusão 9 era relativamente plano. As seis chaves foram assim validadas e estabelecidas como significativas, não apenas porque todas estavam presentes em cada um dos 120 pacientes de oclusão normal, mas também porque a falta de uma das seis chaves era um defeito predictivo de um resultado final incompleto para o tratamento ortodôntico. Portanto, são vistas como essenciais para o sucesso do tratamento ortodôntico. Roth, em 1973, identificou os tipos de interferências oclusais que parecem ser mais comumente associadas com dor e disfunção da ATM, bem como sobre os métodos que podem ser empregados para eliminar ou prevenir os sintomas associados, e não apenas no pós, mas também durante a mecanoterapia ortodôntica. Não é muito raro, após o tratamento ortodôntico, o paciente queixar-se de estalos, sub-luxação, dor localizada e/ou associada às ATMs e músculos mastigatórios, Fig. 2. Estes sintomas podem ser transitórios ou de duração prolongada com períodos de exacerbação e remissão, ou limitações de abertura e movimento. A literatura relata diversos fatores etiológicos que podem causar DTM, tais como: artrites, tumores, malformações congênitas, lesões traumáticas, alterações patológicas degenerativas, neurológicas e musculares, e, principalmente, interferências oclusais. Realizou um estudo com nove indivíduos, tratados pela técnica Edgewise, com idade entre quinze e vinte e quatro anos, três eram do gênero masculino e seis do feminino, sendo casos que poderiam ser considerados bem tratados pelos padrões ortodônticos atuais. O ajuste oclusal, através de desgaste seletivo, dentística restauradora, prótese ou ortodontia, proporcionou o alívio dos sintomas e foi eficaz nos casos de dor causadas por interferências oclusais. 10 Figura 2: Sobrecarga no último molar e hiperatividade dos músculos mastigatórios (Dawson, 2008). Gazit e Lieberman propuseram, em 1973, avaliar a oclusão de estudantes que foram ou não tratados ortodonticamente, através de registros de superfícies de contatos oclusais. Foram divididos em quatro grupos: 1) tratados ortodonticamente com extração de quatro pré-molares; 2) tratados ortodonticamente sem extração; 3) não tratados com boa oclusão; 4) não tratados com má oclusão. Os aspectos fisiológicos estão centrados em torno do sistema mastigatório como um todo, uma unidade funcional que consiste na dentição, no periodonto, nas articulações, nos maxilares e nos músculos, bem como as estruturas neuromusculares e mecanismos nutritivos. A adaptação funcional do sistema estomatognático de cada indivíduo varia, naturalmente, e, finalmente, determina saúde ou patologia. Oclusão normal, portanto, significa mais do que uma gama de valores aceitáveis. Inclui adaptabilidade fisiológica e ausência de lógica reconhecível em manifestações fisiopatológicas. Quando os dentes se articulam eles têm uma certa quantidade de áreas de contato. O total de superfícies de contato nas áreas intercuspídeas está diretamente 11 relacionado com o alinhamento dos dentes de cada indivíduo dentro dos arcos dentários, na idéia hipotética de que os dentes posteriores superiores e inferiores representam homólogos negativos de cada um dos outros na posição intercuspídea. Se a superfície total aumenta significativamente com a abordagem do alinhamento em direção ao ideal, talvez possamos utilizar esses critérios como um índice de maloclusão. Este índice então, não irá descrever as características anatômicas de uma determinada oclusão isolada. Será possível obter algumas informações sobre o funcionamento da oclusão, uma vez que foi documentado na literatura que áreas de contatos oclusais parecem ser altamente correlacionadas com eficiência e desempenho mastigatório. A média das leituras obtidas a partir dos três primeiros grupos foi estatisticamente maior do que a do quarto grupo (maloclusão). Esta pesquisa sugere uma relação direta entre a qualidade de alinhamento e articulação dos dentes de uma determinada dentição e grau de maloclusão. Os autores concluíram que o tratamento ortodôntico tem produzido resultados que comparam, favoravelmente, àqueles do grupo com boa oclusão. Perry, em 1976, relatou que a maioria dos pacientes ortodônticos estão em um período crucial na idade dos dentes decíduos, com possíveis parafunções, tais como: força mandibular e bruxismo, perda de dentes decíduos irregularmente e as alterações funcionais associadas a desvios de dentes permanentes e prováveis contatos prematuros, estes estão sempre mudando características do crescimento infantil. Homeostase é a base da saúde e da função do sistema estomatognático. Descreveu fatores que podem perturbar o equilíbrio deste sistema: 1. Traumas congênitos relacionados ao 12 nascimento; 2. Anormalidades dentofaciais no crescimento; 3. Microtrauma dos dentes e estruturas de suporte; 4. Macrotrauma da face e dos maxilares; 5. Infecção e doença envolvendo as ATMs; 6. Insultos iatrogênicos aos dentes. Durante os procedimentos ortodônticos somos constantemente responsáveis por evitar ou eliminar fatores de trauma oclusal. Crepitação, se ocorrer, é indicativa de degeneração patológica e normalmente posterior à ocorrência do estalo. É necessário avaliar a cada consulta movimentos de abertura e fechamento, lateralidades direita e esquerda, inclusive a RC e OC. Neste curto tempo, procurar cúspides interferentes com bráquetes e tubos, falta de controle vertical dos segundos molares, excessiva orientação incisal, entre outras interferências. Você irá evitar mecânicas desnecessárias, diagnóstico frustrado, bem como desconforto oclusal ao paciente e possíveis disfunções, apenas usando seus olhos, mãos, orelhas e lógica. Perdas dentárias, recidiva de dentes, degeneração da cabeça da mandíbula e ossos podem ser atribuídos a outros fatores sistêmicos e não provocar o efeito desejado do tratamento ortodôntico. Nos casos em que ignoramos a função, temos direcionado nossos pacientes a uma situação dentária potencialmente dolorosa e perturbadora no futuro. Portanto, a meta de todo tratamento ortodôntico deve incluir a estabilidade oclusal, a saúde periodontal e dentária e a função mastigatória, relacionada à motricidade bucal. Williamson, em 1976, descreveu a fisiologia do movimento mandibular relacionada à oclusão, além dos tipos de oclusão balanceada e as consequências para a ATM. Na ausência de patologia orgânica, a síndrome da ATM pode se desenvolver na presença de oclusão deflectiva, particularmente 13 em contatos balanceados. O paciente com oclusão de Classe I em posição de máxima intercuspidação pode ter uma função deflectiva resultando em acomodação neuromuscular. Isto pode resultar em estalo, dor, problemas periodontais, etc. Se o paciente é finalizado com deflexões remanescentes, ele pode desenvolver sintomas agudos que podem ser atribuídos à terapia ortodôntica. Deve-se rotineiramente testar as posições funcionais da articulação como a Relação Central de Oclusão para garantir o tratamento adequado, inclusive, trabalho, balanceio e protrusiva. Atenção especial deve ser dada a erupção dos segundos molares, pois muitos desses contatos são deflectivos. Bandagem desses dentes para correção da inclinação axial deve ser obrigatória. Os requisitos da oclusão bilateral balanceada são: 1 Posição Central – todos os dentes contatam uniformemente quando fecham em Relação Central, os dentes anteriores contatam levemente. 2 Lado de trabalho – as cúspides vestibulares superiores estão em contato com as cúspides vestibulares inferiores. 3 Lado de Balanceio – os dentes opostos ao lado de trabalho devem ter um contato balanceado entre a cúspide lingual do dente superior com a cúspide vestibular do inferior. 4 Protrusiva – incisal dos seis dentes superiores estão em contato com a incisal dos oito dentes inferiores, deve haver um contato balanceado entre os molares superiores e inferiores. Os requisitos da oclusão unilateral balanceada são: 1 Posição Central - todos os dentes contatam uniformemente quando fecham em RC, os dentes anteriores contatam levemente. O conceito de cêntrica longa diz que a distância entre a relação mais posterior da mandíbula até a posição habitual pode ser de até 2,5mm. 2 Lado de trabalho – as cúspides vestibulares superiores estão em 14 contato com as cúspides vestibulares inferiores. 3 Lado de Balanceio – não deve existir dentes em contato no lado oposto ao lado de trabalho. 4 Protrusiva - incisal dos seis dentes superiores estão em contato com a incisal dos oito dentes inferiores, não deve existir contatos em dentes posteriores, Fig. 3. Figura 3: Máxima Intercuspidação (D); Relação Cêntrica (E); Movimento em Protrusiva, com desoclusão posterior imediata (F); Movimento de Lateralidade Esquerda, com desoclusão pelo canino (G, H, I); Movimento de Lateralidade Direita, com desoclusão pelo canino (J, K, L) (Brandão, 2008). Os requisitos da desoclusão ou oclusão mutuamente protegida são: 1 Posição Central – todos os dentes contatam uniformemente quando ocluem em Relação Central, os dentes anteriores contatam pouco. 2 Lado de trabalho – o canino superior deve contatar o canino inferior, nenhum dente posterior deve 15 tocar quando o canino sai de sua posição central, o objetivo é desocluir os posteriores de 0,5 a 1 mm. 3 Lado de Balanceio – não deve haver contato no lado de balanceio. 4 Protrusiva - não deve existir contatos em dentes posteriores quando a borda incisal dos seis dentes superiores tocam a incisal dos oito dentes inferiores. Concluiu que há necessidade do entendimento dos movimentos funcionais pelo ortodontista que deve estar atento aos problemas causados por contatos deflectivos e até mesmo erros na colagem e bandagem dos dentes. Enfatizou a montagem dos modelos em articulador semi-ajustável para estudo da oclusão. Saito et al., em 1977, propuseram reunir as regras do ajuste oclusal de uma maneira prática e objetiva. Definiram ajuste oclusal como sendo um procedimento clínico que tem por finalidade a correção do contato oclusal traumático. Pode-se definir o trauma oclusal como sendo lesão das estruturas profundas dos tecidos de suporte dentário, produzida por forças anormais mastigatórias e transmitidas pelos contatos prematuros e interferências oclusais e que conduzem a um aumento da mobilidade dentária (Apud Posselt, 1961). Interferência oclusal é um contato oclusal que impede a mandíbula de seguir o seu padrão normal de movimento (ciclo mastigatório), ou fechamento, induzindo o paciente ao bruxismo. O paciente num esforço para eliminar a interferência tenta desgastá-la, atritando os dentes, usando sua cúspide de suporte. Infelizmente, as cúspides de suporte são mais desgastadas que as interferências, formando facetas de desgaste, planas e brilhantes, e o paciente perde a estabilidade na posição de RC. A única maneira de conservar a cúspide de suporte será através de um desgaste seletivo correto, prótese ou 16 ortodontia. Os sinais e sintomas mais comuns são: aumento da mobilidade dentária, migração dos dentes, facetas de desgaste oclusal, dor pulpar, impacção alimentar, dor durante e após o contato oclusal, abscesso periodontal com dor (agudização), dor e disfunção na ATM com hipersensibilidade muscular. Os sinais radiográficos são: aumento do espaço periodontal, degeneração da lâmina dura, reabsorção do osso alveolar (geralmente vertical, às vezes, horizontal), hipercementose e fragmentos de cemento no espaço periodontal, condensação ósteo-radicular e reabsorção radicular. Contraindicações do ajuste oclusal: sobreoclusão profunda, grandes abrasões e pacientes portadores de grande sensibilidade dentária. O principal objetivo do ajuste oclusal por desgaste seletivo é a obtenção do equilíbrio oclusal e estabilidade mandibular, removendo-se prematuridades e promovendo uma oclusão ótima e estabelecidas pelas regras do ajuste. A sistemática de desgaste é feita na seguinte ordem: prematuridade em RC, prematuridade em OC, interferência de deslize entre RC e OC, interferência no lado de balanceio, lado de trabalho e em protrusiva. Portanto, há necessidade de analisar a oclusão individual de cada paciente, a fim de selecionar as regras adequadas para se obter o equilíbrio oclusal. Parker, em 1978, discutiu e relatou casos clínicos, relacionando o ajuste oclusal durante o tratamento ortodôntico que é de grande importância para a prática clínica do ortodontista. Hoje encontramos aceitação bastante ampla da expressão RC para descrever uma situação em que a cabeça da mandíbula na ATM, em repouso, está numa posição em que seus músculos e ligamentos encontram-se em repouso. Esta posição pode ou não coincidir com a OC. O 17 ajuste oclusal pode ser realizado através de uma combinação de ortodontia e técnica restauradora. Muito da literatura consiste pura e concisa de relatos de casos e dizer o quão bem ele terminou. No mundo real temos problemas. Devemos estar conscientes de que o tratamento ortodôntico, nem sempre produz o resultado funcional desejado. Algumas de nossas falhas podem ser atribuídas a forças além do nosso controle. A função de canino é de grande importância e interesse para o ortodontista, pois, independentemente da técnica, em usuários de aparelhos multibalanceados, é desejável obter os caninos em função. Normalmente, os artigos irão mostrar o tratamento ortodôntico acabado com os caninos curtos e numa posição de não sobremordida e sobressaliência. Os contatos que ocorrem em lado de balanceio não são apenas nocivos para o periodonto, mas provavelmente também contribuem para a síndrome da Disfunção Têmporo-Mandibular (DTM). O canino deve ter a liberdade de contato na OC, ou seja, alguma sobressaliência. Quando a mandíbula se move em posição lateral ou em protrusiva, no entanto, o canino é contactado e, em seguida, os dentes posteriores são retirados do trabalho e função em ambos os lados de balanceio. Assim, os dentes posteriores são sujeitos principalmente às forças verticais enquanto na função. Em protrusiva, os dentes anteriores são requisitados. Obviamente, os caninos devem ser suficientemente longos (isto é, ter suficiente sobremordida) para realizar essas funções. Em muitos casos, será observado que a RC é mais distal do que a OC. É sempre perigoso generalizar, mas a partir da experiência clínica do autor, essa relação será encontrada com frequência. Observou que em pacientes em crescimento ainda 18 existe uma possibilidade da oclusão deslocar-se da posição final tratada. Portanto, a oclusão cêntrica, a relação cêntrica e a oclusão funcional devem ser objetivos de todo ortodontista e devem fazer parte de seu diagnóstico e plano de tratamento. Costa et al., em 1981, analisaram os contatos dentários em RC e MIH (Máxima Intercuspidação Habitual) e padrão de desoclusão antes e após o ajuste oclusal, deslocamento lateral da mandíbula e síndrome da dor e disfunção da ATM. Foram analisados 15 pacientes tratados ortodonticamente que passaram por traçado pantográfico, incorporados os movimentos bordejantes de cada excursão (lateralidade direita e esquerda e protrusão). Os respectivos modelos foram montados em articulador programado para cada caso e foi feito o ajuste oclusal nos modelos e posteriormente nos pacientes. Os resultados obtidos foram: dos 15 casos estudados, nenhum apresentou coincidência da RC com MIH, porém foi conseguido 89,8% a mais de contatos dentários após o ajuste, 53% dos pacientes contataram seus dentes anteriores em MIH, situação que antes do ajuste não existia e 60% dos côndilos mostraram um deslocamento lateral. Em todos os casos havia a presença de contatos deflectivos em RC antes do ajuste e eliminação total após este ajuste, possibilitando a obtenção da ORC. Manifestação de síndrome da dor e disfunção da ATM, em 33,3% dos pacientes submetidos à terapia ortodôntica. Dentre os pacientes tratados ortodonticamente, há aqueles em que pequenos contatos deflectivos, ao levarem a mandíbula para uma posição de máxima intercuspidação excêntrica, desencadeiam processos patológicos, traduzidos por distúrbios nas ATMs e no sistema neuromuscular, favorecem as recidivas e 19 dão origem a hábitos como bruxismo e apertamento dentário. Os autores concluíram que ocorreu um aumento do número de contatos oclusais após o ajuste oclusal, aumentando a eficiência mastigatória, melhorando a retenção das posições obtidas ortodonticamente e melhor estabilidade oclusal. Greene, em 1982, considerou a validade de alguns conceitos relacionados à Ortodontia e à ATM, área que deve ser de interesse dos ortodontistas. A etiologia da síndrome da disfunção e dor miofacial, desordens têmporo-mandibulares (DTMs), está relacionada a stress psicológico e hiperatividade muscular, como apertamento dentário e bruxismo. Estudos concluíram que a terapia oclusal ortodôntica irreversível, se realizada em equilíbrio, não deveria ser considerada como um tratamento específico ou definitivo para a síndrome da disfunção e dor miofacial. Correções de maloclusões esqueléticas e dentárias reduzem as chances do paciente desenvolver DTMs no futuro. Ortodontistas devem adotar terapias específicas para finalizar cada caso para se obter estabilidade oclusal. As pesquisas também citam que o tratamento ortodôntico não pode ser considerado como um tratamento específico para a síndrome da disfunção e dor miofacial, sendo que o paciente que apresenta sintomas de desordem combinados com maloclusão estrutural deve ser avisado sobre os diferentes tipos de terapia para alívio dos sintomas e que a terapia ortodôntica é indicada para correção das maloclusões e que por consequência podem melhorar os sintomas de dor muscular. Muitos ortodontistas relatam que seus pacientes apresentam ocasionalmente sintomas de dor muscular ou estalos na ATM durante o tratamento. Este fenômeno acontece frequentemente em adultos e devem ser 20 atribuídos ao fato de que os efeitos do tratamento excedem a capacidade adaptativa da musculatura e articulação. Portanto, o ortodontista deve ter conhecimento dos tipos de sintomas que o paciente apresenta, como dor e stress muscular, dor crônica, estalos e outras desordens na ATM, para que seu diagnóstico e terapia de tratamento sejam específicos para tratar a causa do problema. Viola e Paiva, em 1982, demonstraram a importância do ajuste oclusal e dentística restauradora na oclusão orgânica (gnatológica). O diagnóstico precoce dos sinais e sintomas de patologia oclusal possibilitam a prevenção da mesma e/ou a simplificação do tratamento indicado. O exame da oclusão do paciente tratado ortodonticamente, invariavelmente, mostra interferências oclusais que podem e devem ser eliminadas por ajuste oclusal e complementadas por dentística restauradora. As causas mais comuns de disfunções da ATM estão associadas à discrepância entre OC e OH, interferências oclusais em balanceio, trabalho e/ou protrusão. O caso clínico relata sobre uma paciente do gênero feminino, com idade de 10 anos e 1 mês, relação molar Classe I de Angle, foi tratada sem extrações, com a técnica Edgewise, com duração de 17 meses para o tratamento ativo e 12 meses para o período de contenção. Passados em torno de 2 anos após o tratamento ortodôntico, a paciente começou a queixar-se de “ruídos” e dores na ATM. Foi realizada a montagem de seus modelos em articulador semi-ajustável e programado o ajuste oclusal. As restaurações de amálgama da paciente foram trocadas por incrustações de ouro, após o ajuste oclusal, por ser um material que permite estabilidade mais duradoura, por não se fraturar ou desgastar 21 como o amálgama. Portanto, após o tratamento ortodôntico, o ajuste oclusal por desgaste seletivo deve ser indicado para corrigir interferências oclusais que causam danos aos componentes do sistema estomatognático. O ajuste oclusal deve ser criteriosamente planejado em articulador (se possível totalmente ajustável). As restaurações corretamente indicadas também contribuem para a estabilidade oclusal. Ribeiro e Vigorito, em 1989, compararam o número de contatos oclusais nas posições de RC, OC, Lateralidade Direita (LD) e Lateralidade Esquerda (LE), observados nas fases término de tratamento e pós-contenção. A amostra foi composta por vinte e cinco pacientes de ambos os gêneros, com maloclusão de Classe II, divisão 1ª de Angle, com extrações dos primeiros prémolares superiores e inferiores e tratados pela técnica do Arco de Canto. O ajuste oclusal deve objetivar a máxima distribuição dos esforços na RC, sendo que os esforços excessivos da mastigação podem estar relacionados a doença periodontal e oclusão traumática. Eliminando-se os contatos prematuros obtém-se melhor distribuição de forças sobre o maior número de dentes possível. Um tratamento ortodôntico bem realizado, com forças dirigidas para o longo eixo dos dentes, seria coadjuvante a uma oclusão equilibrada, sendo que o desgaste seletivo é feito quando da colocação da contenção para obtenção da OC. A análise da oclusão feita com modelos montados em articulador com arco facial poderia eliminar muitas falhas inexplicáveis durante o tratamento ortodôntico. O ajuste oclusal nunca deveria ser usado em lugar da movimentação dentária. O ajuste, durante o tratamento, seria permissível se tais modificações viessem a beneficiar a estabilidade do dente após sua 22 movimentação. Discrepâncias dentárias por tamanho e forma, falta de desgaste por não estar em função ou por impacção, restaurações mal esculpidas e próteses podem resultar em interferência oclusal, levando alguns dentes à sobrecarga e causando danos aos tecidos, erosão, hiperemia, pulpites, dor na ATM, gengivites, periodontites e movimentos dentários indesejados. Quando da remoção das bandas, um ajuste inicial deveria ser executado para remoção dos maiores obstáculos. Após a análise estatística dos resultados, foi concluído que: 1) não houve diferença, estatisticamente significante, entre o número médio de contatos oclusais nas posições RC, OC, LD e LE quando comparadas as fases término de tratamento e pós-contenção. Isto mostra que não ocorreram modificações morfofuncionais na oclusão dentária, durante o período de contenção. 2) houve diferença, estatisticamente significante, entre o número médio de contatos oclusais, quando se comparou a RC e OC em cada fase estudada, sendo que o número de contatos na OC sobrepujou o da RC. 3) não houve diferença, estatisticamente significante, entre as posições RC e OC, no sentido ântero-posterior. De acordo com Razdolsky et al., em 1989, durante as etapas de manutenção e pós-contenção do tratamento ortodôntico, o número de contatos oclusais em MIH podem aumentar, permanecer inalterado ou diminuir, após um período de três meses. Contatos oclusais em MIH foram analisados em uma amostra de 40 pacientes no final do tratamento ortodôntico e, novamente, 21 meses mais tarde. Um aumento no número total de contatos ocorreu em todos os dentes posteriores e também em dentes anteriores. Poucos contatos mudaram sua localização entre os planos oclusais inclinados e sulcos centrais, 23 sugerindo mínima resolução da oclusão na direção vestíbulo-lingual. A amostra utilizada neste estudo foram 40 pacientes da clínica de pós-graduação em Ortodontia da Universidade de Illinois College of Dentistry, sendo 15 do gênero feminino e 25 do masculino, com média de idade de 18 anos e 3 meses (desvio padrão 2 anos 11 meses), tratados com ortodontia fixa pela técnica Edgewise, dentre eles, 19 sem extração e 21 com extração. Foram 19 indivíduos com maloclusão de Classe I, 14 com Classe II Divisão 1ª, 3 com Classe II Divisão 2ª, e 4 com maloclusão de Classe III. As contenções removíveis foram utilizadas em tempo integral durante um período de 6 a 12 meses. Houve um aumento tanto no número de dentes em contato como no número de contatos. Um aumento no número total de dentes em contato foi encontrado em 70 por cento dos casos, com mais casos mostrando aumento de contatos em dentes anteriores (62,5 por cento) quando comparados com os contatos em dentes posteriores (45 por cento). Um aumento no número total de contatos foi encontrado em 92,5 por cento dos casos, esse aumento foi refletido em diversas áreas, exceto para o número real de contatos sobre os incisivos, que foi quase igualmente dividido entre os casos, mostrando contatos que permaneceram inalterados, diminuíram ou aumentaram. Mudanças na localização dos contatos ocorreram na maioria dos casos. Os autores desse estudo constataram que, após o término do tratamento ortodôntico, ocorre um assentamento dos dentes com melhora nos contatos oclusais. Quando ocorrem interferências oclusais, a opção de tratamento é o ajuste oclusal por desgaste seletivo. 24 O objetivo de Janson e Martins, em 1990, foi avaliar clinicamente, em vinte casos ortodônticos, terminados em um período máximo de um ano, os seguintes aspectos: a coincidência da MIH com a RC, a existência de guia anterior imediata; a incidência de interferências durante os movimentos funcionais; a presença ou não de disfunção mandibular; os contatos dentários interferentes em RC e após o ajuste, na oclusão de RC e os benefícios proporcionados pelo ajuste oclusal efetuados nestes casos. Foram analisados 20 pacientes (11 do gênero masculino e 9 do feminino), com idade média de 14 anos e 10 meses, tratados com a Técnica Arco de Canto, com ou sem extração e com o tratamento finalizado entre seis meses e um ano, no início da pesquisa. Os resultados demonstraram que 85% dos casos examinados não foram terminados coincidindo a MIH com a RC; a guia anterior imediata para excursão protrusiva foi estabelecida em 90% dos casos e a guia anterior imediata para excursão em lateralidade foi em 50% dos casos. Em virtude desses contatos, ocorreu alta incidência de interferências durante os movimentos funcionais e a presença de disfunção mandibular em 10% dos casos. Concluíram que o número de contatos obtidos em ORC (Oclusão de Relação Cêntrica) após o ajuste, mostrou-se superior ao número de contatos em RC, previamente ao ajuste. O ajuste oclusal possibilitou a obtenção da ORC; um melhor padrão de desoclusão durante os movimentos funcionais, embora não tenha sido possível estabelecer a guia anterior imediata, quando estas não foram obtidas ortodonticamente; a eliminação das interferências durante os movimentos funcionais, de acordo com o padrão de desoclusão 25 estabelecido; a remissão dos sintomas dos pacientes com disfunção mandibular e o aumento do número de contatos dentários em ORC. Berg, em 1991, discutiu os critérios para avaliação de tratamentos ortodônticos, a seleção dos critérios a serem avaliados e os resultados dos tratamentos ortodônticos apresentados. Para avaliação dos resultados do tratamento ortodôntico são relevantes critérios como oclusão, cujas definições de alguns autores variam na descrição do “ideal”, “normal”, ou “ótimo”. Devido à complexidade de se chegar a uma oclusão ideal torna-se vantajoso, em prol da comunicação, quantificar a oclusão por pontuação ou porcentagem do ideal. Outro fator se refere à função do sistema estomatognático cujos estudos epidemiológicos concluem que a maior parte das pessoas possuem mais desvios de posição dentária do que desordens do sistema estomatognático. A adaptação gradual dos músculos e articulações e o lento desenvolvimento de uma oclusão específica, durante o crescimento, pode não ocorrer seguindo as rápidas mudanças relacionadas ao tratamento ortodôntico, portanto, uma lista de procedimentos ortodônticos deve incluir o registro da situação funcional, referindo-se a qualquer distúrbio do sistema rinoestomatoglossognático. Um aumento de pesquisas e dados indicam que a estabilidade clínica dos tratamentos ortodônticos resultam da relação entre tempo e forma. O fator tempo refere-se a estabilidade a longo prazo pós-contenção. Um acompanhamento pós-contenção ortodôntica de 10 anos parece ser ideal. Efeitos iatrogênicos do tratamento pode se referir a lesões de esmalte, perda de margem óssea e reabsorção radicular. Este último tem sido frequentemente o “calcanhar de Aquiles” da ortodontia, porém a relação entre tamanho de raiz 26 e longevidade é nebuloso. Alguns clínicos observaram que raízes curtas costumam se manter funcionais por muitos anos. A seleção dos casos a serem avaliados é um fator importante na avaliação dos resultados do tratamento ortodôntico, deve ser representativa e a seleção prospectiva da amostra deve ser dividida por tipo de tratamento e cada caso numa categoria específica. Em caso de seleção retrospectiva os pacientes que tiveram tratamentos descontinuados, cooperação insuficiente, são excluídos. Apresentação dos resultados do tratamento ortodôntico certamente irão conter tratamentos com resultados excelentes, alguns não. Deve-se, portanto, mostrar alguns casos que não foram possíveis de serem concluídos e dizer que se aprende mais com erros e falhas, dizer que a maioria dos casos terminam medianamente, passando a impressão do profissional ser medíocre, por outro lado, mostrar casos excelentes pode inspirar o público, mesmo não representando a maioria dos casos tratados. Haydar et al., em 1992, avaliaram os contatos oclusais na máxima intercuspidação ao final do tratamento ortodôntico ativo e 3 meses após o período de contenção. Os objetivos do tratamento ortodôntico devem ser: obter uma oclusão funcional e estética, além da estabilidade no final do tratamento. Dos 20 pacientes tratados, 8 apresentavam maloclusão de Classe I, 10 de Classe II, Divisão 1ª e 2 apresentavam maloclusão de Classe III no prétratamento. Todos os pacientes foram tratados pela técnica Edgewise. Foram registrados os números de contatos que mudaram, quer favorável ou desfavoravelmente. Contatos inalterados não foram utilizados para a avaliação estatística. Um achado interessante no grupo controle foi um aumento do 27 número de contatos nos segundos molares e uma diminuição do número de contatos em primeiros molares. Embora essa mudança tivesse ocorrido durante um curto período de 3 meses, isto pode ser explicado pela contínua irrupção dos segundos molares, num relacionamento oclusal mais rigoroso que alivia as forças oclusais, a partir do primeiro molar mais para trás, resultando em uma diminuição de contatos neste área. Nenhuma alteração significativa da localização dos contatos foi encontrada nas sessões de antes da remoção do aparelho e após o período inicial de 3 meses. Durante o período observado, ocorreram algumas mudanças oclusais que devem ser esperadas em pacientes em crescimento. Após o término do tratamento ortodôntico ativo, espera-se algumas pequenas mudanças quanto ao número e a localização dos contatos oclusais. Portanto, a oclusão final deve ser próxima da ideal e deve ser alcançada até ao final do tratamento ortodôntico, e apenas alterações mínimas devem ser deixadas para ocorrer durante o período de contenção. O sucesso do tratamento ortodôntico a curto e longo prazo pode ser estabelecido com a obtenção de uma oclusão funcional, estética e estável ao término da fase ativa do tratamento. Um dos critérios para se obter uma oclusão funcional é o de se conseguir paradas cêntricas estáveis em todos os dentes na máxima intercuspidação. Lima e Pascoal, em 1994, reuniram o que de mais importante foi publicado sobre ajuste oclusal e analisaram seus efeitos após o tratamento ortodôntico. Relataram sobre a importância das interferências oclusais em seus estágios iniciais, por provocarem desequilíbrio muscular e diferença entre RC e MIH, sendo essa diferença responsável por alterações periodontais, recessões 28 gengivais, alterações do osso alveolar, desgastes dos dentes e trauma oclusal, indicado ajuste oclusal para eliminação dessas interferências, que em algum grau, existem em todos os casos tratados ortodonticamente, independente de como foram tratados, por isso as interferências grosseiras devem ser eliminadas enquanto o aparelho ainda está presente. Muitos pacientes desgastam essas interferências aparecendo facetas de desgaste, outros as evitam, subluxando a cabeça da mandíbula, estimulando músculos, principalmente o complexo pterigóideo, levando ao espasmo, produzindo a síndrome da dor e disfunção da ATM. A finalização apropriada dos dentes com suas inclinações e seus torques corretos são importantes para a estabilidade e redução do tempo de contenção. Os autores concluíram que todos os casos tratados exibem prematuridades oclusais e o ajuste oclusal se torna necessário para remoção de interferências durante os movimentos excêntricos laterais da mandíbula, principalmente no lado de balanceio, em protrusiva e em fechamento, levando ao deslize mandibular. Preconizaram aumentar o número de contatos dentários em relação de oclusão cêntrica. Mandetta, em 1994, relacionou as causas da mastigação unilateral e abordou a importância do ajuste oclusal por desgaste seletivo na correção desse tipo de mastigação. A oclusão ideal é aquela que possibilita mastigação bilateral alternada e multidirecional. As consequências desfavoráveis da mastigação unilateral podem ser a desarmonia oclusal crescente e severa, devido ao desgaste oclusal não uniforme, assim como, a tendência de maior acúmulo de placa bacteriana e tártaro sobre os dentes do lado sem função. A mastigação deve ser bilateral alternada, com excursões amplas e contatos 29 oclusais tanto no lado de trabalho quanto no lado de balanceio, sendo essa a única forma capaz de produzir o desenvolvimento normal póstero-anterior e transversal da maxila e mandíbula, o desenvolvimento normal de incisivos, prémolares e molares, inclusive o desenvolvimento normal da situação do plano oclusal. A mastigação unilateral ou restrita é um modelo de conveniência ou adaptação à dor, à perda de dentes e às desarmonias oclusais. Pode originarse no momento em que os dentes irrompem e atingem o plano oclusal. Qualquer fator que cause dor aos componentes do sistema rinoestomatoglossognático (dentes, mucosas, periodonto, músculos, ATMs, língua e respiração nasal) pode limitar a função de um dos lados. A restrição da mastigação por afastamento da dor, se temporária, não afeta a oclusão e o sistema mastigatório, mas, se prolongada, poderá ocasionar desarmonia oclusal crescente, por mudanças nas posições dentárias e desgastes oclusais desiguais entre os lados de mastigação e não mastigação. Clinicamente, observa-se que as interferências oclusais mais frequentes resultam de movimentos ortodônticos, de irrupções desajustadas dos terceiros molares, de tratamentos dentários sem a devida atenção à fisiologia oclusal e de mudanças das posições dentárias devido a traumas, hábitos parafuncionais, doença periodontal e perda de dentes. O objetivo primordial do ajuste oclusal é melhorar as relações funcionais da dentição, para que os dentes e o periodonto recebam estímulo funcional uniforme e para que as superfícies oclusais dos dentes sejam expostas a um desgaste fisiológico uniforme, além de eliminar os deslizamentos patológicos e os contatos prematuros entre a RC e a OC, assim como as interferências oclusais no lado de trabalho, balanceio e nas excursões 30 protrusivas. O ajuste deve fazer com que as inclinações das guias em canino e vertentes de trabalho sejam, aproximadamente, iguais dos dois lados de trabalho. Pode-se concluir que o ajuste oclusal por desgaste seletivo estabelece padrões multidirecionais eficientes e deve ser indicado para corrigir a mastigação unilateral, nos casos em que há uma chave de oclusão satisfatória, presença de unidades funcionais completas, superiores e inferiores, ausência de dor dentária ou periodontal. Simões et al., em 1997, objetivaram analisar a oclusão funcional e a presença de DTM, bem como os benefícios proporcionados pelo ajuste oclusal, em pacientes tratados ortodonticamente após um ano de contenção. Foram analisados 16 pacientes tratados ortodonticamente, sendo 6 do gênero masculino e 10 do feminino, com idade média de 16 anos e 6 meses. Esses pacientes foram tratados com as técnicas de Andrews ou Arco de Canto (Edgewise), com ou sem extração, com o tratamento finalizado em média um ano antes do início da pesquisa. Os pacientes usaram placa miorelaxante pelo menos durante 15 dias no início deste estudo para relaxar a musculatura mastigatória a fim de se obter a RC. Foram utilizados modelos de gesso, montados em articulador devidamente regulados, foram determinados os contatos prematuros e interferências oclusais, foi feita pesquisa de sinais e sintomas de DTM. O ajuste oclusal foi realizado obedecendo a sequência preconizada por Peter Neff (1975), nas posições de RC e nas posições excêntricas da mandíbula. A amostra foi submetida a um tratamento estatístico para se comparar resultados entre o número de dentes em posição de RC antes e após o ajuste oclusal, e entre o número de dentes em contato nas 31 relações excêntricas da mandíbula, ou seja, LD e LE, no lado de trabalho e balanceio e em protrusiva. Os resultados obtidos foram que, após o uso de placa miorelaxante, 62,5% dos pacientes apresentaram um único contato na posição de RC. Verificou-se ainda, alta incidência de interferência durante os movimentos funcionais, sendo 43,75% dos pacientes com interferências no lado não funcional, sendo que na posição protrusiva, as interferências foram menores, 25%. Ao se verificar a incidência de sinais e sintomas de DTM constatou-se que 43,75% apresentavam algum sinal ou sintoma de disfunção. Após o ajuste oclusal, constatou-se um aumento significativo do número de contatos em posição de RC. A eliminação das interferências no lado nãofuncional e em protrusiva foi conseguida em 100% dos casos. A remissão dos sintomas de DTM ocorreu em 18,75% dos pacientes. Os autores concluíram que o tratamento por ajuste oclusal é benéfico, pois permite um melhor estado da oclusão funcional e remissão dos sinais e sintomas de DTM. Madeira e Vanzelli, em 1999, relataram a importância do ajuste oclusal por desgaste seletivo conjuntamente com o tratamento ortodôntico. O ajuste oclusal pode ser realizado através do tratamento ortodôntico, por desgaste seletivo ou por acréscimo de material restaurador, visando melhorar as relações funcionais da dentição natural e a eliminação de possíveis traumas oclusais. Os desgastes seletivos ou acréscimo de material restaurador, quando executados na fase de dentição decídua e mista, com o tratamento ortodôntico, podem direcionar as forças oclusais para que haja estimulação funcional adequada e o correto desenvolvimento dos arcos, podendo-se prevenir a definição de problemas esqueléticos. Na prática, este procedimento 32 proporciona uma maior velocidade dos resultados. A melhora nas funções musculares pode ser conseguida com a eliminação das possíveis interferências oclusais existentes, equilibrando a oclusão. Este procedimento deve fazer parte da terapia ortodôntica para o sucesso em estabilidade, conforto do paciente e segurança profissional do resultado obtido. Portanto, as interferências oclusais e contatos prematuros, desencadeadores de instabilidade dos resultados, devem ser eliminados através do ajuste oclusal. Conti e Sábio, em 1999, revisaram as teorias e conceitos sobre a utilização do ajuste oclusal como método terapêutico na finalização dos pacientes submetidos a tratamento ortodôntico. A técnica de desgaste seletivo dos dentes naturais foi utilizada como método de tratamento de diversas patologias. Esta técnica tinha como objetivo alcançar uma máxima distribuição dos esforços mastigatórios com a cabeça da mandíbula posicionada em RC, perfeita distribuição das forças excêntricas, manutenção das cúspides de suporte, correto escoamento dos alimentos entre os dentes e a diminuição das superfícies de contato entre os dentes. Interferências oclusais são contatos oclusais que, de alguma forma interferem com a função ou a parafunção. Dessa forma, para que um tipo de contato oclusal seja considerado, uma interferência, é necessário que este se encontre associado a algum prejuízo para o sistema rinoestomatoglossognático. Se o periodonto está sadio, o trauma oclusal é chamado de primário. Se o elemento apresenta perda de suporte ósseo em consequência de doença periodontal inflamatória prévia, o trauma oclusal é classificado como secundário. Apesar de uma oclusão estável ser o objetivo de qualquer tratamento ortodôntico, o fato de não alcançá-la não 33 implica necessariamente no aparecimento de sinais e sintomas de disfunção. Isto caracteriza a pequena influência da oclusão e tratamento ortodôntico sobre a ATM e os músculos da mastigação. Baseado na proposta da participação efetiva da oclusão nos processos de disfunção crâniomandibular (DCM), o ajuste oclusal pós-ortodontia como medida profilática foi indicado durante muito tempo. Baseado em estudos, não se justifica tal procedimento. A capacidade de adaptação do sistema estomatognático geralmente se sobrepõe à presença de eventuais contatos prematuros no paciente pós-ortodontia. Se o tratamento ortodôntico foi finalizado com uma discrepância de RC para MIH de 0 a 1,5mm, esse paciente estará fazendo parte da grande parcela de 90% da população com contatos prematuros e assintomáticos, “oclusão fisiológica”. O eventual ajuste desse paciente na posição de RC poderia, ainda, exacerbar algum problema intra-articular, pois sabe-se que, aproximadamente 1/3 da população assintomática apresenta-se com deslocamento do disco articular para anterior. Então, a tentativa de se manipular este paciente em RC para o ajuste poderia agravar a condição de desvantagem morfológica (deslocamento do disco), progredindo para alguma condição inflamatória (capsulites, sinovites ou retrodiscites). Dessa forma, não se justifica o ajuste pós-ortodontia com vistas à prevenção de DCM. Deve ficar claro, no entanto, que grandes contatos prematuros podem contribuir para o surgimento de algumas patologias específicas. Nesses casos, o ajuste oclusal não pode ser aplicado, pois a necessidade de grandes desgates dentários poderia levar à exposição dentinária e consequente dor. Quando grandes instabilidades oclusais ainda estiverem presentes após a finalização do caso, deve-se considerar um 34 retratamento. Portanto, muita controvérsia ainda persiste, no entanto, é de extrema importância uma avaliação correta da indicação ou contra-indicação do ajuste oclusal seja total ou parcial, para que o profissional não crie uma iatrogenia ao seu paciente. É de extrema prudência somente intervir diante de uma patologia estabelecida e não como um método preventivo. Monnerat e Mucha, em 2000, realizaram um estudo que avaliou a relação existente entre a presença de interferências oclusais e o apinhamento dentário ântero-inferior, baseando-se na revisão de literatura e na observação de uma amostra de indivíduos adultos jovens, divididos em dois grupos: um grupo apresentando a coincidência entre a RC e a MIH, e o outro com diferença entre essas duas posições. Os modelos de gesso das duas arcadas foram montados em articulador semi-ajustável e as médias do índice de irregularidade de Little dos dois grupos foram comparadas. O insucesso na identificação da RC pode levar a instabilidade e à recidiva do resultado obtido com o tratamento ortodôntico. O material desta amostra foi constituído de 10 pares de modelos de gesso, obtidos de uma amostra de 10 indivíduos adultos jovens, com idades variando entre 20 e 30 anos, brancos, alunos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense (Niterói – RJ), portadores de relação normal para os caninos e molares (Classe I de Angle), apresentando trespasse horizontal e vertical normais, sem ausências dentárias (exceto terceiros molares) e dentes com formas anatômicas normais. Com base na literatura consultada e na observação dos casos clínicos analisados, parece existir uma tendência de que a força oclusal oriunda de deslizes 35 mandibulares, causados por interferências e/ou contatos prematuros, contribui para o apinhamento dentário ântero-inferior. Calazans et al., em 2000, avaliaram a necessidade do ajuste oclusal em pacientes que sofreram tratamento ortodôntico, tendo como princípio alcançar a oclusão ideal eliminando possíveis interferências oclusais, diagnosticadas através de exame funcional da oclusão em fase final de tratamento. A análise do sistema rinoestomatoglossognático pode identificar a presença de interferências oclusais na posição mandibular de RC e/ou na posição dental habitual, bem como nas posições excêntricas da mandíbula. Frequentemente observa-se em certos pacientes o aparecimento de um diastema pré ou póscanino superior, imediatamente após a remoção dos aparelhos. Na maioria das vezes, trata-se de um torque ou uma retração insuficiente dos dentes anterosuperiores. Este espaço pode aumentar se a função em canino é insuficiente, principalmente se o incisivo lateral está em contato quando dos movimentos de excursão. De forma geral, toda dinâmica oclusal cêntrica pode determinar, cedo ou tarde, uma recidiva da posição dentária ou da posição mandibular obtida por via ortodôntica. Por este motivo que a melhor contenção continua a ser uma boa função. O ajuste oclusal é um procedimento extremamente válido e necessário em determinados casos após o tratamento ortodôntico, almejando alcançar uma oclusão ótima e mutuamente protegida. Devemos ficar atentos à oclusão traumática que, em determinada fase da vida de um indivíduo, pode transpor à tolerância fisiológica e causar algum sintoma de disfunção articular e especialmente muscular, por isso, interferências devem ser removidas com o ajuste oclusal. 36 Kuramae et al., em 2002, revisaram as teorias e conceitos sobre a estabilidade ortodôntica e os fatores que podem levar à recidiva ortodôntica. A busca pela estabilidade é um dos principais objetivos do tratamento ortodôntico, além da estética e da função. A contenção é um dispositivo fixo ou removível, o qual deve ser incluído no diagnóstico e planejamento. Um erro comum na ortodontia é a correção incompleta de toda a rotação dentária. São pequenos detalhes difíceis de detectar e que devem ser percebidos durante o tratamento, comparando cuidadosamente os modelos de gesso iniciais e a posição atual na boca com visão acurada. Salientaram a importância em estabelecer-se um relacionamento oclusal em harmonia com as ATMs. Tal harmonia poderia evitar, em grande parte, os movimentos indesejáveis, após a remoção do aparelho. É aconselhável a montagem dos modelos em articulador, a fim de verificar e extensa desarmonia entre a RC e a MIH. Essa extensão, quando conhecida, possibilita a diminuição do risco de desenvolvimento de oclusão traumática. A presença de uma interferência oclusal posterior que leva a mandíbula para frente em direção aos dentes anteriores superiores pode resultar no aparecimento de diastemas entre os incisivos superiores ou apinhamentos nos incisivos inferiores. Uma oclusão livre de interferências promove melhor distribuição do estresse oclusal, constituindo uma necessidade para a estabilidade dos resultados do tratamento ortodôntico. Ferreira Neto et al., em 2003, discutiram a importância do ajuste oclusal por desgaste seletivo após o tratamento ortodôntico através da revisão de literatura e relato de caso clínico. O trabalho relatou um caso clínico de 37 paciente P.S.P., 11 anos e 10 meses de idade que utilizou AEB (Arco Extra Bucal) e aparelho fixo com técnica Edgewise, slot .022”, por um período de dois anos e seis meses. Os resultados obtidos após uma sequência de ajustes oclusais por desgaste seletivo foram os seguintes: homogeneização dos contatos dentários em RC; movimentos de lateralidade guiados pelos caninos, com desoclusão dos demais dentes; guia anterior com desoclusão pelos quatro incisivos inferiores e incisivos centrais superiores, diminuição e até eliminação dos espaços negros com os arcos dentários em oclusão. Existe uma posição ideal para a cabeça da mandíbula em relação à fossa articular e a mandíbula deve estar apta a mover-se para qualquer direção possível, sem interferências dentárias no padrão de movimentos ditados pela articulação, bem como ser capaz de fechar para a posição de MIH, sem defletir a cabeça da mandíbula de sua posição mais ideal em relação às fossas. Nesta posição, a cabeça da mandíbula parece estar centralizada dentro das superfícies internas da fossa articular. As indicações para o ajuste oclusal são: 1) melhoria das relações funcionais e indução de estímulo fisiológico a todo sistema rinoestomatoglossognático; 2) eliminação de oclusão traumática; 3) eliminação de tensão muscular anormal, bruxismo ou dores associadas; 4) eliminação de desordens da ATM; 5) estabelecimento de um padrão oclusal ótimo antes de procedimentos restauradores extensos; 6) adaptação da forma e contorno dentários, melhorar a eficiência mastigatória e proporcionar proteção ao periodonto; 7) auxiliar na estabilização dos resultados do tratamento ortodôntico; 8) recondicionamento de alguns hábitos de deglutição anormal. Portanto, para obtenção de resultados excelentes, a posição de RC deverá 38 coincidir com a posição de MIH, haver o maior número de contatos múltiplos e uniformes em fechamento em RC; ausência de sintomatologia da ATM e prematuridades em movimentos excêntricos; desoclusão posterior imediata em movimentos protrusivos e laterais guiados por incisivos e caninos, respectivamente. A estabilidade do tratamento está, consequentemente, relacionada ao ajuste oclusal. Simamoto et al., em 2005, enfocaram a relevância das condições oclusais fisiológicas para manutenção e otimização da reabilitação ortodôntica por meio de ajuste oclusal, quando devidamente indicado. Em casos ortodônticos finalizados com resultados considerados esteticamente satisfatórios, constataram a existência de alguns fatores que contribuem para a ocorrência de interferências oclusais, os mais comuns foram: insuficiente inclinação palatina da coroa dos segundos molares superiores, excessiva inclinação lingual da coroa dos segundos molares inferiores, relação maxilomandibular ântero-posterior incorreta e falta de coordenação entre as dimensões transversais dos arcos dentários superior e inferior. Portanto, as interferências são capazes de provocar movimentações recidivantes, já passíveis de ocorrer pela ação genética, pela memória das fibras periodontais ou pelos próprios agentes degenerativos inerentes ao processo de maturação ou envelhecimento. Concluíram que qualquer tratamento que envolva mudança na condição oclusal existente, como reabilitação protética extensa ou tratamento ortodôntico deverá considerar o ajuste oclusal como terapêutica complementar para promover condições oclusais fisiológicas. Estas condições 39 devem promover harmonia entre a estrutura dental, sistema neuromuscular, ATM, periodonto, mastigação, fonação e deglutição. Borin Neto et al., em 2005, propuseram definir em qual etapa seria melhor realizar o ajuste oclusal por desgaste seletivo para atingir estabilidade, saúde periodontal e harmonizar dentes com as articulações, seguindo um protocolo específico. Protocolo para o ajuste oclusal: 1ª etapa: após a montagem dos aparelhos, checar as peças ortodônticas (bráquetes, tubos vestibulares e linguais, acessórios, espessura da solda realizada em aparelhos ortodônticos, etc). Deve ser desgastado qualquer contato que possa gerar uma interferência oclusal. Contatos não fisiológicos e dificuldades de higienização promovem problemas periodontais. Deve-se continuar o monitoramento durante o tratamento e qualquer interferência entre o aparelho e o dente deve ser desgastada ou corrigir a posição da peça ortodôntica. 2ª etapa: na fase de arcos ideais é o momento de se atingir a oclusão funcional através da coordenação dos arcos, individualização de torques, dobras, manipulação mandibular e, se necessário, fazer a montagem em articulador. A partir desse momento, a RC deve coincidir com a MIH ou com deslize anterior aceitável e movimentos excursivos livres (oclusão mutuamente protegida). 3ª etapa: após 30 dias da remoção do aparelho, checar a oclusão com manipulação mandibular e repetir a 2ª etapa se necessário e continuar o monitoramento da oclusão de 3 em 3 meses até completar um ano, em seguida, monitorar anualmente. Portanto, o protocolo é um elemento que organiza e orienta procedimentos, por isso, deve-se tê-lo no ajuste oclusal ortodôntico. 40 Pereira et al., em 2006, avaliaram pacientes com contatos prematuros e como queixa principal, a dor muscular. Foram avaliados comparativamente, 50 pacientes entre 20 e 40 anos de idade, da clínica de oclusão do curso de Especialização de Prótese Dentária do Centro Universitário Federal de Alfenas (EFOA), entre 2001 e 2003. Verificou-se a queixa principal, o primeiro contato prematuro e o tipo de contato e iniciou-se o ajuste oclusal por desgaste seletivo. Dos 50 pacientes analisados, 22 apresentaram contatos oclusais de deslize em direção à linha média (44%), 16 pacientes com deslize contrário à linha média (32%), 5 pacientes sem deslize (10%), 2 pacientes à protrusão (4%) e 5 com deslize para anterior (10%). Observou-se que 48 contatos analisados eram em nível de pré-molar e molar e apenas 2 contatos na região anterior em nível de caninos. Em 96% dos casos ocorreu a presença de dor no músculo pterigóideo lateral, que irradia dores no ouvido e seio maxilar; 4% no músculo temporal, suas fibras posteriores irradiam dor para os dentes posteriores e suas fibras médias diretamente para o canino; 2% no músculo masséter, nas quais suas fibras mais superficiais relacionam-se com os dentes inferiores posteriores, e as fibras mais profundas relacionam-se com os superiores posteriores. A maioria dos pacientes que procuraram o serviço da clínica de oclusão eram pessoas do gênero feminino, cerca de 76%, e 24% do gênero masculino. Foram 36 pacientes (69%) que apresentaram como queixa principal cefaléia, dores de ouvido, dores nos músculos da face; cerca de 10 (9%) apresentavam estalidos, com relato de dor ou não; 5 (10%) com desgaste dentário, com dor ou não e apenas um paciente (2%) não apresentou sintoma. Os autores concluíram que a grande maioria dos pacientes analisados é do 41 gênero feminino, sugerindo que a relação entre DTM e estresse é de fato estreita e significativa, necessitando de um estudo mais aprofundado para analisar melhor a hipótese diagnosticada. Bondemark et al., em 2007, avaliaram a estabilidade morfológica e a satisfação do paciente cinco anos após o tratamento ortodôntico. Os critérios da inclusão consistiram em um período de pelo menos 5 anos após a contenção de pacientes que utilizaram aparelhos fixos ou removíveis. A manutenção do alinhamento dental após o tratamento ortodôntico continua a ser um desafio na profissão do ortodontista. Geralmente, o objetivo do tratamento ortodôntico é produzir uma oclusão ideal normal ou assim chamada, estética e funcionalmente ajustada. Há, entretanto, uma grande variação no resultado do tratamento por causa da severidade e do tipo da maloclusão, cooperação do paciente, crescimento e adaptação dos tecidos moles e duros. Os estudos complementares de casos tratados mostraram que, embora a oclusão “ideal” e o alinhamento dental fossem conseguidos, há uma tendência para a recidiva da maloclusão original após o tratamento. A estabilidade a longo prazo de resultados de tratamentos ortodônticos tem que ser considerada com relação ao envelhecimento, a doença periodontal, a cárie e vários tipos de restaurações dentais. Com estes fatores em mente, e com relação à duração, ao esforço e ao custo investido na terapia ortodôntica, a escolha de um período da continuação de pelo menos 5 anos depois da retirada da contenção parece razoável quando a estabilidade do tratamento ortodôntico for avaliada. Quando avalia-se as mudanças após a contenção, é de importância vital levar em consideração as mudanças do crescimento 42 natural nos indivíduos que não tiveram nenhum tratamento ortodôntico. É apropriado e aconselhável usar grupos de controle não tratados combinados. Foram selecionados 38 casos de acordo com os critérios da inclusão. Era evidente nos estudos que o comprimento do arco e a largura intercanino da mandíbula foram reduzidos e o apinhamento dos incisivos inferiores recidivou, frequentemente durante o período pós-contenção. Os estudos mostraram grandes variações individuais e parâmetros tais como: gênero e idade no começo do tratamento ortodôntico, diagnóstico inicial, extração ou não extração como parte do tratamento, o período de tratamento e contenção e a presença ou não de terceiros molares não poderiam ser usados para prever mudanças da estabilidade. O grau de desalinhamento individual não era predizível devido a mudanças compensatórias na oclusão. Apesar de um grande número de estudos na estabilidade a longo prazo, após o tratamento ortodôntico, esta revisão sistemática mostrou que as conclusões e evidências baseadas eram poucas. Brandão e Brandão, em 2008, objetivaram definir maneiras de se incorporar a análise da oclusão dentária na rotina do ortodontista, aumentando a qualidade dos resultados. Durante o tratamento ortodôntico, o ajuste oclusal por desgaste seletivo deve ser realizado para viabilizar movimentos dentários verticais, reduzindo o tempo de tratamento. Interferências oclusais são responsáveis tanto por efeitos adversos na biomecânica, quanto por aplicação de forças excessivas, que podem causar reabsorções radiculares. Atualmente, define-se equilíbrio oclusal como a obtenção de contatos oclusais em que prevaleçam as resultantes de forças no sentido axial. As resultantes horizontais 43 de força de oclusão são indesejáveis. Há necessidade de que se distribua a força da oclusão sobre todos os dentes posteriores para que haja contatos bilaterais simultâneos e equipotentes. É importante considerar que a estabilidade dentária é constituída por um tripé: equilíbrio oclusal, base óssea hígida, musculatura. A melhor posição para o tratamento ortodôntico é aquela que pode ser reproduzida a cada consulta do paciente e a única posição reproduzível é a RC. Pode-se estabelecer o equilíbrio da oclusão por: 1) desgaste seletivo; 2) acréscimo através de restaurações ou próteses; 3) movimentação dentária e alteração ortopédica da Ortodontia combinada ou não à Cirurgia Ortognática. Na finalização do tratamento ortodôntico, uma pequena diferença de RC para MIH de 1,2mm até 3mm, com desvio anterior da mandíbula é aceitável, desde que não gere forças horizontais excessivas sobre os dentes anteriores, deve haver uma sobremordida entre 2 e 3mm. Em lateralidade, prefere-se a função de guia pelo canino pelas características de volume radicular, existência do pilar canino, maior prevalência e pela facilidade de obtenção durante o tratamento. Em protrusiva, deve haver contatos dos quatro incisivos, podendo incluir os caninos e no final do movimento deve existir contato apenas dos centrais superiores com os quatro incisivos inferiores e não deve ocorrer interferência entre dentes posteriores. Os contatos nos dentes anteriores devem ser mais leves em relação aos contatos entre dentes posteriores, no entanto, precisam ser efetivos para que haja imediata desoclusão destes dentes quando do início do movimento mandibular. A falta de sobremordida adequada com contatos fortes gera vetores de forças horizontais indesejáveis, vestibularizando os dentes que "fogem" do trauma 44 oclusal. Esta migração dentária para vestibular torna-se patológica, pois comprime o periodonto, gerando, conseqüentemente, a perda de osso cortical e a migração apical da inserção gengival. O efeito do movimento dentário para vestibular levando à recessão periodontal é um efeito iatrogênico que pode aparecer durante a Ortodontia ou se estabelecer de forma tardia após o tratamento finalizado, Fig. 4. Figura 4: Retratamento ortodôntico por falta de equilíbrio oclusal (A, B, C). Caso em retratamento, a recessão periodontal do incisivo lateral superior esquerdo deve-se à movimentação para vestibular provocada por contato forte com o canino inferior (D, E, F). Através de desgastes interproximais nos dentes anteriores obteve-se espaço para a retração dos incisivos inferiores, eliminando-se o trauma oclusal (G, H, I). Oclusão antes e após o tratamento (J, K, L) (Brandão, 2008). 45 O ajuste oclusal não está indicado como substituto da movimentação dentária, nem como solução para as limitações do ortodontista, mas evita sequelas de trauma oclusal estabelecidas durante o tratamento. Desgastes oclusais para correção de discrepâncias anatômicas durante a Ortodontia aceleram a movimentação dentária e melhoram a intercuspidação por promoverem melhora da forma dos dentes antagonistas. Um refinamento dos contatos oclusais após o tratamento ortodôntico diminui o efeito deletério das parafunções, que podem aparecer a qualquer tempo. O ajuste por desgaste deve ser realizado seis meses após a Ortodontia para corrigir pequenos erros e promover melhor estabilidade oclusal e mandibular. O principal objetivo do ajuste é minimizar o uso de contenções, a partir do alcance do equilíbrio oclusal. O ajuste oclusal por desgaste seletivo está indicado apenas quando a ponta da cúspide de contenção contata o terço mais próximo da fossa central do antagonista. A partir dessa premissa, será descrita a técnica de ajuste para esta situação, o que torna o procedimento muito mais simples e previsível. A checagem oclusal revela, normalmente, três problemas comuns: (a) pequeno desvio para anterior da posição de RC para MIH, que deve ser corrigido caso gere contatos fortes nos dentes anteriores; (b) contatos oclusais em magnitudes diferentes, considerando o tamanho da plataforma oclusal dos dentes e os dois lados dos arcos dentários; (c) falta de alguns contatos necessários para o equilíbrio oclusal e para estabilização mandibular. O procedimento de ajuste por desgaste deve levar, em média, entre 10 e 20 minutos, utilizando-se inicialmente brocas diamantadas esféricas ou em forma de torpedo de tamanho médio, seguidas de brocas multilaminadas (12 lâminas) 46 com a mesma forma e tamanho e finalizado com borrachas abrasivas e pasta de polimento (Fig. 5). Papel articular de precisão deve ser utilizado na checagem dos contatos entre os dentes antagonistas antes de cada procedimento. Figura 5: Sequência de brocas (A). Uso de broca diamantada em alta rotação (B). Borracha abrasiva em micro-motor para acabamento (C) (Brandão, 2008). Como regras básicas para o procedimento de ajuste por desgastes, podemos descrever: 1) deve-se manipular o paciente em RC e se houver desvio para MIH sem contatos fortes nos dentes anteriores, pode-se fazer o ajuste dos contatos na posição de MIH. Caso o desvio mandibular gere forças horizontais, com frêmito, o procedimento deverá ser realizado na posição de RC; 2) normalmente os contatos dos dentes posteriores possuem magnitudes diferentes, logo, deve-se desgastar os de maior intensidade para obtenção de contatos bilaterais simultâneos e eqüipotentes; 3) deve-se fazer o desgaste da cúspide de contenção até que o contato esteja bem próximo de sua ponta, a partir daí, o procedimento é realizado no dente antagonista, aplainando a base de uma cúspide, aprofundando uma fossa ou diminuindo a saliência de cristas marginais; 4) existe um limite para os desgastes oclusais e este momento é definido pelo contato nos dentes anteriores, pois estes aceitam pouco ajuste 47 devido à espessura de esmalte e necessidade de controle da dimensão vertical do paciente. A maior potência dos contatos deverá estar nos dentes posteriores para evitar movimentações para vestibular dos dentes anteriores; 5) a partir dos contatos dos dentes anteriores, o aumento dos contatos posteriores na nova MIH, se necessário, deverá ser feito por acréscimo de material restaurador ou prótese; 6) durante a excursão mandibular em protrusiva, o papel articular deve marcar os seis dentes anteriores no início do movimento, havendo a prevalência dos contatos nos incisivos centrais superiores com os quatro incisivos inferiores, do meio até o final da movimentação, borda a borda; 7) normalmente a interferência em protrusão deve-se ao contato da vertente distal da cúspide vestibular superior com a ponta da cúspide vestibular inferior. Neste caso, desgasta-se o dente superior, eliminando o problema pelo ajuste na cúspide não funcional (vestibular superior), preservando a de contenção (vestibular inferior). Se o contato for entre as duas vertentes, desgasta-se ambas, preservando os contatos em RC na cúspide de contenção; 8) no movimento de lateralidade, o mais comum e mais fácil é a obtenção da guia em canino, quando apenas os caninos mantêm o contato, gerando a desoclusão dos dentes posteriores; 9) quando existe interferência posterior no lado de trabalho, deve-se desgastar a ponta da cúspide de não-contenção, vestibular superior ou lingual inferior; 10) a interferência no lado de não-trabalho deve ser eliminada desgastando-se o dente inferior e superior, por se tratarem das cúspides de contenção cêntrica (vestibulares inferiores com palatinas superiores) desgastando-se o contato mais afastado da ponta de cúspide, se isso não for possível com o ajuste, o retratamento ortodôntico está indicado. 48 Camardella et al., em 2010, propuseram avaliar a influência de extrações de dois pré-molares superiores na estabilidade oclusal do tratamento da maloclusão de Classe II completa, realizando uma comparação com o protocolo de tratamento sem extrações. Selecionaram, a partir das documentações do arquivo da Disciplina de Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru, uma amostra composta por documentações de 59 pacientes com maloclusão de Classe II completa. Em seguida, dividiram essa amostra em dois grupos, apresentando as seguintes características: Grupo 1, constituído por 29 pacientes, tratados sem extrações; e Grupo 2, composto por 30 pacientes, tratados com extrações de dois pré-molares superiores. Foram obtidos modelos de estudo ao início do tratamento, ao final do tratamento e em um período mínimo de 2,4 anos após o tratamento. Critérios básicos para seleção da amostra incluíram as seguintes características: maloclusão de Classe II completa bilateral, tratada sem extração ou com extrações de dois pré-molares superiores; presença de todos os dentes permanentes até os primeiros molares; ausência de dentes supranumerários ou retidos; ausência de anomalias quanto ao tamanho e/ou forma dos dentes; tratamento com aparelho fixo pela mecânica Edgewise; exclusão de casos tratados com cirurgia ortognática; documentação ortodôntica completa e tempo póstratamento de, no mínimo, 2,4 anos. As condições oclusais ao final do tratamento e no estágio pós-tratamento, o percentual de recidiva e as alterações oclusais pós-tratamento foram comparados. Os resultados demonstraram que os protocolos de tratamento sem extração e com extrações de dois pré-molares superiores não apresentaram, em nenhuma das variáveis 49 avaliadas, diferenças estatisticamente significativas em relação à estabilidade oclusal do tratamento da maloclusão de Classe II completa. Portanto, terminar o tratamento com uma relação molar em Classe II ou em Classe I proporciona estabilidade semelhante. Além disso, a estabilidade apresentada pelos dois grupos pode ser creditada aos movimentos dentários realizados durante o tratamento, os quais respeitaram os limites do tecido mole. Isso proporcionou, em virtude da correção do trespasse horizontal e vertical, um melhor equilíbrio de toda a musculatura bucofacial, o que favoreceu o prognóstico da estabilidade em longo prazo. Assim sendo, o ortodontista deve utilizar todos os meios que estejam ao seu alcance para minimizar os riscos que comprometam os resultados obtidos pelo tratamento ortodôntico e estabilidade oclusal. 50 4 DISCUSSÃO O ajuste oclusal, através de desgaste seletivo, dentística restauradora, prótese ou ortodontia, proporciona o alívio dos sintomas de disfunção têmporomandibular e é eficaz nos casos de dores de cabeça de origem muscular, causadas por interferências oclusais. É necessário avaliar a cada consulta movimentos de abertura e fechamento, lateralidade direita e lateralidade esquerda, inclusive a relação cêntrica e oclusão cêntrica. Clinicamente, observa-se que as interferências oclusais mais frequentes resultam de movimentos ortodônticos, de irrupções desajustadas dos terceiros molares, de tratamentos dentários sem a devida atenção à fisiologia oclusal e de mudanças das posições dentárias devido a traumas, hábitos parafuncionais, doença periodontal e perda de dentes. Assim, é possível evitar mecânicas desnecessárias, diagnóstico frustrado, bem como desconforto oclusal ao paciente e possíveis disfunções da articulação têmporo-mandibular (ROTH, 1973; PERRY, 1976; PARKER, 1978; HAYDAR et al., 1992; LIMA e PASCOAL, 1994; MANDETTA, 1994; MADEIRA e VANZELLI, 1999). A melhor posição para o tratamento ortodôntico é aquela que pode ser reproduzida a cada consulta do paciente e a única posição reproduzível é a RC. Durante o tratamento ortodôntico, o ajuste oclusal por desgaste seletivo deve ser realizado para viabilizar movimentos dentários verticais, reduzindo o tempo de tratamento. (WILLIAMSON, 1976; CONTI e SÁBIO, 1999; CALAZANS, 2000; BRANDÃO e BRANDÃO, 2008). 51 A etiologia das DTMs está relacionada a stress psicológico e hiperatividade muscular, como apertamento dentário e bruxismo. Correções de maloclusões esqueléticas e dentárias reduzem as chances do paciente desenvolver tais desordens no futuro. As causas mais comuns de disfunções da ATM estão associadas à discrepância entre OC e OH, interferências oclusais em balanceio, trabalho e/ou protrusão (WILLIAMSON, 1976; GREENE, 1982; VIOLA e PAIVA, 1982; FERREIRA NETO, 2003; PEREIRA et al., 2006; ). A estabilidade dos resultados no pós-tratamento ortodôntico depende muito da coincidência entre a RC e a OC, conseguida durante o tratamento ou por ajuste oclusal, e dos movimentos mandibulares funcionais balanceados. Interferências oclusais e contatos prematuros devem ser removidos através do ajuste oclusal por desgaste seletivo, pois podem causar danos aos dentes, membrana periodontal e osso de sustentação. Após o ajuste oclusal, ocorre um aumento do número de contatos oclusais, aumentando a eficiência mastigatória, melhorando a retenção das posições obtidas ortodonticamente e estabilidade oclusal (HEIDE e THORPE, 1965; WILLIAMS, 1971; SAITO, 1977; COSTA et al., 1981; RAZDOLSKY et al., 1989; BERG, 1991; SIMÕES et al., 1997; MONNERAT e MUCHA, 2000; CAMARDELLA et al., 2010). O ajuste oclusal deve objetivar a máxima distribuição dos esforços na RC, sendo que os esforços excessivos da mastigação podem estar relacionados à doença periodontal e oclusão traumática. Eliminando-se os contatos prematuros, obtém-se melhor distribuição de forças sobre o maior número de dentes possível. Discrepâncias dentárias por tamanho e forma, falta 52 de desgaste por não estar em função ou por impacção, restaurações mal esculpidas e próteses podem resultar em interferência oclusal, levando alguns dentes à sobrecarga e causando danos aos tecidos, erosão, hiperemia, pulpites, dor na ATM, gengivites, periodontites e movimentos dentários indesejados (RIBEIRO e VIGORITO, 1989, JANSON e MARTINS, 1990; BORIN NETO et al., 2005; SIMAMOTO et al., 2005). As contra-indicações do ajuste oclusal são sobreoclusão profunda, grandes abrasões e pacientes portadores de grande sensibilidade dentária (SAITO, 1977). O ajuste oclusal nunca deveria ser usado em lugar da movimentação dentária. O ajuste, durante o tratamento, seria permissível se tais modificações viessem a beneficiar a estabilidade do dente após sua movimentação (RIBEIRO e VIGORITO, 1989). O ajuste oclusal não está indicado como substituto da movimentação dentária, nem como solução para as limitações do ortodontista, mas evita sequelas de trauma oclusal estabelecidas durante o tratamento (BRANDÃO e BRANDÃO, 2008). Oclusão normal inclui adaptabilidade fisiológica e ausência de manifestações fisiopatológicas. (ANDREWS, 1972; GAZIT e LIEBERMAN, 1973; BONDEMARK et al., 2007). Alguns fatores são determinantes para o tipo e a duração da contenção: o número de dentes movimentados, a distância que estes dentes sofreram movimentação, a oclusão, a idade, a causa do mau posicionamento, a rapidez da correção, o grau de rotações corrigidas e o comprimento das cúspides. Nos casos em que a largura intercaninos mandibular foi alterada na sua dimensão 53 original, ocorreu recidiva após a remoção da contenção (RIEDEL, 1960; KURAMAE, 2002). 54 5 CONCLUSÃO O ajuste oclusal não está indicado como substituto da movimentação dentária, nem como solução para as limitações do ortodontista, mas evita sequelas de trauma oclusal estabelecidas durante o tratamento ortodôntico. Desgastes oclusais para correção de discrepâncias anatômicas durante a Ortodontia aceleram a movimentação dentária e melhoram a intercuspidação por promoverem melhora da forma dos dentes antagonistas. Um refinamento dos contatos oclusais após o tratamento ortodôntico diminui o efeito deletério das parafunções, que podem aparecer a qualquer tempo. Através do ajuste oclusal, é possível minimizar o uso de contenções, a partir do alcance do equilíbrio oclusal. É importante e necessário ressaltar que qualquer tratamento que envolva mudança na condição oclusal existente, como reabilitação protética extensa ou tratamento ortodôntico deverá considerar o ajuste oclusal como terapêutica complementar para promover condições oclusais fisiológicas. Estas condições devem resultar em harmonia entre a estrutura dental, sistema neuromuscular, articulação fonação e deglutição. têmporo-mandibular, periodonto, mastigação, 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREWS, L. F. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod Dentofac Orthop. v.62, n.3, p.296-309, 1972. BERG, R. Evaluation of orthodontic results – a discussion of some methodological aspects. Angle Orthod, Appleton. v.61, n.4, p.261-266, 1991. BONDEMARK, L.; HOLM, A. K.; HANSEN, K.; AXELSSON, S.; MOHLIN, B.; BRATTSTROM, V.; PAULIN, G.; PIETILA, T. Long-term Stability of Orthodontic Treatment and Patient Satisfaction. Angle Orthod. v.77, n.1, p.181-190, 2007. BORIN NETO, A. J.; BRUNE, M.; CARVALHO, A. 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