Reprodução em fêmeas de pequenos felídeos sul-americanos Mirella L. D’Elia Introdução Todos os pequenos felídeos neotropicais encontram-se nos apêndices I ou II do CITES; Principais obstáculos da reprodução de pequenos felídeos brasileiros: - alta dispersão geográfica de felídeos cativos: dificuldades. - inexistência de espaço suficiente em cativeiro para reprodução Baixo desempenho reprodutivo em cativeiro: - baixa % de nascimentos na população - sucesso de reprodução imprevisível - natalidade X mortalidade nos 30 primeiros dias Importância: - população cativa com valor genético - importante ferramenta de conservação - Plano de Manejo de Pequenos Felídeos Necessidades: - melhor compreensão da fisiologia reprodutiva destes animais - desempenho reprodutivo mais consistente em cativeiro - o número de indivíduos reprodutores - técnicas de reprodução assistida aplicadas com maior sucesso (*ex: Guepardos) Características Reprodutivas Gerais Tabela 1 – Dados reprodutivos de felídeos neotropicais Espécie Nome científico Peso (kg) Duração do estro (dias) Duração do ciclo estral (dias) Gestação (dias) Número de filhotes 16,4 ± 1,2 55 – 60 62 – 74 73 - 78 1-2 1–3 4 – 10 32 – 36 17,6 ± 1,5 76 – 84 1–2 1 – 12 20 23 – 29 62 – 78 (maioria em 71 – 78) 1–3 2,31 ± 0,13 80 – 85 1–3 19,9 ± 1,8 25,11 ± 4,33 42 70 – 85 79 - 85 1-2 1-3 53,63 ± 2,41 63 - 70 70 – 75 1–4 35,0 – 70,0 91 – 95 1–4 135,0 – 158,0 93 – 105 1–4 Gato-do-matopequeno Leopardus tigrinus 1,5 – 3,0 3–9 Gato-maracajá Leopardus wiedii 3,5 Gato-do-matogrande Leopardus geoffroyi 2,0 – 6,0 Gato-palheiro Leopardus colocolo 3,0 – 4,0 Jaguatirica Leopardus pardalis 7,0 – 15,0 4,63 ± 0,63 7 – 10 Jaguarundi Puma yagouaroundi 3,0 – 7,0 3,17 ± 0,75 Suçuarana Puma concolor Onça-pintada Panthera onca Tabela 2 – Situação atual de felídeos neotropicais brasileiros Espécie Nome científico Jaguatirica Leopardus pardalis Jaguarundi Puma yagouaroundi Suçuarana Puma concolor Onça-pintada Panthera onca Situação em cativeiro – Studbook Associação Mata Ciliar 378 jaguatiricas : 118 machos, 99 fêmeas e 2 indeterminados 87 instituições localizadas em 78 cidades de 20 estados brasileiros Durante 34 anos - taxa média de crescimento de 17% Taxa média dos últimos 10 anos : 3% 66% 10 anos de idade (idade média: 21 anos) 36% nasceu em cativeiro 10% (8 animais) – 3ª geração 57% - 1ª geração 87 animais cativos Durante 20 anos – taxa média de crescimento de 25% Taxa média dos últimos 10 anos: 10% 38% animais adultos (2 – 10 anos de idade) 54% senis - 10 anos de idade 20% nasceu em cativeiro 5 animais - 2ª geração Restante - 1ª geração 175 animais em cativeiro Durante 24 anos – taxa média de crescimento de 24% Taxa média dos últimos 10 anos: 6% 59% (103) animais adultos ( 2- 12 anos de idade) GRUPO COM ALTO POTENCIAL REPRODUTIVO 32% (56) nasceu em cativeiro - 2% apenas podem ser utilizados em programas de reprodução; 98% (55) descartados do programa por seus pais não terem origem conhecida. 212 animais em cativeiro – 15% com origem conhecida (geneticamente viáveis) 35 animais em cativeiros ilegais Durante 33 anos - taxa média de crescimento de 18% Taxa média dos últimos 10 anos: 6% 70% 12 anos de idade – BAIXO POTENCIAL REPRODUTIVO 32% nasceu em cativeiro 80%- 1ª geração 1,5% - 3ª geração Puberdade X peso corporal Oncifelis geoffroyi: ♂ 50 meses ♀ 47 meses * Redução pode ser atingida com manejo nutricional Marcação de fêmeas em vida livre: borrifamento de urina – variável de acordo com o ciclo reprodutivo. - Estro: ↑ - Prenhez: ↓ e praticamente ausente durante a criação dos filhotes Sazonalidade dependente de fotoperíodo e disponibilidade de presas * Leopardus wiedii, Leopardus tigrinus e Leopardus pardalis não apresentam padrão reprodutivo Análise de esteróides fecais: - avaliação da função ovariana - geração de dados - correlações: ambiente em cativeiro, sazonalidade, nutrição e comportamento - método não invasivo - prevenção de estresse por colheitas periódicas de sangue, distúrbios na secreção hormonal e comportamento em decorrência da contenção. Leopardus wiedii, Leopardus tigrinus e Leopardus pardalis: POLIÉSTRICAS Espécie Nome científico Gato-do-matopequeno Leopardus tigrinus Gato-maracajá Leopardus wiedii Jaguatirica Leopardus pardalis Intervalo entre os picos de excreçõ de Variação entre picos de excreção de estrógeno (dias) Média ± SEM (erro estrógeno (dias) padrão da média) 16,7 ± 1,3 11 – 27 26,1 ± 3,5 11 - 55 18,4 ± 1,6 7 – 31 Leopardus tigrinus e Leopardus pardalis: ovulação induzida níveis de estrógeno flutuantes em fêmeas não acasaladas; ondas de crescimento folicular e regressão/ concentrações de progestágeno basais Leopardus wiedii: altos níveis de metabólitos fecais de progestágeno -> ovulação espontânea. Sinais de cio em felídeos domésticos: - uniformes entre as espécies de felídeos; - rolamento no solo*; - esfregar-se contra objetos*; - vocalização*; - comportamento de auto-limpeza; - micção com maior freqüência; - borrifamento de urina*; - atividade investigativa* * Jaguatirica. Cio silencioso na maioria dessas espécies: dificuldade de formar pares cativos... Incompatibilidade comportamentais: injúrias por luta e/ou morte. Necessidade de monitoramento! A freqüência e características variam através das fêmeas, não existe comportamento único indicativo de estro. Concepção: atenção para a possibilidade da fêmea ou o macho matar o(s) filhote(s) em situação estressante. Manejo Reprodutivo e Enriquecimento Ambiental Sucesso reprodutivo » fatores comportamentais e de manejo (extrínsecos). Enriquecimento ambiental: comportamento reprodutivo e cuidado parental bem sucedidos » animais reprodutivamente viáveis. Fatores possivelmente estressantes devem ser eliminados Perturbação mínima Recintos fora da área de visitação ↑ concentração de cortisol em felídeos estressados por manipulações imprevistas Contato físico e visual evitado entre recintos adjacentes (atenção para fêmeas gestantes e em lactação) Modificação das circunstâncias da alimentação: prioridade!!! Motivação e comportamento de busca Alimentação sem horário padronizado Redução de comportamentos estereotipados Promover padrões comportamentais semelhantes ao de vida livre Exemplos de EA nos recintos... Perda de pêlo: 28,1g/kg; 2/3 pelas fezes Introdução de pares Interações sociais: indução X supressão de estro A importância do isolamento de machos e femeas Redução de interesse sexual: causa Preferência pelo companheiro e dificuldade de identificação de cio: introdução do macho por 60 dias. (evitar parição na presença do macho) Reintrodução após um período mínimo de uma gestação Por que movimentar apenas o macho? Diagnóstico de gestação - ultra-sonografia - palpação abdominal - radiografia* - laparoscopia* Aborto ou parição A importância da privacidade para a fêmea e suas crias: sensibilidade a distúrbios Negligência materna Separação - filhotes mais fracos - suscetíveis a doenças (colostro) - comportamento - mãe substituta Avaliação Reprodutiva e Reprodução Assistida Avaliação Reprodutiva Exame clínico e histórico de manejo; Monitoramento de esteróides reprodutivos; Laparoscopia do trato genital; Citologia vaginal; Swabs - difícil interpretação - vaginites e endometrites Reprodução Assistida Inclui: IA, FIV, transferência de embriões e banco de reserva genômica Felídeos: suscetibilidade a viroses… aliminação de patógenos Tratamento com hormônios gonadotropinas exógenas utilizadas: eCG/FSH (desenv.folicular) e hCG (indutor da ovulação). subdosagem X superdosagem Taxas de prenhez e sobrevivência dos filhotes ainda são baixas Contracepção MGA - Acetato de melengestrol. Ação contraceptiva não ocorre através da supressão da foliculogênese. Lesões uterinas, incluindo câncer uterino, mas não com doença ovariana. Provavelmente apresentam estrógenos endógenos que podem confundir os efeitos dos progestágenos no útero. Hiperplasia mamária pode ocorrer após o tratamento com progestágenos. Uso freqüente de progestágenos ou pseudogestações repetidas induzem dominância progestágena e aumentam o risco de endometrite.Tratamento: prostaglandinas -> efeito ecbólico. Antibióticos de amplo espectro são geralmente administrados. Referências MOREIRA, N. Reprodução e estresse em fêmeas de felídeos do gênero Leopardus. UFPR - Curitiba. 2001. 232p. SILVA, J.C.R.; ADANIA, C.H. Tratado de Animais Selvagens.