19º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICODRAMA
“A Humanidade no século 21”
OBJETOS INTERMEDIÁRIOS: O USO DE ÍCONES NO PSICODRAMA
FERNANDO BOTTO LAMOGLI
DENISE FERREIRA
Resumo:Este artigo aborda a utilização de ícones como objetos intermediários no
psicodramacomo facilitadores do contato com o paciente. Para fundamentar o artigo,
analisou-se o que caracteriza um objeto intermediário, o emprego de recursos lúdicos
no psicodrama e a perspectiva de simbolização de linguagem por objetos.
Palavras-chave: Psicodrama, Objeto Intermediário,Recursos Lúdicos, Ícones.
INTRODUÇÃO
O uso de objetos intermediários em psicologia é frequente e sua aplicação não
se limita a uma única abordagem. O emprego de marionetes, bonecos, fotografias,
almofadas e ícones na relação terapêutica representa uma possibilidade de aplicação
prática do conceito de objeto intermediário.Os ícones, quando referidos nesse artigo,
representam objetos de variados tamanhos, formas, texturas e cores sem um
significado imediato em si, como é o caso de peças de encaixe estilo "lego", bem
como cubos, esferas e barbantes, dentre outros.
O emprego de objetos intermediários numa sessão psicoterapêutica representa
uma alternativa à comunicação exclusivamente verbal.Castanho (1995) define o objeto
intermediário como qualquer objeto que funcione como facilitador do contato entre
duas ou mais pessoas:
(...) uma bexiga, uma folha de jornal ou um barbante que servem para
intermediar a comunicação são veículos da expressão do afetos. (...) Possibilita
um distanciamento que relaxa o campo relacional (Castanho, 1995, p.32).
No psicodrama, Rojas-Bermúdez (1977) foi o pioneiro no estudo que propôs as
oito características de objetos para serem considerados intermediários: existência real
e
concreta,
inocuidade,
maleabilidade,
transmissibilidade,
adaptabilidade,
assimilabilidade, instrumentabilidade e identificabilidade.
O emprego de objetos intermediários como possibilidade de se fazer a
tradução simbólica de conhecimentos foi tratado por Romaña (1987). Na avaliação
final de uma disciplina, a educadora solicitou ao grupo uma montagem com papelão,
cartolina, fios, varas, bolinhas de madeira, dentre outros materiais, que representasse
os conteúdos do exame e que servisse de apoio para a explicação dos conhecimentos
teóricos. Com essa experiência, a autora percebeu a possibilidade de “simbolizar um
conceito a partir da associação de imagens significativas para a própria pessoa”
(Romaña, 1987, p.18).
Há diversas possibilidade de uso de objetos intermediários em psicoterapia.
Numa delas, pode o psicólogo apresentar ao paciente um conjunto de objetos, dentre
eles, almofadas, palitos de madeira, cubos e esferas de metal, barbante, etc. e pedir
que escolha um ou mais objetos que o represente de alguma maneira e, em seguida,
pedir que justifique a escolha feita.O emprego de técnicas em trabalhos terapêuticos
para proporcionar expressão simbólica de conteúdos pode se dar por uma via lúdica,
como ocorre por meio da modelagem de argila, bem como de desenhos, jogos e do
uso de ícones (Bozza, 2001).
Os ícones mencionados por Bozza, tem sua origem grega eikon, que significa
imagem ou reflexo. Esse conceito já se encontra em Platão, ao se referir a sua teoria
da arte, quando se remete ao universo visível como eikon do universo inteligível, ou ao
tempo como imagem da eternidade (Peters, 1974). As imagens sacras simbolizam
algo que não está presente e esta relação simbólica é preservada quando se utilizam
os ícones como objetos intermediários na psicologia. Conceitualmente, os ícones
encontram fundamentação na semiótica, como estudo dos signos.
Com o propósito de delimitar a amplitude do termo “ícone”, neste trabalho, ele
será empregado para designar objetos físicos que se enquadrem nos requisitos de
objetos intermediários propostos por Rojas-Bermúdez (1977) e que podem ser
exemplificados por peças de acrílico, madeira ou metal, de variados tamanhos e
formas, sementes, cacos de vidro, etc. Por meio de uma montagem com esses
objetos, o paciente pode encontrar um modo de se expressar que facilite o seu
processo de comunicação, quer pela abordagem lúdica em tese despertar menos
defesas, quer por permitir a expressão de elementos não-verbais que podem ser
captados pelo psicoterapeuta no processo.
Compreender teoricamente em que consiste um objeto intermediário e
embasar tal relação contribui para o desenvolvimento científico do tema, uma vez que
é utilizado e reconhecido o emprego de recursos lúdicos em psicoterapia como forma
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de atingir as finalidades desejadas numa relação psicoterapêutica. Segundo Cukier
(1992), o emprego de recursos lúdicos pode auxiliar o paciente a recorrer com menos
intensidade a mecanismos de defesa mais regressivos.
Uma das abordagens de utiliza recursos lúdicos – dentre eles os ícones –, é o
psicodrama que, dentre as técnicas que utiliza, emprega almofadas em algumas
dramatizações, tanto em psicoterapia de grupo quanto na bipessoal, algo que remete
ao uso desse recurso como objeto intermediário.Vários autores mencionados neste
trabalho,dentre eles Rojas-Bermúdez (1977), Dias (1987, 1994), Cukier (1992), Bustus
(1975, 1985, 2005), Kaufman (1978), Perazzo (1994, 2010), Menegazzo, Tomasini &
Zuretti (1992), Romanã (1987, 2004) fundamentam seus estudosna abordagem
psicodramática, abordagem que nasceu no dia 1º de abril de 1921 e teve como seu
fundador Jacob Levy Moreno, médico romeno que encontrou, no teatro espontâneo,
uma perspectiva de criar um método que proporcionasse uma psicoterapia de grupo
que se pautasse na ação, algo que transporia a abordagem meramente analítica e
verbal. Assim, o psicodrama passou do tratamento do indivíduo isoladamente para
este nos grupos e dos métodos verbais para os de ação (Moreno, (1946/2008).
O uso de objetos intermediários não se limita ao contexto de psicoterapia,
conforme
anteriormente
mencionado.
Elena
Bustuscitou
uma
aplicação
socioeducacional de peças como recurso didático, descrevendo e aludindo a
perspectiva de representação simbólica do mesmo:
Outro recurso didático são peças de acrílico transparente de várias cores; as
formas são duas: cilindros ocos com bordas dentadas e placas lisas com
encaixes. Podem encaixar-se umas nas outras, o que permite realizar infinitas
construções. O material de que estas peças são feitas e suas cores possibilitam
o livre jogo da fantasia e a abstração, por isso as utilizamos fundamentalmente
para representar imagens simbólicas(Bustus,2005, p.152).
Psicoterapeutas que utilizam recursos como as peças de acrílico transparente
para montagens frequentemente as mantêm armazenadas em recipientes de variados
tamanhos, desde um pequeno estojo, a sacos e caixas utilizadas para transporte entre
ambientes. No IX Congreso Iberoamericano de Psicodrama - Construyendo redes
desde el sur del sur (Buenos Aires, 2013), um dos trabalhos apresentados, intitulados
La caja de iconos, apresentou uma caixa nas dimensões de uma caixa de sapatos,
com cerca de trinta diferentes objetos, com cores, texturas e formatos diferentes, cada
um com pelos menos dez exemplares, totalizando ao menos trezentos ícones para a
aplicação executada em grupo (Ferreira & Lamoglia, 2013).
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A questão que aqui se coloca é: de que forma o psicodrama embasa a
aplicação de objetos intermediários em psicoterapia? A metodologia de revisão
bibliográfica utilizada neste trabalho tem por objetivo conhecer esta aplicação,
levando-se em consideração as contribuições de outras áreas de conhecimento
relativas ao tema.
Dessa forma, o presente trabalho expõe a seguir a fundamentação teórica a
partir da base psicodramática e demais contribuições teóricas de outras áreas da
psicologia e da semiótica.A opção por referenciar o estudo no psicodrama se dá pelo
emprego do termo “objeto intermediário” ter sido inaugurado por Rojas-Bermúdez,
autor referenciado por J.L.Moreno como precursor do psicodrama e da psicoterapia de
grupo na América Latina (Rojas-Bermúdez, 1977).As considerações finais foram feitas
em atenção à perspectiva de uso dos objetos intermediários no método
psicodramático.
DESENVOLVIMENTO DO TEMA
Objetos intermediários
O uso de objetos intermediários no psicodramaé referenciadonadécada de
1970, período em que Arthur Kaufman propôs a utilização de um estojo
psicoterapêutico como possibilidade de abordagem em psicodrama bipessoal. Tal
estojo era composto por uma variedade de brinquedos, dentre eles, bonecos de
figuras humanas. A representação de figuras internalizadas através dos brinquedos,
bem como a expressão de fatos e sentimentos de difícil verbalização e
reconhecimento são possíveis no uso dessa técnica psicodramática. O emprego de
recursos lúdicos pode auxiliar o paciente a recorrer com menos intensidade a
mecanismos de defesa mais regressivos, isso porque Kaufman considera que esta
maneira de trabalhar os problemas é mais inofensiva (Cukier, 1992).
A variedade de brinquedos do estojo de Kaufmanera empregada no sentido de
proporcionar uma comunicação entre protagonista e diretor, alternativa à abordagem
da verbalização direta. O emprego de brinquedos, na ótica de Rojas-Bermúdez,
cumpriria uma função de representar simbolicamente conteúdos do paciente. Para
descrever esta representação, utilizou a expressão objeto intermediário. Este termo
(...) está vinculado à experiência realizada com marionetes em psicóticos
crônicos, com o fim de atrair a atenção dos mesmos, durante as sessões de
psicodrama. (...) descobri que o efeito produzido pelas marionetes não se
reduzia simplesmente ao fato de cativar a atenção, mas era também um valioso
elemento para a comunicação (Rojas-Bermúdez, 1977, p.92).
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Rojas-Bermúdez descobriu que o emprego de marionetes possibilitava
respostas não obtidas quando o contato era feito diretamente de pessoa a pessoa.
Assim, o uso de uma marionete, despida da característica humana, passava a ser um
objeto inócuo aplicado no contexto psicodramático. A marionete, considerada como
um objeto intermediário, proporcionou a expressão de conteúdos do paciente sem
provocar reações de alarme. Numa das aplicações, Rojas-Bermúdez (1977) constatou
que o protagonista conseguiu assumir, por intermédio das marionetes, “o papel que
pessoalmente não pôde fazer” (p. 99). Na percepção de Castanho (1995), “oobjeto
intermediário possibilita um distanciamento que relaxa o campo e com isso há um
enriquecimento das distinções e, portanto, das relações” (p. 32).
Para ser considerado objeto “intermediário”, não basta a mera existência real e
concreta. Os requisitos que qualificam um objeto para ser intermediário são oito,
conforme propôsRojas-Bermúdez:
1. Existência real e concreta
2. Inocuidade. Que não desencadeie “per se” reações de alarme
3. Maleabilidade. Que possa ser utilizado à vontade em qualquer jogo de
papéis complementares
4. Transmissibilidade. Que permita a comunicação por seu intermédio,
substituindo o vínculo e mantendo a distância.
5. Adaptabilidade. Que seja adequado às necessidades do indivíduo.
6. Assimilabilidade. Que permita uma relação tão íntima, que o indivíduo possa
identificá-lo por si mesmo.
7. Instrumentalidade. Que se preste para ser utilizado como prolongamento do
indivíduo.
8. Identificabilidade. Que possa ser reconhecido imediatamente. (RojasBermúdez, 1977, p.100)
O emprego de objetos intermediários reduz a possibilidade do paciente levantar
suas defesas e constituir um“si mesmo expandido”. Assim, o limite psicológico da
personalidade protege o “si mesmo” do protagonista e os estados de alarme
proporcionam uma expansão desse limite, dificultando a vinculação dos papéis com o
mundo exterior. O objeto intermediário reduz o estado de alarme (Rojas-Bermúdez,
1977)
Uma das possibilidades de se empregar objetos intermediários é por meio de
ícones, considerados, para esse artigo, como objetos físicos que satisfaçam os
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requisitos propostos por Rojas-Bermúdez (1977), dentre os quais, peças de encaixe
de plástico, esferas, cubos, pedaço de barbante de cores e tamanhos variados, etc.
Para se compreender os ícones conceitualmente, encontramos fundamentação
nasemiótica, que aponta sua origem no termo grego semeion,“signo”. Charles Sanders
Peirce, conceituado cientista, matemático, historiador e filósofo é considerado o
fundador da moderna semiótica. Ele propôs os três tipos de signos: ícone, índice e
símbolo (Peirce, 2000).
Signo pode ser entendido como algo que representa outra coisa, qual seja: o
seu objeto. O ícone, um dos tipos de signo, se refere ao objeto em razão de sua
aparência, sem necessariamente se constatar similaridade física entre o signo e o
objeto representado. As qualidades formais do signo se assemelham às do objeto e,
decorrente disso, uma vez diante do ícone, a mente experimenta sensações como se
estivesse diante do objeto (Peirce, 2000).O terreno da semiótica é arenoso e as
discussões teóricas nela travadas são de elevada complexidade. A adoção do termo
ícone consagrou-se pelo uso, principalmente por psicólogos e pedagogos. Na
psicologia cognitiva, os ícones são compreendidos pela capacidade de referenciar
algo: “Símbolos que se parecem de algum modo com seus referentes são
denominados ícones” (Sternberg, 2010, p. 305).
Conforme já mencionado, o emprego de objetos intermediários na psicologia é
comum a várias linhas teóricas. Encontram-se formas variadas de buscar a expressão
simbólica de conteúdos do paciente que contribuem para o desenvolvimento da
relação psicoterapêutica.Uma técnica, de utilização da argila como recurso lúdico de
aplicação psicoterapêutica, foi desenvolvida por Bozza (2001).O objetivo do emprego
da técnica é proporcionar a expressão simbólica de conteúdos do paciente, algo que a
autora reconhece ser possível por meio de outras técnicas, dentre elas: o desenho, o
brinquedo, o jogo e os ícones (Bozza, 2001).
A fundamentação teórica da técnica de emprego de argila, proposta por Bozza
centra-se na psicanálise e, dada a característica da argila representar conteúdos
simbólicos do paciente, a sua aplicação preenche os requisitos de objeto intermediário
propostos por Rojas- Bermúdez. A autora assim descreve o funcionamento da
aplicação da técnica, organizada e proposta como método: “(...) por meio desse
método, o paciente projeta os seus conteúdos e posteriormente lhe dá uma forma
pessoal ao poder falar dela e expressar o que lhe parece e significa”(Bozza, 2001,
p.16).
A proposta de Bozza remete a uma aplicação lúdica da argila, a exemplo do
que ocorreu com as marionetes de Rojas-Bermúdez. A abordagem lúdica em
psicoterapia é reconhecida em diversas linhas da psicologia. No caso clássico do
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pequeno Hans, Freud formulou hipóteses de aspectos fóbicos relacionados a um olhar
psicanalítico sobre as brincadeiras da criança (Freud,1909/1989). Anos mais tarde, ao
observar o seu neto de 18 meses de idade, Freud descreveu o ato de brincar e atribuiu
possíveis interpretações a esse ato em “Além do princípio do prazer” (Freud,
1920/1989). A criança, fazia um movimento de jogar um carretel de madeira amarrado
a um cordão para fora de seu campo visual e de puxá-lo, tornando-o novamente
visível. A cada movimento de desaparecimento e reaparecimento do carretel, a criança
pronunciava um “ó” e um “dá”, respectivamente. O ato de brincar representaria um
deslocamento dos medos, angústias e raiva da criança para o meio externo por meio
da ação (Freud, 1909/1989).
Melanie Klein comparou o ato de brincar da criança às associações livres no
adulto. No caso Fritz, a autora observou seu próprio filho e evidenciou que aquilo
utilizado na brincadeira era entendido como expressão simbólica dos conflitos e, por
conta disso, passível de interpretação (Klein, 1955/1991). Segundo ela, "a criança
expressa suas fantasias, seus desejos e suas experiências reais de um modo
simbólico, através da brincadeira e jogos” (Klein, 1932/1997).
A perspectiva de objetos intermediários
referirem, simbolicamente,
a
características de interesse psicoterapêutico,remete à maneira como o psicodrama
concebe o inconsciente.Almeida (2012) abordou o inconsciente no psicodrama e
discutiu a complexidade conceitual e as suas diversas perspectivas de abordagem.
Para ele, inconsciente poderia ser estudado sob diversos ângulos:
[...] o instintual da biologia, o neurocibernético, o desconhecido de nossa
subjetividade, o das instituições, os histórico-social? Ou, então, o das
intensidades, de Liebniz, o das multidões de Le Bon, o espiritual de Viktor
Frankl, o antropológico, de Lévi-Strauss, o da presença-ausência de Santo
Agostinho, o isso, de Groddeck, o arquetípico de Jung, o maquínico, de
Guattari. E, também, o poético dos devaneios românticos, o da semiótica, o da
linguística, o das potencialidades da vida intencional, da fenomenologia
husserliana. Ou, ainda, o inconsciente 'profundo' das escolas esotéricas e o
inconsciente “subliminar” da manipulação da mídia (Almeida, 2012, p. 111-112)
O autor também menciona os inconscientes de Wilhelm Reich, bem como o
sensorial de Moreno e de Charcot e Freud. Além de tais figuras, destaca, ainda, os
inconscientes pesquisados por psicodramatistas brasileiros, dentre os quais estão
Fonseca Filho, Volpe e Naffah Neto.Na concepção psicodramatista, trazida no
Dicionário de Psicodrama e Sociodrama, considera-se que“(...) em qualquer vínculo
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haverá, paralelamente, um vínculo consciente aparente para os dois integrantes do
mesmo e um nexo de inconsciente para inconsciente, criado por intermédio das
experiências compartilhadas” (Menegazzo, Turazini & Zuretti, 1992, p.56).
As contribuições da psicanálise freudiana são preciosas para se compreender
o inconsciente no psicodrama, pois existem pontos de convergência entre as
abordagens:
Na prática psicodramática, mantendo método próprio, sem 'trombar'com o
método psicanalítico, atinge um vasto campo da compreensão humana comum
a essas duas propostas de conhecimento. Trata-se de cuidar não do que está
recalcado pela censura intrapsíquica, mas do que está no interpsíquico (préconsciente/consciente), reprimido por imposições sociais ou oprimido por
pressões políticas (sentido amplo) e sem poder vir à luz da inter-relação
humana, permanecendo escamoteado no jogo relacional (Almeida, 2012, p.
116-117).
Ao caracterizar o inconsciente intrapsíquico, Almeida (2012) usa a expressão
“sei, mas não sei que sei” e, em referência ao segmento indizível da alma, relativo ao
interpsíquico, assinala “sei, mas não posso deixar saber que sei”. A complexidade
daquilo que é passível de ser comunicado não apenas pela verbalização, mas também
pelas diversas possibilidades simbólicas, algumas delas possibilitadas pelo emprego
de objetos intermediários, é imensa:
Quanta coisa oculta nesse reservatório emocional imenso: as perversões, a
vontade de transgredir, a mentira, o subterfúgio, a simulação, a dissimulação. A
inveja que não permite o agradecimento e o ciúme que cria a suspeita. A
ambivalência das emoções e a ambiguidade das decisões coibidas. Também
as ideias confusas que atravancam a cabeça, as angústias que atingem o
coração, as tensões que contorcem a musculatura e o contentamento que jubila
o espírito. As lendas e mitos da família, guardadas no fundo da memória, os
sentimentos de encanto, ternura e amizade, e também os de luto, pesar,
saudade e perdas. As gostosas lembranças da infância, as rupturas afetivas
dos vínculos e, por vezes, o abandono e a separação precoce. E as
humilhações, os segredos (ah... os segredos!), os ressentimentos, os fracassos
e a raiva contida. Igualmente, o sucesso a festa, o divertimento e as
louvações.A aspiração do poder. O anelo do saber. Os sonhos de felicidade. O
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desejo de serenidade. A religiosidade envergonhada. A postulação política
acanhada (Almeida, 2012, p.117).
A compreensão do inconsciente no psicodrama parte, segundo Almeida (2012),
do inconsciente proposto por Freud e o emprego de objetos intermediários possibilitam
o acesso a tais conteúdos numa via alternativa à abordagem verbal.
O Objeto Intermediário e Linguagem
A linguagem pode ser caracterizada de maneiras distintas dependendo da
abordagem empregada para tal finalidade. Entretanto, há propriedades específicas da
linguagem que podem formar um consenso acerca de suas propriedades, adotando-se
uma conexão entre a linguística e a psicologia cognitiva:
A linguagem é, especificamente:
1.Comunicativa: A linguagem permite que nos comuniquemos com uma ou
mais pessoas que a compartilham;
2.Arbitrariamente simbólica. A linguagem cria uma relação arbitrária entre um
símbolo e seu referente: uma ideia, um objeto, um processo ou uma descrição;
3. Estruturada regularmente: A linguagem possui uma estrutura; somente
arranjos de símbolos configurados especificamente possuem significado, e
arranjos diferentes resultam em significados distintos;
4. Estruturada em níveis múltiplos: A estrutura da linguagem pode ser analisada
em mais de um nível (por exemplo, em sons, em unidades de significado, em
palavras, em frases);
5. Gerativa e produtiva: A linguagem, dentro dos limites de estrutura linguística,
pode gerar novas formas de expressão. As possibilidades para a criação destas
novas formas é virtualmente ilimitada;
6. Dinâmica: As línguas evoluem constantemente(Sternberg, 2010, p. 304).
O emprego de objetos intermediários como recurso psicoterapêutico representa
uma forma de linguagem que possui um forte componente de arbitrariedade simbólica
do paciente. E esta relação, entre o que o objeto intermediário possa representar para
ele, deve ser investigada no âmbito de sua individualidade. Por esta razão, a escolha
de uma almofada maior para representar um familiar, terá significados diferentes para
cada paciente, pois a dinâmica de cada família atribuirá conteúdos diferentes
representados na almofada Nesse caso, a simbologia não pode ser presumida ou
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inferida pelo terapeuta. O autor distingue aquelas simbologias que são de significados
comuns aos interlocutores, como a representação de uma placa de trânsito que indica
uma via preferencial:
Nos comunicamos por meio de nosso sistema compartilhado de referência
simbólica arbitrária para objetos, ideias, processos, relações e descrições. A
natureza arbitrária do sistema alude à falta de qualquer razão para a escolha de
determinado símbolo. Realmente, todas as palavras são símbolos. Um símbolo,
neste contexto, é algo que representa, indica ou propõe alguma outra coisa.
Refere-se, aponta para ou alude a um processo, uma coisa ou uma descrição
específicos, como professor, divertir ou brilhante (Sternberg, 2010, p.305).
Os símbolos têm o poder de referir objetos, ideias e descrições de algo que
não está presente, bem como de representar algo intangível e até mesmo referenciar
aquilo que não existe. A capacidade humana de simbolizar de maneira arbitrária e
única levou o homem a criar modelos matemáticos que representam um universo que
se tornou inteligível graças à possibilidade de estabelecermos referências simbólicas
arbitrárias (Sternberg, 2010).
Portanto, a linguagem pode se expressar por diversas vias e os símbolos
visuais conferem a ela outra faceta de suas características arbitrárias. Vincular um
símbolo escrito a uma ideia, objeto ou descrição mais uma vez representa uma
relação que somente torna possível o compartilhamento a partir do pressuposto de
que um grupo reconhece tais representações simbólicas como aquilo que pretende-se
representar.
Objetos Intermediários como Egos-Auxiliares
O ego-auxiliar é um dos cinco instrumentos do psicodrama necessário à
compreensão do processo interpessoal que ocorre no cenário, bem como representa
um veículo para o tratamento (Menegazzo, Tomasini & Zuretti, 1992p.77).A ideia
original de Moreno relativa aos egos-auxiliares, se refere a atores que representam
percepções dos papéis internos ou figuras que dominam o mundo dos pacientes. “Os
egos-auxiliares são atores que representam pessoas ausentes, tal como aparecem no
mundo privado do paciente” (Moreno, 1946/2008, p.42)
Não há um consenso relativo à possibilidade de se caracterizar os ícones como
egos-auxiliares no psicodrama. Dias (1987) defende a possibilidade de uso de
almofadas e blocos de espuma como egos-auxiliares no psicodrama bipessoal:
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O psicodrama bipessoal é o atendimento do cliente somente pelo terapeuta
onde o processo psicoterapêutico se desenvolve na relação dois a dois e as
dramatizações são feitas utilizando-se de almofadas ou blocos de espuma no
lugar dos egos-auxiliares e o terapeuta, frequentemente, que entra com sua
voz, com parte do seu corpo ou às vezes de corpo inteiro no lugar dos
personagens do mundo interno do cliente(Dias, 1987, p.87).
Almofadas e espumas podem servir como ícones e, portanto, como objetos
intermediários. Ocorre que, à luz de Moreno, a caracterização de ícones como egosauxiliares seria obstaculizada pela impossibilidade deles cumprirem as funções para
tanto:
Na situação psicodramática, o ego-auxiliar tem duas funções - a de retratar
papéis e a de guia. A primeira função é a de retratar o papel de uma pessoa
requerida pelo sujeito; a segunda função é a de guiar o sujeito, mediante o
aquecimento
preparatório,
para
as
suas
ansiedades,
deficiências
e
necessidades, com o objetivo de orientá-lo no sentido da melhor solução de
seus problemas. (Moreno, 1946/2008, p.109)
As
considerações
de
Dias
(1997)aparentemente
se
contrapõem
à
caracterização do ego-auxiliar de Moreno, pela característica essencial deste ser uma
função necessária e inerentemente humana. Embora possa se considerar os ícones
como representantes simbólicos do mundo interno do paciente, eles (ícones) não se
expressam por si só. Por serem objetos inanimados, carecem de uma fala do paciente,
único capaz de dar sentido à sua montagem, em regra, por meio da oralidade.
Uma possibilidade de se harmonizar os autores seria a de adotar o termo egoauxiliar icônico para se diferenciar este de seu semelhante, qual seja: o ego-auxiliar
ator de Moreno. Enquanto o ator é capaz de captar sentimentos do paciente, os ícones
meramente simbolizam, por meio de concretização, partes de seu mundo interno, ao
indicar conteúdos, elementos, estruturas de funcionamento e de organização de forma
simbólica. O ego-auxiliar icônico é mudo e a habilidade do psicólogo de conduzir a
sessão por meio de instruções e de questionamentos dirigidos ao paciente para que
esclareça características da sua montagem é fundamental.
Os ícones numa montagem estão impregnados de conteúdos simbólicos do
mundo interno do paciente e podem representar tanto pessoas ausentes quanto
situações, sentimentos e tudo o que for possível concretizar. Enquanto os atores
dependem de um treino específico no papel de egos-auxiliares, os ícones, como
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objetos inanimados, podem cumprir a função de objeto intermediário, mas dependerão
da verbalização do paciente.
Sem que o paciente verbalize sobre a sua montagem, uma tentativa de
interpretação do que vê por parte unilateral do psicólogo seria um exercício da
inferência, algo que não coaduna com os pressupostos do desenvolvimento científico
e ético da psicologia.Nada substitui os atores naturais ou preparados. Sergio
Perazzoretrata esta questão com maestria: "Ninguém vai me convencer que almofada
é mais plástica que uma pessoa. Almofada não se mexe, não fala, não pensa, não
sente." (Perazzo, 2010, p.152)
Por mais que um objeto intermediário possa trazer significativos conteúdos do
paciente para serem trabalhados num processo psicodramático, nada substitui um
ego-auxiliar humano preparado para o desempenho de seu papel.
Espontaneidade, Aquecimento e Ícones
A espontaneidade se refere a um estado de prontidão para que o sujeito
apresente uma resposta a uma dada situação. Segundo Moreno (1920/1992, p.152), a
espontaneidade "É uma condição – um ajustamento – do sujeito, uma preparação do
mesmo para uma ação livre” (Moreno, 1920/1992, p.152).
A espontaneidade pode ser considerada como “(...) uma espécie de inteligência
que opera aqui-e-agora, hic et nunc” (Moreno, 1946/2008, p.37). Frequentemente a
espontaneidade é relacionada à situação em que o indivíduo é desafiado a dar uma
nova resposta, com certa adequação, a uma nova situação, ou à de dar uma resposta,
em certa medida nova, a uma situação conhecida.
Tanto o terapeuta quanto o paciente devem estar suficientemente aquecidos
para que possam trazer à tona as suas respectivas espontaneidades. Numa
dramatização, o aquecimento também serve para que surja o protagonista.
Dessa forma, nas situações de vida em que as pessoas são obrigadas a agir
diante de algo novo e inesperado, são convidadas a improvisar. A mobilização para
dar forma à resposta nova necessita de um transformador e catalisador: a
espontaneidade. (MORENO, 2008).
Para uma dramatização – tanto com o emprego de ícones quanto sem eles – é
indispensável a fase de aquecimento. “É a primeira etapa de toda sessão de
psicodrama, assim como de qualquer outro procedimento dramático (sociodrama,
jogos de papel etc.)” (Menegazzo, Tomasini & Zuretti, 1992 p.21).
O aquecimento pode ser representado pelo conjunto de procedimentos
aplicados para que o indivíduo seja preparado para a ação. Rojas-Bermúdez (1977),
traz uma analogia para os dois tipos de aquecimento: o inespecífico e o específico: um
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atleta, ao fazer uma breve caminhada e alongamentos, estará fazendo um
aquecimento inespecífico e quando passa a estimular os músculos envolvidos na ação
específica, como se simulasse um lançamento de dardos, passa ao aquecimento
específico.
O emprego dos ícones no psicodrama é precedido do aquecimento
inespecífico. As montagens são feitas a partir de uma consigna aberta ou fechada que
orienta as escolhas icônicas conscientes ou não feitas pelo protagonista. A
verbalização da consigna pelo diretor marca uma passagem que, conforme os rumos
seguintes, poderá caracterizar a montagem tanto como uma fase de aquecimento
específico quanto uma dramatização icônica.
Este tema merece algumas reflexões. Reportemo-nos às marionetes de RojasBermúdez, que propôs a expressão“objeto intermediário”. Para ele, os objetos
intermediários são utilizados como estímulos para trazer à tona aspectos
inconscientes ou condutas conflituais evitadas, conforme o papel em ação (RojasBermúdez, 1977). Na aplicação das marionetes, objetiva-se um aquecimento
específico para a dramatização: “O Diretor faz intervir, inicialmente, as marionetes e,
em seguida, os Egos Auxiliares. As marionetes são, deste modo, um "objeto
intermediário", que facilita a dramatização e o contato médico-paciente” (RojasBermúdez, p.42, 1977).
As marionetes servem, portanto, para a etapa de aquecimento específico, o
que não se confunde com o processo de aquecimento. O processo de aquecimento é
mantido durante toda a dramatização e quando ocorrem situações que levam ao
desaquecimento do protagonista, ele trava e sai do papel. Rojas-Bermúdez utilizou
com maestria as marionetes em situações em que o protagonista desaqueceu e saiu
do papel durante uma dramatização, o que se nota quando este elabora, durante o
auge da sessão algo como “e agora? continuo respondendo ele? [referindo-se ao egoauxiliar]”. Neste momento, empregar qualquer recurso ao alcance do diretor para
manter o aquecimento pode representar a salvação da dramatização.
O ponto em questão é se o emprego das marionetes neste momento específico
e a continuidade da dramatização com elas ao invés dos egos-auxiliares encarnados
caracterizam tecnicamente uma dramatização, pela força simbólica que os objetos
intermediários exercem na relação entre o protagonista e suas representações. As
marionetes agem "como se" e produzem efeitos no mundo interno do protagonista
representam uma verdadeira dramatização, como ocorre, mutatis mutandi, com uma
montagem icônica. Os ícones preenchem os requisitos propostos por Rojas-Bermúdez
para serem objetos intermediários, o que permite admitir que ícones podem servir
tanto como um recurso de aquecimento quanto como de dramatização.
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O aquecimento prepara a dramatização. Ela o ápice da sessão que visa uma
reconstituição da realidade vivida. Na ação, é possível identificar os papéis vividos
pelo protagonista que resultam da interação de suas estruturas fisiológica, social,
econômica e cultural (Naffah Neto, 1979).O aquecimento pode ser desencadeado por
diferentes estímulos, que são os iniciadores. Bustus (1985) propõe que os iniciadores
podem ser corporais, emocionais e ideativos. Os iniciadores corporais são aqueles
direcionados ao movimento e às tensões do corpo. Os emocionais deflagram
sentimentos e emoções e os chamados ideativos se referem às reconstruções mentais
da cena dramatizada. Os iniciadores, embora sejam apresentados dessa forma por
Bustus, possuem outras classificações propostas por outros autores, dentre eles
Almeida (2012) e Naffah Neto (1979).
Quando um iniciador está em ação, os outros também estão. A classificação
em corporal, emocional e ideativo é feita por motivos didáticos pois, na prática, quando
o diretor toma a iniciativa de acionar um determinado iniciador, acaba por deflagrar a
ocorrência de todos simultaneamente (Perazzo, 2010).
O aquecimento não é um processo mecânico, mas representa antes um
esforço de abertura à situação, onde todos os sentidos funcionam como iniciadores,
no sentido em que 'iniciam' o indivíduo nas próprias transformações e novidades da
realidade na qual está inserido. Assim, pois, poderíamos dizer que o iniciador
fundamental é a própria percepção, como via de abertura ao mundo, onde os vários
processos que se seguem tais como imaginação, memória, pensamento e expressões
verbais estão sempre determinados pela maneira como a percepção reconquista e
penetra a realidade, ou seja, pela colocação do corpo frente a um espaço e um tempo
determinado. (Naffah Neto, 1979, p.66).
Os ícones representam uma possibilidade de concretização de partes do
mundo interno do protagonista. Ao dramatizar com eles, acionam-se iniciadores
fundamentalmente ligados à percepção ideativa. Uma vez aquecido, o protagonista
assume um papel específico e tem início a dramatização, seja por meio de egosauxiliares humanos ou por egos-auxiliares icônicos, explorando-se a própria
montagem como eixo-central da dramatização. A espontaneidade, assim como a
criatividade e o aquecimento são conceitos fundamentais para a compreensão dos
iniciadores. (Perazzo, 2010).
Depois de ter escolhido um punhado de ícones da caixa, o foco do paciente
passa a ser direcionado, de modo consciente ou não, à adequação de cada peça a ser
posicionada num diálogo interno que compara os ícones a aquilo que se pretende
representar dramaticamente “como se”. “O „como se‟ é o universo que tenta indicar a
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realidade através do imaginário dramaticamente representado” (Menegazzo Tomasini
& Zuretti, 1992, p.58)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O emprego de objetos intermediários em psicoterapia pode ser constatado em
diversas abordagens, das quais foram mencionadas nesse trabalho a psicanálise
(Klein, 1932; Bozza, 2001) e o psicodrama (Rojas-Bermúdez, 1977; Cukier, 1992;
Kaufman, 1978). Nesta última foram referenciados os estudos desse artigo, que
contou também com contribuições da semiótica, que apresentou conceitos de
símbolos, ícones e índices (Peirce, 2000) e da psicologia cognitiva, relativamente à
linguagem (Sternberg, 2010).
O emprego de objetos intermediários no psicodrama deve preceder de um
correto aquecimento, tanto do inespecífico quanto do específico, para que seja
possível uma dramatização rica em conteúdos simbólicos que poderão ser resgatados
na fase de compartilhamento.
A questão abordada relativa à possibilidade dos ícones se constituírem egosauxiliares, à luz do pensamento moreniano, é negativa. De fato, o termo ego-auxiliar
pressupõe uma pessoa, um ator preparado para desempenhar tal função, em
concordância com o pensamento de Perazzo (2010). No entanto, a construção de Dias
(1987) permanece válida no sentido de que as almofadas e espumas possibilitam a
comunicação de algo que se concretiza na montagem confeccionada pelo
protagonista. Daí a perspectiva de se propor que se utilize, no caso dos ícones, o
termo ego-auxiliar icônico, para se distinguir daquele preceituado por Moreno
(1946/2008).
Dentre as possibilidades de emprego de objetos intermediários no psicodrama,
foram destacados os ícones, sendo estes objetos físicos que preenchem os requisitos
propostos por Rojas-Bermúdez.Os objetos intermediários materializam uma condição
da comunicação de utilizar algo para representar outra coisa, a exemplo do que ocorre
com muitos símbolos, conforme Sternberg (2010). A perspectiva de se empregar
recursos como os ícones em psicodrama refere a um aporte conceitual que
compreende uma aplicação embasada na ação, obtida por meio de um aquecimento
adequado, com os iniciadores adequados.
Desde o emprego das marionetes de Rojas-Bermúdez (1977) e do estojo de
ícones de Kaufman (1978), o uso de recursos alternativos à abordagem puramente
verbal em psicoterapia vem se mantendo e é importante que o desenvolvimento de
métodos, como o da argila e do mapeamento icônico e de técnicas relativas às
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aplicações sejam aperfeiçoados, de modo a contribuir para o desenvolvimento
científico da psicologia e do psicodrama.
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O uso de ícones como objetos intermediários no psicodrama