UNIVERSIDADE DE COIMBRA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA
UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRA-BAIXO CONSUMO DE
COMBUSTÍVEL
Por:
Pedro Manuel Ferreira Gonçalves
Dissertação submetida ao Departamento de Engenharia Mecânica da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
para a obtenção do grau de
MESTRADO EM CIÊNCIAS DE ENGENHARIA MECÂNICA
SETEMBRO DE 2008
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA
UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRA-BAIXO CONSUMO DE
COMBUSTÍVEL
Por:
Pedro Manuel Ferreira Gonçalves
Dissertação submetida ao Departamento de Engenharia Mecânica da
Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra para
a obtenção do grau de
MESTRADO EM CIÊNCIAS DE ENGENHARIA MECÂNICA
SETEMBRO DE 2008
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
RESUMO
Com o objectivo de conceber um motor de elevado rendimento energético para aplicar
ao veículo protótipo da Equipa Eco Veículo do Departamento de Engenharia Mecânica da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, neste trabalho foi possível
desenvolver e utilizar ferramentas avançadas de simulação e projecto mecânico, aplicando os
conceitos físicos fundamentais nos processos envolvidos e verificando a sua validade através
dos resultados experimentais. Os estudos paramétricos de previsão do comportamento do
motor em toda a sua gama de operação foram feitos num modelo computacional desenvolvido
que combina análise dinâmica e termodinâmica em motores de combustão interna. Com esta
análise, por variação dos parâmetros de entrada, propriedades de combustão do combustível,
tempos de injecção, instantes de ignição e tempo de abertura das válvulas e tempos de
injecção foi concebido um motor de 31,65 cm3 (M3165) que minimizasse o seu consumo
específico para as condições previstas na prova. Foram comparados os resultados do modelo e
dos testes experimentais efectuados e determinados os efeitos da carga, regime, instante de
ignição, riqueza da mistura ar-combustível e potência ao freio no consumo específico de
combustível do motor. O motor funciona em modo de injecção indirecta, com elevada relação
de compressão e segundo o ciclo de Atkinson, com aumentos de eficiência, relativamente ao
motor similar Honda GX22, na ordem dos 30 %.
3
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
AGRADECIMENTOS
Um especial agradecimento ao Prof. Doutor Pedro Carvalheira, por todos os
conhecimentos que me transmitiu, paciência para comigo nalguns momentos e pela sempre
pronta disponibilidade. A todos os membros da Equipa Eco Veículo, pelo interesse e força
que sempre mostraram ao longo de todo o desenvolvimento do projecto. Em especial ao
colega António Loio, pelos seus ensinamentos em CAM e CNC, sempre úteis na fase de
qualquer projecto mecânico. À Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pelo
financiamento deste projecto, sem o qual não poderia ser executado. Finalmente aos meus
pais, irmãos e amigos que sempre estiveram comigo e me apoiaram ao longo de todo este
projecto.
4
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
ÍNDICE
RESUMO ..................................................................................................................... 3
AGRADECIMENTOS.................................................................................................. 4
ÍNDICE ........................................................................................................................ 5
NOMENCLATURA E SÍMBOLOS ............................................................................. 8
CAPÍTULO UM ......................................................................................................... 14
1
Introdução e Objectivos .................................................................................. 14
CAPÍTULO DOIS ...................................................................................................... 17
2
O Estado da arte.............................................................................................. 17
2.1
Motores de Combustão Interna aplicados nos veículos protótipos que
participam na Shell Eco-Marathon................................................................................ 17
2.2
Motores de Ciclo de Atkinson .................................................................. 18
2.3
Eco Veículo XC01i: um veículo protótipo de extra-baixo consumo de
combustível ................................................................................................................ 21
2.4
Trabalho desenvolvido no Departamento de Engenharia Mecânica –
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DEM-FCTUC) ...... 22
CAPÍTULO TRÊS ...................................................................................................... 23
3
Considerações iniciais de projecto e caracterização preliminar do motor ......... 23
3.1
Caracterização preliminar do motor ......................................................... 23
3.2
Considerações de projecto para a câmara de combustão ........................... 24
3.3
Influência da relação de compressão em motores de ignição por faísca .... 25
3.4
Características do sistema de injecção/ignição electrónica programável ... 25
3.5
Sistema de arrefecimento ......................................................................... 29
5
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
3.6
Sistema de lubrificação ............................................................................ 29
CAPÍTULO QUATRO ............................................................................................... 30
4
Modelação do ciclo termodinâmico em Motores de Combustão Interna (MCI-
SI)
....................................................................................................................... 30
4.1
Programa de simulação: “4SSI” ............................................................... 31
4.2
Modelação dos processos envolvidos em MCI-SI de 4 tempos feita no
programa “4SSI” .......................................................................................................... 35
CAPÍTULO CINCO ................................................................................................... 69
5
Simulação e optimização dos parâmetros do motor utilizando o programa
“4SSI”[23] ....................................................................................................................... 69
5.1
Validação dos resultados teóricos obtidos com o programa “4SSI”,
utilizando o motor Honda GX160 ................................................................................. 69
5.2
Determinação da geometria óptima .......................................................... 70
CAPÍTULO SEIS ....................................................................................................... 78
6
Projecto e análise estrutural por elementos finitos (FEA), utilizando o ANSYS...
....................................................................................................................... 78
6.1
Projecto e análise estrutural (FEA) do êmbolo sob condições de serviço .. 78
CAPÍTULO SETE ...................................................................................................... 92
7
Resultados Experimentais ............................................................................... 92
7.1
Descrição do banco de ensaios ................................................................. 92
7.2
Freios Aerodinâmicos .............................................................................. 93
7.3
Funcionamento do Sistema de Injecção/Ignição ....................................... 95
7.4
O motor protótipo desenvolvido ............................................................... 97
7.5
Máquina analisadora de gases – Medição de riqueza ................................ 98
7.6
Procedimento dos ensaios ...................................................................... 100
7.7
Apresentação de resultados .................................................................... 100
7.8
Análise de erros ..................................................................................... 107
CAPÍTULO OITO .................................................................................................... 115
6
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
8
Conclusões e trabalho futuro ......................................................................... 115
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 117
ANEXO I – Caracterização da Instrumentação ...................................................... ii
ANEXOS II – Fotografias dos componentes do motor.......................................... vi
Ilustração i – Fotografia da cabeça do motor......................................................... vi
ANEXO III – Modelos CAD 3D do motor ......................................................... viii
7
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
NOMENCLATURA E SÍMBOLOS
a
Raio da manivela da cambota, m
a
Número de átomos de carbono da molécula de hidrocarboneto
A
Área, m2
Ab
Área esférica de queima, m2
Am
Área mínima de passagem, m2
Ar
Área de referência da válvula, m2
AL
Área laminar queimada, m2
b
Número de átomos de hidrogénio da molécula de hidrocarboneto
Bm
Parâmetro para o cálculo da celeridade de chama laminar
B
Parâmetro para o cálculo da celeridade de chama laminar de referência
CD
Coeficiente de descarga da válvula
c~ p
Capacidade calorífica molar a pressão constante, J/(mol.K)
cp
Capacidade calorífica mássica a pressão constante, J/(kg.K)
c~v
Capacidade calorífica molar a volume constante, J/(mol.K)
cv
Capacidade calorífica mássica a volume constante, J/(kg.K)
B
Diâmetro do cilindro, m
bmep
Pressão média efectiva ao freio, Pa
bsfc
Consumo específico de combustível ao freio, g/(kW.h)
Cfactor
Número de átomos de carbono em cada molécula HC que está a ser medida
D
Diâmetro, m
Dm
Diâmetro médio da sede da válvula, m2
Dp
Diâmetro interior da sede da válvula, m2
Ds
Diâmetro da haste da válvula, m2
Dv
Diâmetro da cabeça da válvula, m2
Dve
Diâmetro da cabeça da válvula de escape, m2
8
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Dvi
Diâmetro da cabeça da válvula de admissão, m2
Ea
Erro absoluto
e
Espessura do filme lubrificante, m
F
Força, N
~
h
Entalpia específica molar, J/mol
hc
Coeficiente de transferência de calor por convecção, W/m2.K
hj
Altura do componente j, m
H
Entalpia, J
Hcv
Relação atómica de átomos de hidrogénio para átomos de carbono no
combustível
imep
Pressão média efectiva indicada, Pa
isfc
Consumo específico de combustível indicado, g/(kW.h)
I
Intensidade de corrente eléctrica, A
k
Condutibilidade térmica, W/m.K
K
Constante de equilíbrio da equação dos gases de água
l
Comprimento da biela, m
L
Curso do êmbolo, m
Lve
Levantamento da válvula de escape, m
Lvi
Levantamento da válvula de admissão, m
m
Massa, kg
m
Polinómio de 2º grau em função de 
m f
Caudal mássico de combustível, (kg/s)
M
Massa molar, kg/mol
n
Número de moles, mol
Velocidade de rotação da cambota, rpm
nfr
Número de moles de frescos no cilindro quando termina a admissão, mol;
np
Número de moles dos produtos, mol
nr
Número de moles dos reagentes, mol
nR
Número de rotações da cambota por ciclo
nt
Número de moles total no final da combustão, mol;
N
Velocidade de rotação da cambota, rot/s
p
Pressão, Pa
9
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
patm
Pressão atmosférica, Pa
p0
Pressão de estagnação a montante da válvula, Pa
pm
Pressão no cilindro no caso de não ocorrer ignição da mistura, Pa
pT
Pressão imediatamente a jusante da válvula, Pa
Pb
Potência do motor ao freio, W
Pf
Potência de fricção do motor, W
Pi
Potência indicada do motor, W
Q f
Caudal volúmico de combustível, (m3/s)
Ocv
Relação atómica de átomos de oxigénio para átomos de carbono no
combustível
rc
Relação de compressão
Coordenada da frente de chama
rb
Raio dos gases queimados
rf
Raio da frente de chama
R
Relação comprimento da biela/raio da manivela da cambota
Rbs
Relação diâmetro do cilindro/curso do êmbolo
Ru
Constante universal dos gases (8,314472 J/mol.K)
s
Distância entre o eixo da cambota e o eixo do cavilhão do êmbolo, m
Sb
Velocidade de queima, m/s
SL
Celeridade de chama laminar, m/s
SL,0
Celeridade de chama laminar à temperatura e pressão de referência, m/s
Sp
Velocidade do êmbolo, m/s
Sp
Velocidade média do êmbolo, m/s
t
Tempo, s
Tb
Binário do motor ao freio, N.m
Ti
Binário do motor indicado, N.m
T
Temperatura, K
T0
Temperatura de estagnação a montante da válvula, K
Temperatura de referência (298,15 K), K
Tbv
Temperatura dos gases queimados isocórica adiabática, K
TB1
Temperatura dos gases não queimados na fase de compressão, K
TB2
Temperatura dos gases queimados na fase de expansão, K;
Tscc
Temperatura da superfície da câmara de combustão, K
10
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tu
Temperatura dos gases não queimados, K
ub
Velocidade de expansão dos gases queimados, m/s
ug
Velocidade média do gás junto à frente de chama, m/s
uT , EA
Intensidade de turbulência, m/s
v
Velocidade, m/s
V
Volume, m3
Vb
Volume esférico queimado, m3
Vf
Volume inflamado, m3
Volume de combustível, m3
~
xi
Fracção molar do componente i
xb
Fracção molar dos gases queimados
xb
Fracção mássica dos gases queimados
yb
Fracção volúmica dos gases queimados
w
Largura da sede da válvula, m
Wc
Trabalho por ciclo, J
zc
Coordenada da frente de chama
Símbolos gregos

Parâmetro para o cálculo da celeridade laminar de chama
c
Coordenada da frente de chama

Parâmetro para o cálculo da celeridade laminar de chama
Ângulo da sede das válvulas
i
Ângulo da sede da válvula, grau

Riqueza da mistura ar-combustível

Ângulo de inclinação da biela, rad
m
Riqueza da mistura para a qual a celeridade de chama tem um valor máximo
com o valor de Bm

Coeficiente de expansão isentrópica
c
Rendimento da combustão
v
Rendimento volumétrico
11
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
m
Rendimento mecânico
f
Rendimento de conversão de combustível
 f ,b
Rendimento de conversão de combustível ao freio

Variação/Intervalo

Viscosidade dinâmica, Pa.s

Ângulo de rotação da cambota, rad

Massa volúmica, kg/m3

Tensão tangencial, Pa

Coeficiente de fricção do escoamento no sistema de admissão
Índices
ar
Ar atmoférico
ad
Adiabático
b
Gás queimado
c
Cilindro
fr
Frescos
gr
Gases Residuais

Ângulo de rotação da cambota
0
Ângulo de início de combustão
 Ângulo de rotação da cambota anterior a 
i
Espécie química
indicado
mix
Mistura
j
Componente do sistema de admissão
parcela de área da câmara de combustão
p
Produtos
r
Reagentes
u
Gás não-queimado
Abreviaturas
A/F
Relação ar-combustível
ABDC Depois do ponto morto inferior, grau
12
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
ATDC Depois do ponto morto superior, grau
BBDC Antes do ponto morto inferior, grau
BDC
Ponto morto inferior, grau
BTDC Antes do ponto morto superior, grau
EVC
Fecho da válvula de escape, grau
EVO
Abertura da válvula de escape, grau
IVC
Fecho da válvula de admissão, grau
IVO
Abertura da válvula de admissão, grau
TDC
Ponto morto superior, grau
TI
Instante de ignição, grau
ACCAC Relação entre a área da cabeça do cilindro e a área de secção transversal do
cilindro
LBF
Relação entre a distância máxima percorrida pela chama e o diâmetro do
cilindro
RON
Índice de octano pelo método research
WOT
Válvula de borboleta completamente aberta
MBT
Máximo binário ao freio
13
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO UM
1 Introdução e Objectivos
Desde o início da revolução industrial que vários tipos de máquinas baseadas na
conversão de energia potencial química de um combustível em trabalho mecânico foram
desenvolvidas. Dependendo do local onde se dá a combustão e do modo de operação de cada
máquina, os motores de combustão podem ser categorizados em dois grupos principais:
motores de combustão interna (MCI) e motores de combustão externa (MCE). Uma outra
classificação de um motor de combustão interna é baseada na forma como a ignição ocorre:
ignição por faísca (SI) ou ignição por compressão (CI). Esta dissertação trata apenas de
motores de combustão interna de ignição por faísca (MCI-SI). É actualmente aceite que o
motor de combustão interna representa no mundo industrializado, uma das principais formas
de produção de trabalho. Desde a sua invenção em 1837, o MCI tem sido tema de
investigação e desenvolvimento contínuos. No passado recente as questões ambientais e a
escassez cada vez maior de recursos energéticos tem sido a motivação principal para as
actividades de investigação e desenvolvimento.
A configuração mecânica mais comum de um motor de combustão interna é o sistema
biela-manivela, o qual permite a conversão de um movimento alternativo linear de um êmbolo
ou pistão, em movimento rotacional da cambota [1]. Uma outra configuração de um motor de
combustão interna é o chamado motor rotativo ou motor Wankel. Este é um motor mais
compacto que os motores alternativos correntes e tendo menos partes móveis que estes,
permite ter um menor peso e uma potência específica mais elevada. No entanto, estes motores
têm as suas próprias fraquezas e são representadas pela falta de vedação encontrada na
interface entre o rotor e a caixa e o maior consumo específico de combustível ao freio.
O motor de combustão interna é uma máquina relativamente ineficiente cujo
rendimento varia entre 20 e 50 %, cujo limite máximo correspondente aos motores de ignição
14
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
por compressão [1]. Assim, apenas uma pequena quantidade da energia contida no
combustível é transformada em trabalho útil, o resto é perdido sob a forma de calor e atrito.
Os esforços para melhorar o rendimento global de um sistema convencional tipo bielamanivela estão actualmente concentrados no melhoramento da eficiência do ciclo
termodinâmico, no entanto as perdas mecânicas associadas com o atrito também têm sido alvo
de melhoramentos através dos materiais e o controlo dos acabamentos superficiais das peças
em movimento relativo.
Num motor convencional de quatro tempos (também designado por motor de ciclo de
Otto), presente na maioria dos veículos comuns, a fase de compressão e expansão têm sempre
a mesma taxa, isto é, a mistura fresca ar-combustível é comprimida até um determinado grau
fixo, equivalente a uma determinada taxa (por exemplo, 10:1), e de seguida, após a ignição, o
volume da câmara de combustão expande à mesma taxa, cedendo a energia da combustão. No
entanto, a melhor taxa para a extracção de máxima energia (taxa de expansão) não é a mesma
que a máxima taxa permitida pelas características da gasolina. Assim, os motores funcionando
segundo o ciclo de Otto não trabalham na eficiência máxima porque a taxa de expansão não
pode ser superior à taxa de compressão para a qual a mistura ar-combustível detona. Para a
resolução destes problemas, em 1882 um engenheiro britânico chamado James Atkinson,
inventou um tipo de motor de combustão interna, designado por motor de ciclo de Atkinson. O
motor de Atkinson tem dois cursos diferentes através de um mecanismo conjugado: curso
pequeno na admissão e compressão e curso longo na expansão e escape. Isto reduz a taxa de
compressão efectiva e permite ter taxas de expansão superiores à de compressão. As elevadas
taxas de expansão permitem tempos de potência mais longos, permitindo uma maior expansão
dos gases da combustão, reduzindo assim o calor perdido pelo escape. Isto permite ter um
motor mais eficiente, tendo começado a ser aplicado recentemente em aplicações modernas de
veículos híbridos.
O tema desta dissertação consiste no projecto, desenvolvimento, concepção e teste de
um motor de extra-baixo consumo de combustível, funcionando segundo o ciclo de Atkinson,
de injecção indirecta, para aplicação a um veículo de extra-baixo consumo de combustível,
que participa todos os anos em França, desde 1999, numa prova de economia de combustível,
a Shell Eco-Marathon. Tendo-se atingido o máximo desempenho com o anterior motor,
HONDA GX22 e por ausência no mercado de motores compactos com os consumos desejados
para este tipo de veículos, a Equipa Eco Veículo do Departamento de Engenharia Mecânica
da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sentiu a necessidade de
15
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
conceber o seu próprio motor para este tipo de aplicação, melhorando assim o conhecimento e
experiência nesta área de actividade. Esta dissertação engloba modelação de ciclo
termodinâmico de funcionamento do motor, utilizando um programa concebido em Fortran:
“4SSI”; análise paramétrica de variáveis geométricas, termodinâmicas e de operação de
motores para se obter as melhores prestações em termos de consumo específico de
combustível ao freio para esta classe de motores. Foram feitas análises estruturais dos
componentes do motor, selecção dos melhores materiais, definição das tolerâncias
dimensionais e de forma, acabamentos superficiais e dureza superficial. Os testes de
optimização dos tempos de injecção e avanços de ignição permitiram a afinação do motor em
banco de ensaios e a confrontação posterior dos resultados obtidos por simulação e por via
experimental. Embora o valor de consumo específico ao freio dos motores não seja muitas
vezes revelado pelas melhores equipas, dado que o desempenho global é medido pelo
conjunto (motor + veículo), o valor mínimo anunciado por algumas delas, situa-se nos 230
g/kWh. É nosso objectivo tentar atingir este valor, concebendo integralmente todos os
componentes.
16
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO DOIS
2 O Estado da arte
2.1 Motores de Combustão Interna aplicados nos veículos protótipos que
participam na Shell Eco-Marathon
Os motores de combustão interna aplicados nos veículos de extra-baixo consumo de
combustível que participam na European Shell Eco-Marathon são classificados pelo tipo de
ignição da mistura ar-combustível (ignição por faísca e ignição por compressão) e pelo tipo de
combustível utilizado (Gasolina, Diesel, Etanol, GPL e Biodiesel). Novas tecnologias,
materiais, desenvolvimentos e o conhecimento acumulado pelas equipas ao longo dos anos
tem permitido melhorar o desempenho destes veículos, permitindo, quase todos os anos,
atingir um novo recorde em termos de quilómetros percorridos com a mesma quantidade de
combustível. Em termos globais, os veículos equipados com motores de combustão interna
tem obtido melhores desempenhos que os veículos equipados com células de combustível,
que contudo tem conseguido avanços consideráveis de ano para ano.
Há muito que os veículos que participam na Shell Eco-Marathon utilizam motores
desenvolvidos pelas próprias equipas, utilizando as tecnologias consideradas mais avançadas
em termos de desempenho para este tipo de competição. Desta forma, pretende-se um motor
de baixo peso específico, com dimensões reduzidas para não afectar negativamente a
aerodinâmica dos veículos e com baixo consumo específico de combustível ao freio. Embora
o desempenho global dos veículos não dependa só do motor, mas de outros factores como a
aerodinâmica do veículo, o atrito de rolamento dos pneus, massa global do conjunto e outros,
pretende-se que o motor seja o mais eficiente possível.
17
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Relativamente ao estado da arte dos motores de combustão interna que equipam este
tipo de veículos, os motores são monocilíndricos, caracterizam-se por ter uma elevada relação
de compressão, por trabalharem normalmente com misturas pobres (relação ar-combustível
elevada), por terem relações curso/diâmetro bastante superiores à unidade e um volume
cilindrada situado normalmente entre os 30 cm3 e 40 cm3. Relativamente à configuração da
árvore de cames, a generalidade dos motores utilizam a tecnologia de duas árvores de cames à
cabeça (DOHC), embora existam equipas que utilizam apenas uma (SOHC). Também o
tempo de abertura das válvulas é um parâmetro variável de motor para motor e é um
parâmetro que merece uma atenção especial dado que influencia todo o ciclo termodinâmico
do motor, quantidade de mistura fresca admitida, relação de compressão real, energia
dissipada sob a forma de calor, contribuindo de forma decisiva para o rendimento global do
ciclo. Convém que a expansão dos gases de escape seja total, para extrair o máximo de
energia dos mesmos (Ciclo de Atkinson).
Em termos de consumo específico de combustível ao freio, os valores mais baixos
anunciados pelas equipas com melhores resultados, situam-se nos 230 g/kWh. É nosso
objectivo, através de um estudo de optimização detalhado para cada parâmetro geométrico e
de funcionamento do motor, atingir valores desta ordem ou inferiores.
O Quadro 2.1 seguinte mostra alguns valores comparativos de parâmetros e
desempenhos dos motores utilizados pelas equipas com melhores prestações na prova Shell
Eco-Marathon.
Quadro 2.1. Valores comparativos de alguns parâmetros e desempenhos dos motores utilizados pelas equipas
com melhores prestações na Shell Eco-Marathon
2.2 Motores de Ciclo de Atkinson
O motor de ciclo de Atkinson é um tipo de motor de combustão interna inventado por
James Atkinson em 1882. Este tipo de motor é até cerca de 10 % mais eficiente que um motor
convencional de ciclo Otto, em carga total [2]. O aumento de rendimento deriva
18
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
essencialmente da redução do trabalho de compressão e do aumento do aproveitamento da
energia (contida nos gases presentes no cilindro) durante a fase de expansão
Nos motores de ciclo de Atkinson é reduzido o trabalho de compressão da mistura fresca
uma vez que se pretende que no tempo de compressão uma pequena quantidade de mistura de
ar-combustível regresse à conduta de admissão sem ser admitida no cilindro reduzindo assim
a cilindrada efectiva do motor. Adicionalmente, uma vez que a razão de expansão é maior que
a razão de compressão, permite que maior quantidade de calor seja retirado dos gases de
escape, levando a um aumento adicional do rendimento global do ciclo. O problema com este
projecto original era que os mecanismos envolvidos para ter diferentes cursos eram
complexos, aumentando assim as probabilidades de falha mas também o aumento de perdas
devido à fricção dentro do motor. Como resultado, o projecto do motor de Atkinson
permaneceu como uma curiosidade histórica até ao Século XX. Em 1946, o engenheiro
americano Miller encontrou uma engenhosa versão do projecto de Atkinson que resolve estes
problemas. Mais do que variando o comprimento do curso real de compressão, idealizou que
poderia simplesmente atrasar o fecho da válvula de admissão. Assim, parte da mistura arcombustível regressava à conduta de admissão. A compressão ocorreria apenas no momento
em que a válvula fechava até o pistão encontrar o ponto morto superior. Assim, se
dinamicamente é possível variar o tempo de fecho da válvula de admissão, é possível desta
forma variar a taxa de compressão de um motor, ficando esta abaixo da relação de volumes do
cilindro. Assim, a taxa de expansão pode estar próxima da ideal (17:1) requerida para uma
melhor extracção de energia.
A versão moderna deste motor também costuma ser chamada de motor de Ciclo de
Atkinson-Miller, mas a maioria das referências trata apenas por ciclo de Atkinson. Nesta
dissertação será sempre designado por motor de ciclo de Atkinson.
A vantagem do motor de ciclo de Atkinson é o aumento do rendimento de conversão do
combustível ao freio, no entanto, este aumento de rendimento é acompanhado por perda de
binário e potência ao freio a baixa rotação. Este tipo de motores é muito menos potente em
toda a gama de velocidade e trabalha normalmente com misturas pobres. No entanto, se o
rendimento elevado é o principal objectivo, então excelentes resultados podem ser atingidos
utilizando este tipo de motor.
19
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
2.2.1 O ciclo de funcionamento e o efeito no rendimento de conversão de combustível
A pressão dos gases dentro do cilindro num motor de quatro tempos no momento de
abertura da válvula de escape é maior que a pressão atmosférica. A energia disponível nos
gases do cilindro nesse momento é então perdida pelo sistema de escape. Uma expansão
adicional dos gases dentro do cilindro poderá aumentar o trabalho indicado por ciclo, como é
mostrado na Fig. 2.1, onde a expansão continua abaixo do Ponto 4´ [1]. O tempo de escape
expandido é 4-5-6. O tempo de admissão é 6-1. A área 14´451 foi adicionada ao ciclo
convencional p-V, para a mesma quantidade de mistura admitida aumentado assim o
rendimento global do motor.
Fig. 2.1. Diagrama Pressão-Volume para motores de ciclo de expansão extensa (1234561). rc e re são a
razão de compressão volumétrica e razão de expansão volumétrica, respectivamente [1].
2.2.2 Principais aplicações actuais: Veículos híbridos
Embora os motores de quatro tempos de ciclo de Atkinson permitam ter ganhos
consideráveis em termos de economia de combustível, têm como custo um nível mais baixo
de potência por cilindrada que os motores tradicionais de ciclo de Otto. Se um motor de ciclo
de Atkinson está sujeito a altos níveis de potência intermitentemente, pode ser auxiliado por
um motor eléctrico quando o nível de potência exigido é mais elevado. Este é o conceito
utilizado nos sistemas de propulsão dos modernos veículos híbridos. Os motores eléctricos
podem ser usados de forma independente, ou em combinação com motores de ciclo de
Atkinson, permitindo meios mais eficientes de produção da potência desejada.
20
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
2.3 Eco Veículo XC01i: um veículo protótipo de extra-baixo consumo de
combustível
O Eco Veículo XC01i é um veículo protótipo de extra-baixo consumo de combustível
desenvolvido pela equipa Eco Veículo, uma equipa constituída por professores e alunos do
Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra que participa todos os anos desde 1999 na Shell Eco-Marathon, um
evento organizado anualmente pela Shell França, no circuito de Nogaro (França). É uma
competição de classe mundial onde participam equipas de Universidades, Institutos
Politécnicos, Escolas Secundárias e Equipas Independentes, com automóveis projectados,
construídos e testados por elas onde o objectivo é fazer 7 voltas ao circuito (fechado) num
total de 25,272 km a uma velocidade média igual ou superior a 30 km/h consumindo a menor
quantidade de combustível possível.
A Shell Eco-Marathon é uma competição que teve origem em meados de 1939, como
Shell Mileage Marathon, resultado de uma discussão entre empregados do laboratório de
investigação da Shell Oil´s em Wood River – Illinois, sobre qual o veículo com menor
consumo. As regras eram tão simples quanto o conceito: pretendia-se percorrer o maior
número de quilómetros com o menor consumo de energia possível.
A Fig. 2.2 mostra o Eco Veículo XC01i durante a competição Shell Eco-Marathon, em
2007, Nogaro (França).
Fig. 2.2. Eco Veículo XC01i durante a competição Shell Eco-Marathon em Nogaro, França.
21
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tratando-se de uma prova de economia de combustível, cuja eficiência é o principal
objectivo e em que não são exigidos grandes prestações em termos de potência aos veículos,
torna-se possível a utilização de motores de ciclo de Atkinson neste tipo de veículos, que
embora com densidades de potência baixas têm eficiências superiores aos motores
convencionais de ciclo de Otto.
2.4 Trabalho desenvolvido no Departamento de Engenharia Mecânica –
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(DEM-FCTUC)
Embora o projecto e construção de um motor de raiz seja um desafio novo e ambicioso
no DEM-FCTUC, este não teria sido possível sem o trabalho desenvolvido ao longo dos anos
por alunos e membros da Equipa Eco Veículo e em especial pelo Prof. Doutor Pedro
Carvalheira, principal dinamizador e impulsionador do projecto. O projecto preliminar que
deu origem à presente dissertação foi elaborado no âmbito de um trabalho de Seminário de
David Guilherme e João Ramos [2].
Os melhoramentos implementados no anterior motor: Honda GX22: a modificação do
sistema de alimentação para um sistema de injecção/ignição electrónica, modificação da
relação de compressão e os vários testes experimentais realizados permitiram um
conhecimento prático fundamental do funcionamento e operação de motores. Desta forma, só
com todo o conhecimento acumulado, pesquisa bibliográfica e conversas com outras equipas
que desenvolvem também os seus próprios motores foi possível a concretização e sucesso
deste projecto.
22
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO TRÊS
3 Considerações iniciais de projecto e caracterização
preliminar do motor
3.1 Caracterização preliminar do motor
Com base na literatura disponível sobre motores, tipo de aplicação e tendo em vista o
objectivo pretendido de conceber um motor de baixo consumo específico, com prestações
superiores aos motores que existem no mercado para a mesma dimensão, a sua concepção
partiu de uma série de considerações iniciais baseadas na experiência, pesquisa bibliográfica
ou tecnologia conhecida:
i.
Motor de 4 tempos de ignição por faísca;
ii.
Ciclo termodinâmico de funcionamento: Atkinson;
iii.
Câmara de combustão hemisférica, com duas velas de ignição;
iv.
Dupla árvore de cames à cabeça;
v.
Distribuição por correia HTD-3M;
vi.
Elevada relação de compressão;
vii.
Arranque por motor eléctrico;
viii.
Embraiagem centrífuga;
ix.
Sistema de injecção/ignição electrónica;
x.
Sistema de refrigeração do motor (em banco de ensaios): água;
xi.
Sistema de lubrificação: por chapinhagem.
23
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
3.2 Considerações de projecto para a câmara de combustão
A concepção da câmara de combustão influencia o desempenho e as emissões dos
motores, de modo que o seu projecto teve em conta:
i.
Processos de combustão rápidos, com baixa variabilidade de ciclo-para-ciclo;
São muitos os métodos propostos para acelerar os processos de combustão. Estes
incluem câmaras de combustão mais compactas, vela de ignição colocada na posição central,
o uso de duas velas de ignição, criação de swirl durante a fase de admissão. Estudos
experimentais [3] e de simulação [4] mostram ganhos de eficiência relativamente modestos da
passagem de processos de combustão moderados para processo de combustão rápidos.
ii.
Grande eficiência volumétrica com a válvula borboleta completamente aberta;
A grande eficiência volumétrica é requerida para obter a maior densidade de potência
possível. A forma da cabeça do cilindro afecta o tamanho das válvulas que podem ser
utilizadas. A área efectiva de passagem, que depende do diâmetro da válvula e levantamento,
afecta directamente a eficiência volumétrica.
iii.
Mínimo de perdas de calor pelas paredes da câmara de combustão;
A área de transferência de calor através das paredes da câmara de combustão tem um
impacto significativo na eficiência do motor. Deve procurar-se ter câmaras com baixa área de
transferência de calor.
iv.
Baixo requerimento de índice de octano do combustível.
A ocorrência de detonação limita a relação de compressão máxima permitida para um
determinado motor. Isto afecta directamente a eficiência de um motor.
Estudos de simulação de ciclos [6] indicam que a duração dos processos de combustão
diminuiu à medida que a intensidade de turbulência aumenta. No entanto, é importante notar
que a eficiência de conversão de combustível de câmaras de elevada turbulência, para as
mesmas condições de operação pode ser menor que para câmaras de combustão normais,
apesar das altas taxas de queima devido às altas taxas de transferência de calor. A eficiência
de conversão de combustível indicada diminui cerca de 6 % devido a uma previsão de 15 %
de aumento das perdas por transferência de calor [6].
Perante os factos acima mencionados, e como o nosso principal objectivo é obter baixo
consumo e obter elevado rendimento de conversão de combustível, optou-se por uma câmara
de combustão de geometria hemisférica, com baixa área de transferência de calor para
24
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
redução das perdas térmicas e a colocação de duas velas de ignição para acelerar os processos
de combustão, dada a baixa turbulência deste tipo de câmara.
3.3 Influência da relação de compressão em motores de ignição por faísca
Para avaliar da melhor forma o efeito da variação da relação de compressão na
eficiência de conversão de combustível, muitos dos dados obtidos são normalizados e
comparados com a eficiência de conversão de combustível para uma relação de compressão,
rc = 8, para motores em operação com válvula borboleta completamente aberta (vd. Fig. 3.1).
Fig. 3.1. Evolução da melhoria relativa de eficiência de conversão de combustível com o aumento da
relação de compressão, em MCI-SI com válvula borboleta completamente aberta (WOT): CN [7], KT [8].
Dentro da gama de relações de compressão mais comuns em motores SI ( rc  12 ), a
eficiência de conversão de combustível aumenta cerca de 3 % por unidade de aumento da
relação de compressão [1].
3.4 Características do sistema de injecção/ignição electrónica programável
O sistema de injecção/ignição é comandado por um microprocessador programável
HALTECH, modelo E6S e inclui: microprocessador, sensores para o motor (sensor de
temperatura do bloco do motor, sonda lambda, sensor de posição angular da borboleta do
25
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
acelerador, sensor de temperatura do ar no interior do colector de admissão, sensor da pressão
do ar no interior do colector de admissão e sensor de posição angular da cambota), cablagem
de ligação e “software” para programação.
Os parâmetros utilizados pelo microprocessador são: temperatura e pressão do ar no
interior do colector de admissão, temperatura do bloco do motor, regime do motor, e posição
angular da cambota. A Fig. 3.2 procura esquematizar o funcionamento do sistema de injecção
- ignição utilizado.
Fig. 3.2. Funcionamento do sistema de injecção/ignição electrónica
A programação do microprocessador faz-se com valores fixos de rotação com intervalos
de 500 rpm, através de mapas de duração do tempo de injecção e avanço do instante de
ignição em função da pressão do ar no interior do colector de admissão ou da posição angular
da válvula borboleta do acelerador.
3.4.1 Sistema de injecção
A injecção de combustível é feita por um injector de combustível (gasolina) a uma
pressão de 2,4 bar. O injector consiste num corpo de uma válvula que contém um enrolamento
de solenóide, a guia da agulha da válvula e a agulha da válvula que contém a armadura do
solenóide. Quando não existe nenhum fluxo de corrente através do enrolamento do solenóide,
26
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
a agulha da válvula é comprimida de encontro ao seu assento por uma mola helicoidal. Na
presença de um fluxo de corrente proveniente do microprocessador através do enrolamento
solenóide, a agulha da válvula é levantada permitindo a injecção de combustível através do
orifício de precisão. A extremidade final da agulha injectada possui uma ranhura que permite
uma atomização da gasolina injectada. A quantidade de gasolina injectada é determinada pela
duração do impulso eléctrico, para uma dada diferença de pressão entre a entrada e saída no
injector.
A Fig. 3.3 mostra o injector BOSCH EV6 Court B 280 431 198/1 utilizado.
Fig. 3.3. Injector BOSCH EV6 Court B 280 431 198/1
3.4.2 Sistema de ignição
O sistema de ignição deve ser capaz de inflamar a mistura comprimida num certo
instante e de forma fiável, mesmo em fases de funcionamento transitório onde o movimento
da mistura e da relação ar-combustível flutua fortemente.
A energia de ignição necessária depende fortemente da relação ar-combustível.
Analisando a Fig. 3.4, sendo o heptano o hidrocarboneto mais parecido com a gasolina,
verifica-se uma energia mínima de ignição de 1 mJ para uma riqueza estequiométrica –
valores em condições padrão: p = 100 kPa; T = 298,15 K.
No entanto, a pressão dentro de uma câmara de combustão no instante antes de saltar a
faísca de ignição é da ordem dos 8-13 bar, tais pressões influenciam a energia mínima de
ignição. Segundo [9], verifica-se que um aumento de pressão diminui a energia mínima de
ignição.
O facto de se utilizarem velas com maior distância entre os eléctrodos, uma maior
projecção do eléctrodo da vela ou mesmo um menor diâmetro do eléctrodo central, melhora
consideravelmente a qualidade de ignição.
27
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 3.4. Energia mínima de ignição [mJ] em função da riqueza para várias misturas de ar-combustível
[9].
A unidade de controlo do sistema de ignição tem a capacidade de determinar quando se
deve ligar o circuito primário da bobina, o ângulo e a duração do fecho (regulação automática
do ângulo de Dwell), deve deixar passar tempo necessário para que a corrente primária
alcance o seu valor óptimo sem ter em conta o regime de funcionamento do motor e, por sua
vez, induzir alta tensão no circuito secundário.
Esta unidade de controlo utiliza-se juntamente com uma bobina de baixa resistência
primária, produzindo corrente de arranque elevada com baixas tensões na bateria, sem
necessidade de resistência compensadora.
O sistema de ignição é constituído pelos seguintes componentes:
Vela de ignição. A vela de ignição utilizada tem a referência: NGK CMR6H;
Bobina de ignição, é neste elemento que é gerada a corrente eléctrica que permite à
vela de ignição soltar uma faísca. A bobina de ignição utilizada foi fornecida pela Haltech e é
uma unidade que funciona a 12V;
Módulo de ignição, esta unidade tem a capacidade de determinar quando se deve ligar
o circuito primário, o ângulo e a duração do fecho, devendo ainda deixar passar o tempo
necessário para que a corrente primária alcance o seu valor óptimo sem ter em conta o regime
de funcionamento do motor. O módulo de ignição utilizado tem a referência: BOSCH 1 227
022 008.
28
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
3.5 Sistema de arrefecimento
Dada a aplicação em questão e devido ao facto de não haver necessidade de
arrefecimento do motor durante a prova, não haveria necessidade de implementar um sistema
de arrefecimento do motor. Durante a prova é conveniente que o motor esteja completamente
isolado, e suficientemente quente, levando a que a viscosidade do óleo não atinja valores
abaixo dos quais as perdas por atrito sejam significativas. No entanto, na fase de testes (em
contínuo) é necessário implementar um sistema de arrefecimento adequado para manter
estáveis as temperaturas e assim ter resultados experimentais válidos e reprodutíveis. Assim, o
sistema de arrefecimento que melhor responde a estes objectivos é o sistema de arrefecimento
a água por ter maior condutibilidade que o ar para extracção do calor.
3.6 Sistema de lubrificação
O lubrificante e o sistema de lubrificação têm as seguintes funções [10]:
1. Reduzir a resistência de fricção do motor ao mínimo para garantir a máxima eficiência
mecânica;
2. Protecção do motor ao desgaste;
3. Contribuir para o arrefecimento do motor e das regiões do motor onde o trabalho por
fricção é perdido;
4. Remover todas as impurezas das zonas lubrificadas.
O sistema de lubrificação utilizado para a lubrificação das superfícies de contacto êmbolocilindro foi o sistema convencional de chapinhagem, em que a cambota ao rodar bate com a
superfície livre do óleo no cárter, criando gotículas e vapores que se depositam nas paredes do
êmbolo e cilindro. Para as chumaceiras das árvores de cames e para os rolamentos da
distribuição não foi implementado nenhum sistema de lubrificação em circuito fechado com
bomba de óleo, porque o motor não trabalhar em contínuo durante longos períodos em
condições normais de operação, permitindo assim reduzir as perdas e diminuir os consumos.
29
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO QUATRO
4 Modelação do ciclo termodinâmico em Motores de
Combustão Interna (MCI-SI)
O objectivo deste capítulo é fazer uma introdução à modelação em MCI-SI e fazer a
descrição dos modelos matemáticos relevantes para a criação do modelo, no qual é baseado o
programa computacional utilizado, “4SSI” que permitiu fazer as simulações e optimização
necessárias ao projecto e concepção do motor, que está na base desta dissertação.
Os modelos de simulação do funcionamento de motores de combustão interna podem
ser classificados em dois grupos principais: modelos termodinâmicos não-dimensionais e
modelos dimensionais. Os modelos termodinâmicos são muitas vezes referidos como nãodimensionais, porque não tem resolução espacial na descrição particular de uma evolução
termodinâmica. Na primeira categoria, os modelos termodinâmicos podem ser classificados
em dois subgrupos, baseado na forma como o enchimento do cilindro é tratado: modelos unizona ou modelos multi-zona. Nos modelos uni-zona a temperatura, a pressão e a composição
dentro do cilindro são considerados uniformes em toda a câmara de combustão. Este tipo de
modelos uni-zona representa uma ferramenta muito útil de modelação em motores. Nos
modelos multi-zona, a mistura dentro do cilindro é dividida em zona de queimados e zona de
não-queimados, cada uma das quais sendo tratada como um sistema termodinâmico separado.
Existem modelos multidimensionais ainda mais completos que são baseados em
dinâmica de fluidos computacional (CFD). Nestes modelos as equações que descrevem o
campo de escoamento são resolvidas numericamente em vários cenários. O código KIVA, por
exemplo, tem capacidade para calcular fluxos tridimensionais dentro dos cilindros com
qualquer geometria arbitrária do pistão, incluindo os efeitos da turbulência, injecção de
30
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
combustível e transferência de calor através das paredes do cilindro. Estes modelos
particulares baseados são bastante caros e requerem poderosos recursos computacionais.
4.1 Programa de simulação: “4SSI”
O programa “4SSI” é um programa de modelação não-dimensional (modelação
termodinâmica) com discretização apenas no tempo, neste caso em ângulos de cambota  , e
com valores médios no espaço. A vantagem desta modelação é a economia de tempo e
memória de cálculo. As desvantagens estão directamente relacionadas com a não
discretização espacial das diversas variáveis. Assim, não é possível simular a formação de
heterogeneidades, por exemplo, a nível da mistura dos diversos gases dentro do cilindro.
O modelo desenvolvido é influenciado por um número elevado de processos
fenomenológicos que ocorrem a montante, no interior e a jusante do cilindro. É necessário
modelar esses processos e as influências recíprocas entre eles e o comportamento do gás no
interior do cilindro. Considera-se a análise termodinâmica no interior do cilindro dividida em
cinco fases: admissão, compressão, combustão, expansão e escape. (vd. Fig. 4.1)
Considera-se o volume de controlo limitado por 5 superfícies distintas: paredes laterais
do cilindro, coroa do êmbolo, cabeça do cilindro, válvula de admissão, válvula de escape com
temperaturas uniformes e distintas para cada uma delas.
Os modelos utilizados descrevem as mudanças termodinâmicas e químicas da mistura
durante os processos de admissão, compressão, combustão, expansão e escape e têm como
objectivo prever algumas características de operação de motores tais como: binário ao freio,
potência, consumo específico, pressão média efectiva e outros. Se os resultados obtidos com
estes modelos corresponderem aos observados experimentalmente, estes podem ser utilizados
para optimização da configuração do motor ou optimização de desempenho.
31
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 4.1. Estrutura lógica na simulação termodinâmica de um ciclo real de um motor de combustão
interna.
O ponto de partida para o modelo de simulação do ciclo de funcionamento de um motor
a 4 tempos é a 1ª lei da termodinâmica aplicada ao volume do cilindro para processos de
admissão, compressão, combustão, expansão e escape, que nesta sequência descrevem o ciclo
de operação do motor.
Para cada um destes processos, usam-se sub-modelos que descrevem as características
geométricas do cilindro e das válvulas, as propriedades termodinâmicas e de transporte dos
gases queimados, a transferência de massa e calor pelas fronteiras do sistema e o processo de
combustão.
A pressão no cilindro em cada instante é obtida através do conhecimento da temperatura
do gás no cilindro, número de moles e volume do cilindro através da equação de estado de um
gás perfeito, que é uma aproximação perfeitamente aceitável face às elevadas temperaturas
atingidas [1].
O trabalho realizado pelos gases no cilindro sobre a vizinhança num ciclo é dado pela
Eq. 4.1:
W  
 pdV
(4.1)
O cálculo da composição e actualização das propriedades são fundamentais para a
obtenção de resultados correctos. Os resultados globais e, principalmente os resultados
durante a execução do ciclo são fortemente dependentes dos valores das propriedades do gás.
O programa de simulação de ciclo termodinâmico 4SSI, tem ainda em conta: influência
da duração da combustão, rendimento volumétrico, trocas de calor do gás para as paredes do
cilindro e vice-versa, propriedades dos frescos e queimados em função da riqueza, as
32
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
interacções dos escoamentos que se estabelecem nas condutas de admissão e escape quando
existem cruzamento de válvulas e o levantamento das válvulas em função do tempo.
4.1.1 Dados de entrada
1. Diâmetro do cilindro /mm;
2. Curso do êmbolo /mm;
3. Relação comprimento da biela/raio de manivela da cambota;
4. Relação de compressão;
5. Número de rotações da cambota por minuto /rpm;
6. Ângulo de abertura da válvula de admissão /graus APMS;
7. Ângulo de fecho da válvula de admissão /graus DPMI;
8. Ângulo de abertura da válvula de escape /graus APMI;
9. Ângulo de fecho da válvula de escape /graus DPMS;
10. Ângulo de avanço de ignição /graus APMS;
11. Riqueza da mistura ar-combustível;
12. Perda de carga na válvula de borboleta /Pa;
13. Altura de folga da câmara de combustão /m;
14. Relação DB/B da câmara de combustão;
15. Diâmetro da cabeça da válvula de admissão /m;
16. Levantamento máximo da válvula de admissão /m;
17. Diâmetro da cabeça da válvula de escape /m;
18. Levantamento máximo da válvula de escape /m;
19. Largura da sede da válvula de admissão /m;
20. Largura da sede da válvula de escape /m;
21. Ângulo da sede da válvula de admissão /grau;
22. Ângulo da sede da válvula de escape /grau;
23. Diâmetro da haste da válvula de admissão /m;
24. Diâmetro da haste da válvula de escape /m;
25. Relação área da cabeça do cilindro/área da secção transversal do cilindro;
26. Relação distância máxima percorrida pela chama/área da secção transversal do
cilindro;
27. Índice de octano do combustível pelo método research;
33
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
4.1.2 Resultados calculados
1. Binário ao freio /N.m;
2. Consumo específico ao freio /(g/kW.h)
3. Potência ao freio /W;
4. Trabalho por ciclo /J
5. Rendimento volumétrico;
6. Ângulo de duração da combustão /deg;
7. Pressão média efectiva ao freio /Pa;
8. Trabalho de bombagem /J;
9. Fracção de gases residuais;
10. Factor de detonação;
11. Pressão média efectiva de fricção /Pa;
12. Velocidade média do êmbolo /(m/s);
13. Celeridade de chama laminar nas condições padrão /(m/s);
14. Celeridade de chama turbulenta /(m/s);
15. Pressão máxima no cilindro /(Pa);
16. Celeridade de chama laminar corrigida para a pressão e temperatura média dos gases
frescos /(m/s)
17. Celeridade de chama corrigida para a fracção de gases residuais /(m/s);
18. Celeridade de chama efectiva média, relativamente a um referencial ligado ao motor
/(m/s);
19. Rendimento de combustão.
20. Densidade de fluxo médio de calor transferido para o êmbolo /(W/m2)
A Fig. 4.2 mostra a interface gráfica de apresentação de resultados no programa 4SSI.
34
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 4.2. Interface gráfica de apresentação de resultados no programa 4SSI (n = 4000 rpm;  = 0,75;
TI = 15º; WOT)
4.2 Modelação dos processos envolvidos em MCI-SI de 4 tempos feita no
programa “4SSI”
4.2.1 Admissão
O propósito dos processos de admissão e escape é remover os gases queimados no final
da expansão e introduzir mistura fresca para o ciclo seguinte. Este processo de troca de gases
afecta o desempenho e as emissões de um motor de combustão interna, e por isso requer
especial atenção na sua modelação. A quantificação deste processo é medida pelo rendimento
volumétrico, que depende do escoamento nas condutas de admissão e de escape e
especialmente nas válvulas. Basicamente a modelação dos processos de trocas gasosas
compreende dois aspectos: um é a modelação do escoamento nas condutas de admissão e
escape e outro é a modelação do escoamento em torno das válvulas. As válvulas representam
a mais importante restrição ao escoamento nos sistemas de admissão e escape. A área de
escoamento instantâneo depende do levantamento e geometria das válvulas, cabeça, assento e
haste.
A quantidade de mistura fresca admitida durante a fase de admissão depende dos
seguintes factores:
a. Resistência aerodinâmica do sistema de admissão, o que reduz a pressão da mistura
um incremento p ;
35
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
b. Presença de produtos da combustão no cilindro ou gases residuais que ocupam parte
do seu volume;
c. Trocas de calor da mistura fresca admitida com a superfície do sistema de admissão,
paredes da câmara combustão e gases residuais, que resultam num aumento de
temperatura, T da mistura fresca.
Desde o início da admissão – instante em que a válvula de admissão abre – até ao fim da
admissão – instante em que a válvula de admissão se fecha, é admitida massa no cilindro.
Durante o processo de admissão, os gases residuais expandem, misturando-se com a mistura
fresca admitida, reduzindo assim a quantidade de mistura fresca admitida.
Para o volume correspondente ao início da admissão, o número de moles de gases
residuais, n gr , que ocupam este volume inicial é obtido através da equação dos gases
perfeitos, Eq. 4.2:
ngr , 
patmV
, com  = IVO
RuTgr 
(4.2)
Para o cálculo do número de moles de gases residuais, n gr , considera-se a quantidade
que existe no cilindro no momento de abertura da válvula de admissão,  = IVO .
O número de moles no interior do cilindro em cada instante, em função do ângulo de
posição da cambota, n , é dado pela Eq. 4.3:
 m
n  n 1   fr ,
M
 fr

 m b ,
 t  
 Mb


 t

(4.3)
Com
n 1  n gr , para  = IVO
(4.4)
b  0 ,
Considera-se m fr  0 , quando se trata de mistura fresca que entra no cilindro e m
para o caso de gases queimados que saem do cilindro no caso de haver cruzamento de
válvulas.
A massa de gases frescos admitidos,  m fr , , é dada pela Eq. 4.5:


m fr ,  m fr ,  m fr , 1  m fr ,  t
(4.5)
O fim do processo de escape ocorre quando se verificam simultaneamente as condições:
36
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
  720º e pc  patm . No caso de haver sobreposição de fases, poderão gases de escape
 m
queimados voltar a entrar na fase de admissão, daí o termo,  b,
 Mb

 t na Eq. 4.3.

A massa de gases queimados expulsos, mb , no caso do processo de escape ainda não
ter terminado é dada pela Eq. 4.6.


mb,   mb ,  mb, 1  m b, t
(4.6)
O intervalo de tempo correspondente ao incremento angular     (  1) é dado
pela Eq. 4.7:
t  t  t 1
(4.7)
A massa molar da mistura fresca, M fr , pode ser obtida a partir da equação
estequiométrica dos gases reagentes e é dada pela Eq. 4.8.
k
M fr   xi M i  x f M f  xO 2 M O 2  x N 2 M N 2
(4.8)
i 1
Onde xi é fracção molar do componente i da mistura e Mi é a sua massa molar.
A composição da mistura fresca é obtida da equação dos gases reagentes, Eq. 4.9:
Ca H b 
a  b / 4

 O2  3, 773 N 2   produtos
(4.9)
Sendo que:
Número de moles de combustível, Ca Hb , n f  1 mol ;
Número de moles de O2 , nO2 
ab/4
mol ;

Número de moles de N2 , nN 2 
ab/4
3,773 mol .

A fracção molar dos componentes da mistura fresca é dada pela Eq. 4.10 a Eq. 4.12:
~
xf 
1
a b/4
1
4,773

(4.10)
37
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
xO2
ab/4


ab/4
1
4, 773

(4.11)
xN 2
a b/4
3, 773


ab/4
1
4, 773

(4.12)
A massa molar da mistura no cilindro, M mix , , para cada ângulo  de rotação da
cambota é dada pela Eq. 4.13:
M mix , 
n 1M mix , 1  m fr t  m b t
m
m
n 1  fr t  b t
M fr
Mb
(4.13)
A massa molar dos queimados, Mb , será tratada mais à frente e depende da riqueza da
mistura fresca.
Aquecimento da mistura pelo sistema de admissão e pelas paredes do cilindro
Quando a mistura se move através do sistema de admissão e para dentro do cilindro,
esta entra em contacto com as paredes quentes e com os gases residuais que ficaram na
câmara de combustão do ciclo anterior e sofre um aumento de temperatura T . O grau de
aquecimento depende da velocidade de entrada da mistura, da duração da admissão, da
diferença de temperatura entre a mistura e as paredes e da composição, massa e temperatura
dos gases residuais. A variação de temperatura, T devida à transferência de calor é tratada
mais à frente.
A temperatura da mistura em função de  , durante o processo de admissão, T , é dada
pela Eq. 4.14:
Tmix ,  T0 


mmix , 1c p, mix , 1 T 1  T0  m fr , tc p , fr , T fr ,  T0   m b, tc p,b, Tb,  T0 
mmix , 1c p, mix , 1  m fr , tc p , fr ,  m b, tc p ,b,
 T
(4.14)
38
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Perdas de carga no sistema de admissão
Durante o tempo de admissão, devido a perdas de carga em cada parte do sistema de
admissão a pressão dentro do cilindro, pc , é inferior à pressão atmosférica, patm . Esta
diminuição da pressão é a soma da pressão perdida em cada componente do sistema de
admissão.
Para cada componente a diminuição de pressão é dada pela equação de Bernoulli, Eq.
4.15:
p j   j
1 2
v j
2
(4.15)
Em que  j é o coeficiente de resistência para cada componente, que depende das suas
características geométricas, e v j é a velocidade local, assumindo o fluxo quase estático v j que
está relacionado com a velocidade média do êmbolo pela Eq. 4.16:
v j A j  S p Ac
(4.16)
Onde A j é a área mínima do fluxo, que consideramos como sendo a área mínima de
passagem do escoamento no componente do sistema de admissão em questão, e Ac é a área da
secção transversal do cilindro. Assim, a perda de pressão é dada pela Eq. 4.17:
p atm  p c   p j
(4.17)
O processo de abertura das válvulas pode ser definido através de equações que
descrevem o levantamento da válvula em função do ângulo de rotação da cambota,  
A área mínima instantânea do fluxo através da válvula de admissão depende do
levantamento da válvula e das características geométricas da cabeça, sede e haste da válvula.
Segundo Kaster et al. (1963), existem três estágios separados para o desenvolvimento da área
mínima do fluxo quando se procede ao levantamento da válvula. No início do levantamento, a
área mínima do fluxo corresponde a um tronco de cone (com a face cónica entre a válvula e a
sede da válvula) perpendicular à sede da válvula.
Para este estágio é válida a Eq. 4.18:
w
 Lv  0
sin  . cos 
(4.18)
A área mínima é dada pela Eq. 4.19:
39
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
L


Am   Lv cos   Dv  2 w  v sin  2   
2


(4.19)
Onde  é o ângulo da sede da válvula, Lv é o levantamento da válvula, Dv é o diâmetro
da cabeça da válvula (diâmetro exterior da sede da válvula) e w é a largura da sede da válvula
que é a diferença entre o raio exterior e interior da sede da válvula.
Para o segundo estágio, a área mínima continua a ser a superfície de um tronco cónico
circular, mas a sua superfície deixa de ser perpendicular à sede da válvula. O ângulo da base
do cone aumenta de (90   )º para o ângulo de um cilindro, 90º.
Para este estágio é válida a Eq. 4.20:
 D 2  D 2  2

s
2
 p


w

 4.Dm 



1/ 2
 w.tan   Lv 
w
sin  .cos 
(4.20)
A área mínima é dada pela Eq. 4.21:
Am   Dm  Lv  w.tan  2   w 2 
1/ 2
(4.21)
Onde D p é o diâmetro interior da sede da válvula, Ds é o diâmetro da haste da válvula e
Dm é o diâmetro médio da sede da válvula ( Dv  w)
Quando o levantamento da válvula é suficientemente grande a área mínima do fluxo
deixa de ser entre a cabeça da válvula e a sede, passando a ser a área correspondente ao
diâmetro interior da sede da válvula menos a área da haste da válvula.
Neste estágio é válida a Eq. 4.22:
1/ 2
 D 2  D 2  2

s
Lv   p
 w2 

 4.Dm 



 w.tan 
(4.22)
A área mínima é dada pela Eq. 4.23:
Am 
 2
D p  Ds2 
4
(4.23)
O escoamento através da válvula de admissão pode ocorrer em dois regimes: regime
subsónico ou regime sónico.
O regime subsónico verifica-se quando a velocidade do gás na menor secção de
passagem da válvula é subsónica, e ocorre quando se verifica a seguinte condição:

pT  2  ( 1)


p0    1 
(4.24)
40
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
O regime sónico ocorre quando a velocidade do gás na menor secção de passagem da
válvula é sónica, e ocorre quando se verifica a condição seguinte:

pT  2  ( 1)


p0    1 
(4.25)
Em condições de regime sónico o caudal mássico através da válvula de admissão só
depende das condições a montante da válvula, e é dado segundo [1], pela equação Eq. 4.26:
(  1)
C A p
 2  2 ( 1)
m  D R 1 / 20  1 / 2 

( RT0 )
   1
(4.26)
No caso do regime subsónico, o caudal através da válvula depende das condições a
montante e a jusante da válvula, e é dado segundo [1], pela Eq. 4.27:
1/ 
C A p p 
m  D R 1/20  T 
( RT0 )  p0 
1/ 2
 2   p  (  1)/   
1   T 




1
  p0 
 

(4.27)
Se a pressão no interior do cilindro for maior que a pressão na porta da válvula, o
escoamento dá-se no sentido do cilindro para a porta da válvula, se a pressão no interior do
cilindro for menor que a pressão na porta da válvula, o escoamento dá-se no sentido da porta
da válvula para o cilindro. Em ambos os casos p0 é a pressão a montante da válvula e pT é a
pressão a jusante da válvula, definidos de acordo com o sentido do escoamento.
Nas equações anteriores, C D é o coeficiente de descarga, que se assumiu como sendo
0 ,6 quando o escoamento se dá da porta da válvula para o cilindro e de 0,7 quando se dá do
cilindro para a porta da válvula. AR é a área de referência que aqui se considerou como sendo
a área mínima de passagem do gás na válvula.
4.2.2 Compressão
A fase de compressão desenvolve-se entre o instante em que a válvula de admissão
fecha e o instante em que salta a faísca na vela de ignição. No início deste tempo considera-se
que o gás no interior do cilindro é uma mistura de ar, gasolina e gases residuais.
No fim da admissão, a fracção de gases residuais é dada pela Eq. 4.28:
~
x gr 
n gr
n gr  n fr
(4.28)
41
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Em que:
n gr = número de moles de gases residuais no cilindro + gases queimados que podem
entrar na fase de admissão, no caso de cruzamento de válvulas;
n fr = número de moles de gases frescos admitidos no cilindro durante a fase de
admissão;
A partir do valor da riqueza da mistura admitida calcula-se a composição da mistura
fresca e dos gases residuais, o que permite conhecer a fracção molar de todos os gases que
compõe a mistura: gasolina, O2 , N2 , CO2 , H2 , H2O e CO .
As fracções molares de cada componente da mistura são calculadas de acordo com as
equações 4.10 a 4.12:
Os gases residuais são constituídos por vários compostos que variam de acordo com a
riqueza da mistura.
Para uma mistura estequiométrica ou pobre,   1, 00 é válida a Eq. 4.29:
b

a  
b
b  3, 773
b  1 
4


CaHb  
(O 2  3, 773N 2 )  aCO 2  H 2 O   a  
N 2   a     1 O 2

2
4 
4  


(4.29)
O número total de produtos, n p , é dado pela Eq. 4.30:
np  a 
b 
b  4,773 
  a  
 1
2 
4  

(4.30)
A fracção molar de cada um dos produtos formados é dada pelas Eq. 4.31 a Eq. 4.34:
xCO 2 
a
nP
(4.31)
xH 2 O 
b/2
nP
(4.32)
x N2
xO 2
3,773 
b
a  
 
4

nP
b1 

 a     1
4  



nP
(4.33)
(4.34)
Para misturas ricas,   1 é válida a Eq. 4.35:
42
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
b

a  
 ab/4
4
Ca Hb  
(O2  3,773N 2 )  wCO2  xCO  yH 2O  zH 2  3,773 
 N2

  
(4.35)
O número de moles dos produtos é dado pela Eq. 4.36:
b

a4 
nP  w  x  y  z  3, 773 

  


(4.36)
O problema fica com quatro incógnitas (w, x, y, z), pelo que para o resolver é necessário
empregar balanços aos elementos C, H e O e utilizar a constante de equilíbrio da equação dos
gases de água, K T  , que é dada pela Eq. 4.37 [11].
( pCO2 / pº )( pH2 / p º ) w  z
1


K T  ( pCO / pº )( pH2O / pº ) x  y
(4.37)
O uso da Eq. 4.37 permite a construção de um sistema de equações não lineares
(quadráticas).
Resolvendo o balanço dos elementos em termos do coeficiente desconhecido w, vem:
x  aw
(4.38)
 ab/4
y  2
wa
  
(4.39)
 a b/ 4 
b
z  2 
 wa 
2
  
(4.40)
Substituindo as Eq. 4.38 a Eq. 4.40, na Eq. 4.37 dá uma equação quadrática em w cuja
solução é dada pela Eq. 4.41:

 a b / 4  1
b
2
1  a 


2
    K T  
w
 1

2
 1
 K T  
1/ 2
2
  a  b / 4   1


   a  b / 4  2 
1
b
4  1
 2 


1

a



1
 a 



  2a

2  K (T )  K T      
 1
      K T  
 
2
 1 
 K T  
(4.41)
43
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
As fracções molares podem ser expressas em termos de w e são dadas pelas Eq. 4.42 a
Eq. 4.45:
xCO 2 
xCO 
w
nP
(4.42)
x aw

nP
nP
 a b/ 4
2
 w a
 
y

xH2O 

nP
np
 a b/4
b
2 
 w a

 
2
z
xH2 
 
nP
np
(4.43)
(4.44)
(4.45)
A constante de equilíbrio K T  pode ser determinada a partir da curva ajustada às
tabelas JANAF [12], é dada pela Eq. 4.46[1]:
1, 761103 1, 611 106 0, 2803  109
ln K  T   2, 743 


T
T2
T3
(4.46)
Onde T está expresso em K.
Segundo McBride e Gordeon [13], para cada espécie química, o calor específico molar
a pressão constante é função da temperatura, e é dado pelos polinómios:
c op ,i T   Ru  a1iT 2  a2 iT 1  a3i  a4iT  a5iT 2  a6iT 3  a7 iT 4 
(4.47)
Assumindo que os gases têm um comportamento de gás ideal, temos:
cv ,i  c p ,i  Ru
(4.48)
O valor de c p e cv da mistura, para cada espécie i, e para cada ângulo 
são dados
pelas equações seguintes:
 x c
 x M
 x c

 x M
c p, 
i ,
i ,
cv ,
p ,i ,
i , v ,i ,
i ,
(4.49)
i
(4.50)
i
O valor de  da mistura para cada ângulo de rotação da cambota,  , é calculado pela
Eq. 4.51:
44
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
 
c p ,
(4.51)
cv ,
A massa molar da mistura, Mmix ,é dada pela Eq. 4.52:
M mix   xi M i
(4.52)
A massa da mistura, mmix ,é obtida pela Eq. 4.53:
m mix  ( n gr  n fr ) M mix
(4.53)
O processo de compressão foi considerado como uma sucessão de processos de
compressão elementares constituídos por um processo de compressão adiabático e reversível
seguido de um processo de transferência de calor a volume constante.
Para o processo de compressão adiabático e reversível (isentrópico) elementar é
possível relacionar o estado inicial e final pela Eq 4.54.
TV  
 1
 Tad , 1V 1 
 1
(4.54)
Na compressão considera-se o valor de   dado pela Eq. 4.46 e admite-se que a
temperatura de início da compressão é igual à temperatura do gás no fim da admissão.
O calor transferido da superfície da câmara de combustão para o gás durante a
compressão, segundo Heywood (1988) pode ser dado pela Eq. 4.55.
5
Q   A j , hc, (Tw , j  T ) t
(4.55)
j 1
Onde, t é o tempo para a cambota rodar o incremento de ângulo considerado.
A explicação detalhada desta expressão, dos símbolos utilizados e o cálculo do
coeficiente hc da transferência de calor são tratados no parágrafo 4.2.6.
Ao variar o volume de V para V 1 calcula-se primeiro a temperatura de compressão
adiabática correspondente à variação de volume, depois adiciona-se a variação de temperatura
devida à transferência de calor. Com essa temperatura calcula-se a nova constante adiabática.
T V  1  Tad , 1V 1 1
(4.56)
Com:
45
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
T 1  Tad , 1   T
(4.57)
Onde
T 
Q
cv .m
(4.58)
Sabendo a temperatura real, e uma vez que durante a compressão o número de moles é
constante, pela equação dos gases perfeitos, pode determinar-se a pressão em cada instante,
dada por:
P 1  n 1 Ru
T 1
V 1
(4.59)
4.2.3 Combustão
O processo de combustão ocorre através de um processo de propagação de chama onde
se verificam mudanças de estado e de movimento dos gases queimados e não queimados. A
libertação de energia durante o processo de combustão não é constante no tempo, tendo
velocidades baixas no início e fim da mesma. Durante a combustão, a pressão no cilindro
aumenta devido principalmente ao aumento de temperatura dos gases no cilindro provocado
pela libertação de energia química do combustível. Cada elemento da mistura ar-combustivel
que é queimado, a sua massa volúmica diminui cerca de um factor de 4 [1]. A expansão dos
gases comprime a mistura não queimada junto à frente de chama na direcção das paredes da
câmara. Desta forma, os elementos da mistura não queimados, que queimam em instantes
diferentes têm diferentes pressões e temperaturas durante o processo de combustão. Todo o
processo é variável em termos de composição e velocidade ao longo do tempo.
Celeridade de chama laminar
A celeridade de chama laminar é definida como a componente normal à frente de chama
da velocidade com que os gases não queimados se movem relativamente à frente de chama
sob condições de escoamento em regime laminar.
A celeridade de chama laminar para temperatura e pressão da mistura fresca diferentes
dos valores de referência são dados pela seguinte lei de potência:
46
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL

T   p 
S L  S L ,0  u ,    
 T0   p0 

(4.60)
Onde T0  298 K e p0  1 atm são respectivamente a temperatura e pressão de referência;
S L ,0 ,  e  são funções da riqueza da mistura, que para a gasolina, são dadas por:
  2,4  0, 271  3,51
(4.61)
  0,357  0,14  2,77
(4.62)
S L ,0  Bm  B (  m ) 2
(4.63)
Onde m é a riqueza da mistura para a qual a celeridade da chama laminar tem o valor máximo
com o valor de Bm .
Os valores de m , Bm , B foram obtidos ajustando um polinómio de 2º grau pelo
método dos mínimos quadrados aos resultados experimentais de celeridade laminar de chama
de misturas ar-gasolina à temperatura inicial da mistura de 300 K e à pressão inicial da
mistura de 1 atm [1].
Os valores utilizados foram:
Bm  0,35614 m/s
B  1, 4151 m/s
m  1,13
Na presença de gases residuais queimados no cilindro verifica-se uma redução
substancial na celeridade de chama laminar. A presença de gases queimados na mistura fresca
admitida reduz o poder calorífico por unidade de massa da mistura, reduzindo assim a
temperatura de chama adiabática.
A evolução da celeridade de chama laminar com a fracção molar de gases residuais é
essencialmente independente da riqueza da mistura, pressão e temperatura dentro do intervalo
de interesse em motores, sendo dada pela Eq. 4.64 [1]:
S L ( xb )  S L ( xb )(1  2, 06 xb 0,77 )
(4.64)
Onde xb é a fracção molar de gases queimados.
De notar que para igual capacidade calorífica adicionada a uma mistura não-queimada,
a fracção molar de gases residuais têm muito mais influência na celeridade de chama laminar
47
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
que tem o excesso de ar. A variação da celeridade de chama laminar de uma mistura
estequiométrica para uma mistura pobre com   0,8 é reduzida cerca de 23 %. Adicionando
a mesma capacidade calorífica em termos de gases queimados, a velocidade de chama laminar
é reduzida 55 % [1]
Evolução da celeridade de chama com a intensidade de turbulência
Para câmaras de combustão abertas, na ausência de “swirl”, como a utilizada no modelo
desenvolvido, a intensidade de turbulência no ponto morto superior é igual a cerca de metade
de velocidade média do êmbolo [16], [17]:
u F (PMS)  0,5 S p
(4.65)
A celeridade de chama turbulenta, Sb, , é dada pela Eq. 4.61, obtida por ajustamento de
uma recta aos pontos apresentados na Fig. 4.3. [1].
Sb ,

 u  (PMS)    p 
 S L ( xb ) 1  1,5  F
  


 S L  xb     pm, 

0,75
(4.66)
Onde pm , é dada por:
 TI
pm,
V 
 pTI  TI 
 V 
(4.67)
Onde p m , é a pressão no cilindro no caso de não ocorrer ignição da mistura.
Fig. 4.3. Evolução da relação entre a celeridade de chama turbulenta e a celeridade de chama laminar com
a intensidade de turbulência
48
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Relação entre velocidade média de expansão dos gases queimados e a celeridade de chama
A análise termodinâmica dos dados da pressão dentro do cilindro permite-nos definir
alguns parâmetros geométricos úteis na obtenção das expressões necessárias para a modelação
da propagação de chama.
Uma boa aproximação para a superfície que define a frente de chama turbulenta é a
parte da superfície de uma esfera. Os parâmetros que definem essa superfície dependem das
coordenadas do centro de chama ( rc ,  c , zc ), do raio do círculo mais aproximado da silhueta
da frente de chama, rf e da geometria das paredes da câmara de combustão. O raio dos gases
queimados, rb , é o raio da superfície esférica dentro da câmara de combustão que contém
todos os gases queimados e cujo volume, Vb  rb , rc ,c , zc  , é função da pressão, p e ângulo de
rotação da cambota,θ.
Vb  rb , rc , c , zc   Vb ( p, )
(4.68)
A área esférica de queima, Ab , é definida pela Eq. 4.69:
Ab 
Vb ( p , )
rb
(4.69)
A área de queima laminar, AL , é definida como a superfície que se chama teria se
queimasse à celeridade de chama laminar, S L , e é definida pela Eq. 4.70:
AL 
dmb / dt
u S L
(4.70)
Se considerarmos que entre o início e fim da combustão o êmbolo se encontra em
posição fixa, todas as variações de volume verificadas, devem-se exclusivamente aos
processos de combustão. Neste caso, a velocidade média de expansão dos gases queimados,
ub , é dada pela Eq. 4.71:
ub 
Vb / dt
Ab
(4.71)
Uma vez que se trata de um sistema fechado, a velocidade média de expansão dos gases
queimados, ub , difere da celeridade de chama, Sb , dada pela Eq. 4.66, uma vez que à medida
que a combustão se desenvolve, a expansão dos gases queimados leva a um aumento efectivo
da celeridade de chama relativamente ao referencial fixo ao motor. Desta forma, podemos
49
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
definir a velocidade média do gás não queimado junto à frente de chama, u g , que é dada pela
Eq. 4.72.
(4.72)
u g  ub  S b
Uma importante relação entre a fracção de massa queimada, xb  mb / m , a fracção de
volume ocupado pelos gases queimados, yb  Vb / V pode ser obtida a partir das entidades.
m  mu  mb
(4.73)
V  Vu  Vb
(4.74)
E a lei dos gases ideais:
 
xb  1  u
 b
 1

  1 
 yb  
1
(4.75)
Enquanto a razão de densidades (u / b ) depende da riqueza da mistura, fracção de
gases queimados na mistura fresca, temperatura e pressão do gás e o seu valor é perto de 4
para motores de ignição por faísca.
Assim, a relação entre ub e Sb é dada pela Eq. 4.76.
ub u
u / b

1  yb   yb 
Sb  b
 u / b   1 xb  1
(4.76)
Quando xb , yb  0 , ub / Sb aproxima-se da razão de expansão u / b . Quando
xb , yb  1, ub / Sb  1
Uma vez determinada a velocidade média de expansão do gás, pode calcular-se a
duração da combustão, sabendo a distância que a chama tem de percorrer.
Considera-se que a distância máxima a percorrer pela chama, para este motor, será de
aproximadamente 0, 6 B , tendo em conta a geometria da câmara de combustão.
Durante a combustão, a relação de calores específicos vai variar, sendo calculada
através da Eq. 4.77.
 
c p ,
cv ,
(4.77)
A forma de representar a fracção mássica dos queimados, xb, em relação ao ângulo de
rotação da cambota é dada pela função de Wiebe, Eq. 4.78:
50
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
xb ,
     0  m1 
 1  exp   a 
 
    
(4.78)
Onde  é o ângulo de rotação da cambota; 0 é o ângulo de início da combustão;  é a
duração total da combustão de xb ,  0 até xb ,  1 ; a e m são parâmetros ajustáveis,
normalmente tomam valores de 5 e 2, respectivamente [1].
O número de moles durante a combustão vai variar, dependendo de xb , , segundo a
equação Eq. 4.79:
 np 
n  nt    1 n fr xb,
 nr

(4.79)
Em que nt é o número de moles no final da admissão.
np
nr
é a razão entre o número de moles de produtos e reagentes para a quantidade de
mistura fresca admitida que contém uma mole de combustível.
n p é o número de moles de produtos da combustão da quantidade de mistura fresca
admitida que contém uma mole de combustível;
nr é o número de reagentes de combustível da quantidade de mistura fresca admitida
que contém uma mole de combustível;
n fr é o número de moles de frescos no cilindro quando termina a admissão.
A razão entre o número de moles dos produtos e dos reagentes é dada pela equação Eq.
4.80, deduzida e válida para misturas pobres (   1 ):
np
nr

b  4, 773 (4a  b)
4, 773(4a  b)  4
(4.80)
Ou pela Eq. 4.81, deduzida e válida para misturas estequiométricas e ricas (   1 ).
np
nr

 (4a  2b)  (4a  b)3, 773
4, 773(4a  b)  4
(4.81)
Onde  é a riqueza da mistura, a e b são respectivamente o número médio de átomos
de carbono e hidrogénio nas moléculas de combustível. Para a gasolina considerada nos
cálculos a=8,26 e b=15,50, respectivamente.
51
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
A temperatura dos produtos queimados depende da riqueza da mistura e da temperatura
inicial da mistura fresca e pode ser determinada através da Eq. 4.82:
Tbv ,Tu  Tbv ,T0  m Tu  T0 
(4.82)
Onde:
m  6,9611 3 - 16,860  2 + 12,523  - 2,2855
(4.83)
Válida para 0,7    1, 2
e
Tbv ,T0   -2610,6  3 + 4213,0  2 + 70,532  + 1090,2 
(4.84)
Válida para 0,7    1, 2
A Eq. 4.83 foi obtida do seguinte modo:
i.
para uma determinada riqueza fixa, variou-se a temperatura dos frescos e
determinou-se a temperatura de chama isocórica adiabática;
ii.
ajustaram-se os pontos do gráfico (temperatura chama isocórica adiabática = f
(temperatura de frescos)) por meio de uma recta e determinou-se o seu declive;
iii.
repetiu-se os pontos i. e ii. para várias riquezas no intervalo 0,7 a 1,2;
iv.
com os pontos (riqueza, declive) determinados, ajusta-se um polinómio de 3º
grau e encontra-se a expressão, m
A Eq. 4.84 foi obtida como resultado de um ajustamento polinomial pelo método dos
mínimos quadrados aos resultados do programa de cálculo UVFLAME em regime de
combustão isocórica para gasolina de composição C8.26 H15.50, com entalpia padrão de
formação a 298,15 K igual a -112,702 kJ/mol, para uma temperatura inicial de 298,15 K e
uma pressão inicial de 1,0 MPa.
Para ter em conta a presença de gases residuais na mistura fresca, a temperatura de
chama isocórica adiabática é obtida pela Eq. 4.85:
Tbv ,T0 , xgr   -2610,6  3 + 4213,0  2 + 70,532  + 1090,2  1  xgr   T  720  xgr
(4.85)
A temperatura dos gases não queimados é dada pela Eq. 4.86:
52
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
TB1,
V 
 TTI  TI 
 V 
 TI 1
(4.86)
Para obter uma aproximação da temperatura média dos gases na câmara de combustão,
em função de xb , para cada  durante a fase de combustão até o êmbolo chegar ao PMS
utilizamos a Eq. 4.87:
T , ad  TB1,  xb , TB 2,  TB1, 
(4.87)
TB 2,  Tbv,To , xgr  m  TB1,  T0 
(4.88)
Com
A temperatura média dos gases na câmara de combustão, em função de xb , para cada 
durante a fase de combustão depois do êmbolo chegar ao PMS é dada pela Eq. 4.89:
T ,ad  TB 2,   xb ,  1 TB 2,  TB1, 
(4.89)
Com
TB 2,  Tbv,To , xgr  m TB1,  PMS

V 
 T0     PMS 

 V 
  1
(4.90)
Onde TB1, é dado pela Eq. 4.86.
As perdas térmicas durante o processo de combustão são calculadas de acordo com a
Lei de Annand:
5
Q   Aj , hc, , j (Tw, j  T )t
(4.91)
j 1
Onde
T 
Q
Cv, m
(4.92)
Pode calcular-se a variação de temperatura devido à transferência de calor, pela Eq.
4.93:
T  T ,ad   T
(4.93)
A determinação do coeficiente de convecção de calor é tratada no ponto 4.2.6.
53
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
O valor da pressão em cada  é dado pela equação dos gases perfeitos, Eq. 4.94:
p  n Ru
T
V
(4.94)
Durante a combustão, em que se dá a reacção química entre o ar e o combustível, vão
estar presentes dentro do cilindro ar, combustível, gases residuais e os produtos da combustão
são constituídos por vários compostos que variam consoante a riqueza da mistura.
O conhecimento da composição dos gases no interior do cilindro expressa em fracção
molar é necessário para o cálculo das propriedades termodinâmicas dos mesmos.
O calor específico molar a pressão constante do combustível no estado gasoso presente
no cilindro é dado pela Eq. 4.95 [1].
c p , f  Af 1  Af 2t  Af 3t 2  Af 4t 3 
Af 5
(4.95)
t2
Com t  T (K) /1000 ;
Para a gasolina temos:
A f 1   24, 078 ; A f 2  253, 63 ; A f 3   201, 68 ; A f 4  64, 750 ; A f 5  0, 5808
Os gases dentro do cilindro são constituídos por vários compostos cuja fracção molar
varia com o avanço da combustão, de acordo com as Eqs. 4.96 a 4.102.
x f  x f , fr 1  x gr  1  xb 

  x
1  x   x
(4.96)

 1  x   x
xO2  xO2 , fr 1  xgr   xO2 , gr .x gr 1  xb   xO2 , p xb
(4.97)
xN2
(4.98)
N2 , fr

  x
  x
  x
gr
x
N 2 , gr gr

 1  x   x
b
x
N2 , p b
xCO2  xCO2 , gr x gr 1  xb   xCO2 , p xb
(4.99)
xH2O
(4.100)
xCO
xH2
H 2 O, gr
CO, gr
H 2 , gr
x gr
b
x gr  1  xb   xCO, p xb

x
H 2 O, p b
x gr 1  xb   xH2 , p xb
(4.101)
(4.102)
Tal como na compressão, as propriedades termodinâmicas são calculadas de acordo
com as mesmas equações.
54
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
4.2.4 Expansão
A expansão está compreendida entre o fim da combustão e o instante de abertura da
válvula de escape. Nesta fase, estão apenas presentes os gases queimados.
As propriedades termodinâmicas dos gases queimados são calculadas pelo mesmo
método utilizado no cálculo das propriedades termodinâmicas dos gases do cilindro na fase de
compressão.
A viscosidade dos gases queimados, b , é dada segundo Heywood pela Eq. 4.103.
3,3 107  Tb 0,7
b 
1  0, 027
(4.103)
O nº de moles considerado durante a fase de expansão é constante e igual ao presente no
final da fase de combustão.
O processo de expansão, à semelhança do processo de compressão, foi considerado
como uma sucessão de processos de expansão elementares constituídos por um processo de
expansão adiabático e reversível seguido de um processo de transferência de calor a volume
constante.
Para o processo de expansão adiabático e reversível (isentrópico) elementar é possível
relacionar o estado inicial e final pela Eqs. 4.104 a 4.106.
TV  
 1
 Tad , 1V 1 
 1
(4.104)
Com:
T 1  Tad , 1   T
T 
Q
cv , .m
(4.105)
(4.106)
O calor transferido, Q , é determinado pelo mesmo método utilizado durante a fase de
compressão, mas utilizando as propriedades dos produtos da combustão.
Sabendo a temperatura real, e uma vez que durante a expansão o número de moles é
constante, pela equação dos gases perfeitos, pode determinar-se a pressão em cada instante
pela Eq. 4.107:
P 1  n 1 Ru
T 1
V 1
(4.107)
55
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
4.2.5 Escape
Ao iniciar-se o escape, o número de moles no interior do cilindro vai diminuir, sendo o
número de moles em cada instante dado por:
n  n 1 
m b ,
Mb
(4.108)
t
Onde
Mb = Massa molar dos gases queimados;
t  t  t 1
No início do escape n 1  n fc , com n fc número de moles no final da combustão.
Utiliza-se novamente uma expressão de aproximação para o cálculo da temperatura,
agora em função do volume molar, visto que se assume que mesmo depois de se iniciar o
escape, a expansão dos gases no interior do cilindro continua a ser isentrópica.
 1
V 
T   
 n 
 1
V 
 T 1   1 
 n 1 
(4.109)
Em que  é o ângulo de rotação da cambota.
Tal como anteriormente, calcula-se a variação da temperatura devida à transferência de
calor, sendo todos os parâmetros calculados como anteriormente. Apenas se tem em conta que
devido ao escape se altera a massa de instante para instante, sendo agora calculada através do
produto do número de moles n pela massa molar.
Para o cálculo das perdas de carga no sistema de escape, utiliza-se o mesmo método
seguido para o processo de admissão, variando apenas as propriedades dos gases envolvidos
que neste caso são apenas gases queimados e considerando as perdas de carga associadas à
geometria do sistema de escape.
No caso de haver cruzamento de válvulas, o que implica uma sobreposição das fases de
admissão e escape, são consideradas as equações válidas para as duas fases em simultâneo.
4.2.6 Transferência de calor em motores de combustão interna (MCI)
O tratamento das perdas térmicas em MCI é muito importante, pelo que é essencial que
seja bem modelada. Existem diversas abordagens possíveis [18], a implementada no programa
56
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
4SSI segue um modelo tradicional, proposto por Annand [19], com correlações para a média
especial do coeficiente de transferência de calor por convecção instantâneo.
A lei de Annand é apresentada como:
 S p B 
 hc B 


  a


 k 


b
(4.110)
Onde 0,35  a  0,80 , b  0,70
No código utilizou-se a = 0,64.
A condutibilidade térmica do gás é calculada usando Eq. 4.111.
k
9  5
 cv
4
(4.111)
A viscosidade dinâmica do ar é dada pela Eq. 4.112.
 ar  3,3  10  7 T 0 , 7
(4.112)
A viscosidade dinâmica dos produtos da combustão é dada por:
p 
ar
1  0, 027
(4.113)
A condutibilidade térmica do gás é dada por:
k  xb k p  (1  xb ) k r
(4.114)
A viscosidade dinâmica do gás é dada por:
  x p  p  (1  xb )  r
(4.115)
Onde xb é a fracção mássica de gases queimados.
O calor transferido do gás na câmara de combustão para as paredes da câmara de
combustão quando a cambota está na posição angular definida pelo ângulo  , considerado é
dado pela Eq. 4.116, onde Tw , j varia consoante a superfície.
5
Q   A j , hc, (Tw , j  T ) t
(4.116)
j 1
Onde, t é o tempo para a cambota rodar o incremento de ângulo considerado.
Tw , j é a temperatura da superfície j que constitui a câmara de combustão.
As várias superfícies que constituem a câmara de combustão são:
j  1 Paredes do cilindro
j  2 Válvula de escape
57
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
j  3 Válvula de admissão
j  4 Coroa do êmbolo
j  5 Cabeça do cilindro
A área da parede do cilindro varia com  , e é dada pela Eq. 4.117:
Aw,1 
 BL
 R  1  cos  ( R2  sin 2  )1 / 2 
2
(4.117)
As áreas relativas às outras superfícies j=2 a j=5, são dadas pelas Eq. 4.118 a Eq. 4.121.
Aw ,2
 Dve2

4
(4.118)
Aw ,3
 Dvi2

4
(4.119)
(no caso de êmbolo plano)
2
Aw,4
B

4
Aw,5
B
 K ch
 Aw,2  Aw,3
4
(4.120)
2
(4.121)
Onde Kch é a razão entre a área da calote da cabeça do cilindro e a área da secção
transversal do cilindro.
A variação de temperatura do gás no cilindro devido à transferência de calor na rotação
da cambota do ângulo (  1) para  é dada pela Eq. 4.122:
T 
Q
m  cv,
(4.122)
4.2.7 Detonação
Os MCI estão sujeitos à detonação, sendo para isso importante saber em que
condições de funcionamento o motor detona. Têm sido desenvolvidos e usados dois tipos de
modelos deste processo de auto-ignição: (1) correlações empíricas do tempo de indução; (2)
mecanismos químicos que incorporam muitas ou todas as características do processo
completo de oxidação de um hidrocarboneto.
58
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
As correlações de tempo de indução são derivadas ajustando uma função de Arrhenius
a dados medidos de tempo de indução ou auto-ignição, para uma dada mistura ar-combustível,
nos intervalos de pressão e temperatura relevantes da mistura.
Assim, o tempo de indução,  , dado pela Eq. 4.123:
B
  Ap  n exp  
 T 
(4.123)
A correlação mais extensivamente testada é a proposta por Douaud and Eyzat [21],
que para misturas ar-gasolina é expressa pela Eq. 4.124, e resulta do trabalho realizado ao
longo de muitos anos no Instituto Francês do Petróleo.
 RON 
  5, 717 10 

 100 
2
3,402
 3800 
p 1,7 exp 
 T 
  
(4.124)
Com  em s, p em Pa e T em K.
Neste modelo assume-se que a detonação ocorre quando se verifica:

tFC
tTI
dt
1

A implementação deste modelo permite efectuar diversos tipos de estudos (influência
do combustível, temperatura das paredes, do coeficiente de transferência de calor, etc) e
garantir que nos pontos de funcionamento previstos o motor não detona.
Fig. 4.4. Evolução do factor de detonação de um MCI-SI de 31,65 cm3 com a velocidade de rotação da
cambota, riqueza da mistura e avanço de ignição
59
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Ainda que não tenha sido feito nenhum registo da evolução da pressão no motor,
quando este está em detonação, a Fig. 4.5, retirada de [22], mostra a pressão no cilindro para
um ciclo com forte ocorrência de detonação, onde o limite de 1,0, imposto acima é largamente
excedido.
Fig. 4.5. Registo da pressão no cilindro de um motor em detonação, Modo D, (PFI-TC), 7000 rpm, 11:1
[22]
Nesse mesmo estudo é possível observar os efeitos nefastos que tem o fenómeno de
detonação no êmbolo do motor, (vd. Fig. 4.6)
Fig. 4.6. Efeitos adversos da ocorrência de detonação no êmbolo do motor [22].
60
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
4.2.8 Rendimento volumétrico
No sistema de admissão o filtro de ar, a válvula de borboleta (em MCI-SI), a conduta de
admissão, a porta da válvula de admissão e a válvula de admissão – restringem a quantidade
de ar que um motor de uma determinada cilindrada pode introduzir nos cilindros. O parâmetro
que se pode utilizar para medir a eficiência do processo de admissão num MCI é o rendimento
volumétrico, v . O rendimento volumétrico é somente utilizado em motores de quatro tempos,
os quais têm fase de admissão distinta. É definido como a razão entre a massa de ar
efectivamente admitida no cilindro num ciclo e a massa de ar correspondente ao produto do
volume cilindrada do motor pela massa volúmica do ar ambiente ou na porta da válvula. É
dado pela Eq. 4.125:
v 
ma
 a ,iVd
(4.125)
Onde ma é a massa de ar admitida dentro do cilindro por ciclo,  a ,i é a massa volúmica do ar
de entrada e Vd é o volume cilindrada do motor. O objectivo desta modelação é calcular a
quantidade de ar que entra para o cilindro a partir da geometria do motor, do seu tipo, da
velocidade de rotação e da posição da válvula de borboleta e o seu valor depende da: pressão
parcial no colector de admissão, aquecimento do ar, perdas de carga, perdas sónicas, retorno
de ar à admissão, entrada de ar devido à sua inércia e efeitos instacionários nos colectores. A
Fig. 4.6 mostra os diversos factores que contribuem para o rendimento volumétrico e a
influência de cada um deles com a rotação. Os valores típicos máximos de v para MCI
naturalmente aspirados variam entre 80 a 90 %.
Fig. 4.6. Diversos factores que afectam o rendimento volumétrico [20]
61
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
4.2.9 Trabalho indicado por ciclo
A informação de pressão do gás dentro do cilindro no ciclo de operação de um MCI
pode ser usada para calcular o trabalho transferido do gás para o êmbolo. A pressão no
cilindro e o correspondente volume através do ciclo do motor podem ser apresentados num
gráfico p-V, como se apresenta na Fig. 4.7.
Fig. 4.7 Gráfico p-V obtido com o programa de modelação para um motor de 31,65 cm3, às 4000 rpm,
condições de MBT e WOT.
O trabalho indicado por ciclo, por cilindro, W c ,i ,cil é obtido por integração da curva do
diagrama p-V para obter a área interior do diagrama e é dado pela Eq. 4.126:
Wc ,i ,cil   pdV
(4.126)
Onde: p é a pressão no interior do cilindro
V é o volume do cilindro
4.2.10 Potência indicada por cilindro
A potência indicada por cilindro, Pi ,cil , é relacionada com o trabalho por ciclo pela Eq.
4.127:
62
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Pi ,cil 
Wc ,i ,cil N
(4.127)
nR
Onde nR é o número de revoluções da cambota por cada ciclo de trabalho. Para motores
de quatro tempos nR  2 ; para motores a dois tempos nR  1 .
4.2.11 Binário indicado por cilindro
O binário indicado por cilindro, Ti ,cil , é relacionada com trabalho por ciclo pela Eq.
4.128.
Ti ,cil 
Wc,i ,cil
(4.128)
2  nR
A potência indicada por cilindro, Pi ,cil , é relacionada com o binário indicado por
cilindro Ti, cil pela Eq. 4.129.
Pi ,cil  Ti ,cil  2 N
(4.129)
4.2.12 Pressão média efectiva indicada, imep
O binário é um parâmetro de desempenho que mede a capacidade de um motor executar
trabalho e que depende da cilindrada. Um parâmetro muito utilizado na medição do
desempenho de um motor é obtido dividindo o trabalho por ciclo pelo volume cilindrada. O
parâmetro obtido é de força por unidade de área, também chamado de pressão média efectiva
(mep).
A pressão média efectiva indicada é relacionada com o trabalho por ciclo indicado por
cilindro pela Eq. 4.130.
imep[kPa] 
Wc ,i ,cil [J] 103
Vd , cil [m3 ]
(4.130)
4.2.13 Rendimento mecânico
Existe uma parte do trabalho indicado por ciclo que é utilizado para introduzir gases
frescos e expelir gases queimados do cilindro. Uma parte adicional desse trabalho é usada
para vencer os atritos dos rolamentos, êmbolo e outros componentes mecânicos presentes no
63
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
motor. Todos estes requisitos de potência estão agrupados na chamada potência de fricção, Pf.
A razão entre a potência ao freio fornecida pelo motor, Pb, e a potência indicada, Pi, é
designada de rendimento mecânico, m , e é dada pela Eq. 4.131:
m 
P
Pb
 1 f
Pi
Pi
(4.131)
Embora difícil de determinar com exactidão, a potência de atrito, por cilindro, Pi,cil pode
ser estimada recorrendo à avaliação do trabalho de atrito nos principais componentes do
motor, sendo Pf,cil dado pela Eq. 4.132.
Pf , cil 
Wc , f , cil N
nR
(4.132)
Sendo W c , f , cil o trabalho de atrito por ciclo e por cilindro.
O trabalho de atrito por ciclo e por cilindro, W c , f , cil é dado pela soma dos trabalhos de
atrito por ciclo e por cilindro dos seguintes componentes do motor:
i.
Entre êmbolo e segmentos e cilindro do motor;
ii.
Rolamentos principais da cambota;
iii.
Rolamentos da cabeça da biela;
iv.
Chumaceiras do pé da biela;
v.
Rolamentos da árvore de cames;
A seguir é descrita a teoria para o cálculo dos atritos entre êmbolo e segmentos e
cilindro do motor, baseada na Lei de Newton para escoamentos viscosos.
A tensão de atrito viscosa sobre o elemento j para o ângulo de rotação da cambota  ,
 j é dada pela Lei de Newton, Eq. 4.133.
 j  
S p ,
dv
 T o
dy
ej
(4.133)
Onde e j é a espessura do filme lubrificante entre o elemento j e o cilindro, S p , é a
velocidade instantânea do êmbolo para o ângulo  , e  To é a viscosidade dinâmica do óleo
lubrificante para a sua temperatura.
A força de atrito viscosa, F j , para o elemento j para o ângulo de rotação da
cambota  , é dada pelo produto da tensão viscosa,  j , pela área de contacto A j :
64
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
(4.134)
F j   j A j
A viscosidade do óleo em função da temperatura é dada pela Eq. 4.135.

 313,15 K  
T [Pa.s]  T 313,15 K  exp  k T 
 1 
 T[K ]


(4.135)
Para o óleo Shell Helix Ultra X SAE 0W30
 T  313,15 K  0, 0442 Pa.s
k  T  10, 830
O trabalho viscoso é igual ao produto da força viscosa pelo deslocamento de êmbolo
quando a cambota gira do ângulo (  1) para o ângulo  , é dado pela Eq. 4.136.
W j  F j ( s  s 1 )
(4.136)
O trabalho viscoso total entre êmbolo e segmentos e cilindro para um cilindro é dado
pelo somatório de todos os trabalhos elementares de todas as forças viscosas actuando entre
todos os elementos do êmbolo e segmentos e o cilindro e para todos os deslocamentos
elementares do êmbolo num ciclo completo.
n
720
Wc , f ,es ,cil  W j
(4.137)
j 1  1
O trabalho de atrito nas chumaceiras do pé da biela é dado pelas Eq. 4.138 a Eq. 4.143.
W f , cpb ,  nchp  cpb Acpb rcpb (   1 )
(4.138)
ncpb  2  ncil
(4.139)
 cpb  oleo
d Dcpb
dt 2 ecpb
(4.140)
(4.141)
Acpb   Dcpb wcpb
rcpb 
Dcpb
(4.142)
2
W f ,cpb ,  ncpb  (Toleo )
Dcpb
d Dcpb
 Dcpb wcpb
(   1 )
dt 2 ecpb
2
(4.143)
O ângulo da biela,  , para o ângulo de rotação da cambota  é dado por:
65
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
 a sin  
  arcsin 

 l 
(4.144)
A derivada temporal de  é estimada pela diferença finita centrada dada por:
d  1   1

dt
t 1  t 1
(4.145)
O trabalho de atrito numa chumaceira do pé da biela por ciclo é dado por:
720
Wc , f ,cpb, cil   W f ,cpb ,
(4.146)
 1
Os restantes trabalhos de atrito (rolamentos principais da cambota, rolamento da cabeça da
biela e rolamentos da árvore de cames), por se tratar de atritos de rolamento, a metodologia da
seguida pela SKF, baseada no cálculo dos momentos de atrito.
4.2.14 Potência ao freio
A potência ao freio por cilindro, Pb ,cil , é relacionada com o trabalho por ciclo ao freio,
por cilindro, pela Eq. 4.147:
Pb, cil 
Wc ,b, cil N
nR
(4.147)
4.2.15 Binário ao freio
O binário ao freio por cilindro, Tb,cil , é relacionado com o trabalho por ciclo ao freio por
cilindro pela Eq. 4.148:
Tb ,cil 
Wc ,b, cil
2 nr
(4.148)
4.2.16 Pressão média efectiva ao freio
A pressão média efectiva ao freio, bmep , é relacionada com o trabalho por ciclo ao
freio por cilindro pela Eq. 4.149:
66
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
bmep[kPa] 
Wc ,b , cil [J]  103
Vd , cil [m3 ]
(4.149)
4.2.17 Relação ar/combustível
A relação ar/combustível, A / F é a relação entre a massa de ar e a massa de
combustível na mistura reagente. Tendo em conta a composição da mistura reagente é dada
pela Eq. 4.151.
Ca H b 
ab/ 4
(O2 +3,773N 2 )  produtos

a  b/4
(2  15, 9994  3, 773  2  14, 0067)

A/ F 
12, 01115  a  1, 00797  b
(4.150)
(4.151)
4.2.18 Caudal mássico de combustível
O caudal mássico de combustível admitido no motor é dado pela Eq. 4.152.
m f 
m mix
A
/
 F 1
(4.152)
4.2.19 Consumo específico de combustível indicado
O consumo específico de combustível indicado é dado pela Eq. 4.153.
isfc 
m f
Pi
(4.153)
4.2.20 Consumo específico de combustível ao freio
O consumo específico de combustível ao freio é dado pela Eq. 4.154.
67
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
bsfc 
m f
Pb
(4.154)
4.2.21 Rendimento de conversão de combustível indicado
O rendimento de conversão de combustível indicado é dado pela Eq. 4.155.
 f ,i 
3600
isfc[g/kWh]QLHV [MJ/kg]
(4.155)
4.2.22 Rendimento de conversão de combustível ao freio
O rendimento de conversão de combustível ao freio e dado pela Eq. 4.156.
 f ,b 
3600
bsfc[g/kWh]QLHV [MJ/kg]
(4.156)
68
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO CINCO
5 Simulação e optimização dos parâmetros do motor
utilizando o programa “4SSI”[23]
O presente capítulo pretende apresentar os resultados obtidos pelo programa de
simulação e o estudo de optimização que foi feito. Este estudo foi iniciado por um trabalho
desenvolvido no âmbito da disciplina de Seminário da Licenciatura em Engenharia Mecânica,
FCTUC [3]. O objectivo é determinar a arquitectura óptima para o motor, recorrendo
unicamente a modelação numérica. Parâmetros como: cilindrada, relação curso/diâmetro,
ângulo de abertura e fecho das válvulas são determinados com o objectivo da obtenção do
mínimo consumo específico para as condições previstas na gama de operação do motor.
5.1 Validação dos resultados teóricos obtidos com o programa “4SSI”,
utilizando o motor Honda GX160
O primeiro estudo de validação do programa utilizado e confronto de resultados teóricos
e experimentais, foi feito no âmbito da Tese de Mestrado de Oliveira, A. [24]. Os resultados
do binário ao freio mostram uma boa correlação para regimes entre as 1500 rpm e as 3500
rpm, (vd. Fig. 5.1).
69
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 5.1. Curvas comparativas de resultados obtidos por modelação e por via experimental com o
motor Honda GC160 [24]
5.2 Determinação da geometria óptima
5.2.1 Volume cilindrada
Com o objectivo de identificar os parâmetros críticos e assim obter o máximo
desempenho do Eco Veículo XC20i durante a prova foi utilizado um código computacional
[25] que simula o comportamento do carro durante a competição. Este programa de
computador além de ser usado para simular e optimizar a estratégia de condução do veículo
no circuito, foi também utilizado para a determinação do volume cilindrada óptimo baseados
nas curvas características do binário e consumo específico ao freio de uma família de motores
possíveis com cilindradas no intervalo 20 a 40 cm3.
O algoritmo usado é baseado num método energético integral e tem em conta a
topologia do circuito em cada ponto da trajectória do veículo, a energia cinética e potencial
gravítica do veículo, o trabalho das forças não conservativas de atrito de rolamento dos pneus,
de travagem dos pneus a curvar, aerodinâmicas e das forças de propulsão do motor. Toma
também em conta a relação de transmissão e o rendimento do sistema de transmissão do
veículo, a influência das condições ambientais como temperatura, pressão, massa volúmica e
70
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
viscosidade do ar. Todos estes parâmetros de entrada são medidos experimentalmente ou
calculados.
As curvas polinomiais de binário ao freio e consumo específico a diferentes velocidades
de rotação foram geradas por um programa computacional “4SSI”, para uma configuração de
motor típica de baixos consumos específicos mantendo constantes: relação curso/diâmetro,
relação de compressão, ângulos de abertura e fecho das válvulas, levantamento de válvulas,
etc.
Todo o estudo de determinação do volume cilindrada óptimo, foi já sujeito a avaliação
para publicação em revista científica, (Ref. [26]).
A seguir são apresentados os resultados do desempenho do veículo em função da
cilindrada do motor para uma estratégia de condução de 4 ligações por volta no circuito de
Nogaro onde decorreu a Shell Eco-Marathon de 2000 a 2008 e de forma a cumprir a
velocidade média mínima permitida de 30 km/h, vigente nas edições de 2003 a 2008.
Fig. 5.2. Evolução do desempenho em função da cilindrada do Eco Veículo XC20i: determinação da
cilindrada óptima.
5.2.2 Relação curso/diâmetro
Fixando a cilindrada em 31,65 cm3, procedeu-se à determinação da relação
curso/diâmetro mais vantajosa para a cilindrada em causa. Depois de estimada uma
velocidade de rotação média do motor em prova, fizeram-se vários estudos para várias
relações curso/diâmetro, com relação de compressão fixa. Para cada ponto de L/B, foi
71
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
optimizado o consumo específico variando o instante de ignição (TI) e a riqueza (  ). Depois
de vários testes exaustivos concluiu-se que o motor tinha consumo mínimo para uma relação
de compressão de 15,0, onde a relação curso/diâmetro óptima situa-se entre 1,0 e 1,2. A partir
de uma curva de regressão linear de grau 3, verificou-se que a relação curso/diâmetro mínima
é de 1,12 (vd. Fig. 5.3) Embora a relação de compressão de 15,0 seja considerada elevada
para motores de ignição por faísca, os resultados obtidos pela simulação mostram não existir
perigo de ocorrer detonação.
Fig. 5.3. Influência da relação L/B no consumo específico para uma relação de compressão de 15,0 e para
uma cilindrada de 30,0 cm3
Determinada a relação curso/diâmetro que minimiza o consumo específico (1,12), a
relação de compressão de 15,0 e estabelecida a cilindrada aproximada de 30 cm3, a utilização
de um êmbolo de diâmetro de 33,0 mm, para a relação curso/diâmetro determinada obtém-se
um curso de 37,0 mm, obtendo-se uma cilindrada de 31,65 cm3.
Tendo o motor os parâmetros geométricos mais determinantes definidos (curso e
diâmetro), pretende-se optimizar todos os restantes parâmetros geométricos e de operação do
motor com o objectivo de minimizar o consumo específico ao freio do motor no intervalo de
velocidade de rotação de utilização do motor na prova.
72
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
5.2.3 Optimização da distribuição
Para ângulos fixos de fecho da válvula de admissão e de abertura da válvula de escape,
com valores de 60º e 30º, respectivamente, procedeu-se à optimização da abertura da válvula
de admissão e fecho da válvula de escape (cruzamento de válvulas). Depois de realizadas as
simulações necessárias, chegou-se a um ângulo óptimo de abertura da válvula de admissão,
IVO = 10º APMS e um ângulo de fecho da válvula de escape, EVC = 0º DPMS.
De seguida, optimizaram-se os ângulos de fecho da válvula de admissão (IVC) e
abertura da válvula de escape (EVO) com os valores anteriormente obtidos. Após as várias
simulações verificou-se que o consumo específico óptimo se verifica para IVC = 75º DPMI e
EVO = 44º APMI [3].
5.2.4 Considerações finais utilizadas:
1) Imposição do diâmetro das válvulas: recorreu-se à utilização das válvulas do motor
Honda GX25, que são válvulas de grande diâmetro, com cerca de 37 % do diâmetro
do êmbolo utilizado, e de haste de pequeno diâmetro, permitindo assim uma boa
respiração do motor;
2) Recorrendo à simulação, não se verificou grande influência do levantamento das
válvulas, desde que não fosse inferior a determinado valor;
3) Relação ACCAC, razão entre a área da cabeça do cilindro e a área da secção
transversal do cilindro. Este parâmetro deve ser o menor possível porque reduz a área
de transferência de calor na câmara de combustão aumentado desta forma a eficiência
do sistema. Para esta relação foi utilizado o valor de 1,6866.
4) A relação entre a distância máxima percorrida pela chama e o diâmetro do cilindro,
LFB deve ser o menor possível, ou seja 0,5 B. Pelo facto de se utilizarem apenas duas
válvulas de grande diâmetro, por questões geométricas, optou-se por utilizar duas
fontes de ignição, aumentado assim para duas as frentes de chama. Desta forma, pelo
facto da câmara de combustão ser uma câmara de baixa turbulência torna mais rápida
a queima da mistura. Pelo facto de se utilizarem duas velas de ignição a distância LFB
considerada é de 0,6 B.
73
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
5.2.5 Resumo: Configuração final de projecto sugerida pela modelação
A Tabela 5.1 mostra os valores de alguns dos principais parâmetros obtidos pela
modelação e resultantes do processo de optimização dos diversos parâmetros.
B /mm
33,0
Lve /m
0,00295
L /mm
37,0
Dvi /m
0,012318
l/a
3,73
Dve /m
0,012138
rc
15,0
i /deg
45
IVO /deg
10 BTDC
e/deg
45
IVC /deg
75 ABDC
ACCAC
1,6866
EVO /deg
44 BBDC
LFB
0,6 B
EVC /deg
0 ATDC
RON
95
Lvi /m
0,00315
Óleo Lub.
0W30
Tabela 5.1. Resultados obtidos do processo de modelação e optimização de parâmetros
Após a determinação de todos os parâmetros geométricos do motor que minimizam o
seu consumo específico, estudou-se qual a variação com o regime do motor e a interacção
com outros parâmetros de funcionamento como riqueza, avanço de ignição, etc. Assim para
cada regime em estudo, procurou-se fazer a optimização dos parâmetros de afinação como:
riqueza da mistura e avanço de ignição. Todo este estudo permite prever se o programa de
simulação se comporta conforme o esperado por comparação com curvas típicas
experimentais presentes na literatura e em certa medida estudar a maneira da evolução das
variáveis em estudo para de forma mais rápida proceder à afinação experimental do motor.
Para cada riqueza e regime de funcionamento do motor, são optimizados os avanços de
ignição correspondentes ao ponto de máximo binário, MBT. Ponto que corresponde ao
mínimo consumo específico. A Fig. 5.4 mostra a determinação do ponto MBT, fazendo variar
o TI para uma velocidade de rotação de 3000 r p m , uma riqueza de   0,80 e em condições
de válvula de borboleta completamente aberta (WOT).
74
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 5.4. Evolução do binário e consumo específico ao freio, para a configuração de motor considerada no
ponto 5.2.5, às 3000 r.p.m,   0,8 , W
De seguida, fez-se variar a riqueza e avaliou-se a sua influência no consumo
específico ao freio do motor. A Fig. 5.5 mostra a curva de evolução do consumo específico ao
freio em função do avanço de ignição, para várias riquezas da mistura. Da união dos pontos
MBT, verifica-se que tal como era de esperar que à medida que se empobrece a mistura, os
avanços óptimos tendem a aumentar.
Fig. 5.5. Evolução do consumo específico com o avanço de ignição para riquezas de 0,75 a 1,00, para
regimes de 3000 r p m, WOT.
75
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
De seguida fez-se variar a velocidade de rotação do motor e estudou-se a influência do
avanço de ignição no binário ao freio obtido, para uma riqueza da mistura fixa e igual a =
0,80. Os resultados são apresentados na Fig. 5.6. Os resultados mostram que para o intervalo
de velocidades em estudo o binário tende a aumentar com a rotação, bem como o avanço
óptimo ou ponto de binário máximo.
Fig. 5.6. Evolução do avanço de ignição para pontos de MTB, riqueza 0,80
Após determinados os avanços correspondentes aos pontos MBT, para uma riqueza de
0,80 e para várias velocidades de rotação foi traçada a curva bsfc e Tb em função da
velocidade de rotação. (vd. Fig. 5.7)
Nota: Resultados foram obtidos considerando uma temperatura média do óleo no cárter de
100 ºC, temperatura média do óleo no êmbolo e nos segmentos de 120 ºC e espessura do filme
lubrificante entre os segmentos e o cilindro de 4 m
76
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 5.7. Evolução do binário e consumo específico ao freio em função da velocidade de rotação (riqueza =
0,75, pontos optimizados para MBT em condições de WOT)
A determinação da pressão máxima verificada por ciclo é essencial para cálculo das
cargas existentes no êmbolo, rolamentos, chumaceiras, biela. O valor desses esforços é depois
utilizado no programa de cálculo estrutural, que servirá para estudo e optimização de todos os
elementos estruturais sujeitos a esforços no motor. A Fig. 5.8 mostra a evolução da pressão no
cilindro com o ângulo de rotação da cambota, bem como os pontos de abertura e fecho das
válvulas.
Fig. 5.8. Evolução da pressão no cilindro, pc, em função do ângulo de rotação da cambota para n = 4000
rpm, MTB e WOT.
77
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO SEIS
6 Projecto e análise estrutural por elementos finitos
(FEA), utilizando o ANSYS
6.1 Projecto e análise estrutural (FEA) do êmbolo sob condições de serviço
O êmbolo é o componente principal do motor na conversão da energia química contida
no combustível em energia mecânica que será transmitida à cambota por meio da biela. É um
componente que tem que suportar tensões elevadas sob condições de temperaturas elevadas.
O êmbolo é considerado o componente crítico de um MCI e a previsão do seu comportamento
mecânico e térmico sob condições de serviço requer especial cuidado na fase de projecto.
A escolha do material para o êmbolo é feita de acordo com a sua rigidez e resistência
mecânica, massa volúmica, características de desgaste e propriedades de expansão térmica. O
projecto do êmbolo do motor começa com a definição de uma primeira aproximação para a
sua geometria num Software CAD-3D, neste caso em concreto o Autodesk Inventor
Profissional 11, logo à partida com valores médios para os principais parâmetros, referidos na
literatura sobre o assunto. Detalhes como: reduzir ao mínimo a área da saia do êmbolo,
diminuindo assim a área de contacto entre o êmbolo e as paredes do cilindro e reduzir a
distância da côroa do êmbolo ao primeiro segmento foram tidos em conta logo na fase inicial
de projecto.
A Tabela 6.1 mostra valores típicos para êmbolos de MCI-SI, que foram tidos em conta
para primeira aproximação ao projecto do êmbolo [27]:
78
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tabela 6.1. Valores típicos para os principais parâmetros de projecto de êmbolos
Parâmetro
MCI-SI
Relação Altura/Diâmetro,
Altura 1º Segmento/Diâmetro,
Espessura coroa/Diâmetro,
Altura saia/Altura total,
Diâmetro exterior
êmbolo /Diâmetro,
0,90-1,30
(1,15)
H
D
h
D
hcr
D
H2
H
do cavilhão do
dext
D
0,06-0,09
(0,07)
0,07-0,08
(êmbolos fundidos)
0,68-0,74
(0,72)
0,24-0,28
(0,26)
Nota: Os valores entre parêntesis indicam os valores médios [27].
Após a fase de definição da primeira aproximação para a geometria, o modelo criado é
importado para um software de análise estrutural por elementos finitos (FEA), o ANSYS. São
definidas as condições de fronteira de origem mecânica: esforços ou forças aplicadas, sob
condições limite de operação (calculadas), e condições de origem térmica, como calor
recebido pelo êmbolo dos produtos da combustão ou transferido para a película de óleo que o
circunda. Foram feitos estudos com dois tipos de materiais possíveis para a manufactura do
êmbolo [28]: ferro fundido nodular 65-45-12 e liga de alumínio A390-T5.
O ferro fundido tem a vantagem de ter baixo coeficiente de expansão térmico e maior
resistência a altas temperaturas que a maioria das ligas de alumínio. Também a baixa
condutibilidade térmica do ferro fundido leva a que maior quantidade de calor possa ser
convertido em trabalho útil, pois uma menor taxa de calor pode ser desperdiçada para o
sistema de arrefecimento. Por outro lado, dado a maior massa volúmica do ferro fundido leva
a um maior nível de vibrações devido às elevadas acelerações do movimento do êmbolo. O
alumínio por seu lado, tem relação resistência/peso elevada, mas grande condutibilidade
térmica, elevado coeficiente de expansão térmico e perda de propriedades mecânicas a altas
temperaturas.
Ambos os materiais têm diferentes características com aspectos positivos e negativos.
As análises FEA para o êmbolo, levadas a cabo para estes dois materiais prevêem o seu
comportamento sob as condições de serviço, servindo desta forma como uma ferramenta de
selecção do material que mais se adequa.
79
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
6.1.1 Caracterização dos materiais
Liga de Alumínio A390-T5
A liga de Alumínio A390 é uma liga hipereutética da qual o silício é o maior elemento
de liga. O baixo coeficiente de expansão térmica comparado com as outras ligas, e a grande
dureza devido às partículas de silício [29] torna esta liga muito usada em êmbolos. As ligas
hipereutéticas para pistões aumentam a resistência à fadiga, aumentam a resistência a riscos
laterais, baixam o coeficiente de atrito e têm boas propriedades de resistência ao desgaste,
quando comparadas com outras ligas.
A Tabela 6.2 apresenta algumas das propriedades mecânicas e térmicas da liga de
Alumínio A390-T5 [30], que têm de ser inseridas na definição dos materiais para serem feitas
as análises.
Tabela 6.2. Propriedades mecânicas e térmicas da liga de Alumínio A390-T5
Coeficiente de Poisson
0.33
Módulo de Elasticidade /GPa
81.2
Massa volúmica /(kg/m3) a 20ºC
2730
Condutibilidade Térmica /(W/m.K) a 25ºC
134
Coeficiente de Expansão Térmica (100-300ºC) /(1/ºC)
18.0E-06 - 22.5E-06
Calor Específico /(J/kg.K)
963 at 100ºC
Tensão de Ruptura /MPa @ 25ºC
280
Tensão Limite Elástica /MPa @ 25ºC
240
Tensão Limite de Fadiga /MPa (5e8 cycles R.R Moore Test)
110
Liga de Ferro Fundido Nodular 65-45-12
A liga de ferro fundido nodular é uma liga com grande percentagem de silício como
elemento de liga, intencionada para o uso a altas temperaturas ou quando um componente é
sujeito a cargas térmicas cíclicas. A estrutura ferrítica permanece estável a altas temperaturas,
de modo que não ocorrem significativas transformações minimizando as tensões que levam ao
aparecimento de fendas e distorções nos componentes acabados.
80
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Algumas das principais propriedades mecânicas e térmicas da Liga Ferro Fundido
Nodular 65-45-12 [31], são apresentadas na Tabela 6.3:
Tabela 6.3. Propriedades mecânicas e térmicas da Liga de Ferro Fundida Nodular 65-45-12
Coeficiente de Poisson
0.33
Módulo de Elasticidade /GPa
168
Massa Volúmica /(kg/m3) a 20ºC
7100
Condutibilidade Térmica /(W/m.K) a 25ºC
36
Coeficiente de Expansão Térmica (100-300ºC) /(1/ºC)
12,8E-06
Calor Específico a 100ºC /(J/kg.K)
494
Tensão de Ruptura /MPa @ 25ºC
448
Tensão Limite Elástica /MPa @ 25ºC
310
Tensão Limite de Fadiga /MPa (50 % tensão de ruptura)
224
6.1.2 Condições de fronteira
As condições de fronteira a utilizar para as FEA sob condições de serviço foram
calculadas utilizando o programa “4SSI”, programa que aborda de forma pormenorizada
todos os processos dentro do cilindro, incluindo: combustão, transferência de calor, evolução
de pressão, propagação de chama e outros.
Os resultados obtidos utilizando o programa “4SSI”, para as condições de fronteira
térmicas e mecânicas necessárias para FEA, foram obtidos com o motor operando com
válvula de borboleta completamente aberta (WOT) a 5000 rpm, com um avanço de ignição de
10º BTDC, com uma riqueza,   0, 74 .
i.
Pressão Máxima no Cilindro, pmax  9,0 MPa
ii.
Fluxo de Calor Médio por Ciclo, Qc  405, 0 kW/m 2
Outras condições de fronteira, como calor perdido pelas paredes do êmbolo e superfície
interior do mesmo, foram calculadas tendo em conta expressões básicas de transmissão de
calor e outras usadas pelo programa “4SSI”:
81
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Condições ou Propriedades Térmicas e Geométricas:
Temperatura média do líquido refrigerante: Tc = 90 ºC
Temperatura média das paredes do cilindro: Tcw = 100 ºC
Temperatura média das paredes do êmbolo: Tpw = 150 ºC
Distância média entre êmbolo e o cilindro: l = 60E-6 m
Condutibilidade térmica do filme lubrificante: k = 134E-3 W/m K
Dos resultados apresentados em [28], mostram que o coeficiente de convecção para as
paredes do cilindro, é hcw  2333 W/m 2 K ; O coeficiente de convecção calculado para a parte
interior do êmbolo em contacto com o óleo do cárter é ho  750 W/m 2 K .
6.1.3 Análise e Estudo de optimização paramétrico utilizando o ANSYS
Parâmetros geométricos como área da saia, diâmetro do cavilhão, raio de
concordâncias e espessura da coroa do êmbolo foram optimizados utilizando o ANSYS. O
objectivo do uso desta ferramenta de FEA é auxiliar a fase de projecto do êmbolo simulando
as condições de operação de forma mais detalhada possível, permitindo assim diminuir o risco
de ruptura para um determinado número de ciclos admitidos.
Para a criação do modelo, foi usado um software CAD-3D (Autodesk Inventor
Professional 11). As análises foram feitas depois do modelo ter sido importado para o
ANSYS, onde depois da definição das condições de fronteira, tipos de contacto, foram
determinadas as tensões, deformações e distribuição de temperaturas ao longo do êmbolo (vd.
Fig. 6.1). As condições de contacto são formadas quando os corpos se encontram, neste caso e
para o êmbolo foi considerado que existe contacto entre o cavilhão e o êmbolo. Dependendo
do tipo de contacto, a análise pode ser linear ou não linear.
82
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 6.1. Modelo do êmbolo
Dois tipos de condições limites foram analisados:
i.
Êmbolo em condições de arranque do motor a frio;
ii.
Êmbolo em condições de operação limite.
Para o primeiro caso – êmbolo em condições de arranque do motor a frio – as análises
feitas pretendem prever o estado de tensão do êmbolo nas fases transitórias de arranque a frio
e de que forma diferem das condições de operação limites, em regime permanente. Neste caso
foram consideradas apenas cargas mecânicas, considerando todo o êmbolo a uma temperatura
uniforme de 25º.
Para a situação do êmbolo em condições limite de operação, é considerado o êmbolo
sujeito a solicitações mecânicas e térmicas máximas no ponto crítico dentro da gama de
operação do motor.
Estas duas condições de carga representam duas condições extremas de funcionamento
para o êmbolo. A situação de êmbolo em condições de arranque a frio representa a condição
de funcionamento em que o motor é ligado a frio e colocado (instantaneamente) a 5000 rpm,
com válvula de borboleta completamente aberta (WOT). Na outra situação o motor está em
condições de regime permanente a 5000 rpm com WOT.
A Fig. 6.2 mostra uma evolução comparativa da tensão máxima equivalente e da massa
para um êmbolo de Liga de Alumínio A390-T5 e de Liga de Ferro Fundido 65-45-12.
83
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 6.2. Análise comparativa da tensão máxima equivalente (von Mises) e da massa do êmbolo para Liga
de Ferro Fundido Nodular 65-45-12 e para a Liga de Alumínio A390-T5, em condições extremas de carga)
Os valores mais altos da tensão equivalente são verificados para o êmbolo feito com a
Liga de Ferro Fundido Nodular 65-45-12, verificando-se em ambas as situações redução da
tensão máxima verificada quando se aplicam cargas térmicas. Estes resultados mostram a
importância do aquecimento prévio do motor antes de o submeter a cargas elevadas,
melhorando assim o nível de tensões a que o êmbolo está sujeito e melhorando o
comportamento tribológico na zona de contacto com o cavilhão.
Para o estudo e optimização de alguns parâmetros que influenciam o nível de tensões no
êmbolo, foram feitas diversas análises, variando um parâmetro de cada vez. Através deste
estudo, foi possível escolher o melhor valor para cada parâmetro tendo em conta o nível de
tensões no êmbolo e a sua massa. O objectivo é obter a relação margem de segurança/massa
do êmbolo o maior possível. Os resultados apresentados deste estudo de parametrização
dizem respeito apenas ao êmbolo feito na Liga de Alumínio A390-T5. Igual estudo foi
realizado para o êmbolo na Liga de Ferro Fundido Nodular 65-45-12. No final será
apresentado estudo comparativo para estes dois materiais.
84
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Todo este estudo de optimização e modelação de tensões e deformações só foi possível
graças à utilização do ANSYS, que para além do cálculo das deformações e tensões máximas
originadas por cargas térmicas e mecânicas, permite também determinar a sua distribuição
espacial em cada componente.
A Fig. 6.3 mostra a distribuição das tensões equivalentes no embolo da liga de A390T5, solicitado com uma pressão de 9,0 MPa e uma carga térmica de Qc  405, 0 kW/m 2
Fig. 6.3 Distribuição de tensão equivalente para o êmbolo da liga A390-T5, com cargas térmicas
Como resultado da carga térmica aplicada e das condições de fronteira definidas, a
distribuição de temperatura no êmbolo da liga A390-T5, pode ser visualizado da Fig. 6.4.
Fig. 6.4 Distribuição da temperatura para o êmbolo em ligada A390-T5
85
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Diâmetro do cavilhão do êmbolo
O primeiro parâmetro analisado foi o diâmetro do cavilhão do êmbolo porque é na
zona de contacto entre o êmbolo e o cavilhão que temos as máximas tensões. Pretende-se
estudar a influência deste parâmetro no nível de tensões no êmbolo. Os resultados são
apresentados na Fig. 6.5.
Fig. 6.5. Evolução da tensão máxima equivalente (von Mises) verificada nas bossas do êmbolo, com
o diâmetro do cavilhão.
A redução do diâmetro do cavilhão do êmbolo de 12 mm para 8 mm aumenta o nível de
tensão equivalente duas vezes. A tensão limite de fadiga para o Alumínio A390-T5, e para
uma temperatura de 150 ºC - zona onde se verifica a tensão máxima – é de 154 MPa.
Verificou-se que, apenas com um êmbolo com um cavilhão de diâmetro de 12 mm permite ter
factor de segurança superior à unidade.
Espessura da coroa
Um dos parâmetros mais importantes no projecto de êmbolos é a espessura da coroa
(vd. Fig. 6.6). Este importante parâmetro influencia um grande número de variáveis: tensão
máxima equivalente, deformações direccionais, temperaturas máximas e outras variáveis.
86
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 6.6. Indicação do parâmetro em análise: espessura da coroa
A Fig. 6.7 mostra a evolução da tensão máxima equivalente, no ponto de máxima
tensão equivalente, no ponto de máxima temperatura e na região onde as bossas do êmbolo se
fundem na parte inferior da coroa do êmbolo.
Fig. 6.7. Evolução da tensão máxima equivalente com a espessura da coroa do êmbolo em 3 pontos críticos
distintos
O aumento da espessura da coroa leva a um pequeno aumento da tensão máxima
equivalente na zona da região da bossa. O nível de tensão no ponto de máxima temperatura e
para o ponto onde as bossas se fundem com a coroa do êmbolo diminuem substancialmente
com o aumento da espessura da coroa. Devido à alta incerteza das propriedades do alumínio a
alta temperatura, é conveniente ter um baixo nível de tensões nos pontos onde a temperatura é
alta. Apesar do ligeiro aumento da massa do êmbolo, com o aumento a espessura da parede da
87
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
coroa, foi escolhido o valor de 3 mm para a espessura da coroa, reduzindo assim o risco de
falhas a alta temperatura onde as propriedades são mais incertas.
Evolução da tensão máxima equivalente com o raio de concordância entre as bossas e a coroa
do êmbolo
Como é mostrado na Fig. 6.8, o aumento do raio de concordância leva a uma
diminuição da tensão máxima verificada no êmbolo. Consequentemente para reduzir a tensão
máxima equivalente é conveniente usar raios de concordância o maior possível.
Fig. 6.8. Evolução da tensão no ponto de máxima tensão equivalente (bossa) com o raio de concordância
entre as bossas e a coroa do êmbolo
Deformações máximas radiais
A previsão das deformações radiais máximas do êmbolo em serviço permite-nos com
um maior nível de segurança estabelecer a evolução do raio do êmbolo com a sua altura. O
conhecimento das deformações radiais leva a um conhecimento prévio das folgas que
existirão entre êmbolo e cilindro sem correr o risco de gripagem do motor permitindo desta
forma, trabalhar com tolerâncias mais apertadas.
A Fig. 6.9 mostra as deformações direccionais máximas, segundo o eixo dos YY, para
o êmbolo feito na liga de Ferro Fundido 65-45-12.
Depois das optimizações em ambos os êmbolos, a Fig. 6.10 mostra a evolução da
deformação radial com a distância ao topo do êmbolo. As deformações são representadas ao
longo da saia do êmbolo, sendo a referência zero o topo do êmbolo. A variação é mais
importante para zonas próximas do topo, já que é ai onde os gradientes de temperatura são
maiores.
88
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 6.9. Deformação direccional para o êmbolo de ferro fundido nodular 65-45-12 (Eixo dos YY)
Fig. 6.10. Evolução da deformação radial segundo o eixo dos YY, para os dois materiais em estudo,
com a distância ao topo do êmbolo.
Os resultados mostram que usando a Liga de Ferro Fundido Nodular 65-45-12 como
material para o êmbolo, as deformações radiais são reduzidas cerca de 10 m.
A seguir, na Tabela 6.4 é apresentado um resumo comparativo com a compilação dos
resultados em estudo para os dois tipos de materiais em análise.
89
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tabela 6.4 Quadro-sintese dos resultados dos estudos paramétricos efectuados
Liga de
Liga de Ferro
Diferença relativa para a
Alumínio A390-
Fundido 65-45-
Liga de Alumínio A390-
T5
12
T5 /%
Massa do êmbolo /kg
28,4E-3
71,7E-3
152,46
Massa do cavilhão /kg
18,4E-3
13,2E-3
-28,26
Massa Total (êmbolo+cavilhão) /kg
46,8E-3
84,9E-3
81,41
Forças de inércia a 7000 r p m /N
5785
10494
81,41
Número de nós
65270
59508
-8,83
Número de elementos
40213
35585
-11,51
123
169,6
37,89
Equivalente (PMTE) /ºC
150
145
-3,33
Tensão de Limite de Fadiga (PMTE) /MPa
154
222
44,16
Factor de Segurança (PMTE)
1,25
1,31
4,55
Máxima Temperatura (PMT) /MPa
20
38
90.00
Temperatura Máxima /ºC
198
320
61,62
Tensão limite Fadiga (PMT) /MPa
125
197
57,60
Factor de segurança (PMT)
6,25
5,18
-17,05
ligação Bossas-Coroa (PBC) /MPa
29
86
196.55
Temperatura (PBC) /ºC
187
267
42.78
Tensão Limite de Fadiga (PBC) /MPa
133
210
57.89
4,59
2,40
-47,67
62,1E-6
53,4E-6
-13,95
65,4E-6
54,8E-6
-16,21
Tensão Máxima Equivalente (von Mises)
/MPa
Temperatura no Ponto de Máxima Tensão
Tensão Equivalente (von Mises) no Ponto de
Tensão Equivalente (von Mises) no Ponto de
Factor de Segurança (PBC)
Deformação Máxima Direccional (Eixo XX)
/m
Deformação Máxima Direccional (Eixo YY)
/m
90
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
6.1.4 Conclusões
A liga de Ferro Fundido Nodular 65-45-12 tem as vantagens de baixo coeficiente de
expansão térmico e grande resistência a alta temperatura, mas têm a desvantagem de elevada
massa volúmica. O alumínio por seu lado tem grande relação resistência/peso, mas
relativamente fracas propriedades mecânicas a altas temperaturas e sob cargas cíclicas.
Os resultados FEA mostram que o cavilhão do êmbolo flecte devido a cargas mecânicas
provocadas pela pressão dos gases no cilindro. Como resultado, as pressões de contacto são
máximas na zona interior das bossas do êmbolo. Com a aplicação de cargas térmicas ao
êmbolo, verificou-se um alívio de tensões na zona interior das bossas.
Apesar do êmbolo feito na liga de Alumínio apresentar maiores deformações
direccionais – cerca de 14 a 16 % - o êmbolo feito na liga de Ferro Fundido e respectivo
cavilhão apresenta cerca de 1,81 vezes mais massa que o êmbolo de alumínio e respectivo
cavilhão. Também pelo facto de o êmbolo de Ferro Fundido apresentar maiores temperaturas,
reduz a quantidade de massa de ar que entra para o interior do cilindro por ciclo reduzindo
assim o seu rendimento volumétrico. Desta forma, este estudo levou-nos a concluir que o
material que melhor se adequa a esta aplicação é a Liga de Alumínio A390-T5.
91
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO SETE
7 Resultados Experimentais
7.1 Descrição do banco de ensaios
O banco de ensaios tem um funcionamento baseado no princípio da acção-reacção em
que é medido o binário que um freio aerodinâmico montado no veio de saída de potência do
motor exerce no motor e na estrutura do banco. O banco de ensaios permite medir o binário
ao freio, a velocidade de rotação no veio de saída de potência e o consumo de combustível do
motor. O banco de ensaios tem um princípio de funcionamento simples e permite obter pontos
de funcionamento estáveis do motor, no entanto, apresenta elevada emissão de ruído e não
permite variar a carga do motor mantendo a velocidade de rotação do motor constante. A
variação da carga faz-se através da variação da dimensão das placas do freio aerodinâmico.
O banco de ensaios está equipado com um conjunto de sensores destinados à medição
de todas as variáveis importantes de funcionamento do motor: binário ao freio, velocidade de
rotação da cambota e várias temperaturas. Estes equipamentos estão ligados a uma placa de
aquisição de dados NI PCI-6229, ligada a um PC. Foi feita uma interface em LabView para
visualização em tempo real de todas as variáveis medidas.
A medição do binário ao freio, que representa um dos parâmetros mais importantes a
medir, é feita por um sensor de força tensão-compressão OMEGA LCFA-25 de 25 lbs de
carga máxima. A medição da velocidade de rotação do motor é feita através de um sensor de
efeito Hall RS 304-172. A medição de temperaturas: cabeça do motor, líquido de refrigeração,
óleo de lubrificação, ar ambiente e combustível é feita através de termopares tipo K.
A medição do caudal mássico de combustível consumido pelo motor é feita
multiplicando a massa volúmica do combustível à temperatura em que este é admitido no
92
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
motor pelo caudal volúmico de combustível consumido pelo motor. O caudal volúmico de
combustível consumido pelo motor é medido dividindo um volume de combustível préestabelecido pelo tempo que o motor demora a consumi-lo. A bureta graduada utilizada tem
uma capacidade máxima de 10 mL, com resolução de 0,05 mL. Todas as especificações
técnicas e detalhes de todos os equipamentos utilizados podem ser consultados na secção
ANEXO I.
7.2 Freios Aerodinâmicos
Como já foi referido este banco de ensaios tem um princípio de funcionamento muito
simples, permitindo a obtenção de pontos de funcionamento estáveis do motor. As medições
efectuadas num determinado domínio de binário e velocidade de rotação, fazem-se utilizando
vários freios aerodinâmicos, a diversas rotações, onde para cada freio aerodinâmico o binário
desenvolvido depende somente da velocidade de rotação para condições atmosféricas
estacionárias.
Estes freios foram projectados de forma a darem uma evolução de binário com a
velocidade de rotação do freio, de acordo com a Eq. 7.6 em que K é uma constante para cada
freio aerodinâmico em consequência de geometria dos freios ser fixa e operarem a um número
de Mach na ponta da pá substancialmente inferior a 1,0.
Tb   FAi  Ri
(7.1)
Tb   C Di  Ai   ar  i2  Ri
(7.2)
  R
(7.3)
=
2πn
60
(7.4)
Vindo então:
Tb 
4 2
    C Di  Ai  Ri3  n 2
3600
(7.5)
Ou seja:
93
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tb  K  n 2
(7.6)
Tendo em conta os valores do K, foram utilizados os seguintes freios aerodinâmicos,
correspondentes aos intervalos de velocidades de rotação estudados:
Tabela 7.1. Caracterização dos freios aerodinâmicos utilizados
K /(N.m/rpm2)
Dimensões do Freio
Designação
4,8 x 10-8
Barra de pinho com 354 mm (comp.), 50 mm (alt.), 12,5 mm (larg.)
Dh 354
5,2 x 10-8
Barra de pinho com 354 mm (comp.), 50 mm (alt.), 12,5 mm (larg.) com duas
Dh 354-16 x 17
placas 16 x 17 mm
6,9 x 10-8
Barra de pinho com 354 mm (comp.), 50 mm (alt.), 12,5 mm (larg.) com duas
Dh 354-22 x 25
placas 22 x 25 mm
8,2 x 10-8
Barra de pinho com 354 mm (comp.), 50 mm (alt.), 12,5 mm (larg.) com duas
Dh 354-27 x 27
placas 27 x 27 mm
9,0 x 10-8
Barra de pinho com 354 mm (comp.), 50 mm (alt.), 12,5 mm (larg.) com duas
Dh 354-33 x 32
placas 33 x 32 mm
Estes freios foram equilibrados estatisticamente num equilibrador de hélices, para
minimizar os desequilíbrios, resultantes do facto de a madeira não ter uma densidade
homogénea, que iriam provocar vibrações no motor e em todo o banco o que levaria a
desgastes e a piores valores de consumos, bem como a medidas menos precisas.
Fig. 7.1. Freios Aerodinâmicos
94
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
7.3 Funcionamento do Sistema de Injecção/Ignição
De modo a que o microprocessador possa ordenar o tempo de abertura do injector e o
instante de ignição, tem de receber informação dos sensores de pressão no colector de
admissão e/ou do sensor de posição angular da válvula borboleta do acelerador e do sensor de
posição angular da cambota, sobre respectivamente a carga e o regime do motor.
A programação é feita através de mapas para a duração do tempo de injecção e avanço
do instante de ignição, em função da pressão do ar no interior do colector de admissão e da
velocidade de rotação da cambota.
Assim a ECU (Electronic Control Unit), após ter determinado o regime através do sinal
proveniente do sensor de posição angular da cambota, e a carga de funcionamento do motor
através dos sinais provenientes do sensor de pressão do ar no interior do colector de admissão,
acede aos mapas de duração do tempo básico de abertura do injector, extraindo o valor
correspondente às condições de funcionamento do motor. Estes mapas são acedidos sobre a
forma de um gráfico de barras, como se pode ver na Fig. 7.2 (é na altura destas barras que são
feitas alterações de forma a proceder à optimização da programação) em que a duração do
tempo de injecção vem em função da pressão do ar no colector de admissão para uma
velocidade de rotação da cambota fixa.
Fig. 7.2. Mapa da duração dos tempos de injecção
95
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Este tempo básico de abertura do injector vai, ainda ser ajustado pela ECU de acordo
com o valor de vários parâmetros que indicam as condições de funcionamento do motor
através dos valores medidos pelos vários sensores do motor. Estas correcções são feitas em
função da temperatura do ar e temperatura do motor, se o motor está perante uma situação de
arranque ou funcionamento a frio, se se trata de uma situação transiente do motor (algo não
aplicado neste trabalho). São também feitas correcções em função do valor da voltagem da
bateria (ou fonte de alimentação, no caso de estarmos a trabalhar no banco de ensaios). A
duração do tempo de abertura real do injector é determinada pela ECU, somente depois de ter
em conta todas as correcções referidas.
O estabelecimento do avanço de ignição é feito de forma semelhante, só que acede-se
aos mapas de ignição, como o que está na Fig. 7.3, em vez dos mapas de injecção.
Fig. 7.3. Mapa dos instantes de ignição básicos
A ECU estabelece o instante de ignição com base na informação recebida do sensor de
posição angular da cambota que dá o instante em que a cambota ocupa uma posição
predefinida antes do PMS, posição definida pela colocação da peça que suporta o sensor, e
calcula a velocidade de rotação angular através da medida do intervalo de tempo desde o
impulso anterior.
Sabendo a velocidade de rotação da cambota e o instante em que a cambota passou
numa determinada posição a ECU calcula o tempo que deve contar desde que a cambota
passou numa posição angular conhecida até atingir a posição angular correspondente ao
instante de ignição. De igual modo, também aqui a ECU, permite proceder a ajustamentos em
função das condições de funcionamento do motor, podendo assim o instante de ignição ser
optimizado para cada condição de funcionamento do motor.
96
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Todos estes mapas podem ser alterados pelo programador de modo a optimizar o
sistema para que o motor também tenha um desempenho optimizado. Uma das grandes
vantagens dos sistemas de injecção/ignição electrónica programável é a possibilidade de
impedir que o motor exceda um determinado limite de rotações. Este sistema em particular,
têm a opção de corte de injecção ou de ignição. Dado que o objectivo principal deste trabalho
é a minimização do consumo de combustível, optou-se obviamente pelo corte de injecção
para limitar o regime de funcionamento do motor.
7.4 O motor protótipo desenvolvido
Após a montagem de todos os componentes, polimento de algumas peças e ajuste de
tolerâncias, o motor (vd. Fig. 7.4-a e Fig. 7.4-b) foi montado no banco de ensaio e feitos todos
os testes e optimizações necessárias. Fotografias dos componentes individuais maquinados
podem ser consultadas na secção ANEXO III. Já o modelo desenvolvido em CAD3D pode ser
consultado na secção ANEXO IV
Fig. 7.4-a. Fotografia do motor M3165
97
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 7.4-b. Fotografia do conjunto das peças antes da assemblagem
7.5 Máquina analisadora de gases – Medição de riqueza
A máquina analisadora de gases de escape utilizada durante a optimização do motor,
foi o modelo Infralyt EL Modular Gas Analyzer da marca SAXON Junkalor. Esta máquina é
específica para motores a gasolina de 2 ou 4 tempos, com ou sem catalisador.
Esta máquina efectua medidas muito precisas, pois possui um filtro de condensados
dos gases de escape automático e séries de filtros de partículas, de modo a que as medidas não
sejam afectadas e os sensores tenham uma elevada durabilidade. Analisa gases por
infravermelhos, exceptuando-se as medidas de Oxigénio e Monóxido de Nitrogénio, onde a
energia de infravermelhos é transmitida através do escoamento dos gases para um detector
filtrado de infravermelhos, a análise do sinal de medida é feita automaticamente na máquina
por um microprocessador. As medições de Oxigénio e Monóxido de Nitrogénio são feitas por
uma célula electroquímica.
O uso desta máquina implica uma série de cuidados a ter como: deverá ser colocada
num sítio sem vibrações, seco e onde não congele; deve estar protegida da luz solar directa, de
fontes de calor intensas e de fontes de emissão de gases. A admissão de gases de escape tem
de ser feita de modo a que estes tenham uma temperatura aproximadamente de 45º, pelo que
98
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
para o nosso caso foi necessário aplicar uma serpentina à saída de escape de modo a arrefecer
os gases de escape. Os campos de medida da máquina analisadora de gases são:
Tabela 7.2. Variáveis de medição pela máquina analisadora de gases
Variável de medida
Intervalo de medição
Resolução de medição
CO
0-10 % vol.
0,01 % vol.
CO2
0-20% vol.
0,01 % vol.
HC
0-2500 ppm vol.
1 ppm
NO
0-5000 ppm vol.
1 ppm
O2
0-22% vol.
0,01 % vol.

0-9,999
0,001
7.5.1 Medição do : Fórmula de Brettschneider
A equação de Brettschneider é de facto a base do método padrão usado para calcular a
diluição da mistura de ar/combustível (Lambda). Esta equação foi proposta num artigo [32],
escrito pelo Dr. Johannes Brettschneider:






CO  O   NO     HCV  3, 5   OCV   CO  CO
CO2  
 2
 2    
 4
CO 
2
2
2 

 
3,5 




 CO2  




 HCV OCV 
1  4  2    CO 2    CO    Cfactor   HC  



(7.7)

Nesse artigo estabeleceu um método para calcular a diluição  , a partir das
concentrações de CO2, O2, NO, CO e HC presentes nos gases de escape e da relação H/C
assumida para os hidrocarbonetos nos gases de escape. Hcv é a relação atómica de átomos de
hidrogénio para átomos de carbono no combustível; Ocv é a relação atómica de átomos de
oxigénio para átomos de carbono no combustível; Cfactor é o número de átomos de carbono em
cada molécula HC que está a ser medida.
99
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 7.5. Máquina analisadora de gases SAXON Junkalor
7.6 Procedimento dos ensaios
Cada ensaio compreende a programação do microprocessador para as condições de
funcionamento do motor: carga, velocidade de rotação, riqueza da mistura e instante de
ignição. Para cada tempo de injecção de combustível, que corresponde a uma determinada
riqueza da mistura, é optimizado o instante de ignição, sendo o óptimo atingido quando o
binário é máximo, MBT (Maximum Brake Torque). De seguida é medido o caudal necessário
de combustível consumido, o binário, a velocidade de rotação da cambota, a riqueza da
mistura e é calculado o consumo específico de combustível ao freio. Varia-se novamente o
tempo de injecção e segue-se o mesmo procedimento. O processo pára quando se encontrar a
riqueza para a qual se obtém o ponto de mínimo consumo específico de combustível ao freio.
7.7 Apresentação de resultados
7.7.1 Influência da pressão de injecção no consumo específico de combustível ao freio1
Como forma de determinar a pressão de injecção óptima que minimiza os consumos
do motor, fez-se um estudo detalhado de optimização de tempos de injecção e instantes de
Este estudo foi realizado com o anterior motor Honda GX22, como forma de determinar a pressão de
injecção de trabalho óptima. Assumiu-se que os resultados são válidos para os ensaios realizados com o novo
motor em estudo, M3165.
100
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
ignição para cada pressão de injecção e foi determinado o consumo específico de combustível
ao freio mínimo obtido.
A Fig. 7.5 mostra a influência da pressão de injecção no consumo específico de
combustível ao freio do motor Honda GX22.
Fig. 7.5. Influência da pressão de injecção no consumo específico ao freio (Motor HONDA GX22)
Os resultados mostram que não existe grande variação do consumo específico com a
pressão de injecção no intervalo de pressões em estudo, que por sua vez se encontra dentro
dos limites recomendados pelo fabricante do injector de combustível (2,0 a 4,7 bar). Embora,
por questões de tempo, este estudo não tenha sido possível levar a cabo com o motor em
estudo, considerou-se uma pressão de injecção para os testes experimentais de 2,4 bar.
7.7.2 Determinação do instante de ignição óptimo
Para cada ensaio ou freio foi determinado o instante de ignição óptimo,
correspondente ao ponto de máximo binário, que por sua vez corresponde ao ponto de
máxima eficiência e portanto de mínimo consumo.
A Fig. 7.6 mostra a evolução do binário ao freio, Tb, com o freio Dh 354-27x27, para
um tempo de injecção de 11,088 ms. O instante de ignição óptimo obtido para este freio foi de
18º BTDC.
101
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 7.6. Evolução do binário ao freio com o ângulo de avanço de ignição, para um tempo de
injecção de 11,088 ms, com o freio Dh354-27x27.
7.7.3 Medição de consumos e análise comparativa com os resultados teóricos
Após a determinação do instante de ignição óptimo, correspondente ao ponto de
máximo binário (MBT), para cada freio em condições de funcionamento com válvula de
borboleta completamente aberta (WOT), foram feitas três medições de combustível. A curva
apresentada na Fig. 7.7, que diz respeito aos resultados experimentais, é obtida pela média
aritmética dessas três medições. Para todos os ensaios, o tempo de injecção óptimo que
minimiza os consumos foi de 11,088 ms.
Por análise comparativa com os resultados da simulação, em condições de
funcionamento idênticas de riqueza, TI e regime, os resultados mostram uma boa correlação
somente para regimes perto das 5500 rpm Para regimes no intervalo das 3000-3500 rpm,
verificam-se diferenças na ordem dos 30 %. A explicação para esta diferença a baixa
velocidade de rotação, embora sem explicação aparente, pode ser devida a possíveis fugas
existentes na zona da junta da cabeça. Após verificação do estado de esmagamento da junta
da cabeça, verificou-se que este não era uniforme, podendo nesta ocorrer fugas de gases, mais
importantes a baixa rotação e por ciclo.
102
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 7.7. Curvas comparativas dos resultados experimentais obtidos com o motor em condições de WOT,
optimizado para o ponto de MBT; resultados de simulação obtidos com o programa “4SSI” e resultados
experimentais obtidos com motor Honda GX22.
Por comparação com a curva relativa aos resultados experimentais obtidos com um
motor existente no mercado equivalente - Honda GX22, com sistema de injecção indirecta e
sistema de distribuição alterado – verificaram-se melhorias na ordem dos 30 %.
7.7.4 Evolução do instante de ignição para MBT com o regime do motor
A Fig. 7.8 mostra a evolução do ângulo de instante de ignição e da riqueza da mistura
ar-combustível optimizados experimentalmente para condições MBT, com o regime do
motor. A evolução obtida para o ângulo de avanço de ignição é a evolução típica de MCI-SI.
À medida que a velocidade aumenta, o instante de ignição tem de ser avançado porque a
duração da combustão em termos de ângulo de rotação da cambota aumenta.
103
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 7.8. Evolução do instante de ignição, TI com o regime do motor
A Fig. 7.10 mostra a evolução das curvas típicas de potência ao freio e binário ao freio
em função da velocidade de rotação, nas mesmas condições experimentais anteriores e com a
utilização do programa de simulação, “4SSI”. Os resultados mostram boas correlações para
velocidades de rotação elevadas. As razões anteriormente expostas podem explicar este
fenómeno verificado.
Fig. 7.9. Curvas teóricas e experimentais obtidas com o motor em condições WOT, com instantes de
ignição optimizados para MBT.
104
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Fig. 7.10. Evolução da pressão média efectiva ao freio e do rendimento de conversão de combustível ao
freio com a velocidade média do êmbolo
A Fig. 7.11 mostra a evolução com a velocidade média do êmbolo de dois parâmetros
importantes em MCI: a pressão média efectiva ao freio e o rendimento de conversão de
combustível ao freio.
A forma da curva da pressão média efectiva está de acordo com o esperado para este
género de curvas em MCI. O andamento inicial da curva deve-se primeiramente ao aumento
do rendimento volumétrico, até se obter o máximo e cai de seguida devido à diminuição do
rendimento mecânico devido às perdas por fricção.
A curva de rendimento de conversão de combustível ao freio aumenta de cerca de 0,23
para 0,27 devido à diminuição da importância do calor transferido por ciclo com o aumento
do regime do motor (QLHV=44,0 MJ/kg).
105
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tabela 7.3. Quadro-resumo das características do motor
Tipo
Ignição por faísca, ciclo de 4 tempos,
monocilíndrico, DOHC, arrefecimento a água
Diâmetro x Curso
33,0 x 37,0 mm
Cilindrada
31,65 cm3
Taxa de Compressão
15,0:1
IVO
10º BTDC
IVC
75º ABDC
EVO
44º BBDC
EVC
0º ATDC
Potência máxima
941 W às 5500 rpm
Binário máximo
1,689 N.m às 4500 rpm
Injector
BOSCH EV6 Court B 280 431 198/1
Ignição
Haltech E6K
Vela de ignição
NGK CMR6H
Sistema de arranque
Motor eléctrico
Tipo de gasolina
Sem chumbo com índice de octano de 95
(R.M.)
Consumo específico mínimo
306 g/kWh às 5500 rpm
106
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
7.7.5 Evolução do desempenho do Eco Veículo na Shell Eco-marathon
Fig. 7.11. Evolução do desempenho do Eco Veículo em provas desde o ano 2003
A Fig. 7.11 mostra a evolução de desempenho do Eco Veículo, desde 2003 até 2007,
nas provas onde esteve em competição. Em 2007, ano em que foi aplicado e utilizado o novo
motor desenvolvido, M3165, e tema de estudo nesta dissertação, obteve-se uma melhoria de
desempenho de aproximadamente 30 %, face ao melhor resultado obtido no ano anterior.
7.8 Análise de erros
Com base na precisão dos equipamentos de medida (Anexo), em análises estatísticas e
com base na teoria de combinação das componentes de erros em todos os cálculos da precisão
do sistema, que utiliza séries de Taylor simplificadas para relacionar as componentes de erro
dependentes, e assumindo que os erros têm uma distribuição normal, obteve-se:
107
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Tabela 7.4. Erros envolvidos nas medições experimentais para três ensaios com freio Dh 354-38x40
Grandeza
Tar /K
RH /%
patm /Pa
n /rpm
N /(rot/s)
 /(rad/s)
T /N.m
tf /s
Vf /ml
f /(kg/m3)
Pb /W
Qf /(mL/s)
mf /(g/h)
bsfc /(g/(kW.h))
pv,s /Pa
pv /Pa
Mah /(kg/mol)
ah /(kg/m3)
B /m
L /m
Vd /dm3
nr
bmep /kPa
Sp /(m/s)
Wc,b /J
QLHVp /(MJ/kg)
f,b 
X
294,28
56,9
101319
3220
53,66
337,19
1,526
70,0
4,95
724,61
514,56
0,071
184,46
358,48
2509,76
1429,74
0,029
1,193
0,033
0,037
0,032
2
605,96
3,971
19,17
42,9
0,228
X
0,8
3
10
86,06
0,973
6,16
0,039
0,1
0,05
0,66
12,98
0,001
2,19
10,0
22
0,000003
0,000003
0
16,24
0,072
0,596
0,1
0,006
X/X
0,0027
0,0526
9,87E-05
0,026
0,018
0,018
0,0255
0,0014
0,01177
0,0009
0,02522
0,01186
0,01190
0,0278
0,00876
0,00000
0,00000
0,00000
0,00009
0,00008
0,00000
0,00000
0,02680
0,01819
0,03107
0,00227
0,02798
Erro /%
0,27
5,27
0,01
2,67
1,81
1,81
2,55
0,14
1,18
0,09
2,52
1,19
1,19
2,79
0,88
0,00
0,00
0,00
0,01
0,01
0,00
0,00
2,68
1,81
3,11
0,23
2,80
A teoria de combinação de componentes de erros é descrita da seguinte forma:
X  f (u1, u2 , u3,..., un )
(7.8)
Onde X é uma quantidade função de n variáveis independentes e ui são quantidades afectadas
de um erro  ui. Os ui podem ser valores absolutos ou limites estáticos.
X  X  f  u1  u1 , u 2  u2 , u3  u3 ,..., u n  u n 
(7.9)
Desenvolvendo a função f numa série de Taylor simplificada, vem:
f  u1  u1 , u 2  u 2 ,..., u n  u n   f  u1 , u 2 ,..., u n   u1
f
f
f
 u 2
 ...  un
u1
 u2
u n
(7.10)
O erro absoluto, Ea , é dado pela Eq. 7.11:
108
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
f
f
f
 u2
 ...  un
u1
u2
un
Ea  X  u1
(7.11)
No caso de  u serem limites estáticos, vem que:
2
2


f  
f 
f 
Ea  X   u1
    u2
  ...   un

u1  
u2 
un 


2
(7.12)
7.8.1 Erro na medição da rotação
O desvio na rotação segue uma distribuição t-student e é dado pela Eq. 7.13:
n  A
Sn
n
 tn1  2 
Sn
n
(7.13)
Sendo A é o valor presente na Tabela t-student, para um nível de confiança de 95%, com n = 3
e v = n-1 (graus de liberdade) e Sn = 34,641é o desvio padrão da amostra.
Substituindo, vem que:
n  4, 303 
34, 641
 86, 06 rpm
3
(7.14)
7.8.2 Erro na medição do binário
O desvio no binário segue também uma distribuição t-student que é dado pela Eq. 7.15:
n  A
Sn
n
 tn1  2 
Sn
n
(7.15)
A é o valor presente na tabela t-student, para um nível de confiança de 95 %, com n = 3 e v =
n-1 e Sn = 0,016 é o desvio padrão da amostra.
Substituindo, vem que:
Ea,Tb  4, 303 
0, 016
 0, 0397 N.m
3
(7.16)
7.8.3 Erro absoluto associado ao cálculo da potência
A potência ao freio é dada pela Eq. 7.17:
109
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Pb  W   Tb  N.m   2
n  r p m
60
(7.17)
Com base na Eq. 7.12, e substituindo, vem que:
2
 P
  P
Pb   b Tb    b
 Tb
  n

n
 
Tb

n 


2
(7.18)
Substituindo, vem:
2
2
 2
  2

Pb  
n  Tb   
Tb  n   12, 981 W
 60
  60

(7.19)
7.8.4 Erro na medição de combustível
O desvio envolvido na variação de volume de combustível medido, é dado pela Eq.
7.20:
Vf  0,052  0,022  0,054 mL
(7.20)
Em que o valor de 0,05 é a resolução da bureta e 0,02 é a precisão da bureta.
7.8.5 Erro associado ao caudal volúmico de combustível
O caudal volúmico de combustível é calculado pela Eq. 7.21:
V f  mL 
Q f  mL/s 
t f  s
(7.21)
O erro absoluto associado ao caudal volúmico de combustível, vem dado por:
 Q

Q f   f
 V f

2
tf
  Q
V f    f
  t f
 
Vf

t f 


2
(7.22)
Substituindo, vem:
110
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
1
Q f    V f
t
 f
2
  Vf
    2  t f
  tf
2

  0, 001 mL/s

(7.23)
7.8.6 Erro associado ao caudal mássico de combustível
O caudal mássico de combustível é calculado pela Eq. 7.24:
3600
m f g/h    f kg/m3   Q f  mL/s 
1000
(7.24)
O erro associado ao caudal mássico de combustível é calculado pela Eq. 7.25:
 m
f
m f  
  f

2
Q f
  m
 f     f
  Q f
 
f


Q f 


2
(7.25)
Substituindo, vem que:
2
2
 3600 
  3600

m f  
Q f   f   
 f  Q f   2,195 g/h
 1000
  1000

(7.26)
7.8.7 Erro associado ao cálculo do consumo específico de combustível ao freio
O consumo específico de combustível ao freio é dado por:
bsfc  g/  kW.h   
m f  g/h 
Pb  W 
 103
(7.27)
O erro absoluto associado, bsfc , é dado pela Eq. 7.28:
111
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
2
 bsfc
bsfc  
 m f

Pb
  bsfc

m f   
Pb 
  Pb m

f

 
2
(7.28)
Substituindo, vem:
2
2
 1
  m f

bsfc    103  m f     2  103  Pb   10, 000 g/kW.h
 Pb
  Pb

(7.28)
7.8.8 Erro associado ao rendimento de conversão de combustível ao freio
O rendimento
7.30: f ,b 
de conversão
de combustível ao
freio
é dado
3600
bsfc g/  kW.h    QLHV  MJ/kg 
pela
Eq.
(7.30)
O erro absoluto associado é dado por:
2
 f ,b
  f ,b
   f ,b
 
bsfc   
 bsfc Q
  QLHV

LHV
 

QLHV 

bsfc

2
(7.31)
Substituindo, vem:
2
 f ,b
2

 

1
3600
1
3600
 

bsfc    

QLHV   0, 006
2
2
bsfc
 bsfc QLHV
  QLHV

(7.32)
7.8.9 Erro na pressão média efectiva ao freio
A pressão média efectiva ao freio é dada pela Eq. 7.33:
bmep  kPa  
Pb  W   nR
Vd  dm3   N  rot/s 
(7.33)
112
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
O erro absoluto associado é dado por:
2
 bmep
  bmep
bmep  
Pb   
 Pb V , N
  Vd

d
 
2
  bmep
Vd   
  N
Pb , N

Pb ,Vd

N 


2
(7.34)
Substituindo, vem:
2
2
2
 nR
  1 P n
  1 P n

bmep  
Pb     2 b R Vd     2 b R N   16, 224 kPa
N
Vd
 Vd  N
  Vd
  N

(7.35)
7.8.10 Erro no trabalho por ciclo ao freio
O trabalho por ciclo ao freio, é dado pela Eq. 7.36:
Wc ,b  J  
Pb  W   nR
(7.36)
N  rot/s
O erro absoluto associado é dado por:
Wc ,b
 W
  c ,b
 Pb

2
N
  W
Pb    c ,b
  N
 
Pb

N 


2
(7.37)
Substituindo, vem:
2
2
n
  P n

Wc,b   R Pb     b 2 R N   0,596 J
N
N
 

(7.38)
7.8.11 Erro na velocidade média do êmbolo
A velocidade média do êmbolo, é dada pela Eq. 7.39
S p  m/s   2  L  m   N  rot/s 
(7.39)
O erro absoluto associado é dado pela Eq. 7.40:
113
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
 S p
S p  
 L

2
N
  S p

L   
N 
  N

 
L

2
(7.40)
Substituindo, vem:
S p 
2
 2  N  L    2  L   N 
2
 0, 072 m/s
(7.41)
114
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
CAPÍTULO OITO
8 Conclusões e trabalho futuro
Os objectivos gerais de conceber, construir e testar um motor para um veículo
automóvel de extra-baixo consumo foram atingidos. Em comparação com o anterior motor
utilizado pela Equipa Eco Veículo (Honda GX22), conseguiu-se uma melhoria de consumo
específico de combustível de cerca de 30 %. As melhorias deveram-se não só a uma alteração
substancial da arquitectura do motor, com colocação de duas árvores de cames à cabeça,
distribuição por correia, mas também a uma melhoria do rendimento de ciclo termodinâmico,
utilizando o ciclo de funcionamento de Atkinson. Também a redução dos atritos entre os
componentes móveis do motor foram tidos em conta. Não só a boa escolha dos rolamentos
teve importância, como também os materiais, ajustamentos, tolerâncias e acabamentos
superficiais das peças móveis do motor em contacto.
Existem diferenças relativamente à simulação, principalmente a baixas velocidades de
rotação, facto que pode ser possivelmente explicado por fugas pela interface entre a cabeça e
o cilindro. Um mau projecto da localização dos pernos de aperto da cabeça pode estar na
origem deste problema. Um trabalho futuro passa por um novo desenho da localização dos
pernos, de forma a ter um esmagamento uniforme da junta.
Existe ainda margem para melhoria do rendimento do motor, que passa pela alteração
do sistema de lubrificação. O motor foi inicialmente projectado para trabalhar com um
sistema de lubrificação por chapinhagem. À semelhança do que fazem outras equipas, a
lubrificação pode ser feita com um injector apontado para a zona interior do cilindro,
reduzindo assim as perdas induzidas pela cambota ao bater na superfície livre do óleo. Em
discussões com algumas das equipas, estas afirmaram que conseguiram reduções na ordem
dos 20 % no consumo específico de combustível ao freio, após essa modificação.
115
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
Ainda um outro problema verificado, prende-se com a grande superfície de
transferência de calor nos cárteres, o que leva a que o óleo não ultrapasse os 70 ºC.
Também o sistema de medição de combustível deve ser melhorado, uma vez que a
grande flutuação verificada na bureta de medição de combustível durante os ensaios não
permite uma medição precisa da quantidade de combustível consumida.
Foi um trabalho muito positivo, onde se utilizaram ferramentas avançadas de engenharia
que aliadas à muita força de vontade e perseverança permitiram a concepção de um motor de
raiz que permitiu um bom resultado na Shell Eco-marathon 2007, e uma boa representação do
país nesta competição internacional.
116
CONCEPÇÃO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA PARA UM VEÍCULO AUTOMÓVEL DE EXTRABAIXO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL
REFERÊNCIAS
1.Heywood, John B., Internal Combustion Engine Fundamentals, McGraw-Hill International
Editions, 1988.
2. Martins, J., Motores de Combustão Interna, Publindústria, 2005.
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119
ANEXOS
ANEXOS
ANEXO I – Caracterização da Instrumentação
Os instrumentos de medida utilizados nos ensaios experimentais do motor de ignição
por faísca de ciclo de 4 tempos.
1. Bureta graduada 0-10,0 mL
Marca: NORMAX
Modelo: 10-0,05 A ISO
Resolução: 0,05 mL
Precisão:  0,02
Escala: 0-25,0 mL
2. Balança Digital 0-200 g
Marca: AND
Modelo: EK-200G
Resolução: 0,01g
Precisão: 0,01g
Escala: 0-200g
3. Balança Digital 0-6 kg
Marca: AND
Modelo: EK-6000H
Resolução: 0,1g
Precisão:  0,1g
Escala: 0-6000g
4. Cronómetro Digital
Marca: CASIO
Modelo: HS-5
Resolução: 0,01 s
ii
ANEXOS
Precisão: 0,01s
5. Sensor de rotação
Marca: Transducer Systems Inc.
Modelo: RS 304-172
Precisão: definida pela placa de aquisição de dados da National Instruments
6. Sensor de força para medição de binário
Marca: OMEGA
Modelo: LCFA-50
Resolução: 0,01 N
Precisão:  0,4 N
Intervalo de medição: -222,5 N a 222,5 N
7. Braço do sensor de força para medição do binário
Comprimento: 100 mm
Incerteza do comprimento:  0,16 mm
8. Barómetro do INMG – Estação Meteorológica do Aeródromo de Cernache
Marca: Desconhecida
Modelo: Desconhecido
Resolução: 10 Pa = 0,1 hPa
Precisão: 10 Pa = 0,1 hPa
9. Termómetro/Higrómetro Digital
Marca: TES
Modelo: TES 1360
Temperatura:
Intervalo de medição: -20ºC a 60ºC
Precisão:  0,8 ºC
Resolução: 0,1 ºC
Humidade relativa:
Intervalo de medição: 10% RH a 90% RH
Precisão:  3% RH (a 25ºC, 30-95% RH)
iii
ANEXOS
 5% RH (a 25ºC, 10-30 % RH)
Resolução: 0,1% RH
Tipo de sensor:
Temperatura: Sensor semicondutor
Humidade: Sensor capacitivo de precisão
Tempo de resposta:
Temperatura: 1ºC /2s
Humidade:
45% RH – 95% RH <3 min
95% RH – 45% RH < 5 min
Taxa de amostragem: 2,5 Hz
10. Termómetro digital de canal duplo com sonda termopar tipo K
Marca: TES
Modelo: TES 1303
Resolução: 0,1 ºC de -50 ºC a 199,9 ºC; 1 ºC de -50 ºC a 1000 ºC.
Precisão:  (0,3% x leitura+1 ºC) de -50 ºC a 199,9 ºC
 (0,3 % x leitura+1 ºC) de -50 ºC a 1000 ºC
Intervalo de medição: -50 ºC a 1300 ºC
Condições ambientais de operação:
Temperatura: 0-50 ºC
Humidade: 0-80 % RH
Precisão básica: calibração @23  5 ºC
11. Termómetro digital de canal duplo com sonda termopar tipo K
Marca: LUTRON
Modelo: TM-905
Resolução: 0,1 ºC de -50 ºC a 199,9 ºC; 1 ºC de -50 ºC a 1000 ºC
Precisão:  (0,3% x leitura + 1 ºC) de -50 ºC a 199,9 ºC
 (0,3% x leitura +1 ºC) de -50 ºC a 1000 ºC
Intervalo de medição: -50 ºC a 1300 ºC
Condições ambientais de operação:
Temperatura: 0 - 50 ºC
Humidade: 0 - 90% RH
Precisão básica: calibração @23  5 ºC
iv
ANEXOS
12. Termómetro Digital
Marca: HANNA Instruments
Modelo: Chektemp 1
Resolução: 0,1 ºC
Precisão:  0,3 ºC
Intervalo de medição: -50 ºC a 150 ºC
Condições ambientais de operação:
Temperatura: 0-50 ºC
Humidade: 95 % RH Max.
Precisão básica @ 20:  0,3 ºC (-20 a 90 ºC);  0,5 ºC (fora do intervalo)
v
ANEXOS
ANEXOS II – Fotografias dos componentes do motor
Ilustração i – Fotografia da cabeça do motor
Ilustração ii – Fotografia do êmbolo do motor
vi
ANEXOS
Ilustração iii – Fotografia do conjunto das peças antes da assemblagem
Ilustração iv – Apresentação à imprensa do motor M3165, juntamente com os principais
patrocinadores.
vii
ANEXOS
ANEXO III – Modelos CAD 3D do motor
Ilustração v – Modelo CAD 3D gerado com Autodesk Inventor 11 (vista de frente)
Ilustração iii – Modelo CAD 3D gerado com Autodesk Inventor 11 (vista de trás)
viii
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