5, 6 e 7 de Agosto de 2010 ISSN 1984-9354 HEURÍSTICA PARA O PROBLEMA DE SINTERIZAÇÃO DE LIGA METÁLICA E DIAMANTE PARA A PRODUÇÃO DE FERRAMENTAS DIAMANTADAS Eglon Rhuan Salazer Quimaraes (Universidade Candido Mendes) [email protected] Ana Carolina de Almeida Sá (Universidade Candido Mendes) [email protected] Dalessandro Soares Vianna (Universidade Federal Fluminense) [email protected] Marcilene de Fátima Dianin Vianna (Universidade Estadual Norte Fluminense) [email protected] Nas diferentes áreas de aplicação, a substituição de alguns tipos de ferramentas por ferramentas diamantadas é crescente. Dentre as áreas de aplicação mais afetadas se encontra o tratamento de materiais rochosos como o mármore. Neste setorr as ferramentas diamantadas são utilizadas desde o corte até o polimento das rochas. Este trabalho tem como objetivo, propor técnicas para otimizar o processo de criação das ferramentas de corte de mármore, otimizando o processo de empacotamento das partículas que a compõem, visando encontrar um maior fator de dureza e maior durabilidade. É proposta para o problema uma heurística de busca local, da qual os resultados foram considerados satisfatórios, segundo avaliação de um especialista da área de síntese de diamantes. Palavras-chaves: Heurística de busca local, otimização combinatória, ferramentas diamantadas VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 1. Introdução O processo de produção das ferramentas diamantadas utilizadas para o corte de mármore que são abordadas neste trabalho consiste na sinterização de uma liga metálica juntamente com o diamante. Esta sinterização gera uma matriz, que é soldada a uma base de aço concluindo seu processo. As matrizes geradas pela sinterização de diamante com liga metálica possuem 60% de partículas de diamante e 40% de liga metálica. As partículas de diamante têm sua granulometria fixada em 400 mm e não podem se tocar dentro do bloco. Enquanto o pó metálico que constitui a liga pode variar entre 10 e 50 mm. Os modelos de Furnas e Andreasen mostram claramente a influência da distribuição granulométrica das partículas no fator de empacotamento, conforme apresentado; quando existem partículas de tamanhos diferentes, o fator de empacotamento melhora consideravelmente. A Figura 1 mostra a eficiência do posicionamento e da diversidade de tamanhos quanto ao empacotamento de partículas. Figura 1. Representação de empacotamento com dois tamanhos de partículas. 2 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Quando todas as partículas apresentam o mesmo tamanho (monotamanho), o volume intersticial mínimo é 26% do volume total e é independente do tamanho das partículas (SILVA, SEGADAES & DEVEZAS, 2004). Contudo, os pós de diamante e liga metálica apresentam distribuições granulométricas diferentes, podendo variar a proporção de diferença visto que a granulometria do pó metálico pode variar. Neste caso, as partículas de menor tamanho podem ocupar os interstícios deixados livres pelo empacotamento de partículas de tamanho superior, o que eleva a densidade do sistema. Portanto, existe uma grande possibilidade de otimizar a distribuição de tamanhos de partículas, para maximizar o empacotamento e reduzir o volume intersticial. No empacotamento com dois tamanhos diferentes de partículas em que cada um deve ocupar uma porcentagem do espaço pré-determinado, podemos observar que partículas de tamanho maior, preferencialmente, não devem estar muito próximas, pois deste modo não torna a mistura homogênea havendo uma grande possibilidade das partículas ficarem concentradas em uma determinada região. Foram encontrados na literatura, alguns documentos que se referem a problemas de empacotamento: Oliveira e Filgueira (2007) propõem algumas técnicas heurísticas para carregamento de itens idênticos de base circular (tubos, rolos,...) em uma base retangular. A resolução consiste em determinar o posicionamento padrão das bases circulares dos itens no palete retangular, enquanto maximiza o número de itens. Silva, Segadães e Devezas (2004) utilizam pós de alumina comercial (reativa e tabular) para a realização do empacotamento, recorrendo a dois procedimentos distintos, usando a metodologia das superfícies de resposta e técnicas de análise estatística afins (programa de cálculo Statistica). Em ambos os casos foi obtida a distribuição granulométrica que maximiza a densidade de empacotamento. Os resultados obtidos demonstram, assim, que o efeito prejudicial da não esfericidade das partículas pode ser, na realidade, compensado pela otimização da distribuição granulométrica global. Neste trabalho é proposto uma heurística de busca local para a sinterização de diamante com liga metálica, com o intuito de encontrar as melhores distribuições granulométricas e homogeneidade das partículas, visando chegar a um melhor fator de dureza e maior durabilidade do material resultante. Para a implementação da heurística proposta, o bloco gerado pela sinterização foi representado por uma matriz, que devido à complexidade do 3 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 problema foi criada de forma bidimensional. Nesta matriz são inseridas as partículas de diamante e de liga metálica. Após este processo é contabilizada a quantidade de espaços vazios dentro da matriz, de forma a medir o fator de empacotamento obtido pela mesma. O restante do trabalho está organizado da seguinte forma: a Seção 2 apresenta a heurística proposta; os resultados são mostrados na Seção 3; as considerações finais são descritas na Seção 4; e, por fim, são apresentadas as referências utilizadas. 2. Heurística proposta Métodos baseados em busca local vêm demonstrando sucesso na solução de problemas de otimização combinatória (ANDREATTA, CARVALHO & RIBEIRO, 2002; FESTA & RESENDE, 2002; FESTA et al., 2006; GLOVER, 1996; GLOVER, FESTA & MARTÍ, 2000; MLADENOVIC & HANSEN, 1997; OCHI et al., 1998; VIANNA & COELHO, 2006; VIANNA, OCHI & DRUMMOND, 1999). Neste trabalho é proposto um método de busca local para o problema de sinterização de diamante com liga metálica. Na heurística proposta, uma solução inicial é construída e depois refinada através de um método de busca local. A Subseção 2.1 apresenta uma técnica de construção de uma solução inicial proposta neste trabalho. Uma estratégia de refinamento proposta neste trabalho é descrita na Subseção 2.2. 2.1. Método construtivo Como já citado anteriormente, o bloco produzido pela sinterização é representado através de uma matriz bidimensional. Neste trabalho, esta matriz possui dimensões 10000x10000 e é inicializada com o valor „0‟ (simbolizando uma matriz inicialmente vazia). Para se alocar as partículas de diamante na matriz efetua-se uma seqüência de cálculos. Primeiro, calcula-se a quantidade total de pontos da matriz, multiplicando-se a quantidade de colunas pela quantidade de linhas. Sabendo que as partículas de diamante ocupam 60% do 4 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 espaço, é possível determinar que 60% da quantidade de pontos total da matriz serão ocupados pelo diamante. Após definida a quantidade de pontos que será preenchida por partículas de diamante, calcula-se a quantidade de pontos que uma partícula de diamante possui. Este valor é obtido com base nos dados contidos em um arquivo texto de entrada (extensão .txt), o qual contém as dimensões (quantidade e distribuição dos pontos) do diamante. A quantidade de partículas de diamante é calculada através da divisão da quantidade total de pontos que serão preenchidos por diamante pela quantidade de pontos que um diamante possui. Sabendo a quantidade de partículas de diamante que serão alocadas, o próximo passo consiste em identificar a quantidade de diamantes em cada linha e em cada coluna. Para chegar a este resultado, é feita a raiz quadrada da quantidade de partículas de diamante, este cálculo pode resultar em um valor não inteiro, neste caso é criada mais uma linha para alocar as partículas restantes. Após este passo é necessário saber a distância entre as partículas. A distância entre partículas nas linhas é obtida dividindo a quantidade de pontos sem preenchimento da linha pelo diâmetro da partícula e a distância entre diamantes na coluna é obtida através do mesmo processo, porém com valores referentes à coluna. A última linha pode ter uma quantidade diferente de diamantes, por isto este cálculo também é feito separadamente para a última linha. Após efetuar todos os cálculos de quantidade e distância entre os diamantes, os mesmos são inseridos na matriz respeitando-se estes valores. Esta inserção é feita atribuindo o valor „1‟ na matriz no espaço em que a partícula vai ocupar e para que se possa diferenciar uma partícula de outra, o ponto do meio da mesma recebe o valor 5. Os valores de tamanho das partículas de diamante e das partículas do pó metálico são obtidos através de um arquivo de texto de entrada (extensão .txt) contido na pasta do aplicativo. A Figura 2 mostra uma parte da matriz com algumas partículas de diamante de tamanho reduzido já inseridas. 5 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Figura 2. Matriz com partículas de diamante de tamanho reduzido. Depois de inseridas todas as partículas de diamante na matriz é efetuado um teste em cada índice da matriz para que se possa avaliar a possibilidade de inserção de uma partícula de pó metálico. Caso sua inserção não sobreponha nenhum índice com valor diferente de „0‟ nem ultrapasse os limites da matriz, uma partícula é inserida e o teste continua a partir do próximo ponto até que toda a matriz seja percorrida. Este método de construção traz uma solução com boa homogeneidade de distribuição das partículas de diamante, porém não é possível garantir uma ótima condição de empacotamento devido ao posicionamento das partículas. Devido a este fator foi considerado necessário a implementação de um método de busca local, o qual percorre toda a vizinhança da solução em busca de uma solução melhor. Se esta solução vizinha for encontrada, torna-se a solução corrente e a busca local reinicia seu processo. 6 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 2.2. Refinamento da solução Devido a possibilidade do método construtivo não gerar resultados satisfatórios, foi identificada a necessidade de se implementar um método de refinamento das soluções obtidas. Contudo, o processo de criação de um método de busca local neste problema possui alguns fatores que o dificultam. O primeiro fator consiste no tamanho da matriz que representa o problema, o qual é muito elevado; isto acarreta demora na obtenção de resultados. Outro fator se deve a grande quantidade de partículas que são alocadas na matriz, devido a isto qualquer “movimento” que se deseje efetuar sobre uma partícula pode levar a uma necessidade de “movimentos” com várias outras partículas dentro da matriz, levando a um esforço computacional elevado. Diante disto, o refinamento implementado neste trabalho se baseia em gerar novas soluções a partir de perturbações nos posicionamentos definidos pelo método construtivo. O método construtivo define a quantidade de partículas de diamante por linhas, colunas e a distância entre elas. As quantidades de partículas por linha e por coluna seguem estas definições, porém no momento de se alocar o diamante, a distância entre elas pode receber uma perturbação ou não, a uma probabilidade definida em 5%. Este processo é repetido até que a quantidade de iterações definida pelo usuário seja atingida, gerando várias soluções e todas as soluções geradas ficam guardadas para que possam ser comparadas posteriormente. 3. Resultados Para a realização dos experimentos foi definido como 20 mm e 50 mm o tamanho do raio das partículas de pó metálico e de diamante, respectivamente. O algoritmo foi executado com 10 iterações e ficou em execução durante aproximadamente 5 horas em um micro com processador sempron 2800 e 1 GB de memória RAM. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 3, que apresenta o número de pontos vazios nos resultados obtidos em cada iteração. 7 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Figura 3. Resultados. Os resultados foram analisados por um especialista da área de síntese de diamantes da Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), o qual considerou os resultados obtidos bem promissores. 4. Considerações Finais A área de síntese de diamantes é uma área em ampla expansão em nosso país. No entanto, é escasso o uso de técnicas de otimização combinatória em seus processos. Este trabalho tem como objetivo resolver o problema de sinterização de uma liga metálica com diamante. Para simular a situação real, algumas dificuldades foram encontradas, tais como: a representação computacional do problema, tamanho elevado da matriz, dentre outros. Estes fatores levaram a uma demora na execução do algoritmo. Contudo, os resultados obtidos mostram que a estratégia de busca local implementada levou a uma melhora, visto que o melhor resultado foi obtido na sétima iteração e apresentou 162570 pontos preenchidos a mais do que a primeira que representa o método construtivo. 8 VI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Energia, Inovação, Tecnologia e Complexidade para a Gestão Sustentável Niterói, RJ, Brasil, 5, 6 e 7 de agosto de 2010 Estes resultados, quando analisados por um especialista da área de síntese de diamantes, foram considerados bem promissores. Agradecimentos Este trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelo Parque de Alta Tecnologia do Norte Fluminense (TECNORTE) e pela Fundação Estadual do Norte Fluminense (FENORTE). Referências Andreatta, A. A., Carvalho, S.E.R., Ribeiro, C.C. 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