AQUISIÇÃO DE TERMOS DAS CIÊNCIAS NATURAIS NO CICLO I DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM PROJETO DE PESQUISA Elisa Lourenço Pupim1 ; Mariângela de Araújo 2 1 Discente do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo. Email: [email protected]; ²Professora Doutora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo. Email: [email protected]. 1. INTRODUÇÃO Este projeto vincula-se ao Programa de Pós-Graduação “Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional” – ProfLetras –, fomentado pela Capes, que pretende oferecer aos estudantes, professores de Língua Portuguesa das redes públicas do Ensino Básico, um estudo científico-acadêmico atrelado ao desenvolvimento de propostas inovadoras de ensino, além da melhoria na qualidade de ensino. A partir desse ponto, pretende-se a abrir um espaço para diálogos entre os estudos da Lexicologia, da Lexicografia e da Terminologia com o ensino da Língua Portuguesa, bem como com outras disciplinas do currículo escolar, a exemplo das Ciências Naturais. Nessa perspectiva, esta pesquisa está sendo embasada nos estudos terminológicos desenvolvidos pelo projeto intitulado “Subsídios para a elaboração de um dicionário terminológico das Ciências Naturais para professores atuantes no Ensino Fundamental I: a constituição de uma base de dados terminológicos”, coordenado pela Profa. Dra. Mariângela de Araújo, da Universidade de São Paulo, para conceber a seleção dos termos a serem avaliados. Ressalta-se que o objetivo inicial do projeto referido é a constituição de uma base de dados terminológicos na grande área das Ciências Naturais, cujos termos foram retirados de livros didáticos de Ciências Naturais para o Ciclo I, aprovados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) dos anos de 2010 e 2013. Neste Projeto de Pesquisa, pretende-se, de início, investigar o nível de apreensão que os estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental tiveram dos termos das Ciências Naturais presentes nos livros didáticos e que, presumidamente, foram abordados nas aulas de Ciências dos cinco primeiros anos do Fundamental, a fim de se pesquisar como se verifica o processo de apropriação vocabular desses estudantes no decorrer do Ciclo I escolar. O levantamento do corpus desta pesquisa será feito por meio de análises qualitativas por amostragem, tendo como base um teste específico, já desenvolvido, a ser aplicado nas turmas de 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal, de uma escola pública estadual e de uma escola privada, todas na cidade de São Paulo. Ademais, também serão realizadas entrevistas com os coordenadores pedagógicos e com os professores de Ciências Naturais dessas escolas, no intuito de se investigar a carga horária destinada ao ensino de Ciências e os temas mais abordados. 2. METODOLOGIA Para a constituição do corpus desta pesquisa, selecionou-se 40 termos, usados pelas Ciências Naturais, muito frequentes em contextos definitórios e explicativos de livros didáticos destinados ao primeiro ciclo do ensino fundamental, que constam da base de dados do projeto já referido. Os termos previamente selecionados foram os seguintes: água, alimento, ambiente, animal, ar, atmosfera, bactéria, calor, célula, cérebro, corpo, digestão, ecossistema, energia, energia elétrica, folha, fotossíntese, fungo, gás carbônico, gás oxigênio, luz, nutriente, órgão, órgãos dos sentidos, pele, planeta, planta, pulmão, respiração, sangue, saúde, semente, ser humano, ser vivo, Sol, solo, substância, temperatura, Terra, vegetal. A escola eleita para o início desta investigação foi a EMEF Prof. André Rodrigues de Alckmin, vinculada à Diretoria Regional de Ensino Freguesia do Ó/ Brasilândia, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Essa escola se encontra localizada no bairro Vila Terezinha, periferia da Zona Norte da cidade. Em entrevista com a professora Elizabete Cordeiro da Rocha, responsável pelas turmas do 4º e 5º ano dessa escola, foi solicitado que ela escolhesse, dentre os 40 termos elencados, os 10 mais estudados em suas aulas de Ciências com esses alunos, para a composição do oportuno teste da amostragem. Os termos selecionados pela professora foram os seguintes: água, ambiente, calor, cérebro, gás carbônico, gás oxigênio, planeta, saúde, Sol e Terra. O teste foi aplicado para os alunos do 6º ano A e B, do período da manhã, e C, D e E, do período vespertino, ao longo das aulas de Ciências ministradas pelas professoras Rosa Rodrigues e Nancy Doli Justiniano Amoz, respectivamente. Foi sugerida uma orientação inicial na qual se solicitou que os alunos guardassem todos os livros e cadernos e que explicassem, com suas palavras e concepções pessoais, os termos examinados pelo teste. Além da lista com os 10 termos, foi deixado um espaço em branco para que eles explanassem sobre outros termos das Ciências Naturais que conhecessem, ou mesmo para que fizessem um desenho representativo dos termos, caso assim o desejassem. Optou-se por essa estratégia com a intenção de não limitar a investigação a tão somente aqueles termos eleitos pela professora Elizabeth Cordeiro da Rocha e, deste modo, permitir que expressassem com mais liberdade, consciência e desenvoltura o conhecimento adquirido previamente. A título de curiosidade, por exemplo, diversos alunos do 6º ano A e B acrescentaram e explicaram os termos fungo e bactéria nesse espaço, pois eram os conceitos que eles estavam estudando com a professora Rosa Rodrigues naquela semana. Outro termo também mencionado por grande parte dos alunos foi natureza. É interessante notar que fungo e bactéria fazem parte dos 40 termos selecionados inicialmente, com o critério de frequência e contexto definitório, já natureza não entrou nessa seleção. Vale ressaltar que, durante a operação do teste, não foi dada nenhuma explicação a respeito do significado dos termos pela professora, nem pela pesquisadora. Por fim, este trabalho também se encontra em fase de levantamento bibliográfico e, em virtude de sua natureza interdisciplinar, salienta-se a busca por estudos acerca da aquisição da linguagem, e mais particularmente do léxico, como os propostos por Vygotsky sobre o desenvolvimento dos conceitos científicos na infância e, igualmente, sobre a relação entre o pensamento e a linguagem – bem como algumas questões relevantes em matéria de Psicolinguística –, afora os estudos elaborados, principalmente por Araújo e Estopà, dentre outras referências, na área da Terminologia. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com as premissas de Estopà (2011), ao tomar por diretrizes mestras e pressupostos essenciais para este estudo a ideia de que o léxico é a base do conhecimento científico e que todo conhecimento, referente a dado ramo científico, perpassa a precisão técnica e se transfere conforme critérios e convenções, desde a assimilação das informações básicas já na educação primeva, é oportuno reconsiderar a elucidação de Biderman: “Os conceitos, ou significados, são modos de ordenar os dados sensoriais da experiência. Através de um processo criativo de organização cognoscitiva desses dados surgem as categorizações lingüísticas expressas em sistemas classificatórios: os léxicos das línguas naturais” (BIDERMAN, 1998, p. 11). Além disso, reforçando esse panorama lógico, cumpre-se salientar o pensamento de Vygotsky no sentido de que “o significado duma palavra representa uma amálgama tão estreita de pensamento e linguagem que é difícil dizer se se trata de um fenômeno de pensamento, ou se se trata de um fenômeno de linguagem. Uma palavra sem significado é um som vazio; portanto, o significado é um critério da palavra e um seu componente indispensável” (VYGOTSKY, p. 119). Logo, constata-se a relevância do teste aplicado, uma vez que está apto a propor a identificação e, até mesmo, vislumbrar a potencial efetividade da compreensão e do aprendizado dos alunos no tocante ao domínio do léxico e a sua instrumentalização, uma vez que também permite a viabilização e o redimensionamento da metodologia e das práticas de ensino. O gráfico a seguir demonstra a relação das variáveis, composta pelo conjunto dos dez termos selecionados para o teste e pela porcentagem dos 190 alunos que delinearam conceitos aceitáveis ou ofereceram, pelo menos, uma explicação exemplificativa plausível para esses termos. A análise foi qualitativa em razão da dimensão axiológica tanto do conteúdo expresso pelos alunos quanto da compreensão criteriosa do avaliador. Análise qualitativa dos termos em estudo por amostragem (em %) 60 50 40 30 20 10 0 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esta pesquisa, busca-se um estudo interdisciplinar visando à ênfase na interdependência na aquisição dos diferentes saberes e, portanto, demonstrar que o ensino de Língua Portuguesa está intimamente relacionado ao ensino de outras disciplinas do currículo escolar. Em suma, ao se observar que os conceitos se comunicam por meio das palavras e se transmitem por meio de textos, é perceptível que essa aproximação e, até mesmo, uma associação entre os distintos ramos de conhecimento podem contribuir de maneira bastante eficaz na aprendizagem dos alunos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M. Que interesse tem a Terminologia para os estudiosos da linguagem? In: III Semana de Filologia na USP, 2010, São Paulo. Atas da III Semana de Filologia na USP. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2010, p. 9-20. ARAÚJO, M.; SOUZA, P. H. Uma contribuição dos estudiosos da linguagem ao ensino de Ciências: elaborando um dicionário terminológico das Ciências Naturais. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências - I Congreso Iberoamericano de Investigación en Enseñanza de las Ciéncias, 2012, Campinas. Atas do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – I. Congreso Iberoamericano de Investigación en Enseñanza de las Ciéncias, 2011, p. 111. BIDERMAN, M. T. C. As ciências do léxico. In: OLIVEIRA. A. M. P. P; ISQUERDO, A. N. (Orgs). As ciências do léxico. Campo Grande: UFMS, 1998, p. 11-20. ESTOPÀ, R.; VALERO, T. Adquisición del conocimiento especializado y unidades de significación especializada en medicina. In: Panace@. Boletín de Medicina y Traducción, v. 3, n.º 9-10, 2002, p. 277- 292. Disponível em: <http://www.medtrad.org/panacea.html>. Acesso em: 15/5/2015. ESTOPÀ, R. Jugant a definir la ciència: un diccionari de mots de ciència fet per i per a nens i nenes. Terminàlia, n.º 4, dez. 2011, p. 25-33. Disponível em: <http://defciencia.iula.upf.edu./result_cat.htm#publicacions>. Acesso em: 7/5/2015. ESTOPÀ, R. Construir para deconstruir y volver a construir: elaboración colaborativa de un diccionario escolar de ciencias. Enseñanza de las ciencias, nº. 32.3, 2014, p. 571-590. Disponível em: < http://defciencia.iula.upf.edu/docums/2014_Ensenanza_Ciencias_32.pdf >. Acesso em: 7/5/2015. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Edição Ridendo Castigat Mores. Fonte digital: eBooksBrasil, 1962. Disponível em: <www.jahr.org>. Acesso em: 10/5/2015.