Conceito A Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Faculdade São Miguel ANO 2 | 2011 02 Conceito A Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Faculdade São Miguel 2011 Conceito A Recife n. 2 p.1-524 2011 APRESENTAÇÃO A Revista Conceito A comemora sua segunda edição com um aumento considerável de trabalhos e com a melhoria de conceito final ao término dos estudos de graduação produzidos pelos alunos da Faculdade São Miguel, orientados por docentes com apoio da equipe pedagógica da Institução. Quanto ao conteúdo, a Revista apresenta: objetividade, em oposição à subjetividade, não se baseando em critérios emocionais ou ideológicos; inteligibilidade: quando evita os extremos da prolixidade e da concisão; Impessoalidade: do ponto de vista dos estudantes. Não personalizando críticas. Obedecendo à ética da comunicação científica; reprodutibilidade das experiências. Coerência interna das ideias. Raciocínio lógico: tanto dedutivo quanto indutivo, presentes na criatividade não apenas no ponto de vista do conhecimento, mais também no ponto de vista da forma com que são expostos os trabalhos aqui registrados. Assim, a Conceito A cumpre sua tarefa em prestigiar os trabalhos de conclusão de curso de graduação com conceitos referenciados por professores que constituem uma banca julgadora. Nesta banca, são analisados os elementos teóricos e de defesa oral que podem ser de diferentes naturezas: pesquisas empíricas, estudos de caso, revisão de literatura e trabalhos conceituais. Algumas monografias obtêm conceito A, o que significa que foram aprovadas pela banca examinadora com nenhuma ou com mínimas restrições. O que fortalece os indícios de um trabalho instigante na busca da prática educativa imparcial, formadora e justa, proporcionando inserção social, fomentando incentivo à pesquisa e promovendo estudantes e professores. Esta é a intenção da Revista Conceito A. Prof. Edgard de Paula Coordenador do Núcleo de Construção do Conhecimento Sumário Graduação em Administração Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de campo na área de pediatria da cidade do Recife ELIZABETH BISPO SALDANHA.............................................................09 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentáculo SHEILA MIRIAN BARBOSA ISRAEL........................................................40 Endomarketing aplicado ao setor público RENATA BONYANE SANTOS GOMES......................................................79 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana RENATA GARCIA GOMES...................................................................104 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da Jucepe (junta comercial do estado de Pernambuco) ALCIONE MARIA BARBOSA................................................................138 Utilização de ferramentas do sistema Toyota de produção na gestão ambiental da empresa Rexam ANDRÉ PEREIRA DE MOURA..............................................................182 Graduação em Ciências Econômicas Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional JOSÉ FERNANDO BARBOSA...............................................................220 Aspectos da reforma tributária no Brasil: uma analise histórica e econômica do seu efeito na sociedade CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA COSTA............................................257 Distribuição de renda: impacto do programa bolsa família SIDNEY MARTINSDA SILVA..............................................................308 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa THOMAS DA SILVA CAMELO BASTOS..................................................359 Graduação em Enfermagem A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde um UTI de um hospital público do Recife JOSEVÂNIA MARIA GOMES...............................................................386 THALITA LINS BORBA A incidência da síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife LUCICREIDE RODRIGUES DA SILVA...................................................418 PAULA CRISTIANE DE ARAÚJO FARIAS As complicações do pé diabético: uma revisão de literatura MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DA SILVA........................................459 MARIA DILMA DOURADO COSTA SIMONE OLIVEIRA DE MENEZES Hipertensão arterial e fatores de risco associados: uma revisão de literatura CRISTIANE MARIA DOS SANTOS DELGADO.........................................523 LUCIENE MARIA FERREIRA DA SILVA Incidência de complicações em punção venosa periférica entre pacientes cirúrgicos de um hospital de grande porte da cidade do Recife EDUARDO JOSÉ TAVEIRA DE SANTANA...............................................574 MIDIAN BEZERRA DA SILVA Interferência do mundo virtual na saúde mental do adolescente BRUNA GHEISA DE A. B. MONTEIRO...................................................598 ROSEMERY DE LIMA ALMEIDA Motivo de resistência das mulheres matriculadas na USF Curado II Jaboatão dos Guararapes, para a realização do exame papanicolaou BÁRBARA RENATA OLIVEIRA DE FREITAS............................................620 MIRELLA KARINA FERREIRA GALDINO Perfil sócio demográfico clínico e obstétrico de gestantes admitidas numa maternidade de referência do Recife com diagnóstico de parto prematuro no ano de 2010 CAMILA ROBERTA VIEIRA DE LIMA.....................................................646 CLARICE SANTOS DA SILVA Principais causas básicas da mortalidade infantil em áreas cobertas pela estratégia saúde da família no distrito sanitário VI – Recife – PE: 2005 a 2007 ANA CÉLIA COSMO DE QUEIROZ.......................................................683 EVERTON ALVES XAVIER ONILDA BREDERODE ACCIOLY Tratamento coletivo de filariose realizado em um programa de saúde da família do Recife no período de 2007 a 2011 DIONÍSIO DE SOUZA SILVA..............................................................700 ELISANGELA SILVA DE ABREU Graduação em Fisioterapia A aplicabilidade da fisioterapia aquática como fator que provoca melhora na capacidade funcional e qualidade de vida em idosos JABSON PEREIRA DE SANTANA..........................................................000 Cinesioterapia na reabilitação da luxação anterior do ombro EDERSON ROBERTO RODRIGUES DE MELO.........................................000 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores BRUNA LOYSE FERREIRA LOPES........................................................000 Efeitos da cinesioterapia respiratória como prevenção e/ou tratamento no pós-transplante de medula óssea FLAVIANO GONÇALVES LOPES DE SOUZA...........................................000 Uso do biofeedback eletromiográfico no fortalecimento do vasto medial obliquo para analgesia na síndrome da dor patelofemoral JÚLIO CESAR FREITAS LUCIANO........................................................000 Tratamento fisioterapeutico das distopias genitais LIVIANNE LOPES SILVA....................................................................000 Prevenção e reabilitação através da cinesioterapia na pubalgia do jogador de futebol MICHELLE RAYANNE RODRIGUES DE MELO SILVA................................000 Tratamento cinesioterapeutico no pós-operatório de ruptura total do tendão de calcâneo CARINA BATISTA DE ALMEIDA...........................................................000 Tratamento fisioterapatêutico em escoliose idiopática através da técnica de isostretching GERTRUDES ALVES DE CARVALHO NETA.............................................000 Graduação em Letras A literatura infantil de Clarice Lispector: um espaço de conflitos MARIANA CAROLINA F. FELICIANO.....................................................000 A mímesis na obra o ex-mágico da taberna minhota de Murilo Rubião KARLA BERGER AMORIM MISSIAS.....................................................000 Afetar e ser afetado: uma análise da prática docente à luz da teoria walloniana ARGÉLIA CÁSSIA BARROS CABRAL....................................................000 ÁUREA MÁRCIA ROLEMBERG DE LUCENA Cantos e contracantos estudo sobre o épico na poesia brasileira: sisifo de Marcus Accioly CARLOS GOMES DE OLIVEIRA FILHO.................................................000 Do sagrado ao profano: encontro das poesias do cântico dos cânticos e as poesias de Vinícius de Moraes ADELSON CARNEIRO COSTA.............................................................000 Estudo da aquisição da linguagem escrita dos alunos surdos JOANNA ANGÉLLICA TAVARES DE FIGUEIRÊDO....................................000 Gênero digital (blog) como ferramenta do ensino-aprendizagem AM sala de aula REGINA SÕNIA FELICIANO DA SILVA..................................................000 O trabalho com textos poéticos em livros didáticos do ensino fundamental II MARIA WYARA GOMES DA SILVA........................................................000 HUMBERTO SILVA Graduação em Nutrição Anemia ferropriva em crianças menores de dois anos atendidas em uma unidade de saúde da família de Tracunhaem – PE IRANEIDE MARIA RIBEIRO DA SILVA..................................................000 Avaliação dos hábitos alimentares e características antropometrica de mulheres praticantes de programa de musculação na cidade do Recife JULIANA REIS BRAGA.......................................................................000 Comparativo entre rotulagem nutricional de produtos lácteos light e suas versões convencionais comercializados na cidade do Recife WILTON CARVALHO FILHO.................................................................000 Condições higiênico-sanitárias e microbiológicas do caldinho de feijão comercializados nas praias de Olinda, Boa Viagem e Candeias – PE GEISIANE DE SOUZA PEREIRA...........................................................000 Papel dos imunomoduladores nas principais doenças inflamatórias intestinais LISMEIA APARECIDA BISOGNIN WERNECK NUNES...............................000 ELIZABETH BISPO SALDANHA COMPORTAMENTO ÉTICO DO PROPAGANDISTA FARMACÊUTICO: UMA PESQUISA DE CAMPO NA ÁREA DE PEDIATRIA DA CIDADE DO RECIFE. RECIFE 2011 ELIZABETH BISPO SALDANHA COMPORTAMENTO ÉTICO DO PROPAGANDISTA FARMACÊUTICO: UMA PESQUISA DE CAMPO NA ÁREA DE PEDIATRIA DA CIDADE DO RECIFE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Administração da Faculdade São Miguel para obtenção do grau de bacharel em 2009.2 ORIENTADORA PROFª. EURÍDICE MARIA GONÇALVES DO COUTO Trabalho julgado e aprovado com conceito ( A ) em 25/02/2011. Banca Examinadora ___________________________________________________ (Prof. Priscila Susan Miranda de Sousa) ___________________________________________________ (nome do (a) examinador (a) seguido de sua instituição) Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 9 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de campo na área de pediatria da cidade do Recife. CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma doaram um pouco de si para que a conclusão deste trabalho se tornasse possível: A Deus, por sua infinita misericórdia e eterno amor. A minha mãe, por sempre estar por perto com exemplo de força e Carinho. A minha professora orientadora, Profª Eurídice Couto, pelo auxilio, paciência e disponibilidade de tempo na elaboração deste trabalho. “Ética pressupõe consciência, liberdade e responsabilidades.” (Marilena Chauí) RESUMO Este trabalho analisa o comportamento do propagandista farmacêutico na área de pediatria na cidade do Recife visando identificar se tal comportamento condiz com a ética profissional. O trabalho inicialmente define os conceitos de ética, voltada à relação profissional e comercial e sua aplicabilidade às relações com os médicos. Também analisa o significado de propaganda, propaganda farmacêutica e o papel do propagandista neste cenário. Dados os conceitos e definições, o trabalho aborda a legislação, os códigos e as normas que regulamentam esta classe profissional, bem como, apresenta os órgãos fiscalizadores. Por fim, identifica nos resultados alcançados com a pesquisa de campo, que a classe médica sente-se influenciada pela propaganda de medicamentos, entre outras razões, devido às visitas de propagandistas aos seus consultórios. Constata-se com este trabalho que, embora existam preceitos de ética para a classe, continuam ocorrendo irregularidades em relação ao comportamento dos propagandistas podendo influenciar negativamente a ação dos médicos na prescrição de medicamentos. É importante para esta pesquisa estimular o trabalho ético neste seguimento e dar margem a novos estudos sobre o assunto. Palavras-chave Ética. Propaganda. Médicos Pediatras. Indústria Farmacêutica. SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................11 1 CONCEITOS DE ÉTICA........................................................................13 Conceito A 10 Recife n. 2 p.9-39 2011 Muito se discute sobre o comportamento ético do propagandista da indústria farmacêutica e se esta classe realmente vem desempenhando um papel capaz de ser considerado ético frente às regras estabelecidas. O comportamento ético profissional é abrangente para todo tipo de profissão, não sendo diferente na área da propaganda, pois consiste na definição de regras e princípios estabelecidos para que os profissionais possibilitem às empresas credibilidade frente ao mercado e sociedade em geral. A propaganda farmacêutica é um conjunto de técnicas utilizadas com o objetivo de divulgar conhecimentos e promover adesão a princípios, idéias ou teorias, visando exercer influência sobre o público através de ações, cujo objetivo é promover determinado medicamento com fins comerciais. Essas propagandas devem ser exercidas de forma ética, segura, precisa, confiável, informativa, atualizada e capaz de ser constatada. É do propagandista a responsabilidade de que essas informações sejam adequadas aos preceitos éticos estabelecidos. No Brasil a propaganda de medicamentos é regida por uma vasta legislação, que inclui: a Lei n° 6.360/76 (Brasil, 1976), que dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências; o Decreto nº 79.094, de 5 de janeiro de 1977, que a regulamen- Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 11 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de INTRODUÇÃO campo na área de pediatria da cidade do Recife. 1.1 Ética empresarial............................................................................16 1.2 Preceitos éticos aplicáveis às relações com clientes.............................17 1.3 Preceitos éticos aplicáveis às relações com fornecedores......................18 1.4 Preceitos éticos aplicáveis às relações com concorrentes......................18 2 O QUE É PROPAGANDA?.....................................................................19 2.1 Propaganda ética............................................................................19 2.2 Propaganda farmacêutica.................................................................21 2.3 O propagandista Farmacêutico..........................................................23 3 O LABORATÓRIO DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO................................................................................................23 4 A RELAÇÃO ENTRE INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E MÉDICOS...................24 5 O RELACIONAMENTO ENTRE MÉDICO E PROPAGANDISTA......................27 6 ÓRGÃOS QUE REGULAMENTAM O PROPAGANDISTA...............................29 6.1 ANVISA.........................................................................................29 6.2 Interfarma.....................................................................................30 7 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO................................................31 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................35 REFERÊNCIAS......................................................................................36 ANEXO A – Ata de Orientação do TCC.....................................................37 ANEXO B – Questionário aplicado na pesquisa de campo...........................38 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso tou (Brasil, 1977); a Lei n° 6.437/77, que configura as infrações à legislação sanitária federal e estabelece as sanções respectivas (Brasil, 1977); a Lei n° 9.294/96, que dispõe sobre as restrições ao uso de propaganda de medicamentos (Brasil, 1996); o Decreto n° 2.018/96 (Brasil, 1996), que a regulamenta; e a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 102, de 30/11/2000, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Brasil, 2000), que regulamenta as propagandas, mensagens publicitárias e promocionais de medicamentos com base nessas leis. Esta última, amparada nas leis e decretos pertinentes, regulamenta a propaganda, publicidade e promoção de medicamentos. Esta mesma Resolução estabelece uma distinção para medicamento de venda direta ao consumidor, sem necessidade de prescrição médica em que a propaganda pode ser dirigida ao consumidor, onde há necessidade de prescrição do medicamento (com ou sem retenção de receita). Neste caso a propaganda só poderá ser dirigida a profissionais habilitados a prescrevê-los, em veículos restritos a estes (Brasil, 2000). Esta Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) também dedicou atenção especifica à ação dos propagandistas, determinando que representantes de laboratório “devem limitar-se às informações científicas e características do medicamento registradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária” (BRASIL, 2000). Apesar disso, esultados de pesquisa apontam que nem sempre as referências científicas apresentadas nas peças publicitárias são fidedignas. Assim, é permitida a propaganda, em televisão ou rádio, de analgésicos e antipiréticos, e não são as de antibióticos ou beta bloqueadores, por exemplo. Mas as medidas restritivas não impedem as ações dos publicitários que buscam alternativas, testando os limites das regulamentações governamentais ou corporativas, em propagandas que direcionam o público em geral a sites na internet ou que induzem o consumidor a pedir informações do tipo “pergunte ao seu médico”. Tais estratagemas ou artifícios, possivelmente reconhecidos como técnicas de propaganda, descumprem principalmente a legislação sanitária em seu aspecto mais relevante: a proteção do bem-estar da população. E segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC) em suas disposições gerais, isto fere o principio fundamental de preservação da saúde do consumidor. Muito embora seja relevante e necessária a discussão acerca dos limites éticos e legais da propaganda de medicamentos dirigida diretamente ao consumidor, não é sobre este aspecto que nos deteremos nesta pesquisa, mas sobre a propaganda que deve ser dirigida exclusivamente ao médico. Com isso, este trabalho tem o objetivo de analisar se as estratégias de propaganda utilizadas pelos representantes da indústria farmacêutica, junto aos médicos pediatras da cidade do Recife, condizem com a ética profissional, diagnosticando a postura ética do propagandista farmacêutico em sua atuação Conceito A 12 Recife n. 2 p.9-39 2011 A metodologia utilizada nesta monografia é a pesquisa de campo, que direcionou o desenvolvimento do projeto através de coleta de dados e informações e identificou as particularidades da ética do propagandista no meio médico. A pesquisa é explicativa usando como método de coleta de dados, questionários com perguntas fechadas, aplicados a médicos pediatras na cidade de Recife. O trabalho buscou traçar o perfil dos propagandistas neste segmento e comportamento deles em relação à ética profissional. Tem como base análise bibliográfica através de livros, artigos de revistas, jornais especializados e pesquisa virtual. Os dados coletados receberam tratamento quantitativo. A escassez de pesquisa neste ramo, torna de suma importância a realização desse trabalho, ao qual se atribui uma imensa valia no exercício profissional do propagandista farmacêutico. 1 CONCEITOS DE ÉTICA Nas relações interpessoais surgem conflitos gerados por atitudes tomadas pelos indivíduos. Para que estas relações tornem-se uma harmoniosa convivência, se faz necessária a orientação segundo alguns tipos de princípios que direcionam a atividade social, levando em consideração os interesses dos outros. Dessa forma, surgem os conceitos de ética, muito abordados por historiadores e pesquisadores com o intuito de melhor adequar normas, leis e regras de convivência social. A palavra ética tem origem no grego éthos, que significa “caráter”, referindose a índole de uma pessoa. Para Dias (2003) ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade das ações humanas, ou seja, se são boas ou más. Para que uma conduta possa ser considerada ética, três elementos essenciais devem ser ponderados: ação, intenção e circunstâncias. Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 13 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de Procurou-se estruturar o trabalho de acordo com o caráter do tema abordado e seus itens, que por sua vez, são também divididos para maior entendimento e atendimento aos objetivos específicos, delimitados a seguir: examinar os dispositivos do código de ética da profissão do propagandista da indústria farmacêutica; comparar os preceitos do código de ética, com a prática do propagandista da indústria farmacêutica, junto aos médicos pediatras da cidade do Recife; distinguir os comportamentos éticos e antiéticos predominantes na atuação do propagandista da indústria farmacêutica; comparar as opiniões dos médicos Pediatras sobre o que é considerado ético e antiético na propaganda farmacêutica; efetuar uma análise crítica das variáveis que propiciam as atividades antiéticas dos propagandistas da indústria farmacêutica. campo na área de pediatria da cidade do Recife. em campo e como isso reflete nos resultados das indústrias farmacêuticas e dos laboratórios. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A ética é, pois, o estudo científico da moral, fazendo juízo de valores, contingenciando condutas humanas, podendo até qualificá-las sob o prisma do bem e do mal, ou seja, princípios morais. Vê-se, na amplitude de sua acepção, sua aplicação de forma absoluta ou de forma restrita de determinada sociedade. (VÁSQUEZ, 2004). A ética se confunde muitas vezes com a moral, todavia, deve-se deixar claro que são duas coisas diferentes, considerando-se que ética significa a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, enquanto que moral, quer dizer costume ou conjunto de normas ou regras adquiridas com o passar do tempo. A ética é o aspecto científico da moral, pois tanto a ética como a moral, envolve a filosofia, a história, a psicologia, a religião, a política, o direito, e toda uma estrutura que cerca o ser humano. Isto faz com que o termo ética necessite ter, em verdade, uma maneira correta para ser empregado, quer dizer, ser imparcial, a tal ponto de ser um conjunto de princípios que norteia uma maneira de viver bem, consigo próprio e com os outros. Conforme Vazquez (2004) no campo profissional é comum o uso da ética, mas esta ética vem sempre com o objetivo de salvaguardar a posição de um profissional desonesto, ou corrupto que não sabe fazer o seu trabalho, causando prejuízo para com os outros, muitas vezes levando até a morte muitas e muitas vidas humanas. A ética deveria ser o contrário, quer dizer, levantar princípios bons para serem direcionados para ajudar as pessoas de bem, em uma vida cheia de harmonia e de felicidade e não ser usada para encobrir falcatruas e desonestidades. A ética é a parte epistemológica da moral, tendo em vista que esta é a maneira de se ver, e aquela é a ciência de como melhor ajuntar isto tudo. Já a moral é um conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos para qualquer tempo ou lugar, para um grupo, ou pessoa determinada. E de acordo com Chauí (1995) a moral se constitui em um processo de formação do caráter da pessoa humana, partindo-se normalmente de uma maneira de como foi direcionado pelos ensinamentos no país, cujos princípios têm origem na religião dos genitores. A moral se adquire também no meio ambiente em que se vive. Tal como já diziam alguns filósofos, o homem também é produto do meio. Difícil de concordar, mas fácil de aceitar, pelo simples fato de que a localidade onde se mora é um forte influenciador do comportamento humano. Este efeito de transbordamento ou como é também chamado, spillover, faz com que a má formação de um amigo seja um fator de fundamental significado na vida de uma pessoa que tenha uma instrução boa, de princípios que possam ser transmitidos para os outros. Na visão de Vasquez (2004) a moral não é um derivado de leis ou normas Conceito A 14 Recife n. 2 p.9-39 2011 De acordo com a autora para que a implementação da ética seja efetiva, o agente deve se reconhecer como co-autor das normas morais. A razão só é ética se realizar a natureza livre do agente e se esse sujeito respeitar a liberdade dos outros. Filosoficamente falando, a sociedade vive o retorno à ética, noção que define como uma espécie de “panacéia geral”, pois muitos pensam a prática ética como reforma dos costumes. A moral diz respeito aos costumes e atualmente, a ética é pensada como moralidade restauradora de valores morais. Segundo Chauí (1995), a ética também é confundida com os códigos, normas e funções das instituições. Mais do que ideologia, essa diversificação da ética gera alienação, pois ela é fragmentada em pequenas morais setorizadas e se torna competência de especialistas. Daí, pois, o surgimento dos comitês, conselhos e outros que buscam investigar princípios éticos, localizados e o surgimento de uma série de padrões especializados: Hoje, há éticas diferentes para o motorista, o médico, o farmacêutico ou o pedreiro. São princípios que acabam contradizendo-se uns aos outros (CHAUÍ, 1995). A ética deve sempre nortear o profissional no seu exercício profissional e suas atividades práticas. No entanto, percebe-se, através de pesquisas, uma dissociação da teoria e a prática, quando se detecta que há onipotência de uma profissão frente à outra. Essa divisão conceitual, na visão da filósofa, também contribuiu para que a idéia de ética se aproxime de “parâmetros de sucesso individual e de crença religiosa”. Segundo a mesma, vive-se, hoje, numa sociedade midiática e de bens Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 15 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de Marilena Chauí (1995) discorreu sobre a especificidade das condutas do “agente ético”, um ser racional, responsável e consciente, que sabe o que faz. “Ética pressupõe consciência, liberdade e responsabilidade”. E a partir daí, destaca uma série de conceitos que se relacionam: o indivíduo virtuoso seria “bom e justo”. Mas ele só será virtuoso se for livre. Para ter liberdade, deve ser autônomo. E, como autônomo, deve criar regras e normas de ação. Neste ponto, os valores constituem a “tábua” de deveres e fins sociais que obriga o sujeito a agir de determinada maneira. A pessoa não age de acordo com sua liberdade, mas segundo a moral. campo na área de pediatria da cidade do Recife. elaboradas, ordem citada ou ditada formalmente, ela é baseada na própria realidade e vivência do homem, que ao se relacionar uns com os outros cria comportamentos, fruto da consciência coletiva. É através das experiências e conhecimentos dos homens que são extraídos os conceitos éticos, ou seja, de regras morais que conduzem à paz e a harmonia do grupo social. Um grupo social por sua vez pode não ter os mesmos princípios éticos de outro, sendo assim, “cada pessoa deveria decidir sobre o que é ou não ético, com base na sua própria concepção sobre o bem e o mal” (MOREIRA, 1999). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso efêmeros. “O sujeito narcisista da atualidade cultua a mídia e suas promessas de juventude, beleza, felicidade e saúde” (CHAUÍ, 1995). Em sua obra, a autora destaca que a conduta ética só se realiza quando existe o agente consciente, o que quer dizer, o indivíduo que conhece a diferença entre o bem e o mal, certo e errado, virtude e vício, enquanto Badeia (1999) ressalta que a consciência e responsabilidade são pressupostos do agir ético, tendo a vontade como a força decisória do sujeito moral. Mas a vontade deve ser livre, sem coação de outros e sem os impulsos das paixões. De acordo com Vázquez (2004) os problemas morais surgem quando se transforma o homem numa simples peça de mecanismo ou de um sistema econômico, reduzindo o indivíduo ao conceito de lucro e fazendo que este dependa da economia. Por sua vez, alguns historiadores utilizam à palavra antiético, que é um comportamento que não é ético, mas que também não contraria a regra ética. Quando se faz a ligação entre o que é ético e o que é legal, pode-se observar que muitas vezes o que é ético pode não ser legal ou o que é legal pode não ser ético. A ética, então, independe da lei, pois leva em consideração a realidade de cada situação social. 1.1 Ética empresarial “A ética empresarial reflete sobre as normas e valores efetivamente dominantes em uma empresa, pelos fatores qualitativos que fazem com que determinado agir seja um agir ‘bom’”. (LEISINGER E SCHMITT, 2002). Segundo Dias (2003) a ética organizacional define-se pelo estudo da filosofia que orienta o processo de tomada de decisão dentro da empresa, e o grau em que isso é comunicado, compreendido, aplicado e reforçado na organização inteira. As circunstancias sociais, culturais, da comunidade, quase sempre diferem um pouco dos valores pessoais e organizacionais. Por isso, em uma organização devem-se estabelecer acordos de convivência, assim como em qualquer atividade social. A ética transforma-se em códigos de procedimento aplicáveis a determinadas associações, a determinados segmentos, com normas do que se deve fazer ou do que não se deve fazer. Quando uma empresa não leva em consideração a importância da ética, tende a perder respaldo junto à sociedade e termina por durar menos tempo no mercado. Por isso, optar por valores éticos é o melhor para a empresa e para a sociedade em que está inserida. A expressão “ética empresarial” está sendo cada vez mais aceita e utilizada, na acepção de conjunto de preceitos morais e de responsabilidade social a serem observados pelas organizações conhecidas como empresas. Conceito A 16 Recife n. 2 p.9-39 2011 Segundo Moreira (1999) atos de grande repercussão foram firmando a noção de que o lucro poderia e deveria se submeter a princípios éticos. São exemplos: a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII; a lei norte-americana denominada Sherman Act de 1890; a lei norte-americana denominada Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), de 1977, proibindo a corrupção de autoridades estrangeiras. Em todos os países do mundo tem sido crescente a pressão social no sentido de que as empresas adotem práticas éticas. No Brasil, embora a preocupação específica com o tema seja recente, muitos textos legais e regulamentares já foram promulgados, principalmente durante as últimos trinta anos, visando conter práticas antiéticas em diversos aspectos dos relacionamentos das empresas. Nas relações internacionais percebe-se mais que em outras as imposições econômicas e jurídicas para que se comportem de acordo com os principios éticos, sejam eles decorrentes da aplicação dos princípios morais, sejam eles informados pelo ideal de justiça, ou seja, determinados pelos princípios legais. 1.2 Preceitos éticos aplicáveis às relações com clientes As relações de empresas com clientes iniciam-se com as atividades de formulação de um plano de marketing que abrangem também a publicidade e propa- Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 17 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de De acordo Leisinger e Schmitt (2002) no século XVII, Adam Smith conseguiu demonstrar na sua obra “A riqueza das nações” que o lucro poderia ser aceito como uma justa remuneração ao empreendedor e que essa parcela de valor acrescido acabava resultando em investimentos ou consumo, os quais, por sua vez, eram responsáveis por mais empregos remunerados. O lucro acabava tendo, assim, um objetivo social de melhoria do bem-estar de todos, através da geração de empregos e das consequêntes remunerações. Essa foi a primeira demonstração dar como possível conciliado o lucro e a ética e, portanto também, entre esta última e a empresa. campo na área de pediatria da cidade do Recife. Conforme Dias (2003) em cada uma dessas organizações alguém (denominado empresário) reúne os três fatores técnicos da produção – a natureza, o capital e o trabalho – para produzir um bem ou um serviço. Esse bem ou serviço é oferecido pela organização ao mercado, que o adquire. A organização obtém, então, da diferença entre o preço de venda e o custo de produção, o proveito monetário denominado “lucro”. Portanto, o desenvolvimento de uma atividade visando o lucro integra o conceito de “empresa”. Essa característica de organização lucrativa gerou sempre a desconfiança da eventual impossibilidade de se conciliar as suas práticas com os conceitos éticos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ganda do produto ou serviço, a negociação e obtenção da vontade do cliente em adquirir esse produto ou serviço, a contratação, o cumprimento do contrato de venda (seja ele escrito ou verbal) e as chamadas relações pós-vendas. Portanto, será antiética a venda que for feita mediante o suborno de alguém com poder de influenciar a decisão de compra do adquirente. O suborno pode se materializar sob diversas formas. O mais comum é o suborno patrimonial direto, no qual a empresa vendedora faz um pagamento a uma pessoa da organização adquirente, para que esta influencie ou tome a decisão de comprar. A sofisticação da economia e a crescente pressão social, têm gerado outras formas de suborno. Em termos patrimoniais, além do suborno direto há o indireto, feito através de terceiros ou sob “títulos legitimadores” (serviços, prêmios, viagens, etc.). Há, ainda o suborno extra patrimonial, que é uma vantagem imensurável, conferida a alguém. Pode ser uma vantagem social, acadêmica, política, sexual, ou qualquer outra. O mandamento fundamental da empresa ética é o de usar a verdade e não subornar para vender. (MOREIRA, 1999) Conforme Moreira (1999) durante todas essas fases deve a empresa empenhar-se em identificar e praticar os princípios éticos aplicáveis. Para ser ética nas relações com seus clientes durante as fases de negociação e obtenção da sua decisão de comprar, a empresa deve fazer com que os seus representantes utilizem apenas argumentos técnicos e verdadeiros a respeito do produto ou serviço oferecido e sobre as condições da venda. 1.3 Preceitos éticos aplicáveis às relações com fornecedores Para Moreira (1999) a ética determina que a empresa seja justa com os seus fornecedores. Para isso precisa fazer com que o fornecedor seja corretamente informado de todos os dados e fatos relevantes ao formular uma cotação. Assim sendo, não deve a empresa ética se utilizar da prática comum hoje em dia de solicitar cotações para grandes quantidades e posteriormente confirmar a compra apenas de uma pequena parte. O mais importante preceito ético aplicável ao relacionamento com os fornecedores é o de pagar o preço justo pelo produto ou serviço fornecido. O preço justo não é apenas aquele aceito pelo fornecedor. A ciência econômica fornece os dados para fixá-lo. O mais importante é que a empresa ética não imponha ao fornecedor, fazendo uso do seu poder econômico, um preço que ela própria (a compradora) não aceitaria caso estivesse fornecendo. A empresa ética deve tomar todas as precauções para que a concorrência entre os seus fornecedores não seja pautada por práticas antiéticas da parte de qualquer deles, principalmente através de suborno. 1.4 Preceitos éticos aplicáveis às relações com concorrentes Conceito A 18 Recife n. 2 p.9-39 2011 Segundo Nascimento (2005) é o conjunto de técnicas utilizadas com o objetivo de divulgar conhecimentos e/ou promoverem adesão a princípios, idéias ou teorias visando exercer influência sobre o público através de ações que objetivem promover determinado medicamento com fins comerciais. Conforme Moreira (1999) propaganda é a divulgação, por quaisquer meios, normalmente os de comunicação, da existência de um produto ou serviço, sua disponibilidade, suas qualidades e outros aspectos que possam induzir o adquirente a comprar. “Propaganda é qualquer forma paga de apresentação não pessoal e promocional de idéias, bens ou serviços por um patrocinador identificado” (KOTLER, 2006). Dessa forma a propaganda trabalha para construir a marca de um determinado produto, ou seja, apresentar idéias com o objetivo de convencer seu público dos benefícios que seu produto proporciona. As empresas lidam com a propaganda de diversas maneiras. Em pequenas empresas, ela fica a cargo do departamento de marketing ou vendas, que trabalha com uma agência de propaganda. Já as grandes empresas em geral estabelecem seu próprio departamento de propaganda. A tarefa desse departamento é propor um orçamento, desenvolver uma estratégia de propaganda, aprovar anúncios e campanhas e outras formas de veiculação. 2.1 Propaganda ética Durante o desenvolvimento e a avaliação de uma propaganda, é importante distinguir estratégias corretas a serem utilizadas. Por sua vez, a ética na Propaganda tem que ser garantida por todos os profissionais que nela trabalham. A propaganda ética é aquela que atende, cumulativamente, aos seguintes requisitos: Divulga as verdadeiras características dos produtos ou serviços; Não é enganosa e nem abusiva; Não é escandalosa; Não se vale da demonstração dos defeitos do produ- Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 19 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de 2 O QUE É PROPAGANDA? campo na área de pediatria da cidade do Recife. De acordo com Moreira (1999) esses preceitos éticos são os que se encontram mais amplamente regulamentados pela legislação brasileira. A Lei 8884/94 cita detalhadamente as condutas proibidas às empresas nos seus relacionamentos com os concorrentes. A empresa ética tem o dever de defender o princípio da livre concorrência. Deve evitar, portanto, entrar em qualquer tipo de acordo que possa reduzir ou eliminar a livre concorrência. Esse acordo pode se referir aos preços, condições de venda, disponibilidade de mercadoria e sua oferta a determinado segmento de mercado, ou qualquer outro. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso to ou serviço concorrente; Não interfere na liberdade de escolha do ser humano; Não ofende a moralidade da sociedade a que se destina. (MOREIRA, 1999, p. 50) Como afirma Olivetto (2003), um dos mais destacados publicitários em atividade no país, não é à toa que a maioria das marcas mais lembradas (que se destacam no prêmio top of mind) sejam também aquelas que melhor anunciam. As técnicas de propaganda e marketing influenciam as escolhas de indivíduos e o uso dessas técnicas, associado ao poder econômico, pode gerar abusos e distorções das práticas comerciais. Por este motivo é que a sociedade, por intermédio das ações de governo e dos próprios publicitários, estabeleceu limites para as propagandas. Segundo Tannus (2007), nos anos 70, no auge da ditadura militar, a propaganda no Brasil enfrentou a “censura prévia” imposta pelo governo daquela época, mas um trabalho paciente junto às autoridades federais acabou por convencêlas a abandonar tal projeto. Em 1978 foi fundado o CONAR (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária), uma Organização não Governamental, responsável pelo seu cumprimento dos códigos regulamentadores do setor. O papel do CONAR é julgar e deliberar como órgão soberano de fiscalização o que se relaciona à obediência e cumprimento do disposto no Código. Sua missão (CONAR, 2004) é “impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas”. Ou, como também podemos dizer, “impedir que a atuação dos publicitários afete as bases de convívio profissional e da concorrência, bem como assegurar um grau de proteção à sociedade” (REGO, 2004). Dessa forma, buscam assegurar a legitimidade social para garantir a auto-regulação da atividade. Diferentemente do modelo de auto-regulamentação profissional, que é uma delegação do Estado, o CONAR conquistou sua autoridade com um elogiável trabalho de propaganda, sustentado por um amplo apoio dos meios de comunicação social. Esta conquista foi feita de forma competente, embora, talvez, impertinente. Ela está relacionada à inserção no processo capitalista, já que é integrante estratégica das relações comerciais. De outra forma, os tradicionais problemas relacionados à auto-regulação não são também estranhos ao campo profissional da propaganda e marketing. Ou seja, embora desejável, não é razoável esperar que as corporações se posicionem acima de seus interesses corporativos. A publicidade enganosa está tratada no art. 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), e é aquela que, através da sua veiculação, pode induzir o consumidor ao erro. Pode ser por omissão, quando o anunciante omite dados relevantes sobre o que está sendo anunciado e, se o consumidor soubesse esse dado, não compraria o produto ou serviço ou pagaria um preço inferior por ele. A publicidade enganosa por comissão é aquela no qual o fornecedor afirma algo que não é, ou seja, atribui mais qualidades ao produto ou ao serviço do Conceito A 20 Recife n. 2 p.9-39 2011 Para o induzimento em erro não se considera apenas o consumidor bem informado, mas também o desinformado, ignorante ou crédulo. Não se questiona a intenção de enganar do anunciante, basta somente a divulgação do anúncio enganoso e esta configurada a publicidade enganosa. Convém salientar que não existe um direito adquirido de enganar, ou seja, para eximir de sua culpa o fornecedor alegar que tal prática vem sendo reiteradamente praticada ou que é comum determinado anúncio. O erro neste caso é o mesmo considerado pelo Código Civil nos arts. 86 a 91, ou seja, declarações de vontade eivadas de erro não são plenamente eficazes. Não precisa necessariamente induzir o consumidor em erro, basta que potencialmente exista da indução em erro. Uma publicidade pode ser totalmente correta e mesmo assim ser enganosa, como por exemplo, quando omite algum dado essencial. O que é anunciado pode ser verdadeiro, mas por faltar o dado essencial, torna-se enganosa por omissão. Quando houver mais de uma interpretação para o anúncio, basta que uma delas seja enganosa que a publicidade será tida como enganosa. Presume-se a culpa do fornecedor por veicular a publicidade enganosa. Somente se livrará de sua culpa se demonstrar o caso fortuito, fatos alheios à sua vontade, uma situação externa, imprevisível ou irresistível entre outros. A publicidade abusiva está elencada no art. 37, § 2.º do CDC, no qual é considerada como tal a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 2.2 Propaganda farmacêutica Como em qualquer área de atuação a ética profissional é imprescindível e no caso da propaganda na indústria farmacêutica não é diferente. Hoje existem códigos de ética mercadológica e publicitária destinados a disciplinar eticamente o setor e impedir os abusos nas estratégias de comunicação. A auto-regulação do mercado publicitário relacionado a medicamentos e a outros produtos ligados à saúde é uma distorção de conseqüências previsíveis. A Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 21 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de A publicidade enganosa provoca uma distorção na capacidade decisória do consumidor, que se estivesse melhor informado, não adquiriria o que for anunciado. campo na área de pediatria da cidade do Recife. que ele realmente possui. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso indústria farmacêutica conta com códigos de condutas que são de interesse internacional; existem agências que regulam todo trabalho realizado pelos laboratórios. Conforme ressalta Filho (2007), a Organização Mundial de Saúde diz que os critérios éticos da propaganda de medicamentos devem privilegiar um comportamento adequado e compatível com a busca da verdade e da retidão. Os critérios de promoção não constituem obrigações legais. Os governos podem adotar leis e outras medidas, quando necessárias. É o que faz a ANVISA. Do mesmo modo as empresas e entidades podem adotar medidas de autoregulamentação. No Canadá, toda propaganda ou mensagem promocional veiculada por áudio, vídeo, meios audiovisuais, eletrônicos e computacionais é objeto de avaliação prévia pelo Pharmaceutical Advertising Advisory Board (PAAB) antes de sua divulgação. Este órgão é independente da indústria e é coordenado por uma diretoria composta por representantes da Associação de Produtores Farmacêuticos do Canadá (PMAC), dos produtores de medicamentos genéricos, do Conselho Médico, da Associação Canadense de Farmacêuticos, de Associações de Consumidores e associações de propaganda. Além disso, a PMAC dispõe de um código de auto-regulamentação para as atividades dos representantes, distribuição de amostras e apoio a eventos, entre outras atividades relacionadas à promoção de novos medicamentos (PMAC Code of Marketing Practices). No Brasil a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) é responsável em “estabelecer diretrizes, normas e padrões uniformes, éticos e transparentes no relacionamento das empresas associada com profissionais de Saúde e o público em geral.” (FILHO, 2007). Como descreve Filho (2007), métodos como estes acima descritos são insuficientes e ineficazes no controle das propagandas. Segundo ele, os conflitos entre os objetivos comerciais e as metas éticas e científicas da promoção levam a uma debilidade em seu cumprimento. Para ele, existem cinco aspectos críticos relacionados à aplicação dos códigos que precisam ser objeto de divulgação pública: mecanismos de identificação das violações dos códigos; composição dos comitês de acompanhamento; sanções para as violações dos códigos; quantidade e qualidade da informação em relatórios emitidos sobre reclamações e violações ao código; e a circulação que estes relatórios recebem. Em 2003, na Nova Zelândia que, assim como os Estados Unidos, não tem restrição à propaganda direta de medicamentos aos consumidores, as faculdades de medicina divulgaram um relatório que defende o fim da propaganda em seus ambientes e alerta para a necessidade de se contrapor ao poder da indústria farmacêutica, pela defesa do interesse público, característica própria da ação do Estado (DIAS et al., 2003). Conceito A 22 Recife n. 2 p.9-39 2011 É o propagandista quem apresenta à maior parte dos médicos as inovações medicamentosas, lançamentos e produtos diferenciados para atender necessidades específicas de pacientes e especialistas. Por todos esses motivos, a indústria farmacêutica tem investido em treinamentos diferenciados para seus representantes, com visitas à matriz da empresa, cursos de negociação, de motivação e comportamento ético. (TANNUS, 2006). Educar sempre é um bom negócio para qualquer ramo de negócio, não sendo diferente na indústria farmacêutica, mas é preciso considerar que educar não é simplesmente transferir conhecimento e que esta atividade pode vir a gerar mudanças positivas de comportamentos. A compreensão absoluta desse conceito do processo educativo deve estar na base do planejamento e da execução das atividades de comunicação na propaganda de medicamentos, pois norteiam práticas disciplinadas eticamente. 3 O LABORATÓRIO DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO De acordo com Davenport (2002) quando a informação está em todo lugar, o que acontece na maioria das empresas, a mercadoria em menor oferta é a atenção. Quando são muitos os meios, as tecnologias e os tipos de informação, a única constante é nossa capacidade restrita de atenção, em especial para os responsáveis pelo processo decisório e para quem precisa do conhecimento para agir. Infelizmente, profissionais que são ao mesmo tempo fornecedores e usuários de informação não têm se preocupado em atrair a atenção para os informes que criam. Em consequência, a maior parte de seus dados permanece inerte nas gavetas, nos arquivos ou descartadas. Segundo Fagundes (2008) os laboratórios estimulam pesquisas a respeito das patologias e tratamentos, investem na programação de seus produtos com recursos de marketing e tecnológicos de última geração, mas, não utilizam esses mesmos recursos para prender a atenção do médico para tais informações, pois não se preocupam, no momento da transmissão da mensagem, com a contextualização dela de acordo com as necessidades e expectativas de cada Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 23 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de Jesus (2007) conceitua que uma das principais mídias de comunicação da indústria farmacêutica é o representante. Este é responsável pela divulgação e venda dos medicamentos. Levando em suas maletas catálogos, peças promocionais, material científico, amostras grátis e brindes, percorrem uma média de 15 médicos por dia, com o objetivo de convencê-lo sobre as vantagens do seu produto. campo na área de pediatria da cidade do Recife. 2.3 O propagandista Farmacêutico Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso médico visitado. Precisa-se transmitir a informação de uma forma que estimule as pessoas certas a reconhecê-la e utilizá-la. Embora essa finalidade pareça óbvia, tal compromisso não é coisa simples. A maioria das transmissões acontece na base da hierarquia do compromisso com a informação. Mesmo quando os fornecedores de informação procuram torná-las mais atraentes – apelando para o uso de gráficos ou de resumos -, o usuário costuma notar apenas alguns desses atributos. Em vez de tentar ler um documento de pesquisa cheio de jargões, por exemplo, um vendedor de campo de uma companhia farmacêutica, pode reter muito mais dado acerca de um medicamento se entrevistar (ou discutir com) um dos cientistas que conduziu os testes. Mas a informação raramente é apresentada desta forma. É preciso que o propagandista de produto farmacêutico seja treinado e estimulado a criar recursos para intermediar a informação ao médico, não só prendendo sua atenção, mas fazendo com que ele perceba na visita do propagandista um momento de atualização. O laboratório e o propagandista precisam entender que o ser humano possui as melhores ferramentas para descobrir, categorizar, tratar e disseminar a informação. Não adianta muita tecnologia sem o seu domínio, sem a utilização total de seus benefícios. 4 A RELAÇÃO ENTRE INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E MÉDICOS “As relações entre indústrias farmacêuticas e médicos são potencialmente perigosas e lesivas tanto para o exercício profissional quanto para os consumidores de serviços de saúde” (Rego, 2004). Pensando nessa relação, as organizações profissionais e sanitárias têm buscado, cada vez mais, estabelecer limites para essa convivência, como recentemente fez a Associação Médica Mundial. Já a Organização Mundial de Saúde aprovou uma Resolução para disciplinar a promoção de medicamentos. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina, reconhecendo os potenciais riscos de patrocínios e propagandas, emitiu Resoluções que proíbem a vinculação da prescrição médica ao recebimento de vantagens materiais oferecidas por agentes econômicos interessados na produção ou comercialização de produtos farmacêuticos ou equipamentos de uso da área médica. Tais Resoluções determinam que os médicos, ao proferirem palestras ou escreverem artigos que divulguem ou promovam produtos farmacêuticos ou equipamentos para uso na medicina, declarem os agentes financeiros patrocinadores, assim como a metodologia empregada nas pesquisas - quando for o Conceito A 24 Recife n. 2 p.9-39 2011 A importância que a indústria atribui à propaganda de seus produtos está expressa na distribuição de seus gastos, sobre os quais se apresentam duas informações convergentes, embora de fontes diferentes. Segundo Rego (2004) a organização nacional de consumidores Families USA Foundation, ao analisar os gastos das indústrias que produziram os 50 medicamentos mais consumidos por idosos nos Estados Unidos, concluíram que os gastos dessas empresas com administração e propaganda chegaram a duas vezes e meia o investido em pesquisa e desenvolvimento. Seus lucros ultrapassaram em 60% o que foi investido em pesquisa e desenvolvimento. Já Barros e Joany (2002) informa que, em 2000, 30% dos gastos dessas indústrias se destinaram à propaganda e à administração, enquanto 12% foram para pesquisa e desenvolvimento. Se esses recursos também incluem a propaganda para o público em geral, é fato que parte deles é destinada ao público especializado. Jesus (2000) defende o fim do assédio abusivo dos representantes farmacêuticos aos profissionais. Tenta-se uma razão para defender o banimento dos propagandistas do convívio com os médicos, limitando a propaganda à mídia impressa ou às peças de propaganda estática, como faixas, cartazes e folhetos, no intuito de resolver o problema ou ao menos parte dele. Rego (2004) assinala que o atual nível de relação entre os médicos e a indústria farmacêutica afeta o comportamento daqueles e deve ser objeto de ações políticas e educacionais. Ao analisar 16 estudos que descrevem e discutem as relações entre a indústria farmacêutica e os médicos, observa que esta relação começa na universidade e se mantém após a graduação, com a média de quatro encontros mensais com representantes farmacêuticos. Dependendo de seu status profissional, os médicos costumam participar de almoços financiados pela indústria, recebem presentes e brindes, têm custeadas viagens para congressos e cursos de reciclagem patrocinados. Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 25 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de O CFM busca regulamentar, em seu campo de atuação, as práticas profissionais dos médicos relacionadas à propaganda de medicamentos, e pretende também estabelecer um marco divisório da sua independência em relação à poderosa indústria farmacêutica, que parece onipresente no universo profissional do médico. Assegura-se também que não seja interpretada como endosso a qualquer produto anunciado numa eventual propaganda e destaca-se a preocupação com os potenciais conflitos de interesse associados às práticas clínica e em pesquisa. campo na área de pediatria da cidade do Recife. caso - ou a bibliografia que serviu de base à apresentação quando esta transmitir conhecimento proveniente de fontes alheias (CFM, 2002). Foi também proibida “a inserção de matéria publicitária, vinculada à área médico-hospitalar e afim, em jornais e revistas editadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Conselhos Regionais de Medicina, como também em sites na internet” (CFM, 2002). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A opinião corrente, e errada, entre os médicos é de que os representantes farmacêuticos oferecem informação acurada sobre suas drogas e seriam capazes de oferecer informação acurada sobre drogas já existentes ou alternativas. A maioria dos médicos nega que presentes e brindes possam influenciar seu comportamento, embora tenham dúvidas sobre se esta prática é ética e admitam que seus contatos com os representantes farmacêuticos seriam reduzidos na ausência destes benefícios. Entretanto, Rego (2004) contesta firmemente as conclusões de Barros e Joany (2000) de que os médicos podem ser comprados com brindes e presentes baratos e que não teriam inteligência para distinguir o que é um fato do que é uma propaganda. Aponta que a maioria dos médicos considera que a propaganda de medicamentos realizada diretamente para a população também é capaz de influenciar negativamente o ato da prescrição médica, mas não têm o mesmo sentimento em relação aos médicos e ao recebimento de presentes e brindes da indústria. Eles apontam que a maioria dos médicos acredita que os presentes não afetam a prescrição deles, mas crêem que os presentes influenciam a prescrição de seus colegas. Fagundes (2007), ao analisar a questão da distribuição e uso de amostras grátis pelos médicos, conclui que só existe uma razão para a distribuição de amostras grátis pela indústria: mudar o comportamento do médico na hora de prescrever um medicamento. Segundo ele, a questão fundamental não seria se o médico pode ou não ter relacionamento com a indústria, mas, sim, se a relação do médico com o paciente deve sempre ter precedência. Entende o autor que prescrever uma medicação pela conveniência de ter uma amostra não é a melhor maneira de exercer a medicina para o paciente. A pertinência dessas conclusões para o nosso contexto pode ser reforçada ao considerarmos que a amostra disponível pode não ser suficiente para todo o tratamento, além de ser, quase como uma regra, mais cara que o medicamento já disponível. De acordo com Fagundes (2007), parte da classe médica reconhece que se sente pressionada a prescrever medicamentos de laboratórios farmacêuticos quando recebe brindes e amostras grátis e que teme não prescrevê-los quando recebe benefícios maiores. Segundo ele, muitos médicos se acham imunes à influência comercial. No entanto, estudos revelam que aceitar presentes e hospitalidade da indústria farmacêutica pode comprometer o julgamento acerca da informação médica e a subseqüente decisão sobre o cuidado do paciente. Em vista disso, ressaltam a importância de os médicos (profissionais habilitados) explicitarem os potenciais conflitos de interesses no desenvolvimento e publicação de seus estudos clínicos. A Associação Médica Mundial desencoraja a relação estreita entre médico e indústria farmacêutica e tenta estabelecer regras mais claras para esta relação. Aqui cabe comentários sobre essa forma de propaganda - as amostras grátis. Não há dúvida de que é uma forma bastante eficaz de propaganda. Afinal, que Conceito A 26 Recife n. 2 p.9-39 2011 5 O RELACIONAMENTO ENTRE MÉDICO E PROPAGANDISTA O elemento humano, representado pelo propagandista e pelo médico, é o construtor dessa cadeia de comunicação e se beneficia da revitalização de novas estratégias de propaganda. Toda interação humana somente se viabiliza pela comunicação, desse modo, pode-se analisar brevemente que a Experiência de Aprendizagem Mediada tem seu foco não especificamente no conteúdo das informações, mas, sim, na estratégia metodológica dialógica intencional – emissor e receptor responsável pelo conhecimento construído. Ambos interagem constantemente imperando a troca de impressões, os sentimentos sobre o mundo e o intercâmbio de formas de compreensão da realidade. A interação comunicacional e de transmissão no processo de Experiência de Aprendizagem Mediada impõe a presença da mobilização cognitiva e afetiva através de uma relação dialógica, internacional de dois ou mais seres humanos. VARELA (2003), O receptor deve ser estimulado a reconhecer e utilizar a informação transmitida pelo emissor, pois cada dia temos acesso a um número grande de informações, que superam nossa capacidade de atenção. A transmissão de informação necessita dos atributos – conteúdo, fonte, situação – que aumentam o envolvimento. Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 27 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de Pode-se argumentar que aceitar ou não amostras grátis não tem significado efetivo para a mudança de prescrições, ou que é irrelevante que sejam distribuídos brindes, ou ainda que o assédio dos propagandistas tem uma razão de ser: divulgar os estudos realizados e atualizar os médicos quanto às inovações. Este argumento justifica-se porque quem investe em tecnologia é a indústria e o que é mais relevante é a quantidade de evidências sistematizadas que a propaganda oferece. Assim há, base científica para a mudança de prescrição. No entanto, a qualidade da informação presente nas propagandas farmacêuticas vem sendo bastante criticada. campo na área de pediatria da cidade do Recife. outra razão a indústria poderia ter para distribuir amostras de medicamentos? Existem, sem dúvida, os que procuram justificativa social para o recebimento das amostras, alegando que esses medicamentos serão repassados a pessoas pobres, com dificuldade em adquiri-los. Esta alternativa não parece trazer benefícios ao paciente, posto que se está oferecendo um tratamento que não é, necessariamente, melhor que aquele que não dispõe de amostras grátis. E, mesmo que se oferecesse volume de medicamento suficiente para o tratamento completo do paciente (o que não é habitual), o médico estaria divulgando para a população aquele medicamento como adequado apenas porque se dispõe de amostra grátis. Aliás, torna-se acreditar que exista alguma coisa gratuita numa relação comercial. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Sobre as atribuições do mediador, Varela (2003) diz que, o mediador seleciona, organiza e planeja os estímulos, variando sua amplitude, frequência e intensidade, e os transforma em poderosos determinantes de um comportamento em lugar de estímulos ao acaso cuja aparição, registro e efeitos podem ser puramente probabilísticos. Partindo desse princípio, o propagandista de produtos farmacêuticos pode adotar algumas estratégias para a exposição dos produtos e das produções científicas aos especialistas, de tal modo que consiga atingir seus objetivos, tanto de marketing, quanto de mediador do processo de informação, com eficiência e eficácia. Conforme a Interfarma (2009) as informações sobre produtos devem ser equilibradas, verdadeiras, completas, atualizadas e, sempre que couber, sustentadas por evidências científicas. A promoção de medicamentos com base em informações controversas ou sem fundamentação é contrária aos princípios do Código. Segundo o código de conduta da Interfarma (2009) os propagandistas não podem, direta ou indiretamente, ofertar, prometer ou outorgar prêmios, gratificações ou vantagens econômicas vinculadas à prescrição, uso, promoção, recomendação, indicação ou endosso de medicamentos. Toda ação que possa ser percebida como uma interferência indevida sobre a autonomia dos Profissionais da Saúde ou Profissionais Relacionados à Área da Saúde deverá ser prontamente interrompida, sem prejuízo da eventual apuração de responsabilidades segundo as regras deste Código e da legislação em vigor. Além disso na seção 1.1.4 o código de conduta da Interfarma (2009) informa que as ações promocionais devem de divulgar o uso adequado do medicamento, sendo proibidas as recomendações que não estejam em estrita consistência com as indicações aprovadas pelas autoridades sanitárias brasileiras. Segundo o órgão regulador, algumas medidas estratégicas devem ser adotadas para um melhor aproveitamento na referida mediação: • Conhecer o médico e seu ambiente de trabalho: faixa etária, especialidade, grau e área de atualização, assuntos de interesse, domínio de outras línguas, perfil da clínica e dos seus pacientes, localização da clínica, acesso à tecnologia, produtos mais utilizados para tratamento dos pacientes, entre outros aspectos; • Seleção de material que esteja de acordo com o perfil de atuação do médico; • Seleção de recursos para exposição das informações, adequados às características de cada especialista, inclusive delimitando tempo de exposição que se adapte às suas necessidades. Por exemplo, a visita não deve demorar muito naquelas situações em que o fluxo de pacientes é intenso; Conceito A 28 Recife n. 2 p.9-39 2011 A utilização de tais medidas estratégicas serve de auxílio na avaliação da qualidade da informação fornecida pelo propagandista de produto farmacêutico ao médico pediatra. Porém, cabe salientar que critérios subjetivos também devem ser considerados, dentre eles a relevância, valor, contexto de uso, dentre outros. Quando é garantida a qualidade dessas informações, o profissional médico passa a valorizar mais esses encontros com os propagandistas, na medida em que passam a ter consciência da possibilidade de qualificação profissional que eles representam. 6 ORGÃOS QUE REGULAMENTAM O PROPAGANDISTA 6.1 ANVISA A finalidade da Agência nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) se expressa através do controle das práticas de produção, determinando normas técnicas e padrões de produção. É responsabilidade aos técnicos da vigilância sanitária o preenchimento de manuais de boas práticas o controle externo que se caracterizam pela elaboração de normas oficiais, licenciamento dos estabelecimentos, orientação educativa, fiscalização e aplicação de medidas de proteção à saúde da população. Segundo a Agência nacional de Vigilância Sanitária ANVISA (2009) com as ações de vigilância sanitária, faz-se necessário o uso de diversas tecnologias de intervenção que visem o controle, diminuição ou eliminação dos riscos de doenças e também ajuda a melhora da qualidade de vida, assegurando a qualidade e o acesso a produtos, serviços e ambientes de interesse da saúde. É também seu papel Abrir espaço para a realização de uma reflexão crítica e demonstrar a necessidade da realização de ações integradas, articuladas com outros órgãos que possuem interfaces com os objetos da vigilância sanitária é fundamental no processo de evolução das práticas sanitárias. De acordo com a Agência nacional de Vigilância Sanitária ANVISA (2009) as tecnologias que interferem de alguma forma na saúde coletiva e as práticas da vigilância sanitária que regulam as atividades industriais dos produtos que estão ligadas à saúde devem estar baseados na qualidade, eficácia e segurança. A lei que regulamenta estes princípios é a 6.360 de 23 de setembro de 1976. Após as leis de proteção ao consumidor, a importância do conceito de qualidade se tornou fundamental na sociedade, permitindo apontar um novo mod- Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 29 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de • formacional referente à mensagem que foi transmitida, de forma que o médico possa reconhecer localizar e memorizar onde se encontram aquelas informações que tenha interesse em aprofundar. campo na área de pediatria da cidade do Recife. • Finalizar a comunicação entregando materiais impressos com conteúdo in- Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso elo de vigilância sanitária. A sociedade evoluiu a forma de pensar e hoje em dia dispõe de mecanismo que garantem uma melhor qualidade dos produtos e serviços. Essa evolução conferiu ao consumidor um novo status, o de cidadão, e o embasamento jurídico de garantia da qualidade nas relações entre prestadores de serviço, fornecedores e o consumidor impulsionam uma consciência sanitária e a própria vigilância sanitária, para as tarefas de promover práticas e espaços saudáveis nos processos da vida e saúde. Assim, a melhoria da qualidade de vida e saúde da população deve incluir o desenvolvimento das tecnologias, buscando construir um modelo globalizado e uniforme de fiscalização sanitária. “A vigilância sanitária tem como uma das suas principais ações eliminar ou diminuir o risco sanitário envolvido na produção e consumo de produtos e serviços de interesse da saúde” (ANVISA, 2009). A monitoração e a fiscalização da propaganda de produtos sujeitos à vigilância sanitária, em especial os medicamentos, são ações essenciais para a prevenção de riscos e agravos à saúde da população. Segundo a Constituição, o Estado deve proteger a pessoa e a família da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente, inclusive com restrições legais à propaganda. Para garantir esses preceitos, a ANVISA criou, em fevereiro de 2004, a Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos sujeitos à Vigilância Sanitária (Portaria nº 123/04), transformada em março de 2009 (Portaria nº 206/09) em Gerência Geral (GGPRO). A Gerência regulamenta e fiscaliza as propagandas em busca de um equilíbrio cada vez maior nas informações presentes em peças publicitárias de medicamentos sujeitos ao controle sanitário. O objetivo é que essas propagandas jamais sejam fontes de riscos à saúde da população. 6.2 Interfarma A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) é uma entidade sem fins lucrativos, que reune as indústrias farmacêuticas instaladas no Brasil, dedicadas à pratica da indústria de produtos de pesquisa própria ou certamente licenciada por seus descobridores, para fins farmacêuticos. A missão da Interfarma é defender o conceito de inovação e proteger, de forma ética e responsável, os direitos internacionais de propriedade intelectual e aqueles estabelecidos na lei de patentes brasileira. A promoção ética de medicamentos é um meio legítimo que a indústria utiliza para divulgar para pessoas que, direta ou indiretamente, necessitem conhecer essas inovações e que, por isso, devam ter acesso rápido e efetivo às informações sobre os tratamentos mais adequados para suas necessidades especí- Conceito A 30 Recife n. 2 p.9-39 2011 O presente Código de Conduta reflete o compromisso dos laboratórios que desejem oferecer sua parcela de contribuição para, de um mercado farmacêutico consciente de suas responsabilidades junto a pacientes, consumidores, médicos e todos os demais profissionais que com ele se relacionam. 7 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO Foram Aplicados questionários com perguntas abertas e fechadas de múltipla escolha a 50 médicos pediatras na cidade do recife no período de maio a outubro no ano de 2010, procurando conhecer comportamentos éticos e antiéticos predominantes na atuação do propagandista da indústria farmacêutica. Gráfico 01: Freqüência de atitudes não éticas do representante farmacêutico. Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 31 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de Segundo a Interfarma (2009) aos laboratórios associados à Interfarma são regidas através de códigos de condutas que reconhecem a importância da promoção de medicamentos e se comprometem a conduzir suas atividades promocionais dentro de padrões uniformes, éticos, transparentes e coerentes com a autonomia do médico no exercício da atividade médica. campo na área de pediatria da cidade do Recife. ficas. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: Própria A análise mostrou que em sua maioria 66% dos entrevistados já se depararam em situação não ética por parte dos representantes farmacêuticos, quando 14% se depararam muitas vezes, e apenas 20% nunca estiveram numa situação semelhante. Gráfico 02: Conhecimento do Código de Ética do Representante da Indústria Farmacêutica. Fonte: Própria Quanto ao Código de Ética do Representante da Indústria Farmacêutica, identifica-se que dos entrevistados 88% não o conhecem, enquanto os 12% restantes, ouviram falar, mas não souberam responder quais os artigos do referido código em que fundamenta sua análise sobre ética. Gráfico 03: O que representa um comportamento não ético do propagandista farmacêutico. Conceito A 32 Recife n. 2 p.9-39 2011 Gráfico 04: Falta de ética afeta a ação médica. Fonte: Própria Dos entrevistados, 15% afirma que a falta de ética dos representantes afeta sua ação médica quanto ao seu descrédito no laboratório representado; 20% tem uma percepção negativa e generalizada dos demais representantes; 26% passam a ter descrédito no produto propagado e a maioria, 39% respondeu que seu agir profissional é afetado por todas as alternativas apresentadas. Gráfico 05: Reação diante da falta de ética. Fonte: Própria Quanto a reação dos médicos diante da falta de ética do representante o grá- Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 33 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de Quando questionados sobre itens que representam um comportamento não ético dos propagandistas, 19% dos entrevistados responderam que “troca de patrocínio por prescrição” é uma ação não ética, 16% que a abordagem excessiva e persuasiva ao médico não é ético, já 18% referem que efetuar propaganda competitiva e desleal entre produtos é antiético e 47% acreditam que todos os itens representam comportamento não ético do representante. campo na área de pediatria da cidade do Recife. Fonte: Própria Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso fico nos mostra que a maioria dos entrevistados 41%, respondeu que recebe o profissional mas não prescreve o seu produto; 31% não recebe mais o propagandista no seu consultório; 24% não recebe o representante, mas prescreve o produto quando necessário á saúde do seu paciente; 2% não recebe mais o representante e igualmente 2% recebe e prescreve o produto independentemente da ação do profissional. Gráfico 06: Atitude do médico quanto a conduta antiética. Fonte: Própria Ao serem questionados quanto a atitude desejável de um médico em caso de conduta antiética do profissional de propaganda farmacêutica a pesquisa demonstra que 41% esclarece a situação pessoalmente com o representante, 35% denuncia o mesmo aos órgãos reguladores, 16% denuncia o ato ao laboratório em que este trabalha e 8% diz não adotar atitude restritiva. Gráfico 07: Investimentos que representam relação antiética. Fonte: Própria Com relação aos investimentos concedidos pelos laboratórios, foi perguntado quais dos itens listados representam claramente relação antiética entre representante e médico. A análise mostra que 56% não acredita que os itens listados constituem relação antiética com o representante, já 40% afirma que os Conceito A 34 Recife n. 2 p.9-39 2011 A partir deste panorama a respeito do tema ética do propagandista farmacêutico, é proveitoso salvar que a ética é o desenvolvimento de atitudes sobre o que é bom, correto, justo e adequado, em todos os seguimentos da vida. Um dos objetivos da ética é a busca de justificativas para as regras propostas pela moral e pelo direito, por isso é diferente de ambas. Então, é fundamental saber que há uma série de atitudes não estão descritas nos códigos de éticas do profissional, mas que são comuns a todas as atividades que uma pessoa pode exercer. A presente pesquisa envolveu entrevistas com 50 médicos pediatras da cidade do Recife, quando se procurou fazer uma apresentação realista do seguimento de propaganda farmacêutica, identificando ações antiéticas neste seguimento. Os resultados apresentados no presente estudo indicam que a classe médica sente-se influenciada pela propaganda de medicamentos, entre outras razões, devido às visitas de propagandistas aos seus locais de trabalho. Esta influência contrapõe-se às considerações éticas que revelam o limite entre o que pode ser feito e o que é moralmente aceitável. A pesquisa constatou que a maioria dos médicos já se deparou com ações antiéticas dos profissionais de propaganda farmacêutica e que estas se caracterizam principalmente em efetuar propaganda excessiva e desleal entre produtos, trocar prescrição por algum benefício concedido, entre outros. Embora existam preceitos de ética para a classe, continuam ocorrendo irregularidades em relação ao comportamento dos propagandistas influenciando negativamente a ação dos médicos na prescrição de medicamentos, podendo estes não mais prescrever o produto propagado, não receberem mais as visitas dos profissionais ou até mesmo passarem a ter descrédito nos laboratórios. É de extrema importância lembrar que o Código de Ética do Propagandista Farmacêutico deve ser de conhecimento obrigatório deste profissional, não podendo ele alegar ignorância ou má-compreensão dos preceitos estabelecidos. É importante ainda, salientar a relação deste Código com as outras regulamentações às quais estão sujeitos, tal como o Código de Defesa do Consumidor. Através desse estudo sobre o comportamento ético dos propagandistas da indústria farmacêutica, analisando os éticos e as questões éticas, pode-se notar que apesar de existirem diretrizes, lamentavelmente não são totalmente cum- Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 35 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS campo na área de pediatria da cidade do Recife. pacotes para participação em congressos e eventos científicos, são considerados não éticos e apenas 4% acredita que presentes em datas comemorativas representam relação antiética entre o médico e o profissional de propaganda farmacêutica. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso pridas. Por isso é indispensável salientar a importância deste trabalho, como forma a estimular o trabalho ético neste seguimento profissional e propiciar pesquisas mais ampliadas sobre o assunto. REFERÊNCIAS BADEIA, M.. Ética e Profissionais de Saúde. São Paulo: Livraria Santos Editora, 1999. BARROS, J. A. C. JOANY, S. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a promover a boa prescrição? Ciência. Saúde Coletiva, v.7, n.4, p.891-898, 2002. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC – Resolução da Diretoria Colegiada nº 102, de 30/11/2000. Disponível em: <http://elegis.anvisa. gov.br/leisref/public/showAct.php?id=11079>. Acesso em: 20.Abr.2009. BRASIL. Decreto nº 2.018, de 01 de outubro de 1996. Disponível em: <http://elegis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=2845>. Acesso em: 09.Abr.2009. BRASIL. Decreto nº 79.094, de 05 de janeiro de 1977. Disponível em: <http://elegis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=9331>. Acesso em: 08.Abr.2009. BRASIL. Lei º 6.360, de 23 de setembro de 1976. Disponível em: <http:// elegis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=178>. Acesso em: 08.Abr.2009. BRASIL. Lei º 6.437, de 20 de agosto de 1977. Disponível em: < http:// elegis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=16617&word>. Acesso em: 09.Abr.2009. BRASIL. Lei º 9.294, de 15 de julho de 1996. Disponível em: <http://elegis. anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=264>. Acesso em: 08.Abr.2009. CHAÚI, M. Convite à Filosofia. 3.ed. São Paulo: Ática, 1995. 440 p. CONAR 2004. Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária. Disponível em: <http://www.conar.org.br/html/codigos/index.htm>. Acesso em: 27.Mar.2009. DAVENPORT, T. H. Ecologia da informação: porque só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 2002. 307 p. Conceito A 36 Recife n. 2 p.9-39 2011 LEISINGER, K. M.; SCHMITT, K. Ética empresarial: Responsabilidade global e gerenciamento moderno. Petrópolis: Vozes, 2002. MOLINARI, G. J. P.; MOREIRA, P. C. S.; CONTERNO, L. O. A influência das estratégias promocionais das indústrias farmacêutica sobre o receituário médico na Faculdade de Medicina de Marília: uma visão ética. Rev. Bras. Ed. Med., v.29, n.2, p.110-118, 2005. MOREIRA, J. M. A ética empresarial no Brasil. São Paulo, Pioneira, 1999. REGO, S. Escola não é lugar de propaganda. Rev. Bras. Ed. Med., v.28, n.1, p.3-6, 2004. TANNUS, J. J. Ética na propaganda. Disponível em: <http://www.am.unisal. br/publicacoes/artigos-05.asp> Acesso em: 01.Nov.2007. VARELA, A. V. Informação e autonomia: a mediação segundo Fenerstein. Brasília: UNB, 2003. ANEXOS ANEXO A – Ata de Orientação do TCC 1 Nome do Aluno: Elizabeth Bispo Saldanha 2 Título do TCC: Comportamento Ético do Propagandista Farmacêutico: Uma Pesquisa de Campo na Área de Pediatria da Cidade do Recife. 3 Linha de Pesquisa (consultar as linhas estabelecidas pela coordenação): Mercadologia Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 37 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de JESUS, Paula Renata Camarga. Ética de medicamentos: Os éticos e a ética da indústria farmacêutica no Brasil. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/ alaic/chile2000/10%20GT%202000Com%20e%20Salude/Paula%20Renata. doc>. Acesso em: 01.Nov.2008. campo na área de pediatria da cidade do Recife. FAGUNDES, M. J. D. et al . Análise bioética da propaganda e publicidade de medicamentos. Ciênc. Saúde Coletiva, v.12, n.1, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S14138123200700 0100025&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 7.Maio.2008. FILHO, J. R. Indústria Farmacêutica : Vilã ou parceira. Debates Gvsaúde. São Paulo, n. 3, primeiro semestre 2007. 19-22 p. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 4 Professor Orientador: Profª Eurídice Maria Gonçalves do Couto 5 Período da orientação: Início: ___/____/_____. Término: ___/____/_____. 6 Comentário do professor orientador: _____________________________________________________________ ______ _____________________________________________________________ Recife, ____/____/______ ________________________________ (assinatura do orientador) _________________________________________________________ _______ (assinatura do aluno) (visto do coordenador) ANEXO B – Questionário aplicado na pesquisa de campo COMPORTAMENTO ÉTICO DO PROPRAGANDISTA FARMACÊUTICO: UM ESTUDO DE CASO NA ÁREA DE PEDIATRIA DA CIDADE DO RECIFE. Trabalho de Pesquisa de Campo Realizado no Período de __/__/__ a __/__/__ por Elizabeth Bispo Saldanha NOME: (facultativo) _____________________________________________ ______ CRM: (Facultativo) ______________________________________________ ______ DATA: __/__/__. 1 Já esteve em uma situação em que o representante foi de alguma forma não ético? a) Nunca b) Poucas vezes c) Muitas vezes d) Sempre 2 O senhor (a) conhece o código de ética do representante da Indústria Farmacêutica? a) Sim b) Não c) Ouvi falar, mas pouco Conceito A 38 Recife n. 2 p.9-39 2011 5 Até que ponto a falta de ética do representante farmacêutico afeta sua ação médica? a) Descrédito nos produtos b) Descrédito no laboratório representado c) Percepção negativa generalizada dos demais representantes d) Recurso de reclamação junto ao SAC e) Todas as alternativas 6 Qual a sua reação diante da falta de ética em um representante farmacêutico? a) Recebe o representante e prescreve o produto, independentemente de sua ação antiética anterior. b) Não recebe mais o profissional em seu consultório c) Recebe mas não prescreve seu produto d) Não recebe o representante, mas prescreve somente seu produto quando é necessária a saúde de seu paciente e) Não recebe mais nenhum representante 7 Em caso de conduta antiética do representante farmacêutico qual a atitude desejável do médico: a) Denuncia o representante ao laboratório em que trabalha b) Denuncia a órgãos reguladores c) Esclarece situação pessoalmente com representante d) Não adota atitude restritiva 8 Dentre os investimentos listados abaixo qual representa mais claramente relação antiética entre representante e médico: a) Pacotes para participação em congresso ou eventos científicos b) Entrega de Brindes c) Presentes em datas comemorativas (aniversário, dia da mulher, etc.) d) Jantares oferecidos pelos laboratórios e) Nenhuma das respostas Conceito A Recife n. 2 p.9-39 2011 39 Comportamento ético do propagandista farmacêutico: uma pesquisa de 4 Entre os itens abaixo, o que representa um comportamento não ético do propagandista farmacêutico? a) Troca de patrocínios por prescrição médica b) Abordagem excessivamente persuasiva ao médico. c) Presença inoperante e frequente nas salas de espera d) Efetuar propaganda competitiva desleal entre produtos e) Todas as alternativas f) Nenhuma alternativa campo na área de pediatria da cidade do Recife. 3 Caso a resposta ao item anterior seja positiva, quais os artigos do deferido código em que mais se baseia sua análise ética. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE ADMINISTRAÇÃO SHEILA MIRIAN BARBOSA ISRAEL CULTURAS ORGANIZACIONAIS ABERTAS: A COMUNICAÇÃO INTERNA COMO SUSTENTÁCULO RECIFE 2009 SHEILA MIRIAN BARBOSA ISRAEL CULTURAS ORGANIZACIONAIS ABERTAS: A COMUNICAÇÃO INTERNA COMO SUSTENTÁCULO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Administração com Habilitação em Comércio Exterior, da Faculdade São Miguel, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Administração. ORIENTADORA EURIDICE MARIA GONÇALVES DO COUTO RECIFE 2011 SHEILA MIRIAN BARBOSA ISRAEL CULTURAS ORGANIZACIONAIS ABERTAS: A COMUNICAÇÃO INTERNA COMO SUSTENTÁCULO Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito A em __/__/____. Banca Examinadora ___________________________________________________ Examinador(a) ___________________________________________________ Examinador(a) Conceito A 40 Recife n. 2 p.40-78 2011 Primeiramente a Deus, por sua presença constante em minha vida; por me permitir chegar até aqui. A minha família, por todo apoio prestado; em especial à minha mãe. A professora orientadora Eurídice Couto, por seu apoio e dedicação no amadurecimento dos meus conhecimentos e dos conceitos que me levaram a execução e conclusão desta monografia, e a quem expresso minha admiração por seu profissionalismo, conduta e personalidade. A todos os professores, coordenadores, diretores e colaboradores da Faculdade São Miguel, aos grandes mestres Elaine Rocha, Maria Quinelato, Michelle Diniz, Hugo Moura, Valter Silva, e Roberto Silva. Em especial, a professora Eline Waked, pela dedicação no exercício da profissão, pelo espírito empreendedor, e pelo grande conhecimento compartilhado, objetivando que nos tornemos construtores e multiplicadores do conhecimento. Aos meus grandes amigos Giordano Giuliano e Gleidson Taciano, com quem tive a oportunidade de conviver durante estes quatro anos, período ao qual se edificou uma grande amizade. Compartilhamos juntos de experiências e momentos únicos, que estarão para todo sempre guardados em minha memória e em meu coração. RESUMO O objetivo geral deste trabalho é explicar como a comunicação interna sustenta as culturas abertas nas organizações, tendo como objetivos específicos: descrever comunicação interna, explicar a importância de se estabelecer uma comunicação interna efetiva, comentar sobre os tipos de culturas organizacionais existentes, reconhecer as idéias de diferentes autores sobre cultura aberta, identificar a relação existente entre cultura organizacional e comunicação interna, comentar a influência exercida pela comunicação interna nas organizações de cultura aberta e exemplificar organizações que se caracterizam por uma cultura aberta. A comunicação empresarial, atualmente, é vista por muitas organizações como ferramenta de gestão, como diferencial competitivo, uma vez que trata as informações geradas em benefício do desenvolvimento organizacional. Contudo informar não é comunicar; estabelecer um processo de comunicação efetivo e eficaz torna-se um requisito básico para o sucesso organizacional. A comunicação interna é voltada para o público interno organizacional, sendo trabalhada desde a alta cúpula ao menor nível hierárquico da organização. O público interno de uma organização torna-se parte respon- Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 41 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- lo AGRADECIMENTOS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso sável da construção de sua imagem, das relações externas e do crescimento organizacional, assim como da sua identidade, a cultura da organização. Um dos grandes desafios enfrentados hoje em dia pelas organizações de cultura aberta é adaptarem-se ao mercado, ao mundo globalizado, sem perder a sua essência. A comunicação é vista então como elemento chave para sustento a esse meio. Comunicação é cultura organizacional são dois elementos que se relacionam, sendo a comunicação interna de uma organização o reflexo de sua cultura e vice-versa. Palavras-Chave comunicação organizacional, comunicação interna, cultura organizacional, cultura aberta. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................42 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL...............................................................44 3 COMUNICAÇÃO INTERNA....................................................................45 3.1 Abordagens sobre comunicação interna.............................................45 3.2 Objetivos da comunicação interna.....................................................46 3.3 Comunicação interna x comunicação administrativa............................47 3.3.1 Processo de comunicação..............................................................48 3.3.2 Fluxos da comunicação na organização...........................................49 3.3.3 Redes formais e informais.............................................................50 3.3.4 Barreiras à comunicação...............................................................51 3.3.5 Mídias internas de comunicação.....................................................52 4 A IMPORTÂNCIA DE SE ESTABELECER UMA COMUNICAÇÃO INTERNA EFETIVA...................................................................................................53 5 CULTURA ORGANIZACIONAL...............................................................56 5.1 Cultura organizacional – origem e descrição.......................................56 5.2 Características da cultura organizacional............................................58 5.3 Tipos de culturas e perfis organizacionais..........................................59 5.3.1 Perfis organizacionais...................................................................59 5.3.2 Tipos de culturas organizacionais...................................................61 6 CULTURA ORGANIZACIONAL ABERTA..................................................64 7 COMUNICAÇÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL.....................................66 7.1 A relação existente entre comunicação x cultura organizacional............66 7.2 Comunicação interna como sustento à cultura aberta..........................68 7.3.1 Exemplos de empresas caracterizadas por uma cultura aberta...........71 8 C0NSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................72 REFERÊNCIAS......................................................................................74 INTRODUÇÃO Conceito A 42 Recife n. 2 p.40-78 2011 Recife n. 2 p.40-78 2011 43 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Conceito A lo Estando as organizações, hoje, inseridas num mundo altamente globalizado, defronte a Era da Informação e da Revolução Tecnológica, a comunicação torna-se elemento chave como sustento a esse meio. Na velocidade com que novas informações são geradas, com que novas tecnologias são implantadas, mudanças rápidas e adaptações são exigidas para manter a competitividade e a sobrevivência da organização neste atual mercado. Adaptar-se a esse meio sem perder a essência da organização tem sido um grande desafio aos administradores, principalmente para aqueles que atuam em organizações de cultura aberta, caracterizadas por serem flexíveis, inovadoras, criativas, estimuladora aos riscos, apoiadora e humanística. Diante desse cenário, de forma sistêmica, o gerenciamento adequado da comunicação organizacional passa a exercer um relevante papel, tornandose pré-requisito para o sucesso da organização. Muitas empresas têm utilizado a comunicação como ferramenta de gestão, estabelecendo e fortalecendo relacionamentos, transformando informações, gerando a partir delas novos conhecimentos. O poder está nas mãos daqueles que detém a informação, porém informar não é comunicar. As organizações devem se preocupar com a forma como estão se comunicando. O processo de comunicação envolve muito mais do que um emissor e um receptor. Para que uma informação, uma mensagem, possa ser de fato comunicada, ela precisa ser transmitida de forma eficaz, sendo codificada de maneira clara e precisa pelo emissor, fazendo-se assim com que seja decodificada corretamente pelo receptor, sem que haja ambigüidades ou distorções de interpretação, selecionando o melhor canal para transmití-la de acordo com a situação. O elemento básico para a eficácia do processo de comunicação é o feedback, meio pelo qual o receptor se comunica de volta com o emissor da mensagem, ocorrendo a troca de informações, melhorando assim o processo de comunicação. Contudo, o processo de comunicação deve ser iniciado no ambiente interno organizacional, direcionado ao seu público interno. Os colaboradores da organização devem se sentir parte dela, sendo informados e integrados com o que acontece com ela, participando e estando envolvidos com seus objetivos e resultados. A comunicação interna passa a ser assim, elemento imprescindível para o sucesso da organização, sendo o público interno parte responsável pela imagem, pelas relações externas e crescimento organizacional, assim como a identidade da organização, colaborando para homogeneidade de sua cultura, vista como um conjunto de hábitos e crenças estabelecidos por meio de normas, valores e atitudes. A pesquisa sobre este tema torna-se relevante mediante a compreensão de conceitos que envolvem a comunicação organizacional, vista hoje como por muitas organizações como ferramenta de gestão. Cultura organizacional e comunicação interna são dois elementos que se relacionam, sendo a comunicação interna de uma organização um reflexo de sua cultura organizacional, e vice-versa, consideradas ambas elementos fundamentais de qualquer organização. Estudá-los e analisá-los de forma teórica se torna essencial para com- Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso preender como se fundamentam na prática. O trabalho foi elaborado a partir de pesquisa de caráter explicativo, cuja coleta de dados foi realizada através de fontes bibliográficas, artigos e outras publicações, além de fontes virtuais; tendo os dados coletados recebido tratamento qualitativo. 2 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL É importante ressaltar a dimensão e relevância da comunicação empresarial no ambiente organizacional, de forma ampla, abordando o pensamento de alguns autores. De acordo com Robbins (2002), é impossível manter a existência de uma organização se não houver nela um fluxo de comunicação, sem que haja troca de significados entre aqueles que a compõem, considerando que é através da troca de significados de um membro da organização para o outro que as informações e ideias são transmitidas. E mais do que simplesmente transmitir uma informação, ela precisa ser compreendida. O conceito de comunicação segundo Simão (2005) é aplicado no ambiente organizacional como retransmissor dos valores e culturas organizacionais, zelando não somente pela imagem institucional da organização, como também sendo responsável pela produção e fluxo de informação, fazendo-se com que tais informações ajustem-se aos ambientes interno e externo da organização. Figueiredo (2009, p.2) contempla que: “Em um mundo globalizado e extremamente competitivo o gerenciamento adequado da comunicação organizacional torna-se um pré-requisito para o sucesso. [...]”. Ressalta Vieira (2004) a importância da gestão do conhecimento e da comunicação na organização, estando o mundo hoje, influenciado pela globalização, vivenciando a Era da Informação - aonde novas informações são geradas e multiplicadas em questão de segundos -, e da Revolução Tecnológica, - com a constante sofisticação e produção de novas tecnologias voltadas ao ambiente organizacional -, grandes impactos são gerados na sociedade de forma geral, exigindo das organizações rápidas mudanças e adaptações para manterem-se vivas e competitivas. Afirma Simão (2005) que, atualmente, a área de comunicação é vista como estratégica pelas organizações mais avançadas e sistematicamente, é a ferramenta que estabelece e fortalece o relacionamento dos que a compõe, sendo também considerada estimuladora de construção de conhecimento e produtora de relevantes informações. Diante dos impactos causados pela introdução de novas tecnologias, das mudanças de cultura e do comportamento organizacional, torna-se um grande desafio às organizações adaptarem-se a este a este cenário sem perder a sua essência. A gestão eficaz da comunicação é vista então como forma de sus- Conceito A 44 Recife n. 2 p.40-78 2011 A comunicação empresarial não é apenas um mero sistema de transmissão de informação. Preconiza Grando (2008) que a comunicação organizacional tem ganhado grande destaque e relevância no processo de gestão, tornando-se cada vez mais evidente a necessidade de tratar a comunicação como ferramenta estratégica no gerenciamento dos negócios e principalmente das pessoas. Diante deste cenário, a comunicação passa a exercer papel relevante para o sucesso organizacional, sendo utilizada não somente como ferramenta de apoio a gestão, mas sendo ela considerada por muitos, como o próprio sistema de gestão, embasado no pensamento de que a falta de gestão da comunicação empresarial, de forma integrada, pode gerar resultados inadequados nos planos estratégicos da organização. 3 COMUNICAÇÃO INTERNA 3.1 Abordagens sobre comunicação interna A comunicação nada mais é do que o processo de troca de informações entre duas ou mais pessoas. A necessidade de se comunicar, desde os tempos mais remotos é uma questão de sobrevivência. De acordo com Melo (2009) o conceito de comunicação interna surgiu diante a necessidade de tornar os colaboradores da organização integrados, influentes e informados, fazendo-os sentir aliados, responsáveis pelo sucesso da organização. A comunicação interna é atualmente considerada algo imprescindível às organizações, pois é por meio dela que se torna possível estabelecer canais em prol ao relacionamento transparente da alta administração com seu público interno. Curvello (1993), reconhece comunicação interna como sendo aquela voltada para o público interno organizacional, sendo trabalhada desde a alta cúpula ao menor nível hierárquico da organização, buscando informar e integrar os diversos segmentos do público interno aos objetivos e interesses da organização. Para (Bueno 2003, apud Rodrigues 2005 p.43): [...] entende-se por comunicação interna o esforço de comunicação desenvolvido por uma empresa, órgão ou entidade para estabelecer canais que possibilitem o relacionamento ágil e transparente, da direção com o público interno, e entre os próprios elementos que integram este público (sabe-se que existem vários públicos internos em uma organização). Diante deste pensamento; Rodrigues (2005) comtempla que um planejamento de comunicação interna bem elaborado, faz com que os colaboradores da Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 45 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- lo tento a este meio. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso organização sintam-se comprometidos com a postura da organização assim como com o aspecto da modernidade, das mudanças exigidas; mas do que informar, através de canais e ferramentas, a organização deve se preocupar e trabalhar com a emoção dos que a compõem. Os colaboradores devem ser vistos como aliados, como fortalecedores de relacionamentos, tanto internamente, como externamente. A comunicação interna é vista como um esforço de comunicação com o objetivo de desenvolver um relacionamento transparente com seu público interno, estreitando assim o relacionamento entre os colaboradores e a organização a qual pertencem. Afirma Lopes (2008), que a comunicação interna nos últimos anos obteve grande valorização pelas organizações; através dela é feita a fusão entre os colaboradores e a realidade vivida pela organização. Segundo Lopes (2008, p. 20) “[...] o funcionário precisa se sentir parte da empresa, tendo acesso às informações e postura interativa nos processos comunicacionais. [...] o funcionário bem informado faz o papel de embaixador da marca para a qual trabalha”. Não é novidade que o “calcanhar de Aquiles” de qualquer empresa, não importa o porte ou ramo de atividade, é a comunicação interna. O desafio comum a todas as organizações: manter seus colaboradores bem informados e motivados. (CARVALHO, 2005 p. 16) Contempla Nassar (2006), que nos dias atuais, a comunicação interna é utilizada como apoio ao desenvolvimento organizacional, vista como ferramenta estratégica de gestão. Recorda-se que historicamente sua origem deriva do desejo de manipulação de conflito capital-trabalho, uma forma de manobrar a força de produção, mas que atualmente, sua função principal é tornar clara a relação empregado – empregador. Diante de tais pensamentos a comunicação interna passa a ser assim, elemento imprescindível para o sucesso da organização, sendo o público interno parte responsável pela imagem, pelas relações externas e crescimento organizacional, vista como o calcanhar de Aquiles da organização, sendo considerada uma forma de sustento à cultura organizacional, e por consequência do apropriado clima organizacional. Um dos grandes desafios enfrentados hoje pelas organizações existentes: manter seus colaboradores bem informados, motivados, integrados e comprometidos com o desenvolvimento da organização, é através da comunicação interna que as organizações tem enfrentado e vencido este desafio. 3.2 Objetivos da comunicação interna Segundo Melo (2009), os principais objetivos da comunicação interna são: - Tornar influentes, informados e integrados todos os funcionários da empre- Conceito A 46 Recife n. 2 p.40-78 2011 Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 47 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- 3.3 Comunicação interna x comunicação administrativa É impossível falar-se de comunicação interna organizacional, sem falarse de comunicação administrativa. De acordo com Felix (2010), a comunicação administrativa refere-se à fluência dos processos e procedimentos organizacionais, incluindo as rotinas, normas e regulamentos da organização, que devem ser documentadas, como também devem ser de conhecimento de todo o corpo funcional da organização. É a comunicação administrativa que garante os aspectos documentais institucionalizados na empresa. Deve ser, depois de comunicada, exigida como ação constante dos colaboradores e departamentos, pois estabelece os passos, bem como deixa claro e acessível o andamento dos trabalhos internos. Afirma Felix (2010) que a comunicação interna e a comunicação administrativa interligam-se. Distinguindo-as; a comunicação interna corresponde a todo e qualquer canal informacional que acontece dentro da organização, e lo sa; - Possibilitar aos colaboradores de uma empresa o conhecimento das transformações ocorridas no ambiente de trabalho; - Tornar determinante a presença dos colaboradores de uma organização no andamento dos negócios; - Facilitar a comunicação empresarial, deixando-a clara e objetiva para o público interno; Conforme Matos (2007), a comunicação interna contribui para: - Incentivar a melhoria da produtividade funcional; - Gerar maior integração entre pessoas, equipes e áreas de trabalho da empresa; - Favorecer a melhoria do diferencial competitivo da empresa; - Estimular atitudes profissionais de melhoria contínua; - Informar os funcionários sobre políticas, metas e práticas da empresa; - Incentivar atitudes e comportamentos de cooperação; - Promover o espírito de lealdade para com a empresa; - Favorecer a geração de ideias e busca de soluções; - Melhorar o clima interno e relacionamentos interpessoais. Torquato (2002) apresenta objetivos da comunicação interna organizacional, que complementam os pensamentos dos autores citados anteriormente, como segue: - Criar elementos de sinergia intersetores, contribuindo para o desenvolvimento do conceito do trabalho cooperativo; - Aperfeiçoar processo e técnicas operativas, por meio de comunicações claras, transparentes e ágeis que permitam ao funcionário captar, absorver e internalizar os inputs (as entradas, mensagens) dos sistemas normativo, tecnológico e operativo; - Oferecer maior transparência aos objetivos e ás metas da organização, facilitando a apreensão das abordagens e promovendo maior engajamento de setores, áreas e departamentos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso a comunicação administrativa, conhecida também como comunicação operacional, representa aspecto documental, sendo trabalhada através de memorandos, ofícios, atas, etc. Para Marchiori (2008), a comunicação interna torna evidente todas as ações comunicacionais que dizem respeito ao sistema de comunicação de uma organização, assim sendo, visualizando a comunicação interna de forma global, não se pode deixar de lado o envolvimento da comunicação administrativa. De acordo com Melo (2009, p.3), “[...] a comunicação administrativa é considerada como fonte de comunicação social e humana [...].”. A comunicação interna organizacional segundo Kunsh (2008) engloba em seu universo a comunicação administrativa que compõe-se de processo comunicativo, fluxos informativos, redes informais e formais, barreiras e mídia internas, conforme descrevem-se. 3.3.1 Processo de comunicação O processo de comunicação se constitui de sete elementos: fonte de comunicação, codificação, mensagem, canal, decodificação, receptor e feedback. De acordo com Robbins (2002), a comunicação empresarial pode ser compreendida como um processo ou fluxo e para que a comunicação de fato se realize torna-se necessário haver um propósito, expresso em forma de mensagem a ser transmitida. Enfatizam Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999) que a comunicação é vista como um processo de remessa e recebimento de mensagens, com conteúdo e significados. O processo de comunicação somente é concluído quando a mensagem é recebida pelo seu receptor, porém, a decodificação da mensagem pode tornar complicado o processo por diversos fatores. Como exemplo menciona-se o relacionamento existente entre o emissor e o receptor, o ambiente social em que a mensagem é recebida e principalmente a forma como se é interpretada a mensagem pelo receptor, podendo ser muito diferente do significado expresso pelo emissor. Um processo eficaz de comunicação gera credibilidade entre os públicos da organização. Figueiredo (2009) salienta que dentro da organização, o papel do comunicador é trabalhar de forma efetiva a melhor maneira de transmitir uma mensagem ao seu público, tanto interno como externo, identificando o melhor canal de transmissão, evitando a existência de barreiras, gerando uma mensagem objetiva e clara, sem que haja filtragens ou bloqueios, fazendo com que seja interpretada por seus receptores de forma coerente. Segundo Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999), a melhor maneira de se evitar e eliminar a imprecisão da comunicação é através do feedback, meio pelo qual o receptor se comunica de volta com o emissor da mensagem, ocorrendo a troca de informações, melhorando assim o processo de comunicação. Para Conceito A 48 Recife n. 2 p.40-78 2011 No fluxo descendente, a direção da empresa é responsável por transmitir a informação aos níveis inferiores. A informação, então, é transmitida de forma imediata ao longo da hierarquia, traduzindo e disseminando a filosofia, as normas e as diretrizes da organização com o objetivo de assegurar o desempenho eficiente e eficaz tanto de departamentos quanto de colaboradores. (GRANDO, 2008 p. 228) - Fluxo ascendente: Para Curvello (1993), caracteriza-se como as informações e mensagens geradas partindo dos colaboradores com destino as gerências, ou superiores. Melo (2009), reconhece a comunicação ascendente como sendo aquela que ocorre de baixo para cima, do subordinado ao superior, através de memorandos, relatórios, reuniões grupais formais, ou até mesmo através de conversas informais com o superior, com o propósito de informativo, e como auxílio na tomada de decisão. Grando reforça este posicionamento sobre o fluxo ascendente: O fluxo ascendente, [...], parte das bases em direção aos níveis superiores, não necessariamente seguindo os planos hierárquicos e onde são veiculadas informações funcionais e operativas com o objetivo de manter o controle dos processos produtivos. (GRANDO, 2008 p.228) - Fluxo horizontal: Curvello (1993) e Melo (2009), afirmam que o fluxo horizontal é aquele que move a organização no seu cotidiano, ocorre entre colaboradores do mesmo nível hierárquico, entre setores, geralmente de forma informal. Para Grando (2008), é o tipo de comunicação que integra as áreas funcionais, o fluxo horizontal contribui para situar os colaboradores perante o trabalho dos demais, torna-se importante, pois influi no clima de diálogo entre os colabora- Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 49 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- 3.3.2 Fluxos da comunicação na organização No ambiente organizacional a comunicação manifesta-se por meio de quatro fluxos: descendente, ascendente, lateral e diagonal, conforme descrevem-se: - Fluxo descendente: Para Curvello (1993), caracterizam-se como as informações geradas pelas autoridades (presidência, diretores, gestores), destinada aos colaboradores, sendo transmitidas através de diversos canais, como por exemplo: boletins, jornais da empresa etc. Melo (2009), contempla que a comunicação descendente envolve relatórios administrativos, manuais de politicas e procedimentos, jornais internos, cartas e circulares, relatórios de desempenho, manuais de funcionários, etc. Assim também preconiza Grando: lo Figueiredo (2009, p. 2) “Informar não significa comunicar, a comunicação apenas acontece se houver troca, ou seja, se ocorrer feedback, [...]”. Para se obter um processo eficaz, a organização deve manter-se aberta ao feedback de seu público, elemento extremamente importante no processo de comunicação. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso dores, coopera para o êxito da informação ascendente e descendente. - Fluxo diagonal: Segundo Grando (2008), o fluxo diagonal surgiu devido às novas formas de realização de tarefas, através da formação de grupos multisetoriais que tinham como objetivo elaborar novos projetos e buscar soluções criativas para resolução de problemas organizacionais. Melo (2009, p.7) define o fluxo diagonal como: “[...] transmissão de mensagem de níveis organizacionais mais altos ou mais baixos em diferentes departamentos, demonstrando maior dinamismo no que se refere às decisões da comunicação.” 3.3.3 Redes formais e informais A forma de se comunicar no ambiente organizacional apresenta diferentes ordens, varia de acordo com os elementos, contexto e tipo de comunicação a ser adotado por cada organização. Contudo, ao analisar a comunicação organizacional tendo como foco as redes internas de comunicação, vale ressaltar a existência de dois grandes sistemas: a rede formal de comunicação e a rede informal. - Rede formal: O sistema formal de comunicação é formado e administrado pela própria organização, garantindo seu desenvolvimento e sobrevivência. Segundo Grando (2008), constitui-se pelo organograma da empresa, e é estruturada a partir da definição dos papéis exercidos, assim como as funções desempenhadas pelos grupos formais existentes, atendendo a estruturação da organização. De acordo com Curvello (1993), as redes formais de comunicação interna referem-se aquelas que são autorizadas pela organização, atendendo seu processo burocrático de circulação das mensagens, como por exemplo: um boletim informativo. Para (Brin, 2001 apud Melo, 2009), os canais formais são considerados os caminhos oficiais pelos quais a mensagem será transcorrida dentro e fora da empresa, internamente segue-se como fonte de circulação o organograma, que indica os canais aos quais a mensagem deverá seguir. Além de serem caminhos de comunicação, os canais também são meios de enviar mensagens, incluindo boletins, jornais, reuniões, memorando escritos, correio eletrônico, quadro de aviso, entre outros. - Rede informal: a rede informal de comunicação, é aquela que manifesta de forma espontânea as ideias e visão dos colaboradores em relação a organização, de forma coletiva, designada como a famosa rádio peão. Segundo Torquato (1986), ocorre com a troca de informações de grupos em grupos, podendo ser verídicas ou não. Um grande problema apontado na rede informal de comunicação é a distorção das informações, que acontece no processo da troca da informação, onde gera-se a informação inicial e a mesma é repassada de um a um, ou entre grupos, no final ocorre-se geralmente um processo de deterioração, a informação final dificilmente é a mesma transmitida no início, sendo deteriorada ou distorcida. Embora as instituições sejam caracterizadas por processos formais que lhe dão or- Conceito A 50 Recife n. 2 p.40-78 2011 3.3.4 Barreiras à comunicação De acordo com Robbins (2002) no processo de comunicação existem várias barreiras interpessoais e intrapessoais, que ajudam a entender por que uma mensagem que é decodificada pelo receptor acaba sendo diferente do que o emissor pretendia comunicar, como segue: - Filtragem: ocorre quando informações contidas na mensagem são manipuladas ou não apresentadas por inteiro ao receptor final. - Recepção seletiva: o receptor durante o processo de comunicação vê e escuta seletivamente a mensagem transmitida, baseando-se em suas próprias necessidades, motivações, experiências etc. - Sobrecarga de informações: quando as informações com que se trabalha excedem a capacidade de processamento, o resultado é a sobrecarga de informação. Quando uma pessoa tem mais informações do que consegue organizar e utilizar, a tendência é selecionar, ignorar ou esquecer informações, podendo resultar em perda de informações relevantes. - Defesa: quando uma pessoa se sente ameaçada diante uma mensagem, a tendência é que ela reaja de forma defensiva, reduzindo a capacidade de entendimento da mensagem. A resposta, feedback, a essa mensagem poderá ser contrária ao que deveria ser. - Linguagem: as palavras emitidas por uma pessoa podem ter significados diferentes para os seus receptores, pois muitas vezes, o significado das palavras não estão nelas, e sim em nós. A idade, a educação, o histórico cultural são as três variáveis que influenciam a linguagem usada por uma pessoa. - Medo da comunicação: De 5% a 20% das pessoas tem medo de se comunicar, sofrem de um debilitante medo de comunicação. O medo de uma comunicação oral pode tornar extremamente difícil uma conversa com outra pessoa. Nas organizações, existem inúmeras pessoas com sérias limitações em sua comunicação oral, que tendem a racionalizar a questão dizendo a si mesmas que a comunicação não é tão importante para o exercício eficaz de suas funções. Muitas vezes a comunicação se estabelece mal devido a falta de habilidade do emissor e/o receptor, formando-se verdadeiras barreiras à comunicação eficaz. Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 51 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Kuazaqui, Lisboa e Gamboa (2005), afirmam que a rede informal não deve ser desprezada pelo bom administrador, pois nenhuma organização fica imune a sua ação, este tipo de comunicação é visto como o sistema nervoso da organização. O processo de difusão das informações geradas pela rede informal é com certeza mais rápido do que a da rede formal. Contudo esse tipo de rede e informações geradas podem ser consideradas como uma vantagem a ser explorada, ou como um problema a ser contornado. lo ganização e funcionalidade, padronizados por meio de poder hierárquico, normas e regras e, por serem constituídas de relações sociais, apresentam outros processos não requeridos e nem controlados pela administração. Esses processos caracterizam o sistema de comunicação denominado informal que tem como características ser variável, dinâmico e permear as linhas orgânicas, alterando rapidamente sua direção. (GRANDO, 2008 p. 230) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Para Melo (2009), fatores como: motivação e interesses baixos, reações emocionais e desconfianças, diferenças de linguagem podem limitar ou distorcer as informações, como também colaboradores com conhecimentos e experiências diferentes, podem ser consideradas barreiras da comunicação. 3.3.5 Mídias internas de comunicação A mídia interna na organização consiste no uso de jornais, revistas, murais, rádio e TV corporativos, Intranet (rede de informações virtuais localizadas em portais corporativos), entre outras produções midiáticas, que busquem informar, interagir e integrar os colaboradores da organização. De acordo com Benedito (2010) foi partir de 1990, que a mídia interna ganhou força e valor, passando a ser considerada importante e estratégica ferramenta de comunicação interna e, desde então, as empresas públicas e privadas buscam implantá-la para criar a interatividade entre os colaboradores, além de gerar informação, conhecimento, retratar a cultura organizacional e imagem institucional. Contudo, vale ressaltar que esse instrumento de informação e interação deve ser produzido de forma profissional, com o intuito de promover uma comunicação de valor para os envolvidos. Caso contrário, a transmissão indevida da informação pode comprometer a essência da comunicação. Um bom exemplo de aplicação de mídia interna, disponível em Universidade Positivo (2011), é observado no trabalho desenvolvido pela própria universidade - UP, localizada em Curitiba, que em parceria com a Bosch, tem desenvolvido um trabalho de mídia interna dentro da organização, a parceria funciona dentro do ambiente dos processos de comunicação interna da Bosch, tendo como objetivo desenvolver, aplicar e aperfeiçoar as mídias internas de comunicação. Esta iniciativa é impulsionada por um projeto de cunho didático e inovador, desenvolvendo a produção de textos dos veículos internos; a publicidade, na criação de campanhas internas e slogans, como também o trabalho de design na criação das artes para os veículos e campanhas internas. Os veículos de mídias internas trabalhadas na Bosch são: - “Nossa TV”: programa de TV quinzenal transmitido aos colaboradores no refeitório da empresa; - “Cara-a-Cara”: mídias expostas nas 240 portas de banheiro da empresa; - “O Colaborador”: jornal mural exposto nos 6 prédios fabris da empresa; - Bosch News: mídia digital que aparece toda às vezes que o colaborador faz o login no computador; - “Canal Direto Online”: são quatro “totens” espalhados pela empresa que trazem notícias, vídeos e fotos e funcionam com o simples toque do colaborador na tela; - “Bosch Informa”: revista trimestral que traz as notícias de todas as unidades Conceito A 52 Recife n. 2 p.40-78 2011 O sucesso de uma organização está em sua essência interna, nas habilidades de comunicação que ela dispõe, sendo tais habilidades projetadas ao ambiente externo da organização fortalecendo relacionamentos. Segundo Marchiori (2005), a valorização da comunicação interna deve ser trabalhada de forma estratégica, pois é através da comunicação que a organização recebe, transmiti, canaliza informações e constrói conhecimento, tomando assim decisões mais acertadas. Conforme Matos (2007), uma das funções estratégica da comunicação é favorecer o aperfeiçoamento das relações humanas no ambiente interno da organização. Acredita-se que os bons resultados de uma organização, assim como o eficaz desempenho da mesma dependem do grau de entusiasmo e motivação de seus colaboradores. Segundo (Chehn, 1990 apud Vieira, 2004, p. 53) “Quem faz acontecer as coisas são as pessoas – não planos – e apenas planejar não basta, pois é necessário fazer com que as pessoas executem sua parte no planejamento.” O envolvimento dos colaboradores em todo o processo organizacional é algo imprescindível ao bom andamento da organização. O processo de comunicação organizacional necessita ser integrado, envolvendo todos os departamentos, através da comunicação interna a organização é capaz de transformar seus colaboradores em aliados, tornando-os realmente comprometidos com os resultados a serem alcançados e assim manter um desempenho que garanta a sobrevivência e sucesso da organização e das pessoas a que a ela compõem. (VIEIRA, 2004) A comunicação interna não pode ser algo isolado do composto da comunicação integrada e do conjunto das demais atividades da organização. Sua eficácia dependerá de um trabalho de equipe entre as áreas de comunicação e recursos humanos, a diretoria e todos os empregados envolvidos. (KUNSH, 1997 apud VIEIRA, 2004 p. 54) De acordo com Melo (2009), para que se haja uma comunicação interna eficaz e efetiva, torna-se necessário conhecer em profundidade o público interno da organização, estabelecendo uma relação de confiança, transmitindo suas expectativas, ansiedades e interesses entre a organização e o público interno. A comunicação efetiva só se estabelece em clima de verdade e autenticidade. Caso contrário, só haverá jogos de aparência, desperdício de tempo e, principalmente uma Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 53 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- 4 A IMPORTÂNCIA DE SE ESTABELECER UMA COMUNICAÇÃO INTERNA EFETIVA lo brasileiras da Bosch; e, - “Bosch Zünder”: jornal trimestral que traz as notícias de todas as unidades mundiais da Bosch. (UNIVERSIDADE POSITIVO, 2011). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso “anti-comunicação” no que é essencial/necessário. Porém não basta assegurar que a comunicação ocorra. É preciso fazer com que o conteúdo seja efetivamente aprendido para que as pessoas estejam em condições de usar o que é informado. (RUGGIERO, 2002 apud MELO, 2009 p.2) O envolvimento da alta administração, juntamente ao demais colaboradores da organização é que mantém ativa e efetiva suas operações. Marchiori (2005), enfatiza que a comunicação clara, verdadeira e direta é vista como fator de sucesso em meio ao ambiente organizacional, evidenciando objetivos e rumos, demonstrando o progresso e dificuldades enfrentadas, tal postura faz com que os colaboradores se tornem mais participativos, comprometidos. Tudo isto é possível, desde que a alta administração tenha a visão e a vontade de transformar o relacionamento de seus colaboradores, via comunicação interna, sendo ela carregada de sentimentos, reconhecimento, valorização e criação de vínculos. Segundo Rodrigues (2005), nos dias atuais a comunicação interna já possui seu espaço conquistado junto a alta cúpula da organização, e tem sido extremamente valorizada em função da produtividade e da qualidade, tal afirmação permite perceber quão importante é a comunicação interna, vista como elemento de integração entre os diversos níveis hierárquicos da organização. [...] a comunicação interna é voltada para o público interno das organizações, sejam gerentes, diretorias e demais funcionários, com o objetivo não só de informar, mas, principalmente, de integrar os diversos segmentos que compõem este publico aos objetivos da empresa e da alta administração. (CURVELLO, 2002 apud RODRIGUES, 2005 p. 58) Marchori (2008), enfatiza que todo profissional da área de comunicação deve se preocupar o processo de comunicação interna, há dois fatores fundamentais para que se desenvolva dentro da organização um processo de comunicação interna efetivo, são eles: diálogo organizacional e valorização das relações interpessoais entre líderes e liderados. A abertura ao diálogo organizacional de acordo com (Ellinor e Gerard, 1998 apud Marchiori, 2008), possibilita o melhor entendimento entre aqueles que compõem a organização, fazendo com que os colaboradores se tornem mais comprometidos, o diálogo portanto deve ser franco, de acordo com a realidade. O diálogo consistente torna a organização mais eficaz na coleta de informações, na sua compreensão, como também na transformação e consequente produção de informações. A falta de diálogo, de abertura à conversação e a troca de idéias, opiniões, impressões e sentimentos, são, sem dúvida alguma, o grande problema que prejudica o funciona- Conceito A 54 Recife n. 2 p.40-78 2011 Afirma ainda Matos (2008) que para se ter uma comunicação interna eficiente não são necessários muitos recursos financeiros, basta-se aderir a cultura do diálogo, do ouvir um ao outro, da comunicação compartilhada, reforça que a eficiência da comunicação interna está relacionada diretamente com o comprometimento das lideranças da organização, estando estas efetivamente abertas ao diálogo, a negociação e troca de idéias. De acordo com o Guia Exame – (Gomes,1999 apud Marchiori, 2008), a comunicação se torna excelente e efetiva, quando - É transparente; - Quando se torna uma via de mão dupla, que funciona com a mesma eficiência de baixo para cima como de cima para baixo; - Quando há a existência de mecanismos formais que facilitam a abertura da comunicação interna; - Quando preocupa-se em informar o funcionário sobre tudo que pode afetar sua vida; - Quando informa os funcionários sobre fatos que podem mudar a empresa antes que os jornais o façam; - Quando forma “embaixadores” da organização, que são verdadeiros multiplicadores dos valores, atividades e produtos da empresa. Em complemento às idéias de (Gomes, 1999 apud Marchiori, 2008), Brum (2005), apresenta algumas outras características para que se haja uma comunicação interna efetiva, afirmando que deve-se: - Existir no ambiente interno organizacional um processo comunicacional educativo; - Buscar o pleno entendimento do público interno em relação ao negócio da empresa e seu posicionamento estratégico; - Priorizar a informação como principal estratégia de aproximação empresa/ empregado; Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 55 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Diante tal pensamento pode-se dizer que em organizações que aderem uma cultura de diálogo fechada, aonde os colaboradores não tem a oportunidade de expressar seus pensamentos, reflexões e entendimento perante a organização, há maior possibilidade de distorções de informações, gerando retrabalhos, alto custo e desperdício de tempo. Matos (2008) salienta que dialogar significa ouvir o que o outro tem a dizer, dando importância ao que esta sendo dito, essa é uma maneira de fortalecer as bases da dimensão da ética no relacionamento interpessoal, a diversidade dos pensamentos expostos pode enriquecer a organização no que se diz respeito à criatividade e inovação. lo mento de organizações. A comunicação corporativa é um processo diretamente ligado á cultura da empresa, ou seja, aos valores e ao comportamento e atitudes das suas lideranças e ás crenças dos seus colaboradores. Não adianta a empresa importar modelos de controle de qualidade e sistemas de tecnologia da informação se internamente não existe um ambiente de abertura para conversação e a troca de opiniões. [...] (MATOS, 2007 p. 83). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso - Eleger um líder como o principal canal de comunicação interna da empresa, instrumentalizando-o para que possa exercer plenamente esse papel; - Veicular um alto nível de informação através de canais e instrumentos de comunicação interna, reforçando, documentando e oficializando a informação repassada pelo líder; - Sistematizar os canais e instrumentos de comunicação interna, integrando-os através de uma assinatura que identifique o processo; - Trabalhar a integração de pessoas, áreas e processos através de ações também sistemáticas; - Gerar conteúdo que dissemine e reforce internamente os valores da empresa; - Distribuir, em cada canal de comunicação interna, conteúdos : institucional, de recursos humanos, de mercado e produto, sobre programa e projetos internos e sobre o dia-a-dia da empresa ou unidade, e; - Avaliar sistematicamente a comunicação interna a partir do levantamento dos sentimentos e percepções do público interno em relação ao processo implementado. 5 CULTURA ORGANIZACIONAL 5.1 Cultura organizacional – origem e descrição Relatam (Silva e Zanelli, 2004 apud Lima, 2007) que um dos principais motivos que deram início aos estudos sobre cultura organizacional, foi buscar explicações, de forma comparativa, para o aumento de desempenho dos produtos japoneses em relação aos norte americanos, analisando o estilo de vida do povo japonês, que caracteriza-se em. Esta análise cultural teve início na década de 60, quando o desempenho norte americano apresentava-se consideravelmente inferior ao então concorrente japonês. De acordo com os estudos realizados, o sucesso alcançado pelos japoneses ocorreu em função da cultura de seu povo, onde foi diagnosticado que a cultura japonesa é mais adequada ao desempenho empresarial do que o norte americano, uma das características observada no povo japonês e a existência de um forte sentimento comum de cooperação. O estudo voltado à cultura organizacional teve como pioneiro Edgar Schein, conforme Castigla (2005). Foi a partir de sua definição sobre o assunto que muitos outros autores desenvolveram seus estudos e conceitos. O pioneiro define cultura organizacional como: Um padrão de suposições básicas – inventadas, descobertas ou desenvolvidas para lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna – que funcionam com eficácia suficiente para serem consideradas válidas e, em seguida, ensinadas aos novos membros como a Conceito A 56 Recife n. 2 p.40-78 2011 A cultura organizacional ou cultura corporativa é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas, compartilhado por todos os membros da organização. Ela se refere ao sistema de significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma organização. A essência da cultura de uma empresa é expressa pela maneira com que ela faz seus negócios, trata Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 57 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Segundo Daft (1999, p. 52), “Cultura pode ser definida resumidamente como um conjunto de valores, crenças, compreensões e normas compartilhados pelos membros da organização. [...]”. Chiavenato (2010) por sua vez, expõe alguns conceitos de cultura organizacional, conforme se seguem: - Cultura organizacional representa as normas informais e não escritas que orientam o comportamento dos membros de uma organização no dia-a-dia e que direcionam suas ações para a realização dos objetivos organizacionais; - Cultura organizacional é um conjunto de hábitos e crenças estabelecidos por meio de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhados por todos os membros da organização. A cultura espelha a mentalidade que predomina em uma organização; - Cultura organizacional é um padrão de aspectos básicos compartilhados – inventados, descobertos ou desenvolvido por um determinado grupo que aprende a enfrentar seus problemas de adaptação externa e integração interna – e que funciona bem a ponto de ser considerado válido e desejável para ser transmitido aos novos membros como a maneira correta de perceber, pensar, e sentir em relação àqueles problemas; - Cultura organizacional é a maneira costumeira ou tradicional de pensar e fazer as coisas, que são compartilhadas em grande extensão por todos os membros da organização e que os novos membros devem aprender a aceitar para serem aceitos no serviço da organização. Mesmo que haja divergências em aspectos referentes às definições de cultura organizacional, cada empresa apresenta sua singularidade, isto é, sua própria cultura, fundada em um conjunto de valores, regras e crenças. Conforme Castigla (2005), a cultura organizacional de uma empresa pode ser retratada de forma explicita através de sua missão, objetivos e valores, e de forma implícita observando-se o modo como se vestem os colaboradores, a forma de a empresa comunicar-se, ou até mesmo no layout dos escritórios. Toda e qualquer organização, independente de seu porte, segmento atuante, e dos produtos ou serviços oferecidos ao mercado, possuem sua cultura organizacional instituída, formalmente ou não. Mendes (2010), afirma que com base na cultura organizacional a empresa cria sua personalidade, podendo ser definida como rígida ou flexível, apoiadora ou hostil, inovadora ou conservadora, de cultura forte ou fraca. A identidade da empresa reflete-se em sua cultura organizacional, que é vista como um conjunto de valores, compartilhados por seus colaboradores em todos os níveis, diferenciando-a assim das demais. lo maneira correta de perceber, pensar e sentir esses problemas (SCHEIN, 1985, apud CASTIGLA, 2005 p.3). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso seus clientes e funcionários, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou escritórios e o grau de lealdade expresso por seus funcionários a respeito da empresa. A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da organização e reflete a mentalidade que predomina na organização (CHIAVENATO, 2004, apud LEITE, 2006 p. 43). Segundo Chiavenato (2010, p.127): “A cultura organizacional não é algo palpável que se possa tocar. Ela não é percebida ou observada em si mesma, mas por meio dos seus efeitos e consequências [...]”. Para conhecer a fundo uma organização, o primeiro passo a ser dado é conhecer sua cultura. Uma pessoa passa a participar intimamente da cultura organizacional de uma empresa quando ela passa de fato a fazer parte de uma organização, trabalhando nela, atuando em suas atividades, e desenvolvendo sua carreira. O modo como as pessoas agem e interagem no ambiente organizacional, as atitudes tomadas, a interação entre os membros fazem parte da cultura organizacional (CHIAVENATO, 2010). 5.2 Características da cultura organizacional Robbins (2002), diante da plena concordância de que cultura organizacional se refere a um sistema de valores, compartilhados pelos membros, diferindo uma da outra, afirma que a cultura organizacional, em última análise, consiste em um conjunto de características que por sua vez é valorizada pela organização, cita, por sua vez, sete características consideradas características-chaves, que capturam e evidenciam a essência da cultura de uma organização, conforme seguem: – Inovação e assunção de riscos: consiste no grau em que os colaboradores são estimulados a serem inovadores e assumirem riscos; – Atenção aos detalhes: baseia-se no grau em que se espera que os colaboradores demonstrem precisão, análise e atenção aos detalhes; – Orientação para os resultados: envolve o grau em que os dirigentes focam os resultados mais do que as técnicas e os processos empregados para o alcance deles; – Orientação para as pessoas: consiste no grau em que as decisões dos dirigentes levam em consideração o efeito dos resultados sobre as pessoas dentro da organização; – Orientação para a equipe: foca o grau em que as atividades de trabalho são organizadas mais em termos de equipe do que de indivíduos; – Agressividade: o grau em que as pessoas são competitivas e agressivas, em vez de dóceis e acomodadas; – Estabilidade: o grau em que as atividades da organização enfatizam a manutenção do status quo em contraste ao crescimento. Segundo Robbins (2002), a inovação e a atenção aos detalhes são as características-chave da cultura organizacional da Gillete Company, o desenvolvimento de novas tecnologias para produtos, envolve milhares de testes de barbear e modificações nos projetos, como detalhe, a equipe de cientistas responsáveis pelas pesquisas utiliza microscópio atômico para examinar as Conceito A 58 Recife n. 2 p.40-78 2011 Assim como cada organização detém de sua própria cultura, não havendo padrões específicos que a formule, a administração nunca é igual em todas as organizações, podendo assumir diferentes feições dependentes das condições internas e externas da organização. Perfis e tipos de culturas são abordados por diversos autores, a seguir descrevem-se alguns conceitos sobre os termos. 5.3.1 Perfis organizacionais Chiavenato (2010), reconhece, em virtude de pesquisas realizadas, quatro perfis organizacionais: autoritário coercitivo, autoritário benevolente, consultivo e participativo, tendo como base variáveis como processo decisório, sistema de comunicações, relacionamento interpessoal e sistema de recompensas e punições. Seguem descrições sobre cada um dos perfis. - Autoritário Coercitivo: caracteriza-se por um sistema administrativo au- Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 59 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- 5.3 Tipos de culturas e perfis organizacionais lo lâminas de barbear, e vídeos de alta velocidade para registrar o corte a cada fio. Chiavenato (2010) expõe seis características, diante da idéia de que a cultura organizacional reflete em si a maneira como cada organização lida com os seus ambientes, salientando que é uma complexa mistura de preposições, crenças, comportamentos, histórias, mitos, metáforas entre outras idéias, que juntas representam o modo particular da forma de trabalho de cada organização, seguem: – Regularidade nos comportamentos observados: as interações entre os participantes se caracterizam por uma linguagem comum, terminologias próprias e rituais relacionados com condutas e deferências; – Normas: consistem nos padrões de comportamento e que incluem guias sobre a maneira de fazer as coisas; – Valores dominantes: são os principais valores que a organização advoga e espera que seus participantes compartilhem, como qualidade do produto, baixo absenteísmo, alta eficiência; – Filosofia: são politicas que afirma as crenças sobre como os empregados ou clientes devem ser tratados; – Regras: são guias estabelecidos e relacionados com o comportamento na organização. Os novos membros devem aprender as regras para serem aceitos no grupo; – Clima organizacional: é o sentimento transmitido pelo local físico, como os participantes interagem, como as pessoas tratam os clientes, fornecedores etc. Cada uma dessas características apresentadas pode ser analisada em vários graus organizacional, podendo haver controvérsias, para melhor compreende-las vale-se analisar os tipos de culturas existentes, como se vê a seguir. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso tocrático, forte, coercitivo e altamente arbitrário, controlando duramente tudo o que ocorre dentro da organização, considera-se o sistema duro e fechado. Processo decisório: totalmente centralizado na cúpula da organização, aonde todas as ocorrências imprevistas e não rotineiras devem ser levadas à cúpula para resolução, e todos os eventos devem ser resolvidos por ela; Sistema de comunicações: precário, a comunicação ocorre verticalmente, de cima para baixo, carregando exclusivamente ordens. As pessoas não são solicitadas a gerar informações; Relacionamento interpessoal: é considerado prejudicial ao bom trabalho, a cúpula vê com extrema desconfiança as conversas informais entre as pessoas e coibindo-as, é inexistente a organização informal, e para evita-las, os cargos são desenhados de forma a confinar e isolar pessoas e evitar relacionamentos; Sistema de recompensas e punições: há grande ênfase nas punições e medidas disciplinares, gerando assim um ambiente desconfortável, de temor e desconfiança. Os colaboradores devem seguir a risca as regras e regulamentos internos sob pena de sofrerem punições. - Autoritário Benevolente: sistema administrativo autoritário constituindo-se de uma variação atenuada do sistema autoritário coercitivo, sendo mais condescendente e menos rígido. Processo decisório: centralizado na cúpula, mas permite-se delegação quanto a decisões de pequeno porte e de caráter rotineiro e repetitivo, sujeitas a aprovação posterior, prevalecendo o aspecto centralizador; Sistema de comunicações: relativamente precário, prevalecendo comunicações verticais e descendentes, embora a cúpula se oriente em comunicações ascendentes vindas da base; Relacionamento interpessoal: tolera-se que os colaboradores se relacionem entre si em um clima de condescendência relativa, mas a interação humana é ainda pequena e a organização informal incipiente; Sistema de recompensas e punições: com menor arbitrariedade, ainda há ênfase nas punições e medidas disciplinares. Há a existência de algumas recompensas materiais e financeiras. - Consultivo: caracteriza-se por pender mais para o lado participativo do que para o lado autocrático e impositivo, representa um certo abrandamento da arbitrariedade organizacional. Processo decisório: é do tipo consultivo e participativo, aonde para formular as politicas e diretrizes da organização, a opinião dos colaboradores é levada em conta. Certas decisões específicas são delegadas e posteriormente submetidas à aprovação; Sistema de comunicações: detém de comunicações verticais descendentes e ascendentes, assim como comunicações laterais entre os pares. Há a existência de sistemas internos de comunicação, servindo de apoio ao fluxo de comu- Conceito A 60 Recife n. 2 p.40-78 2011 Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 61 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- 5.3.2 Tipos de culturas organizacionais Há inúmeros tipos de cultura organizacionais existentes, com base nas idéias de alguns autores serão abordados alguns conceitos, sem deixar de lado o conceito inicial de que a cultura organizacional é composta de um conjunto de valores, compartilhados por seus colaboradores em todos os níveis, diferenciando-se cada organização uma da outra. Segundo Chiavenato (2010), destacam-se entre os tipos de culturas existentes as culturas organizacionais adaptativas e não adaptativas. - Adaptativas: caracterizam-se por serem maleáveis e flexíveis, estando diante da necessidade de mudança e da adaptação, garantindo a atualização e modernidade diante da globalização, da Era da Informação e da Revolução Tecnológica, contudo a estabilidade torna-se uma necessidade, garantido a identidade da organização. Inovação e criatividade são elementos que caracterizam este tipo de cultura. Dentre as definições de perfis culturais expostas por Chiavenato (2010) enquadra-se ao perfil participativo. - Não adaptativas: caracterizam-se por serem rígidas, conservadoras e tradicionalistas, predominando a manutenção de idéias, valores, costumes e tradições que permanecem enraizados, são geralmente relutantes a mudanças ao longo do tempo. O grande perigo enfrentado por essas organizações é que o mundo atual vive em constante mudança, e essas organizações se mantém inalteradas, como se nada no ambiente externo mudasse. Daft (1999) expõe quatro tipos de culturas organizacionais, de uma forma ilustrativa as compara com um time de beisebol, um clube, uma academia lo nicação; Relacionamento interpessoal: há elevada confiança nos colaboradores, embora não completa e definitiva. Criam-se condições favoráveis a uma organização informal sadia e positiva; Sistema de punições e recompensas: há grande ênfase nas recompensas materiais e simbólicas, embora haja eventualmente a ocorrência de punições e castigos. - Participativo: é um sistema administrativo democrático e aberto. Processo decisório: as decisões são totalmente delegadas para a base. Apenas em situações emergenciais a cúpula assume decisivamente, mas sujeitando-se à ratificação explicita dos grupos envolvidos; Sistema de comunicações: as comunicações fluem em todos os sentidos e a organização faz investimentos em sistemas de informação, pois são considerados básicos para sua flexibilidade e eficiência; Relacionamento interpessoal: os trabalhos são realizados em equipes em grupos espontâneos, incentivando o relacionamento entre os colaboradores e a confiança mútua entre eles; Sistema de recompensas e punições: há forte ênfase no sistema de recompensas, notadamente as simbólicas e sociais, embora não se omite as recompensas salariais e materiais. Há raros casos de punições, que por sua vez são decididas e definidas pelas equipes envolvidas. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso e a uma fortaleza, salientando que cada cultura tem em si um aspecto diferente quanto a seu potencial. - A cultura do time de futebol: caracteriza-se por haver alto risco de tomada de decisão e exigido rápido feedback, os tomadores de decisão rapidamente percebem se a decisão tomada estava condizente com a situação ou não. Há a valorização e premiação de talentos, inovação e desempenho apresentados. Colaboradores com bom desempenho são reconhecidos como free agents, colaboradores com desempenho mediano são rapidamente retirados da equipe; - A cultura do tipo clube: caracteriza-se pela lealdade, confiança e comprometimento do grupo. Envolve um ambiente estável e seguro valorizando a idade e a experiência dos que a compõe. Há a politica da promoção interna, aonde cada colaborador tem de provar sua competência a cada nível alcançado, porém tendem a ser generalistas e devem possuir conhecimento e experiências em várias funções. Muitas qualidades dessa cultura contribuem para permitir que organização seja flexível, podendo também contribuir para a percepção de uma organização fechada, relutante a mudanças; - A cultura do tipo academia: ao contrário da cultura do tipo clube, os colaboradores dificilmente são promovidos, cada colaborador aprimora-se e desenvolvem suas especialidades dentro de sua própria área, trabalho e qualificações são as bases para premiações e recompensas. Apesar de a especialização propiciar segurança, este tipo de cultura pode limitar parte do desenvolvimento pessoal e a colaboração Inter departamento; - A cultura do tipo fortaleza: além de lutar pela sua sobrevivência, caracteriza-se por oferecer pouca segurança de emprego, como também pouca oportunidade de crescimento profissional, enquanto as organizações estão se enxugando e reestruturando para se adaptarem ás mudanças ocorrentes na organização. (Goffee e Jones, 1998 citado por Robbins, 2002) visualizam a cultura organizacional sobre distintas visões, definindo quatro tipos de cultura organizacional, com base em duas dimensões: sociabilidade e solidariedade. A sociabilidade é vista como consistente, com elevada orientação para as pessoas, como também para as equipes, alta orientação para os processos organizacionais, em vez de resultados. A solidariedade é consistente com elevada atenção aos detalhes e elevada agressividade. Os quatro tipos de organizações são classificados como cultura de trabalho em rede, cultura mercenária, cultura fragmentada e cultura de comunidade, conforme descrevem-se: - Cultura de trabalho em rede: (elevada sociabilidade e baixa solidariedade). Os colaboradores são vistos como membros da família e amigos, se conhecem bem e gostam e respeitam uma as outras, estão sempre dispostas a ajudar e trocam informações de forma aberta. O foco na amizade é visto como um aspecto negativo, podendo haver tolerância ao baixo rendimento profissional; - Cultura mercenária: (baixa sociabilidade e elevada solidariedade). Ferozmente focada em seus objetivos, as pessoas são intensas e completamente determinadas na conquista de suas metas, são fixadas em realizar as coisas rapidamente e possuem um poderoso senso de propósito, sobre aspecto nega- Conceito A 62 Recife n. 2 p.40-78 2011 A cultura organizacional ou cultura corporativa é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas, compartilhado por todos os Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 63 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Outros quatro tipos de cultura organizacional são descritos por (Cameron e Quinn, 1999 citados por Domenico, Latorre e Teixeira, 2006), identificando os elementos mais relevantes dos pressupostos básicos, estilos e valores dominantes de uma organização: - Hierarquia: tipo de cultura com foco interno à organização, com ambiente de trabalho formal e estruturado, com diversos níveis hierárquicos, preocupada em longo prazo com a estabilidade, previsibilidade e eficiência. Os procedimentos, regras, tarefas e funções em geral são relativamente estáveis, integrados. As lideranças têm o papel de coordenação, monitoramento e organização; - Clã: este tipo de cultura apresenta características de maior flexibilidade. O foco, assim como na hierarquia, é interno. Neste tipo de cultura é pressuposto que a melhor forma de obterem-se resultados é por meio de equipes de trabalho. Os clientes são vistos como parceiros, a organização preocupa-se com o desenvolvimento de um ambiente de trabalho humano, e a tarefa da liderança é a facilitação à participação, comprometimento e lealdade; - Mercado: organizações que apresentam este tipo de cultura possuem orientação externa, e estão preocupadas com o mercado competitivo. O foco encontra-se nos resultados e na produtividade. De acordo com este perfil, o ambiente externo não é visto como benigno, mas hostil e com consumidores exigentes. As lideranças encontram-se voltadas para a consecução de objetivos, traduzidos em lucros; - Adhocracia: tipo de cultura onde há flexibilidade e foco externo, dinamismo, empreendedorismo e criatividade, voltada à produção de produtos e serviços inovadores. O pioneirismo é valorizado enquanto a liderança é visionária e orientada ao risco. Diferentes conceitos sobre tipos de culturas organizacionais são abordados, com base nas idéias de diferentes autores, contudo vale reforçar o conceito básico de cultura organizacional, conforme (Chiavenato , 2004 p. 165 citado por Leite, 2006 p. 3): lo tivo pode ser considerada desumana devido a exigência por resultados; - Cultura fragmentada: (baixa sociabilidade e baixa solidariedade). Considerada individualista, há o grande comprometimento do individuo com suas tarefas, os colaborados são julgados exclusivamente por sua produtividade e a qualidade de seu trabalho, um aspecto considerado negativo é a excessiva critica em relação as pessoas e por não apresentar nenhum tipo de coleguismo; - Cultura de comunidade: (elevada sociabilidade e elevada solidariedade). Caracteriza-se por valorizar tanto o desempenho quanto a camaradagem existente. Os colaboradores se sentem bem neste ambiente, devido ao espirito de familiaridade existente ao mesmo tempo em que mantém-se o foco sobre as conquistas e objetivos. Os líderes costumam serem inspiradores e carismáticos, tendo uma clara visão do futuro organizacional. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso membros da organização. Ela se refere ao sistema de significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma organização. A essência da cultura de uma empresa é expressa pela maneira com que ela faz seus negócios, trata seus clientes e funcionários, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou escritórios e o grau de lealdade expresso por seus funcionários a respeito da empresa. A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da organização e reflete a mentalidade que predomina na organização Independente dos conceitos expostos, a definição se mantém, independente de qualquer outro fator. Os tipos de culturas organizacionais são maneiras de alocar o perfil, a cultura de cada organização de forma a enquadrá-la a uma tipologia. A escolha por cada uma delas é baseada nas características pessoais de personalidade e nas características da cultura organizacinal. Considerando que cada organização é única, detentora e formadora de sua própria cultura, advinda de seus hábitos e crenças, estabelecendo suas normas, valores e atitudes, compartilhados por aqueles que compõem a organização, referindo-se a um sistema de significados compartilhados, distinguindo uma organização da outra. Contudo, dentre os tipos analisados, considera-se clássico os conceitos expostos por Chiavenato (2010), conceituando dois tipos de cultura: adaptativa – maleáveis e flexíveis frente às mudanças organizacionais, distinguindo-se pela possibilidade de inovação e criatividade, pela atenção voltada ao cliente e pelo valor atribuído às pessoas – e não adaptativa - conservadoras na manutenção de seus costumes, tradições e valores, despertando um comportamento mais burocrático entre os seus administradores. 6 CULTURA ORGANIZACIONAL ABERTA De forma breve Faria (2009) caracteriza cultura organizacional aberta como sendo estimuladora aos riscos, apoiadora, humanística, orientada para o trabalho em equipe, de fácil convivência e voltada para o crescimento. Kunsch (2001) afirma que uma característica forte e primordial das organizações de cultura aberta, é a descentralização, aonde o poder e a tomada das decisões são compartilhados, devendo haver valorização da cooperação, ou seja do trabalho em equipe, e da igualdade, favorecendo as boas idéias e a inovação. Porém não há uma definição específica para cultura organizacional aberta, dentre as definições existentes sobre tipos de cultura. Analisando os conceitos expostos, pode-se compará-los e adaptá-los ao termo, levando em consideração as características citadas por Faria (2009) e Kunsch (2001), formulando assim uma idéia maior sobre a tipologia. Conceito A 64 Recife n. 2 p.40-78 2011 Aos comparar a idéia de Faria (2009) com as idéias expostas por (Goffee e Jones, 1998 citado por Robbins, 2002), aonde são levadas em consideração a sociabilidade e solidariedade, o tipo de cultura que mais se aproxima com cultura organizacional aberta é o tipo cultura de comunidade, aonde tanto a sociabilidade quanto a solidariedade são consideradas altas. Essa categoria se caracteriza por ser humanística, aonde os colaboradores são valorizados socialmente e solidariamente, o foco nos objetivos é implacável voltada ao crescimento, sendo os gestores e lideranças inspiradores e carismáticos com uma visão objetiva e clara do futuro organizacional. Exemplos de organizações que atribuem esse tipo de cultura são a Hewlett-Packard (HP), e a famosa Johnson & Johnson. Analisando as idéias de (Cameron e Quinn, 1999 citados por Domenico, Latorre e Teixeira, 2006), comparando as características de cultura organizacional aberta aos tipos de culturas conceituadas pelos autores, há dois tipos que devem ser levados em consideração, o tipo clã – caracterizando-se pela flexibilidade, o trabalho em equipe, a preocupação de um ambiente de trabalho humano, a parceria com os clientes entre outros – e o tipo adhocracia – caracterizando-se também pela flexibilidade, tendo como diferencial o dinamismo, empreendedorismo e criatividade, voltada a inovação de produtos e serviços, outra característica a ser observada é o pioneirismo valorizado, e a liderança visionária e orientada ao risco. Uma organização de cultura aberta, estando diante de uma sociedade altamente globalizada, defronte a grande Revolução tecnológica - aonde a tecno- Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 65 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Analisando as idéias expostas por Chiavenato (2010), no que se refere a tipos de cultura organizacionais, o tipo adaptativo é o que mais se encaixa ao termo uma vez que caracteriza-se por ser maleável e flexível frente às mudanças organizacionais, se distinguindo pela possibilidade de inovação e criatividade, pela atenção voltada ao cliente e pelo valor atribuído às pessoas. Observando as idéias de Daft (1999), ao qual faz uma classificação ilustrativa dos tipos de culturas organizacionais, o tipo time de beisebol, é que melhor se adapta ao termo cultura aberta, uma vez que caracteriza-se por organizações que estão inseridas em ambientes com alto riscos de tomadas de decisões, estimulando-as. Talento, inovação e desempenho são elementos básicos a serem considerados, havendo reconhecimento e valorização do trabalho em equipe. lo Diante aos conceitos de perfis organizacionais expostos por Chiavenato (2010), o termo se adapta ao perfil participativo, considerado democrático e aberto, aonde as decisões são tomadas pela base, havendo a interferência da cúpula somente em situações emergenciais, há, no entanto a descentralização. A comunicação flui abertamente em todos os fluxos, havendo a orientação ao trabalho em equipe a recompensa e reconhecimento humano do desempenho prestado. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso logia inova-se a cada dia, surgindo a necessidade de mudanças e atualizações rápidas, para adequar-se ao mercado e atender a demanda do cliente, que a cada dia se torna mais exigente -, e da Era da Informação, - aonde novas informações são geradas em segundos, exigindo respostas rápidas e precisas - , ter uma postura aberta, isto é, maleável e flexível tornam-se características básicas de existência organizacional. O mercado encontra-se altamente competitivo, milhares de novos produtos e serviços são lançados em curto tempo, produtos com menos de um ano de ciclo de vida se tornam obsoletos, e consequentemente são descontinuados, para acompanhar o processo tecnológico atual, criatividade e inovação são essenciais. A descentralização do poder e o trabalho em equipe também são elementos básicos que caracterizam a cultura organizacional aberta, tendo os gestores e líderes livre arbítrio de tomada de decisão em situações rotineiras e de menor complexidade; o reconhecimento humano, o apoio às relações pessoais, interpessoais e intrapessoais, da cultura do diálogo aberto, são consideradas características relevantes, tendo os colaboradores o direito de se comunicarem e exporem suas idéias de forma aberta, fluindo a comunicação em todas as direções. Diante tais idéias ressalta-se a importância de haver um processo de comunicação eficaz e efetivo, podendo ser considerado um diferencial. 7 COMUNICAÇÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL 7.1 A relação existente entre comunicação x cultura organizacional Ao relacionar cultura e comunicação Marchiori (2005), expõe que a cultura organizacional pode nitidamente ser observada a partir do processo de comunicação de uma empresa, aonde se evidencia as atitudes que são valorizadas e respeitadas. Um sistema cultural não existe sem pessoas, visto estas como produtoras humanas, consequentemente este sistema não existe sem comunicação. Curvello (2008) por sua vez, descreve que a comunicação exerce papel fundamental na construção do sentido na sociedade; é através dos processos de comunicação que as organizações, vistas como sistemas sociais, realizam sua autoconstrução, e é através da comunicação que se torna possível conhecer a cultura e identidade de uma organização. (Sackman, 1997 apud Marchiori, 2005 p. 113), salientam que “[...] não há construção de significados sem comunicação, portanto se a cultura organizacional é vista como construtora de significados, fecha-se o circulo entre comunicação e cultura. [...]” Conforme Rodrigues (2005) a cultura organizacional é vista como um método, um conjunto de ações aplicadas no ambiente interno e externo das organizações, que se mostra capaz de promover troca de valores e sentimentos, de comportamentos e soluções de problemas entre os colaboradores que, juntos, Conceito A 66 Recife n. 2 p.40-78 2011 Reforça ainda Marchiori (2008) que a cultura de uma organização se fortalece através dos grupos e da personalidade existente neles. Os grupos ao se relacionar, desenvolvem formas de agir e ser, que se incorporam. A partir do momento que o grupo passa a agir automaticamente, em virtude das crenças e valores existentes na organização, a cultura está enraizada e incorporada. A comunicação é a fase fundamental neste processo, já que, a cultura se forma a partir do momento em que as pessoas se relacionam e, se elas se relacionam, elas estão se comunicando. A comunicação existe dentro da organização, envolvendo todos aqueles que vivem e convivem com o processo administrativo. Tanto o público interno, com o público externo são responsáveis pela qualidade e quantidade de informações produzidas que circulam dentro da organização. Diante deste contexto, Zavareze (2008), afirma que a comunicação deve ser ajustada a cultura da organização, uma vez que ela exerce forte influência mediante a maneira como as informações geradas são administradas, isto é, a forma como são transmitidas e retransmitidas, assim como a forma como são compreendidas; uma comunicação clara e objetiva gera maior entendimento aos envolvidos. Marchiori (2005) reforça que a comunicação esta diretamente ligada ao desenvolvimento da empresa e observar os canais de comunicação se torna muito importante, como também a análise das mensagens que são emitidas ao público interno e a forma como são recebidas. É através da cultura e da comunicação que as pessoas dão sentido ao mundo em que vivem, pois são elas que atribuem significados às experiências organizacionais vivenciadas. Para Pelegrini (2005), cultura empresarial e comunicação estão sempre liga- Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 67 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- Toda organização é composta por pessoas, que desempenham seus papéis e comportamentos, assim como expõem seus conhecimentos, fortalecendo valores e crenças, características essas, entre outras, que são entendidas por alguns autores como cultura organizacional; desta forma Marchiori (1999), afirma que os comportamentos existentes em uma determinada organização são adquiridos por meio de um processo de aprendizagem e transmitidos ao conjunto de seus membros. Para que esse processo aconteça há necessariamente o envolvimento da comunicação. Para (Pinho, 2006, p. 27 apud Wels, 2008, p. 2), “independentemente do tipo de organização, a comunicação é o elemento que mantém e sustenta os relacionamentos no ambiente organizacional”. Considerando não somente o ambiente interno, como também o ambiente externo. lo dividem o mesmo ambiente, tornando-se necessário que seja difundida e ensinada aos novos membros que passam a fazer parte do mesmo grupo. Dentro dessa concepção, a comunicação organizacional, representa os meios através dos quais a cultura será transmitida aos seus diversos públicos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso das, é impossível não interligá-las, ou pensar nas duas de forma separada. A comunicação empresarial engloba o público interno; através da comunicação interna, como também o público externo; clientes, comunidade, mídia e fornecedores. Um plano de comunicação ao ser elaborado tem que se preocupar com todos esses segmentos, senão o seu desenvolvimento poderá falhar ou dificultar no meio do caminho, contudo o processo de comunicação empresarial sempre segue o ritmo das normas e valores da cultura organizacional. A organização é um processo de construção permanente onde a comunicação é utilizada para reforçar e preservar a identidade organizacional, vista como cultura organizacional, ou ser o motor que impulsiona para as transformações desejadas, uma vez que a comunicação organizacional compreende todo o fluxo de mensagens que compõe a rede de relações das organizações. Em uma organização em que a comunicação interna é aberta, pode-se evitar rumores e insegurança e principalmente servir como um catalisador de esforços em busca da sobrevivência empresarial. (MIRANDA, 2005) A busca da participação consciente dos indivíduos, por meio de grupos de trabalho cooperativos, no esforço para a realização de objetivos comuns, humanos e organizacionais, deve ser a nova mentalidade dos profissionais que trabalham com a comunicação estratégica, criando e modificando valores, identificando os padrões culturais, refletindo a cultura organizacional e agindo sobre os sistemas de comunicação. Com certeza, é este o novo caminho para o desenvolvimento da sustentação da complexidade da organização. (MARCHIORI, 1999). Conclui Marchiori (1999) que o estudo da cultura organizacional surge como uma maneira de se conhecer, de forma mais profunda e abrangente, a complexidade da organização, para daí desenvolver-se planos, programas e projetos efetivos de comunicação, integrados ao planejamento estratégico da comunicação organizacional. Comunicação e cultura são elementos fundamentais de qualquer organização e devem ser vistos como o ajuste para todo o sistema organizacional. Desta forma, a conquista da credibilidade é o caminho para a comunicação eficaz, sendo preciso observar se os colaboradores estão apenas informados da mensagem ou realmente comprometidos com ela, demonstrando esse compromisso por meio de comportamentos que contribuam efetivamente para o resultado final, determinado pela organização. 7.2 Comunicação interna como sustento à cultura aberta [...] a comunicação interna no século XXI envolve mais do que memorandos, publicações e as respectivas transmissões; envolve desenvolver uma cultura corporativa e ter o potencial de motivar a mudança organizacional [...] (ARGENTI, 2006, p. 169, apud SCROFERNEKER, 2007, p. 84) Conceito A 68 Recife n. 2 p.40-78 2011 A comunicação interna de uma organização é um reflexo de sua cultura organizacional, e vice-versa. Há um processo de influência mútua entre ambas. A cultura é um dos fatores que determinam qual o tipo de comunicação a ser praticada na empresa, tanto sua forma e veículos como o conteúdo e os fluxos. Conhecer a cultura é importante do ponto de vista da organização para aumentar a efetividade dos negócios. E, sob a ótica da comunicação interna, é imprescindível, pois ajuda a detectar quais são os melhores caminhos para atingir eficientemente o público interno. (MORAES E GONÇALVES, 2010). De acordo com Vieira (2004), no século XXI com o avanço tecnológico e a rápida disseminação da informação, muitas mudanças ocorreram, a intensificação da globalização tem imposto as organizações novas formas de atuação. Mudanças, transição; ter a capacidade de abrir mão dos velhos paradigmas e valores, aprender e cultivar novos valores. Este processo de transição por vezes se torna um grande desafio às organizações, pois se põe em questão a cultura organizacional. A grande vertente desse desafio é como se adaptar a este meio sem perder a essência da cultura organizacional existente. Organizações de cultura aberta enfrentam tal desafio com menor dificuldade, pois caracterizam-se por serem maleáveis, flexíveis, inovadoras, abertas a novas formas de trabalho, a implantação de novos processos. Vieira (2004) ressalta a relevância da gestão da comunicação no processo de transição, para que as mudanças ocorridas beneficiem a organização com os resultados esperados. É extremamente importante a análise das formas de comunicação existentes, considerando que a falta de gestão do conhecimento e da comunicação pode gerar resultados inadequados em outros planos estratégicos da organização. Faz-se necessário ressaltar que a comunicação interna objetiva o acompanhamento Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 69 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- lo A cultura organizacional é vista por muitos autores como a construção de significados, como a identidade da organização, aonde os colaboradores são responsáveis pela imagem da organização, pela transmissão de informações, pela construção dos significados, por manter e preservar os valores e crenças existentes; é através da comunicação que tudo isso se torna possível. Para Marchiori (2005 p. 114) “[...]. O sucesso de uma empresa localiza-se primeiramente em sua instância interna e nas habilidades de comunicação de que disponha.” A comunicação interna mais do que uma ferramenta de gestão, é o meio pelo qual os colaboradores interagem entre si, assim como com seus superiores, desenvolvendo e fortalecendo relacionamentos, se tornando sustento para cultivar a cultura organizacional existente, sem perder sua essência mediante as mudanças. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso investigativo de comportamentos, atitudes e cognições do público interno, já que, a manutenção de agentes informados e envolvidos, através de partilhamento de valores, criação de sentimentos de pertinência e estímulo à participação coletiva visam a contribuir com a ação planificada do estrategista organizacional, que busca, nessa instância diretiva, reforçar a identidade organizacional (SOUZA, 2004 apud MOTA E FOSSÁ, 2006 p.5). A comunicação interna busca além de informar, integrar seu público interno aos objetivos da organização. Um planejamento de comunicação interna bem elaborado faz com que seu público sinta-se de fato comprometido com a organização. Visto que as organizações encontram-se em constante processo de transformação e mudanças, a comunicação interna torna-se elemento fundamental na preservação de sua identidade organizacional, evitando-se que se perca sua real essência. Nos dias atuais a comunicação interna tem sido valorizada por muitas organizações, vista com função prioritária para aquelas que almejam um ambiente interno consciente e fortalecido. De acordo com Machiori (2005) busca-se a valorização da comunicação interna como estratégia, visto que a sociedade está defronte a um mundo altamente globalizado, de rápidas transições e constante mudanças, aonde, devido aos processos tecnológicos, informações são geradas e compartilhadas em alta velocidade. Por meio da comunicação a empresa recebe, oferece e canaliza as informações que a circundam, e através delas constrói conhecimento, tornando-se uma ferramenta para melhor tomada de decisão. Para Figueiredo (1999) a comunicação é vista como a argamassa, como a base da globalização, aonde o processo de comunicação é considerado o grande responsável pela integração entre as fases de mudança ocorridas, assim como o sustento da cultura organizacional existente. A comunicação interna efetiva possibilitará aos colaboradores uma visão clara, motivadora e estimulante de um futuro promissor, através dos canais de comunicação amplos e abertos torna-se possível o melhor atendimento a demanda existente, trabalhando as informações com eficiência. Pinho (2006 p. 105) citado por Scroferneker (2007) expõe que a comunicação interna constitui-se pelos processos de comunicação realizados interiormente na organização, como também objetiva-se em manter a estabilidade da organização, socializar seus membros; e criar e manter a cultura organizacional. Organizações caracterizadas por uma cultura aberta vivem em constante processo de mudança e transições, pois determinam-se flexíveis, inovadoras e buscam se adaptar ao mercado altamente volátil. Um dos grandes desafios das organizações em meio à adaptação as mudanças, é justamente quebrar paradigmas sem perder sua essência organizacional, sem que sua cultura se Conceito A 70 Recife n. 2 p.40-78 2011 Um programa de comunicação interna bem elaborado tem como grande benefício a homogeneidade da sua cultura, principalmente em organizações de grande porte, distribuídas em diversas cidades/estados, como também as multinacionais, estando presentes em diversos países. 7.3.1 Exemplos de empresas caracterizadas por uma cultura aberta Diante de exemplos, analisa-se a influência da comunicação interna exercida sobre a homogeneidade da cultura organizacional em organizações caracterizadas por uma cultura aberta. - Grupo Portugal Telecom Martins (2005) relata o desafio enfrentado pelo o Grupo Portugal Telecom, caracterizada como uma organização de cultura aberta, empresa de telefonia que buscava criar uma verdadeira identidade cultural entre seus 24 mil colaboradores, distribuído entre 14 países ao redor do mundo. Ao longo dos últimos anos o grupo vinha reforçando sua liderança no mercado, se modernizando, inovando e desenvolvendo novas unidades de negócios, o grande problema era que cada unidade em seu determinado país trabalhava de forma isolada, com isso o seu verdadeiro sentido somente existia nos papéis, não havia-se uma cultura homogênea, foi através de um planejamento bem elaborado de comunicação interna que o Grupo enraizou a cultura organizacional, tornandoa única e consistente. Os resultados das ações adotadas podem ser notados no dia-a-dia do Grupo PT, a motivação dos colaboradores é um dos principais ganhos do Grupo, como também o enriquecimento do papel de cada um dentro da organização. - Banco Itaú De acordo com Carvalho (2005), ao longo das últimas décadas o Banco Itaú diversificou-se, devido às aquisições de outras instituições financeiras, deixou de ser um grande banco de varejo, passando a atender às necessidades dos diversos segmentos do mercado. Caracterizada como uma organização de cultura aberta, qualidade, agilidade e dinamismo são elementos chaves para o seu desenvolvimento e consequente crescimento. Devido a sua dimensão e Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 71 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- A comunicação interna exerce papel fundamental para tal sustento, uma vez que, é utilizada por muitos gestores como ferramenta de apoio ao desenvolvimento organizacional. A comunicação interna é voltada exclusivamente ao público interno, sendo trabalhada desde a alta cúpula ao menor nível hierárquico da organização, desenvolvendo um relacionamento transparente, estreitando relacionamentos, fazendo com que seus colaboradores sintam-se comprometidos com os objetivos da organização, sendo considerada por muitos autores como diferencial competitivo. lo distorça ou deixe de existir. A comunicação mais do que uma ferramenta de gestão, torna-se forma de sustento a preservação da cultura, da identidade organizacional. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso dispersão geográfica, a cultura organizacional foi consolidada através do programa de comunicação interna adotado pela organização. O Sistema Itaú de Comunicação Interna é constituído por diversos veículos e processos que asseguram a comunicação de natureza corporativa e formal com os colaboradores. O programa rendeu bons frutos; a coordenação de ações de comunicação interna contribuiu para que os colaboradores se sentissem valorizados e tivessem condições de entender melhor os valores associados à marca Itaú, assim como os veículos de comunicação interna potencializaram um movimento inédito, que visava estimular o sentimento de integração entre os colaboradores, com isso houve-se a uniformização da cultural organizacional existente. (CARVALHO, 2005). - Grupo Votorantim Weber (2005), descreve um dos grandes desafios enfrentados pelo Grupo Votorantim, no ano de 2003, que foi implementar uma política de comunicação interna que estivesse de acordo com a filosofia da organização. O maior obstáculo era que a organização era composta de 11 áreas de negócios diferentes, aonde cada qual agia de uma maneira diferente. Foi-se desenvolvido um Projeto Integrado de Comunicação atingindo o objetivo de implantar um modelo único de comunicação interna, integrado a filosofia do sistema de gestão do grupo. A comunicação passou a ser então utilizada como ferramenta estratégica de gestão. Através do sistema implantado enraizou-se a cultura da organização, atuando todas as unidades de negócios existentes de forma única, e em prol dos mesmos objetivos. Os autores confirmam a relação direta entre culturas abertas e comunicação interna apoiando-se nos resultados que trabalhos de desenvolvimento organizacional apresentam com a integração destas variáveis. 8 C0NSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade vive atualmente em um mundo globalizado, aonde novas informações são geradas e atualizadas em segundos. O avanço tecnológico tem exigido das organizações mudanças rápidas para adaptarem-se ao mercado, mantendo assim a competitividade em meio aos concorrentes, como também o atendimento à demanda do consumidor, que se torna cada dia mais exigente. Flexibilidade, criatividade e inovação são elementos básicos para a sobrevivência da organização, características essas encontradas nas organizações de cultura aberta. Um grande desafio ás organizações de cultura aberta, é adaptarem-se as mudanças exigidas sem perder a essência de sua cultura, como também manter o comprometimento daqueles que a compõem, as pessoas, elementos chaves para o seu desenvolvimento. O sucesso de uma organização está ligado a sua essência interna. Diante deste contexto, a comunicação interna exerce papel Conceito A 72 Recife n. 2 p.40-78 2011 As organizações de cultura aberta assemelham-se à cultura adaptativa, sendo estimuladora aos riscos, apoiadora, humanística, orientada ao trabalho em equipe, tendo como forte característica a descentralização, aonde as tomadas de decisões são compartilhadas, havendo valorização e cooperação de todos os envolvidos, favorecendo a criação de novas idéias e consequentemente de inovação. Observa-se nas organizações de cultura aberta que a comunicação flui em todas as direções, tendo os colaboradores o direito de se comunicarem de forma aberta, sem que haja burocracias, porém respeitando as hierarquias existentes. Comunicação interna e cultura organizacional são dois elementos que se relacionam. A comunicação é o elemento que mantém e sustenta os relacionamentos no ambiente organizacional, assim como sua cultura. A cultura organizacional se fortalece através de seus colaboradores, que ao se relacionarem desenvolvem formas de agir e ser, incorporando-se; a partir do momento que todos passam a agir de forma automática a cultura está enraizada, e portanto incorporada, a comunicação é vista como ferramenta fundamental neste processo, já que a cultura se forma a partir do momento em que as pessoas se relacionam, se elas se relacionam, elas estão se comunicando. Grande parte das maiores empresas, hoje existentes no mercado, caracterizadas por uma cultura aberta, tem como diferencial programas de comunicação interna. Uma politica de comunicação interna efetiva transforma seus colaboradores em verdadeiros aliados, tornando-os comprometidos com os resultados a serem alcançados. A comunicação interna é considerada então sustento, base de sucesso do desenvolvimento organizacional. Conceito A Recife n. 2 p.40-78 2011 73 Culturas organizacionais abertas: a comunicação interna como sustentácu- A cultura organizacional é compreendida como o conjunto de valores, hábitos e crenças, compartilhados por todos os membros da organização. A essência de uma cultura, é o que distingue uma organização das demais. Destacamse entre os tipos de cultura organizacional existentes, a cultura adaptativa, caracterizada em ser maleável, flexível e inovadora; e a cultura não adaptativa caracterizada por ser rígida, conservadora e tradicionalista. lo fundamental, pois está diretamente ligada ao desenvolvimento de uma organização. O processo de comunicação deve ser efetivo mediante as mudanças organizacionais ocorridas, tanto nos aspectos internos como externos. A comunicação interna é vista como o calcanhar de Aquiles das organizações, pois é ela que mantém os colaboradores, informados, integrados e comprometidos com os seus objetivos, assim como a manter a homogeneidade e essência de sua cultura. A abertura ao diálogo é vista como ferramenta fundamental para que a comunicação interna ocorra de forma eficaz, possibilitando aos colaboradores que exponham suas ideias e pensamentos em prol ao desenvolvimento da organização. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso REFERÊNCIAS BENEDITO, Marta. Midia interna. (2010) Disponível em: <http://onegocioecomunicar.blogspot.com/2010/10/midia-interna.html> . Acesso em 02 out. 2011. BRUM, Analisa de Medeiros. Face a Face com o Endomarketing. Porto Alegre: L&PM, 2005. pag. 61 – 65. CARVALHO, Helena Catarina Lyrio de,. O que temos aprendido sobre este desafio permanente. In:___ Comunicação interna: a força das empresas. Vol. 2. NASSAR, Paulo. (Org.). São Paulo: ABERJE, 2005. p.71-77. 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ORIENTADORA EURÍDICE MARIA GONÇALVES DO COUTO RECIFE 2011 RENATA BONYANE SANTOS GOMES ENDOMARKETING APLICADO AO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito A em __/__/____. Banca Examinadora ___________________________________________________ Stefania Patricia Silva de Souza – Faculdade São Miguel ___________________________________________________ Examinador(a) Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 79 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por ter me dado forças suficiente para vencer todos os desafios e obstáculos no decorrer deste curso e para a conclusão deste trabalho. Aos meus pais por me apoiarem nesta jornada. À minha orientadora Eurídice Couto. À professora Stefania de Souza. Às minhas amigas Adryelle e Alcione, as quais estiveram sempre junto comigo desde o início do curso dividindo tarefas, trabalhos e momentos felizes. E finalmente a todos que contribuíram de maneira direta e indireta para a conclusão dessa etapa em minha vida. Resumo O Endomarketing está sendo considerado atualmente um instrumento poderoso para lidar com o público interno das organizações, tanto das que visam lucro como as sem fins lucrativos, privadas ou públicas. Diante deste fenômeno e levando em consideração o histórico de uma questionável qualidade da prestação de serviços públicos no Brasil; o presente trabalho tem como objetivo explicar como o Endomarketing pode ser utilizado para melhorar a prestação dos serviços públicos, através da aplicação de suas estratégias nas organizações públicas brasileiras. Pretende também: analisar abordagens teóricas sobre Endomarketing e serviço público, demonstrar o papel da comunicação na rotina organizacional e como ela pode influir nos processos de Endomarketing, apresentar estratégias de Endomarketing aplicáveis ao setor público e analisar as repercussões do Endomarketing na produtividade dos servidores públicos. O estudo se deu através de pesquisas bibliográficas em livros, artigos, sites, legislações, monografias e acervo pessoal. Os resultados obtidos com este estudo demonstram que o Endomarketing pode ser empregado no setor público de modo a melhorar os resultados organizacionais. Palavras-chave Marketing interno. Gestão pública. Público interno. Comprometimento. Eficiência. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................81 2 ENDOMARKETING..............................................................................82 2.1 Motivação no trabalho......................................................................84 2.2 Satisfação com o trabalho................................................................85 2.3 Programas de Endomarketing...........................................................86 2.4 Comunicação e sua importância para o processo de Endomarketing......88 3 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA...............................................................90 Conceito A 80 Recife n. 2 p.79-103 2011 1 INTRODUÇÃO O Endomarketing é uma nova abordagem da administração que vem se tornando cada vez mais fundamental na rotina organizacional, inclusive em organizações públicas. Saul Faingaus Bekin, pioneiro do Endomarketing no Brasil, criou o termo e o registrou como obra de sua autoria, trazendo seus conceitos e definições para aplicação dessa ferramenta em organizações brasileiras e internacionais. O fato do Endomarketing se encontrar em evidência atualmente, deve-se à necessidade das empresas procurarem melhores formas de lidar com seu público interno, pois já estão reconhecendo que cada pessoa da organização exerce um papel fundamental para que o produto ou serviço chegue com qualidade até o cliente final, visto que todos fazem parte do mesmo organismo que para sobreviver precisa do bom funcionamento de suas células, no caso os funcionários que dão vida a empresa. Segundo Bekin (2004) o Endomarketing tem haver com o marketing voltado para o público interno da empresa, pois procura vender a imagem e as suas idéias, primeiramente para os funcionários, tratando-os como clientes internos. Ele pode ser utilizado em qualquer tipo de organização, das que visam o lucro às sem fins lucrativos, porque se adapta às estruturas gerenciais de modo geral. Para muitos talvez seja difícil imaginar voltar o conceito de Endomarketing para o setor público, mas como em qualquer outra organização privada, as entidades públicas também trabalham em prol de objetivos e para atender as necessidades de um cliente final, “usuário dos serviços” ou “cidadãos” que são todos que utilizam de alguma forma, direta ou indiretamente os serviços públicos. Os procedimentos podem ser diferentes em organizações públicas e privadas, porém o objetivo final é o mesmo para ambas: atender a necessidade dos clientes da melhor forma possível. É fato que a administração pública no Brasil deixa muito a desejar na questão Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 81 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro 3.1 Estrutura.......................................................................................90 3.2 Serviço e servidor público................................................................91 3.3 Histórico do serviço público brasileiro................................................92 4 ENDOMARKETING E O SETOR PÚBLICO...............................................93 4.1 Marketing no governo......................................................................93 4.2 Comunicação interna no setor público.............................................95 4.3 Endomarketing na gestão pública......................................................96 4.4 Estratégias de Endomarketing aplicáveis ao setor público....................98 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................100 REFERÊNCIAS....................................................................................100 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso da qualidade da prestação de serviços, mas isso vem mudando gradualmente no decorrer dos anos. Desde a década de 90 no cenário mundial do mercado, movimentos importantes como a inovação tecnológica e a globalização impulsionaram uma reforma administrativa do estado brasileiro. Com isto “A sociedade brasileira, em seu sinuoso caminho de evolução, alcança um grau de maturidade em que passa a exigir, com toda razão, uma administração pública mais eficaz, moderna e transparente” (SIGOLLO, 2002, p.298). Com base nessa linha de raciocínio é que este trabalho procura apresentar como o Endomarketing pode ser aplicado ao setor público como um instrumento para melhorar a prestação dos serviços públicos para os cidadãos brasileiros, através de ações estratégicas que melhorem a produtividade dos servidores no ambiente de trabalho. O trabalho está fragmentado em 3 capítulos. O primeiro expõe o conceito de Endomarketing e todo seu processo. O segundo apresenta um breve histórico do serviço público brasileiro e como é estruturado. O terceiro faz uma análise da aplicação do Endomarketing dentro do setor público. A metodologia utilizada foi de uma pesquisa explicativa, através de referências bibliográficas que buscaram a fundamentação teórica para atingir os objetivos desse estudo, em que os dados coletados receberam tratamento qualitativo. 2 ENDOMARKETING O ser humano, hoje, é considerado o recurso mais valioso e importante de uma organização. São os funcionários que ajudam a construir a identidade organizacional. Portanto, quanto mais satisfeito e valorizado o funcionário estiver, mais comprometido ficará com a organização e com os objetivos da empresa (MARCHIORI et al, 2006); e é sobre isso que o Endomarketing trata, pois tem como objetivo: [...] facilitar e realizar trocas, construindo lealdade no relacionamento com o público interno, compartilhando os objetivos empresariais e sociais da organização, cativando e cultivando para harmonizar e fortalecer essas relações e melhorando, assim, sua imagem e seu valor de mercado. (BEKIN, 2004, p.47). Para satisfazer às necessidades dos clientes que estão cada vez mais exigentes, inclusive os usuários que são os clientes das organizações públicas, é necessário oferecer serviços de qualidade, e isso depende especificamente dos funcionários, pois são eles que estão em contato direto com os clientes, e para tanto precisam estar bem motivados e empenhados na tarefa de prestar serviços com excelência, almejando a plena satisfação dos clientes, compartilhando dos mesmos objetivos da organização (SILVA, 2005). Nesse contexto é necessário esclarecer para os funcionários a importância do comprometimento, do relacionamento interpessoal e da comunicação integrada. Na construção da palavra Endomarketing, o prefixo ““ Endo” provém do grego Conceito A 82 Recife n. 2 p.79-103 2011 Conforme Honorato (2004), Endomarketing também pode ser chamado de marketing interno, pois é exatamente um segmento do marketing que dirige suas ações para o público interno da organização, que são os funcionários, com a intenção de satisfazê-los, para que os mesmos possam satisfazer os clientes externos, pois “não há como ter clientes satisfeitos sem funcionários satisfeitos” (HONORATO, 2004, p.25). Portanto é necessário concentrar os esforços do marketing primeiramente no público interno para então alcançar o externo. Para Kotler: “o Marketing interno é a tarefa de contratar, treinar e motivar funcionários que desejam atender bem aos clientes” (KOTLER, 2000, p.44). Dessa maneira ele deve estar incluído em todos os estágios que o funcionário vivencia na organização. Para o autor essa ferramenta exerce uma importante função dentro da empresa, pois consegue interligar departamentos e incentivar o trabalho em equipe, valorizando o profissional no seu ambiente de trabalho o que reflete no seu desempenho dentro da empresa. Bekin (2004, p.47) define Endomarketing como sendo: [...] ações gerenciadas de marketing eticamente dirigidas ao público interno (funcionários) das organizações e empresas focadas no lucro, das organizações não - lucrativas e governamentais e das do terceiro setor, observando condutas de responsabilidades comunitária e ambiental. Então, independente do tipo da organização, as ações de Endomarketing devem ser implantadas com o ensejo de se alcançar melhores resultados organizacionais com a mobilização do público interno através de recursos de marketing aplicados internamente, mantendo sempre o foco no cliente. Ainda conforme este autor “cada executivo ou empresário usa o Endomarketing segundo suas necessidades, visando a objetivos bem específicos” (BEKIN, 2004, p.17) O diferencial do Endomarketing é que ele tenta realmente envolver todo o público interno da organização desde o alto escalão até o pessoal de linha de frente que lida diretamente com o público externo. Isso quer dizer Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 83 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro e quer dizer “ação interior ou movimento para dentro”. Endomarketing é portanto marketing para dentro” (BISPO,2008,p.750). Então é necessário vender a imagem e as idéias da empresa antes de tudo para os funcionários, pois são eles que as repassam para os clientes. Por isso Oliveira (2008) afirma que a liderança precisa apresentar primeiramente aos funcionários todos os detalhes do que está sendo ofertado. O funcionário precisa conhecer bem o produto ou serviço da empresa para poder oferecê-lo e conquistar os clientes. Esclarecer os objetivos organizacionais para os funcionários é um dos pontos mais trabalhados pelo Endomarketing, pois quando isso não ocorre é provável que os mesmos fiquem dispersos com relação a sua atribuição e não consigam ter o desempenho esperado pela empresa o que “acaba comprometendo o atendimento ao público externo: a curto, a médio e às vezes a longo prazo” ( BEKIN, 2004,p.35). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso que tanto uma faxineira quanto um gerente ou diretor devem estar cientes do seu compromisso para o sucesso do negócio organizacional, conhecendo bem os valores, missão e visão da empresa. (BEKIN, 2004) 2.1 Motivação no trabalho A motivação pode ser entendida através de dois grandes vetores: o interno e o externo. A motivação interna “é o mecanismo intrínseco que ‘move’ o indivíduo e que o mantém disposto e feliz, permitindo sua evolução e senso de desenvolvimento” (CASTRO, 2002, p.86) enquanto a motivação externa são os fatores do ambiente “capazes de gerar estímulos e interesses para a vida das pessoas” (CASTRO, 2002, p.88). No meio organizacional já se reconhece a motivação interna como fonte determinante para a satisfação dos funcionários, pois se sabe que ela gera realização e a felicidade dos indivíduos, no entanto a motivação vem de dentro para fora e por isso reage de forma diferente em cada um, pois cada pessoa é um ser único, isso quer dizer que cada pessoa tem seus próprios objetivos e se motiva de acordo com eles. Por isso as organizações tentam trabalhar a motivação externa como forma de alinhar esses objetivos pessoais aos organizacionais, pois segundo Castro (2002, p.86): [...] por mais que um ambiente possa gerar elementos externos de ampliação da motivação o vetor interno é o que efetivamente vai alimentar a alma desse indivíduo e fará com que ele esteja plenamente satisfeito com sua vida. Conforme a teoria das necessidades de Maslow, nós estamos sempre motivados para atender nossas necessidades, as quais o autor classificou em fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de autodesenvolvimento (MUSSAK, 2003). Portanto o indivíduo encontra-se motivado em relação ao seu ambiente de trabalho quando suas necessidades individuais estão em congruência com as metas organizacionais, de modo que ele consiga satisfazer os seus anseios em benefício da organização (ROBBINS, 2000). Caso contrário seus esforços irão de encontro aos interesses organizacionais como, por exemplo: [...] alguns funcionários passam regularmente muito tempo conversando com amigos nos trabalho a fim de satisfazer suas necessidades sociais. Há um nível elevado de esforço só que ele está sendo dirigido improdutivamente (ROBBINS, 2000, p.13). As expectativas que os funcionários nutrem em relação à empresa dizem respeito às seguintes variáveis: “reconhecimento pelo trabalho; reconhecimento de sua importância como indivíduo na empresa, remuneração adequada, e possibilidade de avanço profissional” (BEKIN, 2004, p.79). Portanto os programas motivacionais precisam ser planejados para atingir ao máximo essas expectativas, pois os funcionários precisam se sentir valorizados e importantes para empresa para então empenharem seus esforços a favor da mesma. Conceito A 84 Recife n. 2 p.79-103 2011 [...] Satisfação no trabalho é o grau segundo qual os indivíduos se sentem de modo positivo ou negativo com relação ao seu trabalho. É uma atitude, ou resposta emocional, às tarefas de trabalho, assim como às condições físicas e sociais do local de trabalho. Um importante fator que pode exercer influência sobre o nível de satisfação dos funcionários é o clima organizacional, pois segundo Maximiniano (2000, p.107): “O clima é representado pelos conceitos e sentimentos que as pessoas partilham a respeito da organização e que afetam de maneira positiva ou negativa sua satisfação e motivação para o trabalho”. Portanto, é necessário que os gestores conheçam o clima da sua empresa para que possam identificar possíveis agravantes que venham a prejudicar o relacionamento e a produtividade dos funcionários no ambiente interno. Como por exemplo, sentimentos de injustiça que os funcionários possam carregar devido a comparações com os colegas de trabalho. Os gestores precisam trabalhar os pontos em que essas dissonâncias acontecem, para restabelecer o grau de satisfação dos seus colaboradores. Para Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2006, p.240), “O clima organizacional é favorável quando possibilita a satisfação das necessidades pessoais e desfavorável quando frustra essas necessidades.” É através do clima que os funcionários identificam o que é melhor ou pior para eles dentro da organização; o que pode impactar no seu comportamento e desempenho profissional. O grau de satisfação dos colaboradores com relação ao ambiente de trabalho é quem determina os resultados produzidos por eles em prol da organização. [...] Pesquisas mostram que fatores como, política de recursos humanos arrojada, estímulo á participação, clareza de objetivos e a comunicação interna, ao lado de boas condições de trabalho, segurança, remuneração, justiça de tratamento e estilo de supervisão, determinam o grau de satisfação dos empregados (MATOS, 2009, p.102). O comprometimento e o envolvimento do cliente interno também têm relação com o nível de satisfação dos mesmos, pois quanto mais satisfeitos os funcionários estiverem, mais comprometidos e envolvidos estarão com a empresa, o que fará com que eles se sintam identificados com a organização e dediquem seus esforços para superar as metas organizacionais (SCHERMER- Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 85 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro 2.2 Satisfação com o trabalho A produtividade organizacional está intimamente ligada à satisfação dos funcionários, por isso atualmente as empresas vêm intensificando os esforços para que os funcionários se sintam cada vez mais satisfeitos com o trabalho e com o ambiente organizacional (SCHERMERHON; HUNT; OSBORN, 1999). Quando os funcionários tomam consciência que exercem um papel fundamental para a empresa, eles vão querer seu reconhecimento e buscar algo na organização que satisfaçam suas necessidades não apenas materiais, mas principalmente motivacionais e psicológicas; algo que os valorize como ser humano que eles são (CERQUEIRA, 1994). Para Schermerhon, Hunt e Osborn (1999, p. 93): Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso HON; HUNT; OSBORN, 1999). Uma maneira de proporcionar satisfação aos trabalhadores e estimular seu desempenho é por meio de recompensas, porém as mesmas precisam ser apropriadas ou não obterão o mérito esperado. Portanto a recompensa será proporcional ao desempenho do funcionário, como por exemplo, uma grande recompensa para quem tiver um alto desempenho e uma pequena ou nenhuma para quem tiver baixo desempenho, isso deixará quem recebeu recompensas proveitosas satisfeito e quem não recebeu, ou recebeu uma pequena recompensa, estimulado a melhorar seu desempenho para conseguir recompensas melhores (SCHERMERHON; HUNT; OSBORN, 2005). A insatisfação dos trabalhadores pode afetar a sua produtividade individual no trabalho e também a de toda organização, pois acaba gerando uma série de conseqüências, como greves, absenteísmo, dentre outros fatores que são prejudiciais à organização (SCHERMERHON; HUNT; OSBORN, 2005). 2.3 Programas de Endomarketing Para iniciar um programa de Endomarketing numa organização é necessário primordialmente desenvolver métodos que sejam detalhados e aplicados com o intuito de tornar compativéis “os interesses dos clientes externos, dos funcionários e da organização, de forma permanente” (SILVA, 2005, p. 69). A comunicação neste momento se faz essencial para se obter um feedback sobre os resultados das ações do programa, para que se possa conduzi-las de maneira mais proveitosa para o alcance dos objetivos desejados. Em se tratando de objetivos, vale salientar que o principal deles num programa de Endomarketing é o comprometimento dos funcionários, pois sem este dificilmente se obterá um atendimento satisfatório dos clientes externos (SILVA, 2005). Bekin (2004) ressalta a importância da liderança neste processo, pois se o alto escalão não estiver envolvido com os objetivos do programa, certamente o plano de endomarketing não terá sucesso, visto que todo bom programa de qualidade deve ser implantado de cima para baixo. Os líderes são responsáveis por cultivar os ideais do programa em seus subordinados e a liderança tem de estar engajada e comprometida com os objetivos organizacionais como propõe o endomarketing, pois o exemplo é crucial para que os outros funcionários adiram mais facilmente às mudanças provindas desse processo. As atividades mais comuns que um programa de Endomarketing visa desenvolver são as seguintes: Melhoria da comunicação interna; Democratização da distribuição da informação; Análise, se necessário, melhoria do clima organizacional; Criação de estímulos para um processo de motivação de empregados; Avaliação de Desempenho; Estímulo a fomentação de idéias; Conceito A 86 Recife n. 2 p.79-103 2011 Sobre as atividades atribuídas num programa de Endomarketing, é necessário esclarecer que não se tem um padrão definido dessas atividades, pois dependerá da situação de cada empresa, podendo ser incluída qualquer atividade que tenha impacto em conscientizar os funcionários a voltar suas ações para os clientes externos (SILVA, 2005). Por isso Bekin (2004) afirma que o programa de Endomarketing é procedente de um diagnóstico da organização, pois deve ser ajustado a realidade da mesma, levando em consideração os recursos disponíveis de cada uma e observando os pontos mais críticos que precisarem ser corrigidos.O autor também menciona que o programa precisa ter um nível de abrangência; pretendendo então criar , manter ou ampliar uma mentalidade de serviço voltado para o cliente. Para implementação do programa é necessário passar por uma série de etapas, as quais seguem listadas abaixo: 1. Análise do ambiente: primeiramente são levantadas informações sobre o ambiente geral da empresa, sua disponibilidade tecnológica, situação econômica, leis e políticas relacionadas aos setores e aspectos sociais mais relevantes relacionados à empresa. 2. Diagnóstico da situação: visa a analisar os diferentes fatores ( positivos e negativos, internos e externos) presentes na relação organização-servidor-sociedade que podem influenciar na realização dos objetivos organizacionais. Para tanto, no foco interno, podem ser utilizados questionários autopreenchíveis ou discussões em grupo, cujos resultados permitirão conhecer as opiniões do servidor em relação à situação de trabalho, bem como vestígios de tensão entre as áreas funcionais.Já no foco externo, pesquisas que possibilitem identificar a percepção do cliente final, a sociedade, em relação à qualidade do atendimento e prestação de serviços. 3. Determinação dos objetivos do projeto de Endomarketing: com base no diagnóstico da situação elaborado anteriormente, torna-se possível listar os objetivos (gerais e específicos) que potencializarão as oportunidades e a otimização de resultados. 4. Concepção das estratégias que viabilizarão o programa: a estratégia deve descrever as ações que levam à consecução dos objetivos. Deve ainda abordar os objetivos de médio e longo prazo, as metas e os meios para atingi-los. 5. Levantamento dos custos de implementação: um projeto de Endomarketing requer um maior engajamento dos recursos humanos (incluindo demanda de tempo em todos os níveis da organização), mudanças significativas no comportamento, uma equipe de desenvolvimento e implementação do programa e um orçamento (que, muitas vezes, funciona mais como um redirecionador de custos e recursos). 6. Determinação dos instrumentos de avaliação: nesta fase, são especificados parâmetros a serem utilizados para verificar se os resultados esperados foram atingidos. O acompanhamento da eficácia do plano servirá de retroalimentação, a fim de corrigir eventuais falhas ainda no estágio de desenvolvimento do programa. É também nesta etapa que são definidas medidas para avaliar o impacto do programa em intervalos de tempo determinado. Tais medidas podem incluir pré e pós testes de percepções, comportamentos e opiniões dos servidores e sociedade (SETTE, 1988 Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 87 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro Descentralização das decisões; Criação de uma cultura organizacional voltada para o usuário ou serviço (SILVA, 2005, p. 70). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso apud JUSTI, 2005, p.11-12). Silva (2005, p. 70) afirma que por o Endomarketing ser “uma atividade estratégica que envolve todo quadro de funcionários”, suas estratégias não podem ser implantadas alheias as metas e objetivos mais amplos organizacionais; pois ele abarca toda organização em prol dos mesmos resultados, independente de qual seja o cargo, do porteiro ao presidente da organização, todos tem de estar no mesmo envolvimento. 2.4 Comunicação e sua importância para o processo de Endomarketing De modo geral a comunicação trata-se de algo que interliga as pessoas sendo uma inesgotável fonte de interação entre os indivíduos, através de mensagens que transmitem informações as mais diversas (CERQUEIRA, 1994, p.2). Segundo Marchiori et al (2006,p.175) no cenário organizacional: A comunicação, em primeiro lugar, tem que ser entendida como parte inerente à natureza das organizações. Estas são formadas por pessoas que se comunicam entre si e que por meio de processos interativos, viabilizam o sistema funcional para sobrevivência e consecução dos objetivos organizacionais. Segundo Matos (2006, p.31): “num ambiente em que haja comunicação e diálogo, existe motivação para superar desafios e metas”. A comunicação ajuda a formar vínculos que estreitam o relacionamento entre funcionários e empresa, no engajamento de interesses comuns. É por isso que ela exerce papel primordial nos processos de Endomarketing. É através dela que os funcionários recebem informações, compartilham experiências e podem conhecer melhor a empresa e sua atividade profissional. Além de que nos estágios de mudança é fundamental um bom processo de comunicação. Segundo Brum (1995, p.30): É importante que as empresas sejam capazes de se comunicarem com seus funcionários, através de instrumentos e ações integradas em um programa de comunicação interna, a fim de mantê-los informados sobre os verdadeiros objetivos da mudança. Por meio de um bom programa de comunicação interna, é possível tornar o funcionário um ser comprometido com a nova postura da empresa e com sua modernidade, cada um em sua área de atuação e através das atividades que desenvolve. Quando a empresa adota uma relação de confiança com os colaboradores, utilizando uma comunicação transparente, isto cria certo envolvimento e compromete os funcionários com as metas e objetivos organizacionais. A Comunicação Interna que é a dirigida especificamente aos funcionários, faz com que o fluxo de informações transite na estrutura hierárquica da organização, dos altos escalões até a base operacional, através de veículos ou redes de comunicação formais ou informais (MARCHIORI et al, 2006) Segundo Facina (2006, p.36), “É denominada Comunicação Formal toda e qualquer forma de comunicação oficial” que circula na organização por vias Conceito A 88 Recife n. 2 p.79-103 2011 Uma das razões básicas para o sistema de comunicação informal nas organizações é a necessidade de os membros obterem informações sobre a organização e como afetarão suas vidas as mudanças da mesma. (KUNSCH, 2002, p.83) Muitas vezes as informações recebidas pelas fontes formais da organização, não são claras ou completas o suficiente na visão dos funcionários, por isso surge a necessidade de buscar mais informações interagindo com os colegas de trabalho, a fim de tirar dúvidas e saciar suas curiosidades a respeito do que acontece na empresa (KUNSCH, 2002). A partir daí começam a utilizar os seus canais informais, cujo mais conhecido deles é o boato, este veículo pode ajudar ou atrapalhar o alcance dos objetivos organizacionais, desde que, a gerência saiba como lidar com ele e manipulá-lo a seu favor. Saber gerenciar essas informações que correm pelos corredores da organização na famosa “rádio- peão” é um desafio para muitos administradores, para isto a melhor solução é manter a transparência na comunicação com os funcionários, pois quanto mais inseguros e nervosos ficarem com relação às informações recebidas ou a falta delas, mais propícia a comunicação ficará a rumores, comentários maldosos e distorções, trazendo resultados nocivos à organização (EDMIR; LISBOA; GAMBOA, 2005) Já é comprovado que a comunicação informal é a mais rápida e eficaz, pois não há barreiras de tempo ou espaço que a impeça de ser transmitida no meio organizacional, porque as pessoas interagem constantemente, portanto, é impossível ter total controle sobre esse tipo de comunicação. Vale salientar que, além dos meios tradicionais de comunicação informais utilizados através do contato pessoal, com o avanço tecnológico, novos veículos informais vêem se propagando no ambiente interno das empresas, como é o caso da internet e da intranet, que por via de correios eletrônicos também são utilizados pela rádio- peão para proliferação de mensagens ou boatos de interesse pessoal ou profissional dos funcionários (EDMIR; LISBOA; GAMBOA, 2005). Vale ressaltar que: [...] A comunicação informal é uma poderosa ferramenta de trabalho, por vezes menosprezada. Se utilizada corretamente, muita informação valiosa poderá ser conseguida, relações interpessoais e o comprometimento com o trabalho serão intensificados e um ambiente de trabalho positivo será criado, Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 89 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro descendentes - de baixo para cima, ascendente - de cima para baixo - e horizontais - entre o mesmo nível hierárquico (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI JR., 1998). Através dessa forma de comunicação se transmitem as regras, ordens, valores e objetivos organizacionais. Está relacionada a assuntos restritamente profissionais e é transmitida por alguns veículos de comunicação interna como a intranet, memorandos, murais, jornais impressos, boletim informativo, e-mails oficiais, caixa de sugestões e reuniões periódicas (BISPO, 2010). Conforme Kunsch (2002) a comunicação informal, no entanto, foge dos canais formais utilizados pela organização, pois se expressa por meio do relacionamento social que as pessoas mantêm entre si no ambiente de trabalho. O autor relata que: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso o qual só servirá para fortalecer os laços de comunicação como um todo (WALKER, 2002, p.471). 3 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 3.1 Estrutura A Administração pública brasileira é formada pelos seus órgãos estatais, autarquias e outras entidades paraestatais que prestam seus serviços de forma direta ou indiretamente a todos os cidadãos brasileiros com o intuito de atender às necessidades deste público, pois a finalidade primordial do estado é zelar pelo bem-estar geral da população (FUHRER; MILARÉ, 2007). A forma como o governo se divide para cumprir seus fins, está nas suas três formas de poderes, que são: o executivo, legislativo e judiciário. Executivo – “É o órgão incumbido de executar as leis e administrar o país” (FUHRER; MILARÉ, 2007, p.79). Este poder é exercido por chefes de estado no âmbito federal, estadual e municipal (Presidente da República, governador e prefeito) que são eleitos democraticamente pela população para um mandato de quatro anos, podendo haver reeleição para o primeiro período imediato. Legislativo –“É o órgão incumbido de fazer as leis, pelas quais deve reger-se o país” (FUHRER; MILARÉ, 2007, p.82). Este poder é exercido por representantes do povo (deputados e vereadores) e por representantes do estado (senadores), também elegidos pela população para mandatos de quatro anos com direito a reeleições subsequentes. Judiciário - “É [...] o órgão incumbido de aplicar o Direito, dirimindo litígios e controvérsias trazidos a sua apreciação” (FUHRER; MILARÉ, 2007, p.82). É exercido pelos magistrados (juízes) selecionados em concurso público e mediante prova de títulos, salvo algumas referências do art. 94 da constituição Federal, em que menciona que um quinto dos cargos do judiciário serão preenchidos seguindo outros critérios lá explicitados. É no poder executivo que o governo gerencia toda a administração pública, a qual se divide em administração direta e indireta. Os outros poderes também podem praticar algum ato administrativo, mas sendo este prioridade do executivo. Administração direta – Diz respeito à prestação dos serviços diretamente pelo Estado, através dos seus órgãos federais, estaduais e municipais das suas três formas de poderes. Administração indireta – Compreende a realização dos serviços públicos por concessão, permissão ou autorização do estado para outras pessoas jurídicas, que podem ser de direito público ou de direito privado. A exemplo, temos as Conceito A 90 Recife n. 2 p.79-103 2011 Segundo a Constituição Federativa do Brasil em seu artigo 37, a administração pública tanto a direta como a indireta seguirá seus princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Pode-se enfatizar que a principal diferença entre a administração pública e a administração privada está no princípio da legalidade, pois “enquanto na administração particular é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza” (FREIRE; MOTTA, 2006, p.97). Portanto não cabe ao administrador público executar ações sem que essas estejam amparadas pela lei. 3.2 Serviço e servidor público Segundo Pinho e Nascimento (2004, 153) “Serviço público é todo aquele que o Estado presta à coletividade, no desempenho das suas funções próprias” Como já vimos, ele pode ser oferecido de forma direta ou indireta pela Administração pública e tem como principal objeto o interesse público. Os serviços públicos podem ser classificados em: a) Diretos, quando o Estado deve prestá-los diretamente, como a justiça, a tributação, a polícia; b) Concedidos, os que o Estado presta mediante concessão, permissão ou autorização, como o transporte coletivo, a iluminação pública, a coleta de lixo; c) Comuns do Estado e da iniciativa privada, que podem ser prestados, sem exclusividade, pelo Estado, como a saúde, a educação, a previdência e a assistência social (MELO, 2008, p.589, grifo nosso). Neste terceiro tópico sobre os serviços, o fato dos mesmos não serem exclusivos do Estado não tira dele o dever de prestá-lo a sociedade, pois na constituição Federal do Brasil (1988) é assegurado a todos o direito à educação, à saúde e a demais serviços que também podem ser fornecidos pela iniciativa privada. Os princípios que norteiam qualquer serviço público são os seguintes: Generalidade - o serviço deve ser oferecido ao público em geral, sem distinção; Uniformidade - o preço do serviço deve ser igual para todos; Continuidade - sua prestação deve ser constante, sem interrupções, atendendo a necessidades permanentes da comunidade; Regularidade - precisa manter o mesmo nível de qualidade e quantidade. (MORAES, 2006, p.63). Para a execução de todos os serviços do Estado são necessárias as pessoas que irão executá-los, essas pessoas são os servidores públicos, que são in- Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 91 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e entre outras organizações que compõem a administração indireta (PINHO; NASCIMENTO, 2004) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso cumbidos de exercer suas funções para atender à demanda da sociedade. [...] São servidores públicos, em sentido amplo, as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades de administração indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelo estado (FREIRE; MOTTA, 2006, p.103) Conforme esses autores os servidores podem ser estatutários, por serem regidos por um estatuto, Empregados públicos, por serem regidos pelas leis trabalhistas e temporários, por serem contratados por um determinado tempo. 3.3 Histórico do serviço público brasileiro A forma da administração brasileira passou por algumas mudanças estruturais para melhorar seus processos administrativos e o gerenciamento dos serviços prestados, passando pelo patrimonialismo, burocracia até o sistema gerencial dos dias de hoje. Na Administração pública patrimonialista, “o aparelho do estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real” (CHIAVENATO, 2006, p.120). Na época em que essa estrutura imperava, os cargos eram vistos como doações e tinham uma extensão vitalícia. Neste modelo “prevalecia o paternalismo e o nepotismo que empregava os inúteis letrados, na prática do bacharelismo, cujos critérios de seleção e provimento oscilavam entre o status, o parentesco e o favoritismo” (MOTTA; CALDAS, 1997, p.174). Foi dessa relação do Estado com os funcionários que se originou o termo servidor, pois estas pessoas passavam a vida toda “teoricamente” servindo o estado que os recompensavam com a sua proteção quando chegavam à inatividade, garantindo-lhes o recebimento dos seus proventos. Nesse regime não se distinguia a coisa pública da coisa privada, os bens do monarca e do estado se misturavam (BARROS, 2004; MOTTA; CALDAS, 1997). De acordo com Chiavenato (2006) a partir da segunda metade do século XIX, já no período republicano, em protesto a este regime e em defesa da res pública, que surgiu a administração burocrática; com toda a desconfiança no serviço público deixado pelo patrimonialismo, o regime burocrático implantado pelo presidente Getúlio Vargas teve como prioridade combater o nepotismo e a corrupção. Por isso esse sistema mantinha um controle mais rígido nos processos administrativos, desde a admissão de funcionários no quadro de pessoal a todos os procedimentos que envolvessem compras públicas e atendimento às demandas. Porém o excesso de protecionismo desse sistema com a coisa pública acabou por deixá-lo inviável. [...] Na medida, porém, que o Estado assumia a responsabilidade pela defesa dos direitos sociais e crescia em dimensão, foi-se percebendo que os custos dessa defesa podiam ser mais altos que os benefícios do controle (CHIAVENATO, 2006, p.119). Segundo o autor, outro fator importante no declínio desse sistema foi a inflexibilidade da sua estrutura que era incompatível com ambientes dinâmi- Conceito A 92 Recife n. 2 p.79-103 2011 Ainda conforme Chiavenato (2006), a administração pública também precisava se adequar a esses novos tempos, e para isso foram criados vários mecanismos para desburocratizar a máquina pública. Deu-se início à segunda reforma na administração pública brasileira a partir do final dos anos 60, adotando agora um sistema gerencial, em que o foco é priorizar a eficiência do serviço público que se encontrava em crise, preocupando-se em prestar serviços com melhor qualidade para a população que agora exigia esta postura do estado. Porém de acordo com o autor: [...] A administração pública gerencial constitui um avanço, e até um certo ponto, um rompimento com a administração pública burocrática. Isto não significa, entretanto, que negue todos os seus princípios. Pelo Contrário, a administração pública gerencial está apoiada na anterior, da qual conserva ,embora flexibilizando, alguns dos seus princípios fundamentais, como a admissão segundo rígidos critérios de mérito, a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, avaliação constante de desempenho, o treinamento sistêmico (CHIAVENATO, 2006, p.121). Portanto não houve um completo desligamento da Administração Gerencial com a Burocrática, visto que foram conservados alguns preceitos que até hoje vigoram na forma de administrar do governo, mas a principal diferença entre as duas está que a Administração Gerencial se volta muito mais para o atendimento às necessidades dos cidadãos que executa seu direito de democracia e interfere nas ações do governo, exigindo do estado serviços públicos de qualidade. O Estado agora deixa de voltar-se para si e passa a se voltar ao usuário como foco de todas as suas atividades (CHIAVENATO, 2006). 4 ENDOMARKETING E O SETOR PÚBLICO 4.1 Marketing no governo O marketing hoje não é mais visto como uma ferramenta voltada apenas para vendas e promoção de produtos. Atualmente se tem uma visão muito mais ampla da verdadeira atividade de marketing numa organização e também existem seguimentos de marketing, como o marketing social, institucional, ambiental e outros que podem ser seguidos de acordo com os interesses organizacionais de cada instituição seja ela pública ou privada (KOTLER, 2000). Um tipo de marketing muito utilizado pelo governo é o marketing social já que os seus fins são direcionados para o bem comum da sociedade. Kotler (2006, p.4) apresenta uma definição do marketing voltado à sociedade a qual diz que: “Marketing é um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com outros”. Como o marketing ressalta que existe uma troca entre as partes envolvidas, Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 93 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro cos, principalmente depois que fenômenos como a globalização e os avanços tecnológicos despontaram, quebrando antigos paradigmas em todo o mundo, especialmente nas estruturas organizacionais. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso pois “envolve a obtenção de um produto desejado de alguém oferecendo algo em troca” (KOTLER, 2006, p.5), é fato que existe essa troca na relação entre governo e cidadãos. Pois esses últimos pagam seus impostos, taxas e tributos em troca do produto do governo, que nesse contexto trata-se dos serviços públicos que são prestados à população. Portanto podemos definir os cidadãos como sendo os clientes do governo, levando em consideração essa relação de troca entre eles. No caso brasileiro se tem um alto custo pago por esses serviços, pois no Brasil se paga uma das maiores taxas tributárias do mundo, abocanhando uma média de 45,8% da renda dos brasileiros. Diante disso, os cidadãos brasileiros têm mais uma razão de reivindicar serviços de melhor qualidade e excelência no atendimento, já que pagam um alto valor por isto (PRYZYTK, 2010). Segundo Kotler (2000, p.45) [...] A principal meta da orientação de marketing é auxiliar organizações a atingir seus objetivos. No caso de empresas privadas, o objetivo maior é o lucro; no caso de organizações sem fins lucrativos e órgãos públicos, é sobreviver e atrair recursos suficientes para desempenar um trabalho útil. Por isso o governo utiliza-se de vários artifícios de marketing para desenvolver suas atividades, como por exemplo, propaganda para divulgação de algum programa governamental com um fim social ou ambiental ou para suprir uma necessidade do próprio governo, como anúncios para recrutamento de soldados para o exército a fim de manter a segurança nacional. Também se utiliza de estratégias de marketing para atrair investidores privados que possam formar parcerias para realização de serviços públicos ou para melhorar sua imagem governamental ou de algum órgão público e principalmente para atender e satisfazer às necessidades da população, que é o seu público alvo. Através disso tudo se percebe que o marketing já está inserido no meio governamental e já faz parte das ações cotidianas do governo. O Presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVBRS) Daniel Santoro (MARKETING..., 2011) defende que o marketing deve sim ser aplicado ao setor público, pois “com as ferramentas de marketing certas, as organizações governamentais podem atrair investimentos com mais facilidade e, além disso, mobilizar mais os cidadãos em torno de suas responsabilidades”. Para Santoro, o marketing pode ser um importante aliado para o desenvolvimento da sociedade civil, pois agrega valor ao serviço orientado para o cliente, que neste caso são os cidadãos, usuários do serviço público. Por falar nesta orientação para o cliente, a nova forma da Administração pública brasileira tem preceitos estreitamente relacionados com os preceitos do marketing já que o principal objetivo do mesmo é a satisfação dos clientes, pensamento este que fica claro no art. 12 do decreto nº 6.932, de 11 de agosto de 2009. O qual determina que: [...] Os órgãos e entidades do Poder Executivo Federal deverão aplicar periodicamente pesquisa de satisfação junto aos usuários de seus serviços e utilizar os resultados como subsídio relevante para reorientar e ajustar os serviços prestados, em especial no que se refere ao cumprimento dos compromissos e dos padrões de qualidade de atendimento divulgados na Carta de Serviços ao Cidadão (BRASIL, 2009). Conceito A 94 Recife n. 2 p.79-103 2011 Kotler e Lee (2008) enfatizam que a utilização das estratégias de marketing no setor público melhoram significativamente a eficiência e eficácia das operações do governo, garantindo uma melhor satisfação dos cidadãos e melhores resultados para administração pública. 4.2 Comunicação interna no setor público Os governos de um modo geral vêm investindo bastante para melhorar a comunicação com seu público externo, porém ainda despendem poucos esforços no tratamento da comunicação interna com seus servidores. Essa postura reflete que os gestores púbicos ainda não dão a necessária relevância à comunicação interna ser um importante fator para o relacionamento com os servidores e o bom andamento da máquina pública. Segundo Lara (2003 apud MENDRONA, 2007.p.3): [...] Como regra geral, os governos em todos os níveis ainda estão engatinhando no processo de comunicação com seus servidores. Os desafios costumam ser maiores do que na iniciativa privada. É fácil entender por quê. Uma prefeitura, por exemplo, atua em vários setores, como educação, saúde, limpeza urbana [...] Como fazer para que um funcionário da saúde saiba de iniciativas tomadas na educação, ou que um servidor da área de trânsito tome conhecimento de um novo investimento feito na limpeza urbana? Contar apenas com a publicação espontânea da imprensa ou com anúncios publicados nos jornais e tevês, certamente, não será suficiente. É por conta de tantos desafios para serem driblados que muitas vezes se encontra a ineficiência da comunicação dentro das organizações públicas. Como conseqüência há funcionários que não compreendem determinadas políticas ou regras estabelecidas pela organização. Muitos não sabem nem mesmo qual a missão organizacional e desconhecem totalmente as atividades dos outros setores. Na maioria das vezes, falta interação e transparência no processo comunicativo interno (CURVELHO, 2008). Uma pesquisa realizada no Ministério da justiça confirma este cenário, revelando a insatisfação dos servidores com a comunicação do referido órgão: [...] Em pergunta aberta, os entrevistados responderam que faltam na comunicação do Ministério: integração e interação entre as áreas, transparência nas informações e divulgação sistematizada das ações; conhecimento da missão, atribuições de competência da instituição; desenvolvimento de atividades que promovam a participação de todos os colaboradores; comprometimento e estímulo da alta gerência de forma contínua e compartilhada para que os funcionários se conheçam, suas idéias sejam ouvidas e respeitadas, podendo com isso virem a ter a percepção de pertencer a um grupo (TARGINO, 2008 apud CURVELHO, 2008, p.12). Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 95 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro A carta a que se refere este decreto estabelece vários critérios para os órgãos governamentais informarem os cidadãos sobre os serviços oferecidos por eles, desde a forma de acesso a esses serviços até o padrão de qualidade do atendimento, incluindo divulgação na rede mundial de computadores. Nessa hora entra outro conceito de marketing, que é a promoção um dos 4ps do marketing (produto, preço, praça e promoção), que visa comunicar ao público alvo a existência do produto ou serviço. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso O que se observa é a ausência em muitas organizações públicas de instrumentos de comunicação que possam facilitar as trocas entre elas e seus servidores, não generalizando, pois há casos em que a situação parece ser bem mais satisfatória. Como por exemplo, o governo Federal desenvolveu a ouvidoria do servidor através de um portal do Ministério do Planejamento na internet, buscando atribuir um canal ascendente, com os servidores federais que possibilitasse aos mesmos tirar dúvidas, dar sugestões e expor suas reclamações por intermédio de uma rápida interação com a administração pública (BRASIL, 2009). Para Batista (2007 apud MENDRONA, 2007.p.8) “Quando há um canal de comunicação ascendente, ou seja, do corpo de funcionários para seus superiores, podem surgir idéias para melhorar os serviços públicos.” É lamentável que essa iniciativa do governo federal em manter um canal aberto com os servidores não abranja com mais vigor outros níveis do governo, ficando essa preocupação com a comunicação interna mais restrita na esfera federal. 4.3 Endomarketing na gestão pública Atualmente observa-se que a tendência da Administração Pública é a busca por eficiência para obter melhores resultados e assim promover a satisfação dos cidadãos, que na visão do marketing trata-se do seu público-alvo, consumidores dos serviços públicos, assim como em qualquer outra empresa privada. Os próprios administradores públicos têm em um de seus deveres o da eficiência, pois “todo agente público tem o dever de realizar suas funções buscando sempre perfeição, presteza e o melhor rendimento funcional que esteja ao seu alcance” (MORAES, 2006, p.66). Hoje em dia o governo não se limita mais a apenas cumprir o que está nas leis, mas em conformidade com estas atender às necessidades da comunidade. Portanto, como o Endomarketing prega que para se ter a satisfação dos clientes externos é necessário primeiro satisfazer o público interno, pois uma coisa está diretamente ligada à outra (BISPO, 2008); algumas estratégias de Endomarketing podem ser perfeitamente aplicadas no setor público. Bekin (2004, p.6) afirma que: [...] Mesmo empresas estatais, de economia mista ou setores governamentais exercem papel de atender seu público, o cidadão contribuinte; conseqüentemente, em maior ou em menor grau, necessitam aplicar ações de Endomarketing. Os gestores públicos já estão reconhecendo a importância do papel dos servidores para o bom andamento e alcance dos objetivos da administração pública, pois sabem que “os resultados das atividades públicas são, em última análise, devido ao esforço e empenho dos servidores públicos na e para a administração pública. [...].” (OCDE, 2010, p.130). Por isso eles têm dado grande relevância ao desempenho, eficácia e eficiência dos funcionários públicos. O governo brasileiro vem apresentando bastante interesse no melhor Conceito A 96 Recife n. 2 p.79-103 2011 Assim como essa estratégia de gestão, o Endomarketing também pode ser muito útil para o serviço público, pois como ele é um programa que envolve todos os setores e funcionários da organização, é viável para administração pública utilizá-lo para envolver todas as suas diversas repartições e servidores em busca de objetivos em comum, porque não adianta envolver um ou dois setores dentro de uma empresa já que ela precisa de todos os seus membros para funcionar com eficiência. Não é difícil de encontrar profissionais acomodados e desmotivados na rotina do serviço público como na saúde e educação, por exemplo, pois do que vale ter médicos ou professores bem reconhecidos se as outras categorias como auxiliares, recepcionistas também não tem o devido reconhecimento por seu trabalho e esforço empenhado. Mesmo as categorias que não fazem parte da atividade fim da organização precisam de estímulos para se sentirem motivadas em dar o melhor de si para a instituição em que trabalham. Geralmente não é isso que ocorre na administração pública em sua grande proporção. Sabe-se que existem limitações que são impostas aos administradores públicos pela legislação no que tange a sua liberdade de gerenciamento, pois todas as suas ações têm de estar respaldadas nas leis. Qualquer programa de gestão que se queira implantar e exija orçamento do Estado precisa seguir os trâmites legais como determina o artigo 39 da constituição Federal, no seu 7ª parágrafo, o qual relata que: Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob forma de adicional ou prêmio de produtividade. (BRASIL, 1988). Devido à burocracia que existe no setor público, é mais difícil implantar programas como o Endomarketing para trabalhar com o público interno, o que não quer dizer que seja impossível. Já foi confirmado haver um aparato na lei que envolve a valorização do funcionário em reflexo da sua produtividade e desempenho, questões essas também abordadas pelo Endomarketing. No entanto sabe-se que a cronologia da administração pública é bem diferente da administração privada, enquanto na particular as coisas acontecem Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 97 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro gerenciamento da sua força de trabalho. Um estudo realizado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), sobre a gestão de recursos humanos no governo brasileiro, mostra que o Brasil já introduz mecanismos para valorizar e melhor aproveitar seus servidores. Uma das estratégias que o governo está implantando atualmente é a gestão por competências, modelo que surgiu no setor privado e que está sendo utilizado por muitos países que buscam modernizar as suas estruturas governamentais, priorizando a eficiência e a eficácia dos resultados (OCDE, 2010). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso em tempo real na pública ocorre num ritmo bem mais lento por causa da morosidade do sistema governamental e da própria legislação, a qual a administração precisa seguir rigorosamente, tornando assim os resultados mais demorados. Por isso o administrador público precisa ser paciente e saber utilizar toda sua habilidade para enquadrar suas ações em programas como esse do Endomarketing dentro das normas públicas e procurar meios de agilizar os processos para o alcance dos objetivos organizacionais. Todavia a relação da administração pública com o Endomarketing vem se intensificando a cada dia, pois já existe até mesmo premiação para essa categoria no setor judiciário, O Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça promovido pelo Fórum Nacional de Comunicação e Justiça (FNCJ), que em uma de suas categorias premia os projetos dos órgãos da área judicial que mais se destacam no tema de Endomarketing. Daí se vê a crescente aceitação dessa ferramenta na área pública (ACRE, 2011). 4.4 Estratégias de Endomarketing aplicáveis ao setor público São muitas as estratégias de Endomarketing que podem ser aplicadas ao setor público, desde as já citadas anteriormente, como Melhoria da comunicação interna; Democratização da distribuição da informação; Análise e melhoria do clima organizacional; Criação de estímulos para um processo de motivação de empregados; Avaliação de Desempenho e várias outras que possam ser agregadas com a finalidade de mobilizar o público interno. Através de exemplos em órgãos estatais evidenciaremos esse fato, como é o caso do Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC) que adotou um programa de Endomarketing a partir da adoção recente do seu primeiro planejamento estratégico. Esse visa modernizar e desenvolver a administração do órgão, o que acarretou mudanças na gestão de pessoas com vistas à valorização dos servidores e o reconhecimento dos seus papéis para servir a sociedade, por isso não poderiam deixar de fora ações de Endomarketing para comprometer os funcionários e atingir a essas metas (ACRE, 2011). Então, desenvolveu-se um projeto envolvendo o procurador geral de justiça (PGJ) e os demais funcionários, que recebeu o nome de Café com o PGJ, com o objetivo de melhorar a comunicação e o comprometimento entre os funcionários do órgão. Esse projeto se tornou um canal de comunicação direto entre o Procurador Geral de Justiça e os servidores, procurando diminuir a barreira hierárquica e estreitar o relacionamento interpessoal, visto que alguns funcionários de níveis inferiores nunca tiveram a oportunidade de ter esse acesso direto ao PGJ. Agora passam a se reunir quinzenalmente com o mesmo para exporem problemas, sugestões e idéias atendendo assim aos requisitos de melhorar a comunicação interna e o clima organizacional, já que o procurador juntamente com sua equipe ouvi a todos os questionamentos e procura rapidamente proporcionar um retorno aos servidores e agilizar as soluções. Esse projeto fez tanto sucesso que ganhou o terceiro lugar do Prêmio Nacional de Comunicação 2011, realizado em junho deste ano, na categoria de Endomarketing (ACRE, 2011). Conceito A 98 Recife n. 2 p.79-103 2011 [...] A importância da comunicação interna reside sobretudo nas possibilidades que ela oferece de estímulo ao diálogo e à troca de informações entre a gestão executiva e a base operacional, na busca da qualidade total dos produtos ou serviços e do cumprimento da missão de qualquer organização. Por essa razão, a maioria dos programas de Endomarketing terá sempre como uma das principais metas a melhoria da comunicação interna, pois essa é quem possibilita a interação entre os membros e a disseminação das idéias da organização para todos os níveis hierárquicos. Outra organização pública que teve sucesso na mobilização do seu público interno para atingir os interesses organizacionais com o foco no cliente foi a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), uma sociedade de economia mista cujo maior acionista é o estado de São Paulo. Trata-se de uma empresa de saneamento básico que atende a maior parte da população paulista. A SABESP implantou um novo modelo de gestão que tinha como princípios a simplificação, a descentralização e a desconcentração de sua estrutura organizacional. Depois de algum tempo dessa reestruturação, conseguiu o posto de “melhor prestadora de serviços públicos de saneamento da América Latina” (SIGOLLO, 2002, p. 299). Tudo isso graças à participação dos seus funcionários, que através do novo modelo de gestão adotado foram reconhecidos e valorizados o que fez com que se engajassem mais com os objetivos da empresa. Através disso a empresa mostrou sua capacidade de eficiência ao conseguir prestar serviços de qualidade ao cliente, gerando retorno aos acionistas e motivando seu público interno, tudo isso sem perder o foco da sua função social. Hoje os funcionários se sentem orgulhosos em trabalhar para empresa, que deixou de ser vista como uma estatal inchada e ineficiente (BEKIN, 2004). Todavia o Endomarketing não deve ficar restrito apenas à organizações judiciárias ou produtivas do setor público brasileiro, áreas como saúde e educação são bastante carentes de programas desse tipo para melhorar o atendimento à sociedade. Nessas, muitas vezes, os profissionais trabalham em condições precárias e sem nenhuma motivação. Muitas vezes a existência de ações do Endomarketing em organizações públicas, como também em privadas, é de cunho informal, por não haver um planejamento necessário para implantação das mesmas ou não as relacionarem essas ao termo de Endomarketing por falta de informações a respeito desse assunto. Por vezes, elas acabam não surtindo efeito, pois não são atreladas às estratégias da empresa para o alcance de objetivos (BEKIN, 2004). Conceito A Recife n. 2 p.79-103 2011 99 Endomarketing aplicado ao setor público brasileiro Nota-se que nesse caso, o principal enfoque foi o melhoramento da comunicação entre o alto escalão e o nível operacional, para a partir daí incrementar outras ações. Segundo Kunsh (2002, p.159, 160): Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a mudança estrutural na gestão do serviço público brasileiro, influenciada por pressões sociais e tendências mundiais, a administração pública se vê obrigada a adotar mecanismos que culminem na eficiência de suas ações para atender a uma sociedade muito mais exigente e consciente de seus direitos. A forma de atuação do governo agora é orientada para o cidadão, não mais para seus processos internos. A abordagem deste trabalho explica como o Endomarketing, uma estratégia que visa mobilizar o público interno em prol dos interesses organizacionais com o foco no cliente, pode auxiliar as organizações públicas a prestarem serviços de melhor qualidade, através do comprometimento dos servidores e sua satisfação com o trabalho. O Endomarketing preocupa-se primeiro com a satisfação dos funcionários, porque a partir desta se alcançará a do cliente, visto que as coisas acontecem através das pessoas e são elas que fazem a organização funcionar. Propôs-se fazer relações com o tema em questão na esfera pública e através disto foi constatado que o mesmo já é aplicado em algumas organizações públicas gerando resultados para elas, porém ficando mais restrito a algumas áreas. Vê-se, então, a necessidade de difusão dessa estratégia para outros setores e outros níveis do governo. Chegou-se a conclusão de que muitas das estratégias de Endomarketing podem ser aplicadas no setor público, devido a sua flexibilidade em se adequar à realidade de cada empresa sendo ela pública ou privada, de acordo com os objetivos de cada uma. REFERÊNCIAS ACRE. Ministério Público do Estado do Acre. Projeto do MPE é vencedor no Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça. 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São Paulo: Editora Gente, 2003. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE ADMINISTRAÇÃO RENATA GARCIA GOMES INTERNACIONALIZANDO A RISHON: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA PERNAMBUCANA RECIFE 2011 RENATA GARCIA GOMES INTERNACIONALIZANDO A RISHON: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA PERNAMBUCANA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Administração, da Faculdade São Miguel, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel. ORIENTADOR JOSEMAR MENDES ROCHA FILHO RECIFE 2011 RENATA GARCIA GOMES INTERNACIONALIZANDO A RISHON: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA PERNAMBUCANA Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito “A” em 16 de Março de 2012. Banca Examinadora ___________________________________________________ Epitácio Medeiros Silva ___________________________________________________ Valter Conceito A 104 Recife n. 2 p.104-137 2011 Agradeço a Faculdade São Miguel e seu corpo docente devido a toda a colaboração para a minha formação acadêmica, sempre buscando maneiras inovadoras de motivar o conhecimento. Agradeço aos meus pais que me apoiaram em todo o meu curso, colaborando para a minha formação acadêmica e pessoal, me incentivando nos momentos de sobrecarga, desgaste físico e mental. Agradeço ao meu orientador Josemar Mendes por sempre visar o melhor desempenho no desenvolver deste trabalho e desenvolver um papel fundamental na minha formação acadêmica. Agradeço a Rishon Cosméticos que abriu as portas e possibilitou que toda a pesquisa fosse realizada. Agradeço a Marcelle Sultanum, diretora da Rishon Cosméticos que permitiu que este trabalho fosse desenvolvido. RESUMO O presente trabalho aborda por meio de um estudo de caso, a importância da internacionalização de uma empresa cosmética pernambucana, a Rishon Perfumes e Cosméticos do Brasil Ltda. Foi feita uma pesquisa bibliográfica, utilizando fontes inerentes ao setor e ao mercado internacional, associadas a informações coletadas em campo. Levanta-se o surgimento do setor, sua comercialização internacional e nacional, citando pontos em que os produtos encontraram-se em alta e em desuso. Outro ponto levantado é uma visão quantitativa da comercialização do setor, que permite observar o valor monetário comercializado e sua influência. Após abordar o setor em que a empresa está inserida, a pesquisa é direcionada para a efetiva internacionalização da empresa, para isso, são levantados pontos favoráveis à exportação que motivam empresas a se inserir no mercado internacional, desse modo, é feita uma análise do setor direcionado para a comercialização internacional. Um breve histórico com marcos da empresa é levantado onde procedimentos básicos são sugeridos como registros inerentes. Tendo-se por base esses procedimentos, escolhe-se o mercado alvo e levantam-se as adequações específicas. O processo de internacionalização é trabalhoso, mas se bem planejado e executado, trará grandes benefícios à empresa. Palavras-chave: Exportação. Cosméticos. Projeto Primeira Exportação. Comércio Internacional. Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 105 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana AGRADECIMENTOS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................106 2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................108 2.1 HISTÓRICO DO COMERCIO INTERNACIONAL DE COSMÉTICOS ..........108 2.1.1 Surgimento dos Cosméticos .......................................................108 2.1.2 Evolução do Mercado de Cosméticos ............................................109 2.2 O COMÉRCIO DE COSMÉTICOS NO BRASIL .....................................109 2.2.1 Visão Quantitativa do Setor ........................................................110 2.3 A PROSPECÇÃO DO MERCADO INTERNACIONAL ..............................112 2.3.1 Fatores Incentivadores a Exportação ...........................................112 2.3.1.1 A diversificação de mercados ...................................................112 2.3.1.2 O aumento da produtividade ...................................................112 2.3.1.3 Melhora da qualidade do produto .............................................113 2.3.1.4 Diminuição da carga tributária .................................................113 2.3.1.5 Melhoria da empresa ..............................................................113 2.3.2 Analise SWOT do setor ..............................................................114 2.3.2.1 Potencialidades do setor .........................................................114 2.3.2.2 Fragilidades do setor ..............................................................114 2.3.2.3 Oportunidades para o setor .....................................................115 2.3.2.4 Ameaças para o setor .............................................................115 2.4 ESTUDO DE CASO - RISHON COSMÉTICOS .....................................115 2.4.1 Histórico da Empresa ................................................................116 2.4.2 Gestão da Qualidade .................................................................117 2.4.3 Internacionalização da Rishon ....................................................117 2.4.3.1 Conceito de Internacionalização ...............................................117 2.4.3.2 Projeto Primeira Exportação ....................................................118 2.4.4 Planejando a Exportação da Rishon .............................................119 2.4.4.1 Procedimentos básicos ............................................................119 2.4.4.1.1Habilitação no SISCOMEX ......................................................120 2.4.4.1.2 Alteração no contrato social ..................................................120 2.4.4.1.3 Pesquisa de mercado ...........................................................121 2.4.4.1.4 Aspectos técnicos ................................................................125 2.4.4.1.5 Outros procedimentos ..........................................................126 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................126 REFERÊNCIAS ...................................................................................127 APÊNDICE ........................................................................................129 ANEXO .............................................................................................136 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo identificar a importância da internacionalização da empresa Rishon Perfumes e Cosméticos do Brasil Ltda por meio de um estudo de caso, utilizando-se o trabalho de campo associado a pesqui- Conceito A 106 Recife n. 2 p.104-137 2011 A Rishon Cosméticos está há 25 anos no mercado interno, tendo iniciado suas atividades no Estado de Pernambuco. Hoje atua em 26 estados. No decorrer desses anos, ela expandiu seu mercado por meio de inovação, marca e qualidade, e devido a essa expansão nacional, a Rishon Cosméticos sentiu a necessidade de ampliar as fronteiras internacionais, procurando novos mercados para a inserção de seus produtos. Entender o mercado setorial, seu surgimento e como ele funciona é essencial para compreender a inserção da Rishon Cosméticos neste meio e a possibilidade dela em expandi-lo para o mercado internacional. Não há como assistir um noticiário ou ler um jornal e não encontrar informações sobre outros países relativas à sua economia, política, desastres, guerras civis, religiosas, em resumo, o que acontece no globo. O estudo das relações entre os países é algo cíclico e constante, pois há sempre novos fatores que influenciarão essas relações, tornando cada estudo recém terminado já incompleto. A realidade de hoje é bem diferente comparada à de um século atrás. No século passado os países não eram tão interdependentes, não havia essa relação multilateral tão intensa, nem troca de informações quase que imediatas, tecnologia, bens, alianças e tantos outros fatores. A integração entrou forte no período da segunda Guerra Mundial, quando os países formaram alianças militares e comerciais que ajudariam a suprir o país no período e no pós-guerra. Um país que não esteja inserido nesse processo de integração estará automaticamente excluído de todas as vantagens do mesmo, e marginalizado da economia mundial. Com a eliminação das barreiras que protegiam no passado a indústria nacional, a internacionalização é o caminho natural para que as empresas brasileiras se mantenham competitivas. Se as empresas brasileiras se dedicarem exclusivamente a produzir para o mercado interno, sofrerão a concorrência das empresas estrangeiras dentro do próprio País. Dificilmente, um país consegue produzir tudo que necessita com excelência a um baixo custo, mesmo que esse país seja referência mundial. Nem sempre consegue em sua plenitude os três fatores fundamentais para a produção: o capital, a mão de obra, e a matéria-prima, assim recorre-se a outros países para adquirir-se produtos os quais ele não produz ou não é tão competitivo. Além dos fatores financeiros, uma relação internacional pode ser iniciada por Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 107 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana sas bibliográficas. Foram elaborados questionários com perguntas fechadas para os funcionários operacionais. Ao resultado bibliográfico da pesquisa foi aplicado um tratamento qualitativo e ao resultado da pesquisa em campo foi aplicado um tratamento quantitativo. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso interesses políticos, religiosos e etc. Voltando a relação de troca internacional de mercadorias, este projeto abordará a pretensão de internacionalização da empresa Rishon Perfumes e Cosméticos do Brasil Ltda. Com esta breve introdução será iniciada uma pesquisa que busca analisar a pretensão da Rishon Cosméticos no mercado internacional e as vantagens que poderá desfrutar no mesmo. Serão vistas também algumas etapas básicas necessárias para fazê-lo, explorando os dados da empresa e associando com as teorias de mercado internacional em prática. As dificuldades no processo de internacionalização são evidentes, mas esta pesquisa visa acentuar a importância em detrimento dessas dificuldades que a empresa irá enfrentar, podendo servir de exemplo para empresas do mesmo setor, ou simplesmente para empresas que identificaram esse mesmo desejo de se inserir no mercado internacional. Serão explorados os fatores que qualificam a empresa Rishon para a internacionalização, assim como as mudanças já realizadas e as vantagens que ela poderá desfrutar no mercado internacional. 2 REFERECIAL TEÓRICO 2.1 HISTÓRICO DO COMERCIO INTERNACIONAL DE COSMÉTICOS Fatores setoriais são determinantes para cada mercado, por isso, é necessário entender suas características próprias, surgimento e evolução. 2.1.1 Surgimento dos Cosméticos Para entender a transação da Rishon numa empresa exportadora, é necessário primeiro uma abordagem sobre como surgiram os produtos cosméticos e como se iniciou sua comercialização. Em um estudo realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – (SEBRAE 2008a). O uso de cosméticos é conhecido há pelo menos 30 mil anos. Os povos primitivos tinham o hábito de pintar-se para fins ornamentais e religiosos. Mesmo muitos cosméticos tendo origem na Ásia, os primeiros registros de seu uso estão no Egito. Mais ou menos no ano de 180 D.C., um médico grego chamado Claudius Galen realizou sua própria pesquisa na manipulação de produtos cosméticos, iniciando, assim, a era dos produtos químico-farmacêuticos. Nesse decorrer do tempo, houve épocas em que os cosméticos eram associados à bruxaria, mas a partir do século XIX, já na Idade Contemporânea, os produtos desse gênero eram vistos com os seus reais propósitos e o culto a beleza firmou-se desde então. Conceito A 108 Recife n. 2 p.104-137 2011 2.1.2 Evolução do Mercado de Cosméticos Em um relatório da Euromonitor (apud SEBRAE 2008a), foi identificado que o mercado global de cosméticos sofreu uma mudança no perfil de consumo, aumentando o poder de compra, isso ocorreu devido ao crescimento mundial do poder de consumo dos mercados, o aumento da expectativa de vida da população mundial e maior interesse pela própria aparência e por cuidados pessoais, além do significativo ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Fatores externos como mudanças climáticas e no estilo de vida criam oportunidades para novos nichos de mercado. Restrições legais exercem um impacto positivo no setor, aumentando a confiança do consumidor e estabelecendo bases para o comércio internacional. Outros fatores que favoreceram este setor, segundo o relatório do Euromonitor (apud SEBRAE, 2008a) foram os avanços tecnológicos visando aumentar a eficácia do produto. Nos últimos anos, houve uma mudança nas participações mundiais no mercado global de cosméticos e produtos de higiene pessoal. Populações numerosas, o aumento na renda, a modernização no varejo e nas redes de distribuição, o crescimento da indústria, favoreceram regiões em desenvolvimento, como Europa Oriental, América Latina e Ásia. Produtos para cuidados com a pele e os cabelos constituem as principais categorias dentro do mercado global de cosméticos e produtos de higiene pessoal. Isto se explica pela maior preocupação em cuidar da pele, desde uso de protetores solares a cremes de tratamento para o rosto e outras partes do corpo, e pelo grande número de alternativas para cuidar do cabelo, xampus para cabelos encaracolados, tingidos, mistos, lisos etc. 2.2 O COMÉRCIO DE COSMÉTICOS NO BRASIL Saindo do macro para o micro, ou seja, do mercado mundial para o mercado brasileiro de cosméticos, é necessário compreender as características próprias inerentes do setor em que a empresa está inserida, sendo assim, os dados serão ordenados em forma de tabelas, gráficos e textos para explicar o comportamento do mercado. A Resolução RDC 211, de 14 de julho de 2005, da Agência Nacional de Vig- Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 109 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana Informalmente, donas de casa, começaram a fabricá-los em suas próprias residências e entre os ingredientes utilizados incluíam-se sopas, limonadas, leite, água de rosas, creme de pepino, e outros elementos que constituíam receitas exclusivas de cada família. Só no início do século XX que as indústrias de cosméticos surgiram, em função da necessidade de as mulheres comprarem produtos prontos, pois muitas delas já trabalhavam fora de casa. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ilância Sanitária (ANVISA), define produtos de higiene pessoal, perfumes e cosméticos (HPPC) como: (...) preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado. (ANVISA, 2005) Segundo Garcia (2005), ‘’a noção de cosméticos vincula-se com produtos destinados essencialmente à melhoria da aparência do consumidor’’. No mundo atual, cuidar do corpo deixou de ser considerada atividade supérflua e virou uma questão de saúde, que gera emprego, renda e divisas ao Brasil, além de elevar a autoestima. Os empresários que lidam com produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, têm como condição básica desenvolver um planejamento estratégico bem estruturado para assim traçar as mudanças necessárias. O país sofrerá mudanças neste e demais setores devido a três grandes fenômenos: - Redução da taxa de natalidade, diminuindo a diferença discrepante entre as faixas etárias; - Aumento da longevidade, estendendo o tempo produtivo de cada indivíduo e sua colaboração profissional; e - Preponderância das mulheres. Resumidamente, um país com menos crianças, mais idosos e com mulheres mais numerosas e influentes, de modo geral, essa é a cara do Brasil até 2020. (IBGE apud Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos - BIHPEC 2010/2011). 2.2.1 Visão Quantitativa do Setor Para uma melhor visualização deste comércio de cosméticos, pode-se observar o quadro 1, que foi resultado de pesquisa desenvolvida pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmético – ABIHPEC, que apresenta o faturamento da cadeia de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Quadro 1: Faturamento da cadeia de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Ano 2001 2002 2003 US$ bilhões 3,6 3,3 3,8 2004 2005 4,6 6,4 Conceito A 110 Recife n. 2 p.104-137 2011 O crescimento foi praticamente ininterrupto nestes últimos dez anos, mesmo com a crise em 2008/2009. Isto indica que estes bens não são mais bens de luxo, eles estão se tornando de necessidade com uma evolução rápida e forte. A presença crescente da mulher no mercado de trabalho impulsionou este setor, não que as mulheres sejam as únicas a utilizar essa categoria de produtos, os homens se tornam cada vez mais vaidosos, no entanto, o poder aquisitivo feminino mudou muito nesses últimos anos. Segundo o SEBRAE (2008a), vários outros fatores têm contribuído para crescimento do setor, entre eles: - Utilização de tecnologia de ponta que influenciou no aumento da produtividade, favorecendo os preços praticados; - Lançamentos constantes de novos produtos que atendem as necessidades do mercado; - Aumento da expectativa de vida, que favoreceu a busca por uma expressão mais jovial. No quadro 2 pode se fazer um acompanhamento no aumento em postos de trabalho da cadeia de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos: Quadro 2: Postos de trabalho da cadeia de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (mil empregos) SETOR 1994 2002 2003 2004 2005 2007 2008 2009 2010 Indústria 30,1 50,9 48,3 50,8 54,5 60,4 62,6 63,9 68 Franquia 11 23,8 24 25 26,7 28,9 30,3 31,8 34 Fonte: ABIHPEC apud MDIC, 2011. As indústrias de Cosméticos aumentaram seus postos de trabalho mais que o dobro comparando 2010 a 1994, nos anos relacionados na tabela só houve diminuição no ano de 2003. No quadro 3 observa-se a balança comercial da cadeia de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (US$ mil). Quadro 3: Balança Comercial da Cadeia de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (US$ milhares) Período 2000 2001 Conceito A Importação Cresc. US$ (%) 220.374 199.533 -9,5 Recife n. 2 Exportação Cresc. US$ (%) 184.748 191.510 3,7 Saldo US$ p.104-137 2011 -35.626 -8.022 111 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana 8,1 2006 10,1 2007 11,7 2008 12,6 2009 15,6 2010 Fonte: ABIHPEC apud Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, 2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Cresc. (%) 2000 - 2010 % média 2000 - 2010 152.284 150.279 156.830 211.658 294.568 373.440 465.794 456.178 696.487 -23,7 -1,3 4,4 35,0 39,2 26,8 24,7 -2,1 52,7 216,0 12,2 202.755 243.888 331.889 407.668 488.835 537.497 647.885 587.575 693.318 5,9 20,4 36,1 22,8 19,9 10,0 20,5 -9,3 18,0 275,3 14,1 50.471 93.610 175.059 196.010 194.268 164.057 182.090 131.398 -3.169 Fonte: ABIHPEC apud MDIC, 2011. Nos últimos 10 anos, as exportações brasileiras apresentaram um crescimento notório, em que apenas no ano da crise financeira, 2009, houve uma queda nesse crescimento. Em relação às importações, a partir de 2004, houve um crescimento positivo, excluindo o ano de 2009, que, assim como nas exportações, houve uma queda. Numa visão geral, o Brasil exporta mais que importa nesse setor, isso demonstra a força deste setor brasileiro no mercado mundial. 2.3 A PROSPECÇÃO DO MERCADO INTERNACIONAL 2.3.1 Fatores Incentivadores a Exportação Para uma empresa se aventurar no mercado externo, ela necessita visualizar fatores motivadores para tal mudança em sua estratégia, pois nenhuma empresa irá se aventurar num mercado desconhecido sem buscar algum benefício. Existem argumentos gerais, que servem para todas as empresas, sejam elas grandes ou pequenas, e outros fatores setoriais. Para os fatores genéricos, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em seu sistema de orientação a exportação (Aprendendo a Exportar - Por que Exporta), cita: 2.3.1.1 A diversificação de mercados A estratégia de destinar sua produção para o mercado interno e externo faz com que a empresa aumente sua carteira de clientes, correndo menos riscos, pois, não ficará dependendo de apenas um mercado. Outro fator é a eliminação da sazonalidade, por exemplo, no verão em que os cuidados com os cabelos aumentam devido as altas temperaturas e o forte ressecamento dos fios. 2.3.1.2 O aumento da produtividade Conceito A 112 Recife n. 2 p.104-137 2011 2.3.1.3 Melhora da qualidade do produto A empresa tem que adaptar seus produtos às exigências do mercado ao qual se destina, o que a obriga a aperfeiçoá-lo adquirindo tecnologia. Esse aperfeiçoamento acaba se estendendo ao mercado interno também, criando uma imagem mais valorizada perante seus consumidores. A interação com novos mercados propicia o acesso a novas tecnologias. 2.3.1.4 Diminuição da carga tributária As empresas que exportam podem utilizar mecanismos que contribuem para uma diminuição dos tributos que normalmente são devidos nas operações no mercado interno, eles são chamados de incentivos fiscais. (MDIC – Aprendendo a exportar – Por que Exportar) Os incentivos fiscais são benefícios destinados a eliminar os tributos incidentes sobre os produtos nas operações normais de mercado interno. Quando se trata de uma exportação, é importante que o produto possa alcançar o mercado internacional em condições de competir em preço e, por isso, ela pode compensar o recolhimento dos impostos internos: - IPI - Os produtos exportados não sofrem incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados; - ICMS - O Imposto Sobre circulação de Mercadorias e Serviços não incide sobre operações de exportações; - COFINS - As receitas decorrentes da exportação, na determinação da base de cálculo da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social são excluídas; - PIS - As receitas decorrentes da exportação são isentas da contribuição para o Programa de Integração Social; - IOF - As operações de câmbio vinculadas à exportação têm alíquota zero no Imposto sobre Operações Financeiras. 2.3.1.5 Melhoria da empresa Quando se inicia o processo de internacionalização da empresa, ela obtém Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 113 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana Ao exportar, a produção da empresa aumenta numérica e qualitativamente, o que é justificado devido à redução da capacidade ociosa existente, obtida por meio da revisão dos processos produtivos e maior número de pedidos. Aumentando a produção, aumenta também a capacidade de negociação para a compra de matéria-prima. Sendo assim, o custo da fabricação das mercadorias tende a diminuir, tornando-as mais competitivas e aumentando a margem de lucro. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso melhoras significativas, tanto dentro da empresa (novos padrões gerenciais, novas tecnologias, novas formas de gestão, qualificação da mão de obra, agregação de valor à marca) quanto fora, com a melhoria da imagem. Ao tornar-se uma empresa exportadora, a sua imagem muda, seu nome e a sua marca passam a ser uma referência em relação à concorrência, e ela passa a ser vista como uma empresa de produtos de qualidade. A empresa passa a gerar novos empregos, devido ao aumento da produção, e os funcionários passam a sentir orgulho de trabalhar em uma empresa que exporta seus produtos 2.3.2 Analise SWOT O planejamento estratégico envolverá a analise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats), que determina os pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças do setor, sendo estes analisados com antecedência. A partir da analise SWOT, será feita a seleção de mercados, com base em critérios de pesquisa de mercado, e daí será definido os mercados prioritários. (NUNES, 2008) Um levantamento do SEBRAE (2008b), foi feito para identificar esses pontos, são eles: 2.3.2.1 Potencialidades do setor - Os produtos naturais são percebidos pelo consumidor internacional como capazes de proporcionar efeitos benéficos à saúde; - O Brasil apresenta características especiais de flora e clima que potencializa sua biodiversidade; - Possibilidade de gerar e aumentar a oferta de empregos. (SEBRAE, 2008b) 2.3.2.2 Fragilidades do setor - O setor de cosméticos carece de tecnologia de ponta para inovar e diferenciar seus produtos; - Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor de cosméticos ainda são muito pequenos; - Apenas as grandes empresas brasileiras de cosméticos têm domínio sobre a biotecnologia e a nanotecnologia (essenciais para a inovação de produtos), pois envolvem investimentos expressivos; - A escassez de profissionais capacitados e as dificuldades de adequação dos processos produtivos às normas vigentes são entraves decisivos para micro e pequenas empresas do setor de cosméticos; Conceito A 114 Recife n. 2 p.104-137 2011 - Custo das embalagens afetando competitividade e adequação à legislação. (SEBRAE, 2008b) 2.3.2.3 Oportunidades para o setor - Os recursos proporcionados pela biodiversidade brasileira mal começaram a ser explorados; - Existe uma tendência cada vez maior pelo culto ao corpo, favorecendo a compra de produtos naturais e que não causem dano ao meio ambiente; - Parte do público masculino tornou-se consumidor de produtos cosméticos; - Aumento da renda na Classe C como um todo, oferecendo oportunidade para produtos naturais, desde que estes consigam chegar ao mercado com preços competitivos; - A Lei de Inovação, regulamentada no Brasil em outubro de 2005, e a Lei de biossegurança viabilizam fomento das atividades de pesquisa e desenvolvimento no setor privado e fortalecimento do sistema de ciência e tecnologia nacional; - O consumidor da classe A dá preferência por produtos feitos com matériaprima inofensiva, orgânica e natural. Produtos personalizados, com alta tecnologia, diversos benefícios agregados, que propiciem bem-estar e prazer, além da ação primária (ex.: hidratante corporal, com colágeno, filtro solar, clareador de manchas, apresentação travel size e, outra maior, para deixar em casa); produtos com design inovador e que apresentem glamour e luxo consciente, sem ostentação. (SEBRAE, 2008b) 2.3.2.4 Ameaças para o setor - Biodiversidade oferece oportunidade para lançamento de produtos que competem com os cosméticos à base produtos naturais; - Forte atuação de grandes players (investidores) na divulgação e comercialização de produtos naturais que utilizam outras matérias-primas; - Dificuldade e tempo para obter a aprovação do lançamento de novos produtos por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); - Grande presença de produtores informais no setor, que ficam fora de qualquer tipo de fiscalização sanitária ou fiscal. (SEBRAE, 2008b) 2.4 ESTUDO DE CASO - RISHON COSMÉTICOS Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 115 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana - Falta de recursos financeiros para investimento em comunicação e construção de marca; Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Há mais de 20 anos a Rishon Cosméticos, com total envolvimento e determinação, zela pela qualidade de seus produtos, assegurando sempre o melhor. A Rishon tem a preocupação de atender, continuamente, as expectativas de seus clientes usuais e potenciais. Para tanto, tem como seus processos-chave, a produção e a comercialização de seus produtos com qualidade, garantindo que os principais requisitos dos clientes são considerados, em todas as etapas do processo. Busca-se uma interação equilibrada entre os interesses dos acionistas, colaboradores, clientes e fornecedores, bem como dos governos e da sociedade. Missão: “Contribuir para o bem estar do ser humano promovendo a beleza exterior e a saúde interior através dos nossos produtos”. (RISHON COSMÉTICOS) 2.4.1 Histórico da Empresa A Rishon Cosméticos possui um website biligue onde apresenta a empresa, disponibiliza produtos, lançamentos, instruções de uso, fotos, vídeos e notícias relacionadas. Com base nele, observa-se um breve histórico da empresa, citando seu marcos. (RISHON COSMÉTICOS) 1986 - Em meio a um cenário conturbado que dominava o país, Jacques Sultanum criou a Rishon, procurando sempre se adequar às expectativas, cada vez mais exigentes, dos consumidores. 1995 - Nessa época, a atual diretora Marcelle, filha de Jacques, entra para universidade e começa a trabalhar com o pai. Determinada a aprender tudo, todos os detalhes, trabalhou em todos os setores da empresa: vendas, financeiro, cobrança e produção. Sentiu então a necessidade de projetar a empresa no mercado e criou o departamento de marketing, onde fazia promoções, eventos e reunia informações para que a empresa pudesse tomar sempre as melhores decisões. 1997 - Jacques Sultanum faleceu, mas a coragem, determinação e responsabilidade para fazer a Rishon uma empresa global ficaram. Muito se trabalhou para otimizar a empresa, reformular a linha e criar novos produtos, dinamizar as vendas, enxugar os custos e aumentar o faturamento, empregando sempre uma política agressiva, mas bastante cautelosa. 2002 - A Rishon é agora uma marca em ascensão utilizando-se de fibra, coragem e muita perseverança, contribuindo para o crescimento das pessoas e da empresa. 2005 - Começa uma nova era na Rishon. Seu quadro conta com profissionais cada vez mais capacitados e comprometidos. É inaugurado o instituto de Beleza Rishon, feito para desenvolver produtos cada vez melhores. Conceito A 116 Recife n. 2 p.104-137 2011 2010 - Apostando alto na internet, a Rishon tem participação ativa nas diversas mídias sociais e está presente em todo o Brasil através da sua loja virtual. Alinhado a isso, os constantes lançamentos de produtos com ativos modernos e importados mostram a filosofia da empresa de buscar sempre produtos de alta qualidade para satisfazer e melhorar a autoestima de nossos consumidores. 2.4.2 Gestão da Qualidade Assumindo um compromisso de qualidade para satisfazer e atender todas as necessidades de seus clientes, garante a qualidade dos produtos, os quais possuem ativos com a mais alta qualidade, garantida pelos melhores laboratórios, porque se acredita num sistema de parceria com quem compartilha da mesma preocupação e seriedade no trato com os clientes. A Rishon Cosméticos implementa e mantém o seu Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) e boas práticas de fabricação, utilizando como padrão normativo a ISO 9001:2000 e portaria 348 da ANVISA. O SGQ da Rishon é constituído de documentos normativos, que descrevem como a empresa o implementa, e de documentos comprobatórios (registros), que demonstram que o sistema está efetivamente implantado e que a qualidade necessária é atingida. O SGQ abrange todas as atividades relativas à qualidade dos produtos e serviços através da interação dos seus elementos. Através de auditorias internas a intervalos planejados, verifica se o SGQ está conforme com as disposições planejadas, com os requisitos da Norma ISO 9001:2000 e com os requisitos do SGQ estabelecidos pela Rishon, se está mantido e implementado eficazmente. Continuamente, a Rishon melhora a eficácia do SGQ por meio do uso da política da qualidade, objetivos da qualidade, resultados de auditorias, análise de dados, sugestões de colaboradores, ações corretivas e preventivas e análise crítica pela direção. Também possui como ferramenta da Qualidade o Programa “5 S”. (sensos de utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina) 2.4.3 Internacionalização da Rishon Para entender o processo de internacionalização da Rishon Cosméticos, é necessário entender o conceito de internacionalização. 2.4.3.1 Conceito de internacionalização Com a abertura comercial em 1990, promovida pelo até então presidente da República, Fernando Collor, as empresas nacionais se viram forçadas a Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 117 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana 2008 - Praticamente toda a linha de produtos da Rishon é agora sem sal. Os ativos estão cada vez mais modernos. Mensalmente um grande número de profissionais da beleza são treinados no instituto de beleza Rishon. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso modernizar-se e tornar-se competitivas em escala internacional, para ao menos, manter a participação no mercado interno. Segundo o Ministério das Relações Exteriores – MRE, (BRASIL, 2004 p.10) ‘’A internacionalização da empresa consiste em sua participação ativa nos mercados externos’’. Este conceito é bem geral, já que uma empresa pode se reestruturar para atender os padrões internacionais simplesmente para atender a demanda nacional, usar o padrão internacional como um diferencial para sua empresa. Para aquelas que de fato visam o mercado externo, em geral, o êxito e o bom desempenho na atividade exportadora são obtidos pelas empresas que se inseriram na atividade exportadora como resultado de um planejamento estratégico, direcionado para os mercados externos (BRASIL, 2004, p.11). A internacionalização leva ao desenvolvimento da empresa, pois a obriga a mesma a modernizar-se, seja para conquistar novos mercados, seja para preservar as suas posições no mercado interno. Neste sentido, o comércio exterior adquire cada vez mais importância para o empreendedor que queira realmente crescer, ou manter-se, auxiliando assim a economia brasileira, devido ao ingresso de divisas e geração de emprego e renda. (MDIC / APRENDENDO A EXPORTAR) 2.4.3.2 Projeto Primeira Exportação Para ajudar as micro e pequenas empresas a se internacionalizar, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, em atividade conjunta com os Governo dos Estados; SEBRAE; Banco do Brasil – BB; Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – Correios; Federações das Indústrias e Associações de Micro, Pequenas e Médias Empresas, por meio de treinamentos específicos e consultas facilitadas, seleciona Instituições de Ensino Superior, para alocar estudantes do ensino superior nas potenciais empresas exportadoras. Objetivo do projeto: Aumentar a base exportadora brasileira através da inclusão de pequenas e médias empresas no mercado internacional, por meio do acompanhamento sistematizado do processo de internacionalização das empresas. (PROJETO PEIMEIRA EXPORTAÇÃO) Em setembro de 2011 no Jornal do Comércio (GUARDA, 2011), foi publicado no caderno de economia o desenvolvimento do Projeto em Pernambuco. O programa, que começou com um piloto, em 2007, com empresas do Espírito Santo, Goiás e Rio Grande do Norte, em 2010 se estendeu por oito Estados: Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Santa Catarina, com participação de 102 empresas. A coordenadora geral de Desenvolvimento de Programas de Apoio às Conceito A 118 Recife n. 2 p.104-137 2011 Pequenas e médias empresas de Pernambuco se preparam para despontar no comércio internacional até setembro de 2012. Numa seleção com 32 empresas candidatas, apenas nove persistiram e vão exportar, entre elas estão empresas de alimentos, moda feminina, cosméticos, roupas profissionais, ração animal, calçados infantis e bijuterias. Ainda na matéria do Jornal do Comércio, houve um pequeno destaque para a empresária Marcelle Sultanum da Rishon Cosméticos, que conta que o desejo de exportar era antigo. “Até chegamos a vender sabonete líquido a granel para a Malásia, mas foi esporádico. Na verdade não exportamos, fomos comprados”, diz, fazendo autocrítica. Agora é diferente, a Rishon trilhou todo o caminho para se profissionalizar no mercado internacional. (GUARDA, 2011) 2.4.4 Planejando a Exportação da Rishon Existem alguns fatores que devem ser detalhadamente analisados para realizar um planejamento estratégico da internacionalização de forma sustentável e duradoura. Para as pesquisas na ferramenta web, o Radar Comercial, a nomenclaruta do Sistema Harmonizado – SH, que é comumente utilizada para os países participantes da Organização Mundial do Comércio (OMC) foi utilizada. Essa nomenclatura ajuda na classificação de mercadoreis, comunicação comercial padronização dos termos e etc. A sensibilização dos colaboradores é essencial para o aprimoramento da empresa. Para analisar esse fator, foi aplicado um questionário (APÊNDICE A) com 9 perguntas fechadas e uma aberta com os funcionários operacionais, produção, expedição, estoque, manipulação e laboratório. Os resultado desse questionário podem ser visto no (APÊNDICE B). 2.4.4.1 Procedimentos básicos São necessários alguns procedimentos para internacionalizar a empresa. É necessário habilitar a empresa nos órgãos intervenientes e identificar o mercado em que a empresa deseja se inserir, uma vez que cada mercado vai possuir exigências peculiares e próprias. Sem que essas etapas sejam rigorosamente efetuadas, não é possível desenvolver uma internacionalização sustentável e duradoura. Segundo o Ministério das Relações Exteriores – (BRASIL, 2004) deve-se considerar o fluxograma de exportação que envolve cinco etapas básicas: a) avaliação da capacidade exportadora; Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 119 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana Exportações da Secretaria de Comércio Exterior, vinculada ao MDIC, Cândida Cervieri, explica que a proposta da iniciativa é aumentar a base de empresas exportadoras, estimulando os pequenos e médios negócios. (GUARDA, 2011) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso b) pesquisa de mercado, identificar os possíveis mercados consumidores; c) preparação do produto, adequar processos e produtos; d) formação de preço para exportação, considerando os fatores inclusos e os exclusos em relação ao praticado internamente; e e) documentação inerente, como os de despacho, contrato de câmbio e demais. 2.4.4.1.1 Habilitação no SISCOMEX Um dos procedimentos brasileiros básicos para se inserir no mercado internacional é a obtenção do registro no Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX. Na ferramenta do MDIC de apoio as empresas, o SISCOMEX é citado como ‘’um instrumento informatizado, por meio do qual é exercido o controle governamental do comércio exterior brasileiro.’’ (MDIC – Aprendendo a Exportar - SISCOMEX) O Siscomex possibilita ao contribuinte possuidor de certificado digital e-CPF realizar todas as transações relativas a exportação, desde que autorizadas pelo perfil ou perfis do sistema em que esteja previamente habilitado junto à RFB. Uma vez habilitada, a empresa poderá executar atividades, restritas ao perfil em que esteja habilitado, relativas ao despacho aduaneiro de exportação, tais como: elaboração e registro do Registro de Exportação (RE); registro da Declaração de Despacho de Exportação (DDE) ou da Declaração Simplificada de Exportação (DSE); e, prestação de informações relativas à carga a ser exportada. Resumidamente, registrar e acompanhar as exportações, recebendo e enviando informações aos órgãos responsáveis e fiscalizadores. Estas informações contidas nos sistemas estão protegidas por sigilo, em que o acesso é monitorado e controlado. (RECEITA FEDERAL BRASILEIRA - RFB) O Siscomex promove a integração das atividades de todos os órgãos gestores do comércio exterior, inclusive o câmbio, permitindo o acompanhamento, orientação e controle das diversas etapas do processo exportador e importador. USUÁRIOS: Importadores, exportadores, transportadores, Receita Federal do Brasil - RFB, a Secretaria de Comércio Exterior - SECEX, os órgãos Anuentes (Ministérios, ANVISA e demais), as Secretarias de Fazenda, Banco Central do Brasil - BACEN e as instituições financeiras autorizadas a operar em câmbio e outros. (MDIC – APRENDENDO A EXPORTAR – SISCOMEX) 2.4.4.1.2 Alteração no contrato social Para regularizar a situação contratual da empresa, é necessário fazer uma alteração no contrato social da empresa, incluindo a atividade exportação. Esta etapa reforça a o item 2.3.1.4 , em relação à diminuição da carga Conceito A 120 Recife n. 2 p.104-137 2011 2.4.4.1.3 Pesquisa de mercado A pesquisa de mercado é um estudo que tem como objetivo determinar as perspectivas de venda do produto no mercado externo e indicar a maneira de se obter os melhores resultados. Busca revelar se o produto poderá ser vendido a um preço razoável e em quantidade satisfatória. Também permite analisar os mercados que oferecem melhores perspectivas, os padrões de qualidade exigidos pelo importador e o tempo necessário para se alcançar o nível ideal de vendas. O Governo oferece sistemas informatizados para essas pesquisas de mercado, as mais conhecidas e utilizadas são o Radar Comercial, que trata de comercializações internacionais de diversos países, exigências técnicas, tendências de mercado e outras ferramentas, nesse sistema o utilizador por definir seus filtros de pesquisa personalizando-as. Outro sistema bastante conhecido é o AliceWeb, que trata das comercializações brasileiras, tanto na exportação, importação e balança comercial. Tanto o Radar Comercial quanto o AliceWeb, são ferramentas as quais utilizam de dados oficiais fornecidos pela Receita Federal Brasileira. No quadro 6 encontram-se os países que mais comercializaram produtos do setor de higiene pessoal e cosméticos de 2008 – 2010 em milhares de dólares. Quadro 4: Principais países que comercializam produtos de higiene pessoal e cosméticos de 2008 – 2010 (US$ 1000 FOB) Importações totais do país País EUA Rein Unido França Rússia Canadá Japão Bélgica Austrália Irlanda Tailândia Malásia Portugal 2008 9.090.790 6.020.099 5.525.165 3.312.779 2.939.404 2.642.884 2.379.780 1.218.425 1.393.942 721.767 720.116 775.645 2009 7.907.862 5.475.917 4.915.829 2.845.465 2.911.855 2.672.74 2.232.352 1.253.865 1.138.981 716.933 712.426 739.937 2010 9.013.312 5.845.106 5.363.006 3.443.819 3.209.058 3.173.760 2.301.052 1.412.576 1.097.505 910.033 850.292 821.891 Exportações do Brasil para o país 2010 2008 2009 63.475 49.804 66.783 15.828 9.444 17.142 12.524 15.940 19.423 207 394 2.339 1.238 1.208 3.703 11.123 11.559 14.232 7.631 1.784 4.179 4.787 3.666 6.573 169 114 762 151 538 1.584 76 346 1.084 14.042 11.721 10.497 Fonte: Radar Comercial 2011. Boa parte dos países sofreu queda em 2009 nas importações deste setor, o que já era esperado devido à crise financeira de 2008/2009 que afetou a economia mundial freando o comércio internacional. Alguns outros países como Irlanda ainda apresentaram queda neste setor em 2010, mas 11 em 12 dos maiores movimentadores deste setor se recuperaram em 2010, Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 121 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana tributária, pois para obter o beneficio dos impostos, esta alteração se faz necessária. (MDIC. Aprendendo a Exportar – Fluxograma de Exportação) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso reafirmando a força deste setor. Dentre os países que mais importaram do Brasil estão: Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão e Portugal. Tanto para esses mercados quanto para os demais, o Brasil ainda tem uma capacidade de aumentar a representatividade, ganhando uma parcela maior no consumo de cosméticos daquele mercado. Para ter uma visão mais detalhada sobre que mercado escolher, devem-se observar fatores como o crescimento do mercado no país, o desempenho brasileiro no mesmo e sua participação no mercado mundial. Para isso, foi levantado no Sistema do Radar Comercial uma tabela sobre as tendências de mercado para o setor de higiene pessoal e cosméticos de 2008 – 2010. Quadro 5: Tendências de mercado para o setor de higiene pessoal e cosméticos de 2008 – 2010. País Estados Unidos R e i n o Unido França Rússia Canadá Japão Bélgica Austrália Irlanda Grécia Tailândia Portugal Dinamismo US$ mil FOB Desempenho Participação (%) 2008 2009 2010 Estável 8.590.634 Decrescente 8,252 7,414 8,152 Estável 5.766.236 Decrescente 2,058 1,406 2,093 Estável Dinâmico Dinâmico Dinâmico Estável Dinâmico Estável Estável Dinâmico Dinâmico 5.252.038 3.199.708 3.018.056 2.817.508 2.299.863 1.289.947 1.209.794 928.135 782.153 767.071 Crescente Crescente Crescente Crescente Decrescente Decrescente Crescente Crescente Crescente Decrescente 1,628 0,027 0,161 1,446 0,992 0,622 0,022 0,204 0,020 1,826 2,373 0,059 0,180 1,721 0,266 0,546 0,017 0,083 0,080 1,745 2,371 0,286 0,452 1,737 0,510 0,802 0,093 0,141 0,193 1,281 Fonte: Radar Comercial, 2011. É interessante que se procure países que se apresentem “dinâmicos”, pois significa que este setor está crescendo acima da média no país, a exemplo temos: Rússia, Canadá, Japão, Austrália, Tailândia e Portugal. Outro fator interessante seria o desempenho ‘’crescente’’, pois denota que o produto brasileiro tem penetração, tomando este fator em consideração temos: França, Rússia, Canadá, Japão, Irlanda, Grécia e Tailândia. Após verificar as tendências de mercado é necessário que se conheça os grandes países compradores de produtos de higiene pessoal e cosméticos de 2007 – 2009. Estes estão demonstrados no quadro 8 a seguir: Quadro 6: Importadores de produtos de higiene pessoal e cosméticos de Conceito A 122 Recife n. 2 p.104-137 2011 US$ mil – FOB País 2007 2008 8.603.079 Estados Unidos 7.327.534 Alemanha 6.027.394 6.601.890 Reino Unido 5.712.518 5.978.681 França 4.161.086 4.420.453 Espanha 3.349.611 3.582.831 Canadá 2.697.107 2.973.032 Itália 3.347.595 3.130.917 2.434.038 Holanda 2.753.414 Japão 2.036.915 2.281.900 3.179.529 3.724.641 Rússia Brasil 406.736 532.344 738.650 811.911 Portugal Fonte: Radar Comercial, 2011. 2009 7.362.465 5.086.039 4.769.978 3.421.398 3.019.035 2.965.051 2.608.169 2.488.923 2.318.900 2.164.557 553.769 511.192 2007 9,430% 7,757% 7,352% 5,355% 4,311% 3,471% 4,029% 3,132% 2,621% 4,092% 0,523% 0,951% Participação 2008 9,490% 7,283% 6,595% 4,876% 3,952% 3,280% 3,693% 3,037% 2,517% 4,109% 0,587% 0,896% 2009 9,889% 6,831% 6,407% 4,596% 4,055% 3,983% 3,503% 3,343% 3,115% 2,907% 0,744% 0,687% A participação dos principais importadores da Europa somados a participação dos Estados Unidos, totalizam 39,3% do comércio mundial, que demonstra uma concentração nesta comercialização. A crise financeira de 2008/2009 afetou as importações em 2009, diminuindo em valor para quase todos os países, exceto Brasil. Pode-se observar que é comum aos demais quadros referente as importações de cosméticos, a presença dos Estados Unidos da América, União Europeia e Japão. Estes mercados são responsáveis pela grande fatia movimentada pelo setor. No gráfico 1, que se refere a participação brasileira no setor, pode-se observar que ainda há uma grande fatia a ser tomada párea ganhar uma maior participação nesses mercados. Gráfico 1: Participação das Exportações Brasileiras no Setor de Higiene Pessoal e Cosméticos 2008 - 2010. Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 123 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana 2007 – 2009 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: Radar Comercial, 2011. O gráfico da página anterior apresenta a participação das exportações brasileiras neste setor. O ano de 2009, de forma geral, foi de oscilações. A Rishon Cosméticos direciona a maior parte de seus produtos para a linha capilar, sendo assim, é interessante que se observe estes produtos mais detalhadamente. No quadro 9 estão os 10 países com a maior participação para esses produtos em 2009. Quadro 7: Os 10 países com a maior participação para linha capilar em 2009 Países Mundo Estados Unidos Japão Brasil China Alemanha França US$ Bilhões (preço ao consumidor) 62,29 10,03 6,70 6,13 3,83 2,90 2,38 Conceito A 124 Crescimento % Recife -3,0 -3,6 6,4 -2,3 11,2 -5,0 -9,4 n. 2 Participação % 16,1 10,8 9,8 6,2 4,7 3,8 p.104-137 2011 3,3 2,9 2,8 2,7 63,0 O Mercado Brasileiro de produtos para cabelos movimentou US$ 6,13 bilhões no ano de 2009, atingindo a terceira colocação no ranking mundial, com participação de 9,8%, conforme dados do Euromonitor, que calcula os valores com base nos preços ao consumidor. (ABIHPEC, 2010/2011) Em um estudo desenvolvido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDS, o qual levanta um Panorama da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, foi levantado uma característica muito relevante quando se trata de exportação. O comércio internacional de produtos HPPC é amplamente dominado pelos países desenvolvidos, que praticam, em geral, níveis de tarifas bastante reduzidos, ou seja, não apresentam qualquer restrição de ordem tarifária ou comercial. (GARCIA e FURTADO, 2002 apud CAPANEMA, L.; VALASCO, L.; PALMEIRA FILHO, P.; NOGUTI, M., 2007 p. 138) Devido a essas tarifas baixas, esses mercados se tornam atraente. Com base em estudos prévios de mercado, Marcelle Sultanum, decidiu exportar para Portugal num primeiro momento pela facilidade da língua e pela aceitação dos cosméticos brasileiros na Europa. “O Brasil está na moda lá fora. Nossos cosméticos têm um mercado gigante para atender. E não vamos concorrer com empresas portuguesas, vamos disputar com outras brasileiras que também estão por lá”, afirma. A empresária optou por oferecer lá fora um produto que as companhias locais não fabricam: o kit de escova progressiva Sleek, da Tutanat. (GUARDA, 2011) 2.4.4.1.4 Aspectos Técnicos O Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial INMETRO é um dos órgãos intervenientes que disponibilizam informações sobre barreiras técnicas, segundo ele, o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) tem como objetivo garantir as normas, regulamentos técnicos e procedimentos de avaliação da conformidade elaborados por países-membros da Organização Mundial do Comércio. (INMETRO – Barreiras técnicas) O Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) tem como objetivo garantir as medidas sanitárias e fitossanitárias, elaborados por paísesmembros da Organização Mundial do Comércio. (INMETRO – Barreiras técnicas) Para cada mercado, existirá barreiras técnicas a serem seguidas, principalmente falando-se de produtos que tem contato direto com o ser humano, como os Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 125 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana 2,07 -14,5 Reino Unido 1,81 -17,3 Itália 1,75 -8,7 Rússia 1,67 -12,1 México 39,26 -3,1 Top Ten Fonte: Euromonitor apud ABIHPEC 2010/2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso produtos cosméticos. De modo geral, os maiores importadores mundiais de cosméticos, visto no item 2.4.4.1.3, são mercados desenvolvidos, o que denota uma verificação técnica mais rígida. A direção estratégica da Rishon escolheu Portugal como seu primeiro mercado destino, e procure um bom parceiro, conhecedor de todos os tramites legais e técnicos, pois uma vez regularizado dentro do bloco, o produto pode circular pelos demais. De acordo com o Manual de Regulamentação Técnica de Produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmético para a Exportação do SEBRAE (2007) é necessário: a elaboração das formulações iniciais, testes de funcionalidade do produto, estudo de estabilidade, verificação dos custos envolvidos (embalagem, cartucho, fabricação, produto etc.), geração de uma tecnologia e/ou produto passível de patente, definição das especificações do produto, controle de qualidade para os processos de fabricação, possíveis interações entre os ingredientes do produto, possíveis interações entre a formulação e a embalagem, definição de análises físico-químicas e microbiológicas, descrição dos ingredientes de acordo com International Nomenclature of Cosmetic Ingredients - INCI, dossiê dos produtos (rastreabilidade), teste de eficácia do produto, realização dos testes de segurança, definição da rotulagem e material de divulgação, promoção, publicidade (benefícios, advertências, modo de uso etc.), adequação dos dizeres legais no idioma dos países de destino, realização de teste de mercado se for o caso, regularização no Ministério de Saúde ou órgãos equivalentes em todos os países onde será comercializado. (SEBRAE, 2007) 2.4.4.1.5 Outros Procedimentos Definir a INCOTERM (International Commercial Terms) Termos de Vendas Internacionais; Elaborar uma tabela de preços de exportação, que utiliza o preço interno – tributos – despesas internas + despesas externas; e Determinar modalidade de pagamento, antecipada, remessa direta de documentos, carta de crédito e cobrança. (MDIC. Aprendendo a Exportar – Fluxograma de Exportação) 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS É imprescindível que toda e qualquer empresa que pretenda ingressar em um novo mercado, seja ele o mercado internacional ou mesmo um mercado local, realise um estudo, avaliando se o mesmo tem capacidade de absorver seus produtos, se os produtos estão adequados para aquele mercado ou se necessitará de alterações, formular uma estratégia de venda, e outros fatores fundamentais para que essa inserção neste novo mercado seja feita de uma forma viável e que possa ser contínua. Conceito A 126 Recife n. 2 p.104-137 2011 Após a primeira exportação, a empresa deve considerar esta atividade como algo continuo, uma parcela de sua produção deve ser sistematicamente destinada ao mercado externo. Um aspecto que deve ser sempre observado é qualidade e diferenciação do produto e marca, uma vez que sempre haverá diversas empresas concorrentes, não só brasileiras, tentando tomar essa fatia de mercado internacional com as empresas estrangeiras. Em relação a incentivos governamentais, a empresa deve saber utilizar plenamente os mecanismos fiscais e financeiros colocados à sua disposição, a fim de aumentar o grau de competitividade de seus produtos. Todas as comunicações recebidas de importadores externos devem ser respondidas, mesmo que, em um determinado momento, o exportador não tenha interesse ou condições de atender aos pedidos recebidos, o bom diálogo com os importadores, tanto efetivos como potenciais, prepara o campo para vendas futuras. REFERÊNCIAS ABIHPEC, SEBRE e ABDI. II Caderno de Tendências, Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. 2010/2011. Disponível em: <http://www.sebrae. com.br/setor/cosmeticos/o-setor/mercado/cenario/Caderno%20de%20 Tendecias.pdf>. Acesso em: 20 de Setembro de 2011. AGÊNCIA DE VIGILANCIA SANITÁRIA – ANVISA. Cosméticos - Legislação Específica da Área. 2005. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/ cosmeticos/legis/especifica_registro.htm>. Acesso em: 28 de Outubro de 2011. BRASIL, Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Programa de Promoção Comercial. Exportação Passo a Passo / Ministérios das Relações Exteriores. Brasília: MRE, 2004. CAPANEMA, L.; VALASCO, L.; PALMEIRA FILHO, P.; NOGUTI, M. Panorama da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. 2007. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/ Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set2505.pdf> Acesso em: 20 de Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 127 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana Desejando inserir-se no mercado internacional, saindo da posição confortável que o mercado interno propicia, a Rishon necessitará investir nas alterações do seu sistema produtivo, investimento em treinamento, captar um representante conhecedor dos tramites burocráticos do processo e realizar as possíveis alterações físicas das instalações. Esses fatores serão revistos pela empresa e analisados para essa nova fase, pois o mercado internacional possui requisitos diferentes e mais exigentes. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Novembro de 2011. GARCIA, Renato. Internacionalização comercial e produtiva na indústria de cosméticos: desafios competitivos para empresas brasileiras. Prod. [online] 2005, v. 15, n. 2, pp. 158-171. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0103-65132005000200003&lng=pt&nrm=iso &tlng=pt>. Acesso em: 08 de dezembro de 2011. GUARDA, Adriana. O Desafio de Ganhar o Mercado Externo. Jornal do Comércio. Pernambuco, 11 set. 2011. Economia. Disponível em: <http:// jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/pernambuco/noticia/2011/09/11/ o-desafio-de-ganhar-o-mercado-externo-15588.php> . Acesso em: 14 de Outubro de 2011. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMATIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL - INMETRO. Barreiras Técnicas. Disponível em: <http://www. inmetro.gov.br/barreirastecnicas/exigencias/cosmeticos/index.asp> Acesso em 15 de Setembro de 2011. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Fórum da Cadeia de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=2&menu=3256> Acesso em: 12 de Agosto de 2011. ________. Aprendendo a Exportar – Por que Exportar?. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/conteudo/ id/1>. Acesso em: 22 de Novembro de 2011. _________. Aprendendo a Exportar – Fluxograma de Exportação. Disponível em: <http://www.aprendendoaexportar.gov.br/sitio/paginas/simuladores/ fluxograma/index.html>. Acesso em: 14 de Novembro de 2011. _____________Aprendendo a Exportar – SISCOMEX. Disponível em: <http://www.aprendendoaexportar.gov.br/sitio/paginas/comExportar/ sisHabCadastro.html>. Acesso em 08 de Agosto de 2011. NUNES, Paulo. Conceito de Análise SWOT. 04 jun. 2008. Disponível em: <http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/analiseswot.htm>. Acesso em: 10 de Dezembro de 2011. PROJETO PRIMEIRA EXPORTAÇÃO. Disponível em: <http://www. primeiraexportacao.mdic.gov.br/>. Acesso em: 25 de Julho de 2011. RADAR COMERCIAL. Análises de Mercados e Produtos. Disponível em: <http://radar.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 08 de Agosto de 2011. RECEITA FEDERAL. 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APÊNDICE APÊNDICE A - Questionário 1. Como você se sentiria sabendo que sua empresa estaria entrando no mercado internacional? ( ) Orgulhoso ( ) Indiferente ( ) Insatisfeito 2. Sabendo que sua empresa busca novos rumos internacionais, você buscaria melhorias em sua formação técnica, direcionada para o comércio exterior? ( ) Sim ( ) Não 3. Você se sente mais estimulado em trabalhar em uma empresa que vai entrar no mercado internacional? ( ) Sim ( ) Não 4. Você acha que a Rishon exportando irá lhe beneficiar em algo? ( ) Sim ( ) Não 5. Qual o grau de importância da Rishon exportar? ( ) Muito importante ( importante Conceito A Recife )Importante ( n. 2 ) Pouco importante ( p.104-137 ) Não é 2011 129 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana RISHON COSMÉTICOS. Rishon Cosméticos a empresa que mais e melhor cuida dos cabelos das brasileiras. Disponível em: <http://www.rishoncosmeticos. com.br/>. Acesso em: 05 de Agosto de 2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 6. Você como colaborador da Rishon se sentiria orgulhoso dela estar exportando? ( ) Sim ( ) Não 7. Você sentiu alguma mudança nesse processo da Rishon tentando exportar? ( ) Sim ( ) Não 8. Você já conhecia essa vontade da empresa de exportar? ( ) Sim ( ) Não 9. Você se sente preparado para essa nova fase, ou necessita de treinamento? ( ) Necessito de treinamento ( ) Estou preparado 10. Que sugestões ou opiniões você daria ao seu superior sobre essa oportunidade para o mercado internacional? _________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ APÊNDICE B – Resultado dos Questionários A Rishon possui 50 funcionários no total, desse total foram divididos em dois grupos básicos, escritório e operacional. A aplicação do questionário (APÊNDICE A) foi no grupo de funcionários operacionais, que inclui a produção, manipulação, expedição, estoque e laboratório. Foi realizado em 10 de novembro de 2011, totalizando 27 dos 31 funcionários operacionais. 1. Como você se sentiria sabendo que sua empresa estaria entrando no mercado internacional? Conceito A 130 Recife n. 2 p.104-137 2011 A grande maioria dos entrevistados respondeu que se sentiria orgulhoso da Rishon entrar no mercado internacional, esse fator pode servir de incentivo ao trabalho e apego dos funcionários a organização, contribuindo para um maior rendimento. 2. Sabendo que sua empresa busca novos rumos internacionais, você buscaria melhorias em sua formação técnica, direcionada para o comércio exterior? Fonte: Elaboração própria. Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 131 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana Fonte: Elaboração própria. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso O interesse em manter-se atualizado em seu trabalho e função para desempenha-lo da melhor maneira possível foi unanime para todos os entrevistados, pois estes demonstraram interesse em desenvolver ou aperfeisuar a formação técnica para contribuir para a nova fase da empresa. 3. Você se sente mais estimulado em trabalhar em uma empresa que vai entrar no mercado internacional? Fonte: Elaboração própria. 93% dos entrevistados sentem se mais estimulados a trabalhar na Rishon agora que ela vai entrar no mercado internacional. 4. Você acha que a Rishon exportando irá lhe beneficiar em algo? Fonte: Elaboração própria. 81% do grupo em questão acredita que a Rishon exportando trará beneficios Conceito A 132 Recife n. 2 p.104-137 2011 5. Qual o grau de importância da Rishon exportar? Fonte: Elaboração própria. Nenhum dos funcionários entrevistados acha irrelevante a empresa exportar, isso demonstra que mesmo que divirjam no grau de importância, muito importante 55%, importante 41% e pouco importante 4%, todos acham que é importante essa nova busca pelo mercado internacional. 6. Você como colaborador da Rishon se sentiria orgulhoso dela estar exportando? Fonte: Elaboração própria. Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 133 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana próprios. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Dos entrevistados, 93% responderam que ficariam orgulhosos, isso denota que empresas exportadoras são mais bem vistas por seus funcionários que empresas que atuem apenas no mercado interno sejam elas grandes ou pequena. 7. Você sentiu alguma mudança nesse processo da Rishon tentando exportar? Fonte: Elaboração própria. Para este quesito, 65% respondeu que sentiu mudanças no processo de internacionalização da empresa, contudo este valor deveria ser o mais próximo de 100%, que demonstraria a total disseminação do processo exportador na empresa. 8. Você já conhecia essa vontade da empresa de exportar? Fonte: Elaboração própria. Conceito A 134 Recife n. 2 p.104-137 2011 9. Você se sente preparado para essa nova fase, ou necessita de treinamento? Fonte: Elaboração própria. É positivo observar que a maioria dos entrevistados sente que necessitará de um novo treinamento, isso demonstra um interesse em aprimorar suas técnicas para atender não só o mercado interno, mas também o mercado internacional, que para o nicho que os produtos que a Rishon deseja exportar, é um nicho mais seleto e rígido. 1. Que sugestões ou opiniões você daria ao seu superior sobre essa oportunidade para o mercado internacional? - Que os superiores cobrassem mais dos funcionários, mas também saber reclamar aqueles que merecem. - Que siga em frente - Distribuiria dados importantes sobre os produtos dizendo como ele é feito, envasado, rotulado, embalados e armazenados. Dando a impressão de transparência dos nossos produtos. - Sempre segui em frente, mas não esquecendo se estimular os funcionários, porque uma empresa só cresce se os funcionários crescerem juntos. Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 135 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana A intensão de exportar não era conhecida por todos os funcionários, ficando quase meio a meio, este sentimento. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso - Colocaria amostra grátis de cremes mais consumidos para aumentar as vendas - A organização dos processos produtivos, e apresentar novidades para cumprir esse objetivo, para valorizarem o trabalho de nossa empresa. - Valorizar os funcionários, dando as ferramentas necessárias para trabalho. - Ampliação do estoque (espaço) iluminação mais ferramentas de trabalho e se focar mais na logística. - Essa é uma boa oportunidade para a Rishon, pois podemos crescer juntos e todas as perguntas do questionário foram ótimas. - Que aproveitem esta grande oportunidade sem esquecer de beneficiar os empregados. - Eu acho muito bom entrar no mercado internacional porque pode melhorar para a empresa em vendas e melhorar para os funcionários em melhoria de salários e treinamentos mais avançados. Para a formação de muitos que ainda não estão preparados para essa experiência. - Comprometimento com a qualidade, para não ter problemas com o mercado exterior. - O mercado internacional é muito rigoroso, temos que estar com o controle de qualidade rigorosamente em dia. - Trabalhar com o objetivo de cada vez, e melhorar a nossa qualidade. - Contratar, qualificar mais pessoas para dar suporte às demandas dos produtos. - Preparação de funcionários é o primeiro passo a ser dado nessa ‘’escalada.’’ - A minha opinião é que eles sigam em frente, e vá fazendo o que Deus vai traçando em seus corações. Para que a empresa venha crescer mais e mais em nome de Jesus. Sempre mostrando as qualidades dos nossos produtos. ANEXO ANEXO A - Ata de Orientação de TCC Conceito A 136 Recife n. 2 p.104-137 2011 _Renata Garcia Gomes____________________________________________ 2. Título do TCC: _Internacionalizando a Rishon: Estudo de Caso de uma Empresa Pernambucana___________________________________________________ 3. Linha de Pesquisa (consultar as linhas estabelecidas pela coordenação): _Comércio Exterior________________________________________________ 4. Professor Orientador: _Josemar Mendes Rocha Filho______________________________________ 5. Período da orientação: Início:_02_/_08_/_11__. Término:_22_/_12_/_11_. 6. Comentário do professor orientador: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Recife, _22_/_12_/_11__ Autorizo a entrega deste TCC por mim revisado. _____________________________________ Conceito A Recife n. 2 p.104-137 2011 137 Internacionalizando a Rishon: estudo de caso de uma empresa pernambucana 1. Nome do Aluno: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso FACULDADE SÃO MIGUEL CURSO DE ADMINISTRAÇÃO ALCIONE MARIA BARBOSA A COMUNICAÇÃO FORMAL INTERNA E MUDANÇAS EMPRESARIAIS: UM ESTUDO DE CASO DA JUCEPE (JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO) RECIFE 2011 A COMUNICAÇÃO FORMAL INTERNA E MUDANÇAS EMPRESARIAIS: UM ESTUDO DE CASO DA JUCEPE (JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO) Orientadora: EURÍDICE MARIA GONÇALVES DO COUTO Trabalho de Conclusão de Curso de Administração em Marketing apresentado como parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de Administração em Marketing, à Faculdade São Miguel. Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito A em 16/02/2012 Banca Examinadora ___________________________________________________ Luis Carlos Carvalho – Faculdade São Miguel ___________________________________________________ (nome do(a) examinador(a) Conceito A 138 Recife n. 2 p.138-181 2011 Agradeço primeiramente ao meu Deus, por me dotar e proporcionar a graça, o livre-arbítrio e inteligência, que são elementos capazes de levar o indivíduo a patamares mais altos na evolução do saber. À professora Eurídice Gonçalves do Couto, pela orientação segura, pela confiança depositada e pelo incentivo. Ao meu esposo, pela força, investimento e o incentivo de entrar na Faculdade e me tornar uma administradora. A meus pais, Neuza e Antônio, pela formação e educação recebida ao longo de minha vida, pelo suporte e amor incondicional, sempre. A meu irmão, por ter orado continuamente, pela benção do senhor em meu aprendizado e nos resultados de minhas avaliações. Aos amigos, Flávio Valença, Tony Lins e Leandro Ferreira, que se empenharam a me ensinar a desenvolver as figuras contidas neste trabalho. Aos meus amigos, pelas intuições necessárias nos momentos precisos. E por fim, a todos que fazem parte da JUCEPE, que me apoiaram e me ajudaram nas etapas necessárias para a construção deste estudo de caso. E em especial a toda equipe de TI da Junta Comercial do Estado de Pernambuco, que me ensinaram e aprenderam comigo, sobre a verdadeira Comunicação Interna. RESUMO A comunicação é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento de qualquer organização. O departamento de Comunicação Interna na empresa é tão importante quanto qualquer outro departamento. É através do departamento de comunicação que serão circuladas as mensagens referentes aos assuntos internos da empresa. Para que essas mensagens sejam entendidas por todo o grupo de funcionários é necessário o uso de ferramentas adequadas para cada perfil, já traçados previamente pelo setor de comunicação. Para uma organização possuir uma imagem positiva é necessário que valorize, primeiramente, a comunicação com o seu público interno, ou seja, seus colaboradores. Por meio da comunicação interna, é possível estabelecer meios comunicacionais que possibilitam o relacionamento eficaz desde a direção da organização até os funcionários operacionais. Para que um departamento de comunicação interna exerça seu papel com pleno aproveitamento é necessário a utilização das diversas ferramentas disponíveis para que a comunicação seja desempenhada com êxito. Entre as ferramentas estão: jornal impresso, internet, mural dentre outros. Desta forma, o trabalho visa demonstrar os veículos de comunicação formais que são utilizados pela JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) deixando claro que, quando o processo de comunicação é bem aplicado, leva a organização a excelentes resultados. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 139 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) AGRADECIMENTOS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Palavras-chave Comunicação interna, Comunicação organizacional, Ferramentas comunicacionais. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...............................................................................141 2 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL..................................................141 2.1 Uma Abordagem Sobre Comunicação Interna.................................141 3 UM MODELO DE COMUNICAÇÃO......................................................149 3.1 Tipos de Comunicação.................................................................151 3.2 Estilos de Comunicação...............................................................152 3.3 Fluxos de Comunicação...............................................................153 3.4 Fluxo Descendente.....................................................................153 3.5 Fluxo Ascendente.......................................................................154 3.6 Fluxo Lateral..............................................................................154 3.7 Fluxo Diagonal...........................................................................154 4.COMUNICAÇÃO INTERNA...............................................................154 4.1 Gestão estratégica da comunicação interna...................................156 5.VEÍCULOS DA COMUNICAÇÃO INTERNA...........................................157 5.1 Jornal Impresso.........................................................................158 5.2 Internet....................................................................................159 5.3 Mural........................................................................................159 5.4 Reuniões..................................................................................160 5.5 E-mail......................................................................................161 6 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO INTERNA NO ÓRGÃO PÚBLICO.....161 7 ESTUDO DE CASO........................................................................161 7.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICA DA JUCEPE...................................162 7.2 O Público Interno da JUCEPE........................................................164 7.3 Situação da Comunicação Interna da JUCEPE.................................166 7.4 Quadros de Avisos para o Público Interno.....................................170 7.5 Percepção dos Servidores e Colaboradores Sobre a Comunicação Interna.................................................................................................171 7.6 Panorama do Diagnóstico............................................................171 8 RESULTADO DA PESQUISA.............................................................173 8.1 Análise do Caso Estudado............................................................173 8.2 Procedimentos da Coleta de Dados..............................................173 8.3 Identificação de Novos Veículos e Ferramentas de Comunicação.......173 8.3.1Fórum de Assessores de Comunicação.........................................173 8.4 Rádio Servidor............................................................................174 8.5 Ouvidoria Interna.......................................................................174 8.6 Cursos de Capacitação................................................................175 8.7 Revisão de Estilo dos Atos Normativos da JUCEPE...........................175 8.8 Normatização da Extração dos Indicadores Institucionais.................175 8.9 Concentração dos Gestores Formadores de Opinião........................175 8.9.1 Análise dos Resultados.............................................................176 Conceito A 140 Recife n. 2 p.138-181 2011 1 INTRODUÇÃO É através da comunicação que um indivíduo pode conseguir com maior facilidade o que deseja dentro ou fora de uma organização, mas isso depende do conhecimento e de como utilizar as ferramentas nela existentes. A comunicação empresarial compreende um conjunto complexo de atividades, ações, estratégias, produtos e processos desenvolvidos para reforçar a imagem de uma empresa ou entidade. Contudo, a comunicação de toda e qualquer organização deve ser avaliada como um importante meio de formação do patrimônio empresarial, sendo necessário perceber que o processo de comunicação funcionará de maneira eficaz dependendo do meio no qual está inserido, indo ao encontro das sensações e percepções de quem o aplica. O presente trabalho de pesquisa apresenta a diversidade resultante da comunicação formal interna da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco). A proposta é, através de um estudo de caso, mostrar quais os principais instrumentos de comunicação interna utilizados por esta autarquia, analisá-los e apresentá-los, proporcionando a compreensão sobre a dinâmica da comunicação naquela entidade. A comunicação de toda e qualquer organização deve ser avaliada como um importante meio de formação do patrimônio empresarial, sendo necessário perceber que o processo de comunicação funciona de maneira eficaz dependendo do meio no qual está inserido. A Comunicação Interna nas organizações, empresas ou entidades, nem sempre foi valorizada ou reconhecida como de vital importância para desenvolvimento e sobrevivência das empresas. Porém, atualmente é cada vez mais necessário que uma empresa possua um departamento de comunicação interna. Destaca-se no presente trabalho, a influência da comunicação interna nos processos organizacionais e mostra-se que quando esta é bem aplicada, tende a produzir resultados organizacionais satisfatórios como também motivação aos colaboradores e funcionários. 2 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 2.1 Uma Abordagem sobre Comunicação Interna Conforme Chiavenato (2000), a comunicação é a troca de informação entre Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 141 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................177 REFERÊNCIAS.................................................................................178 ANEXOS.........................................................................................180 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso indivíduos. Significa tornar comum uma mensagem ou informação. Constitui um dos processos fundamentais da experiência humana e da organização como um todo. Ele continua dizendo que podemos definir comunicação como um conjunto de métodos de comunicação adotado pela empresa e dirigido ao público interno e externo. Administrar é, sobretudo comunicar. Para ela, o papel de um administrador dentro das organizações é desenvolver redes adequadas de comunicação na empresa para que todos fiquem sabendo exatamente o que deve ser feito para poderem ajudar a empresa com a sua melhor contribuição pessoal. A comunicação proporciona oportunidades de participação das pessoas nos assuntos e decisões e o comprometimento com relação à empresa. (DIANA MASCARENHAS 2000 apud CHIAVENATO, 2000, p. 95) Seguindo esta mesma linha de raciocínio, é possível perceber que quando se administra de forma estratégica, o profissional da área comunicacional, acaba por criar valor para a organização, interna e externamente. Fica claro também, que quando se utiliza a ferramenta correta para comunicar, o indivíduo desperta os funcionários e mantém a mente desses aberta para tudo o que está sendo desenvolvido no ambiente. Porém, para que a comunicação seja significativa se faz necessário desenvolver métodos de comunicação que possibilitem ao receptor entender e aceitar a informação que lhe esta sendo passada. Portanto, se faz necessário que o emissor esteja atento a troca de informação, deixando claro que a comunicação é uma atividade que traz oportunidades para a empresa, colaboradores e clientes. A comunicação é uma fonte poderosa de relacionamento com as pessoas dentro e fora das organizações. Tom Raspas (2009 apud SNELL 2009, p. 478), declara: “Nos negócios, a comunicação é um dar e receber de informações entre um funcionário, cliente e uma empresa”. Embora algumas empresas ignorem os colaboradores e os clientes, outras os envolvem em diálogo ativo para fortalecer tanto os produtos ou serviços quanto o relacionamento com seus colaboradores e clientes. (SNELL 2009). Este autor ainda afirma que a comunicação quando feita de forma correta, faz com que as pessoas de dentro e fora da organização tornem-se uma fonte de vantagem competitiva. O diálogo eficaz é a “fonte dessa fonte”. Chiavenato (2000) enfatiza que a comunicação requer um código para formular uma mensagem e enviá-la em forma de sinal, para que todos da organização interajam por meio de um canal, sendo auxiliados a dar a máxima contribuição à organização e utilizar ao máximo as suas habilidades e capacidades. Torquato (2002), afirma que a história da comunicação organizacional no Brasil teve o seu início na década de 70, de maneira tímida e fragmentada. Existia em pequena escala organizações multinacionais que publicavam jornais internos para empregados, chamados à época, por influência estrangeira, de house-organs. Não se podia contar ainda com contingente expressivo Conceito A 142 Recife n. 2 p.138-181 2011 Torquato (2002) continua dizendo que, diante da globalização surgiu à necessidade permanente da comunicação das organizações com o mercado, tanto nacional quanto internacional. De um lado, a necessidade de uma comunicação informatizada, da transmissão de dados para possibilitar as operações empresariais e de outro, a necessidade de entendimento cada vez maior entre as pessoas envolvidas com a organização, incluindo seus colaboradores, para que seus negócios prosperem e possam continuar a competir, mantendo os seus padrões de produtividade e lucratividade. Descreve que a comunicação empresarial evoluiu o seu estágio embrionário, em que se definia como um mero acessório, para assumir, agora, uma função relevante na política negocial das empresas. Deixa, portanto, de ser atividade que se descarta ou se relega o segundo plano, em momentos de crise e de carência de recursos, para se afirmar como insumo estratégico, de uma organização ou entidade lança mão para “fidelizar” clientes, sensibilizar multiplicadores de opinião ou interagir com a com a comunidade. (BUENO, 2003 p. 33) Ainda de acordo com Bueno (2003), essa crescente importância da comunicação dentro das organizações tornou-se ainda mais significativa considerando a influência da globalização. Dois fatores devem estar presentes: a clareza e a transparência. Essas características contribuem para definir as mensagens de forma programada, de modo a aumentar o nível de consciência dos públicos e o acerto de todo o processo. Segundo Teixeira (2009), toda decisão estratégica a ser tomada dentro de uma organização deve ser repassada aos colaboradores de maneira enxuta, de forma que todos entendam a mensagem sem “mutações”, para isso é importante que esta informação seja passada pela própria Direção da organização, mostrando os motivos e qual a importância de cada colaborador dentro de um plano estratégico. Para Teixeira (2009), outro fator de bastante importância dentro do processo de comunicação nas organizações, que se faz necessário é de que a comunicação precisa acontecer entre todos os níveis da organização, ou seja, desde a Presidência até o mais simples funcionário, todos se comunicando com todos, sem pré-conceitos. Uma boa comunicação gera um ambiente agradável de trabalho, fazendo com que a organização possua equipes de trabalho e não quadro de funcionários e isto é de fundamental valor para que se alcancem os objetivos da organização como um todo. A comunicação como inteligência empresarial não pode fazer concessão ao improviso. Apóia-se em metodologias, em pesquisas, em desenvolvimentos de teorias e conceitos a serem aplicados a novas situações; apóia-se, sobretudo, na necessidade imperiosa de dotar a comunicação de um novo perfil: a passagem real do tácito para o estratégico. (BUENO, 2003, p 15) Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 143 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) de profissionais de comunicação, pois o primeiro curso de jornalismo fora criado em 1947 na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero em São Paulo. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Diante do impacto das mudanças nas relações com os colaboradores e com o público externo, fica bastante claro que sem comunicação não se chega ao objetivo e a transformação da organização. É preciso estabelecer com clareza qual deve ser o papel estratégico da comunicação dentro da nova realidade das organizações. Repensar a forma de se comunicar significa conhecer as idéias que influenciaram a comunidade interna, como ela reage diante das mudanças e como interpretam os novos posicionamentos organizacionais e principalmente sua declaração de missão, visão e valores. (BUENO 2003). Diante disso, as organizações precisam ficar atentas às formas de comunicação a serem aplicadas no âmbito organizacional, visando à importância da comunicação contínua dentro da mesma. (BUENO 2003). Segundo Chiavenato (2000), Comunicação é a troca de informação entre dois indivíduos. Significa tornar comum uma mensagem ou informação. Já ao conceito de Scalan (1979), a comunicação pode ser definida simplesmente como o processo de se passar informações e entendimentos de uma pessoa para a outra. Ele ainda afirma que: numa visão mais ampla, pode-se dizer que a comunicação dentro de uma organização somente se dá através de um processo claro e preciso, gerando decisões rápidas, visão e ação integral. Segundo Gil (1994), a comunicação trás um efeito de desempenho, produtividade e lucratividade nas organizações. Com o uso da comunicação sem fronteiras, as decisões e as ações se movem para onde são necessárias. Comunicação interna é a ferramenta que vai permitir que a administração torne comuns as vantagens destinadas a motivar, estimular, considerar, diferenciar, promover, premiar e agrupar os integrantes de uma organização. A gestão e o conjunto de valores, missão e visão de futuro proporcionam as condições para que a comunicação empresarial atue com eficácia. (NASSAR, 2006 p. 81) Seguindo este raciocínio, percebe-se que é fundamental o planejamento da ferramenta comunicacional a ser utilizada, para que seja evitado aspectos negativos na implementação e operacionalização da ferramenta no processo de aplicabilidade. Conforme Frank (1994) a comunicação organizacional já não se concentra apenas em transmitir informações, mas também em mudar o comportamento dos empregados para que realizem um melhor trabalho. Através da afirmação de Frank podemos entender que a comunicação quando bem executada, impulsiona à organização ir ao encontro e na direção de suas metas. Alega ainda o autor que o papel estratégico da comunicação é auxiliar internamente, motivando os empregados a uma ação produtiva e, externamente, ajudando a posicionar a empresa junto aos públicos externos. É o processo comunicacional que permite aos seres humanos estabelecerem relações entre si, expor suas opiniões, sentimentos, emoções e compartilhar conhecimentos. Em suma, a comunicação é a troca dessas informações entre os sujeitos. Esse processo de comunicação e de transmissão de informação se estabelece entre pessoas ou grupos. Conceito A 144 Recife n. 2 p.138-181 2011 As ações dos seres humanos estão todas ligadas à comunicação: ao agir, reagir e nos relacionarmos uns com os outros. De acordo com os pensamentos de Willian Oxner e Sérgio Charlab citado por Matos (2009, p. 3), os conceitos de comunicação podem definir o que é informação. “A informação não pode ser tocada, ouvida e nem dela se desprende qualquer aroma. Não se pode considerá-la da mesma forma que uma maquinaria. Contudo está em toda parte, ao nosso redor, todo o tempo”. A comunicação deixou de ser um departamento e passou a ser uma prioridade. A comunicação organizacional já não se concentra em apenas transmitir informações, mas também em mudar o comportamento dos empregados para que realizem um melhor trabalho, impulsionando as organizações em direção as suas metas. (CORRADO, 1994 P. 7) Seguindo esta mesma linha de pensamento, a comunicação é um fator rico para toda e qualquer empresa, pois é através da comunicação que a alta administração e os funcionários trocam informações para melhoria contínua do processo, impulsionando a todos os atores da organização ao alcance das metas anteriormente traçadas. A comunicação de qualidade passou a ser vista, há alguns anos, como diferencial em uma organização. Sendo assim, um sistema bem administrado de comunicação em uma empresa ou entidade caminha para alcançar o sucesso. Chaves (2006) esclarece que, “durante a formação das sociedades primitivas seus integrantes desenvolveram a fala por necessidade de se comunicar, para trocar informações”, e isso não difere das necessidades que temos hoje. Porém ainda não se tinha nessa época como se registrar as informações, que eram trocadas oralmente. A princípio, símbolos e desenhos foram desenvolvidos para registrar suas informações e perpetuar suas experiências, o que pode ser encontrado até hoje em trabalhos de arqueólogos. Estes foram os primeiros passos dados rumo ao objetivo de se comunicar e registrar a informação que foi transmitida, originando assim, as primeiras formas de comunicação escrita. A comunicação organizacional é nova no Brasil, segundo Bueno (2003), tem menos de 25 anos. Antes desse período, as organizações utilizavam à comunicação de maneira superficial e o termo “comunicação organizacional” era desconhecido. Segundo Kunsch, (2003, p. 50), o surgimento dessa prática é conseqüência do “processo de desenvolvimento econômico, social e político do País e da evolução das atividades de relações públicas e do jornalismo empresarial”. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 145 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) O ato de comunicar está além da simples transmissão de informações, é na realidade um processo pelo qual se instaura uma compreensão recíproca e se forma um sentido compartilhado, resultando em um entendimento sobre as ações que os sujeitos envolvidos são levados a assumir juntos ou de maneira convergente. (ZAFIRAN apud KOLLROSS 2008, p. 3) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso O autor ainda afirma que são dessas áreas da comunicação que iniciaram as primeiras práticas comunicacionais no Brasil e que permitiram tal crescimento. Ainda em 1970, quando a comunicação organizacional era desconhecida, o país passava por um momento de regime de exceção e ditadura. A comunicação e o diálogo não eram práticas comuns naquela época. Bueno, (2003). Entretanto, com a implantação da democracia, essa realidade se transformou e vem se transformando de forma gradativa. [...] essa área evoluiu para um processo integrado de relacionamento com os públicos de interesse, de tal modo que uma empresa ou entidade moderna, não pode prescindir, hoje, dessa articulação. [...] A comunicação é o espelho da cultura empresarial e reflete, necessariamente, os valores das organizações. Se eles caminham para valorizar o profissionalismo, a transparência, a responsabilidade social e a participação, a comunicação se orienta no mesmo sentido. (BUENO, 2003 p. 49) De acordo com estudos deste autor, a década 1980 veio para alavancar a comunicação organizacional. Esse setor se tornou um campo de trabalho efetivo para profissionais de inúmeras áreas principalmente depois que os cursos e as faculdades de comunicação chegaram ao país. A partir desse período, quando as empresas perceberam a real importância desse campo, eventos, congressos e prêmios foram realizados, alguns persistem até hoje como o Prêmio Contexto de Comunicação Empresarial. Surgiu também em 1989, para valorizar e representar esse setor, a Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial). Essa Entidade trabalha em prol do desenvolvimento dessa área no país. De acordo com Bueno (2003, p. 49), “a partir de 1990 a comunicação organizacional se desenvolveu a tal ponto que passou a ser vista de forma estratégica para as empresas”, ou seja, se tornou peça “chave” para os negócios. Ao mesmo tempo em que a comunicação nas organizações rompe barreiras, os profissionais destinados a comandar esse departamento, também tiveram algumas mudanças, passam a serem pessoas capacitadas “com visão abrangente” e com conhecimento na área de comunicação. Com essa modernização, as empresas passam a ter identidade, as atividades relacionadas à comunicação, passam a ser tratadas de maneira integrada. A empresa começa a se relacionar com os seus diversos públicos e, segundo Bueno (2003, p. 8), as organizações passam a “criar uma autêntica cultura de comunicação e atendimento, com conseqüente valorização dos públicos internos e a adoção de atributos fundamentais, como profissionalismo, ética, transparência, agilidade e exercício pleno da cidadania”. Com o desenvolvimento e a ampliação da comunicação organizacional no Brasil, esse setor é considerado, hoje, como um importante instrumento de “Inteligência Empresarial”. Nessa nova realidade, a comunicação organizacional se desenvolveu e se tornou ferramenta essencial e estratégica para as organizações que se preocupam em atingir bons negócios e zelam por seus Conceito A 146 Recife n. 2 p.138-181 2011 Conforme a visão de Kunsch (2003, p. 149-150), comunicação organizacional, empresarial e corporativa, são terminologias utilizadas com a mesma definição no Brasil para explicar a comunicação trabalhada nas organizações em geral, como esse sistema se formou a algumas décadas e se estabilizou na atual década global. Seguindo esta linha de raciocínio relatada pelo autor, fica claro, que a comunicação organizacional desempenha funções de forma a alcançar o entendimento do indivíduo dentro de uma organização, procurando atingir os objetivos comuns localmente e globalmente, pois o processo de melhoria contínua da comunicação não se limita ao tamanho da classificação de uma empresa, mas sim pela forma de como o processo é implantado. A comunicação organizacional é composta por diferentes modelos comunicacionais que, apesar de suas características e particularidades, devem trabalhar de forma harmoniosa. São elas: comunicação institucional, comunicação mercadológica, comunicação interna e comunicação administrativa. Logo a seguir, o gráfico composto por Kunsch (2003, p. 150) apresenta o composto de Comunicação, os tipos de comunicação que fazem parte da Comunicação Organizacional. Figura 1: Tipos de Comunicação Fonte: Margarida Kunsch, 2003, p. 150 Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 147 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) públicos internos e externos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Entende-se por Comunicação Administrativa aquela que é voltada às pessoas que exercem as funções administrativas de uma empresa ou entidade. Ainda de acordo com Kunsch (2003, p. 152), “administrar uma organização consiste em planejar, coordenar, dirigir e controlar seus recursos de maneira que se obtenham alta produtividade, baixo custo e maior lucro ou resultados”. Visto isso, a comunicação se insere como uma aliada nessa área, pois auxilia a organização a atingir seus objetivos permitindo o funcionamento do sistema organizacional. Lee Thayer citado por Kunsch (2003, p. 153) continua dizendo que a comunicação administrativa é “aquela que altera, explora, cria ou mantém relações situacionais entre funções-tarefas, pelas quais é responsável ou entre sua subseção e qualquer outra organização global”. Já a comunicação institucional tem papel fundamental em uma organização: É responsável pelas relações públicas e estratégicas da empresa, auxiliando na construção da imagem e da identidade da organização. Em outras palavras, o indivíduo conduz os problemas relacionados à comunicação e tem como uma de suas funções promover um clima benéfico e estável da empresa e seus diversos públicos. Kunsch (2003, p. 165), afirma que: “a comunicação institucional, por meio das relações públicas, enfatiza os aspectos relacionados com a missão, a visão, os valores e a filosofia da organização e contribui para o desenvolvimento do subsistema institucional, compreendido pela junção desses atributos”. Justamente por este motivo, o gestor de comunicação institucional deve conhecer profundamente as políticas da organização, por se tratar de uma função complexa com foco na comunicação integrada. A autora explica que a comunicação institucional é formada por outros instrumentos da comunicação. São eles: relações públicas, jornalismo empresarial, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda institucional, marketing social e cultural, editoração multimídia e imagem corporativa. Torquato (1986) define as atividades relacionadas à comunicação organizacional/empresarial como: A comunicação empresarial abrange, atualmente, o aspecto, de atividades de Imprensa, Relações Públicas (empresariais e governamentais), Propaganda (mercadológica e institucional); Editoração, Identidade Visual, e programas relacionados à captação, armazenamento, manipulação e disseminação de informações. A comunicação empresarial objetiva assegurar fluxos regulares de informação entre a organização e seus públicos, de forma a manter o equilíbrio de sistema de empresas. (TORQUATO, 1986, p. 67) A união dos compostos de comunicação acima citadas, pertencentes à comunicação organizacional, é denominado de comunicação integrada, uma nova prática comunicacional que passou a ser utilizada pelas empresas nos últimos anos. Com focos e objetivos definidos, permite a uma organização Conceito A 148 Recife n. 2 p.138-181 2011 Nos últimos anos as organizações aumentaram de maneira significativa a preocupação com os funcionários. Esses passaram de meros empregados a colaboradores ou cidadãos corporativos, o que os aproxima mais na empresa. Palmerstron et al. (2004, p. 4) afirma que, com as transformações do mercado e com o aumento da concorrência nas últimas décadas as empresas foram levadas a concluir que, “a atuação isolada de uma área de comunicação não atende mais as demandas”, ou seja, é preciso que todas atuem em conjunto. Por isso, é indispensável união, integração e a troca de conhecimento entre colaboradores, empresário e o profissional de comunicação. 3 UM MODELO DE COMUNICAÇÃO Este é um modelo moderno que considera os vários elementos que participam e interferem no processo comunicacional. Uma atenção especial deve ser dada a cada elemento presente, pois eles são de suma importância e o bom desempenho do conjunto é que dita uma comunicação efetiva. Segundo Chaves (2007), o processo de comunicação se dá a partir do modelo que segue: Emissor ou transmissor: É o elemento que emite a mensagem em direção ao receptor. Ele possui o conhecimento do significado real da mensagem a ser transmitida. É sua função codificar a mensagem e ainda determinar qual será o canal utilizado na transferência. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 149 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) ações estratégicas de comunicação e auxilia no bom relacionamento com o público e a sociedade. Desta forma, Kunsch (2003, p. 149) afirma que “não se devem mais isolar essas modalidades comunicacionais. É necessário que haja uma ação conjugada das atividades de comunicação organizacional”. Desta forma pode-se compreender que as diferenças de cada subárea são respeitadas, porém desta vez, por meio de um planejamento de comunicação em todos os setores e cada um dos profissionais atua em busca de um só objetivo. A comunicação integrada pode ser considerada por estruturar e unir todos os departamentos existentes em uma empresa e suas formas de comunicação com o objetivo de criar voz única e criar valores em benefício de todos os profissionais seja do topo da hierarquia ao mais baixo escalão. Com essa união, os profissionais desenvolvem suas funções, porém com objetivos em comum. Compreende-se a comunicação integrada interna como um método, uma filosofia ou mesmo ações que, quando aplicadas nas organizações, estimulam ou promovem a troca de conhecimentos, valores e sentimentos de pessoas que dividem o mesmo ambiente. Esta cultura organizacional auxilia os seus membros à troca de informações e a soluções de problemas de maneira coletiva. De acordo com Nunes (2005, p. 73) essa concepção representa “os meios através dos quais a cultura será transmitida aos seus públicos”. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Mensagem: É o que é dito, escrito ou enviado por símbolos ou sinais, visando reações ou comportamentos. A mensagem deve ser compreensível tanto pelo emissor quanto pelo receptor, e pode ser transferido através de voz, texto, desenho, movimentos, expressões faciais ou por meios eletrônicos. Codificação: Quando da transferência de uma mensagem, é a tradução que um emissor promove para tornar entendível para os receptores, às idéias aos quais eles pretendem enviar. Canal de comunicação: Também chamado de meio ou mídia. É o mecanismo ou veículo utilizado para enviar a mensagem, com a incumbência de destacar e influenciar o efeito da mensagem. Serve de suporte para difundir a informação e é capaz de atingir o receptor com a mensagem para que ele possa interpretá-la, podendo ser ainda classificados como formais ou informais. E-mails, políticas, normas, relatório de desempenho são exemplos de canais formais. Conversas acareadas ou por telefone, mensagens orais e gestos, são exemplos de canais informais. Receptor: É o alvo do emissor, ou seja, aquele para o qual a mensagem foi destinada. Para que a transferência da informação seja efetiva, o receptor deve recebê-la e interpreta-la como pensava o emissor. Decodificação: O receptor utilizando sua sensibilidade promove a decodificação da mensagem que foi passada, ou seja, traduz de acordo com sua percepção, assimilando a idéia recebida de acordo com o seu próprio senso cognitivo. Feedbak: Ou realimentação, é a resposta que o emissor obtém do receptor. Uma certificação que transparece o resultado da sua tentativa de transferir a informação. Sua função é proporcionar ao emissor uma avaliação do resultado do envio. Utilizando-se do feedbak, o emissor pode ter a garantia de que está existindo uma interação e não uma atividade unilateral, e ainda certificar-se se a mensagem foi recebida ou não. Em caso positivo, saber como ela foi recebida e se foi realmente compreendida. Ruído: É tudo o que se pode interferir afetando a transmissão de uma mensagem. Alguns exemplos podem ser citados: problemas ou falta nos canais de comunicação, distância física ou de tempo entre emissor e receptor, uso inadequado da linguagem técnica, fatores ambientais de distração como barulho e cheiro, atitudes prejudiciais como hostilidade, descrença e preconceitos, informações excessivas, falta de conhecimento sobre o assunto que está sendo comunicado, diferenças culturais, erros de escrita e interpretação, voz baixa ou rouca durante a conversa, uso de jargões, siglas e códigos não familiares a todos receptores entre outros. Pode-se então, compreender o processo de comunicação através do seguinte esboço: Figura 2: Processo de Comunicação Conceito A 150 Recife n. 2 p.138-181 2011 3.1 Tipos de Comunicação Há três classificações segundo as quais a comunicação é comumente intitulada. É importante possuir este tipo de conhecimento para entendimento deste estudo. Dinsmore (2003) afirma que a comunicação pode ser classificada de acordo com os seguintes tipos: Comunicação Verbal: Intuitivamente existe uma tendência em classificarse este tipo de comunicação apenas como oral o que não está correto. A comunicação verbal é toda aquela que é transferida via palavras, podendo estas ser faladas ou escritas. Mesmo com a evolução crescente nos meios eletrônicos, a comunicação verbal continua sendo a mais utilizada, e apesar de estar perdendo seu espaço para forma escrita, continua sendo um dos tipos mais eficazes. A forma escrita, ganha espaço por causa das facilidades que a tecnologia proporciona, sendo seu principal utilitário o e-mail, que substitui as conversas antes realizadas pessoalmente, até mesmo para pessoas muito próximas fisicamente. É importante ressaltar a importância da comunicação oral presencial, pois como citado, é uma comunicação muito eficiente, com forte potencial motivador pessoal e incentivador do espírito de equipe. Abaixo segue um simples resumo do bom uso da comunicação oral e escrita: Comunicação verbal oral: é mais rápida do que a escrita, permite manter a mensagem simples e sucinta, gerando agilidade e clareza. Na maioria das vezes, possui a grande vantagem de possibilitar a obtenção de feedbak do receptor no momento da transmissão da mensagem. É fundamental para o gerenciamento de conflitos e negociações, pois gera maior entendimento dos problemas e opiniões, viabilizado assim a minimização de problemas. Comunicação verbal escrita: é mais detalhada do que a oral, preferencialmente utilizada para explicar temas de maior complexidade ou quando se vê necessário formalizar algum processo. Possibilita maior organização para melhor entendimento do receptor, deixando a mensagem à sua disposição para revisão e absorção, feita em seu próprio ritmo. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 151 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) Fonte: Chaves 2007 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Comunicação não verbal: é aquela que se dá sem o uso de palavras, e ainda exclui o uso de sinais vocais paralinguísticos e indicações como tons de voz emocional. Daí o titulo secundário de linguagem corporal. Em muitas situações a comunicação não verbal pode substituir de forma mais eficiente à comunicação verbal. Segundo alguns pesquisadores, existe um universo de mais de 700.000 sinais diferentes. Alguns exemplos de mensagens que são transmitidas de melhor forma pelos sinais não verbais são: dor, sentimentos, emoções e cansaço. Comunicação paralinguística: é a que usa de tonalidade de voz, da qualidade dos sons que acompanham a fala, delatando qual é a situação em que o falante se encontra. Alguns exemplos de percepções via comunicação paralinguística são: se o falante está bem ou mal, alegre ou triste, cansado ou bem disposto. Essa é uma boa ferramenta para se trabalhar, pois assim pode-se perceber como anda o nível de motivação e satisfação daquela que fazem acontecer às tarefas do dia a dia. 3.2 Estilos de Comunicação Para Dinsmore (2003), dependendo do conteúdo da mensagem verbal a ser transferida, o gerente do projeto de comunicação deve estar habilitado entre os estilos o que surtirá efeito mais vantajoso ao estilo formal e informal. Ainda de acordo com ele a classificação deve ser relacionada de acordo com os seguintes estilos: Comunicação Formal: Neste estilo de comunicação, regras e procedimentos internos à organização devem ser seguidos, confirmados geralmente por um formato ou protocolo. As comunicações formais são aquelas que transitam por canais de comunicação criados especificamente para esse fim pela administração. Esses canais podem ser memorandos, intranet, circulares, o jornal da empresa ou uma reunião de trabalho. De acordo com Nieviroski e Amorin (2007, p. 2), a comunicação formal é claramente definida, “seguindo as linhas do organograma organizacional”. Por meio da comunicação formal as informações são transmitidas, fornece também uma visão clara das origens das transmissões de informações. Esse tipo de comunicação está ligado à administração e, segundo Torquato (1986, p. 63), visa “assegurar o funcionamento eficiente da empresa”. Já Kunsch (2003, p. 84) acredita que a comunicação formal “deriva da estrutura normativa da organização e, através de diversos veículos estabelecidos pela organização como: os impressos, os visuais, entre outros”. A autora lembra que é primordial tornar comum as informações tanto para o público quanto para os funcionários. Comunicação Informal: Neste estilo de comunicação não existem formali- Conceito A 152 Recife n. 2 p.138-181 2011 Diante disso, pode-se dizer que a comunicação informal é aquela que ocorre entre os colaboradores da empresa sem usar os canais formais, ou seja, os boatos, boca a boca, entre outros. Esses tipos de comunicação variam de acordo com a necessidade e as possibilidades, podendo ser orais, escritos ou projetados. As comunicações orais acontecem através do contato direto entre duas ou mais pessoas. As formas escritas de comunicação organizacional formal se manifestam de diversas formas. Podem dar-se através de murais ou quadros de avisos, do jornal da empresa, de circulares internas (CI’s), memorandos, relatórios, ofícios, dentre outros. Têm menos agilidade do que a proporcionada pela comunicação oral, mas preservam muito mais a integridade da informação. Já a comunicação projetada é aquela feita através de produções de vídeos, reproduzidas em televisores, aparelhos de multimídia ou projetores. Portanto, é preciso definir o tipo de canal e as mensagens a serem usadas em casa caso, levando sempre em consideração aspectos técnicos, práticos e sócio-culturais. 3.3 Fluxos de Comunicação Segundo Torquato (2004, p. 39) os fluxos de comunicação exercem grande influência sobre a eficácia do processo comunicacional. “São eles que constituem os caminhos, os desvios e os degraus por que atravessa a comunicação”. São divididos em fluxo descendente, ascendente, lateral e diagonal. 3.4 Fluxo Descendente Gaudêncio classifica esse fluxo com vertical e de cima para baixo. Segundo o autor, a comunicação formal faz parte desse fluxo. Já para Kunsch (2003, p. 85), esse fluxo está relacionado à transmissão de normas, ordens e diretrizes da empresa. O fluxo descendente ocorre em empresas autoritárias, onde a intenção é apenas repassar informações já tomadas aos funcionários, sem poderem opinar e sem consultá-los. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 153 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) dades e regras para a troca de informações, a comunicação é livre. Um detalhe é que ela não gera custos elevados pelo fato de não depender de confirmações oficiais. Atualmente, com as concepções mais modernas em gerenciamento do setor comunicacional, têm-se adotado uma concepção mais informal, para atingir uma comunicação eficiente nas direções horizontal e vertical. A comunicação informal pode trazer inúmeras vantagens para uma organização quando esta é bem utilizada e explorada. A comunicação repassada através de métodos bem aplicados apresenta não só vantagens com também agilidade na execução, podendo aplicar valores na comunicação interna da organização autárquica. Contudo, uma comunicação sustentada pela confiança entre os envolvidos, pode-se considerar que toda a equipe estará imbuída em tal objetivo traçado por toda e qualquer organização. Vale salientar, que por mais que a comunicação informal seja utilizada de forma adequada, não se pode extinguir a comunicação formal, pois ela é necessária e indicada em inúmeras situações durante todo o ciclo de vida de um projeto de comunicação. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso De acordo com Marin citado por Nieviroski e Amorim (2007), afirma que: Este fluxo de comunicação é tido como mais importante para a direção da organização, torna-se causa freqüente de problemas como: saturação de informações nos canais que fazem este tipo de comunicação; ordens comunicadas às pressas e vagamente e comunicação realizada sem precisão devido a termos muito técnicos ou sem critérios. Ou seja, este fluxo de comunicação apresenta distorções na sua execução em virtude de sua prática rotineira. (MARIN, 2007, p. 3) 3.5 Fluxo Ascendente As comunicações ascendentes ocorrem de forma contrária da comunicação descendente. Nesse fluxo, as pessoas estão na parte inferior da estrutura organizacional e enviam informações para a parte superior, onde estão os dirigentes. A comunicação acontece de baixo para cima, e segundo Torquato (2004, p. 40) tende a ser menos formais. É a partir desse fluxo que a gerencia obtém informações de seus funcionários. Ainda de acordo com autor: O sistema ascendente não tem a mesma força do sistema formal, e grande parte das mensagens flui por meio dos canais informais, escapando assim, ao controle. [...] os planos de sugestões, os boletins de resultado de tarefas e os círculos de controle de qualidade constituem algumas formas que respondem pelo fluxo ascendente. (GAUDÊNCIO, 2004, p. 40) 3.6 Fluxo Lateral A comunicação lateral ou horizontal ocorre com pessoas que estejam no mesmo nível organizacional. Ainda de acordo com Torquato (2004, p. 40) “o fluxo lateral é muito estratégico para efeitos de programas d ajuste e interação de propósito com vistas à consecução de metas”. Kunsch (2003, p. 83) enfatiza a importância desse fluxo: “possui papel agregador que proporciona a socialização de informações, assim como o conhecimento de atividades das outras unidades organizacionais”. Para que a comunicação exerça o seu verdadeiro papel nas organizações são necessários instrumentos, ferramentas que facilitam a transmissão das mensagens. 3.7 Fluxo Diagonal Muitos autores afirmam que falar em fluxo lateral é mesmo que falar em fluxo diagonal. Porém, Torquato (2004, p. 41) trata os fluxos de maneira diferente. Para o autor, o fluxo diagonal trata-se de mensagens trocadas entre um superior e um subordinado localizado em departamentos diferentes. Esse modelo se insere em organizações menos burocráticas e mais abertas aos fluxos informais. Torquato (2004, p. 41) expõe os pontos positivos e negativos desse fluxo: “pontos positivos: rapidez, tempestividade e transparência. Pontos negativos: ruídos na comunicação”. 4 COMUNICAÇAO INTERNA A comunicação interna é mais um importante composto da comunicação Conceito A 154 Recife n. 2 p.138-181 2011 Torquato (2004, p. 54) diz que, a missão da comunicação interna é: “contribuir para o desenvolvimento e a manutenção de um clima positivo, propicio aos cumprimentos das metas estratégicas da organização e ao crescimento continuado de suas atividades e serviços”. Este setor vem ocupando cada vez mais espaços nas empresas. Deixou de ser uma atividade secundária e passou a ocupar um espaço valioso nas organizações por estimular o diálogo, o desenvolvimento dos funcionários e a troca de informações dentro de qualquer nível hierárquico. Contudo, os empresários passaram a refletir nos prejuízos e nos transtornos que geram a falta de comunicação. Devido a isto, atualmente os investimentos nessa área, ou seja, nesse departamento se tornaram maiores nos últimos anos. É importante enfatizar, que há alguns anos os empresários passaram a perceber que agir de maneira autoritária com os funcionários da empresa não é a melhor maneira de chefiar um grupo. Ao contrário, essa atitude só prejudicaria o desempenho dos colaboradores, o que afeta diretamente nos resultados da organização. Na nova visão de toda e qualquer organização, os gerentes passaram a ser vistos como líder, ou seja, aquele que tem o papel de integrar pessoas e visões diferentes em prol de objetivos comuns. Com o auxílio da democracia, e a extinção da ditadura, tanto os dirigentes como os funcionários saíram da “passividade conformista” e passaram a pensar de forma coletiva. Tal novidade fez com que os empresários encontrassem na comunicação, novas formas eficientes para o relacionamento com o seu público interno. “A comunicação considera o quarto poder da república, pela força que a mídia exerce sobre a sociedade, passa também a ser incorporada também como o poder dentro das organizações”. (KUNSCH, 2003 p. 158). A partir disso, os funcionários começaram a entender o seu real papel dentro da empresa, sobre o que Pasqualini afirma: O funcionário não deseja apenas receber um benefício, ele deseja sentir que é peça fundamental para o funcionamento da empresa e que é reconhecido por isso. Como transmitir esse sentimento sem uma comunicação eficiente e eficaz? Infelizmente, sem nenhum tipo de comunicação não seria possível consolidar a imagem de uma organização para nenhum tipo de público. (PASQUALINI, 2006, p. 36) É importante enfatizar que, a boa comunicação na empresa também garante o alinhamento dos funcionários com os objetivos a serem alcançados e pode ainda ajudar na preservação de possíveis contratempos, pois a empresa tem a possibilidade de interceder conflitos e buscar soluções com antecedência. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 155 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) integrada, visa toda e qualquer possível interação e troca de informações entre a organização e seus funcionários. Esse tipo de comunicação tem a necessidade de ao público interno, as ações, visões e pensamentos da organização, deixando o funcionário “a par” do que ocorre na empresa. Para isso, utiliza-se de instrumentos da comunicação. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Internet, revistas, e-mails, boletins, impressos, murais, terminais de computador com acesso a internet são alguns instrumentos da comunicação interna que, mobiliza e envolve os funcionários aos assuntos da organização. Desta forma, o colaborador, não se considera um mero empregado, mais sim pessoas que “exercem suas funções em parceria com a organização e em sintonia com a realidade social vigente” (KUNSCH, 2003, p. 159). Vale ressaltar, que o departamento de comunicação em uma empresa oferece possibilidades e estímulo ao diálogo. O que antigamente era um mito, com a comunicação é possível presenciar a troca de informações entre dois gerente e zelador. Justamente porque ambos estão em sintonia e comprometidos diariamente pela melhor qualidade da empresa. A comunicação interna deve contribuir para o exercício da cidadania e para a valorização do homem. Quantos valores poderão ser acentuados e descobertos mediante um programa comunicacional participativo! A oportunidade de se manifestar e comunicar e comunicar livremente canalizará energias para fins construtivos, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Se considerarmos que a pessoa passa a maior parte do seu dia dentro das organizações, os motivos são muitos para que o ambiente de trabalho seja o mais agradável possível. E um serviço de comunicação tem muito a ver com a integração entre os diferentes setores. (KUNSCH, 2003, p. 159) O profissional que rege o ser comunicacional da organização deve estar atento aos acontecimentos internos, porém com visão nos acontecimentos mundo a fora. Com a comunicação interna eficaz na organização, cria-se um clima dinâmico e positivo, gera valor e credibilidade para a empresa, os colaboradores sentem-se respeitados, passam a valorizar o pensamento do coletivo e não mais individual, os empregados e dirigentes possuem relação de confiança entre si e passam a se valorizar como cidadãos. Investir em comunicação é sem dúvida alguma, investir no crescimento da organização. 4.1 Gestão Estratégica da Comunicação Interna No mundo globalizado em que se vive sabemos que a comunicação é vista como um dos fatores mais importante dentro de uma organização, no mundo real a comunicação é a base para formação, planejamento e desenvolvimento de uma empresa. Silva (2006, p. 22) enfatiza que a comunicação “consegue normatizar as relações dentro da empresa, além de resolver conflitos, interligar setores e facilitar a fusão de pessoas”. Conforme Bueno: Ao debruçar-se sobre essa nova realidade, a comunicação empresarial rompe as fronteiras tradicionais que a identificavam nas décadas anteriores, deixando de ser um mero apêndice do processo de gestão, algo que se descartava ao despontar da primeira crise. Hoje, encontram-se na linha de frente, situada em posição de destaque no organograma, promovendo conhecimentos e estratégias para que as empresas e entidades não apenas superem os conflitos existentes, mas possam atuar preventivamente, impedindo que eles se manifestem. (BUENO, 2003, p. 8) Conceito A 156 Recife n. 2 p.138-181 2011 O sistema comunicacional de uma empresa dá apoio às atitudes estratégicas da mesma. Por isso, deve ser compreendida como uma área de apoio e sustentação, pois ajuda a empresa a se posicionar perante a sociedade e atingir os seus objetivos. Segundo Kunsch (2003), a comunicação estratégica busca a confiança de seu público “construindo credibilidade e valorizando a dimensão social da organização, enfatizando a sua missão, seus propósitos e seus princípios, fortalecendo o seu lado institucional”. Contudo, percebe-se que as organizações buscam alternativas estratégicas para melhoria crescente do ambiente corporativo, optando assim, por instrumentos de comunicação interna que levem resultados para todos os envolvidos neste sistema de comunicacional. 5 VEÍCULOS DA COMUNICAÇÃO INTERNA O planejamento de comunicação interna nas organizações funciona, na prática, por meio de veículos ou ferramentas que auxiliam o meio comunicacional. Tais como: intranet, jornal impresso, mural e outros. Segundo Melo (2006, p. 34), essas ferramentas “representam não só uma fonte interna no processo comunicativo, mas também influenciam na formação de opinião e de mudanças de hábitos e de atitude dos funcionários”. Deste modo tem como princípio básico unir, motivar, ensinar e informa de forma mais clara possível o público interno. No entanto, antes de implantar uma ferramenta de comunicação interna é preciso analisar a qual será mais adequada, e qual realmente atenderá as necessidades da organização. Faz-se necessário ter objetivos bem definidos, conhecer o público a que se destina, porém antes de tudo se faz necessário um planejamento prévio de todo o processo. Caso contrário, de nada adianta inserir apenas um jornal impresso se uma parte dos funcionários não foi alfabetizada ou não consegue entender o que está escrito nas matérias divulgadas. É fundamental fazer um “diagnóstico” da empresa, analisar a organização como um todo e considerar que essas ferramentas, quando bem utilizadas, podem salvar o patrimônio. Na maioria das vezes, são implantados mais de um veículo de comunicação, para atender os diversos públicos da organização. As campanhas e os veículos de comunicação interna, compostos de instrumentos Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 157 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) Sabe-se que o papel da comunicação não é só apenas comunicar algo, ela vai muito, além disso, pois ela possui uma função estratégica e se preocupa em zelar pela imagem positiva da empresa, ela também cria maneiras de diálogo com todos os seus públicos de interesse, visando à credibilidade como um de seus princípios fundamentais. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso complementares e interativos, são vistos como diferenciais pelos funcionários de uma empresa. O aspecto estético, a clareza da linguagem e o conteúdo objetivo e verdadeiro são fatores que despertam a confiança, credibilidade e os respeitos nos colaboradores. O ideal é que haja uma mistura de canais, um conjunto de ações, levando em conta, ainda, os recursos de a empresa dispõe. (CLEMEN apud MELO 2006, p. 37) De acordo com pesquisa da ABERJE – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (2007, p. 24) dirigida por Nassar e Figueiredo, o principal veículo utilizado na comunicação interna de uma empresa nos últimos anos é o jornal impresso, seguido da internet e revista. Contudo, as empresas passaram a buscar e a encontrar na comunicação, alternativas para resistir à pressão do mercado competitivo. Desta forma, as ferramentas da comunicação interna passaram a ser vistas como aliadas frente às barreiras e dificuldades encontradas nas empresas. Assim os funcionários colaboram e as organizações crescem alcançando os seus objetivos. 5.1 Jornal Impresso O jornal impresso é o veículo mais tradicional da comunicação interna e continua sendo utilizado por muitas empresas, conforme pesquisa da ABERJE. Em meio aos avanços tecnológicos, o clássico jornal da empresa sobrevive e informa todas as hierarquias. Possui notícias da organização aos funcionários com o propósito de manter contato com os mesmos e periodicamente regulares. Pode ser levado para a casa dos funcionários, por isso se destaca como um importante veículo de interação entre empresas, funcionários e familiares. Sua produção envolve alto custo, pois exige impressão de boa qualidade e, sem dúvida alguma, profissionais capacitados que conhecem profundamente a organização. O jornal interno tem como objetivo principal integrar o colaborador na missão e visão da empresa, divulgando também as atividades realizadas pela mesma, estimulando e desenvolvendo o hábito da leitura por parte dos colaboradores, divulgando as decisões administrativas da diretoria e estimulando a interação entre os setores e diretoria. De acordo com Girardi (2005, p. 7), “as matérias devem instruir, educar, incentivar valores morais, fortalecer laços humanos, promover intercâmbios sociais, concorre para desenvolver a personalidade dos trabalhadores, sua dignidade pessoal”. Esse veículo jornalístico pode conter reportagens, entrevistas especiais, fotografia dos funcionários, empresários, eventos e confraternizações. O jornal impresso proporciona a interação e valorização dos seus públicos, isso faz com que o funcionário se sinta integrante fundamental no processo organizacional. Por isso, Alvarenga (2005, online) explica “não basta juntar as notícias que a gerencia deseja transmitir no ‘jornalzinho’ e distribuir. Não que isso seja impossível. Afinal, esse veículo pode existir por quanto tempo a empresa desejar pagar. Conceito A 158 Recife n. 2 p.138-181 2011 Levar o jornalismo estratégico para dentro do ambiente empresarial é a garantia de implantação de um novo modelo de transmissão de informações, capaz de promover e estimular a quebra de paradigmas. É também uma forma segura de facilitar o diálogo, contribuindo com a descentralização do poder e com o processo de gestão do conhecimento. (ALVARENGA, 2005, Online) Seguindo esse raciocínio, pode-se perceber que o jornal impresso proporciona confiança entre o responsável pela comunicação e o seu público-alvo do jornal, esta confiança pode ser alcançada desde que este profissional monte um jornal com leitura atraente, verdadeira e agradável. 5.2 Internet A internet é caracterizada por ser uma ferramenta rápida, de baixo custo, eficiente e instantânea. Esse veículo é fruto do desenvolvimento da tecnologia, mais precisamente com a chegada da internet. Segundo Ramires (2005, p. 33), “por ser um veículo acessivo e interativo, a internet logo se transformou em uns dos principais meios de comunicação utilizados pelas empresas”. Uma das vantagens da internet é a atualização imediata das informações, ou seja, as notícias podem ser publicadas a qualquer hora e lidas por todos os funcionários da empresa. A internet atinge o público que acompanha os novos meios e as novas tecnologias. Basicamente esse veículo trata-se de um site restrito aos funcionários de uma organização. Sua principal função é a interação, pois lá estão todas as informações que a organização quer transmitir a seus colaboradores. As vantagens da internet são muitas, entre elas estão à rapidez, interatividade, capacidade de atualização de mensagens de maneira instantânea e de acordo com Pinho (2006, p. 24), a segurança, pois muitas vezes, o conteúdo das informações é de caráter sigiloso e restrito. A internet ideal, a intranet que funciona, tem uma dimensão mais ampla do que a meramente administrativa ou burocrática e podem incorporar uma série de instrumentos, veículos, canais, sistemas de relacionamento ou interação, tornando-se, dessa forma, parte importante do processo de comunicação interna. (BUENO, 2009, p. 92) Com esta forma de interagir o autor dar a entender que a internet pode abrigar fatos da empresa, divulgando assuntos que provocam debates relacionados ao dia-a-dia dos funcionários e que os veículos quando bem utilizados e explorados passa a prender a atenção dos colaboradores aos assuntos que dizem respeito à empresa. 5.3 Mural Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 159 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) A elaboração de um jornal impresso requer planejamento. De acordo com Cesca (1995, p. 114) “sem planejamento, as dificuldades que surgirão em decorrência da improvisação levarão a sua extinção logo após os primeiros números”. É preciso definir a linha editorial, apurar as informações, discutir as pautas entre outros. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso França (2007) relata que “entre os vários meios de comunicação empresarial, o Mural, constitui uma das formas mais rápidas e eficientes de comunicação com os empregados”. Ainda de acordo com o autor o mural não pode ser peça isolada, mas parte do planejamento global da empresa e organizado de forma a entender suas necessidades diárias de informação e como complementos de outros veículos empresariais. De acordo com autor existem algumas finalidades nesse veículo comunicacional que serão relatadas abaixo: 1- É um instrumento de comunicação rápida e imediata. As informações podem ser por eles veiculadas diariamente, merecendo o interesse e a curiosidade geral, tornando-o procurado por ser sempre fonte de novidade. 2- Mantém a comunicação programada da empresa, completando a mensagem de outros veículos, fixando-as de forma mais variada e simples. 3- Transmite as notícias quando acontecem, podendo acompanhar o que se passa na empresa. 4- É ideal para a divulgação do noticiário social como, promoções, casamentos, aniversários, eliminado tais dados do jornal mensal, deixando espaço para informações mais importantes e contribuindo para melhorar a integração social dos empregados. 5- Oferece cobertura muito mais ampla e variada à empresa pela apresentação de noticiário mais freqüente e mais extenso sobre suas atividades, seus produtos ou seus serviços e suas aplicações. 6- Serve como apoio às campanhas internas que solicitam participação dos colaboradores pelo incentivo e acompanhamento que pode dar a elas enquanto acontecem. Mediante essas finalidades pode-se dizer que o mural é uma fonte rica para o relacionamento entre os autores de toda organização, pois através do mural uma organização pode estar em relacionamento contínuo com os seus colaborados, buscando desta forma, a participação de todos em relação ao que fora explicitado no modelo comunicacional do mural. 5.4 Reuniões As reuniões organizacionais permitem que as pessoas exponham seus problemas, suas soluções, suas idéias e se evoluam mais com a organização. Estas reuniões podem ser feitas diariamente, semanalmente ou mensalmente ficando a critério dos administradores e dos colaboradores. Não se pode negar que: As reuniões preenchem uma profunda necessidade humana. O homem é um ser social. Se não houver reuniões no ambiente em que trabalham, as ligações das pessoas com a empresa será menor, e elas reunir-se-ão formal ou informalmente em associações, sociedades, times, clubes ou bares no final do expediente. (JAY, 2001, p. 29) Conceito A 160 Recife n. 2 p.138-181 2011 5.5 E-mail O e-mail ou correio eletrônico é hoje uma das formas de comunicação mais comuns nas empresas, conforme Hargie (2007). Para o autor, a velocidade, o assincronismo e a comunicação de “um para muitos” são aspectos favoráveis da utilização do e-mail que pode, também agir como uma ferramenta que elimine ruídos na troca de mensagens, permitindo economia de tempo e ganhos na administração. 6 A IMPORTANCIA DA COMUNICAÇÃO INTERNA NO ÓRGÃO PÚBLICO Brum (1998 apud INKOTTE, 2000) conceitua a comunicação interna como um “conjunto de ações que tem como objetivo tornar comum entre funcionários de uma mesma empresa, objetivos, metas e resultados”. A autora afirma que “um programa de comunicação interno bem feito é capaz de encorajar idéias, diálogos, parcerias e envolvimento emocional”. Tudo isso trás a felicidade das pessoas no ambiente de trabalho. É importante acrescentar que a comunicação interna é capaz de estabelecer relacionamentos integrados entre os trabalhadores, utilizando programas participativos capazes de gerar o comprometimento do público interno. A comunicação de todo e qualquer órgão público não se restringe apenas à circulação periódica de um jornal, além dele são utilizados (CI’s) comunicações interna, ofícios, memorandos, quadro de aviso, e-mails e outros meios de comunicação que atingem os funcionários. Deve ficar claro também que a comunicação interna não se restringe à chamada comunicação descendente, aquela que flui da direção para os empregados, mas inclui obrigatoriamente, a comunicação horizontal ou lateral (entre os segmentos desse público interno) e a comunicação ascendente que estabelece feedback e instaura uma efetiva comunicação. Por isso, é importante também enfatizar que a comunicação como um processo, precisa realizar-se nos dois sentidos. 7 ESTUDO DE CASO O presente estudo de caso está dividido em três partes. A divisão foi elaborada tendo em vista os diferentes momentos do processo de desenvolvimento da comunicação interna da autarquia e na análise do processo de Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 161 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) Diante desse relato, podemos entender que uma reunião desempenha funções que nunca poderão ser assumidas por telefones ou quaisquer outros instrumentos tecnológicos da revolução da informação. Percebe-se também que antes de provocar uma reunião, é necessário fazer um planejamento baseado no objetivo em que se deseja alcançar. Caso contrário acarretará em perda de tempo para todos os participantes. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso comunicação interna, possibilitar propostas de implantação de um plano de comunicação interna na Junta Comercial do Estado de Pernambuco. Desta forma a primeira parte aborda o diagnóstico da autarquia estudada, trazendo informações sobre o histórico da organização, seu público interno, situação atual da comunicação e outros elementos relevantes. 7.1 Histórico e caracterização da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) A Junta Comercial de Pernambuco – JUCEPE foi fundada na lei n°. 556, de 25.06.1850, criou os Tribunais de Comércio na capital do Império e nas Capitanias da Bahia, PERNAMBUCO e depois Maranhão, com atribuições administrativas e judiciais. Esta lei criou a atual Junta Comercial de Pernambuco, na ocasião denominada Tribunal de Comércio de Pernambuco. O decreto nº. 864, de 1.851, criou Juntas do Comércio, nas Províncias Marítimas do Império, que não tivessem Tribunais do Comércio. Este decreto não atingiu o Tribunal do Comércio de Pernambuco, criado pela lei referida no item anterior. O decreto n°. 1.597, de 01.05.1855, instituiu as Conservatórias do Comércio, que substituíram as Juntas do Comércio, criadas pelo decreto nº. 864, de 1851, mas manteve os Tribunais do comércio, logo o Tribunal do Comércio de Pernambuco, criado pela lei n°. 556, de 25.06.1850, foi mantido com todas as suas atribuições administrativas e judiciais. Em 9.10.1875, suprimiu os Tribunais do Comércio do Império e as Conservatórias do comércio; OR organizou as Juntas e Inspetorias Comerciais, com as atribuições dos órgãos extintos. O Tribunal do Comércio de Pernambuco passou, então, a ser Junta Comercial. Em 30.11.1876, organizou as Juntas Comerciais, com atribuições de Registro ao Público do Comércio. No dia 19/11/1890, também organizou as juntas Comerciais e as Inspetorias do Comércio em todo Brasil. Os decretos de números 24.635 e 24.636, de 10.07.1934, extinguiram a Junta Comercial da antiga Capital Federal (Rio de Janeiro). Em 30.03.1935, criou e organizou o Departamento Nacional de Indústria e de Comércio e em 22.07.1960, criou o Ministério da Indústria e Comércio. No ano de 1.961, regulamentou o Ministério da Indústria e Comércio, criou o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), delegando competência ao Ministério, para o estudo e execução da política econômica e administrativa do Governo, relacionada com a indústria e comércio. A lei 4.726, de 30.07.1965, regulamentada pelo decreto nº. 57.651, de Conceito A 162 Recife n. 2 p.138-181 2011 Em 30 de abril de 1966, através da lei nº. 5.792, a Junta Comercial de Pernambuco – JUCEPE foi transformada em Autarquia. No ano de 1994, instituiu o Registro Público de Empresas Mercantis, extinguindo o antigo Registro Público do Comércio e revogou expressadamente, a lei n° 4726/65 e, por conseqüência, o seu regulamento através do decreto 57.651, conforme dispõe o artigo 67 da lei vigente. O decreto nº. 1800, de 30.01.1996, regulamentou a lei nº. 8934, de 18.11.1996, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins. Hoje, a JUCEPE vem crescendo continuamente, buscando o aprimoramento constante. Sua MISSÃO: Legalizar, arquivar e executar os serviços de registros públicos de empresas mercantis no Estado de Pernambuco. Sua VISÃO: Ser reconhecidos e referenciados por todos os Estados do Brasil como um exemplo de organização pública, ágil em seus processos, que atende ás expectativas dos clientes e proporciona bem-estar e satisfação aos seus funcionários. A Junta Comercial de Pernambuco, atualmente tem a sua Sede situada na Rua Imperial n° 1600, Bairro São José, Boa Vista, Recife - PE. A mesma se expande com as regionais de: Araripina, Arcoverde, Carpina, Caruaru, Garanhuns, Santa Crus do Capibaribe, Salgueiro, Palmares, Petrolândia e Petrolina. Para ilustrar a atual estrutura da JUCEPE, segue abaixo o organograma geral, que também servirá de auxílio na identificação dos termos utilizados neste trabalho: Figura 3: Organograma da empresa JUCEPE Plenário Conselho Diretor Presidência Turmas Diretoria Jurídica CPL Diretoria Geral Secretaria Geral Coordenadoria de Atendimento e Qualidade Conceito A Coordenadoria de Registro de Comércio Recife Coordenadoria de Técnica n. 2 Gerência Administrativa p.138-181 2011 163 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) 19.01/1966, instituiu o Sistema Nacional de Registro do Comércio, fixando a presença do Governo Federal no registro do comércio. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: JUCEPE (Junta Comercial do estado de Pernambuco, 2011) A JUCEPE conta atualmente, com um quadro de funcionários, colaboradores, comissionados e estagiários que totalizam aproximadamente 214 autores envolvidos no processo de funcionamento da autarquia. Desde a sua fundação vem passando por modernizações para melhor acomodar os seus funcionários e melhor atender os seus clientes. 7.2 O público interno da JUCEPE Na data da fundação da autarquia, a organização contava com um número reduzido de funcionários ativos que atuavam na casa como servidores públicos, nesta época não existia colaboradores tercerizados nem tão pouco estagiários. Atualmente a JUCEPE aumentou o seu quadro de funcionários através de prestadoras de serviços e de estagiários. Observa-se que a faixa etária de idade dos servidores, funcionários e estagiários é bastante variada como mostra a tabela construída abaixo: Figura 4: Faixa etária e sexo do corpo de membros da JUCEPE Número de ativos por faixa etária e sexo Faixa Etária Homens Mulheres Total Até 45 anos 75 77 152 De 46 a 72 29 33 62 Fonte: JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco, 2011) De acordo com informações do setor de Relações Humanas da JUCEPE, existe um número de servidores ativos, que apresentam mais de 45 anos, o que pode caracterizar um público com percepções antigas. Além disso, percebeuse que uma grande parte dos servidores ativos da casa já tem tempo para se aposentar, porém não se aposentam para não acarretar uma diminuição significativa em seus salários. Outro fator que merece destaque é o grau de escolaridade dos servidores ativos. Poucos são os que possui grau superior, a maioria possui segundo grau Conceito A 164 Recife n. 2 p.138-181 2011 Já em se tratando dos colaboradores e estagiários, estes variam pelo grau de escolariedade, uns estão concluindo o segundo grau, outros já concluiram o segundo grau e os demais estão com o curso superior em andamento e outros já concluíram. Figura 4: Gráfico de escolaridade dos membros da JUCEPE Fonte: JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco, 2011) Figura 5: Gráfico do nível de escolaridade em percentual Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 165 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) completo e alguns estão estudando para a obtenção de um nível superior. Os demais se subdividem entre os que possuem o primeiro grau completo e primeiro grau incompleto. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco, 2011) 7.3 Situação da comunicação interna na JUCEPE Comunicação interna é um assunto tratado de forma sutil no ambiente da Junta Comercial do Estado de Pernambuco, uma vez que a comunicação flui de todos os setores da autarquia. Para tanto, a gestão atual da autarquia visa a necessidade de definir para os servidores a fundamental importância da comunicação interna, treinando os seus funcionários para o manuseio das ferramentas de comunicação existentes na autarquia. Desde a sua fundação, o setor de relações humanas e o setor de TI, vem percebendo uma significante melhoria no processo comunicacional da autarquia, pois os dois setores relatam, que na época da fundação da JUCEPE não se trabalhava com ferramentas tecnológicas tais como: sistemas integrados onde os servidores pudessem trabalhar de forma a interagir com os acontecimentos e anúncios que eram do interesse dos gestores e funcionários. Conceito A 166 Recife n. 2 p.138-181 2011 Informa o setor de TI, que esta ferramenta de comunicação foi criada e implantada de forma a alcançar a todos os autores internos da JUCEPE, afirma ainda, que o resultado foi bastante favorável e alcançou as espectativas que se esperava. Esta ferramenta é acessada por todos os gestores, funcionários, colaboradores e estagiários da JUCEPE. Cada membro é cadastrado no sistema e é criada uma pasta de acesso para cada membro, onde as informações e avisos são postados e todos podem interagir com as notícias postadas no sistema. Dessa forma de interagir, até aqueles que não têm hábito de abrir os seus e-mails acabam por estarem cientes de todas as informções da entidade a qual fazem parte. Informa o desenvolvedor de sistemas da JUCEPE, que nestas pastas são postadas não só informações, mas também fotos, vídeos de eventos realizados pela entidade, cartões de animações e até mesmo documentos que auxiliam os colaboradores da Junta Comercial a obter auxilios capazes de tirar dúvidas em relação as atividades desempenhadas em cada setor. A Junta Comercial utiliza vários métodos de comunicação, as ferramentas Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 167 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) Atualmente a Junta Comercial disponibiliza ferramentas de comunicação capazes de informar a todos os que fazem parte do corpo de membros da entidade. Relata o Gerente de TI, que verdadeiramente nem todos utilizam os meios de comunicação disponibilizados pela entidade, podendo ser citado como exemplo o e-mail coorporativo. O mesmo ainda afirma, que se faz necessários que aqueles que não utilizam necessitam de um treinamento para um melhor conhecimento na utilização de tal ferramenta. Mas, salienta que não é uma tarefa difícil, pois em se tratando de comunicação é uma ferramenta que ajuda na interação e distribuição das informações que necessitam ser do conhecimento de todos os que fazem parte da entidade. O mesmo ainda relata, que ocorrem falhas na comunicação, devido a falta de manuseio de alguns membros com as ferramentas disponíveis, não por falta de habilidade em utilizar tal ferramenta, mas sim, por não ter o hábito de estar por dentro da mensagem e informação enviada e quando toma conhecimento da informação, acabam por não entender a mensagem, pois a mesma já fora executada ou substituída por uma informação mais recente. Para tanto, o setor de TI da entidade criou um sistema chamado público, onde todos sem distinção de nível hierárquico podem interagir e tirar as suas dúvidas em relação as informações passadas pela autarquia. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso existentes atualmente são a internet, o jornal impresso, mural, (CI’s), ofícios, e-mail corporativo e internet. Pelo que se verifica no orgonograma oficial da empresa, a autarquia não possui atualmente um setor específico de comunicação, utilizando-se CI’s, para a comunicação de todos os setores. As comunicações e solicitações feitas através de CI’s fazem um longo percurso até chegar a sua autorização, pois de acordo com a JUCEPE deve-se seguir o nível hierarquico da autarquia. Figura 5: Fluxograma de CI (Comunicação Interna) da JUCEPE Conceito A 168 Recife n. 2 p.138-181 2011 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) Fonte: Tecnologia da Informação JUCEPE 2011 2011 p.138-181 n. 2 Recife Conceito A 169 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso De acordo com Mayer e Mriano (2008), um plano de comunicação interna deve contemplar os seguintes aspectos: avaliação da cultura interna, compreensão dos públicos internos, seleção dos meios de comunicação, suporte tecnológico e operacional e formulação da mensagem. Dessa forma, fica claro que um plano de comunicação deve contemplar a situação atual da empresa ou organização, sua cultura e capacidade técnicas e humanas, bem como as ferramentas mais adequadas ao meio e tipo de mensagem que deve ser vinculado a cada uma delas. Diante do fato é fundamental a utilização de métodos de comunicação que identifique as barreiras que impedem uma comunicação interna bem sucedida. Dessa forma, o conhecimento do ambiente interno da organização, permite que a estratégia de comunicação adapte-se à “diferentes percepções, necessidades, culturas e idiomas” e que contemple a “criação de bons canais de comunicação, a circulação das informações” (MAYER E MARIANO, 2008, p. 214). Seguindo esta mesma linha de raciocício, a Junta Comercial mostra, que vem superando e modificando as suas ferramentas de comunicação a fim de buscar a excelência na participação de seus membros em todas as informações passadas pelos diversos setores da entidade visando desta forma minimizar os ruídos de comunicação. 7.4 Quadro de avisos para o público interno Percebe-se em pesquisa “em loco”, que os quadros de avisos estavam em local de pouca circulação, podendo ser vistos tanto pelo público interno quanto pelo público externo. Observa-se também, que nem sempre existem quadros de avisos nos corredores, copa, salas onde há um fluxo maior de funcionários transitando. Contudo, nota-se a necessidade de se trabalhar um melhor direcionamento para tais quadros, de modo a aperfeiçoar sua função enquanto ferramenta de comunicação interna. Tal ação reduziria também as intervenções inadequadas: a fixação de materiais não institucional, permanência de informações desatualizadas e uso dos quadros por qualquer um dos servidores e/ou colaboradores. Conceito A 170 Recife n. 2 p.138-181 2011 As entrevistas, feitas pessoalmente com servidores e colaboradores atuantes na sede da JUCEPE em Recife – Pernambuco, tiveram duração média de 15 minutos. As entrevistas feitas com os servidores e funcionários não foram gravadas por motivo de preservação da identidade dos entrevistados, vale salientar, que as entrevistas foram relaizadas apenas com servidores e colaboradores da sede, localizada na rua imperial, 1600, São José, Recife Pernambuco. Os dados recolhidos nas entrevistas e questionários foram apurados quantitativo e qualitativamente. Pressalta-se, que todo o processo de elaboração do estudo de caso se deu de forma participativa, pois tanto o entrevistador quanto o entrevistado estavam inseridos no cenário avaliado. Pode-se dizer também, que como resultado das entrevistas/questionários e das observações feitas durante a realização do estudo de caso, tornouse possível perceber a dificuldade de alguns servidores e colaboradores em compreender o que é e como funciona a comunicação no interior da organização. Tal fato foi percebido em respostas a perguntas como: quais as ferramentas de comunicação interna utilizada pela JUCEPE?. Curioso observar que mais de 50% deles respondiam telefone e e-mail, e tais ferramentas foram citadas como o melhor método comunicacional interno da autarquia. Avaliou-se então, que para 20% o termo comunicação era entendido como conversa, inclusive afirmam que a comunicação não é melhor por falta de aproximação entre a cadeira hierarquica da organização. Isso deixou claro, que mesmo com tantos investimentos em sistemas de comunicação (e-mail corporativo, pasta de compartilhamento de informações, conhecido como “público” e outros), a comunicação acaba sendo excluída de ações importantes, até porque a sua importância não é encarada como tal por alguns membros. 7.6 Panorama do Diagnóstico Procurou, durante a elaboração do diagnóstico, seguir a cultura organizacional da autarquia, pois para haver uma ação de comunicação bem executada e de Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 171 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) 7.5 Percepção dos servidores e colaboradores sobre a comunicação interna A percepção dos 47 (quarenta e sete) servidores e colaboradores pesquisados sobre a comunicação interna da JUCEPE foi avaliada por meio de observações e entrevistas realizadas com os mesmos no decorrer do mês de outubro e novembro de 2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso forma eficiente, é necessário que antes se conheça a cultura da organização, abordando os elementos que a compõe. Dessa forma, foi possível identificar no histórico da JUCEPE a problemática, podendo citar a falta de linearidade no trato das quatões relacionadas a comunicação interna. Foi possível também identificar pontos importantes quanto o da identificação do público interno, tais como escolaridade, faixa etária e a visão que os mesmos possuem sobre a comunicação. Além da identificação das ferramentas de comunicação interna utilizadas: canais mais utilizados e problemas na utilização dos veículos atuais. Figura 6: Canais de comunicação mais utilizados pelos membros da JUCEPE Canais de Comunicação mais utilizado na JUCEPE CI'S TELEFONE EMAIL JORNAL IMPRESSO 27% MURAL 18% 36% 14% 5% Fonte: JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco, 2011) Por fim, observa-se que a JUCEPE se mostra como um grande desafio à implantação de uma política de comunicação interna, não apenas por se mostrar desprovido de uma cultura em que a comunicação seja vista como elemento estratégico como também, pelos aspectos humanos e tecnológicos da organização: servidores antigos, desmotivados, ausência de treinamentos na área de comunicação, entre outros. Conceito A 172 Recife n. 2 p.138-181 2011 Além da pesquisa bibliográfica, foram pesquisados 47 membros através de entrevistas on-line, ou por telefone, revistas especializadas, periódicos e publicações internas da própria autarquia e artigos da web. Ao resultado foi aplicado um tratamento qualitativo. 8.1 Análise do caso estudado A análise e descrição do estudo de caso estudado aborda três momentos: diagnóstico, proposta de plano e análise dos primeiros resultados. O diagnóstico feito por meio da análise de documentos e entrevistas à funcionários da autarquia, visou identificar a cultura organizacional vigente e os diferentes públicos internos e seus conceitos sobre comunicação. Também utilizou-se os fluxos de comunicação, que as teorias administrativas preconizam em relação à comunicação. A partir do fluxo comunicacional, foi possível identificar o enquadramento específico da entidade autarquica, tanto em ralação as teorias administrativas quanto a situação atual de sua estrutura organizacional, de seus fluxos de informação e outros elementos, como o papel da comunicação na organização. Outro aspecto do diagnóstico é a identificação das ferramentas de comunicação utilizadas pela Junta Comercial do Estado de Pernambuco. Tendo por base o diagnóstico, propôs-se um plano de comunicação segundo preceitos estabelecidos pelos diversos autores citados ao longo deste trabalho. 8.2 Procedimentos da coleta de dados A coleta de dados para a realização do estudo de caso foi realizada tendo por base as três etapas do processo, ou seja, o diagnóstico, sugestão de plano e análise de resultados iniciais. O diagnóstico teve início na primeira quinzena do mês de novembro DE 2011, por meio da análise de documentos e 47 entrevistas com funcionários da organização. 8.3 Identificação de novos veículos e ferramentas de comunicação 8.3.1 Fórum de Assesores de Comunicação Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 173 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) 8 RESULTADOS DA PESQUISA O primeiro passo, foi a análise conceitual ligada a comunicação interna nas organizações, de modo a estabelecer um ponto de convergência dentro do tema. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso As entrevistas denotaram a necessidade de se trabalhar com lista de discussão entre os gestores da JUCEPE para compartilhamento de experiências e informações, pois facilita a comunicação entre os profissionais da área, esclarece dúvidas, dessemina informações, troca de experiências profissionais, entre outras possibilidades. Seu interesse está restrito aos interesses institucionais, razão pela qual a instituição deverá definir ferramentas/softwares a serem utilizados, visando agilizar a implementação do veículo comunicacional. 8.4 Rádio servidor Criação de uma rádio direcionada aos servidores, onde sejam apresentadas matérias que destaquem o desempenho e suas boas práticas conferidas no local de trabalho. 8.5 Ouvidoria interna Instância administrativa responsável por acolher reclamações, denúncias, elogios, críticas e sugestões dos servidores e colaboradores da JUCEPE sobre situações relativas à sua atividade profissional. Criação de um canal direto de comunicação para o servidor e colaborador. Para tanto, a própria Junta, na pessoa de seus diretores, deverá verificar junto a Ouvidoria Geral da JUCEPE a possibilidade de utilização da estrutura existente para possibilitar a implantação. Conceito A 174 Recife n. 2 p.138-181 2011 8.7 Revisão de estilo dos atos normativos da JUCEPE Criação de grupo de trabalho permanente para atuar junto às áreas técnicas a fim de produzir atos e normas compreensível aos servidores e colaboradores, por meio da adoção de uma linguagem menos técnica, facilitando a compreensão de direitos e deveres pelo público interno e externo, evitando diversas interpretações. 8.8 Normatização da extração dos indicadores institucionais Para atender às diretrizes de padronização e uniformização de discurso institucional é necessário garantir que os dados técnicos, estatísticos e índicadores, sejam obtidos por meio de uma única metodologia, determinadas pelas áreas técnicas responsáveis a fim de preservar a confiabilidade e precisão dos dados a serem divulgados interna e externamente. 8.9 Concentração dos gestores formadores de opinião Aproveitamento do espaço destinado a comunicação para destacar a importância do gestor enquanto formador de opinião, agente de comunicação e disseminador das informações institucionais entre os servidores e colaboradores de sua unidade. Determinação da Diretoria a Administrativa central, aos Gerentes Regionais e Executivos a inclusão da Comunicação no planejamento, organização, divulgação e acompanhamento dos eventos realizados pelas suas respectivas áreas, como também a realização de campanhas internas de sensibilização quanto ao uso das ferramentas de comunicação: Internet, e-mail, mural, quadro de avisos, etc. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 175 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) 8.6 Cursos de capacitação Para promover a atualização contínua dos profissionais de comunicação a fim de manter um padrão de qualidade adequado à boa imagem da Junta Comercial do Estado de Pernambuco. Fica, a critério da JUCEPE dircernir sobre cursos presenciais e a distância. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 8.9.1 Análise dos resultados Com o avanço tecnológico, se faz cada vez mais necessário aplicar métodos eficazes na comunicação interna dos órgãos públicos, pois os colaboradores dessas organizações são os principais fatores de competitividade, e, por isso, os órgãos públicos devem atuar internamente, utilizando-se de métodos e ferramentas que auxiliem a desenvolver um bom relacionamento com seus colaboradores e clientes (pessoas jurídicas e físicas). As autarquias são entidades, com uma cultura própria e com processos que fazem interagir todos os atores que fazem parte da organização direta ou indiretamente. Assim, podemos avaliar que a comunicação interna é significativa para os órgãos públicos, pois é através dela que se programam processos de gestão pela qualidade e que se alcançam os seus objetivos. A implantação de sistemas de qualidade passa fundamentalmente, pela existência de uma comunicação interna eficaz, integrada no sistema aberto e dinâmico da organização, sendo um fator determinante no valor que a gestão pela qualidade no atendimento e no serviço prestado a seus clientes busca para obter resultados envolvendo diferentes pessoas e órgãos da estrutura empresarial. Contudo, só pode haver qualidade na comunicação interna se todos os atores dos órgãos públicos estiverem envolvidos no processo comunicacional, o que exige a colaboração ativa de todos os membros da organização. Para tal é importante que cada um tenha em mente o valor de sua contribuição para o crescimento da organização e satisfação de todos os colaboradores pelo serviço prestado e pelo resultado adquirido. Vale salientar, que para a implantação de um Plano de Comunicação Interna na JUCEPE, esbarra-se em dificuldades, visto que a autarquia não possui um setor específico de Comunicação e porquê um Plano deste tipo gera quebra de paradigmas. A organização estudada tem bastante interesse no processo de comunicação proposto e surgere criar, um setor voltado para a comunicação interna da organização. Conceito A 176 Recife n. 2 p.138-181 2011 Com esse estudo foi possível verificar que a Comunicação não é somente importante para as organizações ela também é importânte para a vida de todo e qualquer indivíduo. Concluí-se então, que o departamento de comunicação interna de uma empresa consegue interagir funcionários e gerentes, derrubando antigas barreiras, fator que dificulta a união e o diálogo entre colaboradores e dirigentes. Com isso, a organização consegue atingir boa parte da satisfação dos funcionários . O trabalho também identificou dificuldades para se implantar um Plano de Comunicação, e alcança objetivo de identificar as ferramentas utilizadas apresentando medidas de sugestões para melhoria do processo comunicacional da autarquia. Com esse estudo fica claro, que toda e qualquer organização necessita de um setor específico de comunicação com profissionais capacitados para dirigir tal processo de comunicação. Concluí-se que as ferramentas de comunicação internas são essencias para que um departamento de comunicação consiga exercer seu trabalho com sucesso. Porém faz- se necessário saber como utilizar tais ferramentas. Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 177 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve por objetivo principal identificar a comunicação formal interna da JUCEPE, mostrando através de estudos a importância de se adotar uma Comunicação Interna eficiente, mostrando também que quando se adota ferramentas corretas a organização acaba por obter bons resultados e indicadores de sucesso. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso REFERÊNCIAS ABERJE. Pesquisa sobre Comunicação Interna. 2007. Disponível em: http://www.aberje.com.br/novo/pesquisa_aberje/pesquisa_Com_ Interna_2007.pdf Acesso em: 30 de out. 2011. ALVARENGA, Monica. O fim do jornalzinho. 2005. Disponível em: <http:// www.abracom.org.br/descricao.asp?id=14> Acesso em: 27 de out. 2011. BUENO, W. C. Comunicação Empresarial - teoria e pesquisa Barueri: Manole, 2003. 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Conceito A 178 Recife n. 2 p.138-181 2011 Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 179 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) Barueri: Manole, 2009. MAYER, Verônica Fedes; MARIANO, Sandra Regina Holanda. Técnicas de comunicação e negociação. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, Vol. 1. 2008. MELO, Brenda Marques Madureira de. Comunicação interna: uma ferramenta estratégica para o sucesso organizacional. Projeto Experimental. Juiz de Fora, 2006. NASSAR, P. Tudo é comunicação/Paulo Nassar. – 2 ed. rev. e atual. – São Paulo: Lazuli Editora, 2006. NASSAR, PAULO; FIGUEIREDO, Suzel. Pesquisa da comunicação interna 2007: dados comparativos 2002, 2005 e 2007. ABERJE: São Paulo, 2007. NIEVIROSKI, Andrea Lecini; AMORIM, Welligton Lima. Comunicação organizacional interna em um centro tecnológico de polímeros CETEPO – SENAI. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, Vol. 3, 2007. 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ANEXOS ANEXO A ROTEIRO DE ENTREVISTA COM FUNCIONÁRIOS, COLABORADORES E ESTAGIÁRIOS DA JUCEPE (JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO), PARTE INTEGRANTE DO ESTUDO DE CASO OBJETO DE PESQUISAACADÊMICA PARA CONCLUSÃO DE CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA FACULDADE SÃO MIGUEL , (2011.2) DA ALUNA ALCIONE MARIA BARBOSA CHAVES. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO: .......................................(OPCIONAL) QUESTÕES: 1. Quais os meios de comunicação mais utilizados por você na JUCEPE? 2. Dos veículos de comunicação disponibilizados pela JUCEPE quais os que você conhece? 3. O que poderia ser feito para melhorar os fluxos de comunicação em sua unidade de trabalho? 4. Sabe-se que a comunicação interna é um elemento fundamental para todo órgão público e que este sistema visa informar, motivar e produzir resultados para o trabalho de todos e conseqüentemente do órgão como um todo. Tendo por base a definição acima, responda: 1- Como você avalia a comunicação na JUCEPE: • Entre os funcionários, colaboradores e estagiários? ( ) Bom ( ) Regular ( ) Fraco Justifique: _________________________________________ • Entre sua Gerência e os demais setores da autarquia? ( ) Bom ( ) Regular ( ) Fraco Justifique: _________________________________________ • Entre sua Gerência e os Escritórios Regionais? ( ) Bom ( ) Regular ( ) Fraco Justifique: ________________________________________ • Entre você e a sua Gerência? Conceito A 180 Recife n. 2 p.138-181 2011 5. Que ferramentas/estratégias de comunicação são mais utilizadas pelos funcionários, colaboradores e estagiários para se comunicarem: • Entre o seu setor com os demais setores? ( ) CI’s ( ) e-mail ( ) Ofício ( ) Telefone ( ) Quadro de Avisos ( ) Outros – Especifique: ___________________________ • Com os outros funcionários, colaboradores e estagiários dos Escritórios Regionais? ( ) CI’s ( ) e-mail ( ) Ofício ( ) Telefone ( ) quadro de Avisos ( ) Outros – Especifique: ___________________________ 6. Qual das ferramentas acima você considera a melhor? ( ) CI’s ( ) e-mail ( ) Ofício ( ) Telefone ( ) quadro de Avisos ( ) Outros – Especifique: ________________________________ Justifique sua resposta: _________________________________ 7. Considerando-se que ruído de comunicação é tudo o que pode interferir afetando a transmissão de uma mensagem. É possível afirmar que: Ocorre ruído na comunicação interna da JUCEPE: ( ) Muito freqüentemente ( ) Esporadicamente ( algumas vezes) ( ) Nunca Justifique: ______________________________________________ 8. Você sente dificuldades em utilizar os meios de comunicação disponibilizados pela JUCEPE? ( ) Sim ( ) Algumas vezes ( ) Não Justifique: _______________________________________________ 9. O que você julga necessário para minimizar as dificuldades de utilização das ferramentas de comunicação interna disponibilizadas pela JUCEPE? 10. Sob seu ponto de vista, o que se faz necessário para a eliminação dos ruídos de comunicação e alcance da melhoria contínua nos processos internos da JUCEPE? Conceito A Recife n. 2 p.138-181 2011 181 A comunicação formal interna e mudanças empresariais: um estudo de caso da JUCEPE (Junta Comercial do Estado de Pernambuco) ( ) Bom ( ) Regular ( ) Fraco Justifique: _________________________________________ Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS HABILITAÇÃO EM MARKETING ANDRÉ PEREIRA DE MOURA UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO NA GESTÃO AMBIENTAL DA EMPRESA REXAM RECIFE 2011 ANDRÉ PEREIRA DE MOURA UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO NA GESTÃO AMBIENTAL DA EMPRESA REXAM Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Administração em Marketing, da Faculdade São Miguel, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel. ORIENTADORA ELAINE CRISTINA DA ROCHA SILVA RECIFE 2011 ANDRÉ PEREIRA DE MOURA UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO NA GESTÃO AMBIENTAL DA EMPRESA REXAM Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito __ em __/__/____ BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ (Professor Elias da Silva – Faculdade São Miguel) Conceito A 182 Recife n. 2 p.182-219 2011 Palavras-Chave: LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 5S Cinco Sensos (Utilização, Organização, Limpeza, Saúde e Auto Disciplina) Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 183 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- Este trabalho teve como objetivo mostrar os ganhos na utilização da ferramenta do Sistema Toyota de Produção (STP) com o uso do VSMA – Mapeamento de Fluxo de Valor Ambiental na Rexam Recife, através de técnicas e conceitos disseminados para toda empresa. Através do mapeamento de valor Ambiental é possível identificar os pontos específicos dos processos de fabricação onde está ocorrendo algum aspecto ambiental, e que de acordo com a metodologia do VSMA, é classificado como ponto crítico ou não. Para estes pontos identificados como críticos serão geradas ações específicas e lançadas em um plano de ação estratégico da empresa chamado de Hopper List com o intuito de reduzir /eliminar os aspectos ambientais críticos, através de monitoramentos constantes em reuniões semanais, quinzenais e até mensais, que envolvem todos os funcionários da fábrica, garantindo a execução das ações. A motivação para apostar e utilizar modelos que promovem a sustentabilidade esta no fato de haver possibilidades de aumentos significativos na margem de lucro da empresa REXAM. A implementação das ações permite também uma melhor qualidade de vida dos seus colaboradores através do cumprimento das normas de qualidade, meio ambiente e saúde e segurança com foco na melhoria contínua dos seus processos de fabricação. O objetivo geral explica a utilização das ferramentas do Sistema Toyota de Produção (STP) no sistema de gestão ambiental (SGA) da Rexam. Os objetivos específicos foram: delinear os elementos do SGA da Rexam conforme a norma ISO 14001; Apresentar o STP abordando suas origens e motivações na Rexam; Apresentar a Rexam Beverage Can South America de Pernambuco; Descrever o Sistema de Gestão Ambiental da Rexam com a utilização do Mapa do Fluxo de Valor (VSM) ambiental do STP; Apresentar como a Empresa Rexam tem desenvolvido a melhoria contínua da gestão ambiental em seus processos através das ferramentas do STP; Apontar os impactos da melhoria da gestão ambiental dos processos através dos indicadores do STP na Rexam. A metodologia utilizada é o estudo de caso, com uma abordagem qualitativa, será caracterizada por pesquisa bibliográfica e documental do tipo exploratória, também será realizada entrevistas com o gestor da empresa. Com isso será demonstrado como a Rexam Recife é referência em sua área de atuação, visando um aumento na sua participação no mercado e como conseqüência, um reconhecimento mundial de todas as partes interessadas. tal da empresa Rexam RESUMO Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 6 σ Seis Sigma (Ferramenta do Sistema Toyota de produção) A3 Ferramenta de Gerenciamento do Sistema Toyota de Produção com o nome de um formato de BM Body Maker (Máquina que faz o corpo da lata) CPRHCompanhia Pernambucana de Recursos Hídricos (Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco EHS Enviroment health and Safety (Meio Ambiente, Saúde e Segurança) HFI Hold For inspection (Segregado para Inspeção) IEET Indicador de Eco-eficiência de Tampas IGRT Indicador de geração de Resíduos de Tampas IRRT Indicador de Reaproveitamento de Resíduos de Tampas ISO International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização) LT Light Tester ( teste de luz para segregar latas com furos ou amassões) NOC Notice of Complaint (Aviso de Reclamação) NPR Nível de Prioridade Risco OP Ordem de Produção PDCA Plan (Planejar), Do (Fazer), Check (Verificar) e Act (Ação) RH Recursos Humanos SGA Sistema de Gestão Ambiental SGI Sistema de Gestão Integrada SMEDSingle Minute Exchange of Die (Troca Rápida de Ferramentas) STP Sistema Toyota de Produção TPM Total Productive Maintenance (Manutenção Produtiva Total) VSM Value Stream mapping (Mapeamento de Fluxo de valor) VSMAMapa de Fluxo de Valor Ambiental SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................185 2 REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................187 2.1 Sistema de Gestão Ambiental.........................................................187 2.2 Sistema Toyota de Produção..........................................................188 2.3 Mapa do Fluxo de Valor (VSM)........................................................189 2.4 Utilização do Mapeamento do Fluxo de Valor para a Análise dos Desperdícios...................................................................................................192 2.5 satisfação de clientes.....................................................................193 2.6 Melhorias (Kaizen)........................................................................194 3 ESTUDO DE CASO: A empresa Rexam................................................196 3.1 História da empresa.......................................................................196 3.2 Utilização do VSM Ambiental na Rexam............................................196 3.3 Detalhamento do Mapa do Fluxo de Valor Ambiental..........................200 3.4 Destinação dos resíduos.................................................................202 Conceito A 184 Recife n. 2 p.182-219 2011 A preocupação por um Sistema de Gestão Ambiental melhor controlado por indicadores ambientais operacionais e gerenciais tornou-se um desafio constante para as empresas. Neste cenário, a busca por maior eficiência, processos estáveis e melhor aproveitamento dos recursos disponíveis em prol da sustentabilidade levaram mudanças nos métodos de trabalho adotados pelas empresas. O Sistema de Gestão Ambiental caracteriza-se por requisitos da norma ISO 14001 que controlam os aspectos ambientais com excelência. Estes requisitos, por sua vez, devem ser implantados de acordo com as reais necessidades do processo. O uso das ferramentas do Sistema Toyota de Produção (STP) para as atividades de administração do meio ambiente determinam a maior qualidade do gerenciamento ambiental. O Sistema de Produção da Toyota é um método racional de fabricar produtos pela completa eliminação de elementos desnecessários na produção, com o propósito de reduzir custos. A idéia básica neste Sistema é produzir os tipos de unidades necessárias no tempo necessário e na quantidade necessária. Com a realização deste conceito podem ser eliminados os inventários intermediários e os estoques de produtos acabados. Utilizar as ferramentas do Sistema Toyota de Produção na gestão ambiental melhora o desempenho dos processos de produção reduzindo ou eliminando os aspectos ambientais negativos, além de tornar a empresa sustentável, ou seja, utilizando os recursos ambientais de forma responsável de modo que no futuro tais recursos ainda estejam disponíveis. O trabalho desenvolvido pela Rexam trata da aplicação das técnicas de Mapeamento do Fluxo de Valor (VSM), com foco na redução e/ou eliminação dos aspectos ambientais negativos que possam causar impactos ambientais. A empresa precisa ter um sistema estruturado com ferramentas que auxiliem a gestão ambiental, possibilitando melhoria na utilização dos recursos do meio Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 185 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- 1. INTRODUÇÃO tal da empresa Rexam 3.5 VSMA versus a melhoria contínua...................................................202 3.6 Indicadores do sistema de gestão através do VSMA..........................203 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................207 REFERÊNCIAS....................................................................................208 ANEXOS............................................................................................209 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ambiente e melhores práticas na destinação de resíduos. Para a implantação do STP precisou que os conceitos fossem adequados à gestão ambiental da fábrica, utilizando as diretrizes da norma ISO 14001:2004 Utilizando a ferramenta do Mapeamento de Fluxo de Valor (VSM) na Rexam, os aspectos ambientais foram classificados em negativos ou positivos e apresenta sinalizadores para potenciais problemas o que facilitará o planejamento de ações. Com o advento do Sistema Toyota de Produção, a Rexam iniciou um processo de redirecionamento estratégico, em busca da quebra de antigos paradigmas e adoção de práticas que proporcionem a redução do desperdício de matéria prima através da eliminação de atividades que não agregam valor. A preocupação crescente com o cumprimento de normas que permitam a conciliação da atividade econômica com a proteção do meio ambiente só acarreta benefícios tanto para a empresa quanto para a sociedade e o ecosistema. Para tanto, pode-se constatar que a pesquisa será de grande valia para a sustentabilidade em âmbito global. A percepção do público e a crescente consciência ambiental exigem das empresas a aplicação da sustentabilidade na cadeia produtiva. Mais que uma estratégia inovadora esta prática vem se tornando um requisito competitivo e um argumento de vendas. Buscando fazer com que as empresas sejam classificadas como ambientais e humanamente corretas, elas preocupam-se cada vez mais com questões sustentáveis. Investir em meio ambiente não é custo, em se tratando dos benefícios que estes podem trazer a curto e médio prazo. Portanto, o objetivo geral do presente trabalho foi explicar a utilização das ferramentas do Production Toyota System (Sistema Toyota de ProduçãoSTP) no sistema de gestão ambiental da fábrica de latas de alumínio para bebidas Rexam Beverage Can South America. Os objetivos específicos foram: delinear os elementos do sistema de gestão ambiental da Rexam, conforme a norma ISO 14001; apresentar o STP abordando suas origens e motivações na Rexam; apresentar a unidade pernambucana da Rexam Beverage Can South America; descrever o Sistema de Gestão Ambiental da Rexam com a utilização do Mapa do Fluxo de Valor (VSM) ambiental do STP; apresentar como a Empresa Rexam tem desenvolvido a melhoria contínua da gestão ambiental em seus processos através das Conceito A 186 Recife n. 2 p.182-219 2011 Segundo Seiffert (2007), o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) ISO 14001 tem grande relevância atualmente para empresas que planejam distribuir seus produtos pelo mercado globalizado através da melhoria de seu desempenho ambiental. Tal fato é primordial na competitividade em qualquer ramo empresarial. De modo geral, as empresas que buscam o processo de implantação da ISO 14001 visam além da redução de custos, o cumprimento de um nível de desempenho mínimo exigido pela legislação, o que é preocupante, levando em consideração o grande potencial que existe para a implantação conjunta de uma abordagem de produção mais limpa. As perdas do processo geram poluição e também reduzem a margem de lucro no produto acabado (SEIFFERT, 2007). O atual cenário econômico-tecnológico impõe às organizações a necessidade de mudanças contínuas no modo de operar e gerir seus negócios para que se adaptem a nova realidade e se mantenham competitivas. Embora o principal objetivo de uma empresa seja o lucro, as questões ambientais têm se tornado cada vez mais importantes em função do aumento da conscientização do consumidor e de seu crescente interesse na forma como os produtos e serviços são produzidos, utilizados e descartados e de que forma afetam o meio ambiente (OLIVEIRA; SERRA, 2009, p. 1). No estudo de Oliveira e Serra (2009) acerca dos benefícios e dificuldades obtidas com a certificação, pode-se observar que entre as dificuldades as mais relevantes são: mudanças periódicas na legislação; resistência dos colaboradores relacionada ao processo de auditorias interna e externa de acordo com a norma; aumento dos custos com treinamentos, modernização Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 187 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1Sistema de Gestão Ambiental tal da empresa Rexam ferramentas do STP; apontar os impactos da melhoria da gestão ambiental dos processos através dos indicadores do STP na Rexam. A pesquisa foi através de um estudo de caso na unidade da empresa Rexam Beverage Can South America, localizada em Pernambuco, utilizando-se o método dedutivo, com abordagem qualitativa. O trabalho foi caracterizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental, do tipo exploratória, acerca dos temas: Sistema Toyota de Produção, gestão ambiental e sustentabilidade. Para complementação da metodologia realizou-se entrevista com o gestor do Sistema de Gestão integrada (SGI) da empresa. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso de equipamentos, entre outros. Já relacionado aos benefícios, os mais freqüentes são: as empresas certificadas são mais atrativas para os investidores; motiva colaboradores a atingirem metas e objetivos ambientais; a certificação influencia positivamente os demais processos internos de gestão das empresas; influencia positivamente a imagem da empresa perante a mídia e a sociedade; aumento da demanda por bens e serviços; propicia maior confiabilidade na marca perante os consumidores etc. (OLIVEIRA; SERRA, 2009). De acordo com Campos e Melo (2008), pesquisas revelam que medidas de gestão ambiental alteram a imagem da empresa para fins institucionais e estão se constituindo cada vez mais como prioridade em suas etapas futuras de gestão empresarial e de investimentos financeiros nas empresas brasileiras. Para utilizar as estratégias ambientais competitivas a partir do uso de normas e certificações em empresas, as organizações poderão optar por um de três níveis de eco gerenciamento: limitar-se a conformidade legal; adotar uma postura proativa, antecipando-se e ultrapassando as regulamentações; ou orientar-se para a sustentabilidade e a responsabilidade socioambiental. Indicadores são ferramentas utilizadas para a organização monitorar determinados processos quanto ao alcance ou não de uma meta ou padrão mínimo de desempenho estabelecido (CAMPOS; MELO, 2008). Os benefícios das medidas de desempenho são: Satisfação dos clientes; monitoramento do processo; benchmarking de processos e atividades; a geração de mudanças. Porém, é necessário que as medidas de desempenho estejam corretas para haver a mudança com sucesso. 2.2 Sistema Toyota de Produção Segundo Ohno (1997), o STP está caracterizado pela eliminação dos desperdícios pelo fluxo do processo, que ele chama de linha do tempo, ou seja, o período que engloba o pedido do cliente até o recebimento do pagamento do produto. O mesmo autor afirma que tudo o que a Toyota faz é eliminar o que não agrega valor ao produto. O foco é reduzir a linha do tempo de modo que faça o atendimento da demanda com nada de estoque no curso do processo. A teoria foi chamada de criação de fluxo: fluxo de materiais, fluxo de Conceito A 188 Recife n. 2 p.182-219 2011 que “[...] devemos produzir somente o necessário [...]”. (OHNO, 1997, p.39). O Mapeamento do Fluxo de Valor significa identificar o fluxo de valor e colocá-lo no papel, de forma organizada e padronizada, através de ícones padrões. É uma ferramenta que ajuda a enxergar e a entender o fluxo de material e de informação na medida em que o produto segue o fluxo de valor. É seguir o caminho da manufatura de um produto, desde o consumidor até o fornecedor, e desenhando uma representação visual de cada processo no fluxo de material e informação. (ROTHER; SHOOK, 1998, p. 27) . 2.3 Mapa do Fluxo de Valor (VSM) Segundo ROTHER; SHOOK (1998), o Fluxo de Valor é a união de todas as atividades que ocorrem desde a obtenção da matéria-prima até a entrega ao consumidor final. Através do mapeamento é possível uma visualização dos processos que permite a identificação e análise para a eliminação dos desperdícios. Segundo Cantídio (2010), o Mapeamento do Fluxo de Valor (VSM) faz com que a empresa seja vista como um todo e de forma enxuta. Esta ferramenta auxilia na elaboração de um plano bem estruturado que está dentro do VSM, conhecido como o fluxo de material. Após adquirir todas as informações deste fluxo pode-se elaborar o mapa do estado atual o qual será base de conhecimento para a elaboração do mapa do estado futuro. Para Ferro (2010), os conceitos de como montar o Mapa de Fluxo de Valor (VSM), tem a relação com todos os pontos da empresa que foram classificados como substancial para o seu negócio. Os VSMs informam como devem ser divididos os parâmetros de controle de forma que estejam entre os mapas atuais, futuros e ideais, visando sempre à melhoria contínua com ações definidas a partir dos problemas identificados nos VSMs. A vantagem de ter um mapa futuro é para evitar ações corretivas e/ou preventivas isoladas ou pontuais (kaizens), visto que os esforços principais para estas ações devem ser utilizados nas áreas que estão classificadas como críticas no VSM atual. Por isso, o desdobramento de todas as áreas da empresa tem o intuito de facilitar o máximo à identificação dos problemas para a tomada de ações corretivas (CANTÍDIO, 2010). Mapeamento do Fluxo de Valor (Value Stream Mapping,) como um processo de identificação de todas as atividades específicas que ocorrem ao longo do fluxo de Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 189 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- eficiência surge quando produzimos zero desperdício [...]”. Para isso, ele dizia tal da empresa Rexam informação e fluxo monetário. Ohno dizia que: “A verdadeira melhoria na Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso valor referente a um produto ou família de produtos. (ROTHER; SHOOK, 1998, p. 27). Ainda de acordo com estes autores é possível identificar as atividades em cada etapa do seu processo, com excesso de detalhes, mantendo em cada etapa o seu registro mesmo as que não agregam valor, levando-se em consideração o critério de identificação. Neste processo podem-se enxergar três grupos: atividades que agregam valor; atividades necessárias que não agregam valor; atividades que não agregam valor, sendo estas atividades nitidamente desperdícios e que devem ser eliminadas em curto prazo. Rother e Shook (1998), afirmam que este tipo de identificação é possível quando se realiza a obtenção do tempo de execução de cada atividade, sendo esta de grande importância para o conhecimento de todo o ciclo produtivo. Após a coleta das informações e definição do grau de importância de cada etapa, é possível introduzir em cada processo o custo referente a cada um deles. Segundo estes autores, o Mapeamento do Fluxo de Valor é uma ferramenta que traz além da eliminação de desperdício e otimização do fluxo do processo de manufatura, uma série de outros motivos de modo a garantir a alta administração das corporações o conhecimento e o controle do seu processo produtivo. Corroborando, Macdonald e Rentes (2000) conceituam o Mapeamento do Fluxo de Valor como uma ferramenta importante e que proporciona uma visão sistêmica do processo, fazendo com que se consiga enxergar o fluxo. Além disso, mostra uma relação de técnicas enxutas, o que impede que elas sejam implementadas isoladamente, como por exemplo, na figura 1 abaixo: Conceito A 190 Recife n. 2 p.182-219 2011 Fonte: ROTHER e SHOOK (1998, p.27) De acordo com a figura 01, é possível mapear toda a interação existente no processo possibilitando a identificação das atividades que não agregam valor. Para um bom funcionamento do mapa, é necessário que haja um acompanhamento e atualização periódica, desta forma serão geradas ações, que implementadas irão garantir a eliminação dos desvios encontrados evitando a sua reincidência. As ações são monitoradas através de um plano de ação chamado de Hooper List, sendo de acesso a todas as partes interessadas. - Plano de ação – Hopper List: comparando os dois mapas, atual e futuro, ou seja, de onde está e aonde quer chegar, montar um plano de ação com todas Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 191 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam Figura 01: Mapa do estado atual desenhado – identificado gargalos e atividades que não agregam valor do ponto de vista do cliente. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso as melhorias para transformar o estado atual no estado futuro. - Melhoria Contínua: segundo Rother e Shook (1998), após alcançar o estado futuro, com a implementação das ações, ele torna-se o estado atual. Devese então desenhar um novo mapa futuro e fazer rodar o ciclo novamente, sempre em busca da melhoria contínua. A partir dos dados secundários do sistema de gestão corporativa, é feita uma pesquisa documental, através das revisões quadrimestrais dos mapas atuais e revisões anuais dos mapas futuros da organização, que mostrará a evolução na gestão da produção e a redução significativa dos desperdícios identificados. A análise do conteúdo é feito a partir dos dados inseridos nos mapas, como eficiência de cada processo, o desperdício gerado em cada etapa, perda de tempo com set up (reinicialização do processo produtivo), implementação de outras ferramentas como: troca rápida de ferramentas (SMED), ações de 5S, manutenções autônomas (TPM) e projetos seis sigma. 2.4 Utilização do Mapeamento do Fluxo de Valor para a Análise dos Desperdícios De acordo com Rother e Shook (1998), para a Manufatura Enxuta, desperdício é qualquer atividade humana que absorve recursos, mas não cria valor: erros que exigem retificação, produtos de itens que ninguém deseja, e acúmulo de itens nos estoques, etapas de processamento que na verdade não são necessárias, movimentação de funcionários e transporte de mercadorias de um lugar para outro sem propósito, grupos de pessoas em uma atividade posterior que ficam esperando porque uma atividade anterior não foi realizada dentro do prazo, e bens e serviços que não atendem às necessidades do cliente. Segundo Womack e Jones (1998), Taiichi Ohno, vice-presidente da Toyota Motor Company identificou os sete desperdícios da produção. O foco do VSM é a redução/eliminação dos sete desperdícios. São considerados como desperdício: 2.4.1 Desperdício de excesso de produção É o desperdício de se produzir além do que foi planejado, evitando a produção de estoque desnecessário. 2.4.2 Desperdício de espera por matéria prima, ferramenta, etc. É o material que está esperando para ser processado, formando filas que visam garantir altas taxas de utilização dos equipamentos. Conceito A 192 Recife n. 2 p.182-219 2011 2.4.4 Desperdícios de estoques Os estoques têm sido utilizados para evitar a descontinuidade do processo produtivo frente aos problemas de produção, visando à redução de estoques desnecessários. 2.4.5 Desperdício de movimentação Desperdícios presentes na mais variadas operações do processo produtivo. Esse desperdício acontece na interação entre o operador, a máquina e o material que está sendo processado. 2.4.6 Desperdício de processamento / retrabalho. Desperdício inerente a um processo que não seguiu as suas etapas normais, provocando assim a necessidade de retrabalho, etapa esta que não agrega valor ao produto. 2.4.7 Desperdício de transporte O transporte e movimentação de materiais são atividades que não agregam valor ao produto e são desnecessários devido às restrições do processo e das instalações, que impõem grandes distâncias a serem percorridas pelo material ao longo do processamento (ROTHER e SHOOK, 1998). Sendo assim, onde quer que haja um produto para um cliente, há um fluxo de valor. O mapa de fluxo de valor é desenhado para qualquer atividade do negócio para abarcar desde as matérias-primas até o cliente, buscando sempre a satisfação dos mesmos. 2.5 Satisfação dos Clientes A satisfação do cliente é resultado de uma série de ações realizadas ao longo de uma cadeia produtiva. O atendimento da mesma só é possível quando tais ações são identificadas em tempo hábil, pois quando o produto chega Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 193 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- Desperdícios gerados pelos problemas de qualidade, desvios de processo e desperdício de matéria-prima. Produtos defeituosos que irão exigir mão-deobra para retrabalho ou até mesmo o seu sucateamento impactando de forma negativa no resultado. tal da empresa Rexam 2.4.3 Desperdício de produzir produtos com defeitos Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ao cliente o que acontecer após essa etapa é caracterizado como ação corretiva. O mapeamento pode ser considerado como recurso para garantir que a satisfação do cliente seja atendida, se a concentração de trabalho for bem dimensionada na etapa de mapeamento, ocorre uma redução de desvios durante as demais etapas da cadeia produtiva. De acordo com Kotler e Keller (1999, p.6): A satisfação dos clientes depende do desempenho do produto percebido com relação ao valor relativo às expectativas do comprador. Se o desempenho faz jus às expectativas, o comprador fica satisfeito. Se excede as expectativas, ele fica encantado. As companhias voltadas para marketing desviam-se do seu caminho para manter seus clientes satisfeitos. Clientes satisfeitos repetem suas compras e falam aos outros sobre suas boas experiências com o produto. A chave é equilibrar as expectativas do cliente com o desempenho da empresa. As empresas inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Segundo Hoffman e Bateson (2003), são muitos os benefícios que as empresas adquirem quando buscam a satisfação dos seus clientes. Podem-se destacar alguns dos seus benefícios como o aumento da freqüência de compra dos seus produtos, o isolamento das pressões competitivas, principalmente no preço e conseqüentemente com a fidelização, os seus clientes optam por pagar mais caro, pois terão a garantia de total satisfação. Uma empresa que visa à satisfação dos seus consumidores consegue oferecer um melhor ambiente de trabalho aos seus colaboradores. De acordo com o que foi exposto é possível perceber a importância do mapeamento de fluxo de valor para as organizações, visto que ele pode ser considerado como recurso para garantir que a satisfação do cliente seja atendida. Se a concentração de trabalho for bem dimensionada na etapa de mapeamento, é possível ocorrer uma redução de desvios durante as demais etapas do processo, reduzindo assim as perdas de processo e trabalhando em cima da redução dos desperdícios em toda a cadeia de valor. 2.6 Melhorias (Kaizen) Segundo o conceito Kaizen, é sempre possível fazer melhor. Nenhum dia deve passar sem que alguma melhoria tenha sido implementada, seja ela na estrutura da empresa ou no indivíduo. Sua metodologia traz resultados concretos, tanto qualitativamente, quanto quantitativamente, em um curto espaço de tempo e a um baixo custo (que, conseqüentemente, aumenta a lucratividade), apoiados na sinergia gerada por uma equipe reunida para alcançar metas de diminuição de desperdício estabelecidas pela direção da empresa (OHNO, 1997). O conceito de sustentabilidade nos negócios ainda não é parte integrante da rotina de planejamento das empresas. Assim sendo, oportunidades importantes de melhoria Conceito A 194 Recife n. 2 p.182-219 2011 Gutierres e Lee (2008) explicam que o conceito de desenvolvimento sustentável é o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades, em dois sentidos: aumentando o potencial de produção e assegurando a todos as mesmas oportunidades (gerações presentes e futuras). Trata-se também em um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações humanas (GUTIERRES; LEE, 2008). Segundo Gutierres (2009), a partir da Revolução Industrial o mundo assistiu aos avanços tecnológicos que, passando a ser utilizado sem uma ampla visão, o efeito de suas práticas poderia culminar com a degradação ambiental. Somente nas últimas décadas, as indústrias despertaram para os cuidados de suas atividades, conhecido por sustentabilidade. O empreendimento sustentável possui quatro requisitos básicos que compõem a sustentabilidade: ser ecologicamente correto; ser economicamente viável; ser socialmente justo; ser culturalmente aceito. É preciso desenvolver um plano de gerenciamento, envolvendo todos os colaboradores trabalhando por um único objetivo: uso racional da matéria prima e energia, ou seja, a sustentabilidade na produção é ter perdas mínimas no processo de fabricação, que é muito mais do que reciclar e juntamente com a minimização dos impactos ambientais virão os retornos financeiros, melhoria da imagem, entre outros (GUTIERRES, 2009). Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 195 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam no desempenho, em particular o financeiro, deixam de ser obtidas. Embora existam mecanismos de gerenciamento adotados pelas empresas, tais como a gestão integrada, a busca de excelência, o relacionamento com os clientes e fornecedores, entre outros, muitas vezes a estrutura de informações, no que diz respeito aos aspectos e impactos ambientais, não é devidamente utilizada para o tratamento de dados significativos no intuito de atingir as metas estratégicas da organização. (OLIVEIRA, 2007, p. 11) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 3 – O ESTUDO DE CASO: A Empresa Rexam 3.1 - História da Empresa Com sede em Londres, na Inglaterra, a Rexam é uma das maiores fabricantes mundiais de embalagens. A companhia possui mais de 22 mil funcionários, mais de 90 fábricas em 22 países das Américas, da Europa e Ásia e atua nos seguimentos de embalagens metálicas, plásticos e embalagens para cosméticos (REXAM, 2009). A Rexam do Brasil estava estruturada em unidade industrial localizada na cidade de Extrema, (MG), e um escritório central localizado na cidade de São Paulo, (SP). A unidade industrial de Extrema foi inaugurada em 17 de abril de 1997. Em 30 de outubro de 2003, a Rexam do Brasil Ltda., em conjunto com sua controladora Rexam Corporativa, assinou um acordo para aquisição do controle acionário da LATASA S.A., tornando-se assim a maior fabricante de latas de alumínio no mundo (REXAM, 2009). Segundo Rexam (2009), a Latasa implantou em 1989 a primeira fábrica de latas de alumínio no Brasil. O local escolhido foi Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais. Depois vieram as fábricas em Santa Cruz – RJ, Jacareí – SP, Recife – PE, Águas Claras – RS, Brasília – DF, além de Argentina e Chile. O grupo formado pela antiga Latasa e a Rexam do Brasil passou a ser conhecido como Rexam Beverage Can South América, tem sua sede no Rio de Janeiro e se reporta a Rexam Corporativa, com sede em Londres. No ano de 2006 a Rexam inaugurou mais duas unidades na América do Sul, a unidade de Cuiabá - MT e Manaus – AM (REXAM, 2009). 3.2 Utilização do VSM Ambiental na Rexam Com a competitividade acirrada e o crescente consumo no Brasil, em específico na região Nordeste, as indústrias estão buscando aumentar sua sustentabilidade cada vez mais para atender a toda essa demanda. No entanto, esse crescimento desordenado traz uma grande preocupação com os desperdícios causados, pois eles interferem diretamente no custo da empresa e criam aspectos ambientais críticos ao meio ambiente. Assim, a Rexam passou a aplicar mecanismos para eliminar os aspectos ambientais críticos de sua produção, buscando uma sustentabilidade e diminuindo também custos. Passou a realizar o fluxo de mapeamento de Conceito A 196 Recife n. 2 p.182-219 2011 Recife n. 2 p.182-219 2011 197 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- Conceito A tal da empresa Rexam valor ambiental em suas atividades para poder identificar previamente os “aspectos ambientais críticos” no processo e com isso, buscar soluções em tempo hábil. Hoje a empresa é uma das maiores em seu segmento, que busca persistentemente a melhoria contínua e vem conseguindo desenvolver atividades de forma eficaz. Sempre prezando pela satisfação de seus clientes ao oferecer produtos de alta qualidade que atendam suas expectativas e necessidades e sem agredir o meio ambiente. A ferramenta VSMA (Mapeamento do Fluxo de Valor Ambiental) é uma das ferramentas da Manufatura Enxuta, ou como é mais conhecida, como ferramenta do Sistema Toyota de Produção. A empresa foi totalmente mapeada frente a questão ambiental. Na Rexam, o STP é denominado de Lean Enterprise (manufatura enxuta) por entender que a definição de empresa enxuta não está somente dentro da manufatura, produção, mas também nas áreas de apoio ou áreas transacionais, como RH, Expedição, Financeiro, Meio Ambiente e segurança (Enviroment Health and Safety - EHS), etc. O VSM é o norte de todas as ferramentas. É onde serão mapeados os processos identificando e no caso do VSMA os aspectos ambientais da empresa, oportunidades de melhoria, desperdícios para poder agir a fim de alcançar os objetivos almejados. Para melhor visualização do processo, foram utilizadas as Ferramentas Tradicionais da Qualidade como, fluxograma. A apresentação em fluxo do processo facilita na localização de possíveis gargalos e ainda nas tomadas de decisão. Os fluxogramas adotados no VSMA atendem ao padrão estabelecido pela certificação ISO 9001 e ISO 14001. Os ícones padrões que compõem os fluxos são utilizados dentro da companhia de um modo que aqui no Brasil e em qualquer lugar do mundo qualquer pessoa possa interpretar os mapas. Por exemplo, quando é visualizada uma menininha de vestido nas portas, sabe-se que é um banheiro feminino, ou até mesmo aquele cigarro com um traço no meio sabe-se que é proibido fumar. Este nível de padronização permite que em qualquer unidade da Rexam todos consigam identificar onde estão os desperdícios e as oportunidades de melhorias. Na Figura 2 e 3 estão alguns ícones utilizados para elaborar os mapas do fluxo de valor da Rexam: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Figura 02: Ícones do Fluxo de Material Fonte: Material de Integração, (2009) Figura 03: Ícones do Fluxo de Informações Conceito A 198 Recife n. 2 p.182-219 2011 Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 199 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- No estudo de pesquisa houve o foco somente no mapa de gestão Ambiental em si Apesar de na empresa já existirem outros processos mapeados e gerenciados, como processos de RH, Qualidade, Produção, etc, O mapeamento consiste em desenhar ou trilhar o caminho que o produto faz desde o consumidor até a obtenção de matéria prima passando por fluxos de materiais e informações, envolvendo fornecedores, clientes, corporativo, e obedecer todo o PDCA (Planejar (Plan), Fazer (Do), Checar (Check), Agir (Action)). O VSMA da Rexam foi analisado visando o aumento da eficiência da gestão ambiental da Unidade Recife, de modo a atender um vasto número de fornecedores (stakeholders), como órgãos públicos, a exemplo da agência de meio ambiente do estado (CPRH), abrir mercados internacionais, cuidar da vizinhança evitando impactos ambientais, etc. São dois os mapas do VSMA, os quais são feitas análises e servem como referências: o mapa do estado atual e o mapa do estado futuro. O mapa do estado atual é uma fotografia do momento, como se está hoje e onde é possível conseguir enxergar os aspectos ambientais críticos dos processos (eficiência ambiental, destinação de resíduos, etc). Identifica-se o que de fato é importante para a organização e para o cliente, e principalmente onde se devem gastar as energias e esforços na redução e eliminação dos aspectos ambientais críticos para cumprir nosso objetivo que é aumentar a eficiência da gestão ambiental e a sustentabilidade da fábrica. O mapa do estado futuro é onde se deseja chegar num determinado período de tempo, pode ser de curto ou médio prazo. A meta na Rexam é que ele seja alcançado no período de um ano, é realizar todas as ações propostas com base no mapa atual e então alcançar o mapa futuro. Nesse estado já tem que ter a meta de eficiência proposta aumentada, ter ganho de tempo e capacidade para atender as necessidades dos clientes, enfim alcançar todas as metas no tempo proposto e de uma forma possível e mensurável. O foco do VSMA é a identificação de aspectos ambientais críticos que possam causar impactos ao meio ambiente e como conseqüência a eliminação dos mesmos. Sem identificação não é possível eliminá-los. Conforme citado o fluxo de valor é o conjunto de todas as atividades que ocorrem na empresa desde a obtenção da matéria-prima até a entrega do produto ao consumidor final. Nessas atividades estão incluídas tanto as atividades que agregam tal da empresa Rexam Fonte: Material de Integração, (2009) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso valor, como as que não agregam valor. De uma forma geral, diz-se que uma atividade agrega ou não agrega valor do ponto de vista do cliente. Atividades que agregam valor são aquelas que o cliente paga por elas, e modificam o produto que ele está comprando. Exemplo: a impressora da lata ou tampa – o rótulo não pode sair borrado, isso prejudicaria a imagem do cliente e ele teria custo de devoluções. Atividades que não agregam valor são aquelas pelas quais o cliente não paga por elas, e nada agregam ao produto que ele está comprando. Algumas atividades, apesar de não agregarem valor, são necessárias ao processo para sustentabilidade ambiental e não podem ser eliminadas. Exemplo: a Lavadora de latas – Não é importante para o cliente a maneira como a lata é lavada, o que tem que ser garantido é que ela esteja limpa e apropriada para o envase de líquidos comestíveis. Outro exemplo são os sensores que detectam defeitos – para o cliente o importante é o produto sair com qualidade. No sistema de Gestão Ambiental não existe atividades que agregam ou não agregam valor. Todas são importantes porque existem aspectos ambientais que precisam ser identificados e consequentemente controlados ou eliminados. Uma vez mapeado, a visualização do processo fica conforme (ANEXO C), mostrando os aspectos ambientais críticos de todas as atividades, onde tem resíduos mais críticos devem ser gastos mais esforços, apresentam ainda qual o nível de criticidade dos resíduos em cada processo e qual a destinação adequada de cada resíduo, entre outros. 3.3 Detalhamento do Mapa do Fluxo de Valor Ambiental Neste item, são abordados os conceitos do mapa ambiental, conceituando e dando exemplos de como funciona na Rexam o VSMA. O Planejamento do mapa usa o ciclo PDCA, uma ferramenta de planejamento (Plan), execução (Do), análise (Check) e melhoria (Action), que define as metas e objetivos a serem atingidos pelo sistema de gestão ambiental. O setor de meio ambiente da REXAM (EHS) realizou um levantamento dos aspectos e impactos ambientais em todos os processos e calculou o nível de prioridades de risco quanto a ocasionar danos ao meio ambiente. Os indicadores são calculados sempre a partir da produtividade da empresa. O Planejamento da produção é para que sejam utilizados os insumos Conceito A 200 Recife n. 2 p.182-219 2011 Recife n. 2 p.182-219 2011 201 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- Conceito A tal da empresa Rexam necessários e produzir somente o solicitado pelos clientes e o VSMA visa a redução do valor do Nível de Prioridade de Risco (NPR) dos aspectos levantados por processos levando em conta a produtividade, dando prioridade aos NPR´s mais elevados, com definição de ações para reduzir o risco ou eliminar o identificado. O VSMA apresenta qual o processo que pode causar maior impacto ao meio ambiente e as ações que serão focadas neste processo. O processo crítico é caracterizado por um retângulo vermelho em sua volta, conforme (ANEXO D). Geralmente o excesso de resíduos, o quanto o resíduo é perigoso ou se tem algum tipo de controle, serão os fatores que determinarão as ações para tratar os aspectos identificados. A quantidade de resíduos no processo produtivo pode ser muito reduzida devido às ações já implantadas, como no exemplo abaixo: Produzir a quantidade estipulada pela OP - Ordem de Produção - não produzir além do necessário e ajustar processos para na busca do resíduo zero. Heijunka Box – nivelar e controlar o mix de produção de forma simples e transparente, com o objetivo de distribuir a produção com diferentes produtos uniformemente durante um período de tempo. É uma maneira de controlar o processo, verificar o que está sendo produzido, se a linha está balanceada. Os funcionários marcam isso com cartões fixados nos paletes, uma forma de gestão a vista da produção. Os Defeitos no processo produtivo é um fator muito crítico e liga o VSMA as ações de manutenção para reduzir os aspectos que possam ocasionar impactos ambientais, por isso é necessário produzir sem defeitos, e a empresa determinou metas operacionais para evitar os resíduos por causa da produção. Reduzir o HFI – Hold for Inspection ou segregado para inspeção - é não deixar que o produto saia com um possível defeito e que tenha que ser segregado para ser inspecionado, é de fato fazer certo da 1ª vez. Reduzir o spoilage (desperdício, sucata) – Não tendo produtos segregados, também não será gerada sucata e agir durante o processo faz com as rejeições pelos sensores seja menor. Acompanhar e agir para reduzir rejeição das máquinas de inspeção – assim que verificar que um produto está sendo rejeitado, parar a máquina e realizar intervenções. Controlar o Processo. Ficar atento ao produto e a sua atividade. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 3.4 Destinação dos resíduos A descrição do mapa quanto ao envio do resíduo gerado no processo, bem como, qual o meio de transporte para este envio está apresentado conforme (ANEXO E). Cada tipo de resíduo é analisado o melhor método de destinação e é especificado em uma tabela no mapa VSMA, conforme (ANEXO F). 3.5 VSMA versus a melhoria contínua O PDCA do VSMA mostra como ele de fato opera: selecionam-se os processos que são mais críticos quantos aos aspectos ambientais, desenhase o mapa atual (que apresenta os processos com níveis de prioridades de risco). Desenha-se o estado futuro e é elaborado um plano de ação focando na eliminação dos aspectos ambientais críticos, estas ações definidas são apresentadas em forma de balões verdes para as concluídas, azul para as ações utilizadas e os amarelos para indicação de como será executada a ação, conforme (ANEXO G). Assim que as ações forem concluídas o mapa atual vai se aproximando do mapa futuro em um espaço de tempo. O estado futuro passa a ser o atual quando são resolvidas todas as ações e elabora-se um novo futuro. Isso faz com que a organização vá à busca do mapa ideal. As ações definidas vão para um plano de ação gerencial da empresa chamado de Hopper List, que é acompanhado semanalmente e mensalmente para verificar a melhoria contínua. Conceito A 202 Recife n. 2 p.182-219 2011 Fonte: Material de Integração, (2009) A Hopper List é a lista de prioridades da fábrica, é o plano de ação do Sistema de Gestão Integrado e do STP. A mesma é alimentada principalmente pelos VSM´s, pelas ações geradas para transformar o estado atual no estado futuro e permite a visualização de todas as ações de melhoria da fábrica e a realimentação das informações (follow up). A Hopper list é a ferramenta que integra o Sistema de Gestão ambiental e o Lean Enterprise, estes sistemas demonstram a REXAM gira em forma de PDCA, conforme (ANEXO H). Com a utilização das ferramentas do Lean, é possível evidenciar o cumprimento do Sistema de Gestão Ambiental. 3.6 Indicadores do sistema de gestão através do VSMA Com a utilização do VSMA é possível perceber uma melhora significativa nos indicadores do Sistema de gestão Ambiental da REXAM. Observa-se a evolução de três indicadores de grande importância para a empresa: O indicador de Geração de Resíduos de Tampas (IGRT), figura 10; Indicador de Reaproveitamento de Resíduos de Tampas (IRRT), figura 11; e O indicador de Ecoeficiência de Tampas, figura 12. O acompanhamento destes indicadores foi entre os anos 2008 e 2009, observando-se melhoras significativas do processo. Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 203 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam Figura 04: Usando a ferramenta VSM Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Figura 5: Indicador de geração de Resíduos Fonte: Planilha Gestão Recife, (2009) O gráfico apresenta o índice de quanto à empresa está gerando de resíduos e tem meta para o ano de 2010 de 0,047 Kg de resíduos gerados na fábrica de tampas dividido por milheiro de tampas produzidas. A seta verde virada para baixo indica que quanto menor melhor é o resultado da empresa. A média de 2010 está com 0,049Kg o que indica que ações devem ser tomadas para sua redução até o término do ano de 2010, essas ações são definidas em reuniões e registradas na ferramenta A3 conforme a figura 13 e 14. Conceito A 204 Recife n. 2 p.182-219 2011 Fonte: Planilha Gestão Recife, (2009) O gráfico apresenta o índice percentual de quanto à empresa está reaproveitando de resíduos gerados e tem meta para o ano de 2010 de 75% de resíduos reaproveitáveis em kilo na fábrica de tampas dividido por total de resíduos gerados em kilo. A seta verde virada para cima indica que quanto maior será melhor o resultado da empresa. A média de 2010 está com 76% o que indica que ações estão adequadas para atender o planejamento do ano de 2010. Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 205 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam Figura 6: Indicador de Reaproveitamento de Resíduos Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Figura 7: Indicadores de Ecoeficiência tampas Fonte: Planilha Gestão Recife, (2009) O gráfico apresenta o índice percentual de quanto à empresa está sendo eficiente quanto às gerações de resíduos e reaproveitamento destes em relação a sua produtividade e tem meta para o ano de 2010 de 93% na fábrica de tampas. A seta verde virada para cima indica que quanto maior será melhor o resultado da empresa. A média de 2010 está com 92,51% que indica que ações devem ser tomadas para sua redução até o término do ano de 2010, mas as ações são tomadas nos outros indicadores operacionais o de geração de resíduo (IGRT) e o de reaproveitamento de resíduo (IRRT), que são responsáveis pela formalização do indicador gerencial de Ecoeficiência (IEET). O A3 é a ferramenta utilizada para apresentar todo o resumo de como está caminhando o VSMA, conforme (ANEXO I) e as ações definidas são registradas e acompanhadas em um Plano de Ação, seguindo de acordo com os conceitos da ferramenta da qualidade 5W1H, conforme (ANEXO J). Conceito A 206 Recife n. 2 p.182-219 2011 clientes. Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 207 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- Os objetivos específicos foram atingidos com a apresentação do mapeamento de fluxo de valor ambiental (VSMA) que funciona utilizando o ciclo PDCA de modo que o torna parte integrada na norma ISO 14001 e executa todo o delineamento dos elementos do sistema de gestão ambiental da empresa Rexam. O sistema Toyota de Produção (STP) é uma cultura na empresa e foi o que motivou a necessidade da empresa implantar o STP na área ambiental. O sistema de gestão ambiental foi totalmente reestruturado para o STP e formado a partir do mapeamento de valor que é a ferramenta que identifica os pontos específicos dos processos em que estão ocorrendo aspectos ambientais críticos e descrevendo a forma como a Rexam planeja seus objetivos ambientais em torno do VSMA. Foi apresentado o desenvolvimento da melhoria contínua da gestão ambiental em seus processos através do STP com os resultados dos indicadores IGRT, IRRT e IEET, os quais apresentam evolução e definem pontos onde serão gastas as energias e elaboradas ações específicas que serão lançadas na Hopper List com o intuito que ocorra a redução/eliminação desses aspectos ambientais, através de monitoramentos constantes que garantam a execução das ações através da ferramenta A3. O monitoramento é realizado através do acompanhamento dos indicadores gerenciais que são desdobrados para todos os funcionários da fábrica; com o não cumprimento da meta, serão geradas ações específicas para a eliminação dos desvios. Com as ações concluídas, é possível obter a satisfação do cliente tendo confiança no Sistema de Gestão Ambiental, em conseqüência a sua sustentabilidade, havendo a possibilidade de aumento na margem de lucro da empresa. Com isso, a empresa terá impactos significativos quanto à melhoria da gestão ambiental dos processos referência em sua área de atuação, visando um aumento na sua participação no mercado e como conseqüência, um reconhecimento mundial de todas as partes interessadas. Desta forma é possível evidenciar a melhoria contínua dos seus processos, refletindo na Rexam Recife como um todo. A ferramenta VSMA, desenvolvida pela Rexam contribui para o aprimoramento da empresa, principalmente frente às práticas ambientais em todo seu processo produtivo, sinalizando-a para o cuidado sustentável. Ainda permite a empresa ganhar em lucratividade e Satisfação contínua dos tal da empresa Rexam 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso REFERÊNCIAS CAMPOS, L.M.S.; MELO, D. Indicadores de desempenho dos sistemas de gestão ambiental (SGA): uma pesquisa teórica. Produção, v.18, n. 3, p.540-555, 2008. CANTÍDIO, S. Mapeamento do fluxo de valor: o primeiro passo para uma produção enxuta. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/ artigos/mapeamento-do-fluxo-de-valor-o-primeiro-passo-para-uma-producaoenxuta/32889/>. Acesso em: 02 set. 2010. FERRO, J.R. A essência ferramenta “mapeamento de fluxo de valor”. Disponível em: <http://www.leaninstitute.org.br/comunidade/artigos/pdf/artigo_61.pdf>. Acesso em: 02 set. 2010. GUTIERRES, N. Sustentabilidade empresarial. Revista Banas Qualidade, São Paulo, Ano XVIII, n.204, p.32-43, mai. 2009. HOFFMAN, K. Douglas; BATESON, John E. G. Princípios de Marketing de Serviços: Conceitos Estratégias e Casos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. KOTLER, Philip.; KELLER, Kelvin Lane. Administração de Marketing. São Paulo: Prentice Hall, 1999. LEE, M.; GUTIERRES, N. O conceito de sustentabilidade. Revista Banas Qualidade, São Paulo, Ano XVIII, n.197, p.32-36, out. 2008. MACDONALD, Van Aken; RENTES, Af. Utilization of Simulation Model to Support Value Stream Analysis and Definition of Future State Scenarios in a Hightechnology Motion Control Plant. São Paulo: Atlas, 2000. OHNO, Taiichi. O Sistema Toyota de Produção: Além da Produção em Larga Escala. São Paulo: Bookman, 1997. OLIVEIRA, Flávio. Ecoeficiencia: a gestão do valor ambiental. São Paulo: EPSE, 2007. OLIVEIRA,O.J.; SERRA, J.R. Benefícios e dificuldades da gestão ambiental com base na ISO 14001 em empresas industriais de São Paulo. Produção. Disponível em: <HTTP://www.scielo.br/pdf/prod/2010nahead/aop_t6_0009_0078.pdf>, acesso em: 02 set. 2010. ROTHER, Mike ; SHOOK, John. Aprendendo a Enxergar – Mapeando o Fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício. São Paulo: Lean Institute Brasil, 1998. Conceito A 208 Recife n. 2 p.182-219 2011 WOMACK, James P. ; JONES, Daniel T. A Mentalidade Enxuta nas Empresas. São Paulo: Campus 1998. ANEXOS ANEXO A - Questionário 1.COMO A REXAM UTILIZA O STP PARA A GESTÃO AMBIENTAL? 2.COMO FUNCIONA O PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL COM A UTILIZAÇÃO DO MAPA DE FLUXO DE VALOR AMBIENTAL? 3.COMO A REXAM PLANEJA A GESTÃO AMBIENTAL? 4.QUAIS OS INDICADORES AMBIENTAIS DA REXAM? 5.COMO A REXAM GERENCIA A MELHORIA CONTINUA? 6.QUAIS OS IMPACTOS DE MELHORIA QUE O VSMA OCASIONOU NA REXAM? Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 209 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. ISO 14001 Sistemas de Gestão Ambiental: implantação objetiva e econômica. São Paulo: Atlas, 2007. tal da empresa Rexam REXAM. Manual do Sistema de Gestão Integrada – Unidade Recife. Rev. 08. Recife: 2009 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ANEXO B – Ata de orientação e TCC 1. Nome do Aluno: _______________________________________________________ ___________ 1. Título do TCC: _______________________________________________________ ___________ _______________________________________________________ ___________ 3. Linha de Pesquisa (consultar as linhas estabelecidas pela coordenação): _______________________________________________________ ___________ 4. Professor Orientador: _______________________________________________________ ____________ 5. Período da orientação: Início:___/____/_____. Término:___/____/_____. 6. Comentário do professor orientador: _______________________________________________________ ___________ _______________________________________________________ ___________ _______________________________________________________ ___________ _______________________________________________________ ___________ Recife, _____/_____/________ Autorizo a entrega deste TCC por mim revisado. Conceito A 210 Recife n. 2 p.182-219 2011 ANEXO C – Mapa de Fluxo de valor Ambiental – VSMA (Material de Integração, 2009) Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 211 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam _____________________________________ (assinatura do orientador) Conceito A 212 Recife n. 2 p.182-219 2011 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ANEXO E - Disposição Final dos Resíduos no Mapa VSMA (Material de integração, 2009) Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 213 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam ANEXO D - Processos Mapeados (Material de Integração, 2009) Conceito A 214 Recife n. 2 p.182-219 2011 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 215 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam ANEXO F - Tratamento Final dos Resíduos (Material de Integração, 2009) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ANEXO G – Mapa de fluxo de valor Ambiental Futuro (Material de Integração, 2009) Conceito A 216 Recife n. 2 p.182-219 2011 Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 217 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam ANEXO H – PDCA – Integração entre o SGI e o LEAN (Material de Integração, 2009) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ANEXO I - A3 – VSM Ambiental (Planilha Gestão Recife, 2009) Conceito A 218 Recife n. 2 p.182-219 2011 CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS Conceito A Recife n. 2 p.182-219 2011 219 Utilização de ferramentas do sistema toyota de produção na gestão ambien- tal da empresa Rexam ANEXO J –Plano de Ação do VSMA (Planilha Gestão Recife, 2009) Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS JOSÉ FERNANDO BARBOZA POLÍTICAS DE FOMENTO: INSERÇÃO DAS EMPRESAS DE SOFTWARE NO MERCADO INTERNACIONAL RECIFE 2011 JOSÉ FERNANDO BARBOZA POLÍTICAS DE FOMENTO: INSERÇÃO DAS EMPRESAS DE SOFTWARE NO MERCADO INTERNACIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas, da Faculdade São Miguel, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharelado de Economia. ORIENTADOR WILSON MARTINS DA SILVA RECIFE 2011 JOSÉ FERNANDO BARBOZA POLÍTICAS DE FOMENTO: INSERÇÃO DAS EMPRESAS DE SOFTWARE NO MERCADO INTERNACIONAL Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito ( ) em __/__/____ Banca Examinadora __________________________________________________ (nome do(a) examinador(a) seguido de sua instituição) ___________________________________________________ (nome do(a) examinador(a) seguido de sua instituição) Conceito A 220 Recife n. 2 p.220-256 2011 A Deus que fortaleceu nos momentos que me encontrava sem condições em desenvolver este trabalho; À minha mãe, Maria Sebastiana, pelo incentivo e por esta sempre presente na elaboração deste trabalho; Ao meu pai, Fernando, pelo ensinamento que não se encontra em livros e pelos valores passados; Aos meus irmãos, André e Maria, pelos momentos de descontração e por sempre estar perto quando preciso de ajuda; À faculdade São Miguel, pelo apoio e orientação ao longo deste curso; Ao orientador, Wilson Martins, pelo acompanhamento deste trabalho e pelas críticas que enriqueceram o trabalho; Aos meus professores do curso de Ciências Econômicas, pelos ensinamentos que está além das teorias econômicas; E aos meus amigos e familiares, por compartilhar dos melhores momentos da minha vida e tornar mais fácil de suportar os difíceis momentos. RESUMO Este trabalho tem como objetivo geral analisar as políticas de fomento sobre as empresas de software da cidade de Recife, que buscaram inserção no mercado internacional. O trabalho apresentou os benefícios e as dificuldades em buscar o mercado internacional e como as políticas comerciais podem ser fatores determinantes na inserção das empresas nacionais no mercado externo. Posteriormente foi abordado os aspectos da indústria de software, que a diferenciam das demais indústrias. Compreendendo as características da indústria de software, em seguida foi levantado um panorama da indústria e mercado brasileiro de software. Após foi apresentado as políticas de fomento que atingiram a indústria de software, desde sua formação, revelando a importância do apoio governamental e seus diferenciados modelos. Por fim, foi apresentado os incentivos que atingiram as empresas de software de Recife e a estrutura institucional de apoio ao setor. Com os dados obtidos nas etapas anteriores se observou o grau de relevância das políticas de fomento a indústria brasileira de software e serviços de TI, onde o conjunto de medidas do governo vem reduzindo os entraves encontrados no processo de internacionalização. Palavras-Chave Políticas comerciais. Expansão de negócio. Internacionalização. Exportação. Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 221 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional AGRADECIMENTOS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................222 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................223 2.1 Políticas Comerciais.......................................................................223 2.1.1 Tarifas......................................................................................226 2.1.2 Subsídio....................................................................................227 2.2 Aspectos da Indústria de Software e Serviços...................................228 2.3 Indústria e Mercado Brasileiro de Software.......................................231 2.4 Processo de Internacionalização das Empresas de Software................235 2.5 Políticas de Fomento a Indústria de Software....................................238 2.5.1 Políticas de Fomento a Indústria Brasileira de Software...................241 2.5.2 Políticas de Fomento as Empresas de Software Situadas no Recife...245 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................249 REFERÊNCIAS....................................................................................253 1. INTRODUÇÃO Este trabalho é o resultado de estudos elaborados sobre as políticas de fomento praticadas pelas empresas de software da cidade de Recife. O mesmo tem como, objetivo responder à seguinte questão: como as políticas de fomento podem ser fatores determinantes de sucesso para as empresas de software da cidade de Recife, na busca por inserção no mercado internacional? Como resposta ao objetivo geral estabelecido, foi realizada uma análise sobre as políticas de fomento sobre as empresas de software da cidade de Recife, que buscaram inserção no mercado internacional. Para alcançar o objetivo deste trabalho, foi realizada uma breve análise sobre os aspectos da indústria Conceito A 222 Recife n. 2 p.220-256 2011 A pesquisa foi de caráter qualitativo, pois se tratou de uma interpretação dos fenômenos que influenciaram o setor estudado. Em relação ao procedimento para obtenção dos dados, se utilizou a pesquisa bibliográfica. Na busca de se atingir o objetivo geral, foi adequado à utilização da pesquisa explicativa, onde através dos dados coletados, buscou-se compreender as políticas de fomento como fator preponderante na inserção das empresas de software no mercado internacional. O tema o impacto das políticas de fomento sobre a inserção das empresas de software no mercado internacional foi escolhido devido à necessidade de novos estudos referentes às políticas de fomento aplicadas pelo governo para as empresas de software situadas em Recife; e levantar discussões sobre a participação destes fatores no processo de inserção, com o intuito de aperfeiçoamento destas empresas no mercado internacional. O estudo está estruturado de forma a apresentar a importância da participação do governo na indústria de software. No primeiro momento é abordado as políticas comerciais utilizadas a fim de desenvolver determinado setor econômico. Posteriormente foram apresentadas as peculiaridades da indústria de software, observando o seu caráter heterogêneo. Em seguida foi realizada uma análise panorâmica do mercado brasileiro de software, mostrando seu desempenho em relação a outros mercados e observando a participação das empresas nacionais no mercado interno e externo. A última seção apresenta as conclusões do estudo e apresenta algumas sugestões para o aperfeiçoamento do processo de inserção das empresas de software de Recife no que se diz respeito à sua atuação no mercado global. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1Políticas Comerciais O comércio internacional possibilita que os países se relacionem e obtenham Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 223 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional de software, levantou-se o panorama da realidade do mercado de software no Brasil e analisou-se o comportamento da indústria de software brasileira. Algumas outras ações foram tomadas, tais como: observar o processo de internacionalização das empresas de software; levantar as políticas de fomento voltadas à indústria brasileira de software; e mencionar os incentivos que alcançaram as empresas de software situadas no Recife. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso vantagens mútuas até mesmo quando um país possui produção menos eficiente, que somente consegue competir pagando menores salários. O benefício proporcionado pelo livre comércio, de acordo com a teoria das vantagens comparativas, se deve a oportunidade de exportar bens cuja produção possua vantagens relativas, e de importar produtos que faça uso intenso de recursos que são escassos localmente. Com a existência de relações internacionais, cada país deverá se especializar em produtos que possuam maior vantagem relativa, pois haverá disponibilidade para empregar maior tempo e recursos na produção desses bens (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001). Ainda para Krugman e Obstfeld (2001), apesar de o comércio internacional ser benéfico para a economia dos países se observa em contrapartida que a demanda por produtos internacionais enfraquecem determinados setores nacionais. Diante deste cenário econômico, ocorre uma batalha entre livrecomércio e protecionismo. Governos têm se preocupado com os efeitos da concorrência internacional sobre a prosperidade das empresas nacionais. E na busca de protegê-las, o governo através de políticas comerciais impõe barreiras às importações ou através de subsídios, mantém a competitividade dos produtos no mercado internacional. Mesmo assim, Carbaugh (2010) argumenta que apesar dos pesares, o livrecomércio, se apresenta como a melhor decisão dos países para se obter níveis mais elevados de produção das empresas nacionais. Nota-se que a teoria não se aplica à realidade. Em um mundo dinâmico, a vantagem comparativa muda constantemente devido a alterações na tecnologia, na produtividade dos insumos e nos salários, bem como nos gostos e preferências. Um livre-comércio torna obrigatórios os ajustes. A eficiência de um setor precisa melhorar, ou os recursos fluirão das utilizações de baixa produtividade para aquelas de alta produtividade. (CARBAUGH, 2009. p. 148). Independente do intuito de proteger as empresas locais um país precisa manter um bom relacionamento com o mercado internacional. Segundo Bruno Ratti (2001, p.370), “Não se pode cair no extremo de uma economia totalmente fechada, pois o comércio exterior é, indiscutivelmente, uma alavanca importante no processo de desenvolvimento econômico de um país [...]”. Devido à relevância de se manter relações comercias com outros países, se observa que as exportações de um país não deverão ser desconsideradas. Conceito A 224 Recife n. 2 p.220-256 2011 Na busca de encontrar o equilíbrio entre proteger as indústrias nacionais e manter relações com o mercado internacional, o governo faz uso dos instrumentos de política comercial, que poderão ser classificados em: i) barreiras não-tarifárias; ii) quotas; iii) subsídios; e iv) tarifas (KENEN, 1998). Ainda para Kenen (1998), é correto afirmar que o livre-comércio é benéfico para todos os países participantes. Porém, quando o governo identifica efeitos negativos nas indústrias nacionais – devido à concorrência internacional e/ ou quando busca incentivar os possíveis setores estratégicos da economia nacional – este utilizará medidas de proteção à economia local. Dentre os instrumentos de política comercial destacam-se as tarifas e os subsídios. Além de intervir nas políticas comerciais, o governo poderá se tornar o principal consumidor de certo produto, a fim de manter um determinado setor em atividade. Porém a forma que o governo emprega estes instrumentos poderá ser benéfica ou danosa as indústrias nacionais, pois no instante que se prioriza alguns setores outros poderão ser prejudicados. De acordo com Araujo Júnior e Veiga (2010), a atuação do governo como agente incentivador, é um fator determinante para as inovações das empresas nacionais no geral. Porém, o manejo da política comercial no Brasil é um exemplo de como desestimular a inovação e comprometer o desempenho das exportações. Mas na teoria as políticas comerciais buscam evitar que uma proteção concedida a uma determinada indústria possa prejudicar a competitividade dos demais setores. A participação do governo se faz necessário para o desenvolvimento econômico, porém a intervenção deverá atender as necessidades da sociedade. Intervir para o desenvolvimento econômico é uma forma legítima que o Estado assume para cumprir seu papel clássico de sobrevivência militar, ordem interna, autonomia e soberania. O desenvolvimento, portanto, é um ótimo pré-requisito para a garantia de bem-estar no longo prazo. Entretanto, o esplendor da intervenção estatal não se encontra em definir o quanto o é Estado intervencionista, mas, sobretudo, em determinar as formas e os papéis por ele assumidos (ARAÚJO et al., 2009, p. 293). A demanda pública é um instrumento de intervenção governamental, que contribui no desempenho de determinado setor. A indústria de software Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 225 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional As exportações estão entre as principais forças propulsoras do crescimento de um país, pois são um instrumento de geração de divisas, emprego e renda. Assim, são de fundamental importância a implantação, manutenção e aperfeiçoamento de políticas públicas que propiciem o crescimento das exportações (BRASIL, 2009, p.14). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso brasileira se beneficia da demanda do governo, devido à exigência de soluções complexas e elaboração e execução de projetos de grande porte. Pela própria natureza das aplicações dessas tecnologias o setor público se constitui em um potencial demandante. A necessidade do processamento de grandes volumes de informações para o adequado funcionamento dos serviços públicos faz do Estado um importante usuário de soluções em software (ROSELINO, 2006, p. 168). 2.1.1 Tarifas A tarifa pode ser conceituada como um simples imposto de importação que incide sobre um produto quando entra em território nacional. Tendo como finalidade proteger os produtos nacionais que competem com os importados e/ou ser utilizado como forma de gerar receitas tributárias. As tarifas mais comuns são relativas às importações, que atuam no intuito de encarecer os produtos importados e tornar os produtos domésticos mais atrativos para os consumidores locais. Em relação aos tipos de tarifas, aplicam-se: tarifa específica que é expressa em uma quantia fixa de dinheiro por unidade do produto importado; tarifa ad valorem, parecida com a específica, utilizasse uma porcentagem fixa ao valor do produto; e a tarifa mista, que é uma combinação entre a tarifa específica e ad valorem (CARBAUGH, 2004). Segundo Rosa e Rhoden (2007), um dos motivos identificados na decisão de se internacionalizar uma empresa, se deve em parte as aplicações das barreiras tarifárias à importação, isto é, no momento que os produtos são encarecidos devido à aplicação tarifária nos países compradores, se torna mais atrativo abastecer o mercado nacional. A aplicação de uma barreira tarifária tem como finalidade proteger os produtos nacionais, entretanto esta também atuará nos bens de capitais importados, que por sua vez, irá interferir no processo de inovação das empresas nacionais. Com a remoção das barreiras à importação, as empresas poderão obter novos equipamentos, que consequentemente elevará a competitividade de seus produtos no mercado internacional (ARBACHE; CORSEUIL, 2004). A tarifa à exportação incide sobre a exportação dos produtos nacionais ou nacionalizados, com a finalidade de gerar receitas tributárias. A aplicação dessa tarifa não se aplica necessariamente a todos os produtos exportados. A divulgação dos produtos que estarão sujeitos a tarifa de exportação, será de responsabilidade do Banco Central do Brasil (CARBAUGH, 2004; RATTI, Conceito A 226 Recife n. 2 p.220-256 2011 A decisão de adotar tarifas dependerá de qual grupo o governo quer beneficiar, as empresas nacionais ou consumidores. De acordo com Carbaugh (2004, p.156), “Autoridades governamentais esclarecidas compreendem que, embora o protecionismo proporcione benefícios à indústria nacional, a sociedade como um todo paga os custos”. 2.1.2 Subsídio A utilização dos instrumentos da política comercial possibilita que o governo interfira no desenvolvimento das empresas nacionais. Mas na busca de atingir apenas uma empresa ou um setor estratégico, o governo poderá fazer uso dos subsídios. Compreendidos como um benefício acordado através de um apoio financeiro do governo, que envolve benefícios fiscais, a transferência de fundos, de mercadorias ou de serviços, feitas pelo governo, nesse caso, o subsídio é equivalente a um imposto negativo. Desta forma, o preço líquido recebido pela empresa é igual ao preço pago pelo consumidor mais o subsídio. (CAUBAUGH, 2004). Os subsídios empregados são definidos em três categorias: i) proibidos, que são os subsídios que elevam o desempenho das exportações e/ou que privilegiam o uso de produtos nacionais, em confronto com os produtos estrangeiros; ii) recorríveis, que podem causar um efeito prejudicial à indústria de outro Estado-membro, mas não interfere no mercado internacional; e iii) irrecorríveis, que são compostas pelas categorias de subsídios permitidos, isto é, não restringem o comércio mundial, nem distorcem os seus efeitos. Concedidos com o intuito de auxiliar certos custos de atividades de pesquisa ou de ajudar determinadas regiões ou, ainda, de ajudar as empresas no processo de adaptação a novas leis (MARGARIDA, 2005). A utilização de subsídios é útil para incentivar as indústrias nacionais, mas não deverão ser utilizadas no intuito de ameaçar e nem prejudicar os parceiros comerciais. Os subsídios distorcem o comércio através da transferência do dinheiro dos contribuintes para os produtores. Subsídios podem ser usados para beneficiar a indústria nacional em detrimento dos importadores. Esse suporte, pode, contudo, ser usado para fins de pesquisa e desenvolvimento da indústria nacional de base[...] (EVANS, 1994, p. 81 apud AMARAL JÚNIOR, 2002, p. 63). Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 227 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional 2001). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso O governo tendo como finalidade estimular as exportações de setores estratégicos utilizasse dos subsídios às exportações como instrumento de intervenção. Este tipo de subsídio tem como característica, a concessão de isenção fiscal e empréstimos as empresas nacionais e/ou conceder empréstimos a juros baixos aos compradores estrangeiros. Entretanto este meio de incentivo as indústrias nacionais são considerados ilegais, porém diversas nações fazem uso deles de forma velada ou não. Mas esta prática se for identificada poderá ser considerada como forma de dumping, que é a venda de produtos abaixo do preço normal de mercado. E os países que se sentirem prejudicados por esta prática, poderão fazer a utilização de medidas antidumping (SALVATORE, 2000). A participação do governo é fundamental para o fortalecimento da Indústria de software, tendo como papel de provedor de um ambiente favorável. De acordo com Alves (2006, p. 87) “[...] a construção de mecanismos regulatórios, incentivos e políticas de estímulo ao setor são necessários para a construção das bases de competitividade da indústria”. Porém, se deve observar o caráter heterogêneo da indústria de software, pois a elaboração de políticas de fomento ineficientes, poderá ocasionar efeitos perversos ao setor. 2.2 Aspectos da Indústria de Software e Serviços O software pode ser compreendido como um conjunto lógico de instruções que determina as funções a serem executadas pelo hardware. Devido ao seu caráter imaterial, o seu desenvolvimento ocorre através da transformação de conhecimento tácito em conhecimento codificado. O software não poderá ser comparado aos demais bens manufaturados, pois a imaterialidade e os baixos custos de reprodutibilidade são características desta indústria (DIEGUES, 2010). A precificação do software produto/serviço não poderá esta relacionada aos custos de produção, pois será levado em consideração o nível de conhecimento do grupo que o desenvolve. Definir software como produto é de difícil mensuração, pois seu desenvolvimento e comercialização diferem dos demais produtos convencionais, além da possibilidade de se tornar insumo para outras indústrias. Diferente dos demais produtos que eleva o preço a partir de sua escassez, o software após ser finalizado não necessita se limitar a uma determinada quantidade de cópias (PIANNA, 2011). Conceito A 228 Recife n. 2 p.220-256 2011 A heterogeneidade observada na indústria de software permite a entrada de empresas de países não-centrais – que possuem uma indústria menos desenvolvida. Porém, a entrada aos mercados de atividades de maior valor agregado possui diversos entraves, devido ao trancamento do processo de desenvolvimento de software imposta pelos países centrais. No caso do Brasil, a indústria de software atende aos mercados não contemplados pelos países centrais (first movers) (PIANNA, 2011). Empresas que conseguem impor um padrão dominante no mercado auferem maiores retornos crescentes de escala, pois no instante que estas empresas conseguem uma posição de destaque no mercado, a reprodutibilidade se ilimitada, devido aos custos serem próximos a zero. As externalidades originadas no mercado intensificam a formação de oligopólio, pois os clientes tendem a utilizar softwares de maior uso no mercado a fim de facilitar a sua adaptação e troca de informações entre usuários (ROSELINO, 2006). Como consequência das externalidades positivas a um efeito lock-in, que seria o trancamento a um projeto dominante. [...] o aprisionamento tecnológico e o feedback positivo por meio das redes de usuários e das externalidades do produto de software, que provocam um distanciamento das empresas líderes, acirrando as posições de mercado e aumentando a lucratividade em médio e longo prazos. A partir desse mecanismo, consegue-se estabelecer na indústria uma posição privilegiada com a garantia de retornos crescentes de capital e distanciamento de concorrentes (ARAÚJO, 2009. p. 314). No mercado de software se observa a divisão de atividades entre os países centrais e não-centrais. A partir de uma análise da exportação destes países, é observado que os países centrais – com maior representante os Estados Unidos – sedia as maiores empresas de informática, onde é desempenhado atividades de criação, análise e de design de alto nível. Os países não-centrais Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 229 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional A indústria de software obtém destaque na economia de um país, principalmente pelo seu caráter transversal, atingindo todos os setores econômicos. Segundo Araújo e Meira (2004, p. 81), “[...] o software, um bem econômico que impacta tanto diretamente na sua indústria como indiretamente no restante dos outros setores da economia”, então, pode se dizer que o software é um produto final e insumo para outras indústrias, que de forma geral necessitam do software como forma de reduzir custos e tempo no processo de produção. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso exercem atividades de menor valor agregado, preenchendo as lacunas do mercado (KUBOTA, 2006). Para melhor compreensão do funcionamento do mercado de software e dos atores que compõe o setor, é necessário distinguir as atividades exercidas pelas empresas de software. Em relação aos serviços em software, esta atividade poderá ser de baixo ou alto valor agregado. O serviço em software de baixo valor é caracterizado por atividades repetitivas – sem necessidade de conhecimento específico –, tais como, codificação, manutenção e processamento de dados. Nas atividades relacionadas ao serviço em software de alto valor agregado permitem observar que os profissionais deste setor possuem domínio necessário para a elaboração de projetos complexos. Uma barreira a entrada neste mercado é o grau de especialização, onde há possibilidade de ganhos de escalas (DIEGUES, 2010). Ainda para Diegues (2010), o software produto exige empresas que desempenhem atividades com alto conhecimento em engenharia e qualidade de software; design; desenvolvimento; implantação; integração; e manutenção de sistemas de software. Este mercado apresenta padrões dominantes, com formação de oligopólio. Segundo Spinola (1998), a comercialização do software pode ser classificada em: software pacote; software envolvido em serviço ou sistema; e software embarcado. Dependendo do mercado a ser atingido, o software poderá atender as necessidades de forma geral (horizontal) ou obter maior aproximação com o usuário final, com isto atender um setor específico (vertical) (PIANNA, 2011). O software tipo pacote é um produto totalmente finalizado, pronto para a comercialização. Apesar do caráter imaterial do software, há certa tangibilidade ao produto, pois este se encontra em uma embalagem, característica que lhe rendeu o nome de “software de prateleira”. Este tipo de produto pode atingir uma enorme quantidade de usuários, devido a sua natureza padronizada do tipo software horizontal (ROSELINO, 2006). O software em serviços desenvolvido para suprir determinada necessidade, onde se observa uma relação intrínseca entre o desenvolvedor e usuário. Devido a seu grau de especificação algumas empresas se especializam em determinado setor, com isto, no mercado de software serviço não existe ganhos de escala, por outro, a venda é efetuada anterior à entrega (SPINOLA, Conceito A 230 Recife n. 2 p.220-256 2011 Ainda para Spinola (1998), o software embarcado chega ao mercado introduzido em equipamentos, máquinas e outros bens de consumo que permitem sua operação. O usuário desconhece o software embutido, pois este é parte integrante do hardware. Seu desenvolvimento é uma das atividades mais dinâmicas atualmente, já que todo equipamento automatizado de base microeletrônica traz um software para sua operação. A dificuldade em mensurar este tipo de produto, reduz o interesse por partes das políticas públicas. A indústria brasileira de software e serviços de TI (IBSS), devido a fatores históricos desenvolve programas de alto valor-agregado voltados ao mercado vertical, sendo estes sob encomenda ou customizados (PIANNA, 2011). 2.3 Indústria e Mercado Brasileiro de Software O mercado brasileiro de software e serviços vem obtendo destaque no cenário nacional e internacional, com expectativa de obter nesta década uma forte demanda por software, alcançando a quinta posição na economia mundial em 2020, parte disso, se deve à abertura de mercado gerada pelas novas tendências tecnológicas que necessitam da aplicabilidade de um software. Porém, o mercado nacional atual é constituído em maior parte de produtos desenvolvidos no exterior. A IBSS possui problemas quantitativos e qualitativos, com dificuldades em ser competitiva e sem perspectiva em alcançar o mercado externo. Com o cenário atual da IBSS, um possível aumento na demanda irá acarretar na desestruturação das empresas nacionais (PIANNA, 2011). O baixo desempenho da IBSS no mercado externo, está relacionado a fatores históricos e macroeconômicos. Além de não possuir um perfil exportador, a IBSS mantém o foco ao atendimento do mercado interno, que demanda soluções complexas e produtos de alto valor-agregado (ROSELINO, 2006). [...] setor de software brasileiro destaca que apesar da sofisticação das soluções desenvolvidas para o mercado doméstico e da grande experimentação no mercado de produtos, observa-se um baixo grau de internacionalização de suas empresas, a ausência de um modelo ou imagem que se possa associar ao software brasileiro no mercado internacional e o pequeno porte das empresas domésticas quando comparado às congêneres internacionais (DIEGUES, 2010, p. 210). Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 231 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional 1998). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A expansão do mercado brasileiro de software deixou de ser apenas uma expectativa para futuro, e se torna uma realidade. Contudo, a IBSS necessita se desenvolver e tornar concorrente dos produtos das multinacionais. O tamanho e a sofisticação do mercado brasileiro e a criatividade e competência de seus profissionais são dois pontos fortes da indústria brasileira de software. Por outro lado, a ausência de uma estratégia industrial focada, a falta de uma imagem do software brasileiro reconhecida no mercado internacional, e dificuldades de financiamento são algumas das barreiras à aquisição de competitividade da indústria, nos plano doméstico e internacional (GOUVEIA, 2006, p. 30). Apesar da falta de uma política estratégica para a IBSS, a fim de suprir a demanda interna e externa do país, se observa o crescimento deste mercado nos últimos anos. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), através de publicações anuais – Mercado Brasileiro de Software: panorama e tendências – se observa que no ano de 2004 o Brasil ocupou a 15a posição no mercado mundial, tendo movimentado aproximadamente US$ 5,98 bilhões, equivalente a 1,17% do PIB naquele ano. Apesar da baixa participação de 1,1% do mercado mundial de software, o Brasil ainda não está entre os principais players, porém no mercado latino americano sua participação atingiu 41,9% em 2004 (ABES, 2005). No último ano analisado pela ABES (2011), o mercado brasileiro de software e serviços apresentou significativo crescimento de 21,3% em relação ao ano anterior, ocupando a 11a colocação no mercado mundial, tendo movimentado cerca de US$ 17,3 bilhões, equivalente a 1% do PIB brasileiro, onde US$ 5,51 bilhões se referem ao mercado de software, que equivale a 2,2% do mercado mundial, e US$ 13,53 bilhões foram movimentados em serviços relacionados ao setor. Realizando um comparativo do mercado brasileiro de software e serviços entre 2004 e 2010, através dos dados apresentados pela ABES, se observa que em relação a 2004, o número de empresas de software passou de 7.700 empresas para 8.520 empresas em 2010. Sua participação no mercado aumentou de US$ 5,98 bilhões para US$ 17,3 bilhões, representando um crescimento de 190% no faturamento, com isto, se conclui que desde 2004 o mercado brasileiro de software passa por um processo de maturação e expansão dos negócios em âmbito nacional e internacional. Apesar dos dados Conceito A 232 Recife n. 2 p.220-256 2011 Para o ano de 2010 era esperado que o mercado de software tivesse obtido crescimento relação a 2009, devido à expansão da “computação em nuvem” (cloud computing); crescimento do mercado de telecomunicações; evolução agressiva das redes públicas; transformação nos aplicativos, especialmente dos relacionados com mobilidade; e intenso movimento de fusões e aquisições na indústria de tecnologia da informação e Comunicação (TIC) (BRASSCOM, 2010). Apesar do significativo crescimento do mercado de software entre 2004 a 2010, a participação da IBSS ainda é discreta. Apenas 35% dos produtos do mercado são desenvolvidos no país, e somente 10% destes são destinados às exportações, resultando no faturamento de US$ 110 milhões. O setor de serviços possui maior participação no mercado, representando 71%, com faturamento de US$ 13,53 bilhões. O baixo nível da exportação de produtos e serviços se deve em parte ao forte mercado nacional de software, destacando como principais demandantes o setor de Finanças; Serviços e Telecom; e Indústria com respectivamente 25,8%, 23,3% e 19,8% (ABES, 2011). O mercado interno se torna atrativo para entrada de novas empresas internacionais, devido a seu porte e estrutura, com isto se eleva a concorrência entre empresas privadas nacional, estrangeiras e estatais (OLIVEIRA, et al., 2006). De acordo com Kubota (2006, p. 31), “Ao contrário do que ocorre nos caso irlandês e indiano, o mercado doméstico de software no Brasil é extremamente significativo, o que desestimulou as exportações”. A busca pela inserção em novos mercados é considerada como uma decisão estratégica, porém vários fatores impedem as relações externas, exigindo da empresa disposição para investimentos de riscos; necessidade em obter características do mercado a ser alcançado; e conhecimento do nível de tarifas do país. As empresas que conseguem espaço no comércio mundial têm menor dependência do mercado de software nacional, reduzindo os impactos negativos relacionados às variações da economia local; além de estar concorrendo com os principais produtores de software; e proporcionando a expansão dos negócios da empresa (ALVES, 2006). Apesar dos benefícios relacionados à internacionalização das empresas Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 233 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional representarem “o exponencial crescimento de suas exportações, a principal fonte de dinamismo da IBSS ainda é o mercado interno” (DIEGUES, 2010, p. 164). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso nacionais, se observa alguns fatores a serem abordados. [...] i) as empresas brasileiras ainda apresentam um porte significativamente menor do que suas concorrentes internacionais; ii) a grande maioria delas ainda não é reconhecida internacionalmente; iii) o número de empresas da IBSS com certificação em processos de desenvolvimento de software é relativamente reduzido [...]; iv) a persistente sobrevalorização do Real no cenário internacional diminui a competitividade das exportações brasileiras; e v) há a percepção de uma crescente incompatibilidade entre a pujança da IBSS e a disponibilidade de mão de obra [...] (DIEGUES, 2010, p. 171). O processo de internacionalização da IBSS, ainda se encontra em estágio de maturação se comparado com os países como a Índia. De acordo com ABES (2011, p. 05). [...] para o Brasil passar a exportar em uma década o equivalente a 40% do que a Índia exporta atualmente em serviços (US$ 50 bilhões ao ano), significaria multiplicar seis a sete vezes o atual volume de exportações brasileiras, para alcançar o patamar de US$ 20 bilhões até 2020 [...]. Para se tornar competitivo, faz-se necessário reduzir os entraves técnicos e econômicos a IBSS, que está necessitada de suporte que envolva maior integração das empresas e do governo, e a partir da identificação dos fatores estratégicos alavancarem o setor de software nacional (TIGRE, 2007). Buscar o ponto de equilíbrio entre o mercado doméstico e externo, é primordial para a indústria. A IBSS não obtêm resultados expressivos no mercado externo, porém seu mercado interno está entre os mais representativos do mundo (OLIVEIRA et al., 2006). Um grande mercado interno, dotado de complexidade e sofisticação de sua demanda, representa potencialmente um fator mais propriamente estimulante da competitividade da indústria nacional, do que um elemento de entrave ao sucesso no mercado externo (ROSELINO, 2006, p. 192). O mercado interno poderá ser uma oportunidade para promover a indústria de software em economias de países não-centrais. As compras do governo Conceito A 234 Recife n. 2 p.220-256 2011 2.4 Processo de Internacionalização das Empresas de Software O mercado de software, a partir dos anos 90, possibilitou a entrada de países não-centrais, cuja estrutura econômica é menos desenvolvida. Com uma forte tendência ao mercado externo, os países não-centrais estão entre os principais players do mercado de software. O sucesso dos países não-centrais (Índia, Irlanda e Israel), nas exportações de software e outros serviços de TIC mostra que o Brasil tem possibilidades de se inserir neste mercado. Porém, várias medidas nas áreas de educação, tributação e nas relações trabalhistas, devem ser realizadas, a fim de tornar a IBSS competitiva (ROSELINO, 2006; TIGRE, 2007). A inserção dos países não-centrais no mercado externo impressiona, mas algumas peculiaridades nas exportações de software destes países demonstram as dificuldades na entrada em certos mercados, devido ao trancamento (lock-in) das possibilidades de fabricação de pacotes nas empresas norteamericanas. Com isto, as atividades exercidas pela indústria de software dos países não-centrais, está baseada em serviços terceirizados (outsourcing), customização de produtos e prestação de serviços pós-vendas (LINS, 2005; PIANNA, 2011). A economia brasileira se assemelha a da Índia, mas a disparidade na participação da indústria de software no mercado internacional revela a deficiência do modelo de internacionalização brasileiro, no qual, “parece sintoma de uma grande timidez das empresas na consolidação das suas imagens internacionais relativamente a processos” (LINS, 2005). De acordo com os dados da ABES (2011), do software desenvolvido no país, apenas 10% são destinados a exportação, resultando em uma receita de US$ 110 milhões em 2010. Realizar um comparativo entre as indústrias de software brasileiro e indiano requerem atenção, pelo fato, de se tratar de modelos distintos. Em relação a resultados quantitativos, a Índia surpreende em todos os aspectos, porém sua condição terciário-exportador, no qual, a atividade predominante é de baixo valor agregado – tendo como maior demandante os países centrais, que buscam mão-de-obra com menor custo, para realizar atividades que não são intensivas em conhecimento –, e não contribuem para obter ganhos de Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 235 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional demandam por soluções complexas, com isto, exige mão-de-obra qualificada e promovem desenvolvimento as empresas (PIANNA, 2011). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso escala. A IBSS difere das “3Is” (Índia, Irlanda e Israel) pelo fato histórico, que através da reserva de informática, criou uma indústria voltada a atender o mercado interno, cuja demanda exige soluções complexas (PIANNA, 2011). Apesar de o mercado interno apresentar possibilidades favoráveis as empresas nacionais – mesmo com a presença de multinacionais –, não significa garantia de sucesso. De acordo com Alves (2006, p.18). Neste cenário, a internacionalização, entendida como a globalização das economias e dos mercados, constitui um dos elementos chave do modelo que atualmente rege as relações econômicas internacionais, pois já não é mais viável que uma empresa vislumbre apenas as oportunidades do seu mercado nacional. A entrada em novos mercados é uma etapa necessária no crescimento do negócio. O setor é competitivo e em constante transformação, mas a permanência no mercado mundial de software dependerá da competência da empresa, pois o setor oferece inúmeras oportunidades, com o surgimento de novos nichos de mercado (SPINOLA, 1998). Ainda para Spinola (1998), a presença no mercado internacional requer das empresas adaptação na estrutura empresarial, para isto, alguns fatores devem ser analisados antes de se ingressar no mercado externo, tais como: • Área de aplicação do produto: É o tipo de mercado que se deseja atingir, considerando suas características e necessidades. Para as empresas que produzem software horizontal, investir na criação de uma marca é indispensável para se consolidar no mercado. No segmento vertical, uma maior aproximação com o cliente é essencial para compreender suas reais necessidades, além de obter conhecimento prévio da área de atuação. • Tipo de produto: A estratégia de inserção ao mercado externo depende da classificação do produto, podendo este ser um software-pacote; software envolvido em serviço ou sistema; e/ou software embarcado. A partir do produto é possível identificar o tipo de canal de comercialização. • Ciclo de vida dos produtos: Essa etapa envolve todo o processo de desenvolvimento até sua comercialização. Dependendo da estratégia empresarial, algumas fases poderão ser realizadas no exterior, onde a empresa poderá executá-las ou delegá-las a terceiros. Conceito A 236 Recife n. 2 p.220-256 2011 • Característica específica da empresa: Conhecer a capacidade da empresa, pode contribuir para a criação de uma estratégia eficaz. Para maior efeito, é interessante conhecer a capacidade tecnológica, nível de aderência a padrões internacionais, capacidade para atender clientes externos e habilidade para atualizar seus produtos. • Canais de comercialização: A escolha do melhor meio de comercialização, depende dos fatores citados anteriormente. Os canais tais como internet, empresas de hardware e grandes feiras de informática são adotados na maior parte, por empresas de software horizontal. A internet possibilitou a entrada de novos players, que utiliza este canal para ofertar seus produtos, a um custo relativamente baixo. Outra opção para o mercado horizontal é ofertar seus produtos como insumo para as empresas de hardware, inserindo estes softwares em seus equipamentos e vendê-los como um único produto. As feiras internacionais não é propriamente um canal de vendas, mas uma forma de fortalecer uma marca e um meio de atingir clientes que buscam novas soluções. Para empresas de software vertical, o canal de maior utilização são os anúncios em revistas especializadas, pois atingi diretamente o mercado-alvo. A entrada de produtos brasileiros no exterior também poderá ser realizada através das filiais de multinacionais, onde a relação de confiança é construída a partir, de experiências bem-sucedidas. Os canais que atendem as empresas de forma generalizada são: jointventures; aquisição de empresa do setor no exterior; e criação de empresa ou escritório em território estrangeiro. A formação de joint-venture diminui os custos de comercialização das empresas brasileiras, porém o sucesso desta sociedade dependerá da capacidade dos parceiros envolvidos. Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 237 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional • Mercado-alvo: Uma das maiores dificuldades encontradas na internacionalização, está na adequação à língua; legislação sobre propriedade intelectual; e tipo de governo, do mercado que se pretende atingir. Buscar mercados, que possua características econômicas e culturais semelhantes, reduz o percentual de insucesso, outro meio, esta na criação de joint-venture – parcerias com empresas exteriores, com o objetivo de explorar determinado mercado, sem que estas percam sua personalidade jurídica. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Para reduzir a dependência com os parceiros, uma alternativa seria a aquisição ou criação de uma empresa no exterior, porém, os custos são relativamente maiores e a empresa necessita de uma base de clientes consolidadas. Mas este tipo de empreendimento permite a empresa uma melhor adequação as exigências impostas pelo mercado externo. A visita direta a potenciais clientes é um canal que não possui um alto grau de relacionamento com os clientes de forma geral, porém, os custos são relativamente baixos e se atingi um grupo de clientes específicos. • Apoio institucional: Por se tratar de uma indústria em constante inovação, a participação de instituições públicas e privadas é essencial para o desenvolvimento de uma indústria competitiva. Desta forma, as políticas de fomento ao setor deverão ser analisadas com maior profundidade. 2.5 Políticas de Fomento a Indústria de Software A história da indústria de software revela que para “indústrias intensivas em tecnologia, sua emergência e consolidação não ocorrem espontaneamente, mas resultam de políticas públicas de fomento” (ROSELINO, 2006, p.113). O Brasil não pode esperar que a indústria de software se desenvolva de acordo com as livres forças de mercado. Os Estados Unidos detentora da tecnologia na década de 80, encontrou condições favoráveis para desenvolver a indústria de software local, parte disto se deve a participação do governo, que demandava e incentivava o setor. O governo atuava como maior demandante e subsidiária da indústria de software, este apoio governamental foi primordial para o sucesso do setor, pois com os incentivos fiscais e uma política alfandegária favorável, a indústria de software local conseguiu se destacar diante dos demais países, principalmente a do Japão (PIANNA, 2011). Ainda, Pianna (2011), os modelos de exportação da indústria de software em países não-centrais, foram bem-sucedidas, devido às políticas de desenvolvimento e incentivos ao setor. Porém, as “3Is” (Índia, Irlanda e Israel) apresentaram políticas distintas. Dentre os países não-centrais, a Índia possui resultados mais expressivos no mercado de software, devido a fatores históricos e institucionais. Uma análise da indústria de software na Índia pode ser realizada por meio de duas fases, Conceito A 238 Recife n. 2 p.220-256 2011 A Índia, após a abertura de mercado, em 1990, permitiu a entrada de empresas internacionais, que buscavam mão-de-obra com menor custo. As novas empresas encontraram um ambiente favorável, com existência de profissionais com alto nível técnico, e fluentes na língua inglesa. Os profissionais que obtinham maior destaque emigravam para os países centrais (evasão de cérebros), desta forma, as empresas indianas construíam alianças estratégicas por intermédio dos profissionais indianos situados nas empresas norte-americanas (TIGRE, 2007; KUBOTA, 2006). O modelo exportador adotado pela Índia, a partir do ano 1990 - caracterizada pelas políticas liberais de atração de multinacionais; criação de parques tecnológicos em software, e instituições de ensino e de tecnologia – resultou em uma indústria de voltada ao mercado externo, com base na exportação de software e serviços. As vantagens comparativas da indústria de software indianas se devem, ao estoque de trabalhadores (qualificada e de baixo custo). O resultado das políticas implantadas pode ser observado no nível das exportações, que passou de US$ 330 milhões em 1993, para US$ 12,2 bilhões em 2003 (ROSELINO et al., 2008). Apesar do crescimento surpreendente, algumas ressalvas devem ser realizadas. De acordo com dados da ABES (2011), o mercado interno é pouco expressivo, ocupando a 15º colocação no mercado mundial de software, tendo movimentado US$ 9,7 bilhões em 2010, contra cerca de US$ 50 bilhões do que exporta atualmente em serviços. A indústria de software indiana é baseada no desenvolvimento de atividades de baixo valor agregado, na qual, são realizadas funções designadas pelas empresas de países centrais (Estados Unidos e Europa), tornando uma barreira a construção de uma indústria de software tecnologicamente autônoma (ROSELINO, 2006). Ainda para Roselino (2006), o excesso de políticas industriais com foco no mercado externo, contribuiu para o rápido desenvolvimento do setor, porém se Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 239 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional a primeira o país passa por uma estruturação do setor desde o fim dos anos 1950 até 1990, caracterizada pela substituição as importações; e a segunda fase, a partir de 1990, que dá início as reformas econômicas liberalizantes. O governo percebeu a indústria de software como um setor estratégico a economia, a partir disso, houve uma série de medidas de estímulo (PIANNA, 2011; ROSELINO et al., 2008). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso observa uma desaceleração no ritmo do crescimento, devido ao esgotamento de mão-de-obra. Com a redução do nível de profissionais disponíveis no mercado, a uma pressão no nível salarial, eleva os custos e reduz a vantagem comparativa. Apesar de alto nível de exportações, se observa que o setor é de atividade de baixo de valor (rotineira). Mas há uma tendência, por parte das empresas em buscar atividades de maior valor agregado. [...] evidências recentes sugerem que ao mesmo tempo um número de firmas tem complementado atividades de baixo valor agregado com serviços inovativos voltados ao atendimento de nichos de mercado. Portanto, aparece aqui uma configuração mais complexa, que apresenta elementos de reforço e ruptura com a condição terciárioexportadora da indústria indiana de software (PIANNA, 2011, p. 92). A inserção no mercado externo da indústria de software irlandesa, ainda considerada nova, iniciou seu percurso de sucesso a partir da década de 70, com políticas públicas orientadas a exportação de software produto. O modelo exportador possuía políticas de incentivo voltadas a atração de capital estrangeiro, através de incentivos fiscais, estímulo a criação de spinoffs – empresas nascidas a partir de pesquisas em universidade –, e linhas de financiamento a investimentos (DIEGUES, 2003). O resultado da política de incentivo à entrada de capital estrangeiro, foi a instalação de várias empresas, com atividades de alto valor agregado (análise e design). Porém a entrada de multinacionais, não pode ser considerada fator de desenvolvimento da indústria local. Se ambas (empresas domésticas e transnacionais) são igualmente voltadas para fora, por outro lado, o perfil das atividades desenvolvidas por cada grupo parece ser bastante diferenciado. Indicativo desta diferença é a expressiva desproporção entre os faturamentos de cada grupo e o número de empregos gerados. [...] O caráter mais intensivo em trabalho, sugerindo processos mais rotineiros de baixo valor agregado parece caracterizar a atividade das empresas domésticas, resultando em um faturamento per capita significativamente menor (ROSELINO, 2006, p. 94). A disparidade do faturamento auferido pelas multinacionais em relação a empresas locais demonstra o controle dos processos estratégicos de desenvolvimento do software. A falta de interação das multinacionais com a Conceito A 240 Recife n. 2 p.220-256 2011 Dentre os países citados, Israel é o único que possui um modelo distinto, vinculado a atividades de maior valor agregado. Desde sua origem, a indústria de software israelense possuía ambiente favorável ao seu desenvolvimento, devido ao grande contingente de mão-de-obra qualificada; existência de empresas de hardware; e forte demanda do setor militar. A existência de políticas industriais e agências de fomento ao setor de software possibilitaram a criação de uma base industrial sofisticada. Por outro lado, a abertura de mercado proporcionou a entrada de multinacionais; a busca da indústria de software pelo mercado externo; e a fuga de trabalhadores (PIANNA, 2011). As indústrias de software apresentadas revelam alto grau exportador, cada um com seu modelo de inserção, porém, ainda em fase de ruptura com o perfil terciário-exportador. Novos nichos de mercado têm possibilitado maior presença de economias não-centrais, mas os setores de atividades de maior valor agregado, ainda se encontram concentrada em empresas de grande porte. 2.5.1 Política de Fomento a Indústria Brasileira de Software Os incentivos voltados a IBSS se originaram de forma indireta, a partir, do desenvolvimento da indústria de hardware em 1970. O foco do governo na fomentação da indústria de hardware pode ser compreendido, pelo fato, do software ser considerado apenas insumo e por não ter consolidado uma imagem de setor estratégico na economia nacional (PIANNA, 2011). Segundo Diegues (2010, p. 164), as políticas de fomento implantadas pelo governo ao setor de informática, desde 1972, podem ser analisadas em quatro fases, “(i) prospecção e capacitação inicial (1972 a 1978), (ii) constituição (1979 a 1992), (iii) consolidação e autonomização (1993 a 2002) e (iv) centralização e internacionalização (2003 até dias atuais)”. Na primeira e segunda fase (1972 a 1992), as bases da política de informática brasileira, estavam fundamentadas na reserva de mercado, porém a disseminação dos ideais liberalizantes observadas na economia mundial implicou na ruptura das políticas protecionistas. Ainda para Diegues (2010), na primeira fase (1972 a 1978), as políticas de fomento voltadas ao setor de informática, buscavam a consolidação de uma indústria, que atendesse a demanda militar; a partir de 1979, a Secretaria Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 241 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional indústria local impede a ruptura do setor com o modelo terciário-exportador (KUBOTA, 2006). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Especial de Informática (SEI) assume a elaboração da Política Nacional de Informática (PNI), com o objetivo de desenvolver e proteger as empresas nacionais. Na segunda fase, o conjunto de medidas protecionista – um instrumento direcionado ao setor de software, ocorre em 1987, com o “similar nacional” – foi ineficiente para desenvolver a indústria de informática, algumas vezes o ônus ficava com a empresa brasileira. A redução da política industrial, voltada a substituição de importações se inicia, a partir, do conflito com a Microsoft, impedido de comercializar o sistema operacional MS-DOS 3.0, em setembro de 1986. Esta medida levou o governo norte-americano a aplicar sanções comercias a diversos produtos brasileiros. As sanções poderiam prejudicar as exportadoras brasileiras, pois as retaliações comerciais relativas às commodities brasileiras estariam em torno de US$ 700 milhões (ROSELINO, 2006). Este aparato protecionista foi derrubado no governo Collor no início dos anos 90, com modificações na política industrial, a fim de alcançar a abertura comercial. No caso do Brasil, esse esforço pode ser acompanhado de modo mais evidente a partir do final dos anos 1980, começo dos anos 1990, quando, deixando de lado, definitivamente, as políticas de reserva de mercado para a informática, o governo as substituiu por leis de incentivo fiscal, como a Lei 8.248, visando à motivação das empresas a participarem do esforço nacional de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no setor (VOGT, 2004, p. 01). Na terceira fase (1993 a 2002), o governo deixa de ser o agente regulador e se torna o responsável pela manutenção e desenvolvimento do setor. As políticas implantadas a partir dos anos 90 incentivaram a entrada de multinacionais e programas de apoio ao setor de informática, resultando na criação do Projeto de Desenvolvimento Estratégico da Informática (Desi) e da Lei Federal nº 8.248/91 (Lei da Informática) (DIEGUES, 2010). Com o intuito de desenvolver a indústria nacional em longo prazo, o Projeto Desi – resultado de uma parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Ministério das Relações Exteriores e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – era constituído por três subprogramas: O Programa Nacional de Software para Exportação (SOFTEX 2000); a Rede Nacional de Pesquisa (RNP); e o Programa Temático Multi-institucional em Conceito A 242 Recife n. 2 p.220-256 2011 Ainda para Stefanuto (2004), o Programa SOFTEX 2000 criado em 1993, tinha como principal objetivo impulsionar a exportação de software desenvolvido no país. Em 1994, o programa através da Portaria MCT nº 200, foi eleito Programa Prioritário em Informática para fins de aplicação dos incentivos da Lei Federal nº 8.248/91. Em uma nova etapa do programa, o governo repassa a administração do Programa SOFTEX 2000 ao setor privado em 1996. O Programa SOFTEX 2000 no momento de sua criação tinha como objetivo principal alcançar 1% do mercado internacional, no ano 2000 – equivalente a US$ 2 bilhões em software (produto e serviços) –, porém, o valor atingido foi de apenas 10% da meta (KUBOTA, 2006). Na concepção do programa foi determinada uma meta que foge da realidade da IBSS. Este equívoco se deve ao fato deste modelo ser baseado na experiência de países desenvolvidos. A execução de algumas atividades reduziu a eficácia do programa, dentre elas: a descentralização das unidades (agentes regionais); foco na inserção das pequenas e médias empresas (PMEs) no mercado externo; e a necessidade de programas complementares a empresas de maior porte (ROSELINO, 2006). A partir de 1996 o programa passa por várias reformulações, até se tornar a Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX), sendo uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), com foco em desenvolver o mercado interno e o aumento sustentável da competitividade da IBSS. O Programa SOFTEX (2011), destaca como principais projetos: Projeto Setorial Integrado de Exportação de Software e Serviços de TI (PSI SW); Melhoria de Processos do Software Brasileiro (MPS. BR); Observatório SOFTEX; Programa de Alianças Empresariais (PAEMPE); Programa para o Desenvolvimento na Indústria Nacional de Software e Serviços de Tecnologia da Informação (PROSOFT). Apesar dos resultados sobre o desempenho do programa na década de 90, indicar falhas na elaboração das metas, o “SOFTEX representou, e possivelmente ainda representa o mais importante instrumento de fomento voltado ao desenvolvimento da indústria brasileira de software” (ROSELINO, 2006, p. 119). Além do Programa SOFTEX, outro instrumento de fomento voltado a IBSS Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 243 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional Ciência da computação (Protem-CC) (STEFANUTO, 2004). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso após a abertura comercial, foi a Lei Federal nº 8.248/91. A antiga Lei de Informática de 1984 que garantia reserva de mercado às empresas nacionais precisou ser reformulada, a fim de melhor atender o setor de informática. A nova Lei de informática (Lei 8.248) deu ênfase a investimentos em P&D, através de incentivos fiscais, a partir da isenção de imposto sobre produtos industrializados (IPI), que estava em torno de 15% (GARCIA; ROSELINO, 2004). A lei de Informática - reeditada em 2001 (Lei 10.176) e posteriormente modificada em 2004 (Lei 11.077) - contribuiu no desenvolvimento do setor de informática, de modo geral, concedendo incentivos fiscais as empresas, através da redução do IPI, mas com a condição de repassar 5% do faturamento para P&D. De acordo com Diegues (2010), “[...] ao beneficiar apenas os produtos nos quais há incidência de IPI, a Lei priva de seu apoio direto o software, o qual é a atividade cada vez mais responsável pelo dinamismo tecnológico e inovativo das TICs”. A última fase citada por Diegues (2010), é denominada de “centralização e internacionalização”, caracterizada pela publicação das diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) em 2003. Essas Diretrizes, segundo o Governo Federal (2003, p. 2) “tem como objetivo o aumento da eficiência econômica e do desenvolvimento e difusão de tecnologias com maior potencial de indução do nível de atividade e de competição no comércio internacional”. A busca em tornar a IBSS referência em exportação e ampliar a participação no mercado interno, se deve a importância do setor no desenvolvimento econômico e ao baixo desempenho exportador – comparado a países nãocentrais, onde se observa expansão na participação do mercado externo. A fim de reduzir os entraves a internacionalização da IBSS, o Governo Federal (2006) elaborou um conjunto de medidas relacionadas a financiamento, estratégias de inserção ao mercado externo e melhoria da imagem do software brasileiro no exterior. Segundo Roselino (2006, p. 134), “esse conjunto das medidas planejadas (algumas já em operação) no âmbito da PITCE representa uma importante evolução no sentido de uma política articulada para o desenvolvimento da indústria brasileira de software”. Dentre as principais medidas relacionadas à PITCE, de acordo com o Governo Federal (2008), se observa: Conceito A 244 Recife n. 2 p.220-256 2011 • O Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia de Informação (REPES), criado pela Lei do Bem, busca elevar a competitividade das empresas exportadoras de software, através da isenção do recolhimento do PIS-Pasep e COFINS, porém este benefício esta disponível apenas para empresas onde as exportações representam 80% do faturamento bruto total. • O projeto BRAZIL IT, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil), tem como objetivo elevar a exportação de software direcionada ao mercado norte-americano. Outro fator significativo ao desenvolvimento da IBSS se dá através das compras governamentais, sendo este o quarto segmento demandante de software doméstico, em 2010, com volume de US$ 652 milhões, possui 9,8% na participação deste mercado. Porém, a existência de políticas de fomento a software livre, gera certo desconforto as empresas privadas de software, atualmente mais de 50% dos downloads realizado no Portal do Software Público são realizadas por correntes internacionais (ABES, 2011). O sucesso da indústria de software no mercado não está relacionado com ao grau de intervenção do governo, mas quais são as políticas industrias voltadas ao setor. No caso dos países não-centrais se observa a dificuldade em desenvolver o setor sem a intervenção do governo, mas para obter resultados positivos será necessária a elaboração minuciosa de um plano estratégico de longo prazo (ARAÚJO et al., 2009). 2.5.2 Política de Fomento as Empresas de Software Situadas no Recife As empresas de software instaladas em Recife possuem grande diferencial em relação às demais localizadas no país, devido ao apoio na fomentação dos negócios através de instituições governamentais e privadas. Nos dias atuais, a capital pernambucana é referência mundial em parque tecnológico, reconhecimento construído a partir do ano 2000 com o investimento de R$ Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 245 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional • A reformulação do PROSOFT – linha de financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) criado em 1997 –, proporciona um financiamento adequado ao setor, sendo este divido em subprogramas: Comercialização, Empresas e Exportação. Além de um financiamento destinado a fusão e consolidação de empresas, visando elevar o porte das empresas nacionais; Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 33 milhões do Governo de Pernambuco destinados a implementação do Porto Digital. Definido como Arranjo Produtivo de Tecnologia, o Porto Digital tem como objetivo ofertar um ambiente que possa agregar valor as empresas implantadas, desenvolver software de nível competitivo mundial e estimular novos e grandes empreendimentos de TIC (PORTO DIGITAL, 2011b). Ainda para Porto Digital (2011b), atualmente cerca de 130 empresas estão instaladas no parque tecnológico, tendo como maior participação as PMEs, porém algumas multinacionais estão implantadas no Porto Digital, tais como: IBM, Motorola, Microsoft e Samsung. Dentre as atividades exercidas pelas empresas no Porto Digital, se destacam as produções de software para gestão; soluções para o sistema financeiro e de saúde; games; softwares para o setor de segurança; sistemas para gerenciamento de tráfego e transporte; e usabilidade de software e soluções integradas para desenvolvimento de portais, extranets e intranets. O Porto Digital possui reconhecimento mundial, devido à estratégia nos planos de negócio, fornecendo as empresas à possibilidade de desenvolver software competitivo e de maturidade empresarial (VALOR, 2008). Porém para se alcançar as metas propostas, o Porto Digital possui diversas instituições âncora, que colaboram na execução das atividades econômicas e técnicas. Dentre estas instituições se destacam: • Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTMA) – Órgão do Governo do Estado de Pernambuco responsável pela formulação e execução das ações de Política Estadual de Ciência e Tecnologia. A SECTMA possui ações de política de incentivo ao Porto Digital e foi o primeiro órgão público a investir no Porto Digital (SECTMA, 2011). • Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) – Criado em 1996, o C.E.S.A.R é um Centro privado que desenvolve produtos e serviços para empresas de TICs. Diversas são as parcerias realizadas com o C.E.S.A.R, tais como a Motorola, Samsung, Vivo, Oi, Positivo, Dell, Visanet, Bematech, Bradesco, Unibanco, Banco Central do Brasil, Siemens, Philips, CHESF e Agência Nacional de Águas – ANA , entre outras instituições. O C.E.S.A.R foi berço de dezenas de empresas, entre elas a InForma Software, o Radix e a Vanguard (C.E.S.A.R, 2011). • Centro de Informática da UFPE (CIn) – Desde de sua criação o CIn se destaca pela formação de mão-de-obra qualificada em TIC. Atualmente Conceito A 246 Recife n. 2 p.220-256 2011 • Centro de Tecnologia de Software para Exportação do Recife (SOFTEX) – O SOFTEX Recife é uma sociedade civil sem fins lucrativos, originado do Programa SOFTEX2000. O SOFTEX de Recife tem hoje cerca de 90 empresas associadas e atua em parceria com o Porto Digital. Com o objetivo de aumentar a competitividade das empresas de TIC, o SOFTEX é um dos principais programas que contribui na inserção desta empresas no mercado externo (SOFTEXRECIFE, 2011). • Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD) – Criado desde dezembro de 2000, NGPD é uma associação civil sem fins lucrativos, qualificada como Organização Social (OS). Com função em administrar a tecnologia do Porto Digital e trabalhar na captação de investimentos e negócios, além de desenvolver projetos de capacitação para jovens e fornecer ferramentas para promover a inclusão social da comunidade do Pilar, situada ao norte do Bairro do Recife (PORTO DIGITAL, 2011c). Além das instituições citadas, o Porto Digital têm parceria com organizações públicas no âmbito Federal, Estadual e Municipal; e empresas privadas, que prestam serviços administrativos, financeiros e técnicos. Dentre as políticas públicas de fomento, o Porto Digital (2011a) destaca: • Incentivos Municipais: A redução do ISS em até 60% – prevista na Lei Municipal nº 17.244/2006 –, beneficiou cerca de 60 empresas de software do Recife, que obtiveram um crescimento de 130% no período de 2005 a 2008, passando de R$ 142 milhões para R$ 281 milhões em 2008; e a Lei de incentivo a ocupação de solo, que de acordo com a Lei Municipal nº 16.290/97 permite condições especiais de uso e ocupação de solo na Zona Especial do Patrimônio Histórico-Cultural 09, ou seja, o Bairro do Recife. • Incentivos Estaduais: A redução Conceito A Recife de Imposto sobre Circulação de Bens n. 2 p.220-256 2011 247 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional o Centro conta com um corpo docente formado por 81 doutores e um corpo discente com cerca de 2000 alunos. O CIn oferece três cursos de graduação: Ciência da Computação, com 100 vagas por ano; Engenharia da Computação, com 100 vagas por ano e Sistemas de Informação, com 70 vagas por ano. Considerado um Centro que se destaca por sua excelência e criatividade, o CIn a partir de projetos de seus alunos possibilitou a criação de diversas empresas implantadas no Porto Digital (CIN, 2011). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso e Mercadorias (ICMS), onde a alíquota poderá reduzir de 17% para 1%; A Lei Estadual nº 11.672, com o Fundo do Capital de Risco para Investimento em Empresas Emergentes, onde o Governo de Pernambuco poderá investir em fundos de capital de risco que estejam baseados no Estado, através da participação societária minoritária em empresas emergentes de base tecnológica com alto potencial de crescimento; e o Fundo de Capital Humano criado a partir da Lei Estadual nº 11.871/2000, tendo como objetivo investir recursos em projetos de formação de capital humano para gestão, desenvolvimento e operação de produtos e processos inovadores na área de tecnologia da Informação, comunicação e educação, com potencial de retorno econômico. • Incentivos Nacionais: A Lei nº 8.248/91 (Lei de informática) contribuiu no desenvolvimento do setor de informática, concedendo incentivos fiscais as empresas, através da redução do IPI, com a condição de repassar 5% do faturamento para P&D. A reformulação da Lei de informática (Lei nº 10.176/2001), traz em seu contexto benefícios significativos para a Região Nordeste do País. Para a economia pernambucana, o Porto Digital tem contribuído no desenvolvimento da região. De acordo com dados da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (CONDEPE/FIDEM) referentes ao setor de TI em 2005, as atividades do Porto Digital movimentou cerca de US$ 820 milhões, representando 3,63% do PIB do estado naquele ano, nível que está acima da média nacional que corresponde a 0,8% (CONDEPE/FIDEM, 2007). Em entrevista a Revista Valor Econômico (2008, p.54), o presidente do Porto Digital, Francisco Saboya, afirma que “a meta é alcançar 10% do PIB pernambucano, criando mais empregos qualificados, produzindo conhecimento local e exportando serviços de alto valor agregado”. Nesta mesma matéria, se observa que maior parte do que é desenvolvido no Porto digital é destinado para fora do Estado, com grande concentração no mercado nacional, devido a forte demanda interna. A internacionalização das empresas de software do Recife se encontra em processo gradual e poucas conseguiram espaço no mercado mundial. O Projeto Conceito A 248 Recife n. 2 p.220-256 2011 A tendência em suprir a demanda interna das empresas de software brasileira, reduz o interesse de inserção ao mercado externo, com isto, o apoio institucional é essencial na consolidação da IBSS no mercado internacional (ROSELINO, 2006). As empresas no Porto Digital são estimuladas a buscar mercados externos a fim de expandir os negócios. Com o apoio do SOFTEX Recife, APEX Brasil e SEBRAE, se busca inserir Pernambuco entre os principais mercados de software. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O software não despertou interesse do setor público na origem de sua indústria, pela sua característica de produto imaterial e heterogêneo, além de ser considerado insumo para indústria de hardware. Devido à aplicabilidade dos produtos de software abranger todos os setores econômicos, tal indústria é considerada hoje, um setor estratégico para impulsionar a economia em diversos países. A aplicação de políticas de fomento ocorre no período que o governo identifica possíveis setores estratégicos, a fim de torná-la competitiva a nível internacional. No entanto, os benefícios que as empresas nacionais obtiveram ao atingir o mercado externo foram reduzidos com a entrada de produtos estrangeiros no mercado interno, se tornando uma ameaça ao desenvolvimento de tais empresas. Para estimular este setor, o governo interveio através de políticas comercias. A indústria de software por ser intensiva em tecnologia necessita da participação do governo como agente impulsionador do setor. Os instrumentos de política comercial de maior utilização foram as tarifas e subsídios. As tarifas aplicadas a fim de elevar os preços dos produtos de origem externa, e os subsídios realizados através de benefícios fiscais e transferência de fundos para as empresas locais. O governo tornou-se ainda, um dos principais Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 249 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional Setorial Integrado para Exportação de Software e Serviços de TI (PSI-SW) do Estado de Pernambuco realizado no período de 2003 a 2005 contribuiu no desenvolvimento das empresas de software na busca por inserção ao mercado externo. O PSI-SW resultou na melhoria da qualidade e visibilidade dos produtos e serviços; e melhoria na gestão empresarial das 30 empresas envolvidas (Alves, 2006). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso demandantes da indústria de software nacional. No Brasil, as políticas de fomento voltadas à área de TIC nos anos 70 a 80, eram direcionadas a indústria de hardware, fato que retardou o desenvolvimento da Indústria Brasileira de Software e Serviços (IBSS). Parte da ausência de políticas destinadas ao setor de software se deveu à valorização do hardware e ao desconhecimento dos aspectos que compõe a indústria de software e serviços. A heterogeneidade do mercado de software implica em uma observação mais cautelosa referente às atividades e players que compõem o setor. Na gênese da indústria de software, os Estados Unidos obtiveram resultados mais expressivos, exercendo atividades de maior valor-agregado. Posteriormente entraves a inserção de novas empresas, resultaram no trancamento do processo de desenvolvimento de software de alto valor-agregado. Com isto, países centrais obtiveram retornos crescentes de escala, além de impor um padrão dominante. Apesar da detenção das atividades de alto valor-agregado em países centrais, se observa que a indústria de software e serviços é diversificada. Devido ao alto nível de inovação tecnológica e a inserção de novos nichos de mercado houve a possibilidade da entrada de países não-centrais, que se dá através do preenchimento das lacunas de mercado. A inserção de países não-centrais no mercado de software demonstra a possibilidade de atingir destaque no cenário internacional. O Brasil possui um dos mais significativos mercados de software, ocupando a 11ª colocação no mercado mundial, porém vale salientar o fraco desempenho da IBSS, que atingiu apenas 35% do total da demanda interna em 2010. O mercado nacional de software que tinha movimentado US$ 5,98 bilhões em 2004, passou para US$ 17,3 bilhões em 2010, indicando grande potencial de crescimento do mercado interno. A discreta participação da IBSS no mercado interno e externo, esta relacionado a fatores históricos e macroeconômicos. Apesar do crescimento da quantidade de empresas de software nacional, se observa que não há estrutura para atender o mercado interno, devido aos problemas estruturais e porte das empresas – onde 94% das empresas de software nacionais são micro e pequenas empresas. Elevar a participação da IBSS requer um conjunto de medidas que reduza os entraves técnicos. Conceito A 250 Recife n. 2 p.220-256 2011 Conhecer o processo de internacionalização reduz a probabilidade de insucesso das empresas de software. Alguns fatores devem ser observados, tais como: área de aplicação do produto, tipo de produto, ciclo de vida dos produtos, mercado-alvo, características específicas da empresa, canais de comercialização, e apoio institucional. Dentre os pontos apresentados, este trabalho foca o apoio institucional, pois foi observada na indústria do software certa dependência das políticas de fomento. A forma como foram implantadas as políticas divergem de acordo com o país. Os modelos que obtiveram resultados significativos são encontrados na Índia, Irlanda e Israel. Cada um desses países adotou modelos que melhor atendessem suas economias, mas não indicaram um modelo exportador ideal, pois foram encontradas falhas na elaboração de tais políticas. No Brasil, a formulação de incentivos direcionados a IBSS foi bastante tardia, pois as políticas de fomento eram voltadas a indústria de hardware. Apenas em 1987 é realizado um instrumento de proteção ao setor. Um fator preponderante para a maturação da IBSS se deve a criação do Programa SOFTEX. Porém, a ineficiência do programa se deve a descentralização das unidades e as metas que não atenderam a realidade do setor. Diversas foram as modificações do Programa SOFTEX para melhor atender a IBSS, mas ainda há necessidade de implantar novos instrumentos de apoio ao setor, havendo a necessidade de maior interação entre as entidades relacionadas a IBSS. Neste trabalho foi abordada a evolução das políticas de fomento, voltada a IBSS e os modelos de inserção ao mercado externo da Índia, Irlanda e Israel. Estas informações foram necessárias para a compreensão do desempenho da IBSS no mercado externo, onde se observa uma orientação do governo em desenvolver uma indústria apta a suprir a demanda interna e competitiva no mercado externo. O conjunto de medidas elaboradas pelo Governo Federal demonstra o interesse público em desenvolver a IBSS. A publicação da PITCE acarretou na formulação de novos programas e na reestruturação dos anteriores, e Conceito A Recife n. 2 p.220-256 2011 251 Políticas de fomento: inserção das empresas de software no mercado internacional A buscar por inserção da IBSS no mercado externo faz-se necessário para reduzir a dependência do mercado interno e possibilitar a expansão dos negócios. Apresentam-se como entraves à internacionalização: a forte demanda interna, e as incertezas e dificuldades encontradas na busca de novos mercados. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso com isto se observou uma melhor orientação das políticas de fomento na maturação da IBSS. A baixa participação da IBSS no mercado interno e externo, demonstra a oportunidade de inserção de empresas de software nacional no setor em evidência na economia. Com a maturação da IBSS, haverá a inserção de novas tecnologias no país; oferta de empregos qualificados; a entrada de novos investimentos; e o desenvolvimento de atividades de maior agregado. Elevar o nível de internacionalização da IBSS é necessário para aumentar o faturamento das empresas e a competitividade em relação às multinacionais. Porém o processo de inserção não deverá focar em resultados em curto prazo e na execução de atividades de baixo valor-agregado, mas na estruturação da IBSS. Atualmente a IBSS é composta em maior parte por PMEs, que indica em menor qualidade na gestão empresarial e capacidade de investimentos. As empresas de software de Recife além de desfrutar das políticas de fomento de nível nacional, conta com o apoio do Porto Digital – um dos maiores Arranjo Produtivo de Tecnologia. O Porto Digital possui diversas instituições âncoras, a fim de auxiliar as empresas em entraves técnicos e empresariais. Dentre as políticas públicas que alcançaram as empresas de software de Recife se destaca os incentivos fiscais concedidos pelo município, que atraem novos empreendimentos a região. Porém, as formas de incentivos deveriam focar o aumento do porte das empresas e no seu grau de adaptação as exigências internacionais. A internacionalização da IBSS é um fator preponderante para seu desenvolvimento, no qual o governo se apresenta como agente incentivador e regulador. A utilização das políticas de fomento é benéfica ou danosa ao setor, porém, o histórico das políticas de incentivo demonstra melhor direcionamento destas políticas a IBSS. Os entraves identificados na busca do mercado externo inibem o desempenho da IBSS. No entanto, esforços de entidades governamentais e não-governamentais têm contribuído para modificar esta realidade. No futuro próximo, com o aprimoramento de tais políticas, talvez se possa constatar um quadro verdadeiramente promissor. Conceito A 252 Recife n. 2 p.220-256 2011 ABES, Associação Brasileira Das Empresas De Software. Mercado brasileiro de software: panorama e tendências. 1. ed. São Paulo, 2005. Disponível em: <www.abes.org.br/UserFiles/Image/PDFs/Mercado_BR2005.pdf>. Acesso em: 08 maio 2011. _____________________. Mercado brasileiro de software: panorama e tendências. 1. ed. São Paulo, 2011. ISBN 978-85-86700-03-3. Disponível em: <http://www.abes.org.br/UserFiles/Image/PDFs/Mercado_BR2011.pdf >. Acesso em: 18 out. 2011. ALVES, Fabiano de Souza Ferraz. Perspectivas econômicas de internacionalização das empresas fabricantes de software do Porto Digital do Recife. Recife, 2006. Disponível em: <http://www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplificado//tde_busca/ arquivo.php?codArquivo=1801>. Acesso em: 03 abr. 2011. AMARAL JÚNIOR, Alberto do (Coord.). A OMC e o comércio internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2002. ISBN 85-7129-317-1. ARAUJO JÚNIOR, José de Tavares de; VEIGA, Pedro da Motta. 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ORIENTADOR JOSÉ ANTONIO RIVERA RAMOS RECIFE 2011 CARLOS HENRIQUE OLIVEIRA DA COSTA ASPECTOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA NO BRASIL UMA ANÁLISE HISTÓRICA E ECONÔMICA DO SEU EFEITO NA SOCIEDADE Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito (A) em 13.02.2012 Banca Examinadora __________________________________________________ (nome do (a) examinador (a) seguido de sua instituição) ___________________________________________________ (nome do (a) examinador (a) seguido de sua instituição) Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 257 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu efeito na sociedade CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A José Carlos Leandro da Costa e Maria José de Oliveira, pais queridos, essência do que eu sou. AGRADECIMENTO A Deus, por te me dado sabedoria e entendimento para interpretar cada texto e consolidar a idéia para alcançar meus objetivos. A Faculdade São Miguel e a todos os docentes e colaboradores pelo apoio e incentivo. Sinceros agradecimentos aos professores: Arthur Garcea, Filipe Reis Melo, Eline Waked, Jorge Luís Lira, José Luis Alonso, Priscila Susan e Rosa Kato. Ao professor José Antonio Rivera Ramos por me orientar nos estudos e pesquisas, e dar-me o privilégio de suas experiências. Aos colegas de graduação: Adriano dos Santos, Alessandra de Farias, Antonio Severino, Edgar Alves, Elton Santos, Fábio Luiz, Jaqueline Liberato, José Fernando, Juliana Marly, Pérolla Rodrigues, Rafaela Holanda, Sabrina Áurea, Sidney Martins, Thomas Camelo, Kátia Simone e Wildson Mário e agora eternos amigos, pela contribuição e agradável convivência nesta longa trajetória. Aos meus familiares, pela compreensão em relação aos momentos de ausência. A Angélica Diniz pelo apoio e incentivo nos momentos da pesquisa do trabalho. A todos que de certa forma contribuíram para tornar possível a realização deste trabalho. RESUMO O principal objetivo desse trabalho foi apresentar reflexões históricas, políticas, econômicas sobre os aspectos da reforma tributária no Brasil e do seu efeito na sociedade. Há muito tempo se fala em fazer uma nova reforma tributária no país desde a primeira que ocorreu na época da ditadura militar, em 1967 e na volta da república em 1988, tal reforma, hoje, não acabaria com todos os problemas existentes no país, mais seria um arcabouço para reduzir as desigualdades sociais ainda existentes, com uma melhor qualidade na educação, na saúde pública e nos níveis de emprego e renda. Para isso deteve-se em um estudo com pesquisa bibliográfica, com caráter exploratório, onde se levantaram dados históricos sobre os tributos nas três fases do Brasil: colônia, império e república, esta última com análises dos princípios tributários e dos tipos de tributos existentes que provocam distorções para a população menos favorável, ainda foi abordada à guerra fiscal entre os Estados que como foi verificado, pode abrir espaços para novas vagas de empregos possibilitando a sua redução, porém seus efeitos provocam alterações em vários setores de necessidade básica da sociedade, e também a questão da previdência social Conceito A 258 Recife n. 2 p.257-307 2011 SUMÁRIO 1. Introdução.....................................................................................259 2. Fundamentação Teórica...................................................................261 2.1História dos Tributos no Brasil..........................................................261 2.1.1Impostos no Período Colonial........................................................261 2.1.2O Período Joanino e a Criação do Banco do Brasil............................264 2.1.3Impostos no Período Imperial.......................................................267 2.1.4Impostos no Período Ditatorial......................................................269 2.2A Política Tributária no Brasil...........................................................272 2.2.1Abrangência Tributária.................................................................275 2.2.2Princípios Tributários...................................................................277 2.2.3A Classificação dos Tributos.........................................................280 2.2.4Arrecadação Tributária.................................................................284 2.3A Guerra Fiscal e o Emprego Formal................................................287 2.4Tributos, Previdência e Emprego......................................................290 2.5A Importância da Reforma Tributária................................................295 3. Considerações Finais.......................................................................299 Referências........................................................................................301 1. INTRODUÇÃO Atualmente o Brasil vive em um cenário econômico, propício para mudanças estruturais de curto e longo prazo, com maior dinamismo e amadurecimento tecnológico. Neste contexto, faz-se necessário um maior número de reformas, em áreas como a política, a agrária, a previdenciária, a trabalhista e a tributaria do país. O tema política tributária é um dos assuntos mais discutido por ser considerado um dos fatores que provocam muitas desigualdades, na qual milhões de brasileiros são submetidos a pagarem impostos elevados e viverem em condições de pobreza impostas pelo seu sistema tributário vigente, afetando principalmente setores como a saúde, a educação e o emprego formal de milhões de trabalhadores, pois envolve os tributos diretos e indiretos, de forma regressiva na camada mais pobre da sociedade. A Reforma Tributária pode contribuir de forma relevante para acelerar o potencial de crescimento e desenvolvimento do país, por ter uma série de efeitos positivos para a economia. Há décadas se discute no Brasil uma reforma Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 259 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Palavras-chave Política Tributária. Princípios da Tributação. Guerra Fiscal. Previdência Social. efeito na sociedade que se houver desoneração na folha de salários dos trabalhadores pode haver problema na arrecadação e na sua distribuição assistencialista. Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso tributária justa, coerente e consciente. Financiar e manter o Estado através de altas taxas de tributos não é garantia de crescimento muito menos de desenvolvimento econômico. Os efeitos de políticas tributárias sobre a economia brasileira tem sido um assunto relevante e recorrente no debate econômico, na medida em que se buscam melhores propostas para uma nova estrutura tributária que implique uma melhor distribuição minimizando os vários pontos de indiferença social que se observa nas classes sociais. A má formulação e gestão dos impostos públicos é uma das principais causas do alto índice de desemprego, de pobreza e do baixo desenvolvimento no país. A principal fonte de receita do setor público é a arrecadação tributária. Dessa forma, ele deve ter como finalidade aproximar o sistema tributário do “ideal”, alguns pontos importantes foram levados em consideração tais como o conceito de equidade, o conceito da progressividade, o conceito da neutralidade e o conceito dos tributos em geral, foram abordados neste estudo. Assim como a guerra fiscal que no Brasil distorce o grau da arrecadação tributária, pois, o que seria arrecadado não pode ser mais destinado para a sociedade, na qual parte dessa arrecadação passa a ser financiada para a entrada de várias empresas nacionais e internacionais com a redução desses impostos. Outro problema abordado foi o da previdência social, que no Brasil se destina para a assistência dos trabalhadores e previdência dos aposentados, a maior discussão gira em torno das contribuições sociais dos empregados que desonera a folha de salários e dos empregadores que incidem sobre o lucro bruto da empresa que gera uma comulatividade dos tributos. A reforma tributária promova uma mudança significativa, firme, segura e vigorosa na qualidade da tributação nacional, que preserve os tributos como fonte de investimento e financiamento de áreas sociais básicas, mas que seja feito explorando bases tributárias mais racionais, o que é compatível com a abertura da economia e a retomada do seu crescimento. Um novo pacto para uma nova reforma só pode ser patrocinado pela União, que deve abrir mão necessariamente de parte de seus recursos e, redistribuir as funções entre as três esferas de poder para atender as exigências sociais. Este trabalho de pesquisa teve como objetivo apresentar reflexões históricas, políticas, econômicas sobre os aspectos da reforma tributária no Brasil e do seu efeito na sociedade. Tal envolvimento do estudo com a atual relação entre tributação e sociedade, requer um olhar mais amplo, além deste que foi proposto. Para isso foi utilizada a metodologia de pesquisa que obedeceu ao estudo de forma qualitativa, assim como a dois aspectos: quanto aos meios e quanto aos fins. Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica. Bibliográfica, para a fundamentação teórica do trabalho tendo como objetivo levantar informações suficientes para análise e interpretação do problema, e porque se valeu de documentos internos das principais faculdades do Estado de Pernambuco assim como alguns dados de relatórios das instituições e fundações de pesquisa em âmbito federal, estadual e municipal. Quanto aos fins, a pesquisa Conceito A 260 Recife n. 2 p.257-307 2011 2.1 História dos Tributos no Brasil Para se chegar a um melhor entendimento a respeito do tema que foi abordado faz-se necessário que haja uma explanação dos acontecimentos históricos. Para tanto, foram abordados contextos da evolução histórica com o objetivo de contribuir para o conhecimento geral a respeito dos tributos no Brasil, que possui três momentos distintos e que de certa forma interligados, que serão, a saber: a colônia, o império e a república. 2.1.1 Impostos no Período Colonial No ano de 1534 foram criadas as Provedorias da Fazenda Real (estas extinta em 1770, pela Coroa Portuguesa), eram as primeiras repartições tributárias no Brasil. Na época parte desses tributos arrecadados era destinada a Coroa Portuguesa. Com a nomeação do Governador-Geral, e baseado no regulamento de 1548, as terras concedidas sob a égide das sesmarias se sujeitavam aos que nela habitavam, a novas condições e novas formas de tributos, como fazia os indivíduos influentes de cobrar esses tributos para si mesmo. (FERREIRA, 1986). Segundo Furtado (2000, p.60) “para dirigir a exploração e fiscalizar e cobrar tributos, o governo estabeleceu a intendência de Minas, em todas as capitanias em que houvesse mineração”. Foram adotadas rígidas medidas para evitar a sonegação dos tributos. O domínio da Coroa iniciou-se com a alta tributação sobre a produção do açúcar e do fumo, principais culturas desenvolvidas no Brasil colonial, seguidos pela cobrança do quinto, isto é, exação fiscal do Império Português que lhe reservava o direito à quinta parte de toda a extração do ouro obtido pelas jazidas brasileiras Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 261 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA efeito na sociedade foi exploratória, porque embora o curso de economia seja alvo constante de pesquisas em diversas áreas de investigação, verificou-se pouca existência de estudos que se abordam em seu currículo, como o ponto de vista pelo qual a pesquisa teve a intenção de abordá-la dando percepções e expectativas para novas abordagens ao devido tema proposto. Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso (1750 e 1770), o que se revelou impraticável devido à indivisibilidade da pedra. O recurso arrecadado era destinado à corte portuguesa que não financiava a estrutura social existente na colônia. (AMED, 2000; FURTADO, 2000). De acordo com Furtado (2000) com a saída clandestina das pedras de ouro extraídas a coroa portuguesa decidiu passar a responsabilidade da extração e comercialização do ouro para o Tesouro Real. O governo procurou, através de diversos critérios que sucederam evitar a evasão dos impostos. Não houve, no entanto, facilidade para o ouro ser trocado por outras unidades monetárias, nem incentivo que fosse aplicado na colônia em atividades produtivas e econômicas mais estáveis. O Erário Régio ou Tesouro Real (o Tesouro Nacional de hoje) surgiu no reinado de Dom José I, através da carta Lei de 22/12/1761, depois da extinção da Casa dos Contos do Reino. A Casa simbolizava o regime de centralização absoluta: todas as rendas da coroa nela davam entrada e dela saiam os fundos para todas as despesas. Com o declínio da produção, em razão do empobrecimento do minério, houve dificuldades crescentes para a sua extração, abolindo nessa época a “finta” ou “captação”, mantendo a cota fixa em 100 arrobas anuais, mas, com a condição de ser paga a diferença no caso da produção não atingisse a quantia estipulada, por meio da finta ou derrama. (FERREIRA, 1986). Para Furtado (2000, p.62) “não só os mineradores como os demais profissionais passaram a pagar um tributo em ouro, mantendo, no entanto, o teto mínimo de cem arrobas de ouro”. Com objetivo de evitar a sonegação de impostos e manter uma arrecadação mais estável, o governo criou um imposto individual extremamente oneroso e injusto para o contribuinte, que sofreu forte oposição da colônia. Por iniciativa do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, foi levantado o balanço das finanças da colônia, tendo sido apurado que, de 1761 a 1780, a escrituração oficial acusava seguidos déficits anuais e que a dívida pública, naquele último ano, se elevava a mais de 1.200 contos de réis. A coroa portuguesa, embora solicitada pelo vice-rei, não honrou os seus compromissos por ela mesma assumidos com a colônia, determinando como solução aumentar a arrecadação tributária desta para cobrir os seus déficits. (FURTADO, 2000). Conceito A 262 Recife n. 2 p.257-307 2011 esses comerciantes em geral eram pessoas rudes, sem cultura, incapazes de desenvolverem setores produtivos mais avançados da economia. (FURTADO, 2000, p.77). Na história do Brasil, muito foram às revoltas contra a tributação. Ainda no período colonial ocorreram conflitos desta natureza, tornado-se mais intensos no ciclo de ouro, no final do século XVIII, quando eclodiram diversos movimentos contra os elevados impostos exigidos pelo rei de Portugal. As minas de ouro começaram a se exaurir e a produção caiu muito. Mas o governo português, endividado, não admitia receber menos. Desconfiava que a produção do ouro que chegava às casas de fundição estava caindo porque havia muita sonegação. (AMED, 2000). Segundo Pereira (1999), Furtado (2000) e Amed (2000) além dos impostos municipais e das tarifas que incidiam sobre a extração mineral, eram acrescidos a carga tributária uma série de outros tributos. Nos quais eram pagos aos três poderes: político (rei), econômico (senhores) e religioso (igreja). A carta real que concedeu as capitanias hereditárias já previa os primeiros impostos a serem arrecadados na colônia, respeitando a repartição tripartida. Parte da arrecadação ficava na colônia, sob a forma de serviços públicos, mas a maior parte era distribuída para a coroa portuguesa. De acordo com Pereira (1999) se na economia, o sistema adotado era o mercantilismo, o financiamento do Estado se baseava no patrimonialismo, isto é, os recursos vinham basicamente do patrimônio do rei, enquanto os tributos ocupavam papel apenas secundário. Eram instituídos ou aumentados em razão de algumas circunstâncias extraordinárias pela Fazenda Pública e a Real que eram uma só na colônia. Esse sistema se perpetuou por todo o período colonial e, de um modo geral, as rendas patrimoniais e tributárias eram assim destinadas: • Ao rei, cabia o monopólio sobre o pau-brasil, drogas e especiarias; o quinto (20%) dos metais e pedras preciosas; a dízima (10%) do pescado, de toda produção agrícola ou manufatureira e sobre os direitos de alfândega; a sisa por cada negro escravo; • Aos donatários ou ao governador geral, o monopólio de exploração dos engenhos; direitos de passagens dos rios; quinto da extração do pau-brasil, Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 263 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu com o comércio, a especulação financeira e o tráfico de escravos. Apesar da fortuna acumulada, efeito na sociedade No final do século XVIII, concentrava-se no Rio de Janeiro uma classe de burgueses, enriquecidos Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso das especiarias, das drogas e de todos os produtos localizados na respectiva capitania; dízima do quinto sobre metais e pedras preciosas extraídos da capitania; meia-dízima (5%) do pescado; redízima (1%) de todas as rendas da Coroa; • À igreja, a dízima, ou seja, 10% de todas as rendas. Para Pereira (1999, p.17) “os tributos eram pagos em espécie e recolhidos por servidores especiais da Coroa, ou pelos contratadores de impostos, a quem o rei arrendava as imposições, a fim de reduzir o custo de sua arrecadação e controle”. Esses contratadores eram grandes comerciantes portugueses espalhados por todo o império. Eles compravam do Erário Régio o direito de explorar algum serviço público. Nesse período, mesmo em Portugal, não havia uma organização dos serviços tributários e, na impossibilidade de controlar a arrecadação, novos impostos eram criados. A rainha de Portugal, D. Maria, determinou que se a produção anual de ouro que cabia à coroa não fosse atingida, a diferença seria cobrada de uma vez por meio da derrama, arrecadação extraordinária para contrabalançar a diferença observada na arrecadação do imposto. A derrama acirrou ainda mais o conflito entre os contribuintes e os agentes fiscais ela foi suspensa décadas mais tardes. Organizou o confronto revolucionário da inconfidência mineira, que apesar de derrotado, o movimento mineiro inspirou, anos mais tarde, a independência do Brasil. (PEREIRA, 1999; FURTADO, 2000; SEVEGNANI, 2006; GOMES, 2009; MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2010). 2.1.2 O Período Joanino e a Criação do Banco do Brasil O período Joanino identifica a presença da família real portuguesa no Brasil de 1808 a 1821. Tal estadia foi marcada, entre outros, pela intensificação da carga tributária. Onde o povo pagava a maior carga a favor do tesouro, e inúmeros ônus eram destinados a sociedade. (GODOY, 2008). No início do século XIX, mais precisamente em 1807, os exércitos de Napoleão Bonaparte, imperador da França, dominavam quase todo o continente europeu, e praticamente a única força que resistia ao exército Francês era o poderio marítimo da marinha de guerra da Inglaterra. Não tendo forças para o domínio inglês, Bonaparte tentou vencê-lo pela força econômica, decretando assim em Conceito A 264 Recife n. 2 p.257-307 2011 Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 265 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu O Banco estava à mercê do governo que por não haver garantia formal de espécie alguma nem de coisa alguma, se apropriaria quando quisesse dos seus fundos ou recursos, tornando assim, efeito na sociedade 1806 o Bloqueio Continental, na qual, os países europeus deveriam fechar seus portos alfandegários ao comércio inglês. (FERREIRA, 1996; COTRIM, 2005; GOMES, 2009). Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe Dom João, na qual pretendia manter-se neutro no conflito entre franceses e ingleses: não podia cumprir as ordens de Napoleão e aderir ao Bloqueio Continental, já que os comerciantes de Portugal mantinham importantes relações comerciais com o mercado inglês. Além disso, a marinha inglesa poderia reagir atacando as colônias de Portugal, como o Brasil. (COTRIM, 2005; GOMES, 2009). A França não aceitando a indefinição de Portugal a invadiu, com o apoio de tropas espanholas, não resistindo à invasão das tropas franco-espanholas, Dom João e toda a sua corte fugiu para o Brasil, com a proteção da esquadra naval inglesa. Chegando à Bahia em 22 de janeiro de 1808. Um mês depois de chegar à Bahia, a corte portuguesa instalou-se no Rio de Janeiro, onde D. João organizou a estrutura administrativa e econômica na colônia para a monarquia portuguesa. (FERREIRA, 1996). Nesse período foi Instituindo diversos órgãos públicos, instalando Tribunais de Justiça e a criação do Banco do Brasil, contribuindo para o processo de emancipação da política brasileira ainda tida como uma colônia. A partir da chegada da Família Real, o Brasil começou a ter um sistema financeiro, era um passo importante para um país onde, no século anterior, boa parte do comércio era feita na base da troca, por falta de papel-moeda. (FERREIRA, 1996; COTRIM, 2005; LOYOLA, 2008). Segundo Lima (2006 apud GODOY, 2008, p.125) “do tempo de Dom João VI data fundação do principal estabelecimento de crédito brasileiro”. Este era o Banco do Brasil. O Banco do Brasil, foi o primeiro estabelecimento bancário do Brasil, foi criado em 1808 e começou a funcionar no ano seguinte com capital inicial de 1.200 contos de réis. Embora fosse um banco de depósito, desconto e emissão, seu objetivo institucional era obter recursos para a manutenção da monarquia (administrar o tesouro real), e não, como forma de atender às necessidades de crédito do sistema financeiro. Foi intitulado como banco particular, embora o governo fosse seu principal acionista. (FURTADO, 2000). De acordo com Lima (2006 apud GODOY, 2008, p.125): Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso entretanto ilusório ou impossível o sólido crédito de tal estabelecimento. Furtado (2000, p.85) menciona que: “sua atividade básica consistiu em emissão de papel-moeda para atender ao déficit do Tesouro.” Pois, de fato naquela época, não existia uma política econômica afinada para atender as necessidades sociais em níveis de bem-estar. Em seu governo, D. João multiplicou as repartições públicas sem atentar para as necessidades sociais. Os gastos aumentaram e as rendas tributárias tradicionais já não eram suficientes para as despesas da corte. A manutenção do Estado e da luxuosa vida cortesã exigia o aumento dos tributos existentes e a criação de outros, pois os impostos alfandegários, a principal fonte de recursos, haviam diminuído. (PEREIRA, 1999; GOMES, 2009). Era preciso dar emprego para toda essa gente. Na verdade, muitos deles não trabalhavam consoante seu estatuto de “nobres” aos quais não se permitia o exercício de alguma atividade “manual”. Em Portugal, não eram muitos os nobres, mas o coração generoso de D. João se encarregaria de criar muitos mais, aos portugueses que aqui chegavam, pela prática de enobrecer aqueles que tinham cedido suas casas, contribuído financeiramente para a manutenção da corte, participado na constituição do Banco do Brasil. (FERREIRA, 1986). Nada disso eliminou o déficit. E como os impostos, apesar de elevados, não cobriam os gastos, os funcionários viviam com os salários atrasados, às vezes até um ano. Isso estimulou a prática da corrupção generalizada entre os funcionários públicos, nos que cobrava dos interessados certa quantia para tocar os despachos, processos e concessões. (FERREIRA, 1986). Para Prado Junior (1998, p.131): A administração da corte portuguesa no Brasil velará, embora dentro das possibilidades limitadas de um aparelhamento burocrático oneroso, complexo e muito ineficiente, pelos interesses da colônia, vários foram os motivos e fatores econômicos que ocorreram para que o Brasil, no final de seu período colonial, se apresentasse com uma economia frágil e tímida. E de acordo com Furtado (2000, p.89) um desses motivos foi “os pesados tributos canalizados para a metrópole, impedindo qualquer acúmulo de capital para investimentos produtivos.” Já segundo Ferreira (1989, p.44) a situação desse quadro era “a dívida conhecida que superava 12.000:000$000 (doze mil contos de réis)”. A permanência da corte se prolongará por treze anos (1808-1821). Ate 1815, o Conceito A 266 Recife n. 2 p.257-307 2011 2.1.3 Impostos no Período Imperial Conforme Pereira (1999) e Amed (2000) o próprio herdeiro do trono conduziu o movimento, do qual o grito do Ipiranga, a 07 de setembro de 1822, foi apenas o mais teatral de uma série de atos que tornaram realidade a independência do Brasil. Até mesmo os mais extremados republicanos perceberam que a permanência de D. Pedro I era a garantia da manutenção da unidade nacional. O seu primeiro ato político importante é a convocação da Assembléia Constituinte, eleita no início de 1823. É também seu primeiro fracasso: devido a uma forte divergência entre os deputados brasileiros e o soberano, que exigia um poder pessoal superior ao do Legislativo e do Judiciário, a Assembléia é dissolvida em novembro. Desde os tempos que antecederam a independência, já circulavam pelo Brasil as ideias liberais, inspiradas, economicamente, na Inglaterra e, politicamente, na França, (...) defendiam as causas da liberdade e da igualdade, propunham a incorporação dos trabalhadores à vida pública. (PEREIRA, 1999, p.24). Segundo Pereira (1999) de acordo com esses ideais, em 1824, foi promulgada a primeira Constituição brasileira, que adotou o ideário liberal, consagrando, Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 267 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu No ato da aclamação, em 06 de fevereiro de 1818, D. João estava no apogeu de seu reinado, mas mesmo assim a situação continuava tensa e as frentes de luta abertas. Com o retorno de D. João a Portugal e a nomeação de D. Pedro I como regente do reino do Brasil encerra-se essa fase, à qual se segue a tentativa de manter a unidade luso-brasileira. Só havia uma fórmula para manter a unidade das províncias brasileiras e ao mesmo tempo enfrentar as forças metropolitanas: a monarquia brasileira, tendo como chefe da nova nação o próprio príncipe regente. (AMED, 2000). efeito na sociedade estado de guerra na Europa atemorizará o tímido regente que não ousa por isso retornar à pátria abandonada, embora ela estivesse livre de inimigos havia seis anos. Depois daquela data, já os interesses de boa parte de sua larga comitiva de fidalgos e funcionários estarão de tal forma, ligados ao Brasil, que se formará entre eles um forte partido oposto ao retorno (PRADO JUNIOR, 1998). Segundo Furtado (2000, p.85) “antes de Dom João VI retornar a Portugal, a corte levantou o seu depósito, em ouro e diamantes avaliados em 1.100 contos”. Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso pelo menos no papel, os direitos civis e políticos invioláveis dos cidadãos. Entre eles, estavam a proibição de trabalho forçado; legalidade como fundamento para qualquer exigência pessoal; a igualdade de todos perante a lei; sua irretroatividade. Além do mais, previa a contribuição para as despesas públicas, proporcional à renda de cada cidadão, consagrando pela primeira vez o principio da capacidade contributiva. E finalmente, a Fazenda Pública foi separada da Fazenda Real. A lei de 23 de setembro de 1829 extingue o Banco do Brasil, fruto da crise entre o Imperador e o Partido Liberal que era bastante grave e aumentavam consideravelmente os problemas da receita. Em 1834, a aprovação de um novo aumento de impostos para a província gaúcha determinou o início da rebelião conhecida com a guerra dos farrapos. (FERREIRA, 1986; COTRIM 2005). A gestão de D. Pedro I foi uma constante de dificuldades financeiras e políticas, especialmente no seu aspecto fiscal (...) a desordem administrativa e os distúrbios e revoltas que se alastravam por todas as regiões do país, causando sérios prejuízos para a arrecadação tributária, e, em consequência, o agigantamento da dívida. (FERREIRA, 1986, p.47). Nesse momento o Brasil ainda não tinha uma estrutura tributária destinada à manutenção da sociedade, tal profundidade financeira se concentrava pela falta de clareza administrativa, política e econômica. D. Pedro II Foi aclamado a 07 de abril de 1831, no dia da abdicação de seu pai, tendo como tutor José Bonifácio de Andrada e Silva. A princesa Isabel na qualidade de princesa imperial regente, em nome do imperador D Pedro II baixou um decreto, regularizando a cobranças de impostos de indústrias e profissões em 22 de fevereiro de 1888. A cobrança rigorosa de impostos e dívidas guardava características que trazem á memória o imposto de renda, que foi criado em 1922, contava com princípios inusitados e bem esclarecidas o modelo tributário da segunda metade do século XIX. (COSTA, 1999). De acordo com Costa (1999) o imposto aqui estudado qualifica a mais perfeita justiça, injustificável na qual a maioria das riquezas industriais e comerciais escapasse da obrigação dos tributos, enquanto as riquezas territoriais e prediais eram duramente tributadas. A sujeição tributaria passiva fazia-se em fase de toda companhia ou sociedade que funcionasse em território brasileiro, ainda que tivessem sede no estrangeiro. Para Nabuco (2005, p. 134) em seu discurso político datado em 29 de novembro Conceito A 268 Recife n. 2 p.257-307 2011 A classe trabalhadora ou operária era também chamada na época de artistas, pois faziam de sua força de trabalho a “arte”, era a maior parcela existente no Brasil imperial, que ainda convivia com o desenvolvimento retardado e uma fração pequena do eleitorado das cidades de Recife, como da Bahia e do Rio. Diferentemente tratada da aristocracia existente onde vivia com os grandes orçamentos, grandes impostos e grandes déficits extraído dessa classe operária. (NABUCO, 2005). Os impostos sobre as indústrias e profissões sobre o último quartel do século XIX, concede que se identifique sociedade em transformação, que transitava de economia dependente, agrária e escravocrata para o modelo que ganhava traços mais civilizados e que caminhava para a fixação de um novo regime político, de feição republicana. (COSTA, 1999). 2.1.4 Impostos no Período Ditatorial O nosso país precisou de quase quatro séculos de experiência para ter implantada aqui, a partir de 1967, a sua primeira estrutura tributária fiscal, objeto de um planejamento, que incorporou à economia brasileira um sistema tributário funcional e moderno, que serviu de modelo para outros países mais avançados. Variadas foram às experimentações adicionadas ao Brasil, especialmente na fase colonial, pela sua irregularidade, pela falta de postura, pela não conciliação entre territórios e pelo não planejamento de uma política de tributos com realidade existente na época. (FERREIRA, 1986; SIMONSEN, 1992; REZENDE, 2003). A reforma tributária de 1967 instituiu, efetivamente, o primeiro sistema de partilha de recursos com sentido estritamente redistributivo no setor público brasileiro. Até então, praticamente não existia o conceito de transferência redistributivas; apenas ensaios muito incipientes haviam sido feitos com a redistribuição de percentuais do Imposto de Renda (IR) e do Imposto de consumo da União para os municípios. (PRADO, 2003, p.49). Segundo Queiroz (2011) o sistema tributário foi organizado, no Brasil, pela Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 269 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Temos um tão pequeno número de empregos disponíveis que é duro ver o jogo que se faz com eles para desmoralizar e corromper os que deviam viver do seu trabalho manual, os que deviam ser forçados às artes. Vós tendes interesse na barateza de todos os artigos e cômodos necessários à vida, e, portanto em que os impostos sejam brandos e não elevem os preços acima das vossas posses. efeito na sociedade de 1884, para a classe trabalhadora em Recife em sua campanha eleitoral, ele expressou a seguinte fala: Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Emenda Constitucional nº 18, de 1965 (à Constituição de 1946), no Governo do Presidente Castello Branco, por iniciativa do então Ministro da Fazenda, Octávio Gouveia de Bulhões. E complementado pelo Código Tributário Nacional estabelecido pela Lei nº 5.172, de 25/10/1966. O regime militar impôs a constituição de 1967, que ditou as regras no ano de 1967 até 1988, quando finalmente foi aprovada a constituição estabelecia, para começar, eleições indiretas para presidente da república e governadores de Estado. Aumentava as atribuições do executivo e a centralização do poder. Pela constituição, os deputados e senadores não podiam fazer quase nada, a não ser discursos. A lei não permitia nem mesmo que o congresso pudesse controlar as despesas do executivo. (PRADO, 2003). Os deputados estaduais e vereadores não tinham poderes para impedir esses gastos. Os deputados federais e os senadores não podiam votar projetos que envolvesse gastos orçamentários. Os governadores perderam a autonomia para gastar. Para qualquer obra importante, tinham de pedir dinheiro ao governo federal, ou seja, ao general-presidente. (SCHMIDT, 2005, p.733). Isso mostrou que na época a ditadura militar impôs regras aos gastos que os governos pretendiam fazer, para realização de obras e compromissos de Estado. No ano de 1964 foi fundado o Banco Central do Brasil, para controlar todas as operações financeiras do país. Também foi criada uma nova moeda, o cruzeiro-novo. No setor fiscal, durante o governo Castello Branco, foi aprovado o Código Tributário Nacional que além de dispor sobre o sistema tributário do país, estabeleceu normas gerais de direito tributável aplicáveis à união, aos estados e municípios. (FURTADO, 2000; GREMAUD, 2002; SCHMIDT, 2005). De acordo com Furtado (2000, p.192) “o antigo imposto de consumo foi substituído pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o imposto de vendas e consignações foi sucedido pelo Imposto de Circulação de Mercadorias (ICM)” na qual passou a incidir não mais sob a forma acumulativa, mais apenas sobre a diferença entre o valor da venda e o valor de compra da mercadoria. A regulamentação do ICM abalou, contudo, a organização federativa do país porque determinou maior concentração da arrecadação pela união e, em conseqüência, maior interferência do governo federal na autonomia dos estados e municípios. (FURTADO, 2000, p.192). Além dos incentivos fiscais federais, alguns governos estaduais concederam redução e, em alguns casos, até mesmo isenção de tributos estaduais aos Conceito A 270 Recife n. 2 p.257-307 2011 dominial e, posteriormente, a tributária. (FERREIRA, 1989). Com a urbanização da economia, foi-se acentuando o sistema fiscal, instituindo-se novos tributos, taxas e contribuições na medida em que, crescendo os burgos, vilas e cidades, foram surgindo e multiplicando-se os problemas comuns e, em consequência, exigindo cada vez mais a contribuição de todos. (FERREIRA, 1989, p.13). Nas perspectivas de Ferreira (1986) e Amed (2000) passou-se a ter a importância de gerenciar o que era arrecadado passando a dispor de um sistema de contabilidade sobre o qual se tornou possível o controle e fiscalização dos dinheiros públicos. A organização dos tributos no período do segundo império permitiu uma contabilidade inteligível que também fosse possível à aplicação da legislação a favor do tesouro ou do contribuinte, cobrando, diminuindo ou isentando os tributos o que não era feito antes pela falta de acompanhamento, dando um passo importante para uma maior liberdade de ação administrativa e tributária, em face do desenvolvimento, tendo então as primeiras reações em favor da descentralização do tesouro do governo federal. Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 271 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu a) A introdução da correção monetária no sistema tributário, visando reduzir as distorções na política econômica. b) A alteração do formato do sistema tributário. Transformaram-se os impostos do tipo cascata (que incidem a cada transação sobre o valor total). c) A redefinição do espaço tributário entre as diversas esferas do governo. As principais consequências da reforma tributária foram: o aumento da arrecadação e uma grande centralização tanto da arrecadação como das decisões em termos de política tributária, constituindo-se em importante instrumento político, ao subordinar os estados ao governo central. Permitiu ainda, por meio da vinculação da receita e da criação de órgãos ao lado da administração direta, uma descentralização dos gastos, com maior flexibilidade operacional. (FURTADO, 2000; GREMAUD, 2002). Quando se olha para o passado e trazendo a mesma perspectiva para o presente, a fonte de renda do tesouro público, foi e será sempre financiada pela sociedade, como é o caso do Brasil, tanto na fase colonial, como no império, ou mesmo na república, as maiores fontes de renda, da administração foram as de origem efeito na sociedade produtos exportados e, inclusive, aos importados, quando julgados essenciais para a economia nacional. Os principais elementos envolvidos nessa reforma foram segundo Gremaud (2005): Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Na Constituição Federal de 1988, o Sistema Tributário brasileiro compõe-se de 18 artigos, com 37 parágrafos, 94 incisos e 41 alíneas, num total de 190 regras. É, portanto, muito longa e complexa. A Constituição brasileira, na matéria tributária, é a mais extensa do mundo. O desenvolvimento nacional, nas suas mais variadas formas, aparece como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. (SARAK, 2010; QUEIROZ, 2011). A partir da Constituição de 1988, os municípios são declarados entes da federação, juntamente com a união, os estados e o distrito federal, fundados no estado democrático de direito. Os municípios já eram antes da constituição Federal de 1988 independentes, mas é apenas a partir do mandamento constitucional que eles assumem sem nenhuma dúvida essa condição. A descentralização das receitas tributárias surgiu como reação política à dependência dos estados e municípios em relação à União. (SIMONSEN; 1992; GIUSTI, 2004). A competência tributária dos municípios, iniciada com a constituição de 1934, foi aperfeiçoada ao longo do tempo. No que toca, portanto, à delimitação das competências tributárias atribuídas pelo Poder Constituinte à União, aos Estados, aos municípios e ao Distrito Federal, tem-se que ela se encontra tangida pelos princípios federativos e da autonomia Federal, Estadual e Municipal e Distrital, consagrado por nosso ordenamento jurídico que por meio da Constituição Federal se impõe, onde compreende várias espécies tributárias e a grande ênfase da Constituição de 1988 foi exatamente fazer transferências para a sociedade, a partir desse intuito é que surgiram novos tributos. (GIUSTI, 2004). 2.2 A Política Tributária no Brasil Um dos mais importantes mecanismos de qualquer país é o seu sistema tributário vigente, que dispõe de instrumentos para a arrecadação de tributos através da política tributária para controlar suas despesas. Que pode constituir de forma eficiente a promoção do desenvolvimento ou ser o fator inibidor da atividade empresarial e da geração de riquezas. A política tributária influencia o nível da tributação e é ainda utilizada por meio de manipulação da estrutura e alíquota dos tributos, que para estimular (ou inibir) os gastos de consumo do setor privado na economia. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). Conforme Pohlmann e Ludícibus (2006, p.99) “[...] se os gastos permanecerem iguais, isso implica que em algum momento no futuro os tributos serão elevados”. Os gastos governamentais são instrumentos que transfere tributos para a Conceito A 272 Recife n. 2 p.257-307 2011 Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 273 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Os impostos são uma imposição do Estado a indivíduos, unidades familiares e empresas, para que paguem certa quantidade de dinheiro em relação a determinados atos econômicos, por efeito na sociedade sociedade através de políticas econômicas e sociais. Para Gremaud e Vasconcellos (2002) e Sarak (2010) se a economia apresentar tendência para queda no nível de sua atividade econômica, o governo pode estimulá-la, reduzindo tributos e/ou elevando. Pode ocorrer o inverso, caso o objetivo seja diminuir o nível de atividade. É certo que o sistema tributário deve estar em harmonia com outros fatores inerentes à atividade econômica, como por exemplo, a produção industrial, o custo do emprego formal, a competitividade internacional, de forma a fomentar o desenvolvimento nacional. Contudo para Pohlmann e Ludícibus (2006, p.100) “em períodos recessivos, os tributos são mais frequentemente elevados do que reduzidos, reforçando o declínio da atividade econômica mais do que estimulando o consumo”. Um ajuste econômico das alíquotas dos tributos seria eficiente no sentido de criar um sistema tributário neutro, permitindo que toda a sociedade ao consumir contribua de forma equitativa com a sua capacidade de renda. Sendo ainda a tributação o mecanismo utilizado pelos governos para obterem recursos que serão necessários para o cumprimento e manutenção do país, e a promoção das políticas públicas. Utilizado também para outras finalidades das suas funções que se pretende extrair da sociedade pela via fiscal, como também se usa os tributos com o objetivo de corrigir as “falhas de mercados” que são identificadas no sistema econômico de mercado ou de conceder benefícios a algumas classes ou setores. A tributação afeta os incentivos para atuação dos agentes econômicos (famílias e empresas) e pode alterar o comportamento dos consumidores, produtores e trabalhadores de forma a reduzir a eficiência econômica. (LONGO; TROSTER, 1993; CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA; SEBRAE, 2001; VASCONCELLOS; GARCIA, 2008; SARAK, 2010). Segundo Riani (1997, p.103) “além de financiar os gastos governamentais, a montagem do sistema de tributação provocará efeitos diretos e indiretos nos diversos segmentos da sociedade”. Através desse mecanismo, poderá incentivar o desenvolvimento econômico e social de certas regiões, atividades ou produtos, usando, por exemplo, uma carga tributária diferenciada. Além disso, a estrutura tributária do país pode constituir-se num importante instrumento de combate à concentração de renda. (LONGO; TROSTER, 1993; FILELLINI, 1989; RIANI, 2009). Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso exemplo: ao realizar o consumo de um bem, ao obter receitas pelo trabalho ou ao gerar lucros nas empresas. (TROSTER; MORCILLO, 1999, p.206). Esse fato ocorre porque o valor dos impostos já estarem embutidos nos preços dos produtos e serviços. Um dos maiores problemas atuais é o cidadão comum não saber que é ele o principal contribuinte de todos os impostos. No Brasil, a carga tributária é acrescentada no decorrer do processo produtivo. A sua cobrança tem início na colheita ou na mineração, passando pelas etapas de industrialização, de distribuição atacadista e continuam até chegar ao varejo, onde o consumidor mesmo sem perceber é obrigado a pagar todos os impostos anexados ao preço do produto final. (DUTRA, 2005). Os governos utilizam-se da arrecadação compulsória, ou seja, obrigatoriedade ou obrigação tributária de recursos, que em termos técnicos caracteriza a tributação de um país. O conjunto de normas que definem e delimitam tais processos de arrecadação compõe o sistema tributário legal. Em geral, os sistemas tributários não possuem outro objetivo se não, o de gerar recursos para administrar o setor público. O dispêndio de tais recursos é feito por fora do sistema tributário, por meio de orçamentos aprovados pelos representantes da população. (POHLMANN; LUDÍCIBUS, 2006; RECEITA FEDERAL, 2010). A obrigação tributária pode ser principal ou acessória, os dois tipos estão previsto no Art. 113º do Código Tributário Nacional – CTN (2003). A obrigação tributária é principal ou acessória.1§ A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributos ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. 2§ A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Antes do advento do CTN já dizia Sousa (1960, p.63 apud NOGUEIRA, 1999, p.10): [...] obrigação tributária é o poder jurídico por força do qual o Estado (sujeito ativo) pode exigir de um particular (sujeito passivo) uma prestação positiva ou negativa (objeto da obrigação) nas condições definidas pela lei tributária (causa da obrigação). A Receita Federal (2010, p.11) menciona que “gastos tributários são gastos indiretos do governo realizados por intermédio do sistema tributário, visando atender objetivos econômicos e sociais”. São explicitados na norma que referencia Conceito A 274 Recife n. 2 p.257-307 2011 Segundo Lima (1999), Fabretti (2003) e Vasconcellos e Garcia (2008) o termo tributo é genérico e abrange diferente espécie, pode-se definir de forma clara que é a parcela na qual a sociedade entrega ao Estado, em dinheiro, de forma obrigatória, para financiamento dos gastos públicos. Tributo é gênero, da qual são espécies: impostos, taxas, contribuições econômicas e de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições especiais. Um excelente conceito de tributos encontra-se expresso no CTN (2003), que em seu art. 3º define: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Segundo Fabretti, (2003, p.41), “pode-se resumir conceito de tributo, dizendo que é sempre um pagamento compulsório em moeda, forma normal de extinção da obrigação tributária”. Os tributos transferem recursos financeiros dos indivíduos para o governo. Os agentes econômicos para compensar a redução da sua renda, se veem obrigados a alterar o seu comportamento social, seja consumindo menos ou trabalhando mais. Para Sandroni (1999, p.291) “impostos são: taxas obrigatórias pagas ao Estado, que devem reverter à coletividade sob forma de benefícios de interesse geral”. Assim, é verdade que a introdução ou aumento de impostos quase sempre pioram a situação dos contribuintes. Que segundo Simonsen (1992, p.7) “tornouse complicada envolto num emaranhado de impostos, cada qual com sua fiscalização própria”. Dispõe, ainda, o CTN (2003) no Art. 4º: “a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação”. Este é a concretização de determinada hipótese de incidência tributária prevista Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 275 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu 2.2.1 Abrangência Tributária efeito na sociedade o tributo, constituindo-se uma exceção ao sistema tributário de referência, reduzindo a arrecadação potencial e, consequentemente, aumentando a disponibilidade econômica do contribuinte. Têm caráter compensatório (ou de equilíbrio), quando o governo não atende adequadamente a população dos serviços de sua responsabilidade, ou têm caráter incentivador, quando o governo tem a intenção de desenvolver determinado setor ou região. No Brasil o gasto tributário ainda persiste em um percentual mínimo para atender as necessidades sociais. Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso na lei que gera (faz nascer) a obrigação tributária. E a não-incidência é a dispensa definitiva dos tributos sobre determinadas operações, bens ou serviços. A própria lei dispõe que, embora ocorrendo o fato gerador, não haverá incidência de imposto. Dessa forma, a lei afasta a incidência do imposto, de maneira definitiva, sobre o fato gerador. A não-incidência só pode ser determinada pelo ente competente para arrecadar o imposto. (FABRETTI, 2003, p.60). Entretanto, a forma como o tributo é então determinado na política tributária faz diferença, já que diferentes impostos trazem maior ou menor custo de bem-estar socioeconômico para cada real arrecadado. De um lado busca garantir a base mínima do nível de vida para todos os indivíduos e dar uma igualdade primária na distribuição de renda, tanto na assistência como pela previdência garantindo uma renda mínima a pessoas que, não poderiam de outra forma auferir tais recursos. Do outro lado revela o fator de tanta desigualdade no país. (TROSTER; MORCILLO 1999; FABRETTI, 2003). O total de tributos arrecadados no país corresponde à chamada carga tributária. A diferença entre a carga tributária bruta e as transferências governamentais para a sociedade é a carga tributária líquida. Uma carga tributária alta é de difícil reversão para diminuir as desigualdades no país. A necessidade de resolver divergências interestaduais e inter-regionais inviabiliza uma redução significativa da receita. Segundo a Fenafisco (2008, p.4) “carga Tributária é a soma de todo o dinheiro que o governo recebe cobrando tributo, dividido pelo valor da riqueza do país”. Quanto às divergências interestaduais, só existe solução para elas no âmbito de um novo pacto federativo; que seja adequada às mudanças no poder relativo entre os entes federados. Esse novo pacto só pode ser patrocinado pela União, que deve abrir mão necessariamente de parte de seus recursos e, provavelmente, realizando também uma reforma tributaria que redistribua as funções entre as três esferas de poder (União, Estados e municípios), para atender as exigências sociais. (GREMAUD; VASCONCELLOS, 2002; MORAIS, 2008). O mais importante não é tanto reduzir a carga tributária, mas resolver sua irracionalidade e agressividade, dando à sociedade, em troca, um maior retorno sob a forma de melhores gastos em serviços públicos dando assim uma política econômica de maior crescimento e desenvolvimento para o país e para a sociedade. (MORAIS, 2008, p.32). Conceito A 276 Recife n. 2 p.257-307 2011 O país necessita de recursos para cumprir suas alocações, para tanto recorre aos impostos como principal, e muitas vezes, única fonte de receita. É necessário que se adotem cautelas na formulação do sistema tributário. Por isso, quanto maior o volume de arrecadação e mais funções se atribuir ao sistema, maior será o grau das distorções que acarreta no mercado levando, muitas vezes, a conflitos entre diferentes objetivos, o sistema de tributação deveria ser o mais justo possível, com a distribuição de recursos para a sociedade. Entretanto, o conceito de justiça nem sempre é de fácil determinação. (SIQUEIRA; RAMOS, 2004). De acordo com Filellini (1989) boa parte da contribuição desses princípios se deve ao próprio Adam Smith que na sua famosa obra: A riqueza das nações (1776) estabeleceu que “os cidadãos de qualquer Estado devem contribuir para o suporte do governo, tanto quanto possível, na proporção de sua capacidade, ou seja, da renda que usufruem sob a proteção do Estado”. A relação custo/benefício do gasto público precisa ser analisada para determinar o nível ideal ou ótimo de tributação. O nível da tributação depende de muitos fatores, e sua mensuração, normalmente relacionada com Produto Interno Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 277 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu 2.2.2 Princípios Tributários efeito na sociedade Também importante do ponto de vista do interesse de avaliar a evolução do setor público é a análise da forma pela qual a expansão dos gastos é financiada, a qual repercute de forma diversa sobre o nível de atividade econômica e sobre a distribuição dos resultados da produção pelos habitantes do país. Diferentes sistemas tributários apresentam resultados contrários nos diversos níveis de produção que uma economia nacional produz. Resultados também diferentes são observados sobre a distribuição da renda nacional, conforme a estrutura tributária vigente seja mais ou menos progressiva de transferências de recursos, a grupos de renda mais baixa, que tenha como objetivo reduzir as desigualdades na repartição do produto nacional. (SILVA, 1978). Os efeitos de políticas tributárias sobre a economia brasileira tem sido um assunto recorrente no debate econômico, na medida em que se buscam propostas para uma nova estrutura tributária que implique uma melhor distribuição setorial e regional da carga e receita dos impostos, minimizando os vários pontos de indiferença que se é observado nas classes sociais. (DOMINGUES; HADDAD, 2003). Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Bruto - PIB revela o grau de participação do governo na economia. Quanto mais simples o sistema tributário, mais claro é seu entendimento pelo contribuinte, e quanto mais justo e eficiente ele for, maior será sua aceitação pela sociedade. Existe uma série de princípios que a política tributária deve seguir, onde três desses princípios são fundamentais para a sociedade: o princípio da eficiência, o da neutralidade e o princípio da equidade. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA; SEBRAE, 2001). A eficiência implica em expandir a base da tributação, com uniformidade e integração, de forma a evitar a arbitragem dos contribuintes e produzir um menor volume na receita. Acima de certo limite, o imposto faz com que o consumo dos bens diminua e consequentemente a arrecadação também. O princípio da neutralidade diz respeito quando o mesmo não altera o preço relativo, minimizando sua interferência nas decisões econômicas dos agentes de mercado. O princípio da equidade é um conceito subjetivo, mas muito importante, que busca fazer com que os contribuintes percebam o sistema tributário como justo, de acordo com suas preferências manifestadas. (SIQUEIRA; NOGUEIRA; BARBOSA, 2004). Verifica-se que a teoria ótima da tributação tem natureza normativa, pois investiga como o sistema tributário deve ser estruturado para que certos objetivos sejam atingidos para a sociedade, através da justiça fiscal que independente das oscilações, das alterações, das mudanças, ou combinações que possam ser feitas, o sistema tributário continuará sendo o principal instrumento de política fiscal do governo é evidente que a questão da justiça fiscal não se resume à tributação em si, mas depende da forma como o governo aplica os recursos arrecadados via tributos. (RIANI, 2009). De acordo com esses recursos para Siqueira, Nogueira e Barbosa (2004, p.176) “a escolha da combinação apropriada entre a equidade e eficiência é, de fato, a própria opção de utilizar esses critérios para avaliar o sistema tributário, é uma questão subjetiva, que envolve julgamentos éticos”. A equidade pode ser também avaliada sob dois princípios: o princípio do benefício, que preconiza a repartição do ônus de acordo com o beneficio individual auferido da produção de bens e serviços governamentais; e o princípio da capacidade de pagamento ou contribuição, segundo a qual o ônus deve basear-se na capacidade individual de sacrifício de uma parcela dos rendimentos obtidos. (PISCITELLI, 1995; VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). E ainda fazendo uma distinção entre a chamada equidade horizontal e vertical. Conceito A 278 Recife n. 2 p.257-307 2011 O princípio do benefício determina simultaneamente o total da receita tributária e sua vinculação ao gasto governamental. De acordo com Filellini (1989, p.96) “os benefícios individuais direta e indiretamente recebidos, vincula a desvantagem do tributo à vantagem do gasto público.” O princípio reside na dificuldade em se identificar os benefícios que cada agente econômico atribui a diferentes quantidades do bem ou serviço público. (FILELLINI, 1989). Os que utilizam a renda como capacidade de pagamento baseiam-se na abrangência dessa medida, ou seja, utilizando a renda, onde a mesma é o somatório do consumo e poupança. Os que defendem a utilização do consumo com base tributária argumentam que a sua capacidade de pagamento deve ser definida em função do que o indivíduo consome e não em termos do que ele poupa. (PISCITELLI, 1995). Os que argumentam que o acúmulo de poupança, que é parte da riqueza do agente, é realizado com base na taxa de juros atraente ao poupador. Contudo, se a renda fosse utilizada como indicador de capacidade de pagamento, a poupança seria tributada inicialmente quando o agente econômico a recebe e, no futuro, quando essa fosse convertida em consumo. Na verdade, qualquer que seja o tributo, sempre irá ele incidir, necessariamente, sobre a renda, riqueza e consumo. (FILELLINI, 1989; PISCITELLI, 1995). Os princípios da neutralidade e da equidade, no entanto, nem sempre é compatível, o que obriga a diferentes fatores de um ou de outro, ou o que é mais comum a uma combinação que procure atingir o máximo do primeiro em relação ao segundo. Tal combinação não é tão simples, pois a diferentes Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 279 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Com o princípio do benefício, um tributo é justo quando cada contribuinte paga ao estado um montante diretamente relacionado com os benefícios que dele recebe. (...) o princípio da capacidade de pagamento, os agentes econômicos deveriam contribuir com os impostos de acordo com sua capacidade de pagamento. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p.238). efeito na sociedade A equidade horizontal pressupõe um mesmo tratamento tributário a indivíduos na mesma situação, ou seja, pessoas em situação econômica similar devam suportar tributação igual. Já a equidade vertical pressupõe a diferenciação do tratamento tributário de indivíduos em situações desiguais, ou seja, pessoas de rendimento mais elevado devam contribuir com maior proporção de sua renda para o financiamento do setor público, de acordo com a sua capacidade econômica. (PISCITELLI, 1995; CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA; SEBRAE, 2001; VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso estruturas de tributação que implicam em privilegiar um ou outro, segundo os objetivos que se pretenda efetuar. De qualquer forma, parece consensual que níveis elevados de tributação da renda, seja proporcional ou progressiva, constituem um desincentivo para o trabalho, a poupança, o investimento e para as empresas. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA; SEBRAE, 2001; VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). 2.2.3 A Classificação dos Tributos Segundo Rossetti (1987) e Vasconcellos e Garcia (2008) os tributos estão classificados em duas formas distintas, mas, para o mesmo fim único eles estão divididos em tributos indiretos e diretos, ou entre consumo e renda. Os tributos indiretos constituem uma das mais importantes categorias da receita do setor público, não só em decorrência da facilidade de sua cobrança, que pode ser bem sucedida, mesmo nas economias em que a organização do sistema de arrecadação tributária é pouco aperfeiçoada; como ainda pelo fato de gerarem menores pressões sobre o governo e também menores descontentamento público, comparativamente às formas diretas de tributação. Eles representam quase metade da carga tributária total. Os tributos diretos constituem uma categoria de receita tributária do governo que atinge as rendas e as propriedades das pessoas físicas e jurídicas. Entre as categorias que atingem as propriedades citam-se como exemplos os tributos prediais e territoriais (urbanos e rurais). Em geral, esse tipo de tributo representa a menor parte do total da receita tributária arrecadada. (ROSSETTI, 1987; LONGO; TROSTER, 1993; VASCONCELLOS; GARCIA, 2008). De acordo com Giambagi e Além, (2008, p.24), eles abordam a seguinte definição: Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo e, por isso, estão associados à capacidade de pagamento de cada contribuinte. Os impostos indiretos, por sua vez, incidem sobre atividades ou objetos, ou seja, sobre o consumo, vendas ou posse de propriedades, independentemente das características do indivíduo que executa a transação ou que é o proprietário. Quanto aos impostos indiretos que são a maior parte da arrecadação tributária do país, outra forma de pensá-lo é pela sua abrangência que captura parte da renda de toda a população, uma forma de universalizar, onde todos pagam a mesma quantia pelos produtos consumidos, sem distorção da capacidade contributiva, ou de pagamento da sociedade, uma vantagem adicional de torná-lo invisível Conceito A 280 Recife n. 2 p.257-307 2011 O progresso do trabalho só acompanhará a transformação do país se for formulado um novo sistema tributário assim eles crescerão juntos. Outra classificação divide os impostos em regressivos, proporcionais (ou neutros) e progressivos que segundo Piscitelli (1995), Vasconcellos e Garcia (2008) e Sarak (2010) são eles: a) Impostos regressivos são aqueles em que o aumento na contribuição é proporcionalmente menor que o incremento ocorrido na renda, ou seja, a relação entre carga tributária e renda decresce com o aumento do nível de renda. Com isso, os segmentos sociais de menor poder aquisitivo são os mais onerados. b) Impostos proporcionais ou neutros são aqueles em que o aumento na contribuição é proporcionalmente igual ao ocorrido na renda. A relação entre carga tributária e renda permanece constante, com o aumento do nível da renda. c) Impostos progressivos ocorrem quando o aumento na contribuição é proporcionalmente maior que o aumento ocorrido na renda. A relação entre carga tributária e renda cresce com o aumento do nível de renda, ou seja, onera proporcionalmente mais os segmentos sociais de maior poder aquisitivo. Tributar o consumo, ou seja, indiretamente, tem sido considerado por muitos um ato regressivo, isto é, atinge mais a camada mais pobre do que os ricos, mesmo quando se adota alíquotas diferenciadas conforme a natureza do bem, afetando, portanto a equidade. A tributação da renda, ou a tributação direta, no entanto, nem sempre garante que a equidade seja atingida. Além disso, nos países em desenvolvimento como é o caso do Brasil, o baixo nível de rendimento da maioria da população e a excessiva concentração da renda em muitos delas torna inevitável o uso de maior tributação do consumo. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA; SEBRAE, 2001; SARAK, 2010). Na qual, para Piscitelli (1995, p.205): Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 281 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Nosso sistema tributário, que apoiando-se sobre as fraquezas psicológicas do nosso povo, sobre a ignorância e a covardia do contribuinte, o qual só paga impostos não sabendo quanto paga, os impostos do Brasil são na sua maior parte indiretos. (...) obrigando a população a pagar impostos exagerados (...) começando-se a destruir o estigma lançado sobre o trabalho. efeito na sociedade aos olhos da população diferente do imposto direto que é tributado na própria renda. (NOGUEIRA, 2000). Segundo Nabuco (2005, p. 137-138), Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A regressividade de um sistema tributário depende tanto dos instrumentos disponíveis quanto da efetiva utilização desse instrumental. A boa ou má regulamentação da tributação direta e indireta por leis ordinárias e sua execução objetiva é que na prática darão conotação e mesmo efetiva dimensão de regressividade ao sistema tributário. O Brasil oficialmente tem um sistema tributário progressivo. No entanto, existe um consenso geral de que ele é muito menos progressivo do que a legislação tributária sugere, havendo até mesmo aqueles que o acham regressivo. De acordo com Siqueira e Ramos (2004) existem três razões que justificam a afirmação de que tal sistema é menos progressivo do que pretendia o poder legislativo nacional ao instituí-lo são elas: 1. O imposto de renda é menos progressivo do que o legalmente estabelecido, porque certos tipos de rendas ou categorias de indivíduos podem “escapar” parcialmente da tributação. Por exemplo, os ganhos de capital são tributados a alíquotas mais baixas do que a renda do trabalho, além de existir uma variedade de deduções especiais que diminuem ainda mais a alíquota efetiva. 2. O imposto de renda é apenas um dos vários tributos que compõem os diversos sistemas tributários nacionais, e a maioria dos outros tributos, como aqueles sobre as vendas, propriedade ou sobre a folha de pagamentos, é bem menos progressiva, ou até mesmo regressiva. 3. A incidência de muitos tributos difere daquela sobre quem o tributo foi imposto. O que se observa é que os trabalhadores normalmente sofrem os efeitos dos tributos que foram instituídos sobre outros contribuintes. Há um consenso de que os trabalhadores, e não os empregadores, suportam toda a carga da contribuição para a seguridade social que é de responsabilidade deste último e de que a maior parte do Imposto de Renda da Pessoal Jurídica (IRPJ) é repassada para os preços, embora haja discordância quanto a sua extensão e para quem é o repasse: se para os consumidores ou para os trabalhadores. (SIQUEIRA; RAMOS, 2004). Segundo Sarak (2010, p. 262), Os efeitos desta política são inúmeros, (...) a tributação indireta relaciona-se com a regressidade do sistema tributário, contribui para o aumento da carga tributária, estimula a sonegação fiscal, o desemprego e prejudica a competitividade nacional e internacional. Conceito A 282 Recife n. 2 p.257-307 2011 • Se as contribuições trabalhistas são repassadas para os salários, elas podem desestimular a procura de emprego e o aumento do esforço no trabalho. • Se a capacidade de impor os tributos é fraca, empresas e trabalhadores podem se deslocar para o setor informal. Para Siqueira (2003) os principais fatores que determinam a incidência econômica das contribuições sobre a folha de salário e, portanto, o impacto de uma redução das mesmas sobre o emprego são: a presença de restrições na legislação trabalhista para a redução dos salários e a existência de uma ligação estreita entre as contribuições e os benefícios recebidos pelo trabalhador. Analisando o caso do Brasil, pode-se esperar que a sensibilidade do desemprego e da informalidade em relação à desoneração da folha de salário seja mais significativa para trabalhadores que tem rendimento próximo do salário mínimo. Ainda para Siqueira (2003) o foco das discussões e das políticas de reforma da tributação do emprego em vários países do mundo não tem sido apenas o aumento da eficiência econômica, mas também a diminuição das disparidades existentes na sociedade. Os indivíduos que são legalmente responsáveis pelo pagamento de um tributo nem sempre são aqueles que realmente pagam o tributo. Esse tributo pode ser repassado para frente, através do aumento de preços, ou para trás, através da redução de salários, de forma que consumidores ou trabalhadores podem ser os contribuintes efetivos dos tributos. Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 283 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu • Se a relações trabalhistas e as restrições legais impedem que a cunha fiscal do emprego recaia sobre os trabalhadores, as empresas serão induzidas a utilizar menos trabalho. Isso pode se dar por meio da substituição do trabalho (geralmente pouco qualificado) por outros fatores de produção. efeito na sociedade No Brasil, os tributos sobre a folha de salário representam cerca de 20% do custo total do emprego para a empresa. Por sua vez, a cunha fiscal do emprego, ou seja, a diferença entre o que o empregador paga por cada empregado e o pagamento que o empregado recebe é de 25%. As distorções provocadas pela tributação da folha de salário sobre o mercado de trabalho podem manifestar de diversas formas, dependendo da incidência econômica do tributo que segundo Noord e Heady (2001 apud SIQUEIRA, 2003), Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2.2.4 Arrecadação Tributária Segundo Queiroz (2011) o nível da graduação de um Sistema Tributário é aferido, normalmente, pela denominada carga tributária, isto é, a soma de todos os tributos cobrados no País comparado, mediante percentagem, ao valor do PIB, no período considerado. A Carga Tributária Bruta - CTB é definida como a razão entre a arrecadação de tributos e o Produto Interno Bruto, a preços de mercado, ambos considerados em termos nominais. Os resultados apresentados pela Receita Federal do Brasil estão consolidados na Tabela 1. Tabela 1: Carga Tributária Bruta no Brasil nas três esferas de Governo - 2005 a 2010 Na tabela acima, a primeira coluna representa as três esferas de arrecadação no Brasil e a segunda representa para os anos de 2005 a 2010 a arrecadação total e a porcentagem da carga tributária em relação ao PIB. Em 2006, a Carga Tributária Bruta atingiu 34,23%, contra 33,38% em 2005, indicando variação positiva de 0,85 ponto percentual. Para os anos de 2008 a 2007, obteve uma variação também positiva de 1,01 pontos percentuais, e para 2010, atingiu 33,56%, contra 33,14% em 2009, indicando também variação positiva de 0,42 ponto percentual. Essas variações resultou da combinação dos crescimentos, Conceito A 284 Fonte: Receita Federal, 2010 Recife n. 2 p.257-307 2011 Gráfico 1: Composição da Carga Tributária no Brasil De acordo com o gráfico acima temos que a tributação dos bens e serviços produzidos na economia é de 30% enquanto a propriedade é tributada em apenas 3%, isso demonstra que quem garante a manutenção do país é as famílias mais pobres, que são a cerca de 90% da população. Pois, segundo Lessa (2011) quem Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 285 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Fonte: Siqueira, 2003 efeito na sociedade em termos reais do PIB do governo. Conforme Siqueira (2003), Pohlmann e Ludícibus (2006) e Queiroz (2011) a carga tributária do Brasil, é maior do que de países desenvolvidos, com os Estados Unidos e o Japão, e de países da América Latina, como o México, a Argentina e o Chile. Com 13,8%, do PIB em 1947, após a carta da constituição de 1988 com 21,25%, e 26,97%, em 1994, com o plano real, e no de 2010 com 33,56%, o Brasil possui a 14º maior carga tributária do mundo, atrás apenas de países que oferecem serviços de alto nível aos cidadãos, como a exemplo a Suécia, a Noruega, a Dinamarca, a Finlândia, a Bélgica, a Alemanha e outros. Um patamar igual à carga média dos países da Organização e Cooperação para o Desenvolvimento Econômico – OCDE. Conforme Siqueira (2003) além das bases de arrecadação tradicionalmente utilizadas nesses países como lucro, renda pessoal, folha de salário, consumo e propriedade, o Brasil tributa a receita bruta (ou faturamento) da empresas. É esse tipo de tributo que constitui quase 80% da categoria “outros” como mostra o Gráfico 1. Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso aufere renda familiar de até dois salários mínimos paga, proporcionalmente, três meses a mais de impostos do que as famílias com mais de 30 salários mínimos. A Constituição Federal em seu artigo 145, parágrafo primeiro define que a União, os Estados e o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. De acordo com Giusti (2004) com este princípio, algumas características como a pessoalidade, a progressividade e a generalidade, devem ser observadas pelos entes tributantes na instituição e arrecadação dos tributos. • Pessoalidade – para a instituição ou majoração de um tributo o ente competente deve levar em consideração a capacidade patrimonial de cada contribuinte. • Progressividade – as alíquotas aplicadas devem ser diferenciadas na proporção do patrimônio de cada contribuinte. • Generalidade – a tributação deve atingir o patrimônio como um todo, bem como os demais rendimentos e atividades econômicas de cada contribuinte. Segundo Giusti (2004) o princípio da capacidade contributiva tem por finalidade o resguardo da justiça fiscal, de modo a repartir os encargos do Estado na proporção das possibilidades de cada contribuinte. O princípio ainda engloba outro princípio com o da igualdade ou isonomia tributária, de forma que quem tem mais em termos econômicos deverá pagar proporcionalmente mais tributos do que aquele que tem menos. Temos assim que os tributos provocam algum tipo de distorção econômica. O princípio da eficiência aplicado ao desenho de sistemas tributários busca reduzir essas distorções. Com base neste princípio, a tributação de bens e serviços intermediários é considerada particularmente imprópria, pois torna inviável garantir neutralidade para o sistema. (SIQUEIRA, 2003). Por esse motivo, as duas maiores aspirações da coletividade, no plano fiscal, em nosso país, Conceito A 286 Recife n. 2 p.257-307 2011 2.3 A Guerra Fiscal e o Emprego Formal A concorrência com base em incentivos fiscais não se verifica apenas entre países, mas também no interior dos mesmos, entre cidades e regiões, sendo, muitas vezes, estabelecida pela legislação do governo central com o objetivo de reduzir disparidades regionais ou recuperar áreas deprimidas. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA; SEBRAE, 2001). As mudanças de localização de atividades industriais são às vezes precedidas de uma acirrada competição entre Estados e municípios pela instalação de novas fábricas e, mesmo, pela transferência das já existentes. A indústria de automobilismo e das peças dos mesmos é emblemática de tal situação. (MILTON; SILVEIRA, 2001). Nos lugares escolhidos, o resto dos objetos, o resto das ações, e, enfim, o resto do espaço, tudo isso é, assim, chamado a colaborar na instalação da montadora; e tudo é permeado por um discurso eficaz sobre o desenvolvimento, a criação de empregos diretos e indiretos, as indústrias de autopeças, a exportação. (MILTON; SILVEIRA, 2001, p.112). Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 287 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu A melhor avaliação deve ser feita utilizando-se o conceito de carga tributária líquida, diferença entre o total arrecadado em impostos, taxas e contribuições, e a carga tributária bruta, e o que o governo repassa a sociedade sobre forma de transferências, assistências sociais e previdência. Excluindo tais repasses, sobra pouco para o Estado investir ou aplicar na educação, saúde, habitação, postos de trabalho e outras rubricas. (LESSA, 2011). A austeridade fiscal requererá melhoria da qualidade do sistema tributário para que a sociedade tolere o elevado nível atual da carga tributária. Nessas circunstâncias, minimizar os efeitos perversos dos tributos sobre a competitividade é fundamental para a retomada do crescimento econômico de forma sustentada. É desejável que as novas fontes não inibam exportações, o investimento e a criação de emprego formal; e que as formas antigas sejam substituídas. (VARSANO, 2003). efeito na sociedade são a redução da carga tributária e a simplificação do sistema. Elevada carga tributária e burocracia fiscal desestimulam a atividade econômica, afugentam os investidores, incrementam o desemprego, (...) entretanto, o processo de continuada elevação de nossa carga tributária, se não for detido, acabará provocando distúrbios econômicos, sociais e políticos. (QUEIROZ, 2011, p.36). Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso É inegável o sentido democrático da descentralização estabelecida na Carta de 1988; porém, ela estimulou uma espécie de autonomia no que diz respeito ao sistema tributário no âmbito da federação, ao atribuir a cada Estado o poder de tributar as alíquotas do Imposto sobre Circulações de Mercadorias e Serviços – ICMS. A revisão do pacto federativo promovido pela Constituição de 1988 provocou uma atitude hostil da União em face da descentralização, pelo que ela significa de perda de receita. (DULCI, 2002). Com esse intuito verificou-se que o governo federal e o congresso nacional passaram a admitir e a questionar a guerra fiscal entre os Estados da federação. O projeto do governo federal é transformar o ICMS, cobrados pelos Estados, em um único imposto sobre o valor agregado, para acabar com a guerra fiscal no Brasil. (ROSAS, 1997). De acordo com Rosas (1997, p. 22) “a guerra fiscal tem trazido mais prejuízos do que benefícios aos Estados”. O projeto de emenda constitucional aprovado pela Comissão de Justiça do Senado prevê quais critérios os Estados poderão conceder isenções, benefícios, subsídios ou incentivos fiscais, pelas disparidades regionais existentes. A necessidade de uma reforma tributária é uma opinião consensual entre os governos estaduais, os governos dos Estados, ou parte deles, apresentam propostas alternativas de reforma tributária que respeite o pacto federativo e mantenha a autonomia estadual para tributar sem guerra fiscal. (ROSAS, 1997). Para Dulci (2002, p. 97) outro aspecto refere-se “à abertura da economia brasileira com o aprofundamento de sua inserção global” que ainda para Dulci, (2002, p. 97) “a abertura ensejou a condição econômica para a escalada da guerra fiscal, na medida em que atraiu um fluxo crescente de capitais internacionais”. Esse processo de criação de valor acaba tendo, para a sociedade como um todo, um alto custo e produz uma alienação advinda da extrema especialização urbana e regional numa produção exclusiva trazida pelo neoliberalismo. (MILTON; SILVEIRA, 2001). Segundo Andrioli (2006) a ideia central das propostas neoliberais de crescimento econômico se baseia na redução de impostos às grandes empresas, como fórmula de captar investimentos internos e externos e, consequentemente, gerar novos empregos. Diante de uma prevista diminuição na arrecadação dos tributos, o Estado, de acordo com a doutrina neoliberal, precisa ser “enxugado”, implicando no drástico corte dos gastos públicos, o que tende a agravar os problemas sociais. Conceito A 288 Recife n. 2 p.257-307 2011 No país como em todo o seu território, as consequências são negativas, ao Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 289 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Ninguém ignora que a chamada “guerra fiscal”, cujos efeitos chegam a abalar os fundamentos do regime federativo, é, na realidade, mais uma das muitas consequências danosas do sistema tributário vigente, o qual, na sua complexidade, estimula a fraude e a sonegação. (...) parece-nos mais ações desesperadas de governos na busca da geração de empregos, cuja escassez no mundo todo. efeito na sociedade O problema seria temporário provocando um efeito de maior arrecadação futura pelo crescimento da taxa de empregos formais que aumentaria o número de contribuintes. A renúncia fiscal praticada pelos estados que pretendem atrair indústrias para seu território sempre prejudica a população, que se vê privada dos benefícios e dos serviços sociais por parte dos Estados. Que segundo Rosas (1997, p. 24) “somente a geração de postos de trabalho diretos e indiretos não justifica a renúncia fiscal. Os prejuízos sempre são maiores que as vantagens”. E isso não se aplica somente ao Brasil em alguns de seus estados mais entre outros países do mundo, então, a guerra pela guerra tende a favorecer apenas a indústria que recebe os incentivos por parte dos Estados. (ROSAS, 1997). Embora existam empresários interessados na manutenção e geração de empregos, estes constituem uma absoluta minoria e não se encontra entre os grandes investidores, os maiores beneficiados com o fim dos impostos. Não se pode negar que serão gerados novos postos de empregos e atividade econômica intensa em todo complexo industrial que uma indústria então representa; o que por sua vez, expande o nível de emprego formal e a renda da região. Porém, é o contribuinte que está financiando, com mais impostos ou com menos serviços sociais, ou ainda com ambos. Pois, praticamente todo que se arrecada nos Estados fica com a União que repassa os recursos para outros Estados, e esses praticam ainda a guerra fiscal. (ROSAS, 1997; DULCI, 2002; ANDRIOLI, 2006). Como adverte Diniz (2000, p.343 apud DULCI, 2002, p.97), “a guerra fiscal corrói as finanças públicas, compromete receitas futuras e desvia os preços relativos”. Nessa guerra, ganham os estados mais desenvolvidos, com melhores condições locacionais e maior cacife financeiro e político. Isto seguramente agravará as desigualdades regionais, além de que, o lugar deve, a cada dia, conceder privilégios para que as indústrias instaladas não se desloquem para outro território. (MILTON; SILVEIRA, 2001). Que para Rosas (1997, p.27), Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso lado das tensões políticas e econômicas entre os Estados, cabe ponderar qual o impacto social das renúncias fiscais, promovidas pelos governos estaduais que nem sempre estão em condições de fazê-lo sem sacrificar ainda mais as suas populações. A necessidade de se priorizar a reforma tributária no Brasil é fundamental pela grande mudança que seria feita no sistema tributário onde proporcionaria todos os recursos indispensáveis à consecução dos objetivos das três esferas de governo, sem a necessidade de se mexer nos sistemas administrativos e previdenciários, nos quais os grandes prejudicados são os trabalhadores. (ROSAS, 1997; DULCI, 2002). 2.4 Tributos, Previdência e Emprego A finalidade básica do Estado é a promoção do bem comum ou, ainda, podemos defini-la como um ideal que promove o bem estar e conduz a um modelo de sociedade que permite o pleno desenvolvimento das potencialidades humanas, estimulando, ao mesmo tempo, a compreensão e a prática de valores. Temos então que a função típica do Estado consiste na produção de bens e serviços tendo como meta promover a sociedade como um todo; suas necessidades que ela apresenta, onde são as mais variadas possíveis, tais como escolas, casas populares, estradas, hospitais, emprego. Dessa forma, a necessidade pública é aquela em que o interesse geral é alcançado. (GIUSTI, 2004). Tendo em vista o aludido, a Constituição Federal do Brasil (2010) em seu Art. 5º. Define: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Que também expressa em seu Art. 6º. “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Com base no que foi expresso a de se imaginar que o Estado deveria contribuir para que a sociedade tenha um bem-estar comum, e não necessite passar por certos momentos de incertezas políticas e econômicas, pois a própria sociedade contribui via pagamento de tributos para que haja esses valores. A má formulação e gestão dos impostos públicos é uma das principais causas do alto índice de desemprego e de pobreza no Brasil. Nas últimas décadas, o nosso sistema tributário tornou-se muito insensato, desorganizado e muito obscuro. Isso, por Conceito A 290 Recife n. 2 p.257-307 2011 Recife n. 2 p.257-307 2011 291 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Conceito A efeito na sociedade sua vez, ajudou a retardar o desenvolvimento econômico e a evolução social do estado e do país. (DUTRA, 2005). Segundo Contador (1997, p.126) “são adicionados os gastos dos governos Federal e Estadual, e descontada a parcela que o trabalhador de salário mínimo contribui compulsoriamente sob a forma de pagamentos de impostos indiretos”. Ou seja, parte do salário que o trabalhador recebe é paga via tributos indiretos que ele faz ao efetuar seu consumo, quer seja de alimentos ou vestes, ele não recebe em troca os valores prometidos pela constituição. Conforme Zottmann (2008) fenômeno semelhante decorre da distinção que todo esse regramento acarreta na forma de atuação dos agentes privados e no aparelhamento que o Estado deve ter para garantir o mínimo de eficiência e justiça social na arrecadação de tributos. As contribuições em impostos indiretos devem ser deduzidas dos benefícios que o trabalhador recebe do governo os impostos indiretos principais nesse caso seriam o IPI e o ICMS. (CONTADOR, 1997). Torna-se oportuno que sejam abordados os temas relativos à previdência Social e ao Sistema Tributário, que tantas preocupações causam à sociedade. As responsabilidades por esse cenário que hoje se observa no Brasil são de abrangência dos três poderes, nos três níveis de Governo, e da própria sociedade brasileira, pelos erros e omissões acumulados ao longo dos anos e dos tempos. (QUEIROZ, 2011). Como dispõe Siqueira (2003) o governo tem como propósito promover o aumento do emprego formal, tem-se discutido recentemente propostas de deslocamento das contribuições previdenciárias da folha de salário para outras bases de tributação. No centro do debate estão propostas de substituição parcial da contribuição das empresas sobre os salários por uma arrecadação da receita bruta das empresas ou por um Imposto sobre o Valor Agregado - IVA. Previdência e tributação envolvem questões que entravam o desenvolvimento econômico e social do nosso País, assim agravando as tensões sociais, que se revelam assustadoras nas grandes cidades brasileiras, com o aumento dos bolsões da miséria, da violência, da criminalidade e do desemprego. Nessa perspectiva, devem ser detectadas as características e deficiências do Sistema Tributário, do Sistema Previdenciário Nacional e da Legislação Trabalhista, bem como as atuais possibilidades de solução das graves questões nessas três áreas de atuação do Governo. (QUEIROZ, 2011). Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Parte do receituário conhecido para os problemas do desemprego tem nítidas implicações tributárias. Recomenda-se mudanças radicais na legislação trabalhista, no sentido da desregulamentação das relações entre empregador e empregado, de forma a reduzir os custos da concentração e da dispensa do trabalhador para fazer face às exigências de maior flexibilidade no ajuste das empresas à conjuntura de seus respectivos mercados, o que – presumem os proponentes – elevaria o nível de emprego. (VARSANO, 2003). Tendo em vista a evidência empírica sobre a incidência dos encargos trabalhistas e dos tributos sobre o consumo, a extrema desigualdade de renda existente no Brasil e as restrições orçamentárias enfrentadas pelo governo, pode-se considerar que há fortes argumentos para focalizar o subsídio fiscal sobre o emprego daqueles trabalhadores que se encontram numa posição desfavorável no mercado de trabalho. (SIQUEIRA, 2003, p.239). Na mesma linha busca a redução das elevadas contribuições sobre a folha de salário além de afetarem a competitividade, criam uma grande cunha entre o custo do trabalhador para as empresas e o salário que eles recebem, estimulando a informalização das relações trabalhistas. Isto, por sua vez, além de contribuir para a precariedade do emprego, reduz a própria base desses tributos. (VARSANO, 2003). As folhas de salários das empresas são adicionalmente oneradas por contribuições sociais arrecadadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS em benefício de terceiros. Segundo Varsano (2003, p.17) “uma das soluções possíveis para a questão é limitar a proteção oferecida pelo Estado ao trabalhador, o que viabiliza a redução dos tributos que incidem sobre o salário”. Ou seja, desonerar a folha de salários para contribuir com aumentos de empregos formais. Na medida em que reduz os encargos sociais incidentes sobre a folha de pagamentos, de forma permanente e generalizada. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2003). A desoneração na folha vai reduzir a arrecadação da Previdência, o que pode causar em falta de recursos se não for compensado. Desonerar não é compensar. O total de encargos da folha praticamente dobra a despesa que o empregador tem com o salário. A solução não é simplesmente substituir um tributo por outro, a arrecadação da carga resultaria em maior formalização na economia e, consequentemente, aumentaria o número de contribuintes para a previdência. Uma saída seria segundo Lessa (2011, p.32) “é ir baixando a alíquota gradativamente para dar tempo para a recuperação da arrecadação não Conceito A 292 Recife n. 2 p.257-307 2011 Recife n. 2 p.257-307 2011 293 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Conceito A efeito na sociedade prejudicar a Previdência”. Sobre a geração de empregos a partir da desoneração da folha de salários, a exemplo do Chile, a desoneração dos salários não trouxe nenhum impacto positivo para a oferta de empregos formais, o Chile reduziu cerca de 25% a incidência sobre a folha e apenas alguns setores mais fortes em termos sindicais conseguiram obter aumento salarial. No mais o que aumentou foram os lucros das empresas. (LESSA, 2011). Segundo a Confederação Nacional da Indústria (2003) a tributação sobre o valor adicionado é a forma mais eficiente e mais neutra de arrecadar recursos compulsoriamente para atividade do Estado. Constitui uma base ampla e capaz de gerar recursos em volume suficiente. É também relativamente estável e sua tributação, por ser não-cumulativa, não introduz distorções e ineficiências à alocação dos recursos. A tributação do valor adicionado enfrenta uma primeira dificuldade, que é o conhecimento da base de arrecadação. O Brasil ainda não dispõe de um tributo Federal abrangente sobre o valor agregado, o IPI incide apenas sobre alguns produtos industrializados e o ICMS é de abrangência dos Estados, e conta com alíquota já elevada. Além disso, por ser constitucionalmente de competência estadual, a criação de um adicional para custeio da previdência seria operacionalmente de difícil implementação. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2003). Segundo Lessa (2011) em um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA mostra que 56% de tudo o que a Previdência pública e a Assistência Social pagam, por se tratarem de valores baixos repassados, voltam para o Estado via arrecadação impostos. Tanto que, para quem ganha até dois salários mínimos, a carga tributária em 2008 estava em 53,9%. Havendo aumento comparado com o mesmo período do ano de 2004, este índice estava próximo de 48%, ou seja, a tributação ficou ainda mais concentrada sobre o consumo. A discussão sobre o financiamento da Previdência não pode ter um foco meramente arrecadatório. Deve estar harmonizada com a necessidade também premente de aumentar a eficiência do sistema tributário nacional. Sistema tributário eficiente é aquele que não distorce a alocação de recursos na economia, não penaliza a competitividade da produção nacional e não desestimula os investimentos. No Brasil o sistema é oneroso, com uma série de tributos em cascata de difícil desoneração, que aumenta o custo do produto nacional em relação aos países Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso externos. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2003). Os impactos positivos nesse caso são evidentes. Desequilíbrio fiscal se reduz, a poupança doméstica aumenta, caem o risco país e as taxas de juros domésticas, aumentam os investimentos, a produção e o emprego. Nota-se que isso pode ser obtido sem necessariamente alterar a base de arrecadação atual, mas ampliando-a com estímulos à adesão voluntária e o próprio aumento do emprego que acompanha o crescimento econômico. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2003, p.141). Por outro lado, a forma de financiamento da previdência não pode estar baseada em tributos nocivos ao desenvolvimento da atividade produtiva. A desoneração da folha de salários é um objetivo meritório, na medida em que pode contribuir para o aumento das contratações no segmento formal de trabalho e reduzir a velocidade de substituição de trabalho por capital. O objetivo desta proposição é reduzir os encargos sobre a contratação de mão-de-obra e estimular o aumento do emprego formal. O argumento é que a incidência atual onera os segmentos intensivos no uso da mão-de-obra, prejudicando o emprego. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2003). Segundo Confederação Nacional da Indústria (2003, p.142) existe um ponto importante que é “a interdependência entre a reforma da previdência e a reforma tributária e das relações de trabalho”. Essa interdependência ocorre tanto pelo lado dos resultados e objetivos finais (crescimento da economia, aumento do emprego formal e equilíbrio das contas públicas) como pelo estado do financiamento, isto é, o conjunto de tributos que compõem a estrutura tributária do País expresso na Figura 1. Conceito A 294 Recife n. 2 p.257-307 2011 2.5 A Importância da Reforma Tributária A reforma tributária feita em 1967 perseguia objetivos semelhantes aos hoje defendidos, embora se situasse em um contexto distinto do atual. Era preciso na época que fosse feito uma nova estrutura dos tributos, a economia dependia da eliminação dos déficits fiscais e a retomada do crescimento do país para levar a um ambiente econômico favorável ao desenvolvimento. (REZENDE, 2003). Expõe Rezende (2003, p.26) a seguinte observação à reforma de 1967: Com as preocupações assinaladas, os responsáveis pela reforma tributária de 1967 buscaram encontrar um ponto de equilíbrio entre a repartição de competências para tributar e a disponibilidade de recursos orçamentários na Federação. A isso se somava a instituição de mecanismos eficazes para a cooperação intergovernamental no tocante às políticas necessárias para a arrancada do desenvolvimento. Dadas as especificidades do nosso sistema federativo nacional, não é tarefa fácil a implementação de um modelo ideal de sistema tributário no Brasil. Embora haja um consenso geral quando à necessidade de uma ampla reforma tributária. Assim acredita Siqueira e Ramos (2004) que uma reforma tributária adequada seria aquela que conseguisse acomodar os três tipos de conflitos de interesses Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 295 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu As mudanças necessárias para manutenção do país estão imbricadas nas reformas de base, dando maior aparato ao setor público. Aumentando a eficiência da economia pelo aumento do emprego formal, aumentando também a base de arrecadação da previdência social alocando mais recursos para a sociedade. Estar em sintonia com os princípios fundamentais de uma reforma tributária, moldando um sistema de financiamento com distorções mínimas, que promova a eficiência da economia e na competitividade dos produtos do país. Para Moura (1998) em verdade, o desemprego, trata-se de um fenômeno tão complexo e tão interligado, que seria teoricamente impossível atribuí-lo a uma causa apenas, ou mesmo a um pequeno número de causas ligadas entre si. Como todo fenômeno social, político e econômico, o desemprego tem causas múltiplas, interligadas e interdependentes. E lógico que somente a reforma tributária não seria a única fonte suficiente, mas, seria um meio, uma solução para esse fim. efeito na sociedade Figura 1: A interdependência entre as reformas Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso seguintes: 1º- O conflito de interesses entre o setor público (que quer maior disponibilidade de receitas) e o setor privado (que quer a redução do impacto negativo da tributação sobre a eficiência e a competitividade do setor produtivo nacional, a prestação de serviços públicos compatíveis e, ainda, que se faça a justiça fiscal). 2º - O conflito entre as esferas de governo (conflito vertical) – União, estados e municípios (que brigam por fatias maiores do “bolo tributário” a fim de fazer face aos seus encargos e que lutam, no caso da União e estados, pela hegemonia legislativa em relação ao principal imposto da federação – o ICMS). 3º - O conflito distributivo entre as regiões em um mesmo nível de governo (conflito horizontal), como é o caso da tributação do ICMS na origem ou no destino, opondo os estados produtores do Sul e Sudeste e os estados consumidores do Norte e Nordeste. Consoante Zottmann (2008) e Queiroz (2011) a sociedade brasileira em geral os contribuintes sejam elas as pessoas físicas e jurídicas, conclamam há mais de uma década, por uma reforma tributária, que vise objetivos relevantes para o país como um todo. Não há como se falar em reforma tributária sem atentar para suas prioridades e os seus objetivos. Para Ferreira (2002, p. 55) “é uma tarefa relativamente simples, do ponto de vista técnico, elaborar um projeto de reforma tributária. A dificuldade reside em viabilizá-la politicamente”. Conforme Zottman (2008, p.188) “os problemas do sistema tributário brasileiro vão da inconsistência das normas constitucionais à legalidade de algumas normas fiscais”. Isso se da pela necessidade de se adaptar o sistema tributário vigente as várias mudanças que devem ocorrer na forma do Estado se ressarcir pela prestação de serviços individuais. Tecnicamente, a maioria das propostas de reforma tributária advoga três mudanças fundamentais: deslocamento de uma base tributária sobre a renda para uma base tributária sobre o consumo; um movimento na direção de cargas tributárias mais baixas e mais uniformes; e uma ampliação da base tributária, eliminando deduções e exclusões. (SIQUEIRA; RAMOS, 2004). De acordo com Siqueira e Ramos (2004, p.171), [...] a mudança para uma base tributária sobre o consumo provavelmente incentivaria a acumulação de capital, removendo a tributação sobre renda do capital e, portanto, incentivando Conceito A 296 Recife n. 2 p.257-307 2011 Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 297 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu Uma reforma tributária que vise à competitividade e o bem comum deve simplificar e tornar mais transparente o sistema tributário, reduzindo o número de tributos e a burocracia; reduzir a carga fiscal de forma mais equitativa entre os setores da atividade econômica, entre as regiões e entre empresas que atuam em um mesmo mercado. (LESSA, 2011). Reflete Siqueira (2003) parece no mínimo complexa a intenção de desonerar parcialmente a contribuição dos empregadores sobre a folha de salários, substituindo-a por incidência sobre o faturamento ou valor adicionado, justamente na oportunidade da reforma tributária. A correção desse nosso processo tributário é a única alternativa que o Brasil tem, de imediato, para se tornar realmente competitivo no atual mercado globalizado. Uma ampla e satisfatória reforma tributária para Dutra (2005, p.79) “conseguirá recuperar os postos de trabalho perdidos nas décadas de 80 e 90. Esta é, na verdade, a nossa melhor opção para reerguer a economia brasileira e melhorar a vida dos trabalhadores”. Na década de 90 os produtos importados invadiram o mercado brasileiro, este fenômeno colocou em risco a sobrevivência da indústria nacional e desequilibrou as relações trabalhistas, econômicas e sociais. (AFONSO; ARAÚJO, 2004; DUTRA, 2005). Para Dutra (2005) a transferência, de todos os impostos para a etapa final de comercialização, aumentaria a atividade industrial brasileira e geraria muitos empregos formais. Isso aconteceria porque os preços nacionais diminuiriam com a retirada dos impostos do setor produtivo. Além de trazer bons resultados econômicos, a transparência dos impostos estimularia a sociedade fiscalizar o setor público e os bens comuns do país. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (2003, p. 144) “a boa técnica tributária mostra que não é recomendável concentrar a arrecadação em um único tributo, posto que a decorrente necessidade de imposição de uma alíquota elevada estimularia a evasão tributária”. Diante das várias imperfeições do sistema tributário brasileiro, muitas propostas de reformas tributárias foram discutidas na sociedade. Que segundo Lima (1999) as Propostas de Emendas Constitucionais – PEC e as Propostas de Reforma efeito na sociedade as pessoas a maior consumo presente. Cargas tributárias mais uniformes eliminariam também algumas diferenças do imposto que incentiva usos menos produtivos do capital no sistema atual. E uma base tributária mais ampla poderia aumentar a oferta de trabalho se a ampliação fosse suficiente, de tal forma a permitir uma redução nas alíquotas tributárias marginais totais. Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Tributária do Ministério da Fazenda foram as mais destacadas e construídas ao longo dos anos. Segundo Dutra (2005) as tentativas anteriores de implantação da Reforma Tributária geraram algum ceticismo, contudo o momento atual é mais favorável à tramitação da Reforma Tributária que os anteriores já propostos. Que conforme Sakate e Gaspar (2011, p.86) “para isso, é preciso que o estado brasileiro funcione de maneira mais eficiente e custe menos aos cidadãos que trabalham e pagam seus impostos”. De forma que a estrutura tributária seja consciente pelo aparato tributário nacional, através de sua arrecadação. Simonsen (1992) descreve que o problema fiscal no Brasil não poderá ser resolvido somente pelo aumento ou redução de tributos. A própria reforma tributária deve ser analisada dentro de um contexto mais amplo de reforma do Estado, que deve ser estruturado de forma a reduzir os custos e aumentar a eficiência da administração pública. De acordo com o Ministério da Fazenda (2008) um dos principais objetivos da proposta de reforma tributária é acabar com a guerra fiscal entre os Estados, que hoje tem um impacto negativo sobre o crescimento e a geração de emprego formal. A forma mais segura de eliminar a guerra fiscal é modificando a cobrança do ICMS nas transações interestaduais, fazendo com que o imposto seja devido ao Estado de destino. Uma mudança imediata no sistema de transações interestaduais não é, no entanto, viável, por pelo menos duas razões: • A adoção da cobrança no destino tem forte impacto na distribuição de receitas entre os Estados, e uma transição brusca dificulta muito a montagem de um sistema confiável de compensação; • A desativação imediata dos benefícios já concedidos no âmbito da guerra fiscal é quase impossível de ser implementada, em função da dificuldade de extinguir abruptamente os compromissos assumidos por diversos Estados com as empresas. Segundo Afonso e Araújo (2004, p. 282) “são tantas as questões envolvidas que, muitas vezes, falta discernimento do que seja o maior de todos os males do atual sistema tributário”. Cresceu de certa forma o pensamento entre o fisco de que o importante é arrecadar, não importando como se arrecada, de quem, por quais meios, que efeitos provocam na economia e na sociedade. Ainda segundo Afonso e Araújo (2004) não há um único caminho para implementar Conceito A 298 Recife n. 2 p.257-307 2011 A análise do comportamento do tributo no curso da historia brasileira, desde a época colonial até os tempos modernos, mostra os conflitos relacionados aos tributos pela classe operária que necessitava de recursos na economia para a geração dos problemas sociais existentes, que de certa forma aborda um processo reflexivo que deixa evidente que a tributação e cidadania são termos interdependentes da equação social, sendo mesmo impossível pensá-los separadamente. A política tributária no Brasil continua sendo a mesma adotada pelo Código Tributário Nacional de 1966 incorporados na Constituição Federal de 1988. Muitos decretos, leis e emendas foram criadas, mas, pouca coisa mudou no aparato do sistema tributário nacional, que continua onerando através dos tributos indiretos a maioria da população mais precisamente os trabalhadores de baixa renda, que se sentem obrigadas a consumir bens e serviços com uma grande carga tributária incorporada no processo produtivo desde a origem até o consumo final no varejo. A relação entre o custo e o benefício do gasto público para atender as camadas que a sociedade demanda através da sua alocação, precisa ser analisada para determinar o nível ideal ou ótimo de tributação, incorporando a essa realidade: a equidade, a simplicidade e a neutralidade tributária. No que diz respeito à progressividade dos tributos no Brasil, ele só tem efeito na Conceito A Recife n. 2 p.257-307 2011 299 Aspectos da reforma tributária no Brasil uma análise histórica e econômica do seu 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS efeito na sociedade a reforma e nem sempre será possível promover em curto prazo as mudanças tributárias, mas qualquer proposta que efetivamente constitua um passo à frente na reforma tributária deve priorizar o combate à comutatividade. Isso coloca a questão das contribuições sociais a mercê dessa proposta e mitigar os efeitos cumulativos e remover os obstáculos que impõe o crescimento, a produção nacional, e a geração de renda e emprego no país. Uma reforma tributária de certa forma seria um viés efetivo na redução das taxas de desemprego no Brasil, considerando que ela teria um efeito positivo no aumento dos investimentos diretos na economia, gerando maior nível de produção para as empresas dos setores econômicos. Elas envolveriam mudanças profundas no aparato estatal, no sistema previdenciário em vigor, onde no cenário do sistema federal brasileiro ainda não foi implantada. (DUTRA, 2005). Revista Conceito A | Recista dos Trabalhos de Conclusão de Curso teoria, pois na prática diversos autores são unânimes em afirmar a sua regressão na sociedade, a tributação sobre a renda se mostra progressiva, embora se verifique que a progressividade da carga fiscal sobre a renda é significativamente amortecida pela regressividade implícita na tributação sobre o consumo que afeta a classe trabalhadora menos favorecida. A carga tributária no Brasil vem crescendo consideravelmente ao longo dos anos, chegado a atingir em 2010, 33,56% do Produto Interno Bruto nacional, isso revela que temos uma alta carga tributária e uma má gestão da administração desses recursos onde a população mais carente necessita dos bens básicos para a sua sobrevivência. Nos últimos tempos o Brasil vem adotando a guerra fiscal entre os Estados para incorporar em seu território empresas multinacionais reduzindo dessa forma os impostos para gerar empregos formais na economia, porém muitos autores acreditam que essa forma de gerar empregos, distorce vários outros fatores também de necessidade básica como a saúde, a educação, a habitação e outras áreas que são também necessárias. O problema previdenciário em resposta ao sistema tributário não pode ser analisado sem que haja as reformas de bases, pois ambas, são interdependentes e se relacionam aos problemas sociais em maior grau ao desemprego, pois se a reforma tributária desonerar a folha de salários pelas contribuições sociais reduzirá arrecadação para a previdência social. A maioria dos autores tem o consenso de que uma reforma tributária nacional, é um fator necessário para combater as desigualdades existentes no Brasil, e ela tem que ser justa e igualitária de forma a evitar os problemas básicos da sociedade e do desemprego, é certo também que, para evitar o aumento das taxas de desemprego os legisladores tributários terão que evitar os impostos cumulativos, uma alta carga nas empresas, as contribuições sociais de alguns setores na economia que evitam contratações por serem onerados com forte carga tributária e os impostos indiretos serem de fácil compreensão para quem consome bens e serviços. É evidente que uma reforma tributária não se reduz à simples opção entre tributação sobre a renda ou sobre o consumo, mas em ambas, sendo que em economias com um mínimo de complexidade, a situação ideal parece situar-se em um ponto intermediário de equilíbrio, resultando em um sistema híbrido. Porém, o que se pretende é deixar de certa forma bem claro e os diferentes resultados Conceito A 300 Recife n. 2 p.257-307 2011 AFONSO, José Roberto Rodrigues; ARAÚJO, Érika Amorim. Contribuições sociais, mas antieconômicas. In: ARVATE, Paulo.; BIDERMAN, Ciro. (Org.). Economia do setor público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ISBN 85-352-1530-1. AMED, Fernando José. A História dos Tributos no Brasil. Brasília: Sinafresp, 2000, 325p. ISBN 85 -21-30940-6. ANDRIOLI, Antônio Inácio. Reduzir impostos para gerar empregos. Revista Espaço Acadêmico. n.57, fev. 2006. Disponível em: <http://www.espacoacademico. com.br/057/57andrioli.htm>. Acesso em: 06 set. 2011. BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/ CON1988_05.10.1988/CON1988.pdf>. Acesso em: 12 set. 2011. CONTADOR, Claudio Roberto. 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Orientador: ARTUR GILBERTO GARCÉA DE LACERDA ROCHA RECIFE 2011 SIDNEY MARTINS DA SILVA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA: IMPACTOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito A em 16/02/2012. Banca Examinadora ___________________________________________________ (Válter de Andrade Silva) À minha família e ao meu filho. Conceito A 308 Recife n. 2 p.308-358 2011 A Deus, que sempre está junto a mim e me proporciona cotidianamente a graça de vivenciar momentos tão especiais e únicos. A faculdade São Miguel, pela oportunidade ofertada e pelos excelentes professores. Ao professor e coordenador Filipe Reis, nosso eterno benfeitor. A todos os professores, pela paciência, pelo profissionalismo, pela divisão do conhecimento conosco, pelo companheirismo e por não deixar de acreditar em nós. Em especial, ao meu orientador Artur Garcéa, pelo conhecimento repassado e, acima de tudo, pelo amigo que é; a José Alonso, pela persistência em nos fazer economistas e por ter conseguido, mais um grande amigo; a Priscila Susan, pela pessoa fantástica e pela professora inigualável; a Geraldo Aguiar, um grande pensador; e a Eline Waked, pela ajuda fundamental na construção do conhecimento em pesquisas científicas. Aos meus amigos em sala e na vida, Fábio Luiz, Pérolla Rodrigues, Juliana Marly, José Fernando, Adriano dos Santos, Elton Guimarães, Carlos Henrique, Sabrina Domingos, Alessandra Farias, Jaqueline Liberato e todos os demais, por todos os momentos vivenciados e a vivenciar. A minha família, que sempre foi minha pedra fundamental durante toda a vida e ao meu filho. A todos que de alguma forma contribuíram com o meu crescimento e me apoiaram nos momentos mais difíceis. RESUMO Este estudo tem como objetivo geral descrever o programa bolsa família, fazer uma análise recente da distribuição de renda no Brasil, assim como do programa bolsa família como instrumento para uma melhor distribuição de renda. Nos objetivos específicos aborda-se a relação entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico, busca-se descrever a concentração de renda como fator de entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil, destaca-se a adoção de políticas de transferência condicionada de renda como ferramenta para uma melhor distribuição desta renda e, por fim, realiza a abordagem do programa bolsa família, analisando-o e descrevendo seus impactos na distribuição de renda brasileira entre 2004 e 2009. Para a realização da análise, foi utilizada a forma qualitativa dos dados e nesta análise foi avaliada a evolução histórica da distribuição de renda no Brasil, sua importância para o desenvolvimento e as implicações para a desigualdade e pobreza. O resultado da análise constata que o programa bolsa família é um componente importante de renda complementar para as camadas mais pobres da população, contribuindo para a redução da desigualdade, além do que, suas condicionalidades fomentam a transcendência do ciclo da pobreza entre gerações. Embora as condicionalidades aplicadas atualmente demonstrem eficácia, existe a necessidade de Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 309 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família AGRADECIMENTOS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso aperfeiçoamento e implantação de programas complementares, tendo como objetivo reforçar estas condicionalidades no sentido de oferecer maiores condições de transcendência do ciclo da pobreza entre as gerações. Palavras-chave Desigualdade de renda. Pobreza. Transferência condicional de renda. Inclusão socioeconômica. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................310 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................313 2.1 Crescimento econômico e desenvolvimento econômico......................313 2.2 Concentração de renda como fator de entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil............................................................................318 2.3 Programas de transferência condicionada de renda e sua importância.326 2.4 Programa bolsa família entre 2004 e 2009.......................................335 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................351 REFERÊNCIAS....................................................................................354 1. INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso é o resultado de estudos realizados sobre os efeitos causados pelo programa bolsa família na distribuição de renda do Brasil, entre 2004 e 2009, e busca responder a seguinte questão: Qual a importância do programa bolsa família na distribuição de renda, para as camadas mais pobres? Quais as suas características? Esta pesquisa procura analisar os possíveis impactos causados pelo programa bolsa família à distribuição de renda das famílias brasileiras, como também, estabelecer relação entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico, demonstrar a concentração de renda no Brasil como fator de entrave para seu Conceito A 310 Recife n. 2 p.308-358 2011 O trabalho seguiu a forma qualitativa dos dados e possui dois aspectos; quanto aos meios e quanto aos fins. Quanto aos meios, foram realizados levantamentos bibliográficos, visando fundamentação teórica para embasamento científico e construção do conhecimento necessário à abordagem do problema, desta forma reunindo as informações inerentes à proposta. Quanto aos fins, a pesquisa assume a forma descritiva, pois busca relacionar as variáveis pertinentes ao caso e estudar as características desta relação para, com isso, entender tanto a importância do programa bolsa família para a distribuição de renda do Brasil quanto, as implicações desta distribuição para o País. A escolha do tema distribuição de renda aconteceu devido ao histórico de enorme desigualdade socioeconômica no Brasil desde seu descobrimento, com o surgimento de grandes extensões de terra através dos donatários e de suas capitanias hereditárias, até os dias atuais, com o advento do controle inflacionário e do crescimento econômico. Mesmo obtendo crescimento econômico, não foi possível partilhar de forma mais equânime a riqueza produzida durante este período de tempo, visto que, ainda existe uma grande diferença entre a apropriação da riqueza, por parte dos mais ricos, em relação a esta apropriação, por parte dos mais pobres. O antagonismo entre crescimento econômico e distribuição de renda não é compatível com a necessidade de desenvolvimento econômico, devido à convergência internacional no sentido de um crescimento qualitativo da sociedade, ou seja, ao desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural. Como o crescimento econômico se dá de maneira quantitativa, podendo concentrar renda de forma excludente ou distribuir renda de modo includente, sendo no segundo caso, o que podemos citar como uma forma de desenvolvimento econômico, se faz necessária uma discussão acerca deste antagonismo trazendo à tona soluções efetivas e condizentes com o conceito de desenvolvimento atual. Desta maneira, a sociedade poderá inserir-se na construção de um novo contexto para este embate de forças, sendo protagonista da mudança e não uma simples espectadora, afinal a mudança também pode ocorrer inversamente à Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 311 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família desenvolvimento econômico; apresentar programas de distribuição condicionada de renda e descrever o programa bolsa família entre 2004 e 2009. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso distribuição includente e em benefício da concentração excludente, conformando um ambiente inadequado no tocante ao desenvolvimento econômico. Assim, a distribuição de renda é de suma importância para o desenvolvimento da sociedade, visto que, através dela tal sociedade alcança não só o desenvolvimento econômico, como também, o social, pela inclusão e condições melhores de vida, o ambiental, pela maior consciência e respeito às gerações futuras, e a cultural, pela possibilidade de acesso às suas raízes como forma de promover uma identificação com seu grupo social, gerando maior harmonia em seu convívio. A inserção, a consciência e o convívio poderão ser alcançados por meio da eficaz e igualitária distribuição de renda, pois através dela é possível tornar uma sociedade mais participativa e, por conseguinte, mais voltada à cidadania. No sentido de contribuir com essa discussão, é fundamental que venham à tona estudos voltados para este propósito e que possam apontar caminhos, saídas, dificuldades. Em suma, tudo que seja inerente ao assunto visando agregar conhecimento para fomentar soluções efetivas de curto, médio e longo prazos. No caso específico do Brasil e devido ao seu histórico de concentração de renda, é necessário distribuir renda principalmente para as camadas sociais menos assistidas, inclusive pelo Estado, como forma de incluí-las não só no contexto econômico, mas também, no contexto social, dada a relevância da inclusão econômica para o aumento na qualidade de suas vidas. Todavia, essa distribuição de renda, de forma imediata, se dá por meio de políticas públicas de transferência condicionada de renda, que são efetuadas por meio de algumas condições para a melhoria efetiva das pessoas beneficiadas, portanto, têm a intenção de inserir estas pessoas em parâmetros que possibilitem o exercício da cidadania e a melhoria em sua qualidade de vida. Diante do exposto, o Programa Bolsa Família, que é um componente de renda muito importante para as faixas sociais mais pobres e até abaixo da linha de pobreza, será bastante relevante para uma descrição mais aprofundada de como as políticas de transferência condicionada de renda podem ser importantes para a redução da desigualdade através da distribuição de renda. Esta discussão se dará pela abrangência deste Programa e sua capacidade de distribuir renda condicionalmente. Conceito A 312 Recife n. 2 p.308-358 2011 2.1 Crescimento econômico e desenvolvimento econômico Para um melhor entendimento acerca da origem dos conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico, é necessário retroceder ao pacto colonial durante o mercantilismo, quando se atribuía a riqueza nacional ao aporte de metais preciosos adquiridos através do saldo positivo na balança comercial destas nações. Neste cenário repelia-se intrinsecamente o desenvolvimento do setor manufatureiro interno em benefício da acumulação de metais preciosos. Em oposição a essa postura, surgem pensadores como Adam Smith, que buscou entender e explicar os fatores da formação das riquezas nacionais. Foi durante este período que surgiu a preocupação com o crescimento econômico e a distribuição, os quais foram abordados e demonstrados por Adam Smith (SOUZA, 2009). Ainda conforme Souza (2009, p. 2, grifo do autor), Adam Smith, [...] explica como o mercado opera e qual a importância do aumento do tamanho dos mercados para reduzir os custos médios (efeito escala) e permitir a produção com lucros. Expandindose os mercados, aumentam a renda e o emprego. O desenvolvimento ocorre com o aumento da proporção dos trabalhadores produtivos em relação aos improdutivos; pela redução do desemprego e a elevação da renda média do conjunto da população. Em relação ao crescimento populacional, Thomas Malthus afirmou que a população cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética. O principal fator de crescimento demográfico seria a disponibilidade de alimentos, porém, ele destacou outros pontos de estímulo ao crescimento populacional como, a importação de alimentos mais baratos, a lei dos pobres (existente na Inglaterra através da qual, as paróquias deveriam ajudar a alimentar os pobres), os casamentos precoces (estimulados pelos nobres, para aumentar o contingente de soldados), e o aumento dos vícios (prática do sexo antes do casamento, promiscuidade e prostituição). Estes pontos foram amplamente combatidos por Malthus, porém ele defendia a ampliação das fronteiras agrícolas como forma de aumentar os meios de subsistência (HUNT, 1981). Durante muito tempo o crescimento econômico era tido como desenvolvimento, visto que o aumento da produção elevava a quantidade de pessoas empregadas e por sua vez, a renda, porém Joseph Schumpeter, no início do século XX, descreveu o crescimento como sendo um fluxo circular de renda, o qual era Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 313 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso determinado pelo ritmo de expansão demográfica e que, dados os preços de mercado, os consumidores e as empresas ajustavam as quantidades demandadas e ofertadas. Já o desenvolvimento seria obtido por mudanças espontâneas e descontínuas, através de perturbações no equilíbrio préexistente, o que alteraria e deslocaria para sempre tal estado de equilíbrio. Em suma, para Schumpeter o desenvolvimento consiste no emprego diferente dos recursos disponíveis, independentemente do ritmo de crescimento da economia (fluxo circular de renda), ou seja, através de inovações introduzidas no mercado por empreendedores, que para tanto necessitariam de crédito e promoveriam a chamada destruição criadora, que consiste na introdução de novas tecnologias e processos no meio produtivo e dinamiza o mercado competitivo (SOUZA, 2009). Atualmente o crescimento econômico é conceituado como “o aumento contínuo do produto interno bruto (PIB) em termos globais e per capita, ao longo do tempo”. Este conceito citado por Milone (2005, p. 485), é ampliado por Kuznets (1971 apud MILONE, 2005, p. 485), o qual acrescenta que “a capacidade de crescimento baseada no avanço tecnológico exige ajustes institucionais e ideológicos”. Para Kindleberger e Herrick (1977 apud MILONE, 2005), o aumento do PIB atrelado a mudanças de ordem técnica e institucional ocasionaria o desenvolvimento econômico, ou seja, modificações na estrutura produtiva e na alocação dos insumos de produção provocariam o crescimento econômico e como conseqüência, o desenvolvimento. As teorias clássicas, marxistas, keynesianas e neoclássicas sobre crescimento econômico, desenvolvidas por autores como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, John Maynard Keynes e Karl Marx analisaram e identificaram problemas no crescimento econômico dos países desenvolvidos e consideraram o desenvolvimento econômico como um processo gradual, harmonioso, contínuo e cumulativo, todavia essa análise não levou em conta aspectos importantes como migrações, dualismo, distribuição de renda e comércio exterior. Essas teorias trouxeram grandes problemas quando aplicadas aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, por serem extremamente imbricadas às necessidades e ao contexto dos países desenvolvidos (MILONE, 2005). Hoffmann (2001, p. 67), diz acerca das teorias neoclássicas que, pode-se Conceito A 314 Recife n. 2 p.308-358 2011 Sobre isso, versa o relatório da Conferência internacional sobre meio ambiente e sociedade: educação e conscientização pública para a sustentabilidade (1999, p. 28, grifo do autor): O que é produzido e o fim que é dado ao produto têm igual importância no processo que a quantidade fabricada. Por outro lado, é evidente que o dólar que duplica a renda de uma pessoa pobre, cumpre papel diferente do dólar de acréscimo auferido por um milionário, para quem se trata de uma soma insignificante. Entretanto, em geral, equipara-se o desenvolvimento, quantificado em função de uma única medida técnica – habitualmente o PIB – com o progresso global da sociedade e do bem-estar. Faz parte da mentalidade do século XX, que considera que o meio é mais importante que o fim e o nível de atividade, mais importante do que os objetivos para os quais ela serve. Embora os países em desenvolvimento necessitassem de modelos adequados ao seu crescimento e desenvolvimento econômicos, as teorias que surgiam não atendiam a ambos os interesses, visto que beneficiavam o acúmulo de capital, gerando crescimento econômico e aumentando as desigualdades na distribuição de renda e condições de subsistência, consequentemente. Uma dessas teorias foi a de Lewis, que propunha a acumulação gradual do capital empregado na produção, o que possibilitaria um aumento no nível de produção, e atrelado a isso, a contratação de mais pessoas, todavia sua teoria se mostrou ineficaz para países em desenvolvimento, visto que o exército de reserva aumentou, em termos de mão-de-obra, fomentando o crescimento econômico às custas da diminuição dos salários e do emprego (MILONE, 2005). Segundo Marx (1890, v. 2, p. 747 apud SOUZA, 2009, p. 84, grifo do autor), A magnitude relativa do exercito industrial de reserva cresce, portanto, com as potências de riqueza, mas quanto maior esse exército de reserva em relação ao exército ativo, tanto maior a massa de superpopulação consolidada, cuja miséria está na razão inversa do suplício do seu trabalho [...] esta é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista. Ao passo que as economias em desenvolvimento cresciam, crescia também a necessidade de teorias que se adequassem às suas realidades e que, como o modelo Harrod-Domar, sintetizavam o crescimento econômico de maneira que Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 315 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família enfatizar seu aperfeiçoamento quanto à restrição do estudo econômico a um nível mínimo de atuação, quantificando ao extremo o crescimento do produto em detrimento ao desenvolvimento, o que ocasionou seu afastamento da economia como um todo, visto que “os grandes temas do desenvolvimento econômico foram relegados a um segundo plano durante as primeiras décadas do século XX, a favor do que hoje se conhece como microeconomia”. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso o crescimento do produto seria igual à razão entre poupança e capital. Apesar de simples, apresentou problemas por seu caráter genérico, o que não satisfez às necessidades dos países em desenvolvimento, pois os mesmos tinham dificuldade em agrupar, apurar e mensurar os dados disponíveis para a aplicação do modelo (MILONE, 2005). Foi neste contexto que surgiu a corrente de pensamento da Comissão Econômica Para a América Latina – CEPAL, que tinha como expoentes Raúl Prebisch e Celso Furtado, e derivou do pensamento clássico preocupando-se a princípio com o baixo nível de poupança e a elevada relação capital/produto, que tornaria o crescimento econômico ínfimo diante dos padrões de crescimento da época. Além disso, o que fosse produzido dentro do país seria pouco competitivo e um fator de entrave ao próprio crescimento no mercado internacional, dada à elevada relação capital/produto (BASTOS; D’AVILA, 2009). Os cepalinos anteviam a elevada relação capital/produto como fator de entrave à entrada de países em desenvolvimento no mercado internacional pela falta de competitividade em relação aos países desenvolvidos e conforme (PREBISCH apud BASTOS; D’AVILA, 2009, P. 180 – 181), Nos países desenvolvidos a técnica produtiva exige um alto grau de capital per capita, mas o desenvolvimento paulatino da produtividade, que se deve justamente a essa técnica, permitiu que esses países tivessem elevada renda per capita, mediante a qual realizaram a poupança necessária para formar o capital requerido. Inversamente, na maior parte dos países latinoamericanos, a poupança é escassa, em decorrência do baixo nível de renda. Quando os que hoje são grandes centros industriais estavam em situação comparável à que agora se apresenta nos países periféricos, e quando a renda per capita era relativamente pequena, técnica produtiva também exigia um capital per capita relativamente exíguo. Em virtude da relação supracitada, a corrente de pensamento cepalina originou o conceito de dependência dos países subdesenvolvidos em relação aos países desenvolvidos, devida a deterioração dos termos de troca, na qual todo o excedente produtivo dos países em desenvolvimento era canalizado para os países hegemônicos, que por sua vez aumentavam os preços de seus produtos por causa da dependência daqueles em relação a estes produtos, o que elevava ainda mais a desigualdade entre eles. Desta forma, a CEPAL confrontava a teoria das vantagens comparativas desenvolvida por David Ricardo, a qual discorria que os países deveriam se especializar na produção daqueles bens para os quais possuíssem vantagens comparativas de custo, o que tornava os países, de economia basicamente agropecuária, reféns dos produtos e dos mercados Conceito A 316 Recife n. 2 p.308-358 2011 Ainda de acordo com Souza (2009), ao adotar uma política ativa, aperfeiçoar suas instituições e incentivar o uso de novas técnicas constantemente, um país em desenvolvimento poderia aumentar sua produção agrícola e utilizar seu excedente para gerar rendas transferíveis para o setor industrial de maneira a fomentar seu crescimento, tornando o setor agrícola fundamental para o financiamento da industrialização. Desta maneira, o excedente seria utilizado para importação de bens de capital e insumos de produção, o que viria a se tornar a industrialização por substituição de importações adotada pelo Brasil posteriormente. Em relação ao programa de substituição das importações (PSI), implementado no Brasil, diz Furtado (1998, p. 170, grifo do autor), Sem um estudo aprofundado da estrutura agrária, não é possível explicar a tendência à concentração da renda, nem tampouco a rigidez da oferta de alimentos geradora de pressões inflacionarias. Sem uma percepção da natureza da industrialização retardada (orientada para a substituição de importações) não será possível entender a ‘inadequação tecnológica’, que agrava o subemprego. Furtado (1990), diz ainda que livre do quadro de dominação colonial trazido à tona pelo conceito de dependência, citado anteriormente, revelou-se no contexto cultural um padrão de consumo adotado pelos que acumulavam o excedente gerado pelas vantagens comparativas estáticas, obtidas no comércio exterior, através do programa de substituição das importações, padrão este que demandava bens de alto valor agregado e, portanto, projetava novamente a dependência, desta vez no campo tecnológico. Além disso, fragmentava a produção entre produtos tradicionais, voltados à exportação ou ao mercado interno, e outro voltado ao atendimento do novo mercado mais exigente. De acordo com Bettelheim (1973 apud SOUZA, 2009), existem três formas de dependência. Sendo a primeira a dependência comercial, que fora controlada pelas vantagens comparativas estáticas obtidas no processo de substituição de importações, a segunda é a dependência tecnológica e científica, na qual os dependentes tornam-se reféns do ritmo de desenvolvimento e da disposição dos países detentores das mesmas em liberar tais inovações, e a terceira e última é a financeira, através da qual as economias menores sofrem com a elevação da taxa de juros e a especulação financeira internacionais. Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 317 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família dos países de economia industrializada. (SOUZA, 2009). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A necessidade de buscar o crescimento econômico consiste em que, o mesmo é condição necessária para o desenvolvimento, porém é possível um país crescer sem se desenvolver, conforme Milone (2005, p. 485), O aspecto fundamental é que o desenvolvimento econômico não pode ser analisado, somente, por meio de indicadores que medem o crescimento do produto ou do produto per capita. Desenvolvimento deve ser complementado por índices que representem, ainda que de forma incompleta, a qualidade de vida dos indivíduos. Desse modo, deveremos ter um conjunto de medidas que reflitam alterações econômicas, sociais, políticas e institucionais, tais como: renda per capita, expectativa de vida, mortalidade infantil, fertilidade, educação, analfabetismo, distribuição de renda entre diferentes classes e setores, centralização da atividade econômica, poder político, entre outras. Ainda sobre as diferenças entre crescimento e desenvolvimento econômico, o crescimento econômico estabelece um processo através do qual a renda per capita eleva-se persistentemente e, atrelada a essa elevação, acontecem mudanças quantitativas e qualitativas na sociedade, de maneira a melhorar as condições de vida desta sociedade, em relação a emprego, saúde, educação, além de maior acesso a transporte, cultura, comunicação, saneamento e a uma gama de benefícios e facilidades. O desenvolvimento econômico, por sua vez pressupõe que a maioria da população seja beneficiada por estas mudanças estruturais promovidas durante o processo de crescimento, gerando com isso, maior bem estar e oportunidades para a sociedade como um todo, conformando um ambiente de condições igualitárias para o exercício da cidadania (CACCIAMALI, 2005). Cacciamali (2005), também menciona que, embora o Brasil tenha obtido um crescimento econômico elevado após a década de 1950, este crescimento não refletiu em melhoria na qualidade de vida da maior parte da população, especialmente no tocante à distribuição de renda, visto que na década de 1990, entre 137 países, em apenas 7, as famílias 10% mais ricas possuíam mais de 46% da renda total. Em relação ao Brasil este percentual era de 48% para o período estudado. 2.2 Concentração de renda como fator de entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil A Distribuição de Renda tem sido, historicamente, um entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil, mesmo em períodos de forte crescimento do PIB. O PIB dividido pela quantidade de habitantes de um país é considerado como PIB per Conceito A 318 Recife n. 2 p.308-358 2011 Para analisar a concentração de renda no Brasil é necessário citar a questão latifundiária, a qual foi responsável por grande parte da desigualdade atual, em função da grande concentração na posse da terra durante o período de colonização do país e como conseqüência da vocação açucareira do período. Após a época citada, vem o período de industrialização, que foi concentrado no centro-sul do país em virtude da grande produção cafeeira da região e de sua infra-estrutura, em detrimento ao restante do Brasil e demonstrando a disparidade na distribuição da renda tanto no âmbito local, quanto no regional (CACCIAMALI, 2005). Acerca da colonização do Brasil, esta foi realizada em meio a uma grande dificuldade encontrada por Portugal, sua população escassa. Diante disso, e da falta de interesse em povoar o Brasil devida à hostilidade encontrada pelos que se propunham a embarcar rumo ao novo mundo, Portugal encontrou uma solução que consistiu em oferecer vantagens como a de poderes soberanos, dos quais o rei abria mão em benefício dos súditos que resolvessem arriscar-se na colonização. Mesmo assim, poucos foram os que se apresentaram para o feito, doze ao todo, os quais foram beneficiados com doze capitanias hereditárias que tinham como principal finalidade a produção de açúcar, muito apreciado e escasso na Europa, visto que o clima brasileiro era conhecido e adequado à cultura da cana-de-açúcar, formando assim, um ambiente propício à produção extensiva e a concentração da posse da terra e da renda (JÚNIOR, 1998). Hoffmann (2001), também busca explicar a desigualdade na distribuição da renda através da formação socioeconômica do Brasil, pois o país tinha como alicerce econômico a produção e exportação de produtos primários, onde a grande concentração na posse da terra e a formação de oligopólios era um fator concentrador da renda nacional. De acordo com Furtado (1998, p. 44, grifo do autor), A renda que se gerava na colônia estava fortemente concentrada em mãos da classe de proprietários de engenho. Do valor do açúcar no porto de embarque apenas uma parte ínfima (não superior a 5 por cento) correspondia a pagamentos por serviços prestados fora do engenho no transporte e armazenamento. [...] Tudo indica, destarte, que pelo menos 90 por cento da Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 319 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família capita e reflete a média de rendimento da população como um todo, porém não deve ser utilizado como único parâmetro para um estudo detalhado da distribuição de renda (GREMAUD, 2002 apud KATO, 2003). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso renda gerada pela economia açucareira dentro do país se concentrava nas mãos da classe de proprietários de engenhos e de plantações de cana. Furtado (1967, p. 149 apud HOFFMANN, 2001, p. 68), diz também que mesmo com a abolição da escravidão, “praticamente em nenhuma parte houve modificações de real significação na forma de organização da produção e mesmo na distribuição da renda”. Acerca da distribuição da renda Gremaud (2002 apud KATO, 2003, p. 14) diz que, Mesmo com um PIB per capta razoável, quanto pior a distribuição de renda de um país, ou seja, quanto mais essa renda concentra-se nas mãos de alguns poucos habitantes, menos desenvolvido deve ser considerado o país, [...] Assim, deve-se ter cuidado quando se analisa o desenvolvimento de um país por meio do conceito de produto per capita, pois é necessário investigar a distribuição em torno dessa média, ou seja, o quanto dessa renda está concentrada nas mãos de uma parte pequena da população. Dentre as formas de análise das disparidades na distribuição de renda está o índice de Gini, que foi utilizado neste trabalho e que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Esse índice varia de 0 (zero), quando não há desigualdade, a 1 (um), quando a desigualdade é máxima. Embora não exista um índice incontestavelmente melhor que os outros, o mais utilizado é o coeficiente de Gini. Sua construção se baseia na Curva de Lorenz, que é obtida a partir da ordenação da população segundo o seu nível de renda. As pessoas são dispostas de forma crescente com suas rendas, ficando a quantidade acumulada de pessoas no eixo vertical e a quantidade acumulada de renda no eixo horizontal, sendo ambas relacionadas com uma reta diagonal (CACCIAMALI, 2005). Ainda acerca do índice de Gini e conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2006, p. 14, grifo do autor), Toda medida de desigualdade é uma forma de agregar diferenças de renda entre toda a população em um indicador escalar. Não é surpreendente, portanto, que exista uma ampla variedade de formas de medir a desigualdade. Embora não exista um índice de desigualdade seguramente melhor que os outros, o mais utilizado é o coeficiente de Gini. Sua construção é baseada numa curva denominada ‘Curva de Lorenz’, a qual é obtida a partir da ordenação das pessoas segundo o seu nível de renda. As pessoas são dispostas de forma crescente com suas rendas. Outro índice utilizado é o coeficiente de Theil, que varia em consonância com o coeficiente de Gini visto que “O valor de ambos os coeficientes varia entre 0, quando não há desigualdade, e 1, quando a desigualdade é máxima” (SALVATO, Conceito A 320 Recife n. 2 p.308-358 2011 Salvato (et al, 2010, p. 779, grifo nosso), diz também que “Esses coeficientes [Gini e Theil] são medidas de dispersão e são amplamente usados como medidas de desigualdade quando aplicados a distribuições de renda”. Segundo Cardoso (1995), existe uma grande diferença na apropriação da riqueza ou PIB pelas distintas camadas sociais que ajudam na sua produção, ficando a maior parcela de tudo que é produzido para a minoria mais rica e, consequentemente, a menor para a grande maioria mais pobre. Para se chegar a esta constatação pode-se analisar a distribuição pessoal da renda, por parcelas da população e se concluir qual é a participação de cada camada social na divisão do PIB. De acordo com (BARROS, et al, 2000), entre os anos de 1977 e 1998 não houve praticamente nenhuma oscilação nos indicadores mais utilizados para a mensuração da disparidade de renda1. Ao observar o índice de Gini verifica-se que o mesmo oscilou em torno da casa dos 0,6 durante o período, de acordo com a quadro 1, abaixo: 1 A distribuição utilizada foi a de domicílios segundo a renda domiciliar per capita. Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 321 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família et al, 2010, p. 757). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: (BARROS, et al, 2000, p. 136). Quadro 1: Evolução temporal dos indicadores de desigualdade de renda. Conforme o quadro 2 abaixo, no qual a distribuição utilizada foi a de domicílios segundo a renda domiciliar per capita, ao analisar os indivíduos pertencentes aos 20% mais ricos da população, pode-se constatar que obtiveram uma renda média de 24 a 35 vezes maior que a dos 20% mais pobres, da mesma forma ao analisar os 10% mais ricos, a renda destes foi entre 22 e 31 vezes superior a renda dos 40% mais pobres (BARROS, et al, 2000). Conceito A 322 Recife n. 2 p.308-358 2011 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Fonte: (BARROS, et al, 2000, p. 136). Quadro 2: Evolução temporal da desigualdade de renda. Em relação à divisão da renda Cardoso (1995, p. 28) diz que, [...] ao dividirmos um bolo, entre cem pessoas, podemos medir a fatia que foi atribuída aos dez indivíduos mais privilegiados, aos vinte menos privilegiados e aos setenta que ficaram entre uns e outros [...], o grupo dos 10 por cento mais ricos da população ficou com a metade do bolo, quer dizer, com a metade do PIB, enquanto os 20 por cento mais pobres receberam apenas 3 por cento do produto do país. Acerca disso, “entre os anos de 1960 e 1970 todos os percentis de renda perderam participação, exceto os 10% mais ricos. Isso elevou o índice de Gini em quase 14% e deflagrou um intenso debate nos anos 1970 [...]” (CACCIAMALI, 2005, p. 415). Durante a década de 1970, buscou-se explicar o alto nível de desigualdade na Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 323 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso distribuição de renda através da teoria do capital humano, que fala no nível de educação como determinante do aumento das desigualdades de renda, visto que quanto maior o crescimento econômico, maior a necessidade de mão-de-obra qualificada, que por sua vez poderia negociar maiores salários (KATO, 2003). Hirschman (1961 apud VIANA; LIMA, 2010), afirma que uma das justificativas que explicam um crescimento desequilibrado é a desigualdade no progresso de áreas específicas como a educação. Contudo, é importante atentar para o fato de que, os dados apurados em determinados segmentos, em relação à educação, devem ser atribuídos a tais segmentos evitando generalização e extrapolação de informações, de maneira a comprometer a fidedignidade dos dados. (VIANA; LIMA, 2010). Em relação a isso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (apud VIANA; LIMA, 2010), denomina tal ação de falácia da composição, visto que um maior nível educacional poderá refletir em maior renda para um indivíduo e o mesmo nível educacional não representar o mesmo para outro, devido a cenários socioeconômicos distintos. Por outro lado, Almeida e Guilhoto (2006), discorrem que, sabe-se que o problema da desigualdade e da pobreza no Brasil tem relação direta com a educação e requer soluções de curto prazo que reflitam em melhorias de longo prazo. Ainda no tocante a relação citada, Barro e Lan (apud ALMEIDA; GUILHOTO, 2006), demonstraram que a distribuição de renda potencializa os impactos sobre a escolaridade das crianças, gerando com isso um efeito perpetuador das diferenças preexistentes, ou seja, pais com baixa escolaridade, têm filhos também com menos anos de estudo. No período do milagre econômico, compreendido entre as décadas de 1960 e 1970 durante o governo militar, observou-se que, apesar de um crescimento econômico elevado no Brasil e no mundo, tal crescimento não refletiu em uma distribuição de renda mais igualitária (SERRA, 1982 apud KATO, 2003). Ainda de acordo com Serra (1982 apud KATO, 2003, p. 10), Conceito A 324 Recife n. 2 p.308-358 2011 O Governo Militar tentou justificar a falta de políticas para uma distribuição mais equânime da renda através de dois argumentos. O primeiro dizia respeito a um mal necessário para aumentar a poupança e, consequentemente, o investimento em função dos ricos pouparem mais do que os pobres, o que geraria mais crescimento e mais emprego, beneficiando a população, porém “os investimentos em maquinaria e infra-estrutura não estão determinados pela poupança, mas pela relação entre custos e lucros esperados”. Portanto, a concentração de renda não está relacionada com o aumento do investimento (CARDOSO, 1995, p. 31). O Segundo dizia que a deterioração na distribuição da renda era natural e temporária, devido ao excesso de demanda por mão de obra qualificada, que, por sua vez era encontrada em meio à população mais rica, o que causava um aumento proporcionalmente maior de seus salários, em relação à camada mais pobre. Tal fato seria corrigido durante o processo de crescimento. Todavia, a concentração de renda não foi corrigida, como argumentava o governo, mantendo-se em níveis elevados e “continuou a ser verdade que quem parte e reparte ganha a maior parte” (CARDOSO, 1995, p. 32). De forma mais detalhada e em relação à indústria Lago (1992 apud KATO, 2003, p. 31) demonstra que, A interpolação de dados mais confiáveis para a indústria da transformação mostra taxas médias anuais de crescimento do salário médio do pessoal ocupado na produção, da ordem de 5,1% entre 1970 e 1974, contra uma taxa de 10% no caso do pessoal ocupado na administração de 7,4% para o pessoal com um todo. No mesmo período, a produtividade média [...] teria crescido à taxa de 9,1%, evidenciando-se um benefício para as empresas e a concentração de rendimentos dentro do agregado ”remuneração do trabalho”, pelo menos no caso da indústria. De acordo com Gremaud (et al, 2009), pelos dados de 1980, a concentração de renda permaneceu praticamente inalterada e, pelos dados de 1990, ficou comprovado que a década de 1980 foi, também, um período concentrador em função de uma crise econômica e do processo inflacionário. A crise e, principalmente, a inflação foram determinantes para a deterioração da renda das famílias e somente a parcela mais rica da população detinha mecanismos de proteção contra a estagflação (estagnação econômica e elevada inflação), o que levou esta classe mais abastada a um fortalecimento, ainda maior, de sua Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 325 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família [...] em 1974/1975, não obstante o vigoroso crescimento observado nos anos anteriores, cerca de um terço das famílias ainda permanecia abaixo da linha de pobreza absoluta, equivalente a duas vezes o menor salário mínimo mensal do país [...]. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso influência dentro do país. Ainda em 1980, analisando os números da distribuição de renda no Brasil, constatou-se que tal padrão de divisão era exacerbadamente desigual em confronto com qualquer outro país do mundo, chegando, os dez por cento mais ricos a ter um rendimento 33 vezes maior do que os vinte por cento mais pobres. Em 1990 o percentual de pessoas pobres foi quase o mesmo do ano de 1960, com um agravante, a população dobrou no período (CARDOSO, 1995). Após meados de 1994, Gremaud (et al, 2009, p. 75) observa que, Depois do Plano Real, o quadro apresentou leve melhora, pois a queda da inflação significou a melhoria da renda das classes menos favorecidas que não possuíam mecanismos de defesa contra a inflação. Porém, a elevação do desemprego e a precarização dos postos de trabalho trouxeram um impacto contrário, fazendo com que a melhoria líquida fosse bastante reduzida. Nesse ponto, percebe-se que muito ainda há de ser feito na economia brasileira, no tocante à distribuição de renda. Ainda durante o início do Plano Real, após a estabilização da inflação em meados de 1994, houve um aumento real no poder de compra das camadas de menor renda e, atrelada a isso, a abertura econômica que proporcionou maior competitividade no mercado, gerando como conseqüência preços menores. Os grupos mais populares foram os mais beneficiados com a competição acirrada do mercado, pois os mecanismos de crédito ao consumidor foram ampliados e potencializaram seu poder de compra. Porém, a apropriação da renda não se modificou de maneira significativa por causa das baixas taxas de crescimento, o que não proporcionou o incremento necessário na produção e gerou importantes taxas de desemprego e subemprego (CACCIAMALI, 2005). Gremaud (et al, 2009, p. 327), esclarece que a concentração de renda no Brasil, [...] Permanece sendo uma das piores em termos mundiais. [...] Vale destacar que, no início deste século, a desigualdade começou a diminuir em função da preservação da estabilidade econômica e da ampliação de programas sociais de caráter redistributivo. 2.3 Programas de transferência condicionada de renda e sua importância Os Programas de transferência de renda são mecanismos fundamentais para a redução nas desigualdades oriundas da má distribuição de renda e são utilizados não só em países em desenvolvimento, como também em países desenvolvidos, Conceito A 326 Recife n. 2 p.308-358 2011 No tocante aos países em desenvolvimento, em especial na América Latina, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007a), diz que os programas de transferência condicionada de renda têm obtido espaço e consistem basicamente na exigência de contrapartidas, por parte das famílias beneficiadas, como por exemplo, a assiduidade de seus filhos na escola. Ferraz (2008, p. 27), diz acerca dos programas de transferências condicionadas de renda (PTCR), Tanto governos, quanto organismos internacionais multilaterais vêem os PTCR como uma saída para os impasses que enfrentam. Os primeiros têm de lidar com uma severa restrição fiscal concomitante à necessidade de avanços na área social, sendo os PTCR uma forma de se fazer muito gastando pouco. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007a), relata que estes Programas têm auxiliado na redução das desigualdades de renda em alguns países, como é o caso do Chile, com o Chile solidário criado em 2002, do México com o oportunidades (sob o nome de progresa, em substituição ao solidaridad, que havia sido criado em 1997) e do Brasil com o bolsa família criado em 2003, por meio da unificação do bolsa escola de 2001, do bolsa alimentação, também de 2001 e do cartão alimentação de 2003, além de incorporar o Vale Gás de 2002 (transferência sem contrapartida). Segundo Barros (et al, 2000), ao simular um crescimento econômico decenal constante, por um lado, e políticas que tornem possíveis a convergência do grau de desigualdade para valores de alguns países latino-americanos como México e Costa Rica, por outro, pode-se verificar que a sensibilidade da pobreza em relação à desigualdade de renda se confirma. Pode-se constatar que a implementação de políticas que alterassem a desigualdade no Brasil para níveis de desigualdade do México, mesmo sem crescimento econômico, ocasionaria um decréscimo de nove pontos percentuais, saindo de 34% para 25% na proporção de pobres. Verifica-se ainda que um esforço de redução na desigualdade para os níveis da Costa Rica, levaria a uma queda de 12,5 pontos percentuais na pobreza do Brasil, verificado no gráfico 1, abaixo: Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 327 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família como é o caso da Alemanha, que instituiu o Sozialhilfe em 1961, através de uma lei federal (ZIMMERMANN; SILVA, 2009). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: (BARROS, et al, 2000, p.138). Gráfico 1: Impacto sobre a pobreza: crescimento econômico versus redução no grau de desigualdade. Em relação ao crescimento econômico, uma taxa de crescimento constante de 2,75% ao ano e em um período de dez anos, sem nenhuma modificação na estrutura distributiva da renda per capita, possibilitaria ao Brasil acabar com a diferença, em relação ao México, no âmbito da pobreza. Ao realizar-se esta comparação com a Costa Rica seria necessária uma elevação na renda per capita de 50%, o que daria uma taxa de crescimento constante e em um decênio de 4% ao ano. Diante do exposto, pode-se dizer que uma taxa de crescimento de 3% levaria o Brasil a um nível de pobreza de 15% em 25 anos, de acordo com o gráfico 1 (BARROS, et al, 2000). O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007c), diz que, entre 2001 e 2005, o crescimento econômico foi de 0,9%, com redução da renda dos 10% e 20% mais ricos em 0,3% e 0,1% ao ano, respectivamente. Portanto, a renda dos mais pobres deveria ter crescido o que, de fato, ocorreu aumentando a renda dos 10% mais pobres em 8% ao ano, com uma queda de 4,6% no coeficiente de Gini durante o período, o que tornou a distribuição de renda mais igualitária. Conceito A 328 Recife n. 2 p.308-358 2011 Segundo Sen (2002 apud FERRAZ, 2008), a pobreza é uma privação de capacidades e a renda é um dos meios pelos quais as pessoas alcançam e aprimoram suas capacidades. Por outro lado, espera-se que, quanto maiores forem as capacidades, maiores serão as possibilidades de uma pessoa produzir mais e aumentar sua renda. Acontece que o aumento das capacidades humanas também tende a andar junto com a expansão das produtividades e do poder de auferir renda. Essa conexão estabelece um importante encadeamento indireto mediante o qual um aumento de capacidades ajuda direta e indiretamente a enriquecer a vida humana e a tornar as privações humanas mais raras e menos pungentes (SEN, 2002 apud FERRAZ, 2008, P. 18). Em relação aos índices de mensuração da pobreza, pode-se utilizar o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Acerca dele, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2010), esclarece que, o mesmo varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano), e mede as realizações em três dimensões básicas do desenvolvimento humano – uma vida longa e saudável, o conhecimento e um padrão de vida digno. Além da pobreza, também se pode medir o nível de desigualdade através do IDH, cujos componentes são, educação, longevidade e renda, os quais demonstram a evolução regional do Brasil em termos de qualidade de vida entre 1991 e 2000, conforme o quadro 3, abaixo: Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 329 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Além disso, observou-se que seria necessário um crescimento econômico de 14,5%, para alcançar a mesma redução na desigualdade para as famílias pobres e 22% para atingir a mesma queda entre as famílias extremamente pobres, visto que houve uma redução de 4,5 pontos percentuais para cada uma, no espaço de tempo estudado e com o crescimento apresentado. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: (SALVATO, et al, 2010, p. 758). Quadro 3: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ainda analisando as desigualdades regionais entre 1981 e 2000, o coeficiente de Gini demonstra que a desigualdade regional se acentuou entre as regiões, com destaque para norte e nordeste, sendo que para o país como um todo a tendência tem sido em torno de 0,6, com forme quadro 4 abaixo: Fonte: (SALVATO, et al, 2010, p. 758). Quadro 4: Coeficientes de Theil e de Gini da renda do trabalho. Em relação à importância da diminuição na desigualdade de renda, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010a, p. 5, grifo do autor) diz, A diminuição da concentração de qualquer renda contribui para aumentar a igualdade, assim como um aumento no peso de uma renda menos concentrada que o Gini. Inversamente, um aumento na concentração de qualquer renda contribui para aumentar a desigualdade e um aumento no peso de uma renda mais concentrada que o Gini também. Embora as desigualdades regionais tenham aumentado durante o período citado nos quadros 3 e 4, a partir de 2001 iniciou-se uma queda na desigualdade de renda domiciliar per capita, a qual caiu em média 0,7 ponto de Gini (x100) ao ano, Conceito A 330 Recife n. 2 p.308-358 2011 Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010a, p. 5) Gráfico 2: Coeficiente de Gini: 1995 a 2009. Em relação ao ritmo de queda na desigualdade e que este ritmo é adequado o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2008), apresentou um estudo, no qual foi realizado um comparativo entre o Brasil, alguns países, como o Canadá, os Estados Unidos da América (EUA) e o Reino Unido, membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e o México, a qual constatou que o ritmo de redução é adequado e que o principal desafio é manter essa cadência por várias décadas, para atingir o nível de desigualdade do Canadá, por exemplo. Ainda conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2008) e 2 Salvo área rural dos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 331 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família sendo o período de queda mais acentuado o compreendido entre 2005 e 2008 com uma diminuição de 0,72 pontos de Gini (x100) ao ano. Ainda analisando o período constata-se que houve uma desaceleração no ritmo dessa queda, que foi de 0,53 pontos de Gini (x100) ao ano entre 2008 e 20092. Segue abaixo o gráfico 2 refletindo as constatações: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso relativo à comparação entre o Brasil e os países em questão, pode-se constatar que a média brasileira é consistente, conforme gráfico 3 abaixo, porém, os países membros da OCDE não são modelos adequados para o Brasil, ficando para o México este papel. As características históricas do México o aproximam do Brasil, com uma ressalva, a de que uma forte reforma agrária realizada no início do século passado contribuiu para que seu nível de desigualdade seja menor que o brasileiro. Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2008, p. 15). Gráfico 3: As distribuições de renda domiciliar per capita com transferências no Brasil, México, Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2008), também relata, analisando o gráfico 3 acima, que se o ritmo de queda fosse mantido em 0,7 pontos de Gini ao ano, o Brasil atingiria o nível de desigualdade do México em 6 anos, dos EUA em 12 anos e do Canadá em 24 anos. Conceito A 332 Recife n. 2 p.308-358 2011 No tocante ao papel do Estado para o bem estar socioeconômico discorre o artigo 3º da Constituição da República federativa do Brasil (BRASIL, 2010, p. 5); Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Como o Estado tem a incumbência de promover o bem estar na sociedade, isso se dá por meio de políticas sociais, que são um subconjunto de políticas públicas e que estão relacionadas à distribuição de benefícios sociais que diminuam as desigualdades decorrentes do processo de desenvolvimento, aplicando-se nas esferas da educação, da saúde, da habitação, do saneamento, da previdência, entre outras (CASTRO, et al, 2009). A política pública é a revelação da ação do Estado em determinado período histórico, estabelecida por um governo constituído por um ‘conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo’ (HÖFLING, 2001, p.2 apud CASTRO, et al, 2009, p. 334, grifo do autor). Portanto, a erradicação da pobreza é responsabilidade do Estado, visto que a constituição trata o tema como um dos objetivos fundamentais do Brasil. Pode-se Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 333 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Em relação à alocação e distribuição de recursos, observa-se que são objetos de permanente discussão no que tange à economia, tanto por sua relevância para a organização de dada sociedade, quanto por sua importância na formação de sistemas econômicos na maior parte do mundo. Em meio a essa discussão, pode-se dizer que não há economia de mercado completamente livre da intervenção do Estado, visto que o mercado por si só não tem a capacidade de promover um nível apropriado de contentamento social, no que tange a alocação eficiente e distribuição justa de recursos, papel direcionado ao Estado, que por sua vez busca atuar contra a exclusão gerada pela alocação ineficiente, através de políticas públicas compensatórias (CRUZ; PESSALI, 2011). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso citar, também, que apenas o crescimento econômico não tem sido suficiente para a redução da desigualdade devido ao grande contingente de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza de maneira persistente, o que torna legítima a ação do Estado em atuar por intermédio de políticas sociais que visam à igualdade (CRUZ; PESSALI, 2011). Tem-se, portanto, prevista e requerida a atuação do Estado diante de problemas sociais de larga escala para os quais a expansão dos mercados não garante respostas satisfatórias ao cumprimento de alguns dos objetivos constitucionais (CRUZ; PESSALI, 2011, P. 144-145). O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2006), esclarece que entre 2001 e 2004, foram significativamente expandidas as transferências oriundas do governo, com pouca focalização das aposentadorias e pensões, devido à difusão dos recursos entre as camadas sociais, ficando mais concentrada na melhoria dos pisos dos beneficiários. Já o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o programa bolsa família e similares aumentaram seu grau de abrangência e direcionaram seus esforços para a população mais carente. Embora tenham apresentado contribuição semelhante na redução da desigualdade de renda, cerca de 10% para cada uma delas, utilizando o coeficiente de Gini, ao utilizaremse medidas mais sensíveis à renda dos pobres, a participação do grupo aumenta e, em particular, a do programa bolsa família. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007b), diz também que, as políticas de transferência de renda vêm se destacando de forma importante no sistema de proteção social brasileiro, em especial, o BPC e o programa bolsa família devido a sua relevância na redução dos índices de desigualdade e pobreza do país. Ainda que tenham atuação semelhante, os dois programas têm objetivos distintos, sendo o BPC um direito assegurado constitucionalmente, que não exige contrapartida e pressupõe que os beneficiários não têm condições de obter outra renda, deste modo repassando valores superiores aos repassados pelo programa bolsa família e possibilitando a elevação da família de um beneficiário acima da linha de pobreza mais facilmente. Ainda conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007b), o programa bolsa família, por seu caráter suplementar de renda e pressupondo que seus beneficiários possam obter outra fonte de renda além das transferências, possui uma base legal mais flexível, ficando mais vulnerável a oscilações políticas, porém, por tratar-se de um programa de transferência condicional de Conceito A 334 Recife n. 2 p.308-358 2011 2.4 Programa bolsa família entre 2004 e 2009 O Programa Bolsa Família (PBF) foi criado em 20 de outubro de 2003, pela medida provisória 132, a qual foi convertida na lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. O PBF absorveu o programa bolsa escola, instituído pela lei nº 10.219, de 11 de abril de 2001, a qual foi regulamentada pelo Decreto 4.313, de 24 de julho de 2002; o Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA que foi criado pela lei nº 10.689, de 13 de junho de 2003; o programa nacional de renda mínima ou bolsa alimentação que foi instaurado pela medida provisória 2.206, de 6 de setembro de 2001, regulamentado pelo decreto 3.934, de 20 de setembro de 2001; e o programa auxílio-gás criado pelo decreto 4.102 (FERRAZ, 2008). Em relação ao PBF, à convergência para um único programa e à responsabilidade sobre a gestão de cada programa anterior ao PBF, Zimmermann (2006, p. 151, grifo do autor), diz que, Esse Programa teve inicialmente o intuito de centralizar os inúmeros programas de distribuição de renda existentes. Desse modo, o Bolsa Família é fruto da unificação dos programas de transferência de renda do governo federal, ou seja, Bolsa Alimentação (Ministério da Saúde), Auxílio Gás (Ministério das Minas e Energias), Bolsa Escola (Ministério da Educação) e o Cartão Alimentação (Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome). O objetivo dessa união foi a redução dos gastos administrativos, a partir de uma gestão coordenada e integrada intersetorialmente. A unificação dos programas se deu também com a acumulação das informações, acerca dos cadastramentos, contidas nos bancos de dados dos ministérios envolvidos nos programas mencionados. Esta unificação ou Cadastramento Único do Governo Federal (CadÚnico) foi instituída pelo decreto 3.877, de 24 de julho de 2001 (FERRAZ, 2008). A criação do CadÚnico foi fundamental para a unificação dos programas de transferência de renda, visto que a sobreposição destes programas e a individualização das informações nos respectivos ministérios responsáveis, dificultava o controle e a coordenação das transferências. Embora o CadÚnico tenha sido criado no governo de Fernando Henrique Cardoso, o referido Governo não conseguiu sua implementação, cabendo ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva essa implementação. Apesar de um início confuso e em meio Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 335 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família renda, busca mitigar as transferências intergeracionais da pobreza por meio de suas condicionalidades voltadas à educação e a saúde. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso a muitas contradições o PBF foi lançado em 2003, com novas regras (ROCHA, 2011). [...] houve elevação do teto de renda familiar per capita para fins de elegibilidade, que foi desatrelado do salário mínimo, assim como mudança na forma de estabelecimento do valor do benefício, que passou a ser variável [...], conforme a renda da família e a presença de crianças (ROCHA, 2011, p. 118). O PBF acomoda-se sobre três pilares essenciais para a superação da fome e da pobreza onde: o primeiro visa o alívio imediato da pobreza através da cessão monetária direta à família; o segundo reforça os direitos sociais básicos, por intermédio do cumprimento das condicionalidades, nas áreas da saúde e da educação, conformando um ambiente propício ao rompimento do ciclo da pobreza entre gerações; e o terceiro tem como objetivo desenvolver a família assistida pelo PBF e fazê-la superar a situação de vulnerabilidade e pobreza por meio da coordenação de programas complementares (LINHARES, et al, 2011). Em relação às condicionalidades, o Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome – MDS (2011), diz que são compromissos que devem ser assumidos e cumpridos pelas famílias, para que permaneçam recebendo o benefício, isso obriga o poder público a fornecer serviços de saúde, de educação e de assistência social. Ainda conforme o Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome – MDS (2011), na área da saúde as famílias precisam acompanhar o cartão de vacinação e o crescimento e desenvolvimento das crianças de até 7 anos, as mulheres de 14 à 44 anos também precisam fazer o acompanhamento e, se gestantes e nutrizes (lactantes), devem realizar o pré-natal e o acompanhamento da sua saúde e da criança. Na educação, as crianças entre 6 e 15 anos não podem ter freqüência escolar menor que 85% da carga horária, o que aplica-se em proporção menor aos adolescentes de 16 e 17 anos, os quais não poderão obter menos de 75% de frequência escolar. Em relação à assistência social, as crianças e adolescentes, até 15 anos, componentes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), precisam participar dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do PETI, além de obter frequência mínima de 85% da carga horária escolar mensal. O Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome – MDS (2011), em relação ao PBF, trabalha com quatro tipos de benefícios: o básico de 70 reais, que Conceito A 336 Recife n. 2 p.308-358 2011 Fonte: MDS – Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome (2011). Quadro 5: Famílias com renda familiar mensal per capita de até 70 reais. Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 337 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família é pago às famílias com renda mensal de até 70 reais per capita (extremamente pobres), mesmo não tendo crianças, adolescentes ou jovens; o variável de 32 reais, que é pago às famílias com renda mensal de até 140 reais per capita, desde que tenham crianças e adolescentes de até 15 anos, não podendo exceder o limite de 160 reais ou 5 benefícios variáveis; o Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ), que é de 38 reais e têm direito todas as famílias que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos, não sendo permitidos mais de dois benefícios por família; e o Variável de Caráter Extraordinário (BVCE), pago às famílias dos Programas Auxílio-Gás, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação, cuja migração para o Bolsa Família cause perdas financeiras, ocorrendo este último, os valores podem ser calculados de acordo com o caso específico. Abaixo seguem os quadros 5 e 6, os quais especificam como são calculados os valores dos benefícios: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: MDS – Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome (2011). Quadro 6: Famílias com renda familiar mensal per capita de 70 a 140 reais. Após sua criação o PBF fomentou discussões, dentre as quais sua relevância em relação à universalização de políticas tais como de saúde e de educação, pois seu caráter de focalização nas camadas de baixa renda se contrapõe a estas políticas mais abrangentes à sociedade como um todo (BICHIR, 2010). Alguns críticos das políticas focalizadas de combate à pobreza argumentam que estas tenderiam a tratar somente uma parte do problema, deixando de lado medidas mais abrangentes e inclusivas — representadas por políticas universais —, e, no limite, tenderiam estigmatizar a população mais vulnerável. Outros autores acreditam que a focalização individual dos programas pode contribuir para desgastar laços comunitários ou mesmo gerar estigmatização e dependência — especialmente no caso de programas pouco articulados com outras políticas sociais e sem portas de saída (BICHIR, 2010, p. 122, grifo do autor). Acerca disso o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2003a), diz que, para o enfrentamento efetivo à pobreza, de forma plena e de acordo com sua complexidade, é necessário que a ação pública se faça de maneira mais ampla. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2003a, p. 122), diz ainda que, o combate à pobreza não pode ser o objetivo único da política social, mas produto de um esforço mais geral e concertado da sociedade, no qual políticas de transferência de renda, assim como outras Conceito A 338 Recife n. 2 p.308-358 2011 Cruz e Pessali (2011), discorrem que, ao analisar um país com uma economia de mercado que se depara com uma alta disparidade de renda e um contingente significativo da população vivendo abaixo da linha de pobreza, pode-se identificar dois problemas distintos, um de ordem estrutural e outro de ordem conjuntural. O de ordem estrutural diz respeito à saída das pessoas da linha de pobreza de forma permanente ou sustentável. Isso requer que obtenham a renda necessária com a venda de sua força de trabalho, produzindo algo que venha a ser comercializado de forma lucrativa ou do serviço de alguma propriedade. Quanto ao problema de ordem conjuntural tendo a justiça distributiva como um dos objetivos de ordem econômica, não será aceitável que as pessoas permaneçam nessa condição até que se resolva o problema estrutural (CRUZ; PESSALI, 2011, p. 146). Pode-se observar no quadro 7, abaixo, um esquema simplificado do processo de tomada de decisão do Governo acerca das duas questões: Fonte: (CRUZ; PESSALI, 2011, p. 146). Quadro 7: Processo de tomada de decisão por uma política pública. Em relação à tomada de decisão o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2003b, p. 118), relata que, “como os recursos são escassos, a determinação do grau de universalização ou focalização está diretamente relacionada à definição de prioridades por parte do Estado”. Diante do exposto e dado o montante de recursos, quanto mais genérico for o sistema, menor o montante destinado a cada programa individualmente, resultando na prestação de serviços Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 339 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família políticas mais estruturais, sejam parte integrante de um projeto nacional mais amplo de inclusão [...]. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso de menor qualidade aos mais pobres, visto que as camadas da população de renda mais elevada, ao contrário dos mais pobres, podem pagar por serviços no setor privado, o que torna os pobres os principais atingidos pela má prestação do serviço na rede pública. Ainda de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2003b, p. 118), [...] quanto mais focalizados forem os gastos sociais do governo, quanto mais direcionados para os grupos de renda mais baixa, maior o efeito desses gastos na redução do grau de desigualdade na distribuição da renda e na diminuição da pobreza no país. Isso não significa, obviamente, que total focalização seja ideal, do ponto de vista social, pois outros objetivos podem ser considerados de grande importância para a sociedade, como garantir um mínimo de segurança econômica a todos os cidadãos, evitar perda de padrão de vida muito acentuada em situações imprevistas, etc. Segundo Bichir (2010, p. 122), esta contraposição entre políticas focalizadas e universais é questionável devido ao seu caráter complementar. Dentro dessa perspectiva a focalização é uma estratégia de priorização dentro do esquema universalista, visto que “boas estratégias de focalização são importantes para que os mais pobres sejam de fato atingidos tanto pelos programas de transferência de renda como pelas políticas sociais tradicionais”. Mais especificamente Cacciamalli (2010, p. 271), diz que, [...] o combate à pobreza pede ações específicas capazes de romper essa armadilha entre gerações, dentre as quais destacamos o papel dos programas de transferências focalizadas de renda. Voltadas para as famílias carentes, o cerne dessas políticas é eliminar e/ou amenizar, a curto prazo, as dificuldades acarretadas pela condição de pobreza. Ao promover a transferência direta de renda [...], os programas enfrentam dois aspectos que caracterizam a reprodução do ciclo da pobreza entre gerações: garantem nível mínimo de renda de subsistência para as famílias pobres e resguardam a obtenção de capital humano de seus beneficiários. Paralelamente se deu outra discussão, desta vez sobre as condicionalidades e seu controle, pois a exigência de contrapartidas implica na negação do direito básico de receber parte da riqueza produzida pela sociedade, a qual deve ser distribuída por programas de transferência de renda e outro meios. Esta linha de pensamento encontra reforço no projeto de renda básica de cidadania, sem contrapartida. Por outro lado, “o PBF não constitui um direito não só por estar atrelado a condicionalidades, mas porque sua existência está condicionada às possibilidades orçamentárias do governo federal” (BICHIR, 2010, p. 123). Acerca disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007b), fala que as condicionalidades nas áreas de saúde e educação, reforçam a obrigação dos pais em cuidar da saúde e da educação de seus filhos. Conceito A 340 Recife n. 2 p.308-358 2011 [...] a curto prazo as condicionalidades do programa são uma forma eficiente de se criarem externalidades positivas; contudo, é vital que se realizem, em conjunto, ações complementares de melhorias da oferta de serviços escolares e saúde, além de políticas de geração de emprego, renda e capacitação para os pais, ou seja, investimentos sustentáveis para elevação do capital humano e redução da pobreza a longo prazo. Além disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007b, p. 1718), diz que as condicionalidades do PBF podem, [...] gerar informações sobre possíveis omissões nas ações de saúde ou na freqüência escolar, o monitoramento de condicionalidades pode funcionar como um instrumento para alertar o poder público sobre famílias em situações de maior vulnerabilidade, que demandam atenção específica, além de identificar gargalos na oferta desses serviços. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007b), relata que outro ponto controverso é em relação ao mercado de trabalho, o qual gera críticas que fundamentam seus argumentos na possibilidade das famílias beneficiadas acomodarem-se ou desestimularem-se acerca deste mercado, chegando a trabalhar menos ou deixar de trabalhar à medida que atingem certo nível de renda. Em relação ao exposto Castro (et al, 2009), esclarece que as críticas segundo as quais os beneficiários acomodar-se-ão, não se esforçando ou tendo mais filhos não têm base empírica, visto que, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que os componentes das famílias beneficiadas pelo PBF trabalham tanto ou mais do que os integrantes de famílias com renda per capita similar, além disso, foram detectados fortes impactos do PBF no aumento da busca por trabalho. Medeiros (et al, 2007, p. 15), relata que, Enquanto a taxa de participação no mercado de trabalho das pessoas em domicílios com beneficiários é de 73% para o primeiro décimo mais pobre da distribuição, 74% para o segundo e 76% para o terceiro, a mesma taxa é de 67%,68% e 71%,respectivamente, para as pessoas que vivem em domicílios sem beneficiários. Bichir (2010), diz que o argumento de desestímulo ao trabalho é mentiroso, pois se baseia mais em preconceito do que em evidências empíricas, além do que a participação dos adultos integrantes de famílias beneficiadas no mercado de trabalho é maior que a participação do restante da população no mesmo mercado. Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 341 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Cacciamalli (et al, 2010, p. 290), esclarece que, Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Ainda relativo ao mercado de trabalho, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2007b, p. 29), diz que, O que está em xeque ao se discutir os programas de transferência de renda não é a necessidade desse tipo de política, mas sim o grau de solidariedade desejável para a sociedade brasileira. Praticamente todos os países que conseguiram erradicar a pobreza absoluta e reduzir expressivamente seus níveis de desigualdade possuem políticas de transferência de renda. Isso ocorre porque, mesmo em economias de renda alta, há uma parte da população que não consegue, por razões diversas, ter sua subsistência assegurada pelo trabalho. Admitir essa realidade, adotando políticas que respondam a ela, significa dar um passo adiante na construção de uma sociedade mais justa. Segundo o Ministério do Desenvolvimento social e Combate à Fome – MDS (2011), em relação ao público atendido, o PBF atualmente atende mais de 13 milhões de famílias em todo o Brasil e dependendo da renda familiar per capita, limitando-se a 140 reais, o valor do benefício pode variar entre 32 e 306 reais. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009), desde sua criação em 2003, o PBF saiu de 3.615.596 famílias atendidas para 11.086.349 famílias em 2008, sendo a região nordeste a mais beneficiada durante todo o período estudado, ficando responsável por cerca de 50,7% do total de benefícios, passando de 2,1 milhões para 5,6 milhões de famílias atendidas. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009), diz também que o governo federal estimou o total de famílias pobres em mais de 11 milhões. O total de repasses em dinheiro, passou de 500 milhões de reais para cerca de 9 bilhões de reais ao ano, em 2007. Para demonstrar tanto a evolução de famílias atendidas por região, quanto a evolução do PBF entre 2003 e 2008, em relação aos estados e as respectivas quantidades de beneficiários, seguem adiante o gráfico 4 e o quadro 8, respectivamente: Conceito A 342 Recife n. 2 p.308-358 2011 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2009, p. 10). Gráfico 4: Evolução de famílias beneficiárias do programa bolsa família entre 2003 e 2008 por região. Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2009, p. 9). Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 343 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Quadro 8: Programa bolsa família: famílias beneficiadas segundo as unidades da federação. Voltando à focalização e se está sendo ou não eficaz, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2003b, p. 120), fala que, [...] por meio do nível de renda gera um problema importante: o de descobrir o nível de renda das famílias. Estas terão todo o incentivo para anunciar um nível de renda menor do que o que efetivamente têm a fim de que possam participar do programa. A solução é adotar outros indicadores que são diretamente correlacionados ao nível de renda das famílias, tais como, existência de determinados bens na residência, freqüentar escolas públicas e não privadas, etc. Rocha (2011), relata que acerca da focalização do PBF, a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD) de 2004 permitiu quantificar tanto domicílios beneficiados pelo programa com renda superior ao limite estabelecido, quanto domicílios elegíveis que não recebiam o benefício. Para analisar mais profundamente o proposto, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009), utiliza a curva de incidência3, que é uma forma de avaliar a distribuição de um programa qualquer de renda na população de acordo com a renda, permitindo verificar em que medida tal programa cumpre seu propósito de atingir às faixas de renda mais pobres. Para melhor entendimento da curva de incidência, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009, p. 13), esclarece que, Para se calcular a Curva de Incidência é necessário: i) ordenar a população pela renda total líquida, excluindo os benefícios transferidos; ii) no eixo horizontal, acumular a população ordenada pela renda; e iii) no eixo vertical, acumular os recursos transferidos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009, p. 13), esclarece também, que as curvas de incidência possuem cinco propriedades: como primeira, começa no ponto (0,0) no qual a população e a renda não existem e termina no ponto (1,1), o qual representa renda e população máximas; a segunda é a propriedade de não decrescer, por trabalhar com a acumulação de valores positivos ou pelo menos não negativos; a terceira é possuir como 3 A forma de operacionalização é a mesma da Curva de Concentração. No entanto, o ordenamento das pessoas é realizado pela renda líquida da transferência. Dessa forma, pode-se dizer que o Coeficiente de Incidência tem as mesmas propriedades do Coeficiente de Concentração com a diferença que no primeiro não se computa a renda da transferência, ou seja, avalia-se a renda domiciliar per capita como se ela não recebesse a transferência que está sendo analisada. Conceito A 344 Recife n. 2 p.308-358 2011 Analisando o gráfico 5 abaixo, percebe-se que o PBF canalizou 56% dos recursos para os 20% mais pobres e 84% para os 40% mais pobres em 2006, porém, houve uma pequena piora na focalização entre 2004 e 2006, o que, considerando que o aumento da cobertura gera, também para às transferências, rendimentos marginais decrescentes, é aceitável. Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2009, p. 14). Gráfico 5: Incidência da renda dos benefícios na população brasileira ordenada segundo nível de renda líquida (renda sem benefício) nos anos 2004 e 2006. Conforme citado anteriormente, o Estado precisa decidir quais as suas prioridades Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 345 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família referência uma reta de perfeita igualdade – linha diagonal que vai de (0,0) até (1,1) –, a qual representa a distribuição de benefício perfeitamente igualitário, por exemplo, 10% da população recebem 10% do benefício; a quarta representa a área entre a reta de igualdade perfeita e uma dada curva de incidência, o que é chamado de coeficiente de incidência, o qual, sendo negativo, significa que a distribuição do primeiro real de uma transferência é mais pró pobre do que uma transferência perfeitamente igualitária, hipoteticamente; e a última diz que, “a porcentagem dos recursos destinados aos x% mais pobres, onde x% é a leitura da curva no eixo horizontal, pode ser lida diretamente da Curva de Incidência no eixo vertical”. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso e de acordo com Kerstenetzky (2009, p. 64), [...] se os tomadores de decisão escolherem minimizar os erros de inclusão, eles provavelmente terão de aceitar operar um programa menos extenso e acabarão por incorrer no erro de exclusão, um resultado paradoxal se considerarmos que o objetivo de tais programas é a eliminação da pobreza. Se, inversamente, buscarem minimizar os erros de exclusão, perseguirão a expansão do programa e enfrentarão o risco de incluir pessoas não elegíveis. Se, finalmente, decidirem acertar o alvo, terão de despender recursos para manter um cadastro [...] de todas as pessoas elegíveis e apenas elas, o que representaria uma diversão de recursos que, [...], poderiam ser mais proveitosamente utilizados na expansão do programa. Ainda em relação à focalização do PBF, Medeiros (et al, 2007, p. 9), esclarece que, Há várias razões pelas quais as rendas das famílias flutuam. Rotatividade no emprego, sazonalidade da economia, choques externos positivos e negativos, mudanças na composição e organização das famílias, entre outros motivos, fazem com que a renda familiar per capita, especialmente daqueles inseridos no mercado de trabalho informal, varie ao longo do tempo. Como os programas não possuem um ciclo permanente de revisão — e não seria nem viável nem desejável fazê-lo — é compreensível que parte da população esteja acima dos limites de corte adotados, ainda que, no momento da inclusão, estivessem cumprindo integralmente com todos os requisitos regulamentares. De acordo com Melo e Sampaio (2010), o PBF usa a renda como principal critério de elegibilidade para definir os potenciais beneficiários do programa, o que não constitui um bom parâmetro de definição para a população mais pobre, visto que a pobreza não se resume apenas ao déficit de renda, tendo como pano de fundo, outros fatores como, por exemplo, características do domicílio no qual a família habita, acesso a bens duráveis, escolaridade, acesso a serviços públicos, entre outros. Sendo assim, o uso da renda como principal parâmetro de seleção é insuficiente para medir as condições de vida de um indivíduo ou de uma família, além do que, este critério pode ser manipulado, ampliando as distorções. Desta maneira, quando se define o grupo dos pobres apenas com base na renda, existe uma focalização desfocada, visto que tais programas limitam-se a definir pobreza somente como falta de dinheiro e não como um conjunto de vulnerabilidades e exclusões de vários tipos, e ainda desconsideram as diferentes intensidades existentes em seu interior [...] (MELO; SAMPAIO, 2010, p. 3). Ainda de acordo com Melo e Sampaio (2010), o PBF promove a melhoria nos índices de pobreza, porém ao analisar sua focalização constatam-se erros de cobertura e vazamentos. Considerando-se o critério básico de elegibilidade verifica-se que 52,45% dos beneficiários do PBF pertencem ao público alvo, o que deixa 47,55% acima deste nível de renda, portanto fora deste público alvo. Ao observar o mesmo critério e em relação à zona urbana verifica-se que existe Conceito A 346 Recife n. 2 p.308-358 2011 O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010a), analisou a proporção de pobres segundo sua renda dividindo-a em três segmentos (exceto área rural do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), sendo o primeiro com renda per capita de meio salário mínimo de 2009, o segundo com renda per capita referente à linha de pobreza de 2004 e o terceiro com renda per capita referente à extrema pobreza de 2004. A conclusão a qual se chega é a de que a proporção da população vivendo abaixo da linha de pobreza vem caindo acentuadamente desde 2003, com cerca de 64% de queda, isso não implica que os outros dois segmentos não venham caindo, visto que o da linha de pobreza de 2004 (100 reais) caiu 50% e o referente à linha de extrema pobreza de 2004 (50 reais) teve queda de 44%, como pode ser observado no gráfico 6, na próxima página. Além disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010a, p. 14), ainda demonstra (exceto área rural do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), através do hiato de pobreza, que “é a renda necessária para levar todos os pobres até a linha de pobreza, se houver focalização perfeita”, uma queda acentuada entre 1995 e 2009, visto que o hiato de pobreza cai quando existem menos pobres que antes ou quando os pobres que restam são menos pobres4. Isto fica demonstrado no gráfico 7 que segue adiante: 4 O hiato como porcentagem da renda total pode também cair se a renda total aumentar. Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 347 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família uma incidência de vazamento de 50,67%, frente aos 34,68% no tocante à zona rural. Com isso, pode-se constatar que o maior problema do PBF é o erro de cobertura, todavia os vazamentos não devem ser descartados. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010a, p. 13). Gráfico 6: Proporção de pobres segundo três segmentos. Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010a, p. 14). Gráfico 7: Hiato de pobreza / renda total. Conceito A 348 Recife n. 2 p.308-358 2011 A maior parte dessas críticas teve caráter casuístico, não se fundamentando sobre evidências empíricas generalizáveis e sistemáticas. Na prática, limitaram-se a apontar uma ou mais famílias beneficiárias com renda acima das respectivas linhas de corte e a fazer inferências, com base nesses desvios, sobre todo o funcionamento dos programas. [...] Identificar o público de fato beneficiado por esses programas é crucial para determinar em que medida seus objetivos estão sendo atingidos e o que pode ser feito para melhorá-los. Em relação aos impactos gerados, Kerstenetzky (2009, p. 58), demonstra no quadro 9, abaixo, que a influência do PBF foi significativa; Queda na desigualdade (1995-2004) Queda na pobreza (incidência de pobreza = proporção de pobres na população) Queda na pobreza (severidade da pobreza = desigualdade de renda entre os pobres) Gastos em alimentos, educação e vestuário infantil de famílias beneficiárias (FB) Gastos em saúde e vestuário de adultos (FB) Frequência à escola (FB) Progressão no fluxo escolar (FB) Vacinação infantil (FB) Subnutrição infantil crônica (altura por idade) (FB) Subnutrição infantil aguda (peso por altura e idade) (FB) Participação de adultos na força de trabalho 21% 12% 19% Aumento Queda Impacto positivo sobre frequência e evasão escolar Mais lenta Sem impacto significativo Queda apenas entre crianças de 6 a 11 meses de idade Queda apenas entre crianças de até 5 meses de idade Aumento (FB) Fonte: Kerstenetzky (2009, p. 58, grifo do autor). Quadro 9: Bolsa família: contribuição para a redução da desigualdade e da pobreza, e avaliação de impacto de “linha de base” (baseline) – 2005. Acerca da efetividade do PBF, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009, p. 48), O programa é mais efetivo em reduzir a incidência de extrema pobreza do que de pobreza, embora a queda na insuficiência e desigualdade de renda entre os pobres seja maior do que entre os extremamente pobres. Isto porque, além de o incremento de renda para os domicílios indigentes ser mais elevado, a maioria dos estados não deve conseguir atender a famílias no extremo da distribuição de renda. No entanto, nos estados nordestinos – que apresentam os melhores indicadores de focalização – os impactos mais efetivos do programa recaem sobre a população indigente. Em relação à contribuição do PBF para a redução da desigualdade, Ferraz (2008, p. 41) afirma que, [...] ficou clara a contribuição do Programa Bolsa Família para a redução da desigualdade. Este programa, principalmente devido a sua excelente focalização, auxiliou de maneira decisiva a redução do Coeficiente de Gini. Com um peso na renda equivalente a aproximadamente 1% do Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 349 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Medeiros (et al, 2007, p. 6-7) fala que; Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso total, foi responsável por 21% da redução do Coeficiente de Gini. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2009, p. 49, grifo do autor) diz ainda que, Os impactos apresentados [...] são ‘qualitativamente’ distintos e são frutos das suas diferenças em termos de focalização: o mecanismo de PMT [calcula um escore para cada domicílio através de variáveis correlacionadas com a renda] tende a beneficiar os domicílios mais pobres entre os pobres, exercendo maiores impactos sobre a extrema pobreza. Já a expansão do programa, que beneficia domicílios com renda média um pouco mais elevada, apresenta maiores efeitos sobre a redução da pobreza e da desigualdade. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010b) diz que ao se analisar a composição da renda média por estratos pode-se observar a variação destes componentes e determinar quais são as variações de cada um deles, para dessa forma, identificar quais os componentes que mais contribuíram para a redução da desigualdade de renda. O quadro 10, abaixo, demonstra bem isso. Fonte: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010b, p. 20). Quadro 10: Composição percentual relativa da renda média dos estratos de renda domiciliar per capita – Brasil (2004 e 2009). Ainda acerca do quadro 10, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010b, p. 20) esclarece que, A grande mudança na composição da renda dos extremamente pobres é o aumento do peso das transferências, que respondiam por 15% da renda, em 2004, e chegaram a 39% da renda dos extremamente pobres em 2009. Nesse estrato, a renda das transferências é quase exclusivamente composta por benefícios do PBF, [...]. Graças ao aumento da cobertura das transferências e à mobilidade para outros estratos dos que recebem um salário mínimo ou mais, a renda dos extremamente pobres passa a ter uma composição mais homogênea em 2009, quase integralmente constituída pelos benefícios do PBF e por rendimentos de trabalho inferiores a um salário. Conceito A 350 Recife n. 2 p.308-358 2011 A transferência de renda a contrapartidas permite a promoção da mudança de competências e preferências, ou seja, tem maior potencial de efeitos benéficos no longo prazo sobre o comportamento dos beneficiários e, quiçá, de seus descendentes. As contrapartidas hoje requeridas pelo PBF apontam para essa direção. Elas, porém, não parecem eximir o programa de certa fragilidade quanto a ir além do alívio imediato da pobreza. Se, por um lado, a transferência de renda não parece suficiente para transcender o alívio imediato da pobreza, por outro, a exigência atual de contrapartidas [...] e a complementação de programas de assistência parece um avanço. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo, acerca da distribuição de renda, demonstrou que um país pode alcançar o crescimento econômico sem lograr êxito no tocante ao desenvolvimento econômico, todavia o crescimento econômico é veículo para o desenvolvimento, visto que pode proporcionar quantitativamente a oferta de bens e serviços conseguidos apenas por meio da elevação do PIB. Esse aumento do produto em termos quantitativos pode ser utilizado para uma distribuição mais equânime dos bens e serviços, através da oferta destes à maioria da população, conformando um ambiente de igualdade de condições e oportunidades, consequentemente proporcionando bem estar socioeconômico e qualidade de vida à sociedade como um todo. Ficou evidenciado, também, que o Brasil convive com a discrepância na distribuição de renda desde sua colonização, pois esta se deu com grandes dificuldades, tanto em relação ao quantitativo de pessoas e a hostilidade nativa para sua ocupação, quanto relativo às intenções de produção em escala da canade-açúcar. Estas barreiras foram transpostas a duras penas, dentre às quais a mais contundente que foi a concentração de renda causada pela formação de oligopólios de proprietários de engenho e donos de grandes extensões de terra. Dentro desse contexto o Brasil assumiu a característica de concentrador de renda, por intermédio da concentração de terras, o que prejudicou seu desenvolvimento econômico durante muito tempo, visto que sua vocação produtiva tornou-se basicamente agrária. Essa vocação tornou o país refém da deterioração dos termos de troca e, consequentemente, o direcionou para um ambiente de mais concentração, todavia, surgem novas linhas de pensamento econômico, trazidas pela CEPAL, dando um novo rumo ao Brasil, que passou a desenvolver seu Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 351 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família Cruz e Pessali (2011, p. 164) concluem que, Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso parque industrial e crescer economicamente. Porém, o crescimento econômico não foi traduzido em desenvolvimento, visto que a concentração de renda continuou sendo parte integrante das relações socioeconômicas, o que aumentou e potencializou a desigualdade de renda na sociedade mesmo durante o milagre econômico. Diante da dificuldade em distribuir renda e verificando que o mercado, por si só, não consegue esta distribuição dos recursos de maneira justa, cabe ao Estado se manifestar em favor da sociedade como um todo e canalizar recursos para a população não alcançada pela economia de mercado, seja pela oferta de bens e serviços públicos, seja pela transferência monetária direta. Dentre os mecanismos que podem ser utilizados, encontra-se a transferência condicionada de renda, que está sendo amplamente utilizada em países da América Latina como o Brasil, e consiste em determinar contrapartidas dos beneficiários nas áreas da saúde e da educação, vislumbrando o rompimento do ciclo de pobreza entre gerações. Diante da incapacidade do mercado alcançar a todos, difundindo os recursos igualitariamente, e da obrigação do Estado agir em benefício da sociedade, distribuindo os recursos aos que não são alcançados, chega-se a conclusão de que os Programas de Transferência Condicionada de Renda (PTCR) assumem um importante papel na diminuição das desigualdades socioeconômicas, visto que, são direcionados para as pessoas que não são contempladas com os níveis de crescimento do produto, o que os torna muito importantes para quem os recebe e para o país no longo prazo, por intermédio das condicionalidades. Em relação ao Programa Bolsa Família (PBF), conclui-se que o mesmo tem auxiliado o país para uma melhor distribuição de renda e, consequentemente, para uma condição de melhor qualidade de vida à sociedade. Dentre os pontos controversos, demonstra-se que o programa é uma estratégia de transferência focalizada nos mais pobres, dentro de um sistema mais amplo de políticas sociais, que, por sua vez, faz parte de um sistema universal de políticas públicas. Acerca das colocações sobre o mercado de trabalho, fica comprovado que as famílias beneficiadas possuem índices de ocupação relativamente maiores em relação aos trabalhadores de famílias não atendidas pelo PBF. Conclui-se também que as condicionalidades são importantes mecanismos de rompimento do ciclo da pobreza entre gerações, visto que, as contrapartidas nas áreas da saúde e da educação visam corrigir problemas socioeconômicos estruturais, através de uma Conceito A 352 Recife n. 2 p.308-358 2011 Conceito A Recife n. 2 p.308-358 2011 353 Distribuição de renda: impactos do Programa Bolsa Família política conjuntural e, portanto, imediata. Em relação a sua focalização, ficou evidente que sua expansão causou erros de exclusão e de inclusão, além de vazamentos, entretanto, fica compreendido que o Governo optou pela expansão, mesmo podendo incorrer no erro de inclusão, visto que a contração do programa seria uma contraposição a sua finalidade, que é a eliminação da pobreza. Por último, apresentam-se evidências de que os impactos do PBF recaem sobre as famílias beneficiadas sob duas óticas, sendo: a primeira de caráter regional, na qual o nordeste obteve maior expansão em quantidades absolutas em relação ao total de beneficiados, melhor focalização na indigência e maior eficiência na redução da desigualdade de renda, o que demonstra claramente que as desigualdades regionais estão sendo percebidas e abordadas pelo Estado brasileiro; já a segunda, possui foco na composição da renda e esclarece que, embora tenha caráter complementar, o PBF é um componente muito importante na renda dos extremamente pobres e dos pobres, combatendo tanto o problema socioeconômico conjuntural no curto prazo, quanto à questão estrutural, de longo prazo. Cabe salientar que, a implantação e aperfeiçoamento de programas complementares ao PBF é o caminho a ser seguido para reforçar as condições necessárias aos beneficiários de transcender o ciclo da pobreza entre gerações. 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Banca Examinadora ___________________________________________________ NOME DO PROFESSOR (INSTITUIÇÃO) ___________________________________________________ NOME DO PROFESSOR (INSTITUIÇÃO) Às minhas três mulheres, Maria Sueli Barbosa da Silva (mãe), Andréa Helena Gomes da Silva (esposa) e Maria Eduarda da Costa Bastos (filha). Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 359 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso AGRADECIMENTOS Aos meus familiares, por toda estrutura e educação, pelo incentivo ao meu desenvolvimento intelectual, sem as quais não poderia transpor esta etapa da vida. A Faculdade São Miguel, pelos seus propósitos morais, valores e visão de futuro, responsáveis por atender às necessidades acadêmicas, alem da estrutura oferecida, contribuindo substancialmente para a minha construção de conhecimento. A empresa Shopping do Automóvel de Pernambuco, por todo apoio oferecido. Ao professor Valter de Andrade Silva, pelo exemplo como professor e pela ajuda inestimável e preciosa consultoria nos aspectos técnicos, além das valiosas sugestões. A professora Eline Waked, por todo apoio oferecido. A todos os professores pela imensa atenção, apoio e encorajamento nos momentos difíceis durante todo período da minha formação acadêmica. A minha grande amiga Rafaela Holanda, por todo apoio oferecido e pelas diversas sugestões dadas durante conversas sobre o tema da presente pesquisa. A Andréa Tavares e Marcelo Nascimento, funcionários da biblioteca da Faculdade São Miguel, por todo apoio oferecido. LISTA DE QUADOS E TABELAS Quadro 1: Volume de Vendas Referente ao ano de 2010 no Shopping do Automóvel de Pernambuco................................................................375 Quadro 2: Faixas de Preço para Aquisição de Veículo Semi Novo............376 Quadro 3: Faixas de Valor da Prestação para Financiamento de Veículo Semi Novo..............................................................................................377 Tabela 1 – Base de Dados para Aplicação do Método de Regressão Linear Múltipla..........................................................................................377 LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS Gráfico 1: Reta de Regressão Estimada ..............................................370 Gráfico 2: Representação Gráfica de Regressão Linear Múltipla..............371 Conceito A 360 Recife n. 2 p.359-385 2011 Gráfico 4: Reta de Regressão (variável demanda em função do valor de financiamento)................................................................................381 Figura 1: Diagrama de Dispersão: Correlação Fraca..............................372 Figura 2: Diagrama de Dispersão: Correlação Forte..............................374 RESUMO O presente estudo objetivou analisar a função demanda, visando encontrar uma definição pontual para a realidade dos demandantes por veículos semi novos no Shopping do Automóvel de Pernambuco, situado na cidade do Recife. O resultado possibilitou a avaliação de resultados acerca da existência de correlação entre variáveis associadas à demanda. Utilizou-se um questionário contendo questões fechadas para a pesquisa. Após essa etapa foi aplicado o método estatístico de regressão linear múltipla, bem como estudar, a existência de correlação entre as variáveis analisadas. A pesquisa foi motivada pela possibilidade de mensuração acerca da influência de variáveis diretamente determinantes na intenção de compra de veículos semi novos. Vale salientar que o resultado dessa pesquisa pode subsidiar empresas do ramo comercial de veículos semi novos, quanto a estratégias de marketing e conseguintemente na ampliação do seu volume de vendas. Palavras Chave: Regressão Linear Simples. Regressão Linear Múltipla. Relação entre variáveis. Coeficiente de Correlação. Diagrama de Dispersão. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................362 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................364 2.1 Conjuntura Econômica..................................................................364 2.2 Mercado de Automóveis Semi Novos................................................366 2.2.1 Demanda por Veículos Automotores Semi Novos............................367 2.3 Procedimentos Metodológicos.........................................................368 2.3.1 Inferência Estatística..................................................................369 2.3.2 Regressão Linear.......................................................................369 2.3.3 Regressão Linear Múltipla............................................................370 2.3.3.1 Estimação dos Parâmetros........................................................371 2.3.4 Correlação entre Variáveis...........................................................371 2.3.5 Coeficiente de Correlação............................................................372 Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 361 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa Gráfico 3: Reta de Regressão (variável demanda em função do nível de pre ço)...............................................................................................380 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2.3.6 Coeficiente de Determinação........................................................373 2.3.7 Diagrama de Dispersão...............................................................373 2.4. Local do Estudo de Caso...............................................................374 2.5. Espaço Populacional do Estudo.......................................................375 2.5.1 Definição do Tamanho da Amostra da População da Pesquisa..........375 2.5.2 Questionário Utilizado para a Coleta de Dados...............................376 2.5.3 Resultados da Coleta de Dados....................................................376 2.5.4 Tabulação dos Dados..................................................................376 2.5.5 Análise da Existência de Correlação entre as Variáveis....................377 2.6 Aplicação do Método de Regressão Linear Múltipla.............................377 2.6.1 Demanda X Preço de Automóveis Semi Novos................................380 2.6.2 Demanda X Prestação do financiamento de Automóveis Semi Novos ..............................................................................................380 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................382 REFERÊNCIAS....................................................................................383 ANEXOS............................................................................................384 1INTRODUÇÃO A viabilidade das análises econômicas se configura através da utilização de métodos estatísticos, com isso, surge a Estatística Aplicada, cumprindo seu papel específico entre as ciências. No caso da economia, como em outras áreas, existe uma cooperação das ciências exatas, tais como matemática e estatística. Quando, por sua vez, se faz uso de métodos estatísticos no âmbito econômico, surge a Econometria. A Econometria caracteriza-se como um conjunto de métodos que possibilita a realização de análises quantitativas no campo das ciências econômicas, porém subsidiada pela Teoria Econômica, com um suporte Matemático, oferecendo o instrumental necessário à quantificação e estatísticas, capazes de estabelecer ligações entre as premissas teóricas e os fatos observados através de observações da realidade. Com o aumento da oferta de veículos novos, associada às condições de financiamento e aumento da renda dos agentes econômicos, possibilitou um aumento da demanda pelos produtos de tal segmento da economia, surge o mercado paralelo de veículos semi novos. Tal mercado absorve os demandantes que por diversos motivos que não incluem nos consumidores de veículos novos, entre esses motivos destacam-se o valor de compra à vista do veículo e o valor da parcela do financiamento nos casos de financiamento à prazo. A escolha do tema está associada à possibilidade de avaliação de Conceito A 362 Recife n. 2 p.359-385 2011 O foco central se manteve em comprovar a existência de relação entre o preço de veículos semi novos à vista e a sua demanda em comparação com a comprovação da existência de relação entre o valor da prestação do financiamento com sua demanda. Com base nesses resultados pôde-se descrever qual das duas variáveis (preço e valor da prestação do financiamento) detém maior influencia na demanda por veículos semi novos. Foi efetuada uma pesquisa de campo, utilizando o método de amostragem sistemática, selecionando aleatoriamente de acordo com a disposição aleatória dos elementos da população. Os dados coletados seguiram um roteiro baseado primeiro no levantamento acerca da opinião dos demandantes de veículos semi novos de acordo com faixas de preço de veículos semi-novos, a demanda por veículos segundo o valor da parcela do financiamento, e por fim da análise acerca da existência de relação entre as variáveis, sendo elas, preço e valor da parcela do financiamento na função demanda por veículos semi-novos. Estas questões possibilitaram a mensuração do grau de correlação entre a demanda por tal produto e sua relação com algumas variáveis. Para este trabalho utilizou-se também o método quantitativo, os dados obtidos foram coletados através do uso de um questionário contendo quatro questões objetivas de múltipla escolha. Quanto aos aspectos técnicos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica necessária para subsidiar a análise no que se refere ao método estatístico de regressão linear múltipla, fazendo uso de uma fundamentação teórica, que fora seguida desde os dados coletados em campo até a apuração dos mesmos a fim de que fosse verificada a existência de correlação entre as variáveis estudadas. A partir desta análise foram estabelecidas retas lineares que comprovaram a existência de relação entre o conjunto de variáveis. Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 363 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa resultados, minimizando conclusões sem fundamento técnico científico. Para dar sustentação a esta pesquisa, foi consultada uma bibliografia que consiste na fundamentação teórica e para nortear a pesquisa. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Conjuntura Econômica A depender da conjuntura da economia, e dos interesses públicos acerca do incentivo à expansão ou retração do consumo, como podese analisar o caso recente vivenciado pelo Brasil, quanto a necessidade de aquecer o consumo, de tal forma, foi possível minimizar os efeitos da crise econômica mundial de 2008, onde o governo brasileiro adotou um pacote de medidas no campo econômico, objetivando incentivar a aquisição de bens produzidos por setores chave da economia brasileira, entre eles, destacou-se na ocasião o setores produtivo e de comercialização de veículos. Tal medida macroeconômica surgiu na forma da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que apresentou a resposta desejada pelo governo que a pôs em prática, possibilitando alta expressiva nos números referentes a vendas de veículos automotores novos, com isso, o mercado de semi novos foi desaquecido, pois com veículos novos a menores preços ao consumidor final, despencaram os preços dos veículos semi novos. De acordo com publicação do Jornal Cash (2009), “Prorrogação do IPI dificulta venda de carros usados”. Sobre a dificuldade da venda de carros usados pela prorrogação do IPI, divulga que “Os preços dos carros usados apresentaram queda de 1,5% em maio, o que sinaliza uma tendência de aumento da desvalorização”. O Primeiro Jornal (2010), da Emissora de Telecomunicações Bandeirantes, apresentou dados que afirmam a existência de uma acentuada depreciação nos preços dos carros usados, chegando a – 0,5% em maio de 2009 quando comparado ao mesmo mês do ano anterior; o acumulado do ano até o mês de maio foi de -3,9%, como grande problema, foi identificado um acumulado negativo de 2009, apresentando maiores desvalorizações em números proporcionais quando comparados aos anos anteriores. Em um segundo momento, onde o governo começou a reincluir o IPI nos preços ao consumidor final, que tem como resultado um desaquecimento da demanda por veículos novos, vindo a proporcionar um cenário propício à retomada do mercado de veículos automotores semi novos. Segundo a mídia televisiva, se tem notícia de que, os consumidores voltaram a procurar carros semi novos devido ao fim do IPI reduzido Conceito A 364 Recife n. 2 p.359-385 2011 Em uma análise publicada pela Revista Classificar (2011), obtiveram como resultado a informação de que quando se compara os números relativos às vendas em janeiro de 2011 aos números referentes às vendas no mesmo mês em no ano de 2008, observa-se uma queda mais acentuada, contabilizando -17,81%. Adiantou ainda que aproximadamente 75% das vendas foi realizada envolvendo veículos com motorização de 1.0, conhecidos como populares. De acordo com dados divulgados pela Revista Classificar (2011), foi observado que o número de financiamentos subiu de 56% em dezembro de 2010 para 68% em janeiro de 2011, bem como os prazos de pagamento se estenderam para 51 meses, quando em oportunidades anteriores eram financiados em prazo máximo para pagamento em 43 meses. Segundo Shapiro (2000) o consumo se relaciona diretamente com outras variáveis, a exemplo do nível de renda, riqueza acumulada, taxa de juros, poupança e os sistemas financeiros, além de aspectos qualitativos como cor, modelo e acessórios entre outros. Considerase a decisão de consumo uma escolha intertemporal, isto é, que o indivíduo, ao decidir quanto consumir hoje, não leva em consideração apenas a renda e o consumo corrente, mas traça um plano de consumo para toda a vida, considerando a renda ao longo da vida, deve-se introduzir na análise dos determinantes do consumo outra variável relevante: a taxa de juros. A poupança nesses modelos é vista como uma renuncia ao consumo presente, para que se possa consumir mais no futuro. Segundo Dornbusch (1991), quando alguém decide poupar, está financiando o investimento, alguns países associam baixos níveis de crescimento econômico ao baixo percentual da renda destinado à poupança. Visto que grande parte dos veículos semi novos são vendidos por Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 365 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa incidindo diretamente sobre os preços para aquisição de veículos usados. O mercado que compreende as revendas de veículos usados conseguiu manter-se estável a partir do mês de janeiro de 2011, a exemplo do estado de São Paulo, que apresentou um aumento de 0,65% na comparação com o mês anterior. De acordo com uma publicação do Primeiro Jornal EBand (2011), onde representantes da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do estado de São Paulo afirmaram que a restrição ao crédito e a desvalorização dos produtos foram os principais responsáveis pela queda nos volumes de vendas. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso meio de financiamentos, surgem diversas questões acerca da intenção de compra dos demandantes desse segmento, questões essas que determinam com maior ou menor intensidade acerca da decisão de adquirir o veículo pretendido. Quando se fala em compra a primeira idéia que surge é o preço, a depender do preço, e no caso dos veículos, sendo enquadrados como bens duráveis, portanto agregam um valor maior que os bens comuns, dessa forma, sabe-se que nem todos que demandam por esse tipo de bem detêm o valor necessário para compra-lo à vista, surgem com isso os financiamentos, que tornam possível a aquisição de bens com valores mais elevados. A grande questão é conseguir encontrar um modelo que expresse a relação entre o preço à vista e o valor da prestação para pagamento nos casos de financiamento de veículos semi novos, pois cada uma dessas variáveis tem atuação direta na intenção de compra de um veículo usado, porém não se sabe com qual intensidade cada uma delas atua, na pesquisa em questão.Este trabalho sugere um modelo que pretende estimar a real existência de relação e o nível de correlação entre a intenção de compra em função do preço e da parcela do financiamento de um veículo semi novo. 2.2 Mercado de Automóveis Semi Novos De acordo com Lacerda (2011), em edição do Jornal SBT Manhã, do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), “Venda de carros usados cresceu quase 22% no último ano”. O Jornal Destak (2008) também refere sobre o assunto da seguinte forma: Venda de carros usados está aquecida, Em São Paulo, foram negociados 172,6 mil carros usados em março, uma alta de 49,02% sobre o mesmo mês de 2008, diz a ASSOVESP (2011). Do total de negócios, 73,2% foram com veículos de motor 1.0. Houve queda no montante das compras financiadas em relação a março de 2008: 71%, ante 78%. (Jornal Destak (2008). Entre os motivos que incidem sobre as variações na demanda por veículos, relaciona-se diretamente duas variáveis, poupança e renda do consumidor, resultando na expressão C = Y – S, onde respectivamente representam: C = Consumo; Conceito A 366 Recife n. 2 p.359-385 2011 S = Poupança (em inglês, Saving). Portanto, quanto maior a renda, maior será a parcela destinada ao consumo, pois a aquisição e utilização de veículos tem se tornado um bem necessário, ao contrário de outras épocas, onde denominava-se bem de luxo. Com tal fundamentação técnico-teórica, Silva (1996, p.116) diz que: “O consumo compreende o uso ou gasto dos serviços e dos bens de consumo, tanto pelo setor particular (unidades familiares) como governamental”. 2.2.1 Demanda por Veículos Automotores Semi Novos Um fator importante na decisão de adquirir um veículo semi novo é o preço do veículo novo, pois, segundo Silva (1997, p.160), “a demanda por um determinado bem X, pode ser representada pela elasticidade cruzada da procura, sofrendo variações a partir de outras variáveis envolvidas com a demanda pelo bem X”, de acordo com a demonstração a seguir: Єc = elasticidade cruzada da procura ∆Qx = variação na quantidade demandada do bem x; QX = quantidade do bem X; ∆PZ = variação do preço do bem Z; e Pz = preço do bem Z. Portanto, a partir desse pré suposto, conclui-se que a demanda por veículos semi novos está diretamente ligada ao preço dos veículos novos. (SILVA, 1997). De acordo com a Teoria Elementar da Demanda, existem alguns tipos de relação a serem efetuadas em relação ao desejo de consumo, entre elas destacam-se: Relação entre a quantidade demandada e o preço do bem, onde relaciona-se a quantidade demandada de um bem X ao seu próprio Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 367 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa Y = Renda (em inglês, Yield); Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso preço. Podendo ser representado pela função Dx = f(Px) Ceteris Paribus. Portanto, aumentos no preço do bem X acarretam em quedas na quantidade demandada. sendo assim, quando o oposto ocorre, acarreta em aumentos na demanda, bem como está representado a seguir: P↑ = D↓ P↓ = D↑ a) Relação entre a procura de um bem e o preço dos outros bens, onde relaciona-se a quantidade demandada de um bem X ao preço dos outros bens, ou seja, sempre que ocorrerem variações nos preços de seus concorrentes ou substitutos, visto que de tal condição ocorre sempre que existem semelhanças nas características ou especificações técnicas de um bem. Sendo representado pela função Dx = f(Py) Ceteris Paribus. b) Relação entre a procura de um bem e a renda do consumidor, variações na renda do consumidor acarretam em variações no nível de consumo do mesmo, ou seja, Dx = f(R), Ceteris Paribus. c) Relação entre a procura por um bem e o gosto do consumidor, portanto representada como uma variável qualitativa, que tem haver com características particulares ou que tenham ligação direta com crenças, hábitos ou outros aspectos de tal natureza. (GREMAUD et al., 1998). Os tipos de relação descritos acima podem variar com maior ou menor intensidade, pois de acordo com a elasticidade- preço da demanda pode-se medir o quão sensível a demanda se comporta quando da variação das demais variáveis analisadas. Dessa forma, pode-se afirmar que a quantidade demandada de veículos semi novos sofre interferência de variáveis como preço dos veículos novos, ano, modelo, acessórios, opcionais de fabrica, taxa de juros do financiamento, prazo para pagamento, quantidade ofertada dos seus substitutos entre outras. (PINHO; VASCONCELOS, 1995). 2.3 Procedimentos Metodológicos Conceito A 368 Recife n. 2 p.359-385 2011 De acordo com Morettin (2003), diferentemente da estatística descritiva, que possibilita a realização de mensurações probabilísticas, a inferência estatística busca realizar afirmações baseadas em informações obtidas através da observação de amostras. Em analises de grandes populações, onde não se torna possível ou viável observar todos os indivíduos, escolhe-se um método de amostragem como forma de simplificar a busca pelas respostas necessárias a cada objetivo de estudo. Segundo Morettin (2003) a solução é selecionar parte dos elementos (amostra), analisá-la e inferir propriedades para o todo (população). Conforme a definição de Lapponi (2008) na pesquisa realizada no Shopping do Automóvel de Pernambuco, os sujeitos da análise da intenção de compra é representada por todos os clientes potenciais, já a amostra pode ser representada por um conjunto de sujeitos. 2.3.2Regressão Linear Entre os métodos estatísticos existe um denominado Regressão Linear, que possibilita a realização de análises acerca da existência de relação linear e intensidade de correlação entre variáveis. Considerando a existência de dependência entre as variáveis estudadas, nesse caso, a análise é realizada observando uma variável dependente em função de duas ou mais variáveis independentes. Para que haja entendimento das características do estudo através da análise de regressão, é necessário entender alguns termos da área estatística (ANDERSON et al, 2002). Ainda em relação ao modelo linear, vale ressaltar que: No modelo de regressão linear simples, y é uma função de x a partir da expressão são denominados parâmetros y = β1 X1 + Є, onde β0 e β1 modelo, e Є (letra grega, lê-se Epsilon) é uma variável aleatória definida como o termo erro. O erro mede a variabilidade em y que não pode ser , explicada pela relação linear entre y e x (ANDERSON et al, 2002, p.441). Ainda acerca da variável definida como erro, e segundo Anderson (2002, 441-442): Uma das suposições é que o valor médio ou esperado de Є é zero. Uma consequência dessa suposição é que o valor médio ou esperado de y, denotado por E(y), é igual a β0 + β1x: em outras palavras, o valor médio de y é uma função linear de x. a equação que descreve como valor médio de y está relacionado a x é chamada de equação de regressão (ANDERSON et al, 2002, p.441- 442). Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 369 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa 2.3.1Inferência estatística Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Assim sendo, a expressão que representa a regressão linear simples também pode ser apresentada por E(y) = β0 + β1 X1, onde o termo β0 é o coeficiente linear e β1 x é o coeficiente angular. O gráfico de regressão linear simples representa a reta de regressão estimada, de acordo com a ilustração da figura a seguir (ANDERSON et al., 2002). Para estimar os parâmetros da reta de regressão pode-se utilizar o método dos mínimos quadrados. Utiliza-se essa técnica para encontrar o melhor ajustamento para um conjunto de dados tentando minimizar a soma dos quadrados das diferenças entre o valor estimado e os dados observados, tais diferenças são chamadas resíduos (FONSECA et al., 1995). Fonte: <http://media.photobucket.com/image/grafico%20regressao/allgoritmos/grafico-insertord-det.jpg> Gráfico 1: Reta de Regressão Estimada. 2.3.3Regressão Linear Múltipla “A análise de regressão múltipla é o estudo de como uma variável dependente Y é relacionada com duas ou mais variáveis independentes” (ANDERSON et al., 2002, p.485). Supondo que a variável yi dependa dos valores assumidos por K variáveis independentes (X1,X2 ... XK) que essa dependência seja expressa pelo modelo Yi = β0 + β1 X1 + β2 X2 + ...+ βk Xk + Є, onde a componente funcional é representada pela função f(X) = β0 + β1X1 + β2X2 + ...+ βkXk + Є. A variável Є determina a componente aleatória, Є=[Y/X1,X2...XK] = f(Y) è média de Y, dados X1,X2...XK (ANDERSON et al., 2002). Conceito A 370 Recife n. 2 p.359-385 2011 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa A Regressão Linear Múltipla pode ser representada graficamente, conforme figura a seguir: Fonte: <http://www.isa.utl.pt/dm/mat_est/slides82a112.pdf> Gráfico 2: Representação Gráfica de Regressão Linear Múltipla. 2.3.3.1 Estimação dos Parâmetros Retirada a amostra de n observações das variáveis Y, X1 e X2, deve-se, a partir desses dados, determinar as estimativas “a”,”b1” e “b2” dos parâmetros β0, β1 e β2, dessa forma se obter a estimativa do modelo a ser adotado, compondo o estimador Ŷ = a + b1X1 + b2X2. Nesse contexto, pode-se utilizar um dos métodos já mencionados anteriormente, denominado método dos mínimos quadrados (FONSECA et al., 1995, p.111). Aplicação do método de Regressão Linear Múltipla associado à solução do problema de pesquisa entende-se que o nível de produção de veículos automotores vem aumentando nos últimos anos, causando um aumento na demanda por produtos desse segmento, por outro lado, também surge uma oferta de veículos semi novos, cada vez maior, demonstrando o aquecimento do setor. Assim sendo, o estudo pretende estimar o grau de correlação sugerido pelas variáveis independentes: preço, valor da parcela e taxa de juros em função da variável dependente, demanda por veículos automotores, semi novos, com a utilização do método de Regressão Linear Múltipla, visto que tal método possibilita a mensuração do nível de influência das variáveis independentes na função que expressa à demanda. 2.3.4 Correlação entre Variáveis Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 371 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Ocorre correlação entre variáveis quando variações em variáveis correlatas acarretam variações na variável dependente. Existem casos em que a correlação entre as variáveis apresenta-se de forma negativa, ou seja, quando os valores crescentes da variável X estiverem associados a valores decrescentes da variável Y (TOLEDO; OVALLE, 2008). A correlação pode ser considerada linear positiva quando variações crescentes da variável X1,X2,...Xn, resultarem em variações crescentes de Y. Correlação nula ocorre quando variações na variável X não estão diretamente relacionadas com as variações observadas na variável Y, ou seja, X e Y são variáveis independentes entre si, Conforme ilustra a figura a seguir: (SPIEGEL, 2002). Fonte: <http://www.lugli.com.br/2008/02/diagrama-de-dispersao/> Figura 1: Diagrama de Dispersão: Correlação Fraca. Para quantificar o grau de correlação entre as variáveis surge o coeficiente de correlação. 2.3.5Coeficiente de Correlação Utilizando de uma técnica matemática, é possível mensurar a força de associação entre duas variáveis. Deve-se considerar o grau de dispersão entre os valores, quão menor for à dispersão dos dados, maior será a correlação entre as variáveis envolvidas no estudo (SMAILES; MCGRANE, 2002). “A covariância pode ser positiva, nula ou negativa com a unidade de medida referente ao produto das unidades de medida das duas variáveis que não tem nenhum significado Conceito A 372 Recife n. 2 p.359-385 2011 O Coeficiente de Correlação também se encontra denominado de Coeficiente de Determinação ou de Explicação, portanto, Segundo Fonseca (1995, p.100), “O coeficiente de determinação indica quantos por cento a variação explicada pela regressão representa da variação total”. Por isso a variação do nível de correlação varia no intervalo compreendido entre menos um e um. No caso em que r² = 0, todos os pontos observados se situam ‘exatamente’ sobre a reta de regressão. Diremos então que o ajuste é perfeito. As variações de Y são 100% explicadas pelas variações de X através da função especificada, não havendo desvios em torno da função estimada. Por outro lado, se r² = 0, conclíui-se que as variações de Y são exclusivamente aleatórias, e a introdução da variável X no modelo não incorporará informação alguma sobre as variações de Y. (FONSECA, 1995). (...). Os valores do coeficiente de correlação estão sempre entre -1 e +1. Um valor de +1 indica que as duas variáveis X e Y estão perfeitamente relacionadas em um senso linear positivo. Isto é, todos os pontos de dados estão numa linha reta que tem uma inclinação positiva. Um valor de -1 indica que X e Y estão perfeitamente relacionados num senso linear negativo, com todos os pontos de dados em uma linha reta com inclinação negativa, valores do coeficiente de correlação próximos de zero indicam que X e Y não estão linearmente relacionados. (ANDERSON, 2002. p. 457). 2.3.6 Coeficiente de Determinação Para Stevenson (1981, p.358), o Coeficiente de Determinação r2 pode ser obtido quando se eleva o coeficiente de correlação r ao quadrado, “o valor de r2 pode variar entre 0 e 1”. Se por exemplo o valor atribuído a r for 0,65, eleva-se esse r ao quadrado encontrando como resultado 0,4225, que em números percentuais correspondem a r2 = 42,25, ou seja, as variações da variável dependente são explicadas em 42,25% pela relação que detém com a variável independente que esta sendo analisada. 2.3.7 Diagrama de Dispersão Uma maneira objetiva e direta para se obter uma idéia do comportamento de variáveis Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 373 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa pratico” (LAPPONI, 2005, p.175). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso é a construção de um gráfico denominado Diagrama de Dispersão. “Um diagrama de dispersão é uma representação de pontos de dados de um gráfico X-Y” (SMAILES; MCGRANE, 2002. p.115). Neste sentido, para cada valor da variável X há um correspondente valor da variável Y, conforme ilustrado na figura a seguir: Fonte: <http://www.lugli.com.br/2008/02/diagrama-de-dispersao/> Figura 2: Diagrama de Dispersão: Correlação Forte. 2.4 Local do Estudo de Caso O presente estudo foi realizado através de uma pesquisa de campo, na empresa Shopping do Automóvel de Pernambuco, dotada de uma localização estratégica, com sua sede administrativa na zona sul da Região Metropolitana do Recife, mais precisamente na Av. Marechal Mascarenhas de Morais n° 4025 no Bairro da Imbiribeira – Recife – Pernambuco. O Shopping do Automóvel de Pernambuco foi escolhido para a realização da pesquisa por demonstrar um cenário favorável à análise, devido ao fato de existirem cinquenta lojas em um mesmo endereço, e por demonstrar um volume de demandantes que circulam naquele estabelecimento diariamente, em conjunto com o elevado volume de vendas de veículos semi novos. Diante de uma população considerada grande, foi selecionada uma amostra, acerca da Conceito A 374 Recife n. 2 p.359-385 2011 2.5 Espaço Populacional do Estudo A pesquisa foi realizada através de uma pesquisa de campo, onde foi utilizado o método de amostragem sistemática, segundo Anderson (2002) a utilização de tal método pode ser utilizada como alternativa ao método de amostragem aleatória simples. Anderson (2002, p. 278) refere como determinar o tamanho da amostra utilizando a amostragem sistemática da seguinte forma: Quando se deseja um tamanho de amostra de 50 de uma população contendo 5.000 elementos, torna-se como amostra um elemento para cada 5.000/50 = 100 elementos na população. Uma amostra sistemática para esse caso implica selecionar aleatoriamente um dos primeiros 100 elementos a partir da lista da população (ANDERSON: 2002, p.278). A amostra foi retirada do universo de pessoas que se dirigirão ao shopping o Automóvel de Pernambuco com o intuito de adquirir um veículo semi novo, os referidos demandantes foram questionados em relação à preço e valor da prestação do financiamento de um automóvel semi novo, além de outras perguntas que serviram para aproximar e deixar os entrevistados a vontade para responderem as questões centrais do questionário. O volume de vendas do exercício de 2010 distribuídas em bimestres conforme quadro à seguir: Período / 2010 Janeiro / Fevereiro Março / Abril Maio / Junho Julho / Agosto Setembro / Outubro Novembro / Dezembro Total de vendas no ano de 2010 Quantidade de veículos vendidos 482 437 783 862 1247 1322 5133 Quadro 1: Volume de Vendas Referente ao Ano de 2010 no Shopping do Automóvel de Pernambuco. 2.5.1 Definição do Tamanho da Amostra da População da Pesquisa Utilizando o método sistemático de amostragem (ANDERSON: 2002,), e com base no volume de vendas no exercício de 2010, foi realizado um calculo para determinar o tamanho da amostra, como pode ser analisado a seguir: Volume de vendas do ano de 2010 è 5133 veículos Intervalo do movimento sistemático è 100 5133/100 = 51,33 Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 375 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa intenção de compra relacionada às variáveis em questão na pesquisa. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Amostra da população 51,33 O cálculo acima determinou que fossem entrevistadas cinquenta e uma pessoas, de acordo com a aplicação do método de amostragem sistemática. 2.5.2 Questionário Utilizado para a Coleta de Dados Foi utilizado um questionário como instrumento para coleta de dados contendo perguntas fechadas (APÊNDICE A). Após a coleta dos dados através de uma entrevista realizada pelo pesquisador, as informações obtidas foram lançadas em uma planilha eletrônica no programa Microsoft Excel no sistema operacional Windows, com o intuito de aplicar o método de Regressão Linear Múltipla, a fim de atender ao problema proposto pela pesquisa. 2.5.3 Resultados da Coleta de Dados Em relação à variável preço, os entrevistados foram questionados em relação à faixa de preço para aquisição de um veículo semi novo, as respostas obtidas estão dispostas no quadro a seguir: Faixas de preço R$ 10.000,00 à R$ 15.000,00 R$ 16.000,00 à R$ 21.000,00 R$ 22.000,00 à R$ 27.000,00 R$ 28.000,00 à R$ 33.000,00 R$ 34.000,00 à R$ 39.000,00 R$ 40.000,00 à R$ 45.000,00 Total Respostas de acordo com as faixas de preço 5 17 13 5 3 8 51 Quadro 2: Faixas de Preço para Aquisição de Veículo Semi Novo. Em relação à variável valor da prestação do financiamento, os entrevistados foram questionados em relação à faixa de prestação para aquisição de um veiculo semi novo, as respostas obtidas estão dispostas no quadro a seguir: Faixas de valor de parcela de financiamento R$ 300,00 à R$ 350,00 R$ 351,00 à R$ 400,00 R$ 401,00 à R$ 450,00 R$ 451,00 à R$ 500,00 R$ 501,00 à R$ 550,00 R$ 551,00 à R$ 600,00 Total Respostas de acordo com as faixas valor de parcela do financiamento 7 7 7 9 9 12 51 Quadro 3: Faixas de Valor da Prestação para Financiamento de Veículo Semi Novo. 2.5.4 Tabulação dos Dados As respostas do questionário aplicado na pesquisa foram lançadas em uma planilha eletrônica no programa Excel da Microsoft, a fim de serem organizados para a Conceito A 376 Recife n. 2 p.359-385 2011 2.5.5 Análise da existência de Correlação entre as Variáveis As informações colhidas foram submetidas à mensuração da correlação entre as variáveis, ou seja, ao ser aplicada a ferramenta que mede a existência de correlação entre as variáveis, com auxílio de uma representação gráfica, pode-se analisar a dispersão. Foi possível concluir que existe de fato correlação entre as variáveis envolvidas na pesquisa. 2.6 Aplicação do Método de Regressão Linear Múltipla Os dados obtidos através da pesquisa de campo foram organizados em uma tabela onde foram feitos cálculos para se chegar ao modelo, conforme segue abaixo: Após os cálculos previstos pelo método, podem ser aplicadas as fórmulas que permitem definir as estimativas bo, b1 e b2, desta forma pode-se obter o modelo que representa a reta de regressão linear múltipla, conforme a ordem a seguir: _ 1) n y = Syi _ i=1 n _y = 855,5 n _ Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 377 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa aplicação dos cálculos acerca da correlação e regressão. Dessa forma torna-se possível analisar a existência de correlação entre a variável independente e a dependente, bem como possibilita medir a intensidade com que tal correlação incidi sobre as variáveis em questão. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2) x1 = Sx1 _ _ i=1 n x1- = 8,5 _ 3) n x = Sx2 _2 i=1 n n n n x2- = 8,5 n n n 4) SY1 = S yx1 i=1 Sy Sx1 i=1 n i=1 SY1 = 4985,5 n n 5) SY2 = S yx2 i=1 n Sy Sx2 i=1 n i=1 SY2 = 3128,5 n 2 n 2 6) S11 = S x1 i=1 2 2 Sx1 i=1 n S11 = 147,5 n 7) S12 = S21 = S x1 x2 i=1 Conceito A 378 n n S x1 S x2 i=1 i=1 Recife n. 2 p.359-385 2011 n 2 n 2 8) S22 = S x2 i=1 S22 = 2 2 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa S12 n n = S21 = -20,5 n 2 Sx2 i=1 19,5 2 n n n 2 9) Syy = S y2 i=1 2 2 Syi i=1 n SYY = 690837,5 ^ ^ 10) b2 = Sy2 ^ - Sy1 S21 S11 S22 - S12 S12 S11 ^ = -229,51 n b2 ^ 11) b1 = Sy2 ^ S21 ^ - Sy22 b2 S21 b1 = 65,7 Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 379 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ^^ _ ^ ^ 12) b0 = y - b1 x1 + b2 x2 ^ b0 = 2239,38 Visto que o modelo é representado pela expressão Y = b0 + b1 x1 + b2 x2 + Є, o modelo encontrado para o caso do presente estudo foi: Y= 2239,38 + 65,7 X1 - 229,51 X2 + Є 2.6.1 Demanda X Preço de Automóveis Semi Novos De acordo com análise gráfica, se configura a existência de correlação entre as variáveis preço e demanda, porém não existe grande influência, pois o coeficiente de correlação entre a demanda e o preço é de - 0,493883774, representando que parte das variações da demanda podem ser explicadas pela variações da variável preço do veículo semi novo, porém com uma intensidade mediana, ou seja, o coeficiente encontra-se no meio do intervalo compreendido entre menos um e zero. Portanto, conclui-se que os demandantes levam em conta o preço do veículo no momento em que procuram realizar tal aquisição. Pode-se verificar na prática, a forma com que os pontos se comportam em relação à reta de regressão, apresentando como característica a linearidade com inclinação negativa, bem como a pequena proximidade com a reta de regressão de acordo com o gráfico a seguir: Gráfico 3: Reta de Regressão (variável demanda em função do nível de preço). 2.6.2 Demanda X Prestação do Financiamento de Automóveis Semi Novos Ainda com base nos dados obtidos na pesquisa, chega-se a um coeficiente de Conceito A 380 Recife n. 2 p.359-385 2011 Gráfico 4: Reta de Regressão (variável demanda em função do valor da prestação do financiamento). Pode-se verificar na prática a forma com que os pontos se comportam em relação à reta de regressão, apresentando como característica a linearidade com inclinação positiva, bem como a grande proximidade com a reta de regressão. Quanto ao Coeficiente de Determinação, com base no Coeficiente de Correlação calculado com auxílio do programa Excel da Microsoft, foi possível encontrar duas grandezas, sendo - 0,493883774, o Coeficiente de Correlação entre a variável preço e a demanda e 0,852375389 como Coeficiente de Correlação entre a variável prestação do financiamento e a demanda, ao elevar tais coeficientes ao quadrado encontramos o Coeficiente de Determinação, ou seja: r2X1 = (- 0,493883774)2 è r2X1= 24,4%; e r2X2 = (0,852375389)2 è r2X2 = 72,65%. Como pode ser apreciado, foram encontrados dois Coeficientes de Determinação do modelo, onde cada um representa o percentual de explicação que cada variável independente detém sobre a variável demanda no modelo encontrado para o caso da pesquisa no Shopping do Automóvel de Pernambuco. Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 381 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa correlação entre a demanda e o valor da parcela do financiamento de um veículo semi novo de, 0,852375389, representando a existência de correlação forte entre as duas variáveis, ou seja, devido ao fato de estar muito próximo a um, conclui-se que grande parte das variações da demanda analisada é explicada pelas variações no valor da prestação do financiamento do veículo, conforme pode ser analisado no gráfico a seguir: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como havia sido proposto, a presente pesquisa visou determinar um modelo que expressasse a demanda por veículos semi novos no Shopping do Automóvel de Pernambuco, sendo encontrado o modelo Y= 2239,38 + 65,7 X1 - 229,51 X2 + Є, porém a correlação entre as variáveis objeto da pesquisa também pôde ser analisada, possibilitando quantificar o grau de relação entre as variáveis objeto da pesquisa, os dados obtidos no campo foram tabulados com auxilio do Excel, que apresentou dois coeficientes de correlação, um acerca da variável demanda em função da variável preço e outro que se refere a variável demanda em função do valor da prestação do financiamento de um veículo semi novo, obtendo os resultados a seguir: É o Coeficiente de Correlação encontrado entre demanda e preço do veiculo e de - 0,493883774, representando assim a existência de correlação moderada entre as variáveis em questão, porém nesse caso, por tratar-se de um número negativo há uma particularidade, tal correlação é negativa. O coeficiente de correlação entre a demanda e o valor a ser pago mensalmente no caso da aquisição por financiamento e de 0,852375389, representando assim a existência de forte correlação positiva entre as variáveis analisadas. Com base nesses resultados foi possível calcular o coeficiente de Determinação, ou seja, o r2, elevando os resultados encontrados como Coeficientes de Correlação ao quadrado, os resultados afirmam que 72,65% das variações na demanda por veículos automotores semi novos podem ser explicadas por variações no valor da prestação do financiamento de veículos automotores semi novos no Shopping do Automóvel de Pernambuco, por outro lado, apenas 24,4% das variações na demanda por veículos automotores semi novos podem ser explicadas por variações no Preço de veículos automotores semi novos. Somando os dois Coeficientes de Determinação, obtendo 97,05% como resultado, restando 2,95% das variações da demanda, esse percentual refere-se ao componente aleatório, erro residual ainda erro estocástico, ou seja, indicando que outros fatores interferem na decisão de comprar um veiculo semi novo, a exemplo de cor do veículo, opcionais de serie, ano, modelo entre outras variáveis que não foram inseridas no modelo. Conforme descrito anteriormente, tais afirmações puderam ser apresentadas de forma algébrica, porém também foi possível traçar um gráfico para cada coeficiente de correlação e suas variáveis, pois dessa forma fica muito mais fácil compreender a idéia da existência e intensidade da correlação entre variáveis, pois quanto mais próximos os pontos estiverem da reta estimada de regressão, mais correlatas são as variáveis analisadas, como pode ser facilmente visualizado no gráfico 2, porém no gráfico 1 pode ser vista com a mesma facilidade a correlação negativa e moderada entre as variáveis analisadas no caso. Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que de fato existe correlação entre as variáveis preço e valor da prestação quando se trata de demanda por veículos semi novos no Shopping do Automóvel de Pernambuco, porém ficou muito claro que os consumidores daquele estabelecimento são mais sensíveis ao valor da prestação que ao Conceito A 382 Recife n. 2 p.359-385 2011 REFERÊNCIAS ANDERSON, D. R.; SWEENEY, D. J.; WILLIAMS, T. A. Estatística Aplicada à Administração e Economia. 2. ed. São Paulo: Afiliada, 2002. FONSECA, J. S.; MARTINS, G. A.; TOLEDO, G. L. Estatística Aplicada. São Paulo: Atlas, 1995. GLOBO.COM. Venda de Carros Usados Cresce em Janeiro. 09/Fev/2009. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL993958-9658,00-VE NDA+DE+CARROS+USADOS+CRESCE+EM+JANEIRO.html> Acessado em: JORNAL CACH. “Prorrogação do IPI dificulta venda de carros usados”. (Stúdio Alcon). 3/Jul/2009. Disponível em: <http://www.jornalcash.com. br/?p=866> Acessado em: 25 Jun 2011. JORNAL DESTAK. Venda de Carros Usados Está Aquecida. 07/abr/2008. Seção valor/ breves. Disponível em: <http://www.sindiauto.org.br/sistema/bin/pg_dinamica.php?id_ pag=1953> Acessado em: 13 Mar 2011. JORNAL DO SBT MANHÃ. “Venda de carros usados cresceu quase 22% Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 383 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa preço de à vista do veículo, deixando como resultado o fato de que o preço não importa tanto aos demandantes, o que eles estão a procura é de parcelas de financiamento que caibam nos orçamentos familiares mensais, dessa forma o Shopping do Automóvel de Pernambuco pode utilizar o resultado desse estudo para focar suas estratégias de Marketing nos valores das prestações de financiamento dos produtos por ele oferecidos, além de contribuir com outros pesquisadores na realização de outras pesquisas. A empresa Shopping do Automóvel de Pernambuco poderá fazer uso dos resultados encontrados na pesquisa, pois algumas características acerca da sensibilidade dos demandantes daquela atividade comercial foram analisadas. Os funcionários das lojas que atuam dentro do Shopping poderão ser treinados, dando ênfase ao fato de que os consumidores são muito mais sensíveis aos valores das prestações dos financiamentos que ao preço de à vista de um veículo semi novo. Quanto ao marketing, sempre que os lojistas promoverem algum tipo de material publicitário, poderão expor valores obtidos por meio de simulações, como forma de chamar a atenção dos clientes em potencial. Certamente, serão atraídos pelo que os faz mais propensos a adquirirem um veículo semi novo, ou seja, o fato de serem mais sensíveis aos valores que irão pagar, visando seus orçamentos mensais, bem como suas restrições orçamentárias. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso no último ano”. 21/Fev/2011. (Vídeo). Disponível em: <http://www.sbt.com.br/ jornalismo/noticias/?c=3656&t=Venda+de+carros+usados+cresceu+quase+22 %+no+ultimo+ano> Acessado em: 25 Mai 2011. LAPPONI, J. C. Estatística Usando Excel. 4. ed. São Paulo: Elsevier, 2005 PINHO, D. B.; VASCONCELOS, M. A. S. (Org.). Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. SMAILES, J.; MCGRANE, A. Estatística Aplicada à Administração com Excel. São Paulo: Atlas, 2002. SPIEGEL, M. R. Estatística. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2002. TRIOLA, M. F. Introdução à Estatística. 7. ed. Rio de Janeiro: JC, 1999. ANEXOS ANEXO A ATA DE ORIENTAÇÃO DE TCC 1. Nome do Aluno: Thomas da Silva Camelo Bastos. 2. Título do TCC: DEMANDA POR VEÍCULO SEMI NOVOS: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA 3. Linha de Pesquisa: Métodos Quantitativos Aplicados à Economia. Conceito A 384 Recife n. 2 p.359-385 2011 Valter de Andrade Silva 5. Período da orientação: Início: Out. 2010. Término: Dez. 2011. 6. Comentário do professor orientador: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _______________________________________________________ Recife, _____/_____/________ Autorizo a entrega deste TCC por mim revisado. _____________________________________ Valter de Andrade Silva CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS THOMAS DA SILVA CAMELO BASTOS DEMANDA POR VEÍCULOS SEMI NOVOS: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA RECIFE Conceito A Recife n. 2 p.359-385 2011 385 Demanda por veículos semi novos: uma análise quantitativa 4. Professor Orientador: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM JOSEVÂNIA MARIA GOMES THALYTA LINS BORBA A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UTI DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO RECIFE 2011 JOSEVÂNIA MARIA GOMES THALYTA LINS BORBA A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UTI DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO RECIFE Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pelas alunas Josevânia Maria Gomes e Thalyta Lins Borba, ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Osvaldo Cruz e do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Enfermagem. ORIENTADORA Prof.ª Renata de Miranda RECIFE 2011 JOSEVÂNIA MARIA GOMES THALYTA LINS BORBA A IMPORTÂNCIA DA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS POR PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UTI DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO RECIFE Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito __ em __/__/____. Banca Examinadora ___________________________________________________ Profª Renata de Miranda, mestranda. Presidente Conceito A 386 Recife n. 2 p.386-417 2011 Josevânia Maria Gomes A todas as pessoas que estiveram ao meu lado ao longo desta jornada, me apoiando incondicionalmente para a conclusão deste trabalho acadêmico. Em especial, a orientadora Renata de Miranda e a amiga Josevânia Gomes pelo apoio, paciência, credibilidade e compreensão que me proporcionaram. Thalyta Lins Borba AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, aos meus pais e demais familiares, amigos e mestres que, pela presença, pela palavra, pelo sorriso, deram coragem e determinação para traçar um caminho em busca de um ideal. A todas as pessoas que não foram mencionadas mais que contribuíram de forma direta e indireta para realização deste sonho. Josevânia Maria Gomes Primeiramente, agradeço a DEUS, pelo dom da vida, por estar sempre comigo e ter me dado à chance de concluir mais uma etapa da minha vida. Aminha família, pela educação que me concederam na formação do meu caráter e, ainda me ajudando de todas as formas que podiam. A minha amiga Josevânia Maria Gomes que compartilhou comigo seus conhecimentos durante a execução deste trabalho. A Faculdade São Miguel que prestou a base para a construção da minha Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 387 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Dedico este trabalho a todas as pessoas que me apoiaram entre eles professores, familiares e amigos, pelo esforço, dedicação e compreensão, em todos os momentos desta e de outras caminhadas. Em especial, a professora Renata de Miranda e a minha amiga Thalyta Lins por sua confiança e credibilidade em minha pessoa e pelo mútuo aprendizado de vida, durante nossa convivência. em uti de um hospital público do Recife DEDICATÓRIA Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso formação, juntamente com seus professores e funcionários. A professora Renata de Miranda, minha orientadora, que prontamente aceitou esteencargo, auxiliando-me com toda dedicação na construção deste trabalho. Aos voluntários que foram fundamentais para a realização da pesquisa. E finalmente, agradeço a todos que fizeram parte da minha vida durante esta caminhada e que, de uma forma ou de outra, colaboraram para a realização destesonho. Thalyta Lins Borba RESUMO Trata-se de um estudo observacional, descritivo, transversal com abordagem quantitativa, realizado na UTI de um hospital público, referência em cardiologia na cidade do Recife-PE, com o objetivo de investigar a importância da higienização das mãos por profissionais de saúde. Foram incluídos no estudo funcionários da área de saúde, como enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e fisioterapeutas no período de setembro a outubro de 2011. A coleta de dados foi realizada através de entrevista com a utilização de um questionário contendo perguntas fechadas com 38 pessoas equivalentes a 50% dos funcionários da referida unidade. Dos participantes entrevistados 58% são técnicos de enfermagem e 53% possuem curso superior completo. Os resultados indicam que 41% lavam as mãos ao realizar procedimento com o paciente e o produto de maior aceitação foi o sabão. Concluímos que a maioria da equipe de saúde não adere ao procedimento conforme as recomendações básicas de higienização das mãos, mesmo com materiais de higiene disponível, necessitando da atuação da educação continuada periodicamente e a conscientização dos profissionais. Palavras-Chave: Lavagem das mãos; Infecção hospitalar; Profissionais de saúde. ABSTRACT This is an observational, descriptive, cross-sectional quantitative study in the ICU of a public hospital, reference centers in Recife-PE, in order to investigate the importance of hand washing by health professionals. The study included employees in the health area, such as nurses, nursing technicians, doctors and physiotherapists in the period from Conceito A 388 Recife n. 2 p.386-417 2011 SUMÁRIO 1 Introdução........................................................................390 2 Objetivos..........................................................................392 2.1Geral.....................................................................392 2.2 Específico..............................................................392 3 Revisão da literatura..........................................................392 4 Metodologia......................................................................399 4.1 Tipo de estudo.......................................................399 4.2Descrição da área....................................................400 4.3População e amostra................................................400 4.4 Critérios de inclusão/exclusão...................................400 4.5 Instrumento para coleta de dados.............................400 4.6Apresentação e análise dos resultados........................401 4.7 Aspectos éticos e legais...........................................401 4.7.1 Riscos e benefícios.......................................401 5 Resultados/Discussão.........................................................401 6 Recomendações................................................................408 7 Considerações finais..........................................................409 Referências.........................................................................410 APÊNDICE A – Instrumento para coleta de dados APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ANEXO A – Protocolo de Pesquisa Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 389 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Keywords: Handwashing; Infection Control; Health professionals. em uti de um hospital público do Recife September to October 2011. Data collection was conducted through interviews using a questionnaire containing 38 closed questions with people equivalent to 50% of employees in the unit. 58% of survey participants are nursing technicians and 53% have a college degree. The results indicate that 41% wash their hands when performing the procedure with the patient and the product was greater acceptance of the soap. We conclude that most of the health team does not adhere to the procedure as the basic recommendations for hand hygiene, even with hygiene materials available, requiring the performance of regular continuing education and awareness of professionals. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 1 INTRODUÇÃO O conceito de infecção segundo Potter e Perry (2009) é a invasão e multiplicação de micro-organismo patogênico em um hospedeiro, resultando numa resposta inflamatória. A ocorrência de infecções nosocomiais decorre da longa continuidade ou procedimentos invasivos, ausência de técnicas assépticas durante a internação, ou até mesmo após a sua alta do hospital. A Infecção comunitária esta presente ou em incubação no ato da admissão do paciente na unidade, proveniente da comunidade. No entanto revelase um grande desafio para a saúde pública, além dos gastos destinados ao tratamento, permanência do cliente afetando o processo no cuidado em saúde e a distância do mesmo do seu trabalho e família (ALVES et. al., 2007). Antigamente a prática da higiene das mãos era um ritual onde ficaria livre de impurezas, ligado mais com exterior e não uma questão de saúde, porém um dos grandes contribuintes para controle das infecções foi Semmelweis, pois tomou conhecimento do ato de lavar as mãos com água e solução clorada entre atendimentos prestados aos pacientes. A percussora da enfermagem Nightingale trouxe a questão do ambiente limpo na contribuição do tratamento das infecções (ALVES et. al., 2007). Historicamente em nosso país a relevância a cerca do conhecimento da infecção hospitalar teve destaque na publicação da Portaria do Ministério da Saúde 196, de 24 de Junho de 1983, pondo em prática as Comissões de infecções hospitalares, onde todas as instituições de saúde devem promover proteção, melhoria dos serviços de saúde, através de normas técnicas que devem ser executadas pelos profissionais de saúde (SANTOS, 2000). A definição para lavagem das mãos segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária é a medida mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação de infecções. Sendo este, um procedimento indispensável para retirar sujeira e micro-organismo (ANVISA, 2007). A importância da higienização das mãos é justificada pela existência Conceito A 390 Recife n. 2 p.386-417 2011 Recife n. 2 p.386-417 2011 391 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Conceito A em uti de um hospital público do Recife de dois tipos de flora microbiana na pele das mãos. A flora transitória fica na camada superficial da pele e é composta por micro-organismo presente em qualquer ambiente trazendo a contaminação por contato. A flora residente encontra-se normalmente na epiderme e sua função é prevenir a colonização da flora transitória, não é comum ocasionar doenças, mas na presença de lesão tecidual pode vir a ocorrer algum processo infeccioso (POTTER; PERRY, 2009). Durante a permanência do cliente no hospital cabe não somente a equipe profissional, mas também a enfermagem, a qual esta diretamente ligada ao cuidado, em incluir medidas que visem prevenir e controlar a disseminação da infecção utilizando medidas assépticas. Uma das medidas simples e econômica é a higiene das mãos, pois baseado em estudos científicos comprovam a sua importância no controle das infecções, por parte dos trabalhadores de saúde, os quais são as principais fontes de disseminação de micro-organismos dentro do ambiente hospitalar (SANTOS, 2002). Pesquisas comprovam que a adoção desta medida minimiza a presença de um agente infeccioso atrelada ao uso de equipamentos de proteção, técnicas assépticas, comprometimento, responsabilidade e conhecimento a cerca do assunto. Diante dessa problemática, analisamos a Enfermagem como um membro que detém habilidades, competência, conhecimento científico, que pode promover educação permanente junto a sua equipe, desta forma prover medidas de prevenção com aplicação de técnicas corretas na assistência, durante a internação visando o mínimo de risco de infecção para o cliente (GOBATTO; LONGHI, 2006). A higienização das mãos é um poderoso antídoto para o controle das infecções hospitalares, entretanto mesmo com a divulgação da prevenção do problema através de cartazes informativos em diversos lugares, a adesão a esta técnica ainda é precária por parte dos profissionais de saúde (NEVES et. al., 2009). Partindo desta realidade, diante do tema as autoras têm como problema de pesquisa qual a frequência da higienização das mãos por profissionais de saúde de uma UTI da rede pública da cidade do Recife? Assim como o objetivo de investigar a importância da higienização das mãos por Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso profissionais de saúde para contribuir na prevenção de infecção, que pode ser evitada com um simples gesto, a higienização das mãos. O tema proposto foi escolhido tomando por base as constantes infecções existentes na unidade de terapia intensiva de um hospital público, onde uma das autoras do estudo trabalha. Espera-se que este estudo contribua como alerta para o controle e prevenção da infecção hospitalar, bem como para a construção do conhecimento na área. 2 OBJETIVOS 2.1 Geral: Investigar a importância da higienização das mãos por profissionais de saúde em UTI de um hospital público do Recife. 2.2 Específicos: Caracterizar a amostra; Observar o número de vezes que os profissionais de saúde higienizam as mãos na UTI; Apontar as causas que favorecem a propagação da infecção hospitalar; Descrever os tipos de infecções hospitalares mais comuns na UTI. 3 REVISÃO DA LITERATURA A higienização das mãos consiste na principal medida de prevenção da transmissão das infecções hospitalares, sua importância é fundamentada na capacidade das mãos de albergar micro-organismos e de transferílos de uma superfície para outra, seja por contato direto, pele com Conceito A 392 Recife n. 2 p.386-417 2011 Recife n. 2 p.386-417 2011 393 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Conceito A em uti de um hospital público do Recife pele, ou indireto, por meio de objetos (SANTOS, 2000). As mãos dos profissionais de saúde são as que carreiam a maior quantidade de micro-organismos de um paciente para outro, para equipamentos ou até mesmo para alimentos, tornando condições oportunas à infecção nosocomial e, consequentemente responsáveis pela maioria das infecções cruzadas (OPPERMANN et. al., 1994). As mãos possuem dois tipos distintos de populações microbianas formadas pelas microbiotas residente e transitória (POTTER; PERRY, 2009). A microbiota residente encontra-se normalmente na epiderme e sua função é prevenir a colonização da flora transitória, não é comum ocasionar doenças, mas na presença de lesão tecidual pode vir a ocorrer algum processo infeccioso (POTTER; PERRY, 2009). Já a microbiota transitória é aquela que fica na camada superficial da pele e é composta por micro-organismo presente em qualquer ambiente trazendo a contaminação por contato. Ao contrário da residente, sua remoção se torna mais fácil através da higienização com água e sabão (POTTER; PERRY, 2009). A higienização das mãos consiste na simples lavagem das mãos utilizando água e sabão ou por meio da fricção com álcool a 70%. A aplicação de água e sabão é aconselhada quando as mãos estiverem notoriamente sujas, nos casos em que houver contato com microorganismos formadores de esporos, após utilizar o banheiro, sendo a aplicação de soluções alcóolicas recomendada para os casos em que elas não apresentem sujidade visível (WORLD HEALTH ORGANIZATION; 2009). De acordo com os autores Andrade e Ferrareze (2006), o uso do sabão tem sua importância na rotina hospitalar, por ser um meio primordial que reduz riscos de contaminação, evita a multiplicação de microorganismos e remove os contaminantes orgânicos e inorgânicos. Para os autores Couto, Pedrosa e Nogueira (1999), a higienização das mãos deve ser a ação de rotina entre as equipes de saúde. Vale lembrar que essa recomendação é datada de muito antes da era bacteriológica, tendo como marco a atuação de Semmelweis. Para os mesmos autores citados acima, em 1847, Semmelweis, Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso um médico Húngaro, evidenciou a importância deste ato na prevenção da infecção hospitalar, mostrando a redução dos casos de febre puerperal, quando se incorporava o procedimento de lavagem das mãos. Seus estudos demonstraram “a primeira evidência científica que a higienização das mãos poderia prevenir a transmissão da febre puerperal” como afirma o autor Santos (2009). Entretanto, foi Semmelweis que introduziu o sabão, escovas e ácido clorídrico na rotina hospitalar. Ele trouxe medidas indispensáveis de controle em sua unidade (higienização das mãos, isolamento dos casos e esterilização de materiais) e o índice de mortalidade das parturientes reduziu para 3% nos meses seguintes após a adesão desses cuidados básicos (FERNANDES AT, 2009). No âmbito da enfermagem, Florence Nightingale caracteriza-se como facilitadora deste processo. Era preconizado que ao se estabelecerem, as doenças provocavam a ruptura da derme e, por conseguinte tornavase porta de entrada para a bactéria. Por ser missão da enfermeira a restauração da saúde, era própria a esta, ações de higiene com a finalidade de se garantir a segurança do cliente e o desenvolvimento de um ambiente terapêutico e seguro (LOBO ML, 2000). Deste modo, verificando os escritos de Semmelweis e Nigthingale como sendo vertentes de execução no campo de prevenção/contágio ressaltase a necessidade de profissionais empenhados no processo saúde/ doença e na promoção de estratégias de fiscalização das infecções nosocomiais (CARRARO TE, 2004). Em 1989, o Ministério da Saúde divulgou o manual “Lavar as mãos” com a finalidade de normatizar um comportamento comum e pouco apreciado no âmbito das unidades de saúde brasileiras, favorecendo aos profissionais de saúde subsídios técnicos relacionados às normas e aos procedimentos para lavar as mãos, tendo em vista a prevenção das infecções hospitalares (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1989). Este manual relata passo a passo a técnica correta de lavagem das mãos voltando a ser salientado em 2007 no manual de higienização das mãos divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2007). A importância dessa prática continua sendo reconhecida pelo Ministério Conceito A 394 Recife n. 2 p.386-417 2011 Recife n. 2 p.386-417 2011 395 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Conceito A em uti de um hospital público do Recife da Saúde que incluiu recomendação para este hábito no anexo IV da Portaria n° 2616 de 12 de Maio de 1998, a cerca do Programa de Controle das Infecções Hospitalares nas instituições de assistência à saúde do país (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998). O mais novo manual mostra as indicações para a execução desta prática de higienização, diferenciando-as de acordo com o uso de água e sabão (nos casos em que não apresentem sujidade visível ou contaminadas com sangue ou quaisquer outros fluídos corporais; ao começar e finalizar o turno de trabalho; antes e após o uso do banheiro; preparar refeições; manusear medicamentos e entrar em contato com paciente contaminado) e uso de preparações alcoólicas (ao começar e finalizar contato com o paciente e retirada de luvas, antes de executar condutas assistenciais e manejar dispositivos invasivos; antes de calçar luvas para inserir algum dispositivo invasivo quando este não exigir preparo cirúrgico; após risco de proximidade com fluidos corporais; quando houver troca de um sítio corporal contaminado, para outro, limpo, durante o cuidado ao paciente e depois do contato com materiais inanimados e áreas adjacentes ao paciente (ANVISA, 2008). O mesmo manual editado em 1989 sugeri as seguintes etapas de desenvolvimento da prática de higienização simples das mãos: retirar jóias, pulseiras e relógios, abrir a torneira e molhar as mãos, evitando tocar na pia; evitar o uso de água excessivamente quente ou fria, com a finalidade de evitar o ressecamento da pele; adicionar em quantidade suficiente sabão líquido na palma da mão. Realizar a fricção em todo o segmento da mão abrangendo palmas, dorso, interdigitais, dorso dos dedos, polegares, polpas digitais e punhos; enxaguá-las removendo os resíduos de sabão, no sentido dos dedos para os punhos, protegendo para que as mãos ensaboadas não toquem a torneira. Para concluir, prosseguir a secagem das mesmas com papel toalha descartável, começando pelas mãos e procedendo em direção aos punhos; em seguida desprezar o papel toalha na lixeira apropriada a lixo comum. A duração da conduta é de mais ou menos 40 a 60 segundos (ANVISA, 2008). Segundo Correa et. al., (2001), na maioria das vezes, essa técnica se torna ineficaz, devido ao esquecimento de algumas etapas desse Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso procedimento, pelo excesso de serviço, havendo preocupação com a quantidade e não com a qualidade dos serviços prestados, desenvolvendo assim as infecções hospitalares. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), Infecção Hospitalar (IH) é a infecção adquirida, institucional ou nosocomial, após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (ANVISA, 2000). Segundo David (1998) é designada pelo surgimento, após 48 horas de internação hospitalar, dizendo-se precoce as infecções que aparecem nas primeiras noventa e seis horas e tardias quando a mesma se encontrar em desenvolvimento de colonização microbiana por patógenos hospitalares. Desde a publicação da Lei do Ministério da Saúde N° 9.431, DE 06 de Janeiro de 1997, é de responsabilidade de todos os hospitais brasileiros constituírem uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), com o objetivo de elaborar o Programa de Controle de Infecções (PCI), definido como um conjunto de ações desenvolvidas e deliberadas sistematicamente. Esse programa tem como finalidade minimizar o máximo possível à ocorrência e gravidade das infecções hospitalares, beneficiando o hospital na qualidade dos serviços prestados (ANVISA, 2000). A legislação brasileira, através da RDC 50/2002, determina as ações mínimas a serem desenvolvidas visando à redução da ocorrência das infecções relacionadas à assistência a saúde e as normas e projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Essas normas reforçam a finalidade da lavagem das mãos como o ato de maior relevância na prevenção e controle das infecções em serviços de saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por meio da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, também tem se esforçado no preparo de diretrizes e estratégias de introdução de medidas, tendo em vista a adesão deste hábito de lavagem das mãos (BRASIL, 2007). As infecções hospitalares são as complicações que mais ocorrem em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Os índices dessas infecções nessas unidades mostram porcentagens de 25% a 30% confrontado com 5% a 10% dos pacientes de demais áreas de internação (HUDAK et. al., Conceito A 396 Recife n. 2 p.386-417 2011 Recife n. 2 p.386-417 2011 397 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Conceito A em uti de um hospital público do Recife 1997). Segundo Machado (1998), a ocorrência de infecção apresentou estar diretamente relacionada à duração da própria assistência médica, a manipulação da equipe de enfermagem e a duração do paciente na unidade de terapia intensiva. De acordo com Sarria (1994), diversos fatores aumentam o número de casos de infecção nosocomial numa unidade de terapia intensiva. Há aqueles relativos ao paciente, como por exemplo, os transplantes, imunodepressões, queimaduras, choque, terapia com esteróides, etc. e aqueles relativos aos procedimentos aos quais os pacientes dessa unidade estão expostos. Além dos fatores clínicos, (feridas abertas, queimaduras, traumas e outros), técnicas terapêuticas (cateterismo vesical, cirúrgias, traqueostomias, ventilação mecânica, entre outros), as mãos dos profissionais de saúde se não forem corretamente higienizadas, podem contribuir no aumento do risco dessas infecções (SANTOS, 2008). Com relação à utilização de métodos invasivos de diagnóstico e tratamento os fatores de risco estão relacionados ao uso de cateteres, ventilação invasiva, nutrição parenteral e uso indiscriminado de antibiótico, histamina e betabloqueadores (DAVID, 1998; SALOOJEE; STTENHOFF, 2000). Estudos mostram que os tipos de infecções hospitalares mais comuns em unidades de terapia intensiva são: a sepse relacionada ao cateter vascular, sendo esta, a causa mais importante de bacteremia nosocomial correspondendo a 40% das bacteremias que ocorrem em uma UTI. Sucedendo a sepse ao cateter vascular, as infecções do trato urinário representam a segunda maior causa de infecção hospitalar, atingindo uma média de 35-45% do total das infecções, relacionadas à sondagem vesical de demora e por fim a pneumonia nosocomial, atingindo uma média de 24% das infecções em UTI, sendo parte dela relacionada à ventilação mecânica, e (PEDROSA, T.M.G, 1999). De acordo com Souza et. al., (2008), essas infecções não compõem apenas um problema de saúde pública, mas também um problema de ordem social. Para Giunta e Lacerda (2006), estão ligadas com o desenvolvimento Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso social e sua forma de compreensão do processo saúde/doença. Os prejuízos dessas infecções trazem um encarecimento do atendimento, ao passo que aumenta a demanda terapêutica (gastos com antibióticos), do tempo em que o paciente fica internado no hospital e a morbimortalidade. De acordo com o Ministério da Saúde, esses custos são classificados em: custos diretos aqueles ligados aos gastos dos pacientes com infecção hospitalar; indiretos, resultantes da morbidade, como afastamento do trabalho e da vida social, sequela deixada por alguma doença ou mesmo morte e os custos intangíveis, aqueles que não podem ser avaliados economicamente, pois incluem os transtornos provocados pela dor, isolamento social, pesar e pelo sofrimento experimentado pelo paciente dentro do hospital (SILVA, 2000; CAVALCANTI; HINRICHSEN, 2004). Porém não se trata apenas de reduzir custos, mas sim, reduzir agravos aos pacientes já que uma infecção hospitalar pode ser extremamente traumática ou até mesmo fatal (FREITAS MR et. al.,1997). Na prática diária de um profissional de saúde há muitos procedimentos passíveis de contaminação das mãos necessitando o hábito da lavagem antes e após a sua realização (PITTET D et. al., 1999). Porém o que leva muitas vezes a não adesão deste simples ato de eficácia comprovada, segundo pesquisas recentes, são a ausência de motivação, carência ou inadequação de pias ou dispositivos de álcool junto aos leitos, ausência de materiais como sabão e álcool além de toalhas de papel e lixeiras, reações cutâneas devido à aplicação rotineira dos produtos recomendados, falta de tempo devido ao grande número de tarefas a serem realizadas, irresponsabilidade e falta de conhecimento a cerca da grande importância das mãos como principal veículo de transmissão de micro-organismos (NEVES ZCP et. al.,2006; OLIVEIRA AC, 2007). Com isso, diversos órgãos normatizadores mostram recomendações em relação a produtos, técnicas e frequência da higienização das mãos para serem seguidas pelos profissionais de saúde, mostrando a relação entre a adesão a esta prática e a diminuição da infecção. Porém, a adesão a esta prática continua sendo baixa, provando que essas informações não estão alcançando o seu maior objetivo, que é a Conceito A 398 Recife n. 2 p.386-417 2011 4.1 Tipos de estudo Trata-se de um estudo observacional, descritivo, de caráter quantitativo com delineamento transversal. Para Polit, Beck e Hungler (2004, p.164), “em um estudo quantitativo o delineamento de pesquisa apresenta as estratégias que o pesquisador Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 399 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde 4 METODOLOGIA em uti de um hospital público do Recife mudança de comportamento (TIPPLE, et. al., 2007; ANVISA, 2008;). Acredita-se que para a educação acontecer de modo constante é indispensável o aperfeiçoamento permanente para que o progresso e desenvolvimento do indivíduo sejam completos, visto que a ação educativa é um método dinâmico. Assim o indivíduo terá como determinar os seus pensamentos e suas necessidades de forma inovadora (PACHECO HA, 1999). Estudos apresentaram a maior eficácia de algumas estratégias de educação para se conseguir a desejada mudança de comportamento (SANTOS, et.al., 2008). Programas de educação continuada, tais como campanhas periódicas de estímulo a prática de higienização das mãos, estimulam os profissionais de saúde a higienizar as mãos reduzindo assim os índices de infecção. Porém, a manutenção da adesão desta prática apresenta um desafio, visto que após algum tempo, os índices regressam aos patamares anteriores (SETO WH, 1995; SANTOS IBC, et. al., 1998; FÁZIO JJ, et. al., 2000). O sucesso das medidas preventivas e de controle depende da interação, da compreensão e aplicação das mesmas por toda a equipe de saúde, no exercício de suas atividades (PEREIRA MS; MORYIA TM, 1995). Porém, sabe-se que quanto maior for à aprendizagem, mais duradoura ela será tornando-se um ato de transformação na prática diária. O aprendizado deve estar em harmonia com a realidade para que haja modificação de nossos valores, conceitos e comportamentos (BERBEL, 1998). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso planeja adotar para desenvolver informações precisas e interpretáveis”. Ainda de acordo com Polit, Beck e Hungler (2004), a pesquisa descritiva tem como finalidade observar, descrever e documentar os aspectos da situação, e os estudos transversais envolvem coleta de dados em um ponto do tempo, onde sua principal vantagem é que são econômicos e fáceis de controlar. 4.2 Descrição da área O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (PROCAPE) situado no bairro de Santo Amaro na cidade do Recife, do estado de Pernambuco, sendo esta uma instituição pública. O hospital dispõe de 174 leitos, caracterizando-se como hospital de grande porte e alta complexidade, apresenta uma estrutura física formada por unidades de internações especializadas em cardiologia clínica e cirúrgica pelo SUS, atendendo a população da região metropolitana do Recife, do interior do Estado de Pernambuco, bem como regiões que não dispõe desses serviços. A UTI localiza-se no sétimo andar do hospital e dispõe de 13 leitos destinados ao atendimento de pacientes adultos. Esta unidade possui uma equipe multidisciplinar que trabalha em busca da recuperação e bem estar dos pacientes sendo compostos por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, e demais membros da equipe de enfermagem. 4.3 População e Amostra A população deste estudo foi composta por 76 sujeitos, sendo médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e fisioterapeutas. A amostra foi do tipo intencional com 50% dos sujeitos. 4.4 Critérios de inclusão/exclusão Foram considerados elegíveis todos os profissionais de saúde que estiveram de plantão e excluídos os profissionais da saúde que estavam em período de férias, licença e atestado. 4.5 Instrumentos para a coleta de dados Conceito A 400 Recife n. 2 p.386-417 2011 De início, a tabulação foi feita manualmente, os dados processados em micro computador, no programa Microsoft Word 2010, apresentados quantitativamente, através de gráficos e tabelas, analisados com estatística descritiva. 4.7 Aspectos éticos e legais No primeiro momento, o projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Osvaldo Cruz (HUOC) e do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco havendo aprovação através do protocolo n° 061/11, sendo precedido do Protocolo de Pesquisa autorizando a realização da pesquisa na instituição (ANEXO A). Para a coleta dos dados os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE-B). 4.7.1 Riscos e benefícios De acordo com a resolução 196/96 o estudo proposto incorreu em risco mínimo, visto que não foi realizado nenhum procedimento envolvendo pacientes, entretanto, trouxe inúmeros benefícios, como os de aumentar os conhecimentos científicos para a área da saúde em especial a da enfermagem. 5 RESULTADOS/DISCUSSÃO Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 401 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde 4.6 Apresentação e análise dos resultados em uti de um hospital público do Recife Os dados foram coletados por um questionário fechado construído pelas autoras do estudo contendo perguntas referentes à higienização das mãos (APÊNDICE-A) e através da observação durante a rotina de trabalho dos profissionais de saúde que higienizaram as mãos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Participaram do estudo 38 profissionais da área de saúde, correspondendo a 50% dos funcionários da UTI, dos quais a maioria é da equipe de enfermagem e do sexo feminino. Na tabela 1 estão os resultados referentes à escolaridade e a profissão. Tabela 1. Distribuição da caracterização do nível de escolaridade e profissão. Recife-PE, ago. e set., 2011. Características N =38 Nível de instrução Ensino Médio Completo Curso Superior Incompleto Curso Superior Completo Profissão Enfermeiro Técnico em Enfermagem Médico Fisioterapeuta % 12 06 20 31% 16% 53% 10 22 01 05 26% 58% 3% 13% Observa-se que o maior número de participantes foi de técnicos de enfermagem com 58%, seguido por enfermeiros com 26%. Dos entrevistados 53% têm curso superior completo e 16% curso superior incompleto o que demonstra uma população com ensino de 3° grau. Porém há necessidade de acrescentar o assunto em questão nas Universidades e Escolas técnicas de saúde e promover curso de atualização nas unidades de saúde, sendo essas, sugestões que podem aumentar à adesão a higienização das mãos. (MENDONÇA et. al., 2003). Conceito A 402 Recife n. 2 p.386-417 2011 Analisando o gráfico 1, observa-se que 41% dos entrevistado responderam que higienizam as mãos ao realizar procedimentos com o paciente, porém a maioria esquece de lavar as mãos ao assumir o plantão, ao término do plantão e ao administrar medicações. Estes achados divergem com o estudo realizado por Mendonça, quando afirma que 66% dos enfermeiros lavaram as mãos ao entrar na unidade e que os técnicos de enfermagem, enfermeiros e fisioterapeutas realizaram o procedimento de higienizar as mãos em 100% (MENDONÇA et. al., 2007). Segundo Correa et. al., (2001), a falta de higienização das mãos muitas vezes é negligenciada pela preocupação em dar conta do serviço a todo custo, realizando procedimentos sem qualidade e assim prejudicando muitas vezes a recuperação esperada do paciente. O Manual do Ministério da Saúde (1989) tem orientações para prevenir a infecção hospitalar, mesmo assim os profissionais mantêm uma atitude passiva em relação ao assunto. Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 403 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde em uti de um hospital público do Recife Gráfico 1. Distribuição em porcentagem dos sujeitos da pesquisa, em relação as situações que higienizam as mãos. Recife-PE, ago. e set., 2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Gráfico 2. Distribuição em porcentagem dos profissionais da equipe de saúde, em relação à higienização das mãos pela técnica básica. Recife-PE, ago. e set., 2011. No gráfico 2, a maioria dos profissionais de saúde cerca de 66% responderam que higienizam as mãos pela técnica básica, havendo divergência entre a prática e a coleta de dados. Concluímos que não há rotina de lavar as mãos sempre que necessário. A técnica correta refere-se aos cuidados que se deve ter para remover ou reduzir micro-organismos patogênicos existentes nas mãos e evitar a sua recontaminação. Deve-se fazer uso de sabonete líquido, ensaboar as mãos por aproximadamente 40 segundos e friccionar todas as faces, espaços interdigitais, articulações, unhas e extremidades dos dedos, enxugar as mãos e fechar a torneira com papel toalha. Pesquisas apresentam fatos de que quanto maior a necessidade para higienizar as mãos menos se higieniza, principalmente quando se trata de pacientes debilitados (PESSOA-SILVA, et. al., 2005). Estudo realizado por Mendonça sobre a adesão dos profissionais de saúde em 2001, Goiânia (GO), acharam que os auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos em sua maioria lavam as mãos corretamente, porém fonoaudiólogo, fisioterapeuta, técnico de Conceito A 404 Recife n. 2 p.386-417 2011 No gráfico 3, em relação à retirada de objetos pessoais, como, anéis, aliança, relógio e pulseira, 63% afirmaram que retiram estes objetos durante a técnica de lavagem das mãos, porém o que foi observado não justifica as respostas dos funcionários, pois ao lavar as mãos não retiraram em nenhum momento. Porém foi observado que a unha curta prevalece e é uma aliada na prevenção de acúmulo de sujidades. Para lavar as mãos na técnica se faz necessário à retirada de adornos e a manutenção de unhas curtas, atitudes que elimina o risco de contaminação. O estudo realizado por Scheidt e Carvalho (2006), 84% da amostra estudada não retirou adornos durante o plantão, com isso facilitou a proliferação de micro-organismo e aumentou o número de infecção hospitalar, faltando assim conscientização por parte dos profissionais de saúde. Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 405 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Gráfico 3. Distribuição dos profissionais, quanto a retirada de jóias, relógio e unhas curtas ao higienizar as mãos. Recife-PE, ago. e set., 2011. em uti de um hospital público do Recife laboratório e técnico de RX não lavam corretamente, e que no plantão noturno prevalece a realização incorreta da técnica de lavagem da das mãos.(MENDONÇA, et. al.,2003). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Ao perguntar sobre o tempo gasto na execução da higienização das mãos aos participantes da entrevista, todos responderam aleatoriamente desconhecendo o assunto. O Manual Lavar as mãos do Ministério da Saúde, (1989) informa que o tempo médio necessário para lavar as mãos é de 40 a 60 segundos e a fricção de cada região da mão é o suficiente para remover a microbiota transitória. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2007), a higienização deve ocorrer antes e após qualquer contato com o cliente, seja na realização procedimentos invasivos ou não, antes de calçar a luva e após sua retirada. Pela observação realizada na unidade, os trabalhadores não estão aptos para lavar as mãos na frequência recomendada, necessitando assim, da atuação dos enfermeiros como educadores e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) para melhor instruir e orientar principalmente os técnicos de laboratório, de RX e do banco de sangue que na maioria das vezes esquece de lavar as mãos ao realizar procedimentos com o paciente. Gráfico 4. Distribuição em porcentagem dos produtos de maior aceitação pela equipe de saúde para higienizar as mãos. Recife-PE, ago. e set. 2011. Observa-se no gráfico 4, que o produto de maior aceitação na unidade Conceito A 406 Recife n. 2 p.386-417 2011 Recife n. 2 p.386-417 2011 407 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Conceito A em uti de um hospital público do Recife pesquisada foi o sabão com 55% dos resultados, seguido de clorexidina a 4% e de acordo com o guia do Centers for Disease Control and Prevention (CDC,2002) a recomendação é usar o sabão neutro e água e na ausência de pias o álcool a 70%. Nos estudos realizados por Neves, há relato de baixa adesão da higienização das mãos, mesmo na presença dos principais materiais como água e sabão (NEVES, et. al., 2006). A higienização das mãos consiste na simples lavagem das mãos utilizando água e sabão ou por meio da fricção com álcool a 70%. A aplicação de água e sabão é aconselhada quando as mãos estiverem notoriamente sujas, nos casos em que houver contato com micro-organismos formadores de esporos, após utilizar o banheiro, sendo a aplicação de soluções alcoólicas recomendado para os casos em que as mãos não apresentem sujidade visível (WORLD HEALTH ORGANIZATION; 2009). No entanto Semmelweis introduziu o sabão, escovas e ácido clorídrico na rotina hospitalar, ele trouxe medidas indispensáveis de controle em sua unidade como a higienização das mãos, isolamento dos casos e esterilização de materiais com estas medidas o índice de mortalidade das parturientes reduziu para 3% nos meses seguintes após a adesão desses cuidados básicos (FERNANDES AT, 2009). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Gráfico 5. Fatores relacionados à baixa adesão da higienização das mãos. Recife-PE, ago. e set., 2011. De acordo com o gráfico 5, o que leva a baixa adesão da higienização das mãos é o esquecimento com 43%, comprovando a falta de conscientização dos profissionais da saúde. A literatura aponta que as dificuldades encontradas para se prevenir a infecção hospitalar é causada pela carga excessiva de trabalho e falhas na medida de precaução como também o uso de luvas que transmite uma falsa segurança e a falta de higienização das mãos ao desprezar as luvas (GIROU E, et. al., 2004). 6 RECOMENDAÇÕES • Reforço das instituições de ensino sobre a importância da prática de higienização das mãos durante a formação dos profissionais da área de saúde; • Educação continuada dos profissionais de saúde para que haja mudança da prática profissional e esta realidade seja revertida; • Reduzir os índices de infecção hospitalar através do estabelecimento de normas e rotinas que favoreçam a lavagem das mãos durante as atividades laborais; • Uso de cartazes estilizados fixados em locais estratégicos, como forma de alerta e incentivo à higienização das mãos; • Publicação dos dados obtidos neste estudo em palestras e congressos, com a finalidade de alertar sobre o alto índice de infecção nosocomial devido à baixa adesão de higienização das mãos; • Distribuição do número de pias ao longo dos setores a fim de facilitar o acesso á higienização das mãos garantindo assim uma maior adesão a esta prática. Conceito A 408 Recife n. 2 p.386-417 2011 divulgação dos resultados dos trabalhos científicos e a sensibilização da equipe multidisciplinar, visando a co-responsabilização de todos pela qualidade da assistência prestada. E assim, espera-se com este estudo, cooperar para a produção de um conhecimento que possibilite o desenvolvimento de práticas reflexivas e capazes de subsidiar uma maior compreensão e adesão ao processo de higienização das mãos, além de construir um conhecimento compartilhado. Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 409 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde Este estudo verificou objetivar a frequência da higienização das mãos e analisar a técnica utilizada pelos profissionais de saúde da UTI de um hospital público do Recife, mostrou baixa adesão à higienização das mãos, tanto prévia como posteriormente aos procedimentos de rotina realizados pela equipe, tais como: ao assumir o plantão, ao término do plantão e ao administrar medicamentos. Apesar de ser um ato tão simples e de grande importância, a higienização das mãos é e, continuará sendo um desafio para os controladores de infecção, pois a resistência dos profissionais em realizá-la permanece. Todos esses fatos remetem à reflexão sobre o compromisso, a responsabilidade e a ética desses profissionais para com o paciente e sua profissão. Embora tenham ciência dos danos que pode causar a não realização, ou não cumprimento da técnica recomendada para a higienização das mãos, tais profissionais negligenciam o direito do paciente de receber uma assistência livre de danos. Na UTI, o paciente por se encontrar debilitado, está mais exposto a agentes infecciosos e, dependentes de profissionais que garantam a sua segurança e bem-estar. Por isto é necessário incentivar as ações que possam contribuir e promover a capacitação dos profissionais, com em uti de um hospital público do Recife 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso REFERÊNCIAS ALVES, Alessandra Nara Faria; COUTINHO, Raquel Machado Cavalca; DUARTES, Celso Alvares; MORAES, Rodolfo Eulâmpio de; PAULA, Magda Pereira de. Conhecimento da enfermagem na prevenção de infecção hospitalar. Revista Inst. Ciênc. Saúde, 2007; 25 (4): 365-72. ANDRADE, D.; FERRAREZE, M. V. G. ; SANTOS, L.S.; MORAES, C. M.; FREIRE, E.; YOKO ITO , I. Uso de sabões e detergentes em serviços de saúde: novos contextos, outros olhares? The use of soaps and detergentes in health services: new contexts, others points of view? Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, USP. Nov. 2006. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Higienização das Mãos em Serviços de Saúde. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2007. ANVISA. 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( ( ( ( ( ( ( ) De 10 a 20 segundos ( ) De 40 a 60 segundos Os profissionais de saúde estão aptos para lavar as mãos na frequência recomendada? ( ) Sim ( ) Não 8. Qual produto possui maior aceitação para higienizar as mãos? ( ) Clorexidina a 4% ( ) Álcool a 70% Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 415 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde 2. Nível de instrução: 1° grau incompleto 1° grau completo 2° grau incompleto 2° grau completo Nível superior incompleto Nível superior completo em uti de um hospital público do Recife 1. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ( ) Sabão ( ) Triclosan a 1% 9. O que leva a baixa adesão da higienização das mãos? ( ( ( ) Esquecimento. 10. ( ( ( ( ) Falta de materiais. ( ) Falta de tempo. ) Nenhuma das alternativas. O que favorece a propagação da infecção hospitalar? ) Falta de medicação. ) Higienização das mãos inadequadas. ) Administração irregular de antibiótico. ) Todas alternativas. APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA Título do projeto: A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde em UTI de um hospital público do Recife. Orientadora: Renata de Miranda Instituição a que pertence os pesquisadores: Faculdade São Miguel Telefone para contato: (81) 2128-2580 O objetivo do estudo proposto é investigar a importância da higienização das mãos por profissionais de saúde em UTI de um hospital público do Recife. Os dados serão coletados de maneira observacional, utilizando-se um questionário contendo perguntas fechadas. Os dados aqui coletados serão utilizados apenas para fins acadêmicos como a elaboração do Trabalho da Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem, artigos científicos e apresentações em congressos. Sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você poderá recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não implicará em prejuízo em sua relação com o pesquisador, ou com a instituição que forneceu os seus dados. Suas respostas serão tratadas de forma sigilosa, isto é, em nenhum momento será divulgado Conceito A 416 Recife n. 2 p.386-417 2011 ___________________________ Entrevistador ____________________________ Entrevistador ___________________________ Orientadora ____________________________ Testemunha _________________________ Testemunha Endereços: CEP: Rua Arnóbio Marques 310, Santo Amaro F: 31841460 Josevânia Maria Gomes F: (81) 88609322E-mail: [email protected] Thalyta Lins Borba F: (81) 88645823E-mail: [email protected] Aloizio Soares Cardoso Filho F: (81) 91137569E-mail: [email protected] Renata de Miranda Correia F: (81) 92386646E-mail: [email protected] Conceito A Recife n. 2 p.386-417 2011 417 A importância da higienização das mãos por profissionais de saúde ______________________________________ Entrevistado em uti de um hospital público do Recife o seu nome em qualquer fase do estudo. As informações coletadas serão utilizadas apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos ou publicações científicas, porém preservando a identidade de seus participantes. Sua participação não incorrerá em nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. O estudo se constitui em risco mínimo para a amostra como preconiza a Resolução 196/96, porém os resultados trarão inúmeros benefícios como os de aumentar os conhecimentos científicos para a área da saúde. Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de acordo em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento, sem sofrer qualquer punição ou constrangimento. Recife, ____ de____________ de 2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM LUCICREIDE RODRIGUES DA SILVA PAULA CRISTIANE DE ARAUJO FARIAS A INCIDÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT NA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM DUAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL PÚBLICAS DO RECIFE. RECIFE 2011 LUCICREIDE RODRIGUES DA SILVA PAULA CRISTIANE DE ARAUJO FARIAS A INCIDÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT NA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM DUAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL PÚBLICAS DO RECIFE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pelas alunas Lucicreide Rodrigues da Silva e Paula Cristiane de Araujo Farias, à Coordenação do Curso como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em Enfermagem. ORIENTADORA Prof° Renata de Miranda Correia, mestranda RECIFE 2011 LUCICREIDE RODRIGUES DA SILVA PAULA CRISTIANE DE ARAUJO FARIAS A INCIDÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT NA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM DUAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL PÚBLICAS DO RECIFE. Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito __ em __/__/____. Banca Examinadora ___________________________________________________ Profaº Renata de Miranda Correia (Mestranda) Presidente Conceito A 418 Recife n. 2 p.418-458 2011 AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus pelo dom da vida, aos nossos familiares pela paciência e estímulo dado em nossa caminhada, mesmo sentindo nossa falta em momentos ímpares; aos colegas pela cumplicidade, amizade e força em momentos difíceis e aos mestres que nos orientaram e impulsionaram neste novo caminho que escolhemos trilhar. Agradecemos também e de forma especial à professora Dalvanira Tavares por sua disponibilidade e contribuição com nossas pesquisas. RESUMO O presente estudo investigou a incidência da Síndrome de Burnout (SB) na equipe de enfermagem em duas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal públicas do Recife, bem como definiu a SB, descreveu as manifestações clínicas de maior existência entre os profissionais de enfermagem e os fatores predisponentes que muitas vezes dão início à sua instalação. Participaram do estudo cinquenta e nove profissionais de enfermagem, no período de outubro e novembro de 2011, que responderam ao questionário de dados sóciodemográficos, seguido de três questões relacionadas a fatores predisponentes para a SB, acrescido de dezoito questões sobre manifestações clínicas e o Maslach Burnout Inventory (MBI) de Cristina Maslach, adaptado para o Brasil em 2001, o qual é composto por vinte e duas questões. Houve prevalência do gênero feminino, com faixa etária predominante entre 26 a 31 anos, com extremos de idade de 26 e 59 anos. Dos profissionais entrevistados setenta e um vírgula dois por cento não praticam nenhum tipo de atividade física. Quanto às horas dedicadas ao lazer, trinta e nove por cento, dedicam entre 6 a 12 horas, com extremos de nenhuma hora semanal (dez vírgula um por cento) e igual valor para os que dedicam acima de 30 horas semanais. De acordo com a análise dos resultados não houve incidência da síndrome, porém alguns dos profissionais estudados encontram-se em risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Palavras-Chave Síndrome de Burnout na enfermagem.Síndrome de Burnout.Estresse ocupacional.Síndrome do Esgotamento Profissional.Qualidade de vida e Qualidade de Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 419 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. Dedicamos nosso trabalho aos nossos esposos e filhas, pela compreensão de nossas ausências; aos profissionais que colaboraram respondendo aos questionários; à nossa orientadora e todos que direta e indiretamente nos ajudaram. Especialmente dedicamos a todos aqueles profissionais que buscam, através do conhecimento científico, promover progresso e benefícios à saúde mental dos profissionais da área da saúde. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso vida dos profissionais de enfermagem. Abstract The current study focused on the incidence of Burnout syndrome (SB) in nursing staff in two government neonatal intensive care units of Recife, as well as defined SB and described the most common clinical manifestations of it among nurses and predisposing factors that very often cause the process of installation. Study participants were fifty-nine nurses, between October and November 2011, who answered a questionnaire of socio-demographic data, followed by three questions related to predisposing factors for SB plus eighteen questions about clinical manifestations and the Maslach Burnout Inventory (MBI) Christina Maslach, adapted to Brazil in 2001, which consists of twenty-two questions. There was a prevalence of females, predominantly aged between 26 and 31 years, with extremes of the age of 26 and 59 years. Out of the professionals interviewed, seventy-one point two percent do not practice any physical activity. As for the hours devoted to leisure, thirty-nine percent spend between 6 to 12 hours, with no extremes of weekly hours (ten point one percent) and equal value for those who spend over 30hours a week. According to the analysis of the results there was no incidence of the syndrome, but some of the professionals studied are at risk of developing the Burnout syndrome. Keywords: Burnout syndrome in the nursing.Burnout of syndrome.Occupational stress.Proffessional syndrome.Professional Depletion.Quality of life and quality of life of nursing professionals. Lista de abreviaturas e siglas CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CID-10 – Classificação Internacional das Doenças – 10 CISAM – Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros D – Despersonalização EE – Exaustão Emocional HBL – Hospital Barão de Lucena MBI – Maslach Burnout Inventory RP – Realização Profissional SB – Síndrome de Burnout TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UTI-N – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal UTIs-N – Unidades de Terapia Intensiva Neonatal QV – Qualidade de Vida Conceito A 420 Recife n. 2 p.418-458 2011 1 Introdução......................................................................................421 2 Objetivos........................................................................................424 2.1 Geral...........................................................................................424 2.2 Específicos...................................................................................424 3 Revisão da literatura.........................................................................424 3.1 Definição......................................................................................424 3.2 Incidência.....................................................................................426 3.3 Sintomas.....................................................................................427 3.4 Fatores pré-disponentes.................................................................428 3.5 Consequências..............................................................................429 3.6 Prevenção....................................................................................429 3.7 Instrumentos jurídicos...................................................................430 4 Procedimentos metodológicos............................................................431 4.1 Tipo de estudo..............................................................................431 4.2 Descrição da área.........................................................................431 4.3 População e amostra.....................................................................431 4.3.1 Critérios de inclusão...................................................................432 4.3.2 Critérios de exclusão...................................................................432 4.4 Instrumento de coleta de dados......................................................432 4.5 Operacionalização da coleta de dados..............................................433 4.6 Aspectos éticos e legais..................................................................433 4.6.1 Riscos e benefícios.....................................................................433 4.7 Apresentação e análise dos resultados.............................................433 5 Análise dos resultados .....................................................................434 6 Considerações finais .......................................................................447 7 Recomendações .............................................................................448 Referências........................................................................................449 APÊNDICE-A: Instrumento para coleta de dados.....................................452 APÊNDICE-B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .....................453 ANEXO A: Instrumento para coleta de dados (MBI)................................454 ANEXO B: Termo de autorização para pesquisa......................................455 ANEXO C: Carta de Anuência do CISAM.................................................457 ANEXO D: Termo de Anuência do HBL..................................................458 1. INTRODUÇÃO O sistema capitalista, o qual baseia-se no acúmulo de bens em parceria com o avanço da informática e da tecnologia tem conseguido proporcionar uma verdadeira revolução nos meios de produção, no sistema de comunicação e no estilo de vida do ser humano. O avanço tecnológico tem sido um aliado imprescindível no processo Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 421 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. SUMÁRIO Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso produtivo, pois proporciona às empresas grande expansão produtiva e lucros exorbitantes. No entanto, para o trabalhador, houve um grande dano; no aspecto físico, por conta das cargas horárias abusivas, condições precárias de trabalho e diminuição do lazer; no aspecto mental, pelo desgaste emocional e psicológico que o estilo de vida proporciona (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). Pois, sabe-se que o ser humano é uma dualidade, onde funcionam em conexão o corpo e a mente, portanto, algo que traz mudança no corpo reflete diretamente na mente e vice-versa. Sendo assim o estresse cotidiano produz doenças psicossomáticas, então para alcançar o equilíbrio o homem busca a utilização de recursos psicológicos protetores, só que o uso constante destes recursos trazem como resultado distúrbios psico-sociais (JODAS; HADDAD, 2008). As organizações tornaram-se mais complexas por conta de uma reestruturação do sistema de produção, isso, portanto, passou a ter uma repercussão nas relações trabalhistas, levando a problemas como instabilidade no emprego, aumento de produtividade com menos recursos e uma maior atenção na relação com o cliente, como também aumento de exigências com relação ao desempenho do profissional e maior exigência no que diz respeito à qualificação, principalmente no setor de serviços (BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006). Para Santana (2001 apud BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006, p. 34), “Estas demandas são ainda maiores nos serviços de saúde em decorrência da ênfase na nobreza da missão dessas organizações e da busca por preceitos éticos e racionalidade técnica”. Além dos problemas complexos que são próprios do exercício profissional do trabalhador da saúde, como: cargas horárias e escalas extensas, o trabalhador ainda precisa encontrar equilíbrio para lidar com a dor e o sofrimento (JODAS; HADDAD, 2008). Portanto, todas essas problemáticas laborais juntamente com o estilo de vida agitado que o cotidiano impõe, a falta de exercício físico, o excesso de informações e preocupações causa no ser humano o estresse que ao se tornar crônico caracteriza-se Burnout (GOULART et al., 2010). Em 1974, começaram as pesquisas sobre Síndrome de Burnout (SB), inicialmente nos Estados Unidos, hoje em todo o mundo. Tudo começou Conceito A 422 Recife n. 2 p.418-458 2011 Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 423 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. a partir do artigo Staff burnout do psicólogo Herbert J. Freudemberger, daí então, o tema está sendo pesquisado até os dias de hoje. O termo burnout vem do inglês e significa “queimar até a exaustão” (BENEVIDES-PEREIRA, 2004, grifo do autor). Para Maslach, Schaufeli e Leiter (2001 apud CARLOTTO; CÂMARA, 2007, p. 326), “[...] a SB tem sido definida como um fenômeno psicossocial que emerge como uma resposta crônica dos estressores interpessoais ocorridos na situação de trabalho”. Apesar dos estudos sobre a SB datarem de meados da década de 70, não existe ainda uma única definição sobre burnout, porém, sabe-se que a SB é a resposta a estressores laborais crônicos (JODAS; HADDAD, 2008) que tende a piorar com a cobrança excessiva, a desumanização com o trabalhador, carga horária exaustiva e a falta de uma boa qualidade de vida (SILVA; CARLOTTO, 2008). Também chamada Síndrome do Esgotamento Profissional pelo Ministério da Saúde do Brasil (2001), a SB caracteriza-se por três elementos centrais que ocorrem sequencialmente, como especifica Maslach e Jackson (1986), como: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização profissional (SILVA; CARLOTTO, 2008). A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-N), por ser um local de grande tensão, onde existe uma cobrança por parte dos pais, do gerente e da própria equipe, visando a melhora do cliente, propicia o estresse laboral crônico e associado a isso, tem-se a instabilidade da saúde dos recém-nascidos, os frequentes alarmes, a demanda e sobrecarga de trabalho elevada, favorecendo o adoecimento da equipe de Enfermagem. Sendo assim, o tema foi de grande relevância, pois possibilitou não só o conhecimento sobre a Síndrome de burnout (SB), como também, alerta quanto ao risco de incidência da SB na equipe de Enfermagem. Sendo assim, a investigação sobre a SB serviu como embasamento teórico para o estudo da mesma. Índices elevados de absenteísmo, diminuição do rendimento laboral e licenças médicas freqüentes, são dados que substanciam a constatação da síndrome (BENEVIDES-PEREIRA, 2004) . Pontuados alguns elementos sobre burnout, como a despersonalização, Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso exaustão emocional, e diminuição da realização profissional, isso serve para embasar o comentário de Maslach e Jackson (1981) sobre a síndrome, onde diz que há um declínio no sentimento de competência (CARLOTTO; CÂMARA, 2007). Para tanto, foi utilizado um instrumento para a avaliação da SB entre os profissionais, especificamente o de Enfermagem, o qual foi aplicado neste estudo, complementado por informações que foram mensurados pelas autoras. A severidade e as conseqüências de burnout, tanto para o indivíduo, quanto para a organização é de grande impacto para a sociedade, devendo a empresa buscar identificar e tratar o indivíduo para reintroduzi-lo no meio (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Investigar a incidência da SB entre os profissionais de Enfermagem de duas UTIs-N públicas do Recife. 2.2 Específicos - Caracterizar a amostra; - Definir a SB; - Descrever as manifestações clínicas da doença. 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Definição A primeira definição de burnout se deu por um psicólogo chamado Herbert J. Freudemberger, no ano de 1974, baseado em um estudo feito em uma clínica de reabilitação para viciados na cidade de Nova York nos Estados Unidos. Onde ele percebeu que funcionários queixavamse, entre outras características, de que se sentiam insensíveis aos Conceito A 424 Recife n. 2 p.418-458 2011 Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 425 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. problemas apresentados pelos pacientes, pelo fato dos mesmos não terem interesse em seguir o tratamento. Então a essas características observadas nos funcionários, Freudemberger chamou de burnout (MOREIRA et al., 2009, p. 1559). O termo burnout é uma expressão inglesa e significa “queimar até a exaustão”, ou seja, é um colapso que se segue após o desgaste de toda energia disponível. Como afirmam Schaufeli e Ezmann (1998 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2004, p. 36) burnout “[...] é uma expressão utilizada tanto em textos eruditos como o de Sheakespeare, assim como em gíria de rua, como para se referir a aquele que se consumiu pelas drogas”. A Síndrome de Burnout (SB) é um processo de agravamento e continuidade de um estresse que não foi resolvido. Existem quatro concepções teóricas para defini-la: clínica, sociopsicológica, organizacional e sócio-histórica. No entanto, a mais utilizada no contexto atual é a sociopsicológica (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). Na concepção psicológica, a teoria mais usada é a sociopsicológica de Maslach e Jackson (1986 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2004, p. 36) “[...] em que o burnout é referido como uma síndrome multidimensional constituída por exaustão emocional, desumanização e reduzida realização pessoal no trabalho”. Burnout está associado aos problemas crônicos de adaptação relacionados às exigências do trabalho que são freqüentes, mas não se tornam reconhecidos pelo trabalhador, então vai havendo um acúmulo que se reflete posteriormente em sintomas múltiplos, onde predomina o cansaço emocional ou exaustão emocional, a qual constitui o primeiro traço da síndrome, podendo ser de ordem física, psicológica ou as duas ao mesmo tempo. Ela se dá quando o indivíduo sente que não possui mais energia para desempenhar suas atividades laborais e perde a satisfação e a eficiência no trabalho (MOREIRA et al., 2005). Para Maslach (1978) isso normalmente acontece por uma sobrecarga de trabalho que se une à insatisfação do cliente, por um serviço mal prestado, que se reflete no trabalhador como uma ausência de feedback positivo, levando-o ao sofrimento psicológico e Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso posteriormente a exaustão emocional (CASTRO; ZANELLI, 2007). Após a exaustão emocional se dá a despersonalização, atualmente chamada também de cinismo por Maslach, Jackson e Leiter (1976). Trata-se, portanto, de um comportamento frio e distante do profissional, tanto em relação aos colegas quanto aos clientes. Onde os contatos tornamse impessoais e são desprovidos de afetividade e o profissional tornase rígido, cínico e desumano. Segundo Maslach (1976, apud SOUZA; SILVA, 2002, p. 39) “o profissional afetado pelo burnout, não é mais capaz de lidar com as emoções das pessoas que atende e começa a tratá-las de forma desumanizada”. Essa fase é considerada como a fase defensiva da síndrome (BENEVIDES-PEREIRA, 2004). Em seguida à despersonalização, como descreve Maslach e Jackson (1981) ocorre a baixa realização pessoal no trabalho que corresponde a terceira e última fase da síndrome, onde o profissional passa a sentir-se infeliz e insatisfeito com os seus procedimentos profissionais, sente-se incompetente, isolado e sem motivação para interagir com os colegas e clientes (CARLOTTO; CÂMARA, 2007). Nesta fase o indivíduo passa a avaliar-se de forma negativa em relação ao seu desempenho profissional (SOUZA; SILVA, 2002). Shaufeli e Buunk (2003 apud CASTRO; ZANELLI, 2007, p. 21) dizem da mesma forma que Maslach que: O desenvolvimento de burnout dá-se como um processo no qual o indivíduo, em função do estresse crônico laboral, é levado à exaustão emocional e, por conseqüência, à despersonalização como estratégia de defesa e, finalmente, para a diminuição da realização pessoal. 3.2 Incidência A SB ocorre em profissionais que se encontram em contato direto com pessoas, como por exemplo, o professor ou com profissionais que lidam com situações estressantes e de limite entre vida e morte, como médicos, enfermeiros, policiais e bombeiros, bem como em pessoas expostas a situações profissionais extremas como controladores de tráfego aéreo, corretores da bolsa de valores, entre outros, assim como fora do âmbito profissional podendo ser observado nas donas de casa Conceito A 426 Recife n. 2 p.418-458 2011 3.3 Sintomas São múltiplos os sintomas associados à SB, os quais podem ser divididos em quatro classes sintomatológicas: física, quando o profissional sente fadiga constante, problemas relacionados ao sono, dores musculares, cefaléias, enxaquecas, perturbações gastrointestinais; psíquicas, caracterizada pela falta de atenção, falta de concentração, sentimento de solidão, alterações de memória, impaciência, ansiedade e frustração; comportamental, identificada quando o trabalhador apresenta certas condutas como: negligência no trabalho, irritabilidade, falta de concentração, relações conturbadas com os colegas, descumprimento dos horários de trabalho e incapacidade para relaxar, precisando assim, de longos intervalos para descanso; e defensiva, caracteriza-se pela tendência de isolamento do trabalhador como também sentimento de onipotência, cinismo, absenteísmo e perda de interesse pelo trabalho (JODAS; HADDAD, 2009). Contudo, nem todas as pessoas portadoras da síndrome possuem todos os sintomas mencionados, também os sintomas podem se apresentar de maneira diferente em momentos distintos na mesma pessoa (BENEVIDES-PEREIRA, 2004). Enfim, como diz Maslach, Shaufeli e Leiter (2001 apud CASTRO; ZANNELI, 2007, p. 20) “[...] a síndrome de burnout se desenvolve em função de um desequilíbrio entre os valores individuais almejados pelos Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 427 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. (MOREIRA et al., 2009). Sendo assim, como afirma Maslach (1994) a SB ocorre em profissionais que desempenham funções relacionadas aos cuidados humanitários (BORGES et al., 2002). Não deixando, porém, de ocorrer em qualquer indivíduo que se expõe ao estresse constante. Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2001) a SB, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional é uma conseqüência de um estresse crônico relacionado ao trabalho, a qual afeta especialmente o trabalhador que exerce cargos na área de serviços ou cuidados e que se encontra em contato direto e constante com os usuários (SILVA; CARLOTTO, 2008). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso sujeitos e a realidade organizacional na qual não encontram lugar”. 3.4 Fatores pré-disponentes São vários os fatores que levam a ocorrência da SB. Segundo Gil-Monte e Pieró (1997) esses fatores podem ser classificados como desencadeantes e facilitadores, onde, por desencadeantes, entendemse como fatores estressores de caráter crônico, vivenciados no trabalho, como: superlotação, excessos de ruídos, carga horária extensa, demanda elevada de atribuições e espaço físico inadequado (FOGAÇA et al., 2008); por facilitadores, como caracteres pessoais do indivíduo que dão margem à instalação dos sintomas referentes a SB (BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006). Pode-se destacar ainda como fator desencadeante, no caso da área de saúde, o estresse gerado pelo cotidiano dos profissionais, os quais precisam lidar constantemente com situações que exigem decisões rápidas, como no caso das emergências, assim como limite entre vida e morte que exigem do profissional um grande equilíbrio emocional. A literatura ressalta esta questão dos danos causados aos profissionais que trabalham em unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal, por conta da sobrecarga física e mental a que estes profissionais são submetidos, por conta das relações interpessoais entre profissionais e familiares, que muitas vezes é responsável por reações depressivas nos profissionais (FOGAÇA et al., 2008). Um outro aspecto, enfatizado por Pines (1993 apud CASTRO; ZANELLI, 2007), chama a atenção para um outro fator desencadeante que é o fato do profissional que escolheu sua profissão com o intuito de ajudar pessoas, salvar vidas, trabalhar com motivação, perspectiva de transformação e vontade de ajudar o próximo, no contato com os problemas laborais, como: dificuldade no relacionamento com os colegas; falta de autonomia no trabalho; sobrecarga entre outros, este profissional passa a apresentar fracasso psicológico que conduz a um sentimento de incompetência e ineficácia (CASTRO; ZANELLI, 2007). Como refere Gil-Monte e Pieró (1999 apud CASTRO; ZANELI, 2007) os problemas relacionados ao trabalho juntamente com seus Conceito A 428 Recife n. 2 p.418-458 2011 os profissionais atingidos pela síndrome são pessoas que mergulham fundo em seu trabalho, não sabem dizer não, se ocupam com várias coisas ao mesmo tempo e têm compulsão para o trabalho, retirando dele grande parte de sua satisfação pessoal. 3.5 Consequências A SB tem sido alvo de atenção especial por parte tanto das comunidades científicas internacionais como das entidades governamentais, das empresas e sindicatos, por conta dos problemas que a mesma produz no trabalhador, causando prejuízos às organizações, como o absenteísmo; a queda na qualidade dos serviços; problemas nas relações interpessoais e manifestações psicossomáticas nos profissionais. Sendo assim, o profissional afetado desenvolve mal suas funções, trazendo, portanto, prejuízos para as empresas ou organizações da qual faz parte e também para si próprio (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). 3.6 Prevenção Sem dúvida, o aspecto mais importante para a prevenção é a informação. Pois só através do conhecimento a respeito dos agentes deflagradores, os mediadores e os sintomas, os profissionais e as organizações se tornarão aptos a solucionar o problema de forma mais eficaz. Através do conhecimento, a respeito da síndrome, o profissional poderá buscar maneira de se prevenir, através de: exercícios físicos e Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 429 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. elementos estressores conduzem o indivíduo a um abalo psicológico que leva à diminuição da realização pessoal, convertendo assim o estresse em exaustão (CASTRO; ZANELLI, 2007). Como fatores facilitadores podem-se enfatizar a questão pessoal, inerente às próprias características do indivíduo, como: entusiasmo, dedicação, motivação, idealização e perfeccionismo (SOUZA; SILVA, 2002). Estes caracteres, no entanto, tornam o profissional mais susceptível e quando somadas às situações de estresse, gerada pelo cotidiano laboral, leva-o ao burnout (BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006). Segundo França (1987 apud SOUZA; SILVA, 2002), Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso mentais; realização de mudança de hábitos; buscar opções de lazer. No entanto, quando a síndrome já se encontra instalada, o conhecimento servirá para buscar maneira de amenizá-la (BENEVIDES-PEREIRA, 2004). Quanto à organização, cabe ao setor responsável, atuar juntamente com o profissional que apresenta predisposição à SB, buscando assim, aplicar ações preventivas direcionadas a evitar a instalação do problema. Porém, caso o problema já se encontre instalado, cabe a instituição, juntamente com o profissional, buscar soluções para tentar resolvê-lo (BENEVIDES-PEREIRA, 2004). Como afirmam Maslach (1997 apud BORGES et al., 2002) e Leiter (1999 apud BORGES et al., 2002) a ação preventiva mais eficaz é a promoção dos valores humanos (BORGES et al., 2002). 3.7 Instrumentos jurídicos Como enfatizam Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) estudos sobre a questão apontam que apesar de burnout ter uma grande relação com fatores pessoais e ambientais, é no trabalho, portanto, que se encontram suas características mais expressivas (SILVA; CARLOTTO, 2008). Alguns países têm realizados importantes estudos e pesquisas a respeito da SB, porém não têm uma lei ou decreto específico que acoberte o profissional afetado pela síndrome, diferente do Brasil, que através do decreto nº 3.048/99, regulamenta a SB como uma doença laboral e respalda o profissional afetado e afastado de suas funções laborais o direito de ter depositado, pelo empregador, mensalmente, o seu Fundo de Garantia e ao retornar as suas atividades laborais, este, tenha garantida a sua estabilidade no emprego por um ano, contudo, isto não ocorre caso o profissional seja afastado com diagnóstico de depressão ou estresse ao invés de burnout. No Brasil, o Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999, aprovou o Regulamento da Previdência Social e, em seu Anexo II, trata dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais. O item XII da tabela de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (Grupo V da Classificação Internacional das DoençasCID-10) cita a “Sensação de Estar Acabado” (“Síndrome de Burnout”, “Síndrome do Conceito A 430 Recife n. 2 p.418-458 2011 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Tipo de estudo Tratou-se de um estudo do tipo transversal, de abordagem quantitativa onde foi utilizado o Maslach Burnout Invetory (MBI) de Cristina Maslach, validado no Brasil em 2001 por Benevides-Pereira (ANEXO A) e outro questionário feito pelas autoras. 4.2 Descrição da área O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Barão de Lucena (HBL), denominado de instituição A. A UTIN encontra-se no quarto andar do hospital e recebe recém-nascido de alto risco. Sua capacidade é de oito leitos e nela trabalha uma equipe multidisciplinar. O estudo também foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), denominado de instituição B. A UTIN encontra-se no primeiro andar da maternidade e tem capacidade para receber oito recém-nascidos de alto risco, porém, encontra-se na maioria dos dias com dez a onze leitos ocupados. Nela também existe uma equipe multidisciplinar, visando reestabelecer a saúde dos recém-nascidos. 4.3 População e amostra Este estudo teve população igual a 73 profissionais, porém a amostra foi realizado com 59 profissionais, sendo, 17 enfermeiros, 39 técnicos de enfermagem e 3 auxiliares de enfermagem, que compõem as equipes de Enfermagem lotadas nas Unidades de Terapia Intensiva do HBL e CISAM. Os demais profissionais encontravam-se de férias, licença médica ou recusaram-se a responder o questionário. Fizeram Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 431 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. Esgotamento Profissional”) como sinônimos do burnout, que, na CID-10, recebe o código Z73.0 (TRIGO; TENG; HALLAK, 2007, p. 224). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso parte da pesquisa aqueles que aceitaram os termos de inclusão no estudo. 4.3.1 Critérios de inclusão Foram adotados como critérios de inclusão: Trabalhar na UTIN do HBL e do CISAM; Aceitar e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); Responder aos questionários. 4.3.2 Critérios de exclusão Estar de férias ou em gozo de licença prêmio, gestação ou para tratamento de saúde. 4.4 Instrumento para coleta de dados Foram utilizados para o presente estudo o MBI de autoria de Cristina Maslach adaptado e validado no Brasil por Benevides-Pereira em 2001 (ANEXO-A), este apresenta 22 questões, onde as questões de 1 a 9 identificam o nível de exaustão emocional (EE), de 10 a 17 a realização profissional (RP) e as de 18 a 22 mensuram a despersonalização (D). Para a análise da prevalência da SB, seguimos o modelo de Ramires et al 1996 apud Moreira et al 2009 e o de Jodas e Haddad 2008, sendo diagnosticada a SB, quando ocorre nível alto de exaustão emocional e despersonalização; e nível baixo para realização profissional. Sendo classificada pelo Núcleo de Estudos Avançados sobre a Síndrome de Burnout, 2001, como nível baixo para EE (0 a 15), RP (0 a 33) e D (0 a 2); nível médio para EE (16 a 25), RP (34 a 42) e D (3 a 8); nível alto para EE (26 a 54), RP (43 a 48) e D (9 a 30). Também foi aplicado um questionário feito pelas autoras, complementado pelos dados sociodemográficos e clínicos para caracterização da amostra, bem como, alguns fatores pré-disponentes para manifestação da Síndrome (APÊNDICE-A). Para responderem aos questionários sobre fatores pré-disponentes, manifestações clínicas e o Conceito A 432 Recife n. 2 p.418-458 2011 4.5 Operacionalização na coleta de dados Foram aplicados dois questionários para a equipe de Enfermagem do HBL e CISAM no período de outubro a novembro de 2011, após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do CISAM em 28/06/2011 de acordo com a resolução 196/96 e com os critérios para inclusão no estudo. 4.6 Aspectos éticos e legais No primeiro momento, o projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) para possível aprovação, sendo precedido do envio de uma carta à direção dos hospitais solicitando autorização para que a coleta de dados fossem realizada nas instituições, a qual também foi encaminhada ao CEP. 4.6.1 Riscos e benefícios O estudo ora proposto segundo a Resolução 196/96 incorreu em risco mínimo, entretanto, trará inúmeros benefícios, considerando que contribuirá para a construção do conhecimento de Enfermagem na área específica da Saúde do Trabalhador, alertando quanto ao risco da incidência da Síndrome de Burnout na equipe de Enfermagem. 4.7 Apresentação e análise dos resultados Os dados coletados foram inseridos em planilha eletrônica do programa Word da Microsoft Windows objetivando sua análise posterior. Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 433 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. MBI, os profissionais foram orientados a seguir o modelo de pontuação da escala tipo Likert, com escore de zero a seis, usando: 0 - nunca, 1uma vez ao ano ou menos, 2 - uma vez ao mês ou menos, 3 - algumas vezes ao mês, 4 - uma vez por semana, 5 - algumas vezes por semana e 6 - todos os dias. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A partir de então, foram dispostos em tabelas e gráficos e analisados à luz da literatura pertinente. 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS TABELA 01. Sexo da amostra. Recife/PE, out./nov., 2011. SEXO n % FEMININO 56 95 MASCULINO 3 5 Mostra a tabela 01, que a equipe de enfermagem é composta predominantemente pelo sexo feminino, com 95% dos indivíduos. Oliveira, Mininel e Felli em sua pesquisa sobre qualidade de vida de graduandos de enfermagem do 8° semestre no ano de 2007, encontraram valores similares aos encontrados nesta pesquisa, onde, (92,31%) eram de sexo feminino, demonstrando que o trabalho em enfermagem ainda é predominantemente feminino. Os resultados encontrados pelas autoras da atual pesquisa configuram a preferência do gênero pelo cuidar do outro. Fato este, advindo do processo histórico e educacional feminino da nossa cultura. Idade n % 26-31 19 32,2 32-37 17 28,8 38-43 12 20,3 44-49 6 10,1 50-55 2 3,4 56-61 1 1,7 Não informou Total 1 59 1,7 100 Conceito A 434 Recife n. 2 p.418-458 2011 Idade n % 26-31 19 32,2 32-37 17 28,8 38-43 12 20,3 44-49 6 10,1 50-55 2 3,4 56-61 1 1,7 Não informou Total 1 59 1,7 100 A partir da tabela 02 é possível observar que faixa etária predominante é de 26 a 31 anos. Os resultados encontrados por Jodas e Haddad, 2009, sobre SB em trabalhadores de enfermagem de um pronto socorro de hospital universitário no Paraná, diferem dos encontrados neste trabalho, com faixa etária entre 30 a 39 anos. Para as autoras deste estudo, esta faixa etária justifica-se pela idade adulta, onde as pessoas já adquiriram autonomia e encontram-se na fase de maior produtividade econômica e estão inseridas no mercado de trabalho através de uma profissão formal. TABELA 03. Estado civil e Filhos. Recife/PE, out./nov., 2011. Estado civil n % Solteiro Casado Viúvo Divorciado Total Filhos 27 25 3 3 59 n 45,8 42,4 5,1 5,1 100 % Sim Não Não informou Total 33 21 5 59 55,9 35,6 8,5 100 Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 435 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. TABELA 02. Idade da amostra. Recife/PE, out./nov., 2011. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A tabela 03 aponta que o predomínio das variáveis solteiro e com filhos. Silva e Carlotto 2008, em estudo sobre a SB em trabalhadores da enfermagem de um hospital geral de Porto Alegre/RS, encontraram valores similares, onde houve predomínio de solteiros (55%) e com de filhos (52,7%). Podemos correlacionar os resultados do estudo atual, com a dupla jornada, exercida pelo gênero feminino, conciliando os afazeres domésticos e cuidados com os filhos, caracterizando sobrecarga de trabalho. TABELA 04. Função, Titulação e Nova Formação. Recife/PE, out./nov., 2011. Função n % Técnicos Enfermeiros Auxiliares Total Titulação 39 17 3 59 n 66 28,8 5,1 100 % Ensino médio Especialização Graduação Mestrado Total Frequenta faculdade ou curso Não Sim Total 28 19 10 2 59 n 47,4 32,2 16,9 3,4 100 % 31 28 59 52,5 47,4 100 Mostra a tabela 04, o predomínio de técnicos de enfermagem com ensino médio, embora constatado que alguns migraram para graduação e especialização. Jodas e Haddad 2009, encontraram predomínio de auxiliares de enfermagem (57,4%) discordando do achado nesta pesquisa. Goulart et al 2010, encontraram valores similares em sua Conceito A 436 Recife n. 2 p.418-458 2011 TABELA 05. Situação de trabalho e Tempo de profissão. Recife/PE, out./nov., 2011. Situação de trabalho n % Estatutário 54 91,5 Temporário 5 8,5 Total 59 100 Tempo de profissão n % 05 a 10 26 44,1 11 a 16 12 20,3 17 a 22 8 13,5 23 a 28 3 5,1 29 a 34 1 1,7 35 a 40 1 1,7 Não informado 8 13,5 Total 59 100 Os resultados em relação à situação de trabalho e tempo de profissão são apresentados na tabela 05, onde houve o predomínio dos profissionais em situação de trabalho estatutária, com tempo de serviço entre 05 a 10 anos. Jodas e Haddad 2009, encontraram em seus estudos 95% da amostra sendo estatutário e Silva e Carlotto Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 437 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. pesquisa (59,4%) de profissionais com ensino médio. No estudo de Campos e Baccari, 2011, sobre a intersubjetividade no cuidado à Saúde Mental, realizada com auxiliares e técnicos de enfermagem, os autores apontam a desigualdade salarial brasileira, como sendo, forte aliado para a não adesão dos entrevistados aos estudos, tendo os mesmos que possuírem outro vínculo, não sobrando tempo e dinheiro, para investir em estudos. Justifica-se o predomínio do resultado exposto, pelo fato da equipe de enfermagem constituir-se de maior percentual técnicos de enfermagem, sendo necessária escolaridade mínima de nível médio. A baixa remuneração leva a necessidade por mais de um vínculo, não sobrando tempo extra para a frequentar cursos extracurriculares ou Graduação. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2008, aponta que os entrevistados de sua pesquisa, possuem tempo médio de profissão entre 6,58 a 9,45 anos, corroborando com nossa pesquisa. O vínculo estatutário fortalece a busca do profissional pela estabilidade, deixando-os mais seguros e com isso, protegendo-os do estresse causado pela insegurança, que os vínculos temporários produzem. Em relação ao tempo de profissão notamos que com o passar dos anos o profissional adquire segurança nos procedimentos realizados, assim como aprende a lidar com estresse advindo do próprio ambiente de trabalho, com isso, desenvolve meios de proteção para o não desenvolvimento de Burnout. TABELA 06. Horas neste emprego/período de trabalho/outro vínculo e período que exerce esta atividade. Recife/PE, out./nov., 2011. Horas neste emprego 30h Não informou Total Período de trabalho Plantão/noite Plantão/dia Plantão dia/noite Manhã Total Outro vínculo Sim Não Total n 58 1 59 n 23 20 15 1 59 n 48 11 59 % 98,3 1,7 100 % 39 33,9 25,4 1,7 100 % 81,3 18,6 100 Período que exerce esta atividade Plantão/noite Manhã Plantão/dia Manhã e tarde Plantão dia e noite Tarde Manhã e plantão noite n* % Conceito A 438 19 10 9 8 2 1 1 Recife n. 2 p.418-458 2011 Observa-se na tabela 05 predomínio de 30 horas semanais no 1° vínculo, acarretando, quando somadas ao 2° vínculo carga horária superior entre 41 a 60 horas semanais (45,8%); visto que a maioria possui outro vínculo empregatício. Houve também predomínio, quanto ao período de trabalho, em ambos os vínculos, para o horário noturno em regime de plantão. Lautert, Chaves e Moura, 1999, em estudo sobre o estresse na atividade gerencial do enfermeiro, acharam valores semelhantes (36%) aos encontrados nesta pesquisa, referente ao turno da noite. Corroborando com Souza e Silva 2002, que realizaram estudo sobre a influência de fatores de personalidade e de organização do trabalho no Burnout em profissionais de saúde, encontraram carga horária superior a 46 horas semanais, foi constatado neste estudo, carga horária entre 41 a 60 horas semanais, o que contraria o preconizado pela Constituição Federal Brasileira (44 horas semanais) e o preconizado pelo Conselho de Enfermagem de 40 horas semanais. As horas de trabalho preconizadas para a categoria (enfermagem) de 40 horas semanais, acrescida da necessidade financeira de uma dupla jornada, que possa suprir a necessidade do profissional, sendo obrigado também, a optarem pelo turno da noite, associada aos aspectos peculiares da profissão, como: dor, sofrimento, doenças, turnos ininterruptos, acrescidos de más condições de trabalho e muitas responsabilidades. Todos esses fatores interferem nos aspectos psíquicos e fisiológicos do profissional, comprometendo assim, a saúde do trabalhador e diminuindo, tanto a qualidade de vida, quanto a qualidade dos serviços prestados, expondo assim os profissionais e pacientes a riscos. TABELA 07. O que faz nas horas vagas/horas dedicadas ao lazer/ prática de atividades físicas e n° de vezes por semana. Recife/PE, out./nov., 2011. Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 439 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. * Respostas múltiplas Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Observando a tabela 07, podemos visualizar a preferência pelo lazer nas horas vagas; designados como lazer: dançar, viajar, ir à praia, sair com amigos, ir ao shopping, assistir TV e ir ao cinema. Houve uma significante relevância nas opções: cultura (ler, estudar e ouvir música), dormir e ficar com filhos, família ou em casa. É importante ressaltar que nesta questão poderia ter mais de uma opção por entrevistado. Quanto às horas dedicada ao lazer, 39% dedicam Conceito A 440 Recife n. 2 p.418-458 2011 Após pontuados, os questionários foram expostos em gráficos. Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 441 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. entre 6 a 12 horas, com extremos de nenhuma hora semanal (10,1%) e igual valor para os que dedicam acima de 30 horas semanais. 71,2% dos entrevistados não praticam nenhum tipo de atividade física e dos 28,8% que praticam atividade física, 35,3% fazem caminhadas e com igual valor, musculação; numa freqüência de duas a três vezes por semana (82,3%). Aguiar et al 2009, demonstra em sua pesquisa sobre saúde do trabalhador de enfermagem que atua em centro de saúde, que 87% dos sujeitos entrevistados têm um momento de lazer e apenas 26,48% realizam atividades físicas, confirmando os dados obtidos nesta pesquisa. Apesar da dupla ou tripla jornada de trabalho, os profissionais pesquisados buscam, dedicar algumas horas livres a atividades que lhes proporcionam prazer e descontração. Sendo estas, porém, responsáveis pelo alívio do estresse laboral e como consequência evita a cronicidade desse estresse (SB). Porém chamou-nos a atenção a prevalência do sedentarismo, visto que, a prática de atividade física é de extrema importância para o ser humano, pois, contribui de maneira significante para o bom funcionamento do organismo, aliviando assim, as tensões e proporcionando prazer psíquico e físico, o que leva a uma melhor qualidade de vida. Para as questões relacionadas aos fatores pré-disponentes, manifestações clínicas e o MBI, os profissionais entrevistados foram orientados a responderem seguindo o modelo de pontuação da escala tipo Likert, com escore de zero a seis, como segue o modelo abaixo: 0- nunca 1- uma vez ao ano ou menos 2- uma vez ao mês ou menos 3- algumas vezes ao mês 4- uma vez por semana 5- algumas vezes por semana 6- todos os dias Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 50 1.Atividades desempenhadas exigem mais tempo que um dia de trabalho. 40 30 2.O limite entre a vida e a morte causa perturbação emocional. 20 10 0 3.Valorização e incentivo profissional pela instituição. 0 1 2 3 4 5 6 Gráfico 01. Fatores pré-disponentes. Recife/PE, out./nov., 2011. Observamos no gráfico 01, que 35,6% (21), afirmaram que o tempo é suficiente para realizações das atividades laborais em um dia de trabalho, em contra partida 20,3% (12) dos entrevistados reconhecem que algumas vezes por semana não conseguem dá conta dos afazeres em um dia de trabalho. 32,2% (19) dos profissionais afirmam que uma vez ao ano ou menos, o limite entre a vida e a morte, vivenciados no ambiente de trabalho os deixam perturbados e 22% (13), porém, com escore 2 (uma vez ao mês ou menos) tem a mesma opinião. Quanto à instituição valorizar e reconhecer o trabalho desenvolvido, assim como investir e incentivar o desenvolvimento profissional de seus funcionários, 47,4%(28), percebem que isso nunca acontece e 40,7% (24), afirmam que isso acontece pelo menos uma vez ao ano ou menos. Corroborando com esses resultados, Goulart et al 2010, em seu artigo sobre fatores pré-disponentes da SB em trabalhadores de um hospital público de média complexidade, encontrou valores similares para o item 1, onde 31,6% pontuaram escore 0 e 20,9% escore 5. Em relação ao item 3, o mesmo artigo, mostra semelhança de 29,9%, respondendo que nunca foram valorizados ou reconhecidos pelos trabalhos desenvolvidos, assim como não recebem incentivos para o desenvolvimento profissional. Quanto ao item 2, o artigo, Prazer e sofrimento no trabalho da equipe de enfermagem: reflexão à luz da psicodinâmica Dejouriana, de Martins, Robazzi e Bobroff 2010, afirmam que a angústia gerada pela dor e sofrimento do paciente e Conceito A 442 Recife n. 2 p.418-458 2011 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Cefaléia Dores nos ombros ou nuca Dificuldades com o sono 0 1 2 3 4 5 6 Gráfico 02. Manifestações clínicas. Recife/PE, out./nov., 2011. O gráfico 02, mostra que a maioria dos entrevistados nunca sente cefaléia, dores nos ombros ou dificuldades com o sono, porém, houve uma porcentagem relevante, apontando que há incidência de 22% destes profissionais apresentando cefaléia e 23,7% apresentando Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 443 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. a convivência com a morte levam o profissional ao estresse laboral, diferindo, em parte, dos achados desta pesquisa. Os resultados desta pesquisa apontam que os entrevistados possuem tempo suficiente para o desempenho das atividades diárias, porém, pode-se observar que em contra partida, houve um elevado número de participantes que discordaram deste aspecto, contribuindo para uma sobrecarga geradora de estresse. Tendo a enfermagem que conviver com sentimentos dialéticos como o sofrimento e o prazer, a mesma precisa buscar o discernimento desses sentimentos, o que se faz de grande relevância na conquista do equilíbrio, que proporcionará uma melhor qualidade nos serviços prestados. Associados a isto, é importante a sensibilidades das empresas de reconhecer e valorizar o trabalho da enfermagem, bem como, investir em seu crescimento profissional. Quanto às manifestações clínicas decorrentes do trabalho, foram feitas dezoito perguntas e se elas estivessem relacionadas ao trabalho deveriam ser pontuadas. Sendo assim, a partir da análise dos resultados expomos nos gráficos as seis alterações de maior relevância para este estudo. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso dores nos ombros ou nuca, algumas vezes ao mês e 20,3% apresentam dificuldades com o sono, algumas vezes por semanas. Os estudos realizados por Goulart et al 2010, apontam como sintomas físicos a presença de cefaléias, dores musculares e dificuldades com o sono. Ainda ratificando nossos achados Rocha e Martino 2009, no estudo sobre o estresse e a qualidade de sono do enfermeiro nos diferentes turnos hospitalares, menciona a sobrecarga como fator contribuinte para as alterações no padrão do sono. A enfermagem, por trabalhar constantemente com procedimentos e técnicas que exigem esforços físicos, como: inclinar o corpo, levantar peso e agachar e por não usarem as técnicas corretas de posturas, seja por hábitos ou faltas de mobiliários adequados, tem como conseqüências problemas osteomusculares. Acrescidos a isso, as noites mal dormidas, cargas horárias exaustivas, ruídos excessivos e os problemas organizacionais, acarretam com o decorrer do tempo, dificuldades com o sono e cefaléia. Dando continuidade as manifestações clínicas decorrentes do trabalho, visualizaremos no gráfico seguinte, outras alterações. 35 30 25 Sentimento de cansaço mental 20 Fadiga generalizada 15 Estado de aceleração contínua 10 5 0 0 1 2 3 4 5 6 Gráfico 03. Manifestações clínicas. Recife/PE, out./nov., 2011. Podemos observar no gráfico 03, que houve prevalência, quanto ao sentimento de cansaço mental (20,3), numa freqüência de algumas vezes por semana. Também, pode-se notar a prevalência de fadiga generalizada com escore 2 (23,7%) e 5 (18,6%), embora uma maior Conceito A 444 Recife n. 2 p.418-458 2011 60 50 40 1. Exaus tão Em ocional 30 2. De s pe rs onalização 20 3. Re alização Profis s ional 10 0 Baixo M é dio Alto Gráfico 04. MBI. Recife/PE, out./nov., 2011. O gráfico 04, referente aos resultados do MBI, mostra prevalências para o níveis baixos de exaustão emocional (54,2%) e despersonalização (55,9%); e nível médio na dimensão realização profissional (45,8%). Os estudos realizados por Jofre e Valenzuela apud Fogaça et al 2008, sobre Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 445 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. porcentagem (28,8%), relatem nunca sentirem tal fato. Ainda, porém, com 16,9% e escores 1 e 5 respectivamente, observa-se estado de aceleração contínua alterado, visto porém que 33,9% dos entrevistados nunca apresentam essa alteração. Farias et al 2010, enfatiza em seu artigo sobre caracterização dos sintomas físicos de estresse na equipe de pronto atendimento, como sendo a fadiga um dos sintomas mais apresentados pela sua amostra. Jodas e Haddad 2008, trás em seu artigo, como sendo, entre outros o sentimento de cansaço mental e o estado de aceleração contínua sintomas prevalentes entre os profissionais estudados. Sentimento de cansaço mental, fadiga generalizada e estado de aceleração contínua, são resultantes do estresse crônico e compõem a primeira dimensão da SB, que é a exaustão emocional, onde o trabalhador sente-se desgastado, sem energia e desestimulado. Isto se dá pelo fato do indivíduo não conseguir solucionar o estresse do cotidiano e fatores como alta rotatividade e demandas de serviços e baixas remunerações, que induzem a jornadas intensas de trabalho, acarretando cargas horárias superiores as preconizadas, diminuindo assim o tempo de lazer e a qualidade de vida. Através da aplicação e análise dos resultados do MBI foi possível a construção do gráfico que segue abaixo: Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso fatores que tornam estressante o trabalho de médicos e enfermeiros em terapia intensiva pediátrica e neonatal: estudo de revisão bibliográfica, condiz com os resultados deste estudo, na prevalência, com nível baixo, das dimensões exaustão emocional e despersonalização com 65% da população estudada e discorda dos achados desta pesquisa, encontrando nível alto de realização profissional com 53%. Apesar dos problemas advindos das super lotações, insalubridades, trabalhos noturnos, rotatividades, falta de autonomia, burocracias, ruídos e cargas horárias extensas, entre outros, constatamos baixos níveis de EE e D, caracterizando ausência da SB. Mesmo os achados apontando nível médio para RP, tal fato não configura a presença da síndrome, visto que sua caracterização se dá quando encontramos níveis altos de EE e D; e nível baixo de RP. Embora não havendo incidência da SB, constatamos risco alto em 10,1% dos profissionais pesquisados e encontram-se expostos no gráfico seguinte: 100 80 60 1. Exaus tão Em ocional 40 2. De s pe rs onalização 3. Re alização profis s ional 20 0 Baixo M é dio Alto Gráfico 05. Risco para SB. Recife/PE, out./nov., 2011. O gráfico 05 aponta o risco para o desenvolvimento da SB por 10,1% dos profissionais pesquisados, caracterizados por 100% apresentando nível alto de EE, 50% com nível baixo para RP e D respectivamente e 50% com nível médio para RP e D. Analisado o perfil dos profissionais em risco para o desenvolvimento da SB, foi observado prevalência do gênero feminino (100%), idade média de 30 anos, solteiras (66,6%), sem filhos (66,6%), com mais de um vínculo empregatício (83,3%), acarretando carga horária superior a 60 horas semanais (83,3%), em período noturno (66,6%), com Conceito A 446 Recife n. 2 p.418-458 2011 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os resultados obtidos, constata-se necessária a realização de mudanças organizacionais, por parte das instituições, visando melhores condições de trabalho e reavaliação dos reajustes salariais. Visto que, o atual contexto político e econômico tem como objetivo exclusivo a produtividade, deixando em segundo plano a saúde do trabalhador. No entanto, sabe-se que apesar de todo avanço tecnológico é o homem a matéria prima do desenvolvimento, sendo assim, o mesmo precisa ter condições favoráveis para atingir um equilíbrio físico e mental, podendo, portanto, conduzir de forma digna e humanizada o seu desempenho profissional, caso contrário Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 447 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. tempo médio de serviço de 7 anos e em média de 12 horas dedicadas ao lazer. Goulart et al 2010, afirma ser o gênero feminino mais suscetível à SB por razão da dupla jornada de trabalho a que, geralmente são submetidas, não só por dois empregos mas por afazeres domésticos. Corroborando ainda, o mesmo diz ser o casamento e a presença de filhos fatores de proteção como sendo uma estratégia de enfrentamento de situações de conflitos a agentes estressores (SB), e também afirma que a SB afeta os profissionais mais jovens nos primeiros anos de profissão devido à insegurança do recém-formado frente à realidade encontrada no trabalho. No mesmo estudo Goulart et al 2010, observa a adesão a um outro vínculo empregatício, em razão de baixos salários caracterizando sobrecarga de trabalho, diminuindo tempo de lazer e a qualidade de vida, levando à exaustão emocional que é o início do desenvolvimento da Síndrome de Burnout. O contexto em que a mulher se encontra, onde busca primeiro a sua realização profissional e estabilidade financeira, para poder então construir uma família, confirma os resultados desta pesquisa onde aponta para solteiras, sem filhos e com mais de um vínculo empregatício, acarretando, portanto, cargas horárias extensas e diminuindo seu tempo de lazer e sua qualidade de vida. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso o ser humano tornar-se-á cada vez mais mecanizado, insatisfeito e protagonista de uma sociedade doente, onde o acúmulo de situações estressantes desencadeará doenças psicossomáticas e ocupacionais. Sendo a Síndrome de Burnout uma doença ocupacional de caráter crônico, decorrente do estresse laboral, a mesma precisa ser focada de maneira incisiva e comprometida palas organizações governamentais e instituições, com o objetivo de tornar mais humanizado o trabalho do cuidador, assim como, proporcionar mais prazer, satisfação, compromisso e bem-estar para ele e para os clientes, construindo, portanto, uma sociedade mais humana e saudável. 7 RECOMENDAÇÕES De acordo com os problemas detectados nesta pesquisa, como: dupla jornada de trabalho, baixas remunerações, falta de autonomia, burocracia, tempo reduzido para o lazer, entre outros; constata-se a necessidade urgente de prevenção. Portanto, sabe-se que a maior prevenção é a informação, pois assim o profissional poderá buscar meios de se proteger, como: mudar de hábitos, fazer exercícios físicos, aderir a uma alimentação mais saudável, buscar mais lazer. Assim como, as instituições poderão desenvolver programas e atividades que informem e estimulem os fatores de prevenção da SB. Portanto, caso a doença já se encontra presente no trabalhador, o mesmo sabendo do que se trata, pode buscar ajuda antes que a doença evolua e leve a depressão e morte ou a associação com outras doenças mentais. Sugerem-se como medidas preventivas melhores políticas de saúde para os trabalhadores, diminuição de cargas horárias e melhores remunerações, favorecendo então, a oportunidade de lazer e promovendo uma melhor qualidade de vida. Conceito A 448 Recife n. 2 p.418-458 2011 AGUIAR, D. F. et al. Saúde do trabalhador de enfermagem que atua em centro de saúde. Rev Inst Ciênc Saúde. vol. 27, n. 2, p. 103-8. Campinas, SP 2009. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0104-1894/2009/v27n2/a001.pdf. Acesso em: 10 dez 2011. BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T.. A Síndrome de Burnout. Conferência proferida no I Congresso Internacional sobre Saúde Mental no Trabalho. 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Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso APÊNDICE-A: Instrumento para coleta de dados 1 Dados Sóciodemográficos Data da entrevista:____/____/____ Sexo: ( )F ( )M Idade:_______ Estado civil:____________ Filhos: ( )sim ( )não Quantos:___ Profissão:_____________ Situação de trabalho: ( )estatut. ( )temporário N° horas semanais neste emprego:______ Período de trabalho: ( )M ( )T ( )dia/plantão ( )noite/plantão ( )D/N plantão Titulação: ( )ensino médio ( )graduação ( )especialização ( )mestrado ( )doutorado Tempo de profissão:_________ Você possui outro emprego? ( )sim ( )não Se sim, quantos?__________ Profissão:____________ Que período exerce essa atividade? ( )M ( )T ( )dia/plantão ( )noite/plantão ( )D/N plantão Quantas horas semanais, no total, você dedica ao trabalho? (aproximad.)_____ Quantas faltas justificadas ou não você teve esse mês?____________ Você freqüenta faculdade ou algum curso? ( )sim ( )não Qual?_________ O que você gosta de fazer nas horas vagas?___________________________ Pratica alguma atividade física? ( )sim ( )não Se sim, qual?____________ Quantas vezes por semana?__________ Quantas horas por semana dedica ao lazer? (aproximadamente)___________ Pontue os itens a seguir de acordo com seus sentimentos: Use: 1- 2- 3- 4- 5- 6- 0- nunca uma vez ao ano ou menos uma vez ao mês ou menos algumas vezes ao mês uma vez por semana algumas vezes por semana todos os dias Fatores pré-disponentes Pontuação 1. As atividades que desempenho exigem mais tempo do que posso fazer em um dia de trabalho 2. O limite entre a vida e morte vivenciado no ambiente de trabalho me deixa emocionalmente perturbado Conceito A 452 Recife n. 2 p.418-458 2011 O que você sente decorre do trabalho? (manifestações clínicas) Pontuação 01. Cefaléia 02. Irritabilidade fácil 03. Perda ou excesso de apetite 04. Pressão arterial alta 05. Dores nos ombros ou nuca 06. Dificuldades com o sono 07. Sentimento de cansaço mental 08. Fadiga generalizada 09. Pequenas infecções 10. Aumento no consumo de bebida, cigarro ou subst. químicas 11. Dificuldade de memória e concentração 12. Problemas gastrointestinais 13. Perda do senso de humor 14. Gripes e resfriados 15. Diminuição/ Perda do desejo sexual 16. Ansiedade 17. Desejo de desistir de tudo 18. Estado de aceleração contínua APÊNDICE-B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Autoras: Lucicreide Rodrigues da Silva e Paula Cristiane de Araujo Farias Orientadora: Renata de Miranda Correia Fone para contato: (081) 21282555 -Faculdade São Miguel (081) 92386646 -Renata Miranda (Orientadora) (081) 86080124 -Lucicreide Rodrigues (Autora) (081) 97082215 -Paula Cristiane (Autora) O objetivo do estudo ora proposto é investigar a incidência da Síndrome de Burnout entre os profissionais de Enfermagem de duas UTIs-N públicas do Recife. Os dados serão coletados através de uma entrevista face-a-face, utilizando-se um formulário contendo perguntas abertas, fechadas e mistas. Os dados serão utilizados para elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem. Sua participação é voluntária e você poderá retirar-se do estudo a qualquer momento se assim o desejar. Ele não incorrerá em ônus para você que também não receberá pagamento Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 453 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. 3. Percebo que a instituição onde atuo reconhece e valoriza o trabalho desenvolvido, assim como investe e incentiva o desenvolvimento profissional de seus funcionários Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso pela sua participação. As informações obtidas através do estudo terão caráter sigiloso, bem como será respeitada a privacidade de seus participantes. Elas poderão ser divulgadas em eventos ou publicações científicas, porém preservando a identidade de seus participantes. O estudo se constitui em risco mínimo para a amostra como preconiza a Resolução 196/96, porém os resultados trarão inúmeros benefícios para a Saúde do Trabalhador, alertando quanto à incidência da Síndrome de Burnout na equipe de Enfermagem. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido terá duas vias, ficando uma via com o entrevistador e outra via com o entrevistado. Ao surgirem dúvidas o entrevistado poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, pelo telefone: (081) 31827729. Eu li e compreendi as informações acima descritas e concordo livremente em participar do estudo em questão. Data:___/___/____ -----------------------------------------------------------------------------------------------Entrevistado Entrevistador ___ ___________________________ ___________________________________ Testemunha Testemunha ANEXO-A: Instrumento para coleta de dados (MBI) Pontue os itens a seguir de acordo com seus sentimentos: Use: 0123456- nunca uma vez ao ano ou menos uma vez ao mês ou menos algumas vezes ao mês uma vez por semana algumas vezes por semana todos os dias Maslach Burnout Inventory (MBI) Pontuação 01. Sinto-me esgotado(a) ao final de um dia de trabalho. 02. Sinto-me como se estivesse no meu limite. 03. Sinto-me emocionalmente exausto(a) com meu trabalho 04. Sinto-me frustrado(a) com meu trabalho. 05. Sinto-me esgotado(a) com o meu trabalho. 06. Sinto que estou trabalhando demais neste emprego. 07. Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito estressado(a). Conceito A 454 Recife n. 2 p.418-458 2011 A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. 08. Trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande esforço. 09. Sinto-me cansado(a) quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho. 10. Sinto-me cheio de energia. 11. Sinto-me estimulado(a) depois de trabalhar em contato com os pacientes. 12. Sinto que posso criar um ambiente tranqüilo para os pacientes. 13. Sinto que influencio positivamente a vida dos outros através do meu trabalho. 14. Lido de forma adequada com os problemas dos pacientes. 15. Posso entender com facilidade o que sentem os pacientes. 16. Sinto que sei tratar de forma tranqüila os problemas emocionais no meu trabalho. 17. Tenho conseguido muitas realizações na minha profissão. 18. Sinto que os pacientes culpam-me por alguns dos seus problemas 19. Sinto que trato alguns dos pacientes como se fossem objetos. 20. Tenho me tornado mais insensível com as pessoas desde que exerço este trabalho. 21. Não me preocupo realmente com o que ocorre com alguns dos meus pacientes. 22. Preocupa-me o fato de que este trabalho esteja me endurecendo emocionalmente. ANEXO-B: Termo de autorização para pesquisa Conceito A Recife n. 2 p.418-458 2011 455 Conceito A 456 Recife n. 2 p.418-458 2011 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 2011 p.418-458 n. 2 Recife Conceito A A incidência da Síndrome de Burnout na equipe de enfermagem em duas unidades de terapia intensiva neonatal públicas do Recife. ANEXO-C: Carta de Anuência do CISAM 457 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ANEXO-D: Termo de Anuência do HBL Conceito A 458 Recife n. 2 p.418-458 2011 MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DA SILVA MARIA DILMA DOURADO COSTA SIMONE OLIVEIRA DE MENEZES AS COMPLICAÇÕES DO PÉ DIABÉTICO: UMA REVISÃO DA LITERATURA RECIFE 2008 MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DA SILVA MARIA DILMA DOURADO COSTA SIMONE OLIVEIRA DE MENEZES AS COMPLICAÇÕES DO PÉ DIABÉTICO: UMA REVISÃO DA LITERATURA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do Curso, pelas acadêmicas: Maria da Conceição Ferreira, Maria Dilma Dourado e Simone Oliveira de Menezes, para obtenção do Grau de Bacharel em Enfermagem. Orientação: Prof.: José Cristovam Martins Vieira, Ms. ORIENTADORA PROF. JOSÉ CRISTOVAM MARTINS VIEIRA RECIFE 2008 AS COMPLICAÇÕES DO PÉ DIABÉTICO: UMA REVISÃO DA LITERATURA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade São Miguel na Área de Saúde do Adulto. Banca Examinadora ___________________________________________________ Profª Ângela Maria Leal de Moraes Vieira - 1ª Examinadora ___________________________________________________ Profª Gardênia Conceição Santos de Souza - 2ª Examinadora Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 459 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Agradecimentos À Deus, por permitir nossa existência neste mundo, aqui e agora, junto a todas estas pessoas. Aos nossos anjos de guardar por serem espíritos iluminados, presente em nosso dia-a-dia, sempre nos dando força espiritual nos momentos de tristeza ou dificuldades. Pai homem guerreiro e determinado a ajudar de alguma forma aos seus filhos a quem os ama sem distinção, agradeço pela oportunidade e confiança depositada em mim e espero contribuir com minha realização profissional devo a você esta vitoria obrigada. Mãe, mulher forte, determinada e carinhosa, por ter me ensinado que a vida tem um significado maior do que nossos olhos podem ver. Aos nossos filhos, Diego, Lucas, Karla e Thomas, desculpe-nos a nossa ausência. Foi por amor a vocês. In memoriam, agradecemos a José Alexandre Correia Lima, Miguel Ferreira e Violeta Dourado, pelo amor incondicional. “Nosso encontro estava escrito nas estrelas”. A os irmãos: Carlos, Cláudia, Clayton, Cleivson, Erenilda, Inácia, Israel, Paulo, Petronio Filho e Severina pela compreensão e constante estímulo. A todos os integrantes do grupo de convivência que tornaram possível este trabalho. Nossos encontros foram muito além do relacionamento profissional. Nossa eterna gratidão. A o nosso orientador Cristovam, nosso relacionamento foi maravilhoso. A Coordenadora Angela Leal, pessoa que sempre acreditou em nós, mesmo quando nós tínhamos dúvidas, que nós oportunizou desvelar a dimensão de viver com Diabetes Mellitus. Conceito A 460 Recife n. 2 p.459-522 2011 Este trabalho tem como finalidade abordar sobre as complicações do pé diabético, através de uma revisão da literatura. O pé diabético é um problema que assola pacientes em todo o mundo, onde 40% dos casos estão diretamente relacionadas à isquemia, e muitas vezes levam o paciente a amputação. Este estudo tem como objetivo principal investigar a incidência de complicações do pé diabético, em portadores de diabetes mellitus, onde foi definido o que é pé diabético, apontando os principais fatores de risco acerca do problema, como também identificando as suas complicações. Quanto à metodologia utilizada foi através de revisões de literatura, com a finalidade de auxiliar as enfermeiras e estudantes de enfermagem, avaliando e criticando os estudos de pesquisa em enfermagem, reunindo os conhecimentos a respeito das complicações do pé diabético, como também o auto-cuidado. Os locais coletados dos textos foram através de artigos de dados eletrônicos, baseados, em BVS (Biblioteca Virtual de Saúde), BNDEF (Base de Dados em Enfermagem), SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e BIREME (Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), tendo como critérios para inclusão artigos, simpósios e dissertações a respeito do assunto; os critérios para exclusão deste estudo foram artigos publicados em outro idioma, trabalhos direcionados ao público infantil, e outros trabalhos abordados; o instrumento utilizado englobou os dados de identificação dos textos selecionados, observados nos artigos científicos. Também foram coleados e lidos os textos, identificados e tabulados manualmente, através de figuras e tabelas. Por fim, percebe-se que o profissional de enfermagem explana e compila estudos através da produção do pé diabético, oferecendo subsídios para as ações de prevenção e tratamento dos pacientes. Palavras-chaves: Pé diabético. Auto-cuidado. Artigos científicos. Abstract This work aims to address the complications of the foot diabetic, through a literature review. The diabetic foot is a problem plaguing patients throughout the world, where 40% of cases are directly related to ischemia, and often lead patients to amputation. This study aims to investigate the main the incidence of diabetic foot complications in people with iabetes mellitus, where it was defined what is diabetic foot, pointing the main risk factors about the problem, but also identifying Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 461 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura Resumo Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso its complications. As the methodology was through reviews of literature, in order to assist the nurses and nursing students, evaluating and criticizing the studies of nursing research, bringing together the knowledge about of the diabetic foot complications, but also the selfcare. The local the texts were collected through articles of electronic data, based on VHL (Virtual Library of Health), BNDEF (Database in Nursing), SciELO (Scientific Electronic Library Online) and BIREME (Center of Latin American and Carib of Information in Science Health), with the inclusion criteria for articles, symposia and dissertations about the matter, the criteria for exclusion of Articles were published in another language, work directed child to the public, and other studies discussed, the instrument used included the identification data of selected texts, observed in scientific articles. Were also coleados and read the texts, identified and tabulated manually, using figures and tables. Finally, it is perceived that the professional nursing and explained compiles studies through the production of the diabetic foot, offering subsidies for the actions of prevention and treatment of patients. Key words: Diabetic foot. Self-care. Papers. Sumário 1 Introdução ...................................................................... 2 Objetivos ........................................................................ 2.1 Geral ........................................................................... 2.2 Específicos ................................................................... 3 Revisão da literatura ........................................................ 4 Metodologia .................................................................... 4.1 Tipo de estudo ............................................................. 4.2 Locais onde serão coletados os textos ............................. 4.2.1 Critérios para inclusão ................................................ 4.2.2 Critérios para exclusão ............................................... 4.3 Instrumento ................................................................. 4.4 Análise dos dados ......................................................... 5 Apresentação dos resultados ............................................. 5.1 Dados de identificação dos artigos................................... 5.2 Síntese dos artigos ....................................................... 6 Considerações finais......................................................... 7 Recomendações............................................................... Referências ....................................................................... APÊNDICE-A: Instrumento para coleta de dados ..................... Conceito A 462 Recife n. 2 p.459-522 463 463 463 464 464 467 467 467 468 468 468 468 468 468 473 514 514 515 521 2011 O Pé Diabético, das 120.000 amputações não-traumáticas nos EUA, 45 a 83% estão relacionados ao diabetes. Em 40% desses casos, a causa subjacente está relacionada não a isquemia, mas a neuropatia, como a neuropatia isoladamente não leva a amputação, um melhor rastreamento e instrução dos pacientes sob alto risco são importantes para a diminuição dessa estimativa em um recente estudo, analisamos e determinamos que em 255 pacientes que estavam internados, não foram constatados os pulsos podálicos e muito menos a sensibilidade. Neste caso tanto os profissionais como os pacientes precisam de regras e instruções se querem como objetivo uma evolução diminuída de amputações nos membros inferiores sua perfusão arterial deve ser estabelecida se não estiver presente. Sua infecção deve ser abolida e a glicemia controlada, se for detectada uma úlcera podálica diabética, na hora da cirurgia do pé diabético, temos que observar os efeitos e aumento do peso e suas possíveis lesões, começa com a diminuição da pressão através de mecanismos como: moldes de contato, cadeira de rodas, técnicas de alívio da carga, caso este método não traga resultados satisfatórios, o certo é iniciar com o tratamento cirúrgico para corrigir a deformidade e assim aliviar a dor da pressão, se este suprimento ainda assim não adiantar, neste caso, é recorrer para amputação. Os diabéticos são mais susceptíveis a infecção podálicas devido à diminuição da glicose que é acusada pela carência de insulina circulante, desenvolvendo problemas em vários setores. Esta modificação é a principal causa de complicação nos pés dos diabéticos que incluem a neuropatia, infecção, devido a esse descontrole de glicemia, originam lesões nas extremidades inferiores, havendo uma grande freqüência de casos denominados de “Pé Diabético” (THOMAZ, 1996). Considerando o alto índice de pessoas acometidas pelas complicações denominadas sob o nome de “Pé Diabético”, ocorrência observada pelas autoras na sua prática cotidiana, elas se sentiram motivadas para elaborar o estudo. É importante para a Enfermagem explanar e compilar os trabalhos produzidos sobre o pé diabético e assim poder oferecer subsídios para as suas ações de prevenção e tratamento. 2 Objetivos 2.1 Geral Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 463 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura 1 Introdução Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Investigar, na literatura, a incidência de complicações do Pé Diabético, em portadores de diabetes mellitus. 2.2 Específicos ∗ ∗ ∗ Definir Pé Diabético. Apontar os fatores de risco para o problema. Identificar as suas complicações. 3 Revisão de literatura A abordagem do Pé Diabético se constitui em um grande desafio em todo mundo, principalmente nos países mais pobres, onde se enfrentam muitas dificuldades, desde preconceitos e desconhecimento do assunto. A responsabilidade pelo cuidado ao pé diabético recai sobre todos que estão direta ou indiretamente ligados á assistência ao portador da doença, profissionais de saúde, órgãos formados, organizações governamentais e não governamentais. Reflexão sobre o problema e dar sua parcela de contribuição, sem se preocupar inicialmente com aparelhos e equipamentos, para amenizar o sofrimento com e melhorar a qualidade de vida do diabético, do contrário teremos que conviver com as tragédias das altas taxas de amputações de membros inferiores existente em nosso meio (LOPES, 2003). O Pé Diabético é a situação onde se encontra diminuição de sensibilidade protetora, deformidades, alterações de pontos de pressão plantar e diminuição de fluxo arterial que podem acontecer simultaneamente, ou não, o fato é que cada complicação aumenta a suscetibilidade do membro inferior. É importante lembrar que as infecções no pé são causadas por flora mista, ou seja, por germes gram-negativos, gram-positivos e anaeróbicos (JORGE; DANTAS, 2005). Pode-se observar que, o número de pacientes portadores de Diabetes Mellitus cresce cada vez mais, originando danos e seqüelas como a retinopatia diabética, insuficiência renal terminal, cegueira e amputação de extremidades inferiores. Com o surgimento dessas complicações retinopatia e nefropatia diabética, irão aparecer alterações e comprometimentos do organismo. Para que haja uma diminuição destas complicações é necessário elaborar um plano de cuidados, programas de prevenção, controle da higiene Conceito A 464 Recife n. 2 p.459-522 2011 Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 465 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura e educação, utilizando técnicas de assistência e tratamento para a doença. Um fator importante a ser controlado e que não é muito praticado é o exame do pé e os possíveis calçados. O exame pode prevenir o risco de amputação, que pode ser agravado pelo hábito de fumar. A ação do tabaco é um possível agravante para o surgimento da vasculopatia periférica que determina o “pé em risco no diabetes”. A cronicidade das feridas e suas infecções como a osteomielite são fatores predisponentes para o pé diabético, observar sua cicatrização das úlceras crônicas, seus fatores de risco, controlando as possíveis lesões, através de cuidados de Enfermagem dos pés de curativos, com isso levará uma redução de custos na área, melhorando a qualidade de vida (GAMBA et al., 2004). As complicações do Diabetes que favorecem ao aparecimento de infecções nos pés são: Neuropatia: A neuropatia tipo sensorial leva a diminuição total da dor e pressão. A neuropatia autônoma leva ao ressecamento e aparecimento de fendas e fissuras na pele, já a neuropatia resulta na atrofia do músculo que modifica a e molde pé. Doença Vascular Periférica: A circulação deficiente e incorreta dos membros inferiores favorece uma difícil cicatrização das feridas e prevenindo o surgimento da gangrena. Imunocomprometimento: O aumento do açúcar no sangue compromete a capacidade dos leucócitos de extinguir as bactérias, no diabetes mal controlado há uma diminuição da força para determinada infecções (SMELTZER; BARE, 2005). No Diabetes Mellitus os paciente que apresentam o “Pé Diabético”, este termo é denominado também de mal perfurante Plantar e está relacionado a lesões vasculares, neurológicas e infecções secundarias (PORTO, 2004). Nos pacientes diabéticos observam-se as lesões trópicas, onde não apresenta muito detalhado a isquemia e a infecção, ocorrendo uma lenta cicatrização e geralmente são muito doloridas. Estas infecções causam uma obstrução e espasmos arteríola, seu tamanho é na base da compressão, amenizando a dor e mobilizando os restos celulares, substâncias (DANTAS, JORGE; 2005). O Pé Diabético causa um imunocomprometimento. “As úlceras do pé podem não cicatrizar por causa da reduzida capacidade do oxigênio e nutrientes tentando alcançar o tecido lesado para evitar a disseminação da infecção na planta e tornozelo do pé, às vezes é necessário amputação, debridamentos e o teste do monofilamento.” (SMELTZER; BARE, 2005, p. 896). Têm aumentado o número de portadores de Diabetes Mellitus, originando diversas doenças crônicas envolvendo todo o sistema corporal. Suas complicações mais Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso freqüentes são: doenças vasculares periférica, retinopatia, nefropatia, traumatismo, lesões e cegueira. A neuropatia periférica afeta as mãos e principalmente os pés no caso do Pé Diabético, causando a ausência de sensibilidade e o aumento da dor (BIRNEY, 2005). No Pé Diabético originam-se ulcerações nas polpas digitais e nos locais de pressão da planta dos pés, com bordas nítidas, circulares com presença de secreção purulenta. Esta úlcera é denominada mal perfurante plantar, que apresentam gangrena úmida, acompanhada de dor, edema e secreções e um odor característicos das lesões, cuja pele fica escura e elástica (PORTO, 2005). Segundo Smeltzer e Bare (2005), são fatores de risco para o Pé Diabético: Duração da doença por mais de 10 anos; Idade acima de 45 anos; História de tabagismo; Pulsos periféricos diminuídos; Sensibilidade diminuída; Deformidades anatômicas ou pressões (joanetes, calos, dedos em martelos); História de úlceras de pé ou amputação prévia; Calçados inadequados; Falta de higiene; Desinformação acerca de risco e de cuidados com os pés. A ordem dos eventos no desenvolvimento de uma úlcera de Pé Diabético inicia-se como uma lesão dos tecidos moles do pé, surgimento de feridas entre os dedos, calosidades e bolhas. As lesões não são sentidas pelo paciente portador do Pé Diabético. Quando o paciente não tem o costume de verificar seus pés, esta lesão pode iniciar sem o paciente detectar, seus principais sinais são: vermelhidão, inchaço, drenagem na perna e pé. O exame do pé e as instruções sobre o cuidado nos pés são necessários no ato de cuidar dos pés de alto risco que tendem a desenvolver úlceras (SMELTZER; BARE, 2005, p. 1264). A Diabetes é uma doença antiga, já muito estudada e conhecida pela medicina, mas que persiste gerando inúmeras mortes, complicações, estados de dependência e gastos com a saúde. Uma complicação grave e relativamente comum é a amputação de parte dos membros inferiores em conseqüência a infecções em ferimentos dos pés. A persistência de um alto nível de glicose no sangue durante muito tempo pode causar lesões nos vasos sanguíneos reduzindo a chegada de sangue aos pés. Esta redução da circulação pode enfraquecer a pele, contribuindo para o aparecimento de ferimentos, dificultando sua cicatrização. Além disso, o excesso de açúcar no sangue pode lesar os nervos, reduzindo a capacidade de sentir dor e pressão sobre o pé. Sem essas sensações é fácil desenvolver Conceito A 466 Recife n. 2 p.459-522 2011 4 Metodologia 4.1 Tipo de estudo A finalidade e o uso das revisões de literatura visa ajudar as enfermeiras, os estudantes de enfermagem e o corpo docente a avaliar criticamente os estudos de pesquisa em enfermagem, além de ensiná-los a conduzi-las alem de pesquisar e reunir conhecimentos sobre um tópico (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). As revisões de literatura proporcionam aos leitores os antecedentes para a compreensão do conhecimento atual diante de um tópico e esclarecer a importância do novo estudo, servindo como função integradora, permitindo o acúmulo de conhecimentos (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). Neste estudo é realizada a revisão de artigos científicos, oriundos de pesquisas quantitativas ou qualitativas, ou seja, através de uma busca profunda na literatura, por temas relativos e semelhantes ao selecionado. 4.2 Locais onde serão coletados os textos Para a realização dos estudos foi realizada busca por artigos em bases de dados eletrônicos que contém referências, utilizando palavra-chave tais como: pé diabético, complicações do pé diabético, diabetes mellitus, amputação, neuropatia diabética. As bases de dados foram: * BVS – Biblioteca Virtual de Saúde * BDENF – Base de Dados em Enfermagem * SCIELO – Scientific Eletronic Library Online * BIREME – Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 467 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura calos de pressão, lesão a pele, os ossos as articulações e os músculos acidentalmente com o tempo, lesões do osso e articulações podem alterar toda a modelagem do pé. As lesões dos nervos também, uma vez que elas acabam por enfraquecer os músculos locais. São sinais de circulação deficiente: pulsos fracos, pés finos, pele azulada e falta de pêlos. São sinais de lesão neurológica: sensações incomuns nos pés e pernas, com dor, queimação, formigamento, frio e cansaço (BENNET, 2002, p.395). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 4.2.1 Critérios para inclusão * Artigos, que abordavam o Pé Diabético. * Simpósios sobre o tema. * Artigos científicos publicados em português. * Artigos e dissertações cujo caminho de pesquisa tenha como metodologia revisão de literatura. 4.2.2 Critérios para exclusão * Artigos publicados em outro idioma, que não o português. * Trabalhos direcionados ao público infantil. * Trabalhos que abordem outros tipos de temas que não se referem ao pé diabético. 4.3 Instrumento Foi utilizado um roteiro, que engloba dados de identificação dos textos selecionados a serem observados nos artigos científicos. 4.4 Análise dos dados Após coletados e lidos os textos em seguida foram sintetizados e os dados de identificação tabulados manualmente, organizados através de tabelas e figuras, representadas em freqüência absolutas e respaldados à luz da leitura pertinente. 5 Apresentação dos resultados 5.1 Dados de identificação dos artigos Conceito A 468 Recife n. 2 p.459-522 2011 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura Gráfico 01. Distribuição das publicações de acordo com a titulação do primeiro autor. Recife, out./nov., 2008. Mostra o gráfico 01 que a maioria dos autores são 17 mestres, acompanhada por 14 doutores, 15 enfermeiros e 04 pós-doutores, mostrando a importância do tema, a riqueza de estudos existentes e a necessidade de continuar a explorar o tema. Por ser um tema que exige a participação da equipe multidisciplinar, vários estudos são realizados por outros profissionais da área de saúde, como mostram os achados. Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 469 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 18 16 Pé Diabético 14 Amputações 12 Úlceras de Membros Inferiores 10 Diabetes Mellitus 8 6 Complicações no Pé Diabético 4 Assistência de Enfermagem 2 0 1 Pé Diabético 17 Amputações 5 Úlceras de Membros Inferiores 6 Diabetes Mellitus 16 Complicações no Pé Diabético 3 Assistência de Enfermagem 10 Gráfico 02. Distribuição das publicações de acordo com os descritores encontrados. Recife, out./nov., 2008. É observado no gráfico 02, que o descritor mais encontrado foi o “pé diabético” (17), acompanhado de perto pelo “diabetes mellitus” (16), “assistência de Enfermagem” (10), “úlceras de membros inferiores” (06), “amputações” (05) e “complicações no pé diabético” (03). Apesar da diversidade dos descritores utilizados e da existência de inúmeras publicações, a sua adequação aos estudos de revisão se constituiu em uma dificuldade a ser vencida por seus autores. Conceito A 470 Recife n. 2 p.459-522 2011 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura Gráfico 03. Distribuição das publicações de acordo com o ano. Recife, out./nov., 2008. Mostra o gráfico 03 que as publicações encontram-se distribuídas entre 2005 e 2008 (21), acompanhado de 2003 a 2005 (17), concentrando na 1ª década deste milênio a maioria dos artigos publicados. A produção da década de 90 e do ano de 2001, perfaz o quantitativo de 15 obras, comprovando-se que nos anos subseqüentes houve um substancial incremento destes valores. Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 471 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Gráfico 04. Distribuição das publicações de acordo com o local da busca. Recife, out./ nov., 2008. Verifica-se no gráfico 04 que os locais de referência de buscas de textos e periódicos para o desenvolvimento do tema são variados, sendo o mais procurado o Scielo (26, seguido do Google Acadêmico (20) e acompanhado pela Bireme (12. Para os outros endereços, existe uma dispersão das respostas. Gráfico 05. Distribuição das publicações de acordo com o número de autores. Recife, out/ nov., 2008 Conceito A 472 Recife n. 2 p.459-522 2011 Quadro 01. Distribuição das publicações de acordo com o título do periódico. Recife, out./nov., 2008. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 PUBLICAÇÕES Artigos sem identificação1* Acta Paulista Arquivo Brasileiro de End. Metabologia. Revista Ciência Cuidado Saúde Jornal Vascular Brasileiro Rev. Latino Americana de Enf. Nursing REBEN Cadernos de Saúde Pública Rev. Brasileira Médica Rev. Saúde Pública Evidencia o quadro 01 que o periódico onde foi mais encontrado artigos sobre o tema foi a Nursing (14), seguido do Jornal Vascular Brasileiro (11), do Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia (10), da Acta Paulista (05) e REBEN (05), estando os outros distribuídos em periódicos de Saúde Coletiva, Revista de Enfermagem (15) entre outros. 5.2 Síntese dos artigos Caracterização de idosos diabéticos atendidos na atenção secundária. (TAVARES, R. et al., 2007). Refere Tavares et al., (2007), que o Diabetes Mellitus é determinada como um problema que se apresenta em constante evolução para a saúde pública, fato de bastante relevância considerando a sua prevalência, pois a do tipo 2, que hoje alcança níveis epidêmicos em vários países. Com o aumento da expectativa de vida da população, detectou-se maior incidência entre os idosos, dados que guiaram este estudo cuja finalidade foi enquadrar os idosos diabéticos nas condições sócio-demográficas e econômicas enfocando as suas categorias de saúde, capacidade funcional e como utilizam os serviços Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 473 14 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura De acordo com a figura 06 se verifica que 28 artigos têm a autoria de 02 ou 03 autores, 22 trabalhos, têm 04 ou mais e 10 estudos têm 01 autor, mostrado que existe a preocupação de pesquisas e contribui o conhecimento a partir do compartilhamento de experiências. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso de saúde, onde seus dados foram obtidos em três serviços públicos de saúde do município de Uberaba (MG) de janeiro à dezembro de 2002, constituída por 151 sujeitos, através de números de consultas, trata-se de um estudo observacional do tipo inquérito transversal foram incluídos na pesquisa tópicos para a seleção dos quais foram: apresentarem diabetes mellitus com diagnóstico médico confirmado há mais de 5 anos; idade entre 60 e 80 anos; ser atendido em um dos três serviços de saúde mencionados; morar no município de Uberaba e concordar em participar da pesquisa, além disso foram agrupadas variáveis em categorias como: características sócio demográficas e econômicas sexo, idade, tempo de diagnóstico, estado conjugal, número de filhos, anos de estudo, renda individual e familiar; condições de saúde número de dentes, apoio para locomoção, uso regular de medicamentos, gastos com medicamentos, auto percepção da saúde, entre outras; capacidade funcional atividades básicas e instrumentos do cotidiano; uso de serviços de saúde tipo de serviço de saúde que procura, atendimento e internação nos últimos doze meses, dentre outras. Diante do relato obteve-se 72,5% dos sujeitos são do sexo feminino, com idade média de 69 anos, o maior percentual do tempo de diagnóstico (51,3%), todos relataram que apresentam outra patologia além do diabetes, na questão dependência foram identificados pela capacidade funcional foi: cortar as unhas dos pés (23,9%) e usar transporte (18,6%), de acordo com o tempo de diagnóstico não constituem um fator agravante para o idoso, quando se falam de estabelecimentos de saúde mais acessível foram comentados: o SUS por (90,3%) dos entrevistados. Baseado neste estudo foi avaliado minuciosamente o elevado contingente de idosos e a maior probabilidade de adquirirem certas doenças, fazendo com isso uma reflexão com base em um planejamento que será traçado com o intuito de orientar e promover cuidados para manter a autonomia, independência, aumentando o conhecimento da geriatria e gerontologia nas instituições. Educação diabetológica a clientes com diabetes descompensado: uma experiência com visitas domiciliárias em Fortaleza-CE. (SARAIVA, J. B.; MOREIRA, T. M. M., 2005). Saraiva e Moreira (2005), ao investigar e correlacionar a prática do desenvolvimento e educação para clientes portadores de Diabetes Descompensado, realizaram um estudo, do tipo um caso múltiplo, envolvendo 4 pessoas. Os dados foram coletados em um centro de referência que atende portadores de diabetes do Estado do Ceará, em fevereiro de 2004 nos prontuários dos pacientes que seriam consultados no centro, objetivando uma reeducação diabetológica, estimulando o processo de educação do paciente sobre sua Conceito A 474 Recife n. 2 p.459-522 2011 Educação em saúde para pessoas idosas com diabetes mellitus. (HAMMERSCHMID, K.S.A. et al ., 2004). Hammerschmid et al., (2004) Realizaram um estudo profundo destinado a determinar o que os pacientes diabéticos sabem sobre sua condição diante do Diabetes Mellitus este presente estudo, concentrou-se em criar técnicas de educação em saúde, seus dados foram colhidos em pessoas adultas e da terceira idade, cadastradas pela Pastoral do Idoso, no município dos Pinhais/PR. (Hammerschmidt) recolheu uma amostra de 129 idosos, onde dentre entes 22 eram diabéticos. Seu estudo foi fortalecido pelo uso da (dinâmica em grupo, contendo perguntas), onde foram divididos em 6 grupos, de acordo com o bairro em que residiam, dividido em 2 círculos. Com base nas respostas. (Lisboa) percebeu a utilidade de necessitarmos dos conhecimentos sobre a doença, o que demonstrou o papel do Enfermeiro nas ações de educação, prevenção e promoção da saúde, englobando dinâmicas que facilitem o aprendizado a saúde, estimando um processo de envelhecer com hábitos de vida saudáveis. Educação em saúde para o cuidado de si com pacientes diabéticos. (HAMMERSCHMIDT, K.S.A, et al ., 2006) Hammerschmidt et al., (2006).Desenvolver técnicas de cuidados em saúde para diabéticos, desenvolvido por pesquisa em campo convergente assistencial, em uma Unidade de Saúde Lotiguaçu no município de Curitiba em pacientes diabéticos, através de visitas domiciliares, objetivando implantar manobras de educação para os pacientes, foram analisados e entrevistados os diabéticos e enfocando sobre o conhecimento e autocuidado sobre sua doença; (Alves) percebeu que a informação passada, não soava claramente e objetiva e não se adaptava a realidade da vida e que parte da família dificultava e agravava o estudo da doença. Além disso foram detectados alguns critérios Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 475 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura patologia. Na entrevista foram abordados: condições sócio-econômicas, conhecimento da doença, realização do tratamento, dentre outras. Com o levantamento dos dados foi constatado que a implantação de uma educação diabetológica para o diabético e sua família, propiciando uma melhora no quadro clínico, comprovando que os pacientes que apresentavam a doença, necessitavam de um apoio e um adequado acompanhamento por parte da equipe de saúde, e dos seus familiares, sendo esse último o maior incentivador para o seguimento terapêutico. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso na qualidade de vida dos pacientes, que englobaram o estudo: arrumar o domicílio, alimentação, autocuidado, medicação. (Camargo) descobriu a importância da linguagem falada e que deve ser moldada a realidade do paciente, observando que há muitos erros nessa comunicação entre a equipe de saúde e os portadores, estas reflexões mostram que em pequenas transformações pode-se instruir nossos pacientes, favorecendo uma evolução na sua qualidade de vida. Sentimentos vivenciados pelos pacientes diabéticos com lesões no pé e com risco de amputações. (SALOMÉ, G.M, et al .,2008) Segundo Salomé et al., (2008). Esta detém em conhecer e compreender os sentimentos nessa clientela e propor intervenções, abordando a fenomenologia que se caracteriza por três modalidades: O olhar fixo para o fenômeno quando surge; o ato da descrição e não explicar o fenômeno; não se deixar interferir pela crença, mais relacionar todos os fenômenos no mesmo nível. O que se busca neste estudo de reflexões, foi se adaptar ao conhecimento do diabético ao aparecimento da lesão no pé, que seria de alguma forma amputado, por isso foi realizada uma entrevista em 4 pacientes, com seus depoimentos, assinando em uma folha de aprovação, forma englobadas nas perguntas fatos como: sentimentos vivenciados diante da lesão; mudança no estilo de vida e o aparecimento de lesões nos pés. Diante dos resultados (Salomé) observou que através desta teoria possa surgir uma reflexão e construção de forma crítica e profissional com o paciente, conduzindo numa dimensão ampla com seus familiares e amigos, visando a reabilitação anatomicamente enxergando sua integridade de forma total e não parcial em pacientes portador de feridas. No domicilio: orientações e cuidados de enfermagem em pacientes diabéticos (GONÇALVES, D.F . et al., 2004). Gonçalves et al., ( 2004).enfocou com este estudo orientar e promover cuidados de enfermagem no domicílio, estimando a revalorização do atendimento de saúde através de visitas domiciliares, realizada no município de Arapongas, abrangendo: Jardim Aeroporto, Jardim Universitário, Jardim Primavera, cujos dados foram obtidos em um fichário do Posto Médico do Centro Social Urbano Lucy Geisel, constituída por 18 pessoas portadoras de Diabetes Mellitus tipo II, alguns princípios foram integrados na pesquisa: Ser morador de algum dos bairros cadastrados; estarem cadastrados na Unidade de Saúde da sua área; Conceito A 476 Recife n. 2 p.459-522 2011 Angioplastia subintimal sem o uso de stent em paciente diabético portador de lesão complexa no pé. (MARSSIERE, B., PEDRON,. et al., 2008). De acordo com (MARSSIERE, et al., 2008). foi desenvolvido uma técnica de angioplastia subintimal sem o uso de stent, como uma opção em pacientes de elevado risco cirúrgico em portadores de feridas complexas nos pés, iniciado através de um relato de uma paciente de 66 anos, mulher apresentando múltiplas doenças com grau já avançado e com sinais de lesões e tumores no pé e fêmur. A revascularização e os cuidados adequados para os membros inferiores favoreceu uma cobertura estável e benéfica para a ferida, preservando o seu tecido antes acometido e agora diagnóstico e tratado, estimulando a melhora da deambulação, com a aplicação da angioplastia subintimal sem o uso do stent o que apresentou índices de salvamento para o risco de amputações em membros inferiores. Ser portador de diabetes tipo 2: cuidando-se para continuar vivenciado. (WELFER, M., LEITE, M.T. 2005). Estudo de natureza descritiva exploratória apontadas relatados por (Welfer, et al., 2005), atos, ações e palavras no período de março a abril de 2004, coletados a partir de perguntas e respostas onde foram gravados e salvos, entre 11 pacientes diabéticos que residem o município de Ijuí/RS dentre eles 2 do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com faixa etária prevalente dos 42 aos 80 anos. Foram incluídos na pesquisa fatores como: tempo de diagnóstico do Diabetes Mellitus tipo 2; conhecimento sobre o cuidado dos pés, consumo de alimentos, controle da glicose, uso de medicações, higiene corporal, Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 477 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura ser realmente portador de Diabetes tipo 2. Ao unirmos a metodologia e a análise a partir dos relatos dos pacientes, foi agrupado os fatos mais relevantes para o estudo na tentativa de compreender a realidade estudada, esta análise foi fundamentadas em três aspectos: resultados alcançados no estado; na fundamentação teórica e na experiência pessoal do investigador. O Diabetes Mellitus é uma prevalência no Brasil, merecem do Ministério da Saúde uma campanha nacional, este problema social e fisiológico é decorrente de complicações tardias, comprometendo órgãos e sistemas incidindo na piora acentuada da qualidade de vida do portador, em especial do tipo II. Cabe a nós, Enfermeiros estarmos atentos as alterações que acompanham este processo e sabermos diferenciá-los, ou seja, não valorizar somente a patologia e sim perceber que o ser humano é dotado de emoções, medos, alterações físicas. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso prática de exercícios. Os resultados apontados mostrou que os pacientes diabéticos sofrem de constante mutações presenciando e afetando seu estilo de vida, o que irá causar danos no seu cotidiano, foi notado que a equipe de saúde tem função importante na vida dos portadores, fornecendo suporte adequado evitando futuras complicações suprindo e originando possíveis agravos que a doença pode causar. Amputações maiores de membros inferiores por doença arterial periférica e diabetes mellitus no município do Rio de Janeiro. (SPICHLER, D. et al., (2004). Spichler et al., 2004)avaliaram a estimativa de evolução de 4.818 amputações maiores de membros inferiores devido a doença arterial periférica e diabetes mellitus no município do Rio de Janeiro, a metodologia em questão foi por base de coleta de informações e dados por revistas no período entre 1990 e 2000, estas fontes foram obtidos de 43 hospitais e 21 instituições públicas do (SUS), os seguintes dados foram determinantes para a seleção: idade, sexo, nível de amputação, taxa de incidência por vigilância passiva e captura-recaptura. Diante dos resultados definidos foi concluído que a mortalidade foi elevado em determinado hospitais com maior capacidade de prevenção dos casos mais extremos e onde o número de agravos é considerado um índice de complicação que influencia na terapêutica adequada, o que representa um risco de cinco vezes, o que determina um tópico fundamental para a saúde pública. Conhecimento do cliente diabético em relação aos cuidados com os pés. (BARBUI, E.C. et al., 2002) Barbui et al., (2002) Estavam interessados em avaliar o conhecimento dos clientes que freqüentam um ambulatório de Diabetes, em relação a sua doença e cuidado com os pés, foram entrevistados 32 pessoas no período de julho a setembro de 1997, aleatoriamente enquanto aguardavam o atendimento no ambulatório de Diabetes, além dos clientes que apresentavam complicações nos pés e estavam sendo atendidos no ambulatório de Pé Diabético, com diabetes tipo 2, realizado através de questionários que incluíam: dados de identificação, condições de saúde, moradia e atividade física, a outra parte: exame dos pés na residência, cuidados específicos, tipos de calçados utilizados e alterações na sensibilidade. Este estudo permitiu demonstrar o conhecimento do diabético em relação ao cuidado com os pés, a maioria das pessoas selecionadas 59,4% eram mulheres, e 41,6% Conceito A 478 Recife n. 2 p.459-522 2011 Diabetes mellitus e afecções cutâneas. (MINELLI, L, et al.,2003) Minelli et al., (2003) fizeram uma revisão detalhada sobre tais doenças, evidenciando suas características clínicas, bem como uma abordagem terapêutica, através de referências bibliográficas, enfocando tópicos que incluímos na pesquisa como: idade superior a 40 anos, tabagismo, diabetes com mais de 10 de duração, diminuição dos pulsos arteriais ou hipoastesia, deformidades anatômicas e presença de ulcerações ou amputações prévias. Com estes dados foram comprovados que os diabéticos apresentam peculiaridades que os tornam suscetíveis a dermatoses, muitas destas doenças necessitam de diagnóstico rápido e tratamento adequado, par que sejam evitadas futuras complicações graves ou mesmo fatais. Neste estudo não foi referido local, tipo, amostra delimitada para a sua seleção, onde foi realizada uma revisão de literatura associando o Diabetes Mellitus com o surgimento de afecções cutâneas. Transtorno na e extremidade inferior do paciente diabético. (SANTOS, M.E.R.C., et al. 2001). Estudo conduzido por Santos et al., (2001).Com o intuito de orientar os agentes de saúde em relação aos pacientes diabéticos, foram identificados 17 publicações na busca de referências bibliográficas através de: Medline (1966 – 2000), Embase (1973 – 2000); Lilacs (1985 – 2000); Base de Dados Cochrane de Revisões Sistemáticas, dentre outras, no presente estudo foram englobados: Historia clínica, exame físico e exame complementares (Doppler, curativos, medicações, entre outras), tendo como propósito identificar e classificar os pacientes de risco, iniciando com o tratamento precoce, colaborando na educação do paciente e da sua família, para prevenir a amputação e possíveis transtornos de extremidade inferior na população. Análise retrospectiva dos pés de pacientes diabéticos do ambulatório de diabetes da santa casa de Belo Horizonte-MG. (CALSOLARI, C et al., 2002) Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 479 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura do sexo masculino, em relação a faixa etária era predominante de 50 a 59 anos (43,8%) e acima dos 60 anos (43,8%), com estes resultados concluiu que os pacientes sabiam que os cuidados adequados com os pés era fundamental para evitar riscos, porém o autocuidado não era realizado corretamente, par isso é necessário que haja no cotidiano informações sobre diabetes, juntamente com seus familiares o que incluiu motivação e persistência, buscando a construção da cidadania e a qualidade de vida. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Pesquisa avaliada por Calsolari et al., (2002) que iniciaram o relato enfocando a importância da necessidade da consulta periódica dos pés, centralizando o exame intensivo para resultados satisfatórios, foram entrevistados 234 pacientes diabéticos no ambulatório do pé diabético entre 1996 e 1999 da Santa Casa de Belo Horizonte, onde foram divididos por: idade, sexo, tipo de diabetes, tempo da doença, tipo de tratamento, higiene, uso de calçados, presença de deformidades nos pés. Diante das conclusões podese encontrar fatores que estão presentes na evolução do quadro do pé diabético e devido a isto é de extrema importância e competência a implantações de ações para amenizar e curar possíveis lesões, evitando amputações e o surgimento de úlceras futuras. O Diabetes Mellitus e a desnervação dos membros inferiores: a visão do diabetólogo. (SCHMID et al ., 2003) Pesquisa conduzida Scmidt et al., (2003 ) Objetivando conservar a qualidade de vida do paciente afetado, inserindo a prevenção de modificações, dos sinais de alterações de hiperglicemia e seus efeitos colaterais as medicações, cegueira, nefropatia, dentre outras, foi estabelecido este trabalho na Santa Casa de Porto Alegre através de revisão sistemática, com a presença de médicos afim de detectar e usar a visão do diabetólogo, que se propôs a internar e avaliar o paciente minuciosamente afim de evitar um aumento nas taxas de glicose, onde foram identificados o tipo de Diabetes, onde prevaleceu o tipo II o que equivale a 90% relacionando a: defeitos na ação da insulina, disfunção das células B, sexo, dieta, autocuidado, manejo correto da medicação, acontecendo mais o sexo feminino 55% e 45 do sexo masculino, através de um programa de dietas e tendo uma higiene correta dos pés, são ensinamentos fáceis dos pacientes seguirem. Os pacientes diabéticos que apresentam lesões, bolhas, calosidades traumas, insensibilidade, ausência de dores nos membros inferiores, deve urgentemente ser avaliado pelo médico, o que será realizado um tratamento, exame físico pelo menos uma vez por ano e no domicílio periodicamente feito pelo paciente ou pelo familiar a cada duas horas seguindo todas as recomendações, medidas como estas não só prevenirá mais permitirá que o tratamento seja efetivo. Fatores predisponentes para amputação de membro inferior em pacientes diabéticos internados com pés úlcerados no estado de Sergipe. (NUNES, N.A.T, et al.,2006) Estudo conduzido Nunes, et al., ( 2006) tendo como objetivo caracterizar os fatores predisponentes para amputação de membros inferiores nos doentes internados Conceito A 480 Recife n. 2 p.459-522 2011 Um sistema para o monitoramento do pé diabético. (CARVALHO, M, et al .,2001) Carvalho, et al ., (2001) Este artigo objetiva em relatar um sistema de web, que estima em fornecer uma base ao exercício médico de prevenção do pé diabético e relacionar dados, que visam uma avaliação adequada das formas de tratamento, que serão incluídas na assistência da população conforme (Carvalho, Silva e Rezende; 2001), que desconhecem outro sistema como a web, que enfoca a conduta da prevenção da Diabetes baseado em dados coletados, através de questionários, este estudo não apresenta amostra local de estudo delimitado e nem os critérios para a sua seleção, onde foi proposta uma metodologia preventiva simples que necessita de uma orientação sucessiva e periódica do docente, determinando seus sinais e alterações que facilitem ao aparecimento de úlceras, foram apresentados bases que serão introduzidas no espaço desta idéia. Neste contexto foi implantado a nível nacional o “Projeto Salvando o Pé Diabético” no qual é tomado as direções do consenso Internacional sobre o Pé Diabético, onde cada Estado representa uma federação contendo uma equipe executora do programa de prevenção. O cuidado sob a ótica do paciente diabético. (SANTOS, E.C.D ., et al., 2005). Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 481 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura com Diabetes Mellitus e úlceras nos pés, durante o período de julho a dezembro de 2004, nos hospitais gerais no Estado de Sergipe, foi utilizada uma amostra não-probalística de conveniência, no período de 6 meses, através da busca ativa diária dos pacientes com pés diabéticos em três hospitais e após a permissão destes, foi iniciado exame clínico, físico e anamnese, onde foram analisados e inseridos pontos como: sexo, idade, amputação prévia, número de ulcerações, tempo de diagnóstico do diabete, tempo de ulceração, tempo médio de internação, gravidade das lesões e presença de pulso. O pé diabético é conceituado como uma situação de risco de amputação, e é considerado como um dos agravos mais complicado do Diabetes Mellitus, o que equivale por 40 a 70% totalizados de amputações de membros inferiores, esse fator é 15 vezes maior em portador do pé diabético, que é desenvolvido por 10% de pacientes diabéticos, o que se refere que o tratamento desta patologia acarreta um alto custo para a saúde pública mundial, (Resende) concluiu que a gravidade das lesões e a ausência dos dois pulsos distais e idades superiores a 60 anos, foram determinadas como fatores predisponentes para a realização de amputações, no Estado de Sergipe e que foi observado que há um índice elevado de amputações primárias e que não são submetidos a revascularização ou restaurações vasculares, o que poderia diminuir e salvar as extremidades. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Santos et al., (2005) Pretende-se com esta pesquisa adquirir mudanças que influenciaram em regras, que serão utilizados para a produção de dados explicaram a finalidade de compreender os fenômenos psicossociais e relacionar ao tratamento da doença e influenciar a família no autocuidado com o paciente, onde foi realizado a pesquisa no Centro Educativo de Enfermagem para adultos e idosos em abril de 2003, de natureza descritiva e exploratória por estudo de caso, que permite entender a riqueza, diversidade e complexidade das duas pacientes mãe e filha, a mãe portadora de Diabetes Mellitus e sua filha que a acompanha no centro foram introduzidos na seleção da pesquisa: dados de identificação pessoal, aspecto relacionados ao tratamento e questões diretas e objetivas como: (1) como a senhora percebe as dificuldades diárias para o controle da Diabetes? Para a paciente, e (2) como você percebe as dificuldades diárias de sua mãe diante da doença? Para a filha. Os resultados explorados diante da pesquisa foram divididos em 2 pontos: 1 – descrição do paciente e 2 – os temas determinados durante a entrevista. Cabe a nós enfermeiros salientar que o conhecimento de estratégias para o cuidador apresente manobras para facilitar e ajudar ao paciente de tal forma que solucione o problema, tanto emocional como físico, com a participação integral dos familiares e através destas instruções contribuir para a melhora e o enfrentamento da doença, aumentando a confiança com a equipe de saúde. Aspectos relevantes da interface entre diabetes mellitus e infecção. ROCHA, J.L.L., et al., (2002). Segundo Rocha et al., (2002). As infecções que acometem os pés são os principais responsáveis para a proliferação de lesões pododáctilas, o que acarreta a amputações, o que demonstra elevados índices de custo, originalmente ocorrem 100 vezes mais em diabético, estima-se que 51% dos pacientes internados em setores de endocrinologia de hospitais universitários um dos fatores predisponentes para o desenvolvimento de úlceras são: dermatoses, neuropatia, doença vascular periférica dentre outras, na pesquisa não relata amostra local nem os critérios para a sua seleção. Diabetes Mellitus também induz o surgimento de outras infecções como o salmonelose é obrigatório destacar a importância da experiência clínica, da prevenção, diagnóstico precoce do tratamento é o acompanhamento e a avaliação multidisciplinar com a finalidade de obter resultados benéficos durante a prevenção de lesões e infecções nos portadores diabéticos, trata-se de uma revisão de literatura, objetivando a correlação Conceito A 482 Recife n. 2 p.459-522 2011 Atenção integral ao paciente com pé diabético: um modelo descentralizado de atuação no Rio de Janeiro. (CAIAFA, J. S et al., 2003) Caiafa, et al., (2003)conduziu este projeto, tendo como objetivo reduzir em 50% a taxa de amputação em pacientes diabéticos, foi iniciado em agosto de 2002, atingindo mais de 700 profissionais da rede municipal, em ambulatórios dos serviços de cirurgia vascular dos hospitais da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, no Hospital Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, no Hospital Municipal da Lagoa, este projeto se deu por simpósio caracterizando por módulos distintos, composto por: nível básico, secundário e terciário. Diante dos dados colhidos durante a realização do curso de capacitação da rede básica permitiu sintetizar a extraordinária recepção demonstrada pelos pacientes e profissionais de saúde da rede básica, destinado a resolver ou minimizar as graves complicações dos portadores desse problema. Análise retrospectiva sobre a prevalência de amputações bilaterais de membros inferiores. (LEITE, C.F., et al.,2004) Estudo conduzido por Leite, et al., (2004) como objetivo determinar a prevalência de amputações bilaterais de membros inferiores, realizados no Hospital Nossa Senhora da Conceição, entre janeiro e abril de 2001, em 288 pacientes amputados, através de revisão de 288 prontuários do Serviço de Arquivo Médico e Estatística, foram incluídos nesta seleção: idade, sexo, doenças associadas, apresentação clínica, tipo, nível de amputação e taxa de mortalidade. De acordo com os achados foi concluído que as características dos pacientes com amputação unilateral e bilateral são idênticas, exceto nos casos amputados por pé diabético, neuropatia e infecção. Percebeu-se também que os pacientes diabéticos há uma interação entre doença e a lesão trófica de extremidades. Análise clínica e evolução de 70 casos de lesões podais infectadas em pacientes diabéticos. (JORGE, B.H; et al.,1999) Jorge et al., (1999) o trabalho tem como objetivo analisar 70 paciente diabéticos portadores de lesões internados para tratamento no Hospital Escola da Faculdade Federal Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 483 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura de fatores prevalentes entre Diabetes Mellitus e infecção. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso de Medicina do Triangulo Mineiro. Compreendido entre 1988 e 1989. As lesões foram analisadas considerando-se o tipo de diabetes, tempo decorrido entre o diagnóstico de DM e a internação, agentes etiológicos freqüentemente encontrados nas culturas das secreções, tipo de tratamento requerido e evolução dos pacientes. A maioria dos pacientes estudados (87%) era portadora de DM tipo 2 (Arq. Bras. Endocrinol metab 1998, 43/5: 366) os pacientes foram avaliados, no período compreendido entre maio de 1988 e janeiro de 1989 que eram também previamente acompanhados no ambulatório de diabetes da Disciplina de Endocrinologia, outras 43 provinham de Uberaba e 27 residiam em 19 cidades diferentes. O acompanhamento destes pacientes é multidisciplinar que envolvem, setor de Infectologia, neurologia, cirurgia Vascular e cirurgia Plástica, serviço de nutrição. As coletas de dados foram feitas através dos prontuários, buscando diagnóstico e classificação do diabetes. Duração do DM. A análise foi realizar momento da admissão do paciente. As lesões foram classificadas segundo Wagner, (31,4%) das lesões eram grau 2,7 (10%) com grau 3,35 (50%) com grau 4 e 6; (8,6%) com graus 5º como conduta de rotina no momento da internação era feita a colheita direta das secreções para antibiograma, através de Swab. Os números demonstram a gravidade desta condição e são alarmantes, considerandose que todas sofrem drásticas mudanças na qualidade de vida, pela interferência em sua capacidade de locomoção e dependentes de seus familiares. Além disso, a reabilitação das mesmas traz gastos incalculáveis aos serviços públicos, em termos de recursos humanos e equipamentos, visto que a maioria dos nossos pacientes, não podem arcar com estas despesas. Acrescenta-se ainda o fato de que os custos com o tratamento diabético são muito altos, sendo os casos amputados os mais dispendiosos por requererem internamentos, tratamentos prolongados. Conclui-me que a prevenção ainda é a maneira mais fácil de combatermos estes problemas. Deve-se a população diabética um atendimento ambulatorial especializado, com equipe multidisciplinar. Que o controle glicêmico, os cuidados com os pés, devem ainda ser estimulados a procurar assistência médica precocemente caso apareçam lesões nos membros inferiores. A importância da assistência de enfermagem na prevenção controle e avaliação à pacientes portadores de diabetes com neuropatia e vasculopatia. (Gamba 1991). Gamba (1991) após realizar estágio de aperfeiçoamento técnico-científico na Inglaterra, onde atuou junto a podologista e enfermeiros especialistas em cuidados aos pés de pacientes portadores de Diabetes Mellitus. Relatou a sua experiência na implantação da Conceito A 484 Recife n. 2 p.459-522 2011 Achados da fundoscopia e alterações do pé diabético em pacientes do hospital Universitário Onofre Lopes / UFRN (CHACON, et al.,2005). Chacon et al., (2005) nesse artigo tem como objetivo de identificar as alterações do pé diabético causadas pelas lesões microangiopáticas e das lesões do fundo de olho secundárias aretinopatia diabética. O método utilizado nessa pesquisa foi obtido através de amostra com 76 pacientes com Diabetes Mellitus tipos 1 e 2, que foram atendidos no ambulatório de Oftalmologia e Cirurgia Vascular do HUOL/UFRN, Natal-RN, no período de novembro de 2004 a janeiro de 2005. Esses pacientes tiveram queixas relativas a alterações da retinopatia diabética ou do pé diabético. É importante salientar que para melhor utilização dessa pesquisa realizou-se em todos os pacientes um exame clínico geral, vascular e oftalmológico. Porém, durante a avaliação, especificou-se principalmente o pé diabético, dando maior Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 485 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura assistência de enfermagem no programa de prevenção e controle do Diabetes Mellitus, visando contribuir para detecção precoce e no tratamento de lesões decorrentes das vasculopatias e neuropatias ocasionadas por essas afecções. O trabalho descreve um modelo de consulta de enfermagem direcionada ao atendimento à portadores de Diabetes Mellitus e que apresentaram úlceras tráficas varicosa mal perfurante plantar, a avaliação clínica e vascular e controle metabólico-nutricional. A autora elaborou um roteiro para a 1ª consulta de Enfermagem cujas informações eram investigadas no momento do atendimento. Realizado no ambulatório do Hospital São Paulo e Centro de Saúde da Escola Paulista de Medicina. O estudo não apresenta amostra delimitada nem os critérios para a sua seleção pela vista gama dos temas abordados, observa-se que o estudo engloba vários aspectos que, poderiam ser fracionados para facilitar e otimizar o aprendizado do cliente. Os resultados parciais alcançados indicam um índice de cicatrização total em 65% dos casos e com redução da lesão em 35% dos casos após dois meses de intervenção, contribuindo assim para a diminuição do número de amputações em portadores de DM. O trabalho realizado demonstrou qualitativa e quantitativamente que resultados benéficos podem ser alcançados mediante a atuação direta do enfermeiro na prestação da assistência ao cliente portador de Diabetes mellitus, esta assistência deve integrar o conjunto de ações que compõe o programa de controle e prevenção. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ênfase na investigação do status vascular da Classificação de Fontaine para Doença Arterial Obstrutiva Periférica, biomecânica, e teste do monofilamento de Semmes-Weinstein. Foi constatado de acordo com o exame oftalmológico uma refração e fundoscopia, que identificou as formas clínicas da retinopatia diabética. Os dados dessa pesquisa submeteu-se à análise estatística das variáveis primárias, consistindo na caracterização do grupo quanto ao tempo de doença idade do indivíduo e o nível de glicose, também foi realizado testes de associação entre variáveis secundárias, tendo como software usado para os testes estatísticos o Statistica Versão 5. Nessa pesquisa o autor pesquisou 76 pacientes diabéticos, verificando que a maioria com 97% dos entrevistados tinham idade maior de 40 anos, e cerca de 65% dos entrevistados tinham descoberto a doença há mais de 10 anos. Quanto a glicose a maioria (72,72%) tinham o nível de glicose em jejum acima de 100mg/dl. 55,26% apresentavam algum grau de retinopatia diabética. Com as alterações do pé diabético, identificou-se 59,93% com lesões com área de predominância isquêmica, enquanto 41,07% tinham ausência de sinais. 58,82% apresentaram área de predominância neuropática, e 41,18% sem sinais de neuropatia. Dos com retinopatia diabética 78,57% tinham comprometimento isquêmico no pé e 47,62% tinham algum grau de neuropatia diabética. Observou-se que a retinopatia diabética não proliferativa, nos seus diversos graus de comprometimento apresentou-se com percentuais em torno de 80% junto às lesões do pé diabético, seja isquêmico ou neuropático. Dos pacientes que tinham retinopatia 60,46% tinham alterações biomecânicas dos pés. Diante do exposto, concluiu-se que a RDNP teve uma maior freqüência nas lesões do pé diabético isquêmico, e a RDNP severa mostrou-se mais presente no pé diabético neuropático. Análise de fatores associados à ulceração de extremidades em indivíduos diabéticos com neuropatia periférica (PORCIÚNCULA, M.V.P et al ., 2008). Porciúncula et al., (2008) neste estudo tem como objetivo abordar sobre o risco para ulceração em pé de indivíduos diabéticos, testado na DAP (Associação de Doença Arterial Periférica) a ulcera do pé. A amostra foi de pacientes neuropáticos de sensório-motora simétrica, avaliado 32 indivíduos diabéticos tipo 2, com exame do monofilamento de 1 grupo estratificados em 2 grupos, conforme o histórico da presença de úlcera nas extremidades inferiores, inclusive os que apresentam úlcera ativa ou cicatrizada. Conceito A 486 Recife n. 2 p.459-522 2011 Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 487 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura Esse estudo enfocou a ND sensório-motora simétrica distal, com complicações de prevalência de risco para úlceras plantares em indivíduos com DM, verificando os pacientes com úlceras, fazendo uma comparação com os pacientes sem úlceras. O resultado desse estudo comprovou a associação entre as complicações neuropáticas e microvasculares previamente descrita, onde a maioria dos indivíduos avaliados apresentava retinopatia, com predominância no grupo com úlcera. O autor aborda sobre importantes estudos prospectivos envolvendo indivíduos Quanto a etiologia das úlceras de pé em indivíduos com DM, atribui-se 20% em decorrência exclusivamente da DAP, e o restante causado pela ND isolada ou em associação à DAP. A DAP desempenha um papel importante na cicatrização de lesões e risco de amputação. Em nosso estudo, os parâmetros empregados para diagnóstico de comprometimento da circulação arterial nos membros inferiores foram o ITB e o índice hálux-braquial. O ITB, validado pela angiografia contrastada, apresenta alta sensibilidade e especificidade para detectar estenoses > 50%, sendo recomendado pela comunidade científica para fins diagnósticos. Porém, diante de artérias não-compressíveis em membros inferiores - como ocorre mais freqüentemente em pacientes diabéticos ou idosos devido à calcificação da parede arterial -, o ITB pode fornecer resultados não-interpretáveis. Isso de fato ocorreu com 5 indivíduos da nossa amostra, que apresentaram ITB > 1,30. Nestes casos tem sido sugerido o uso do índice hálux-braquial. Não foi propósito deste estudo analisar o valor deste último índice no caso da falta de interpretabilidade do ITB. Porém, especulando que seu emprego poderia auxiliar na identificação de DAP em artérias mais distais de membros inferiores, e na capacidade de detectar associação com a presença de úlcera, optamos por um emprego mais amplo. Neste estudo o autor comprovou que houve uma associação entre as complicações neuropática e microvasculares do DM previamente descrita, onde a maioria dos indivíduos aqui avaliados apresentava retinopatia e nefropatia, com predominância no grupo com úlcera. Importantes estudos prospectivos envolvendo indivíduos com DM tipo 1 e tipo 2 confirmando a relação causal entre controle glicêmico precário e surgimento de complicações microvasculares e neuropáticas. Também foram encontradas correlação direta do nível de hemoglobina glicada e o risco destas complicações. É importante acrescentar que nesse estudo, o grupo de pacientes com úlcera apresentou menor valor de hemoglobina glicada que o grupo sem úlcera. Este achado inesperado deve provavelmente ser decorrente do fato de esses indivíduos apresentarem quadro mais grave de ND, que necessitaram acompanhamento clínico mais próximo, para cuidados Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso com a úlcera. Avaliação do conhecimento de medidas preventivas do pé diabético em pacientes de Rio Branco, ACRE. (OLIVEIRA et al 2005). OLIVEIRA et al (2005) afirma nesse estudo que o pé diabético é uma das principais complicações do diabetes mellitus, de alto impacto social, caracterizado por lesões decorrentes de neuropatia, isquemia e infecção. Vários pacientes portadores DM desconhecem as medidas preventivas do pé diabético e do controle glicêmico. Nesse estudo o autor tem como objetivo fazer várias análises variadas sobre os fatores e risco de amputação, realizado em DM, a educação do paciente foi uma das análises citadas, considerando o fator de proteção. Nesse trabalho foi realizado uma revisão de literatura, realizada com o objetivo de avaliar a efetividade dos programas de educação dos portadores de DM para prevenir úlceras do pé diabético, concluiu-se que, após intervalo de seis meses a um ano da aplicação do programa, intervenções educativas breves reduzem a incidência de úlceras e melhoram os cuidados com os pés. Apesar da recomendação de programas educacionais mais abrangentes e intensivos, a aplicação de modelos simplificados com uso de folder ilustrativo, seguida de explicações breves, também produz resultados positivos. No presente estudo, mesmo considerando que após a intervenção educativa 32,1% dos pacientes mantêm atitudes de controle do DM inferior à mediana, os benefícios obtidos com a intervenção foram evidentes. Para as medidas preventivas do pé diabético, por exemplo, apenas 3,7% dos pacientes permaneceram com nível de conhecimento inferior à mediana. Embora os instrumentos de educação aplicados neste estudo sejam apropriados, é possível que a integração da equipe e uma dinâmica de interação profissional-indivíduo mais freqüente possam contribuir para maior adesão ao tratamento e responsabilidade em relação à doença, com conseqüente melhora da qualidade de vida dos pacientes. Tal promoção de saúde direciona a equipe multidisciplinar para uma visão holística do processo saúde-doença, reconhecendo a complexidade do sistema psíquico e somático do paciente, que necessita de informações complementares sobre controle, prevenção e complicações da doença e do compartilhamento da responsabilidade terapêutica, entre as várias categorias profissionais, contribuindo assim para o maior sucesso do programa educativo. Conceito A 488 Recife n. 2 p.459-522 2011 OCHOA-V. et al..(2006) Nesse estudo tem como objetivo caracterizar os indivíduos com diabetes da rede básica de saúde com fatores desencadeadores do pé diabético. O autor afirma que o pé diabético representa um estado fisiopatológico multifacetado; caracterizado por úlceras que surgem nos pés da pessoa com diabetes e ocorrem como conseqüência de neuropatia em 90% dos casos, decorrentes de traumas que se complicam com gangrena e infecção, ocasionados por falhas na cicatrização e podem resultar em amputação, quando não se institui tratamento precoce e adequado. O autor utilizou um estudo descritivo desenvolvido em duas Unidades Básicas Distritais de Saúde – UBDS, localizadas ao Norte e sul da cidade de Ribeirão Preto-SP. Quanto à população do estudo constituiu-se por pessoas com diabetes tipo 2, com idade acima de 40 anos, foram pesquisados 101 pessoas que foram submetidas à avaliação dos pés, durante o período de setembro e dezembro de 2003. A coleta de dados teve como instrumento semi-estruturado, verificando os aspectos de identificação do paciente, os dados sócio-demográficos, e o relatório relacionado à doença e controle metabólico, os antecedentes clínicos e o problema nos pés. Também teve a avaliação dos membros inferiores, com condição dermatológica, circulatória, neuropática, estrutural, identificando o risco da lesão ou ulcera dos pés dos entrevistados. O autor ainda destaca que as alterações poderiam ser prevenidas com intervenções básicas e educação para os cuidados dos pés. Competência do portador de diabetes mellitus para o autocuidado: uma revisão de literatura. (PETERS, et al .. 2004) PETERS, et al .. (2004) No Brasil o diabetes atinge cerca de cinco milhões de brasileiros e, anualmente provoca cerca de 25 mil mortes no país. Esta pesquisa tem como objetivo, conhecer a competência para o auto-cuidado de portadores de diabetes mellitus, de acordo com o proposto por Nunes, pretendemos oferecer subsídios para a assistência de enfermagem, conforme as reais necessidades do diabético. A pesquisa realizada foi do tipo exploratório com cunho quantitativo, sendo desenvolvido junto à Associação dos Diabéticos do Vale do Itajaí – Blumenau – SC. A população amostral desse estudo foi constituída por 59 diabéticos, sendo 27 do sexo masculino e 32 do sexo feminino. O auto-cuidado é envolver ativamente o diabético e seus familiares na efetivação do tratamento e conseqüentemente em bom controle da doença, Conceito A Recife n. 2 p.459-522 2011 489 As complicações do pé diabético: uma revisão da literatura Caracterização de pessoas com diabetes em unidades de atenção primária e secundária em relação a fatores desencadeantes do pé diabético (OCHOA-V. K., et al..2006). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso tendo como meta a redução de complicação e uma