Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto Páginas 4 e 5 Vem aí o Encontro de Saberes Página 2 Dez anos de Fórum das Letras Página 7 Estudantes de Medicina iniciam contato com pacientes no Centro de Saúde Página 3 Entrevista: Professor: o profissional que forma outros profissionais. Na UFOP, são mais de 850 docentes que atuam como formadores, orientadores e pesquisadores. A Universidade oferece dez licenciaturas e diversos programas de mestrado e doutorado, que também contribuem para a formação de novos professores no País. Edição 197 - setembro e outubro de 2014 Inês Teixeira: Os tempos da docência Página 8 Júlia Pinheiro Foto: Isadora Faria EDITORIAL Somos Professores: formamos e somos formados constantemente Outubro é muito especial para a Universidade Federal de Ouro Preto, há celebrações importantes para a Instituição. É o mês dedicado aos professores. Na UFOP, temos cerca de 850 docentes que atuam nos diversos cursos da Universidade, ministrando aulas, orientando, realizando atividades importantes de pesquisas e extensão que contribuem para o fomento do conhecimento e da formação profissional de nossos milhares de alunos. A nossa Universidade tem passado por evoluções crescentes, totalizando 42 graduações e 34 cursos de pós-graduação stricto sensu, com mestrados e doutorados acadêmicos e profissionais. Tem aumentado o número de programas de extensão, que criam uma relação direta com a comunidade. As atividades desenvolvidas nos projetos de ensino, pesquisa e extensão refletem o amadurecimento científico cada vez maior de nossos discentes, tudo sob a orientação competente de nossos professores e professoras. É necessário destacar que a UFOP é um importante centro formador de docentes, na formação inicial e/ou continuada. Na formação inicial, ofertamos atualmente dez licenciaturas, nas modalidades presencial e a distância. São centenas de alunos que começam a atuar profissionalmente em iniciativas da própria Instituição, como programas de tutoria, projetos de iniciação científica, iniciação à docência, estágios supervisionados, monitorias e etc. Já na formação continuada, temos a oportunidade de contribuir com a qualificação dos professores que se encontram em exercício na escola básica. Investimos também no processo de nossa formação via ações do programa de docência universitária. Os programas de pós-graduação – tanto lato sensu como stricto sensu – atraem profissionais de várias partes do País em busca de uma capacitação de qualidade, sendo que muitos desses discentes levam os conhecimentos adquiridos para as suas atividades de docência. É com muito orgulho que sou professora e faço parte desta Universidade! Aproveito a oportunidade para parabenizar todos os colegas pelo nosso dia. Célia Maria Fernandes Nunes Vice-reitora Entre os dias 18 e 21 de novembro, será realizado, em Ouro Preto, o Encontro de Saberes 2014 da UFOP. O evento está em sua sexta edição e irá promover o XXII Seminário de Iniciação Científica (Seic), o XV Seminário de Extensão (Sext) e a VII Mostra Pró-Ativa. As atividades acontecerão no Centro de Artes e Convenções da Universidade. As inscrições estão disponíveis até o dia 5 de novembro, exclusivamente pelo site do Encontro. Os valores das inscrições variam de acordo com as categorias alunos, professores e técnicos da UFOP e também contemplam membros de outras instituições. Organizado pelas pró-reitorias de Graduação (Prograd), de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp) e de Extensão (Proex), o Encontro de Saberes visa aprofundar o diálogo entre a UFOP e a comunidade, integrando o ensino, a pesquisa e a extensão. O evento contará com debates, minicursos, apresentação de trabalhos orais e posteres. Neste ano, apenas alguns projetos inscritos no XXII Seic serão selecionados para apresentação oral; os demais serão em forma de poster. Os inscritos devem ficar atentos à forma selecionada para as suas apresentações, que será divulgada próxima à data do evento. O Encontro de Saberes conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), da Fundação Gorceix e da Fundação Educativa Ouro Preto. Para mais informações, acesse o site www.encontrodesaberes.ufop.br. Coluna do Museu Maquete de escavadeira elétrica As coleções do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da UFOP apresentam amostras de minerais, fósseis, equipamentos e instrumentos de demonstração e estudo. Dentre os instrumentos de demonstração no Setor de Mineração, encontra-se a Maquete de Escavadeira Elétrica, que simula os movimentos de um Equipamento usado na lavra a céu aberto para carregar minério para o transporte. Os setores de Mineração, História Natural, Mineralogia, Metalurgia, Química e Física e Ciência Interativa do Museu estão abertos à visitação pública de terça a domingo, das 12h às 17h. Já o Observatório Astronômico funciona aos sábados, das 20h às 22h. O Setor de Transporte Ferroviário está aberto à visitação pública de terça a domingo, das 9h às 17h, na Estação Ferroviária de Ouro Preto do Trem da Vale. O de Siderurgia, localizado no Parque Metalúrgico Augusto Barbosa – Centro de Artes e Convenções da UFOP –, atende o público mediante agendamento. Escolas e grupos podem agendar visitas pelos contatos: Telefone: (31)3559-3118 E-mail: [email protected] Site: www.museu.em.ufop.br Foto: Leo Homssi PUBLICAÇÃO OFICIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Fernanda Mafia, Gabriela Ramos, Júlia Mara Cunha, Luísa Campos, Ticiane Alves, Túlio dos Anjos Vice-reitora: Profª Drª Célia Maria Fernandes Nunes Coordenador de Comunicação Institucional: Chico Daher Coordenadora da Assessoria de Comunicação Institucional: Verônica Soares Núcleo Administrativo: Pedro Alexandre de Paula, Marco Antônio do Nascimento, Jeiniele Souza, Richard Dias Revisão: Magda Salmen, Lucimar Mendes (bolsista) ACI: Adriana Moreira, Filipe Barboza, Rondon Marques Edição: Ana Paula Martins (MTb 12533) Coordenadoria de Comunicação Institucional (CCI) Projeto Gráfico: Mateus Marques 2 Coluna do Museu: Prof. Gilson Nunes Diagramação: Ralf Soares Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG – CEP 35400-000 Redação: Ana Elisa Siqueira, Ana Paula Martins, Carol Antunes, Hebe Rola, Júlia Pinheiro, Tamara Pinho Tel: (31) 3559-1222/1223 E-mail: [email protected] Colaboração: Aldo Damasceno, Amanda Sereno, Ana Amélia Maciel, Ana Carolina Vieira, Daniella Andrade, Daiane Bento, Site: www.ufop.br Edição 197 - setembro e outubro de 2014 Das salas de aula para os consultórios Estudantes de Medicina têm a oportunidade de iniciar o contato direto com os pacientes em disciplinas clínicas no Centro de Saúde da UFOP Carol Antunes Os alunos de Medicina da UFOP, a partir do 5° período, cursam disciplinas clínicas com aulas no Centro de Saúde da Universidade, localizado no campus Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto. Com as especialidades em clínica geral, ginecologia, pediatria, neurologia, dermatologia e psiquiatria, os estudantes contam com o espaço dentro da Instituição, o apoio dos professores e a oportunidade de aprender “em casa”. Uma educação que tende a ser plural, com o atendimento direto à população da cidade, as disciplinas práticas do curso ajudam na formação de médicos com uma boa base de medicina social. Toda terça-feira, após as 13h, onze discentes se dividem em grupos nas quatro salas de atendimento disponíveis no Centro de Saúde. Sob a supervisão da professora especializada em ginecologia, Jacqueline Braga, os acadêmicos do 8° período têm contato com os pacientes. Janaína Drumond, Marcos Rasmussen, Vinícius Chinellato e Michelle Montrezor fizeram a disciplina no último período no ambulatório-escola na área de ginecologia. Marcos afirma que “a formação ginecológica é importante para o clínico geral saber realizar o preventivo, porque faz parte de uma rotina médica”. Sobre as dificuldades de ter aprendido uma nova área, Janaína conta que a relação médico e paciente na ginecologia se estabelece de uma maneira diferente, porque o exame ginecológico em si pode ser considerado invasivo. Conversar e descontrair são algumas formas usadas para deixar a paciente à vontade. Muitas mulheres ainda têm vergonha ou até preconceito por serem atendidas em uma consulta ginecológica por um homem. Jacqueline aponta que sempre há esse receio e que casos de recusa no atendimento acontecem. Para ajudar os alunos a lidarem com essa situação, a professora os alerta sobre a possibilidade de isso acontecer e que, apesar de a mulher ter conquistado o mercado de trabalho, ela ainda tem alguns tabus em relação ao próprio corpo. “Eu sempre tento conversar, explicar, deixar a paciente à vontade e respeitar a sua opinião”, afirma. Vinícius acredita que o atendimento direto com o paciente é a prova final para saber se, depois dos três anos e meio, eles conseguiram desenvolver uma boa relação médico e paciente. “Temos sempre que usar de todos os artifícios para ter uma ótima relação com a pa- Fotos: Tamara Pinho Para os estudantes Marcos Rasmussen, Janaína Drumond e Vinícius Chinellato, o aprendizado no Centro de Saúde será essencial para o exercídio da profissão ciente. É conquistar a paciente e fazêla confiar em você”, comenta. Primeiros contatos com o paciente Carolina Coimbra, professora do curso de Medicina da UFOP, atende e orienta os alunos de clínica geral no ambulatório-escola. Na área, assim como na ginecologia, os discentes são divididos em salas, e um dos estudantes faz o atendimento, enquanto os outros observam e colaboram. Após o atendimento primário, os dados com histórico e o exame físico do paciente são apresentados à professora para a supervisão. “De acordo com o momento em que o aluno está no curso, a exigência vai aumentando; em um primeiro momento, ele tem que relatar a entrevista; no próximo, o exame físico; no outro, ele mesmo vai elaborar uma abordagem de exames, diagnóstico e tratamento”, explica Carolina. A cada período convivendo com alunos diferentes e com histórias marcantes, Carolina ressalta o tanto que eles se tornam responsáveis, disponíveis e se preocupam com os pacientes, obtendo uma experiência muito rica. Aos risos, a professora se lembra da primeira vez em que um estudante conseguiu aferir a pressão arterial: “O aluno não conseguia ouvir, então, quando ele ouviu, começou a balançar a cabeça, dançando no ritmo do som”. Aprendizado humanizado Quem busca o Centro de Saúde, em geral, sabe que os atendimentos são feitos por médicos em formação, mesmo assim deposita nos estudantes plena confiança. Michelle Montrezor explica que o Centro de Saúde da UFOP é uma base de treinamento para Edição 197 - setembro e outubro de 2014 os alunos, mas não para aprenderem sobre doenças, e sim sobre os pacientes como um todo. “As pessoas sabem, por experiências prévias ou por relatos de conhecidos, que ali terão atenção, dedicação, tempo e máximo empenho em cada consulta e saem dali satisfeitos e agradecidos. Um bom médico quer isso dos pacientes: confiança e gratidão. Quando recebemos, já no meio do curso, esse tipo de feedback, logo criamos um vínculo de amor com a profissão e descobrimos o quão gratificante é receber um simples ‘obrigado’ ou um ‘abraço’ de alguém que nunca te viu antes, mas que encontrou em você uma solução”, afirma. nas disciplinas clínicas esse é um dos focos: relação médico-paciente. Aperfeiçoando o trabalho de salvar vidas, no Centro de Saúde, os alunos passam a lidar com pessoas e não apenas com o conhecimento da anatomia do corpo humano. Estabelecendo confiança Como professora da UFOP há dois anos, Jacqueline Braga comenta sobre as vantagens de os alunos terem a oportunidade de estagiar em um Centro de Saúde dentro da própria Universidade: “É muito bom, porque são pacientes com as características da população brasileira; o graduando ainda está livre de alguns preconceitos e disposto a aprender. Nessa consulta, tanto o estudante quanto o paciente aprendem um com o outro e crescem”. Como um dos desafios, Jacqueline conta que já teve o exemplo de um aluno que questionou: “A paciente mora na minha rua, será que ela vai ter uma boa aceitação?”. A professora argumenta que há pacientes amigas da faculdade, vizinhas, o que torna a aprovação às vezes difícil. “Também tem o fato de que a população considera que o atendimento não é bom porque é feito por aluno, mas, ao chegar lá, pode mudar o conceito”. Estabelecer a confiança é um ato primordial para uma boa formação, e Marine ficou satisfeita com a consulta “É uma consulta mais completa do que quando você vai ao posto. Aqui eles perguntam tudo para você, todo seu histórico, e eu acho importante isso, tanto para eles [estudantes] quanto para a gente que vem” – Marina Bedeschi Dutra (25), mestranda em Engenharia Civil na UFOP. “Considero importante ter os alunos acompanhando as consultas para que eles tenham o aprendizado na prática, para adquirir experiência quando já tiverem atuando na área” – Alana Barbosa, aluna do 6° período em Ciências e Tecnologia dos Alimentos. 3 Para celebrar o Dia do Professor, o Jornal da UFOP destaca “Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar”, disse Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia, de 1997. A docência é uma das carreiras mais antigas, é responsável por contribuir na formação educacional e de valores das pessoas. Depois dos pais, que são as primeiras figuras de orientadores, as crianças passam a conviver com os professores bem cedo, e eles têm o papel não apenas de educar, mas também de guiar, trocar experiências e motivar a busca por conhecimento. Vários países dedicam algum dia do ano ao professor; no Brasil, comemora-se em 15 de outubro. Por não ser feriado federal ou municipal, mas sim escolar, muitas instituições continuam com atividades normais nessa data, porém, sempre ocorrem homenagens e celebrações. A escolha pela carreira docente é motivada por diferentes razões, como relata Elis Regina Saraiva, que esco- lheu a pedagogia, pois já tinha cursado o magistério no ensino médio, e já atuava na regência, em turmas de educação infantil ao quinto ano. “Eu gostava muito do que fazia nas séries iniciais, ainda gosto; agora atuo como pedagoga e meu trabalho é mais próximo aos professores. Ainda assim, procuro ter sempre muito contato com os alunos, seja em oficina que às vezes desenvolvo, seja na participação de eventos de Engenharia”. Há também quem foi estimulado por outros docentes. É o caso do professor de Direito Leonardo Nunes: “Desde os primeiros períodos da graduação, eu tinha um professor que já me chamava de professor. De fato, ao longo da graduação, eu descobri a veia para a academia; então, segui fazendo mestrado e doutorado e daí já são oito anos e meio de docência no ensino superior”. A professora do curso de Engenharia Metalúrgica Tácia Costa Veloso resume sua escolha: “De forma sucinta, pode-se dizer que ser professor é ensinar, aprender, motivar, inspirar, apontar caminhos, inventar e reinventar maneiras de ser compreendido, compreender! Para tanto, é preciso gostar, acreditar, dedicar e empenhar. Ser um pouco psicólogo e até mesmo bom ator”. Já o professor do Departamento de Engenharia de Minas Carlos Alberto Pereira trabalhou como engenheiro de minas na Amazônia antes de seguir a carreira acadêmica. “Em 1995, comecei a lecionar como professor substituto na UFOP, mas quase desisti, era muito difícil (e continua sendo) ter a atenção dos alunos e também não me achava competente para tal. Sigo tentando ser um bom professor hoje, que é bem diferente da época em que estudei; não basta lecionar, é preciso ouvir muito, trabalhar com pesquisa, ensino e extensão”. A formação docente é tema para vários grupos de pesquisa na UFOP e em outras universidades. Em agosto, o e chega ao âmago da ciência Profissional questiona-a decide se impõe se impulsiona volta ao ontem passa pelo hoje e se projeta no amanhã Ele quer ir muito longe E vai Retoma o conteúdo ara compara semeia cultiva dialoga vive a atualidade sem vaidade galga degraus Sua labora elabora reelabora põe dispõe recompõe propõe supera-se É razão-coração O florescer do aluno anima-o Luta pelo desarvorado Formação docente em pauta Saga Magistral E o professor traça metas objetiva pesquisa se livra de ideias sacralizadas superadas recolhe a dúvida lança a hipótese estuda consulta vela revela inquietação 4 Edição 197 a a importância da formação e da carreira desse profissional Tamara Pinho Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) promoveu o Seminário Regional de Pesquisa sobre Formação e Profissão Docente, cujo objetivo foi mostrar dados obtidos desses estudos. Segundo um dos organizadores, o professor José Rubens Jardilino, o evento possibilitou a troca de experiências entres os vários grupos de pesquisa de Minas Gerais voltados à formação do professor. Jardilino lembra que é preciso aliar a formação à prática da profissão, “pois é na sala de aula que acontecem muitas questões que não são encontradas durante a graduação. Por isso, nós temos muitas pesquisas desenvolvidas sobre a prática do professor e precisamos discutir o assunto”. Esse é o mote do grupo de pesquisa Formação e Profissão Docente (Foprofi) criado em 2011. Os membros discutem questões teórico-metodológicas e pesquisam práticas e experiências educativas dos professores. aponta-lhe rumos estimula-o medeia conhecimento orienta alenta e sorri Abre janelas que desnudam caminhos poucas flores muitos espinhos outras brejeiras que descortinam estradas com atalhos setembro e outubro de 2014 Capacitando professores Na UFOP, existem cursos de licenciatura presenciais, como Artes Cênicas, Letras, Pedagogia, História, Química, Filosofia, Música, Matemática, Ciências Biológicas e Educação Física, que são voltados especificamente à formação de professores. A Universidade também conta com 20 programas de mestrado e doutorado acadêmico além de especializações lato sensu. Dentro da Universidade, são desenvolvidos projetos voltados ao auxílio na formação e no aprimoramento docente, como o Sala Aberta, um espaço para que os professores possam trocar experiências de ensino e aprendizado, e o UFOP com a Escola, que visa ampliar a comunicação entre o ensino superior e a educação básica. O Centro de Educação Aberta e a Distância (Cead) oferece cursos de licenciatura em Geografia, Matemática e Pedagogia na modalidade a distância. Oferta também os cur- sem elevações sem volteios e através de ambas aluno e mestre sorrindo visualizam saídas realizam sonhos constroem guaridas Imergem na pesquisa-ação na partilha do saber no trabalho em equipe na interação na troca de conhecimento com o povo na lide por um mundo sos de pós-graduação lato sensu em Coordenação Pedagógica, Escolas Sustentáveis, Gestão Escolar, Mídias na Educação e Práticas Pedagógicas, voltados à especialização de professores. O Cead está presente em 36 polos, distribuídos nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, fomentando e expandindo a formação de docentes no País. “Sigo tentando ser um bom professor, não basta lecionar, é preciso trabalhar com pesquisa, ensino e extensão” não belicoso pelo verdadeiro direito do indivíduo pela escrita de nova história de novo capítulo da liberdade dos povos E a cada instante de sua saga magistral Repete com Sêneca NISTO ESTÁ MINHA ALEGRIA APRENDER PARA ENSINAR Hebe Rola Professora Emérita da UFOP 5 Foto: divulgação Desafios da educação a distância Expandir e levar a educação para diversos municípios, oferecendo opções de formação e especialização profissional para a população. Esses são alguns dos propósitos do Centro de Educação Aberta e a Distância (Cead) da UFOP, criado em dezembro de 2003 como uma unidade acadêmica universitária que oferece cursos de graduação e pós-graduação lato sensu. O coordenador do programa Escola de Gestores do Cead, professor Breynner Oliveira, explica que um conjunto de ações é empreendido na linha de formação de professores com temáticas diversas. São oferecidos quatro cursos de graduação: Administração Pública, Geografia, Matemática e Pedagogia e seis especializações: Coordenação Pedagógica, Escolas Sustentáveis, Gestão Escolar, Gestão Pública, Mídias na Educação e Práticas Pedagógicas. Os cursos funcionam com o apoio de polos presenciais da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que são espaços físicos mantidos pela prefeitura ou governo do estado com infraestrutura física, tecnológica e pedagógica para auxiliar os alunos. Atualmente, o Cead está pre- Ana Elisa Siqueira sente em 36 polos distribuídos nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Falar da formação de professores na modalidade a distância vai além de uma tela de computador. Segundo Breynner, o processo de aprendizagem é feito de uma maneira complexa. Do ponto de vista institucional, a dinâmica da educação a distância perpassa outra dimensão que é a gestão do processo de aprendizagem. “Não é apenas o docente que ensina, também uma equipe é responsável pela formação do estudante. O professor trabalha em Ouro Preto, existe um tutor presencial que fica no polo e um tutor a distância que trabalha no Cead em Ouro Preto”, explica o professor. Segundo Breynner, um desafio para o centro é repensar o modelo de educação a distância. “Temos nos esforçado para pensar outras possibilidades de modelagem para a educação a distância, com mais encontros de formação e com otimização das tecnologias. Tornálo, de fato, um centro aberto, que consiga articular essas ações na própria Universidade”, acrescenta. Programa Sala Aberta: Docência no Ensino Superior Carol Antunes virtual, por meio de acesso à plataforma Moodle, envolvendo os docentes em atividades diversas. O programa é uma realização da PróReitoria de Graduação da UFOP, por meio do Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP), em parceria com a Coordenadoria de Gestão de Pessoas e o Programa de Pós-Graduação em Educação. Juliana Santos da Conceição, coordenadora do NAP, conta que, dentre outros objetivos, o Sala Aberta busca oportunizar a formação continuada dos docentes ingressantes na UFOP. “Nossa expectativa com as diversas ações do Programa é consolidar um espaço de reflexão sobre os saberes e as práticas docentes, além de ampliar a participação e o envolvimento de todos os professores da UFOP”, explica. Foto: Richard Dias Para estimular professores a refletirem sobre aspectos relativos à docência no ensino superior, foi criado o Programa Sala Aberta: Docência no Ensino Superior. Trata-se de um espaço de troca de experiências e diálogo entre docentes que mostram suas dificuldades, desafios, métodos de ensino e ajuda mútua. A iniciativa está organizada em quatro espaços de interação: o Sala Aberta Convida, com palestras sobre temáticas relacionadas à prática docente; o Sala Aberta Oficina Pedagógica, com a realização de oficinas voltadas para trocas de experiências e apresentações de relatos de práticas docentes; o Sala Aberta Debate, com a promoção de debates sobre temáticas relacionadas à formação pedagógica do professor universitário e o Sala Aberta Virtual, um espaço de interação UFOP com a Escola: canal direto com a sala de aula Carol Antunes Com o objetivo de ampliar os canais de comunicação entre o ensino superior e a educação básica do entorno da Universidade, o programa UFOP com a Escola desenvolve ações extensionistas desde 2007. Criado por meio de uma gestão compartilhada entre o Departamento de Educação e a Pró-Reitoria de Extensão, a iniciativa visa implementar ações de formação continuada junto aos profissionais da educação da Região dos Inconfidentes, possibilitando aos gestores, especialistas e professores a discussão de temas científicos e pedagógicos, além da elaboração de práticas educativas que propiciem a construção de uma rede de protagonismo na educação básica. 6 A ideia principal é atender às necessidades e demandas da comunidade educacional da região, expressas no diálogo com a Superintendência Regional de Ensino e as Secretarias Municipais de Educação de Mariana, Ouro Preto, Diogo de Vasconcelos, Itabirito e Acaiaca. Outro mote é contribuir para uma formação ampla e integrada dos estudantes nos cursos de graduação e pósgraduação da UFOP, por meio do diálogo entre os conhecimentos acadêmicos e os contextos reais da educação básica. Fernanda Silva, coordenadora do programa, acredita que “os cursos vêm ressignificando olhares sobre o fazer docente e sobre a postura professoral em sala de aula em um momento em que os desafios impelem os professores a reverem as práticas pedagógicas”. Ela explica que os cursos primam por uma metodologia que prevê leitura, escrita e diálogo. Os professores formadores são, geralmente, do Departamento de Educação da UFOP e, nas áreas específicas, são convidados profissionais de outros departamentos, com o auxílio de estudantes de mestrado e graduação da Universidade. Com isso, os docentes da educação básica são convidados a refletir sobre temáticas que vêm desafiando a atuação docente, com cursos que agregam a teoria e a prática. Para os próximos anos, Fernanda adianta que há a previsão de crescimento na área da formação continuada pela captação de recursos junto à Secretaria de Educação Básica/Ministério da Educação para o desenvolvimento de três cursos: Materiais Didáticos para Educação de Jovens e Adultos; Artes para Professores e Gestão Inclusiva da Escola. “Estamos também com demandas de outros municípios para integrarem a Mesa Permanente de discussões sobre a educação básica, como Catas Altas, Santa Bárbara, Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco. Se isso ocorrer de fato, teremos uma ampliação significativa.” Edição 197 - setembro e outubro de 2014 Dez anos de Fórum das Letras Conheça o tema, os convidados e a programação para comemorar uma década do evento Carol Antunes Quase chegando à adolescência, o Fórum das Letras 2014, promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, comemora a sua décima edição com o tema “Escritas em Transe”, consolidando-se como um dos principais eventos da área literária do País. Do dia 29 de outubro a 2 de novembro, o público interessado poderá acompanhar debates sobre as transições do mundo contemporâneo, sobretudo aquelas ligadas à literatura e à forma como tais transformações se impõem ao universo criativo. De acordo com a idealizadora e coordenadora do evento, Guiomar de Grammont, o Fórum das Letras homenageará, ainda, o bicentenário de morte de Aleijadinho, o grande mestre barroco, cuja obra ajudou a construir a identidade mineira. “Estamos em um tempo de transição não apenas na política brasileira, mas em todo o mundo. Essa transição tem a ver, sobretudo, com o advento da internet e do e-book, modificando todas as formas de leitura e informação que se conheciam até hoje. A informação passa a ser em tempo real, provocando uma interação sem precedentes entre a mídia e os fatos na atualidade. Há inúmeros exemplos, como a deposição do presidente do Egito por meio de manifestações que circularam no Facebook. Em breve, os leitores poderão acompanhar a escrita dos livros no momento em que ela estiver ocorrendo, influindo em seu desenvolvimento”, explica Guiomar. Ela descreve que o tema foi uma sugestão de Audálio Dantas, jornalista premiado que estará presente em algumas atividades do Fórum deste ano, em referência ao denso filme de Glauber Rocha, Terra em Transe, que apresenta uma reflexão muito profunda sobre a corrosão do poder. No Fórum, além de tratar da temática da transição do mundo, serão abordados os 50 anos do golpe militar. Para Guiomar, a reflexão sobre esse momento é importantíssima para mostrar o perigo da suspensão da democracia, por qualquer razão que seja. Ela cita, ainda, que a militarização da política tende apenas a levar ao extremismo e à violência, e debater o golpe militar ajuda a compreender as suas razões e a refletir para que nada parecido se repita na sociedade brasileira. Pensando nesse tema, alguns dos convidados deste ano serão Paulo Markun, Ricardo Kotscho e Zuenir Ventura, todos com obras que tratam de experiências da época da ditadura. Ciclo de Literatura e Jornalismo O Ciclo de Literatura e Jornalismo foi criado como um evento específico, integrante do Fórum, para a discussão sobre as interseções entre jornalismo e literatura. Em sua quinta edição, traz jornalistas-narradores da história recente do Brasil sobre o período ditatorial do País. Alguns dos convidados são: Audálio Dantas (presidente da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas), Daniela Arbex (Tribuna de Minas), Eliane Brum (El País), Luiza Villaméa (Revista Brasileiros), Mário Magalhães (UOL), Natália Viana (Agência Pública), Ricardo Kotscho (Record News) e Zuenir Ventura (O Globo). Coordenadora do ciclo e professora de Jornalismo na UFOP, Marta Maia considera que a interlocução entre esses dois campos é fundamental para que se possa refletir sobre as narrativas que estão sendo produzidas na atualidade. “O ciclo busca discutir, refletir e apresentar elementos dessa produção de maneira bastante aberta e plural”, avalia. As mesasredondas debaterão os temas “Escritas do desassossego”, “Escritas da ausência” e “Escritas da experiência”, no Anexo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Integra também a agenda uma oficina sobre jornalismo e literatura, ministrada por João Gabriel de Lima (ex-editor da Bravo! e atual editor da revista Época), que participa do Fórum desde as primeiras edições. Fórum das Letrinhas As crianças também têm vez no universo da literatura. O Fórum das Letrinhas, coordenado por Tereza Gabarra, é um evento voltado ao público infantojuvenil. Com foco nas escolas das redes pública e privada de Minas Gerais, a programação inclui palestras com autores, lançamentos de livros, jogos literários, apresentações teatrais e oficinas de criação, contribuindo, assim, com a transformação social e cultural de milhares de crianças e adolescentes. Neste ano, dentre outros convidados, estarão no encontro Soraia Vasconcelos (ABC da Criançada), Christine Azzi (Os vestidos de Frida) e João Cilli (As dúvidas de Roquito, Os sonhos de Roquito e As viagens de Roquito). Como ilustradores, serão responsáveis pelas oficinas Maurizio Manzo, Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho. Mudando de ambiente, as atrações acontecerão em espaços distintos, como a Tenda da Vale, a Biblioteca Pública de Ouro Preto e o Museu da Inconfidência. Sobre os dez anos A respeito da receita do sucesso e de como chegar aos dez anos, Guiomar acredita que a projeção alcançada pelo Fórum é o resultado do esforço integrado de várias pessoas. Ela cita que é muito grata a todos que atuaram no evento, em seus diversos momentos. “O trabalho no Fórum me ensinou a ser mais prática, mais consciente dos meus objetivos; contudo, o maior prazer que tenho é, cada vez mais, poder delegar ações à minha equipe, que alcançou maturidade e experiência ao longo desse tempo, e aos professores curadores, que têm sido maravilhosos. Queremos muito ampliar essa participação”, aponta. Para os próximos anos, Guiomar espera que o Fórum atraia um público cada vez maior e mais interessado, e que os debates possam influir na vida das pessoas, formando mais leitores críticos e capazes de se organizar na defesa de seus interesses. “Espero também que o evento se internacionalize, trazendo autores de outras partes do mundo e criando braços em outros lugares, como o Letras em Lisboa, que realizamos em Portugal”, finaliza. Edição 197 - setembro e outubro de 2014 Foto: Léo Alves Evento será de 29 de outubro a 2 de novembro, com uma vasta programação gratuita 7 ENTREVISTA “Os professores e a escola nunca foram tão necessários” Inês Teixeira Ana Paula Martins Foto: Túlio dos Anjos Com uma vasta pesquisa na área de formação de novos professores e pesquisadores, Inês Assunção de Castro Teixeira é formada em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura), com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Educação. Professora associada da Faculdade de Educação da UFMG e aposentada da PUC Minas, sendo pesquisadora bolsista de produtividade do CNPq. A sua atuação é focada na Sociologia da Educação. Nesse sentido, seus estudos abordam a condição docente, tratando de tempos escolares e tempos docentes, expressões criadas para se referir à experiência e à distribuição do tempo dos professores. Para o Jornal da UFOP, Inês Teixeira discorre sobre a formação e a carreira docente, destacando os desafios da sala de aula atual. Você tem formação em Sociologia, o que a levou para a área da Educação? Sempre achei que a educação é uma possibilidade de as pessoas alargarem seus conhecimentos, sua compreensão, sua interrogação sobre o mundo, sobre a vida, e a sociologia também nos possibilita isso. Formei-me em Sociologia e fiz mestrado e doutorado em Educação. Penso muito na construção de um mundo mais humano, mais justo e fraterno para todos. Nesse sentido, a sociologia nos ajuda muito a compreender o mundo, os processos sociais e históricos, e ser professora me daria a oportunidade de conversar sobre tudo isso com as crianças e os jovens. Meu campo de pesquisa foca, sobretudo, a vida dos professores, o seu trabalho e suas práticas culturais. Você cita que a sala de aula é o terreno de origem da relação docentediscente. Hoje em dia, a sala de aula “Os professores têm como ofício formar as novas gerações. Para isso, esses docentes precisam ser muito bem formados” 8 extrapola as quatro paredes? Sim e não. Ela não extrapolou porque a grande maioria dos professores utiliza 90% do tempo dentro de sala de aula. A sala de aula tem um espaço físico bem delimitado no sistema de ensino, mas os meninos que estão lá extrapolam aquelas paredes, pois têm uma experiência anterior e posterior ao tempo que passam na escola. Apesar de a sala de aula ainda estar entre as quatro paredes, o que se passa ali – as experiências, a cultura dos alunos, suas histórias, assim como o dos professores – extrapola esse espaço. Hoje, a sala de aula está entre os muros e entre as paredes, ao mesmo tempo em que os sujeitos socioculturais e as relações extrapolam tais divisões espaciais. Como atrair esses alunos que vivenciam as mídias sociais e a internet? Eu penso que a escola não tem que repetir o que os estudantes veem lá fora, ela precisa problematizar essas experiências. A escola e o professor têm que desafiar as capacidades e as potencialidades dos alunos, trazendo novas experiências que sejam distintas do virtual, que ampliem a visão e a compreensão do mundo. Desafiar no sentido de que eles podem mais, de que eles interroguem as próprias mídias e tecnologias. Quando algum estudante diz que trouxe a informação da internet, eu geralmente questiono de onde tirou a informação. Na escola, os discentes são desafiados no pensamento, na sensibilidade, na formação ética, estética, intelectual e expressiva. É onde os alunos convivem com outras pessoas e têm a experiência do face a face, da sociabilidade, é uma riqueza da escola que deve ser muito explorada. Na internet, também há sociabilidade, porém virtual. No meu ponto de vista, a escola não pode desconhecer a realidade das novas linguagens, nem repeti-las, ela tem que ir além. Como é para o professor lidar com o fato de os alunos já chegarem com informações que colheram na internet, por exemplo? Acho maravilhosa a situação quando um aluno interroga o professor, é uma alegria. É muito interessante porque os professores não sabem tudo, também são eternos aprendizes. Então esse menino ativo que interroga é maravilhoso, ele tem que ter esse espaço na escola para questionar. A responsabilidade dos docentes é avaliar junto ao estudante de onde ele tirou a informação, explicar que é necessário ter um pesquisador que falou algo, por exemplo. Há um potencial enorme se a gente souber trabalhar com esses novos sistemas de busca e informação. Os alunos têm ao seu lado os professores que vão auxiliá-los para interrogar as fontes. Os professores e a escola nunca foram tão necessários, reforçando a importância da sociabilidade do convívio, da importância do outro, do encontro com a diferença. Como você avalia o fato de os pais passarem para a escola a função de educar, como educação sexual e alimentação adequada? Por causa das dinâmicas do mundo do trabalho, a presença dos pais junto aos filhos está ficando muito restrita. Isso aumenta o trabalho da instituição de ensino. Porém, não podemos sobrecarregar muito a escola. Essa inserção da nova geração no mundo e na cultura é responsabilidade da escola sim, mas também do governo, da política pública, da família, da cidade. Sabemos que o docente tem um papel fundamental na formação, no crescimento e na identidade de uma pessoa. Como é essa responsabilidade? Os professores têm como ofício a responsabilidade e o dever de formar as novas gerações. Por isso, esses docentes também precisam ser muito bem formados, a gente tem que discutir muito, trocar experiências. Eu gosto muito de comparar o trabalho do professor e o do veterinário, porque, quando nasce um gato, a gente sabe que ele vai miar, andar com as patinhas; já a criança nasce como um ponto de interrogação e, se ela não for bem socializada, pode se tornar um ser desumano. É muito complexo e de grande responsabilidade o trabalho dos professores, porque eles são uma parte substantiva da socialização e da formação das novas gerações. Isso significa que eles devem ser muito bem formados, uma formação instrumental e prática, intelectual, de conhecimentos da ciência, da filosofia, das disciplinas científicas, uma formação artística expressiva. A partir do momento que é responsável pela formação de um ser humano, você tem que pensar no ser humano completo, ele não pode desenvolver somente o intelecto. A criança tem que ter uma formação ética e moral. Todos esses processos educativos das crianças, que envolvem a afetividade e a amorosidade, se dão nas relações com os professores e com os outros alunos. Como funciona o espaço-tempo do professor? O tempo é central na docência por vários motivos. Primeiro que, em geral, os professores estão em uma geração, um ciclo de vida, e os alunos em outra, isso que me fez estudar no doutorado, e para sempre, a questão do tempo. Essa questão das gerações é completamente forte no magistério: os meninos estão na educação infantil, e a professora, com 45 anos, tem que se abaixar, se levantar e a rotina pede muita coisa do corpo do docente. Você trabalha também com tempos de conhecimentos, as estruturas biopsíquicas dos alunos têm ritmos diferentes, um aprende mais depressa, outro aprende mais devagar. Os nossos horários são muito fechados, 40 minutos de aula, quando a turma pegou o pique já vai para outra. Sobretudo, a lógica da discussão do tempo é mais pesada no ensino fundamental e no ensino médio, os tempos da vida privada da casa, muito trabalho que os professores levam da escola para casa. Os tempos da vida pública e do trabalho se misturam com seu tempo de escola. Os professores têm horários e dias certos para entregar as provas e corrigi-las; o calendário e o currículo são temporalizados, mensurados em dias, meses, bimestres. Qual a importância de um professor na escolha da carreira de outro docente? É muito grande. Toda vez que eu trabalho com pessoas de licenciatura no início do curso, muitas dão depoimentos como “Ah, foi meu professor de matemática”, “Tive uma professora ótima”. Diferentemente de outras profissões, os professores convivem muito tempo, dias e dias, horas e horas com os alunos. Os professores vão se constituindo em referenciais; a função é semelhante à de um pastor ou de um padre, em cujas falas tentam explicar as coisas. Isso faz com que o docente seja alguém muito forte nas nossas vidas. Nem todos os professores escolheram a profissão por causa das condições de trabalho. Os estudos estão mostrando cansaço, desesperança, ao mesmo tempo, é curioso, mesmo com muito problema na sala de aula, os professores afirmam, nas pesquisas, que estão felizes com o que fazem, que gostam da profissão, porque ela é o relacionamento humano. É uma das maiores categorias profissionais do mundo, porque tem professor em todo lugar. Eu sempre acho que os professores podem ser um alento para essas crianças, mas é urgente melhorar as condições laborais de exercício da docência, senão teremos, cada vez mais, adoecimento, abandono do trabalho. O Brasil já tem falta de professores em várias áreas, é urgente o País rever algumas condições de trabalho desses profissionais. Edição 197 - setembro e outubro de 2014