CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL A RESPIRAÇÃO BUCAL E SUA INFLUÊNCIA SOBRE AS ALTERAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO CRÂNIO FACIAL Uma revisão de literatura CÉLIA STAMFORD GASPAR RECIFE 2001 RESUMO A presente revisão bibliográfica sugere que a respiração bucal acarreta efeitos indesejáveis sobre o crescimento e desenvolvimento das estruturas crânio faciais. A obstrução da via aérea nasal concomitante com a adaptação do fluxo aéreo por via bucal, promovem trocas posturais e alterações neuromusculares que desencadeiam efeitos indesejáveis sobre o processo de crescimento facial. Dentre esses efeitos, é relatado o aumento da altura facial total, arcos superiores estreitos, adaptação postural das estruturas da cabeça e principalmente da mandíbula e da língua, desarmonias oclusais, tais como: mordida aberta, mordida cruzada entre outras alterações observadas. Veremos, assim, que para a minimização ou solução do problema, os profissionais ligados aos vários aspectos resultantes do errôneo desenvolvimento crânio facial decorrentes da respiração bucal, devem agir em conjunto, para um diagnóstico precoce e para uma completa avaliação e tratamento multidisciplinar do objeto da presente dissertação. ABSTRACT The present bibliographic review suggests that buccal breathing causes undesirable effects on growth and development of facial structures of the skull. The obstruction of the nasal path with adaptation of the air flux by oral way promotes postural changes and neuromuscular alterations which causes undesirable effects on the facial growth process. Between these effects, is related an increase of the total facial length, superior arches narrowing, postural adaptation of the head structures , mainly the mandible and the tongue, and also occlusions variance such as: open bites, crossed bites, and some other alterations are observed. We conclude that to minimize or even to resolve the problem, all professionals that are involved in the process of erroneous facial cranial development, arised from buccal respiration, must act united for the early diagnosis, complete evaluation and multidisciplinary treatment of the patient. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, que sempre me incentivaram e acreditaram em meus sonhos. Sempre ao meu lado nos momentos mais difíceis de minha vida. Aos meus irmãos, que estiveram sempre presentes com companheirismo e amor. A todos os professores que me deram base para que pudesse trilhar o caminho a ser percorrido na profissão fonoaudiológica. A todos meus amigos que estiveram ao meu lado e participaram de uma forma diferente na realização de mais uma conquista. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 1 2. DISCUSSÃO TEÓRICA .............................................................. 4 2.1. Fisiologia Respiratória .............................................................. 4 2.2. Respiração Bucal e Crescimento Crânio Facial ..................... 7 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 26 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................... 29 1. INTRODUÇÃO O equilíbrio da função respiratória é de fundamental importância não só para a fonoaudiologia, mas para outras especialidades da área médica, pois está diretamente relacionado com o desenvolvimento crânio facial. Seguindo a lógica desse raciocínio, a respiração bucal tem sido considerada há muito tempo como uma causa definida das anomalias dento faciais. Atualmente, há muita controvérsia se este padrão respiratório acarreta tais anomalias, como por exemplo: face longa e estreita, boca aberta, lábios separados, lábios ressecados, língua hipotônica, volumosa, repousando no assoalho bucal, mordida cruzada, desarmonias oclusais, apinhamento, palato ogival e uma série de outras anomalias que podem ser encontradas. A ausência ou insuficiência da respiração pela via nasal acarreta em uma utilização da boca como forma de compensação para a efetuação do procedimento respiratório do indivíduo. Essa obstrução pode ser provocada por aumento dos tecidos linfóides localizados no tracto respiratório como as adenóides e as amígdalas. Podem ser, também, evidenciados causadores da manutenção da respiração bucal, da obstrução mecânica no nariz por desvio do septo nasal, hipertrofia dos cornetos secundária à rinopatia alérgica ou vaso motora, pólipos, tumores ou ainda por hábitos cronicamente adquiridos e mantidos, como por exemplo: o uso prolongado de chupeta, falta de amamentação materna (aleitamento natural), hábito de sucção do polegar e o próprio hábito de respirar com a boca aberta, apesar da possibilidade do uso do nariz. A respiração sendo feita pelo nariz propicia crescimento e desenvolvimento favorável do maciço crânio facial, agindo conjuntamente com a mastigação e a deglutição. A teoria da matriz funcional de MOSS (1969), estaria bem evidenciada neste contexto, tal que, para o aumento dos ossos da caixa craniana, as cavidades da boca, do nariz e da faringe, consideradas espaços funcionais, provocariam com suas aberturas um harmonioso crescimento do complexo maxilo facial. Desse modo, as alterações das estruturas envolvidas no processo respiratório influenciam o crescimento do complexo crânio facial como um todo. Há várias pesquisas no campo do crescimento crânio facial e muitas delas apontam a respiração bucal como causa de significante alterações do crescimento dos ossos do complexo maxilo facial, como veremos mais adiante. Porém, existem algumas controvérsias entre os pesquisadores sobre o real significado da relação da respiração predominantemente bucal com possíveis alterações discorridas em seus estudos, como passaremos a apresentar. Este trabalho propõe-se a desenvolver uma revisão de literatura para demonstrar, através dos relatos de trabalhos de vários autores, a relação da função nasorespiratória e da respiração bucal e suas possíveis influências sobre as estruturas dento faciais, abrangendo as possíveis etiologias da respiração bucal, estabelecendo seu diagnóstico através de características clínicas e, principalmente, evidenciar as suas conseqüências, que seriam as alterações nas estruturas crânio faciais. Ao finalizar, o presente estudo chegará às conclusões mais comuns encontradas pela literatura médica, ao passo que apresentará suas impressões pessoais sobre o tema em comento, mostrando, ainda, as causas mais frequentes da má formação crânio facial decorrente da respiração bucal e sugerindo uma forma de tratamento do problema na esfera multidisciplinar. 2. DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1. Fisiologia Respiratória Para um melhor entendimento do presente texto, mister se faz apresentar algumas aclarações acerca da fisiologia respiratória, uma vez que vista sob a ótica do profissional da área de saúde, é necessário o entendimento, por parte deste último, de determinados aspectos do presente tema, uma vez que o referido profissional é quem irá diagnosticar e apresentar a melhor forma de tratamento para o paciente em questão. Assim, entendemos que a enumeração abaixo, longe de ser exauriente sobre o tema, apresenta alguns conceitos que serão melhor abordados adiante e imprescindíveis quando da análise dos entendimentos doutrinários sobre a matéria. Os conceitos abaixo transcritos são da lavra de HUNGRIA (1991), posição a qual nos filiamos; entendendo como ponto inicial conceitual para o deslinde do tema propriamente dito e sua abordagem. De início, sobre fisiologia respiratória, podemos dizer que as fossas nasais promovem filtragem, aquecimento e umidecimento do ar inspirado, portanto, desempenham importante papel na fisiologia respiratória, como também de proteção às regiões vizinhas (cavidades paranasais e auriculares) e às vias aéreas inferiores. A filtração do ar inspirado, é realizada pela ação mecânica das vibrissas, da função ciliar, do reflexo esternutatório e pela ação química, bactericida, do muco nasal. Todos esses elementos garantem a assepsia do ar inspirado, com a finalidade de proteção das vias aéreas inferiores. O aquecimento do ar inspirado se dá pela irradiação de calor vindo das lacunas arterio-venosas e da intensa vascularização da mucosa nasal. No umidecimento, o ar se torna molhado pelo vapor d'água, condição necessária à integridade anatômica e funcional dos cílios vibráteis, sendo assegurado, ainda, pela secreção mucosa, transudação serosa e secreção lacrimal. O muco, tanto umedece o ar inspirado, como adere as partículas estranhas. A trajetória do ar inspirado, ao nível das fossas nasais, é representada por uma curva que atinge o meato médio até as coanas e narinas. Existindo, ainda, outras duas correntes acessórias: a corrente inferior ou inspiratória secundária, que segue o corneto inferior e a corrente superior ou olfativa, que se dirige para a abóbada nasal, onde se encontram filetes do nervo olfativo. A corrente expiratória percorre o trajeto inverso ao acima explicitado; porém, ao passar pelos meatos e atingir a válvula, parte da corrente retorna ao interior da fossa nasal. As variadas saliências e depressões irregulares naturais das cavidades nasais, determinam retardamento na velocidade e mudanças na direção do ar inspirado e expirado, gerando turbulência das correntes aéreas respiratórias e, consequentemente, contato fisiológico mais demorado destas com a mucosa nasal, facilitando um melhor desempenho das funções acima citadas. A insuficiência respiratória nasal pode ter, em sua etiologia, não só condições de ordem anatômicas (malformações do septo nasal, hipertrofia dos cornetos, formações poliposas, entre outras), como também de ordem funcional (distúrbios vasomotores de origem neurovegetativa, insuficiência hepatorrenal, cardiovascular, distúrbios hormonais, entre outras). O bloqueio ou obstrução nasal, determina a respiração bucal "de suplência" e reduz a expansão torácica, o que pode levar a criança a apresentar certos distúrbios de desenvolvimento da caixa torácica, determinadas alterações morfológicas da coluna vertebral, do esqueleto facial, da abóbada palatina e arcadas dentárias. Passaremos, a seguir, a ingressar na discussão teórica sobre a influência da respiração bucal nas deformidades crânio faciais, uma vez abordados os conceitos imprescindíveis para o entendimento da temática sob o ângulo de visão dos profissionais envolvidos nessa área. 2.2. Respiração Bucal e Crescimento Crânio Facial A respiração bucal sendo um hábito deletério, representa uma disfunção respiratória, costumando acarretar significativas alterações nesse sistema. A respiração nasal, como se sabe, é função fundamental para o crescimento e desenvolvimento adequado do complexo crânio facial. A presença de algum obstáculo na cavidade nasal ou na região orofaríngea pode impedir o fluxo aéreo normal, parcial ou total. Em alguns relatos, vários autores definem respiração bucal e fazem associação das adenóides hipertróficas e suas conseqüências no processo de desenvolvimento crânio facial; levando a alterações tanto na musculatura facial, quanto nas estruturas ósseas componentes do sistema estomatognático. Os autores mostram as modificações nas estruturas ósseas do sistema estomatognástico em pacientes portadores de adenóides hipertróficas, onde pode ser notado o seguinte: o aumento das alturas faciais total e inferior, posicionamento mais anterior da língua, estreitamento do arco superior, alteração na inclinação dos incisivos superiores e inferiores, tendência ou presença de mordida cruzada, tendência a mordida aberta, entre outras alterações que podem ser, segundo os autores, observadas em pacientes respiradores bucais. MAYORAL et al. (1983) definiram a respiração bucal como uma anomalia e os obstáculos respiratórios como sendo as interferências na respiração nasal, que exigem do indivíduo a respirar pela boca, alterando as forças atuantes sobre os dentes e processos alveolares que os mantém em equilíbrio, produzindo, desse modo, anomalias dentofaciais. Em condições normais, as vias respiratórias deveriam ser as fossas nasais. Nas crianças, a freqüência de enfermidades, capazes de impedir o livre acesso do ar pelas fossas nasais, produziram a respiração bucal. Os mesmos autores citaram o fato de que a respiração bucal há muito tempo seria considerada uma causa definida das anomalias dento-faciais e que, atualmente, muitas dúvidas existem sobre se essas anomalias, acarretadas por este padrão respiratório, são mais devidas à herança genética do indivíduo que apresentar um tipo facial predisposto a maxilares estreitos e fossas nasais estreitas, do que a respiração bucal unicamente. Existem muitas entidades patológicas que poderiam representar um obstáculo para a respiração nasal. BACON e DUBOIS (1977) escreveram sobre o desenvolvimento do tecido linfóide e de sua importância na respiração bucal, acreditando que todo o obstáculo situado no trajeto da corrente respiratória a nível de fossas nasais acarretaria uma obstrução, dificultando e tornando de má qualidade a respiração nasal. Para eles, o obstáculo mais frequentemente encontrado seria a hipertrofia das vegetações adenoideanas, observada principalmente nas radiografias em norma lateral. Nestas, as adenóides apareceriam na porção situada acima do palato mole, como uma proeminência convexa, voltada para a superfície superior do palato mole. Já no plano sagital, essa amígdala estaria presa ao assoalho posterior da nasofaringe, abaixo do campo do esfenóide e do corpo do occipital. Segundo BACON e DUBOIS discorreram em seus ensinamentos, toda alteração de comportamento respiratório nasal para bucal, viria acompanhada por uma série de transformações funcionais que afetariam a postura da língua e da mandíbula, bem como o equilíbrio dos músculos orais e periorais. Essas transformações influenciariam o desenvolvimento da face, essencialmente a nível de diâmetro transverso da arcada superior e a nível de inclinação dos incisivos. FELÍCIO (1994) acredita que presença de adenoidites, amigdalites e rinites, impedem a respiração nasal; além disso, a necessidade de manter o tamanho da via aérea faringeal, modificará a posição da língua, da mandíbula e da cabeça, alterando, consequentemente, a postura. A respiração bucal tem como resultado o aumento da altura facial inferior, lábios separados, língua no soalho da boca, palato ogival, mandíbula abaixada, gengivite, atresia de maxila em relação à mandíbula, mordida cruzada posterior e vestibularização dos incisivos superiores. GRABER (1974) considera que a respiração bucal está ligada à função muscular anormal, assim como as adenóides e as amígdalas grandes estão associadas à respiração bucal. LINDER-ARONSON (1979) realizou um estudo em oitenta e um pacientes respiradores bucais com hipertrofia das adenóides, em que a adenoidectomia foi efetuada. Estes pacientes foram comparados a um número similar de casos de controle, do mesmo sexo e da mesma idade, mas sem nenhuma obstrução nasal. Após cinco anos, o mesmo estudo foi realizado com os mesmos pacientes, os resultados demonstraram que aquelas crianças que tinham apresentado problemas respiratórios, caracterizavam-se por apresentar: aumento nas alturas faciais total e inferior; menor profundidade sagital nasofaringea; posicionamento mais anterior da língua; estreitamento do arco superior; alteração na inclinação dos incisivos superiores e inferiores, altura da abóbada palatina normal; tendência ou presença de mordida cruzada e tendência a mordida aberta. Após realizada a adenoidectomia, LINDER- ARONSON constatou uma normalização da inclinação dos incisivos superiores e inferiores; normalização da largura do arco superior, da profundidade do espaço nasofaríngeo e da inclinação do plano mandibular em relação à maxila. O mecanismo das mudanças ocorridas causou diversas discussões e os resultados sustentaram a teoria de que os distúrbios respiratórios afetariam tanto a morfologia facial quanto a dentição. O citado autor observou, também, que existem dificuldades envolvendo o diagnóstico diferencial para a respiração bucal, devido ao fato de que os respiradores bucais usualmente possuírem capacidade para ventilação nasal. Apenas quando existe um total bloqueio do espaço nasal, pode ocorrer a respiração bucal isolada; porém, a maioria dos casos são respiradores bucais e nasais ao mesmo tempo. RICKETTS (1968) descreveu uma série de descobertas que foram observadas em respiradores bucais. Vinte e cinco pacientes foram observados e estudados, com idade variando entre três a doze anos de idade. Foram tiradas radiografias cefalométricas dos pacientes dois a seis meses após a tonsilectomia e/ou adenoidectomia. Foram feitas comparações entre as radiografias pré e pós operatórias, no intuito de determinar a altura de língua em relação ao palato, alterações posturais do palato mole, mudanças na posição do osso hióide e mudanças na postura da cabeça. Observou-se a postura de repouso da cabeça que inclinou para baixo uma média de 2 graus. Seis pacientes apresentaram uma mudança marcante na postura da cabeça bem como uma mudança na expressão facial (expressão facial vazia). Ainda no mesmo estudo, RICKETTS, demonstrou a importância das dimensões da nasofaringe em relação à presença do tecido adenoideano. Se ela fosse profunda, o palato mole estaria adequadamente inclinado; se fosse rasa, o palato mole seria inclinado, levando a um ângulo agudo em relação à espinha nasal posterior. Nestas condições, particularmente nos longilíneos, a língua não ocuparia sua posição adequada, o palato mole se dirigia para trás e para cima, vedando assim a nasofaringe. Para a manutenção da passagem de ar nasal o palato mole poderia tender para baixo e a língua condicionalmente adquirida uma postura mais anterior e mais baixa na boca como um resultado de demandas funcionais do palato mole. O acima citado doutrinador observou que o posicionamento mais anterior da língua era freqüentemente marcante quando a nasofaringe fosse obstruída pelas adenóides. A língua encontrase nesta postura retro mencionada, devido às condições da nasofaringe, e a respiração seria um fator predisponente a má oclusão dos dentes, através da influência da postura da língua e, possivelmente, até da posição da mandíbula. A erupção dos dentes estaria relacionada à ação muscular da língua, por um lado, e dos lábios e bochechas por outro. Na mesma obra, RICKETTS relembrou a alta ocorrência de efeitos colaterais das adenóides e amígdalas, associandoos à síndrome da obstrução respiratória. Algumas características nela observadas são: face alongada, mordidas cruzadas unilaterais ou bilaterais, mordida aberta pela interposição lingual, lábios curtos e dentes protruidos, e ainda, constricção bilateral da maxila, podendo estar associada a deflexão unilateral mandibular e levando a uma mordida cruzada funcional. Em alguns casos, ocorria uma rotação da cabeça no eixo em um esforço de aumentar a passagem de ar. Os efeitos dento-faciais causados pela respiração bucal foram demonstrados em primatas com o estudo de HARVOLD et al. 7(1981) que, realizando experimentos em um grupo de macacos resus jovens (macaca mulatta), inseriram plugs de látex em suas narinas e observaram uma adaptação gradual do padrão de respiração nasal para o padrão de respiração bucal. A primeira troca observada foi funcional, onde o animal alterou seu padrão de atividade neuromuscular para acompanhar a respiração bucal. Os macacos, individualmente, responderam a este desafio de maneiras diferentes. Alguns aprenderam a posturar sua mandíbulas para baixo e para trás (retrusivamente), numa abertura rotacional. Outros, ritmicamente, abaixavam e levantavam suas mandíbulas a cada respiração. Além de mais um grupo, que mantinha a postura de suas mandíbulas para baixo e para frente (protrusivamente). As alterações morfológicas gradualmente se seguiram: trocas nos tecidos moles ocorreram em primeiro lugar, com encurtamento do lábio superior e rachaduras na língua. Nos animais que tiveram acréscimo da passagem de ar através da boca, ocorreu também uma moderada troca no contorno mandibular, a língua projetou-se e foi desenvolvida uma mordida aberta anterior. Naqueles animais que abaixaram a sua mandíbula a cada respiração, observou-se pouca alteração. Foi constatado, também, alterações da morfologia mandibular dos animais que apresentaram postura de suas mandíbulas mais para baixo. Particularmente houve alteração na região goníaca e do mento. A distância nasio-mento aumentou assim com a distância násiopalato duro, isto indicava que o abaixamento da mandíbula foi seguido por um deslocamento posterior da maxila. A maior alteração da mandíbula ocorreu no ramo ascendente, o qual manteve uma relação normal com a base do crânio, enquanto que o mento assumiu uma posição mais inferior. Em relação aos efeitos oclusais, HARVOLD et al. acharam variáveis. Aqueles animais que posturaram suas mandíbulas em direção póstero-inferior, desenvolveram a classe I esqueletal com mordida aberta ou uma má oclusão de classe II de Angle. Aqueles que mantiveram uma posição mais anterior da mandíbula, desenvolveram uma relação de classe III de Angle. As conclusões obtidas pelos experimentos sugeriram que, apesar da troca do padrão respiratório induzir a uma variação das deformidades esqueletais e dentais, não seria a troca do padrão respiratório por si só que causaria a má oclusão, e sim as demandas funcionais nos músculos crânio faciais. Por fim, esses mesmos autores avaliaram a variedade de configurações esqueletal e dental em pacientes comparados aos animais respiradores bucais, e os resultados foram devido aos ajustamentos neuro-musculares requeridos para manter uma função respiratória adequada. SCARAMELLA e QUARANTA (1984) abrangeram de forma mais global a influência do tecido adenoideano hipertrófico sobre as estruturas maxilo-faciais, estabelecendo que o aumento do volume de tecido seria conseqüência de repetidos processos inflamatórios, fatores locais e/ou endócrinos (como a carência de hormônios cortico-suprarenais, que são inibidores do desenvolvimento do tecido linfóide), o que favorece a hipertrofia das adenóides. Descreveram, ainda, os sintomas característicos do respirador bucal, os aspectos radiográficos a serem considerados para a definição do espaço nasofaríngeo e os efeitos de tal padrão respiratório a nível nasal e bucal. Em relação aos sintomas, os autores acima citados, incluíram a cefaléia matinal e o cansaço noturno. O primeiro sintoma seria devido aos grandes saltos de pressão intratorácica modificadoras do fluxo sangüíneo, que causariam um aumento de pressão intracraniana. O segundo sintoma provavelmente seria conseqüente de crises de apnéia, que junto à variação de pressão arterial de oxigênio e gás carbônico e variação do pH, alterariam o repouso noturno do indivíduo. Os aspectos radiológicos quanto ao espaço nasofaríngeo foram também avaliados pelos mesmos através das teleradiografias frontais e laterais. Nas radiografias frontais, as fossas nasais estariam claras na ausência de obstrução nasal. Haveria uma superfície radiopaca restrita das fossas nasais, em presença de obstrução nasal parcial. Já uma radiopacidade das duas fossas nasais, seria observada, se houvesse uma obstrução nasal completa. Nas teleradiografia laterais, ao contrário, seria observado o espaço respiratório residual. Ficou estabelecido, portanto, por esses autores os efeitos da respiração bucal sobre as estruturas nasais e as bucais. A nível nasal, o hipodesenvolvimento dos seios maxilares frontais, etmoidais com alteração do fluxo de ar, provocaria a atresia da arcada dentária superior, devido a proximidade de tais cavidades sinusais com base alvéolodentário superior. Por outro lado, os músculos dilatadores das narinas e os músculos paranasais que inserem na parte superior do maxilar, favoreceriam o desenvolvimento anterior da zona pré-maxilar, agindo no periósteo responsável pelo crescimento desta região, ocorrendo uma retroposição e inclinação da espinha nasal anterior. A solicitação muscular anormal contrairia a arcada dentária superior. A nível bucal, as seguintes observações foram descritas por esses mesmos autores: A) globalmente, com A maxila apresentando-se hipodesenvolvida redução do seu diâmetro transversal, predominantemente nos setores laterais e dificuldade de irrupção do canino devido ao desequilíbrio entre a pressão exercida pela língua e pelos músculos faciais, comprimindo os setores lateralmente provocando uma mordida cruzada unilateral ou bilateral; e B) O grupo de incisivos superiores encontrando- se muitas vezes projetado para frente, podendo causar falta de selamento labial; C) Abobada palatina pareceria alta, estreita e ogival, devido a falta de pressão sobre a lâmina palatina exercida pela língua, pois, nos casos de insuficiência respiratória nasal, a língua se posiciona mais anteriormente, facilitando, desse modo, a passagem de ar através da boca; D) A mandíbula, ressentindo-se da redução transversal da maxila, assumiria uma posição de acomodação de 3 maneiras: 1. Em desvio lateral, realizando uma síndrome de assimetria mandibular e facial; 2. Para frente, sob pressão da língua, podendo provocar um prognatismo mandibular funcional; 3. Para baixo e para trás, efetuando um crescimento que seria seguido por um aumento da dimensão vertical anterior, o qual provocaria a falta de selamento labial. Diversos autores, em seus estudos, ressaltaram que existem características específicas dos respiradores bucais, tais como: lábio evertido, faces adenóides, entre outros achados característicos deste tipo de desvio do padrão respiratório, a exemplo de GRABER (1974) e MOYERS (1960). Conforme esse último estudioso, os respiradores bucais tem uma alta incidência de má oclusão. Ele também afirmou que respiração bucal envolve contração do arco maxilar, lábio-versão dos dentes anteriores superiores, inclinação dos dentes anteriores nos dois arcos, hipertrofia do lábio inferior, hipotencidade e encurtamento do lábio superior. Ele acreditou que a respiração bucal é um sistema de balanço muscular com distúrbios e esta, associada com muitos fatores, que não contribuem para o desenvolvimento facial e oclusais normais. Segundo MOYERS (1991), a respiração bucal ou uma interferência na respiração nasal, poderia acarretar problemas no crescimento craniofacial, assim como nas posições dos dentes. QUINN (1979) concluiu em seus trabalhos que a obstrução nasal foi a maior causa de pragnatismo mandibular, assimetria facial e displasia vertical. Há autores que acreditam na existência isolada da respiração bucal ou até na associação entre respiração bucal e respiração nasal e que, tanto um modo como outro, a referida respiração traz mudanças significativas no processo de crescimento crânio facial, uma vez que envolve as estruturas musculares e ósseas desse sistema. Portanto, a modificação para o padrão respiratório bucal pode ser dada tanto pela hipertrofia das adenóides ou por fatores como desvio do septo, fraturas nasais, atresia das coanas, rinite vasomotora, que podem levar, por sua vez, a um padrão respiratório bucal. Neste sentido, PADOVAN (1976) relatou que o desenvolvimento ósseo se acha em estreita relação com o muscular. Os músculos bem constituídos e normalmente desenvolvidos, correspondem a ossos bem conformados. A ação modificadora dos músculos sobre as arcadas dentárias (língua na parte interna e mecanismo bucinador na parte externa), quando bem equilibrada e harmoniosa, vai propiciar uma boa oclusão. Contudo, se estas forças se encontram em desequilíbrio, por repercussão vão agir negativamente sobre os dentes e ossos. Concluiu, por conseguinte, que quando esses músculos ao exercerem suas funções, modelam os ossos e dirigem o seu crescimento. Já GONZALEZ (1976), em seu trabalho sobre a forma e função do ponto de vista ortodôntico, chegou à conclusão de que o estado de equilíbrio que deve existir entre as estruturas: ossos, músculos e dentes, os quais distinguem o aparelho estomatognático de qualquer outra estrutura do corpo humano, têm a possibilidade de readaptar-se, frente ao desequilíbrio produzido por alterações anátomofuncionais de uma delas, sobretudo quando o indivíduo encontra-se em crescimento. O efeito da respiração bucal observado por PAUL e NANDA (1973), foi restrito às mudanças das dimensões do arco maxilar. Notou-se, portanto, a contração do mesmo e o aumento de seu comprimento. O trespasse horizontal e a sobremordida foram evidentemente aumentadas; o palato parecia alto, não devido à sua altura aumentada, mas devido à contração do arco maxilar. Uma alta percentagem de má oclusão de classe II, divisão 1 de Angle, foi encontrada nos respiradores bucais. Alguns estudos, mostraram que existem dificuldades envolvendo o diagnóstico relacionado ao tipo de respiração bucal e/ou nasal, chegando a conclusões que não existe padrão respiratório específico, podendo o indivíduo respirar pelo nariz e pela boca concomitantemente, desde que não exista um total bloqueio nasal; levando, assim, à respiração estritamente bucal. HUMPHREIS e LEIGHTON (1950), nesse padrão de idéia, relataram, numa avaliação objetiva de 1033 crianças, onde havia distribuição aproximadamente igual de má oclusões nos respiradores bucais e nasais, que aquelas crianças que deixavam suas bocas abertas, também respiravam nasalmente. LEECH (1958) avaliou a relação entre insuficiência do lábio e modo respiratório em indivíduos submetidos a exame, numa pesquisa clínica, para tratamento de doença respiratória superior, e verificou que menos de um terço das pessoas com insuficiência do lábio eram respiradores bucais. Os pacientes com a síndrome da face longa, manifestam, caracteristicamente, um excesso vertical na altura do terço inferior da face, insuficiência do lábio, arco maxilar estreito com um palato alto e um ângulo aberto do plano mandibular, podendo também ser observados mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior. Também KLEYN (1986) relatou que a respiração bucal tem há muito tempo sido considerada como fator mais significativo no desencadeamento da síndrome da face longa. Um dos maiores problemas com relação à respiração bucal e seus possíveis efeitos sobre o desenvolvimento crânio-facial é a ausência de uma definição sobre o respirador bucal. Sabe-se que uma vasta maioria de pacientes que são respiradores bucais podem, na verdade, respirar por via nasal a graus variáveis, e que cem porcento de respiração bucal é muito incomum na ausência de coanas bilaterais. Há pacientes que habitualmente respiram através de suas bocas até a idade adulta, na ausência de qualquer obstrução anatômica da via aérea nasal. VIG et al. (1981) descreveram suas descobertas sobre a avaliação quantitativa de fluxo de ar nasal em relação à estrutura facial. Utilizando a rinanometria, eles concluíram que os padrões respiratórios de lábio insuficiente em indivíduos com a face longa e em pessoas com padrão facial normal quando comparado em grupos, não são significantemente diferentes. Concluíram, também, que a determinação subjetiva de respiração bucal baseada na postura e estrutura do lábio, não pode ser considerada como uma análise válida do sistema modorespiratório. A postura do lábio separada ou a insuficiência não é, portanto, sinônimo de respiração bucal. Empiricamente, WEIMERT (1986) analisou as possíveis etiologias da respiração da respiração bucal, os sintomas do paciente com tal padrão respiratório e suas características clínicas. Quanto a etiologia o autor citou: a hipertrofia dos cornetos - mais freqüentemente do corneto inferior - o desvio de septo, o trauma de nascença, - pouco freqüente - onde ocorre um deslocamento da cartilagem do septo nasal para a crista maxilar no recém nascido, as fraturas nasais, a atresia das coanas, a rinite vasomotora - que é um desequilíbrio entre o sistema nervoso simpático e o parassimpático, que resulta em cornetos congestionados e com hiper secreção de mucos - a rinite alérgica, a rinite crônica, os pólipos nasais, os cistos fibrosos, a hipertrofia das adenóides, a hipertrofia das amígdalas e o hábito postural da boca manter-se aberta. No que diz respeito aos sintomas apresentados pelo respirador bucal, foram citados pelo autor: a dor de cabeça, boca seca, garganta inflamada, halitose, fadiga crônica, sono leve e pressão nos ouvidos. Com relação às características clínicas, o autor descreveu a existência de: face alongada e estreita, perfil convexo, estreitamento nasal, estreitamento na abertura nasal, encurtamento do lábio superior e postura de boca aberta. McNAMARA (1981) se propôs a explorar a relação entre a obstrução aérea superior e o crescimento crânio facial. O autor descreveu uma revisão preliminar da literatura e um estudo realizado por ele, em crianças do hospital de Pittsburg. Neste estudo, indicou a configuração esquelética e dental, que estariam relacionadas com a obstrução aérea superior e as trocas significativas nos padrões de crescimento facial, que foram observadas após a remoção da obstrução. Avaliando ainda quatro casos clínicos, ilustrou o potencial de interação entre alterações na função respiratória e o padrão de crescimento crânio facial. Os quatro casos clínicos foram representativos de um tipo de problema facial, o aumento do ângulo do plano mandibular, o qual tinha sido associado à respiração bucal individual. O autor reconheceu o fato de existir muitas outras manifestações de problemas ambientais da obstrução aérea superior. Esses casos, ilustram, porém, a reação entre a forma e a função, ou seja, a obstrução nasal e o desvio do crescimento facial. Os pacientes respiradores bucais apresentaram uma póstero-rotação mandibular e mudanças basicamente dentais. TIMES (1872), em seu estudo, verberou que crianças respiradoras bucais, com freqüência apresentam arcos dentários estreitos, os quais algumas vezes são em formato de "V". Pensou-se que o estreitamento dos arcos dentários estivesse relacionado à distúrbios no movimento da língua e musculatura da bochecha com compressão mediana dos processos alveolares, portanto, dirigindo o seguimento anterior para a frente. Há autores que consideram a atresia da maxila com consequente palato ogival e mordida cruzada posterior como sequelas da respiração bucal, asseverando que o equilíbrio muscular na maioria das vezes realizado pela língua e bucinador, está alterado, face à posição mais baixa e anterior da língua, na tentativa de liberar espaço aéreo para a região oro-faríngea. Nessa trilha de idéias, os autores afirmam que a língua assume uma posição mais anterior, ficando por cima dos dentes no ato de deglutição, impedindo o contato entre os dentes e tendo como consequência a extrusão desses elementos, causando instabilidade oclusal. Esse é o entendimento de MOYERS (1988) e de PASTOR e MONTANHA (1994). MARCHESAN (1994) ressaltou que a respiração bucal pode causar desde simples irritação da mucosa oral até graves alterações de crescimento. A língua pode se posicionar de modo diferente dentro da cavidade oral na tentativa de proteção da orofaringe e amígdalas, e essa posição da língua dentro da boca, além de não estar mais cumprindo seu papel modelador dos arcos dentários, causa prejuízos como: língua com o dorso elevado e ponta baixa, inibe o crescimento mandibular e estimula o crescimento da parte anterior da maxila, podendo levar a uma classe II. Esse posicionamento da língua pode causar ceceio lateral pelo estreitamento criado entre o palato e o dorso da língua, dificultando a saída do ar; causa, ainda, língua totalmente rebaixada no soalho da boca levando a mandíbula para frente, estimulando o prognatismo e também interposição lingual entre as arcadas, levando a uma mordida aberta anterior. GWYNN-EVANS e BALLARD (1959) postularam que edema alérgico na mucosa da cavidade nasal e nos seios paranasais exerce um papel maior na respiração bucal. Dessa forma, entenderam que a respiração bucal, secundariamente à alergia nasal nos primeiros estágios da infância, com freqüência levam a severas deformidades dentárias e orofaciais. Já MEYR (1870), postulou que os pacientes com respiração nasal restrita, com freqüência sofriam de audição prejudicada e saúde geral fraca. Em sua obra, ele discute sobre "vegetações na nasofaringe e suas fisiopatologias, diagnósticos e tratamentos". A importância de um rinologista para o estabelecimento das causas da respiração bucal através de rinoscopia exame das fossas nasais pela parte anterior, julgando o método utilizado pelos dentistas como inadequado - foi citada por FREUNTMALLEY (1975). Para ele, em um respirador bucal, ocorre um desvio funcional da musculatura bucal, do rosto e da postura, que levam a um inadequado desenvolvimento do aparelho mastigatório, sugerindo uma má oclusão. A protrusão dos incisivos superiores seria agravada pela intromissão do lábio inferior e, então, a língua e a musculatura perioral agiriam de tal forma que seria necessária a abertura transversal do palato e da arcada superior, com o uso de aparelhos removíveis. O mesmo autor entendeu que o auxílio do rinologista seria indispensável para diagnosticar um distúrbio ou impedimento da respiração nasal e, assim, facilitar a determinação do plano de tratamento ortodôntico. O mesmo considerou o auxílio da rinologia indispensável para diagnosticar um distúrbio ou impedimento da respiração nasal e, destarte, facilitar a determinação do plano de tratamento ortodôntico. ANDRADE (1997) & FERRAZ (1996) e RODRIGUES (1996), MOCELLIN salientam a importância do trabalho interdisciplinar das especialidades da área médica envolvidas no tratamento do paciente respirador bucal, fundamentalmente centrado na prevenção e promoção da saúde como um todo. No que diz respeito ao padrão respiratório bucal e as alterações dento-faciais, KINGSLEY (1989) e PRESTON (1981), por exemplo, afirmam não haver relação entre o padrão respiratório e uma possível alteração do padrão de crescimento do complexo crânio facial como um tipo, não podendo se afirmar que a respiração bucal, aja como fator etiológico primário que desencadeie os problemas dento-faciais. KINGSLEY (1989) foi o primeiro entre os que consideram o arco maxilar em forma de "V" e o palato profundo como uma questão congênita não relacionada à respiração bucal. PRESTON (1981) fez um apanhado geral da literatura, a respeito dos estudos realizados por vários ortodontistas, que analisaram a realização da obstrução nasal com as má-oclusões. A discussão foi sempre extensa e dividida, mas se chegou a conclusão de não poder afirmar que a respiração bucal aja como fator etiológico primário, que desencadeie os problemas dento-faciais, não se colocando dúvidas quanto às suas correlações. Porém, a grande maioria dos autores, revelam em seus estudos e pesquisas, a estreita relação entre o padrão respiratório bucal e alterações, tanto nas estruturas ósseas, como nas estruturas musculares. Os autores afirmam haver alterações do tipo: maior crescimento vertical, aumento da altura facial total e inferior - a exemplo de SUBTELNY (1980) - lábio inferior evertido e superior curto, ambos apresentando ressecamento, língua hipotônica e volumosa repousando no assoalho da boca, mordida aberta anterior, mordida cruzada, desarmonia oclusais, palato estreito ogival, oclusão de classe II de Angle ou, às vezes, pseudo classe III - por pressão lingual - desvio de septo nasal e pirâmide, entre outras alterações observadas. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através de um apanhado geral da literatura, a respeito dos estudos realizados por vários pesquisadores que analisaram a função naso-respiratória com o desenvolvimento e crescimento das estruturas do complexo crânio facial, podemos concluir que: I - A respiração bucal é considerada um dos fatores etiológicos responsáveis por vários efeitos indesejáveis sobre o crescimento e desenvolvimento das estruturas crânio faciais; II - Apesar de ser encontrada uma certa correlação das estruturas dento-faciais estreitadas em indivíduos dólico-faciais, não se pode estabelecer que exista algum tipo facial específico que esteja correlacionado com a respiração bucal; III - A necessidade de um apropriado fluxo aéreo por via bucal, quando ocorre obstrução da passagem aérea nasal, promove trocas posturais da língua e da mandíbula, que desencadeiam efeitos indesejáveis sobre o crescimento crânio facial; IV - A variedade da configuração esqueletal e dental é encontrada em grande número de pacientes respiradores bucais, devido aos ajustamentos neuromusculares requeridos para manter uma função respiratória adequada; V - A hipertrofia das adenóides é considerada como fator etiológico de grande incidência, encontrado entre os respiradores bucais, mas outros fatores podem desencadear tal padrão respiratório, assim como a predisposição anatômica, o desvio do septo, as alergias, as sinusites, os hábitos, os traumatismos, os pólipos, as neoplasias, as iatrogenias, além de outros. VI - Em relação às alterações provocadas pela respiração bucal nas estruturas dento-faciais, ficou evidenciada a ocorrência de aumento do plano mandibular, aumento da altura facial total e principalmente da altura facial inferior - levando a uma verticalização do terço da face - adaptação postural das estruturas da cabeça, da mandíbula e da língua, diminuição de ângulo do eixo facial, arcos superiores estreitos podendo apresentar mordida aberta anterior, mordidas cruzadas unilateral ou bilaterais, incisivos superiores mais anteriormente inclinados como também a falta de selamento labial; VII - Diante do questionamento de alguns autores no que diz respeito a reação entre o padrão respiratório e a influência deste sobre o crescimento crânio facial, posicionamo-nos no sentido de que são destacadas evidências substanciais demonstrando tal correlação; VIII - A respiração bucal quebra o equilíbrio do Sistema Estomatognático constituindo-se, portanto, num desafio para muitos profissionais da área de saúde e tornando de grande importância o tratamento multidisciplinar nos casos dos respiradores bucais que apresentam conseqüências de diversas ordens. Essas são algumas conclusões que entendemos relevantes destacar, ante a gama de obras que tratam do tema e a variedade de entendimentos doutrinários, a maioria calcados em pesquisas empíricas. Nosso trabalho centrou-se em apresentar o entendimento de vários autores sobre o tema central e seus aspectos correlatos, tendo a preocupação de concluir que os casos de deformidade crânio facial - mesmo não mantendo um padrão comum - podem e devem ser analisados sob a ótica das várias especialidades médicas envolvidas, gerando um tratamento uno e responsável pela minimização do problema, ou até mesmo procurando solucioná-lo. Certamente não pretendemos exaurir o tema, uma vez que as relações multidisciplinares estão se desenvolvendo a passos largos, visando uma melhor análise da problemática, no intuito de buscar um tratamento adequado e visto sob os diversos ângulos e aspectos da área de saúde e vários estudos sobre o tema estão sendo desenvolvidos. Dessa forma, o envolvimento de vários profissionais ligados a essa esfera, a exemplo de cirurgiões dentistas, ortodontistas, otorrinolaringologistas, neurologistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros, é importante no tratamento da má formação crânio facial decorrente da respiração bucal, haja visto a etiologia desta ser multifatorial. Outrossim, é valente salientar que o êxito no tratamento depende de um diagnóstico certo e preciso e da execução de um plano de trabalho multidisciplinar, onde apesar de cada área apresentar o seu ângulo de aplicação, todos visam um objetivo indissociável, que é o do restabelecimento do equilíbrio dos sistemas envolvidos e a otimização do tratamento. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, L. L. e RODRIGUES, J. Tratamento da síndrome do respirador bucal com mordida aberta através da aparatologia ortopédica funcional. J. Bras. Ortodontia Ortop. Maxilar, 1996, V.1, nº 2, p.3-13. BACON, W. e DUBOIS, E. 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