TRABALHO DE RECUPERAÇÃO PORTUGUÊS – 9º ANO Fabiano “Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos - e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado. - Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: - Você e um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha - e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha. - Um bicho, Fabiano (...) Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas. Ele, Sinha Vitoria, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados a terra. Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.” Ramos, Graciliano. Vidas Secas. São Paulo. Record, 1983, 51 ed. PP. 17 e 19. 1. Ao reconhecer-se como bicho, Fabiano sentia orgulho. Segundo Fabiano, qual a característica de bicho que causa orgulho? 2. O texto fornece também indicadores de que Fabiano se identifica com a paisagem, carrega consigo traços e marcas do universo rude em que vive. Cite alguns desses indicadores. 3. Levando-se em conta os dados fornecidos pelo texto narrativo, como se poderia definir a condição de vida de Fabiano? Devemos reprimir o uso de palavras estrangeiras? A história ensina que a imposição da língua é uma forma de dominação de um povo sobre o outro. O estrangeirismo abusivo é lesivo ao patrimônio é lesivo ao patrimônio cultural e está promovendo uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa. Nosso idioma oficial passa por uma transformação que não se ajusta aos processos aceitos de evolução das línguas. Que obrigação tem um brasileiro de entender que uma mercadoria “on sale” está em liquidação. Aldo Rebelo, deputado federal, PC do B – SP, é autor do projeto de lei que restringe o uso de estrangeirismos. O estrangeirismo é essencial. Negar a influência de um idioma sobre outro é negar a natureza de todas as línguas. Cerca de 70% das palavras do português vêm do latim e o restante, de outros idiomas. Apesar da luta dos puristas de todas as épocas, as línguas vivem em constante aprimoramento. Ainda assim, acredito que uma eventual estratégia de defesa do idioma não deveria ser feita por decreto, mas pela melhoria do sistema educacional. Francisco Marto de Moura, autor de livros didáticos de língua portuguesa. Nova Escola. 4. Francisco Marto de Moura afirma: “Cerca de 70% das palavras do português vêm do latim e o restante de outros idiomas”. Pode-se pressupor que Moura acredita que o estrangeirismo é inaceitável? Justifique. 5. Aldo Rebelo afirma: “Nosso idioma oficial passa por uma transformação”. Pode-se pressupor que o deputado acredita que o estrangeirismo é aceitável? Justifique. (UNICAMP-SP) Uma edição de do Noite e Dia (Feira de Santana, BA) trouxe, na seção Zé Coió, a seguinte história: Vou pegar o talão! Cansado de não vender nada na sua loja, João pegou o carro e saiu pelo interior para vender seus produtos. Depois de 15 dias sem tirar um só pedido, sentou-se embaixo de uma árvore para descansar. De repente viu uma garrafa e chutou. A garrafa deu meia volta e chegou junto. João tornou a chutar e a garrafa deu outra meia volta e ficou bem ao seu lado. João pegou a garrafa, começou a acariciar e de repente surgiu uma voz que disse: _ “Você tem direito a três pedidos!” João levantou correndo e disse: _ “Espere aí que eu vou buscar o talão”. Cá, cá, cá, cá, cá, cá, cá, cá. 6. A sequência “Cá, cá, cá, cá, cá, cá, cá, cá” não faz parte da história. Explique por quê. 7. A fala de João, retomada no titulo, revela um equívoco fundamental na identificação de quem fala de dentro da garrafa. Em que consiste esse equívoco? 8. Transcreva as palavras que, no diálogo entre as duas personagens, permitem articular a resposta de João com sua experiência prévia de vendedor intinerante. (Unicamp-SP) Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que lê. Um bom exemplo é o trecho que segue, no qual há duas ambiguidades, uma decorrente da ordem das palavras e a outra, de uma elipse de sujeito. “O presidente americano [...] produziu um espetáculo cinematográfico em novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo bandejão em que era servido aos soldados americanos.” (Revista Veja) 9. Quais as interpretações possíveis das construções ambíguas? 10. Reescreva o período eliminando a ambiguidade. (FUVEST-2009) Considere as seguintes frases, extraídas de diferentes matérias jornalísticas, e responda ao que se pede: I. Nos últimos meses, o debate sobre o aquecimento global vem, com perdão do trocadilho, esquentando. II. Preso vigia acusado de matar empresário. 11. Identifique, na frase I, o trocadilho a que se refere o redator e explique por que ele pede perdão por tê-lo produzido. 12. É correto afirmar que na frase II ocorre ambiguidade? Justifique sua resposta. (UFTM-Letras-2009) Leia o texto: Aceleração tecnológica Em média, os bioplásticos são 30% mais caros que os plásticos convencionais. Apesar do preço alto, estima-se que eles possam representar 10% do total do mercado brasileiro em 2012. De olho nesse potencial, a belgo-argentina Solvay Indupa assinou um contrato com a cooperativa de produtores de álcool e açúcar Copersucar para o fornecimento do etanol que será usado na fabricação de PVC. Na mesma linha de parcerias, a gigante do setor Dow Chemical buscou a Crystalsec para montar o primeiro pólo alcoolquímico integrado do mundo na região do Triângulo Mineiro, com investimentos estimados em 1,5 milhão de reais. A produção de cana estará lado a lado com a fábrica de plásticos. (Exame, 24.09.2008) 13. Reescreva a frase, flexionando adequadamente o verbo auxiliar no futuro do presente e o verbo principal no particípio: 1,5 milhão SER + INVESTIR para montar o primeiro pólo alcoolquímico integrado do mundo. 14. Reescreva a expressão - ... para o fornecimento do etanol... – transformando fornecimento em verbo. 15. João do Rio, em um dos capítulos de A alma encantadora das ruas, narra episódios relacionados às tabuletas do comércio que se espalhavam pelas ruas do Rio de Janeiro do início do século XX. Em uma dessas passagens, ele narra: E outro, encarregado de fazer as letras de uma casa de móveis, vendem-se móveis, quando o negociante veio a ele. - Você está maluco ou a mangar comigo! - Por quê? - Que plural é esse? Vendem-se, vendem-se... Quem vende sou eu e sem sócios, ouviu? Corte o m, ande! As letras custam dinheiro, custam aos pobres pintores... O rapaz ficou sem o m que fizera com tanta perícia. Mas também, por que estragar? RIO, João do. A alma encantadora das ruas. Belo Horizonte: Crisálida, 2007.p.80. O argumento de que o negociante lança mão para ordenar o corte da letra m está de acordo com as exigências da norma culta do português? Justifique sua resposta. 16. Leia o texto abaixo: “É o caso do patrão que não comprava cigarro, mas filava todos os dias um cigarrinho de manhã, outro depois do almoço, outro na saída do trabalho. O empregado, com dor no bolso, decidiu dar um jeito no abuso. Travou-se então entre ele e o mandachuva diálogo pra lá de divertido: - O senhor fuma muito, não? - Fumo, mas não trago. - Pois devia trazer. (SQUARISI, D. O Estado de Minas, Belo Horizonte, 14 set. 2008. Caderno de Cultura, p.2) Explique por que o uso da primeira pessoa do singular “trago” torna o texto engraçado. (UNIFESP-2009) Leia o texto: O ‘probrema’ é nosso Segundo Eliana Marquez Fonseca Fernandes, professora de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goías, em se tratando de linguagem, não se pode falar em erro ou acerto, mas desvios à norma padrão. “O importante é estabelecer a comunicação. Para isso, usamos a língua em vários níveis, desde o supercuidado ou formal até o não-cuidado ou não-formal.” “A gramática tradicional diz que, quando se fala ‘nóis vai, nóis foi’, isso não é português. Mas é sim. Em outro nível. Estudos mais recentes na área dizem que tais formas de expressão são corretas. Censurar ou debochar de quem faz uso delas é discriminação linguística.” Para a professora, o domínio da norma culta não deve ser exigido da população de modo geral, principalmente de pessoas que têm baixo grau de escolaridade. “Quem tem obrigação de saber o português formal, falar e escrever de acordo com as regras são os professores, os jornalistas, os acadêmicos”, diz. (Diário da Manhã, Goiânia, 05.05.04. Adaptado) O texto expõe pontos de vista diferentes sobre a concepção de língua e de seu uso. 17. Explique o ponto de vista da professora Eliana e da gramática tradicional, conforme apresentados. 18. A professora Eliana afirma que censurar ou debochar de quem faz uso de formas não-padrão é discriminação linguística. Todavia, em sua fala, pode-se entrever certa discriminação linguística. Transcreva o trecho em que isso ocorre e explique por quê. (UNICAMP-2008) A carta abaixo reproduzida foi publicada em outubro de 2007, após declaração sobre a legislação do aborto feita por Sérgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro. Sobre a declaração do governador fluminense, Sérgio Cabral, de que “as mães faveladas são uma fábrica de produzir marginais”, cabe indagar: essas mães produzem marginais apenas quando dão à luz ou também quando votam? (Juarez R. Venitez, Sacramento-MG, seção Painel do Leitor, Folha de São Paulo, 29/10/2007) 19. Há uma forte ironia produzida no texto da carta. Destaque a parte do texto em que se expressa essa ironia. Justifique. 20. Nessa ironia, marca-se uma crítica à declaração do governador do Rio de Janeiro. Entretanto, em função da presença de uma construção sintática, a crítica não incorre em uma oposição. Indique a construção sintática que relativiza essa crítica. Justifique.