Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo Relatório final Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo Joyce Ajuz Coelho (ESPM Rio) José Cláudio Siqueira Castanheira (UFSC) Rio de Janeiro, 2010 1 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo Joyce Ajuz Coelho (ESPM Rio) José Cláudio Siqueira Castanheira (UFSC) CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Equipe: Ricardo Zagallo Camargo (coordenador) Guilherme Cohen Osmar Pastore São Paulo, 2014 Identidades sonoras para gestão de marcas: modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo / José Claudio Castanheira, Joyce Ajuz Coelho. – 2010. 54 p.: color. Relatório Final de Pesquisa 2010, desenvolvida junto ao CAEPM − Centro de Altos Estudos da Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP, 2013. 1. Música 2. Mídia sonora 3. Tecnologias digitais 4. Transparência. I. Título. II. Castanheira, José Claudio III. Coelho, Joyce Ajuz. IV. CAEPM − Centro de Altos Estudos da ESPM. V. Escola Superior de Propaganda e Marketing. Sumário 1ª etapa do Projeto (março a agosto/2010) 4 Pesquisa de marcas sonoras 4 Roteiros5 2ª etapa do Projeto(agosto/2010 a janeiro/2011) Produção de textos para Congressos e Publicação em revistas 7 14 Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo 1ª etapa do Projeto (março a agosto/2010) Nesta primeira etapa do projeto tivemos como ponto de partida o artigo para apresentação em Congressos, a pesquisa sobre marcas sonoras e a elaboração do roteiro do vídeo um. Pesquisa de marcas sonoras Para o mapeamento inicial foi solicitado a 60 pessoas, entre 18 e 50 anos, que citassem uma marca cuja lembrança estava associada a algum som. Sendo assim, juntamente com jingles, assinaturas sonoras e efeitos sonoros de empresas e produtos, obtivemos com nossa pesquisa um retorno de muitos sons originados de programas de televisão, filmes séries e desenhos animados. Percebemos que mesmo junto ao público mais experiente (entre 30 e 50 anos) tais sons provenientes de ícones culturais são recorrentes. A diferença para público mais jovem (entre 18 e 30) seria tão somente a que programas ou personagens de ficção esses sons remetem. Por entender que essa memória condiciona fortemente a própria auto-representação, julgamos ser de imensa importância o posterior aprofundamento de uma pesquisa de campo com a finalidade de avaliar o impacto dessas representações na constituição de um ou mais modelos geracionais. Como entendemos o universo sonoro como algo complexo e sobre o qual estamos pouco habituados a refletir, consideramos tanto sons que tiveram sua criação objetivando a caracterização de um produto ou serviço, com fins especificamente comerciais, como aqueles surgidos e tornados famosos de forma mais espontânea. Estes últimos normalmente fazem parte de uma cultura popular originada em produtos culturais, nem sempre planejados para ficar em nossa memória coletiva. Além da classificação como produto, empresa ou ícone cultural, deixamos uma opção para enquadrar aqueles não categorizáveis segundo os modelos anteriores. Reafirmamos que essa classificação está sujeita a um aprofundamento que será possível em uma segunda etapa. Esta é apenas uma fase inicial, um reconhecimento de campo. Um segundo nível de classificação se dá na possibilidade desses sons serem reconhecidos como sons musicais ou não-musicais. Essa divisão pode parecer simples, em um primeiro momento, mas o estudo revelou que não é. Determinados sons podem exercer funções musicais mesmo se não oriundos de instrumentos musicais ou inicialmente planejados como tal. Nossa cultura digital permite o manuseio intenso de sons das mais diferentes naturezas e a sua utilização de formas inusitadas. A estética do sampler pode aproveitar-se de falas, sons naturais, efeitos sonoros engraçados, etc. para a produção de loops e batidas eletrônicas veiculadas em meios de comunicação de massa ou em locais frequentados por grupos de cultura de nicho. A determinação das características materiais desses sons e de seu caráter musical também é de grande importância para a nossa pesquisa. 4 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo Finalizando as questões abordadas por nossa pesquisa, pedimos aos entrevistados que apresentassem palavras-chaves ou conceitos que definissem a marca sonora lembrada. Essa palavra ou conceito pode ajudar tanto a classificar a sonoridade dentro de um universo ainda pouco mapeado quanto a ilustrar como esses sons são guardados e lembrados, como eles são incorporados à nossa memória. A partir da pesquisa da marca em meios digitais tentamos identificar a longevidade da marca sonora e em que meios ela se propaga com mais facilidade, surgindo a classificação de alcance a partir da veiculação em mídias de massa. Esta pesquisa teve como objetivo identificar o alcance e eficiência das marcas sonoras para dar suporte aos textos e às entrevistas. Ressalte-se que esse alcance, só será identificado de forma mais precisa com uma pesquisa de maior profundidade e segundo metodologias quantitativas e qualitativas em longo prazo o que não está no objetivo deste projeto. Roteiros O roteiro não é uma peça literária. Ele deve ser bastante objetivo e, muitas vezes até simplificador. Ele deve apresentar de forma direta o que será transformado posteriormente em vídeo pelo editor e pelo diretor. Por esse motivo o roteiro pode parecer, inicialmente, linear ou longo. A edição é que vai dar o ritmo e a duração final, prevista para 30 minutos cada vídeo. Os roteiros foram elaborados a partir do material gerado pelas entrevistas, considerando que em determinados momentos o conhecimento ou a importância do entrevistado para o assunto tratado determinou uma maior inserção de seus comentários. Procuramos da mesma forma, enriquecer o trabalho com imagens filmadas ou conseguidas em arquivos. Estamos trabalhando para conseguir as melhores imagens possíveis, tendo em vista a negativa do Globo Universidade na cessão dos arquivos solicitados. Os vídeos são direcionados para um público acadêmico, principalmente. Utilizamos uma linguagem o menos hermética possível para que possam também ser visto e aproveitados por pessoas não necessariamente ligadas à área de som ou à universidade. A pretensão é a de realizarmos algo que possa ser exibido em universidades, congressos, seminário, etc. e que possa ser enviado a universidades do Brasil e de fora, como demonstração do interesse de nosso campo acadêmico pela área. A veiculação dos vídeos por plataformas online também faz parte de nossos planos, bem como o lançamento de um DVD a íntegra do trabalho. 5 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo A edição dos vídeos está seguindo a proposta original: Vídeo 1 Título: A paisagem sonora eletrônica • Novas tecnologias, novos sons. • Novas mídias e suas implicações sonoras • Objetos sonoros e sua distribuição pelas mídias Vídeo 2 Título: Sons extremos • Movimentos musicais de vanguarda • Noise • Circuit bending • Hiperestímulo sensorial • Funk carioca Vídeo 3 Título: Escutas cinematográficas • Evolução dos modelos de escuta no cinema • Dispositivos de reprodução sonora no cinema • Imbricação do cinema com outras mídias Vídeo 4 Título: A construção de marcas sonoras nas mídias • O apelo das sensorialidades na publicidade • O que são marcas sonoras? • O caráter afetivo das marcas 6 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo 2ª etapa do Projeto (agosto/2010 a janeiro/2011) Neste período os pesquisadores se concentraram na seleção dos entrevistados e na realização das entrevistas. Ao fazer a seleção dos entrevistados para o conjunto de vídeos sobre audibilidades contemporâneas alguns problemas se colocavam: Primeiro: deveríamos abranger um maior campo possível de práticas sonoras e um número igualmente grande de perspectivas sobre essas práticas. Segundo: era desejável que os entrevistados fornecessem dados sobre suas atividades e explicitasse suas reflexões a respeito do campo, sem, contudo estabelecer uma abordagem “correta” ou dominante em muitas das questões. Terceiro: os vídeos deveriam conter um estofo teórico necessário para um trabalho acadêmico, sem, contudo, perder de vista o caráter múltiplo e heterogêneo do público a quem o trabalho pode interessar. Igualmente, desejamos inserir questões de mercado ao trazer estratégias de branding sonoro e ao entrevistar profissionais que atuam em áreas de publicidade e no meio corporativo. Contamos com entrevistados de áreas como música, comunicação e cinema, com experiência comprovada na academia e fora dela. Alguns nomes estrangeiros contribuíram grandemente para um caráter mais universal da pesquisa, dialogando com pesquisadores brasileiros e ajudando a inserir nossa investigação em um cenário pioneiro no país. Forem realizadas 15 entrevistas, com duração média de 60 minutos. Segue um pequeno resumo do teor de cada entrevista e uma justificativa de por que tais assuntos foram importantes para o resultado final. 1. Jonatham Sterne é professor associado e diretor do Departmento Art History and Communication Studies, McGill University, Montreal, Canada. Obteve o grau de PhD na University of Illinois at Urbana-Champaign - Institute of Communications Research.Autor de The Audible Past: Cultural Origins of Sound Reproduction(DUke University Pub; 2003) e de inúmeros artigos sobre som e música, velhas e novas tecnologias da comunicação e assuntos correlatos. Em sua entrevista, a primeira a ser realizada, resolvemos investigar conceitos mais abrangentes da área de som e suas relações com temas atuais como cultura digital, novas tecnologias e sonoridades contemporâneas. Inicialmente, Sterne procurou definir o conceito de paisagem sonora, proposto por Murray Schafer, endereçando-lhe críticas de ordem metodológica, mas também procurando ver como este tem sido reapropriado por autores contemporâneos para a discussão de temas mais atuais. Nossa relação com a tecnologia é um tema caro ao entrevistado por revelar como nossas práticas culturais estão profundamente atre- 7 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo ladas ao desenvolvimento de aparatos tecnológicos. Isso em períodos anteriores da história bem como em nossa sociedade pautada por paradigmas da cultura digital. Novos ambientes tecnológicos e o uso do som por esses ambientes estiveram em pauta na entrevista. 2. Michael Goddard é palestrante em Estudos de Mídia desde 2007, na Universidade de Salford, Escola de Mídia, Música e Performance. Graduou-se (com o mais alto grau de honra) em Comunicação pela Universidade de Tecnologia de Sidney, concluiu seu mestrado (magna cum laude) em Língua Inglesa pela Universidade de Otago, em Dunedin, e é doutor em História e Teoria da Arte pela Universidade de Sidney. Seus principais interesses de pesquisa envolvem cinema mundial, cinemas do Leste Europeu, teoria do Screen, filmes, culturas visual e midiática, filme e filosofia e cinema e intermidialidade. Goddard foi um dos organizadores da conferência “Bigger than words, wider than pictures”: noise, affect, politics” que teve o Ruído como objeto principal, em Salford, Inglaterra, em julho de 2010. Como ele mesmo diz em sua entrevista, um de seus principais interesses é o ruído não apenas do ponto de vista sonoro ou musical, e sim como o ruído se insere em processos estéticos, de comunicação ou mesmo de forma política. Ao tratar de assuntos como o surgimento de rádios livres na Itália nos anos 70 e de movimentos musicais como o Industrial e o punk, Goddard tenta resgatar essa dimensão política. A questão principal que perpassou a entrevista foi a da ideia de uma sociedade pósmídia em que um modelo de comunicação descentralizado colocaria em xeque fenômenos e análises mais tradicionais das mídias. 3. O compositor polonês Zbigniew Karkowski estudou composição no State College of Music em Gotemburgo, Suécia, estética da música moderna no Departamento de Musicologia da Universidade de Gotenburgo e música computacional na Chalmers University of Technology. Depois de completar seus estudos na Suécia, estudou sonologia por um ano no Royal Conservatory of Music em Den Haag, Holanda. Durante este período, também participou de mastercourses de composição organizados pelo Centre Acanthes em Avignon e Aix-en-Provence, França, estudando com Iannis Xenakis, Olivier Messiaen, Pierre Boulez e Georges Aperghis, além de outros. Trabalha ativamente como compositor de música acústica e eletroacústica. Karkowski veio ao Brasil para realizar shows e workshops no Rio, em São Paulo e em Florianópolis. Sua participação forneceu uma perspectiva diferente dos temas abordados em outras entrevistas seja pelo fato de falar como alguém que “cria” sons e vive disso, portanto, uma experiência prática do som. Suas preocupações são principalmente de ordem estética, admitindo claramente que teorias não o interessam e não são o mais importante. O despojamento com que encarou a entrevista forneceu bons momentos de reflexão sobre a própria atividade artística. Novas tecnologias foram tema importante da conversa, sendo que, para o músico, a eletricidade foi e é o grande fator de mudanças de comportamentos e de práticas culturais. 8 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo 4. Paula Sibilia é professora no Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), sendo graduada em Ciências da Comunicação pela Universidade de Buenos Aires (UBA), mestre na mesma área pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Saúde Coletiva, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ). Autora de vários livros Sibilia publicou as obras “O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais” e “O show do eu: A intimidade como espetáculo”. A entrevistada possui um perfil diferente dos demais por não ter nenhuma relação direta com o som. Na verdade, a pesquisadora tem as tecnologias, principalmente as digitais, como objeto importante de suas investigações. Em nossa conversa, discorreu sobre os modos como essas novas tecnologias influenciam e modificam a nossa própria ideia de humano. Corpos e subjetividades são conformados segundo novas lógicas binárias. O som, como parte integrante desse universo digital, comparece como um sintoma de todas essas transformações. Um momento especialmente interessante da entrevista foi quando Paula analisou a questão do silêncio e como ele tem sido cada vez mais afastado de nossos ambientes justamente por uma mudança de nossos próprios mecanismos psíquicos de constituição de self. 5. Simone Pereira de Sá é Professora associada do Curso de Mídia e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Doutora em Comunicação e Cultura (ECO/UFRJ), foi pesquisadora visitante na McGill University em 2008, trabalhando junto ao grupo de Jonathan Sterne. É autora dos livros: Baiana Internacional: As mediações Culturais de Carmen Miranda (MIS-2002) e O Samba em rede: comunidades virtuais, dinâmicas identitárias e Carnaval carioca, (E-papers; 2005), além de artigos sobre som, música e tecnologias da comunicação. A pesquisadora Simone Pereira de Sá tem, entre outros, nos movimentos de produção e circulação de música (principalmente música popular) um de seus principais objetos de pesquisa. A entrevista girou, entre outros temas, principalmente sobre as novas relações estabelecidas por novas tecnologias de gravação e distribuição com as práticas musicais emergentes. Movimentos como a música eletrônica de pista e os bailes funk foram tratados como sintomas de uma cultura que procura, cada vez mais, elementos de estímulo intenso, adequando-se a uma lógica de reconfiguração de sensorialidades a partir de novas tecnologias. A mediação a partir do crescimento de mecanismos de circulação musical na Internet, com a participação de um número crescente de redes sociais, também foi abordada na conversa. 6. Vinícius de Andrade Pereira possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com formação complementar (bolsa doutorado sanduíche) no McLuhan Program in Culture and Technology, da Universidade de Toronto, Canadá. É professor adjunto da Faculdade de Comunicação Social e do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do 9 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo Rio de Janeiro, e dos cursos de comunicação e design da Escola Superior de Propaganda e Marketing. É pesquisador do CAEPM/ESPM, e do Programa McLuhan em Cultura e Tecnologia, da Universidade de Toronto, Canadá. Suas pesquisas e estudos situam-se, principalmente, em torno dos seguintes temas: tecnologias da comunicação, cibercultura, arte midiática, linguagens publicitárias em mídias digitais, estudos das materialidades dos meios e a Escola de Toronto de Comunicação, especialmente, a obra de Marshall McLuhan. Vinícius foi perguntado a respeito dos processos de reconfiguração de modelos perceptivos em ambientes midiáticos contemporâneos. Parte de suas conclusões é de que atualmente vivemos imersos em um cenário que requisita muito de nossa atenção. A partir dessa nova economia da atenção, outros sentidos, além do da visão, são necessários para uma melhor utilização de mídias e aparatos tecnológicos. A partir de uma pergunta sobre o ruído em nossa sociedade, Vinícius propõe que novos elementos comunicacionais que se inserem em uma ordem já estabelecida, são entendidos como ruídos, como perturbações que vão, posteriormente, organizar-se como um novo tipo de ordem. Essas perturbações e reorganizações de sistemas comunicacionais devem necessariamente levar em conta a participação de novas tecnologias. 7. Rodolfo Caesar é pesquisador do CNPq e professor na Escola de Música da UFRJ, onde coordena o Laboratório de Música e Tecnologia, o LaMuT. Estudou no GRM/Conservatoire de Paris, com Pierre Schaeffer, e mais tarde na University of East Anglia. Suas obras têm recebido distinções internacionais, tendo sido apresentadas em concertos e eventos como o Cycle Acousmatique em Paris, a International Conference of Computer Music, o Akustika Festival em Viena, o Fylkingen Festival em Estocolmo e outros. A formação de músico de Caesar e sua atuação junto à composição eletroacústica nos permitiu apresentar temas que ainda não tinham sido analisados por entrevistados da área de comunicação. Sua descrição dos procedimentos da música concreta nos anos 50, como figuras como Pierre Schaeffer e Pierre Henri, forneceu um panorama histórico das transformações sofridas pela música e, de um modo mais amplo, pelas práticas sonoras do século XX. Caesar também teceu críticas à ideia de Paisagem Sonora, estipulando as diferenças entre âmbitos sonoros e visuais da criação. Perguntado sobre a ideia de cinema como música e de música como cinema, Caesar falou um pouco sobre as diversas experiências contemporâneas que tentam trazer a participação de outros sentidos para a composição musical. 8. Gisela Castro é doutora em Comunicação e Cultura pela ECO/ UFRJ, onde também cursou o Mestrado. Graduação e Psicologia pelo IP/UFRJ. Docente do Programa de Mestrado em Comunicação Social da PUC-Rio em 2004, desenvolveu estudo sobre a distribuição de música na Internet. Seu projeto atual de pesquisa no Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo ESPM-SP visa compreender estratégias no consumo de música surgidas a partir da mediação de novas tecnologias de informação e comunicação. Participa regularmente dos principais fóruns de discussão no cam- 10 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo po da Comunicação no Brasil e no exterior. É membro do Conselho Científico Deliberativo da ABCiber (Associação de Pesquisadores em Cibercultura) e sócia da Intercom, filiada ao Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Culturas Urbanas. Seus artigos têm sido publicados em diversas revistas acadêmicas nacionais e internacionais. A contribuição de Gisela para os vídeos foi grande e variada. Sua pesquisa sobre movimentos musicais trouxe para a discussão nomes importantes no campo não só da música, mas também de performances artísticas mais ambiciosas como John Cage. Cage, entre tantas outras realizações, notabilizou-se por criar espetáculos nos quais diversas ações simultâneas eram executadas, não havendo, pois um centro específico das atenções. Suas investigações sobre novas sonoridades e sobre o uso de novas tecnologias na produção musical também foram abordadas. Gisela também respondeu a perguntas relacionadas a práticas de consumo e a como os sons podem servir a consolidação de estratégias de branding e a consolidação de marcas. A entrevista ainda tratou das modificações das sonoridades contemporâneas, principalmente no âmbito urbano, e de como nosso sentido da audição vem passando por processos de modificação ao longo do tempo. 9 & 10. Jean-Pierre Caron tem formação musical e, atualmente, faz seu doutorado em Filosofia e Linguagem em Paris 8, França. Rafael Sarpa, também é músico e desenvolveu sua dissertação de mestrado investigando o movimentos Noise e suas relações com modelos de escuta específicos, historicizando modos de utilização de sons extremos em práticas musicais e não musicais. Os dois formam o grupo Notyesus, de Noise, e já se apresentam em várias cidades brasileiras e fora do Brasil. Tem profunda ligação com a cena musical contemporânea. A entrevista começou abordando, assim como no caso de Jonathan Sterne e Rodolfo Caesar, a utilidade que o conceito de paisagem sonora pode ter para as várias áreas do estudo do som. Os dois entrevistados discorreram sobre o assunto, apontando problemas metodológicos e benefícios do uso do conceito. Como ambos têm seu trabalho ligado ao uso de tecnologias sonoras e a tecnologias digitais, esse foi um tema que tomou boa parte da entrevista. A partir de inúmeros exemplos, os músicos situaram a tecnologia na área da música como algo inescapável desde sempre. Os próprios instrumentos musicais tradicionais não deixam de ser tecnologias. O que acontecem atualmente é a existência de uma maleabilidade da matéria sonora muito maior, fato que também foi confirmado por Karkowski e por Caesar. Jean-Pierre e Rafael falaram um pouco sobre a cena musical contemporânea no Brasil e fora dele. Situaram o que costumamos chamar de música experimental como uma espécie de termo guarda-chuva para abarcar manifestações as mais distintas. No Brasil, a música experimental teria uma relação mais presente com o meio acadêmico do que em outros países. Os entrevistados falaram também sobre movimentos musicais, especialmente o Noise e sobre efeitos estéticos e fisiológicos de sonoridades intensas. 11 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo 11. Zana é brasileira, carioca, formada em Canto lírico, é proprietária da Zanna Sound, a primeira empresa em Comunicação Sonora da América Latina. No final de 2009, fundou na Alemanha a primeira Associação de Sound Branding da história, junto com as 16 maiores no mundo do segmento. Já desenvolveu sonoridade para várias marcas no Brasil, entre elas: Unimed, Banco do Brasil, Kuat, Amil, Icatu, MPB FM. Acredita que o som e o branding são ferramentas fundamentais para garantir uma conexão longeva entre a marca e seu público, capaz de gerar experiências inesquecíveis. A entrevistada demonstrou grande empolgação ao tratar do tema dos sons como elemento importante no universo das marcas. Para ela, não há como fugir da utilização de sons e de outros elementos sensoriais nas estratégias publicitárias. Zana explicou os passos para se construir a identidade sonora de uma marca, apontando, igualmente para os perigos de se estabelecer essa identidade sem uma pesquisa prévia do público-alvo, suas preferências e em que pontos a empresa precisa atuar para fortalecer essa relação com o consumidor. Citou vários exemplos do uso de sons em campanhas e em ambientes de venda. A profissional também demonstrou grande preocupação com as mudanças que nosso universo sonoro enfrenta, com níveis de barulho cada vez maiores e provocando, inclusive, doenças como estresse e problemas do coração. 12. Fernando Morais é Professor adjunto da Universidade Federal Fluminense, na Pós-Graduação em Comunicação e no Departamento de Cinema e Vídeo. Doutor em Comunicação pela mesma instituição (2007). Atua principalmente nos seguintes temas: análise do som, história e teoria do cinema. Lançou em 2008 o livro “O som no cinema brasileiro”, pela editora 7 letras. A entrevista com Fernando Morais nos forneceu, principalmente, um painel histórico do uso do som no cinema. Descrevendo práticas tanto da produção nacional como do cinema internacional, o entrevistado faz algumas análises sobre a constituição da linguagem e da experiência cinematográfica. Fez também uma revisão das teorias e dos autores preocupados com a instância sonora dos filmes, levantando relações entre o cinema e as outras formas de arte. Por fim, Fernando fez uma pequena análise do som no cinema nacional nas últimas décadas. 13. Ivan Capeller é profissional de som direto para cinema com vários longas-metragens no currículo. Foi recentemente aprovado como professor do curso de comunicação da UFRJ, já tendo dado aulas em outras universidades. Ivan, por conta de sua experiência na prática cinematográfica, apresentou questões importantes para situarmos metodologicamente o som no cinema. Citando autores como Foucault e o método arqueológico, Ivan nos falou de sua investigação sobre as origens e os tipos de escuta surgidos na sociedade moderna, remetendo a modelos como a Ópera wagneriana. Ivan também falou sobre os processos mnemônicos desencadeados pelo som e que podem auxiliar na atividade de construção de marcas sonoras. Deu alguns exemplos de propagandas que utilizam o som para provocar no consumidor associações afetivas e emocionais. 12 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo 14. Stephan Duailibi Yunes é graduado em comunicação social pela ESPM, tem MBA em marketing pela ESPM e mestrado em administração de empresas pelo Mackenzie. Com passagens por empresas como DPZ propaganda e MTV Brasil, atuou por 4 anos como gerente de marketing da Unimed do Brasil e atualmente é o responsável pela gestão da marca Unimed-Rio. Stephan tratou com minúcias das estratégias de marketing utilizadas na empresa Unimed, dando exemplos de utilização de elementos sensoriais para trazer o cliente para mais perto. Destacou que, muito embora reconheça que a utilização dessas novas plataformas seja uma aposta promissora, não há dados precisos sobre o retorno que esses recursos gerariam. Citou exemplos de sons que despertaram tanta simpatia dos funcionários de uma empresa que acabaram por ser utilizados como ringtones sem nenhum estímulo direto por parte da direção. Falou da importância dos elementos sonoros no mercado de publicidade e confirmou que eles são uma opção interessante para qualquer tipo de empresa. 15. Carlos Henrique Equi (Cahique) é publicitário, com MBA em Marketing pelo IAG-PUC, sócio da Staff Brasil e recebeu em 2010 o Prêmio de Publicitário do Ano. O publicitário identificou movimentos no mercado que, segundo ele, a médio e longo prazo, vão modificar totalmente a ideia que fazemos de propaganda. As novas mídias digitais exigem um novo modelo de relação entre cliente e agências e entre produtos e consumidores. Para o entrevistado, os elementos sensoriais, principalmente o som, são ferramenta indispensável para prender a atenção do público. Principalmente quando as mídias tradicionais têm que competir com a Internet, os games e novas modalidades de processos de comunicação. Sobre o profissional apto a trabalhar com os elementos sonoros para o mercado, Cahique diz ser importante darmos o reconhecimento devido aos músicos que são capazes de compor melodias inesquecíveis. Dada a diversidade e quantidade de informações coletadas em todas as entrevistas, julgamos poder fornecer um espectro amplo de usos e considerações sobre o som em nossa cultura. É importante ressaltar que cada entrevistado, ao ter a liberdade para discorrer sobre temas apresentados, não estando, contudo, preso a um roteiro rígido e restritivo, pôde contribuir para as discussões apresentadas em mais de um vídeo. Demonstra-se, assim, que quaisquer discussões sobre o tema ou sobre partes dele, podem ser profundamente enriquecidas por diferentes visões. Isso certamente ajudou na elaboração de um produto rico e que possa propor novas discussões e desdobramentos futuros. Para a edição final dos quatro DVDs está sendo realizada a pesquisa de imagens e a correspondente solicitação de cessão dos direitos autorais. Os pesquisadores se comprometeram a entregar os DVDs prontos em 29 de abril. 13 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM Relatório final de pesquisa Identidades sonoras para gestão de marcas: Modelos de audibilidades no cenário midiático contemporâneo Produção de textos para Congressos e Publicação em revistas Em paralelo com as entrevistas foram escritos dois textos para serem submetidos a Congressos e Revistas indexadas. O primeiro texto: Dos sinos ao ipod: Sons, espaços e identidades nas novas estratégias das marcas foi submetido ao Congresso da Anpad, porém não foi aceito. Foi revisado e foi enviado para a Revista Intexto. Foi escrito um segundo artigo, intitulado: A cultura do consumo e o entretenimento como linguagem multissensorial que foi enviado para o Confibercom e para a Revista Galáxia. 14 CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA ESPM