RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS
Edição Nº 85
[19/4/2012 a 25/4/2012]
Sumário
CINEMA E TV...............................................................................................................4
Folha de S. Paulo – Filme queimado...............................................................................................4
Folha de S. Paulo – Paulínia perde a chance de criar produção industrial / Análise.......................5
Estado de Minas - Beleza radical ...................................................................................................6
Correio Braziliense - Arma de fogo é tema de documentário..........................................................8
Estado de Minas – Brasil em Cannes .............................................................................................9
Valor Econômico - Cannes esquece o jovem cinema brasileiro....................................................10
Folha de S. Paulo - Adaptação de "On the Road" por Walter Salles inicia sua carreira entre os 22
filmes da competição de Cannes ..................................................................................................11
Valor Econômico - Saraceni, cineasta do Brasil............................................................................12
Zero Hora – Eu sou o início o fim e o meio...................................................................................13
Zero Hora – Para entender Raul Seixas........................................................................................14
Agência de Notícias Brasil - Árabe – Universidade libanesa exibe filmes brasileiros....................15
O Estado de S. Paulo - Sagrado. Em corpo de mulher.................................................................16
Folha de S. Paulo – Band aguarda lei de TV paga para lançar canal de arte...............................18
O Estado de S. Paulo - Música eletrônica inspira primeira ficção de Marcos Prado.....................19
Zero Hora – 40 anos em nova forma.............................................................................................20
O Estado de S. Paulo - Cannes celebra parceria entre Brasil e Argentina....................................21
Le Monde - La musique selon Antonio Carlos Jobim, un documentaire de Nelson Pereira dos
Santos...........................................................................................................................................22
TEATRO E DANÇA....................................................................................................24
O Estado de S. Paulo - Bairros paulistanos viram peças teatrais..................................................24
Folha de S. Paulo – 'Passeio-performance' mostra outros lados do centro de SP........................24
Correio Braziliense – Nelson por inteiro........................................................................................25
Folha de S. Paulo – Yazbek usa depoimento pessoal para reinventar mito de Fausto.................26
ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................27
Folha de S. Paulo – Bienal de São Paulo aposta na discrição......................................................27
Agência de Notícias Brasil – Árabe - Exposição mescla temas árabes e brasileiros....................28
Folha de S. Paulo – Longe dos olhos............................................................................................29
Folha de S. Paulo – Artes Plásticas: ABCA anuncia lista de premiados de 2011.........................30
FOTOGRAFIA............................................................................................................30
O Estado de S. Paulo - Obra de Berzin é resgatada no Recife.....................................................30
MÚSICA......................................................................................................................31
Folha de S. Paulo – Osesp anuncia concertos internacionais.......................................................31
Estado de Minas – Tem rabeca no blues .....................................................................................31
Correio Braziliense – Mascate da música.....................................................................................32
O Estado de S. Paulo - Mart'nália lança álbum com mais pop e menos samba............................33
Estado de Minas - Dia de chorões ................................................................................................34
Estado de Minas - A vida até parece uma festa ...........................................................................35
Folha de S. Paulo – Festival "resistente" reúne 30 mil em PE......................................................37
Valor Econômico - Nelson Freire retoma a música brasileira........................................................38
Correio Braziliense - Trilha sonora para a Copa do Mundo...........................................................39
Estado de Minas - Suingue gospel ...............................................................................................40
Estado de Minas - Língua afiada ..................................................................................................42
Estado de Minas - O rei sou eu ....................................................................................................43
The Wall Street Journal - Brazilian Singer Marisa Monte Sambas Back Into the Spotlight...........44
LIVROS E LITERATURA...........................................................................................45
Agência de Notícias Brasil-Árabe - Literatura brasileira é promovida no exterior..........................45
Estado de Minas – Estado plural ..................................................................................................46
Valor Econômico - As tiranias revisitadas.....................................................................................48
Veja - A falta que um Francis faz...................................................................................................49
Zero Hora – O que a FestiPoa tem a ensinar................................................................................51
Correio Braziliense - Bom para Brasília ........................................................................................51
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Le Monde - Le paradoxe Lispector................................................................................................53
BBC - Rio de Janeiro festival brings literature to favelas..............................................................54
El Tiempo - Un vecino muy grande...............................................................................................55
El Tiempo - 'La unión cultural ayudará a preservar la identidad de América Latina'......................56
MODA.........................................................................................................................58
IstoÉ Dinheiro - Alta renda............................................................................................................58
GASTRONOMIA.........................................................................................................59
Jornal de Brasília - Mosaico de sabores........................................................................................59
Correio Braziliense - Requinte no prato ........................................................................................60
Folha de S. Paulo – Cacau baiano: Feira na França faz homenagem ao chocolate brasileiro.....61
OUTROS.....................................................................................................................62
Estado de Minas - Museu em casa ..............................................................................................62
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CINEMA E TV
Folha de S. Paulo – Filme queimado
Suspensão do Festival de Paulínia é a ponta do iceberg do descaso com o polo de cinema, em que
estúdio virou depósito
MATHEUS MAGENTA e LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
(19/04/12) Construído para ser a Hollywood brasileira, o Polo Cinematográfico de Paulínia (a 117 km
de São Paulo) hoje mais parece uma cidade fantasma. Cursos e editais foram suspensos, e os
estúdios atualmente não têm utilidade.
Na semana passada, o prefeito José Pavan Júnior (PSB) cancelou a quinta edição do festival de
cinema, previsto para junho, para "priorizar o trabalho social" na cidade.
Sem explicar direito que destino daria à verba, de pelo menos R$ 3 milhões, suspendeu a principal
vitrine da produção local e um dos principais eventos do país, ao lado de festivais como Gramado e
Brasília, por exemplo.
Desde a compra dos terrenos, na década de 1990, estima-se que tenham sido gastos R$ 490 milhões
no desenvolvimento do polo. A estrutura conta hoje com cinco estúdios, um teatro e uma escola.
O projeto foi bancado principalmente com dinheiro dos impostos pagos pelo setor petroquímico da
cidade (em 2011, a receita total foi de cerca de R$ 920 milhões).
Graças às indústrias, o município de 82 mil habitantes tem a maior arrecadação de ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) per capita do Estado.
O polo de cinema foi concebido pelo prefeito anterior, Edson Moura (PMDB), para tentar diminuir a
dependência da cidade do petróleo.
Pavan diz que continuará a investir em cinema, mas não é isso o que se vê hoje.
O estúdio de animação de R$ 29 milhões tem 120 estações de trabalho e softwares de última
geração, mas seus equipamentos estão totalmente desligados. Nenhum filme foi produzido lá desde
sua inauguração, em 2009.
Um espaço com o fundo em "chroma key" (usado para criar efeitos de sobreposição) hoje serve como
depósito para amontoar cadeiras, armários e objetos da prefeitura.
Os estúdios são geridos pela Quanta -empresa de locação de recintos e equipamentos audiovisuais.
Num esquema de parceria público-privada, a Quanta recebe por contrato, haja ou não a realização de
filmes. No ano passado, foram pagos à empresa cerca de R$ 20 milhões.
A escola Magia do Cinema foi desativada. Os cursos para a formação de roteiristas, diretores e
produtores deram lugares a eventuais work-shops de curta duração. O prédio deu lugar a uma escola
de ensino fundamental.
Fernando Negrovsk, 29, saiu de Caxias do Sul (RS) em 2010 para se aperfeiçoar em cinema. O
produtor e diretor foi para Campinas (SP), mas não conseguiu se inscrever nos cursos de Paulínia por
não morar na cidade.
Resolveu então se mudar para lá, onde ficou mais de um ano aguardando as aulas começarem.
"Fiquei esse tempo todo sendo enrolado, com a perspectiva de que ia acontecer alguma coisa.
Transferi minha vida para cá, mas não serviu de nada", conta. Recentemente, fundou uma produtora
com um colega em São Paulo.
A falta de profissionais treinados dificulta o cumprimento de uma das exigências do edital de apoio a
produções na cidade. Ele determina que metade do valor recebido pela produtora seja gasto com
mão de obra e serviços locais.
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"Há uma carência danada de mão de obra qualificada na cidade. Você forçar a contratação de uma
pessoa não qualificada é complicado, mas isso a escola estava resolvendo aos poucos", afirmou o
produtor Rodrigo
Letier, da TVZero, responsável por "Bruna Surfistinha".
A maior parcela dos contratados locais acaba servindo de motorista e figurante.
RETOMADA?
Um grupo de cerca de 200 produtores locais formou uma comissão para tentar viabilizar o Festival de
Paulínia, mas isso dependerá de uma parceria, ainda não negociada, com a prefeitura.
Entre 2007 e 2010, foram distribuídos cerca de R$ 38,8 milhões em editais para 42 filmes, muitos
deles sucessos de bilheteria como "Chico Xavier" e "O Palhaço".
Neste ano, serão produzidos os últimos vencedores do edital de 2010. Estão em pré-produção
"Acorda Brasil", "O Tempo e o Vento" e "Trinta".
Depois, seu futuro é incerto. Em 2011, não se convocou edital para longas. O prefeito promete lançar
um até junho, mas sem especificar valores. Se sair, deve sofrer cortes.
Procurados desde a semana passada, o prefeito e o atual secretário da Cultura não responderam à
Folha até o fechamento desta edição.
Folha de S. Paulo – Paulínia perde a chance de criar produção industrial /
Análise
Desmantelamento do polo acontece na contramão do aumento de demanda
O que se perde é a possibilidade de escala, de ter dinheiro, técnicos e material humano em um só
lugar
ANDRÉ STURM, ESPECIAL PARA A FOLHA
(19/04/12) Na última sexta, tivemos uma triste notícia, com o anúncio, pelo atual prefeito de Paulínia,
José Pavan Júnior, da suspensão do festival de cinema neste ano.
Triste porque a decisão, na verdade, significa o fim de uma iniciativa brilhante. E significa uma
repetição da falta de visão, do imediatismo e do populismo mais medíocre. É uma perda grande.
O primeiro benefício da iniciativa da gestão anterior foi colocar a região em toda a imprensa do Brasil.
Uma cidade antes desconhecida, cuja arrecadação dependia fundamentalmente do petróleo, se
tornou "celebridade".
Apesar de recente, a implementação do projeto estava adiantada. Os produtores de cinema já tinham
Paulínia em seus planos. No ano passado, amigos comentaram a ideia de abrir filiais de empresas na
cidade para desenvolver não apenas filmes mas o audiovisual como um todo.
A edição de 2011 do festival teve a melhor seleção de filmes inéditos brasileiros.
O resultado, que, em poucos anos, já se mostrava concreto, ganhava neste momento novos motivos
para frutificar. A aprovação da lei que criou as cotas de produção na TV paga vai gerar uma grande
demanda de conteúdo.
Um polo com infraestrutura decente, aeroporto próximo (pois Paulínia é ao lado de Campinas), boas
estradas e clima favorável tinha tudo para se firmar em definitivo.
Hotéis e restaurantes abririam na região. Outros serviços requeridos para os bastidores de um filme
(marcenaria, elétrica, figurinos) também: haveria mais negócios, empregos e impostos sendo pagos.
O turismo cresceria muito: com as filmagens e a presença de artistas, a cidade se tornaria destino de
gente das localidades vizinhas.
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A cidade teria, enfim, receita gerada em diversas origens: benefícios que a atividade cinematográfica
traz.
O cancelamento do festival é somente a ponta do iceberg que afunda todo um projeto. Já não se
investem os recursos; a escola não oferece mais cursos de formação, limitando-se a pequenas
oficinas.
Os produtores acabarão conseguindo recursos financeiros -em outro local ou de outro modo. O que
se perde é a possibilidade de ganhos de escala; de ter dinheiro, técnicos e material humano em um
só lugar, gerando não só receita para a cidade, mas economia para a produção.
A maior perda é essa: a possibilidade de produção em linha, de forma industrial.
O desmantelamento de um polo promissor anula todas essas possibilidade. E a cidade de Paulínia
fica sem um projeto estrutural, que poderia mudar sua história e também a de sua população.
ANDRÉ STURM é cineasta e diretor-executivo do MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.
Estado de Minas - Beleza radical
Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, filme de Beto Brant inspirado em romance de
Marçal Aquino, tem estreia nacional amanhã. Camila Pitanga é o destaque
Carolina Braga
A atriz Camila Pitanga, no papel de Lavínia, rouba a cena, mas mantém a humildade
e destaca a força política da obra de Marcal Aquino.
(19/4/2012) “A palavra para ela é: arrebatadora”, diz o escritor e roteirista Marçal Aquino. “É
estrondosa”, respalda o diretor Beto Brant. Eles se referem à Camila Pitanga. Ou melhor, a criação
dela para Lavínia, protagonista de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, filme que
estreia amanhã nos cinemas brasileiros. “É aquele velho problema, às vezes o elenco está muito
bom, mas tem a Camila. Quando ela está na tela, você não consegue olhar para quem está
contracenando. Tem um magnetismo”, completa Marçal.
O autor do romance que deu origem ao longa-metragem, publicado em 2005, não exagera. Com a
atuação já premiada no Festival do Rio e no Amazonas Film Festival, a atriz circula o país para a
divulgação da produção, certa de que ganhou, na verdade, um presente. “Todo ator está em busca de
desafios para alargar seus limites. A Lavínia é a essência disso: me dava oportunidade de mostrar
trabalho. Correr riscos, mas acima de tudo me aprofundar em regiões existenciais muito radicais”,
comenta Camila Pitanga. “Fiquei muito comovida com a poética do Marçal”, completa.
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios é trama que se passa no interior do Pará e
conta a história da mulher que vive dividida entre dois amores, o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado)
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e o pastor – e marido – Ernani (Zecarlos Machado). Gero Camilo faz participação especial como o
jornalista Vitor Laurence.
“Foi uma humilde tentativa minha de tentar entender uma mulher. Mas é algo muito complexo. As
mulheres têm muitas nuances, com variações marcadas. Lavínia é uma mulher se defendendo do
mundo. Acho que a Camila captou tudo isso e foi para dentro ”, comenta Marçal Aquino. Quando
pensou na atriz para o papel, o diretor Beto Brant sugeriu que Camila se dedicasse à leitura da obra.
Foi aí que ela se encantou por Lavínia.
“Li o livro em um dia e fiquei extremamente comovida com aquela história de amor”, confessa a atriz.
Fechado o contrato, enquanto o diretor tocava a produção na região de Santarém, no Pará, a atriz
procurava entender aquela misteriosa criatura. Além de investir na preparação corporal para
conseguir chegar aos estados emocionais da personagem, também criou um banco de imagens com
expressões de mulheres e mergulhou no cinema em busca de referências. “Tentei criar um repertório
que me ajudasse a chegar às temperaturas e aos estados dela. Fiquei quase como uma antena
parabólica”, compara.
Desde o início, Camila Pitanga sempre soube o tamanho do desafio e a exposição à qual se
submeteria. Mas garante não ter sentido qualquer apreensão em se entregar à empreitada. “Sem
dúvida, é o trabalho que mais me exigiu e que mais me expôs também. Tenho o maior orgulho disso”,
garante.
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios é a sétima parceria do diretor Beto Brant com o
escritor Marçal Aquino. Apesar de descolados no trabalho em dupla, a adaptação não foi das mais
fáceis. “Foi a mais difícil porque é nosso filme mais ambicioso. Havia um deslocamento maior, todas
as dificuldades de se filmar na Amazônia e no Rio de Janeiro. Os desafios também foram maiores por
se tratar de temas que tocam em regiões mais abstratas do ser humano”, analisa Beto Brant.
O romance é o livro adulto mais vendido de Marçal Aquino. O filme – dirigido em parceria com Renato
Ciasca – também é o mais caro da carreira de Beto Brant: R$ 3,5 milhões. Para o diretor,
diferentemente de outras adaptações levadas por ele à tela, Eu receberia as piores notícias dos seus
lindos lábios tece uma trama muito mais ambiciosa. “O filme não tem uma narrativa convencional.
Estamos falando de amor e de espiritualidade, que são grandes mistérios”, diz.
Embora o livro seja narrado pelo fotógrafo, no filme o enredo gira em torno da figura feminina. “Desde
o começo a gente sabia que o que interessava contar no filme era a história do fotógrafo que conhece
uma mulher no interior do Pará. As outras questões descobriríamos à medida que o processo
avançasse”, conta Marçal. Assim, tanto as questões pessoais como a degradação ambiental, assim
como episódios policiais nos quais circulam os personagens, embora bem marcados, não chamam
tanto a atenção na versão cinematográfica.
Sensualidade e política Como o romance é o fio condutor, Eu receberia as piores notícias dos seus
lindos lábios tem entre seus pontos altos os intensos encontros carnais entre Lavínia e seus homens.
Vale acrescentar: os momentos eróticos esbanjam intimidade. “A natureza do romance é essa. Ele
tem esse caráter muito físico. Para se ter uma ideia, a primeira parte do livro se chama ‘O amor é
sexualmente transmissível’. A Camila deixou a Lavínia baixar nela”, ressalta Marçal Aquino. “A gente
vive um pouco aquela intensidade, mas tudo é construído. O bacana é quando imprime uma realidade
que chega a tocar as pessoas”, comenta Pitanga.
Quando falam sobre o filme, tanto Camila Pitanga quanto Beto Brant ressaltam a relevância que a
obra de Marçal Aquino tem ao tratar da sociedade contemporânea. Eu receberia as piores notícias
dos seus lindos lábios coloca o amor em primeiro plano, mas nem por isso deixa passar batido um
olhar crítico sobre a situação do país e dos homens.
“Espero que a sociedade brasileira tenha sensibilidade de notá-lo”, propõe o diretor. “Para além do
meu trabalho, o filme tem uma visão crítica e política do nosso país que acho importante ecoar pelo
Brasilzão”, conclui Camila Pitanga.
NOVA EDIÇÃO
Com o lançamento do filme, o romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de
Marçal Aquino, ganhará nova edição pela Companhia das Letras. “Lancei-o há sete anos e até hoje é
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o meu livro adulto mais vendido. Caiu nas graças dos vendedores, mas sobretudo das vendedoras.
Reconheço: é um romance feminino”, diz Marçal Aquino. A nova capa sai com imagem do filme.
Enquanto isso...
NO TEATRO
O clima entre os atores foi tão amistoso que o encontro não ficará somente no cinema. Camila
Pitanga, Gustavo Machado e Gero Camilo já preparam estreia nos palcos. Eles planejam encenar Lá
fora vai estar chovendo sempre, com dramaturgia de Gero Camilo. A direção será feita por ele, em
parceria com Gustavo Machado.
Correio Braziliense - Arma de fogo é tema de documentário
Gabriel de Sá
Delegado Daccone e Marcelo Yuka: debate em clima de papo entre amigos
(19/4/2012) Os números impressionaram o documentarista Ricardo Mac Niven. Pesquisando, ele
descobriu que o Brasil é o campeão em mortes por armas de fogo no mundo. “A média de óbitos
desse tipo no planeta é de 40% do total. Na América Latina, ultrapassa os 70%”, relata ele, citando
dados da ONU, de 2011. Disposto a discutir o tema, ele lança, hoje, o documentário Armados —
parceria de sua produtora, a TVa2, com o Canal Futura. Com a ideia e o argumento do filme
concebidos, ele venceu o 2º Doc Futura, seleção de projetos para coprodução (pitching) promovido
em 2011 pela emissora.
A obra acirra o debate sobre o desarmamento civil ao apresentar entrevistas e depoimentos de
pessoas que têm ligação com o assunto, como parentes das vítimas do massacre de Realengo, no
Rio de Janeiro, policiais e especialistas. “O Brasil tem uma das populações mais armadas do mundo:
90% das armas estão nas mãos da sociedade, cerca de 50% ilegalmente”, aponta.
Por conta do perfil do canal, o documentário tem caráter didático. Além da exibição no Futura, Mac
Niven considera mostrá-lo em escolas e planeja fazer versão mais longa para festivais. “É um assunto
que, mesmo espinhoso, interessa a todo mundo. Quanto mais se discutir e dialogar, melhor será a
solução”, acredita.
No documentário, há um diálogo entre o músico Marcelo Yuka e o delegado Orlando Daccone sobre
armas e legítima defesa. A figura de Yuka — ativista social e fundador do grupo O Rappa — é
emblemática quando se trata de violência urbana. Ele foi baleado durante tentativa de assalto em
2000, no Rio, e ficou paraplégico. É, também, responsável pela trilha sonora do filme. “Nada mais
natural do que chamar um cara que já pensa sobre isso e, ainda, é compositor”, elogia Mac Niven.
“Como ele não é especialista, e sim vítima, achei que seria mais apropriado colocá-lo em um batepapo”, explica.
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“O Orlando é meu amigo, então o diálogo foi muito natural. Ele acha que as grandes mudanças da
história da humanidade se dão de forma violenta, então esse aspecto seria inerente a ela. Eu já acho
que nenhuma dessas mudanças foi positiva e que a gente pode se orgulhar”, detalha Marcelo Yuka
ao Correio. “Mas há também afinidades, como não acreditar que a arma seja um objeto de proteção”,
continua. Para o músico, o grande mérito do filme é ser baseado em informações. “Não tem
achismos”, reforça.
Estado de Minas – Brasil em Cannes
Walter Salles comemora a inclusão de Na estrada na mostra principal do festival francês. Ele disputa
a Palma de Ouro com Abbas Kiarostami, Alain Resnais e Ken Loach, entre outros
Inspirado no clássico de Jack Kerouac, o longa Na estrada fala de inquietações
dos jovens diante do conservadorismo
Carolina Braga
(20/04/2012) O Brasil terá representante na disputa da Palma de Ouro do Festival de Cannes. Na
estrada, adaptação do diretor Walter Salles para o clássico beatnik On the road, do escritor Jack
Kerouac, é um dos 22 longas da competição. A 65ª edição do evento está marcada para 16 a 27 de
maio, na França. Serão exibidos 54 filmes de 26 países.
“Na estrada é um projeto para o qual um grupo de pessoas, muitas delas vindas da família de Diários
de motocicleta, dedicou sete anos. O fato de ter sido selecionado para a mostra principal do Festival
de Cannes é um prêmio para os jovens atores e técnicos que deram tanto ao filme. Rodamos mais de
100 mil quilômetros para filmá-lo, isso dá uma ideia da aventura que vivemos”, comentou Walter
Salles em comunicado oficial.
O filme estreará em 15 de junho, no Brasil. A trama sobre jovens que cruzam os Estados Unidos em
busca da última fronteira americana e de si próprios tem no elenco Sam Riley, Garrett Hedlund,
Kristen Stewart, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Tom Sturridge, Alice Braga e Amy Adams. “Na
estrada só existe por causa da paixão que todos nós tínhamos pelo livro de Kerouac, pela revolução
comportamental que ele deflagrou”, disse o cineasta.
Walter Salles compete pela terceira vez ao prêmio principal de Cannes. A primeira foi com Diários de
motocicleta, em 2004. Quatro anos depois, Linha de passe deu à brasileira Sandra Corveloni o
prêmio de melhor atriz no evento francês.
Outros selecionados também são recorrentes na disputa da Croisette: o austríaco Michael Haneke
(Amour), o britânico Ken Loach (The angel’s share), o francês Alain Resnais (Vouz n’avez encore rien
vu) e o romeno Cristian Mungiu (Beyond the hills). Como é tradicão, estrelas de Hollywood participam
da programação oficial. Brad Pitt, por exemplo, é o astro de Killing them softly, do cineasta australiano
Andrew Dominik.
Nenhum filme brasileiro competirá na mostra Um certo olhar, dedicada a experimentações de
linguagens cinematográficas, embora o cineasta cearense Karin Aïnouz faça parte do júri. O diretor
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italiano Nanni Moretti, vencedor da Palma de Ouro em 2001 (O quarto do filho), presidirá o júri
principal.
Tom De acordo com a organização do festival, o cinema do Brasil será o convidado de honra desta
edição. A reverência se dá principalmente com a exibição de A música segundo Tom Jobim,
documentário de Nelson Pereira dos Santos. Os diretores Cacá Diegues e Ruy Guerra foram
convidados para ir a Cannes.
Valor Econômico - Cannes esquece o jovem cinema brasileiro
Por Ana Paula Sousa
(24/04/2012) O anúncio dos selecionados para a competição e para a mostra Um Certo Olhar do
Festival de Cannes, na última quinta-feira, caiu como um balde d'água fria em parte do meio
cinematográfico brasileiro. A despeito de, na próxima edição do evento, que começa no dia 16 de
maio, o país ter um cineasta disputando a Palma de Ouro - Walter Salles, com "Na Estrada" - e
alguns veteranos sendo homenageados, a decepção mostrou-se inevitável.
"A ausência de longas brasileiros é uma surpresa e me causa tristeza", diz a produtora Sara Silveira,
que, em 2011, emplacou "Trabalhar Cansa", de Juliana Rojas e Marco Dutra, na prestigiosa Um Certo
Olhar. "Estamos produzindo muitos filmes, mas não estamos conseguindo seduzir a meca do
cinema."
Vânia Catani, que, há três anos pisou no tapete vermelho da avenida Croisette com "A Festa da
Menina Morta" e é coprodutora do colombiano "La Playa", selecionado para Um Certo Olhar, faz coro
com Sara para dizer que "não tem cabimento" o Brasil produzir cem filmes por ano e, na hora H, ficar
do lado de fora de uma tela tão importante. "Vou lá todo ano, vejo tudo e te garanto: os filmes
brasileiros podiam estar na seleção, sim. Acho que o que falta é uma política de internacionalização."
Cabe pontuar que, pelo olhar de vários produtores independentes brasileiros, o filme de Walter Salles
representa, mais do que o cinema nacional em si, um modelo internacional. "Na Estrada", que se
chama "On The Road" no original, tem atores estrangeiros e, apesar de ter contado com o apoio do
governo brasileiro, aparece identificado, na ficha técnica, como uma coprodução entre EUA, Inglaterra
e França.
"Não tem sentido dizer que esse filme não é brasileiro. Por que não seria?", rebate Manoel Rangel,
presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine). "Não estou decepcionado. Ao contrário: estou
entusiasmado por ver o Brasil, de novo, entrando em Cannes pela porta da frente, na competição.
Todos os grandes cineastas, hoje, trabalham com produções internacionais."
Mas, também do lado do governo, há quem tenha ficado desapontado com o anúncio. Mesmo
sabendo que ainda há esperanças de que algum filme seja escolhido para a Quinzena dos
Realizadores e para a Semana Crítica - a lista deve sair hoje -, a secretária do Audiovisual do
Ministério da Cultura, Ana Paula Santana, acha que a ausência brasileira no mais prestigiado festival
do mundo deve ser vista como alerta. "Me parece que o cinema brasileiro, de maneira geral, não
pensa para que nicho está produzindo. Quem é nosso público, quais são as nossas metas? Será que
Cannes ainda interessa aos produtores?", pergunta.
A resposta é sim, mas também é não. Ao contrário do que acontecia nos tempos do Cinema Novo,
parte significativa da produção nacional mira, mais do que o prestígio da Palma de Ouro, os ingressos
vendidos em casa - é esse o caso de um título como "De Pernas pro Ar", campeão nacional de
bilheteria do ano passado. "Hoje, miramos a ocupação do mercado interno", afirma Rangel. "Não
vivemos mais nos anos 1960, quando o mais importante era circular em festivais."
Não deve ter sido à toa, portanto, que, ao decidir prestar uma homenagem ao cinema brasileiro,
Thierry Frémaux, diretor de programação de Cannes, tenha voltado os olhos para o passado. Com a
programação principal foi anunciada a exibição especial de "A Música Segundo Tom Jobim",
documentário de Nelson Pereira dos Santos, diretor que vencera o prêmio da crítica, em Cannes,
com "Vidas Secas" (1963). Até o fechamento desta edição, ainda não tinham sido confirmados
oficialmente os outros convidados do chamado Foco Brasil de 2012. Mas, de acordo com o que o
10
Valor apurou, devem viajar para a França "Xica da Silva" (1976), de Cacá Diegues; "Cabra Marcado
para Morrer" (1985), de Eduardo Coutinho; e "Ópera do Malandro" (1986), de Ruy Guerra.
"Os festivais de todo o mundo têm suas preferências e caprichos, e Cannes mais do que todos",
pondera Cacá Diegues. "E é inegável que, neste momento, os cinemas brasileiro e o latino-americano
não estão entre essas preferências. À exceção do mexicano Carlos Reygada ["Post Tenebras Lux"],
um namoro da crítica jovem francesa, não há nenhum filme latino-americano na seleção oficial deste
ano", completa o cineasta que teve seu primeiro longa-metragem, "Ganga Zumba" (1963),
selecionado para a Semana da Crítica e outros quatro filmes em competição.
A curadoria informal da homenagem ao Brasil ficou a cargo de Ilda Santiago, diretora do Festival do
Rio, uma das articuladoras da presença brasileira no exterior. "Poder ter o Nelson Pereira e o Cacá
representados em uma homenagem é sinal de que o cinema brasileiro tem história e é respeitado por
isso", responde ela, quando perguntada sobre o velho foco sobre o Cinema Novo. "Por muitos anos,
Alemanha ou Itália não tiveram sequer um filme selecionado em Cannes, e isto não tornou a
filmografia italiana ou alemã menos relevante. Trata-se de escolhas de programação, nada além
isso", pondera, para lembrar, a seguir, que "Tropa de Elite" (2007) ganhou o Festival de Berlim.
Quem também puxa pelo fio recente da memória para relativizar a ausência nesta edição é André
Sturm, presidente do programa Cinema do Brasil - gerido por uma associação de produtores e
apoiado por governo, pelo Itamaraty e Apex -, criado com o objetivo de promover os filmes nacionais
no exterior.
"Hoje, nossa presença nos festivais internacionais é incomparável com a de dez anos atrás. Nos
últimos cinco anos, tivemos pelo menos dois filmes em todas as edições do Festival de Berlim",
pontua Sturm, depois de admitir a decepção com a lista de Cannes. "Temos certeza de que a
produção brasileira está num patamar que merece uma presença mais significativa na seleção
oficial."
Neste ano, o Cinema do Brasil deve levar 30 produtores para o mercado de Cannes, feira de compra
e venda que acontece no subsolo do Palais des Festivals, prédio onde fica a famosa escadaria pela
qual passam as estrelas. No mercado do Festival de Berlim, em fevereiro, "Xingu", de Cao
Hamburger, por exemplo, foi vendido para Israel, Portugal e Canadá. Além dos filmes prontos, um
mercado como o de Cannes vende roteiros e até meras sinopses. São negociações desse tipo que,
segundo Sturm, estão por trás da internacionalização do cinema argentino - que, diga-se, não está na
competição. "Eles, muito antes da gente, perceberam a importância das coproduções internacionais
como meio de alcançar os festivais e o mercado: 95% dos filmes argentinos selecionados para os
festivais são coproduções com a Espanha, França ou Alemanha", diz, reforçando a ideia de que, sim,
o Brasil tem um filme na disputa pela Palma de Ouro.
Folha de S. Paulo - Adaptação de "On the Road" por Walter Salles inicia sua
carreira entre os 22 filmes da competição de Cannes
Sam Riley e Garrett Hedlund em 'Na Estrada' (Gregory Smith)
RODRIGO SALEM
(20/04/12) No instante em que "Na Estrada",
adaptação da obra de Jack Kerouac pelas mãos do
brasileiro Walter Salles, estrear no 65º Festival de
Cannes, uma jornada de mais de 30 anos estará
concluída.
O caminho que ontem deu na seleção oficial do
evento (de 16 a 27/5) começou em 1979, quando Francis Ford Coppola comprou os direitos para
cinema. Desde então, o cineasta tentava levar o texto às telas. Mas o projeto só tomou forma quando
Salles subiu a bordo, em 2004.
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"Alguém da produtora dele viu 'Diários de Motocicleta' e nos encontramos para falar de 'On the
Road'", lembra Salles, 56. "O livro tinha me impactado, aos 18 anos. Fiquei marcado pela liberdade
radical dos personagens. Era o oposto do que vivíamos no Brasil dos anos 1970."
"As dificuldades que encontramos foram sobretudo ligadas à complexidade do projeto e à
necessidade de fazer o filme com um orçamento apertado [de US$ 25 milhões]. Mas os limites
funcionaram a favor do longa."
Outros pontos ajudaram a produção, como a paixão dos atores pela obra original. Caso de Kristen
Stewart, que vive Marylou. "'On the Road' era um dos livro de cabeceira dela", diz Salles, que dirigiu a
estrela de "Crepúsculo" sem problemas, mesmo nas cenas de nudez total.
"Há uma qualidade libertária em Marylou, um desejo de experimentação, que Kristen conhecia bem."
Sam Riley, que faz o alter ego de Kerouac, Sal Paradise, e Garrett Hedlund (o amigo Dean Moriarty),
embarcaram logo depois. Mas quem impressionou foi Viggo Mortensen, no papel de William
Burroughs. "Ele chegou pronto no set, com a roupa do personagem, a máquina de escrever e o
revólver que ele usava em 1949. Foi uma transformação impressionante."
A viagem libertária dos amigos levou a equipe ao Canadá, EUA e México. Em vários pontos, usando
a réplica do carro que a dupla dirigiu nos anos 1940. "Tivemos de ir longe em busca daquela última
fronteira norte-americana que os personagens almejam encontrar. Rodamos 100 mil quilômetros."
A ida ao festival francês é o início de um novo périplo. "Cannes é antes de mais nada um ponto de
encontro. 'Na Estrada' é o resultado de uma obsessão de juventude e vai vir ao mundo no festival."
Valor Econômico - Saraceni, cineasta do Brasil
Por Amir Labaki
Amir Labaki é diretor-fundador do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários.
Saraceni em 2011: embora inquieta, a partir da década de 80 sua obra perdeu densidade
(20/04/2012) Paulo Cezar Saraceni, um dos realizadores essenciais do Cinema Novo, que definiu
como ninguém a fórmula "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", está morto. Em mais de meio
século como diretor, rodou 11 longas-metragens de ficção, incluindo o ainda comercialmente inédito
"O Gerente", e outros tantos documentários de várias durações. Legou-nos ainda o principal livro de
memórias sobre o movimento, "Por Dentro do Cinema Novo - Minha Viagem" (Nova Fronteira, 1993,
esgotado).
Sempre me chamou a atenção o contraste entre o espírito dionisíaco de Saraceni e seu cinema da
angústia. "Bon vivant", futebolista na juventude, carnavalesco a vida toda, sedutor inveterado, amigo
fidelíssimo - como destacou Ricardo Miranda no documentário que dedicou a ele ("A Etnografia da
Amizade", 2007) -, havia nele algo do Bruno de Vittorio Gassman em "Il Sorpasso" (Aquele Que Sabe
Viver, 1962), de Dino Risi. Sei que a Risi ele preferiria a referência a seu mestre maior, Roberto
Rossellini, ou a seus colegas do período que passou no Centro Experimental de Cinema em Roma,
de Bernardo Bertolucci a Marco Bellocchio. Mas falo do homem, antes que da obra.
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Seus filmes, por sua vez, parecem sempre girar, no campo superficial do entrecho, em torno de
protagonistas fora de lugar, solitários, inconfortáveis com eles mesmos, como a assassina de "Porto
das Caixas" (1962), o jornalista de "O Desafio" (1965), a desesperada Nina de "A Casa Assassinada"
(1970) e seu "Anchieta, José do Brasil" (1977). Os registros, porém, variavam título após título,
sobretudo na primeira e mais robusta década de sua obra ficcional.
Basta pensar nos ecos neorrealistas de "Porto das Caixas", no pioneirismo urbano e reflexivo de "O
Desafio", na pegada onírica e operística de sua versão de Lúcio Cardoso em "A Casa Assassinada".
Na segunda metade de sua carreira, porém, os títulos se espaçam ("Ao Sul do Meu Corpo", 1981,
"Natal da Portela", 1988, "O Viajante", 1998), as dificuldades de produção se sucedem, e sua obra se
mantém inquieta, mas perde densidade.
No documentário Saraceni estreou ao lado de Mário Carneiro com um filme desbravador. Inspirado
por Rossellini e Eisenstein, "Arraial do Cabo" (1959) é um ensaio sobre o embate entre a tradição e a
modernidade a partir do impacto da chegada de uma indústria a uma colônia de pescadores a 25 km
de Cabo Frio. O contraste entre a alegria popular ao ar livre e as angulosas estruturas fabris
desafiava a rigidez tradicional do discurso documental brasileiro, a ponto de Glauber Rocha saudá-lo,
ao lado de "Aruanda" de Linduarte Noronha, como "os primeiros sinais de vida" de nosso
documentário. (Em "Xaréu - Memórias do Arraial", lançado no É Tudo Verdade deste ano, Patrícia
Ramos Pinto reconstitui os bastidores daquelas filmagens e investiga as mudanças no cotidiano dos
moradores passado meio século).
Igualmente precursor, mas das técnicas do cinema direto por aqui, foi o média-metragem "Integração
Racial" (1964). Como um dos primeiros documentários nacionais a colher com um gravador Nagra o
som direto de depoimentos (de brancos, negros, mulatos, italianos e japoneses), ninguém menos que
Paulo Emílio Salles Gomes o saudaria por ter "retomado o falar no cinema brasileiro''.
"Bahia de Todos os Sambas", seu principal documentário de longa-metragem, celebra os históricos
shows de música popular baiana que registrou ao lado de Leon Hirzsman (1937-1987) em Roma em
agosto de 1983. Lançado no Festival de Veneza de 1996, brilha mais em partes do que no todo, com
momentos inesquecíveis, como Caetano entrevistando Caymmi e João Gilberto entoando "Estate".
Conheci Saraceni quando a edição inaugural do primeiro festival que dirigi, o Eurocine (1993-1995),
sediou o lançamento paulista de sua autobiografia, no contexto de uma mostra especial sobre o
diálogo entre os "cinemas novos" brasileiro e europeus. Entusiasmado com o projeto, ele tentou
intermediar uma visita de seu amigo "Bernardo" (Bertolucci), que não se concretizou, e providenciou
uma sessão em homenagem póstuma a outro parceiro italiano, Gianni Amico (1933-1990).
Depois de uma década e meia de encontros fortuitos, foi a hora de enfim homenageá-lo, no É Tudo
Verdade de 2009, pelo cinquentenário de "Arraial do Cabo". Saraceni esbanjou carisma em duas
mesas-redondas, na Cinemateca Brasileira em São Paulo e no Instituto Moreira Salles no Rio, mas
transformou a reconstituição das filmagens de seu primeiro clássico sobretudo numa celebração de
seu parceiro Mário Carneiro, morto dois anos antes.
Só então compreendi de fato outra frase de Glauber sobre ele: "Aprendi de tudo com meus amigos,
mas Saraceni me conduziu ao fogo do Cinema e do Amor".
Zero Hora – Eu sou o início o fim e o meio
Documentário sobre Raul Seixas estreia hoje na Capital
MARCELO PERRONE
(20/04/12) Raulzito, metamorfose ambulante e carimbador maluco são algumas das personas que
ajudam a materializar Raul Seixas em imagem e som para diferentes gerações. Nenhuma delas,
porém, dá conta desta figura tão complexa que foi brilhante na vida artística e trágica na jornada
pessoal.
Raul não tem explicação, assume diferentes formas conforme a lembrança de quem a evoca, mostra
o documentário que estreia hoje nos cinemas.
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O diretor Walter Carvalho, em um trabalho de pesquisa notável, faz de Raul – O Início, o Fim e O
Meio, um imenso mosaico em tributo ao grande artista baiano que morreu em 1989, aos 44 anos.
Costura imagens raras de arquivo e entrevista todos aqueles que tinham algo relevante – e delirante
– a dizer sobre Raul: familiares, ex-mulheres, filhas, amigos, parceiros, fãs, profetas místicos e
hippies congelados no tempo. E Carvalho é bastante feliz ao não tentar biografar Raul Seixas, mas
sim compreendê-lo.
De cada um desses núcleos de memórias emerge um Raul diferente: o jovem apaixonado por
rock’n’roll que sonhava em ser astro de Hollywood, o músico visionário que misturou Elvis Presley e
Luiz Gonzaga, o autor dos sucessos populares transgressores que fugiam à compreensão da
censura, o marido infiel, o pai ausente, o líder da sociedade alternativa, o totem do reverencial “toca
Rauuuuuuul”, o maluco beleza que se autodestruiu em público embebido em álcool, cocaína e éter.
Esse empenho memorialístico tem pontos de destaque. Em Genebra, na Suíça, Paulo Coelho, par
musical dos primeiros sucessos, fala de sua relação de afetos intensos e conflitos ruidosos com Raul.
As cinco ex-mulheres do artista, três delas morando nos Estados Unidos, ajudam a traçar a rota de
sua ascensão e queda pelo front mais íntimo – e mesmo a que se recusa a falar diz muito sobre a
relação. Já no retrato da fase terminal de Raul, quem ganha voz é seu derradeiro companheiro de
palco Marcelo Nova, que, conforme o ponto de vista, pode ser o herói ou vilão da história.
Diante deste documentário tão solidamente embasado e tão cinematograficamente estimulante, pela
dramaturgia que impulsiona e organiza a fartura do material, cada espectador também vai ter um Raul
para chamar de seu.
Zero Hora – Para entender Raul Seixas
Walter Carvalho, diretor
(20/04/12) MARCELO PERRONE - Antes de Raul Seixas, o diretor Walter Carvalho levou às telas
outro grande ídolo da música brasileira que transbordou em talento e excessos, mas desta vez em
registro ficcional: Cazuza – O Tempo Não Para, codirigido com Sandra Werneck. Nascido na Paraíba,
ele é um dos mais aclamados e premiados diretores de fotografia do país (Central do Brasil, Lavoura
Arcaica e Madame Satã são alguns de seus trabalhos). Lançou-se à direção com o documentário
Janela da Alma (com João Jardim) e estreou na ficção com Budapeste. Quando recebeu o convite da
Paramount para assumir um filme sobre Raul Seixas, Carvalho não tinha ideia de que o projeto seria
um documentário. Começou a trabalhar no filme em 2009, vasculhou arquivos de familiares e fãs em
busca de imagens nunca antes vistas de Raul, entrevistou 94 pessoas no Brasil, nos EUA e na Suíça
(54 delas estão no filme) e, como explica na entrevista a ZH, contou com muita sorte. E chegou a
uma conclusão: “Consigo entender o Raul, mas não sei explicá-lo”.
Zero Hora – Os depoimentos de seu filme formam diferentes núcleos, e cada qual ressalta uma
imagem distinta de Raul Seixas. Como o senhor buscou equilibrar essas imagens?
Walter Carvalho – O que apurei em relação a essa figura fulgurante e trágica foi a partir das
memórias das pessoas. Ouvi 94 entrevistados. Especialmente os de Salvador, que procurei mais
como forma de pesquisa, eles falam do passado como um memória inventada. Lembram o que são
capazes de lembrar e completam com imaginação o que não conseguem. O filme é o resultado de
memórias, das reais, das inventadas e da encontrada por mim para a construir meu próprio Raul.
ZH – E qual é esse Raul e como senhor se posiciona diante dele?
Carvalho – Minha postura diante desse mito chamado Raul Seixas foi a da não reverência. Com a
reverência se toma partido, corre-se o risco de enveredar por um caminho sem volta. Não é bem
como o caráter da isenção jornalística. O que diferencia o documentário do jornalismo que persegue o
real é que cinema é construção. Você vai construindo uma história a partir da uma linguagem que se
impõe diante do compromisso com o real. O espectador do filme tem contato tanto com os que
reverenciam o Raul quanto os que não reverenciam, e nesse universo de contradições surge a
trajetória de um criador libertário e contestador.
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ZH – O senhor fala com praticamente todos os que conviveram com Raul Seixas. Faltou alguém?
Carvalho – Sinto falta de uma pessoa muito importante na vida dele, sua mãe, que já havia morrido.
Todas as ex-mulheres foram atenciosas e generosas, com exceção da Edith, a primeira, que fala por
meio de uma carta que a filha dela e de Raul, Simone, leu pelo Skype. E diz que o Raul é uma página
virada na sua vida. Acho que a separação da Edith fez o Raul morrer por amor. Ela foi sua paixão de
infância e adolescência. Quando romperam, ela não quis voltar e foi viver nos EUA com a filha, e
nunca mais tiveram contato. O curioso é que todas as demais acham que o Raul foi o homem da vida
delas, que as amou profundamente da maneira deles. E são apaixonadas por ele até hoje
ZH – A entrevista com Paulo Coelho tem um momento muito inusitado e simbólico: a mosca que o
incomoda no momento em que ele fala sobre o ex-parceiro. Como foram os bastidores dessa
entrevista?
Carvalho – Foi difícil chegar nele. O Paulo é muito famoso e vive sendo procurado para entrevistas.
Mas consegui e contei com aquela sorte que o goleiro precisa ter diante do pênalti. Na verdade,
peguei quatro pênaltis no mesmo jogo. Um quando apareceu a mosca bem naquela hora, outro
quando ele diz que não são comuns moscas em Genebra, mais um na hora em que diz que não vai
matar, e outro em que ele tenta esmagar a mosca que chama de “Raul”, mostrando como era a
relação deles. Este é o tipo de achado que acontece na vida do documentarista, que você tem de
estar atento para não deixar e, depois, saber potencializá-lo. O Paulo podia falar duas horas comigo e
não falar nada, mas disse tudo.
ZH – O senhor fez um filme sobre Cazuza. Que tipo de paralelo se pode fazer entre ele e Raul
Seixas?
Carvalho – Foram dois artistas libertários, provocadores. Se eles se encontraram fora desse mundo,
foi no planeta dos poetas livres, onde tem sexo, drogas e rock and roll. Foram ambos expressões que
perduram na música brasileira, mas o Cazuza menos que Raul. Porque Raul é único, sua trajetória
vai do popular ao intelectual. Ele perpasse todas as gerações. Ouvi mais o Raul por conta dos meus
filhos, com 34 e 22 anos, do que por mim mesmo.
ZH – No filme, tem quem defenda Marcelo Nova, por ter tirado Raul Seixas do ostracismo, e quem o
condene, por ter levado Raul, já com a saúde bastante debilitada, a viajar pelo Brasil. Foi delicado
falar com Nova sobre isso?
Carvalho – Fica para o espectador tirar suas conclusões. Ninguém nunca vai saber se os shows
ajudaram o Raul a viver mais ou aceleraram sua morte. O próprio Marcelo é contraditório. São
evidentes nas imagens a fragilidade e a decadência física do Raul. Mas ele estava lá, no palco.
Morreu de pé, como diz o Marcelo. Foi graças ao Marcelo que tive acesso a muitas imagens raras,
registradas pela mulher dele, com o reencontro como Paulo Coelho.
Agência de Notícias Brasil - Árabe – Universidade libanesa exibe filmes
brasileiros
A Notre Dame University, em Zouk Mosbeh, começa a incluir filmes brasileiros em suas sessões
semanais de cinema. O primeiro deles, na segunda-feira (23), é 'Central do Brasil'.
(22/4/2012) A Notre Dame University, em Zouk Mosbeh, no Líbano, passa a incluir a exibição de
filmes brasileiros em suas sessões de cinema, a partir desta semana. As sessões acontecem sempre
às segundas-feiras, às 19h, e a primeira produção nacional a ser exibida é Central do Brasil, do
diretor Walter Salles, já no dia 23 de abril.
A ação é uma iniciativa do diretor de Relações Públicas da instituição, Edgar Merheb-Harb. As
sessões de cinema acontecem no Cine Clube da universidade. A exibição de Central do Brasil
contará com a presença do cônsul-geral do Brasil em Beirute, Renato Menezes, e de um grupo de
diplomatas.
Central do Brasil conta a história de Dora (Fernanda Montenegro), uma mulher que escreve cartas
para pessoas analfabetas na Central do Brasil, principal estação ferroviária do Rio de Janeiro. Uma
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das clientes de Dora é Ana, que vem escrever uma carta com seu filho, Josué, um garoto de nove
anos, que sonha encontrar o pai que nunca conheceu. Na saída da estação, Ana é atropelada e
Josué fica abandonado. Mesmo a contragosto, Dora acaba acolhendo o menino e o leva ao interior
do Nordeste à procura do pai.
O filme acumulou mais de 40 prêmios, entre eles o Urso de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata
de melhor atriz no Festival de Berlim em 1998, além do Globo de Ouro de melhor filme em língua
estrangeira, em 1999. A produção também ficou entre as cinco finalistas para a disputa do Oscar de
melhor filme estrangeiro, enquanto Fernanda Montenegro recebeu uma indicação como melhor atriz.
O Estado de S. Paulo - Sagrado. Em corpo de mulher
Juliana Paes diz ignorar polêmicas: "Mexer com Gabriela é quase como mexer com Nossa Senhora"
(22/04/2012) Pele
escura,
cabelos
armados, sobrancelhas por fazer, dentes
amarelos e unhas dos pés e mãos
encardidas fizeram de Juliana Paes - suja
de terra e pó de maquiagem - uma mulher
irreconhecível até para Pedro, filho da
atriz, de 1 ano e 4 meses. Ele visitou, no
feriado de Páscoa, o set de gravações da
nova versão de Gabriela para às 23h da
Globo (prevista para junho), em
Canavieiras (a 110 quilômetros de Ilhéus)
- e se assustou com a nova aparência da
mãe. Atriz que reposicionou a própria
marca e, de "A Boa da Antarctica", passou
a ícone fashion em campanhas para
grifes classudas, Juliana virou alvo de
acaloradas discussões desde novembro,
quando
foi
oficializada
como
a
protagonista da obra baseada em Jorge
Amado: afinal, ela tem o necessário para
substituir Sônia Braga no imaginário das
novas gerações como a Gabriela, Cravo e
Canela? Aos 33 anos, não estaria velha
demais para o papel?
Nem na pequena Canavieiras, com cerca
de 40 mil habitantes, a polêmica passou
despercebida. "Ela é muito simpática, humilde, sentou no chão da loja, brincou com minha cadelinha.
Acho que tem aquela coisa moleca da Gabriela", diz a vendedora de uma galeria de souvenirs. "Pois
eu acho que deveria ser a Camila Pitanga. A Juliana é meio acabadinha sem maquiagem", acredita o
garçom do restaurante point da cidade. "Rapaz, ela até tá parecida com Gabriela, mas tem aqueles
olhões, né?", disse a atendente do bar, que logo emendou: "Mas com aquele sorrisão... ela vai
ganhar todo mundo".
Diretor da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, da novela Renascer (que se passava em Ilhéus)
e da última versão de O Astro, Mauro Mendonça Filho se assume como autor da ideia de transformar
Juliana na nova Gabriela. "Foi nossa primeira escolha: Gabriela é um ícone de beleza feminina
selvagem, brejeira, brasileira. Sônia Braga era um símbolo sexual. A gente só podia pensar em ter
outro símbolo sexual, que fosse tão boa atriz quanto a Sônia. Pensa aí em 300 nomes e você vai
chegar à mesma conclusão", explica o diretor. "Juliana está fazendo uma Gabriela deliciosa,
supersexy, mas com a dureza de uma retirante. Cara de brasileira total."
Para Juliana, a discussão está superada. Caracterizada como Gabriela, a atriz falou ao Estado sobre
as críticas (em "baianês", sotaque que aprendeu em aulas de prosódia e que evoca durante a
entrevista apenas quando fala de Gabriela). "Um amigo meu disse bem: mexer com Gabriela é igual
mexer com Nossa Senhora. É sagrado. Qualquer pessoa que escolhessem ia passar pelos mesmos
questionamentos", disse a atriz.
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Quando você sentiu que tinha virado a Gabriela?
Acho que só vi minha Gabriela quando gravei no sertão. Não fico me olhando no espelho nem quis
ver nenhuma cena no vídeo, porque, antes de estrear, se a gente se vê, começa a querer remendar.
E, no momento de composição, prefiro confiar no meu subconsciente, desenhando a personagem de
uma maneira mais primitiva e sensorial.
Você é ícone fashion, só se associa a boas marcas. Foi tranquilo se desglamourizar?
Quando a sobrancelha começou a ficar esquisita, as pessoas desconfiaram (risos). Sou muito
vaidosa, mas só quando estou de Juliana. Não faço a linha cool, de ator que diz que não tá nem aí.
Gosto de tendência de moda, sim. Isso não me torna fútil. Também sei curtir um bom livro. Mas para
a personagem, não tenho vaidade.
Sair na rua sem maquiagem, de sandália rasteira e vestido praiano faz com que o público te associe à
Gabriela?
Não sei. As fotos que saíram de mim sem maquiagem em São Raimundo Nonato (Piauí) não foram
propositais. Foram fotos de fã, que pararam na internet. Nem tudo o que a gente faz é estratégia.
Nenhuma mulher gosta de ser pega do jeito que sai da cama. Mas, se foi bom, que bom (risos).
Quando vou para um ambiente no qual haverá imprensa, me arrumo, porque acho que o público quer
me ver arrumada. Acho falta de respeito ir a um lugar, tendo sido contratada, e aparecer de qualquer
jeito. Não quero parecer desleixada, mas me permito ir ao mercado de cara lavada.
Quando começou a emagrecer para encarnar Gabriela?
Não emagreci na balança, mas enxuguei medidas. Troquei gordura por músculo. Desde dezembro,
sabia que começaríamos a gravar no fim de março. Então, deixei crescer a sobrancelha e passei a
treinar TRX, princípio parecido com pilates, em que se usa a força do corpo para se pendurar. Tudo
para ficar com a silhueta enxuta e forte, que acho que tem a ver com essa sertaneja, essa mulher que
não tem uma magreza esquálida, mas uma magreza de quem pega peso, anda pra caramba.
Também tomei muito sol. Meu cabelo já estava comprido e passo longe de manicure há meses.
Você já disse que evitou ver a novela e o filme com a Sônia
Braga e que o livro é "sua bíblia" para esse trabalho. Como então tem estudado para ser Gabriela?
Tive aulas de culinária, aprendi a fazer acarajé, moqueca, frigideira de bacalhau, bolinho de
estudante, pamonha de milho, tapioca, abará... Também aprendi prosódia, fiz preparação com o
coach Sérgio Pena (preparador do Rodrigo Santoro), tive aulas de corpo. Mas é quando você deita
em sua cama na hora de dormir, que pensa: "Acho que ela gosta de água gelada." São pequenos
detalhes. A professora de corpo dá dicas, do tipo: "Procure sentir o vento". E tudo isso vai te
inspirando...
Você fez o tal laboratório no sertão, não?
Fiquei dois dias vivenciando a caatinga, antes de gravar. Passei o dia na casa de uma senhora, sem
luz, vendo ela fazer o café, como é o dia de uma pessoa que tem poucos utensílios na cozinha. Vi
como a neta dela lida com a terra, pega fruto do pé, anda naquele terreno espinhoso. A paisagem
externa acaba ficando interna e aparece no seu olho. E aí entra o figurino, a caracterização, o
sotaque...
Você está falando "baianês"...
Mas a gente já não vem para a Bahia, passar uma semana, e não volta falando com sotaque?
Imagina você querendo aprender? Soma-se a isso tudo o sobrenatural, a gente pede a bênção aos
espíritos dessa terra. Eu acredito muito num plano espiritual, que ajuda na inspiração e, na hora do
"gravando", vem.
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O público de televisão é mais conservador do que o de cinema e teatro. Até que ponto você po-de se
desapegar das referências da novela de 1975, para não desagradar à audiência?
O grande público de agora não acompanhou a novela e tem muito mais uma referência da figura
dessa mulher. A gente está sendo muito fiel à mulher de tez bronzeada, cabelo grande, cheio,
selvagem. Uma mulher que tem a fala rude, que não é letrada, que é alegre, moleca, que está feliz
com a vida que leva e quer se divertir. Tudo isso é fiel ao que já foi feito anteriormente. Agora, o texto,
as cenas, eu sou outra pessoa...
Seu nome como Gabriela gerou polêmica.
Um amigo meu falou bem: mexer com a Gabriela é igual mexer com Nossa Senhora. É mexer com o
xodozinho das pessoas. Eu não fico remoendo muito isso. Na época, fiquei um pouco. Até perguntei
para a direção: "O que tá acontecendo? Isso aí está vindo da onde?" E eles disseram que sempre me
quiseram para o papel.
Falaram da sua idade. Acha que foi preconceito?
Não sei. O preconceito vive em muitas esferas. É uma questão da condição da mulher hoje. Quando
a gente discute idade, a gente vai para um patamar muito sério, que tem a ver com toda essa
indústria de padrão de beleza que se põe, das meninas que estão ficando anoréxicas, colocando
botox antes da hora, tomando remédio para emagrecer com 16 anos. Porque fica todo mundo
querendo entrar numa fôrma da Barbie, de 18 anos, com aquele corpinho. Saiu daquele padrão,
dessa faixa etária, acabaram-se as possibilidades? Criou-se uma discussão tão maluca em torno
disso, mas não existe nenhuma alusão à idade de Gabriela no livro. Foi mais uma comparação com a
Sônia Braga. Existe uma histeria sobre isso, que não procede. Nem Sônia era uma adolescente.
O livro é a sua bíblia. Você não quis ver nenhuma cena. Você leu outros livros para criar Gabriela?
Coincidentemente, havia um projeto de fazer um filme de Jorge Amado, então, no meio do ano
passado, li dois livros dele: Tieta e Tereza Batista. Quando veio a coisa de Gabriela, pensei, "bom, eu
já estou no universo, né?" Foi uma leitura até rápida. Assisti a Guimarães Rosa, Grande Sertão:
Veredas, São Bernardo, Deus e o Diabo na Terra do Sol, filmes que mostram o sertão, falam de
retirantes. E tem mais um filme que não estou lembrando... oxente. Fiquei mesmo no universo
sertanejo, porque no fim das contas, gente, ela é uma sertaneja. Gabriela é uma mulher do sertão,
sem cultura. De repente, ela chega na casa do seu Nacib e tem comida pra fazer, cebola pra picar,
tem comida farta. É isso que deixa Gabriela tão feliz. É como uma mulher seca que se estia em bom
prato. Ela se sente vencedora, atravessou aquilo tudo e chegou aqui e conseguiu.
Gabriela é uma mulher muito livre e sensual e, claro, você vai fazer muitas cenas de sexo, de nudez.
Como é isso pra você?
O (autor) Walcyr (Carrasco) está com tanta vontade de contar essa história, ele está escrevendo com
um gosto, uma poesia, não tem nada fora do lugar. E as cenas de sexo entram aí, contando uma
história. E quando é assim, dentro de um contexto, eu não tenho o menor problema. A nudez é
bonita. E vou contar com o bom gosto do Maurinho, que a gente já pôde ver no Astro. As cenas da
Carolina (Ferraz) com Rodrigo (Lombardi) eram inspiradoras. De pensar: "Poxa! Hoje quero
chamegar também." Isso é bacana. Mas se eu vir que: "Pô, isso aqui não tá precisando não", vou
falar. "Essa cena aqui não tá carecendo não".
Folha de S. Paulo – Band aguarda lei de TV paga para lançar canal de arte
KEILA JIMENEZ
(23/04/12) O novo canal pago do grupo Bandeirantes, o Arte 1, está esperando a regulamentação da
nova lei de TV paga no país para entrar no ar.
A novidade, que tinha estreia prevista para o início deste ano, vai ser lançada somente no segundo
semestre, em caráter experimental.
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Em vigor desde 12 de março, a nova lei de TV paga aguarda ainda regulamentação da Agência
Nacional do Cinema (Ancine). Ela estabelece, entre outras coisas, cotas de produção nacional e a
criação de canais nacionais na TV paga.
"Pisamos no freio para esperar a chegada da nova lei", diz Rogério Gallo, diretor do Arte 1. "Ela será
ótima para o canal, uma vez que o nosso plano é ter um grande volume de produção nacional,
realizada por nós e por produtores independentes."
O Arte 1 será um canal com programação totalmente dedicada à arte e à cultura, tratadas com
linguagem popular, de fácil compreensão.
O canal vai exibir 24 horas diárias de programação, com documentários, música, dança, filmes e
agenda cultural.
A ideia é contar ainda com conteúdo de parceiros internacionais, como BBC e RAI.
"Nosso projeto já vai nascer totalmente formatado pelos novos parâmetros da TV paga e está
despertando o interesse de muitas operadoras", diz Gallo.
O Estado de S. Paulo - Música eletrônica inspira primeira ficção de Marcos
Prado
Documentarista e produtor de 'Tropa de Elite', Prado lança o longa-metragem 'Paraísos Artificiais'
Flavia Guerra
Raves. Praias são palco de festas no longa que estréia em maio.
(23?04/2012) Paraísos Artificiais é um dos primeiros, senão o primeiro filme brasileiro a investigar o
universo da música eletrônica e, por consequência, do uso (e do tráfico) das drogas sintéticas, são
usadas e tão associadas às raves. Por rave, entende-se em geral as grandes festas ao ar livre em
lugares afastados, onde, ao som de música eletrônica, milhares de pessoas se aventuram em
viagens (literais e lisérgicas) por paraísos naturais e artificiais. O assunto rende senão um, mas uma
série de documentários. No entanto, ainda que muito fiel à realidade, Paraísos Artificiais é uma ficção,
a primeira de Marcos Prado.
O filme narra a história de amor de Nando (Luca Bianchi) e Érika (Nathalia Dill), dois jovens que se
encontram e desencontram ao longo de vários anos, sempre ‘ao som’ da música eletrônica.
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Para entender melhor porque ter a direção de Prado faz a diferença, é preciso saber que, mais que
diretor, ele é documentarista por natureza. Fotógrafo de formação, viajou pelo mundo, ganhou
diversos prêmios nacionais e internacionais, participou de exposições no Brasil e no exterior de
trabalhos que eram documentários fotográficos sobre temas pungentes como Os Carvoeiros e o
cotidiano do Lixão do Jardim Gramacho.
Nos anos 90, mesmo com o sucesso como fotógrafo, Prado estava frustrado. Ele queria mais: que
suas imagens e registros de temas alcançassem um “público que não era o de museu”. Foi então que
encontrou no cinema, mais especificamente no documentário, a saída para chegar às grandes
plateias. Ou quase. O registro de anos no Jardim Gramacho deu origem ao super premiado Estamira
(2004), documentário que levou 33 prêmios em festivais pelo mundo e foi uma das primeiras
produções da Zazen, a produtora que Prado fundou com José Padilha em 1997.
Mas era preciso se aventurar pela ficção. O público dos documentários era muito maior que os das
exposições, mas nada comparável ao salto que Prado e Padilha deram em 2007, quando lançaram
sua primeira ficção: Tropa de Elite, que, apenas no cinema, foi visto por 2,4 milhões de pessoas.
“Sem contar quem viu a cópia pirata... E Tropa era para ser um documentário, mas teve de virar
ficção por ser impossível de ser filmado. A partir daí, percebemos que, por questões de narrativa,
público e até mesmo financeiras, teríamos de partir para a ficção”, contou Prado, que produziu Tropa
1 e Tropa 2, este o maior público da história do cinema brasileiro, com 11 milhões de espectadores.
Depois da experiência como diretor de documentários e produtor, era a hora de Prado dirigir sua
primeira ficção. Foi então que nasceu Paraísos Artificiais. “Na verdade, assim como o Tropa,
começou como uma ideia para documentário. Mas, uma vez mais, era impossível filmar todas as
raves, conseguir autorização etc.”, conta o diretor de 50 anos, que teve a ideia de investigar o
universo da música eletrônica e das drogas sintéticas ao perceber que seu filho Tomás, de 20 anos,
então com 16, iria muito em breve passar pelas experimentações da juventude. “Como pai, eu me
preocupava com as escolhas que ele iria fazer. E percebi que, por poder escolher tanto, os jovens
hoje nem sempre acabam fazendo a escolha certa.”
Em vez de um tratado sobre o uso de drogas, o diretor queria fazer um filme ‘pequeno’, sobre um
drama familiar, uma história de amor, de recomeços. Mesmo assim, o tema das drogas está em
primeiro plano. Documentarista, Prado foi pesquisar a fundo este universo, fez dezenas de
entrevistas, frequentou e viajou para os maiores festivais do mundo, como o Burning Man, nos EUA,
caprichou na trilha sonora e pediu ajuda a quem entende de música eletrônica, como Renato Cohen e
Franklin Costa.
Se de música eletrônica não entende nada, as drogas, pode-se dizer, ele tem conhecimentos básicos.
“Já experimentei as sintéticas em uma fase mais tenra. Já fui jovem. A primeira vez que provei
ecstasy foi dado por uma terapeuta, em 1986, no auge da droga em Londres, quando não era tão
comum no Brasil. Mas sempre fui medroso. Sempre pisei devagarinho. Não quero fazer apologia nem
condenar ninguém. Importante é levantar discussões.”
Zero Hora – 40 anos em nova forma
Depois de enfrentar uma das crises mais graves de sua história, Festival de Gramado tenta se
reinventar José Wilker, curador do 40º Festival de Cinema de Gramado
VANESSA FRANZOSI
(25/04/12) Aos 40, o Festival de Cinema de Gramado quer começar vida nova. A prefeitura da cidade,
que a partir de agora toma a frente da organização do evento, anunciou na semana passada o trio de
curadores desta edição – os críticos José Wilker, Rubens Ewald Filho e Marcos Santuário. Entre as
novidades anunciadas, está a premiação em dinheiro aos vencedores.
O novo cenário do festival está se desenhando desde que, no ano passado, a antiga proponente do
evento, a Associação de Cultura e Turismo de Gramado (ACTG), teve as contas bloqueadas às
vésperas do evento, por estar envolvida em denúncias de possíveis irregularidades no Natal Luz.
Como a ACTG foi impedida de receber recursos das leis de incentivo à cultura, a organização passou
a novas mãos, e o festival foi reformulado.
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Coordenado pela secretária de Turismo de Gramado, Rosa Helena Volk, o festival chega a 2012 com
a proposta de ser “mais democrático”, segundo a nova organização. Não há mais a figura de um
presidente, as contas e os contratos serão fiscalizados por um Conselho Gestor de Eventos de
Gramado e o planejamento ficará a cargo da produtora UM Cultural, com participação de entidades
de cinema.
– Nunca houve um diálogo tão aberto quanto está havendo agora, com as demandas das entidades
sendo atendidas – elogia o diretor do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), Luiz Alberto Cassol, que
se uniu a Fundacine, Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC), Associação dos
Críticos de Cinema do RS, Sindicato da Indústria Audiovisual do RS e Cinemateca Paulo Amorim na
estruturação do novo Festival de Gramado.
Antigas reivindicações, como espaço para a mostra dos curtas gaúchos no Palácio dos Festivais,
ingressos mais baratos para as exibições dos longas-metragens em competição e premiação em
dinheiro em diferentes categorias, foram atendidas e se destacam como as grandes novidades para
2012. Ao todo, serão R$ 350 mil em prêmios para 10 categorias, com proposta de R$ 120 mil para o
melhor filme nacional e R$ 80 mil para o melhor longa estrangeiro.
– Queremos que essa edição seja comemorativa não somente pelo prestígio, mas por renovar o
espaço para o cinema – afirma a secretária Rosa Helena.
Com curadores com visibilidade na mídia e no meio cinematográfico, o festival pretende intensificar o
intercâmbio com outros eventos similares, trazendo a Gramado diretores, produtores e curadores de
outros festivais.
– Tenho a convicção de que esta edição vai ser um divisor de águas, por ter mostras importantes
dentro do Palácio dos Festivais e um intercâmbio relevante com a América Latina – aposta Cassol.
Antes da concretização do novo projeto, há um desafio mais imediato para a organização. Dívidas
referentes ao ano passado, que chegaram a R$ 3 milhões, ameaçaram a realização da edição
comemorativa dos 40 anos: as indefinições geraram atrasos na captação de R$ 4,1 milhões pela Lei
de Incentivo à Cultura do Estado e pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura – e a realização do
evento depende dessa verba, complementada em R$ 510 mil pela Prefeitura de Gramado.
Os organizadores estão confiantes, porém, na aprovação e captação da verba necessária.
O Estado de S. Paulo - Cannes celebra parceria entre Brasil e Argentina
'Infância Clandestina', coprodução da Academia de Filmes, mostra o drama na guerrilha
Cena do filme 'Infância Clandestina'
(25/4/2012) LUIZ CARLOS MERTEN - Em
novembro passado, depois de visitar a sede da
Academia de Filmes, na Avenida Imperatriz
Leopoldina, Alto da Lapa, o repórter já antecipava
que os maiores festivais do mundo estavam
interessados em Infância Clandestina. O longa que
assinala a estreia de Benjamin Avila na ficção foi
produzido pela Academia com a argentina Historia
Cinematografica. É a empresa de Luís Puenzo,
que ganhou o Oscar de filme estrangeiro por A
História Oficial. O filme foi realizado com recursos
próprios e, na época, Avila e a Academia
buscavam patrocínio para a finalização. Isso ainda
não mudou. Somente no começo de abril, a coprodução foi oficializada pela Ancine para poder
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captar. A primeira cópia ficará pronta nos próximos dias, informa o produtor brasileiro Paulo Schmidt,
mas Infância Clandestina já está em Cannes, na Quinzena dos Realizadores.
Avila é documentarista famoso e, inclusive, fez Nietos, que virou uma espécie de bandeira da
organização das Mães da Plaza de Mayo. Seu filme é parcialmente autobiográfico. Avila baseou-se
na própria vida, mas, com o roteirista (brasileiro) Marcelo Muller filtrou a realidade pela ficção, para
poder falar de assuntos espinhosos. Ele é esse garoto que, quando o filme começa, volta com os
pais, integrantes da militância política, para o que promete ser uma existência 'normal' na Argentina.
Ele vai para a escola, encontra a primeira namorada. Quando se sente 'integrado', os pais precisam
pegar em armas novamente, voltando à clandestinidade. E a vida do protagonista ingressa em novo
período turbulento.
Diretor e roteirista conheceram-se há 12 anos em Cuba, onde Avila coordenava um dos cursos da
Escola de San Antonio de Los Baños. Apesar da pouca diferença de idade - Avila tinha 27 anos,
Muller, 21 -, o argentino foi professor do brasileiro. Em 2005 começaram a escrever o roteiro que ficou
sendo Infância Clandestina. Esse roteiro ganhou vários prêmios internacionais e integrou o Cine en
Construcción, em San Sebastián. A partir daí, surgiu o interesse dos grandes festivais. Berlim era
uma possibilidade, mas, em dezembro, havia um olheiro da Quinzena na Ventana Sur, que se realiza
em Buenos Aires. Começou o namoro que agora se concretiza com a seleção do filme pela
Quinzena.
Cannes ocorre este ano entre 16 e 27 de maio e, além da competição, que habilita os filmes à Palma
de Ouro, o evento tem outras seções importantes. A mostra Un Certain Regard, Um Certo Olhar, que
integra a seleção oficial com a competição, tem outra coprodução brasileira - da carioca Bananeira
Filmes (de Vania Catani). É o colombiano La Playa, de Juan Arango. As mostras paralelas são a
Quinzena dos Realizadores, organizada pela Société des Auteurs, que privilegia o cinema jovem,
autoral, e a Semana da Crítica. Esta última tem apresentado com regularidade produções brasileiras.
Sua seleção deste ano ainda não foi divulgada, o que permite supor que ainda haverá mais
brasileiros em Cannes, 2012. O festival homenageia o Brasil, por meio de uma seleção de filmes feita
por Hilda Santiago, do Festival do Rio. Entre eles está O Cinema segundo Tom Jobim, de Nelson
Pereira dos Santos, que recebeu duas vezes o prêmio da crítica em Cannes, por suas adaptações de
Graciliano Ramos - Vidas Secas e Memórias do Cárcere.
Walter Salles integra a competição com On the Road, Na Estrada. O filme é uma adaptação do
romance de Jack Kerouac que definiu a beat generation. É falado em inglês e a produção é conjunta
dos EUA (a American Zoetrope de Francis Ford Coppola) e da França (MK2). Assim como tem um
diretor brasileiro numa coprodução internacional, o Brasil tem um ator - Rodrigo Santoro - em outro
filme da competição, também falado em inglês, mas que passa fora de concurso. O curioso é que, no
ainda inédito There Be Dragons, de Roland Joffe, o ator já encarna um republicano, na Guerra Civil
Espanhola. Ele interpreta agora outro em Hemingway & Gelhorn, de Philip Kaufman.
Numa declaração escrita para o Estado, Santoro informa que não sabe se conseguirá ir a Cannes,
por um problema de agenda. Mas ele diz - "Na verdade, o que me atraiu para fazer esse filme foi a
possibilidade de trabalhar com Philip Kaufman, de quem sou fã e que é uma verdadeira lenda do
cinema, tendo criado Indiana Jones (o personagem) e realizado filmes como A Insustentável Leveza
do Ser. Foi uma experiência incrível. Filmamos em Los Angeles e tive a oportunidade de contracenar
com grande atores, especialmente David Strathairn, que faz John dos Passos, amigo de Ernest
Hemingway."
Le Monde - La musique selon Antonio Carlos Jobim, un documentaire de
Nelson Pereira dos Santos
Nelson Pereira dos Santos, 83 ans, le précurseur du Cinema Novo des années 1960, le plus grand
réalisateur brésilien vivant, est d’une jovialité communicative. La raison ? Son documentaire A Musica
segundo Tom Jobim sort sur grand écran au Brésil, à partir de ce 20 janvier.
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Distribué avec quarante copies, fait exceptionnel pour un
documentaire, le film est un pur bonheur, qui vient s’ajouter à
une filmographie où abondent les chefs d’œuvres.
Depuis les néo-réalistes Rio 40 graus (1955) et Rio Zona Norte
(1957), on y compte des réussites aussi éclatantes que Vidas
Secas (Sécheresse, 1963), Azyllo Muito Louco (l’Aliéniste,
1970), Como era gostoso o meu francês (Qu’il était bon mon
petit Français, 1971), O Amuleto de Ogum (l’Amulette d’Ogum,
1974) ou Memorias do Carcere (Mémoires de prison, 1984).
Depuis une dizaine d’années, Nelson Pereira dos Santos a
consacré des documentaires à des figures de la culture de son
pays, telles que Gilberto Freyre et Sérgio Buarque de Hollanda,
deux des principaux interprètes de l’histoire du Brésil.
Le film sur le musicien Antonio Carlos Jobim les surclasse
certainement. Fidèle à l’expression du compositeur, c’est un
documentaire sans commentaire en voix off, ni témoignages,
sans « talking heads » comme disent les Anglo-saxons. Le film
enchaîne des morceaux musicaux, tout en respectant la chronologie et l’évolution de Tom Jobim.
L’auteur de la chanson Garota de Ipanema et d’autres tubes de la Bossa Nova se déploie devant nous
dans toute sa gamme, qui va des influences du jazz jusqu’à des compositions symphoniques
complexes et inspirées.
Le film repose sur un travail remarquable de recherche dans les archives de plusieurs pays, puisque
la Bossa Nova a rapidement essaimé, notamment aux Etats-Unis et en Europe. Les archives
américaines se révèlent d’une qualité sans pareil, avec des morceaux de bravoure de Frank Sinatra
(of course), mais aussi Sarah Vaughan, Judy Garland, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr., Dizzy
Gillespie (époustouflant) et d’autres jazzmen.
La France n’est pas en reste, avec un Henri Salvador au mieux de sa forme, dans un décor télévisuel
d’un kitsch délicieux. Les Brésiliens dominent bien évidemment, avec Tom Jobim lui-même, jeune ou
âgé, en duo d’une complicité touchante avec Elis Regina, Maysa et Nara Leão (émouvantes), Vinicius
de Moraes (le grand complice), Gal Costa, Chico Buarque, Carlinhos Brown, Milton Nascimento, tous
à l’exception hélas de João Gilberto. Plus névrosé que jamais, le chanteur de Bahia n’a pas voulu
négocier ses droits.
C’est tout un pan d’histoire qui défile devant nos yeux, le Rio de Janeiro des années cinquante, la
construction de Brasilia, l’essor de la Bossa Nova et la diversité de la musique populaire brésilienne.
C’est un Brésil heureux, vital, créatif, optimiste en dépit de tous les déboires contemporains. Le film
est un hymne joyeux à la victoire de la création culturelle sur l’obscurantisme, l’oppression et le
fatalisme du sous-développement.
Grâce à l’intelligence et à la sensibilité de Nelson Pereira dos Santos, dont le talent sur la table de
montage est légendaire, les séquences coulent de source, alternant l’émotion et l’humour, la nostalgie
et le ressourcement, les chansons intimistes et les envolées lyriques.
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Le réalisateur a tourné également un autre documentaire sur Jobim, plus classique : A Luz do Tom
(La lumière de Tom) est un portrait du compositeur basé sur les Mémoires de sa sœur Helena Jobim
et sur les souvenirs de ses épouses Thereza Hermanny et Ana Lontra Jobim.
Le distributeur Riofilme retarde la sortie en salles de ce deuxième documentaire sous prétexte qu’il
serait « trop poétique ». Le cinéma brésilien est dominé aujourd’hui par des bureaucrates, qui
prétendent satisfaire les goûts du grand public. Heureusement, Sony Pictures a compris le potentiel
de La musique selon Tom Jobim et en a acheté les droits internationaux. La bande annonce est
disponible.
TEATRO E DANÇA
O Estado de S. Paulo - Bairros paulistanos viram peças teatrais
Companhias apostam em olhar voltado para o espaço urbano para reinventar o teatro político
MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
(19/04/2012) Fazer uma arte que se pretenda engajada, que tencione ser instrumento de ação social,
de transformação política. Os anos parecem tornar a tarefa cada vez mais difícil. Como levar tal
ambição adiante em um mundo em que todas as certezas parecem ter se tornado fluidas?
Talvez o caminho esteja em substituir as respostas pelas perguntas. Distanciar-se um tanto de
macroestruturas para olhar o que está mais próximo: a cidade, o bairro, a rua em que se vive. Em seu
novo espetáculo, a Cia. São Jorge de Variedades toma esse rumo.
Com estreia marcada para o próximo dia 4, Barafonda é um mergulho do coletivo na história da Barra
Funda. Consumiu quase dois anos de pesquisa. Surge como uma montagem itinerante, que começa
à margem do Minhocão e conduz o público por cerca de 1,7 quilômetro, até chegar à linha do trem e
ao antigo Largo da Banana. "Queremos trazer as pessoas de uma maneira mais festiva, inclusive
abrindo espaço para as interferências que extrapolam a cena", comenta a atriz Georgette Fadel.
Mas esse olhar voltado para o espaço urbano não é exclusividade da Cia. São Jorge. Ao contrário.
Insinua-se em uma série de trabalhos da safra recente. No dia 27, o Teatro da Vertigem apresenta
trechos do projeto que deve estrear em junho: uma investigação sobre o Bom Retiro, foco de fluxos
migratórios dentro da cidade.
O novo espetáculo do Folias, atualmente em cartaz, também localiza-se no mesmo espectro. Em A
Saga Musical de Cecília..., o grupo reinventa seu lastro militante tematizando justamente o seu
entorno. A partir do percurso de quatro personagens, realiza um amálgama entre sua trajetória e a
história da Santa Cecília, onde está sua sede.
Refletir sobre a cidade parece ter se tornado um meio de reinventar o teatro político. Ou, ao menos,
de equacioná-lo de outra maneira. Nas relações de micropoder que regem o cotidiano existe alguma
pista para entendermos a complexidade e as contradições de uma época.
"É como se houvesse um movimento de retomada do espaço urbano, que foi retirado das pessoas",
observa a crítica teatral e professora da USP Sílvia Fernandes. "Essa questão dos condomínios
fechados, dos shopping centers, das áreas privadas. É a contra face disso que o teatro está se
mobilizando."
Folha de S. Paulo – 'Passeio-performance' mostra outros lados do centro de
SP
(19/04/12) Nos museus mundo afora, o visitante possui a opção de fazer tour com um guia de áudio.
Com o fone no ouvido, ele é informado sobre a história dos quadros e peças, de seus autores e sobre
o contexto em que foram criados.
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No Tour São Bento, projeto do núcleo Tríade que começou ontem em São Paulo, o velho guia de
áudio ganha novo cenário -o centro da cidade- e novas funções.
No caso, as informações disparadas misturam ficção a fatos da história real da cidade. E, de um
modo peculiar, também instigam um tipo de performance coreográfica -o Tríade é um núcleo de
pesquisa em dança.
O tour não se relaciona diretamente com a ideia convencional de dança, como explica uma das
coordenadoras, Mariana Vaz, 33. O objetivo é que, com os participantes em movimento pelas ruas do
centro em pleno horário de pico, "o roteiro de áudio seja também um dispositivo coreográfico", diz ela.
"Nesse percurso a gente cria uma interação física com a cidade. É um 'passeio-performance'. Vamos
propondo organizações, ritmos, movimentos, gestos, mas sem impor, de modo delicado."
Ao mesmo tempo, ao percorrer a região da rua São Bento, da Bolsa de Valores e da praça do
Patriarca, o áudio informa os participantes sobre a história de uma das regiões mais prósperas da
cidade no início do século 20, tentando transmitir o clima da época e gerar reflexões sobre o processo
de transformação urbana.
"O passeio até tem essa roupagem de tour histórico e educativo, próximo do de museus", diz Vaz.
Mas, ao jogar com a ficção e com a movimentação dos corpos na cidade, ele se torna algo distinto:
"Uma experiência sensorial, poética e artística", conclui. (MARCOS GRINSPUM FERRAZ)
Correio Braziliense – Nelson por inteiro
Um dos artífices do teatro brasileiro, Renato Borghi prepara projeto que passeia por 17 obras do autor
de A falecida
Carlos Franco
(22/04/2012) Aos 75 anos, o carioca Renato de Castro Borghi, que entrou para história da
dramaturgia nacional como o usurário Abelardo I, da montagem tropicalista de O rei da vela (1967),
assume o desafio de levar ao palco a obra do pernambucano Nelson Rodrigues, que completaria 100
anos em agosto. O teatro do autor de Vestido de noiva expõe de forma nua e crua a realidade dos
subúrbios do Rio de Janeiro, onde nem toda nudez será castigada nem toda traição será perdoada.
Dos pequenos fatos do cotidiano, surge a tragédia, a mesma que levou os gregos a criarem o teatro.
O Teatro de Arena, exatamente o palco paulistano que Borghi ocupa desde meados do ano passado,
é o local de aquecimento para o projeto dividido em duas fases e batizado de 17 X Nelson. Os
espetáculos vão levar aos palcos 17 textos do dramaturgo, alguns apenas na forma de leitura. A
direção é do especialista no teatro rodrigueano Marco Antonio Braz e do estreante e aclamado
Nelson Baskerville, autor e diretor de Luiz Antonio Gabriela, texto biográfico sobre irmão que o
molesta na infância e se torna, tempos depois, uma famosa drag queen na Espanha, até ser vitimado
pela Aids.
Em entrevista ao Correio, Borghi diz que abraçou o projeto, ao lado de seu grupo de uma dezena de
novos e jovens talentos, porque o teatro é feito de reciclagem e a renovação depende,
exclusivamente, das novas leituras e, sobretudo, dos novos no palco, trazendo uma linguagem
contemporânea e uma interpretação renovada a textos consagrados. Para o ator, os jovens
emprestam mais que talentos aos personagens, emprestam o sangue novo e a correlação com a
plateia que carece de ser renovada: “Teatro é transgressão e os jovens estão mais dispostos a
transgredir, sempre foi assim. Foi assim com o Oficina, quando eu e José Celso Martinez Correa o
fundamos em 1961”.
Depois de mergulhar nesse passado, que apontou caminhos para o teatro brasileiro com suas três
mais importantes escolas –– o TBC, das grandes e internacionais produções; e o Oficina e o Arena,
de um teatro ousado e revolucionário ––, Borghi diz estar pronto para Nelson Rodrigues. As
montagens de O beijo no asfalto, em que faz o sogro corroído pelo amor e pela negação da
homossexualidade, e de Os sete gatinhos, na qual ele aparece como o pai obcecado pela filha, são,
segundo Borghi, o melhor retrato de que o Rodrigues continua atual, e que os novos emprestam mais
ousadia ao teatro. As duas montagens devem seguir viagem, inclusive com Brasília na rota.
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"Nelson foi uma figura extraordinária, o nosso Shakespeare". Ele não é o primeiro a fazer essa
comparação recorrente. Ambos beberam na fonte das tragédias gregas, nos complexos e de Édipo e
de Electra, e os mergulharam na vida contemporânea, cada um a seu tempo. Rodrigues, que viu o
irmão ser morto por uma amante, na redação de jornal em que trabalhavam, desenvolveu uma acidez
delicada em relação aos instintos e os transpôs para os subúrbios, onde os gestos e as falas não são
contidos. E é essa incontinência verbal o que mais aproxima Borghi dos textos do dramaturgo.
Em 17X Nelson, o ator de 75 anos –– que escreveu para o amigo Raul Cortez O lobo de ray-ban e,
diante da morte deste e do pedido de Cristiane Torloni, adaptou o texto para A loba de ray-ban ––
vive as figuras ímpares de Rodrigues e o faz na companhia de novos artistas porque “a vida é sonho
e o sonho é seguir sempre em frente”. Claro que com as belas e raras derrapadas rodrigueanas no
caminho. A caravana do melhor do teatro está rua. E Borghi não se trai. É um apaixonado pelo palco
e não pede perdão, segue em frente na vida como ela é de Nelson.
Palco histórico
Formado em direito pela Faculdade do Largo de São Francisco (USP), em São Paulo, em 1960,
Borghi tinha tudo para seguir uma carreira de advogado, como sonhava a família, mas eis que
participou de um grupo amador de teatro ligado ao Centro Acadêmico 11 de Agosto e sua vida deu
uma guinada. “Queria estudar o teatro depois disso. Então busquei trabalho e o encontrei na
montagem de Chá e simpatia, de Sergio Cardoso, que era teatrão. Isso foi no Rio, em 1958. E, um
ano depois, estava eu de volta a São Paulo e pronto para a montagem de A incumbadeira, de Zé
Celso. Ao mesmo tempo estudando direito. No ano seguinte, participei de A engrenagem, de Jean
Paul Sartre, com direção de Zé Celso e Augusto Boal".
Um ano depois, para fazer frente ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), Borghi e Martinez abriram
as portas do Oficina com a intenção de encenar espetáculos da dramaturgia mais engajados e alguns
textos nacionais. Do outro lado, Boal, que o dirigira, dá início ao Teatro de Arena, que ganhará
contornos mais políticos na primeira metade dos anos 1960 pelas mãos de Gianfrancesco Guarnieri e
seu Eles não usam black-tie. A classe operária ia ao paraíso nos palcos do Arena e do Oficina.
Renato segue em frente, até que em 1967, um ano depois de um incêndio que destruiu o Oficina e
muitos dos seus sonhos, encena O rei da vela, de Oswald de Andrade. A montagem se transformou
em um marco, com ele no papel do protagonista Abelardo I, ainda que a glória se desenhasse maior
um ano depois, com a famosa encenação de José Celso para Galileu, Galilei. Desta vez, com Borghi
no papel do Papa responsável por condenar à fogueira da inquisição o homem que ousou dizer que a
Terra era redonda
O peso da ditadura, que esses grupos enfrentavam com históricas montagens, como Pequenos
burgueses e A mãe, ambas de Gorki, foi mais sentida por Borghi em 1964. "Fomos para um sítio no
interior de São Paulo, da Celia Helena, enquanto Cacilda (Becker) enfrentava os militares para
garantir a sobrevivência do teatro. Cacilda era mais que o TBC, era a mãe da classe e todos a
temiam e a respeitavam, inclusive os militares. Depois disso, voltamos e foi então um período
vigoroso".
Teatro é transgressão e os jovens estão mais dispostos a transgredir, sempre foi assim
Renato Borghi, Ator
Folha de S. Paulo – Yazbek usa depoimento pessoal para reinventar mito de
Fausto
Autor volta à cena para viver escritor em crise em "Fogo-Fátuo"
GABRIELA MELLÃO
(23/04/12) Em busca de um teatro mais relevante para si próprio e para seu mundo, Samir Yazbek
trocou a atuação pela criação dramatúrgica.
A mesma obsessão traz o autor de volta à cena 17 anos depois do afastamento. Em "Fogo-Fátuo",
espetáculo de sua autoria que estreou anteontem, o premiado dramaturgo encara os refletores ao
lado de Helio Cicero, seu parceiro na Companhia Teatral Arnesto Nos Convidou.
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O embate é fictício, mas espelha questionamentos reais. Yazbek projeta-se no mito de Fausto. Insere
angústias pessoais e reflexões artísticas ao relatar o pacto que o personagem faz com Mefisto em
troca de conhecimento.
Revisita essa história imortalizada por Goethe, Thomas Mann e Fernando Pessoa, entre outros
autores, desnudando-se por completo. "Não retorno ao palco por desejo de retomar meu trabalho
como ator, mas por perceber que a exposição era imprescindível para a criação do texto."
Sob direção de Antônio Januzelli, o dramaturgo interpreta um escritor em crise, papel que se
confunde com o dele na vida real. Sobre uma mandala (objeto ritualístico que para Jung simboliza a
luta por totalidade), questiona-se sobre sua contribuição no mundo como artista. Também mostra-se
desgostoso com os rumos atuais da arte.
MEFISTO FRÁGIL
Cicero vive um Mefisto provocador. Indaga sobre o verdadeiro talento do escritor, desdenha de seu
sucesso e o incita a escrever em vez de reclamar. Mas se revela frágil ao expor sua impotência na
contemporaneidade, quando o mal se banalizou.
Mefisto ainda se empenha em corromper almas íntegras, mas já é difícil encontrá-las. "Vocês
descobriram a possibilidade de exercerem o mal sem nenhum constrangimento e sentem prazer com
isso! Vivem num estado de hipnose, caminhando para o abismo", despeja em cena.
Para se reinscrever na vida contemporânea, a representação do mal sobre a Terra pede os serviços
do escritor.
O embate mostra-se transformador para Fausto. Coloca-o diante de seu lado mais obscuro, algo
necessário para um artista que se propõe a desvendar a alma humana em profundidade. A
descoberta se materializa na forma de um vidro que desce sobre a cena e retrata Mefisto como
espelhamento do escritor.
Para Yazbek, "é fundamental que a arte aponte o dedo na sombra do homem. Principalmente se
parecemos viver num mundo edulcorado".
Raio- X - Samir Yazbek
Origem: nasceu em São Paulo, em 1967
Principais obras: "O Fingidor" (1999), "A Entrevista" (2004), "O Invisível (2006) e "As Flores de Cedro"
(2010)
Prêmios: Shell de autor por "O Fingidor" e melhor autor da APCA por "As Folhas de Cedro"
ARTES PLÁSTICAS
Folha de S. Paulo – Bienal de São Paulo aposta na discrição
Martin Corullon, arquiteto responsável pela montagem, diz que mostra será delicada, com
retrospectivas pequenas
A 30ª edição do evento, que deve começar em setembro, quer fugir do tom espetacular e investir no
silêncio
FABIO CYPRIANO, CRÍTICO DA FOLHA
(20/04/12) Enquanto a montagem labiríntica da 29ª Bienal de São Paulo, há dois anos, denotava forte
presença da arquitetura, a expografia da 30ª Bienal, prevista para ser aberta em 7 de setembro, deve
ser marcada pela discrição.
"Esse conceito segue a linha curatorial da mostra. Será uma bienal muito delicada, na qual cada
artista tem uma pequena retrospectiva", conta à Folha Martin Corullon, 39, o arquiteto responsável
pela montagem.
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Corullon tem ampla familiaridade com o pavilhão da Bienal, projetado por Oscar Niemeyer. Ele
trabalhou lá por quatro anos, entre 1997 e 2000, no começo com a organização da 24ª Bienal
(quando conheceu Luis Pérez-Oramas, curador da atual edição), e mais adiante na Mostra do
Redescobrimento.
Em ambas, trabalhou como assistente de Paulo Mendes da Rocha, com quem colabora em outros
projetos, como o Museu de Vitória, no Espírito Santo, previsto para ser inaugurado no próximo ano.
Com a 30ª Bienal, Corullon encabeça, pela primeira vez, um projeto expográfico de grande porte
-afinal, trata-se de um pavilhão de 25 mil m². "Fazer uma Bienal é quase como fazer um projeto
urbanístico, porque se tem de pensar, por exemplo, em formas de circulação", diz o arquiteto em seu
escritório, no centro da cidade.
A pessoas próximas, Pérez-Oramas tem dito que pretende fazer uma exposição antiespetacular,
oposta ao que foi "Em Nome dos Artistas", no ano passado, que comemorou 30 anos da Bienal com
um acervo norueguês.
Na montagem da próxima Bienal, isso vai se transformar em "silêncios visuais", como define Corullon.
"O que eu gostaria é que a arquitetura fosse quase invisível", diz.
Para tanto, o arquiteto vai trabalhar com quatro níveis de paredes, as mais baixas com 2,6 metros de
altura, as mais altas, com 4,6 m.
Como o pé-direito do prédio tem 4,95 metros, a maioria das paredes deve estar mais próxima do nível
mais baixo. "Com isso, o edifício do Niemeyer vai ficar muito mais visível e presente."
Também estão previstas no projeto áreas de descompressão, onde o público vai poder descansar de
vez em quando, já que o percurso da bienal é extenso. Há quatro anos, com um andar sem obras,
criou-se a "Bienal do Vazio". Se a montagem concretizar aquilo que Corullon diz, a próxima pode ficar
conhecida como "Bienal do Silêncio".
Agência de Notícias Brasil – Árabe - Exposição mescla temas árabes e
brasileiros
Centro Cultural Árabe Sírio realiza a mostra 'O Brilho da Arte Árabe no Brasil', da artista Garcia Saad
Calado. Exposição abre dia 26 de abril e a entrada é gratuita.
Aurea Santos
Artista retrata mulheres árabes
Dança é um dos temas das obras
(23/4/2012) O Centro Cultural Árabe Sírio realiza a
exposição "O Brilho da Arte Árabe no Brasil", com 13 telas da artista plástica Gracia Saad Calado. A
mostra tem início no dia 26 de abril, ficará aberta por 20 dias e a entrada é gratuita.
Saad é filha de pai sírio e mãe brasileira. Nascida em São Paulo, ela conta que descobriu seu talento
para as artes na infância, fez curso de ilustração, começou pintando porcelanas e, desde 1993,
dedica-se exclusivamente à pintura de telas.
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Em suas obras, ela mescla temas árabes e brasileiros. "Pintei a Amazônia, as plantas brasileiras, há
uma índia também", conta sobre os quadros que serão expostos. "Nos temas árabes, há mulheres
fazendo compras, mulheres embaixo de uma tamareira e também dançando dabke".
A dança, aliás, é um de seus principais interesses. "Minha família sempre foi muito alegre, meu pai
dançava dabke quando eu era pequena e eu dançava com ele. Sempre cultuamos a dança", diz. Aos
67 anos, Saad já teve suas obras expostas em países como Itália, Estados Unidos e Espanha. As
telas em exposição no Centro Cultural poderão ser comercializadas.
Folha de S. Paulo – Longe dos olhos
Retrospectiva de Ernesto Neto no México joga luz sobre carência de espaços para individuais de
grande porte no Brasil
Obra do carioca Ernesto Neto no Antiguo Colegio de San
Ildefonso
FERNANDA MENA
(24/04/12) "O Brasil não faz, mas o México
fez", brincava o carioca Ernesto Neto nas
últimas horas de montagem da mostra
panorâmica de seus 25 anos de produção
artística, aberta no último domingo na capital
mexicana.
A brincadeira, no entanto, revela um
desencanto comum entre artistas brasileiros
contemporâneos:
reconhecidos
internacionalmente, eles são objeto de
grandes exposições na Europa, nos Estados
Unidos -e recentemente também no México- que não chegam ao Brasil.
"São muitos os artistas brasileiros que tiveram suas primeiras grandes mostras panorâmicas fora do
Brasil, como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, Lygia Pape e, agora, Ernesto Neto", enumera
Adriano Pedrosa, curador da mostra mexicana "La Lengua de Ernesto Neto" (a língua de Ernesto
Neto).
Ele reuniu mais de cem obras (esculturas, instalações e desenhos), algumas inéditas, em 2.000
metros quadrados do Antiguo Colegio de San Ildefonso, espaço mantido pelo governo federal num
edifício do século 18, no centro da Cidade do México.
"Foi emocionante revisitar trabalhos meus nunca expostos e que são muito importantes para a
construção da minha linguagem", diz Neto. "De certa forma, minha história está nesta mostra."
São peças de grande proporção, que necessitam de espaços generosos -predicado que falta às
instituições do eixo Rio-São Paulo. Atualmente, poucas poderiam hospedar uma mostra dessa
magnitude. E aquelas que dispõem de espaço raramente o dedicam a um só artista.
Daniel Roesler, diretor da galeria Nara Roesler, frisa que a produção nacional atual sempre se
destaca em eventos internacionais de arte, como a feira mexicana Zona Maco, encerrada anteontem
na Cidade do México. Mas, opina, "parece que o circuito institucional de arte no Brasil não tem
acompanhado a vitalidade dos artistas do país".
A ausência de mostras mais amplas desses artistas no país poderia ser parcialmente suprida pela
presença de suas obras em acervos com acesso público permanente.
Museus como o MAM-SP têm obras importantes de brasileiros contemporâneos, mas não a área
requerida para sua exibição permanente.
"Hoje, quem quiser ver Ernesto Neto, Helio Oiticica ou Cildo Meireles no Brasil tem que ir a Inhotim",
diz Alessandra D'Aloia, vice-presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea.
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A instituição privada em Brumadinho (60 quilômetros de Belo Horizonte) dá acesso público e
permanente a obras importantes desses nomes.
"O Brasil tem muito a aprender com o México, onde colecionadores milionários criaram fundações
para expor suas obras publicamente, como a coleção Jumex, a mais importante da América Latina
hoje ", avalia a galerista Maria Baró, também presente à Zona Maco.
"Falta essa consciência aos colecionadores de São Paulo. Abrir suas coleções é formar
público, artistas e curadores para o mesmo mercado que lhes interessa", conclui.
Folha de S. Paulo – Artes Plásticas: ABCA anuncia lista de premiados de 2011
(25/04/12) Sérgio Lucena foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Arte o melhor artista
contemporâneo, enquanto Yara Tupynambá recebeu um prêmio por sua trajetória artística.
A melhor mostra foi a de Joaquín Torres-García, que esteve na Fundação Iberê Camargo e na
Pinacoteca do Estado.
FOTOGRAFIA
O Estado de S. Paulo - Obra de Berzin é resgatada no Recife
Artista lituano radicado no Brasil deixou um legado fotográfico relevante antropologicamente
(19/4/2012) JOTABÊ MEDEIROS - Em 1927, aos 24 anos, desembarcou do navio Attika em Belém
do Pará o jovem Alexandre Behrsing, cidadão da Letônia, destinado a trabalhar na casa fotográfica do
italiano Filippo Fidanza. Mas o ambicioso rapaz tinha outros planos e, um ano depois, estabeleceu-se
no Recife com a ideia de abrir o seu próprio estúdio.
Imagem do livro 'O Álbum de Berzin'
No Recife, os cidadãos da metrópole emergente o chamariam de Berzin, para facilitar a pronúncia (ou
simplesmente Galego, por causa dos olhos claros e o cabelo liso). Em 51 anos de atividade no
Recife, onde morreria, Alexandre Berzin (1903-1979) deixou um legado fotográfico tão relevante
quanto o de um Pierre Verger, pela investigação cultural e antropológica (Verger também fotografou o
Recife no mesmo período, especialmente em 1947), mas sua obra estava praticamente
desconhecida. Até agora. O lançamento, esta noite, no Museu da Cidade do Recife (Forte das Cinco
Pontas), do livro O Álbum de Berzin, de Fabiana Bruce da Silva (Cepe Editora, 251 páginas, R$ 60),
vai causar certo frisson entre os observadores da arte de fotografar.
Por meio da fotografia, continuamos vivos depois de mortos, dizia Berzin. A organizadora do livro,
Fabiana Bruce da Silva, reconhece nas fotos de Berzin uma erudição sofisticada, que a leva a citar
Marc Ferrez, Auguste Stahl e Alberto Henschel em alguns dos trabalhos. Suas imagens ele as colheu
em um trabalho de campo, indo do Cais do Porto à zona rural de Pernambuco, e inventariam uma
sociedade em mutação, uma arquitetura em ruínas e outra em construção, folguedos populares,
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maracatus, sombras de dançarinos de frevos, vaqueiros e caipiras, estivadores e pescadores, corsos
carnavalescos e farras circenses. Foi ao mar e ao sertão.
Fotografia de pressupostos modernos, a obra de Alexandre Berzin registrou também a tentativa
europeia de se dotar Pernambuco de um senso antiprovinciano, com as novas concepções
arquitetônicas que espocavam (exemplo da art déco) como a Art-Palácio, do arquiteto Rino Levi, até
obras como o Cine-Teatro Santa Rosa, em Caruaru, em cuja foto de Berzin parece se reproduzir
alguma parte de Miami Beach.
Recife tinha 300 mil habitantes àquela altura (hoje, cerca de 4 milhões). "Seu vasto arquivo de
fotografias, seus álbuns nos mostram um 'caçador de imagens' leal às coisas como elas insistiam em
se apresentar", escreve Fabiana Bruce da Silva.
Berzin teria estudado engenharia industrial e fotografia em Dresden, Alemanha, antes de vir para o
Brasil. "É importante acentuar que, na visão da época em Pernambuco, visão que pode se estender
inclusive até o tempo presente, o fotógrafo estaria mais próximo do operário de fábrica, entendido
como mais um dos itens da engrenagem industrial do que do pensador e intelectual moderno."
Mas Berzin não se enquadrava nessa perspectiva. Tinha como modelo a obra de Henri CartierBresson (1908-2004), e conhecia também o trabalho de Alexander Rodchenko e André Kertèsz, além
dos brasileiros Thomaz Farkas (1924-2011), German Lorca e Eduardo Salvatore (1914- 2006). Seus
contemporâneos o enquadraram na categoria de "camera conscious", ou seja, aquele que tem
consciência de sua arte e não se deixa dominar pelo aparelho, pela máquina.
Um de seus alunos em Pernambuco disse dele que foi "o profissional mais amador da fotografia no
Recife", o que ilustrava sua característica principal, a liberdade, a tentativa de não se deixar
apreender em uma fórmula ou uma contingência profissional. "Uma boa fotografia não se faz por si,
mas deve ser obtida com sentimento", disse Berzin.
Fabiana Bruce o considera o fotógrafo mais atuante na cidade do Recife em meados do século 20.
Para a seleção do livro, escolheu um grupo de fotos que considera oferecer "elementos de acesso à
memória da fotografia em Pernambuco". O material não destaca muitas fotos daquelas que traem
uma grande interferência do artista na composição da fotografia; foca principalmente em sua
capacidade de observação.
"A fotografia é como um tapete mágico. Leva-nos a toda hora a toda parte, aos pés do amigo
ausente, ao ambiente das paisagens saudosas", disse o fotógrafo Alexandre Berzin. "Este milagre
dos homens foi conseguido à custa de muitos sacrifícios, de muitos desesperos, de muitas noites mal
dormidas, de muitas horas de ansiosa expectativa. É sempre por esse preço que o homem arranca os
segredos da natureza".
MÚSICA
Folha de S. Paulo – Osesp anuncia concertos internacionais
(20/04/12) A Osesp inicia em agosto sua turnê internacional 2012. Sob o comando da regente Marin
Alsop e tendo como convidados o pianista Nelson Freire e o violoncelista Antonio Meneses, a
orquestra se apresenta em algumas das mais importantes salas da Europa, como o Royal Albert Hall,
em Londres.
Estado de Minas – Tem rabeca no blues
O cearense Artur Menezes mistura a tradicional música norte-americana com a sonoridade
nordestina. Baião, triângulo e pandeirola se juntam ao fraseado da guitarra em Early to marry
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Artur Menezes já tocou com Buddy Guy em Chicago. Mês
que vem, ele vai abrir os shows brasileiros do mestre
Eduardo Tristão Girão
(20/04/2012) Não custava tentar. Quando
morou nos Estados Unidos, o guitarrista
cearense Artur Menezes, de 26 anos, teve a
honra de contar com canja de Buddy Guy no
bar que o norte-americano mantém em
Chicago. Mês que vem, a lenda do blues
norte-americano virá ao Brasil para dois
shows em maio – no Rio de Janeiro, dia 11; e
em São Paulo no dia 12 – e a banda do
brasileiro será responsável pelas aberturas. A produção de Buddy gostou do trabalho enviado pelo
jovem, que mistura blues e música nordestina.
“Será maravilhoso fazer esses shows, pois ouço Buddy Guy desde os 11 anos. Tirava as músicas na
guitarra e tocava junto com o disco. Quando estive no palco com ele, foi uma emoção muito grande. É
um dos meus ídolos e gosto só de sua técnica na guitarra, mas do conjunto. Ele coloca sentimento na
música de uma forma que ninguém faz”, afirma Artur.
Guitarrista desde os 12 anos, ele estudou música na Universidade Estadual do Ceará. Morou em
Chicago, onde participou de jam sessions com diversos músicos, e gravou dois discos com a banda
norte-americana The Shakes. De volta ao Brasil, integrou o projeto Harmônicas Mercoblues.
Para difundir a cultura desse gênero musical entre os cearenses, idealizou com parceiros o projeto
Casa do Blues, com shows semanais gratuitos. Ele participou de todas as edições do Festival de Jazz
& Blues de Guaramiranga (CE).
Triângulo
Early to marry, faixa-título de seu único disco, lançado em 2010, é a composição com acento musical
nordestino mais evidente. A fusão de gêneros foi espontânea, lembra Menezes: “Queria algo bem Bo
Diddley, com aquela percussão característica. Colocamos triângulo, pandeirola e rabeca numa levada
criada pelo baterista, com algo de baião. O fraseado de guitarra, meio nordestino, saiu naturalmente”.
Distribuído pela Tratore, o CD foi gravado em Fortaleza (CE) e traz nove faixas nas quais o guitarrista
estabelece conexões entre o blues e outros gêneros, como soul, rock, funk e baião. A propósito, o
hábito de ouvir Luiz Gonzaga começou na infância. O interesse de Artur por música começou por
influência da mãe, Lúcia Menezes, cantora de MPB. O gosto por blues ele deve ao irmão, fã de rock.
Artur tem outras músicas dessa mesma linhagem – o suficiente para um disco inteiro, revela –, mas
acredita que ainda não é hora de lançá-las. “Talvez quando dominar melhor o português para fazer
letras, pois ainda acho mais fácil escrever uma boa canção em inglês. A poesia brasileira é
maravilhosa, mas se sigo a métrica do blues com nossa língua, a letra não fica bem encaixada”,
explica.
Correio Braziliense – Mascate da música
Em divulgação de álbum gravado no Circo Voador, no Rio, o músico Maurício Baia quer levar seu
rock abrasileirado para todo o mundo
Gabriel de Sá
(22/04/2012) Não tem sido fácil encontrar o músico Maurício Baia. Entre março e abril, ele passou 12
dias nos Estados Unidos e oito na França. No primeiro, tocou em Miami e no Miss Favela, botequim
brasileiro no bairro do Brooklyn, em Nova York. Na temporada francesa, participou do festival Bebel
Med Music, em Marselha, e ampliou seus contatos com produtores e agenciadores de artistas,
visando apresentações para o próximo verão europeu. “Por onde passo, eu interajo”, conta. Há
menos de duas semanas, rodou quatro cidades baianas com o grupo 4 Cabeça. Divulgando o
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trabalho Baia no Circo desde 2010, ele deve retornar a Brasília no fim de maio, após ter tocado no
Arena Futebol Clube em novembro passado. Londres, em junho, é um dos próximos destinos.
Tantos compromissos fazem parecer que Baia é um novato, recém-alçado ao estrelato. Mas o cantor
e compositor de 38 anos está na estrada há duas décadas. O CD e DVD Baia no Circo, gravado no
tradicional Circo Voador, no Rio de Janeiro, é um retrospecto dos 20 anos de palco.
É na sonoridade, contudo, que Baia mostra a que veio. Uma mistura de iê-iê-iê à jovem guarda com
ritmos nordestinos e letras ao mesmo tempo debochadas, áridas e descritivas, dão o tom de grande
parte de suas canções. “Não são músicas comerciais, elas não têm esse ímpeto”, acredita. “Eu não
me considero ‘fácil, extremamente fácil, pra você e eu e todo mundo cantar, junto’, apesar de ter uma
legião de pessoas que cantam nos shows”. Segundo o baiano — criado em Pernambuco e residente
no Rio há 25 anos —, seu som é um “rock devorado pela MPB”. A tripla origem lhe rendeu influências
dos três lugares.
Baia no circo foi o primeiro trabalho ao vivo do músico, que já havia lançado cinco álbuns antes.
“Este, talvez, tenha sido o mais fluido, o mais bacana. O público lotou a casa”, alegra-se. Ligado à
distribuição independente, ele teve o respaldo da Som Livre na última empreitada. No coletivo 4
Cabeça, que se junta de vez em quando, ele tem a companhia dos músicos Luis Carlinhos, Rogê e
Gabriel Moura. O quarteto venceu o Prêmio da Música Brasileira como melhor grupo de MPB em
2010. Com o Rockboys, gravou três álbuns entre 1995 e 2001.
Em Brasília, Baia já passou pelo Porão do Rock e se apresentou no UK Brasil e no Feitiço Mineiro.
Da cidade “miscigenada”, ele destaca a amizade com integrantes do Natiruts e do In Natura. Nos
últimos cinco anos, participou de diversos festivais europeus na França, na Espanha, em Portugal e
em Alemanha. “Estou finalizando um disco de poemas curtos e quero lançar um disco de voz e violão
até o fim do ano, com a maioria das canções inéditas”, adianta o inquieto Baia.
Zé Ramalho é um dos convidados do último disco. O encontro do paraibano com Baia tem,
curiosamente, Bob Dylan como mote. Zé, quando estava prestes a gravar um álbum dedicado a
Dylan, ligou para Baia pedindo a versão que este havia feito para Tombstone Blues, que aqui virou
Rock feeling good. Ramalho gravou esta e uma versão de Thing have changed, batizada de Tá tudo
mudando por Baia, e que deu nome ao disco do paraibano — é esta a canção que os dois dividem no
álbum do Circo Voador.
O Estado de S. Paulo - Mart'nália lança álbum com mais pop e menos samba
Roberta Pennafort
(23/04/2012) Seis CDs com mais ou menos os mesmos ingredientes, agenda concorrida de shows
pelo Brasil e o mundo, praticamente uma unanimidade entre os fãs de samba, Mart''nália agora quer
"fazer outro som, pegar mais pela melodia do que pelo ritmo". Em "Não Tente Compreender" (Biscoito
Fino), o CD que está chegando às lojas e que já toca nas rádios, se ouvem teclado, baixo, violão,
guitarra, sopros. "Mudei de poesia e fui para o pop, sem cuíca, pandeiro e tamborim", ela avisa, em
seu texto de agradecimento.
Depois de uma sequência de trabalhos com "a galera de Vila Isabel", calcados na percussão (era um
quarteto dedicado ao batuque) e com as cordas do samba, a cantora achou que precisava deixar a tal
zona de conforto. "Era tudo lindo e gostosão, mas às vezes, desgastante. Eu já entrava com o jogo
ganho."
Pensou logo em Djavan, a quem já havia gravado e de quem admira "o jazz" e o "djú-bidjú-bidjú". "O
Dija tem essa melodia que vai para aquele lado que a gente não pensou. Para mim, é um sambista.
Se eu posso brincar de outra coisa, posso errar pra caramba, mas vou brincar."
E quem resiste a Mart''nália? A voz mansa, a boa-pracice herdada de Martinho, a risada a toda hora,
a despretensão, a molecagem. Djavan até tentou, mas não resistiu - foi preciso persegui-lo depois de
shows para convencê-lo. "Me dirige aí!", pedia. "Eu estou me divertindo bastante, é supergratificante.
É bem diferente da minha rotina. Martina é ótima e talentosa. A gente conversou muito, as ideias
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coincidiram. Tudo foi colocado de maneira amorosa e simples", contou Djavan nos depoimentos dos
bastidores.
"Não Tente Compreender" é um "disco de amor", sem as letras provocativas e malandras de CDs
anteriores, que falavam de flertes e noitadas ("Chega", "Cabide", "Tava Por Aí", "Ela É Minha
Cara"...). Mart''nália pediu e recebeu músicas de um grupo de notáveis: Marisa Monte, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Nando Reis, Lula Queiroga, Ivan Lins (que virou parceiro). De Adriana
Calcanhotto, finalmente gravou "Vai Saber", o samba feito para ela há seis anos, mas registrado
primeiro por Marisa porque o CD com a música entregue pela gaúcha se perdeu. "Fiquei morrendo de
vergonha, esperando o disco da Marisa sair para aprender a música", lembra, marota, sempre o
sorriso branco.
É das poucas levadas de samba (com piano, violão, bandolim e um resquício de percussão) entre as
14 faixas. Outra é a solar "Itinerário", de Max Viana, filho e "representante" de Djavan entre os
compositores. "Zero Muito", de Nando, que trata do velho amor não correspondido, pode ser um
momento surpresa do show, a ser dirigido por Guilherme Leme e Marcia Alvarez, produtora executiva
do CD, com luz de Ney Matogrosso (dia 12/5 no Vivo Rio; 17/5 no HSBC Brasil): a percussionista
Mart''nália, que toca violão só na hora de compor, ensaia para tocar guitarra em cena.
Estado de Minas - Dia de chorões
Grupo mineiro mostra a proximidade do chorinho com a música erudita. A apresentação de hoje à
noite, no Conservatório UFMG, comemora ainda o aniversário do mestre Pixinguinha
O grupo Choro de Minas vai recriar clássicos como Naquele tempo, Já te digo e Proezas de Sólon.
Eduardo Tristão Girão
(23/4/2012) Comemorado hoje, para coincidir com a data de nascimento de Pixinguinha, o Dia
Nacional do Choro não vai passar em branco graças ao grupo Choro de Minas, que se apresenta, às
20h, no Consertvatório UFMG, em Belo Horizonte. O repertório é exclusivamente baseado em temas
compostos pelo aniversariante, como Naquele tempo e Já te digo.
“Como teoricamente teremos público que conhece bem o choro, pensamos em privilegiar a
diversidade existente na obra de Pixinguinha. Todas as músicas que escolhemos são lindas, só que
algumas são menos executadas que outras”, afirma Marcos Flávio, trombonista do Choro de Minas.
Por esse motivo, pinçaram temas como Acerta o passo, Proezas de Solon e o baião Vem vindo.
Formado por Marcos, Sílvio Carlos (violão de sete cordas), Dudu Braga (cavaquinho) e Ramon Braga
(percussão), o grupo Choro de Minas surgiu em 2005 com o objetivo de divulgar o trabalho solo do
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trombonista, Chorobone, lançado naquele ano. Entretanto, hoje ele atua de maneira mais ampla e
tem no repertório choros de vários compositores. Inclusive temas eruditos para essa formação bem
brasileira.
“O choro é muito respeitado no meio erudito”, afirma Marcos Flávio. “Uma das principais
características dele é o virtuosismo; são muitas notas. O choro é um mistério, pois abarca várias
formações, admite todo tipo de arranjo e se comunica com outros gêneros. Ele nasceu inclusive como
maneira de tocar outros gêneros. Influenciado pela polca, lundu e modinha portuguesa, passou a ter
forma padronizada de composição e assim tornou-se gênero musical.”
SAIBA MAIS
Mestrado
Professor da escola de música da Universidade Federal de Minas Gerais, Marcos Flávio é também
pesquisador de choro. Em 2005, defendeu na instituição a dissertação de mestrado “O choro em Belo
Horizonte: Aspectos históricos, compositores e obras”, na qual documenta a evolução do gênero na
capital mineira. Apesar de ainda não ser uma tradição centenária na cidade, é possível dizer que há
produção regular de grupos e compositores ligados ao choro, avalia ele.
Estado de Minas - A vida até parece uma festa
Jota Quest lança Folia & caos, que será exibido domingo no Multishow e chega às lojas no mês que
vem. Programa traz trechos de shows e cenas dos animados bastidores da banda
Mariana Peixoto
No estúdio da banda, Minério de Ferro, no Belvedere, o baixista PJ, o vocalista Rogério Flausino, o baterista Paulinho Fonseca
e o guitarrista Marco Tulio Lara
(24/4/2012) Cena 1: Visivelmente impressionado com a recepção, Lenine pergunta se toda vez que
toca o Jota Quest promove aquela festança (bebidas, amigos e música alta) no camarim pós-show.
Cena 2: Sem disfarçar a ansiedade, Rogério Flausino mostra apreensão antes de subir ao palco do
Rock in Rio. Marco Túlio Lara tenta relativizar, falando que o que a banda vai fazer em frente àquelas
100 mil pessoas não é muito diferente do vem fazendo até então.
As duas situações ocorreram em 2011, ano em que o Jota Quest fez 120 apresentações. Pelo menos
20 delas tiveram um caráter especial. Comemoraram os 15 anos do quinteto de Belo Horizonte em
festas-show que rodaram as principais capitais do país. Todas com convidados especiais, que
cantaram com a banda músicas não necessariamente do repertório do Jota. O clima é de
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comemoração pura. No entanto, o tom de descompromisso é mero disfarce, já que não se constrói
uma história que está chegando para os 16 anos sem levar as coisas a sério.
É nessa linha tênue que se desenrola Folia & caos, CD, DVD, blu-ray e programa de TV do Jota
Quest. Neste domingo, o Multishow exibe o especial, dirigido por Joana Mazzucchelli e Daniel Ferro,
e com produção musical de Marcelo Sussekind. Em maio, disco e DVD chegam às lojas. Em junho,
será a vez do blu-ray. Todos antecedem nova turnê da banda, que estreia em 23 de junho no
Credicard Hall, em São Paulo. Há alguns shows marcados. Em Belo Horizonte, o Jota se apresenta
no segundo semestre. Data e local não foram fechados.
Foi no mesmo Credicard Hall que a banda fechou a turnê, em 2 de dezembro. É esse registro de
show que costura a narrativa. No repertório (nove músicas no programa; 16 no CD; 22 no DVD; e
algumas outras mais no blu-ray) há Maria Gadú interpretando Mais uma vez (uma das quatro faixas
inéditas); Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá tocando em Tempo perdido; Erasmo Carlos em Vem
quente que eu estou fervendo; Seu Jorge em Ive Brussel; Ney Matogrosso em Pro dia nascer feliz;
Marcelo Falcão em Me deixa.
“O começo disso foi a coletânea 15, que lançamos ano passado. Não poderíamos correr o risco,
nesse novo projeto, de nos repetir. Quisemos incluir músicas que tivessem algum frescor”, explica o
guitarrista Marco Túlio a respeito da seleção do repertório. Com esse critério, poucos hits do Jota
estão no registro (Só hoje, De volta ao planeta, Do seu lado e Na moral). As novidades, além do
single Mais uma vez, são Tudo está parado, letra que Humberto Gessinger deu para Rogério Flausino
depois de uma longa noite de bate-papo em Porto Alegre; Quantas vidas você tem, regravação de
uma canção de Paulinho Moska, e Beijos no escuro.
Ainda que tenha um show permeando a narrativa, o projeto não é mais um registro do gênero (o
quarto da banda depois dos DVDs gravados em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre).
Mistura cenas de bastidores, conversas, depoimentos dos músicos e, principalmente, momentos dos
principais shows que o Jota fez ao longo do ano passado. “Em 28 de abril do ano passado, fizemos
uma festa de lançamento do projeto 15 anos no Rio. Faltando uma semana para ela, pensamos que
poderíamos filmar, pois tínhamos convidado um monte de gente. E a melhor maneira de se convidar
alguém é também chamar para cantar. A galera começou a ir, não tinha nem ensaio, e assim foi.
Depois que fizemos uns cinco show, achamos melhor filmar direito”, conta Flausino.
Diante disso, um material enorme foi gravado. E são esses momentos alguns dos melhores do
projeto. São registros curtos, com edição ágil, como é praxe em projetos do gênero. Nem tudo pode
ser aproveitado. As participações de Paulo Miklos, Sandra de Sá e Humberto Gessinger, por
exemplo, tiveram problema no áudio. Dessa forma, só trechos curtos aparecem.
O Jota Quest nunca escondeu o lado festeiro. O camarim da banda é quase um personagem do
projeto, como Marco Túlio explica: “A gente sempre deixou claro que não é só ir e fazer um show.
Show não é serviço. Se fizéssemos cinco por ano tudo bem, mas quando você tem uma agenda mais
robusta, tem que haver todo um ritual. Estamos sempre cercados dos amigos e a produção que
aparece, que é bem simples, só tira o aspecto de sala de dentista que um camarim tem. Se o
camarim virou um personagem, é porque o alimentamos.” Flausino complementa: “Ele é nossa
válvula de escape por tocar em todas as sextas e sábados, que são dias em que as pessoas estão se
divertindo.”
Baixo Augusta
O clima de festa continua. Hoje à noite, o Jota Quest estará em São Paulo lançando o programa Folia
& caos, que vai ganhar exibição em cinema, em evento somente para convidados. De lá, banda e
amigos seguem para a Rua Augusta, para show no espaço Beco 203.
Aquele abraço
Otto, Ney Matogrosso, Pepeu Gomes, Milton Nascimento, Hyldon, Lenine, Nando Reis, Marcelo
Camelo, Pitty, Erasmo Carlos – a lista de convidados que passaram pelos shows de 15 anos do Jota
Quest é enorme. Todos são nomes que aparecem, em uma cena e outra, em Folia & caos. De Minas,
só dois nomes: Sideral, irmão de Flausino, e o DJ Roger Dee, que há anos acompanha a banda.
Faltou gente daqui, não? Eles admitem que sim. Fernanda Takai foi convidada para o show que o
grupo fez em BH e não pôde ir. O Skank também não conseguiu conciliar agenda. “Não houve
oportunidade, porque vontade não faltou”, diz Marco Túlio. Para Flausino, o fato de tantos músicos e
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cantores de trabalhos tão diversos terem topado participar deu um novo gás na banda. “Acho que
com essa turnê a gente remoçou e ganhou confiança. Receber abraço e elogio é muito bom.”
Folha de S. Paulo – Festival "resistente" reúne 30 mil em PE
Balanço de três dias do Abril Pro Rock confirma vigor do evento de Recife, que projetou nomes como
Los Hermanos
Portugueses do Buraka Som Sistema fecharam a última noite, que teve Nada Surf, Antibalas, Otto e
Mundo Livre S/A
RODRIGO LEVINO
(24/04/12) "Nós cumprimos o papel de resistência". A frase do produtor Paulo André Pires, 44, em
entrevista à Folha nos instantes finais do Abril Pro Rock, serve de baliza para avaliar os shows que
comemoram 20 edições do festival.
Desde que foi criado, em 1993, dando suporte a um grupo de artistas que mais tarde enriqueceriam a
música com o movimento mangue beat, o APR se notabilizou como o festival mais importante do
Nordeste.
Nos dez anos seguintes, revelou Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Los Hermanos e
deu maior visibilidade ao Farofa Carioca, de onde saiu Seu Jorge.
Passadas duas décadas, tendo se moldado às mudanças de público e de parâmetros da indústria
fonográfica que, capenga, não oferece há tempos condições de dar suporte aos novos grupos como
os então alçados pelo festival, o APR sobrevive e bem.
"Quando começamos, não tínhamos apoio de rádios, TVs, de nenhum meio de difusão em massa.
Continuamos sem, mas sobrevivemos porque há demanda. Muito embora ela seja reprimida pela falta
de apoio desses meios", lamentou Pires. Mas não a ponto de se abater. Este ano, apesar de ter
enfrentado a concorrência dos shows do ex-beatle Paul McCartney e do cantor Chico Buarque, que
se apresentavam no Recife, o festival levou quase 30 mil pessoas ao Chevrolet Hall em três dias.
Um número eloquente. Desses que fazem supor que outros 20 festivais não são assim, como era em
1993, um projeto impensável.
SISTEMA ALTERNATIVO
Para as cerca de 2.000 pessoas que resistiram à maratona de shows do terceiro dia do festival, os
portugueses do Buraka Som Sistema fizeram uma apresentação poderosa.
Expoente do kuduro, gênero musical de origem africana, a banda fez o público vibrar em estado de
celebração. Destaque para a performance da vocalista Blaya, uma espécie de Rihanna do kuduro.
Além do Buraka, os americanos Nada Surf e Antibalas, e os pernambucanos Mundo Livre S/A e Otto
foram as grandes atrações da noite.
Desses, o Nada Surf parecia deslocado. Ainda assim, fez um show e tanto, com destaque para
canções como "Always Love" e "Popular".
Tocando em casa e no festival que os revelou, Mundo Livre e Otto não poderiam estar mais à
vontade.
A banda de Fred 04 lançou mão de um punhado de grandes músicas como "Meu Esquema", "Musa
da Ilha Grande" e a recente "Ela é Indie".
Ao passo que Otto, despojado, empolgou a plateia com um "set list" que fez um apanhado de sua
carreira.
Tudo isso, no entanto, pareceu ensaio para a pedrada sonora que foi o show do Buraka. É aguardar
que eles sejam, para sorte do público, atrelados à moda do gênero que está em curso no Brasil.
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Valor Econômico - Nelson Freire retoma a música brasileira
Por João Marcos Coelho
O pianista Nelson Freire, que se apresenta em SP com a Orquestra
Nacional Russa para as comemorações dos cem anos da Sociedade de
Cultura Artística.
(24/04/2012) Com seus rituais engessados em fórmulas
vigentes há cerca de dois séculos, a vida musical clássica
costuma reprimir qualquer gesto espontâneo - ou
improvisado - dos que a praticam, seja na sala de
concertos, seja no estúdio de gravação. Dogmas do tipo
"músico não fala, toca". Como as agendas são
preenchidas com dois e até mais anos de antecedência, os
repertórios são decididos com igual distância cronológica. Todo músico precisa curvar-se a estas
práticas, mesmo que não as aprove. As exceções são raras, raríssimas - e acontecem quando o
intérprete atinge um tal nível de prestígio internacional que ninguém tem coragem de "enquadrá-lo".
Uma destas exceções é o pianista brasileiro Nelson Freire. Aos 67 anos, desfruta de inteira liberdade.
E a exerce plenamente. Anos atrás, num recital no Auditório Ibirapuera, ele tocou alguns compassos
de uma peça previamente programada; parou abruptamente e avisou que não estava no "mood" para
aquela obra e anunciou à distinta plateia que iria tocar outra. Freire não faz isso habitualmente. Mas
não abre mão desse direito.
Uma liberdade que também é pedra de toque de seus gostos pessoais. É o prazer que o guia. Um de
seus prazeres, por exemplo, é escarafunchar os filmes clássicos - é um cinéfilo de olho no passado.
"Acabo de descobrir, imagine, 'O Cangaceiro'. Estou revendo todos os dias, é uma delícia", diz Freire.
O filme, de 1953, é considerado o melhor da lendária Vera Cruz e tem gemas como Vanja Orico
cantando "Muié Rendera" acompanhada pelos Demônios da Garoa.
Sabe o que é entrar num estúdio em Londres, com um batalhão de profissionais e uma infraestrutura
pesada, para gravar um CD para a Decca? Tudo é minuciosamente planejado, do repertório à
minutagem, do "mix" concebido para ampliar ao máximo as possibilidades de sucesso junto ao
público. Pois Nelson Freire, que abre hoje e amanhã, ao lado do maestro José Serebrier e Orquestra
Nacional Russa, a temporada dos cem anos da Sociedade de Cultura Artística na Sala São Paulo,
confessa ao Valor: "Comecei a tocar e fui desfiando uma série de peças que habitam meu universo
desde a infância". Trata-se do CD "Villa-Lobos and Friends", que ele gravou em março passado e
será lançado pela Decca, sua gravadora exclusiva há uma década, em agosto.
É seu oitavo CD para a Decca (Freire é um dos raros músicos clássicos com contrato de
exclusividade com uma grande gravadora) e o primeiro onde explora a música brasileira para piano.
Um roteiro personalíssimo, recheado "de peças que frequentaram meu imaginário ainda criança no
interior de Minas Gerais", diz o pianista. "Cançõezinhas deliciosas como 'A Canoa Virou', 'A Maré
Encheu' e a 'Valse Elegante' que eu tanto toquei ainda menino." As duas primeiras são de VillaLobos; a terceira, de Francisco Mignone.
O CD é uma autêntica brasiliana, um buquê de peças curtas e cheias de nosso DNA, onde destacamse, claro, as obras de Villa-Lobos: as sete peças do "Carnaval das Crianças", a "Alma Brasileira"
(choros nº 5), a "Valsa da Dor", "Saudades das Selvas Brasileiras", "Lenda do Caboclo", algumas
Cirandas e "New York Skyline", uma das mais curiosas composições de Villa-Lobos, onde ele
reproduz na melodia o contorno dos arranha-céus nova-iorquinos. Henrique Oswald, Lorenzo
Fernández, Alexandre Levy, Barrozo Netto e Claudio Santoro completam o CD. "Gravei mais de 30
peças, abandonei algumas previamente planejadas, acrescentei outras, ao sabor das minhas
lembranças", diz. "Com o CD com peças de Liszt, do ano passado, aconteceu a mesma coisa; mudei
o repertório no estúdio, no momento da gravação."
Ele só não foge do planejamento quando toca com orquestra. Como hoje e amanhã, com a Orquestra
Nacional Russa, regida pelo experiente maestro uruguaio José Serebrier. O grande destaque, claro,
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será curti-lo solando o concerto nº 20 em ré menor, catálogo Koechel 466, obra que já apresenta em
germe o núcleo do romantismo que dominará a música das décadas seguintes. Basta ouvir com
atenção a memorável melodia da "Romanze". Não por acaso, este era o concerto preferido de
Beethoven, entre os 27 que ele escreveu. "Mozart tem um não-sei-quê de criança misturado com
plena maturidade que me seduz particularmente", diz Freire (cujo preferido, entre os 27, é o
"Jeunehomme", o concerto nº 9, composto ainda em sua Salzburgo natal em 1777).
Entre as novidades da agenda do maior pianista brasileiro da atualidade há um retorno, depois de 18
anos, a Istambul no próximo verão europeu. E uma apresentação especial no Royal Albert Hall com a
Osesp e Marin Alsop, dentro do prestigiadíssimo festival londrino Proms, em 15 de agosto. No
cardápio, uma obra sensacional de Villa-Lobos, o "Momoprecoce". Nesta microturnê anunciada pela
Osesp na semana passada, a orquestra estreia no Proms com Freire, toca em duas cidades
pequenas e conclui no dia 19 no Concertgebouw de Amsterdã tendo a tiracolo o outro talismã
brasileiro da música clássica de trânsito internacional, o violoncelista Antonio Meneses, solando o
concerto de Dvorák que a plateia paulistana assistiu há duas semanas na Sala São Paulo.
Correio Braziliense - Trilha sonora para a Copa do Mundo
Irlam Rocha Lima
Choro Livre toca músicas que exaltam o Brasil: shows de hoje a sexta
(25/4/2012) O Clube do Choro de Brasília que ter participação ativa na Copa do Mundo de 2014.
Alguns projetos nesse sentido já estão em desenvolvimento, de acordo com Henrique Santos Filho, o
Reco do Bandolim, presidente da entidade. Ele vem mantendo contatos e reuniões com autoridades
das áreas dos ministérios do Esporte e do Turismo e da Embratur, visando viabilizar os planos.
Um desses projetos é a gravação de um CD com músicas de grandes mestres da MPB que exaltam o
Brasil, para ser distribuído em países que tomarão parte na Copa. “O disco terá 10 faixas e oito delas
já foram gravadas”, adianta Reco. Entre elas estão Isto aqui, o que é e Rio de Janeiro (Ary Barroso),
Canta Brasil (Alcides Pires Vermelho e David Nasser), Coisas nossas (Noel Rosa), Brasileirinho
(Waldir Azevedo) e Noites cariocas (Jacob do Bandolim).
Essas músicas e algumas outras, como 1 x O, de Pixiguinha e Benedito Lacerda (que posteriormente
ganhou letra de Nelson Ângelo e foi gravada pelo grupo carioca Arranco de Varsóvia), integram o
roteiro do show que o grupo Choro Livre fará de hoje a sexta-feira, às 21h, no Espaço Cultural do
Choro, pelo projeto Meu Caro Amigo Chico Buarque. Do homenageado, será interpretado o clássico
Carolina.
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Quem faria o show desta semana pelo projeto que reverencia Chico Buarque seria o Duofel. O duo de
violonistas lançaria o DVD Duofel plays The Beatles live in The Cavern Club, com releitura
instrumental de canções do quarteto de Liverpool. No entanto, a apresentação foi cancelada, em
razão de um sério problema de coluna de Luiz Bueno, um dos integrantes do duo — o outro é
Fernando Melo. A informação foi dada por Denise Souza, assessora de imprensa dos dois.
Em função disso, houve a substituição pelo Choro Livre, conjunto liderado por Reco do Bandolim, e
que tem em sua formação Henrique Neto (violão sete cordas), Rafael dos Anjos (violão seis cordas),
Márcio Marinho (bandolim) e Valerinho Xavier (pandeiro e percussão).
Sobre o projeto do Clube do Choro para a temporada da Copa do Mundo, Reco dá detalhes: “Vamos
propor a utilização do Espaço Cultural do Choro, na época da Copa, como ponto de encontro de
brasileiros e turistas estrangeiros que vierem assistir a jogos no Estádio Nacional, próximo da nossa
sede”.
Outra ideia do presidente da instituição é levar ao estrangeiro essa música, na interpretação do Choro
Livre. “Já estivemos em alguns continentes, mostrando nossa visão da música brasileira, tocando em
teatros, casas de espetáculo e nas embaixadas brasileiras. A partir do segundo semestre,
pretendemos voltar a fazer isso nos países em que a Embratur vai desenvolver ações de marketing,
no sentido de sensibilizar a vinda de torcedores e turistas ao Brasil.
Estado de Minas - Suingue gospel
Baby do Brasil lança disco com repertório dedicado a temas religiosos, sem perder o balanço.
Cantora grava CD nos Estados Unidos e prepara shows com melhores momentos da carreira
Sérgio Rodrigo Reis
(25/4/2012) Desde que assumiu a fé evangélica, há 13 anos, e
passou a colocar o nome de Deus de maneira onipresente a cada
aparição, Baby do Brasil, até então conhecida como Baby Consuelo,
ofuscou um pouco sua importância histórica na MPB. Figura
emblemática nos anos 1970, quando ajudou a fundar o grupo Novos
Baianos ao lado de Moraes Moreira, Galvão, Paulinho Boca de
Cantor e do ex-marido Pepeu Gomes, Baby ajudou a colocar doses
extras de suingue e alegria na música brasileira. Depois de fase
mais radical, dedicada a interpretar apenas hinos religiosos, ela
parece ensaiar no novo disco uma aproximação, mesmo que
discreta, com a boa e laica música popular.
O CD Geração guerreiros do apocalipse – o nome já entrega a forte
conotação religiosa do trabalho –, ao contrário dos anteriores, dá
certa abertura para a intérprete aparecer mais que a pastora. É
inegável que a opção religiosa tirou um pouco do brilho da artista,
mas a situação começa a mudar. “Quando me converti, algumas
portas pareciam se fechar, mas como no céu não tem bunda-mole,
só casca- grossa, elas se abriram”, afirma.
O novo disco é uma mistura de influências. “Tem MPB com direito a bossa nova , blues, pop , trio
elétrico e rock and roll. Muitas guitarras com Lucas Domingues, muita bossa nova de Nelson Faria,
convidados como Claudio Infante, André Neiva e Jeff Lescowich e Marcos Suzano. Participam
também os músicos Ruan Magalhães, Rogério Fraga, Thiago Medeiros, Willian Alves, Wesley
Rodrigues e Lúcio de Paula.”
Há oito anos ela lançou o primeiro trio elétrico gospel no carnaval da Bahia. É dela também o título de
primeira cantora de trio elétrico do Brasil, quando era dos Novos Baianos. A experiência lhe rendeu
inspiração para criar naquele clima a música Santo de Israel. O lado menos fervoroso aparece no
disco na canção Stand by me, clássico de Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller, revisitada em
estilo bossa nova, assim como Amazing grace, de John Newton e John P. Rees.
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Produzido, concebido e dirigido por Baby, as 12 faixas do CD (10 são de autoria da cantora)
promovem também uma fusão de sonoridades. Traz a mescla berimbau com programação eletrônica,
guitarras, baixo, violão, tambores, percussão, teclado e shofar (um dos mais antigos instrumentos de
sopro, tradicionalmente usado em cerimônias na Antiguidade). O clima serve de base para criar dois
tipos de shows, um dedicado ao público gospel, apenas com canções religiosas; e outro, mais
eclético. “É quando irei da MPB ao gospel, ou seja, vou contar minha carreira do início até agora”,
adianta.
Baby esteve recentemente nos Estados Unidos para o acerto dos detalhes de um CD em inglês, pela
gravadora Tate Group Music, com previsão de lançamento em Nova York no mês que vem. A carreira
americana começa com a interpretação de Agnus Dei, com participação do pastor Michael W. Smith,
um dos mais conhecidos nomes do segmento daquele país. A artista gravou ainda clássico
americano do gênero, Rescue, com o brasileiro David Quinlan. As músicas Amazing grace e Stand by
me também estarão no CD. “Estou levando o projeto da carreira internacional super a sério, pois é
sonho antigo que está se realizando”, comemora.
Laboratório Baby do Brasil iniciou carreira com os Novos Baianos. Nascida em família de classe
média, criada entre o Rio de Janeiro e Niterói, começou a cantar e tocar violão ainda na infância. A
primeira reviravolta na vida foi em 1969, quando decidiu fugir de casa e ir para Salvador, época em
que encontrou Moraes Moreira, Galvão, Paulinho Boca de Cantor e o guitarrista e futuro marido,
Pepeu Gomes. Um ano depois, lançou o disco de estreia dos Novos Baianos, É ferro na boneca. A
visibilidade da banda coincidiu com a mudança para um sítio no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá. O
lugar virou espécie de laboratório na criação do outro LP, Acabou chorare, um dos mais cultuados
álbuns da MPB.
Baby e Pepeu decidiram, em 1978, trilhar carreiras solo. O primeiro álbum dela na nova fase foi O
que vier eu traço. Daí em diante, Baby impôs uma marca festiva e suingada em canções que
conquistaram o público, como Menino do Rio, de Caetano Veloso, feita para ela, e outras como Sem
pecado e sem juízo (música composta com Pepeu Gomes) e A menina dança e Tinindo e trincando
(ambas de Moraes Moreira e Galvão).
Baby entrou e saiu de várias igrejas e terminou a peregrinação como pastora com vários discos
gospel gravados. É mãe de Sarah Sheeva, Zabelê, Nana Shara, Pedro Baby, Krishna Baby e Kriptus
Baby, todos músicos.
Três perguntas para Baby do Brasil
O que você ainda mantém da herança dos Novos Baianos?
Muitas coisas continuam iguais. A brasilidade, a alegria, o suingue. O que mudou foi que minha fé
aumentou muito. No tempo da ditadura, morar junto para fazer música era uma loucura, mas ao
mesmo tempo foi a única maneira que encontramos para fazer música como se não houvesse
ditadura. Com isso nos transformamos em uma família, com muito amor, muita tolerância, e juntos
aprendemos a incentivar uns aos outros. Isso foi determinante para minha carreira e vida, pois a
música passou a fazer parte da minha vida do café da manha até altas horas da madrugada. “E aí ,
acabou chorare ficou tudo lindo, de manhã cedinho”, e isso foi para sempre.
Você foi uma garota que saiu de casa rumo a Salvador muito cedo, onde conheceu músicos que
seriam os parceiros na criação dos Novos Baianos. Faria tudo de novo?
A música foi um chamado na minha vida desde os 9 anos, quando ganhei meu primeiro violão, dado
por minha mãe. Aos 16, tive certeza de que a música era a profissão apaixonada que queria seguir.
Nessa época tive meu primeiro grande encontro com Deus e fui para a Bahia por orientação dele e
tudo deu certo, por isso estou aqui hoje. Realmente, tenho espírito de aventura, porém sempre
alinhado com a direção de Deus.
A opção por sempre chamar a atenção, seja com visual, nome ou atitude, ajudou ou prejudicou sua
carreira? Já quis ser caretinha?
Na verdade, não foi uma opção. Desde criança, ouvia aquela frase: “Ela sempre quer ser diferente”,
mas não era proposital, era um jeito alegre de querer viver a vida, com roupas coloridas, criando
modelos e estilos... é um lado talvez de estilista. Fui crescendo, observando o movimento hippie, que
era muito forte naquela época, e me identifiquei com aquelas roupas e visual. Algumas vezes, as
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pessoas prestaram mais atenção no visual do que no talento, mas sempre soube que isso era uma
questão de tempo. Quanto a pensar em ser caretinha, depende do ponto de vista. Por exemplo: amo
um tailleur Channel, rosa bebê de punhos e gola de pele preta, com sapatos rosa da Vivienne
Westwood. Talvez este seja meu lado caretinha, que ao mesmo tempo é muito chique.
Estado de Minas - Língua afiada
O cantor e compositor Zeca Baleiro lança O disco do ano, disparando farpas bem-humoradas em
direção a colegas e formadores de opinião. No novo trabalho, o artista se arrisca no rap
Para o maranhense Zeca Baleiro é preciso criticar
sempre, mas sem cair
na amargura e na rabugice.
Ailton Magioli
(25/4/2012) Indiferente ao apregoado fim do
formato, enquanto houver “algum incauto”
disposto a ouvi-lo, Zeca Baleiro se diz
disposto a compor canções. Inclusive aquelas
em que exercita o reconhecido e acirrado
senso crítico, como Mamãe no Face, de cujos
inspirados versos saíram o inspirado título de
O disco do ano, que marca a estreia dele na
Som Livre.
De repertório inédito, o disco em que Zeca não poupa sequer os formadores de opinião – como gosta
de chamar jornalistas, críticos, produtores e empresários do setor musical – mostra que o cantorcompositor maranhense anda com a língua afiada, especialmente ao narrar a conversa imaginária
com a mãe no Facebook, na qual recorre a figuras emblemáticas da música brasileira para criticar o
establishment. “Mamãe/ Eu fiz o disco do ano/ E até mesmo Caetano/ Parece que aprovou”, inicia o
discurso, em que também inclui Nelson Motta e Hermano Vianna.
Zeca, que já legou pérolas variadas ao nosso cancioneiro, desta vez ataca de uma dúzia de novas
canções, sete delas (Tattoo, O desejo, Nu, Meu amigo Enock, Felicidade pode ser qualquer coisa, Ela
não se parece com ninguém e Mamãe no Face) compostas por ele sozinho e as cinco restantes com
os parceiros Hyldon (Calma aí, coração), Frejat (Nada além) e Wado (Zás), além da japonesa Kana
(O amor viajou), radicada no Brasil, e a irmã-poeta Lúcia Santos (Último post).
O curioso deste trabalho é que para cada faixa Zeca fez questão de ter um produtor – em algumas
delas até dois. Os convidados nos vocais, também surpreendentes, vão de Margareth Menezes a
Chorão, vocalista do Charlie Brown Junior, passando por Andreia Dias.
Companheiros de trajetória como Tuco Marcondes, Fernando Nunes, Kuki Stolarski, Pedro Cunha,
Adriano Magoo, Guilherme Kastrup, Rogério Delayon e Érico Theobaldo se juntaram aos parceiros
estreantes Beto Villares e Luiz Brasil, além das duplas formadas por Rodrigo Campello e Sacha
Amback e Evaldo Luna e Gerson da Conceição, para produzir o disco. Sozinho, o próprio Zeca cuidou
de Felicidade pode ser qualquer coisa. E mais, como artista atuante e antenado, obviamente que ele
também “mete o bico” no inspirado projeto gráfico (Gilson Braga), para o qual foram produzidas as
inspiradas fotos que ilustram o álbum, com direito a personagem-modelo na contracapa vendendo o
suposto livro Como enriquecer fazendo música, com a foto do também suposto autor Zeca Baleiro.
Segundo o compositor, com o avanço da idade ele percebeu que o senso crítico foi-se tornando ainda
mais acirrando. “Mas na canção”, pondera, “a gente tem de ter um ponto de vista mais leve, por ser
uma forma de expressão que busca leveza”, justifica. No site oficial e na coluna que assina em revista
semanal, Zeca admite até ser mais rabugento e amargurado para escrever. A crítica, admite o cantor,
é uma postura que ele desenvolve desde a infância. “Quero passar inclusive para os meus filhos o
senso crítico”, anuncia o cantor, que no entanto faz questão de fugir da amargura.
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Cronistas Na canção brasileira, como faz questão de lembrar Zeca Baleiro, desde Noel Rosa, “o
nosso primeiro grande cronista”, até Raul Seixas, Chico Buarque e Belchior, variadas gerações
desenvolveram e continuam desenvolvendo o senso crítico, com direito inclusive a doses de ironia e
sarcasmo. Preocupado com o estabelecimento do que classifica de ridículo na atualidade, o cantor
lembra que uma pitada de humor não faz mal a ninguém.
Se jornalistas, principalmente, estão vestindo a “carapuça” diante da assumida crítica da letra de
Mamãe no Face, Zeca lembra que ela também é endereçada aos próprios artistas, produtores e
empresários, que, em sua opinião, “ajudam a forjar o sucesso”. “Não se trata, no entanto, de uma
guerra declarada a eles”, faz questão de esclarecer o cantor, que, antes de assumir a carreira
artística, cursou um ano de jornalismo e mais um de agronomia, cursos abandonados por Zeca
coincidentemente quando ele recebeu convite para mudar para Belo Horizonte, onde se fixou por um
ano, quando “caiu na noite”, segundo diz.
Desde que a fala de Chico Buarque sobre o suposto fim da canção foi mal interpretada por alguns,
segundo Zeca, criou-se um clima apocalíptico sobre o formato. “Enquanto houver vida vai haver
literatura e canção”, afirma o cantor-compositor. “Acabar, nada acaba”, profetiza, lembrando que
sempre surge uma nova mídia para veicular informação. “Veja o caso da literatura, que está
fortíssima em tempos de internet. O mercado editorial brasileiro é mais forte do que o fonográfico”,
constata o cantor, que, para cativar e renovar o seu público, diz recorrer até a linguagens que
desconhece e não domina. Como o rap, que ele volta a visitar no novo disco, onde além do reggae
ele também revisita o rock. “O rap sempre me interessou. É saudável como exercício, mesmo”,
consente.
VEM AÍ
Depois de Brasília, onde estreou o show de lançamento de O disco do ano no dia 12, Zeca passou
por Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória. Pela ordem natural, segundo deduz, Belo Horizonte
viria a seguir. Mas ele acabou transferindo a passagem pelo Palácio das Artes para maio ou junho. “É
show ideal para o Grande Teatro devido à pequena cenografia, com direito a cenário eletrônico”,
explica Zeca Baleiro.
Estado de Minas - O rei sou eu
Roberto Carlos encara a crise do mercado fonográfico com CD duplo, DVD e blu-ray em 3D que
trazem o seu show em Jerusalém. Amanhã, ele inicia turnê na América Latina e nos EUA
Ângela Faria
Hits de Lucio Dalla, Tom e Vinicius e Nat King Cole entraram
no repertório do show que Roberto Carlos fez em Israel.
(25/4/2012) Não é novidade para ninguém, mas
não custa lembrar: Roberto Carlos é do ramo. Em
7 de setembro do ano passado – com direito a
exibição pela Globo no fim de semana seguinte –,
o Rei foi a Jerusalém cantar para o Brasil. Horda
de “peregrinos” o seguiu à Terra Prometida a
bordo de pacotes turístico-musicais que custaram
de R$ 3,4 mil a R$ 14,2 mil. Cinco mil pessoas
formaram a privilegiada plateia.
Roberto se apresentou no Sultan’s Poll, dançou com a jornalista Glória Maria (apresentadora do
show) e visitou locais sagrados devidamente acompanhado de cinegrafistas. Entretanto, o tradicional
discão não saiu às vésperas do Natal. Chegou às lojas agora, com menu a gosto do freguês: CD
duplo, DVD e Blu-Ray 3D, com prometida tecnologia de ponta. Aliás, ele se recusou a pôr os
indefectíveis óculos negros durante a sessão de estreia para convidados e celebridades. Motivo:
obsessivo-compulsivo, baniu o preto de sua vida.
Se o combo perdeu o Natal – época de ouro das vendas nacionais –, veio estrategicamente enfeitar
as vitrines na Semana Santa e bem a tempo de se tornar objeto de desejo no Dia das Mães, a
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segunda data comercial mais rentável do país. Trata-se de produto caprichado: o diretor de TV e
cineasta Jayme Monjardim dirigiu as filmagens, assessorado por ninguém menos que Afonso Beato –
consagrado fotógrafo das fitas Tudo sobre minha mãe, do espanhol Pedro Almodóvar, e O dragão da
maldade contra o santo guerreiro, de Glauber Rocha.
Roberto Carlos em Jerusalém traz os hits de sempre embalados por palavras do anfitrião enaltecendo
o amor, Deus e a paz entre os homens. Tal e qual apóstolo depois da mãozinha providencial do
Espírito Santo, RC passou a pregar – ops! – a cantar em várias línguas: espanhol, italiano, inglês,
hebraico... Todo mundo já ouviu, zilhões de vezes, Detalhes, Lady Laura, Mulher pequena, Emoções,
Jesus Cristo, Outra vez, Proposta, Olha e Falando sério. Mas vamos combinar: cantor competente,
Roberto sabe honrar as lições de seu mestre, João Gilberto. Apurem-se os ouvidos: há uma divisão
diferente aqui, uma delicadeza acolá e o “controle de qualidade TOC” do Rei, garantindo belos
momentos ao ouvinte-espectador. Mais do mesmo, sim – mas ficou bacana. Roberto não vem para
surpreender, mas para emocionar seus fiéis devotos.
Tom e Vinicius Há surpresas no combo: bossa-novista meio frustrado, ele gravou Eu sei que vou te
amar, de Tom e Vinicius, para depois declamar o “Soneto da fidelidade”. Unforgettable, sucesso na
voz de Nat King Cole, mostra que o Rei – 71 primaveras completadas no dia 19 – preserva bem o
gogó. Não importa muito se o inglês é de cais do porto, como diz ele. Devotos, agnósticos e ateus
hão de concordar: Ave Maria, de Schubert, na voz do Rei tem o seu lugar. Em italiano. Falar nisso,
Lucio Dalla, que nos deixou em março, deve estar feliz com a versão de Roberto para Caruso. O
discípulo de João brilha, acerta ao imprimir delicadeza àquilo que Luciano Pavarotti, entre outros
vozeirões, levou às alturas. Também chama a atenção a parceria de RC com 60 vozes do coral em
Jerusalém toda de ouro, cantada em hebraico.
Apesar do disco de platina duplo debaixo do braço, Roberto sabe que o mercado fonográfico
cambaleia há anos. O setentão volta à estrada, pois o negócio está no palco. A partir de amanhã, ele
viaja pela América Latina e Estados Unidos. Abrirá a temporada em Lima, no Peru, e até 17 de junho
fará 19 apresentações em 17 cidades.
Dody Sirena, o big boss da empreitada, já avisou: o projeto Jerusalém promete repeteco. Em
setembro do ano que vem, o Rei deve montar seu palco em outro local histórico – a Itália é forte, mas
a Índia está no páreo. De olho nos Brics, Roberto Carlos S/A não brinca em serviço.
The Wall Street Journal - Brazilian Singer Marisa Monte Sambas Back Into the Spotlight
(24/04/2012) Marisa Monte doesn’t want people to
get the wrong impression about the six-year hiatus
she took after her last studio release. She was
quite busy during that time, giving birth to her
second child, raising a family, and working on a
documentary as well as a live album.
“I don’t know why, but for some people a live
record doesn’t count,” Ms. Monte said during a
conversation with Speakeasy from her home in Rio
de Janeiro.
The Brazilian singer and songwriter is gearing up
for the first leg of a world tour to support her latest
release, “O Que Você Quer Saber De Verdade”
(What You Really Want to Know), a globe-trotting
effort that included recording and mixing sessions
in Rio de Janeiro, Sao Paulo, Buenos Aires, Los
Angeles and New York.
Thanks to the internet, Ms. Monte was able to stay
in touch and work on arrangements with musicians
around the world.
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“This would have been impossible 15 years ago, for example, lugging around tapes all over the world,”
Ms. Monte says. “Now I can email files and we can share ideas with musicians in different locations as
the work evolves.”
Interestingly, the technology that supported her collaborative efforts around the globe allowed Ms.
Monte to produce what is perhaps her most introspective album to date. “What Your Really Want To
Know,” Ms Monte’s ninth release, seems driven by the search of the elusive small moments of joy in
our lives.
“The record speaks to a desire to seek distance from all the noise, all the demands on our time and
attention’ she says. “It’s an effort to find a quiet spot where I can get in touch with my heart, my
intuition, and find happiness. In order to be able to communicate with others, we have to communicate
with ourselves,” Ms Monte says.
Marisa Monte’s new album “O Que Você Quer Saber De Verdade.”
As an artist who has demonstrated fluency with music of different eras and places–she received
classical lyrical training in Italy at 19, and is as comfortable interpreting Gershwin as she is working
with rockers or avant-garde composers such as Phillip Glass-Ms. Monte’s latest pays homage to other
artists.
There is a cover of Jorge Ben’s classic pop song “Descalço No Parque” (Barefoot in the Park), as well
as a new interpretation of a tango song she recorded with a traditional orchestra in Buenos Aires.
“That tango was first recorded by a Brazilian artist in the 1940s, at a time when tango was very
popular in Brazil,” Ms. Monte says, citing it as an example of the multiple forces that shaped Brazilian
music and its culture.
“Brazilian music is so diverse and open to local and international influences. We are in a permanent
dialogue with every culture,” says Ms. Monte, who named Regina Spektor and Melody Gardot among
her contemporary favorite female vocalists.
“I like to call myself a Brazilian artist, because I belong to a culture that is open to all others. Brazil is
shaped by the confluence of different cultures, that’s our greatest strength. And it’s the example Brazil
can give to the rest of the world, we are a young country with lots to offer.”
Ms. Monte says she is busy rehearsing for the tour, which starts in Brazil and will take her to Europe
during the fall. Ms. Monte has plans to tour the U.S. in 2013, and though she is focused on the live
show, “there could be a couple of new songs during the tour.”
You can find “O Que Você Quer Saber De Verdade” on Amazon or iTunes, among other places.
LIVROS E LITERATURA
Agência de Notícias Brasil-Árabe - Literatura brasileira é promovida no exterior
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Itamaraty realiza o 4º Concurso Internacional de Monografias para estrangeiros e brasileiros
residentes fora do País. Obra de Lygia Fagundes Telles é tema desta edição.
Aurea Santos
(19/4/2012) O departamento cultural do Ministério
das Relações Exteriores abre, nesta quinta-feira
(19), as inscrições para o 4º Concurso
Internacional de Monografias, voltado para
brasileiros e estrangeiros residentes no exterior. O
objetivo é promover e divulgar a literatura brasileira
ao redor do mundo. Podem concorrer trabalhos
acadêmicos.
A obra da escritora Lygia Fagundes Telles é o tema deste ano. Os cinco melhores ensaios receberão
o Prêmio Itamaraty de Literatura Brasileira 2012. "O Itamaraty nunca tinha homenageado uma
escritora mulher ou um escritor vivo", conta Rafael Prince, chefe interino da Coordenação de
Divulgação do Itamaraty, sobre a escolha de Telles como tema do concurso. "As inscrições abrem
justamente amanhã (19), que é aniversário dela", diz.
Nos anos anteriores, foram temas as obras dos escritores Machado de Assis, Graciliano Ramos e
Lima Barreto. Como prêmio, o primeiro colocado receberá US$ 20 mil. Também haverá prêmios em
dinheiro para o segundo (US$ 15 mil), terceiro (US$ 10 mil), quarto (US$ 5 mil) e quinto (US$ 3 mil)
lugares.
Para participar é preciso residir no exterior e exercer atividades relacionadas ao estudo da língua
portuguesa e da cultura brasileira, como magistério, jornalismo cultural e outras atividades afins. Os
trabalhos deverão ser inéditos e escritos ou traduzidos para o português.
"São trabalhos acadêmicos. A ideia é promover o estudo destes autores, que são conhecidos no
Brasil, mas não no exterior. Queremos estimular nas universidades estrangeiras o interesse por estes
autores", destaca Prince.
A escolha dos ensaios vencedores será feita por uma comissão julgadora, formada por pessoas
ligadas ao campo literário e por um diplomata brasileiro, que analisará critérios como originalidade,
criatividade, grau de conhecimento da obra da autora e a qualidade literária do texto.
Segundo Prince, vem crescendo o interesse no exterior pela cultura e literatura brasileiras. "Nos
últimos anos, tem sido abertos departamentos de Língua Portuguesa nas universidades estrangeiras.
O Itamaraty também estimula professores que vão lecionar em universidades no exterior", revela.
As inscrições se encerram em 31 de outubro de 2012. Haverá uma cerimônia de premiação a ser
realizada no próximo ano no Brasil, em data ainda não definida. Os ganhadores receberão passagens
e hospedagens para participar da cerimônia.
O edital do concurso está no link http://goo.gl/42Pqg. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail
[email protected].
Estado de Minas – Estado plural
Livro escrito por pesquisadores das áreas de história, antropologia, política e cultura busca a síntese
da mineiridade. Trabalho serviu de base para o Memorial Minas, na Praça da Liberdade
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João Paulo
(20/04/2012) “Condensar Minas Gerais numa antologia não será o mesmo que prender o mar na
garrafa?”. A pergunta de Carlos Drummond de Andrade dá a dimensão da ousadia de Minas Gerais,
volume que será lançado hoje, às 17h, no Memorial Minas Vale, na Praça da Liberdade. Organizado
pelos historiadores Heloísa Starling, Sandra Regina Goulart Almeida e Bruno Viveiros Martins e pelo
design Gringo Cardia, o livro reúne textos de pesquisadores de várias áreas do conhecimento, cujo
projeto é oferecer um olhar amplo, compreensivo e plural da sociedade e da cultura mineira.
O trabalho é resultado da pesquisa feita para a criação do Memorial Minas, que reuniu 53 consultores
entre historiadores, cientistas políticos, antropólogos, músicos, escritores, jornalistas e economistas.
Com o material na mão, o curador Gringo Cardia partiu para a concepção do memorial, traduzindo em
projeto museográfico o conhecimento gerado pelo grupo. O passo seguinte foi reunir todo esse
esforço intelectual em livro, o belo volume Minas Gerais.
Para a historiadora Heloísa Starling, uma das coordenadoras da pesquisa do memorial e
organizadora do volume, o que uniu a inteligência e a sensibilidade de tantos estudiosos foi o
empenho “em dar um futuro ao passado”. Como Minas é plural e múltipla, a escolha dos temas foi se
desdobrando, em diálogo com o projeto do memorial. Desde o início da pesquisa, ficou clara a
impossibilidade de sedimentar o conhecimento sobre o estado em um espaço limitado e fixo. Como o
tempo não para, o propósito foi ampliar os repertórios, abrir frentes que seriam incorporadas num
segundo momento. O memorial, nesse sentido, já tem no livro alguns temas que permitirão sua
contínua atualização, em diálogo com a realidade social e cultural de Minas Gerais.
A seleção foi feita tendo em mente o equilíbrio dos textos do livro (que fosse ao mesmo tempo legível
e profundo) e o conhecimento destacado dos pesquisadores. Assim, foram convidados especialistas
em festas populares, revoltas de Minas, pré-história, literatura, caminhos de Minas e artesãos do
Jequitinhonha, entre outros aspectos, além de estudiosos da obra de nomes marcantes da cultura
mineira, como Milton Nascimento, Darcy Ribeiro, Humberto Mauro, Guimarães Rosa, Sebastião
Salgado e Lygia Clark. “Ficou um conjunto de alto nível e muito equilibrado”, avalia Heloísa Starling.
Ela faz questão de destacar o trabalho de curadoria de Gringo Cardia. “Ele dá uma pegada
contemporânea e inteligente aos textos do livro.” E chama a atenção para o ensaio de André Prous,
“A arte rupestre e a arqueologia de Minas Gerais”. Como explica Heloísa, Gringo intercala ao texto
erudito do pesquisador um conjunto de ilustrações e reproduções de desenhos rupestres que, em sua
dinâmica, parecem encaminhar para um painel criado por grafiteiros numa rua de Belo Horizonte.
“Lembra Basquiat, que mostra a emergência do pré-histórico no contemporâneo”, compara.
No aspecto visual, o trabalho tem outros lances criativos. Cada artigo surge com programação visual
própria e valiosa pesquisa iconográfica – no papel, dá a impressão de ser a imagem de um livro
aberto. Como cada seção tem uma programação específica, o leitor se sente folheando um conjunto
de livros, uma “bíblia” feita de diferentes olhares e tempos. A ideia é, também, deixar explícito que
não é possível esgotar com um livro só a riqueza das Gerais.
Polifonia O historiador Bruno Viveiros Martins chama a atenção para a mescla entre tradição e
contemporaneidade presente tanto no livro como no projeto do Memorial Minas. “A tecnologia
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possibilita uma síntese entre tradição e futuro, fazendo conviver elementos do passado cultural com o
olhar do presente. Além disso, a mostra mistura mineiros consagrados, como os do Clube da
Esquina, com nomes que começam a despontar, como o rapper Renegado”, explica.
A multiplicidade de assuntos não esgota o universo de conhecimento em torno de Minas Gerais.
“Daria para fazer mais quatro livros como este”, provoca Heloísa Starling. E é a abertura a aspectos
nem sempre valorizados pela cultura tradicional, como a moda, o artesanato, a viola caipira e a
fotografia, que dá ainda mais abrangência a Minas Gerais. Além disso, ao fugir da cronologia – a
publicação começa com ensaio de José Murilo de Carvalho sobre a tipologia política de Minas, volta
ao século 18 com artigo sobre a Minas rebelada, de Carla Anastasia, e segue pelos caminhos de
descaminhos mineiros, em ensaio primoroso de Heloísa Starling –, cria-se a impressão de polifonia,
do diálogo continuado de muitas vozes em torno de um mesmo motivo musical.
Mesmo sendo resultado de trabalho voltado para a configuração do Memorial Minas, tem garantida
sua especificidade na bibliografia sobre o estado. É, talvez, a mais bem realizada obra coletiva sobre
a realidade social e política do estado, escrita em linguagem acessível, amparada por pesquisa
atualizada e apresentada com requintes de iconografia e acabamento visual. Vale destacar os artigos
de José Murilo de Carvalho (que puxa o tapete dos estereótipos em torno do político mineiro); o
estudo sobre os artesãos do Jequitinhonha, de Carlos Antônio Leite Brandão; a síntese sofisticada de
João Antônio de Paula, o artigo “Minas Gerais – Mosaico e polifonia”; e a crônica singela e informada
sobre o cotidiano das vilas e arraiais mineiros do século 18, escrita por René Lommez Lopes.
Longe de engarrafar o mar, dá vontade de beber ainda mais a história, a política e a cultura de Minas
Gerais.
Porta de entrada
O Memorial Minas é uma espécie de convite ao Circuito Cultural Praça da Liberdade. Para o curador
Gringo Cardia, o prédio foi pensado como uma extensão da rua, chamando para o diálogo entre a
tradição e o futuro. O equipamento tem atraído turistas e oferece programação voltada para escolas
públicas. O historiador Bruno Viveiros diz que tem sido comum o retorno dos alunos com as famílias e
amigos. O memorial tem, além do projeto expositivo de natureza tecnológica e interativa, programas
voltados para o debate cultural. “O movimento da juventude em Minas exibe vitalidade, caso de
manifestações como a Praia da Estação e a retomada do carnaval de rua. Isso é muito bom. O livro
Minas Gerais e o memorial apenas arranham essa rica superfície. É preciso incrementar esse
diálogo, ampliar a discussão sobre a realidade social e cultural do estado. Depois de ganhar as ruas,
está na hora de a juventude tomar o Memorial Minas”, propõe Heloísa Starling. Mais mineira,
impossível.
Valor Econômico - As tiranias revisitadas
Por Paulo Totti
(20/04/2012) Passam-se os dias, e pouco se fala do lançamento em março de um livro muito
interessante: "Tiranos & Tiranetes" (Editora Civilização Brasileira, R$ 44,90), do jornalista Carlos
Taquari. Menos poético, é verdade, do que "Veias Abertas da América Latina", o livro sobrevoa os
mesmos cenários ao "sul do Rio Grande", e suas histórias têm os mesmos protagonistas e o mesmo
enredo: tiranias de todos os tipos, as envergonhadas, as escrachadas, as disfarçadas de democracia,
as corruptas e as corruptoras, que ensanguentaram o continente ao longo de sua história desde a
independência.
O México, ao norte, depois de um século inteiro de guerras intestinas e perda de território para três
potências invasoras, mergulhou num regime de partido único que, com "dedazos", fraudes e controle
da imprensa, permaneceu no poder por 80 anos. O Uruguai, ao sul, após quase um século de
democracia, sofreu apenas um golpe de Estado, cruel o suficiente para ensombrecer a pacata "Suíça
Americana", cuja tradição bélica se limitava ao instinto guerreiro de Obdulio Varela nas batalhas do
futebol.
Às página 213 e seguintes, Taquari destaca os ensinamentos que Dan Mitrione, agente da CIA com
passagens pedagógicas pelo Brasil e pela República Dominicana, ministrava aos agentes da
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repressão em Montevidéu. A tortura, dizia, é uma espécie de arte. "A dor precisa, no local preciso, na
intensidade precisa, para se obter o efeito desejado", ou "A morte prematura do prisioneiro, antes de
revelar o desejado, é falha técnica inadmissível". [Evidentemente, os interrogadores de Vladimir
Herzog no DOI-Codi de São Paulo fizeram gazeta nessa aula]. Mas um contra-almirante uruguaio
tinha contribuição a dar: "O importante é obter as informações". Isso feito, o "sedicioso", o
"subversivo", o "comunista", o "inombrable", não mereceria mais viver.
O ar que se respira na América Latina é menos rarefeito do que o de 41 anos atrás, quando Eduardo
Galeano publicou seu "Venas Abiertas". Brasil e Uruguai são hoje democracias plenas. Se Galeano
tinha a obrigação moral (e a coragem) de exercer uma literatura engajada na resistência, Taquari
permite-se simplesmente o exercício livre do jornalismo. A denúncia dos golpes de Estado,
perpetrados a pretexto de salvar a civilização ocidental e cristã, está explícita em seu livro. O rigor
profissional com que sintetiza a história de 19 países latino-americanos torna irrelevante o fato de o
alcoólatra general Mariano Melgarejo Valencia, ditador da Bolívia (1864-1871), ser tão néscio a ponto
de considerar Napoleão um militar mais importante que Bonaparte. Ou que Alfredo Stroessner,
ditador longevo (1954-1989), foi deposto ao voltar da casa de uma de suas dez amantes.
Obviamente ditaduras não existem porque o ditador é iletrado ou sobrevivem porque roubou o
bastante para sustentar uma infinidade de amantes paraguaias. Taquari não vai, e não parece ser
esse o seu propósito, às causas profundas dessas ditaduras, mas ao leitor das 378 páginas de seu
livro sobra a conclusão de que parte dessa responsabilidade cabe à intromissão estrangeira - EUA,
principalmente - e também à cumplicidade de elites que clamam pela intervenção dos militares para
proteger privilégios hipotética ou verdadeiramente ameaçados, e depois reclamam quando os
militares, embriagados de poder, querem mandar sozinhos.
O livro de Taquari tem outros avanços. Aborda erros cometidos pelas esquerdas. O governo de
Salvador Allende (1970-1973), por exemplo, caiu não só porque Richard Nixon e Henry Kissinger
determinaram à CIA "make the economy scream" - façam a economia chilena berrar de dor -, mas
também porque a política econômica interna "foi um desastre". E aparecem na lista de mais de 30
tiranos ou tiranetes o brasileiro Getúlio Vargas, o argentino Juan Domingo Perón, o cubano Fidel
Castro, o peruano general Juan Velasco Alvarado, além do venezuelano Hugo Chávez, e isso pode
desagradar alguns esquerdistas, nacionalistas, gregos ou goianos. Mas passam-se os dias, as
semanas, os anos, e até a esquerda precisa "aggiornarse", incluir a autocrítica nas suas análises da
história e decidir sobre o que entende por democracia.
Comecemos por aqui, sem esperar que em Washington se faça o mesmo. Sobre isso, aliás, Barack
Obama deixou poucas esperanças em Cartagena das Índias.
Veja - A falta que um Francis faz
Diário da Corte, que reúne colunas do mais beligerante e hábil polemista brasileiro, comprova que
não há o que substitua alguém capaz de ver as coisas como as coisas são
Augusto Nunes
O ator principiante não teria ido além da primeira peça caso houvesse recusado a sugestão do
agitador teatral Paschoal Carlos Magno: que tal trocar o Franz Paulo Trannin da Mana Heilbom da
certidão de nascimento por um nome artístico menos tonitruante? E o sofrível coadjuvante seguiria
vivendo papéis secundários se não tivesse criado um personagem condenado ao êxito no mundo
real: o jornalista Paulo Francis, em tudo diferente do intérprete. O homem amável, de gestos suaves e
maneiras gentis, era temporariamente exonerado entre um texto e outro. Na hora de lidar com
palavras, materializava-se a entidade agressiva, de temperamento beligerante, extraordinariamente
hábil no ataque frontal, na ironia desmoralizante. no humor ferino, no sarcasmo impiedoso. O estilo
claro e contundente na forma e no conteúdo, a abrangência temática, a independência intelectual e a
disposição para a correção da rota fizeram desse Paulo Francis o maior polemista do jornalismo
brasileiro moderno. Ele continua no topo do ranking, comprova a leitura de Diário da Corte (Três
Estrelas; 408 páginas: 59.90 reais), coletânea de 76 colunas publicadas pela Folha de S.Paulo entre
1975 e 1990 que chega agora às livrarias.
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O país da amnésia endêmica, que esquece a cada quinze anos o que aconteceu nos quinze
anteriores, também condena os melhores e mais brilhantes a quinze anos de esquecimento —
contados a partir da morte física. Francis não escapou dessa temporada no limbo. Em 4 de fevereiro
de 1997, quando um infarto o surpreendeu no apartamento em Nova York, milhares de leitores do
colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo e milhões de espectadores do comentarista dos
telejornais da Rede Globo e do programa Manhattan Connection haviam transformado o carioca de
66 anos em celebridade nacional. Pois mesmo o mais conhecido jornalista brasileiro teve de esperar
até agora pela exumação parcial da obra escrita. Pior para os jovens, que poderiam tê-lo encontrado
mais cedo. As mais de setenta colunas reunidas no livro resistiram incólumes à passagem do tempo.
Muitos textos parecem ter saído ontem da mente brilhante, e continuam de tal forma contemporâneos
que poderiam ser publicados na edição de amanhã sem retoques ou atualizações. A leitura de Diário
da Corte mostra com dolorosa nitidez a falta que um Francis faz.
“Se dei uma contribuição ao jornalismo brasileiro, foi a de desmistificar os Estados Unidos”, disse em
1983. Tal contribuição é confirmada por artigos sobre o império atarantado com os desdobramentos
do caso Watergate e outras aulas de jornalismo analítico. Mas ele fez muito mais que isso. Antes ou
depois do correspondente internacional cinco-estrelas, existiram o crítico de teatro que achava Paulo
Francis “nome de bailarino de teatro de revista”, o crítico de cinema que amava as ousadias de
Glauber Rocha enquanto desancava unanimidades internacionais, o devorador de livros que se
gabava de ter lido Guerra e Paz aos 15 anos de idade e parecia carregar na cabeça três bibliotecas.
Houve o resistente entrincheirado numa página do Pasquim. E houve, sobretudo, o jornalista político
que, ao se livrar de cautelas e amarras impostas por patrulhas ideológicas, se tornou, como Nelson
Rodrigues, um “ex-covarde”. É preciso coragem para arriscar-se a ser estigmatizado como “direitista”,
“reacionário” ou “conservador”. Mas só quem não teme tal perigo conseguirá enxergar o Brasil como
efetivamente é.
Diário da Corte permite a contemplação de um largo trecho dessa caminhada em direção à liberdade
que Francis definia com uma citação de Rosa Luxemburgo: “A liberdade é quase sempre,
exclusivamente, a liberdade de quem discorda de nós”. Ele exercitou plenamente o direito de
discordar de meio mundo — e de manifestar a discordância sem ambigüidades. Duelou furiosamente
com José Guilherme Merquior e Antonio Cândido, brigou feio com Chico Buarque e Caetano Veloso.
Não poupou sequer parceiros dos tempos do Pasquim. “Jaguar é um idiota de gênio”, resumiu ao
comentar a subordinação do jornal aos interesses eleitorais de Leonel Brizola — a quem se aliara no
início dos anos 60. Foi uma das incontáveis mudanças de opinião embutidas na metamorfose maior.
Numa delas, lamentou a rejeição sistemática dos acenos feitos a grupos de esquerda pelo general
Golbery do Couto e Silva, ideólogo dos militares moderados e defensor de algum tipo de
entendimento com a oposição democrática.
Roberto Campos, ex-embaixador de João Goulart e ex-ministro do regime autoritário, foi redimido
depois de figurar por dez anos entre os alvos preferenciais da ferocidade de Francis. “Escrevi coisas
brutais sobre Campos”, penitenciou-se. “São erradas. Retiro-as.” Em 1993, num jantar em Porto
Alegre, dividiu uma mesa com o ex-inimigo. Depois de cumprimentar o homem à sua esquerda, virouse para o amigo ao lado e murmurou: “Quem diria, hein? Agora estou à direita até do Roberto
Campos”. A disposição para mudar de ideia tinha limites. José Sarney, por exemplo, nunca deixou de
ser o símbolo da jequice brasileira, filha da esperteza dos que mandam e da ignorância dos que
obedecem. “Um amigo me disse que tubarões andaram à caça de Sarney”, escreveu em 2 de janeiro
de 1988. “Já comecei a babar diante dessa possibilidade. Aí está uma solução.”
A argúcia excepcional e o pessimismo crônico somaram-se para apressar a decepção com Luiz
Inácio Lula da Silva, justificada na coluna de 16 de agosto de 1985. “Admirei Lula quando apareceu.
Enfim, um líder sindical que cuidava do pão e manteiga dos trabalhadores, o que é essencial à
modernização capitalista do Brasil. Durou pouco. Lula me parece ter sido envolvido pela grã-finagem
esquerdista do Morumbi e adjacências (...) Hoje, repete as mesmas sandices populistas que ouvimos
desde os tempos de Jango Goulart.” Nas eleições de 1989, apoiou Fernando Collor—que reduziria a
pó depois das bandalheiras que resultaram no impeachment — para exorcizar dois fantasmas muito
apreciados pelo PT: a interferência excessiva do estado e o aparelhamento da máquina pública
Francis antecipou em mais de vinte anos o cenário deste 2012.
O que diria o polemista sem medos se sobrevivesse para saber a que ponto pode chegar um país
em adiantada. O que diria o polemista sem medos se sobrevivesse para saber a que ponto pode
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chegar um país em adiantada decomposição moral? Como trataria os ministros que perderam o
emprego por safadeza explícita, mas seguem impunes? O que faria depois de confrontado com o
primeiro presidente da República que nunca leu um livro? A tensão provocada pela ação indenizatória
movida pela Petrobras precipitou o amargo desfecho, e as perguntas ficarão sem resposta. Pena. A
jornalista Sonia Nolasco, mulher de Francis, decidiu que o marido seria enterrado com o par de
óculos de lentes grossas sobre a testa. Ele partiu com cara de quem continuaria enxergando as
coisas como as coisas são.
Zero Hora – O que a FestiPoa tem a ensinar
Escritor destaca a relevância de evento que se encerra nesta sexta na Capital
(23/04/12) Levando em conta o olhar e a curiosidade de quem observa as inquietações culturais
gaúchas a partir de Santa Catarina recuando, sem desviar o foco, pelo Paraná, São Paulo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e assim, em curva, até o Acre, há bem pouco tempo a pergunta era: o que há
de novo no cenário dos eventos literários do Rio Grande do Sul?
Isso porque segue forte o interesse dos leitores dos demais Estados por esse extremo brasileiro que,
para além de Dyonélio, Erico, Moacyr, Caio Fernando, Mario e também dos autores consagrados
ainda em atividade, vem oferecendo ao país o maior volume de novos autores relevantes (hoje
eventual lista abarcando prosa e poesia contemplaria, com segurança, mais de 50 nomes de
repercussão nacional)?
A novidade, em resposta à pergunta, veio, em meio a outras estreias, com a Festa Literária de Porto
Alegre, invenção da cabeça de leitor apaixonado e muito atento ao contemporâneo nacional do
jornalista Fernando Ramos. Admitido esse contexto e seu desejado amadurecimento, surge outra
indagação pertinente: o que há de novo na FestiPoa e neste rótulo de quinta edição?
Talvez pelos autores e artistas que recusam tantos convites, mas se dispõem a participar dessa festa
literária ao entender sua proposta nada conveniada aos encastelamentos literários, aos coronelismos
que só admitem a promoção dos asseclas, aos apadrinhamentos que acabam guindando a posições
políticas estratégicas pessoas incapazes de dialogar com o novo e olhar para além do próprio
umbigo, ou talvez pela alegria que só existe no verdadeiro desprendimento; não há como saber ao
certo. O que se pode afirmar é que nesta edição foi possível perceber o aumento significativo de
escritores e editoras de outras partes do Brasil interessados em interagir com esse encontro que, em
sua informalidade, não dispensa o ótimo conteúdo dos debates e a verticalização das opiniões.
Aqui se chegou e não é justo negar que a FestiPoa tem muito a repercutir e a ensinar com essa sua
atualidade, com essa sua dinâmica de leveza e destemor diante da descentralização inevitável das
curadorias, das eleições, das consuetudinárias puramente mercantis e resistências canônicas. O
grupo de pessoas que se constituiu em torno da iniciativa de Fernando Ramos conserva de maneira
notável o entusiasmo e a irreverência da primeira edição.
Nesses dias de semana inicial estive próximo das observações pontuais e espirituosas de Beatriz
Resende, César Aira, Italo Moriconi e Joca Reiners Terron, todos na condição de convidados pela
primeira vez, e posso assegurar seu contentamento com o que viram. Superam-se os protocolos e se
monta uma festa que parece não dar atenção ao tal onde exatamente quer chegar. Reclama-se tanto
da ingenuidade enquanto valor das soluções criativas, e, no entanto, ressurge nessa proposta de
celebração do conteúdo literário, como ressurge em tantos outros acontecimentos aparentemente
corriqueiros pelo país, a chance de revisão e oxigenação dos diálogos. A festa vem ganhando
tamanho e cobiças, só espero que não perca o seu despojamento nem sirva à criação e ao
enraizamento de novos coronéis, de novos caciques.
Correio Braziliense - Bom para Brasília
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Com debates intensos e produtivos, e nomes como o Nobel Wole Soynka, a Bienal Brasil coloca a
cidade no mapa da literatura mundial
Felipe Moraes e Nahima Maciel
(25/4/2012) A 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura levou
três dias para engatar, mas quando esquentou os motores,
trabalhou a todo vapor. O evento durou 10 dias e recebeu
250 mil pessoas. Ou 460 mil, se a conta incluir os shows
realizados a partir da quinta-feira. Inaugurados no sábado 14
de abril, os quatro pavilhões lotaram a partir da terça-feira
seguinte, quando centenas de ônibus de escolas públicas e
privadas do Distrito Federal começaram e estacionar na
entrada principal para deixar os milhares de estudantes. Um
total de 50 mil alunos visitaram a Bienal em companhia de
professores. Desses, 24 mil estavam munidos de cartão com
crédito de R$ 40 fornecido pela Secretaria de Educação
para gastar nos 158 estandes do evento.
Pelos dois auditórios, arenas infantis e Café Literário,
passaram mais de 200 convidados, com seis baixas
registradas pelos mais diversos motivos. José Dirceu e
Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, não
apareceram para os debates do Seminário Krisis e foram vaiados pela plateia. Conceição Lima, de
São Tomé e Príncipe, não embarcou por problemas de saúde, e Abdulai Sila não pôde deixar a
Guiné-Bissau por causa de um golpe de estado. Adriana Falcão também não esteve na mesa sobre
dramaturgia brasileira; e Marcio Souza ficou em Manaus por conta de um problema de saúde na
família.
A temperatura dos encontros entre autores e públicos se media pelas temáticas e pelos horários
reservados às palestras. Se os corredores dos estandes estiveram sempre muito cheios — com
destaque para a quantidade de crianças e as filas gigantes nos caixas das livrarias —, boa parte dos
debates vespertinos não chegou a preencher nem metade dos lugares das salas. À noite, no entanto,
faltou cadeira em muitas palestras.
Curiosamente, foi o Seminário Krisis, cuja temática não era exatamente a literatura e sim questões da
contemporaneidade, o responsável pelas maiores lotações. Muita gente ficou de pé para ouvir Tariq
Ali, Vandana Shiva, John Gray, Vladimir Safatle e Emir Sader. Alice Walker, autora de A cor púrpura,
também lotou o auditório na noite de sexta-feira. Uma plateia engajada aplaudiu de pé as falas de
Alice sobre racismo, política, meio ambiente e feminismo. Na apresentação de Vandana, parte do
público também precisou ficar de pé e um protesto pelo veto do Código Florestal interrompeu a fala
da ativista indiana. “Isso eu esperava”, diz Nilson Rodrigues, coordenador-geral do evento. “Eu não
queria uma Bienal que só discutisse a literatura e seu processo. Brasília gosta de debater, de discutir
outros temas. E tem uma plateia de nível razoável.”
Seminários
Talvez por falta de divulgação — ou pelo próprio desconhecimento dos leitores —, as mesas com
escritores latino-americanos e africanos foram apresentadas para públicos modestos, mas
participativos. Na rodada de literatura hispânica, o colombiano Héctor Abad e o mexicano Mario
Bellatin, já no segundo dia da programação, protagonizaram um debate de ideias intenso e produtivo:
momento máximo dos seminários. No mesmo segmento, estiveram nomes importantes como os
argentinos Juan Gelman e a jovem Samanta Schweblin, e o chileno Antonio Skármeta.
Infelizmente, os debates com autores africanos (a maioria deles de língua portuguesa) também
tiveram plateias pequenas. A moçambicana Paulina Chiziane e o angolano Ondjaki, numa manhã de
desabafos sinceros sobre a relação (aparentemente) saudável entre Brasil e África e as literaturas de
ambas as partes, foram destaque.
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A estrutura física que abrigou estandes e auditórios merece observações negativas: banheiros
químicos sem luz e água durante várias horas do dia, praça de alimentação com cardápios
monotemáticos — predominância de salgados e pastéis e ausência das redes locais —,
estacionamento confuso, sinalização tímida dos espaços — que foi sendo melhorada já durante o
evento, pouco a pouco —, e sonorização ineficaz dos auditórios — som e ruídos externos vazavam
facilmente para dentro das salas.
Le Monde - Le paradoxe Lispector
Entre 1967 et 1973, Clarice Lispector a tenu une chronique régulière dans O Jornal do Brasil, l'un des
principaux quotidiens de Rio de Janeiro. Y donnait-elle son avis sur la situation, pourtant dramatique,
du Brésil ? Non. Les lecteurs découvraient sous sa plume des considérations plus étranges.
Questions sans réponse - " Rater sa vie c'est s'en servir ou ne pas s'en servir ? Qu'est-ce que je
cherche à savoir, exactement ? " -, listes de sentiments " dont je ne sais pas le nom " - " Si je reçois
un cadeau donné avec affection par une personne que je n'aime pas comment s'appelle ce que je
ressens ? " -, apostrophes pour personne - " Je ne peux rien te garantir - je suis la seule preuve de
moi - et ainsi je t'explique ce que les autres ne comprennent pas et qui m'envoie à l'hôpital. " Les
familiers de son oeuvre y retrouvaient le mystère et la radicalité de celle qui, une vingtaine d'années
plus tôt, s'était fait connaître avec Près du coeur sauvage (1944 ; Des Femmes, 1982, pour l'édition
française), foudroyant chef-d'oeuvre écrit en quelques mois à l'âge de 18 ans et pour lequel elle avait
été comparée à Virginia Woolf (qu'elle n'avait jamais lue). " Je serai brutale et mal faite comme une
pierre, je serai légère et vague comme ce que l'on sent et ne comprend, je me dépasserai en ondes,
ah, Dieu, et que tout vienne et tombe sur moi, jusqu'à l'incompréhension de moi-même (...), de toute
lutte ou repos je me lèverai forte et belle comme un jeune cheval. " Ainsi s'achevait ce livre,
unanimement reconnu, dès sa publication, comme un classique de la littérature lusophone. Quant à
l'accueil fait à la personne de l'auteur, ce fut une autre affaire. L'Américain Benjamin Moser, dans la
biographie qu'il lui consacre, s'amuse à rappeler le saisissement ébahi des critiques littéraires à
l'irruption de Clarice Lispector dans le paysage catholique et réactionnaire du Brésil.
Dans les années 1960 et plus tard, les livres qu'elle publia ne permirent jamais de lever le mystère de
sa personnalité. Le Bâtisseur de ruine (Gallimard, 1970), Agua Viva, La Passion selon G. H. (Des
Femmes, 1980 et 1985) semblent au contraire vouloir creuser la distance avec un monde où " des
milliers de gens de bonne volonté copient avec un effort surhumain leur propre visage et l'idée
d'existence ". Lire Clarice Lispector, c'est donc se mettre en présence de ce qu'elle nomme " une
désadaptation inquiétamment heureuse ". On pense à Pessoa, à certains contes de Kafka, aux kôan
zen. " Je veux être anonyme et intime ", disait-elle. " Je veux parler sans parler, si c'est possible. "
Hors du Brésil, où elle est un monument, le caractère secret de sa vie, doublé d'une réputation
d'hermétisme littéraire - pas vraiment justifiée -, a confiné son oeuvre dans les marges, en dépit des
efforts incessants des éditions Des Femmes pour la faire reconnaître.
C'est sur cette existence mystérieuse de l'écrivain, morte en 1977, que Benjamin Moser pose la
lumière crue de l'investigation. Sa biographie, riche de témoignages, livre de Clarice Lispector un
portrait vivant, souvent fascinant, ponctué d'anecdotes hautes en couleur ou bizarres, mais presque
toujours captivantes. On y apprend tout de son enfance à Recife, dans la région du Nordeste, de ses
études de droit, de son emploi de journaliste à l'Agencia nacional au début des années 1940, et de
ses découvertes littéraires (Fédor Dostoïevski, Katherine Mansfield et surtout Hermann Hesse). On y
découvre ses équations tragiques. Son goût pour les personnages hors norme - l'écrivain dandy
homosexuel Lucio Cardoso fut l'amour de sa vie - contrarié par une alliance conformiste en 1943 avec
un diplomate - elle dont la prose insurrectionnelle se dressait contre le mariage. La vie en Italie, puis
en Suisse, et les premières dépressions. Le divorce mal vécu en 1959 et les années de solitude,
l'angoisse grandissante face au spectacle de la folie qu'elle avait cru son lot et qui s'emparait de son
fils cadet, les nuits sans dormir perdues à réveiller des amis au téléphone, à fumer et à écrire, la
machine sur ses genoux, recopiant des notes prises n'importe où, les journées passées à affronter
une réputation d'excentricité grandissante. Et de temps à autre, comme envoyé d'un lieu secret resté
libre, un texte.
Pour expliquer le paradoxe Lispector - cette existence bizarre et morne ponctuée de livres sauvages -,
Moser émet l'hypothèse d'une " névrose de guerre ". Clarice, révèle son biographe, fut conçue en
Ukraine en 1920 par des parents qui fuyaient l'horreur. Sa mère violée durant un pogrom en aurait
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contracté la syphilis, et Clarice serait née de la croyance en un remède invraisemblable de l'époque
selon lequel accoucher guérissait des chancres. Ainsi aurait-elle grandi à Recife entre un père aux
ambitions foudroyées par l'exil (il était devenu colporteur), et une mère que la maladie aspirait peu à
peu et finalement tua en 1929.
Moser, qui consacre au début de son livre un nombre de pages considérable à l'histoire de l'Ukraine,
jette ainsi sur la vie et l'oeuvre de Lispector la sinistre lumière de ce trauma. Il y ajoute, comme pour
faire bonne mesure, une dose de judaïsme mystique. A-t-il raison de le faire ou tombe-t-il là dans les
ornières du sociologisme historique qui croit expliquer lorsqu'il ne fait que réduire ? Ecrire, pour le
genre d'écrivain qu'est Clarice Lispector, c'est lutter mot à mot pour comprendre ce que l'on
comprenait si bien avant de chercher à le dire. Toute explication détruit l'ombre qu'elle s'est choisie.
Marc Weitzmann
Pourquoi ce monde. Clarice Lispector, une biographie
(Why This World),
de Benjamin Moser,
traduit de l'anglais par Camille Chaplain, Des Femmes- Antoinette Fouque, 440 p., 25 €.
BBC - Rio de Janeiro festival brings literature to favelas
By Beth McLough
Every July, the celebrities of the publishing world gather in a small town on the lush coast of Rio de
Janeiro state.
They are drawn to Brazil by a literary festival that has already been attended by renowned authors
including Martin Amis, Margaret Atwood and Paul Auster.
The warm reception and idyllic setting prompted British novelist Ian McEwan to refer to the Paraty
International Literary Festival, or Flip, as it is known , as "like being in A Midsummer Night's Dream".
Brazil is not an obvious choice for an international literary festival.
Book sales are still relatively low and although there has been an improvement in literacy rates, some
14 million Brazilians, especially those older and poorer, cannot read or write.
Now Brazil has an alternative festival devoted to the written word. This one, though, has a grittier
setting - Rio de Janeiro's favelas or shantytowns.
Julio Ludemir, the man who came up with the idea, wanted to bring the pleasures of literature to a
wider audience and to focus on the writing talents of the most marginalised, namely the favela
residents themselves.
All the favelas taking part have a permanent police presence, known as UPPs, or units of police
pacification, deployed to drive drug dealers out of the slums.
The new festival, named Flupp (Literary Festival of the UPPs), got under way this month, holding
sessions in the Prazeres favela and running a competition to find the best writing.
Some 13 sessions in total will have taken place by the time the festival ends on 14 July, when the 30
top entries will be selected and published in a book.
Voracious readers
The festival's curator, Toni Marques, says the goal is to show that the favelas can be fertile soil for
literature.
"We want people to see how life in the community is raw material for writing, like any reality," she said.
Contributor Jessica Oliveira, 19, said: "I write about my everyday life. That doesn't include Christ the
Redeemer, the postcard image of Rio de Janeiro, because even though I live in Rio, I've never been to
see the statue."
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Among those contributing creative writing to the event are police officers deployed in the slums.
Ms Marques explains their involvement, saying it was the police who "created the conditions for a
cultural project which is a long way from the stereotype of what people from favelas are into".
The idea that people living in Rio's slums only want to play football or capoeira is far from the truth, as
is the idea that they are only interested in spending their new-found disposable income on consumer
goods, according to Flupp's organisers.
"We discovered that there is as much of an appetite for culture in these areas as there is for new
mobile phones and televisions," said Mr Ludemir.
"Everyone's talking about this emerging class in Brazil, and its new power to buy consumer goods.
Nobody realises they are also voracious readers."
My life
Nevertheless, statistics suggest that Brazilians have a long way to match the reading habits of their
neighbours in Colombia or Argentina.
According to a 2010 survey by the main industry organisation, the Brazilian Book Chamber (CBL), only
a third of Brazilians class themselves as regular readers, meaning they have read a book in the last
three months.
There is evidence, however, that this is changing.
In 2010, book sales in Brazil increased by 8.3% on the preceding year, and have continued to grow,
according to the CBL.
In many cases, people are reading the Bible or other religious titles, such as Father Marcelo Rossi's
Catholic self-help book Agape, a publishing phenomenon that sold 7.5m copies in Brazil last year.
But books, like many consumer goods, are also prohibitively expensive for a large number of people.
The organisers of Flupp have found that in many cases, those without the 30 Brazilian reais (£10,
$15) to spend on a paperback had found cheaper ways to feed their reading habit.
"As well as a big market in second-hand books, young people download bestsellers from the internet
in English, then use Google Translate to read them in Portuguese," said Mr Ludemir.
Flupp's organisers hope their event will help to give favela residents a voice of their own.
"I love it when someone reads what I have written, laughs and says 'that happened to me!' I want
people to identify with what I write," said Ms Oliveira.
"I am from the outskirts but we have a culture just as rich and diverse as the richest parts of town."
El Tiempo - Un vecino muy grande
Brasil es el invitado de honor a la Feria y quiere que conozcamos sus riquezas
Este museo enseña que cuando llegaron los portugueses, en 1500, había 1.200 pueblos indígenas
con distintas lenguas y que con los cuatro millones de esclavos africanos que arribaron a sus costas,
más los portugueses y los que empezaron a nacer allí, se creó una forma de hablar el portugués que
parece un canto.
Entonces es cuando se entiende que Brasil 'invitado de honor a la Feria del Libro de Bogotá' es
mucho más que samba, fútbol y carnaval, gracias a su lengua, pues en una proyección en la pared,
las palabras de ese idioma se vuelven la historia de su danza, sus fiestas, su música, sus relaciones,
su comida, su cotidianidad y hasta sus favelas.
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Ese vecino trajo un 'batallón' que incluye un poco de todo: escritores muy importantes, autores de
literatura infantil, cine, exposiciones de pintura y fotografía, capoeira, cantantes, guitarristas y
grafiteros.
En su 'fuerte' en Corferias habrá espectáculos de capoeira los días 21, 22, 28 y 29 de abril, a las 12
m., y actividades como: Mirar el mundo desde Brasil , Con João Paulo Cuenca y Santiago Nazarín.
Hoy, 5 p.m. Sala José A. Silva. El mundo dibujado . Con Ziraldo Alves. Hoy, 6 p.m. Sala José
Asunción Silva. La vida a través de la poesía. Con el poeta Affonso Romano, cercano, buen
conversador y autor de libros de poemas como ¿Qué país es este? . 22 de abril, 3 p.m. Sala Porfirio
Barba Jacob. Literatura y memoria. Guiomar de Grammont y Cristovao Tezza, de Brasil, y Sergio
Ocampo (Colombia). 25 de abril, 6 p.m. José A. Silva.
El Tiempo - 'La unión cultural ayudará a preservar la identidad de América
Latina'
Así lo dice la Ministra de Cultura de Brasil, País invitado de honor en Ferian del Libro.
GLORIA HELENA REY
Ana de Hollanda, que lidera la delegación de su país en la Feria del Libro, en la que el gigante
suramericano es el invitado de honor, defiende la unión cultural de América Latina para enfrentar la
globalización y preservar nuestra identidad.
Menuda, delgadísima, dueña de una gran sonrisa y de un timbre de voz suave y pausado, es, sin
duda, una consentida de la vida en muchos sentidos. Por más de medio siglo, creció y vivió al lado de
los personajes más representativos de la cultura y la política brasileña y latinoamericana. Su madre
fue la pianista María Amelia Alvim; su padre, el respetado historiador Sergio Buarque de Holanda; su
hermano, el mundialmente reconocido cantautor Chico Buarque, y, como si fuera poco, es pariente
del famoso escritor, filólogo y lexicólogo Aurelio Buarque de Holanda, autor del Diccionario Aurelio,
máximo oráculo brasileño de la lengua portuguesa.
A sus 63 años, es una sobreviviente del cáncer, al que derrotó en 1995. "Soy muy afortunada, me
siento muy feliz y estoy muy agradecida con la vida", admite. Ana de Hollanda no ha parado de
trabajar desde los 16, cuando se subió por primera vez a un escenario como integrante del conjunto
Chico Buarque y las otras cuatro, del que hacía parte con sus hermanas Cristina y María do Carmo.
En 1968, participó en el III Festival Internacional de la Canción, que se realizaba en Río de Janeiro, y
en 1980 lanzó su primer disco como solista: Ana de Hollanda. El segundo, Tan simple, llegó después,
tras derrotar el cáncer.
Ha cantado al lado de grandes de la música brasileña como Toquinho, Vinicius de Moraes, Fafá de
Belem y Tom Jobim, y actuado como actriz en varias obras de teatro, pero se ha destacado, sobre
todo, como gestora cultural. "La cultura es el alma de un país", dice.
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De Colombia, reconoce con sencillez que sabe poco, pero no duda en mencionar la importancia del
Nobel Gabriel García Márquez en la literatura, de Botero en la pintura y de Shakira en la música. "Me
ha impactado la gran diversidad cultural de Colombia: las culturas indígenas, africanas, amazónicas,
etc... Es un país enormemente diverso y culturalmente riquísimo. Por eso, no solo estoy muy feliz por
el reconocimiento que se le hace a Brasil como invitado de honor en una de las ferias del libro más
reconocidas y respetadas del último cuarto de siglo, sino también por la aproximación de nuestros
pueblos. Históricamente, aunque vecinos, hemos estado dándonos la espalda", afirma.
Una prueba de lo que dice sería el poco o nulo conocimiento popular que tenemos los colombianos
sobre uno de los grandes homenajeados brasileños en esta feria: el famoso escritor João Guimarães
Rosa (1908-1967), destacado por el Instituto Nobel de Oslo y por el Club del Libro Noruego en el
2002 como uno de los grandes autores latinoamericanos, al lado de García Márquez, Jorge Luis
Borges y Juan Rulfo.
Guimarães Rosa fue diplomático en Bogotá (1942-1944) y presenció en la capital el 9 de abril de
1948. Esa experiencia la plasmó en su cuento Páramo, en el que se entremezclan la soledad, la
nostalgia, el frío, la humedad y la asfixia producida por el soroche bogotano.
Lo mismo sucede con grandes escritoras brasileñas como Clarice Lispector (1920-1977) y Cora
Coralina (1889-1985), y, por eso, la Ministra está decidida a construir y consolidar los puentes
culturales con Colombia, para que empecemos a conocernos mutuamente. Para eso, se reunió con la
ministra colombiana de Cultura, Mariana Garcés Córdoba.
Uno de los primeros pasos de Brasil en ese sentido es un proyecto de becas para traductores de los
grandes escritores brasileños. Para desarrollarlo, el Ministerio de Cultura entra en contacto con las
editoriales, quienes, a su vez, seleccionan a la persona que traducirá al español, inglés, francés,
alemán, coreano o cualquier otra lengua una las grandes obras de la literatura de Brasil.
Ese país trata de impulsar, igualmente, intercambios entre artistas y escritores colombianos y
brasileños que puedan residir en cada uno de los países por un tiempo para que puedan desarrollar,
mediante becas, cursos y experiencias que amplíen sus conocimientos. "Es fundamental que
valoremos lo que es producto de nuestras propias raíces, independiente de la influencia europea, por
ejemplo. Queremos dar valor y fuerza a las expresiones materiales, musicales o artísticas de
cualquier índole que expresan nuestra identidad, que nos hacen únicos y diferentes, como las
artesanías o como la capoeira, por ejemplo, en el caso concreto de Brasil", dijo la Ministra brasileña.
Como el reconocido escritor uruguayo Eduardo Galeano, señaló que el aislamiento entre nuestros
pueblos latinoamericanos se produjo porque, durante muchos años, quisimos ser otros y no nosotros
mismos. "Nos comunicábamos más con Europa y Estados Unidos que con nuestras propias raíces.
Tuvieron que pasar años para que regresáramos y empezáramos a aceptar nuestra propia identidad".
¿Cuál es la estrategia de Brasil para impulsar la lectura en esta época de Internet y de aparente crisis
del libro en papel?
No es la primera vez que se habla de crisis de la lectura. Cuando entró la televisión también se
predijo el fin de la lectura. Lo que tenemos que hacer es aprovecharnos de la tecnología para
impulsar no solo la lectura, sino la escritura. Internet no tiene que ser visto como un adversario, sino
como una herramienta que nos permitirá una mayor difusión y utilización del lenguaje. La mayoría de
las personas lo utilizan tanto para leer como para escribir. ¡Aprovechémonos de esa relación tan
activa con la tecnología!
Es algo muy positivo, que debe impulsarnos a mejorar tanto la escritura como la lectura. No pasaba
eso con la televisión, que es algo esencialmente pasivo. Por lo tanto, no creo que deberíamos hablar
de crisis de la lectura, sino de un momento de adaptación a los nuevos mecanismos que la
transportan. Pese a eso, creo que el libro de papel difícilmente va a desaparecer, pues siempre es un
buen y práctico compañero en viajes largos, en momentos de espera prolongada, en muchas
actividades de nuestra vida cotidiana.
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¿Se habla también de una crisis en la cultura de América Latina?
No lo percibo de esa forma. Creo que la cultura en América Latina está creciendo porque está
encontrando su identidad, regresando a sus raíces. Eso no se había producido antes, porque
estábamos pensando en ser todo, menos latinoamericanos. Para Brasil es prioridad número uno el
intercambio cultural con América Latina, independientemente de las diferencias o divergencias
políticas o económicas que puedan existir entre nuestros países. Tenemos que unirnos para
preservar y fortalecer nuestra identidad. Somos pueblos mestizos y no tenemos 'razas puras', gracias
a Dios. Eso nos hace millonarios en la diversidad.
Ana de Hollanda nunca había estado en Colombia y Bogotá la sorprendió. "Me impresionó, porque no
es tan caótica, como la mayoría de ciudades brasileñas, y su tráfico no es tan asustador como el de
São Paulo".
Brasil será también invitado de honor en las próximas ferias del libro en Alemania, Italia y Francia,
pero, de momento, lo que espera Ana de Hollanda es que aquí, en Bogotá, le vaya muy bien. "Estoy
confiada en los autores brasileños que trajimos, porque fue una muy buena selección".
Participan en esta feria casi 60 escritores de Brasil.
MODA
IstoÉ Dinheiro - Alta renda
A estilista alagoana Martha Medeiros se destaca no mercado internacional ao aliar artesanato e moda
de luxo.
Por Bruna Borelli
(23/4/2012) A renda não surgiu no Brasil,
mas é aqui que vive um dos grandes nomes
da confecção de renda da atualidade. A
alagoana Martha Medeiros se apaixonou por
moda aos 6 anos – quando costurava a
roupa das bonecas – e, hoje, comemora o
sucesso no mercado internacional da grife
que leva seu nome. Seus vestidos, blusas e
bolsas foram tão bem recebidos na primeira
remessa feita em fevereiro para a Bergdorf
Goldman, em Nova York, que a sofisticada
loja de departamento já encomendou mais
uma leva de peças. “Não havia passado nem um mês e eles já estavam pedindo reposição das
roupas”, afirma a estilista. A história das rendas no vestuário é antiga, data de mais de meio século.
Mas, no Brasil, sua produção sempre foi feita de maneira tradicional, sem a linguagem
contemporânea das peças de Martha.
“Faltava alguém para trazer a renda para a moda”, afirma André Robic, diretor-executivo do IBModa.
Tanto no Exterior quanto no País, diversos estilistas se inspiram nas delicadas tramas da renda para
compor suas coleções. É o caso do dominicano Oscar de la Renta e do brasileiro Ronaldo Fraga, que
já dedicaram alguns de seus desfiles ao tecido. “O diferencial de Martha é que ela só faz renda em
todas as coleções”, diz Robic. Enquanto muitas grifes chegam ao Brasil de olho no crescimento da
economia local, a estilista faz o caminho inverso. Martha acredita que as vendas no Brasil já
chegaram a um limite de mercado. Além da loja própria nos Jardins, em São Paulo, a grife está
presente em 30 pontos de venda pelo País. “Mais do que isso faria com que a gente perdesse o foco
do público-alvo”, afirma Martha.
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Moda artesanal: um único vestido da grife de Martha Medeiros chega a demorar mais
de um ano para ser confeccionado.
Com um escritório em Miami – responsável pela marca no estrangeiro –, ela quer conquistar o
mundo. A ideia é que as vendas internacionais, que hoje representam 20% das receitas da grife,
respondam por 70% em cinco anos. Em suas criações, produzidas com material fornecido por um
pequeno exército de 300 rendeiras, não há nada de acessível: uma peça com a assinatura de Martha
Medeiros consegue alcançar tranquilamente a casa dos cinco dígitos. Um vestido sem muitos
adereços, por exemplo, não sai por menos de R$ 20 mil. A produção não ultrapassa mil peças por
ano. Isso porque o trabalho é artesanal, fazendo com que um único vestido demore mais de um ano
para ficar pronto. Mas a espera, segundo ela, tem recompensa. “Não existe nada mais elegante e
feminino do que um vestido de renda”, diz.
GASTRONOMIA
Jornal de Brasília - Mosaico de sabores
Brasília tem comida típica, sim: ela abraça a culinária de todas as regiões
Raissa Lomonte
(22/04/2012) Desde a simplicidade das banquinhas de feiras aos restaurantes mais sofisticados.
Brasília tem de tudo. Na cidade encontra- se uma mistura de regionalidades, que juntas agradam ao
brasiliense. A gastronomia diversificada é o retrato de uma Brasília cosmopolita, que acolhe tanto os
brasilienses quanto as gerações vindas de outros estados. Na Feira da Torre (assim como a de
Ceilândia e do Guará), estabeleceram- se inúmeras barraquinhas de comidas típicas de várias
regiões, especialmente do Norte e Nordeste.
Ali, a família de Michael Monteiro viu a oportunidade de iniciar um negócio, há 40 anos. “Minha avó
abriu a banca e hoje eu sou um dos responsáveis por tomar conta. As receitas são exclusivas, todas
de família”, diz o cozinheiro. Os pratos mais pedidos são o acarajé (R$ 6), a Tapioca Família (R$ 13),
e o cuscuz de tapioca (R$ 2), além das refeições. Monteiro conta que muita gente da Bahia frequenta
a Feira. “Aqui encontram um bom acarajé e matam a saudade, com boas lembranças. Os outros
pratos não têm um público certo, são pedidos por gente daqui e de fora”, relata ele. O comerciante
avisa que os temperos são colocados ao gosto do cliente, para não ter o risco de apimentar demais.
Como é inviável fazer tudo na barraquinha, tudo é pré-preparado na casa de Michel. Na Feira,
Michael frita as iguarias de acordo com a demanda. Outro segmento com público certo no DF são os
restaurantes voltados para a culinária de Minas Gerais, terra do idealizador de Brasília, o expresidente Juscelino Kubitschek.
Com algumas décadas de funcionamento, o Esquina Mineira, na Asa Norte, serve bufê (R$ 39,80)
com cerca de 35 pratos típicos. “Sa - bemos que tem uma grande quantidade de mineiros em Brasília.
Muitos de nossos clientes são de Minas, e, aqui resgatam memórias do passado”, revela a gerente da
casa, Val Oliveira. Os pratos preferidos são a galinha caipira com quiabo e o mexido mineiro, com
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arroz, feijão e bacon. “Seria como o baião de dois do nordeste”, explica. E não poderia faltar o típico
pão de queijo, que o Esquina Mineira serve com linguiça.
CULINÁRIA INTERNACIONAL
Comida japonesa, mexicana, argentina, italiana, árabe... Em Brasília, há público e espaço para todas
as especialidades, na opinião da chef Ana Toscano, do restaurante Villa Borghese, na Asa Sul. Há 18
anos instalada na Capital Federal, a casa serve comidas italianas e mediterrâneas. “Os moradores
gostam muito desse tipo de comida. Mas outras especialidades, a japonesa por exemplo, também
caíram no gosto do brasiliense. Juntas, as culinárias formaram um mix. Acho que essa é a
característica de Brasília”, afirma a especialista.
Alguns pratos, diz a chef, estão no cardápio desde a inaguração do restaurante. Entre os mais
pedidos estão o I Segredi di Nettuno (R$ 90), feito com camarões grelhados em azeite extra-virgem e
molho pesto, e o Tagliatelle della Casa (R$60), massa com molho especial que leva bacon, carne,
azeitonas pretas e é servida dentro de um pão italiano. “O mundo inteiro consome esse tipo de
comida: azeite, ervas e produtos do mediterrâneo. O Brasil recebeu essa influência dos imigrantes
italianos”, lembra Ana Toscano.
Correio Braziliense - Requinte no prato
Além das belezas arquitetônicas, Tiradentes oferece aos turistas um saboroso roteiro gastronômico.
Para tirar aquela sesta depois do almoço, a cidade dispõe de 170 pousadas e hotéis
O picadinho do restaurante Tragaluz acompanhado de banana assada e vegetais:
tour gastronômico é uma boa pedida em Tiradentes
(25/4/2012) Quem vai a Tiradentes e não visita as igrejas históricas comete o mesmo pecado de
quem deixa de experimentar os sabores tradicionais ou exóticos da região. A cidade oferece um
interessante roteiro gastronômico com uma rica lista de restaurantes — dos mais requintados aos
mais simples. Para começar, na cozinha internacional e com disposição para gastar um pouco mais,
a boa pedida é o Tragaluz, na Rua Direita, ou atrás da Matriz, na Rua Santíssima Trindade. O
cardápio é um capítulo à parte. Nele, várias galinhas-d’ angola explicam de maneira divertida o
conteúdo de cada prato, além de trazer informações sobre as atrações da cidade. Os preços podem
ultrapassar os R$ 60. Uma boa pedida é o picadinho (R$ 50) ou o lombo crocante (R$ 50).
No Centro, a cachaçaria e restaurante Confidências Mineiras oferece, além das 530 marcas de
aguardente — com preços que variam entre R$ 15 e R$ 540, culinária mineira, baiana e
contemporânea. O ambiente é muito agradável e os valores no cardápio são razoáveis.
Ao lado do chafariz, o Restaurante Ora-pro-nóbis ganha espaço em charme e paladar. A comida é
regional e variada com uma fusão do requinte e o tradicional. Pratos como leitão à pururuca, lombinho
à mineira com farofa de banana, grelhados, saladas, frango, costelinha, tropeiro, carne de panela,
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mandioca, torresmo, angu e os risotos são o forte das sextas à noite, como explica João Lombardio,
sócio do empreendimento.
“Tiradentes atrai muita gente, com uma tradicional agenda de eventos, que inclui os festivais de
cinema, gastronomia, jazz, motos, o carnaval e a semana santa. Como morador, convivo com
pessoas do mundo inteiro. A cidade tem mesmo esse apelo internacional, você fica antenado com
tudo o que ocorre, é como se também estivesse viajando”, diz João. Há uma unidade do Ora-pronóbis também em Bichinho (distante 7km de Tiradentes), com bufê sem balança a R$ 18 por pessoa,
além dos pratos à la carte.
No charmoso vilarejo, outra opção para o almoço é o famoso Tempero da Ângela, com um jeitinho
caseiro, feito no fogão a lenha e para servir à vontade, pagando R$ 16. O restaurante foi inaugurado
há oito anos e recebe pessoas de todos os lugares e faixas econômicas, como conta a proprietária,
Ângela Maria da Silva, 54 anos, natural do lugar, viúva e mãe de três filhos. Em dia de grande
movimento (que pode chegar a 400 clientes), ela trabalha com 20 pessoas, todas da região. A comida
é feita com os produtos colhidos na própria horta. Entre as especialidades estão: feijão tropeiro,
frango com ora-pro-noóbis, quiabo, torresmo, costelinha, ovo, linguiça e angu.
“A clientela é muito boa, e o restaurante geralmente agrada. Acredito que o que mais atrai na região é
o artesanato, a cultura, o cunho histórico e a gastronomia. Nós nos esforçamos para acompanhar a
demanda cada vez maior de turistas, com um bom atendimento, para que o visitante venha e, quando
for embora, sinta saudade”, conta.
Hospedagem
Depois de se fartar com a comida da cidade, nada melhor do que a cama para repousar. Tiradentes
tem cerca de 170 pousadas e hotéis, para todos os gostos e bolsos, totalizando cerca de 4 mil leitos,
além de camping e casas de aluguel de temporada. Por preços entre R$ 120 e R$ 160 a diária/casal
(com variações na alta ou baixa temporada, dia de semana ou fim de semana), a Pousada da Bia,
que fica próxima ao chafariz, tem 14 apartamentos com tevê, frigobar, piscina, área verde,
estacionamento e fogão a lenha. Já a Pousada das Artes, perto da rodoviária, tem 12 simpáticas
acomodações e recebe um público variado, com valores das diárias para casal por R$ 130.
Para quem está disposto a desembolsar um pouco mais para ficar em um ambiente superluxuoso, a
Pousada Boutique Oratório, a mais nova na cidade é a escolha perfeita. Com 7 mil metros quadrados
de terreno e 1,2 mil metros quadrados de área construída, a pousada era o sonho e o projeto de vida
de Lourenço Machado e Maria Luiza Lemos, desde a época em que eles se casaram.
“Estávamos pensando em um lugar que em termos de negócio fosse interessante, para unir o útil ao
agradável. Tiradentes está em franca expansão e, apesar de ser pequena, é cosmopolita, atrai
pessoas do mundo inteiro. Pensamos em várias opções de lugar, mas aqui ganhou pela beleza, não
só da natureza, mas da própria cidade. A Serra de São José, além do casario, foi o que mais nos
atraiu. Abrir a janela e ver a serra chama muito a atenção”, conta Lourenço.
São 11 apartamentos, todos de luxo, dentre eles três superluxo, com banheira de hidromassagem. A
diária é de R$ 550 (fins de semana) e R$ 422 (durante a semana) em baixa temporada,
respectivamente, incluindo um café da manhã delicioso e um agradável lanche da tarde. A pousada
contará ainda com um quarto adaptado para pessoas com necessidades especiais, um
estacionamento ampliado, espaço para jogos, outro para pequenas reuniões, além de área gourmet
ao lado da piscina, sauna e SPA.
Rogai por nós
A ora-pro-nóbis é uma planta cactácea de alto valor nutritivo e muito utilizada como ingrediente em
receitas. O vegetal, na cultura popular, é indicado para manter o bom funcionamento do intestino e
contribui para a cura de anemias. O nome vem do latim e significa “rogai por nós”.
Folha de S. Paulo – Cacau baiano: Feira na França faz homenagem ao
chocolate brasileiro
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(25/04/12) O Brasil será homenageado na edição deste ano da Sens et Chocolat, evento em Paris
que promove degustações e palestras sobre chocolate. Estarão presentes representes de marcas
como as francesas Christophe Roussel, a belga Pierre Marcolini e a italiana La Molina.
O brasileiro Diego Badaró, da Amma, foi convidado para participar e irá mostrar variações de
ganaches com diferentes proporções de seu cacau baiano. Para ele, a homenagem reflete "o
momento de renascimento do cacau no país".
OUTROS
Estado de Minas - Museu em casa
Mostras virtuais levam internautas a conhecer, com riqueza de detalhes, os acervos de instituições de
todo o mundo. No Brasil, exposição mais recente na rede é de Ouro Preto
Sérgio Rodrigo Reis
Peças em exposição no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, podem ser apreciadas pelo computador.
(24/4/2012) O cuidado para preservar obras de arte impõe certos limites aos visitantes das mostras,
que nem sempre são agradáveis. Exemplo: é praticamente impossível se aproximar das pinturas para
ver seus detalhes. E essa distância mínima exigida incomoda muita gente. O mesmo vale para
esculturas, que muitos gostariam de tocar, e para objetos que aguçam a vontade de interagir. Boa
opção para alimentar a curiosidade sem colocar as peças em risco é a disponibilização de acervos de
alguns dos principais museus do mundo para visitas virtuais na internet. O melhor: a tendência
chegou no Brasil.
Internacionalmente, quem está à frente é o Google Arte Project, ferramenta on-line que permite,
atualmente, a visitação virtual a 155 coleções pertencentes a algumas das principais instituições do
planeta. O mecanismo permite “caminhar” pelo interior das galerias observando detalhes até então
restritos aos funcionários e ao pessoal especializado. Para levar as cenas para a rede mundial de
computadores foi usada alta tecnologia: um carro percorreu espaços como o MoMA, de Nova York, o
Museu Van Gogh, em Amsterdã, a Tate Britain e a National Gallery, de Londres, produzindo imagens
em 360 graus (em torno das peças tridimensionais). Os acervos foram fotografados com câmeras de
alta resolução e as imagens estão acompanhadas de informações como títulos originais, ano de
criação e dimensões exatas.
No Brasil, um dos projetos que tem levado instituições para a internet é o Era virtual. A iniciativa,
liderada por equipe de designers mineiros, já colocou à disposição acervos de 13 importantes
museus do país. O mais novo da lista é o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, que acaba de
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entrar no ar. Além de disponibilizar imagens registradas por fotografias e textos informativos em
quatro idiomas, o projeto tem um diferencial: a ferramenta do audioguia. Com um clique, o internauta
consegue apreciar acervos de 10 museus mineiros, como o Museu de Artes e Ofícios (BH) e o Museu
do Diamante (Diamantina). Há ainda a opção de realizar visita guiada ao Museu da República (Rio de
Janeiro) ou à Casa de Cora Coralina (Goiás).
Modernização O projeto, criado com recursos das leis de incentivo à cultura e apoio da iniciativa
privada, nesta primeira etapa, convidou instituições para ter seus acervos registrados virtualmente. O
objetivo foi ampliar o alcance sociocultural das exposições, a partir da modernização da linguagem e
democratização do acesso. A ideia nasceu quando Rodrigo Coelho, um dos idealizadores do projeto,
observou o quão efêmeros eram os projetos de exposições em festivais culturais. “Eram despendidas
enormes quantias de dinheiro público para mostras que duravam pouco tempo. Por mais que
fotografássemos e filmássemos, perdia-se muito no processo”, conta. Em 2008, durante a Bienal de
Design, ele recebeu encomenda de projeto de visita virtual à exposição. “O resultado foi tão bom que
surpreendeu todos. Assim, começamos a registrar outros acervos a partir da exposição Olhar
viajante, da Casa Fiat de Cultura”, diz.
A possibilidade de acessar os acervos tem ampliado o alcance dos museus e gerado mais
curiosidade sobre eles. “Depois que colocamos os acervos na internet, aumentou a visita presencial,
pois as pessoas se sentiram estimuladas a conhecê-los de perto”, revela. No processo de
transposição dos conteúdos para a internet, a Era virtual não trabalha o conteúdo. Quem fornece as
informações são as instituições. O que eles têm feito é detalhar, com recursos virtuais, alguns
conteúdos. No Museu da Inconfidência, por exemplo, será possível desmontar um relógio histórico
que teria pertencido a Tiradentes ou ver bem de perto as esculturas. “A intenção é que as pessoas
consigam perceber a riqueza de detalhes de algumas peças”, conclui.
SÉCULOS PASSADOS
O Museu da Inconfidência foi inaugurado em 1944 com o objetivo de colecionar, pesquisar e expor
objetos relacionados à Inconfidência Mineira e aos principais fatos históricos da sociedade de Minas
dos séculos 18 e 19. Símbolo da construção da identidade mineira, o espaço, idealizado durante o
governo Getúlio Vargas, buscava, desde o início, resgatar e conservar a lembrança de um país pouco
preocupado com a preservação de suas raízes. Se nos primeiros anos a preocupação foi construir
uma representação cenográfica daqueles tempos, nas últimas décadas a instituição passou por
ampla transformação museológica, que ampliou seu significado e simbolismo. Na internet, o público
pode acessar boa parte do conteúdo gerado na instituição. A visita virtual é baseada na exposição de
longa duração. Com a nova tecnologia, os dirigentes da instituição esperam ampliar ainda mais a
visitação do lugar, que atualmente chega a 150 mil pessoas por ano.
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assessoria de imprensa do gabinete