Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto
Páginas 4 e 5
Vem aí o Encontro de Saberes
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Dez anos de Fórum das Letras
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Estudantes de Medicina iniciam contato
com pacientes no Centro de Saúde
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Entrevista:
Professor: o profissional
que forma outros profissionais. Na UFOP, são
mais de 850 docentes que
atuam como formadores,
orientadores e pesquisadores. A Universidade
oferece dez licenciaturas
e diversos programas de
mestrado e doutorado,
que também contribuem
para a formação de novos
professores no País.
Edição 197 - setembro e outubro de 2014
Inês Teixeira: Os tempos da docência
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Júlia Pinheiro
Foto: Isadora Faria
EDITORIAL
Somos Professores: formamos e somos
formados constantemente
Outubro é muito especial para a Universidade
Federal de Ouro Preto, há celebrações importantes
para a Instituição. É o mês dedicado aos professores.
Na UFOP, temos cerca de 850 docentes que atuam
nos diversos cursos da Universidade, ministrando
aulas, orientando, realizando atividades importantes de pesquisas e extensão que contribuem para o
fomento do conhecimento e da formação profissional de nossos milhares de alunos.
A nossa Universidade tem passado por evoluções
crescentes, totalizando 42 graduações e 34 cursos de
pós-graduação stricto sensu, com mestrados e doutorados acadêmicos e profissionais. Tem aumentado o
número de programas de extensão, que criam uma
relação direta com a comunidade. As atividades
desenvolvidas nos projetos de ensino, pesquisa e extensão refletem o amadurecimento científico cada
vez maior de nossos discentes, tudo sob a orientação
competente de nossos professores e professoras.
É necessário destacar que a UFOP é um importante centro formador de docentes, na formação
inicial e/ou continuada. Na formação inicial, ofertamos atualmente dez licenciaturas, nas modalidades
presencial e a distância. São centenas de alunos que
começam a atuar profissionalmente em iniciativas
da própria Instituição, como programas de tutoria,
projetos de iniciação científica, iniciação à docência, estágios supervisionados, monitorias e etc.
Já na formação continuada, temos a oportunidade de contribuir com a qualificação dos professores
que se encontram em exercício na escola básica.
Investimos também no processo de nossa formação
via ações do programa de docência universitária.
Os programas de pós-graduação – tanto lato sensu
como stricto sensu – atraem profissionais de várias
partes do País em busca de uma capacitação de qualidade, sendo que muitos desses discentes levam os
conhecimentos adquiridos para as suas atividades
de docência.
É com muito orgulho que sou professora e faço parte desta Universidade! Aproveito a oportunidade para
parabenizar todos os colegas pelo nosso dia.
Célia Maria Fernandes Nunes
Vice-reitora
Entre os dias 18 e 21 de novembro, será realizado,
em Ouro Preto, o Encontro de Saberes 2014 da UFOP.
O evento está em sua sexta edição e irá promover o XXII
Seminário de Iniciação Científica (Seic), o XV Seminário de Extensão (Sext) e a VII Mostra Pró-Ativa. As atividades acontecerão no Centro de Artes e Convenções
da Universidade. As inscrições estão disponíveis até
o dia 5 de novembro, exclusivamente pelo site do Encontro. Os valores das inscrições variam de acordo com
as categorias alunos, professores e técnicos da UFOP e
também contemplam membros de outras instituições.
Organizado pelas pró-reitorias de Graduação (Prograd), de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp) e de Extensão (Proex), o Encontro de Saberes visa aprofundar
o diálogo entre a UFOP e a comunidade, integrando o
ensino, a pesquisa e a extensão. O evento contará com
debates, minicursos, apresentação de trabalhos orais e
posteres. Neste ano, apenas alguns projetos inscritos no
XXII Seic serão selecionados para apresentação oral; os
demais serão em forma de poster. Os inscritos devem ficar
atentos à forma selecionada para as suas apresentações,
que será divulgada próxima à data do evento.
O Encontro de Saberes conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (Fapemig), da Fundação Gorceix e da Fundação Educativa Ouro Preto.
Para mais informações, acesse o site
www.encontrodesaberes.ufop.br.
Coluna do Museu
Maquete de escavadeira elétrica
As coleções do Museu de Ciência e Técnica da
Escola de Minas da UFOP apresentam amostras de
minerais, fósseis, equipamentos e instrumentos de
demonstração e estudo. Dentre os instrumentos de
demonstração no Setor de Mineração, encontra-se a
Maquete de Escavadeira Elétrica, que simula os movimentos de um Equipamento usado na lavra a céu
aberto para carregar minério para o transporte.
Os setores de Mineração, História Natural, Mineralogia, Metalurgia, Química e Física e Ciência Interativa do Museu
estão abertos à visitação pública
de terça a domingo, das 12h às
17h. Já o Observatório Astronômico funciona aos sábados, das
20h às 22h. O Setor de Transporte
Ferroviário está aberto à visitação
pública de terça a domingo, das 9h
às 17h, na Estação Ferroviária de
Ouro Preto do Trem da Vale. O de
Siderurgia, localizado no Parque
Metalúrgico Augusto Barbosa –
Centro de Artes e Convenções
da UFOP –, atende o público mediante agendamento.
Escolas e grupos podem agendar
visitas pelos contatos:
Telefone: (31)3559-3118
E-mail: [email protected]
Site: www.museu.em.ufop.br
Foto: Leo Homssi
PUBLICAÇÃO OFICIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza
Fernanda Mafia, Gabriela Ramos, Júlia Mara Cunha, Luísa Campos,
Ticiane Alves, Túlio dos Anjos
Vice-reitora: Profª Drª Célia Maria Fernandes Nunes
Coordenador de Comunicação Institucional: Chico Daher
Coordenadora da Assessoria de Comunicação
Institucional: Verônica Soares
Núcleo Administrativo: Pedro Alexandre de Paula, Marco
Antônio do Nascimento, Jeiniele Souza, Richard Dias
Revisão: Magda Salmen, Lucimar Mendes (bolsista)
ACI: Adriana Moreira, Filipe Barboza, Rondon Marques
Edição: Ana Paula Martins (MTb 12533)
Coordenadoria de Comunicação Institucional (CCI)
Projeto Gráfico: Mateus Marques
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Coluna do Museu: Prof. Gilson Nunes
Diagramação: Ralf Soares
Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG – CEP 35400-000
Redação: Ana Elisa Siqueira, Ana Paula Martins, Carol Antunes,
Hebe Rola, Júlia Pinheiro, Tamara Pinho
Tel: (31) 3559-1222/1223
E-mail: [email protected]
Colaboração: Aldo Damasceno, Amanda Sereno, Ana Amélia
Maciel, Ana Carolina Vieira, Daniella Andrade, Daiane Bento,
Site: www.ufop.br
Edição 197 - setembro e outubro de 2014
Das salas de aula para
os consultórios
Estudantes de Medicina têm a oportunidade de iniciar o contato direto com os
pacientes em disciplinas clínicas no Centro de Saúde da UFOP
Carol Antunes
Os alunos de Medicina da UFOP, a
partir do 5° período, cursam disciplinas
clínicas com aulas no Centro de Saúde
da Universidade, localizado no campus
Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto.
Com as especialidades em clínica geral, ginecologia, pediatria, neurologia,
dermatologia e psiquiatria, os estudantes contam com o espaço dentro da
Instituição, o apoio dos professores e
a oportunidade de aprender “em casa”.
Uma educação que tende a ser plural,
com o atendimento direto à população
da cidade, as disciplinas práticas do
curso ajudam na formação de médicos
com uma boa base de medicina social.
Toda terça-feira, após as 13h, onze
discentes se dividem em grupos nas
quatro salas de atendimento disponíveis no Centro de Saúde. Sob a
supervisão da professora especializada
em ginecologia, Jacqueline Braga, os
acadêmicos do 8° período têm contato
com os pacientes. Janaína Drumond,
Marcos Rasmussen, Vinícius Chinellato e Michelle Montrezor fizeram a
disciplina no último período no ambulatório-escola na área de ginecologia.
Marcos afirma que “a formação ginecológica é importante para o clínico
geral saber realizar o preventivo, porque faz parte de uma rotina médica”.
Sobre as dificuldades de ter aprendido
uma nova área, Janaína conta que a
relação médico e paciente na ginecologia se estabelece de uma maneira diferente, porque o exame ginecológico
em si pode ser considerado invasivo.
Conversar e descontrair são algumas
formas usadas para deixar a paciente
à vontade. Muitas mulheres ainda têm
vergonha ou até preconceito por serem
atendidas em uma consulta ginecológica por um homem. Jacqueline aponta
que sempre há esse receio e que casos
de recusa no atendimento acontecem.
Para ajudar os alunos a lidarem com
essa situação, a professora os alerta
sobre a possibilidade de isso acontecer
e que, apesar de a mulher ter conquistado o mercado de trabalho, ela ainda
tem alguns tabus em relação ao próprio
corpo. “Eu sempre tento conversar,
explicar, deixar a paciente à vontade e
respeitar a sua opinião”, afirma. Vinícius acredita que o atendimento direto
com o paciente é a prova final para
saber se, depois dos três anos e meio,
eles conseguiram desenvolver uma boa
relação médico e paciente. “Temos
sempre que usar de todos os artifícios
para ter uma ótima relação com a pa-
Fotos: Tamara Pinho
Para os estudantes Marcos Rasmussen, Janaína Drumond e Vinícius Chinellato, o aprendizado no Centro de Saúde será essencial para o exercídio da profissão
ciente. É conquistar a paciente e fazêla confiar em você”, comenta.
Primeiros contatos com o paciente
Carolina Coimbra, professora do
curso de Medicina da UFOP, atende
e orienta os alunos de clínica geral no
ambulatório-escola. Na área, assim
como na ginecologia, os discentes são
divididos em salas, e um dos estudantes faz o atendimento, enquanto os
outros observam e colaboram. Após o
atendimento primário, os dados com
histórico e o exame físico do paciente são apresentados à professora para
a supervisão. “De acordo com o momento em que o aluno está no curso, a
exigência vai aumentando; em um primeiro momento, ele tem que relatar a
entrevista; no próximo, o exame físico;
no outro, ele mesmo vai elaborar uma
abordagem de exames, diagnóstico e
tratamento”, explica Carolina.
A cada período convivendo com
alunos diferentes e com histórias marcantes, Carolina ressalta o tanto que
eles se tornam responsáveis, disponíveis e se preocupam com os pacientes,
obtendo uma experiência muito rica.
Aos risos, a professora se lembra da primeira vez em que um estudante conseguiu aferir a pressão arterial: “O aluno
não conseguia ouvir, então, quando ele
ouviu, começou a balançar a cabeça,
dançando no ritmo do som”.
Aprendizado humanizado
Quem busca o Centro de Saúde,
em geral, sabe que os atendimentos
são feitos por médicos em formação,
mesmo assim deposita nos estudantes
plena confiança. Michelle Montrezor
explica que o Centro de Saúde da
UFOP é uma base de treinamento para
Edição 197 - setembro e outubro de 2014
os alunos, mas não para aprenderem
sobre doenças, e sim sobre os pacientes
como um todo. “As pessoas sabem, por
experiências prévias ou por relatos de
conhecidos, que ali terão atenção, dedicação, tempo e máximo empenho em
cada consulta e saem dali satisfeitos e
agradecidos. Um bom médico quer isso
dos pacientes: confiança e gratidão.
Quando recebemos, já no meio do curso, esse tipo de feedback, logo criamos
um vínculo de amor com a profissão
e descobrimos o quão gratificante é
receber um simples ‘obrigado’ ou um
‘abraço’ de alguém que nunca te viu
antes, mas que encontrou em você uma
solução”, afirma.
nas disciplinas clínicas esse é um dos
focos: relação médico-paciente. Aperfeiçoando o trabalho de salvar vidas,
no Centro de Saúde, os alunos passam
a lidar com pessoas e não apenas com
o conhecimento da anatomia do corpo
humano.
Estabelecendo confiança
Como professora da UFOP há dois
anos, Jacqueline Braga comenta sobre
as vantagens de os alunos terem a oportunidade de estagiar em um Centro de
Saúde dentro da própria Universidade:
“É muito bom, porque são pacientes
com as características da população
brasileira; o graduando ainda está livre
de alguns preconceitos e disposto a
aprender. Nessa consulta, tanto o estudante quanto o paciente aprendem um
com o outro e crescem”. Como um dos
desafios, Jacqueline conta que já teve o
exemplo de um aluno que questionou:
“A paciente mora na minha rua, será
que ela vai ter uma boa aceitação?”. A
professora argumenta que há pacientes amigas da faculdade, vizinhas, o
que torna a aprovação às vezes difícil.
“Também tem o fato de que a população considera que o atendimento não é
bom porque é feito por aluno, mas, ao
chegar lá, pode mudar o conceito”.
Estabelecer a confiança é um ato
primordial para uma boa formação, e
Marine ficou satisfeita com a consulta
“É uma consulta mais completa
do que quando você vai ao posto.
Aqui eles perguntam tudo para
você, todo seu histórico, e eu acho
importante isso, tanto para eles [estudantes] quanto para a gente que
vem” – Marina Bedeschi Dutra (25),
mestranda em Engenharia Civil na
UFOP.
“Considero importante ter os
alunos acompanhando as consultas
para que eles tenham o aprendizado
na prática, para adquirir experiência
quando já tiverem atuando na área”
– Alana Barbosa, aluna do 6° período em Ciências e Tecnologia dos
Alimentos.
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Para celebrar o Dia do Professor, o Jornal da UFOP destaca
“Sou professor a favor da boniteza
de minha própria prática, boniteza
que dela some se não cuido do saber
que devo ensinar”, disse Paulo Freire
na obra Pedagogia da Autonomia, de
1997. A docência é uma das carreiras mais antigas, é responsável por
contribuir na formação educacional
e de valores das pessoas. Depois dos
pais, que são as primeiras figuras de
orientadores, as crianças passam a
conviver com os professores bem
cedo, e eles têm o papel não apenas
de educar, mas também de guiar,
trocar experiências e motivar a busca
por conhecimento.
Vários países dedicam algum
dia do ano ao professor; no Brasil,
comemora-se em 15 de outubro. Por
não ser feriado federal ou municipal,
mas sim escolar, muitas instituições
continuam com atividades normais
nessa data, porém, sempre ocorrem
homenagens e celebrações.
A escolha pela carreira docente é
motivada por diferentes razões, como
relata Elis Regina Saraiva, que esco-
lheu a pedagogia, pois já tinha cursado o magistério no ensino médio, e
já atuava na regência, em turmas de
educação infantil ao quinto ano. “Eu
gostava muito do que fazia nas séries
iniciais, ainda gosto; agora atuo como
pedagoga e meu trabalho é mais próximo aos professores. Ainda assim,
procuro ter sempre muito contato
com os alunos, seja em oficina que às
vezes desenvolvo, seja na participação de eventos de Engenharia”.
Há também quem foi estimulado por outros docentes. É o caso do
professor de Direito Leonardo Nunes: “Desde os primeiros períodos da
graduação, eu tinha um professor que
já me chamava de professor. De fato,
ao longo da graduação, eu descobri
a veia para a academia; então, segui
fazendo mestrado e doutorado e daí já
são oito anos e meio de docência no
ensino superior”.
A professora do curso de Engenharia Metalúrgica Tácia Costa
Veloso resume sua escolha: “De
forma sucinta, pode-se dizer que ser
professor é ensinar, aprender, motivar,
inspirar, apontar caminhos, inventar
e reinventar maneiras de ser compreendido, compreender! Para tanto,
é preciso gostar, acreditar, dedicar e
empenhar. Ser um pouco psicólogo e
até mesmo bom ator”.
Já o professor do Departamento de
Engenharia de Minas Carlos Alberto
Pereira trabalhou como engenheiro
de minas na Amazônia antes de seguir
a carreira acadêmica. “Em 1995, comecei a lecionar como professor substituto na UFOP, mas quase desisti, era
muito difícil (e continua sendo) ter a
atenção dos alunos e também não
me achava competente para tal. Sigo
tentando ser um bom professor hoje,
que é bem diferente da época em que
estudei; não basta lecionar, é preciso
ouvir muito, trabalhar com pesquisa,
ensino e extensão”.
A formação docente é tema para
vários grupos de pesquisa na UFOP e
em outras universidades. Em agosto, o
e chega
ao âmago da ciência
Profissional
questiona-a
decide
se impõe
se impulsiona
volta ao ontem
passa pelo hoje
e se projeta no amanhã
Ele quer ir muito longe
E vai
Retoma o conteúdo
ara
compara
semeia
cultiva
dialoga
vive a atualidade
sem vaidade
galga degraus
Sua
labora elabora reelabora
põe dispõe
recompõe propõe
supera-se
É razão-coração
O florescer do aluno
anima-o
Luta pelo desarvorado
Formação docente em pauta
Saga Magistral
E o professor
traça
metas
objetiva
pesquisa
se livra
de ideias
sacralizadas
superadas
recolhe a dúvida
lança a hipótese
estuda
consulta
vela
revela inquietação
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Edição 197
a a importância da formação e da carreira desse profissional
Tamara Pinho
Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) promoveu o Seminário
Regional de Pesquisa sobre Formação
e Profissão Docente, cujo objetivo foi
mostrar dados obtidos desses estudos.
Segundo um dos organizadores, o professor José Rubens Jardilino, o evento
possibilitou a troca de experiências
entres os vários grupos de pesquisa de
Minas Gerais voltados à formação do
professor.
Jardilino lembra que é preciso aliar
a formação à prática da profissão,
“pois é na sala de aula que acontecem
muitas questões que não são encontradas durante a graduação. Por isso,
nós temos muitas pesquisas desenvolvidas sobre a prática do professor e
precisamos discutir o assunto”. Esse
é o mote do grupo de pesquisa Formação e Profissão Docente (Foprofi)
criado em 2011. Os membros discutem questões teórico-metodológicas
e pesquisam práticas e experiências
educativas dos professores.
aponta-lhe rumos
estimula-o
medeia conhecimento
orienta
alenta
e sorri
Abre janelas
que desnudam caminhos
poucas flores
muitos espinhos
outras
brejeiras
que descortinam
estradas
com atalhos
setembro e outubro de 2014
Capacitando professores
Na UFOP, existem cursos de licenciatura presenciais, como Artes
Cênicas, Letras, Pedagogia, História,
Química, Filosofia, Música, Matemática, Ciências Biológicas e Educação
Física, que são voltados especificamente à formação de professores. A
Universidade também conta com 20
programas de mestrado e doutorado
acadêmico além de especializações
lato sensu.
Dentro da Universidade, são
desenvolvidos projetos voltados ao
auxílio na formação e no aprimoramento docente, como o Sala Aberta,
um espaço para que os professores
possam trocar experiências de ensino
e aprendizado, e o UFOP com a Escola, que visa ampliar a comunicação
entre o ensino superior e a educação
básica.
O Centro de Educação Aberta
e a Distância (Cead) oferece cursos
de licenciatura em Geografia, Matemática e Pedagogia na modalidade
a distância. Oferta também os cur-
sem elevações
sem volteios
e através de ambas
aluno e mestre sorrindo
visualizam saídas
realizam sonhos
constroem guaridas
Imergem na pesquisa-ação
na partilha do saber
no trabalho em equipe
na interação
na troca de conhecimento
com o povo
na lide
por um mundo
sos de pós-graduação lato sensu em
Coordenação Pedagógica, Escolas
Sustentáveis, Gestão Escolar, Mídias
na Educação e Práticas Pedagógicas,
voltados à especialização de professores. O Cead está presente em 36
polos, distribuídos nos estados de
Minas Gerais, São Paulo e Bahia, fomentando e expandindo a formação
de docentes no País.
“Sigo tentando
ser um bom
professor, não
basta lecionar,
é preciso
trabalhar com
pesquisa,
ensino e
extensão”
não belicoso
pelo verdadeiro direito
do indivíduo
pela escrita
de nova história
de novo capítulo
da liberdade dos povos
E a cada instante
de sua saga magistral
Repete com Sêneca
NISTO ESTÁ MINHA ALEGRIA
APRENDER PARA ENSINAR
Hebe Rola
Professora Emérita da UFOP
5
Foto: divulgação
Desafios da educação a distância
Expandir e levar a educação para diversos municípios, oferecendo opções de formação e especialização profissional para a população. Esses são alguns
dos propósitos do Centro de Educação Aberta e a
Distância (Cead) da UFOP, criado em dezembro de
2003 como uma unidade acadêmica universitária que
oferece cursos de graduação e pós-graduação lato sensu.
O coordenador do programa Escola de Gestores do
Cead, professor Breynner Oliveira, explica que um
conjunto de ações é empreendido na linha de formação de professores com temáticas diversas.
São oferecidos quatro cursos de graduação: Administração Pública, Geografia, Matemática e Pedagogia e seis especializações: Coordenação Pedagógica,
Escolas Sustentáveis, Gestão Escolar, Gestão Pública,
Mídias na Educação e Práticas Pedagógicas. Os cursos
funcionam com o apoio de polos presenciais da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que são espaços
físicos mantidos pela prefeitura ou governo do estado
com infraestrutura física, tecnológica e pedagógica
para auxiliar os alunos. Atualmente, o Cead está pre-
Ana Elisa Siqueira
sente em 36 polos distribuídos nos estados de Minas
Gerais, São Paulo e Bahia.
Falar da formação de professores na modalidade
a distância vai além de uma tela de computador.
Segundo Breynner, o processo de aprendizagem é
feito de uma maneira complexa. Do ponto de vista
institucional, a dinâmica da educação a distância perpassa outra dimensão que é a gestão do processo de
aprendizagem. “Não é apenas o docente que ensina,
também uma equipe é responsável pela formação do
estudante. O professor trabalha em Ouro Preto, existe
um tutor presencial que fica no polo e um tutor a distância que trabalha no Cead em Ouro Preto”, explica
o professor.
Segundo Breynner, um desafio para o centro é repensar o modelo de educação a distância. “Temos nos
esforçado para pensar outras possibilidades de modelagem para a educação a distância, com mais encontros
de formação e com otimização das tecnologias. Tornálo, de fato, um centro aberto, que consiga articular
essas ações na própria Universidade”, acrescenta.
Programa Sala Aberta: Docência no Ensino Superior
Carol Antunes
virtual, por meio de acesso à plataforma
Moodle, envolvendo os docentes em atividades diversas.
O programa é uma realização da PróReitoria de Graduação da UFOP, por
meio do Núcleo de Apoio Pedagógico
(NAP), em parceria com a Coordenadoria de Gestão de Pessoas e o Programa
de Pós-Graduação em Educação. Juliana
Santos da Conceição, coordenadora do
NAP, conta que, dentre outros objetivos,
o Sala Aberta busca oportunizar a formação continuada dos docentes ingressantes na UFOP. “Nossa expectativa com as
diversas ações do Programa é consolidar
um espaço de reflexão sobre os saberes e
as práticas docentes, além de ampliar a
participação e o envolvimento de todos
os professores da UFOP”, explica.
Foto: Richard Dias
Para estimular professores a refletirem
sobre aspectos relativos à docência no
ensino superior, foi criado o Programa
Sala Aberta: Docência no Ensino Superior. Trata-se de um espaço de troca de
experiências e diálogo entre docentes
que mostram suas dificuldades, desafios,
métodos de ensino e ajuda mútua.
A iniciativa está organizada em quatro espaços de interação: o Sala Aberta
Convida, com palestras sobre temáticas
relacionadas à prática docente; o Sala
Aberta Oficina Pedagógica, com a realização de oficinas voltadas para trocas de
experiências e apresentações de relatos
de práticas docentes; o Sala Aberta Debate, com a promoção de debates sobre
temáticas relacionadas à formação pedagógica do professor universitário e o Sala
Aberta Virtual, um espaço de interação
UFOP com a Escola: canal direto com a sala de aula
Carol Antunes
Com o objetivo de ampliar os canais
de comunicação entre o ensino superior e a educação básica do entorno da
Universidade, o programa UFOP com a
Escola desenvolve ações extensionistas
desde 2007. Criado por meio de uma
gestão compartilhada entre o Departamento de Educação e a Pró-Reitoria de
Extensão, a iniciativa visa implementar
ações de formação continuada junto aos
profissionais da educação da Região dos
Inconfidentes, possibilitando aos gestores, especialistas e professores a discussão
de temas científicos e pedagógicos, além
da elaboração de práticas educativas que
propiciem a construção de uma rede de
protagonismo na educação básica.
6
A ideia principal é atender às necessidades e demandas da comunidade
educacional da região, expressas no diálogo com a Superintendência Regional
de Ensino e as Secretarias Municipais
de Educação de Mariana, Ouro Preto,
Diogo de Vasconcelos, Itabirito e Acaiaca. Outro mote é contribuir para uma
formação ampla e integrada dos estudantes nos cursos de graduação e pósgraduação da UFOP, por meio do diálogo
entre os conhecimentos acadêmicos e os
contextos reais da educação básica.
Fernanda Silva, coordenadora do
programa, acredita que “os cursos vêm
ressignificando olhares sobre o fazer
docente e sobre a postura professoral
em sala de aula em um momento em
que os desafios impelem os professores
a reverem as práticas pedagógicas”. Ela
explica que os cursos primam por uma
metodologia que prevê leitura, escrita
e diálogo. Os professores formadores
são, geralmente, do Departamento de
Educação da UFOP e, nas áreas específicas, são convidados profissionais de
outros departamentos, com o auxílio de
estudantes de mestrado e graduação da
Universidade. Com isso, os docentes da
educação básica são convidados a refletir sobre temáticas que vêm desafiando a
atuação docente, com cursos que agregam a teoria e a prática.
Para os próximos anos, Fernanda
adianta que há a previsão de crescimento na área da formação continuada pela
captação de recursos junto à Secretaria
de Educação Básica/Ministério da Educação para o desenvolvimento de três
cursos: Materiais Didáticos para Educação de Jovens e Adultos; Artes para
Professores e Gestão Inclusiva da Escola. “Estamos também com demandas
de outros municípios para integrarem a
Mesa Permanente de discussões sobre
a educação básica, como Catas Altas,
Santa Bárbara, Conselheiro Lafaiete,
Congonhas e Ouro Branco. Se isso
ocorrer de fato, teremos uma ampliação
significativa.”
Edição 197 - setembro e outubro de 2014
Dez anos de Fórum das Letras
Conheça o tema, os convidados e a programação para comemorar uma década do evento
Carol Antunes
Quase chegando à adolescência, o
Fórum das Letras 2014, promovido pela
Universidade Federal de Ouro Preto, comemora a sua décima edição com o tema
“Escritas em Transe”, consolidando-se
como um dos principais eventos da área
literária do País. Do dia 29 de outubro
a 2 de novembro, o público interessado
poderá acompanhar debates sobre as
transições do mundo contemporâneo,
sobretudo aquelas ligadas à literatura
e à forma como tais transformações se
impõem ao universo criativo. De acordo
com a idealizadora e coordenadora do
evento, Guiomar de Grammont, o Fórum das Letras homenageará, ainda, o
bicentenário de morte de Aleijadinho, o
grande mestre barroco, cuja obra ajudou
a construir a identidade mineira.
“Estamos em um tempo de transição
não apenas na política brasileira, mas em
todo o mundo. Essa transição tem a ver,
sobretudo, com o advento da internet e
do e-book, modificando todas as formas
de leitura e informação que se conheciam
até hoje. A informação passa a ser em
tempo real, provocando uma interação
sem precedentes entre a mídia e os fatos
na atualidade. Há inúmeros exemplos,
como a deposição do presidente do Egito
por meio de manifestações que circularam no Facebook. Em breve, os leitores
poderão acompanhar a escrita dos livros
no momento em que ela estiver ocorrendo, influindo em seu desenvolvimento”,
explica Guiomar. Ela descreve que o tema
foi uma sugestão de Audálio Dantas, jornalista premiado que estará presente em
algumas atividades do Fórum deste ano,
em referência ao denso filme de Glauber
Rocha, Terra em Transe, que apresenta
uma reflexão muito profunda sobre a corrosão do poder.
No Fórum, além de tratar da temática
da transição do mundo, serão abordados
os 50 anos do golpe militar. Para Guiomar, a reflexão sobre esse momento é
importantíssima para mostrar o perigo da
suspensão da democracia, por qualquer
razão que seja. Ela cita, ainda, que a militarização da política tende apenas a levar
ao extremismo e à violência, e debater o
golpe militar ajuda a compreender as suas
razões e a refletir para que nada parecido
se repita na sociedade brasileira. Pensando nesse tema, alguns dos convidados
deste ano serão Paulo Markun, Ricardo
Kotscho e Zuenir Ventura, todos com
obras que tratam de experiências da época da ditadura.
Ciclo de Literatura e Jornalismo
O Ciclo de Literatura e Jornalismo
foi criado como um evento específico,
integrante do Fórum, para a discussão
sobre as interseções entre jornalismo e
literatura. Em sua quinta edição, traz
jornalistas-narradores da história recente
do Brasil sobre o período ditatorial do
País. Alguns dos convidados são: Audálio
Dantas (presidente da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas), Daniela
Arbex (Tribuna de Minas), Eliane Brum
(El País), Luiza Villaméa (Revista Brasileiros), Mário Magalhães (UOL), Natália
Viana (Agência Pública), Ricardo Kotscho (Record News) e Zuenir Ventura (O
Globo).
Coordenadora do ciclo e professora
de Jornalismo na UFOP, Marta Maia
considera que a interlocução entre esses
dois campos é fundamental para que se
possa refletir sobre as narrativas que estão
sendo produzidas na atualidade. “O ciclo
busca discutir, refletir e apresentar elementos dessa produção de maneira bastante aberta e plural”, avalia. As mesasredondas debaterão os temas “Escritas
do desassossego”, “Escritas da ausência”
e “Escritas da experiência”, no Anexo do
Museu da Inconfidência, em Ouro Preto.
Integra também a agenda uma oficina
sobre jornalismo e literatura, ministrada
por João Gabriel de Lima (ex-editor da
Bravo! e atual editor da revista Época),
que participa do Fórum desde as primeiras edições.
Fórum das Letrinhas
As crianças também têm vez no
universo da literatura. O Fórum das Letrinhas, coordenado por Tereza Gabarra,
é um evento voltado ao público infantojuvenil. Com foco nas escolas das redes
pública e privada de Minas Gerais, a programação inclui palestras com autores,
lançamentos de livros, jogos literários,
apresentações teatrais e oficinas de criação, contribuindo, assim, com a transformação social e cultural de milhares de
crianças e adolescentes.
Neste ano, dentre outros convidados,
estarão no encontro Soraia Vasconcelos
(ABC da Criançada), Christine Azzi (Os
vestidos de Frida) e João Cilli (As dúvidas
de Roquito, Os sonhos de Roquito e As
viagens de Roquito). Como ilustradores,
serão responsáveis pelas oficinas Maurizio Manzo, Eduardo Damasceno e Luís
Felipe Garrocho. Mudando de ambiente,
as atrações acontecerão em espaços distintos, como a Tenda da Vale, a Biblioteca Pública de Ouro Preto e o Museu da
Inconfidência.
Sobre os dez anos
A respeito da receita do sucesso e
de como chegar aos dez anos, Guiomar
acredita que a projeção alcançada pelo
Fórum é o resultado do esforço integrado
de várias pessoas. Ela cita que é muito
grata a todos que atuaram no evento,
em seus diversos momentos. “O trabalho
no Fórum me ensinou a ser mais prática, mais consciente dos meus objetivos;
contudo, o maior prazer que tenho é,
cada vez mais, poder delegar ações à minha equipe, que alcançou maturidade e
experiência ao longo desse tempo, e aos
professores curadores, que têm sido maravilhosos. Queremos muito ampliar essa
participação”, aponta.
Para os próximos anos, Guiomar espera que o Fórum atraia um público cada
vez maior e mais interessado, e que os
debates possam influir na vida das pessoas, formando mais leitores críticos e
capazes de se organizar na defesa de seus
interesses. “Espero também que o evento
se internacionalize, trazendo autores de
outras partes do mundo e criando braços
em outros lugares, como o Letras em
Lisboa, que realizamos em Portugal”,
finaliza.
Edição 197 - setembro e outubro de 2014
Foto: Léo Alves
Evento será de 29 de outubro a 2 de novembro,
com uma vasta programação gratuita
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ENTREVISTA
“Os professores e a escola
nunca foram tão necessários”
Inês Teixeira
Ana Paula Martins
Foto: Túlio dos Anjos
Com uma vasta pesquisa na área
de formação de novos professores e
pesquisadores, Inês Assunção de Castro Teixeira é formada em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura), com
mestrado, doutorado e pós-doutorado
em Educação. Professora associada da
Faculdade de Educação da UFMG e
aposentada da PUC Minas, sendo pesquisadora bolsista de produtividade
do CNPq. A sua atuação é focada na
Sociologia da Educação. Nesse sentido, seus estudos abordam a condição
docente, tratando de tempos escolares
e tempos docentes, expressões criadas
para se referir à experiência e à distribuição do tempo dos professores.
Para o Jornal da UFOP, Inês Teixeira
discorre sobre a formação e a carreira
docente, destacando os desafios da
sala de aula atual.
Você tem formação em Sociologia,
o que a levou para a área da Educação?
Sempre achei que a educação é uma
possibilidade de as pessoas alargarem seus
conhecimentos, sua compreensão, sua interrogação sobre o mundo, sobre a vida, e
a sociologia também nos possibilita isso.
Formei-me em Sociologia e fiz mestrado e
doutorado em Educação. Penso muito na
construção de um mundo mais humano,
mais justo e fraterno para todos. Nesse
sentido, a sociologia nos ajuda muito
a compreender o mundo, os processos
sociais e históricos, e ser professora me
daria a oportunidade de conversar sobre
tudo isso com as crianças e os jovens.
Meu campo de pesquisa foca, sobretudo,
a vida dos professores, o seu trabalho e
suas práticas culturais.
Você cita que a sala de aula é o
terreno de origem da relação docentediscente. Hoje em dia, a sala de aula
“Os professores
têm como ofício
formar as novas
gerações. Para
isso, esses
docentes precisam
ser muito bem
formados”
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extrapola as quatro paredes?
Sim e não. Ela não extrapolou porque
a grande maioria dos professores utiliza
90% do tempo dentro de sala de aula.
A sala de aula tem um espaço físico bem
delimitado no sistema de ensino, mas os
meninos que estão lá extrapolam aquelas
paredes, pois têm uma experiência anterior e posterior ao tempo que passam na
escola. Apesar de a sala de aula ainda
estar entre as quatro paredes, o que se
passa ali – as experiências, a cultura dos
alunos, suas histórias, assim como o dos
professores – extrapola esse espaço. Hoje,
a sala de aula está entre os muros e entre
as paredes, ao mesmo tempo em que os
sujeitos socioculturais e as relações extrapolam tais divisões espaciais.
Como atrair esses alunos que vivenciam as mídias sociais e a internet?
Eu penso que a escola não tem que repetir o que os estudantes veem lá fora, ela
precisa problematizar essas experiências.
A escola e o professor têm que desafiar
as capacidades e as potencialidades dos
alunos, trazendo novas experiências que
sejam distintas do virtual, que ampliem a
visão e a compreensão do mundo. Desafiar no sentido de que eles podem mais, de
que eles interroguem as próprias mídias e
tecnologias. Quando algum estudante diz
que trouxe a informação da internet, eu
geralmente questiono de onde tirou a informação. Na escola, os discentes são desafiados no pensamento, na sensibilidade,
na formação ética, estética, intelectual e
expressiva. É onde os alunos convivem
com outras pessoas e têm a experiência
do face a face, da sociabilidade, é uma
riqueza da escola que deve ser muito
explorada. Na internet, também há sociabilidade, porém virtual. No meu ponto
de vista, a escola não pode desconhecer
a realidade das novas linguagens, nem
repeti-las, ela tem que ir além.
Como é para o professor lidar com
o fato de os alunos já chegarem com
informações que colheram na internet, por exemplo?
Acho maravilhosa a situação quando
um aluno interroga o professor, é uma
alegria. É muito interessante porque os
professores não sabem tudo, também são
eternos aprendizes. Então esse menino
ativo que interroga é maravilhoso, ele
tem que ter esse espaço na escola para
questionar. A responsabilidade dos docentes é avaliar junto ao estudante de
onde ele tirou a informação, explicar
que é necessário ter um pesquisador que
falou algo, por exemplo. Há um potencial enorme se a gente souber trabalhar
com esses novos sistemas de busca e
informação. Os alunos têm ao seu lado
os professores que vão auxiliá-los para
interrogar as fontes. Os professores e a
escola nunca foram tão necessários, reforçando a importância da sociabilidade
do convívio, da importância do outro,
do encontro com a diferença.
Como você avalia o fato de os pais
passarem para a escola a função de educar, como educação sexual e alimentação adequada?
Por causa das dinâmicas do mundo
do trabalho, a presença dos pais junto
aos filhos está ficando muito restrita. Isso
aumenta o trabalho da instituição de ensino. Porém, não podemos sobrecarregar
muito a escola. Essa inserção da nova
geração no mundo e na cultura é responsabilidade da escola sim, mas também do
governo, da política pública, da família,
da cidade.
Sabemos que o docente tem um papel fundamental na formação, no crescimento e na identidade de uma pessoa.
Como é essa responsabilidade?
Os professores têm como ofício a
responsabilidade e o dever de formar as
novas gerações. Por isso, esses docentes
também precisam ser muito bem formados, a gente tem que discutir muito,
trocar experiências. Eu gosto muito de
comparar o trabalho do professor e o do
veterinário, porque, quando nasce um
gato, a gente sabe que ele vai miar, andar
com as patinhas; já a criança nasce como
um ponto de interrogação e, se ela não
for bem socializada, pode se tornar um
ser desumano. É muito complexo e de
grande responsabilidade o trabalho dos
professores, porque eles são uma parte
substantiva da socialização e da formação
das novas gerações. Isso significa que eles
devem ser muito bem formados, uma
formação instrumental e prática, intelectual, de conhecimentos da ciência, da
filosofia, das disciplinas científicas, uma
formação artística expressiva. A partir
do momento que é responsável pela formação de um ser humano, você tem que
pensar no ser humano completo, ele não
pode desenvolver somente o intelecto. A
criança tem que ter uma formação ética e
moral. Todos esses processos educativos
das crianças, que envolvem a afetividade
e a amorosidade, se dão nas relações com
os professores e com os outros alunos.
Como funciona o espaço-tempo do
professor?
O tempo é central na docência por
vários motivos. Primeiro que, em geral,
os professores estão em uma geração,
um ciclo de vida, e os alunos em outra,
isso que me fez estudar no doutorado, e
para sempre, a questão do tempo. Essa
questão das gerações é completamente
forte no magistério: os meninos estão na
educação infantil, e a professora, com
45 anos, tem que se abaixar, se levantar
e a rotina pede muita coisa do corpo do
docente. Você trabalha também com
tempos de conhecimentos, as estruturas
biopsíquicas dos alunos têm ritmos diferentes, um aprende mais depressa, outro
aprende mais devagar. Os nossos horários
são muito fechados, 40 minutos de aula,
quando a turma pegou o pique já vai para
outra. Sobretudo, a lógica da discussão
do tempo é mais pesada no ensino fundamental e no ensino médio, os tempos da
vida privada da casa, muito trabalho que
os professores levam da escola para casa.
Os tempos da vida pública e do trabalho
se misturam com seu tempo de escola.
Os professores têm horários e dias certos
para entregar as provas e corrigi-las; o calendário e o currículo são temporalizados,
mensurados em dias, meses, bimestres.
Qual a importância de um professor
na escolha da carreira de outro docente?
É muito grande. Toda vez que eu trabalho com pessoas de licenciatura no início
do curso, muitas dão depoimentos como
“Ah, foi meu professor de matemática”,
“Tive uma professora ótima”. Diferentemente de outras profissões, os professores
convivem muito tempo, dias e dias, horas
e horas com os alunos. Os professores vão
se constituindo em referenciais; a função
é semelhante à de um pastor ou de um
padre, em cujas falas tentam explicar as
coisas. Isso faz com que o docente seja
alguém muito forte nas nossas vidas.
Nem todos os professores escolheram
a profissão por causa das condições de
trabalho. Os estudos estão mostrando
cansaço, desesperança, ao mesmo tempo,
é curioso, mesmo com muito problema na
sala de aula, os professores afirmam, nas
pesquisas, que estão felizes com o que fazem, que gostam da profissão, porque ela
é o relacionamento humano. É uma das
maiores categorias profissionais do mundo, porque tem professor em todo lugar.
Eu sempre acho que os professores podem
ser um alento para essas crianças, mas é
urgente melhorar as condições laborais
de exercício da docência, senão teremos,
cada vez mais, adoecimento, abandono
do trabalho. O Brasil já tem falta de
professores em várias áreas, é urgente o
País rever algumas condições de trabalho
desses profissionais.
Edição 197 - setembro e outubro de 2014
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Estudantes de Medicina iniciam contato com pacientes no