O Meio Ambiente e a Esperança Cristã Palestra 1 – A Verdade Bíblica sobre o Meio Ambiente Antonia Leonora van der Meer 1. O Mandato Criacional – Deus, o Homem e o Meio Ambiente. 1.1. A Relação entre o Meio Ambiente Criado e o Criador. Salmo 104:10-12, 24-25, 27-28. A Bíblia mostra que Deus é separado da criação, porque transcende todas as coisas criadas. Mas Ele também está presente na criação, lidando com tudo que Ele criou, com amor e envolvimento contínuo. A criação é finita, limitada, dependente; o Criador é infinito, ilimitado e auto-suficiente. A Bíblia mostra que a criação tem seu próprio valor e dignidade, independente de sua utilidade para a humanidade. Jó 38 e 39 mostra como Deus cuida dos animais, das plantas e da terra em lugares remotos e desabitados, com carinho e atenção. O primeiro propósito da criação é glorificar a Deus. A maneira como Gênesis 1 relata a criação mostra que havia ordem e estrutura, e que Deus tinha prazer naquilo que criou. Havia interdependência entre as coisas criadas. Deus separou a terra seca das águas, e fez brotar a vegetação (criando o contexto favorável à vida) e a seguir criou os animais terrestres e o próprio homem. Gênesis fala que no princípio Deus criou. Várias vezes usa a palavra bara. Essa palavra enfatiza a liberdade e a soberania do artista. O Novo Testamento declara que A Palavra de Deus, o Filho Encarnado de Deus estava presente ativamente na criação (Jo 1:3; Col 1:16; Ro 11:36). Em outros textos bíblicos a palavra bara geralmente se refere a ações libertadoras e salvadoras de Deus na história. O Deus que faz as coisas é também aquele que recria as coisas. O Deus Criador é também o redentor. Ele tem um envolvimento contínuo e criativo com Sua criação. 1.2. O Homem como Administrador Responsável pela Criação. 1.2.1. Gênesis 1:26-28. O que significa dizer que fomos criados à imagem e semelhança de Deus? É mais do que a capacidade para ser ou fazer algumas coisas. Somos os seus representantes na terra, criados para viver em relacionamento com Ele. A imagem implica antes de tudo em relacionamento. Mas o homem faz parte da criação total de Deus e não tem direito absoluto de posse sobre o restante da mesma. Mordomia ou Administração Responsável é a expressão chave desta perspectiva da criação. Deus possui a terra e a confiou à humanidade, para que cuidasse dela. Visto que a terra foi dada a toda humanidade, o acesso a ela e o uso dos seus recursos devem ser partilhados e estar disponíveis a todos. Pode haver uma propriedade particular legítima, mas esse direito de propriedade fica subordinado ao direito anterior de todo ser humano ter acesso aos recursos da terra. A terra é de Deus e nós a administramos. Essa ordem implica na responsabilidade do homem trabalhar. O trabalho não é resultado da queda, faz parte da expressão de nossa criatividade e capacidade humana. È nosso dever ocupar-nos com um trabalho econômico produtivo, e também criar oportunidades para que outros trabalhem de maneira digna. Também o produto do trabalho não é simplesmente um direito particular exclusivo. O princípio da mordomia implica em responsabilidades mútuas e assim não tenho simplesmente o direito de guardar e consumir o que quero e conquisto. No Novo Testamento se fala só de Jesus como a imagem do Deus invisível (Col 1:15). E que nós, quando estamos em relacionamento com ele, somos transformados novamente em sua imagem (2 Co 3:18). Por isso ser criado na imagem de Deus, trata do relacionamento que Deus tem conosco e de nossa resposta a Ele. A verdadeira humanidade se expressa na comunhão pessoal com Deus. Quando andamos com Deus vamos nos tornando mais semelhantes a Ele. A semelhança também significa que representamos a Deus na terra. Isso se expressa no relacionamento mútuo entre os seres humanos, e também no cuidado responsável pela criação. O domínio certamente não significa exploração, pelo contrário, uma maneira de servir que facilita o desenvolvimento de um meio ambiente saudável. 1.2.2. Gênesis 2:9 e 15. A tarefa do homem é cuidar e cultivar. A palavra hebraica abad significa servir, o substantivo derivado significa escravo. E a palavra shamar significa preservar, proteger e manter. O ser humano é o administrador do lindo parque que Deus criou. Ele deve cultiválo e protegê-lo. Deve guardar o jardim assim como Deus nos guarda (ver bênção em Números 6:22-26). A realização humana inclui a criatividade expressa através do trabalho. Cultivar implica em algumas mudanças e crescimento, mas crescimento positivo e construtivo, como cultivar uma amizade. Nossa ação deve refletir a ação de Deus, de suportar e sustentar o seu mundo. A criatividade de Deus se expressa em trazer forma ao que está sem forma, em trazer ordem ao caos, em conter o poder das águas para que possam vir a produzir vida. Nossa criatividade humana deve ser expressa de tal maneira que Deus possa ver que o fruto de nossa ação ficou bom, uma bondade que não destrói, mas mantém a vida. 2. Reflexos do Pecado no Mundo Caído. A essência da queda foi o desejo arrogante do homem de ter autonomia, uma rebelião contra a autoridade de Deus. Se o homem obedecesse a Deus, seria instrumento de bênção, mas em sua insaciável cobiça, ele contamina e destrói a criação, transformando o jardim em deserto. Ver textos bíblicos: Isaías 24:4-5; Oséias 4:1b-3. Esses textos mostram o vínculo entre a maldade humana e a decadência do meio ambiente. A devastação causada por essa atitude de rebelião afetou o relacionamento do homem com Deus, com seus semelhantes e com todo o ambiente material e econômico. A terra e os recursos tornaram-se motivo de guerras e lutas entre os homens. Alguns recursos são acumulados por uns e negados a outros. Muitos são desperdiçados, poluídos ou abusados. A posse dos recursos tornou-se uma questão de conquista e ataque, de opressão, ganância e poder. O trabalho se tornou muitas vezes enfadonho e frustrante. Os relacionamentos humanos na esfera econômica se corromperam, e o trabalho se torna escravo da ganância, instrumento de opressão, na busca de satisfazer a ambição de pessoas mais poderosas. O crescimento econômico tornou-se obsessivo, e o ser humano passou a viver em função de uma crescente prosperidade e consumo. A Bíblia mostra que a ganância equivale à idolatria (Ec 5:10s). E o produto do processo econômico tem sido manipulado de tal maneira que beneficia os ricos e prejudica os pobres (ver Pv 13:23). Mateus 6:24. Os que transformam as riquezas e a ganância em seu Deus tornam-se escravos das riquezas e escravizam a outros. Na Bíblia toda há muitas acusações e advertências contra a exploração econômica dos pobres. Hoje a degradação do meio ambiente é uma triste realidade. A emissão de dióxido de carbono provoca o aquecimento global que já está produzindo mudanças drásticas no clima. Perdemos em 40 anos um terço das florestas pluviais da terra. 1,2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável. Nós pescamos em excesso, poluímos a atmosfera, acabamos com o suprimento de água potável e destruímos o solo, as florestas e as espécies feitas pelo Criador. Pelo uso dos carros que dirigimos, das nossas crescentes viagens aéreas, do estilo de vida de consumo de roupas e objetos eletrônicos, acompanhados com a ausência de cuidado pelo meio ambiente, nos consumistas viciados. Estamos destruindo o jardim de Deus, e colocando em risco a vida das gerações futuras. Hoje há vários tipos de câncer resultante de substâncias químicas tóxicas usadas em indústrias ou como agro-tóxicos. Pessoas nascem com deformidades físicas por causa de produtos químicos presentes em muitas áreas, usados sem cuidado. Muitos problemas respiratórios são causados pela poluição do ar, e com o crescimento dos grandes centros urbanos isso vai continuar crescendo. Gastamos milhões de dólares em conferências, leis e publicações e a situação não tem mudado. Já sabemos que a idéia de que uma vez informadas, as pessoas vão agir diferentemente não funciona. O problema ecológico é um problema do coração humano que precisa ser transformado. 3. A Resposta de Deus para o Caos Humano e Ambiental. Deus instituiu leis que ajudam a manter a criação e o equilíbrio social entre os homens. Deus entra em aliança (um compromisso da parte de Deus) com todos os seres criados, após o dilúvio, prometendo que já não destruirá toda carne pelas águas do dilúvio. Como lembrete dessa aliança Deus escolheu o arco-iris. Deus vai fazendo novas alianças, e ratificando as anteriores, no decorrer da história, fazendo seu compromisso de abençoar e cuidar de suas criaturas. A aliança não é um compromisso unilateral, espera uma resposta de obediência da parte do ser humano, aos princípios dados por Deus para regular as esferas pessoais, sociais, políticas e religiosas de sua vida. - O Repouso do sábado era obrigatório para o empregador, o empregado e os animais usados no trabalho (Ex 20:11; Dt 5:15). Os escravos e outros empregados também podiam desfrutar dos festivais e ocasiões de culto. - Havia também o ano sabático, em que a própria terra devia descansar, as dívidas deveriam ser perdoadas, e os escravos libertos (Dt 15:1-3). - E havia o ano do jubileu (Lev 25), quando as terras deviam ser devolvidas aos donos originais, para evitar o acúmulo de riquezas e posses na mão de poucos, e a dependência econômica da maioria. O objetivo do jubileu foi de refrear a ganância humana, e evitar o uso abusivo da terra. O abuso da terra era tratado como pecado contra Deus. A falta de obediência em guardar os anos sabáticos foi uma das causa do juízo de Deus que resultou no exílio (2 Cron 36:20-21). Infelizmente a humanidade continua sendo controlada pela maldade entre si mesma e em relação à criação. O resultado é a morte. A mudança da natureza humana foi iniciada por um ato de Deus. Deus tornou-se parte da criação, em Jesus Cristo. Por sua morte e ressurreição, Cristo removeu a penalidade do pecado para nós e para a criação. A redenção exige um preço, e esse preço foi o sangue de Cristo (Ef 1:7). Sua ressurreição foi o início do poder de uma nova vida no mundo. Por meio do E.S., Deus opera uma transformação crescente em nossos corações e mentes. Assim recebemos poder para viver em obediência a Deus, e liberdade para desenvolver um caráter semelhante ao de Cristo. A morte e a ressurreição de Cristo também têm conseqüências cósmicas para a criação (Col 1:15-16,19-20). Devemos demonstrar a realidade da obra de Cristo em nossa vida, na maneira como tratamos a criação. Deus promete estabelecer uma nova aliança (Jr 31:31-13). É uma aliança para um novo tipo de pessoas, radicalmente transformadas. A Bíblia deixa claro que o plano cósmico de redenção inclui os elementos não humanos da criação. Romanos 8:19-23 mostra o sofrimento da criação e de como ela espera e será participante da restauração do reino de Deus. Deus purificará a criação do mal introduzido pela queda e restaurá-la integralmente (v.21). Devemos nos arrepender de nosso estilo de vida irresponsável, viver de maneira mais simples, para que outros possam viver, e para dar menos prejuízo ao meio ambiente. Esse apelo não é só para os ricos, cada um deve fazer sua parte. Somos criados de tal forma que a satisfação humana não depende só de posse de coisas materiais, mas de um relacionamento adequado com a criação, com o próximo e com Deus. O chamado para cuidar do próximo e da natureza coloca limites na aquisição e no consumismo. O mundo material é tão bom que Aquele que criou todas as coisas, as considerou boas e se tornou carne de verdade. É tão bom que Jesus ressuscitou em forma corpórea. E os cristãos terão corpo ressurreto para dançar e festejar numa criação renovada. O mundo material é uma obra de arte, confiada à humanidade pelo seu Criador. Devemos cuidá-lo de maneira a honrar nosso Deus e Criador. Podemos começar a enfatizar o amor de Deus pela criação em nossa vida como igreja e como famílias cristãs. Podemos revisar nosso consumo de energia para salvar combustíveis fósseis, água, árvores, e diminuir o impacto do lixo. Cristãos fiéis devem cuidar com carinho do jardim de Deus.