Avaliação de Genótipos de Feijão-Vagem Indeterminado Sob Sistema de
Cultivo Orgânico em Anápolis-GO.
Valdivina Lúcia Vidal¹; Ana Maria Resende Junqueira²; Nei Peixoto³; Marcos Coelho1
¹AGENCIARURAL, EEA - Anápolis, C. Postal 608, 75.001-970 Anápolis-GO. ²Universidade de Brasília,
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - Núcleo de Apoio à Competitividade e Sustentabilidade da
Agricultura (NUCOMP), C. Postal 4.508, 70910-970 Brasília DF. ³AGENCIARURAL/Universidade Estadual de
Goiás, Rodovia GO 330 km 241, Anel Viário, 75780-000 Ipameri-GO.
RESUMO
Avaliou-se, na Estação Experimental de Anápolis-GO (EEA), da Agência Goiana de
Desenvolvimento Rural e Fundiário (AGENCIARURAL), dezesseis genótipos de feijãovagem de crescimento indeterminado, em sistema de cultivo orgânico, no período de
outono-inverno, 18-6 a 18-09-2003, quanto às seguintes características: produtividade
total (t.ha-1), porcentagem de vagens com defeito (peso e número). O delineamento
utilizado foi em blocos ao acaso, com dezesseis tratamentos (treze linhagens: Hav13,
Hav14, Hav22, Hav25, Hav40, Hav41, Hav49, Hav53, Hav56, Hav64, Hav65, Hav67,
Hav68 e três cultivares; Favorito, Teresópolis, Bragança) em quatro repetições. A
linhagem Hav 65 mostrou-se superior à Hav 67, Hav 64, Hav 49, Hav 53, Bragança e Hav
41 e igualou aos demais genótipos, enquanto que Hav 41 foi a menos produtiva ao lado
de Bragança. Hav 13 apresentou a menor porcentagem de vagens com defeito, tanto para
peso quanto para número, diferenciando estatisticamente do observado em Teresópolis,
Hav 40 e Hav 41 para peso, e de Hav 41 para número. Destacaram-se as linhagens Hav
65, Hav 14, Hav 56, Hav 68, Hav 22, Hav 25 e Hav 13, que podem ser indicadas, em
futuro próximo, aos produtores que venham adotar o sistema de cultivo orgânico na
região.
Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L., rendimento, produção orgânica.
ABSTRACT
Evaluation of climbing snap beans, under organic crop system, in
Anápolis-GO, Brazil.
An experiment was carried out at Estação Experimental de Anápolis-GO (EEA),
AGENCIARURAL, with sixteen genotypes of climbing snap beans, under organic
1
conditions, from June to September 2003, aiming to evaluate yield and percentage of
injured fruits (number and weight). The experimental design was completely randomized
with sixteen treatments (Hav13, Hav14, Hav22, Hav25, Hav40, Hav41, Hav49, Hav53,
Hav56, Hav64, Hav65, Hav67, Hav68, Favorito, Teresópolis and Bragança) in four
replicates. Hav 65 showed the highest yield, superior to Hav 67, Hav 64, Hav 49, Hav 53,
Bragança and Hav 41 and similar to those observed in the other genotypes. Hav 41
presented the lowest yield, similar to Bragança. Hav 13 showed the lowest percentage of
injured fruits, considering number and weight, and it was statistically different from those
presented by Teresópolis, Hav 40 and Hav 41 for weight, and Hav 41 for number. Hav 65,
Hav 14, Hav 56, Hav 68, Hav 22, Hav 25 and Hav 13 showed a very good performance
under organic conditions and can be available, in a near future, to farmers of the region
that wish to grow the crop under organic system.
Keywords: Phaseolus vulgaris L., yield, organic crop system.
Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.) é uma hortaliça de relativa importância
econômica e social no Brasil. Destaca-se entre as dez mais consumidas “in natura” no
Estado de Goiás, onde é produzido durante todo o ano, em pequenas propriedades rurais,
empregando-se
mão-de-obra
familiar,
utilizando-se,
principalmente,
cultivares
de
crescimento indeterminado. Em 2002, o volume de vagens comercializado através das
Centrais de Abastecimento do Estado de Goiás S.A. (CEASA-GO) alcançou 5.290,61 t.,
sendo 94,47% produzido no Estado (CEASA-GO, 2002; Peixoto et al., 2001).
Como a maioria das culturas hortícolas, caracteriza-se pelo cultivo convencional,
dentro dos princípios da “Revolução Verde”, que preconiza o uso intensivo de insumos
químicos, tanto fertilizantes quanto agrotóxicos e mecanização intensiva para se alcançar
elevada produtividade. As grandes limitações desse sistema são a dependência de
insumos externos à propriedade e a degradação ambiental.
Embora sejam alcançados bons rendimentos no cultivo convencional de feijãovagem, observa-se, na região, demanda de produtores por informações sobre sistemas
alternativos de produção e que utilizem técnicas de cultivo menos agressivas à saúde e
ao meio ambiente, mas que garantam retornos econômicos satisfatórios. Neste contexto,
se insere a agricultura orgânica. Nas últimas décadas, a agricultura orgânica tem tido um
crescimento expressivo em todo o mundo, considerando não somente a área cultivada,
mas também a diversidade de produtos oferecidos e o número de consumidores.
2
Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento de genótipos de
feijão-vagem indeterminado, sob sistema de cultivo em Anápolis-GO.
MATERIAL E MÉTODOS
Conduziu-se um experimento, com feijão-vagem de crescimento indeterminado,
em sistema orgânico de produção, no período de outono-inverno, no Setor de Olericultura
Orgânica da Estação Experimental de Anápolis (EEA), AGENCIARURAL, Goiás.
O solo foi fertilizado com base nos resultados da análise química do solo: pH
em água=5,7; P =3,00 mg/dm³; k=210 mg/dm³; Ca+Mg=2,3 cmol/dm³; Al=0,1 cmol/dm³ e
matéria orgânica=24,1 g/dm³ e de acordo com os critérios para a produção orgânica
(Brasil, 2003). A adubação de base foi realizada com composto orgânico, produzido na
AGENCIARURAL, a partir da palhada de arroz e esterco de aviário puro, seguindo
metodologia de Souza & Resende (2003) e Kiehl (1985). O composto orgânico pronto
para uso apresentou a seguinte composição: pH em CaCl2 = 7,20, N = 13,4 g.kg-1, P =
12,3 g.kg-1, K = 3,7 g.kg-1 e M.O. =160 g.kg-1 .
Treze linhagens de feijão-vagem com hábito de crescimento indeterminado
(Hav13, Hav14, Hav22, Hav25, Hav40, Hav41, Hav49, Hav53, Hav56, Hav64, Hav65,
Hav67, Hav68), do programa de melhoramento genético da EEA, e três cultivares
(Favorito, Teresópolis, Bragança) foram avaliadas.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com dezesseis
tratamentos e quatro repetições. As parcelas, com 4m², foram constituídas de vinte
plantas, todas úteis, sendo dispostas em duas fileiras (2,0m de comprimento cada), e
cinco covas por fileira, com espaçamento de 1,00 x 0,40m e duas plantas por cova. Na
semeadura, em cada cova, foram utilizadas 500 g de composto orgânico e 30 g de
termofosfato Yoorin. Foram semeadas de três a quatro sementes por cova, realizando-se
o desbaste quinze dias após a semeadura, deixando-se duas plantas por cova. A
adubação de cobertura constou de 200 g de esterco de aviário puro por cova, aos 20 e 40
dias após a semeadura. Os tratos culturais e fitossanitários foram efetuados de acordo
com a legislação brasileira, incluindo-se a irrigação por aspersão convencional, capinas
com auxílio de enxadas, deixando faixas da vegetação espontânea nas entrelinhas e
cobertura morta com palha seca picada de milho, além de pulverizações semanais na
fase vegetativa, com detergente neutro a 1% (Souza & Resende, 2003; Burg & Mayer,
3
2001) para controle de pragas. As colheitas de vagens verdes tiveram início no 71º e
foram até o 92º dia após a semeadura.
As características avaliadas foram produtividade total de vagens (t.ha-1) e
porcentagem de vagens com defeito (peso e número). Dentre as vagens com defeito
foram consideradas aquelas com injúrias e danos causados por pragas.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas
pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram observadas diferenças estatísticas significativas entre os genótipos para
as características avaliadas. A linhagem Hav 65 mostrou-se superior a Hav 67, Hav 64,
Hav 49, Hav 53, Bragança e Hav 41 e igualou aos demais genótipos, enquanto que Hav
41 foi a menos produtiva ao lado de Bragança (Tabela 1). A produtividade média total de
vagens das oito linhagens mais produtivas foi de 14,18 t.ha-¹, enquanto que as cultivares
Favorito e Teresópolis produziram, em média, 11,11 t.ha-¹, utilizando-se 167,5 kg.ha-¹ de N
na forma de composto orgânico. Essas médias foram inferiores à estimada por Oliveira et
al (2003), no Rio de Janeiro, em sistema orgânico (20,00 t.ha-¹), utilizando-se a cultivar
Alessa e dosagem média de 726,70 kg.ha-¹ de N na forma de cama de aviário, em
cobertura.
Hav 13 apresentou a menor porcentagem de vagens com defeito, tanto para
peso quanto para número, diferenciando estatisticamente do observado em Teresópolis,
Hav 40 e Hav 41, para peso, e de Hav 41, para número (Tabela 1). Apesar de HV 65 ter
apresentado alta porcentagem de vagens com defeito, ela foi a mais produtiva,
provavelmente, devido ao alto número de vagens por planta.
Hav 65, Hav 14, Hav 56, Hav 68, Hav 22, Hav 25 e Hav 13 apresentaram
produtividades similares às observadas por Peixoto et al. (2001), utilizando os mesmos
materiais, em sistema convencional, evidenciando a viabilidade do cultivo de feijão-vagem
indeterminado em sistema orgânico, que aliada à obtenção de melhor preço, pode se
constituir em uma opção vantajosa para os produtores que adotam o sistema de cultivo
orgânico.
4
LITERATURA CITADA
ALDRIGHI, C.B; DUARTE, G.R.B.; MARTINS, S.R.; FERNANDES, H.S. Produtividade de
feijão-vagem em ambiente protegido com adubação orgânica. Horticultura Brasileira,
Brasília, v. 17, n.3,p.269, novembro, 1999.
BRASIL. Lei Nº 10.831 de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre agricultura orgânica.
Diário Oficial da União, Brasília, 24.dezembro, 2003.
BURG, I.C.;MAYER, P.H. Alternativas ecológicas para prevenção e controle de
pragas e doenças. Francisco Beltrão, PR: Grafit, 2001. 266 p.
Centrais de Abastecimento do Estado de Goiás-CEASA-GO. Análise Conjuntural 2002.
Goiânia-GO,163 p.
KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1985. 492p.
OLIVEIRA, N.G.; DE-POLLI, H.; ALMEIDA, D.L.; GUERRA, J.G.M. Plantio direto de feijãovagem sob manejo orgânico em coberturas vivas perenes de gramínea e leguminosa.
Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n.2, p.270-171, julho, 2003.Suplemento 1.
PEIXOTO, N.; MORAES, EA.; MONTEIRO, J.D.; THUNG, M. D T. Seleção de linhagens
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Horticultura Brasileira, Brasília, v.19, n.1, p. 85-88, março 2001.
SOUZA, J.L. ; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil,
2003. 564 p.
5
Tabela 1. Produtividade total (t.ha-1) e porcentagem de vagens com defeito (peso e
número), em genótipos de feijão-vagem indeterminado, no outono-inverno, sob sistema
de cultivo orgânico, em Anápolis-GO, 2003.
Genótipos
Produtividade
% vagens com defeitos
Numero
Peso
(t.ha-1)
Hav 13
10,95
c d e 18,87
b
14,63
d
Hav 14
15,50
a b
22,50
a b
18,01
b c d
Hav 22
13,95
a b c
31,86
a b
27,00
a b c d
Hav 25
13,56
a b c d
31,91
a b
27,29
a b c d
Hav 40
12,18
a b c d
32,44
a b
29,44
a b
Hav 41
5,05
e 37,24
a
31,79
a
Hav 49
10,05
b c d e 26,49
a b
22,45
a b c d
Hav 53
8,08
c d e 23,75
a b
19,36
a b c d
Hav 56
15,85
a b
28,26
a b
24,55
a b c d
Hav 64
9,93
b c d e 23,41
a b
15,20
c d
Hav 65
17,25
a
22,47
a b
19,71
a b c d
Hav 67
10,25
b c d e 28,63
a b
20,81
a b c d
Hav 68
14,20
a b c
25,78
a b
17,13
b c d
Favorito
10,75
a b c d e 20,95
a b
16,81
b c d
Teresópolis
11,28
a b c d e 33,47
a b
28,35
a b c
Bragança
7,25
d e 32,91
a b
25,87
a b c d
CV%
22,25
23,13
23,04
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, ao
nível de 5% de probabilidade.
6
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com defeito