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UFES – Universidade Federal do Espírito Santo
Departamento de Engenharia Rural
Boletim Técnico: MS: 03/06 em 19/06/2006
Verificação, Validação e Experimentação com Modelos de Simulação
Prof. Luís César da Silva
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A estruturação de modelos para a simulação de sistemas leva a organização de
estruturas matemáticas que podem ser visualizadas como sendo uma função f que produz uma
saída y a partir de entradas de x e parâmetros do sistema p, Figura 1, assim y = f(x, p). Os
fatores y, x e p podem ser uma única variável, ou um vetor, ou ainda uma matriz.
Parâmetros do
sistema, p
Saídas, y
Entradas, x
Modelo do Sistema, f
Figura 1 – Visualização de modelos de simulação, y = f(x, p) (MENNER, 1995).
Quando da elaboração de modelos de simulação o objetivo é utiliza-los como
ferramenta como suporte ao processo de tomada de decisão. O que normalmente, requer a
condução de experimentos, tais como: (i) analise de sensibilidade, (ii) comparação de cenários,
(iii) otimização, e (iv) simulação de Monte Carlo. No entanto, para que os resultados dessas
experimentações possam realmente ser utilizados, o modelo de simulação empregado deve
passar pelos procedimentos de verificação e validação.
Conforme representado na Figura 2, quando da implementação de modelos de
simulação três tipos de erros podem ocorrer: (i) Erro do Tipo I – os dados gerados pelo modelo
são confiáveis, mas mesmo assim são rejeitados; (ii) Erro do Tipo II – os resultados
apresentados pelo modelo não são apropriados, no entanto são aceitos como validos; e (iii)
Erro do Tipo III – o modelo foi mal estruturado conseqüentemente é inapropriado para o uso.
Para evitar a ocorrência desses erros é recomendado conduzir os procedimentos de
verificação e validação. E estes procedimentos constituem nas atividades mais árduas no
desenvolvimento de modelos; e visam responder se o modelo representa com fidelidade os
aspectos em estudo associados a um dado sistema.
O procedimento de verificação consiste em um conjunto de ações cuja meta é certificar
se o modelo conceitual foi transcrito de forma adequada quando do uso da linguagem de
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simulação ou de programação. Para a execução da verificação é recomendado: (i) envolver
outras pessoas além dos idealizadores do modelo, (ii) rodar o modelo e proceder à
comparação dos resultados gerados com os obtidos do sistema real, (iii) rastrear o programa e
verificar a execução de cada rotina computacional, (iv) observar a animação e (v) analisar
estatisticamente os valores gerados para as variáveis aleatórias, quer estas associadas as
variáveis de entrada, parâmetros do sistema, ou variáveis de saída, Figura 1 (BALCI, 1997;
MARIA, 1997).
Problema Formulado
Não
O problema formulado engloba
todos os aspectos desejados?
Ocorre o Erro do
Tipo I
Sim
Não
O modelo implementado representa
confiávelmente o sistema ?
A solução apresentada tem
cedibilidade
A solução apresentada não
tem cedibilidade
Sim
Na validação o modelo
demonstrou credibilidade?
Sim
Não
Não
Sim
Os resultados da simulação
são aceitos ?
Na validação o modelo
demonstrou credibilidade?
Sim
Não
Não
Os resultados das
simulações são aceitos ?
Sim
Sim
Término com
sucesso
Ocorre o Erro do
Tipo I
Término com Erro
do Tipo I
Ocorre o Erro do
Tipo II
Término sem
sucesso
Término com Erro
do Tipo II
Figura 2 – Ocorrência de erros em estudos de simulação (BALCI, 1997).
É importante ressaltar que as tarefas associadas ao procedimento de verificação devem
ser conduzidas durante as diferentes fases de implementação do modelo, e não somente ao
final.
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Quanto ao procedimento de validação, este objetiva certificar se a transformação
entrada-saída (input-output) realizada pelo modelo tem precisão para representar a mesma
ocorrência procedida no sistema real. Para condução desse procedimento deve-se: (i) rodar o
modelo considerando mesmas condições impostas ao sistema e (ii) comparar os dados
gerados pelo modelo e o sistema (BALCI, 1997). A validação pode ser realizada de forma
subjetiva ou estatística (MENNER 1995).
A validação subjetiva é realizada quando não é possível conduzir incursões apropriadas
sobre o sistema em estudo. Neste caso pode ser empregado, por exemplo, o Teste de Turing.
Este consiste em: (i) obter os dados gerados pelo modelo e os do sistema, (ii) formatar os
dados obtidos para um mesmo padrão e (iii) submeter os dois conjuntos de dados a equipe de
especialistas. Caso estes profissionais não percebam diferenças entre os dois conjuntos de
dados isto indica que o modelo está validado. Outra forma de proceder validação subjetiva é
submeter a análise dos dados gerados pelo modelo a uma equipe de especialistas. Estes
profissionais com base em suas experiências farão julgamento quanto a confiabilidade dos
dados gerados (LAW e KELTON, 1991; WINSTON, 1994).
A validação estatística é realizada pelo emprego de procedimentos estatísticos como os
apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Estatísticas para análises aplicadas em verificação e validação de modelos
Categoria
Procedimento estatístico
Média
Medidas de posição (amostral)
Mediana
Moda
Variância
Estatística Descritiva
Desvio padrão
Medidas de dispersão (amostral)
Coeficiente de variação
Erro padrão da média
Amplitude total
Coeficiente de correlação amostral
Hipótese de Nulidade
Hipótese alternativa
Teste de Z
Teste de Aderência
Hipóteses Estatísticas
Teste do Qui-Quadrado ( χ )
2
Teste de Independência
Teste de homogeneidade
Teste de F
Teste de t
Teste de hipótese para dados emparelhados
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Para a aplicação dos processos destacados na Tabela 1 faz-se necessário a
observância de fundamentos estatísticos, no que concerne ao tipo de variável, aleatória ou
discreta, e se estas são independentes ou não.
No caso de variáveis aleatórias, por exemplo, a variável Xi que corresponde ao tempo
de espera em um sistema de fila, gerada pelo modelo na simulação na roda de número, tem-se
que após n rodadas será constituído o conjunto {X1, X2,...Xn}. Esses valores serão
independentes se as sementes dos geradores de números aleatórios foram escolhidas
aleatoriamente. Desta forma, pode ser utilizado ferramentas disponibilizadas pela estatística
clássica (Tabela 1) como: a média (equação 1), a variância amostral (equação 2), e o intervalo
de variação da variável a um dado nível de probabilidade (equação 3).
X=
1 n
∑ Xi
n i =1
(1)
s2 =
1 n
(X i − X )2
∑
n − 1 i =1
(2)
s2
n
(3)
X ± tα / 2, n −1
em que
tα / 2,n −1 - representa um valor da distribuição
t para n-1 graus de
liberdade ao nível de
probabilidade de α / 2 .
Um exemplo de emprego da equação 3 é apresentado na Tabela 2. Neste caso são
calculados os Limites Inferior e Superior tomando como ponto de referência a média dos dados
obtidos do sistema real, assim:
Limite superior Æ LS = M s + t.Dp / n
Limite inferior Æ LS = M s − t.Dp / n
em que
Ms = média dos dados obtidos do sistema real;
Dp = desvio padrão dos dados gerados pelo modelo.
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Calculados os limites é testado para cada nível de probabilidade se os valores máximos
e mínimos estão contidos no intervalo de confiança. Se os valores estão contidos o teste é
aceito caso contrário é rejeitado.
Tabela 2 – Uso do teste de t na determinação de intervalo de confiança quando praticado cinco
rodadas de simulação
Consumo de Energia Elétrica
o
Demanda de Energia Elétrica
Rodada n
MWh – FP
MWh – HP
Total kWh
kW -FP
kW-HP
1
160,20
19,17
179,37
233,46
204,02
2
152,53
19,39
171,92
247,63
204,02
3
159,06
19,44
178,50
233,46
204,02
4
158,59
19,21
177,80
247,63
218,19
5
166,90
20,15
187,05
247,63
196,94
Valor Máximo
152,53
19,17
171,92
233,46
196,94
Valor Mínimo
166,90
20,15
187,05
247,63
218,19
Desvio Padrão
5,108
0,387
5,389
6,986
7,720
Média Sistema Real
159,46
19,47
178,93
241,96
205,434
Intervalo de confiança segundo o teste t
Confiança 99% t =
4,604
4,604
4,604
4,604
4,604
Limite Inferior
148,94
18,68
167,83
227,58
189,54
Limite Superior
169,97
20,27
190,02
256,35
221,33
Intervalo de confiança segundo o teste t
Confiança 95% t =
2,776
2,776
2,776
2,776
2,776
Limite Inferior
153,12
18,99
172,24
233,29
195,85
Limite Superior
165,80
19,95
185,62
250,64
215,02
Intervalo de confiança segundo o teste t
Confiança 90% t =
2,132
2,132
2,132
2,132
2,132
Limite Inferior
154,59
19,10
173,79
235,30
198,08
Limite Superior
164,33
19,84
184,07
248,62
212,80
99%
Aceito
Aceito
Aceito
Aceito
Aceito
95%
Rejeitado
Rejeitado
Rejeitado
Aceito
Rejeitado
90%
Rejeitado
Rejeitado
Rejeitado
Rejeitado
Rejeitado
Testes
Obs: FP – fora do horário de pico; HP – horário de pico.
BARLAS (1989) sugere as seguintes práticas na execução de perdimentos quando da
validação de modelo:
•
Avaliar de tendências: consiste em proceder análise de regressão tendo por dados
os gerados pelo modelo e os coletados do sistema real;
•
Conduzir teste de autocorrelação (autocorrelation function test): é extensivamente
utilizado em estimativas de modelos de séries temporais;
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•
Conduzir do o teste da correlação cruzada (cross-correlation function test): que
consiste em determinar como duas séries temporais se assemelham. O que pode
aplicado as séries correspondentes aos dados gerados pelo modelo e os coletados;
•
Realizar o cálculo do erro percentual (equação 4);
S−A
E1 =
A
.100
(4)
em que
S - é a média dos dados simulados; e
A - é a média dos dados observados no sistema.
•
Avaliar a amplitude das variâncias (equação 5)
E2 =
ss − sa
(5)
sa
em que
s s - variância dos dados simulados; e
s A - variância dos dados observados no sistema.
•
Determinar o coeficiente de discrepância: este procedimento é recomendado
somente para se ter um apanhado da performance do modelo. Portanto, deve ser
aplicado após ter-se utilizado de outros procedimentos mais eficientes. Como forma
de cálculo tem-se as proposta por Henry Theils (equação 6) e por Griner (equação
7):
∑ (S − A )
∑S + ∑ A
2
Uo =
Uo =
i
i
2
i
∑ (S
∑ (S
i
− S − Ai + A) 2
− S) +
2
i
(6)
2
i
em que:
Ai – valor observado no sistema
Si – valor simulado
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∑ (A
i
− A)
2
(7)
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Experimentação com modelos
Uma vez o modelo verificado, validado e especificado as condições de uso, este pode
ser utilizado para conduzir experimentações tipo: (a) análise de sensibilidade, (b) comparação
de cenários, (c) otimização, e (d) simulação de Monte Carlo.
1. Análise de sensibilidade: consiste em alterar o valor de um ou mais parâmetros do
modelo e certificar o impacto sobre os valores das variáveis de saída. Por exemplo, no
caso uma unidade industrial poderia ser verificado o impacto sobre a performance do
sistema ao ser aumentada ou reduzida a produtividade em uma dada operação unitária.
2. Comparação de cenários: é aplicado quando o objetivo é fazer a comparação das
diversas possíveis configurações. Nestas comparações é certificado a que melhor
atende os anseios do tomador de decisão.
3. Otimização: tem por objetivo por meio do modelo buscar a configuração e/ou a forma
operação do sistema que trás melhor desempenho. O que pode ser em termos técnicos
e/ou econômicos.
4. Simulação de Monte Carlo: é aplicada a modelos do tipo estocástico. Para tanto, é
necessário proceder a várias rodadas com o modelo, e em seqüência realizar análises
estatisticamente dos resultados gerados. Deste modo, para uma dada variável será
possível determinar as probabilidades de ocorrência de valores, bem como, o intervalo
de confiança.
Referências
KRAHL, A. The Extend Simulation Environment. In: The 2000 Winter Simulation Conference.
Piscataway: NJ, IEEE, Proceedings. 2000. p. 280-289.
LAW, A. M., KELTON, W. D. Simulation modeling & analysis, 2nd Edition, McGraw Hill, Inc:
New York. 1991.
MARIA, A. Introduction to Modeling and Simulation. In: The 1997 Winter Simulation
Conference. Piscataway: NJ, IEEE, Proceedings. 1997. p. 7-13.
Menner, W. A. Introduction to modeling and simulation. Johns Hopkins APL Technical
Digest 16(1): 6:17. 1995
Neelamkavil, F. Computer simulation and modeling. Great Britain: John Wily & Sons Ltd.
1987.
RIVERA, J. Modeling with Extend. In: The 1997 Winter Simulation Conference. Association of
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Computer: New York, Proceedings. 1997. p. 674-676
SILVA, L C. Stochastic simulation of the dynamic behavior of grain storage facility.
2002. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola.) Universidade Federal de Viçosa. Viçosa:
MG.
WINSTON, W. L. Operations research - applications and algorithms. In. International
Thomson Publishing. Belmont, California. 1994. 1312p.
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